Nossa história para as crianças - Guarani

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Nhandereko Kue Kyringue’í Reko Rã Nossa história para

as crianças

Ana Luisa Teixeira de Menezes Sandra Regina Simonis Richter Viviane Fernandes Silveira João Paulo Acosta Roberto Fernandes


ISBN 978.85.7697.427-7 1ª edição – 2015. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, sem autorização expressa do autor ou da editora. A violação importará nas providências judiciais previstas no artigo 102, da Lei nº 9.610/1998, sem prejuízo da responsabilidade criminal.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Editora-chefe Karla Viviane Projeto Gráfico Nathalia Rech Desenhos da Capa Crianças da aldeia Estrela Velha (Guarani no Estado do Rio Grande do Sul)

Editora Imprensa Livre (51) 3249-7146 Rua Comandaí, 801 Cristal – Porto Alegre/RS www.imprensalivre.net imprensalivre@imprensalivre.net facebook.com/imprensalivre.editora twitter.com/editoraimprensa

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Nhandereko Kue Kyringue’ í Reko Rã : Nossas histórias para as crianças / Ana Luisa Teixeira de Menezes, João Paulo Acosta, Roberto Fernandes, Sandra Regina Simonis Richter e Viviane Fernandes Silveira, Organizadores. -- Porto Alegre : Imprensa Livre, 2015. 48 p. ; 16x23cm Livro bilíngue : Português e Guarani. ISBN 978.85.7697.427.7 Menezes, Ana Luisa Teixeira de. II. Richter, Sandra Regina Simonis .III.Silveira, Viviane Fernandes. 1.Literatura Infantil –Tribos Guaranis. CDU 82-93=873.241 Bibliotecária responsável: Maria da Graça Artioli – CRB10/793


Nhandereko Kue Kyringue’í Reko Rã Nossa história para

as crianças

Ana Luisa Teixeira de Menezes Sandra Regina Simonis Richter Viviane Fernandes Silveira João Paulo Acosta Roberto Fernandes


Nhandevy pavê pe guarã ha’egui yvypokuery pe. Para todos nós, mbyá, e para os não indígenas! AGRADECIMENTOS À FAPERGS pelo financiamento; À UNISC, pelo apoio e acolhida aos povos indígenas; Ao Abya Yala e UFRGS, pela parceria; Xe ema arovy’a kova’e rojapo pave’i pe oexa haguã orere tarã kuery há’e gui xera’y kuery tuja pa jave guarã,há’evete; Xe ema arovy’a havi xeirunkuery pe,nhanderu kuery pe have há’ekuery haema opamba’e py nemoiru’i va’e; Ao povo Guarani, em especial às comunidades que nos acompanharam, por compartilharem deste trabalho, das aprendizagens, por nos presentearem com a grandiosidade de sua ancestralidade, filiando-nos a uma linhagem que protege o planeta e que sacraliza a vida e a palavra divina.


Sumário 6

Apresentação Participantes

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Ta’angaa Kyringue’í rembiapo Desenho das crianças

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Onhemi nhemi Esconde-Esconde

Yma maje oiko petei guaxu, ha´e pyje pavê gui inhakuã ve va´e ra´e A história do veado e do carrapato

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Ka`i ha`egui kururu A história do macaco e o sapo

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Nhemombe’u Mbya reko’i Histórias da Infância Guarani

Entrevista Dona Catarina e Alex

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Apresentação

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É muito grande a emoção deste instante! Tempo de apresentar o livro, tempo de nos reapresentarmos após um convívio intenso do nosso grupo de pesquisa com os Mbyá Guarani. O projeto de pesquisa Infância e Educação Guarani foi aprovado pelo edital de Pesquisador Gaúcho de 2013, financiado pela FAPERGS e pela UNISC, e do qual surgiu a edição deste livro. Em 2014, integramos o projeto de pesquisa: Abya Yala - Epistemologias Ameríndias em Rede, em convênio com a UFRGS. O projeto propôs aproximar estudos nas áreas da educação da infância e da educação indígena Guarani, ambos desenvolvidos no grupo de pesquisa Linguagens, Cultura e Educação UNISC/CNPq e na linha de pesquisa Educação Ameríndia, Princípio Biocêntrico e Movimentos Sociais. O objetivo foi conhecer as narrativas de infância e de criança na concepção da cultura Guarani no Estado do Rio Grande do Sul a partir da interlocução entre pesquisadores, acadêmicos, aldeia e escola indígena Guarani. As conversas aconteceram nas aldeias de Salto do Jacuí Tekoá Porã (belo lugar de se morar) e de Estrela Velha Ka´aguy Poty (flor da mata), no interior do Rio Grande do Sul e na Universidade de Santa Cruz do Sul e com uma participação destacada das escolas: Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Karaí Tata Endy Vera Claudio Acosta e Escola Estadual Indígena Guarani de Ensino Fundamental do Salto do Jacuí. A escrita do livro foi o processo central de nossa pesquisa, na qual evidenciamos a participação dos Guarani como pesquisadores. Portanto, cabe ressaltar que a escrita tanto do português quanto do Guarani seguiram as suas particularidades linguísticas num pulsar entre a oralidade e a escrita dos Guarani. Os encontros entre nós, pesquisadores das duas aldeias e da UNISC, foram em sua maioria realizados mensalmente. No início, ouvíamos dos Guarani: qual o sentido da pesquisa? O sentido foi sendo criado em torno dos encontros entre crianças e adultos, das memórias da infância e de um modo estético de pesquisar conjuntamente na perspectiva etnográfica e da pesquisa-ação-participante. No início, as crianças desenharam em momentos que não estávamos presentes na aldeia e depois, juntos, os pesquisadores adultos faziam reflexões em torno dos desenhos e de suas infâncias. Perguntávamo-nos conjuntamente: Qual o significado de infância para os Guarani? Como as crianças vão sendo educadas? Os Guarani afirmavam: nossa

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cultura é para as crianças. Neste livro é importante colocar a palavra antiga. E muitas palavras iam sendo lembradas, na dança, na escola, nos diálogos entre professoras e alunos, entre avós e crianças, nas brincadeiras e nas histórias infantis, num recordar que é “para não esquecer a palavra Guarani”. E assim foram contadas e escritas as histórias do veado e do carrapato e do sapo e do macaco, bem como registrada a brincadeira do esconde-esconde. Em outros momentos, as crianças desenhavam com a nossa presença e se misturava em reflexões em torno de narrativas de infâncias, não só das crianças, mas também dos adultos. A pesquisa tornou-se um espaço para pensar a infância como Nhandereko, como modo de vida Guarani, a partir das crianças. Nesse momento, indagamo-nos acerca do pesquisar a partir dos desenhos e que memória vem junto com o desenho. Uma memória cíclica, como a das estações da natureza. As lembranças tornam-se valores da alma, valores diretos, imóveis, indestrutíveis, são benefícios que permanecem em nós. Das lembranças assim tensionadas surgiram conversas e discussões acerca do território, do poder e não poder escolher o lugar de moradia, do sentimento da criança e do adulto como sendo partilha do comum, do saber construir a própria casa e do quanto o tamanduá, o coqueiro falam do Nhandereko, da infância, da reza, do sol clareando, do caminho iluminado, da farinha, do milho e do quanto tudo isso emerge como o lugar do passado para os adultos. E para as crianças parece ser conforme as palavras de João, o próprio presente, tendo em vista que “ninguém ensina a criança a fazer o desenho, eles fazem como eles pensam e imaginam”. Que memória vem com o desenho? Uma memória que dialoga com a qualidade do devir entre o presente, o passado e o futuro. Surge o desejo dos Guarani de falar de si: “este livro é importante para eu falar da minha vida mesmo!” Surgem as autobiografias contadas pelos Guarani, narrando um modo de viver e de pensar a si mesmos, um modo de dizer, conforme expressam, que “tudo o que a gente faz é para não esquecer!” As narrativas se evidenciaram como aprendizagens de respeito aos mais velhos, aos sonhos, às formas de caça, às plantações de milho, ao uso dos chás, à forma como as vivências e emoções se enraízam num pensar mitológico e xamânico e que nos fez pensar aspectos diferenciados de viver a infância Guarani. Educar para os Guarani significa garantir o crescimento da palavra-alma, principalmente no primeiro ano de vida e que vai sendo cultivado ao longo da vida, a partir da compreensão do Nhandereko – modo de ser. A palavra é um

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elemento norteador para compreensão do pensamento Guarani no contexto da educação e da formação das escolas indígenas e de trocas interculturais na qual a palavra é percebida não como um valor a ser afirmado, mas uma troca a ser vivida. Aos poucos fomos compreendendo que nossos encontros e nossas conversas eram “aprendizagens das palavras” que nos faziam construir significados de nossa existência e educação. A entrevista com Dona Catarina e Alex nos conduz, com suas falas, a adentrar num universo mitológico e divino da cosmologia Guarani, no qual o sonho, a palavra e o nome da criança, a Opy, as divindades, o Petynguá, compõem um modo de existir que nos faz compreender a palavra e o nome da criança como um aspecto que fundamenta a educação Guarani. Não por acaso o livro foi nomeado Nhandereko jue Kyringue’í reko rã: nossa história para as crianças! Tradição espiritual multimilenar, educação pautada no estar sendo juntos e consequências impressionantes na saúde emocional, corporal, cognitiva pelas possibilidades de estar com o outro, são efeitos que encontramos a cada instante em nossos diálogos. Uma educação que floresce da relação com as divindades e que, portanto, originalmente, não passa por um lugar escolar convencional urbano. A possibilidade de juntos construirmos uma memória que ofereça testemunho e legitime na circulação entre as escolas Guarani e diante das políticas externas a elas de educar, que há apropriações possíveis e tramas viáveis que apresentam aqui um lugar fronteiriço, de cruzamentos, das traduções difíceis e comoventes, dos sinais diferentes do teclado, revelaram alegrias de novos tempos. E nestes tempos, o modo Guarani, em seu modo resplandecente de pensar e transmitir, torna-se livro, diálogo intercultural, uma oportunidade de aprendizagem a todos. Cada palavra, imagem e vivência, aqui tecidas a muitas mãos originárias e mestiças, aquecem como a pequena fogueira e seu cheiro encantado, centro de tudo nas casas e comunidades, os nossos sonhos, buscas mais pungentes, nosso Nhandereko herdado, enraizado e algo continuado. Nos faz vibrar em nossas certezas e emoções de estarmos neste pedaço de solo tão nosso quanto sagrado, tão antigo quanto valioso. Identidade, sabedoria, terra, coração. Educação. Ana Luisa Teixeira de Menezes Sandra Regina Simonis Richter Viviane Fernandes Silveira


Participantes Aldeia de Estrela Velha - Ka’aguy Poty (flor da mata) João Paulo Acosta - Kuaray | Cacique Alex Acosta – Karaí Tata Endy Hata | Vice-cacique Eduardo Acosta - Karaí Tata Endy Hyapua | Professor Martina Gimenez - Jaxuka Dona Catarina Duarte | Pará´reté Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Karai Tata Endy Vera Claudio Acosta Marilei Haas Pereira | Responsável Administrativa Zulma Acosta – Pará | Funcionária

Aldeia do Salto do Jacuí - Tekoá Porã (belo lugar de se morar) Roberto Fernandes – Karaí Tataendy | Cacique e professor Marcos Benites – Verá Mirim | Professor da escola Márcio Mariano – Karaí | Professor da escola Escola Estadual Indígena Guarani de Ensino Fundamental do Salto do Jacuí Maria Antônia Somavilla Dalcin | Diretora Vera Lúcia Bueno Pereira | Secretária

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Professoras do Pós-Graduação em Educação – UNISC Drª Ana Luisa Teixeira de Menezes Doutora em Educação (UFRGS) e Professora do Departamento de Psicologia e do Mestrado em Educação da UNISC. Drª Sandra Regina Simonis Richter Doutora em Educação e Professora do Departamento de Educação e do Mestrado em Educação da UNISC. Bolsista Pós-doc PNPD/CAPES no Pós-Graduação em Educação - UNISC Drª Viviane Fernandes Silveira

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Mestrandas do Pós-Graduação em Educação – UNISC Ana Lúcia Schüler Chedid Fátima Rosane Silveira Souza Raquel Maria de Oliveira Viçosa Regina Beatriz Colombelli Bolsista de Graduação do curso de Psicologia – FAPERGS/UNISC Caroline Maria Nunes Parceria: Abya Yala - Epistemologias Ameríndias em Rede – UFRGS


Ta’angaa Kyringue’í rembiapo Desenho das crianças


KYRINGUE’Í JEGUATA Crianças caminhando pela trilha Araí - Sabrina Ferreira Acosta 17 anos Apy ma rombopara ta Kyringue’í reko ymanguare reko yma oguereko pa reijave jave há’e’i rupi rive iguai raka’e tatu Kyringue’í’i ajavive jogueraa raka’e mondere oma’e vy ãy pexa ndoroikoi veia romboa xy rive’i ma. Nós escrevemos sobre as crianças antigamente e as crianças foram olhar as armadilhas juntas. Antigamente tinha muita mata e caças bem pertinho. E agora não tem mais, pensamos no passado e nos sentimos tristes.

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PÉXA GUAPY AIKO XE Sonho viver num lugar assim Vera’i - Dagoberto Ferreira Acosta 11 anos Kova’e ma Vera’i ojapo va’ekue. Ha’e ma oiko petei tekoa’i py ndoguerekoi Opy’i ha’e vyma oexau ka mba’exapa ha’e kuery opy’ire oikoteve’i vy ikuai. Vera’i ma oiko xe petei tekoa py opamba’e oi hapy, ha’e kuery rekoa py ndaipoi opy’i ndoguerekoi ka’aguy. Mba’e ve ndoguerekoi tei ha’e oexau ka oma’ety i tevoi ha’e kuery okuai porai haguã.Ha’e vyma ha’e oipota opy’i ovy’a haguã. Quem desenhou foi Vera’i. Ele vive numa aldeia que não tem Opy e ele mostra como eles fazem quando precisam da Opy na outra aldeia. Vera’i queria viver numa aldeia assim, que tenha tudo porque na aldeia deles não tem Opy e não tem mata suficiente. Eles não têm nada na aldeia, mas ele mostra que sempre planta para ter uma alegria. E ele quer uma Opy para ser mais feliz.

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MA’E NDU’A TEKO YMANGUARERE Lembrando a história anterior Vera’i - Dagoberto Ferreira Acosta 11 anos Apy ma amombe’u ta Kyringue’í mba’emra’anga ojapo va’e kue. Kyringue’í ma ko’va’e ojapo ima’endu’a vy yma ve guare rekore mba’epa ijaryi tamoi kuery oguereko raka’e oguereko raka’e opy’i oguereko raka’e yy pora há’egui pira, mba’e rei’i ka’aguy’i régua há’egui pindo,há’erami omombe’u raka’e ijary há’egui tamoi há’eva’re ima’endu’a vy manje ko’eva’e ojapo. Aqui vou contar sobre o desenho da criança. A criança fez esse desenho lembrando a história de como era antigamente, que foi contada pelos avós. Antigamente os seus avós tinham a casa de reza, água pura, tinham muitas caças, coqueiros para fazer casa e frutas no mato. Então, ela lembrou essa história e fez o desenho. 14


OPY’I REGUA. Sobre a Opy Jaxuka - Mila Acosta 11 anos Kova´e ma Kyringue’í´i omombe´u mba´e repa opy´i mbya kue´iry pé opy´i iporã. Opy´ima nhandekuery mbya kue´irypé petei jaje´oi porã haguã. Nhanderekoapy opy´i ndaipoi ramo ndajaikuaai jaiko´i haguã. As crianças mostram e contam porque é importante para os Guarani ter Opy.i (casa de reza). A Opy para nós é o caminho para seguir em frente. Se não temos Opy na nossa aldeia, não sabemos como viver.

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MBYA REKO RÉGUA Modo de viver Guarani Jaxuka’í - Michele Regina Acosta 15 anos Orekuery Kyringue’í ma kova´e roexauka mba´e xapa nhandejaryi ha´egui nhaneramoi kuery ikuai raka´e. Ore Kyringue’í ma roiko xeju ymanguare rami va´e ri ndoroguerekovei ma mba´exapa roiko ta. Nós crianças mostramos como nossos avós viviam no passado. Nós crianças queremos viver como no passado, mas não temos mais como viver assim.

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NHAMANDU OU HARE A luz do sol Karai’í - Igor Ferreira Acosta 10 anos Ko’va’e mba’emo ma vera’i ojapo va’ekue, yma ma heta raka’e pindo mba’emo’a guive raka’e yy pira guive, halegui nhamandu ko’e nhavõ oexape nhapu’ã porã haguã. Esse desenho representa como era antigamente, tinham muitos coqueiros, frutas, rios e peixes. O sol é considerado como uma divindade, que ilumina o nosso dia a dia para nos fortalecer.

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Onhemi nhemi Esconde-esconde


Kyringue’í´i ma oguereko reta onhevangaa va´eri ayma amongue´i rivema onhevanga. Kyringue’í´i ma onhevanga´i ma vy onhemi nhemi, yma nhaneramoi kuery há´egui nhandejaryi kuery jurua kuery gui onhemi hague rami ha ema oexauka nhandevypé. As crianças têm muitas brincadeiras, mas só algumas crianças brincam. Quando as crianças brincam, eles se escondem como se fosse do passado, quando nossos avós se esconderam dos não índios. Elas mostram isso para nós.

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Yma maje oiko petei guaxu, ha´e pyje pavê gui inhakuã ve va´e ra´e A história do veado e do carrapato


Petei ara pyje oo ra´e tape rupi ha´e vy oexa jatevu pe tape rupi gua´u py ooiny ha´e vy py guaxu jauga mova´e pa ovae ranheve amoite yvy´a oiva´e py ha´egui ita ary oguapy ranheve va´e he´i pyra´e guaxu jatevu pe...Ha´e rire py joexei i mapy ikuai,jatevu oguevi guevi´i ma py jatevu...Ha´e vy py jatevu opo ma guaxu revi re,xee aa ma he´i gua´u py jatevu guaxu pe...Ha´e vy py ova ema ita oi hapy,guaxu oguapy ramo py jatevu aipoe´i kuaja´e xe ary reguapy he´i gua´u guaxu pe hevi re rive py oo ra´e... ha ´e vy opyta inhakuã va´e rami jatevu pe. Era uma vez, um veado que estava se achando melhor que o carrapato, porque era o mais rápido e veloz. Certo dia, foi caminhando pela estrada e encontrou no caminho o carrapato que estava triste. Eles se encontraram e o veado fez uma aposta com o carrapato porque sabia que ele não ia ganhar a corrida. O carrapato perguntou até onde era o final da corrida. O veado disse que seria até o final do morro, e então o carrapato, aceitou a aposta e o veado falou que quem chegasse e sentasse primeiro na pedra ganharia. Os dois ficaram lado a lado no começo da corrida. O carrapato deu um passo para trás e pulou na bunda do veado e gritou: eu já estou indo. O veado pensou que o carrapato já havia disparado e saiu correndo também. Chegou em cima do morro e sentou na pedra. Então, o carrapato gritou: cuidado veado você sentou em cima de mim. Foi assim que o carrapato saiu vitorioso na história.

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Ka`i ha`egui kururu A hist贸ria do macaco e o sapo


Ymama je oiko ka`i ha´e kururu petei gue je ka´i aipoe´i kururu pe...jauga kuaray oexa ranheve va´e ha´eramo je kururu aipoe´i jauga avy he´i .Mba´etu oita oexa ranheve va´epe he´ije kururu,ha´e ramo je ka´i aipoe´i oexa ranheveva´epeje ome´e ta nhembojerovia he´i nhanderu...Kuaray ojekuaa he´yre je jogueraa ma kuaray oexa haguã py.Ha´evy je kururu aipoe´i mamontu jaa ta he´i... Pe yvyra pavê gui yvate veva´e oi apy há´evy je jogueraa há´erire je ovae,ha´e vy je ka´i aipoe´i ka´i apy epyta ndee he´i,kika ty ema´e einy eije,ha´evy je ha´e ojeupi ma yvyra yvate va´ere,hare´i rire je ka´i oporandu rexa mapa ije ha´e ra kururu any teri he´i,itaguy ipy je oi,harete rireje oporandu ju rexa mapa he´ije any teri he´i,ha´e rire oprandu ju,any teri he´i,ha´e rire hare te´i jave kururu oporandu ka´i pe ha´e ramo any teri he´i,xee aexa ma he´i kururu.Mba´exa vy tu rexa he´i je ka´i,xee ma yvyra yvate va´e re ai va´e ndaexai teri va´e ri he´i ka´i,mba´e xa vytu rexa avy he´i kururu pe oporandu...Ha´e vypy kururu kuaray oikea katy rive oma´e ra´e,kuaray oike akaty Çpy oira´e yvy´a yvate va´e re rive py oma´e ra´e.Ha´evy kuaray oevy ha´eva´ere ranhe py oexape ouvy...Ha´e va´e re rive py ha´e oexa,ha´evy py ka´ipe (OGANHA)... Muitos anos atrás, o macaco teve uma conversa com o sapo. O macaco disse: vamos apostar quem vê primeiro o nascer do sol? E o sapo respondeu: o que quê se ganha quem vê primeiro o nascer do sol? E o macaco disse: quem vê primeiro será respeitado por Deus. No outro dia, antes do amanhecer, os dois fo-

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ram passear, e o sapo perguntou aonde eles iriam, e o macaco disse para o sapo que eles iriam onde tivesse a árvore mais alta. Depois de um tempo, eles chegaram ao local dessa árvore e em seguida, o macaco disse para o sapo: você fica aqui, olhando para o outro lado. E o macaco subiu na árvore que era a mais alta. E logo depois, o macaco perguntou ao sapo se já tinha visto o nascer do sol, e ele respondeu que não tinha enxergado ainda. O sapo então perguntou ao macaco se ele já viu ou não e o macaco respondeu que ainda não. E o sapo disse: eu já vi. E o macaco perguntou a ele: como que você viu, se eu que estou na árvore mais alta não estou vendo ainda? E o sapo respondeu: porque estou virado para onde o sol nasce. Olhe para aquele morro lá em cima, lá já tem o sol. E o macaco olhou para aquele morro, e percebeu que o sapo estava falando a verdade. E assim o sapo ganhou do macaco, e recebeu o respeito de Deus.

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Nhemombe’u Mbya reko’i Histórias da Infância Guarani

Xeé ambojerovia xerejara ú kue i


Kuaray | Cacique de Estrela Velha Oré mbya kuery ma, roipota jooramingua mémé oremitã javé, xéma xemandu á xenhenguju javé guaré,,,,15 py mintarámi teri aiko, akuaá ramo mba é mo,,, a xuka haguã,,,xerú revé teri aiko ,,, ha é rami aikuaá pá,,, amenda vy amongaru haguã xera y kuery xera y jy,,,ajapo kuaaá monde , nhoã koty, monde pi, nhoã i, ha ériré ai kuaá pa axapohaguã ajaka, piky guivé ajopoi kuaá, kova é ma xeru gui mémé aiguaá. Xemitã revé ajaka ajapo,,, 7 anos javé mokoi ajaka avende cada 15 dias py, avendevyma ajogua xerukuery okaru haguã,, ha éramingua ma xeaerivé iguaá,,, ha ramo xeru,,,xerovy á rema karamboaé. Ha ériré yvyra gui ma japo kua, tukan , mboi, xivi, opamba é,,xeruguima aikuaá ambojerovia haguã xeramoi kuery , xejaryi kuery , aénduxe vai omombe ú ramo ymanguaré, xeramoi kuery ijauvy hapy ja ainjuma aenduaguã jogueroyvuramo,, ha érami aikuaá ambojerovia haguã pãvé i. Oré joéguama ha érami rovy á ,,ha érima xera y kuery pema ambo é,,ha ériréma xeru,, nda ipoivé hapyma ,nda é véirai karamboaé, xeru ma karai opy gua karamboaé, ha évyma oikuaá pa voi,, pexa oikota ha,, ha évyma oxeruré xe py aguaxu xembaraété haguã ré. Opamba ´e ahaxa xeruré xeporiaú vy,,, ha éramiteima arovy á vaipa,,,xeru xeréja xembo é pariréma , nda évéi haguã rai ima,,, xera y apoéja ira aema , he i xevypé hospital py ituiapy,,,ha é vyma oxeruré jevypé aiko haguã xondaro rami.

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Aprendi a respeitar o sonho

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João Paulo Acosta | Cacique de Estrela Velha Nós indígenas quase aprendemos a mesma coisa neste primeiro momento, que é a infância. Eu aqui neste momento tenho lembranças boas. Nos meus quinze anos, ainda me sentia criança, porque não saia de casa, andava sempre acompanhado do pai. Primeiro a nossa família pensa que um dia temos que casar, ter uma família e sustentar ela. Aprendemos a caçar, a fazer armadilhas, tudo com o chefe da família: o pai. Como também quantos tipos de materiais deve se usar para pescar e fazer as armadilhas. A gente aprende, por exemplo, como pegar Lambari, como tem que puxar para pegar cada vez. Tudo isso a gente aprende. Uma coisa boa que aconteceu, foi quando eu comecei a trabalhar, e eu aprendi com sete anos de idade. Eu gostava de trabalhar. Meu pai nunca disse nada para eu trabalhar, eu que me interessava. Fazia artesanato, dai a cada quinze dias vinha o comprador de artesanato, e vendia dois cestos. E desde aí, ia juntando um dinheiro para ajudar a minha família a nunca passar fome. Meu pai gostava muito de mim porque sozinho eu aprendi e comecei esse trabalho muito cedo. Inventava desenhos e fui desenhando sozinho mesmo, imaginando como podia ficar. Já meu pai que me ensinou várias coisas, não sabia fazer artesanato que nem eu. Já artesanato de madeira eu faço jacaré, tucano, cobra, tigre e aprendi tudo sozinho. Eu aprendi várias coisas, como o respeito, com meu pai. Respeitar em pri-

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meiro lugar a pessoa mais de idade. Eu adoro conselho, eu adoro quando a pessoa mais velha começa a contar histórias e eu entro ali naquele momento. Algumas histórias boas, piadas. Você aprende muitas coisas, que ficam na memória. Respeitar o mais velho em primeiro lugar, e ouvir também a pessoa, porque se você ficar atento ao que a pessoa fala, você aprende coisas boas. Também respeito sobre sonhar. Eu aprendi muita coisa sobre sonhar. O sonho também é um momento difícil que entra uma coisa boa e uma coisa ruim. Quando você parar de pensar sobre o sonho e for contra ele, coisas ruins podem acontecer contigo. Se for para acontecer, acontece. Aprendi a respeitar os sonhos a partir dos dezoito anos, só que eu sonhava também há sete ou oito anos, quando uma coisa era para acontecer ou não, mas não sabia ainda o significado. Mas fui aprendendo. Eu sonhei que um pássaro de tamanho grande estava em uma árvore bem alta e começou a falar comigo, e disse que ia ir embora, mas depois ficou. O Eduardo era pequeno. Depois de cinco dias e de uma semana de chuva, o rio estava cheio. E a gente ficava bem no meio da ponte pescando, daí o anzol do Eduardo trancou e ele caiu na água, e quando saiu, já estava se afogando. E ele se salvou depois de alguns minutos, mas eu fiquei bem abalado. Me lembrei depois do sonho e contei para o meu pai. Eu tinha uns nove anos, por aí. Na nossa família começamos a se divertir com as caças e as coisas desde pequenininho, e até hoje, a gente ensina para os nossos filhos, como caçar e como pegar peixe.

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Perder a família também traz uma parte de tristeza, e a outra parte de lutar. Por exemplo, com a perda do meu pai, Mário Perumi, eu sofri muito, mas ele disse para mim que era para acontecer. Mas só que para isso, já nos deixou preparado, sobre a forma de viver, de respeitar todo mundo. Com ele eu aprendi tudo. É claro que é uma grande tristeza o que aconteceu, mas eu agradeço a ele por deixar nós preparados para esse mundo. Na verdade já preparou a gente desde o começo, antes de adoecer. Em relação à morte, antes de um ano ele falou que ia acontecer. Ele falou: João, tu tem que ficar forte, eu já me decidi, mas eu quero que tu fique forte. E chorando eu perguntei: porque tu está fazendo isso? E ele disse: eu já me decidi e não tem volta. A minha mãe estava junto quando ele falou isso. Ele fez de tudo para ser uma grande liderança. Ele disse que para ser uma grande pessoa deve ter um pensamento em Nhanderu. Eu ouvi muita história que o meu pai também dizia, a minha vó, trabalhava muito com a medicina, e com remédios tradicionais, e usavam só três tipos de remédios para todas as doenças. Então, isso também é um poder de Nhanderu. Ela sonhou com isso, que só podiam estes três tipos de remédios. Sonho é conexão com Nhanderu. Nosso entendimento é esse.

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Havaxi hete i régua Karaí Tata Endy Hata | Vice-cacique Estrela Velha

Agy amobe uta xereko régua xeru kuery gui aikuaa va’e kue há’e k xemitã guive ha’ e kuery xembo ‘e opamba ‘e rekua va’erima’amobe uta mbovy i rive xevy pe iporã mba aikuaa va’e kue vã’e’ri xevype iporã va’e avaxi réguae mba’eiko avaxi gui haema Kyringue’í rery rã ín voi xaiguaa a’e vy ma xee abo’e xerajy i kuery pe onhoty í haguã a’e vy ma a’e kue ry onhoty í a’e vy ma xee avy a vaipa hete há’e raminho iguai rã kova’ema nhandevy paporã va’e há’e vete.

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Sobre o milho sagrado Alex Acosta | Vice-cacique Estrela Velha | Olha tem muita coisa que eu não consigo esquecer. Muita história que eu não consigo esquecer. Eu vou contar uma história bem curtinha que até hoje não consegui esquecer. Eu aprendi, assim, com meu pai e a minha mãe a fazer plantação, isso que eu aprendi desde pequeno com meu pai, como plantar milho, melancia, tudo isso eu aprendi desde pequeno, aprendi crescendo e até agora eu não me esqueço disso. E eu já estou ensinando as minhas filhas como se planta, o porquê é importante plantar, porque o milho é do Guarani. A gente não planta só para comer, porque é através daquele milho que vem para colocar o nome dos Kyringue’í, no caso, as crianças. Então, isso que eu aprendi com meu pai, e estou passando para as minhas filhas. Isso é uma coisa que eu nunca vou esquecer. Existe só um milho para todos, porque tem quatro nomes para os homens e quatro para as mulheres, então um tipo de milho já está bom. Meu pai chamava e ensinava a gente a plantar, dizia qual o valor que tem a semente e ensinava a capinar. Então, nós quatro aprendemos tudo com ele. Ele ensinou muitas outras coisas para nós, mas se vou falar tudo vou ficar um dia inteiro falando aqui para vocês. Então, vou falar só sobre a plantação, que foi o mais importante para mim. Comecei a plantar com cinco ou seis anos. Fico muito feliz quando as minhas filhas ficam interessadas e gostam de fazer o que eu faço que é plantar. Eu fico muito feliz por elas, que estão gostando de aprender, porque eu aprendi o que elas estão aprendendo.

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Xeru gui aikua anhombojerovia haguã Karaí Tataendy | Professor da escola de Estrela Velha Anhepyru ta amombe’u xemitã guive mba’e xapa Aiko raka’e amboae tekoa py orekuai jave petei po ara areko guive Aiko xeru amoiru harupi há’evy ma aikuaa ambojerovia haguã,mba’e xapa nhama’e ty haguã guive.ha’e gui rojuka haguã xo’o ka,aguy.i há’egui pira rojuka haguã guive,xeru ma ijayvu orevy pe rombojerovia haguã pave, nhanderu kuery hae ma ijayvu va’e mba’eixapa jaiko va’erã amboae tekoa py jaa vy,há’e rirema Aiko Juruá kuery harupi aiko guaxia para re anhembo’e haguã, ajapo magistério dez anos há’e javivere ay ma Kyringue’í pe ambo’e va’e aiko,oiko 5 alunos onhe forma va’e kue há’e ramo xee avy’a va’eri tenonde rã re ama’e vyma ajepy’a py rei guive escola py ogueru iporã va’e há’egui ivaikue va’e há’e ramo rive nga’u ajepy’apy,amongue va’e py Juruá kuery rupi onhembo’e vy oayvu hae’i guive ndoiporu vei ma, há’e rami ma nda’e vei nhande kuai haguã. Petei kaxo petei gue ma roo xeru reve romba’eapo kokue py há’e rire ma xeru oo monde re oma’e vy há’e ram hapy ma mboi oixu’u há’e guima ou ju ore ro py puã ombojy haguã há’e vy rive ma haxy va’e ndoendui nhenderu kuery voi ma oipytyvõ ramo.

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Cresci aprendendo a respeitar Eduardo Acosta | Professor da escola de Estrela Velha Vou começar desde pequeno, quando a gente morava em outro lugar, tinha cinco ou sete anos, como o Alex falou, assim, histórias diferentes um do outro a gente não vai ter, porque a gente sempre aprendeu com o nosso pai e com a nossa mãe, como plantar, como cuidar das outras pessoas, e de nossos irmãos. No primeiro momento a gente aprendeu a como caçar, eu aprendi isso também. A gente caçava desde pequeno, eu, o Alex, o João Paulo, a gente sempre caçava tatu, quati. A gente sempre caçava, pois aprendemos com o pai como caçar e fazer armadilhas. Isso foi um ponto positivo para mim. Até agora sei como fazer plantação, plantar milho e melancia. Porque isso a gente não esquece, aprende e fica na nossa memória. Cresci aprendendo a respeitar. Meu pai falava que devíamos respeitar as outras pessoas, aprendendo a respeitar as outras aldeias para não acontecer algo de ruim. Se a pessoa não aprendeu nada com o pai sobre respeitar, não vai saber quando sair ou entrar em outras aldeias. Eu estou com trinta e poucos anos, mas nunca briguei com ninguém porque meu pai não permitia. Um ponto negativo para mim era que meu pai não aceitava a escola, por isso que eu tive tanta dificuldade, por exemplo, quando fiz meu curso. Mas ao mesmo tempo, é positivo para mim, pois passei tanta dificuldade, viajando, passando frio, passando fome, mas estou vendo

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que deu resultado. E agora já estou trabalhando, com meus alunos e minha família, isso é muito bom. Na Argentina, quando estávamos lá, nunca fui para escola, e dai quando vim para cá, eu fui pouco tempo, quando morava em Maquiné, dai fui para Argentina, estudei mais um tempo lá, e voltei para cá e fiz o magistério. Há dez anos fiz o magistério aqui. Eu estava assim, quando morava lá em Maquiné, olhavam o livro e estavam lendo, e eu não sabia como se escrevia. E fui olhando cada letra, e tentava lembrar, através de palavras como “amor” e fui começando, e depois sim, não sei como aprendi a ler. Ficou na mente mesmo. Eu até fiquei assustado de mim mesmo, pois não tive nenhum professor que me ensinou. Claro que para mim foi difícil. E agora tem um aluno que vai se formar e vai ter diploma. E fica passando todo um filme na minha cabeça, pensando que a escolinha começou tão precariamente, e agora já está dando resultado. Eu fico feliz, mas ao mesmo tempo preocupado, porque a escola traz coisas boas, mas coisas ruins também. Tu vendo outras etnias, que tu vê que já perderam suas identidades, que não falam mais a sua língua. Claro que para o Guarani não vai acontecer isso, mas quem vai saber daqui para frente? Estudar é bom, mas não se deve perder o modo de falar, o modo de viver. Quando eu tinha sete ou oito anos, eu estava trabalhando com meu pai, capinando, e estava aprendendo a trabalhar com ele. De repente, me cortei no pé, e não sei que remédio meu pai colocou. Cinco minutos depois já parou de sair sangue e não doeu mais nenhum pouco. E isso marcou para mim porque não sei qual remédio ele passou. E outra coisa que fiquei impressionado, que meu pai é a única

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pessoa que tem muita sabedoria, sobre Nhãnderu, sobre a vida e sobre as culturas. Uma vez, em uma armadilha, ele encontrou uma cobra, e picou ele na perna, e como falei agora pouco, ele não sentia dor. Eu e toda família dele pensávamos que ia acontecer algo ruim com ele. Isso ficou marcado para mim, porque não vão existir outras pessoas para aguentar essa dor. Eu tinha sete anos quando isso aconteceu.

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Xeema aikua ambojerovia’i haguã tujakueve’i ma’egui nhenbojerovia reko’i have. Karaí Tataendy | Cacique de Salto do Jacuí Xekyri jave ma haxy xevypw ha’egui iporã. Xekyri javepy ndoikoi jurakuery mba’e mba’e. Ha’evypy rojapo petei guyra’i jukaa roo haguã ka’aguyre rojakavy gura’i ha’erami haurupi rovy’a! Ha’egui xeru ma omba’apo jurakuerype okopi ha’egui onhatende hymbakueryre. Omba’apo petei hendapy ha’eguima ooju omboaepyju omba’apovy ha’evypy xee avy’a aguata harupi! Xee ma acha juruakuery harupixeru omba’apo haramive aiko. Ha’egui 2000rirema anhepyru anhembo’e jurua kuery hapy, ha’eguikue ma aikuaa jurua py anhembo’eramo tá aiko haguã ha’egui areko haguã xe ra’ykuery. Xeema aikuaa nhembojerovia ha’egui mba’exapa tujakueve’i pe ambojerovia haguã ommbe’u xeruvy’i Maria Acosta reve ha’ema omombe’u mba’epa ajapo va’erã ha’egui ajapo va’erã he’y have.

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Cresci aprendendo a respeitar Roberto Fernandes | Cacique de Salto do Jacuí A minha infância foi muito difícil para mim, e era muito divertida também. Porque na época da minha infância, a tecnologia e essas coisas não eram usadas pelos índios e pelos Guarani. E, então, o que a gente fazia para se divertir e passar o dia brincando era fazer um bodoque assim de borracha para ir ao mato caçar passarinho, e passava o dia no mato. O meu pai trabalhava como peão, no potreiro para fazendeiro. Ele ficava em um lugar e depois ia para outras fazendas, para fazer a roçada. Era muito divertido. Porque na minha infância eu passei mais tempo onde tinha muitos gados, porque o meu pai trabalhava na fazenda. Mas a partir de 2000, eu comecei a estudar, e aí que descobri que precisava de muitos estudos para que eu possa viver, e ter uma família. Eu aprendi sobre o respeito e respeitar o mais velho com o tio Marcio Acosta, porque ele também falava o que era e o que não era para fazer.

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Puã ajapo kuaa jave guare Jaxuka Areko jave sete anos xeru xembo’e mbya rembiapo juruakuery harupi a vende’i haguã.Xeru ma hembiapo opy’i rupi há’egui xee aipytyvõ.Ajapo mbyta’i há’i revê há’egui xejaryi revê. Xerukuery oma’ety’iramo aipytyvõ.Anhembo’e juruakuery hapy há’egui kuaray mbyte rire ma xeru peju aipytyvõ.Xeru ka,aguy re puã reka vy há,ipe guarã ramo xee aa avi hupive. Há.evy ma aikuaa ajapo,i haguã puã tye raxy pe há,egui juku,ape xejaryi ojepokuaa vy xeree há,egui xevype ijayu aipytyvõ haguã xeretarã kuery pe.Ajexaru riae xerukuery revê. Xeru nopu,ã porai ramo aexa ra’u vy xemepe aporandu ka mba’e pa oikoa. Napu’ã porai ramo xeru xerexara’u havi.Xevype ijayu ndee rereko nememby’i vy ma nembaraeterã.Naiara nderexaxe,nembaraete katu.Kova’ema xekyri hague dez anos peve.

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Quando aprendi a fazer chá Martina Gimenez Eu tinha sete anos e fazia artesanato, e meu pai fazia casa de reza e eu ajudava em Santa Catarina. Eu fazia bolo de milho junto com a minha mãe e com a minha avó. Meu pai e minha mãe plantavam milho e eu ajudava. Eu encontrava minha tia e o meu tio, e sempre ajudava. Eu gostava de fazer artesanato. Eu estudava de manhã e meio dia ajudava o meu pai. Eu tinha três irmãos e ajudava também. Meu pai ia para o mato trazer remédio para a minha mãe e eu ia junto. Eu aprendi a fazer chá para diarreia e gripe também. Aprendi com meu pai. Minha avó gostava muito de mim, e ela sempre falava para eu ajudar meu tio e minha tia. Eu sonho mais com ela, com minha avó e meu pai. Quando ele fica doente eu sonho com ele e aí ligo para ele. Quando sonho com ele já falo para o João Paulo: o que aconteceu com ele? E o meu pai também sonha comigo quando estou doente. E ele fala: você tem nenê, tem que ficar forte. E eu falo, a Naiara quer ver você, tem que ficar forte. É isso da minha infância. Até os 10 anos.

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Quando criança ía aprendendo as formas para caçar Marcos - Verá Mirim Xee ma ndaxerexarai mba´exapa aiko haguere.Aikuaa xeru reve ajapo haguã guyra´i ha´eramigua´i ambo´a´i haguã,ha´egui xetuty,xeramoi reve have aikuaa. Xekyri jave ma aiko raka´e Argentina py 5 anos rei areko jave anhembo´e haema mba´emo ajuka´i haguã.7,8 anos rei ma areko jave ma professor Eduardo xembo´e ha´egui ma aikuaa Tekoa Estrela Velha py. Eu não me esqueço das coisas que eu vivi. Aprendi a caçar com meus pais, e também a aprender a fazer tipos de armadilhas, pegar passarinho, e também, aprendi com meu tio e com a minha vó. Quando criança, vivi na Argentina, tinha uns cinco anos por aí, e ia aprendendo as formas para caçar. Comecei a estudar pelos sete ou oito anos, na escola, com o professor Eduardo, ele quem me ensinou, e aí comecei a aprender, lá em Estrela Velha.

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MBYA KUERY REKO’I HÁ’EGUI JURUA MBA’E Educação Guarani e a Tecnologia

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Karaí Tataendy Hyapua | Eduardo Acosta 35 anos Ymangua re há’egui aygua y mave py ndoguerekoi teri juruakuery mba’e ãy katu roguereko ma jurua kuery mba’e há’e rami tei ore ndorerexarai teri opy’i gui. kunhangue omba’exoa oguereko teri. Antigamente não usávamos a tecnologia eletrônica. Hoje, possuímos tudo como televisão e celular, porém não deixamos de ser guarani que quer dizer: respeitar nosso jeito de estar no mundo. Na aldeia possuímos a casa de reza e mantemos o respeito como foi ensinado por nossos ancestrais. Até hoje as mulheres fazem o alimento como era feito no passado. A casa de reza preserva os principais fatores que sustentam o ser guarani.

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Entrevista Dona Catarina e Alex Ana: Para Reté mba´exatu raka´e ndexy reve? Para Reté: Ha´i ma ndaipovei´i xekyri jave.Ndaexa jepei ha´i pe.Xeguaimi xeru reve ha´egui xeryke kuery reve.Aiko Opy´i rupi xeryke kuery reve. Karai Tataendy Hata: Ha´e ma oexa nguu pe va´eri tuu oeja raka´e omoguaimi raka´e tyke kuery ombo´e pa Opy´i rupi ixupe.Ha´ekuery ma ojerure raka´e ixupe opy´igui ndaexarai haguã.Oikuaa va´ekue rupi haema oiko´i. Ha´erire ma orekuai joupive´i ha´e onhatende teri oikovy.Ha´e oikuaa va´ema tyke ombo´e haguerupi haema.

Karai tataendy Hata: Nhamandu ou hare py ma Kyringue’í´i ojeguaraa pa´i meme ojaryi ropy.Xerajy´i kuery ma opu´ã hare ja ima´endu´a juma ojaryi rore Nopu´ã porai jave ma ha´e ovyvy ve ijayu pave pe.Kova´e ara ma ndavy porai ainy he´i.Roo ropyta ha´e xapya´i ha´egui roju pa juma. Para Reté: Amonguepy ma aiporu vy petyngua´i pave´i re apita ha´e ramo ja okepa´i juma. Amongue ma ikuai havi opita va´e petyngua py ojepokuaa vy rive ma reiporu vy ma reikoteve hete´ivy rive rã nhambojaru rei vy rive japita haguã heý.

Para Reté: Aikuaa ajapo haguã poã,ambojau haguã Kyringue’í´i. Eduardo ra´yxy`i ma tekoapy oguereko.

Karai Tataendy Hata: Nhanderu kuery ma oeja petyngua´ia-

Ana: Mba´exatu Kyringue’í´i re renhatende? Para Reté: Pyareve Kyringue’í ijavive reve apu´ã,xero ryai,rokaru joupive´i Kyringue’í reve.

monguepy nhaikoteve´i raguarã.Amonguepy n ndera´y kue´iry nopuã porai ha´egui ndai ka´aru porai ramo reiporu´i haguã.Yma ve ma xondaro kuery oiporu raka´e opy rokare.Petyngua´i haema nhandembopy´a guaxu´i va´e.

Ana: Omombe´u pa Kyringue’í jexara´u? Para Reté: Kyringue’í´i hete´i ko any voi!Tuja kueve´i katu!Amongue pyma jexara´u oi porã amongue katu any! Amonguepy ore retarã kuery ndovy porai ramo oexaru:Jexara´u ma amonguepy oiko va´erã ha´egui oiko va´erã he´y have.

Ana: Mba´e tu rejapo amonguepy ndovy porai va´e rexara´u vy? Para Reté: Aiporu petyngua´i.Amonguepy xere tarã kue´iry ndovy porai ramo ndaikuaai have mba´exapa aikuaa porã ta.Mba´e ve rei ramoma nhanderu kuery pe ju amombe´u,amonguepy ai-


kuaa inhe´e noi prai ramo. Ana: Mba´exa guagui hete´i nhe´ã jajepou vu rã? Para Reté: Mbya kuery tei oiko joapo vai va´e jurua kuery rami havi, koava´e tembiapo gui ma jajepoy vu va´erã,ha´eramigua py karai kuery pave´y oikuaa. Karai Tataendy: Mba’eaxy ma oiko mokoi regua,kova’e namombe’u pa mo’ai.Nhandevy pe ma oiko Karai petei’i regua he’y. Xerery ma Karai,va’eri xerery rive. Oiko Karai opy’ire onhendu’i va’e rive ha’egui kringue omboery havi,xeru ma ha’e rami gua karamboae. Oiko havi karai opygua he’y va’eri nhomonguera’i havi poã pyri ve’i. Amonguema oiko ijyvate’i ma ramo rive karai ja’e va’e. Ha’egui oiko karai joapo vai va’e have. Ha’egui ikuai havi karai poã ka’aguy’i oikuaa pava’e. Karai Tataendy Hata: Karai kuery anho’i ma pexagua mba’eaxy oipea va’erã. Tekoa Salto py ma oi Luiz anho’i ma nhomonguera’i va’e. Karai kuery nhomboery’i va’ema mbovy’i ma ikuai. Aeka vy rive’ima ajou rã Kyringue’í’i pe omboery va’erã. Xerajy’i guaimive’i va’ema omboery karamboae Jaxuka rata ha’evy ma ha’e noenduxei,ha’e vy ma aipoei xee tu xery Para’i rima Mbya py.

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Ana Luisa: Dona Catarina como foi sua relação com sua mãe? Dona Catarina: Minha mãe faleceu quando eu era pequena. Não conheci minha mãe. Cresci com meu pai e minha irmã. Fui criada na Opy com minha irmã. Alex: Ela conhece o pai, mas ele também abandonou e quem criou ela foi a irmã e ensinou tudo dentro da Opy, todo dia. Ela pediu para minha mãe para não esquecer da Opy. Está seguindo tudo o que ela aprendeu. Por isso, que estamos todos juntos e ela ainda está cuidando. O que ela sabe foi à irmã que ensinou. Dona Catarina: Aprendi a usar o chá, a ser parteira. A mulher do Eduardo teve criança na aldeia. Ana Luisa: Como a senhora cuida das crianças? Dona Catarina: De manhã está tudo com as crianças, brincando, come junto, almoço, café. Ana Luisa: Contaram algum sonho de criança? Dona Catarina: Risadas... pequeninha não! Grande sim, com 10 anos. Algum sonho está certo e alguns não! Quando a parente está doente na outra aldeia ela já sabe no sonho, quem é que está bem. Têm dois tipos de sonho: o de noite e o que quer ser. Não é todo sonho que vai acontecer: tem o falso e o verdadeiro. O falso, tu lembra uma parte ou não lembra. O verdadeiro, tu lembra o tempo todo, parece que é real.

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A partir de 10 anos já fala a verdade. Alex: De manhã todas as crianças vão para a casa dela. A minha acorda e já que ir para a casa dela. As crianças vão lá e ficam até o meio dia. Quando não está bem, ela acorda e fala para todo mundo: hoje eu não estou bem e não estou a fim de conversar. Vão lá fica meia hora e volta para casa e aí não pode incomodar muito ela. Dona Catarina quer que os Kyringue sigam o caminho que ela aprendeu, na Opy. Dona Catarina: Às vezes eu uso o Petynguá, passo toda a fumaça na família e já volto a dormir. Tem gente que usa o Petynguá, por vício, mas tem que usar para algo que tu precisa mesmo e não é para se brincar. Tem muito Guarani que usa Petynguá, brincando de cartas. Mas não é para isso. Alex: Nhanderu fez Petynguá, para aquele que precisa. Se tu não está bem, tipo tu acordou bem, mas de tarde tu não está bem ou sua filha, alguém da família aí já usa Petynguá. Quando tu entra na Opy de tarde aí tu usa o Petynguá. É usado dentro da Opy. Antigamente tinha segurança que podia usar Petynguá, fora da Opy. É que ele tem poder através do Petynguá, às vezes tu não tem coragem de falar, já usa Petynguá, já traz força e coragem para enfrentar algo que tu não está conseguindo enfrentar. A nossa família não usa fora da aldeia. Já não fumo todo dia, só quando a gente precisa mesmo. Era isso que eu tenho falar do Petynguá.


Ana Luisa: Quando a senhora sonha que alguém está mal o que a senhora faz? Dona Catarina: Uso o Petynguá e rezo. Quando a doença é séria, eu visito. Quando sonho que um parente não está bem, não ligo para saber se é verdade, pois eu já sei que é verdade. Quando não é tão grave, eu rezo para Nhanderú, pois sinto que o espírito não está bem, está me chamando, aí eu vou. Mas quando sinto que não é tão grave fico só rezando para Nhanderú. Ana Luisa: Quais são as forças do mal que a gente tem que cuidar? Dona Catarina: Tem próprio Guarani que faz mal para outro Guarani, como o branco, tipo Saravá. Esta é a pior coisa que nós temos que tomar cuidado, pois essa doença não é qualquer Karaí que cura. Alex: Existem dois tipos de doença, mas não sei se posso contar. Não sei se podemos contar, se vocês vão acreditar. Para nós Guarani existem seis tipos de Karaí: 1. Meu nome é Karai, mas só o nome. 2. Existe Karaí que só reza na Opy e que reza direto com Nhanderú e que dá os nomes das crianças. Meu pai era desse tipo. 3. Existe outro tipo que não reza na Opy e cura o outro quando está doente, mesmo fora da Opy. 4. Existe o outro porque é velho. Já é a pessoa mais velha da turma. 5. Karaí que faz mal para os outros. 6. E o karaí das ervas. Dona Catarina é kunhã Karaí, pois lida com as ervas e é a mais velha.

Ana Luisa: Existe uma pessoa que faz mal e que não é Karaí? Alex: Só o Karaí que pode curar, que tem esse poder. No Salto tem esse Karaí que cura, o sogro do cacique. O Karaí que dá o nome tem poucos. Eu vou ter que procurar o Karaí que bota o nome dos kyringué. Minha filha mais velha foi ela que botou nome dela em Guarani. Eu chamo o nome dela de Para’í. Em Guarani eu não estava sabendo. Tinha Karaí que cura fazendo benzimento. Minha mulher e minha filha queriam saber o nome dela em Guarani. Daí o Karaí falou que o nome da Iana era Jaxukaratá. Ela não gostou, pois esse não era o nome dela em Guarani. Ela falou que era Para’í. Dona Catarina: A criança quando recebe o nome dela em Guarani errado, ela não quer sobreviver, pois é sinal que ela não está sabendo o nome dela verdadeiro. Botaram o nome dela errado em Guarani. Minha filha rezou para Nhanderú, por que ela não queria viver aqui na terra e Nhanderú contou no sonho que ela estava ouvindo o nome errado e aí deu o nome dela certo. É Para’í. E aí ela ficou boa. O filho do Claúdio estava sem nome e adoecendo, estava precisando ser chamado pelo nome Guarani, pelo nome certo. Nhanderú falou que o nome dele era Kuaray. Ana Luisa: O que aconteceu com a Iana que ela se deu o nome dela? Alex: Acho que foi Nhanderú que falou para ela contar para a gente o nome certo. Eu acredito, pois meu pai entrava em contato direto com Nhanderú e ele falou para ele que não ia existir mais Jexuká, que ia existir mais Para’í e Jera’í. Ana Luisa: Por quê?

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Alex:O mundo em 2018 irá terminar, assim fala. Ana Luisa: E qual a força do Jeraí e Para’í? Alex: Falar da criança é complicado, até a gente não sabe bem isso. Meu pai falou assim: existem três ou quatro crianças que Nhanderú vai mandar, mas aquela criança vai mostrar o caminho certo, vai levar a mãe e o pai para o caminho certo, qual lugar que dá para morar e qual lugar que não dá para morar. Para nós existem quatro tipos de Nhanderú, que possui quatro cidades: 1. O sol é Nhandurú kuaray; 2. Nhanderú Tupã que faz chuva e raio; 3. Nhanderú Karaí que cuida o bicho do mato e mora aqui na terra; 4. Jakairá era chefe de todo mundo. Na cidade tem criança especial. Ele quer mandar mais se os pais brigam, tu está querendo trair, brigar por qualquer coisa, já bate a boca, chama de nome. Isso não pode acontecer para aquelas crianças que vão mostrar o caminho certo. Criança não é meu filho. Isso não pode acontecer. Acho que é por isso que não está vindo. Quando está grávida não pode acontecer briga, nem ciúme, nada; Quero menina ou quero mais menino. Não pode ter isso. Existe um cacique geral do Nhanderú Tenondé. Ele que cuidava do mundo inteiro, das pessoas. Muita gente não fazia o que ele queria e o que ele mostrou. Ele desistiu de cuidar, já que não vão me obedecer. Aquele fim do mundo era para ver verdade,

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mas fizeram reunião entre eles para saber quem tinha cuidado de cuidar. Já que cacique geral desistiu, então vamos desistir, todo mundo. Cada cidade tem cacique que comanda. Quem fazia reunião era de cacique. Nhanderú tupã não queria mais. Só que tinha um filho dele tipo, não de sangue. Filhos de tupã. Eles entram no meio da conversa do adulto e eles pediram para cuidar. E a partir de hoje são vocês que vão cuidar desse mundo. Falaram para Kyringué. Já que a gente não vai mandar mais, não vamos mais mandar Kyringué. Vamos ver o que vai acontecer com os Kyringué, se vão rezar na OPY. Daí pediram ajuda para os filhos do sol para ficar cuidando. Essas crianças que estão vindo é só do Kuaray e de Tupã. Agora que está vindo tudo, a história que meu pai contou. Agora que estou vendo o que ele falou. Aquela onda gigante que estragou a cidade, ele já tinha dito que ía acontecer.


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