2019
GUIA SOOI UFABC
Crise do euro e quebra da Grécia
VI Comissao de Organizacao do SOOI UFABC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC VI SIMULAÇÃO DE ORGANISMOS E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
SECRETÁRIO GERAL Gabriel Santana
COMISSÃO ACADÊMICA Nayara Mika (coordenadora) Caio Garbin Fernando Favalle Gabriel Navarro Rafaela Martins
COMISSÃO ESTRUTURAL Mariana Vasconcelos (coordenadora) Carolina Martins Joyce Faria Murilo Cardoso
COMISSÃO DE IMPRENSA Juliana Santos (coordenadora) Giovana Melari Milena Almeida
1. ESTRUTURA DA UNIÃO EUROPEIA
Europeia. A Itália aderiu ao acordo em 1990, e nos dois anos seguintes, entraram
O bloco União Europeia foi fundado oficialmente Maastricht
através em
do
1992.
Tratado
de
Entretanto,
os
processos de integração já datavam desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) foi o primeiro projeto de integração econômica europeia. Foi fundado em 1943, ainda durante a guerra, e tinha como objetivo
formar
uma
área
de
livre
comércio entre os 3 países envolvidos. Em 1952, o Benelux juntou-se à Alemanha Ocidental, Itália e França e fundaram a CECA - Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. A CECA, junto a Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a
Comunidade
Europeia
de
Energia
Atômica (EURATOM) fundiram-se em 1965 através do Tratado de Bruxelas, e formaram um bloco denominado Europa dos Seis (também chamado simplesmente
também Espanha, Portugal e Grécia. O Acordo de Schengen é independente do Tratado de Maastricht, ou seja, há países membros da União Europeia que não aderiram a Schengen, e vice-versa. Em 1993, um ano após o Tratado de Maastricht
ter
estabelecido
a
União
Europeia, é fundado o Mercado Único Europeu, a união aduaneira da UE. O Mercado Único Europeu está diretamente ligado a Associação Europeia de Livre Comércio, com a qual foi criado o Espaço Econômico Europeu. O EEE (fundado em 1994) abrange praticamente toda a Europa atualmente, sendo o símbolo máximo do sucesso do Mercado Único. Está baseado em 4 liberdades fundamentais: livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais.
Foi
fundamental
para
a
elaboração da União Monetária de 1999, que criou a Zona do Euro.
de Comunidade Europeia). Em 1985 entrou em vigor o Acordo de
Schengen,
inicialmente
incluindo
apenas o Benelux, Alemanha Ocidental e França. A convenção versava sobre a abertura de fronteiras e livre circulação de pessoas entre os países envolvidos, através do chamado Visto Schengen, um visto comum aos cidadãos da Comunidade
1.1 A União Europeia A União Europeia está baseada sobre 3 pilares fundamentais: O primeiro é a Comunidade Europeia; o segundo é a Política Externa e de Segurança Comum (PESC); o terceiro são os Assuntos Internos e de Justiça. As 4 instituições supranacionais que formulam as diretrizes políticas do bloco se encontram inseridas
no primeiro pilar. São elas: o Parlamento
dos
Europeu, o Conselho Europeu, o Conselho
política de segurança e celebração de
da União Europeia (não confundir com o
acordos com países de fora do bloco.
último) e a Comissão Europeia1.
países-membros,
elaboração
de
O Parlamento Europeu é o órgão
O Conselho Europeu é o órgão
máximo de representação civil dentro do
máximo de representação, atuando como
bloco, sendo eleito diretamente pela
um poder executivo que define, revoga e
população dos países europeus a cada 5
aprova as diretrizes políticas gerais de
anos. Tem como função examinar as
atuação, além de avaliar a aplicabilidade
propostas da Comissão e aprovar os
das políticas que são propostas no âmbito
membros componentes da mesma, elaborar
das instituições deliberativas. O Conselho
legislação para o bloco, e debater e
é formado pelos próprios chefes de Estado
aprovar o orçamento. A composição do
dos países europeus e as decisões são
Parlamento
tomadas por consenso, sendo possível a
proporcionalmente à população dos países
qualquer Estado-membro vetar decisões
representados: Alemanha, França, Itália e
que ameacem sua soberania, bem-estar e
Reino Unido são os Estados com maior
segurança interna.
número de Eurodeputados. No total, há
O Conselho da União Europeia, o
corresponde
751 deputados no Parlamento2.
Parlamento e a Comissão são órgãos
É
importante
destacar
que
os
deliberativos, ou seja, responsáveis pela
Eurodeputados são agrupados por suas
legislação interna do bloco. O Conselho da
filiações partidárias, e não por sua
União Europeia (também chamado de
nacionalidade. Os 3 principais partidos que
Conselho de Ministros) delibera sobre
atuam no Parlamento são: Partido Popular
diversos temas, e, dessa forma, sua
Europeu (213 deputados); Aliança dos
composição não é fixa, pois os chefes de
Socialistas e Democratas Progressistas
Estado decidem quais ministros enviar
(190
para deliberação de determinadas questões.
Conservadores Europeus (46 deputados).
deputados)
e
Reformistas
e
Dentre suas principais funções está a
Além dessas instituições há ainda
aprovação de legislação (em conjunto com
dois tribunais: de contas (que fiscaliza o
o
a
setor financeiro do bloco e é composto
coordenação de política macroeconômica
pela união dos tribunais de contas de cada
Parlamento
e
a
Comissão),
2 1
As instituições Europeias. Disponível em: <https://europa.eu/european-union/abouteu/institutions-bodies_pt>.
Parlamento Europeu. Disponível em: <https://europa.eu/european-union/abouteu/institutions-bodies/europeanparliament_pt>.
país-membro) e o Tribunal de Justiça, que
objetivos
do
Banco
trabalha para assegurar o cumprimento da
Investimento são3:
Europeu
de
do Tribunal está também o monitoramento
O BEI levanta dinheiro nos mercados de capitais e empresta-o em condições favoráveis a projetos que apoiem os objetivos da UE. Cerca de 90% dos empréstimos são concedidos para investimentos dentro da UE. Nenhum dinheiro emprestado pelo BEI provém do orçamento da UE.
do uso de verba dos contribuintes (isto é,
O Banco Europeu de Investimento é
legislação. Os membros do Tribunal de Contas são nomeados pelo Conselho, que pode invocar auditorias dos fundos a qualquer momento, pois dentre as funções
os próprios Estados europeus).
o acionista majoritário do Fundo Europeu
O Tribunal de Justiça da União
de Investimento, que por sua vez tem
Europeia é composto por um juíz de cada
como objetivo4 auxílio à pequenos e
país-membro e mais 11 advogados gerais.
médios negócios dentro da União Europeia
Há
que promovam os objetivos econômicos
ainda
o
Tribunal
Geral
(outra
jurisdição do TJUE) que é composto por 2
fundamentais
juízes de cada país-membro. O Tribunal de
inovação
Justiça trata tanto de acusações da
empreendedorismo. O Fundo não fornece
Comissão Europeia contra países-membros
empréstimos
como
países,
diretamente às empresas, mas sim a bancos
organizações e empresas contra quaisquer
intermediários e outras instituições da
instituições europeias. O Tribunal não
União
atende indivíduos, no entanto.
Comissão.
demandas
desses
do
bloco:
crescimento,
científico-tecnológica
e
Europeia,
produtos
financeiros
principalmente
Sobre o setor financeiro, a União Europeia possui o Banco Central Europeu, que formula a política monetária do bloco, de forma semelhante aos bancos centrais de países e é responsável pela emissão do Euro e manutenção de sua estabilidade. A Europa conta ainda com o Fundo Europeu de Investimento e o Banco Europeu de Investimento, que financiam projetos de 3
melhoria interna e externamente. Os
e
Banco Europeu de Investimento (BEI). Disponível em: <https://europa.eu/europeanunion/about-eu/institutions-bodies/europeaninvestment-bank_pt>. 4 European Investiment Fund. What we do. Disponível em: <https://www.eif.org/what_we_do/index.htm>.
a
ESTRUTURA DA UNIÃO EUROPEIA PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES
Conselho Europeu
Parlamento Europeu
Conselho da União Europeia
Comissão Europeia
Tribunal de Justiça da União Europeia
CARÁTER
Cúpula de dirigentes
Poder Legislativo
Poder Legislativo
Poder Executivo
Poder Judiciário
Banco Central Europeu
Política Monetária
Tribunal de Contas Europeu
Auditoria e Fiscalização
COMPOSIÇÃO
FUNÇÕES
MEIO DECISÓRIO
. Definir pautas de discussão com base nas prioridades do bloco; . Definir linhas gerais na política de atuação do bloco; . Não legisla. .
Consenso Com exceção das decisões sobre Tratados que requerem quóruns específicos
751 Eurodeputados, representando 13 partidos políticos, eleitos diretamente pela sociedade civil Europeia a cada 5 anos.
. Junto ao Conselho da UE, legisla e aprova orçamento anual do bloco; . Monitora as outras instituições; . Convoca a Comissão a propor legislação.
Diversos, a depender da pauta. Os projetos podem ser mandados ao Conselho da UE e a Comissão para execução.
Também chamado de Conselho de Ministros Cada reunião é composta por 28 ministros nacionais que tenham relação com o tema de discussão.
. Junto ao Parlamento possui caráter legislativo; . Direciona a política monetária dos países-membros; . Trabalha a cooperação em diferentes temas e celebra acordos internacionais
Cada país tem um peso decisório nas votações. França, Itália, Alemanha e Reino Unido possuem igual (e o maior) peso decisório.
28 Comissários, um de cada país, indicados pelos chefes de Estado através do Conselho + Presidente da Comissão
. Representar a União Europeia no âmbito externo ao bloco; . Propor legislação; . Gerir e aplicar as decisões dos outros órgãos; . Decisão sobre tecnicalidades; . Elabora, controla e executa a distribuição orçamentária do bloco;
Os Comissários têm igual peso decisório. As decisões são tomadas por consenso. Quando não é possível, maioria qualificada.
Tribunal de Justiça: Um juiz de cada país-membro + 11 advogados gerais / Tribunal Geral: 47 juízes. São indicados pelos governos dos países por mandatos de 6 anos.
. Assegurar a execução das leis da UE; . Investigar e julgar denúncias feitas contra os países-membros por instituições da UE e viceversa; . Não atende indivíduos;
6 membros da Comissão Executiva + 19 representantes dos Bancos Centrais dos países da Zona do Euro formam o Conselho do Banco Central. Há ainda a Comissão Executiva que trata das questões cotidianas.
. Emitir moeda; . Garantir a estabilidade de preços; . Intervenções cambiais; . Gestão e monitoramento de risco; . Gestão de taxas de juros;
Colegiado de 28 representantes, um de cada país-membro, indicados diretamente pelo Conselho Europeu por mandatos de 6 anos.
. Emissão de relatórios de gastos e pareceres; . Audita e fiscaliza orçamento e gastos das instituições da UE; . Auditorias financeiras, de conformidade e de desempenho;
Chefes de Estado de todos os 28 membros da UE + Presidente do Conselho + Presidente da Comissão
Fonte: Elaboração própria
--
O Conselho Geral fixa as taxas de juros. A Comissão executa as políticas monetárias decididas no âmbito do Conselho.
--
2. O CONSELHO EUROPEU
da ordem de trabalhos e a outras matérias.
Denomina-se Conselho Europeu o
Posteriormente
à
aquiescência
do
União
orçamento da UE pelo Parlamento, o
Europeia. O órgão foi criado em 1961 e
Presidente, a partir de sua assinatura,
sua sede se localiza em Bruxelas, capital
confere-lhe força executiva. Os presidentes
da Bélgica. O Conselho Europeu reúne
do PE e do Conselho assinam todos os atos
os Chefes de Estado e de Governo dos
legislativos adotados através do processo
Estados-Membros para definir a agenda
legislativo ordinário.
principal
órgão
político
da
política da UE. Representa o nível mais elevado de cooperação política entre os
b) O plenário
países da UE. Uma das 7 instituições
O plenário é o Parlamento Europeu e
oficiais da UE, o Conselho Europeu
as sessões plenárias são presididas pelo
reveste a forma de cimeiras entre os
Presidente. Para um período de sessões,
dirigentes da UE, presididas por um
com a duração de quatro dias, de segunda
presidente permanente.
a quinta-feira, o Parlamento Europeu reúne-se todos os meses em Estrasburgo (exceto em agosto), com a possibilidade de
a) O Presidente
organizar períodos de sessões adicionais
De acordo com os termos do
em Bruxelas. Os lugares atribuídos aos
Regimento, o Presidente do Parlamento é
deputados no hemiciclo são decididos por
eleito de entre os seus membros para um
filiação política, da esquerda para a direita,
mandato renovável de dois anos e meio.
por acordo com os presidentes dos grupos.
Desse modo, o Parlamento é representado
Por vezes com uma homenagem ou um
pelo Presidente no exterior e nas suas
discurso sobre um tema da atualidade, o
relações com as outras instituições da
Presidente abre a sessão e é assistido nesta
União Europeia. O Presidente supervisiona
tarefa pelos 14 vice-presidentes, que
os debates em sessão plenária e afiança o
podem assumir a presidência. A fim de
cumprimento
do
facilitar a cooperação entre as instituições
Regimento do Parlamento Europeu. É de
no processo de decisão, a Comissão
obrigação do Presidente do Parlamento
Europeia e o Conselho da União Europeia
evidenciar, durante o início de cada
participam nas sessões. Se o Parlamento
reunião do Conselho Europeu, o ponto de
assim o solicitar, os representantes das
vista
duas instituições podem também ser
do
das
disposições
Parlamento
e
os
seus
padecimentos no que respeita aos pontos
chamados a fazer declarações ou a dar
Caraíbas e do Pacífico (ACP) e a União
conta das suas atividades.
Europeia. O Parlamento pode também constituir
comissões
especiais
ou
c) Órgãos políticos
comissões de inquérito. Cada comissão ou
Os órgãos políticos do Parlamento
delegação elege a sua própria Mesa, que é
são constituídos pela Mesa (o Presidente e
composta por um presidente e, no máximo,
14 vice-presidentes), pela Conferência dos
quatro vice-presidentes.
Presidentes (o Presidente e os presidentes dos grupos políticos), pelos cinco gestores
e) Grupos políticos
(responsáveis
Os deputados não se encontram
pelas
questões
administrativas e financeiras relativas aos
agrupados
deputados),
dos
constituindo-se em grupos transnacionais
e
pela
de acordo as suas afinidades políticas. Em
Presidentes
das
conformidade com o Regimento, um grupo
Delegações. A duração do mandato do
político deve integrar deputados eleitos de,
Presidente, dos vice-presidentes e dos
pelo menos, um quarto dos Estados-
questores, bem como dos presidentes das
Membros e ser constituído por, no
comissões e das delegações, é de dois anos
mínimo, 25 deputados. Os grupos políticos
e meio.
reúnem-se regularmente durante a semana
Presidentes Conferência
pela das
Conferência Comissões
dos
por
delegações
nacionais,
que precede o período de sessões e nas d) Comissões
e
delegações
seminários com vista a estabelecer as
parlamentares Os deputados estão organizados em 20
comissões
semanas de sessão, realizando ainda
parlamentares,
2
linhas orientadoras da sua atividade. Determinados
grupos
políticos
subcomissões e 39 delegações (delegações
correspondem a partidos supranacionais de
interparlamentares
âmbito europeu.
comissões
e
delegações
parlamentares
às
mistas, f) Fundações e partidos políticos
comissões de cooperação parlamentar e
europeus
delegações às assembleias parlamentares multilaterais). Além disso, o Parlamento envia
uma
delegação
à
Assembleia
O Parlamento preconiza a criação de um
ambiente
favorável
ao
Paritária criada no âmbito do Acordo
desenvolvimento de fundações e partidos
celebrado entre os Estados de África, das
políticos
genuinamente
europeus,
incluindo a adoção de legislação-quadro.
Democracia Direta na Europa (ADDE).
Nos
legislativo
Estes partidos supranacionais trabalham
ordinário, o artigo 224.º do TFUE constitui
em estreita cooperação com os respetivos
a base jurídica da adoção de um estatuto
grupos políticos no Parlamento Europeu.
termos
do
processo
para os partidos políticos a nível da União
Algumas
das
mais
importantes
Europeia e das regras relativas ao seu
fundações políticas europeias incluem: o
financiamento. Em 2003, foi criado um
Centro de Estudos Europeus Wilfried
sistema de financiamento dos partidos
Martens, a Fundação de Estudos Europeus
políticos europeus que permitiu a criação
Progressistas, o Fórum Liberal Europeu, a
de fundações políticas a nível da UE.
Fundação Verde Europeia, o Instituto dos
Entretanto, em detrimento a certas práticas
Democratas
abusivas, estas regras foram recentemente
Europa e Novas Direções — Fundação
alteradas pelo Regulamento (UE, Euratom)
para a Reforma da Europa.
Europeus,
Transformar
a
2018/673 com o objetivo de reforçar a dimensão europeia dos partidos políticos
g) Secretariado-Geral
europeus, assegurando uma distribuição mais equitativa dos fundos e melhorando a aplicação da legislação.
do
Parlamento O
Secretariado
do
Parlamento
Europeu é dirigido pelo Secretário-Geral,
Os partidos europeus que existem
que é nomeado pela Mesa. A composição
atualmente são os seguintes: o Partido
e organização do Secretariado também são
Popular Europeu (PPE), o Partido dos
determinadas pela Mesa, o Secretariado é
Socialistas Europeus (PSE), a Aliança dos
composto por 12 direções-gerais e pelo
Democratas
Europa
Serviço Jurídico. A sua função é coordenar
(ALDE), o Partido Verde Europeu, a
o trabalho legislativo e organizar as
Aliança dos Conservadores e Reformistas
sessões plenárias e as reuniões. Também
Europeus (AECR), o Partido da Esquerda
presta
Europeia (EL), Europeus Unidos para a
especializada aos órgãos parlamentares e
Democracia,
Democrático
deputados, a fim de os apoiar no exercício
Europeu (PDE), a Aliança Livre Europeia
dos seus mandatos. O Secretariado faculta
(Verts/ALE), a Aliança Europeia para a
serviços de interpretação e tradução para
Liberdade
todas as reuniões e documentos oficiais.
Movimentos
e
Liberais
o
Partido
(EAF),
a
Nacionais
pela
Aliança
dos
assistência
técnica,
Europeus
(AEMN), o Movimento Político Cristão da Europa (ECPM) e a Aliança para a
h) Funcionamento
jurídica
e
O Parlamento organiza os seus
centram essencialmente na aprovação dos
trabalhos de forma autônoma, de acordo
relatórios
com o que é definido pelos Tratados.
parlamentares, nas perguntas à Comissão e
Adota o seu Regimento por maioria dos
ao Conselho, nos debates urgentes e nas
membros
Salvo
declarações da Presidência. As reuniões
disposição em contrário dos Tratados, o
das comissões e as sessões plenárias são
Parlamento delibera por maioria dos votos
abertas ao público e transmitidas via
expressos. Também decide a ordem do dia
Internet.
que
o
constituem.
elaborados
pelas
comissões
dos seus períodos de sessão, que se 3. CRISE DOS “PIIGS” Para deflagrou
entender na
zona
a
crise do
que
se
independente, tendo os Bancos Centrais
Euro
e,
Nacionais
principalmente, nos PIIGS após 2008 é preciso ter em vista a rigidez imposta pela institucionalidade do Euro sobre a política econômica, necessidade
a de
qual
aponta
para
aperfeiçoamento
a da
arquitetura do bloco, e a instabilidade estrutural dos fluxos internacionais de capital sob a égide da globalização
(BCNs)
como
braços
operacionais. Por sua vez, como retomado por Blikstad e Oliveira, 2018: O Eurossistema tem como atribuições: i) implementar a política monetária, definida pelo BCE e seguida pelos BCNs; ii) gerir as reservas internacionais; iii) conduzir as operações cambiais; e iv) promover o funcionamento do sistema de pagamentos (ISSING et al., 2004, SCHELLER, 2006).
financeira, com mercados liberalizados e desregulados. Institucionalidade do Euro e os limites impostos à política econômica: A criação de uma união monetária, a partir de 1999, mediante a adoção do Euro e, consequentemente, a supressão das taxas de câmbio nominais internas no bloco, resultou numa política monetária única para a zona do Euro, de modo que esta passou a ser conduzida pelo Eurossistema, liderado pelo Banco Central Europeu (BCE), uma instituição supranacional e
Dessa forma, o BCE tem como único objetivo a manutenção da estabilidade dos preços e não é designado explicitamente a atuar como emprestador de última instância e formador de preços de mercado, estando, assim, na contramão da experiência de outros bancos centrais, pois, como propõe Minsky (1982;1986), é necessário que um banco central assuma esses papéis em períodos de crise, a fim de que possa atuar de maneira anticíclica.
operações de mercado aberto, realizandoas somente por meio de operações compromissadas (Lavoie, 2013).
Tal conservadorismo na formação do BCE se dá pela liderança que a Alemanha assume na estruturação do bloco, uma vez
Contudo,
a
atuação
de
bancos
que este país subordina todas as funções de
centrais
seu banco nacional, o Bundesbank, à
fundamental para a criação de um piso para
estabilidade de preços, visando afastar o
o preço desses ativos, sendo esta limitação
fantasma de hiperinflação do início do
um dos principais fatores na evolução da
século XX. Portanto, para aceitar que uma
crise bancária para uma crise dos títulos da
instituição supranacional coordenasse sua
dívida pública dos PIIGS.
política monetária, a perseguição de uma estabilidade
de
preços
era
nos
mercados
secundários é
Apesar disso, os mercados financeiros assumiram que, caso fosse necessário, o BCE atuaria como emprestador de última instância, de modo a evitar o risco sistêmico e, conseguintemente, a crise. Por isso, a instabilidade financeira na Eurozona se acentuou quando ficou claro que o BCE não iria atuar dessa forma (Farhi, 2014).
condição
necessária. Havia também a crença de que manter a taxa de inflação sob controle levaria à estabilidade financeira e que a desregulamentação traria externalidades
Portanto, os países da zona do Euro
positivas, restringindo ainda mais a atuação
possuíam baixa soberania monetária, uma
do BCE como emprestador de última
vez que sua moeda era emitida por uma
instância e formador de preços de mercado,
instituição supranacional, o que limitava
por conta de risco moral. Este referencial
sua capacidade de atuação anticíclica em
teórico
períodos
também
existência
de
se uma
coloca
contra
instituição
a
fiscal
operações
de dos
crise,
condicionando
Tesouros
Nacionais
as -
supranacional efetiva, pois defende que as
relacionadas à arrecadação de impostos, à
políticas de demanda agregada apenas
efetivação de gastos e à emissão de dívida
contribuem para o aumento da expectativa
pública - além de inviabilizar a ação
futura de inflação, mantendo esta assim no
também dos BCNs como emprestadores de
âmbito nacional, ainda que subordinada a
última instância e formadores de preços de
política monetária do bloco.
mercado. A institucionalidade do Euro,
Dentre as medidas tomadas com base
então, obrigou os Tesouros Nacionais a
nesta construção do Eurossistema tem-se
realizar o resgate dos bancos, quando se
que:
deflagrou a crise, criando um enorme O BCE foi proibido de realizar compras definitivas de títulos públicos federais dos países membros - mesmo nos mercados secundários - em suas
problema fiscal. Ao emitir títulos da dívida pública em uma moeda que não podem emitir, os
países da Eurozona não têm a capacidade
investimentos produtivos. Porém, dado o
de monetizar esse passivo, caso necessário
otimismo do período, a evolução das
(Hein, 2012), logo, os países não tinham
posições deficitárias em conta corrente dos
outra alternativa a não ser o ajuste
PIIGS
deflacionário, o que restringe as políticas
financeiros do setor bancário privado dos
monetária, fiscal e cambial anticíclicas e
países
submete
mercados
acreditando que seriam investidos em
financeiros liberalizados e desregulados,
setores que aumentariam a produtividade e
elevando
aumentariam
público
os
países
fortemente desses
aos
o
países
endividamento e
criando
era
financiada
centrais
as
da
por
recursos
Eurozona,
exportações
em
estes
um
as
momento posterior, o que não ocorreu.
condições, desde 2008, para a crise dos
Logo, o aumento do déficit externo e
títulos da dívida pública dos PIIGS.
endividamento privado dos PIIGS foi
Antecedentes:
negligenciado.
A compreensão da crise da dívida
A adoção do Euro, na prática,
pública nos PIIGS, a partir de 2010 exige a
aprofundou as relações de comércio
análise do período anterior de expansão
assimétrico entre os países da periferia e
econômica de 2000 à 2007, o início das
do centro do bloco, pois a taxa de juros
turbulências nos mercados financeiros
nominal de referência e a supressão da
internacionais e da tendência recessiva do
variação do câmbio nominal dentro do
bloco de 2007 em diante, evidenciando as
bloco não levaram em consideração as
condições da crise em duas dimensões: o
taxas de inflação diferenciadas, causando
direcionamento dos fluxos internacionais
diferentes taxas reais tanto de juros quanto
de capital para os GIIPS e interconexões
de câmbio entre os países do bloco. Dessa
entre o sistema bancário europeu e o
forma a apreciação do câmbio real e menor
sistema financeiro estadunidense.
produtividade dos países da periferia em relação ao centro do bloco concorrem para
a) Direcionamento
dos
fluxos
internacionais de capital para os
a
redução
ainda
mais
intensa
de
competitividade.
PIIGS Havia uma expectativa de eficiência
b) Interconexões entre o sistema
dos fluxos de capital dentro do bloco, após
bancário europeu e o sistema
a criação da zona do Euro, pois a queda na
financeiro estadunidense
taxa de juros na periferia do bloco
As interconexões entre o sistema
resultaria em maiores possibilidades de
bancário europeu e o sistema financeiro
estadunidense contribuíram diretamente
com o advento da crise bancária, levou à
para os efeitos da crise iniciada nos EUA
mudança do posicionamento dos bancos
sobre o sistema bancário europeu, além de
europeus entre 2008 e 2010, com uma
concorrer para a dinâmica deflacionária do
expressiva desalavancagem, e ultimamente
bloco, adicionando dificuldades para se
à crise dos títulos da dívida pública dos
lidar com a crise bancária e levando à crise
PIIGS.
dos títulos públicos dos PIIGS. Com a eliminação das barreiras entre
c) A crise bancária
os mercados de capitais nacionais no
Dessa forma, a crise do sistema
bloco, a adoção do Euro e a convergência
bancário europeu se inicia de maneira
das taxas de juros a uma de referência,
similar à bolha imobiliária nos EUA, com
passou-se a acreditar em um verdadeiro
o
mercado de capitais na zona do Euro,
estimulado pelo consumo no setor de
intensificando os fluxos e a integração
construção civil, de modo que, com o
financeira do bloco e desencadeando um
início das turbulências nos mercados
forte afluxo de capitais do centro para os
financeiros internacionais, a deflação dos
PIIGS. Acompanhado do longo período de
preços de imóveis, até então numa
expansão,
tendência de valorização,
essa
possibilidade
situação de
criou
crise
a
bancária,
acelerado
ritmo
negativamente
o
acumulação
impactou
desempenho como
dessas
evidenciada com a reversão dos fluxos
economias,
financeiros após 2008.
contração das decisões de gastos dos
O próprio comportamento do sistema
bem
de
resultou
na
atores econômicos.
bancário europeu, então, foi um dos
A crise bancária ocorre, então, com a
responsáveis na eclosão da crise do
crescente dificuldade dos bancos em
subprime nos EUA, visto as relevantes
financiarem seus passivos por meio de
posições
ativas
blocos
mercados monetários atacadistas, uma vez
europeus
no
financeiro
que a deflação dos ativos devido à
dos
grandes
sistema
estadunidense, financiados por fundos
deterioração
monetários do país, e o aumento na taxa de
expectativas levou ao congelamento e/ou
alavancagem
bancos.
retração da oferta de crédito, dificultando o
Dessa forma, os efeitos na zona do Euro
refinanciamento da posição das famílias,
não podem ser entendidos apenas como
que, por sua vez, elevou a inadimplência,
choques
concorrendo para um ciclo vicioso.
praticada
externos,
pelos
pois
a
interconectividade entre os dois sistemas,
do
estado
geral
de
O sistema bancário, portanto, passou
dúvidas acerca da viabilidade dos títulos
a adotar uma estratégia defensiva após
públicos desses países. A partir de 2010,
2008, diminuindo sua exposição externa,
então, os problemas oriundos da ausência
com a redução da posse de ativos que
de autonomia monetária dos países da
estavam ligados à crise; reduzindo a taxa
zona do Euro são explicitados pela crise da
de
dívida pública dos PIIGS.
crescimento
da
empréstimos,
o
negativamente
no
concessão que
de
impactou
consumo
e
nos
d) A crise dos títulos públicos
investimentos; aumentando a posse de
A crise da dívida pública nos PIIGS
ativos de maior liquidez e de títulos
se inicia, quando, entre 2009 e 2010, os
públicos dos países da zona do Euro; e
títulos públicos da Grécia são atingidos
com
pela crise bancária. O problema de
uma tendência
participação
do
de redução da com
liquidez no mercado de negociação desses
passivo externo, bem como diminuição da
ativos, devido à impossibilidade dos
taxa de crescimento da emissão de títulos
governos nacionais em garantirem os
de dívida, denotando o aumento da
preços e a postura conservadora do BCE,
incerteza dos agentes que financiavam
intensificou ainda mais a crise bancária na
esses
estas
Eurozona. Especialmente a partir de 2010,
2010,
ocorre o descolamento dos rendimentos
desencadeando a reversão dos fluxos de
dos títulos públicos a longo prazo dos
capitais nos PIIGS.
PIIGS em relação aos títulos da Alemanha,
bancos,
posições
até
Dessa
financiamento
que
mantiveram
o
início
forma,
o
de
endividamento
público bruto em relação ao PIB dos PIIGS, que se manteve relativamente estável durante o longo período de expansão, elevação, instituição
verificou pois
a
fiscal
uma
expressiva
ausência
de
supranacional
relutância do BCE
em
uma e
a
Nacionais
a
A possibilidade de que os títulos públicos dos PIIGS não fossem honrados pelos governos nacionais e que estes não contariam com auxílios efetivos das instituições supranacionais europeias levou à queda dos seus preços e ao aumento das taxas de juros, com efeitos altamente adversos sobre o sistema bancário, a economia e as condições de endividamento público dos PIIGS (De Grauwe, 2011).
atuar como
emprestador de última instância obrigou os Estados
com destaque para a Grécia.
intervirem
no
salvamento dos bancos, socializando os prejuízos privados para manter o todo o sistema e contribuindo para o aumento das
A elevada exposição dos bancos europeus quanto a esses títulos, então, contribuiu para o recrudescimento da crise bancária, dado que a queda abrupta dos preços e diminuição da avaliação desses
papéis concorreram para a desvalorização
dos títulos públicos, que são ativos
dos ativos dos bancos e a conseguinte
negociáveis, e aumento da participação de
maior dificuldade para essas instituições
empréstimos, ativos não-negociáveis. Este
captarem
movimento,
recursos
nos
mercados
associado
à
redução
de
financeiros internacionais e via BCE.
financiamentos internacionais, sugere o
Principalmente no segundo semestre de
comportamento defensivo dos bancos,
2011, essas dificuldades de captação
então, menos dispostos a absorver títulos
geram
dessas economias em seus ativos.
grandes
incertezas
quanto
à
robustez e à viabilidade do funcionamento
Dessa
forma,
evidencia-se
a
do sistema bancário da zona do Euro. O
importância dos resgates financeiros do
movimento de fuga dos capitais se torna
BCE, FMI e da Comissão Europeia para a
claro em 2010, com a eclosão da crise da
manutenção da estabilidade financeira na
dívida pública nos PIIGS, em que se
zona do Euro, pois garantia a solvência do
verifica a diminuição da participação de
setor
investidores estrangeiros nos títulos desses
impossibilidade de efetivação de uma
países, enquanto há um aumento destes em
política monetária autônoma. Contudo, ao
títulos alemães, denotando a existência de
condicionar
vários Euros na Eurozona.
empréstimos
público
dos
a à
PIIGS
diante
concessão adoção
de
da
desses reformas
Ao mesmo tempo em que se seguia
estruturais, a retomada do crescimento a
uma tendência de diminuição da exposição
partir de políticas anticíclicas se torna
dos bancos dos países centrais da Europa
ainda mais difícil, uma vez que já estava
quanto aos títulos dos PIIGS, ocorre uma
praticamente inviabilizada por conta das
alteração
políticas de salvamento realizadas pelos
na
dívida
pública
destes
governos, com diminuição da participação
Tesouros Nacionais.
4. OUTROS PAÍSES NA CRISE a) Espanha
plano
Depois de anos de crescimento e salários
altos,
o
estouro
da
bolha
imobiliária e suas repercussões, em 2007, arrasou a economia espanhola e, no ano seguinte, o país entrava em na sua pior recessão em mais de quatro décadas. O
de
austeridade
e
reformas
trabalhistas, implantadas pelo governo do conservador Mariano Rajoy, facilitaram as demissões e levaram a uma onda de protestos sem precedentes. O desemprego atingiu 27%. Entre os jovens, chegou a 50%, empurrando toda uma geração para
fora do país. A UE emprestou cem bilhões
Unido, um sintoma de quanto terreno o
de euros para salvar os bancos espanhóis.
país perdeu. A economia italiana está 10%
Porém, o escândalo de corrupção e a
abaixo de onde se encontrava antes da
subsequente condenação do partido de
recessão
Rajoy no Caso Gürtel impediram a
agravante é o desemprego entre os jovens,
continuidade do governo. Assim, assume o
que supera os 30%.
do
de
2007-2008.
Outro
governo Sánchez com o pior resultado na
Cerca de dois milhões de pessoas,
história recente, sem sucesso para formar
em sua maioria jovens formados e
uma coalizão para governar o país.
qualificados, emigraram do país para
E
atualmente,
o
país
está
se
recuperando. A economia cresce em torno de 3% desde 2015, embora o desemprego continue alto (17%). A crise deixou sequelas
profundas
na
identidade
espanhola, simbolizadas pelas tentativas de separação da Catalunha, que representa
buscar oportunidades em outros lugares. Parte da população italiana viram seus descendentes emigrarem devido às poucas perspectivas, enquanto ao litoral do país chegam barcos cheios de estrangeiros desesperados – 127.000 no ano passado – em busca de asilo. Embora essas duas migrações não
20% do PIB espanhol. Em 2017, após um referendo considerado ilegal pela Justiça de
Madri,
a
região
aprovou
a
independência, ameaçando nova era de instabilidade.
A
recente
eleição
do
socialista Pedro Sánchez ajudou a reduzir a tensão entre Barcelona e Madri com a promessa de aumentar os gastos públicos.
tenham
relação
direta,
para
muitos
italianos elas expressam, junto com a perda do nível de vida, a sensação de que seu país caminha na direção errada. Assim, não surpreende que tenham rejeitado nas urnas
os
partidos
tradicionais,
que
dirigiram o país nos últimos 25 anos, e optado
por
dois
movimentos
pouco
b) Itália
convencionais: a Liga Norte, com uma
Já na economia da Itália, a terceira
firme
postura
anti-imigração,
e
o
maior da zona do euro, a crise da dívida da
Movimento Cinco Estrelas (M5S), com
zona
uma posição antissistema, que foi fundado
do
euro
em
2010-2011
foi
remendada, mas não está perto de estar
pelo comediante Beppe Grillo.
resolvida. Hoje, o panorama da Itália não é
c) Portugal
tão bom. Seu PIB caiu para o oitavo posto
Ao contrário de outros países, não
mundial e é 36% menor que o do Reino
houve estouro de bolha em Portugal. Foi um
processo
gradual
de
perda
de
competitividade, com o aumento dos
econômico, a Irlanda foi do boom ao
salários
de
desastre financeiro em um espaço de
exportações de baixo valor da Ásia para a
apenas três anos. A expansão do mercado
Europa.
imobiliário
e
redução
Com
econômico, encontrou
das
baixo
o
tarifas
crescimento
governo
dificuldades
para
português
período
se
retraiu
dramaticamente desde 2008. O preço dos
a
imóveis caiu entre 50% e 60% e os
arrecadação necessária para arcar com os
empréstimos de risco - sobretudo na forma
gastos públicos. Quando estoura a crise
de crédito para as construtoras - se
financeira
acumularam no portfólio dos principais
global, Portugal
obter
do
passou
a
enfrentar uma grande dívida pública, com
bancos do país.
crescentes dificuldades para administrar a Para ajudar essas instituições foram
sua dívida e o aumento das taxas de juros. Assim,
o
primeiro-ministro
português, José Sócrates, tentou adotar medidas de austeridade para reduzir os gastos do governo, que incluía cortes no pagamento de pensões, aumentos de impostos e altas nas tarifas do transporte público. No entanto, a oposição considerou as medidas drásticas demais e as derrubou no Parlamento, em março. Com isto, Sócrates renunciou ao cargo. No fim, Portugal teve que pagar para tomar empréstimos, no prazo de um ano, que teve de admitir que precisaria de ajuda externa. Portugal chegou a ensaiar um forte pacote de austeridade entre 2011 e 2014 e o país chegou a receber ajuda de 78 bilhões euros da UE e do FMI para pagar a dívida. d) Irlanda Apesar de apelidada de "tigre celta" pelo seu elevado ritmo de crescimento
necessários recursos de emergência da ordem de 45 bilhões de euros (mais de R$ 100 bilhões), um déficit no orçamento do governo irlandês equivalente a 32% do PIB neste ano. À medida que a economia se retraía, cresceu o desemprego e aumentaram os temores de que o país estivesse à beira de uma volta à recessão. O
governo
teve
que
garantir
os
compromissos dos bancos, para evitar o colapso
das
instituições
financeiras.
Somente com o Anglo Irish Bank, o Estado gastou cerca de 30 bilhões de euros. Ao mesmo tempo, o tesouro arrecadava cada vez menos, pois a economia irlandesa entrou em declínio, especialmente o setor de construção. Em novembro de 2010, a Irlanda pediu assistência financeira do fundo de resgate europeu e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O país recebeu um
empréstimo emergencial de 68 bilhões de
salários
euros. Diversos bancos foram estatizados,
restringindo
como o Anglo Irish Bank, em 2009. Além
aumentando
disso, o governo estabeleceu um severo
agregado.
programa
de
austeridade,
dos
funcionários benefícios o
imposto
públicos, sociais
sobre
e valor
reduzindo
5. A CRISE GREGA E SEUS MECANISMOS DE ESTABILIZAÇÃO No que tange a crise na Grécia, muitos
Era sabido que resgate por si só não
pensam que o principal fator fora o efeito
resolveria os problemas do país, apenas
da crise internacional em 2008 sobre a
daria mais tempo para que o governo
frágil
tentasse
economia.
Contudo,
o
mais
tomar
medidas
importante é entender a origem dessa
necessárias
“fragilidade” grega. O ano de 1971 é
recuperação da economia. Os níveis do
marcado como o último ano em que o país
balanço de pagamentos, do PIB per capita
possuiu superávit primário. No decorrer
e o de desemprego são três dos diversos
dos anos, a dívida pública só aumentou,
termômetros utilizados para avaliar a
sendo que em 2000 já chegava à 104,9%
saúde de uma economia. Como podemos
do PIB, ou seja, já equivalia a 136,47
ver
bilhões de dólares atuais.
apresentavam péssimos resultados. A título
Para alguns, o primeiro marco do agravamento da crise grega se deu em maio de 2010, quando o FMI confirmou a
nos
para
a
consideradas
gráficos
estabilização
abaixo,
e
todos
de comparação, em 2018 o PIB per capita da Alemanha foi de USD 48.670 e o de Luxemburgo de USD 113.954.
concessão do primeiro resgate financeiro
Uma análise do PIB (Gráfico 1) per
que seria cedido ao governo da Grécia.
capita nos permite observar basicamente o
Foram 110 bilhões de Euros que seriam
nível de riqueza de um país, o gráfico
disponibilizados ao longo de 3 anos, tendo
acima
como principal objetivo garantir um
expressiva na renda do grego, mesmo os
respiro na grave crise de débitos das contas
vultosos
nacionais,
comunidade internacional não contiveram
evitando
uma
ainda
mais
perigosa quebra dos cofres públicos e uma consequente declaração de moratória.
mostra
essa queda.
uma
resgates
queda
bastante
concedidos
pela
Gráfico 1 - PIB per capita grego
Fonte: Tradinoeconomics, World Bank Gráfico 2 - O Balanço de pagamentos em percentual do PIB grego
Fonte: Tradinoeconomics, National Statistical Service of Greece O balanço de pagamentos (Gráfico
presentes
quando
os
cofres
2) simplesmente mostra a relação entre a
governamentais possuem maior entrada do
saída e a entrada de dinheiro de uma
que saída de moeda. É normal que os
economia em termos do PIB. As barras
índices das economias não sejam sempre
amarelas mostram que o governo gasta
superavitários, o real problema surge
mais dinheiro do que arrecada, neste caso
quando o déficit além de persistente ao
temos um déficit. Já as barras azuis estão
longo do tempo é muito acentuado.
Como o próprio nome revela, o nível
relevante dos moradores não possuem
de desemprego (Gráfico 3) mostra a
receitas
oriundas
porcentagem da população que não possui
Consequentemente, a economia apresenta
trabalho formal, são vários os efeitos
menor mercado consumidor e menores
práticos que podem ser observados em
níveis
economias com desemprego elevado. Um
recuperação ainda mais complicada. O
deles é o aumento da desigualdade e a
gráfico abaixo mostra os níveis de
queda na renda média já que parte
desemprego grego ao longo de vários anos.
de
do
produção
trabalho.
que
tornam
a
Gráfico 3 – Os níveis percentuais de desemprego gregos
Fonte: Tradinoeconomics, National Statistical Service Of Greece Observando superficialmente esses três indicadores é facilmente observável que o primeiro resgate recebido pelo governo grego não resultou em quaisquer melhorias imediatas na economia do país.
principal deles foi o corte em 53% nos valores dos títulos públicos do governo. Mesmo
adotando
medidas
de
austeridade e perdoando dívidas de 106 bilhões junto ao setor privado, o governo
O segundo bailout consistia em um
grego ainda se encontrava numa situação
empréstimo de 130 bilhões de Euros e
de déficit bastante difícil no início de
novas
de
2012. Porém, considerando que a Grécia
o
faz parte da Zona do Euro, para os países
principal objetivo consistia em evitar a
centrais do bloco, declarar moratória não
quebra dos cofres governamentais. Alguns
era uma
exigências
austeridade,
como
por
medidas
anteriormente,
efeitos imediatos puderam ser notados, o
opção
na
época.
Bastante
pressionada, começam as discussões para
luxo), fim de descontos fiscais e alteração
se firmar um novo acordo.
das regras de aposentadoria foram alguns
Contudo, para aprovar esse novo acordo com seus credores, mais uma nova leva de medidas austeras precisavam ser aprovadas. Revisão sobre a taxação de impostos (principalmente sobre artigos de
dos itens alterados e que geraram bastante revolta por parte da população. Além disso, incapaz de efetuar pagamento de taxas de juros altíssimas, em 2014, o governo deixa de emitir títulos de dívida pública.
Gráfico 4 – Dívida externa grega em milhões de Euros
Fonte: Tradinoeconomics, Bank of Greece Ainda assim, todas as medidas ainda
abril de 20185, vemos um avanço no
não foram o suficiente. Em 2015, o Fundo
crescimento do PIB. As reformas do
Europeu
sistema tributário, controle de capitais,
de
Estabilidade
Financeira
declara a Grécia em situação de moratória.
racionalização
de
benefícios
sociais,
Analisando o indicador de dívida externa,
reforma da previdência são atribuídos à
podemos verificar que as ações do governo
esse crescimento.
tiveram efeito de curto prazo e, logo, ela voltou a crescer. Enfim, com o último resgate em 2015 e mais reformas efetuadas pelo governo, o país começa a apresentar sinais de melhora. Em um relatório da OCDE de
5
30 April 2018 - Economic Survey of Greece. Disponível em: <http://www.oecd.org/economy/greeceeconomic-snapshot/>.
Porém, ainda coloca que mais reformas
país ainda sofre muito no ponto de vista
são
recuperação
social, uma vez que os índices de pobreza
completa, como a alteração do salário
ainda são muito altos, principalmente entre
mínimo,
os mais jovens. Em agosto de 2018, a
necessárias
para
a
logísticas
(infraestrutura)
e
de
mais
transporte
processos
de
liberalização da economia.
Grécia anunciou a saída do programa de recuperação.
Além disso, o reporte não deixa de citar que apesar dessa melhoria econômica, o
CONCEITOS-CHAVE Zona do Euro: É composta pelos
estabilidade dos preços: a inflação pode
países que têm o Euro como moeda oficial.
estar a, no máximo, 1.5 ponto percentual
São eles: Alemanha, Áustria, Bélgica,
acima da média inflacionária apresentada
Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Estônia,
pelos 3 países com melhores índices.
Finlândia,
França,
Irlanda,
Itália,
Luxemburgo, Malta, Holanda, Portugal, Grécia e Espanha.
Dívida pública: Ocorre quando o valor dos gastos públicos ultrapassa a receita, isto é, o valor de arrecadação de
Pacto
de
Estabilidade
e
um determinado governo, que passa a
Crescimento: Acordo firmado em 1997
contrair dívidas de entes nacionais e
que preconiza responsabilidade fiscal entre
internacionais. A dívida pública engloba as
os membros da União Europeia, de forma
dívidas interna e externa de um país. Em
a não afetarem o crescimento econômico
2012, a dívida pública grega atingiu 159%
do bloco. De acordo com o PEC e os
do seu PIB. Em 2015, o valor era 175%7.
Critérios de Maastricht6, os países da Zona do Euro não podem possuir déficit
Austeridade:
Política econômica
orçamentário maior que 3% do PIB e sua
que consiste em corte de gastos públicos,
dívida pública não deve ultrapassar 60%,
aplicada principalmente para conter o
sob pena de multa. Há ainda o critério de
crescimento de dívida pública e renegociála em âmbito internacional. Instituições
6
European Council. Conditions for joining the euro area: convergence criteria. Disponível em: <https://www.consilium.europa.eu/en/policies/j oining-the-euro-area/convergence-criteria/>.
7
EUROSTAT. Government deficit/surplus, debt and associated data. Disponível em: <https://ec.europa.eu/eurostat/en/web/product s-datasets/-/GOV_10DD_EDPT1>.
financeiras internacionais como o FMI e o
instituição. Na maioria dos casos esta
Banco
ajuda externa vem de recursos dos Estados
Mundial
geralmente
exigem
medidas econômicas austeras por parte dos
através dos contribuintes.
países a que cedem empréstimos através de seus Programas de Ajuste Estrutural.
Fuga de capitais: Quando grande número de investidores abandonam um
Bailout:
intermediação
país sob sinais de instabilidade (inflação,
financeira direta feita à uma instituição.
desemprego), o que por vezes acaba
Assim, um terceiro, que através da
levando a quedas drásticas nos índices
operação
econômicos.
de
É
uma
bailout,
resguarda
a
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BBC. Entenda melhor a crise econômica de Portugal. BBC News Brasil, 11 de abril de 2011. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/04/110418_qa_portugal_pacote_rp>. BBC. Entenda por que a crise política na Itália tem potencial explosivo para a economia global. BBC News Brasil, 28 de maio de 2018. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-44290112>. BBC. Portugal está superando crise econômica sem recorrer a fórmulas de austeridade, diz Economist. BBC News Brasil, 5 abril de 2017. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39501022>. BLIKSTAD, Nicholas Magnus Deleuse; OLIVEIRA, Giuliano Contento de. Instabilidade financeira na Eurozona e a crise dos títulos públicos dos GIIPS. Econ. soc., Campinas, v. 27, n. 2, p. 431-462, Aug. 2018. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010406182018000200431& lng=en&nrm=iso>. Acesso em 30, jun. 2019. BLUSTEIN, P. (2015). The IMF, the euro zone and the first rescue of Greece. CIgi Papers. DE GRAUWE, P. They European Central Bank: Lender of Last Resort in the Government Bond Markets? CEFifo Working Papers, n. 3569, 2011. DW. Como Portugal, Espanha e Irlanda enfrentaram a crise. DW Mundo, 2 de julho de 2015. Disponível em: <https://p.dw.com/p/1Frkn>. EL ERIAN, Mohamed A. O futuro grego: dívidas vencidas e títulos do Tesouro. Bloomberg, 4 de julho de 2015. Disponível em: <https://www.bloomberg.com.br/blog/o-futuro-grego-dividas-vencidas-e-titulos-dotesouro/>.
ESTADÃO CONTEÚDO. OCDE: Grécia está a caminho de se recuperar de crise e deve crescer 2% em 2018. Jornal Estado de Minas, 30 de abril de 2018. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/04/30/interna_internacional,95 5375/ocde-grecia-esta-a-caminho-de-se-recuperar-de-crise-e-deve-crescer-2.shtml>. ESTADÃO CONTEÚDO. Grécia aguarda “momento certo” para voltar a emitir títulos. EXAME Economia, 20 de julho de 2017. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/economia/grecia-aguarda-momento-certo-para-voltar-aemitir-titulos/>. EUROPEAN COMISSION. The European Commission's priorities. Disponível em: <https://ec.europa.eu/commission/index_en>. EUROPEAN COUNCIL. Greece: the third economic adjustment programme. Disponível em: <https://www.consilium.europa.eu/en/policies/financial-assistanceeurozone-members/greece-programme/>. FARHI, Maryse. Revelações da crise: moeda fiduciária e as relações TesouroBanco Central. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 34, n. 3, p. 396-412, jul./set. 2014. FAVARO, Manola Marthos. O Bailout versus o Bail-in. Faculdade de Direito Universidade de Coimbra, Junho 2018. Disponível em: <https://eg.uc.pt/bitstream/10316/85897/1/O%20Bailout%20versus%20O%20Bail%20i n%20pronto.pdf>. FRANCE PRESSE. Grécia volta ao mercado de títulos após 3 anos afastada. G1 Economia, 24 de julho de 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/grecia-volta-ao-mercado-de-titulos-apos-3anos-afastada.ghtml>. G1. Fundo Europeu declara a Grécia oficialmente em moratória. G1 Economia, 3 de julho de 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/07/fundo-europeu-declara-greciaoficialmente-em-moratoria.html>. Greece Economic Snapshot. OECD. <http://www.oecd.org/economy/greece-economic-snapshot/>.
Disponível
em:
GUROVITZ, Helio. Mais uma crise sacode a Europa. G1 Mundo, 1 de junho de 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/blog/heliogurovitz/post/2018/06/01/mais-uma-crise-sacode-a-europa.ghtml>. HYPPOLITE, P.-A. (2016). Towards a Theory on the Causes onf the Greek Depression: An Investigation of National Balance Sheet Data (1997-2014). Crisis Observatory. ISSING, O.; ANGELONI, I.; GASPAR, V.; TRISTANI, O. Monetary policy in the Euro area: strategy and decision making at the European Central Bank. Cambridge University Press, 2004.
KARYOTIS, G., & GERODIMOS, R. (2015). The Politics of Extreme Austerity: Greece in the Eurozone Crisis. Palgrave Macmillan UK. LAPORTA, Laís. Entenda por que a dívida da Grécia cresceu tanto. G1 Economia, 9 de julho de 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/07/entenda-por-que-divida-da-greciacresceu-tanto.html>. LAVOIE, M. The monetary and fiscal nexus of neo-chartalism: a friendly critique. Journal of Economic Issues, v. 47, n. 1, p. 1-32, 2013. MINSKY, H. P. Stabilizing an unstable economy. New Haven: Yale University Press, 1986. MINSKY, H. P. Can it happen again? Armonk, New York: M. E. Sharpe, Inc., 1982. PARLAMENTO EUROPEU. Regimento do Parlamento Europeu. Disponível em: <http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//TEXT+RULESEP+20180731+RULE019+DOC+XML+V0//PT&language=PT&navigationBar=YES>. PELAGIDIS, Theodore. Greek economy: From bailout program exit to recovery? BROOKINGS. 6 de março de 2019. Disponível em: <https://www.brookings.edu/blog/up-front/2019/03/06/greek-economy-from-bailoutprogram-exit-to-recovery/>. PECEQUILO, Cristina S. A União Europeia: Os Desafios, a Crise e o Futuro da Integração.1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. 184p. REDAÇÃO. Merkel visita Grécia, apoia governo após retorno ao mercado. EXAME Mundo. 11 abril 2014. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/mundo/merkel-visita-grecia-apoia-governo-apos-retornoao-mercado/>. SARMENTO, Claudia. Cenário econômico na Europa há dez anos e nos dias de hoje. O GLOBO Economia, 9 de setembro de 2018. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/cenario-economico-na-europa-ha-dez-anos-nosdias-de-hoje-23037977>. SCHELLER, H. O Banco Central Europeu: história, papel e funções. Banco Central Europeu, Eurosistema, 2006. STILLE, Alexander. O que deu errado na Itália. El País Internacional, 24 de junho de 2018. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/22/internacional/1529669036_447163.html> UFSC. Estrutura Institucional. Módulo Jean Monnet UFSC. 5 de outubro de 2018. Disponível em: <http://jeanmonnet.paginas.ufsc.br/2018/10/05/estruturainstitucional/>.