JORNAL LABORATÓRIO
GOIÂNIA | PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS | 2016 / 1
especial
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cultura
6 EDIÇÃO MATUTINO
ARTE É SAÚDE
Voluntários que se fantasiam de palhaços e levam alegria a pacientes internados. Artesanato que se torna aliado na luta de mulheres contra o câncer. Tratamentos com música, com direito a saraus em hospitais, como formas de superar doenças. Conheça iniciativas em que a arte é fundamental na busca de melhor qualidade de vida para quem tanto precisa.
Págs. 14 a 18
MAGIA QUE NÃO ENVELHECE Ele foi criado há 120 anos, mas está em plena forma. O cinema, que encanta plateias de todo o mundo e revela gênios como o diretor Alfred Hitchcock (foto), também é espaço para fazer reflexões sobre o mundo.
Págs. 6 e 7
A PELE QUE HABITO As tatuagens deixaram de ser a marca de tribos restritas e hoje são encaradas como formas de expressão e arte. Veja como esse mercado tem se expandido em Goiânia e conheça alguns estilos populares de tattoos.
Págs. 26 e 27
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OPINIÃO
CULTURA DO MACHISMO Diagramação: Caroline Castro
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machismo aparece de repente numa frase. “Lugar de mulher é na cozinha”. Ouvi isso tantas vezes que se não pensasse criticamente no assunto, poderia até recuar! E acreditem: há quem pense que mulheres não podem estar em todos os lugares! Em nosso país, nós mulheres ainda somos uma pequena parcela nos lugares que representam poder, onde há disputa, onde se passa pelo crivo da confiança, do crédito prévio, da aposta de quem decide. Vai dos acionistas que selecionam alguém para cargos mais importantes de uma empresa, aos dirigentes de partidos políticos, passando por eleitores (e eleitoras). Sim, o machismo pega não só homens, como também mulheres. Ainda que não seja mais real a divisão de trabalho quando ‘cabia’ aos homens sustentar a família com seu salário e às mulheres a limpeza da casa, cuidado integral das crianças, idosos e doentes, isso não saiu completamente da vida das pessoas. Assim, mulheres continuam tendo uma sobrecarga ao juntar trabalho remunerado com o não remunerado doméstico. E a reprodução desse padrão localiza a “culpa” por qualquer fato desagradável ou inesperado que possa ocorrer na vida dos filhos.
REITOR Profº Wolmir Therezio Amado VICE-REITORA Profª Olga Izilda Ronchi PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO Profª Sônia Margarida G. Sousa
PRÓ-REITOR DE SAÚDE Profº José Antonio Lôbo CHEFE DE GABINETE Profº Lorenzo Lago JORNAL IMPRESSÕES: Direção da Escola de Comunicação: Profª Sabrina Moreira Coordenação do Curso de Jornalismo: Profº Antônio Carlos Cunha Professores: Antônio Carlos Cunha, Carolina Goos, Carolina Melo, Mariana Calaça, Rogério Borges, Salvio Juliano, Samuel Vaz
PRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Profª Milca Severino Pereira
Edição Geral: Profº Rogério Borges
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO Profº Daniel Rodrigues Barbosa PRÓ-REITOR DE COMUNICAÇÃO Profº Eduardo Rodrigues da Silva
O feminismo liberta, é solidário, democratiza, abre os olhos para um mundo em que a mulheres e homens seja dada a oportunidade de pleno desenvolvimento e vida digna. Precisamos avançar muito, especialmente na educação para a diversidade. Como diz Simone de Beauvoir: “Querer ser livre é também querer livres os outros.”
CHARGE
EDITORIAL
PRÓ-REITORA DE EXTENSÃO E APOIO ESTUDANTIL Profª Márcia de Alencar Santana
PRÓ-REITORA DE DES. INSTITUCIONAL Profª. Helenisa Maria Gomes de Oliveira Neto
ex-vereadora em Goiânia e como deputada federal participou da CPMI da Violência Contra a Mulher.
Muitas mulheres deixam inclusive de crescer na profissão, abrindo mão de salários melhores, para não humilharem” seu companheiro. Rose Marie Muraro disse que pactuamos com os patrões, mas não pactuamos com os maridos. Esses assuntos precisam ser esclarecidos quando se começa uma relação mais longa, já que a educação de gênero é um processo que a pessoa precisa querer e, às vezes, até buscar ajuda para isso. Esse jeito de pensar machista também chega à violência familiar e doméstica. A Lei Maria da Penha sintetizou e tipificou bem as formas em que se dá. Além da violência física e sexual, também ocorrem a psicológica, moral e a patrimonial. É cotidiano denúncias de espancamentos, estupros, ameaças de morte, cerceamento e proibições para que as mulheres não tenham amigos ou não veja parentes, além da repetição de humilhações, como chamá-las de burras, feias, indesejadas. Os homicídios de mulheres no Brasil estão em torno de 13 por dia, sendo que 7 são feminicídios – especificamente mortas na condição de mulher. Outra coisa que se ouve é que feminismo e machismo são a mesma coisa, às avessas. Nada mais absurdo! O machismo escraviza, maltrata, impede o desenvolvimento das pessoas.
EXPEDIENTE ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR DA PUC GOIÁS: GRÃO-CHANCELER Dom Washington Cruz, CP
Marina Sant’Anna é advogada,
Projeto gráfico: Profº Salvio Juliano Reportagens: 3º período de Jornalismo Fotografias: 2º período de Jornalismo Edição e Diagramação: 5º período de Jornalismo Monitoria: Laura Weiller (6º período)
A presente edição do jornal-laboratório IMPRESSÕES, do curso de Jornalismo da PUC Goiás, é dedicada à cultura. Portanto, seu tema central aborda os mais diferentes aspectos da vida cotidiana de todos nós. A cultura é o que nos dá identidade e seu caráter dinâmico possibilita várias abordagens. Nesta edição, reportagens sobre como a cultura auxilia no tratamento de doenças, na educação de jovens e crianças, de que forma podemos gravá-la na pele como tatuagens ou no espírito como atos solidários dão a dimensão de que tudo o que fazemos é cultural. Boa leitura!
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redes sociais
Diário de exposições
O Snapchat é o ambiente perfeito para os “nudes”? Depende de você Texto: Geovana Alves Tavares Edição e Diagramação: Gabrielly Pinheiro
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ançado ao público em 2011, o Snapchat já conquistou milhões de usuários em todo o mundo e esse número só aumenta. A nova rede social ficou famosa por proporcionar mais segurança aos usuários criando um ambiente perfeito para os famosos “nudes”. O Snapchat garante deletar todas as imagens enviadas assim que elas são visualizadas. O aplicativo assegura que a troca de informações e dados pessoais sejam privados. Tal garantia fez com que os nudes, as fotos de conteúdo sexual, se tornassem frequentes entre os usuários. De acordo com a psicóloga Alessandra Nunes, o fenômeno dos “nudes” pode ser explicado a partir do desejo de liberdade e da busca por práticas não entediantes na sociedade. “Primeiro exponho minha rotina. Depois de um tempo não há mais tanta novidade, então passo a expor aquilo que gera um frenesi. Como as relações têm se tornado mais superficiais através da internet, as pessoas conseguem se mostrar, mostrar partes íntimas, como não teriam coragem no cotidiano real”, analisa. O Snapchat não deixa rastros, as imagens são excluídas e quem as envia escolhe o tempo de exposição e para quem elas serão enviadas. Entretanto, ainda há a possibilidade de tirarem um “print”, ou seja, uma cópia do conteúdo compartilhado. Mesmo que o aplicativo acuse se “printaram” a foto enviada, isto não dá controle quanto ao que farão com a mídia. “Por mais que o Snapchat mostre quem fez o print da sua foto, existem outros meios de você salvá-las sem ninguém saber. Quando você manda nudes, precisa ter muita certeza e confiar na pessoa que vai receber. Você tem que saber que está se expondo para ela e se o conteúdo vazar é responsabilidade sua”, afirma a usuária do aplicativo, Isabela Soares.
“O aplicativo de certa maneira é seguro. Fotos e vídeos quando vazam, geralmente é por culpa do usuário”, afirma o programador Pedro Henrique Rocha. De acordo com ele, o comportamento dos usuários influencia na segurança das mídias postadas e os próprios utilizadores podem tomar medidas para minimizar os riscos. “Se o usuário deixa o celular sem senha e fica tirando muitos prints dos snaps, ele fica mais vulnerável. Diminuir o tempo de exposição de fotos comprometedoras, usar senhas pra proteção e evitar postar fotos que possam comprometê-lo minimizam as chances dos usuários terem uma surpresa desagradável”, diz Pedro Henrique. De acordo com o site PhotoWorld, o aplicativo anda lado a lado com as mais famosas redes sociais, apesar de possuir menos usuários. A cada segundo são compartilhadas mais de oito mil fotos no Snapchat. O número de mídias compartilhadas supera o do Facebook, Instagram e Whatsapp. A rede social conquistou até mesmo gente notória. Celebridades nacionais e internacionais utilizam o aplicativo para compartilhar o seu dia a dia por meio de vídeos e fotos. A rede social que proporciona uma maior interação abrigou também os vlogueiros e as blogueiras, famosos na web por terem blogs ou divulgarem vídeos. Kennedy Xavier é estudante de Direito da PUC Goiás e também é conhecido por ser vlogueiro. Kennedy ficou famoso na internet pelo seu canal no Youtube Besteirol Fuleiro, alcançando mais de quatro mil seguidores. De acordo com ele, o Snapchat vem revolucionando ao tornar o contato com as pessoas mais direto. Como um diário aberto, o usuário pode compartilhar o seu dia a dia de forma divertida.
Como funciona? Fotos e vídeos ficam no ar por até 24h. Você estipula o tempo em que tais conteúdos permanecerão visíveis. Mídias postadas na sua galeria podem ser vistas por outros usuários que lhe adicionarem. Você também pode ver postagens de seus amigos e de outras contas. Fotos e vídeos podem ser enviados em caráter privado. Você tem a a opção de bloquear usuarios indesejaveis. Você pode adicionar filtros e animações nas fotos e vídeos.
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Impressões [2016 | 1 ]
moda
Blogs sobre o tema são nova mina de ouro O hobby se tornou profissão e tem influência até na área econômica Texto: Geovanna Lemes e Isabela Soares Edição: Rayane Aires Diagramação: Isadora Seabra diárias que o site recebe e a credibilidade das informações, visando os serviços e parcerias entre marcas e blogs. A atriz e blogueira Julia Faria, uma das blogueiras mais influentes nas redes sociais, com mais de 500 mil seguidores no Instagram, conta que a publicidade tem toda a importância na vida de uma blogueira. “Principalmente pra quem vive exclusivamente com a renda do blog.” Para Julia, a melhor parte de ser blogueira são as viagens que o trabalho proporciona. Uma coisa é certa, os blogs de moda conquistam um público cativo e tendem a aumentar nos próximos anos, já que, cada vez mais profissionalizados, têm se tornado fonte de renda.
Fotos: Arquivo Pessoal
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busca pela beleza estampada em camostra que os blogs vêm se destacando não pas de revista sempre foi uma jornasó pelo grande poder de influência, mas tamda sem fim para as mulheres. Nunca bém por modificar o estilo de vida das pessosatisfeitas com o próprio corpo, nem com a as. Ao ser indagada a respeito da influência aparência, estão sempre à procura de renoexercida pelos blogs, a estudante de Nutrição var o estilo. Não é por menos que o comércio Lorena Braga, 27 anos, revela: “Quando eu na área da beleza dificilmente vejo uma blogueira usando um produto já entra em crise. Há alimagino uma ocasião para usar o look.” “A gum tempo, os blogs Uma das estratégias utilizadas pelos publicidade de moda conquisblogs para sua manutenção financeira taram seu espaço é, de forma direta, são as redes sociais. O estudante de jorcativo nesse terre- o retorno financeiro nalismo e blogueiro Braz Simplicio, 21 no e desde então anos, explica que a publicidade avalia de um blog.” vêm ganhando o número de seguidores dos blogueium grande públiros em redes sociais como o Instagram. Braz Simplicio, co. No Brasil, o seAlém disso, são avaliadas as visualizações blogueiro tor ligado à beleza representa 11% do mercado mundial na área, fazendo do País o terceiro em todo o mundo nesse tipo de consumo. De acordo com a Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), esse setor movimentou 101 bilhões na economia brasileira em 2014. Nesse contexto, os blogueiros de moda, como ficaram conhecidos, levam para o espaço virtual um novo formato da famosa “dica de amiga”, atingindo milhares de seguidores e tornando-se verdadeiras celebridades. Divulgando marcas e produtos, transformam o hobby em profissão. Com as publicações, despertam o interesse de consumo nos leitores, atraem como patrocinadores e parceiros grandes marcas, chegando a faturar até 100 mil reais por mês com as propagandas. A professora e economista Núbia Simão relata que “as marcas têm procurado personagens mais reais, que tenham a identificação do público, pessoas que aparentam ser comuns, que testam produtos e os indicam”. O artigo A Influência dos Blogs de Moda sobre o Comporta>> A blogueira Julia Faria em postagens mento de Consumo dos Leitores, escrito por Heloize em seu blog Chrystine Buryk e Sandra Regina Rech, da Universidade do Estado de Santa Catarina,
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NEXÃO
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Viciados em séries... Na TV e na internet Texto: Rodolpho Rezende, Douglas Rocha, Nívia Galdino Edição: Carolina Cordova e Sarah Gabriella Diagramação: Carolina Cordova
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m meados da década de 1980 surgia um novo meio de comunicação que iria mudar o mundo: a internet. Sua grande revolução foi a diminuição das distâncias físicas a partir do mundo virtual. Segundo a pesquisa da União Internacional das Telecomunicações (UIT), temos em todo mundo 3,2 bilhões de pessoas conectadas : à internet. Não por menos, o espaço é cada vez mais utilizado para a divulgação de conteúdos que, antes, eram exibidos nas antigas salas de televisão, como, por exemplo, as séries norte-americanas No Brasil, os seriados norte-americanos ganharam um novo impulso a partir da década de 1990, quando séries como Um maluco no pedaço (The Fresh Prince of Bel-air), Três é demais (Full House), Barrados no Baile (Beverly Hills, 90210) e Friends fizeram um enorme sucesso e chamaram a atenção do público para esse novo tipo de entretenimento. A TV por assinatura reinou por muitos anos trazendo esses sucessos para o Brasil.
Era o sonho de consumo de muitas pessoas que queriam sair da mesmice da TV aberta. Mas como pode demorar semanas e até mesmo meses para que um episódio exibido nos EUA seja reproduzido no Brasil, surgiram sites e aplicativos que fornecem esse conteúdo, com a vantagem de poder ser assistido a qualquer momento e com um preço mais acessível. “A internet modificou esse meio de comunicação, trazendo essa mudança também para a vida dos telespectadores. Porém, a grande transformação iniciou-se nesse século, pois a TV não é tão rápida e interativa quanto a web” observa o professor de Teorias da Comunicação dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da PUC Goiás, Joãomar Carvalho. O estudante de publicidade Pablo Umbelino acha importante essa transição das séries para a web. “É mais fácil e prático, e quando gosto muito de uma série, passo horas diretas na frente do computador para terminar de assistir tudo.” O pioneiro foi o Netflix, já bastante popular no País. Surgiu em 1998 e explodiu no mundo em 2011. É um serviço em que você paga uma assinatura mensal, R$ 29,90, e tem o direito de acessar todo o acervo de filmes e seriados de forma ilimitada e através de qualquer tipo de dispositivo (celulares, computadores, vídeo games e tablets). A professora de Jornalismo da Universidade Federal Goiás (UFG), Ana Carolina
Rocha Temer, vê com bons olhos essa migração das séries para a internet, mas alerta sobre a realidade da exclusão digital. “A grande vantagem da internet é a acessibilidade, qualquer hora, qualquer local, qualquer pessoa’’.
“Amo tanto as histórias que começo a criar novas ideias para as séries.” Gisele de Almeida, estudante
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Impressões [2016 | 1 ]
cinema
A arte de todas as artes Mesmo filmes cujo intuito é divertir não deixam de instigar o senso avaliativo ou o desejo de aprender Texto: Mattew Vilela Edição e Diagramação: Cleudiane Silva Monsef
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om o avanço da tecnologia, o cinema passou a influenciar um número cada vez maior de pessoas e formar diretores que o usariam para o entretenimento ou como ferramenta de expressão política ao refletir os problemas sociais de sua época. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o audiovisual foi utilizado como propaganda mercantil dos Estados em conflito, servindo de informativo para atualizar os membros do governo e a população das novidades da guerra, enquanto também era usado como artifício manipulador para influenciar as pessoas de uma ideologia. Classificado em 1911 como Sétima Arte pelo teórico e crítico de cinema italiano Ricciotto Canudo, desde o início o cinema tornou-se um subterfúgio social para vivenciar de perto situações marcantes do cotidiano, ou, simplesmente, o impossível através do lúdico. É intitulada Sétima Arte justamente por unir todas as demais, como música, teatro, pintura, arquitetura, escultura e literatura, formando um único material sensorial capaz de trabalhar os diversos sentidos do público. Isabela Boscov, jornalista formada em Rádio e Televisão pela ECA-USP, em São Paulo, diz amar cinema desde que se entende por gente. “Meus pais iam várias noites por semana ao cinema, quando eram aqueles de rua ainda. E sempre me levavam junto”. Isabela começou escrevendo sobre cultura no Jornal da Tarde, trabalhou na Folha de S. Paulo, foi editora chefe da revista Set até ser chamada para escrever sobre cinema na revista Veja, em 1999. Durante nossa conversa, perguntei o que a Sétima Arte significa para ela. Sua resposta foi enfática: “Filme é só um filme, e o importante não é supervalorizar cada filme, mas entender que eles fazem parte da vida do século 20
>> Irmãos Lumiére: os inventores do cinema
Como tudo começou “Usei
o cinema como forma de catarse, para transformar os meus demônios interiores em arte.” Ingmar Bergman, cineasta e 21. Pensar que o cinema é um mundo fechado não é saudável”. Suas palavras podem soar abruptas de início, mas seu pensamento segue um raciocínio lógico. O cinema, apesar de produzir filmes bons ou ruins, é a arte que utiliza as demais artes para compor um pensamento. “Eu usei o cinema como forma de catarse, para transformar os meus demônios interiores em arte”, já dizia o cineasta sueco Ingmar Bergman, . É também uma arte de identificação. São milhares de diretores, roteiristas e produtores expondo ao mundo a sua voz, e cabe ao público, mediante a vivência e o contexto social de cada um, escolher o que lhe traz maior significado.
Os primeiros ingressos de cinema foram vendidos a 1 franco cada, algo equivalente a 66 centavos aqui no Brasil, para um total de 33 pessoas que ocuparam o subsolo de um café em Paris por cerca de 20 minutos. O ano era 1895 e a sessão foi organizada pelos irmãos Louis e Auguste Lumière, impulsionados pelo desejo de apresentar ao mundo sua mais nova invenção: o cinematógrafo, um registro de fotogramas que quando postos em movimento gerava a ilusão da imagem animada. Preto e branco e sem som, todos pensaram que o trem ia sair da tela, transformando o pequeno experimento dos dois irmão sem uma sensação na França. Anos depois, quando Georges Melière começou a produzir pequenos filmes trabalhando com estética e perspectiva de profundidade, com cenários em movimento e efeitos de edição (vide o clássico “Viagem à Lua”, de 1902), o cinema tornou-se sinônimo de arte.
Alguns enxergam o cinema apenas como Uma pesquisa realizada com 2.000 pessopassatempo. Por um lado está certo, afinal, as em março de 2014 nos Estados Unidos ele surgiu por proporcionar a vivência do pela empresa de auditoria e consultoria Deimpossível, a proximidade de algo nunca vis- loitte to ou pouco vivenciado pelas pessoas. Para mostrou um resultado de 56% para o númeAnanias Ferreira, técnico em radiologia da ro de jovens (entre 14 e 24 anos) que só assisUFG e cinéfilo desde criança, cinema é um tem filmes e séries em tablets, smartphones, escape para descansar a mente. “Eu sempre laptops e através de consoles como PlayStaprocuro filmes que vão me divertir, me emo- tion e Xbox. Por outro lado, entre o público cionar, ou seja, em um âmbito geral, me mais velho, de 25 a 30 anos, 53% são a faentreter”, conta Ananias. Mas vor de assistir pela televisão. Já com “Eu com o passar dos anos, a lino público acima de 60 anos, tal guagem cinematográfica porcentagem aumenta para sempre procuro amadureceu. Ela divul92%. filmes que vão me ga o conhecimento ao Esta foi a primeira vez divertir, me emocionar, mesmo tempo em que que a televisão foi supeou seja, em um âmbito estimula o autoconherada pela internet, o que cimento. leva nossa atenção para o geral me entreter..” Até mesmo filmes cinema físico e a tradição cujo intuito é divertir de consumo fora de casa. Ananias Ferreira, Cinéfilo não deixam de instigar o Diante de um mercado em senso avaliativo do público plena transformação devido aos ou o desejo de aprender. “O avanços tecnológicos e a escoapelo visual e estético estimula muito lha do público por um consumais o aluno no aprendizado. A resposta, seja mo mais rápido, confortável e barato, os próela positiva ou não, é imediata” conclui a pro- prios estúdios cinematográficos têm investido fessora de filosofia Maria Lúcia Sousa, gradu- em tecnologias novas (3D, 4D, IMAX, XD), ada na Universidade Federal da Bahia, cuja vendendo experiências únicas com filmes paixão por cinema lhe impulsionou a usar milionários, cuja grandiosidade apenas a filmes em diversos trabalhos universitários. sala de cinema é capaz de proporcionar (ao Maria acredita que a emoção proporcionada menos por enquanto). Mas isso acontece papor eles incentiva o aluno a buscar mais in- ralelamente com outros investimentos destes formações sobre o tema assistido, levando-o a mesmos estúdios, em um material de custo ler e analisar melhor o assunto. “A partir dis- menor visando um consumo em casa ou por to, desta emoção, ele pensa, repensa, lê e se rede móvel. aprofunda no tema. É impressionante como A Netflixt tem sido a precursora desta o cinema é o maior recurso incentivador para revolução na maneira de assistir filmes. Inum aluno”. dependentemente do local e da maneira, o cinema não perde a sua essência como linguagem e formador de opinião, muito meE o consumo de nos como diversão. Com mais de cem anos de vida, a Sétima Arte já passou por várias cinema hoje? transformações na medida em que a tecnoQuantos filmes ao longo dos anos foram logia evoluiu. O cinema falado, que surgiu em 1926, e responsáveis por estabelecer um relacionadepois o uso das cores (na década de 1930 mento de identificação do expectador com com a empresa Technicolor) foram mudanas características de uma época? Os cabelos ças que trouxeram novas possibilidades de loiros de Marilyn Monroe nos anos 1950, o trabalhar com a linguagem cinematográfica. crescimento da contracultura que teve o seu A transição que vivenciamos hoje é muito auge nos anos 1960, ou mesmo a geração maior, pois abrange outras mídias e maneiatual criada em um mundo constantemente ras de consumo. É a evolução mediada pela conectado via celulares e computadores. E é velocidade e fragmentação, capaz de definir curioso notar como hoje o consumo de cinema se difundiu para outros meios de comu- um público e mudar o mercado. nicação, indo muito além de uma sala escura e da tela grande. A facilidade em receber a informação tem levado os estúdios a adaptarem o consumo investindo muito mais do que antes em projetos voltados para a televisão e lançamentos via streaming (assistir online) em plataformas digitais.
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Cinema é o espelho da vida
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Usando a imagem em conjunto com o texto e os demais elementos envolvidos em uma produção cinematográfica, aprende-se sobre filosofia, religião, história, costumes culturais, política, literatura, música e tudo que nos engloba como sociedade. É uma gigante máquina de múltiplas funções que desconstrói e reconstrói conceitos, cria tendências e questiona valores dentro de uma sociedade multicultural. O filme Clube da Luta, por exemplo, fala sobre a crescente sociedade de consumo; Beleza Americana e Foi Apenas Um Sonho desnudam a utopia do “sonho norte-americano”; Titanic emociona com a tragédia, mas tece uma dura crítica social sobre divisão de classes e privilégios da burguesia; Avatar é uma enorme propaganda contra o desmatamento e a destruição causada pelo homem no planeta; Batman – O Cavaleiro das Trevas é um filme de super-herói, mas entra em temas difíceis como anarquia e a instável natureza do ser humano; Tempos Modernos é Chaplin criticando o capitalismo e as condições de trabalho de sua época; e até mesmo comédias aparentemente banais, como Borat e Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!, exploram o contexto social de suas respectivas épocas para mostrar, em muitos aspectos, uma sociedade ainda presa a modismos, preconceitos e pré-conceitos. “Vamos ao cinema como quem vai a uma igreja ou algum outro lugar de culto religioso. Vamos procurar algo que seja nós mesmos, mas também maior que nós”, definiu bem o diretor Guillermo Del Toro durante uma entrevista no teatro Samuel Goldwyn da Academia em Beverly Hills, Califórnia, em 7 de outubro de 2015. Cinema é isso: conhecer mundos, pessoas, sorrir, chorar, sentir o possível e o impossível em diferentes formas e visões. É vivenciar o mágico com o apagar das luzes e o projetar da imagem. É abrir os olhos e enxergar numa sala escura a infinidade da imaginação humana.
The End.
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Impressões [2016 | 1 ]
educação
Ensinando com arte circense Escola de circo promove projeto de educação lúdica e resgata crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social
Texto: Isabel Oliveira e Shisleny Gomes Edição e Diagramação: Gabriela Rodrigues
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ernas de pau, malabares, trapézio, acrobacias e atividades pedagógicas compõem o cotidiano do Circo Lahetô. O Projeto Arte e Educação ocorre desde 1996 no local, ao lado do Estádio Serra Dourada, acolhendo crianças e adolescentes, com o objetivo de proteção daqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social. O desafio do circo é utilizar a arte, o lúdico e o colorido como ferramentas pedagógicas, se preocupando com o desenvolvimento humano. No espaço há diversas possibilidades de práticas circenses, aulas de computação e acompanhamento pedagógico. As produções de redação e leituras são organizadas com o incentivo do Projeto Tertúlia, que integra leituras de clássicos nacionais e internacionais, além de atividades de desenvolvimento de raciocínio lógico. Há iniciação esportiva duas vezes por semana, aulas de música e percussão. “A arte na sociedade em que vivemos hoje, extremamente violenta e capitalista, vem para quebrar tudo isso, resgatando o sensível da criança”, afirma o arte-educador Wallace Neris. Segundo ele, a arte conseguiu resgatá-lo da possibilidade de ir para o mundo das drogas. Ele foi o único de sua família a se interessar por teatro. O arte-educador Lucas de Souza, mais conhecido como “Palhaço Batatão”, está no circo desde seus 13 anos. Há sete trabalha com a linguagem do palhaço junto às crianças. “Eu acredito nesse trabalho, eu vejo o desenvolvimento dos alunos e o crescimento cotidiano das crianças”.
>> Palhaços no picadeiro do Circo Lahetô: oportunidade de diversão e aprendizado
>> Circo Lahetô: espaço pelo qual já passaram centenas de crianças e adolescentes
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Avaliação diferenciada
projeto de arte-educação no Cir- lescentes de 16 anos. “A própria secretaria da escola indico Lahetô é divertido e ao mesmo ca aquelas crianças que possuem dificultempo produtivo, buscando trazer o dade de aprendizado, sabendo que aqui conteúdo de forma diferenciada e acolheelas terão lanche, almoço e atividades de dora. Não avalia o aluno pela nota e reforço”, explica a coordenadosim pelo seu desenvolvimento ra pedagógica do circo, Seluindividual. O aluno Mar“A gente avalia os ta Rodriguês. cos Vinicius Silva, de 12 alunos não pela No final de cada anos, diz que o dia no turno de atividades no nota, mas pelo ser circo é ótimo e que, circo, é realizada uma humano em cada entre todas as atividareunião onde são trafase de seu desendes oferecidas, ele se tados assuntos de discidesenvolve melhor no volvimento.” plina, comportamento monociclo. “Ele ajuda Lucas de Souza, individual e discussão na postura e a ter mais Palhaço Batatão de como foi o dia em geequilíbrio”, afirma. ral. Participam da conversa Em conjunto com a Sea coordenadora pedagógica, os cretaria Municipal de Educação a r t e -educadores e as crianças e adode Goiânia e de forma direta com a Escolescentes. “Essas crianças estão em uma la Municipal Bárbara de Sousa Morais, o fase da vida em que a amizade é tudo”, circo atende crianças de seis anos a adoacredita Seluta Rodriguês.
Profissionalização
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realização do projeto se torna possível por meio de parcerias com a Universidade Federal de Goiás (UFG). Os acadêmicos da Faculdade de Pedagogia e Faculdade de Matemática trabalham como estagiários no circo. São atendidas em média 140 crianças e adolescentes pelo projeto, durante os turnos matutino e vespertino. Eles têm à disposição um ônibus que busca na escola e no encerramento de cada turno as leva de volta. Para aqueles que pretendem se profissionalizar, existe uma turma de artistas circenses profissionais. Nessa etapa, os adolescentes se apresentam em alguns espetáculos como A História de Goiás no Picadeiro e, um dos mais recentes, Que Paidéia é Essa, Sem Filosofia?. O espetáculo faz uma crítica à educação atual no Brasil. “Questiona a falta de investimento
na educação, a beleza da empresa versus a degradação da escola”, explica Seluta Rodriguês. No Projeto Arte-Educação, uma das figuras fundamentais é o arte-educador, que são os profissionais circenses ou formados em Pedagogia. Wallace Neris é um deles e está no circo há seis anos. A sua formação foi toda a partir do Circo Lahetô.
Outro projeto de destaque é o Circo Dom Fernando, do Instituto Dom Fernando (IDF), que conta com a parceria da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), que apresenta uma metodologia de fortalecimento da cidadania. Assim, surgiu a ideia de trabalhar arte, cultura e educação voltada para arte circense. De acordo com o artigo “Arte-Educação e Cultura: O circo como instrumento de trabalhar com crianças e adolescentes”, o lúdico e a criatividade são utilizados para afastar os jovens das ruas e drogas. Conforme expõe o artigo, “a arte é utilizada como elemento mediador para inserção do aluno na ação socioeducativa, colocando o projeto diante de enorme desafio, que é compreender e aprender a realidade”. Hoje, ele trabalha na área de acompanhamento pedagógico três vezes por semana e desenvolve práticas circenses. Ele conta que nunca pensou em entrar para o circo, ainda mais sendo arte-educador, tudo foi por acaso. “Não digo que sou um arte-educador, mas que estou em formação”, afirma.
Impressões [2016 | 1 ]
Aos olhos de quem vê
ao ar livre
Tempo do semáforo Na correria diária do trânsito, malabaristas aproveitam os instantes do sinal vermelho para manipular objetos circenses Texto: Isabella Lima e Lochayda Oliveira Edição: Lorrane Resende e Suellem Horácio Diagramação: Suellem Horácio
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‘amanhã cedo tenho que acordar para evoluir’, e não falamos “tenho que acordar cedo para ir trabalhar”. Josué e Dirdier, como outros trabalhadores informais, passam por riscos no trabalho, além dos perigos de agressão e roubo. Como sua apresentação é com clavas de fogo, ele afirma que se queima todos os dias. “Este ferro esquenta e a ponta, em contato com a pele, marca a gente”, aponta para a queimadura recém-conquistada no braço esquerdo. “Se você quer fazer isso, tem que aguentar”, alerta. Ele capricha na explicação e diz que traba’, em trabalho, ‘ como travar - explica com o p’ no meio-fio, mostrando o impedimento em se mover. É por isso temos que ter consciência daquilo que falamos’’, afirma. No final de semana seguinte à entrevista, planejavam fazer uma viagem de bicicleta de Goiânia a Brasilia, para tentar um visto e legalizar sua situação de imigrante ilegal para permanecer trabalhando no Brasil e seguindo viagem, conquistando os olhares atentos do seu público com a sua arte.
m meio à correria diária do trânsito encontram-se os malabarista que aproveitam os poucos instantes do sinal vermelho para manipular objetos circenses em busca de entreter e ganhar alguns trocados E quem pode negar que já se pegou olhando fixamente para os objetos lançados pelos malabaristas? Parece algo mágico e intrigante a habilidade dominada por eles que simplesmente prendem a atenção de quem está por perto, observando. Todos os dias, quando a luz vermelha se acende, eles entram em ação. Os viajantes mexicanos e artistas de rua Josué Gonzales, de 35 anos, e Didier Soto, 23, vieram para o Brasil há quatro anos pedindo caronas, caminhando e fazendo malabares para se manter. Didier, um rapaz tímido, não é muito de falar. Não domina muito bem o “portunhol”, como seu amigo de estrada. Ao contrário de Gonzalez, o jovem gostaria de ganhar “Com o pouco a vida sendo jogador de futebol. “Não deu que ganhamos certo, precisava de não podemos muito investimento ter muito luxo”. e de tempo, e eu não tinha nenhum”. Josué Gonzales Fazendo malabaArtista de rua res e viajando o mundo há 15 anos, Josué e seu companheiro não se fixam num local. Às vezes arrumam um quartinho para ficar, outras vezes dormem na rua “Com o pouco que ganhamos não podemos ter muito luxo”. Por isso eles não têm nenhum outro bem material além de suas bicicletas. Já foram ofendidos e aplaudidos pelo que fazem. Mas Josué insiste que seu “entretenimento” não é trabalho e é a melhor experiência que tem na vida. “Trabalho é uma palavra ‘malfeita’, ‘ do governo fazer, porque a gente diz
>> Em instantes, o semáforo se transforma em picadeiro
Em meio a tanta violência das cidades grandes, principalmente nas ruas, algumas pessoas têm um certo receio de aproveitar o ato cultural ao ar livre, e do outro lado estão os que querem entreter e fazer sorrir quem passa, com movimentos perspicazes que encantam. “Quando eu estou lá, na frente daquela fila de carros, fazendo meu trabalho, entro em um mundo diferente. Um mundo em que existimos apenas eu e os brinquedos que estou jogando pra cima. Eu sei que muita gente deve ter medo, mas eu sei também que existem aquelas pessoas que me admiram pelo que faço.” Ao que diz o malabarista Kleiton Ferreira, que está sempre buscando novos cruzamentos e praças para poder praticar seu trabalho. Segundo ele, alternar os lugares é sempre bom, pois assim pode encantar e tirar aquela mesmice de todos os dias de pessoas diferentes. Para Kleiton, não se trata apenas de ganhar uns trocados por dia, se trata de ganhar a alegria nos olhos de quem o vê diariamente e isso é gratificante, encorajador e principalmente, magnífico. Para a motorista Cristianne Costa, o que é feito ali, no tempo em que o sinal está fechado deve ser considerado arte, pois eles não estão ali apenas para ganhar seu dinheiro, mas para trazer um pouco de sorriso na vida de quem est completamente imerso em seus afazeres di rios. “Eu levo algumas moedinhas para ajudar esses artistas maravilhosos.” Considerados por muitos como pedintes, há quem diga que prefere nem mesmo descer o vidro da janela do carro por medo de um assalto. É o que o motorista Júlio César Maciel diz, acrescentando que “no mundo em que vivemos nunca se sabe quem quer fazer o bem ou o mal, por isso prefiro apenas fazer um sinal para que n”o batam no vidro e passem direto do meu carro.” Foto: Reprodução
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intercâmbio
Sonho virou realidade Canadá, EUA e Reino Unido são os destinos mais procurados por brasileiros para estudar no exterior Texto: Lucas Cássio Edição: Lucas Cássio Diagramação: Anderson Marcelo Clemente
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m 2013, cerca de 820 mil estudantes brasileiros foram para os Estados Unidos em busca de diploma em uma de suas instituições de ensino superior, segundo dados da Associação de Educadores Internacionais. Ainda segundo a entidade, essa demanda deve continuar crescendo, já que a procura aumentou em 40%. O aumento aconteceu primeiramente por causa de um número maior de oportunidades de bolsas nos EUA, como o Programa Ciências Sem Fronteiras, por exemplo. ‘A experiência é tão rica que quem volta de um intercâmbio acaba contagiando outros e, cada vez mais, o número aumenta”, destaca Rejane dal Molin,
orientadora educacional para estudos nos Estados Unidos do Centro Cultural Brasil Estados Unidos (CCBEU). Recentemente, a revista US News & World Report destacou que cerca de 350 universidades americanas concedem bolsa de estudos em média de U$ 17.721,00 para o ano letivo. Já outras universidades, como a de Harvard, por exemplo, concedem em média mais de U$ 50 mil. Segundo a Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais, os custos mais baixos, facilidades para obter o visto, segurança, qualidade no ensino e hospitalidade são fatores que fazem com que o Canadá desponte entre os países mais procurados por brasileiros. Estados Unidos e Reino Unido vêm em seguida na lista. Confira a relação completa: Canadá, EUA, Reino Unido, Austrália, Irlanda, Nova Zelândia, África do Sul, Suíça, Espanha e Alemanha.
Papa bolsas Luis Fernando Apolinário, 23, ganhou bolsa para Mestrado em cinco universidades nos EUA: Vermont Law School; Hofstra University; University of Saint Thomas; Loyola University New Orleans e Lousiana State University. O estudante embarcou para os Estados Unidos em agosto de 2015. “Estudar nos Estados Unidos sempre foi um sonho. Ao entrar na faculdade, me apaixonei pela docência e pela pesquisa. Eu quis ter a experiência de me aprimorar e ao mesmo tempo estar imerso na cultura deste país que eu admiro”, conta. O estudante optou pela Loyola University New Orleans. “Escolhi a Loyola New Orleans, primeiro, porque o sistema jurídico deles se assemelha ao nosso em alguns pontos, e ainda porque lá eu tenho uma vaga de assistente de professor garantida,” explica Luis Fernando.
450 jovens já participaram O programa foi criado em 2002 e desde o lançamento, cerca de 450 jovens brasileiros da rede pública já participaram do projeto. Os estudantes conhecem os principais pontos turísticos e organizações dos setores público e privado e do terceiro setor. São hospedados por uma família americana e assistem aulas que abordam a responsabilidade social e o empreendedorismo.“É uma ótima oportunidade para
alunos que têm uma boa fluência em inglês, são comunicativos e têm características de liderança”, ressalta Rejane dal Molin, orientadora para estudos nos EUA. Para participar é preciso ter entre 15 e 18 anos, apresentar bom desempenho escolar, ter boa fluência oral e escrita em inglês, nunca ter viajado aos EUA, ter uma boa relação com sua escola e comunidade e e realizar algum trabalho voluntário.
>> Estudantes participam do programa Jovens Embaixadores: novas experiências
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cultura indígena
Povos que resistem
Fotos:Mário Vilela/Funai
Mesmo exterminados em larga escala, os índios foram fundamentais na formação da cultura brasileira
Texto: Luana Alves Edição e Diagramação: Ana Caroline Feitosa
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o desembarcarem em um lugar totalmente desconhecido, os tripulantes dos navios comandados por Pedro Álvares Cabral se depararam com uma população de cultura diferente. Pessoas que não usavam roupas, faziam pinturas pelo corpo, carregavam arcos e flechas, falavam seu próprio idioma, cujas casas eram feitas de madeira e folhas e que abrigavam várias famílias. O contato da cultura indígena com a chegada dos colonizadores gerou novas sínteses culturais, que serviram para gerar impactos na realidade do indígena. Quando ocorreu essa transformação, uma nova cultura se formou: a cultura brasileira, que reúne ca-
racterísticas das duas culturas (portuguesa e indígena). Contudo, nessa aculturação, uma das culturas sofreu maiores perdas: a cultura indígena perdeu bastante espaço nas transformações brasileiras e hoje apenas algumas de suas características são mantidas.
Cultura As línguas indígenas, os rituais e as crenças foram quase extintos. E no lugar deles entraram a religião, os costumes e a língua brasileira de origem europeia. Por outro lado, o folclore e alguns hábitos alimentares e higiênicos dos indígenas ainda são conservados por nós atualmente. Muitos indígenas que quiseram preservar a sua cultura e não aceitaram as influências europeias foram perseguidos e mortos
em batalhas; outros foram transformados em escravos e forçados a trabalhar para os portugueses antes que os primeiros escravos africanos chegassem ao país. Os povos indígenas carregam dentro de se uma longa história, povo esse que nunca esteve parado no tempo, esteve sempre se modificando. Desde os primeiros anos de colonização construiu-se uma visão de que os índios estavam irremediavelmente condenados ao extermínio. Mas apenas na metade do século 20, esse equívoco começou a ser sanado. Passa lentamente a ser percebida uma atitude intensa dos povos indígenas contra a invasão dos seus territórios, da sua cultura e do seu modo de viver. Antropóloga da PUC Goiás, Dulce Madalena Rios Pedroso conta que os índios sofreram muito quando os colonizadores tentaram entrar em contato. “Eles não queriam
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idioma e ter certos costumes diferentes faziam com que pensassem que os índios não prestavam para nada, e por isso eles tinham que ser colonizados para aprender sobre a religião católica e sobre os costumes dos brancos”, afirma. Os indígenas receberam os brancos com curiosidade, mostrando onde tinha água. Por fim eles fizeram guerra para tomar a suas terras.
As dificuldades
mem tem vários modos de vida, “nós ainda estamos tentando entender à natureza do ser humano, mas os índios eles querem estudar, querem ter carro, internet, eles também querem se relacionar com o homem branco”. A situação dos povos indígenas é desesperadora. Foram reduzidos os seus espaços de terras. Existe discriminação dentro do próprio governo, que não dar oportunidade aos trabalhadores indígenas, e às vezes nem mesmo dentro dos órgãos que desenvolvem a política indigenista.
Com o olhar de uma pessoa que está Funai sendo injustiçado, o indígena Srewexteda, da tribo Xerente, diz estar passando por um A Funai é uma organização dividimomento muito difícil. Ele está lutando para da em coordenação regional, que manter seus costumes e suas tradições, fica localizada em Palmas. mas o sistema o obriga a viver de A coordenação regional outra forma. Agora ele tem Araguaia-Tocantins é “Cada pessoa que aprender a ser bicultua coordenação que ral. “Nossa essência, nostem um sonho e nós dá assistência em sa cultura não pode ser indígenas perdemos Goiás, Tocantins, perdida, mas o governo Maranhão e Pará. o nosso quando o Pedro não entende isso”, deAlvares de Cabral chegou e O Consultor do clara Srewexteda. Programa das naO indígena Anjituinvadiu nosso Brasil” ções unidas para lio (tribo) diz: “Cada pesAnjitulio, o desenvolvimento soa tem um sonho e nós índio xerente (Pnud), representante indígenas perdemos o nosso da Funai, Henyo Barrequando o Pedro Álvares de Cato, diz : “A política de bral chegou e invadiu nosso Brasil. proteção aos indígenas é uma tenAgora nós, o próprio índio, tem que pedir tativa de reparar uma grande tragédia. O autorização para morar na nossa terra. Nós grande esforço de reparação dessa história não fomos à Europa tirar a terra de lá para se dá por meio do reconhecimento dos dimorar”, comenta o indígena. reitos territoriais das terras que tradicioA antropóloga Dulce Madalena cita nalmente habitam”. que toda cultura é importante porque são Progressivamente, de acordo com maneiras que os homens escolheram para o site oficial da Funai, a quantidades de viver. Não de um modo consciente, mas sim ações preventivas tem aumentado, inclusiinconsciente, a grande riqueza é que o ho-
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ve agregando conhecimentos tradicionais, para potencializar a proteção que os próprios indígenas fazem do seu território. Porém, o grande desafio da política pública atual é integrar todas as esferas de poder e complementar ações de monitoramento com políticas de sustentabilidade, tanto para os povos indígenas quanto para municípios próximos às suas terras. Sem alternativas de renda, a pressão sobre as terras indígenas cresce cada vez mais, ameaçando os recursos naturais e a segurança das comunidades. As ações de fiscalização nas terras indígenas são realizadas somente por servidores da Funai e órgãos com competências específicas, sem a participação de indígenas. As principais atividades de controle realizadas pela fiscalização são combate ao desmatamento e ao corte seletivo das florestas; combate à mineração – que não está regulamentada pela legislação brasileira, repressão à caça e pesca ilegal e invasões.
Censo indígena O censo demográfico 2010 contabilizou a população indígena com base nas pessoas que se declararam indígenas no quesito cor ou raça e para os residentes em terras indígenas que não se declararam, mas se consideraram indígenas. O censo 2010 revelou que, das 896 mil pessoas que se declaravam ou se consideravam indígenas, 572 mil ou 63,8% viviam na área rural e 517 mil ou 57,5% moravam em terras indígenas oficialmente reconhecidas.
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A cura através de um sorriso Hospitais não costumam ser ambientes descontraídos ou agradáveis, mas grupos de voluntários e artistas profissionais levam alegria para amenizar a dor Foto: Amanda Pires Texto: Amanda Pires e Fernanda Ribeiro Edição: Anderson Marcelo Clemente Diagramação: Ana Vera Santiago
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e rir é o melhor remédio, os grupos de voluntários e artistas profissionais levam altas doses desta substância para idosos e crianças internados em hospitais públicos de Goiânia. Mas esses ‘’doutores’’ são um pouco diferentes. Têm nariz vermelho, rostos pintados, jalecos especiais e adereços de cabelo nada convencionais. Esses “médicos’’ entram nos quartos e corredores fazendo brincadeiras, cantando e dançando. Na verdade, a especialidade dessas pessoas é oferecer carinho, abraço e alegria a quem precisa, não só aos pacientes, mas também aos acompanhantes, sejam eles mães, pais ou filhos. “Eles trazem descontração para a criança e para o próprio acompanhante, que muitas vezes está cansado”, afirma Douglas Santos, pai de Maria Eduarda, de cinco anos, internada na área de traumatologia do Hospital das Clínicas. É durante uma oração, antes do atendimento, que os voluntários se transformam em alguns personagens como: Dra Dó Ré Mi, Dr. Rizotril, Dra Lilica, Dr. Leleco, Dra Xaropinho, entre outros. A equipe forma Os Condutores do Riso, que são voluntários no Hospital das Clínicas e atuam todo domingo a cada 15 dias. “Somos professores, alunos, artistas, amigos e palhaços. Essa boa mistura é a essência do riso”, afirma, na apresentação do grupo em seu site, a presidente da trupe, Tatiana Pereira. Ao todo, 16 pessoas fazem parte do projeto, fundado em 2007 e que hoje trabalha com doações de brinquedos,chocolates e livros. Em datas especiais, como o dia das crianças e o Natal, esses objetos são doados. Outro projeto é levado pelos artistas da Biblioteca Sesc Universitário. Eles se apresentam no Hospital Araújo Jorge toda semana. Diferente do trabalho voluntário dos Condutores do Riso, três artistas são contratados pela biblioteca. Vestidos de palhaços,
>> A animação dos Condutores do Riso começa do lado de fora do hospital as apresentações são feitas para pacientes e Vinícius Bolívar, ou Travessão, integrante do acompanhantes que aguardam para serem grupo. O projeto foi criado há oito anos com atendidos. a ideia de fazer um trabalho diferenciado Os palhaem hospitais. O Sesc Universitário ços cantam deu apoio total, abraçando a “Somos professores, causa, e hoje gasta em torno cantigas alunos, artistas e palhaços. de R$ 4 mil por mês com o conheprojeto. cidas Essa boa mistura é a essência do e inteAs apresentações riso.” ragem ocorrem em cada ala do Tatiana Pereira, c o m hospital. “Senti uma alepresidente do Condutores do Riso o seu gria muito grande, até mespúblico, mo porque quando estava openão se esquerada do câncer, entrou um rapaz, e cendo das piadas e graeu me lembrei de uma pessoa lá do cinhas que compõem o repertório. “Nós chemeu passado, alguém que amei muigamos ao hospital com os nossos problemas to, e com isso parece que minha melhora e, de repente, quando entramos, tudo parece foi maior. Toda vez que vejo esses palhaços, mágica. Os nossos problemas diminuem e só lembro-me daquele que me visitou quando pensamos no momento, nessas pessoas, nesse estava internada”, disse Marinalva Marinho, projeto e nesse local. É incrível, é um pro- emocionada com a apresentação. jeto que tenho um carinho enorme”, afirma
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Remédio divertido Sorrir pode até não ser o único remédio, mas que faz bem à saúde, até os especialistas concordam. A pesquisa divulgada em 2006 pela Universidade Loma Linda, na Califórnia, nos Estados Unidos, comprovou que o riso colabora para aumentar a produção e a atividade no organismo das células NK (Natural Killers, em inglês), responsáveis por destruir os vírus que estão no organismo. Além do mais, o sorriso vem sendo utilizado como recurso de humanização no cuidado de pacientes em hospitais. Quando o trabalho é feito com pacientes internados, há um pressuposto de que eles já tenham algumas situações que são naturalmente estressantes como o ambiente, tratamento, pessoas desconhecidas, perda de autonomia e perda do contato social. Isso não faz diferença se é um adulto ou uma criança. Os hospitais de uma forma geral têm adotado estratégias para minimizar situações que possam aumentar ou gerar angústia, estresse e ansiedade. “O aborrecimento gera uma série de prejuízos, não só emocionais mas também fisiológicos que essa pessoa pode ter’’, afirma a psicóloga Andréa Magalhães. Andréa diz que já presenciou crianças que estão se alimentando e após as apresentações dos grupos, voltam a se alimentarem novamente.
Iniciativas Pode aparecer até estranho, show e hospital em um mesmo espaço. Todas as quintas-feiras, pacientes, médicos, enfermeiros, acompanhantes e visitantes do Hospital Alberto Rassi, o HGG, têm uma tarde descontraída. Juntos assistem ao vivo mais um show realizado pelo projeto Sarau do HGG. A atividade faz parte de um projeto de humanização da unidade. A ideia foi criada em 2013 e tem o objetivo de socialização e aprimora os aspectos conectivos do doente, e assim ele
Trabalho Voluntário
>> Voluntários levando alegria a ambientes hospitalares: auxílio nos tratamentos consegue se recuperar logo. Ao levar música para dentro do hospital, a equipe médica ganhou mais um aliado na recuperação dos pacientes. De acordo com a terapeuta ocupacional do HGG Anna Carolina Luli, a música é um método eficiente. “Proporciona um relaxamento e uma condição melhor para ele receber um tratamento medicamentoso. E fora o tratamento de desestresse, desospitalização e estar convivendo com a música que é algo importante.” O Sarau já ganhou espaço no hospital. Para animar o público, toda semana as apresentações musicais são realizadas em diferentes cantos das alas do HGG. Médicos e enfermeiros passam nos quartos convidando os acompanhantes e as pessoas que estão internadas. O motorista Ivan da Silva, 43, aguardava ansiosamente e curioso para saber como é uma apresentação musical em um hospital. Ele tem hepatite e por isso está internado no HGG. “A gente cria ânimo porque ficar só lá no quarto é ruim”, disse. A empolgação toma conta da plateia. É contagiante e até esquecem que estão com dores. Juntos batem palmas, levantam os braços e não perdem o ritmo da música. Embalados por canções de Guilherme Arantes, Lulu Santos e outros sucessos que vão desde os anos 1960 até os anos 1980, os convidados ajudam o cantor e compositor Bruno
Bonfá conduzir o show. No meio da agitação, a doméstica Marilda Pereira da Silva, 51, não fechava a boca por um minuto. De três em três meses, a doméstica precisa ficar internada no hospital. “As músicas são do meu tempo. Para mim essa apresentação é linda. Faz a gente esquecer a doença um pouco”, conta, toda empolgada. Em dois anos, o palco do Sarau do HGG contou com apresentações de orquestra, corais, grupo de cordas, duplas sertanejas e muito mais. Dos 600 artistas que já compareceram no evento, o cantor Bruno Bonfá participa pela primeira vez. “Foi gratificante perceber que algumas pessoas se sentiam inspiradas, otimistas e com brilho nos olhos que logo, logo vai estar se recuperando.” Além do Sarau, outros quatros projetos são desenvolvidos pelo Hospital Alberto Rassi. A Dose de Letras é uma biblioteca itinerante pelas alas de enfermarias que empresta livros a pacientes em tratamento e incentiva a leitura amenizando os sintomas negativos da hospitalização. Uma vez por mês é promovido o Riso no HGG, em que pacientes se divertem com espetáculo de mímica. Quinzenalmente oficinas de pintura em tela são realizadas no jardim do hospital. E os pacientes recebem visitas dos Doutores da Alegria.
Os Condutores do Riso não possuem nenhum tipo de patrocínio e os integrantes estão correndo atrás para que o projeto seja reconhecido como ONG (Organização Não Governamental). Enquanto isso não acontece todos os participantes do grupo fazem uma contribuição mensal de R$10. “Continuaremos trabalhando e nos esforçando para desenvolver o projeto da melhor forma possível. Os interessados em participar do grupo devem enviar um email para condutoresdoriso@gmail.com, preencher uma ficha de cadastro e aguardar a seleção anual”, explica Tatiana Pereira. “Entramos no projeto para ajudar, mas nós que saímos ajudados. O sentimento é único. Um sentimento de gratidão”, diz.
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Encontros e desencontros
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No mundo são diagnosticadas mais de 1 milhão e 300 mil mulheres com câncer de mama por ano. Em Goiânia, projetos culturais ajudam pacientes a enfrentar esse desafio Texto: Áurea Rocha dos Passos e Iris Silva Moreira Edição: Maria Luiza Rodrigues Diagramação: Maria Luiza Rodrigues
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olhar já está cansado, o vigor já não é o mesmo. Caminha a passos lentos em direção à porta, sentase em sua cadeira de fio e dá um sorriso largo. Esta é dona Corina de Jesus Bispo, uma senhora de 72 anos que foi diagnosticada com câncer de mama aos 52 anos através de uma campanha realizada pelo Hospital das Clínicas. Por sua vez, dona Ione, com a respiração ofegante, cabelos cortados estilo Joãozinho, um brinco discreto nas orelhas, deixa transparecer sua feminilidade e, ao mesmo tempo, tenta disfarçar sua recente cirurgia nas mamas para a remoção de tumores. Com apenas 30% dos pulmões, ela não consegue esconder o nervosismo de suas mãos ao carregar seu pulmão portátil recém-adquirido. Na correria do dia-a-dia, dona Ione levou uma forte pancada em uma das mamas, doeu por vários dias, então resolveu ir ao hospital fazer o exame após encontrar um caroço estranho no seio. Assim, descobriu que estava com o câncer. Sorriso estampado, olhar firme, bem humorada e sempre com chapéu decorado na cabeça, dona Maura é uma mulher de pulso firme. Quem a vê assim bem disposta não imagina o drama que ela viveu quando foi diagnosticada com câncer de mama. Dona Maura sentia fortes dores em um dos seios, quando resolveu fazer o exame e foi diagnosticada com câncer. A doença estava alojada embaixo da axila. Três mulheres, três histórias. Um encontro que mudou suas vidas, uma amizade que o tempo não apaga e que a doença não leva. Elas cruzaram suas histórias na Associação de Portadoras de Câncer de
Mama (Apcam). Foram submetidas a cirurgias para a retirada do câncer e hoje levam uma vida normal. Agora, encorajam as mulheres que estão em tratamento na mesma associação que um dia as acolheu. A Apcam serve como porto seguro para as mulheres que enfrentam a doença e são encaminhadas para tratamento no Hospital das Clínicas. Mesmo não se tratando de uma organização pública, ela conta com a ajuda de voluntárias para se manter. É um lugar onde se encontram pessoas que vivenciaram ou estão vivendo a mesma realidade do câncer. Para uma das pioneiras da Apcam, Corina de Jesus, a associação faz para as pessoas o que um dia fez por ela. ‘‘Nós recebemos de braços abertos as mulheres que vêm de todos os lugares do Brasil e do mundo para fazer o tratamento aqui’’, diz a veterana da Apcam, Corina de Jesus.
A associação sobrevive da arrecadação de roupas usadas, dinheiro e cestas básicas que são
O Ministério da Saúde recomenda que as mulheres a partir de 30 anos já comecem os exames para a prevenção do câncer. Caso seja diagnosticado, o tratamento no estágio inicial possui um alto índice de cura.
>> Ione paciente do hospital das clínicas e associada da Apcam
[2016 | 1] Impressões Fotos: Áurea Rocha dos Passos e Iris Silva Moreira
Auto Exame •
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distribuídas para pacientes carentes, que na sua maioria são mulheres com baixo salário e que não conseguem arcar com as despesas do tratamento ou que são as mantenedoras do lar. O tratamento médico é importante, assim como o cuidado com a autoestima. O programa de mastologia do Hospital das Clínicas desenvolve o trabalho com a Apcam. A associação serve também como um espaço de autoajuda, onde as mulheres desenvolvem atividades artísticas, passeios culturais e recebem orientações de profissionais de diversas áreas da saúde. ‘‘Elas se ajudam, visitam pacientes, ligam umas para outras e fazem amizade. Então elas fazem um fortalecimento dessas redes sociais’’, diz a psicóloga do programa de mastologia do Hospital das Clínicas, Márcia de Faria Veloso. ‘‘Além de trabalhar atividades lúdicas com elas, também é trabalha-
Estatísticas
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Oficinas realizadas na Apcam são terapia ocupacional e ajudam na autoestima e com o sustento das pacientes
do o direito das pacientes com câncer’’, diz a assistente social do programa, Denise Ferreira de Magalhães. Enquanto elas participam das atividades propostas pela associação, a psicóloga, juntamente com agentes sociais, abordam individualmente outros temas para o melhor acompanhamento do quadro de cada mulher. As oficinas ensinam as mulheres a confeccionar produtos que podem
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diagnóstico do câncer é uma jornada desafiadora, tanto para a paciente quanto para a família. O câncer de mama é tipo de câncer mais frequente, respondendo por 22% dos casos. Este é considerado o câncer mais comum entre as mulheres em todo mundo, sendo 1,32 milhões de novos
Coloque a mão direita atrás da cabeça, deslize os dedos indicador, suavemente em movimentos circulares por toda mama. Inspecione suas mamas com os braços abaixados ao longo do corpo Finalmente, esprema o mamilo delicadamente e observe se sai qualquer secreção.
ajudar no próprio sustento, como a produção de chapéus e porta-joias. Para a assistente social Denise Ferreira, as mulheres atendidas não possuem um alto nível de escolaridade, por isso é necessário a utilização de uma linguagem mais acessível. Um dos papeis da assistente social é o trabalho com as famílias no sentido de fortalecer seus vínculos, na perspectiva de torná-las sujeitos do processo de promoção, proteção, prevenção e recuperação da saúde. Para dona Corina, o papel da família é fundamental. O apoio dos seus três filhos, foi muito importante para sua recuperação. Durante o tratamento as mulheres passam por perdas dolorosas. Perdem a mama, cabelos, a libido, a autoestima e autoimagem. “Por isso é necessário que se tenha um esteio em sua própria família para apoia-las e compreende-las”, afirma. Para a psicóloga do programa de mastologia do Hospital das Clínicas, Márcia de Faria, no momento do diagnóstico o impacto de modo geral é negativo.
casos e 450 mil mortes pela doença por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), nos homens ele vem com uma taxa baixa, correspondendo a 1%. Para cada 100mil mulheres no Brasil, no Centro-Oeste 37,68 mulheres são portadoras de câncer de mama.
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O som da cura A musicoterapia é uma aliada para a reabilitação física, mental e social de indivíduos ou grupos Texto: Elder Dorneles Edição e Diagramação: Larissa Costa
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ara entendermos quais são os objetivos e as funções da musicoterapia, vamos definir a música e seus elementos. Para Lucas Rezende, professor e dono do estúdio musical Resistência, “a música é a essência da alma, ela é algo que mexe com as pessoas de uma forma inexplicável e quase supernatural”. Os ingredientes para se ter uma boa música vão de notas, acordes, melodia, ritmo até a entrega de si mesmo. Juntando tudo, o resultado é fantástico. A musicoterapia trata autismo, síndromes raras, síndrome de down, paralisia cerebral e crianças sem nenhum problema psicológico, mental ou físico. Também ajuda adultos com mal de Parkinson, entre outras enfermidades psíquicas. O tratamento é feito mediante sessões, e não aulas. “Pacientes, por exemplo, com autismo passam por uma avaliação para ver se o mesmo já tem um equilíbrio próprio e pode ser inserido em um ambiente com outras pessoas. Já em casos com pacientes downs, a abordagem pode ser diferente, pois ele apresenta facilidade de interação em grupo”, afirma a musicoterapeuta Kelly Tobias. De acordo com a médica Mayara Ribeiro, a terapia em conjunto tem uma importância muito grande, pois nela se aprende e absorve as noções básicas de uma relação na sociedade, como esperar sua vez, ser educado, entre outras formas. Nas sessões individuais, o profissional avalia o perfil e o objetivo do paciente. Após estudar e conhecer melhor a pessoa, o terapeuta leva nas futuras consultas, músicas ao gosto de quem está sendo tratado. É utilizada a técnica de recreação musical, que corresponde a tocar e cantar músicas escolhidas pelo paciente.
Resultados esperados O efeito da música é muito amplo. “No cérebro, o hemisfério direito processa aspectos melódicos da música e o esquerdo os aspectos rítmicos. O hemisfério direito também processa os aspectos emocionais e o esquerdo os racionais. O sistema límbico está associado às emoções, por isso um dos efeitos nos pacientes é trazer lembranças e emoções sentidas ao ouvir certas músicas que tenham algum valor ou que já sejam do gosto da pessoa tratada”, explica a médica Mayara Ribeiro. Esse fator é crucial no tratamento e depois disso os resultados vão aparecendo. “Em casos de crianças, as diferenças notadas aparecem na questão do esperar, no compartilhar. A fala é trabalhada, é desenvolvida coordenação motora, dança e percepção musical”, completa. A funcionária pública Marina Rodrigues matriculou sua filha Helena, de um ano e quatro meses, no Instituto Música e Bebê e desde então notou alguns bons resultado. ‘’Já pude observar o desenvolvimento dela em relação a questões mais específicas
Curso de Musicoterapia • O curso tem matérias na área da saúde mental, psicologia, área da música, filosofia. Tudo isso com o intuito de formar o futuro terapeuta para que ele possa manusear a música de uma maneira terapêutica. • O curso exige que o candidato tenha conhecimento musical. É preciso tocar algum instrumento ou ter o domínio do canto. O estudante passa por um teste chamado prova de verificação e conhecimentos específicos. • O mercado tem crescido. Algum tempo atrás quando se falava de musicoterapia ninguém sabia do que se tratava. • As áreas de atuação são bem amplas. O musicoterapeuta pode atuar com a terceira idade e com coral terapêutico; com crianças com síndromes ou não; em escolas; com pacientes que possuam transtornos mentais ou dificuldade motora, adolescentes com uma educação marginalizada, etc.
da aula de música. Ela já iniciava um processo de dançar ao ouvir a música (ainda não andava), percebia quando o som parava de tocar e era muito receptiva às atividades que incluíam os objetos sonoros”, diz. Em adultos já houve casos de resultados bem satisfatórios. Pacientes que não conseguiam comer sozinhos e através da terapia, com o uso do instrumento musical, conseguir fazer movimentos e assim se tornar independentes ao comer algo, utilizando talheres. A doutora Mayara ressalta que em toda a terapia deve se ter paciência com relação aos resultados, pois a espera é de no mínimo seis meses e, para avanços mais significativos, o tempo se estende para um ano. Mas para chegar nesse nível, alguns pacientes apresentam dificuldades. No início, o autista tem certa dificuldade de se adaptar ao grupo. Deve-se respeitar o espaço dele. Geralmente, os trabalhos feitos com essas pessoas são individuais, até que aconteça um amadurecimento através do contato com a música, com o professor, e assim elas se sintam mais à vontade. Assim, a musicoterapia, ao longo dos anos, ajuda e muda a vida de quem a procura, de uma forma legal, entretendo quem o profissional auxilia e, o mais importante, com amor e carinho.
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solidariedade artes plásticas
A cultura da caridade Atitudes que são capazes de tranformar vidas motivam milhares de pessoas a dar auxílio a quem mais precisa influência em casa, também passou a usar. Ele, que perdeu um irmão para as drogas, diz que antes de morar nas ruas participava da cultura hip hop e destaca que, assim azer doações, ser voluntário, ajudar como ele, muitas pessoas que moram na o próximo são atitudes que estão rua são verdadeiros artistas. Randal Ribeiro, que conhece a histócada dia ganhando mais adeptos. Estar à disposição para ajudar alguém que ria de muitos destes homens, afirma que talvez nem conheça não é uma tarefa fá- os problemas familiares são quase sempre cil, mas há vários grupos que se comovem o motivo que leva as pessoas a se entregacom histórias de vidas, muita vezes difíceis rem às drogas. “Em 95% dos casos de dee sofridas, como um resgate. A Pastoral pendência química, a origem do problema de Rua da Comunidade Católica Luz da está dentro de casa. Problema de relacioVida iniciou seu trabalho de acolhimen- namento com os pais, casos de rejeição, esse tipo de conflito, é quase to e evangelização em 2004. Essa Pastoral sempre diretamente resorienta as pessoas em situação de rua ponsável pela depena procurar abrigo na Casa Bom Samaritano, que também pertence à “Não há satisfação dência química, por este refúgio dos irLuz da Vida. Randal Ribeiro, comaior que ver o mãos na rua.” ordenador deste projeto, explica brilho do olhar e o Há também o principal objetivo da Pastoral. “É o resgate. O alimento que a sorriso contagiante”. pessoas que fazem doações de forma gente serve, na realidade, serve Washington Silva individual, que acreapenas de isca para que nos aproGerente Administrativo dita em uma causa e ximemos do irmão, para que a gente busca de alguma forma possa alcançar o objetivo principal: tiráajudar os que estão preci-lo da rua.” Uma equipe formada por voluntários sando. Washington da Silva de Paula, 32, sai pelas ruas de Goiânia todas as quin- todos os anos faz o Projeto Natal Feliz, artas-feiras à noite, oferecendo alimento recadando entre familiares e amigos brine rezando pelos andarilhos. Aqueles que quedos para distribuir às crianças carentes aceitam o convite são acolhidos na Casa que, muitas vezes, passam o Natal apenas Bom Samaritano, onde lhes são ofereci- com a vontade de receber a visita do Pados formação ética e religiosa, por meio pai Noel. “Não há satisfação maior que ver de grupos de oração e catequese. A Pas- o brilho do olhar e o sorriso contagiante toral de Rua também oferece apoio para daquelas crianças, que muitas vezes não que os andarilhos possam recuperar ou têm nem uma ceia para o Natal e que se fazer seus documentos, consigam empre- alegram por algo que a gente acredita ser go e recomecem suas vidas sem as dívidas tão simples. É uma farra só”, afirma Washington. contraídas em drogas e bebidas. Ele busca arrecadar brinquedos ao Bruno está em situação de rua e é um dos homens que se encontram com a Pas- longo do ano e no dia 24 de Dezembro toral todas as quintas-feiras, em um dos se veste de Papai Noel para distribuir pontos que a equipe para durante a noite. brinquedos e felicidade a essas crianças. Bruno perdeu sua mãe muito cedo e pas- “A forma de agradecimento deles é impasou a dividir aluguel com um amigo que gável, beijos e abraços no Papai Noel, e usava drogas. Por causa da depressão e da aquele sorriso, honesto, humilde e princiTexto: Lorena Mendes e Isabella Cristina da Costa Assis Edição e Diagramação: Letícia Martins
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Pense nisso... O Ministério de Saúde, em uma pesquisa, afirma que 1,8% da população brasileira é doadora de sangue, apresentando um dos menores índices de doação do mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que, pelo menos 5% dos habitantes de um país doem sangue. Doar sangue, além de um gesto de solidariedade é uma atitude capaz de mudar a vida de muitas pessoas. Basta trinta minutos, que é o tempo médio que uma pessoa gasta para doar sangue e ajudar a salvar a vida de outras quatro pessoas. Para quem se interessa em ser doador, é preciso ir a postos de coleta, como o Hemocentro e estar atentos às seguintes condições, a fim de garantir a segurança e um procedimento saudável: • • • • • •
Ter entre 16 anos e 67 anos; Ter peso acima de 50 kg; Estar alimentado e com intervalo mínimo de duas horas do almoço; Ter dormido pelo menos seis horas das 24h que antecedem a doação; Não ter ingerido bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores à doação; Não ser portador de doenças infectocontagiosas como sífilis, doença de chagas e HIV (I ou II);
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cidade
artes plásticas
Debate antigo no meio cultural Goiânia tem vários e amplos espaços culturais, mas há críticas quanto à programação desses locais tes na realização de projetos culturais, pois através dela a população fica sabendo sobre os projetos e eventos na capital. Segundo o estudante de Fonoaudiologia, Valter Côrte, esse problema na divulgação faz com que as entros Culturais são lugares onde pessoas procurem em outro município o que várias atividades voltadas à cultura esta próxima a elas. como dança, músicas, peças teaO Secretário Ivanor Florêncio afirtrais, exposições de artistas, entre outras ma que as propagandas institucionais são atividades, são desenvolvidas para a porealizadas e repassadas para os meios de pulação. comunicação, porém é da responEm Goiânia, são encontrados sabilidade desses meios a divulvários espaços culturais, como “Goiânia deveria gação dos eventos. Ivanor aino Centro Cultural Oscar Niemeyer, o Martim Cererê, ter mais atrações da afirma que são poucos os meios de comunicação que Vila Cultural Cora Coralina, entre outros. Esses lu- culturais que fujam do tëm compromisso com a culgares existem para mostrar tradicional sertanejo” tura. “Eu posso estar fazendo o maior evento cultural que Goiânia também é moWelber Fernandes, gestor ambiental em Goiânia. Se por um acaso vida à cultura e à arte. Para bateu um carro em alguma aveo gestor ambiental Welber Fernida ou em outro lugar, as pessoas nandes, os centros culturais podenos abandonam’’, destaca. riam apresentar eventos mais diversi Mas além dessas questões a resficados. ‘’Goiânia deveria ter mais atrações peito da realização dos projetos e eventos culturais que fujam do tradicional sertanejo, culturais, muitas vezes o problema está na pois existem pessoas que gostam de algo mais manutenção e preservação dos monumentos alternativo e até mesmo do velho samba’’, históricos, o secretário afirma que uma vez afirma. foi realizada uma obra do artista plástico GilSegundo o secretário municipal de Culvan Cabral, em que vândalos tura de Goiânia, Ivanor Florêncio, os centros colocaram uma bomba culturais desenvolvem eventos diferenciados, e estouraram a obra de mas a secretaria não pode propor uma searte. Ele diz que todos os paração cultural em determinado grupo de monumentos são feitos pessoas, pois a principal ideia é que haja uma integralização através dos eventos culturais propostos. Esse seria um dos motivos de não haver muitos eventos diversificados na capital. Além da programação diversificada, a propaganda institucional, também seria um dos pontos mais importanTexto: Suzana Raquel Lima Edição: Jennifer Sedlaseck Diagramação: Brenda Tuane
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para a população e o dever de cuidar e proteger os patrimônios culturais também e da população e não somente do poder público. A Secretaria de Cultura, juntamente com a Prefeitura de Goiânia, estão desenvolvendo diversos projetos culturais e de incentivo à leitura. Um deles é a reabitação das ruas do centro de Goiânia, que antes eram habitadas por usuários de drogas e moradores de rua à noite e que agora, com a implantação do Beco da Codorna, são destinados a apresentações musicais. Aos domingos, determinados trechos a Avenida Goiás é fechado para que amostras culturais sejam desenvolvidas. Existe também o projeto Achei um Livro, que são arrecadações de livros doados e que logo após de arrecadados esses livros são espalhados em todos os cantos da cidade, para que a pessoa, ao encontrar o livro possa estar “espalhando essa ideia” novamente. Para a autônoma Marilene , esses projetos favorecem muito a população. “Para mim, cultura é o que fica. Esse projeto Achei um Livro por exemplo é importante pois desenvove o trabalho voluntário e incentiva a leitura, e o Beco da Codorna é uma outra forma de encarar os espaços ocultos de Goiânia, que antes eram marginalizados’’, destaca.
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Veja onde alguns Patrimônios Históricos de Goiânia estão localizados:
Praça Cívica
Nossos tesouros
históricos
Goiânia conta com vários pontos tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional. Você os conhece? Texto: Maríllia de Almeida Silva Edição: Brenda Tuane Diagramação: Brenda Tuane e Matheus Ferreira
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uando se fala em pontos históricos de uma cidade, logo vêm à mente grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro e nos esquecemos que existem outros lugares. Goiânia, por exemplo, mais conhecida como a capital do sertanejo, tem grandes monumentos históricos. Ali, pertinho do povão, no centro da cidade, principalmente próximo à Praça Cívica, existem diversos monumentos com arquiteturas antigas, tombados como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Confira alguns deles: • Coreto da Praça Cívica; • Forúm e Tribunal de Justiça;
• Residência de Pedro Ludovico; • Palácio das Esmeraldas; • Edifício da antiga Delegacia Fiscal; • Edifício da antiga Chefatura de Polícia; • Torre do Relógio; • Edifício do Tribunal Regional Eleitoral; • Colégio Estadual Lyceu de Goiânia; • Edifício do Grande Hotel; • Edifício do Teatro de Goiânia; • Antiga Escola Técnica de Goiânia; • Antiga Estação Ferroviária; • Mureta e Trampolim do Lago das Rosas; • Edifício do antigo Palace Hotel; • Subprefeitura e Fórum de Campinas; • Traçado viários dos núcleos urbanos pioneiros;
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música
Habilidade e carisma são algumas características de um dos estilos mais influentes na história da música mundial Texto: Ygor Alves de Lima Edição e Diagramação: Idê Oliveira
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m movimento de migração cul- cussão do Centro Cultural Gustav Ritter. tural está enriquecendo a musi- “O crescimento comercial do sertanejo é calidade no Centro-Oeste. A re- devido ao investimento desproporcional gião conhecida por muitos como o berço de empresários nessa área, um segmenda música sertaneja, também conta com to musical que não apresenta letras bem diversas escolas de música, orquestras e é elaboradas e nem melodias ricas”, critica referência nacional em canto e piaIsmael. De acordo com o profesno. Isso tem chamado atenção sor, a sensibilidade do músico de músicos que vem em busgoiano está ganhando o ca de qualificação e tocar “A sensibilidade do Brasil, com seu “modo boa música, como a múde tocar” que mescla músico goiano está sica clássica e o jazz. cultura regional com ganhando o Brasil, Segundo Adair Via música instrumental nicius, trombonista da internacional. com seu “modo de Orquestra FilarmôniO desenvolvitocar” ca de Goiás há 2 anos mento musical certae formado em música mente é o resultado do Ismael Gomes, pela USP, a escola de piafácil acesso à informamúsico no e canto de Goiânia são ção. Todos os estilos estão referência de qualidade no na internet, material de estuBrasil. Recentemente os Institutos do em livrarias, assim a músiFederais receberam professores bem qua- ca se desenvolve rápido e nascem novos lificados potencializando um crescimen- estilos, é o que explica Vini Lima, aluno to no cenário da música instrumental de bateria da UFG e músico profissional goiana. Para ele o público que procura há 15 anos. Vini fala que é possível com música clássica ou instrumental, tem se muita disciplina e dedicação que o músico aproximado muito desse meio, procuran- se torne virtuoso, estudando toda infordo se informar sobre as composições, e mação disponível, e no final quem ganha entendendo realmente como funciona o é o público, cada vez mais exigentes quanestilo clássico-instrumental. “Um incen- to à qualidade daquilo que aprecia. tivo para os alunos é quando veem seus O contrabaixista paraense Riq Vasprofessores atuando em concertos, sem concelos, residente em Goiânia, teve o contar várias atividades sociais exercidas primeiro contato com a música instrupelo grupo”, acrescenta Adair. mental em 2003. Influenciado por músiEsse movimento de migração musi- ca brasileira, folclórica e raiz, ele já parte cal enriquece a cultura e a pesquisa em para o seu segundo álbum instrumental. música na região sertaneja, o aprimora- Segundo ele, a população goiana ainda mento da técnica e a liberdade de impro- não se atenta à riqueza do jazz, mas há viso proporcionada é o que leva o músico uma luta dos músicos para levar a música a procurar o jazz. Esta é a opinião de Is- instrumental às casas de shows e pontos mael Gomes, músico da Banda Marcial do culturais goianos. Corpo de Bombeiros e professor de per-
Origem Sobre a origem exata do Jazz, apesar de surgirem muitas dúvidas, é correto afirmar que esse estilo musical nasceu de uma migração cultural de africanos trazidos aos Estados Unidos no período da escravidão. No Brasil, através de intercâmbios culturais, nasceu um ritmo chamado por alguns de “jazz brasileiro”, a bossa nova. Atualmente a bossa nova é um dos estilos mais estudados mundialmente, por sua complexidade e sonoridade, fonte de conhecimento para músicos virtuosos.
Eventos Uma vez ao ano é realizado em Goiânia, o Goiaz Festival de música instrumental, e a cidade de Pirenópolis também conta com vários eventos nesse segmento. Atualmente Goiânia conta com vários músicos que tocam Jazz como Marcelo Maia, Chico Chagas, Bruno Rejan, Ney Quiñonero, Guilherme Santana e outros. Vários shows são promovidos pelos próprios músicos e podem ser vistos gratuitamente.
Foto: Sabrina Curado
Jazz na terra do sertanejo
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música
Mais ouvidos sensíveis em Goiás Complexa e nem sempre tão popular, a música clássica, cada vez mais, desperta atenção no Estado Texto: Giovanna Mendonça de Souza Edição: Isadora Seabra Diagramação: Matheus Marra
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onsiderado um estilo antigo, os mais jovens também apreciam a música erudita. Como no caso dos gêmeos Theofannes e Theofyllo Malta, de 20 anos, que são violinistas na Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás (OSJG). Os dois irmãos contam que se encantaram com a música clássica aos 13 anos, quando assistiram a uma apresentação da orquestra Eleazar de Carvalho com alguns amigos. Eles afirmam que ficaram fascinados com a beleza, sincronia e organização da orquestra e, desde então, decidiram aprender mais e se dedicar à música clássica, assumindo-a como profissão. Quanto ao público interessado em concertos, Theofyllo garante que houve um grande aumento nos últimos anos. “Realmente o público orquestral tem crescido muito, pois as apresentações que têm sido executadas a níveis altíssimos atraem o olhar de novos espectadores, que mesmo gostando de estilos musicais diferentes, começam a apreciar essa arte”, afirma o violinista. “Acredito que a Orquestra Filarmônica de Goiás tem feito um ótimo trabalho aqui no estado e fora também. Com isso, seu público tem crescido cada vez mais, de centenas para milhares, e isso é muito importante para que haja maior investimento e incentivo para a música clássica em cada Estado”, pontua Theofannes. Lukas Henrique Silva também é violinista na orquestra jovem do estado e diz que seu interesse pela música clássica surgiu na igreja. “Eu me sentia alegre quando tocavam as músicas. E posteriormente, quando meu pro-
“O gosto pelo ritmo clássico vem, antes de qualquer coisa, não só pela forma que é claramente mais bem desenvolvido, mas também pelo seu conteúdo.” Régis Trentim, apreciador de música clássica
fessor, que tocava na orquestra, me convidou para assistir uma apresentação. A partir desse dia eu me encantei e logo tive vontade de fazer parte da orquestra”, afirma Lukas. O professor de inglês Thiago Arruda Moreno, de 20 anos, se encanta com a beleza e a harmonia presentes na música clássica. “As melodias são bonitas, complexas e muito bem elaboradas. O conjunto de instrumentos também faz com que seja um som muito completo”, assegura. O estudante Régis Trentim da Costa, de 23 anos, garante que a música erudita vai além de apenas um estilo musical. “Sempre recomendo às pessoas mais próximas ouvir e gostar dos antigos compositores da tradição europeia tanto pela riqueza simbólica quanto pelo engenho demonstrado ao longo da história”, afirma Régis.
Organização de uma orquestra sinfônica, com a disposição dos instrumentos
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aumenta o som
Sonho que nasce nas noites com viola
Donos da voz
Parcerias entre produtores e músicos geram grande fluxo de cantores sertanejos vindos de fora na cena goiana Texto: Maria Jordana Rodrigues e Vinícius Melo Edição e Diagramação: Nádia Garcia
avalia que a principal dificuldade de manter uma carreira consolidada é a falta de capital para investir. “Muitos cantores não têm visão de mercado, não se veem como produtos e acabam não investindo”. onsiderado por muitos o berço da Quando o assunto é se manter no auge, música sertaneja, Goiás está justiThiago de Medeiros revela que muitas vezes ficando esse título de forma cada a responsabilidade recai sobre o escritório vez mais expressiva. A cada dia surgem que produz o artista, que não tem o contromais cantores, duplas e até trios tocando le para lançar músicas novas. “Geralmente em bares e casas noturnas da capital. Cano artista não consegue se manter no auge tores de estados próximos, como Mato porque não tem o controle de lançaGrosso e Tocantins, acabam se mumento de músicas. O mercado dando para o estado com o obda música é como uma onda, jetivo de iniciar suas carreiras, “Você chega em a maré sobe e desce. Se a já que em Goiânia a chance casa 3 horas da onda está alta, você tem de ser ouvido por um proque aproveitar o embalo. manhã e tem que dutor musical é maior. Se você não vier com ouA explosão do sertalevantar 6 horas”. tra música de sucesso, o nejo no Brasil começou na cantor acaba saindo da Matheus Luz, década de 1990, quando os mídia”. Cantor filhos de Francisco lançaram o hit É o amor. De lá para cá, inúmeras duplas e cantores vêm surgindo, trazendo alegria para os amantes do estilo musical. O mundo de fama, dinheiro e reconhecimento são alguns dos atrativos que levam jovens a entrarem em um ramo tão difícil e ao mesmo tempo lucrativo. Noites tocando em bares é o início do sonho de um dia fazer shows para multidões de fãs. Porém, para chegar aos holofotes desse mercado milionário, um longo caminho é percorrido. Fazer sucesso não é uma tarefa fácil. O mercado está cada vez mais saturado e são poucas as produtoras que optam em investir capital em um cantor, por receio de não conseguir retorno financeiro. Thiago de Medeiros atua no ramo da música há 16 anos, sendo 14 deles como produtor musical. Responsável por produzir músicas para artistas conhecidos como Lucas Lucco e Cristiano Araújo, Thiago >> Fagner Lopes em show
Foto: Divulgação
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Durante o dia, um emprego com um salário que paga as contas e à noite, a busca por um futuro reconhecimento. Essa é a difícil rotina de Matheus Luz, que trabalha como auxiliar médico em um hospital em Goiânia de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h, e nos finais de semana toca em bares na madrugada. Com o sonho de um dia ter o reconhecimento, Matheus não recusa nenhum show, mesmo que no meio de semana e que tenha que acordar 6h no outro dia. “Tem que ter muita força de vontade. Às vezes você chega em casa 3h da manhã e tem que levantar 6h, mas essas poucas horas que tenho para dormir e descansar já ajudam no dia-adia”. Apesar da dificuldade, ele pretende ter capital suficiente para contratar uma grande equipe, compor uma música que vire um hit ou simplesmente conseguir viver fazendo somente o que ama. Entre o anonimato e o reconhecimento nacional está Fagner Lopes. Um jovem baiano, de 22 anos, da pequena cidade de Iuiú, atualmente morador de Santa Helena, interior de Goiás. Apaixonado pela música desde criança, Fagner vive um sonho. Com um DVD lançado recentemente, gravado em uma das casas noturnas mais renomadas em Goiânia, o jovem cantor está no caminho para a fama. “Hoje temos um trabalho razoavelmente conhecido, mas meu maior sonho é ter o reconhecimento como artista, não ser rico ou famoso, mas conseguir me manter totalmente com a música”. No início, sua maior dificuldade era conseguir contratos. “Por morar no interior, era difícil encontrar oportunidades. Acabei vindo para Goiânia a convite dos meus empresários e decidi gravar um CD ao vivo na minha cidade. Eu era o faxineiro, técnico de som, iluminador. Na hora lotou, mas o som deu ‘pepino’, o som não funcionou. Moral da história: contratei uma pequena banda, locutor, e o show não aconteceu”. A mudança para capital vem gerando frutos. Fagner gravou músicas com artistas renomados e a agenda de shows não para.
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bebidas
Goiânia abre as portas à cultura cervejeira Texto: Nathaly Galdino Edição e Diagramação: Pedro Martins
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ue o goianiense adora se deliciar com uma cerveja gelada, todos sabem. A novidade é que os amantes dessa bebida tão popular têm se rendido aos encantos das cervejas especiais: artesanais importadas e industriais de categoria Premium. O clima quente e seco de Goiás e um público aberto a novas experiências toranam-se aliados desta nova tradição. A cultura cervejeira ganha espaço em Goiânia ao inovar e apresentar aos novos adeptos mais de 200 estilos de cervejas de diferentes países. O consumidor é atraído por uma iguaria com sabores diferenciados e ingredientes selecionados, geralmente europeus, mas também regionais. O diretor administrativo Gino Guardabassi, 42 anos, foi apresentado às bebidas especiais há mais de 20 anos. Como degustador experiente, ele se interessa pela história por traz de cada rótulo. “Muita gente em Goiânia tem ido para essa linha de bebidas especiais. Tenho vários amigos que gostam de experimentar e tem se especializado. Não é só beber, é conhecer, apreciar, estudar e se aprofundar no que você está bebendo”, afirma Gino. Cerca de 90% do público apreciador de cervejas especiais defendem o lema “beba menos, beba melhor”. Bebem em média uma vez por semana, de uma a três garrafas de variados rótulos. O perfil do consumidor foi levantado pela pesquisa realizada pela mercadóloga Gisele Conceição Lopes, da PUC-PR, por meio de questionários online respondidos por 512 participantes. A pesquisa aponta ainda que 74% deste público também consumem cervejas comuns regularmente.
O produtor visual Gerson Passos, de 25 anos, integra essa nova geração de apreciadores goianos. “Meu primeiro contato com cervejas especiais foi em uma degustação das cervejas Colombina, linha goiana de cervejas artesanais. Provei a Larger, a Weiss, à base de trigo, e a IPA, India Pale Ale, mais amarga. A partir de então comecei a experimentar outros rótulos e variar os tipos da bebida. Com o tempo o paladar vai sendo treinado”, afirma. Goiânia também conta com novos produtores de cervejas especiais. A Cervejaria Goyaz, responsável também pela produção do chop tradicional do Bar Glória, lançou uma linha de cervejas especiais, a Colombina. A linha é composta por três rótulos e tem “alma goiana”. Conta com ingredientes inusitados como a Colombina Saison Pé Rachado, à base de Pequi. A produção em menor escala, ingredientes refinados e em alguns casos a importação tornam esse tipo de bebida cerca de 20% mais caro do que a cerveja popular. No entanto, os apreciadores estão dispostos a pagar a mais priorizando a qualidade ao invés da quantidade. Em Goiânia, a tradicional Belgian Dash é uma mistura de loja de cervejas com pub e oferece cerca de 250 rótulos internacionais e nacionais e diversos chopes. Mais recente na capital, o Tabu Cerveja Especial conta com um ambiente descolado e rótulos mais exclusivos. Os clubes de degustação com assinatura mensal de cervejas recebem uma seleção de produtos e informações sobre cada rótulo. Dois bons e tradicionais exemplos são o ClubBeer e o Have a Nice Beer.
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Curiosidades Colombina
Origem: Brasil Ingrediente: Pequi Coloração: Dourada Preço: R$ 15,00 Teor Alcoólico: 6.0%
Cannabis the Club Origem: Alemão Ingrediente: Maconha Coloração: Ämbar Preço: R$ 7,55 Teor Alcoólico: 4.0%
Royal Virility Performance Origem: Reino Unido Ingrediente: Viagra Coloração: Tons Alaranjados Preço: R$ 25,85 Teor Alcoólico: 4.5%
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Impressões [2016 | 1 ]
artes plásticas
À flor da pele
Aumento da procura de jovens por tatuagens em Goiânia influencia o crescimento da profissão de tatuador Texto: Daniela Tavares e Victor Barbosa Edição e Diagramação: Alexandre Ferrari e Morgana Caetano
Foto: Reprodução
Fotos: Reprodução
tatuagens
para a arte, um conselho, não insista”, resJá a estudante Daniela Coelho, 20, salta o tatuador Eneias Ferreira, 31. obteve a inspiração em desenhos conheA faixa de preço para se fazer uma cidos como Pop Arte. “Uma delas se reados do Serviço Brasileiro de Apoio as Micros e Pequenas Em- tatuagem varia muito. Não existe valor laciona com música, então traduzi para o presas (Sebrae) apontam cresci- especifico, cada tatuador define a forma português, mudei o sentindo e deixei da mento de 413% entre os anos de 2009 a como a tattoo será cobrada, mas dois fa- forma que mais se adequou para a mi2012 em áreas voltadas para serviços de tores são os mais tradicionais e utilizados: nha vontade”. Para o tatuador Jeandertatuagens e piercing. Em Goiânia não é o tamanho do desenho e o tempo para son Cardoso, a maioria das tatuagens são diferente e os maiores adeptos são jovens reproduzi-lo no corpo do cliente. “Tatua- criadas pensando diretamente na estética na faixa etária de 18 a 30 anos. Um fe- gens são para a vida toda, arte barata não e isso fez com que ele preferisse um estilo é boa”, sugere Eneias sobre o próprio, o que atrai novos clientes. Karen nômeno que conquista mulheres, valor da sessão. O tatuador, Kyoharu, 19, relata que prefere tatuagens homens e até mesmo idosos. que trabalhou na área du- grandes. “Se meu corpo é um templo, que “A tatuagem virou moda. “A tatuagem virou rante oito anos, ressalta a eu decore as paredes”, finaliza. Quem não tem, quer fazer dificuldade no início da e depois que a pessoa faz moda. Quem não Pesquisa carreira. “Sair de casa à primeira sempre quer fatem, quer fazer” cedo e voltar bem tarde zer mais”, afirma JeanderA repórter Daniela Tavares realizou é algo rotineiro quando pesquisa em mídias online com 100 enson Cardoso, 28, tatuador Jeardeson Cardoso, o objetivo é lucrar com trevistados e apresentou dados que comhá cinco anos. tatuador esta profissão.” Hoje, a tatuagem é vista provam o aumento do desejo em tatuar. como uma expressão individual de arte e vem se distanciando do estereótipo marginalizado e amador de anos Estética e Inspirações atrás, mas engana-se quem acredita que para se profissionalizar na área é fácil. Desejam Pensando mais além e buscando en“Depois de muitos cursos frustrados, decidi correr atrás dessa carreira. Foi mui- tender os motivos que levam as pessoas a tatuar to difícil no começo porque não existiam tatuarem o corpo, os argumentos para a Estão muitos profissionais que queriam ensinar. escolha são diversos e bem variados. AlConsegui encontrar um estúdio que é guns se inspiram em pessoas, caso da esem duvida Não como uma escola e até hoje eles me dão tudante Gabrielly Pinheiro, 20, que se insquerem apoio e suporte”, conta a tatuadora Edu- pirou em uma personalidade da internet que segue nas mídias sociais. “É uma frase arda Covo, 20 anos. tatuar A insistência e o desejo pelo trabalho da jornalista Oprah Winfrey, daí só tradusão o básico para quem deseja se tornar zi para o espanhol”, ressalta. um bom tatuador. “Sem esforço e dedi– Batizado de Otzi, o cação nada vai para frente. Para ser bem – A egípciia Amuprimeiro homem tatuado sucedido na profissão basta fazer o que net é considerada viveu há cerca de 5.300 anos gosta bem feito e com vontade”, afirma a primeira mulher e 57 tatuagens foram idenLukas Pereira, 22, tatuador há dois anos tatuada. tificadas em diversas partes e meio. “Agora, se você não tiver o dom do seu corpo.
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História dos tatuados
Fotos: Victor Rocha
Victor Rocha
[2016 | 1] Impressões
Foto: Victor Rocha
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Conheça alguns estilos de tattoos Assim como nas músicas, na moda ou no estilo de filmes, as tatuagens também possuem uma divisão por estilos, são pensados para agradar a todos os gostos. O tatuador Victor Rocha, 31, formado em designer gráfico, começou a tatuar há sete anos e passou durante a sua carreira por aprendizados com vários estilos até criar o “estilo Victor”, ressalta. Isso o faz ser referência entre os profissionais, não deixando de lado outros estilos, mas criando novas opções. O Impressões entrevistou o tatuador com o objetivo de apresentar alguns estilos e explicar como cada estilo é produzido cada um.
Old School Fotos: Reprodução
Pin Up
Bold Line
Pin Up é o estilo baseado em ilustrações. Mulheres são a base desse estilo que busca representar em traços finos, com cores a sensualidade femininas. Em alguns casos são poses de atividades rotineiras do dia-a-dia da mulher.
Fotos: Victor Rocha
O estilo Old School é um dos mais tradicionais e não podemos mencionar sem falar de Sailor Jerry (1911-1973), um dos percussores, ele foi o responsável pela popularização dos desenhos. O Old School consegue misturar estilos sem perder sua essência: desenhos marítimos, caveiras, mulheres, sereias, flores. Possuem variações de traços, sendo grossos e finos, além de ser em sua maioria tatuagens coloridas.
O estilo Bold Line é voltado para tattoos de desenhos animados e quadrinhos. As cores são parte desse estilo, que costuma ter traçados mais finos. Os estilos citados são complementares. A tatuagem possui essa abertura de juntar estilos, o que é motivo para a continua procura por este novo tipo de arte. Por meio da escolha do estilo é possível variar entre traços mais grossos, finos, abusar de contrastes e texturas, combinar cores ou deixar até mesmo deixar preto e branco não perdendo a o contraste escolhido.
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Impressões [2016 | 1 ]
ENSAIO
Folia de São Sebastião Enes Rodrigues, conhecido pelos amigos como Nenê, fala da importância de se manter a tradição que veio de seu bisavô, avô, pai e passando por ele é transmitido ao filho, Luiz Fernando, 8. “Eu comecei com cinco anos”, diz o garoto.
Em suas visitas as casas, os foliões rezam, entoam seus benditos e abençoam as famílias com a bandeira, pedindo esmolas para as obras de caridade. Divina Aparecida, madrinha da bandeira, afirma que as esmolas tem um grande importância no rodeio das folias. “Elas são oferecidas integralmente para o padre da nossa comunidade, pois ele sabe o que deve fazer com elas”.
A folia de São Sebastião é uma tradição na comunidade bonfinopolina. Tem sido passada de geração em geração e cada qual à sua época, tem procurado manter vivos os princípios e os elementos primordiais dessa manifestação da piedade popular. O dinheiro arrecadado alcança diversos fins: construção e reforma das igrejas, manutenção dos prédios das comunidades e acima de tudo assistência social das famílias que se encontram em situações de privação.
Texto e Fotos: Warlen Reis Edição e Diagramação: Sarah Cardoso Fitas: Letícia Martins e Pedro Martins