IMS Paulista: os filmes de maio/2022

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cinema maio.2022


O passado é sempre novo, o futuro é sempre nostálgico: Fotógrafo Daido Moriyama (The Past is Always New, the Future is Always Nostalgic: Photographer Daido Moriyama) de Gen Iwama (Japão | 2019, 111’, arquivo digital)


Destaques de maio 2022 Junho de 2013: um homem se veste de Batman para ir às ruas do Rio de Janeiro protestar contra o governo. Um Mickey meio troncho vaga por Fortaleza à procura de financiamento para um filme. Na Inglaterra vitoriana, um homem de feições consideradas deformadas é feito de atração circense. No Texas dos anos 1970, um açougueiro problemático recebe novas vítimas. Enquanto isso, no Recife da pandemia, Francisco só quer ter um encontro com outro homem sem precisar tirar sua PFF2. Essas são algumas das imagens de Máscaras no cinema que reunimos em uma programação especial. Videoclipes, curtas e longas-metragens que, ao esconder ou deformar um rosto, dão a ver algo mais sobre as identidades e relações que nos constituem. Na sessão Mutual Films, dois filmes influenciados pelo neorrealismo italiano, em torno do tema Cidade Vazia. No Bowery, de Lionel Rogosin, apresenta um bairro pobre de Nova York, onde residentes desempenham versões de si mesmos para a câmera. Uma história simples, de Marcel Hanoun, recria os esforços de uma mãe solteira recém-chegada a Paris, misturando cenas dramatizadas e narração em primeira pessoa. Em paralelo à exposição Daido Moriyama: uma retrospectiva, o documentário O passado é sempre novo, o futuro é sempre nostálgico acompanha o cotidiano do fotógrafo enquanto prepara a reedição de seu primeiro livro de fotografias. Em cartaz nos Cinemas do IMS, Medida provisória, de Lázaro Ramos, é acompanhado pela videoinstalação A vida é urgente, de Yasmin Thayná. Dois filmes contra um Brasil que tenta proibir a população negra de respirar, de existir.

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O homem elefante (The elephant man), de David Lynch (EUA, Reino Unido | 1980, 124', DCP)

Lança de coco (No passinho do romano), de MC Bin Laden, KL Produtora (Brasil | 2014, 2’, MP4)

Eron, o protético morcego, de Irmãos Carvalho (Brasil | 2014, 15', MP4)


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Vaga carne + Sete anos em maio + Cavalinho de barro (95’) Pequena mamãe + Nascente (79’) Vitalina Varela + A gente acaba aqui (137’)

Pequena mamãe + Nascente (79’) Medida provisória + A vida é urgente (109’) Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’)

Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) Medida provisória + A vida é urgente (109’) Medida provisória + A vida é urgente (109’)

Vitalina Varela + A gente acaba aqui (137’) Medida provisória + A vida é urgente (109’)

Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) Medida provisória + A vida é urgente (109’) Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’)

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Vaga carne + Sete anos em maio + Cavalinho de barro (95’) Pequena mamãe + Nascente (79’) Vitalina Varela + A gente acaba aqui (137’)

Pequena mamãe + Nascente (79’) Sessão Mutual Films No Bowery (65’) Uma história simples (64’)

Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) O passado é sempre novo, o futuro é sempre nostálgico: fotógrafo Daido Moriyama (111’)

Vitalina Varela + A gente acaba aqui (137’) Medida provisória + A vida é urgente (109’)

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Pequena mamãe + Nascente (79’) O homem elefante + Solon (140’)

Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) Vaga carne + Sete anos em maio + Cavalinho de barro (95’) Máscaras ― Sessão de Curtas (91’)

Vitalina Varela + A gente acaba aqui (137’) Imitação da vida + Hat-trick (130’)

Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) Yãmĩyhex: as mulheres-espírito (77’) O fantasma do paraíso + O colírio do Corman me deixou doido demais (110’)


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Medida provisória + A vida é urgente (109’) Pequena mamãe + Nascente (79’) Medida provisória + A vida é urgente (109’) O segundo rosto + Eron, o protético morcego (121’)

Medida provisória + A vida é urgente (109’) Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) Medida provisória + A vida é urgente (109’) O massacre da Serra elétrica + Long Live the New Flesh (97’) Medida provisória + A vida é urgente (109’) Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) A tragédia da mina (93’) Seguindo todos os protocolos (75’)

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Vaga carne + Sete anos em maio + Cavalinho de barro (95’) Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) Medida provisória + A vida é urgente (109’) A hora do show + Movimento (147’)

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Medida provisória + A vida é urgente (109’) Máscaras ― Sessão de Curtas (91’) O fantasma do paraíso + O colírio do Corman me deixou doido demais (110’) Medusa + Cinema contemporâneo (132’)

Medida provisória + A vida é urgente (109’) Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) A negra de... + Manaus, uma cidade aldeia (71’) O homem elefante + Solon (140’)

Medida provisória + A vida é urgente (109’) Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) A tragédia da mina (93’) O massacre da serra elétrica + Long Live the New Flesh (97’) Medida Provisória + A vida é urgente (109’) Vaga carne + Sete anos em maio + Cavalinho de barro (95’) Yãmĩyhex: as mulheres-espírito (77’) A Lira do Delírio + Lança de coco (No passinho do romano) (107’) O segundo rosto + Eron, o protético morcego (121’)

Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br. 3

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Madalena + Manifesto MONXTRA AFROCYBORG (91’) Vaga carne + Sete anos em maio + Cavalinho de barro (95’) Pequena mamãe + Nascente (79’) Vitalina Varela + A gente acaba aqui (137’) Medida provisória + A vida é urgente (110’) Pequena mamãe + Nascente (79’) A negra de... + Manaus, uma cidade aldeia (71’) A Lira do Delírio + Lança de coco (No passinho do romano) (107’) Medida provisória + A vida é urgente (109’) Sessão Mutual Films Uma história simples (65’) No Bowery (65’) A hora do show + Movimento (147’)

Medida provisória + A vida é urgente (109’) Máscaras (115’) Seguindo todos os protocolos (75’) Imitação da vida + Hat-trick (130’)

Vaga carne + Sete anos em maio + Cavalinho de barro (95’) Máscaras (115’) Medusa + Cinema contemporâneo (132’)


Máscaras: uma apresentação Kleber Mendonça Filho

Há dois anos que a máscara facial tomou um lugar de grande importância no mundo. Sua adoção rápida e algo confusa teve um impacto marcante na vida em sociedade. Essa imagem do rosto mascarado transformou-se numa fantasia complexa de mundo real, enquanto tentamos ainda entender melhor esse momento da história. Nesse tempo de 2020-2022 (e pensando à frente), as “máscaras” revelaram – inicialmente – os cuidados de cada um de nós na busca por proteção contra um vírus mortal divulgado globalmente e com pânico controlado. O impacto foi sentido num curto espaço de tempo. As máscaras nos mostraram como familiares, amigos e desconhecidos têm seus rostos alterados por uma nova disciplina de proteção da boca e do nariz. Uma proteção que é atravessada pela sensação de asfixia, pelo rosto marcado, pelo risco do uso indevido, com as narinas para fora. Para quem usa óculos, a máscara pode embaçar as lentes e comprometer a visão. Máscaras são adereços de cores diferentes, feitos com materiais mais 4

ouumenos eficazes e que nos sugeriram novas etiquetas de respeito ao próximo. Ou estabeleceram relações de desrespeito. Usar máscara passou a sugerir uma linguagem política de democracia, um ato de crença na ciência, de pensamento progressista e livre, via obediência à obrigatoriedade de uso em espaços coletivos, como o próprio cinema. Na imagem do Cinema e do audiovisual como um todo, a máscara pode ser um efeito, uma subtrama, um elemento visual catalisador de ansiedade, de mistério e horror. A proteção facial guarda identidades, faz parte do culto ao super-herói. A máscara é presença frequente nas representações de religiões e cultos, em personagens lúdicos ou enigmáticos, na sexualidade e na política, nos procedimentos fotogênicos do crime, da Ciência, da Cultura e do Carnaval. Meses atrás, me vi usando uma máscara abafada numa sala de cinema. Fui ver Imitação da vida (Imitation of Life, 1959), de Douglas Sirk. Na tela, os personagens choravam desfigurados, caras inchadas que lembram máscaras, a maquiagem

hollywoodiana derretendo aos soluços de um pancake emotivo. E a máscara de espectadores estragada de lágrimas na sala, numa história sobre se esconder atrás de um racismo disfarçado. Ao longo dos últimos meses, juntamos esta coleção de imagens filmadas para serem projetadas coletivamente nas duas salas do IMS. Defendemos que parte importante da nossa programação seja composta por reações ao que temos vivido em sociedade. Essa experiência passa às vezes pelo medo. Algumas das ideias aqui reunidas podem expandir uma percepção do que a máscara passou a significar para todos nós. É possível a partir desta seleção especial de filmes curtos e de longa-metragem fazer leituras visuais literais dessa proteção facial que passou a fazer parte das nossas vidas. Algumas dessas imagens são velhas conhecidas, outras são novas descobertas. Acreditamos que o estado atual do mundo poderá rebater na revisão dessas imagens, e de como revemos o Cinema numa sala escura neste ano de 2022.


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Máscaras para rituais do mundo em crise Denilson Baniwa

[Originalmente publicado no site do IMS em 8 de maio de 2020, o texto acompanha a série de autorretratos Máscaras para rituais do mundo em crise, realizada por Denilson Baniwa para o programa IMS Convida. As fotografias serão exibidas na sala de cinema ao longo da mostra de filmes Máscaras.] Os mais velhos dizem que o "Senhor das Doenças"1 tem uma pelagem parecida com a do bicho-preguiça e quando encontra um espírito doente o abraça e sufoca até o luto, tal como um bicho-preguiça agarra numa embaubeira. Se nada for feito e o pajé não for forte o suficiente para negociar com o "Senhor das Doenças", o espírito do doente se vai para sempre. Dizem que o mundo em que vivemos é decorrente das grandes guerras entre os seres humanos e o mundo natural. Tornamos este planeta um contraste do mundo dos Cosmos, por isso precisamos dos pajés, benzedores e todos aqueles que fazem a comunicação com o Universo, tornando assim a nossa vida segura neste planeta. 6

Porém, muitas vezes esquecemos que vivemos num lugar finito e que precisa de cuidados, negamos o bem viver e lidamos por muito tempo com a emancipação de sistemas de poder. Caímos em desventura, e chegam até nós os sinais do “Senhor das Doenças”. Com a chegada de nossos “descobridores”, vieram novos desafios, doenças que não estávamos acostumados a ver. Mundos acabaram, povos foram extintos, aldeias que acabaram para sempre. Tivemos que aprender novos rituais e métodos para acalmar o "Senhor das Doenças". Antibióticos, vacinas, remédios em embalagens de plástico ou vidro pareceram boas pussangas. Mas, não o acalmaram. Este é o momento em que revivemos a crise pujante da dor. O covid-19, por ser algo nunca visto,

"Senhor das Doenças" é uma tradução para português que uso aqui como proteção espiritual, não quero que Ele saiba que estou falando seu nome por aí sem permissão. 1

nos leva a criar novos rituais de cura e cuidados para que possamos acalmar novamente o "Senhor das Doenças". As máscaras sagradas que aprendemos com nossos Avós-Universo, feitas de madeira, fibras, argila, cuias, penas de pássaros, que serviram como lembrança do tempo da gênese e de respeito aos nossos criadores, são senhas de acesso para o Cosmos, o invisível, o sagrado, o sobrenatural, tão importantes para manter a ordem do caos, com o que


alegramos e acalmamos o Universo, passam, hoje, por uma atualização nos vários povos indígenas. Fomos obrigados a usar máscaras cirúrgicas ou feitas de tecidos costurados, até então desconhecidas por nós para nos proteger do espírito da covid-19 e, claro, junto com as máscaras vieram as regras de como usá-las com eficiência, pois não basta colocar a máscara no rosto, é preciso saber as senhas de acesso aos modos de proteção. Uma atualização de 7

firmware que o “Senhor das Doenças” nos disponibilizou. Estes rituais hoje não vieram pelas bocas de nossos Avós, no mundo moderno chegam impressos em folhetos ou pela televisão, que também mostram como os rituais devem ser feitos passo a passo, e que também mostram o que acontece se não cumprirmos os rituais corretamente, não mais com metáforas e figuras de linguagem, mas com os vídeos dos mortos sendo enterrados em covas

abertas às pressas. Aterrador. Um horror! Não estávamos preparados. Mas ainda há tempo para sobrevivermos. E m b o ra o s r i tu a i s a g o ra s e j a m quase como entregas de fé, temos chances. Lavar as mãos metodicamente, higienizar-se com álcool em gel 70%, entre outros pequenos rituais que fazem parte de uma regra a ser seguida obrigatoriamente. Uma quarentena, nada de encontros sociais nem saídas de casa. Se não é casado e não mora junto, nada de sexo. Sem visitas aos parentes pro almoço de domingo, muito menos barzinho às sextas com o pessoal do trabalho. Mantenha uma alimentação saudável, beba água, faça exercícios. Mantenha sua imunidade boa. Para uma proteção maior, usem máscaras sempre. Máscaras de rituais do mundo em crise. Que o "Senhor das Doenças" veja que estamos cumprindo todos os rituais e possa se acalmar logo, e nosso povo sobreviverá a mais este fim de mundo.


Sessão Mutual Films Cidade Vazia: No Bowery e Uma história simples por Aaron Cutler e Mariana Shellard

“E se nós vencemos, por que parecemos perdedores? Por que as notícias continuam ruins? Não há vitória suficiente para celebrar.” Trecho da narração de Vitória estranha (Strange Victory, 1948), documentário norte-americano do cineasta Leo Hurwitz sobre o pós-guerra.

Na década de 1950, os Estados Unidos e a França celebravam o fim da Segunda Guerra Mundial e iniciavam um período de violentos conflitos em terras estrangeiras, com o desdobramento da Guerra Fria e a luta por independência dos territórios franceses na África e na Ásia. Foi uma época de grandes deslocamentos populacionais e novas realidades sociais. Lionel Rogosin e Marcel Hanoun foram dois dos cineastas que se dedicaram a retratar essas transformações e o impacto humano de uma nova ordem econômica mundial. Fizeram isso combinando um olhar humanista clássico e uma busca por novas formas de realismo. Nascido em Nova York em 1924, Lionel Rogosin era filho de um imigrante russo 8

judeu que ascendeu e se tornou um milionário com a fabricação de raiom. Rogosin foi oficial da marinha americana na Segunda Guerra Mundial, experiência que impactou profundamente sua vida e o levou a construir uma carreira no cinema voltada para o registro das condições de violência e opressão estruturais promovidas ou negligenciadas pelo Estado e pela alta sociedade. Ele trabalhou por alguns anos na empresa da família, chegando inclusive à vice-presidência, porém, insatisfeito e inquieto com sua própria situação de conforto diante das atrocidades do mundo, decidiu largar a empresa e se dedicar ao cinema de documentário. Rogosin sonhava em realizar um filme sobre o apartheid na África do Sul, que acabou se tornando seu segundo longa, a docuficção De volta à África (Come Back, Africa, 1959). Mas, para isso, sentiu necessidade de aprender a fazer cinema. Sua primeira experiência foi no Bowery, bairro pobre de Manhattan, onde conviveu com seus residentes (majoritariamente homens alcoólatras, entre eles vários veteranos de guerra), registrando com uma câmera o

cotidiano local. Rogosin deixou que cada um desenvolvesse seu próprio papel, com a ajuda do roteirista Mark Sufrin para organizar o material. O resultado foram cenas teatralizadas e semi-improvisadas, que remetiam aos filmes de Robert Flaherty e aos clássicos do neorrealismo italiano, como Ladrões de bicicleta (Ladri di biciclette, Vittorio De Sica, 1948). O diretor e seu cinegrafista Richard Bagley buscaram provocar uma empatia no espectador por meio de close-ups afetivos dos moradores do Bowery, inspirados nas pinturas de Rembrandt e sua capacidade de retratar a complexidade da expressão humana a partir de um jogo de luz e sombra. Eles escolheram como protagonista Ray Salyer, um veterano de guerra que trabalhou no sistema ferroviário antes de chegar desempregado no Bowery, e, como contraponto, Gorman Hendricks, um ex-jornalista e antigo residente do local. Acompanhamos a vida de um homem que procura se libertar de uma condição de miséria e a de outro, bem-adaptado ao meio, que encara a própria situação com serenidade. Quando


sozinhos, esses personagens são retratados de perto, em planos americanos ou close-ups. Quando em grupo, os observamos imersos no ambiente ao redor, em busca de trabalho, ou de um trocado, no bar, no hotel, no sermão e no refeitório do abrigo. Nesses momentos, é possível perceber como esses atores acidentais trabalharam como interlocutores na criação de um retrato social fiel e justo. No Bowery teve boa repercussão na Europa – inclusive foi um dos poucos documentários de longa-metragem da época que foi distribuído comercialmente – e chegou a ser um filme formativo para alguns cineastas norte-americanos, como John Cassavetes. Porém, no geral, foi muito criticado nos Estados Unidos e até enfrentou tentativas de censura do governo de um país que, naquele momento, não estava habituado a ver o violento reflexo de suas próprias mazelas. Rogosin, entretanto, se viu fortalecido pelo impacto que o filme teve no exterior e entrou em contato com o secretário da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) e 9

com o escritor sul-africano Alan Paton e, em 1957, se mudou com sua esposa grávida para a África do Sul. Foi nesse mesmo período que Marcel Hanoun começou a fazer seu primeiro longa-metragem, Uma história simples, em coprodução com a emissora de televisão pública francesa. Hanoun nasceu em Túnis em 1929, em uma família de judeus argelinos, e teve uma experiência marcante quando jovem com seu pai, um cineasta amador que o filmava nas ruas. Ele então ficou fascinado com a capacidade da câmera não apenas de registrar mas também de transformar a realidade. Se mudou para Paris logo após a Segunda Guerra Mundial, onde trabalhou como jornalista e fotógrafo e realizou cursos em artes dramáticas e audiovisuais, antes de fazer cinema. Também encontrou inspiração na obra de Robert Bresson, cujo espelhamento de narração e ação em filmes como Diário de um pároco de aldeia (Journal d’un curé de campagne, 1951) e Um condenado à morte escapou (Un comdamné à mort s’est échappé ou Le vent souffle où il veut, 1956) trouxe para

o cinema uma nova sensação de realidade interior. Enquanto Bresson adaptou obras literárias, muitos dos filmes de Hanoun se basearam em acontecimentos da época, como notícias de jornal, suas experiências autobiográficas ou uma combinação dos dois. Foi assim com Uma história simples, uma ficcionalização de uma reportagem sobre uma mãe solteira e sua filha pequena em busca de uma vida estável na metrópole. No filme, acompanhamos em flashback a jornada da mulher (interpretada por Micheline Bezançon) com sua criança (Elizabeth Huart) pelas ruas de Paris, em busca de trabalho e de um lugar para dormir. Com o som integralmente pós-sincronizado, a protagonista narra de forma direta, concisa e quase banal cada ação a que assistimos na tela, sendo que ocasionalmente a voz que conta a história é atravessada pela pessoa que a vive. Algumas vezes, a narração antecipa a ação, outras, exprime o recém-ocorrido e, eventualmente, expressa a aflição da mulher, que se vê cada vez mais em um beco sem saída.


Entretanto, o filme (um dos poucos longas franceses filmado em 16 mm na época) não nos deixa em um estado de expectativa, pois sabemos que as personagens serão resgatadas e que essa história que ouvimos já é passado. Isso se consolida tanto no texto de abertura – no qual o próprio cineasta declara ter conhecido a história em primeira mão – como na primeira interação do filme, quando uma senhora acolhe a mulher e sua filha – que naquele momento haviam chegado ao extremo de dormir ao relento. Hanoun 10

faz uma ponta no filme, interpretando um estrangeiro sem dinheiro para pagar a diária do quarto em um dos hotéis por onde a mulher passa. O curioso é que, ao homem, o atraso é perdoado, mas, à mulher com a filha, não. Uma história simples é hoje a obra mais conhecida de Hanoun, mas é um filme muito particular em sua carreira, que continuou até sua morte, em 2012, e englobou mais de 70 trabalhos cinematográficos (longas e curtas, vídeo e película), junto a livros de crítica e teoria de cinema

e à criação de duas revistas. Alguns anos depois de Uma história simples, filmou Outubro em Madri (Octobre à Madrid, 1965-1967), narrado e protagonizado por ele mesmo como um diário de filmagem, que comenta sua estadia na Espanha enquanto observamos uma colagem de cenas teatralizadas e documentadas. Outubro em Madri se assemelha à abordagem que o diretor adotaria por toda sua carreira, caracterizada por histórias não lineares, pluralidade de vozes e uma incansável autorreferência.


Hanoun sistematicamente produziu, filmou e editou suas obras e foi uma espécie de outsider mesmo em relação aos seus colegas da Nouvelle Vague, sempre buscando diferentes maneiras de aplicar sua fórmula: “Um filme não possui um tema, ele mesmo é o tema do filme”.1 O diretor também acreditava que o cinema precisava ser um ofício ao alcance da classe trabalhadora, que deveria ter total liberdade de criação, sem ter de se submeter a uma lógica corporativista. Um pensamento independente e ativista pode ser similarmente atribuído a Rogosin, que escreveu em suas anotações de preparação para No Bowery: “Realidade – a vida é cinema”.2 Rogosin fez poucos filmes (seis longas e alguns curtas) antes de sua morte, em 2000, mas atuou no meio cinematográfico de outras formas marcantes. Foi um dos fundadores do politizado movimento Novo Cinema Americano, formado por cineastas independentes e experimentais, como Shirley Clarke, Robert Frank e Adolfas Mekas, que acreditavam na necessidade de desafiar o cinema 11

comercial não apenas ao criar outras estruturas narrativas, mas também em termos de produção, exibição e distribuição. Mostrou vários dos filmes de seus colegas no Bleecker Street Cinema, uma sala de cinema alternativa em Nova York que ele abriu para passar De volta à África e que acabou se tornando um dos mais importantes cinemas de arte dos Estados Unidos. Também participou da distribuidora Film-Makers’ Cooperative e fundou sua própria distribuidora, a Impact Films, que funcionou por 14 anos. Rogosin e Hanoun são exemplos de artistas que nunca se deixaram levar pela possibilidade de uma carreira segura, seguindo um modelo de produção palatável aos bolsos de patrocinadores (públicos ou privados). Boa parte de suas obras continua circulando em cópias de boa qualidade devido aos esforços de preservacionistas, curadores, críticos, familiares, colaboradores e pequenas distribuidoras. É graças ao trabalho de pessoas que acreditam no princípio da arte e da educação acima do mercado que hoje podemos assistir às obras

desses cineastas radicais e pioneiros, assim como muitas pessoas as assistiram no passado.

A primeira Sessão Mutual Films de 2022 é dedicada à memória de Jonas Mekas (1922-2019) – imigrante, ativista, crítico e fundador da sala e do espaço de conservação nova-iorquino Anthology Film Archives, que mantém os negativos originais de No Bowery, além de uma cópia em 16 mm de Uma história simples, como parte de sua coleção Essential Cinema. 1. Citado no documentário The Perfect Team: The Making of On the Bowery (2009), dirigido por Michael Rogosin, filho de Lionel, que cuida do acervo do pai por meio da entidade Rogosin Heritage. 2. Citado no texto dos curadores e críticos Nicole Brenez e Bernard Benoliel, “Marcel Hanoun, inventer la liberté”, que acompanhou uma retrospectiva integral dos filmes de Hanoun realizado na Cinemateca Francesa em 2010.


Máscaras

De 5 a 29 de maio o Cinema de IMS apresenta uma mostra que tem a máscara como ponto de partida. Há dois anos o acessório facial tomou um lugar de grande importância no mundo. Sua adoção rápida e, às vezes, confusa teve um impacto marcante na vida em sociedade. Esta seleção especial de curtas, longas, fotos e videoclipes observa a máscara em diversas possibilidades de representação. Algumas dessas imagens são velhas conhecidas, outras são exibidas pela primeira vez na sala escura.

que não consegue emplacar projetos. Como provocação, propõe aos executivos brancos uma ideia absurda que resulta, para o seu desgosto, num enorme sucesso: revitalizar os antigos minstrel shows, espetáculos de variedades onde os artistas em black-face animam o público com os estereótipos racistas mais agressivos possíveis. A Cultura tem muitas máscaras. Este filme será exibido junto ao curta-metragem Movimento, de Gabriel Martins.

A hora do show Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)

Bamboozled Spike Lee | EUA | 2000, 135’, Arquivo digital (Park Circus) Passados 22 anos, observamos que A hora do show talvez seja subapreciado na vasta obra de Spike Lee. Sua revisão faz-se importante neste momento da história, quando novas compreensões sobre representação ganham finalmente uma evolução. Rodado em digital Mini-DV e filme Super16mm, há um tom de improviso dramatizado no sarcasmo ao abordar temas que vêm sendo filmados por Lee desde sempre na sua trajetória: como representar pessoas negras na mídia dos Estados Unidos; e como a população negra vem sendo representada numa cultura tão marcada pelo cinema, TV e no entretenimento? Das discussões em Faça a coisa certa (1989) sobre a falta de negros na parede da pizzaria a trabalhos recentes como Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman, 2018)’, esse tema em A hora do show ganha o filme inteiro. Pierre Delacroix é um showrunner e roteirista televisivo frustrado

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A Lira do Delírio

Walter Lima Jr. | Brasil | 1978, 105’, Arquivo digital (Canal Brasil) Do Carnaval de rua de Niterói aos cabarés na Lapa, os foliões do bloco Lira do Delírio se entregam a um jogo de cena que tem a festa não só como tema, mas também como modo de filmar. Rodado em duas épocas diferentes, em 16 e 35 mm, o filme conta com atuações geralmente improvisadas, e muitas vezes apaixonantes, de Paulo José, Anecy Rocha, Paulo César Peréio e Nara Leão. Para além das fantasias propriamente ditas, esse filme essencial de Walter Lima Jr. alcança outras máscaras que se mostram nas relações e num momento muito particular de Brasil. Este filme será exibido junto ao videoclipe Lança de coco (No passinho do romano), de MC Bin Laden.

A negra de...

A tragédia da Mina

Diouana é uma jovem senegalesa que chega à Riviera Francesa para trabalhar como babá. Executa todo tipo de função doméstica sem salário e pensa na discrepância entre a sua vida na França e o sonho antigo de viver na Europa. Na parede do apartamento, uma máscara típica da aldeia de Diouana dada como presente aos patrões. Cópia da Fondazione Cineteca di Bologna, restaurada em 2015 pelo World Cinema Project (The Film Foundation), em colaboração com o Espólio de Ousmane Sembène, com o INA (Institut National de l’A udiovisuel), o laboratório Éclair e o Centre National de Cinématographie. Restauração realizada na Cineteca di Bologna, pelo laboratório L’Immagine Ritrovata.

Na fronteira entre a França e a Alemanha, a explosão em uma mina subterrânea deixa um grupo de trabalhadores franceses aprisionados. No esforço para salvá-los, os mineiros alemães Wittkopp e Kasper decidem atravessar um túnel de guerra em ruínas que leva à mina. O filme se passa entre as duas grandes guerras e apresenta o ímpeto de solidariedade entre duas nações que se enfrentaram. “A ação se desenvolve no presente, pouco mais de uma década após a Conferência de Versalhes, que encerrou a Primeira Guerra Mundial.” escreve Lucy Sante, crítica e artista. “Os mineiros e aldeões de ambos os lados são visualmente e, talvez, culturalmente indistinguíveis, embora não falem as línguas uns dos outros e apresentem identidades tribais endurecidas pela guerra e formalizadas por dois conjuntos de portões alfandegários. O filme começa com uma cena simbólica que mostra dois garotos, filhos

La Noire de… Ousmane Sembène | Senegal, França | 1966, 65’, DCP 4K (Cinemateca de Bolonha)

Este filme será exibido junto ao curta-metragem Manaus, uma cidade na aldeia, de Uýra Sodoma.

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Kameradschaft Georg Wilhelm Pabst | Alemanha, França | 1931, 93’, DCP 2K (Cinemateca Alemã)


de funcionários da alfândega de lados opostos, jogando bolinha de gude. Ambos declaram vitória, logo o garoto alemão traça furiosamente uma fronteira com o pé, e então seus pais têm que acabar com a briga.” A obra é inspirada em um evento real, a tragédia de Courrières, na França, que tirou a vida de mais de mil mineiros em 1906. [Leia o texto completo no site da Criterion Collection: 3xcg.short.gy/TragediaDaMina]

Cinema contemporâneo

Eron, o protético morcego

O fotofilme revisto como um confessionário, um segredo narrado em primeira pessoa. A fotografia tem o seu próprio mistério, uma lacuna moral que encontra nesse curta-metragem uma força pessoal surpreendente.

Um registro incomum e sem julgamentos de um personagem urbano marcante: o “Batman dos protestos”. Na sequência das manifestações de 2013 de um Rio de Janeiro tão confuso quanto o próprio Brasil na nossa história recente. Poucas vezes a linha que separa ficção de realidade foi tão evidente.

Felipe André Silva | Brasil | 2019, 5’, MP4 (Acervo do artista)

Este filme será exibido junto ao longa-metragem Medusa, de Anita Rocha da Silveira.

Irmãos Carvalho | Brasil | 2014, 15’, MP4 (Acervo dos artistas)

Este filme será exibido junto ao longa-metragem O segundo rosto, de John Frankenheimer.

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Hat-trick

Djonga, 176 Studio | Brasil | 2019, 5’, arquivo digital (176 Studio) “Pensa bem/ tirar seus irmãos da lama/ sua coroa larga o trampo/ ou tu vai ser mais um preto/ que passou a vida em branco.” Rara oportunidade de assistir em sala escura a um videoclipe roteirizado e dirigido por um dos grandes nomes do rap nacional. Nele, estão justapostos os conflitos do homem negro que precisa embranquecer em aspecto e comportamento para sobreviver a um ambiente profissional cercado por brancos e a trajetória de um rapper acorrentado – impossível não pensar no Zózimo Bulbul de Alma no olho – que rima a própria ascensão e influência no mundo da música e da cultura brasileira. Hat-trick é a faixa que abre Ladrão, terceiro álbum de estúdio de Djonga. O clipe será exibido junto ao longa Imitação da vida, de Douglas Sirk.

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Imitação da vida Imitation of Life Douglas Sirk | EUA | 1959, 125’, DCP 4K (Park Circus) O último filme de Douglas Sirk é o melodrama sublime com efeito emocional aumentado se visto numa sala ao lado de desconhecidos. Duas mães e suas filhas numa versão Hollywood branca dos EUA da década de 1950, poucos anos antes da luta pelos direitos civis. Imitação da vida apresenta máscaras sociais e de raça não tão aparentes à primeira vista. Uma história de mulheres 63 anos atrás sobre se projetar como pessoa num espaço humano profundamente racista. Não é ironia observar que o Technicolor do filme é tão clássico quanto moderno na reprodução das suas cores. Este filme será exibido junto ao videoclipe Hat-trick, de Djonga.

Lança de coco (No passinho do romano)

MC Bin Laden, KL Produtora | Brasil | 2014, 2’, MP4 (KL Produtora) Lançado um ano antes de o cantor e compositor MC Bin Laden despontar na cena musical nacional e internacional, Lança de coco faz parte de uma tradição de funks que exploram a sonoridade do “tuin” para proporcionar ou potencializar uma experiência sensorial que vai além da música. Como descreve o jornalista e pesquisador GG Albuquerque, “tuin” foi o termo abraçado pelo funk paulista para chamar a alucinação auditiva provocada pelo lança-perfume. Nessa sessão, os mascarados do Bin Laden como que convidam o espectador a embrasar junto: “Quem não bafora aqui/ Aqui não dança/ Olha o tuinnn!” Este filme será exibido junto ao longa-metragem A lira do delírio, de Walter Lima Jr. [O videoensaio de GG Albuquerque sobre a estética do tuin pode ser visto em: 3xcg.short.gy/ LancaDeCoco]


Long Live the New Flesh

Nicolas Provost | Bélgica | 2011, 14’, Arquivo digital (Acervo do artista) David Cronenberg e Stanley Kubrick oferecem a Nicolas Provost um lote de imagens de cinema arquivadas no nosso subconsciente. Provost trabalha essas imagens até virarem massa orgânica, guardadas em discos rígidos, servidores e nuvens. A máscara é feita de pixels e grãos, pois somos todos imagem. Este filme será exibido junto ao filme O massacre da serra elétrica, de Tobe Hooper.

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Manaus, uma cidade na aldeia

Uýra Sodoma | Brasil | 2020, 6’, MP4 (Acervo IMS) O corpo de Uýra atravessa a cidade de Manaus e busca os vestígios da sua origem escondidos pela arquitetura. A obra foi produzida no contexto do programa IMS Convida, que pode ser conferido na íntegra em: ims.com.br/convida/. Este filme será exibido junto ao longa-metragem A negra de…, de Ousmane Sembène.

Máscaras Noémia Delgado | Portugal | 1976, 115’, DCP 4K (Cinemateca Portuguesa) O filme apresenta a preparação e o desenvolvimento das festas do nordeste transmontano, em Portugal, a celebração do Ciclo de Inverno, do Natal à Quarta-Feira de Cinzas. Em muitas regiões da Europa, sobretudo nos países alpinos, eslavos e balcânicos, ainda hoje existem certas celebrações do Ciclo de Inverno, em que aparecem mascarados. Nos casos mais característicos, figuram personagens tradicionais definidas. Por vezes, é patente a relação desses personagens, demônios e fantasmas, com os mortos. “O filme Máscaras foi feito – eu quis que fosse – sem artifícios nem rebuscamentos de ordem estética para contemplação dos olhos”, explica a diretora Noémia Delgado. “O que existe de belo nas pessoas e nas coisas tem a ver profundamente de onde e como se vive e respira nas terras de Trás-os-Montes. (Ainda. Até quando?) As minhas intromissões ao correr da fita não são mais que um sinal de meditação. Nenhum filme é inocente. Portanto, um filme etnográfico – e não só – suportando outras leituras,


para quem o quiser ‘ler’ com atenção. Ligado ao ciclo nascimento, vida e morte, nele estão representados todos os elementos correspondentes através dos mascarados e seus rituais. Rituais esses que vêm de há longos séculos, em que o significado e o rigor da representação se têm vindo a diluir no tempo. No entanto, os elementos fundamentais mantiveram-se: na figura e ação dos mascarados, nas rondas, no Diabo e na Morte, no sacrifício do animal, na iniciação dos rapazes, na ceia… Mistérios esses que excluem a presença da mulher, a quem é dado apenas o papel da lavagem das tripas do animal sacrificado. E nada disso se passa por acaso. Espero, portanto, que não se conclua apressadamente que Máscaras é um filme poético e espontâneo, como alguém o disse. Também o é, mas não só. Filme conseguido? Não me cabe a mim dizê-lo.” Esta cópia digital resulta da digitalização 4K por imersão em janela líquida (wet gate) do negativo de câmera original de 16 mm e da mistura final de som em fita magnética conservados pela Cinemateca Portuguesa. A correção de cor e o restauro digital da imagem foram feitos pela Irmã Lúcia Efeitos Especiais, em 2021, usando uma cópia de época como referência. A digitalização e o restauro digital do som foram feitos pela Cinemateca Portuguesa em 2021. [Textos extraídos do material de divulgação do filme, produzidos pela Cinemateca Portuguesa por ocasião da nova restauração]

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Máscaras para rituais do mundo em crise

Denilson Baniwa | Brasil | 2020, ensaio fotográfico, arquivos digitais (Acervo IMS) Diante da obrigatoriedade do uso de máscaras, para se proteger da covid-19, o artista Denilson Baniwa elabora suas próprias máscaras rituais, numa releitura da tradição ancestral do preparo de máscaras sagradas para acesso ao Cosmos e ao invisível, para um diálogo e convivência respeitosa com o mundo. Esta série de fotografias foi realizada no contexto do IMS Convida, lançado pelo Instituto Moreira Salles em abril de 2020 como resposta aos danos causados na produção das artes pela pandemia, e, ao longo da mostra Máscaras, será exibida em breves aparições entre sessões.

Medusa

Anita Rocha da Silveira | Brasil | 2021, 127’, DCP (República Pureza) Uma reinterpretação livre do Brasil nos anos Bolsonaro, filmada como uma distopia em que o fator social evangélico define normas estéticas, morais e de comportamento. O filme de Anita Rocha da Silveira encontra-se em algum lugar entre o Rio de Janeiro realista e o do cinema autoral de gênero híbrido, sci-fi, gótico. Mulheres jovens agridem-se sob a sombra de uma mítica liderança, os homens obedecem à filosofia de milícias armadas e religiosas. Uma enorme liberação de energia. “Meu ponto de partida para Medusa foi uma série de reportagens que eu li sobre garotas que se juntavam para bater em outras garotas”, conta a diretora Anita Rocha da Silveira em entrevista ao Papo de Cinema “[A vítima] Era considerada promíscua, por conta das fotos que postava nas redes sociais, que seriam fotos sensuais demais, e, nesse discurso, era importante deixar a vítima feia, cortar sua cara ou seu cabelo. [...] Eu vi como


essa violência contra mulheres passava pelo avanço conservador.” Medusa teve sua estreia mundial na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, em 2021. No Festival do Rio, recebeu os prêmios de Melhor Direção, Melhor Longa-Metragem e Melhor Atriz Coadjuvante. Este filme será exibido junto ao curta-metragem Cinema contemporâneo, de Felipe André Silva. [Assista à entrevista completa: 3xcg.short.gy/ EntrevistaMedusa]

Movimento

Gabriel Martins | Brasil | 2020, 12’, DCP (Acervo IMS) No meio de um áudio de WhatsApp, o personagem do diretor comenta: “Tamo nessa aí, né, cara… Chateado aí pelos caminhos do mundo, pelos rumos do mundo. Brasil não tá fácil, né? E a situação muito ruim, né? Muita tristeza por aí. Mas vamo que vamo, naquele pique. Tega na manteiga, bola pra frente e continuar sonhando, né? Com o dia de amanhã. E é isso, abraço.” Mesmo trancado em casa em um contexto tenso e caótico, o diretor-personagem de Gabriel Martins parece se apoiar na companhia da esposa e da filha recém-nascida para oferecer algum momento singelo – nada mais Jorge Ben Jorniano. O curta foi produzido no contexto do programa IMS Convida, que pode ser conferido na íntegra em:ims.com.br/convida/. Este filme será exibido junto ao longa-metragem A hora do show, de Spike Lee.

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O colírio do Corman me deixou doido demais

Ivan Cardoso | Brasil | 2020, 18’, DCP (Acervo do artista) Numa referência direta ao filme O homem dos olhos de raio-X, Ivan Cardoso leva o diretor Roger Corman a lhe aplicar seu colírio misterioso. Mas, como diz o próprio narrador do curta, “o que no início era apenas uma curtição acabou se transformando num pesadelo infernal”. Uma vez sob o efeito do colírio, Cardoso nos convida a assistir às suas visões. Ao longo de 10 anos, o diretor deixou de lado as filmagens para trabalhar manualmente na película 35 mm, quadro a quadro. É como se, a cada gota, o curta fosse mais riscado, desenhado, furado, manchado… Até que o delírio se torne parte da própria matéria do filme. Este filme será exibido junto ao longa-metragem O fantasma do paraíso, de Brian De Palma.


O fantasma do paraíso

Phantom of the Paradise Brian De Palma | EUA | 1974, 92’, DCP (Park Circus) Winslow Leach (William Finley) é compositor e acaba de terminar uma rock-cantata baseada em Fausto. Swan (Paul Williams), um magnata do mundo da música, rouba as composições de Leach para serem tocadas na abertura de seu grande palácio do rock, o Paradise. Leach perde sua liberdade, sua voz e parte do rosto. Na tentativa de reaver o que é seu, ele vira O Fantasma do Paraíso. O prazer de programar um Brian De Palma é comparável ao bom humor louco do filme em si. A referência mais evidente é O Fantasma da Ópera: o homem mascarado que assombrava a ópera de Paris tem diversos paralelos com o personagem de Leach. Enquanto Swan, interpretado por Paul Williams, que também é autor da trilha sonora absolutamente inventiva do filme, não envelhece, seu personagem lembra Dorian Grey, de Oscar Wilde. A mocinha ambivalente é Jessica Harper, conhecida também por Suspiria (1977).

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O fantasma do paraíso não atingiu a bilheteria esperada em seu lançamento, mas, com o tempo, se tornou uma obra marcante na filmografia do cineasta Brian De Palma. Em uma sessão no BFI em Londres, o realizador e crítico Brett Easton Ellis apresentou o filme como um de seus preferidos. “É definitivamente um filme de 1974. Algo do humor pode ser datado. Alguns dos elementos podem ser datados em consideração ao que é politicamente correto. [...] É uma comédia, e é uma paródia e também é espetacularmente bem-feito. Quaisquer que sejam os elementos desse filme que parecem datados para você, eu digo, esta foi a primeira declaração visual verdadeira de Brian De Palma. Mais do que Irmãs diabólicas (1972) ou Olá, mamãe! (1970) ou Quem anda cantando nossas mulheres (1968), filmes anteriores do diretor. Essa foi a primeira vez que ele realmente trabalhou com um estúdio, mas ainda não era um grande orçamento. As pessoas gostam de Jack Fark, o incrível diretor de arte, ele realmente trabalhou no mais alto nível de técnica para fazer este filme funcionar. Como Pauline Kael [crítica de cinema norte-americana] disse, cada imagem transborda detalhes e, acho, com grande beleza. Você pode reclamar de algumas das falas, você pode revirar os olhos em algumas das situações, mas no geral acho que essa é uma obra de pura poesia visual. Estética pura, é por isso que eu amo esse filme. E eu diria: se deixe levar pelo espírito do que é oferecido.” Este filme será exibido junto ao curta-metragem O colírio do Corman me deixou doido demais, de Ivan Cardoso. [Assista a apresentação completa na página do BFI: 3xcg.short.gy/FantasmaDoParaiso]

O Homem Elefante

The Elephant Man David Lynch | EUA, Reino Unido | 1980, 124’, DCP (Tamasa) No auditório da Sociedade de Patologia de Londres, um cirurgião brilhante, Frederick Treves (Anthony Hopkins) apresenta aos colegas incrédulos um paciente com as feições terrivelmente deformadas. Seu nome é John Merrick (John Hurt), e ele é conhecido no circo onde se apresenta como O Homem Elefante. David Lynch fez da história de deformação física uma fábula encantada, um filme de horror e uma crônica moral sobre compaixão e respeito. A máscara para proteger-se dos outros, a máscara como prova de coragem. Este filme será exibido junto ao curta-metragem Solon, de Clarissa Campolina.


O massacre da serra elétrica

The Texas Chainsaw Massacre Tobe Hooper | EUA | 1974, 83’, DCP (Park Circus) Disfarces de pele na cara. O filme de Tobe Hooper é uma máquina de energia que se alimenta de ansiedade e da sugestão da ação violenta, um mecanismo de tensão como poucos no Cinema. Vê-lo numa sala de projeção é uma experiência poderosa memorável. Uma família caipira vive isolada no interior do Texas. Sua casa é um açougue para os inocentes. Uma obra de arte radical em imagem, montagem e som. Este filme será exibido junto ao curta-metragem Long Live the New Flesh, de Nicholas Provost.

O segundo rosto

Seconds John Frankenheimer | EUA | 1966, 106’, DCP (Park Circus) Essa joia estranha feita em Hollywood (da mesma safra Paramount Pictures de O bebê de Rosemary, uma sensação de pesadelo semelhante) sobre a inadequação de alguém em relação à vida (nesse caso, homem branco bem-sucedido) tem um título brasileiro feliz. O empresário sem rumo passa por um makeover e transforma-se num artista boêmio, interpretado por Rock Hudson. O homem não troca apenas de “máscara”, mas é uma alteração de percurso total, de identidade. É física e comportamental. Estamos no mesmo campo do cinema fantástico que, 30 anos depois, nos daria A estrada perdida (Lost Highway, 1997), uma revisão muito pessoal via David Lynch deste filme de John Frankenheimer. Este filme será exibido junto ao curta-metragem Eron, o protético morcego, dos Irmãos Carvalho.

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Seguindo todos os protocolos Fábio Leal | Brasil | 2021, 74’, DCP (Vitrine Filmes)

“Olha/ sei que faz três anos que a gente não se vê/ mas/ tu topa transar seguindo TODOS os protocolos?” Entre antidepressivos, videochamadas, lives do Atila Iamarino, garrafas de álcool em gel, memes e óleos essenciais, Francisco tenta resistir a meses de isolamento social em seu apartamento. Em algum lugar entre prevenção e desejo, ele tenta viabilizar um encontro. Fábio Leal entrega aqui uma fábula ao mesmo tempo terna e divertida sobre os efeitos psíquicos, econômicos e sexuais da pandemia.


Máscaras ― Sessão de curtas

Solon

Clarissa Campolina | Brasil | 2016, 16’, DCP (Anavilhana) Uma fábula sobre o surgimento do mundo, apresentavda a partir do encontro de uma paisagem devastada e uma criatura misteriosa. Solon habita o espaço extremamente árido e infértil. Aos poucos, ela se destaca da paisagem, aprende a se movimentar e explorar seu corpo. Verte água por suas extremidades e inicia sua missão de regar e nutrir a terra. A paisagem se altera, e a própria personagem também. Nasce o mundo. Nasce a mulher. Este filme será exibido junto ao longa-metragem O homem elefante, de David Lynch.

Yãmĩyhex: as mulheres-espírito

Sueli Maxakali, Isael Maxakali | Brasil | 2019, 77’, DCP Após passarem alguns meses na Aldeia Verde, as yãmĩyhex (mulheres-espírito) se preparam para partir. Os cineastas Sueli e Isael Maxakali, responsáveis por alguns dos trabalhos mais originais no cinema brasileiro contemporâneo, registram os preparativos e a grande festa para sua despedida. Durante os dias de festa, uma multidão de espíritos atravessa a aldeia, inclusive as Xupapõynãg (lontras-espíritos), com suas máscaras rituais em uma cena de cinema especialmente marcante e divertida. Como lembra o assistente de direção Roberto Romero em entrevista ao 27º Festival de Cinema de Vitória, “Isael já havia feito um curta com a lontras em 2013, chamado Xupapõynãg. Mas, desta vez, talvez pela familiaridade com a câmera e o cinema, as lontras fizeram uma performance como nunca tínhamos visto. Pelo menos, não no cinema.” [Citação de Roberto Romero retirada de: 3xcg.short. gy/MulheresEspirito]

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Longa vida ao cinema cearense

Luiz Pretti, Ricardo Pretti | Brasil | 2008, 11’, DCP (Acervo dos artistas) Na Fortaleza de 2008, Longa vida ao cinema cearense seria um filme para o futuro. Em 2022, cá estamos, juventude em marcha. Um dos mais intrigantes filmes dos Irmãos Pretti e da produtora Alumbramento marca historicamente uma virada de olhar no cinema do Ceará, assim colaborando com um novo panorama do cinema feito no Brasil na década de 2000, e depois.


Máscaras ― Sessão de curtas

trabalhador diário ganha novas camadas de absurdo. O humor tenso desdobra-se, especialmente quando o personagem da imaginação corre solto numa vizinhança de classe média comum.

Resgate Cultural – O Filme

Telephone Colorido | Brasil | 2001, 19’, Mov (Acervo do artista)

Manual do zueiro sem noção

Joacélio Batista | Brasil | 2020, 16’, MP4 (Acervo do artista) A crise estrutural crônica característica do 210 século da era comum, e sua resultante perplexidade política, são as razões pelo abrupto surgimento do zueiro do século XXI.

Menino fantoche

Dockpojken Johannes Nyholm | Suécia | 2008, 27’, QuickTime DVPal (Acervo do artista) Menino fantoche, de Johannes Nyholm, é um retrato dele mesmo como artista e da sua criação, escrito e realizado com um bom humor cético e ácido. Além do filme, a sua outra criação é um boneco de massinha extremamente ansioso e espetacularmente azarado, um ser praticamente vivo que ganha projeção com estatura e traje maiores do que a realidade. A comédia mascarada de documentário (falso) sobre as idiossincrasias do jornalismo cultural e do artista como 22

O ato terrorista como filme e farsa, um ataque filmado aos ícones pernambucanos estabelecidos (Ariano Suassuna em especial). O filme da Telephone Colorido é um dos verdadeiros filmes coletivos, um último sopro da película 16 mm já na era digital. De cara lisa ou mascarada, o resultado é insólito, caótico e livre.

X-MANAS

Clarissa Ribeiro | Brasil | 2017, 18’, MP4 (Acervo da artista) Novo Recife, 2054. Na tela do aplicativo de mensagens, Ban Shee convoca o grupo MISANDRIA E ALEGRIA: “nosso plano está quase no fim, status atual: DESprogramAÇÃO” “piratear e depois viralizar”, responde Cybelle “desterritorializar”, continua Ige “aos korpos livres, liberdade”, diz Pauletx No futurismo cuír e glitch de X-MANAS, as heroínas são as dissidentes sexuais, as bichas bandidas, travestis, sapatonas boladas. Corpos que se propõem a transcender o humano, em direção ao imprevisto, à máquina, ao animal e à implosão

de um cistema (precisamente “cis”) de criação de corpos, identidades e desejos. Clarissa Ribeiro realiza um intercâmbio entre a produtora/coletivo Anarca Filmes (Rio de Janeiro), com artistas e performers pernambucanos, e textos da artista Pêdra Costa e do Coletivo Coiote.


Em cartaz

Madalena

Madiano Marcheti | Brasil | 2021, 85’, DCP (Vitrine Filmes) Luziane, Cristiano e Bianca vivem em uma pequena cidade cercada por plantações de soja no Centro-Oeste do Brasil. A seu modo, cada um deles é confrontado pelo desaparecimento de Madalena. “O filme surgiu do desejo de refletir sobre questões específicas da minha região de origem, que ainda é pouco representada no cinema, e não muito conhecida mesmo dentro do Brasil”, comenta o diretor Madiano Marcheti. “Por mais que eu veja Madalena como um filme sobre vida, sobre resiliência (principalmente quando penso na maneira como muitas travestis e mulheres trans lidam com a experiência do luto) ou sobre modos de resistência, as mortes provocadas pela transfobia infelizmente continuam sendo uma realidade assustadora. Então, ao mesmo tempo que não queria explorar a questão da morte sob um prisma esteticamente apelativo ou por uma narrativa policialesca e 23

violenta, também não me parecia razoável fugir completamente dessa questão. Daí a ideia de ter o filme girando em torno da ausência, do desaparecimento de Madalena.” Primeiro longa-metragem do diretor, Madalena estreou na competição oficial do Festival de Roterdã e, ao longo de 2021, recebeu, entre outros, o prêmio de Melhor Filme do Festival Internacional de Cinema de Istambul, na Turquia, e, no Festival de Cinema de Lima, no Peru, os de Melhor Primeiro Filme e Prêmios Gio (voltado à temática LGBTQIA+) de roteiro e interpretação para a atriz Pamella Yule. Madalena será exibido junto ao curta-metragem Manifesto MONXTRA AFROCYBORG, do coletivo AfroBapho, produzido para o programa IMS Convida. [Íntegra da entrevista de Madiano Marcheti disponível no dossiê de imprensa do filme em: terceiramargemfilmes.com/madalena] Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia)

Medida provisória

Lázaro Ramos | Brasil | 2022, 101’, DCP (Elo Company) Inspirado na peça Namíbia, não! (2011), de Aldri Anunciação, o primeiro longa de ficção de Lázaro Ramos tem início em um momento do futuro em que o governo brasileiro desiste de um projeto que indenizaria pessoas negras de baixa renda pelos danos causados por uma história escravocrata. Em vez disso, as autoridades decidem enviar à força toda a população negra para países do continente africano. Oscilando entre drama, tensão e comédia, a narrativa desenhada por Lázaro, em que o horizonte esperançoso de uma política de reparação é transformado de súbito em um aprofundamento ainda mais radical da discriminação racial emula um futuro que parece ecoar as últimas décadas da nossa história recente. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).


Pequena mamãe

Petite maman Céline Sciamma | França | 2021, 73', DCP (Diamond Films) Nelly acaba de perder sua avó e está ajudando seus pais a limpar a casa de infância de sua mãe. Caminhando pelo bosque, ela conhece uma garota de sua idade que está construindo uma casa na árvore. Assim como a mãe de Nelly, a garota se chama Marion. Partindo da imaginação infantil como recurso de acesso ao fantástico, Céline Sciamma, diretora de Tomboy (2011), Garotas (2014) e Retrato de uma jovem em chamas (2019), consegue que sua personagem Nelly se encontre com o que poderia ser o passado de sua mãe. "Eu ficava pensando: é um filme de viagem no tempo, preciso demarcar isso", contou a diretora ao portal britânico The F. Word. "Mas acabei escrevendo com muita franqueza. Eu abordei a questão da viagem no tempo por meio do diálogo. Eu estava encontrando soluções simples, nada complicado. O elemento mágico era 24

uma oportunidade, mas seu impacto era real. É sobre o impacto." "Quando me dei conta de que não estava pensando no filme como uma ficção científica, foi na verdade porque todos os filmes tratam de viagem no tempo. A edição é sempre uma viagem pelo tempo. Eu sou obcecada com o conceito de tempo. Retrato de uma jovem em chamas foi construído como um longo flashback. O tempo todo você está ciente de que aquilo já aconteceu. Tudo ali é memória. Trabalhar em torno do tempo é, para mim, trabalhar em torno da construção de memórias. Filmes constroem novas memórias. E essa é sobre uma infância comum partilhada entre mãe e filha. Todos os filmes são uma arquitetura do tempo." Pequena mamãe será exibido junto ao curta-metragem Nascente, de Safira Moreira, produzido para o programa IMS Convida. [A íntegra da entrevista pode ser lida, em inglês, em: bit.ly/PequenaMamae] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Sete anos em maio

Affonso Uchôa | Brasil | 2019, 42’, DCP (Embaúba Filmes) Em uma noite de maio, sete anos atrás, Rafael chegava em casa depois do trabalho. Quando abria o portão, alguém chamou seu nome. Ele olhou para o lado e viu pessoas que não conhecia. Saiu da sua casa carregado pelos desconhecidos e nunca mais voltou. Desde então, ele vive como se aquela noite nunca tivesse terminado. Em entrevista ao portal Cine Festivais, o diretor Affonso Uchôa (de Arábia e A vizinhança do tigre) conta que o projeto se alterou ao longo do tempo, conforme se debruçava na questão de como filmar o depoimento de seu protagonista: “Inicialmente, eu tinha a ideia de fazer um documentário meio Maya Deren, em que eu ia cortando, mudando as locações, enquanto ele mantinha o fluxo do relato, sabe? Em 2017, na primeira etapa de filmagem, eu filmei assim. E quando fui pra montagem, vi que era um erro. O dispositivo formal estava atrapalhando a gente a ouvir o Rafael.”


A partir de então, Uchôa sentiu a necessidade de refazer o filme: “A ideia era dar mais liberdade para o espectador poder imaginar as coisas. [...] Ele vai ter que ver de outra maneira, dentro da cabeça dele, e as palavras é que vão conduzir para essa imaginação. [...] Depois que eu entendi qual tinha que ser a duração, a extensão desse relato, falei: ‘Sim, agora é o momento de trabalhar isso como material verbal-cinematográfico’. O que pode ser a palavra no cinema? A palavra no cinema pode ser imagem. Como pode ser imagem?” Exibido em diversos festivais no Brasil e no exterior, Sete anos em maio recebeu, entre outros, o Prêmio Silvestre para Melhor Curta-Metragem, no Indie Lisboa, e o Prêmio de Melhor Filme da Seção “Novos Rumos” do Festival do Rio, ambos em 2019. Sete anos em maio será exibido junto ao média-metragem Vaga carne, de Grace Passô e Ricardo Alves Jr., e ao curta Cavalinho de barro, de Silveraço. Este último foi produzido no contexto das ações do coletivo Coquevídeo para o programa IMS Convida. [Íntegra da entrevista de Uchôa em: bit.ly/acsete] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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Vaga carne

Grace Passô e Ricardo Alves Jr. | Brasil | 2019, 45’, DCP (Embaúba Filmes) Uma voz toma posse do corpo de uma mulher. Juntos, a voz e o corpo procuram por uma identidade própria, enquanto questionam seus papéis dentro da sociedade. Vaga carne é uma transcriação do espetáculo teatral homônimo da atriz e dramaturga Grace Passô. Foi exibido na abertura da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes, na qual Passô foi homenageada. Em entrevista ao podcast Cinefonia, da Rádio Tiradentes, a artista comenta sobre o processo de transposição da obra para o cinema: “Eu diria que um dos maiores esforços que a gente tem que fazer é entender a relação da atuação com a câmera. No lugar do teatro, o espaço se dá entre público e atuação. Já no cinema, somos permeados por máquinas, somos mediados por máquinas. Essa mediação te faz criar uma obra através de máquinas, mas que a gente só opera com nossa extrema sensibilidade, e isso é um dos maiores trabalhos. […] No teatro, é como se você criasse uma festa toda noite. Por exemplo, quando você vai fazer uma festa, você pensa em tudo para que ela aconteça. Uma festa não acontece só numa racionalidade distante e fria. Tem uma relação entre corpos que é muito viva. Eu acho que faço teatro para me lembrar — e consequentemente isso faz com que eu tente que as outras pessoas

se lembrem também — de que eu estou viva. Porque a ideia de ter que presentificar uma situação a cada apresentação é muito metafórica de como a gente tem que viver. [...] No cinema, existe um trabalho de prospecção para alguma coisa do depois. É uma outra relação com a temporalidade que o cinema tem em relação ao teatro. Mas eu te confesso que eu só falo essas coisas em entrevistas porque, normalmente, eu sou muito ligada ao desejo de fazer alguma coisa, sabe? O desafio de pensar o que seria essa peça como filme me excita, eu acho legal, eu acho inventivo, e me obriga a lembrar as coisas básicas que fazem aquilo ser uma peça de teatro, o que faz ser um filme. Esse exercício me mantém mais viva artisticamente falando também.” Vaga carne será exibido junto ao média-metragem Sete anos em maio, de Affonso Uchôa, e ao curta Cavalinho de barro, de Silveraço. Este último foi produzido no contexto das ações do coletivo Coquevídeo para o programa IMS Convida. [Íntegra da entrevista de Grace Passô a partir dos 28 minutos do podcast: bit.ly/gpvaga] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).


Vitalina Varela

Pedro Costa | Portugal | 2019, 124’, DCP (Zeta Filmes) Vitalina Varela, 55 anos, cabo-verdiana, chega a Portugal três dias depois do funeral do marido. Há mais de 25 anos que Vitalina esperava a sua passagem de avião. Pedro Costa conheceu Vitalina e sua história em 2013, quando buscava uma locação para outro filme no bairro de Cova Moura, região metropolitana de Lisboa. Desde então, passou a desenvolver o roteiro a partir de uma série de conversas com a personagem. Vitalina Varela apresenta traços que são característicos das últimas obras do diretor: o trabalho com atores não profissionais imigrantes, equipe de filmagem reduzida, gravações que duraram anos e que valorizam a atuação e a história das personagens. “Todos sabemos que pessoas como Vitalina, Ventura [personagem principal de Juventude em marcha (2006) e Cavalo dinheiro (2014)] ou Vanda são condenadas”, ele conta ao site Cine-File. “Quando o barco sai do porto, no minuto em que 26

o avião decola, eles estão condenados. Desde o dia em que nascem. E talvez eles tenham sido condenados muito antes disso. Simplesmente culpados. Não posso dar muito aos meus amigos cabo-verdianos. Não posso dar-lhes muito dinheiro, não posso dar-lhes um futuro brilhante, não posso dar-lhes esperança. Mas talvez haja muito a ganhar com nosso trabalho no cinema. O cinema pode esclarecer tudo e, de alguma forma, aqueles que foram prejudicados serão vingados. Um doce milagre, de fato.” Este é o primeiro filme de Pedro Costa a ter distribuição comercial no Brasil. Vitalina Varela será exibido junto ao curta-metragem A gente acaba aqui, de Everlane Moraes, produzido para o programa IMS Convida. [Íntegra da entrevista de Pedro Costa em inglês: bit.ly/vvcinefile, trecho traduzido por Eduardo Escorel, na revista piauí: bit.ly/VVPiaui] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).


IMS Convida

Lançado pelo Instituto Moreira Salles em abril de 2020 como resposta aos danos causados na produção das artes pela pandemia, o Programa Convida comissionou mais de 150 projetos de artistas e de coletivos, apresentados no site e nas redes sociais do IMS. Nesta reabertura das salas de Cinema do IMS Rio e IMS Paulista, cada um dos filmes em cartaz será acompanhado por um curta-metragem produzido no âmbito do programa. Seja por aproximação, contraste ou complementariedade, convidamos osfilmes a conversar. E convidamos o público a conversar com eles. Todas as obras produzidas estão disponíveis na página ims.com.br/convida/.

vivos. O tempo todo há uma brincadeira de vida e morte. A criança, as pessoas olhando para o corpo, os diálogos banais ali diante do morto. É um monte de vida ao redor do corpo sem vida.” A gente acaba aqui será exibido junto ao longa-metragem Vitalina Varela, de Pedro Costa, em cartaz no Cinema do IMS. [Íntegra da entrevista: bit.ly/AGenteAcabaAqui]

A gente acaba aqui

Everlane Moraes | 2021, 13’, DCP (Acervo IMS) A presença da morte em meio aos vivos. O reencontro de familiares e amigos ao redor do corpo do tio da realizadora Everlane Moraes. Filmadas em 2011, as imagens do funeral só foram se tornar filme 10 anos depois, em 2021, durante a pandemia. “Por um tempo não fazia sentido produzir um filme com aquelas imagens, porque já não tinha conexão com elas. Achava um pouco sensacionalista, não sabia o que fazer. Mas depois da morte da minha mãe, tudo fez sentido. Voltei àquelas imagens e vi muita gente que agora está morta. Pessoas mortas que ali estavam vivas, olhando para um morto. Aquilo me tocou muito e falei: acho que é o momento”, comenta a diretora em entrevista ao portal Mulher no Cinema.“Tem um pouco de metalinguagem nas questões formais e também uma medida de ocultamento, porque a gente nunca vê o morto. A gente só vê vida no filme, só vê os corpos

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A vida é urgente

Cavalinho de barro

Nessa videoinstalação, Yasmin Thayná faz um monumento à possibilidade de que corpos negros respirem, à revelia de um contexto histórico em que a falta de ar se torna uma ameaça no mundo, mas especialmente à população negra. Seja concretamente pela expansão acelerada da pandemia de covid, seja simbolicamente na imagem reiterada em todos os meios de comunicação do assassinato de George Floyd, nos EUA. “E aqui estamos”, escreve a diretora, “no século XXI, em 2020, elaborando um mundo onde qualquer prática política para o povo negro brasileiro passe por espaços de respiro.”

Conversando e cantando pelo celular, Mestre Assis Calixto, patrimônio vivo de Pernambuco, interage com crianças via internet. Mesmo sem contato físico, imposto pela quarentena, Tio Assis continua sendo uma referência para os mais jovens. Bora brincar de cavalinho de barro?

Yasmin Thayná | Brasil | 2020, 8’, DCP (Acervo IMS)

Silveraço | Brasil | 2020, 7’, DCP (Acervo IMS)

Manifesto MONXTRA AFROCYBORG

Afrobapho | Brasil | 2020, 6’, DCP (Acervo IMS)

A vida é urgente será exibido junto ao longa-metragem Medida provisória, de Lázaro Ramos, em cartaz no Cinema do IMS. [Íntegra do texto de apresentação da diretora em: ims.com.br/convida/yasmin-thayna/]

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O curta foi produzido dentro do programa IMS Convida, em parceria com o coletivo Coquevídeo – Formação e Experimentação Audiovisual, de Pernambuco, que articula e desenvolve diversas ações em prol da consolidação de um campo de produção de arte e comunicação na comunidade do Coque, em Pernambuco. Cavalinho de barro será exibido junto aos médias Vaga carne, de Grace Passô e Ricardo Alves Jr., e Sete anos em maio, de Affonso Uchôa, filmes em cartaz no Cinema do IMS.

“Há um grito entalado na gente e chama por liberdade…” Assim o coletivo Afrobapho inicia seu manifesto audiovisual MONXTRA AFROCYBORG. Nas palavras da integrante Malayka SN, “Monxtração é um processo de criação artística que envolve a construção de personas, personagens ou estados performáticos, através de técnicas em maquiagem, indumentária, body modification e performance. A monxtruosidade enquanto linguagem surge do anseio emergencial em perceber como os atravessamentos que o corpo dissidente, racializado e degenerade sofre, levando em consideração marcadores como raça, classe, sexualidade e direitos básicos, como o direito à vida, no sentido de sua manutenção e trânsito pleno, como garantidos enquanto cidadania básica.”


Daido Moriyama: uma retrospectiva Afrobapho é um coletivo formado por jovens negros LGBTIA+ da periferia de Salvador, Bahia, que utiliza as artes integradas como ferramenta de mobilização e sensibilização social. Manifesto MONXTRA AFROCYBORG será exibido junto ao longa-metragem Madalena, de Madiano Marcheti, em cartaz no Cinema do IMS. [Íntegra do depoimento e obra completa disponível em: bit.ly/AfrobaphoIMS]

Nascente

Safira Moreira | Brasil | 2020, 6’, DCP (Acervo IMS) Realizado dentro do programa IMS Convida, Safira Moreira filma a si mesma, sua casa e as mulheres de sua família. Nascente será exibido junto ao longa-metragem Pequena mamãe, de Céline Sciamma, em cartaz no Cinema do IMS.

O passado é sempre novo, o futuro é sempre nostálgico: fotógrafo Daido Moriyama The Past is Always New, the Future is Always Nostalgic: Photographer Daido Moriyama Gen Iwama | Japão | 2019, 111’, DCP (Free Stone Productions)

Este documentário, parte da programação da exposição Daido Moriyama: uma retrospectiva, acompanha o cotidiano do aclamado fotógrafo japonês em sua busca incessante por imagens nas ruas do Japão, em paralelo à reedição de seu primeiro livro de fotografias, Japão: um teatro de fotos, publicado em 1968 e esgotado há tempos. Aos 83 anos, Moriyama é um dos mais importantes fotógrafos de rua em atividade, notabilizado pelas imagens escuras, granuladas e contrastadas que expressaram de maneira original as angústias do pós-guerra e pelas dezenas de publicações produzidas em 60 anos de carreira. Em atividade até hoje, erigiu um trabalho que é também uma grande investigação sobre a essência da fotografia. Entrada gratuita. Ingressos distribuídos 1 hora antes de cada sessão. Uma senha por pessoa.

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Sessão Mutual Films Cidade vazia: No Bowery e Uma história simples Em meados da década de 1950, dois cineastas cruciais para o novo cinema americano e francês lançaram seus longas de estreia, que se tornaram importantes referências para as gerações seguintes de artistas independentes. Ambos beberam na fonte do neorrealismo ao tecerem personagens que enfrentam lutas diárias em grandes cidades. No Bowery (1956), de Lionel Rogosin, observa calorosamente a vida cotidiana do Bowery, um bairro pobre de Manhattan, com os moradores desempenhando versões de si mesmos para a câmera. Uma história simples (1959), de Marcel Hanoun, recria a história real de busca por trabalho e moradia de uma mãe solteira com sua filha pequena, recém-chegadas a Paris, misturando cenas dramatizadas e narração em primeira pessoa. Os dois filmes passarão no IMS em novas cópias digitais de alta-resolução. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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No Bowery On the Bowery Lionel Rogosin | EUA | 1956, 65’, cópia restaurada em DCP (Milestone Films) Recém-chegado no Bowery, bairro pobre de Manhattan, Ray Salyer, um homem bem-apessoado do sul dos Estados Unidos, se dirige a um bar para tomar uma cerveja. Logo se junta a um grupo de beberrões. O ensurdecedor bar Majestic fervilha com seus frequentadores tresloucados. Gorman Hendricks, um velho morador da região, junta-se ao grupo e se torna uma espécie de interlocutor. Aos poucos, conhecemos a situação de Ray, ex-soldado e trabalhador do sistema ferroviário, que se desloca para o Bowery em busca de trabalhos temporários e de uma saída para a situação limítrofe em que se encontra. Em contraponto, também acompanhamos a jornada diária de Gorman, que sobrevive em resignação no submundo da marginalização social. Primeiro filme de Lionel Rogosin, No Bowery foi um experimento de um jovem cineasta e ex-soldado inconformado com a destruição da

Segunda Guerra Mundial e o subsequente tempo de “bonança” de um país que usou a vitória como ferramenta de propaganda e fortalecimento de um nacionalismo opressor. Rogosin, filho único de uma família de filantropos judeus em Nova York, realizou No Bowery sob a influência de Robert Flaherty e do neorrealismo italiano, ao trabalhar com atores não profissionais e filmar inteiramente em locação. Durante seis meses, ele e o cinegrafista Richard Bagley exploraram os becos, os bares, as igrejas e os dormitórios do Bowery, convivendo e observando os frequentadores locais antes de começarem as filmagens. Gorman morreu antes da estreia do filme (que acabou sendo dedicado a ele), enquanto Ray recusou uma carreira subsequente como ator para continuar a vida no bairro. No Bowery estreou no Festival de Veneza, onde ganhou o prêmio de Melhor Documentário. O filme foi restaurado em 2006 pela Cinemateca de Bolonha dentro de um projeto maior de restauração das obras de Rogosin.


Uma história simples

Une simple histoire Marcel Hanoun | França | 1959, 65’, cópia restaurada em DCP (Re:Voir) “Eu não imaginei, nem inventei nada.” Assim começa o texto de abertura de Uma história simples, o longa de estreia de Marcel Hanoun. O filme, narrado em flashback pela protagonista sem nome, acompanha uma mãe solteira (interpretada por Micheline Bezançon) que se muda de Lille para Paris em busca de uma vida melhor para ela e sua filha pequena, Sylvie (Elizabeth Huart). Assistimos às exaustivas perambulações da mulher à procura de moradia e trabalho e ao angustiante e repetitivo gesto de contar seu dinheiro, cada vez mais escasso. As encenações e a narração se desenvolvem em paralelo, de forma clínica e não sensacionalizada. Hanoun nasceu na Tunísia em 1929, filho de judeus, e se mudou para Paris logo após a Libertação da França, em 1945. Ele trabalhou como jornalista e fotógrafo e dirigiu documentários curtos para a televisão antes de realizar 31

Uma história simples. Leu em um jornal a notícia que inspirou o filme, e trouxe para ele suas próprias experiências de pobreza. Filmou nas ruas da cidade com baixíssimo orçamento, uma pequena equipe e um elenco majoritariamente não profissional. Buscava refletir sobre a condição humana, um objetivo acentuado pelas escolhas musicais de Cimarosa e Vivaldi e pelo estilo particular do filme, que mantém um diálogo constante entre o estado mental da protagonista e o ambiente ao seu redor. Uma história simples ganhou o prêmio Eurovision no Festival de Cannes em 1959 e foi celebrado após seu lançamento por diversos cineastas e críticos, entre eles Noël Burch, Jean-Luc Godard e Jonas Mekas. Em 2019, uma cópia do filme em 16 mm foi escaneada em 2K, em uma colaboração entre a distribuidora RE:VOIR e o INA (Instituto Nacional de Audiovisual, na França), como parte de uma iniciativa mais ampla de digitalizações e lançamentos da obra de Hanoun.


Curadoria de cinema

Os filmes de maio

Kleber Mendonça Filho

O programa do mês tem o apoio da Cinemateca de Bolonha, da Cinemateca Portuguesa, da Cinemateca Alemã, da KL Produtora, do 176 Studio, da Anavilhana, da Free Stone Productions, das distribuidoras CDI Films, Diamond Films, Elo Company, Embaúba, Milestone Films, Park Circus, Praesens, Re:Voir, República Pureza, Tamasa, Vitrine Filmes, Zeta Filmes e do Espaço Itaú de Cinema.

Programadores assistentes Ligia Gabarra e Thiago Gallego Projeção Ana Clara Costa e Lucas Gonçalves de Souza

Legendagem eletrônica Pilha Tradução Revista de Cinema IMS Produção de textos e edição: Thiago Gallego, Ligia Gabarra e Kleber Mendonça Filho

E dedica agradecimentos a Aaron Cutler, Barbara Rangel, Clarissa Ribeiro, Denilson Baniwa, Djonga, Eduardo e Marcos Carvalho, Everlane Moraes, Felipe André Silva, Gabriel Martins, Isael e Sueli Maxakali, Ivan Cardoso, Joacélio Batista, Johannes Nyholm, Luiz e Ricardo Pretti, Mariana Shellard, MC Bin Laden, Nicolas Provost, Roberto Romero, Safira Moreira, Silveraço, Telephone Colorido & Pajé Limpeza, Thiago Ortman, Uýra Sodoma, Walter Lima Jr., Yasmin Thayná e aos coletivos Afrobapho e Coquevideo

Diagramação: Rodrigo Rosm, Marcela Souza Revisão Flávio Cintra do Amaral

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Apoio

Venda de Ingressos Ingressos à venda pelo site ingresso. com e na bilheteria, de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão do mesmo dia, na Praça, no 5º andar. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares. Meia-entrada Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito). Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuva, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito. Confira a classificação indicativa no site do IMS.


No Bowery (On the Bowery), de Lionel Rogosin (EUA | 1956, 65’, DCP) [capa] O massacre da serra elétrica (The Texas Chainsaw Massacre), de Tobe Hooper (EUA | 1974, 83’, DCP)


Medusa, de Anita Rocha da Silveira (Brasil, 2021, 127’, DCP)

Terça a quinta, sessões de cinema até as 20h; domingos e feriados, até as 22h. Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados das 10h às 20h. Fechado às segundas Última admissão: 30 minutos antes do encerramento. Entrada gratuita

Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br

ims.com.br institutomoreirasalles @imoreirasalles @imoreirasalles /imoreirasalles /institutomoreirasalles


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