cinema ago.2022
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Marte Um, de Gabriel Martins (Brasil | 2022, 115’, DCP) [capa] Memoria, de Apichatpong Weerasethakul (Colômbia, Tailândia, França, Alemanha, México, Catar | 2021, 136’, DCP)
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destaques de agosto 2022 Memoria, o mais recente longa-metragem de Apichatpong Weerasethakul, chega aos cinemas do IMS em agosto após ter recebido o Prêmio do Júri em Cannes, na edição de 2021. Nessa incursão do diretor na América Latina, a personagem interpretada por Tilda Swinton tenta lidar com um misterioso som que passa a assombrá-la enquanto viaja pela Colômbia. A Filmes de Plástico, produtora mineira que vem ganhando notoriedade nos últimos anos, lança Marte Um, primeira direção solo em longa-metragem de Gabriel Martins. No filme, uma família negra de classe média baixa lida com os próprios dilemas enquanto o país vive um aumento do conservadorismo. Por ocasião dessa estreia, exibiremos também No coração do mundo, longa anterior do diretor, codirigido com Maurílio Martins. Em uma prática herdada das raízes escravocratas dos Estados Unidos, um pastor-alemão branco é adestrado para atacar brutalmente pessoas negras. Sua nova dona, uma atriz branca em início de carreira, recorre à ajuda de um adestrador afro-americano para reverter o condicionamento e não sacrificar o animal. Esse é o enredo de Cão branco, longa-metragem de Samuel Fuller que passou quase dez anos engavetado por sua distribuidora, receosa das controvérsias que a exibição poderia gerar. Uma cópia DCP do filme será exibida e discutida na Sessão Cinética deste mês. 3
Cão branco (White Dog), de Samuel Fuller (EUA | 1982, 90’)
Memoria, de Apichatpong Weerasethakul (Colômbia, Tailândia, França, Alemanha, México, Catar | 2021, 136’)
Marte Um, de Gabriel Martins (Brasil | 2022, 115’)
terça 2
14:00
Os primeiros soldados (107’)
17:45
Amigo secreto (132’)
16:00
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Gyuri + Ladeira abaixo (95’)
14:00
Os primeiros soldados (107’)
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Memoria (136’)
16:00
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Gyuri + Ladeira abaixo (95’)
Amigo secreto (132’) Memoria (136’)
14:00
Seguindo todos os protocolos (74’)
18:00
No coração do mundo (120’)
15:30
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Memoria (136’)
14:00
Seguindo todos os protocolos (74’)
18:00
Marte Um + O mundo em cima de um avião
15:30
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Memoria (136’) (123’)
quarta
quinta
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Os primeiros soldados (107’)
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Amigo secreto (132’)
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Gyuri + Ladeira abaixo (95’)
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Os primeiros soldados (107’)
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Memoria (136’)
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Gyuri + Ladeira abaixo (95’)
Amigo secreto (132’) Memoria (136’)
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Seguindo todos os protocolos (74’)
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No coração do mundo (120’)
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Memoria (136’)
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Seguindo todos os protocolos (74’)
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Marte Um + O mundo em cima de um avião
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Memoria (136’) (123’)
14:00
Os primeiros soldados 107’)
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Memoria 136’)
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Gyuri + Ladeira abaixo 95’)
Amigo secreto (132’) Memoria 136’)
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Seguindo todos os protocolos 74’)
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No coração do mundo 120’)
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Memoria 136’)
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Seguindo todos os protocolos 74’)
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Marte Um + O mundo em cima de um avião
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Memoria 136’) (123’)
sexta 5
14:00
Os primeiros soldados 107’)
17:45
Memoria (136’)
16:00
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Gyuri + Ladeira abaixo (95’)
Amigo secreto (132’) Memoria (136’)
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Seguindo todos os protocolos (74’)
18:00
No coração do mundo (120’)
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Memoria (136’)
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Seguindo todos os protocolos (74’)
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Marte Um + O mundo em cima de um avião
15:30
Memoria (136’) (123’)
sábado
domingo
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Os primeiros soldados (107’)
17:45
Memoria (136’)
16:00
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15:00 17:45
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14:00 17:00
Gyuri + Ladeira abaixo (95’)
Amigo secreto (132’) Memoria (136’)
Seguindo todos os protocolos (74’)
Sessão Cinética: Cão branco (90’), seguida
de debate com Bernardo Oliveira, Hermano Callou e Juliano Gomes
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14:00
Seguindo todos os protocolos (74’)
18:00
Marte Um + O mundo em cima de um avião
15:30
No coração do mundo (120’) (123’)
14:00
Os primeiros soldados (107’)
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Memoria (136’)
16:00
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Gyuri + Ladeira abaixo (95’)
Amigo secreto (132’) Memoria (136’)
14:00
Seguindo todos os protocolos (74’)
18:00
No coração do mundo (120’)
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Memoria (136’)
14:00
Seguindo todos os protocolos (74’)
18:00
Marte Um + O mundo em cima de um avião
15:30
No coração do mundo (120’) (123’)
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br. 5
Terror branco Por Hermano Callou
Cão branco (White Dog, 1982), Samuel Fuller A trajetória turbulenta de Cão branco para chegar a seu público é uma boa indicação do caráter inquietante da proposta do filme. Durante quase dez anos, a obra-prima de Samuel Fuller manteve o estatuto de filme proibido. Seu lançamento comercial em salas de cinema foi suspenso pela distribuidora, a Paramount, em razão do temor de uma recepção polêmica, alimentado em grande medida por rumores da época de sua produção. As razões para o pânico se encontravam no tema do filme – o racismo – e no inesperado tratamento pulp dado a ele. Em Beverly Hills, uma jovem branca, atriz de cinema, Julie (Kristy McNichol), adota um cão após resgatá-lo de um atropelamento, sem saber que o animal é, na verdade, um cão branco: um cão de ataque treinado pelo seu antigo dono para matar pessoas negras. A prática de adestrar cães para o ataque da população negra surgiu durante a escravidão e, segundo informa um personagem no filme, teria sido herdada 6
pelas forças policias americanas e proprietários privados. O filme narra a tentativa de Julie e do treinador de animais afro-americano Keys (Paul Winfield) de descondicionar o animal para o ataque, impedindo, assim, que seja sacrificado. A produção encontrou grande resistência no meio cinematográfico desde as filmagens. A proposta desagradou o conselho da NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) em Hollywood, que temeu que o filme incentivasse a violência racial. A Paramount decidiu então engavetá-lo por quase dez anos, optando por lançar um corte para canais fechados de televisão, em que teve algumas poucas exibições. Uma breve carreira pela Europa permitiu alguma recepção inicial positiva fora do seu país de origem. A supressão do filme encerrou a carreira de Samuel Fuller nos Estados Unidos, que migraria em seguida para a França, onde realizaria seus últimos trabalhos. Em 1991, Cão branco finalmente teve seu lançamento comercial nas salas de cinema americanas, depois de ter tido a exibição
autorizada por ocasião de uma retrospectiva da obra completa de Fuller. O filme pôde iniciar, a partir de então, uma trajetória de crescente consagração crítica. O que sustenta em grande medida o caráter perturbador de Cão branco é a escolha de tratar seu tema a partir do ponto de vista de um cão. O filme se desenvolve na forma aparente de um filme de horror B, em que o cão cumpre a princípio o papel do monstro. A construção do personagem não poupa os recursos mais baixos oferecidos pelo gênero: o cão foge de seu cativeiro sob uma tempestade de filme de terror, regada a raios de baixo orçamento, mata uma de suas vítimas no interior de uma igreja católica e mostra sempre os seus dentes afiados quando se encontra diante do inimigo, assumindo ares de fera demoníaca. O cão se apresenta no filme como uma certa encarnação do mal radical. O que motiva o cão e seu treinador original é o próprio mal, uma sede de morte que abdicou de toda busca do autointeresse e se apresenta como a pura forma da destruição. O cão, contudo, é um animal
doméstico, e descobrimos sua monstruosidade apenas depois de termos nos afeiçoado primeiro a ele. Cão branco tem plena consciência do caráter ambivalente da imagem do animal, que ele explora com 7
uma precisão desconcertante: o cachorro é ao mesmo tempo uma imagem do terror absoluto e uma imagem da proteção, do afeto e do conforto doméstico. O olhar que ele nos dirige pode nos cativar em
um momento para, no instante seguinte, nos encher de pavor. A cor branca do cão tem um papel fundamental na construção do filme. Em um momento em que o conceito de
“branquitude” ainda não havia se tornado um termo consolidado na crítica cultural, o filme desejava investigar os sentidos que a brancura pode assumir na tela de cinema. O protagonista do filme é um cão de pelagem branca cuja cor parece sempre capturar o olhar da câmera, que é seduzida e assombrada pelo terror de sua presença alva. A brancura do animal sugere no filme tanto uma ideia benévola de pureza, repleta de conotações raciais perturbadoras, que o filme parece ter certo prazer, não por acaso, de macular de sangue e lama, quanto uma ideia de um terror transcendente, que nos traz à memória a brancura da baleia exaltada por Herman Melville em Moby Dick: a cor que “incute mais pânico na alma do que o vermelho que amedronta”, a matiz da “palidez marmórea” dos cadáveres, o terror “nevado” dos fantasmas, a “brancura horripilante” do urso polar, do albatroz, do tubarão-branco. O terror branco do cão, com sua pureza mortífera, pode sempre, de uma hora para outra, retornar à pelagem afável de um animal de companhia, que descansa silencioso no canto 8
da sala de estar. O terror do ódio racial aparece no filme como uma presença invisível no mundo dos brancos, que habita na forma de um cão manso a vida íntima e ordinária do lar. Em uma das primeiras cenas do filme, vemos Julie conversando com seu namorado Roland (Jameson Parker), que tenta convencê-la a não morar sozinha. “Você é uma garota solteira morando sozinha na montanha. Isso é perigoso, srta. Julie”, insiste o namorado de maneira paternalista. “Mas eu gosto de morar sozinha”, responde a garota, que não parece notar que o namorado tenta manipulá-la. “Ouça, se você não quer que eu more com você, pelo menos fique com o cão. Você terá um guarda-costas”, diz por fim. O filme constrói, assim, o laço entre Julie, como a vida vulnerável a ser protegida, e o cão, como figura de proteção, substituto da presença masculina no interior do lar. Em seguida, vemos sua casa sendo invadida na madrugada por um homem (branco), que a imobiliza no chão e tenta estuprá-la, quando é atacado pelo cachorro. O motivo da garota branca que deve a todo custo 9
ser protegida é um topos fundamental da representação da branquitude e das suas paranoias raciais potencialmente violentas no cinema, que podemos encontrar desde filmes como O nascimento de uma nação (1915), de D. W. Griffith. Cão branco revisita o motivo de maneira perturbadora, sugerindo uma cumplicidade silenciosa entre a presença do cão na casa e sua identidade secreta monstruosa. A escolha do ponto de vista do cão permite ainda que o filme se desenvolva na forma de uma investigação moral. O fato de que não reconhecemos animais como agentes morais, capazes de serem responsabilizados por suas ações, e de não nos sentirmos moralmente responsáveis pela vida animal nos mesmos termos que nos sentimos pelos membros da nossa espécie, permite que o animal ocupe para nós uma posição moralmente problemática, que nos força a interrogar a cada cena os pressupostos dos nossos raciocínios morais. Os animais não agem moralmente, e sua dignidade enquanto objeto de nossa ação moral pode ser sempre questionada. Os animais
se encontram em nosso mundo em uma zona aquém e além da moral, fornecendo, portanto, um ponto de vista privilegiado para o filme interrogar os nossos modos de julgar, sentir e agir. No começo do filme, vemos Julie em uma clínica veterinária com o cão ferido, logo após ter sido resgatado do acidente. O diálogo com os veterinários estabelece o caráter problemático da vida em questão e instaura a dúvida sobre os modos apropriados de agir diante do animal. Julie acredita que o cão é uma vida pela qual é responsável, na medida em que atropelou o animal na estrada e, portanto, encontra-se em dívida moral com ele. Os veterinários, por sua vez, insinuam que a garota pretende abandonar o animal na clínica e se surpreendem quando ela se disponibiliza a pagar pelos cuidados médicos, não compreendendo por que ela desejaria salvar o que é apenas um animal desconhecido, cujo nome sequer ela sabe. Uma das veterinárias sugere que Julie entregue o cão em um depósito, indicando, como um fato pouco significante, que o animal será sacrificado
caso o verdadeiro dono não apareça em três dias. A cena instaura, assim, o lugar profundamente perturbador que a vida animal ocupa no filme: uma vida que pode ser abandonada à própria morte sem que isso configure falta moral, mas que a personagem resolve, em um gesto de grandeza, se responsabilizar por ela. O personagem de Keys, o treinador de animais, assume ainda um fardo moral muito mais grave, que é o de se responsabilizar por uma vida animal que deseja a todo momento exterminá-lo. A sua grandeza não disfarça, contudo, a profunda ambiguidade da sua empreitada, que, ao deixar que o cão sobreviva, permite que ele faça, acidentalmente, mais uma vítima. Em uma cena perto do final do filme, Keys, Julie e um terceiro personagem, Carruthers (Burl Ives), comemoram os avanços no processo de cura do cão quando, de repente, a polícia bate na porta. Os três se encontram nesse momento à mesa de jantar saboreando carne de cordeiro. A escolha do prato não parece ser por acaso: o cordeiro é, na cultura judaico-cristã, o animal de sacrifício por 10
excelência, que nos recorda de maneira perturbadora da nossa permissão divina de matar animais. No momento em que usufruem os frutos do direito de matar, os personagens são lembrados, pela chegada da polícia, da ambiguidade moral de seu gesto nobre: o desejo de salvar uma vida que poderia ser abandonada à própria morte também tem suas consequências mortíferas. O grande paradoxo moral do filme é o de que o cão é a encarnação do mal radical e é, ao mesmo tempo, um ser moralmente inimputável: o cão não é responsável pelas suas ações, não podemos reconhecer em seus atos a operação de uma agência moral autônoma, capaz de conhecer e se responsabilizar pelos seus próprios atos. O cão de Samuel Fuller sustenta o paradoxo perturbador de ser um ser inocente do mal radical que ele próprio é capaz. A capacidade do filme de imaginar a existência do mal radical sob o signo da inocência nada apazigua e tudo inquieta. O dilema moral com o qual os personagens precisam o tempo todo lidar é o do desejo de salvar uma vida inocente
da própria maldade que ela encarna, um dilema que se torna cada vez mais difícil para os personagens sustentarem, quando precisam lidar com as consequências abomináveis de não matarem de vez o bicho. O cão é, ao mesmo tempo, o monstro que precisa ser exterminado e a criança que precisa ser protegida. A sua brancura inocente e terrível não está muito distante de certas imagens da branquitude que o filme apresenta, em que violência e inocência revelam uma desconcertante cumplicidade. O filme deseja, contudo, que, no fim, o cão seja salvo do mal que padece, mesmo que suspeite que talvez não haja redenção possível. O desafio de sustentar toda a ambivalência, moral e afetiva, que a figura do cão manifesta, com todas as suas consequências, é o que torna Cão branco uma obra de arte tão perturbadora.
Em cartaz Amigo secreto
Maria Augusta Ramos | Brasil | 2021, 128’, DCP (Vitrine Filmes) Maria Augusta Ramos tem registrado como ninguém os desdobramentos sociais e políticos no Brasil há quase 20 anos, com seus filmes Justiça (2004), Juízo (2007), Futuro junho (2015) e O processo (2018). São relatos urgentes sobre como o país funciona, e em especial abordam anos recentes que viram a sociedade brasileira abandonar aos poucos um sentido democrático. Amigo secreto é a mais nova peça desse panorama histórico. A abordagem é a importância da imprensa na defesa do sistema democrático a partir da utilização já comprovada de law fare (guerra judicial) contra o ex-presidente Lula, ao acompanhar o trabalho de jornalistas do The Intercept Brasil e do El País (que recentemente encerrou suas atividades no país). O filme é revelador hoje e uma cápsula para o futuro. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
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Gyuri
Mariana Lacerda | Brasil | 2020, 88’, DCP (Descoloniza Filmes) Judia, sobrevivente da Segunda Guerra, Claudia Andujar exilou-se no Brasil e dedicou a vida à salvaguarda dos povos Yanomami. “Constato que me sinto à vontade neste mundo Yanomami. Não me sinto mais uma estranha. Este mundo ajuda a me compreender e a aceitar o outro mundo em que me criei. Os dois mundos estão se juntando, num grande abraço. É, para mim, um mundo só”, dizia Andujar em 1975, em um registro publicado tempos depois no catálogo da exposição Claudia Andujar: a luta Yanomami, inaugurada em dezembro de 2018 no Instituto Moreira Salles, em São Paulo. Nas palavras da diretora Mariana Lacerda: “Gyuri é um filme que tenta seguir os passos de Claudia no seu desejo de coexistência de mundos. Um documentário com e para Claudia Andujar, ela que desenhou uma linha geopolítica improvável, que nasce na então pequena e destruída cidade de Nagyvárad em guerra, na Hungria, e alcança
florestas amazônicas vivas, pulsantes. Eis nossa pequena aposta, o cinema enquanto meio e fim, que faz dilatar o tempo das relações, que promove os encontros e as aproximações entre territórios, entre os povos das cidades e aqueles da floresta.” Gyuri será exibido junto com o curta-metragem Ladeira abaixo, de Musa Michelle Mattiuzzi, produzido para o programa IMS Convida. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Marte Um
Gabriel Martins | Brasil | 2022, 115’, DCP (Embaúba Filmes) Os Martins são sonhadores, otimistas e levam a vida às margens de uma grande cidade brasileira depois da decepção da eleição de um presidente de extrema direita. Uma família negra de classe média baixa, eles sentem a tensão da nova realidade. Tércia, a mãe, revê seu mundo depois de um encontro inesperado, que faz com que ela suspeite ter sido amaldiçoada. Seu marido, Wellington, coloca todas as suas esperanças em fazer do filho caçula um jogador de futebol. Deivinho acompanha relutante a ambição do pai, pois sonha em estudar astrofísica e colonizar Marte. Enquanto isso, Eunice, a filha mais velha, se apaixona por uma jovem de espírito livre, e se questiona se não está na hora de sair de casa. Marte Um é a estreia na direção solo de Gabriel Martins em longa-metragem e foi financiado pelo primeiro e, até agora, último edital afirmativo do Brasil, que, em 2016, contemplou 12
três longas-metragens produzidos ou dirigidos por pessoas negras. O filme estreou na edição deste ano do Festival de Sundance, maior evento do cinema independente norte-americano. “Tudo começou com a imagem de um garoto olhando para o céu e segurando uma bola de futebol”, conta o diretor em entrevista ao portal Screen Daily. “Talvez tivesse algo a ver com o Brasil perdendo de 7 a 1 pra Alemanha nas semifinais da Copa do Mundo de 2014, em Belo Horizonte. Esse foi um grande momento, porque também estávamos passando por muitas lutas no cenário político. O Brasil tem sido uma enorme bagunça desde então e antes também, então se trata de futebol, política e sonhos. Eu decidi fazer esse filme sobre o que significa para esse garoto sonhar com algo tão grande, algo tão distante dele.” “Filmamos em novembro, dezembro de 2018, então este filme é um retrato de como eu e, acho, muitas pessoas estavam se sentindo em relação a raça, sonhos, política e decepção com tudo o que estava acontecendo no Brasil. [...] Tudo isso estava na minha mente, mas eu não poderia fazer um filme que fosse uma espécie de plano de vingança contra essa eleição, porque ele foi eleito de forma justa. Sim, houve fake news como houve com Trump, mas as pessoas o elegeram democraticamente. Portanto, não há um problema apenas com Bolsonaro, mas com um país – quão polarizados nos tornamos, como não temos discussões maduras sobre política. Este é um filme sobre diferenças entre gerações também. Como o pai vai se relacionar com a filha? O jovem verá o mundo como seu pai o vê ou encontrará seu próprio caminho?”
Marte Um será exibido junto com o curta-metragem O mundo em cima de um avião, de Adryan Lucas e Rayanna Maria, produzido no contexto das ações do coletivo Coquevídeo para o programa IMS Convida. Por ocasião do lançamento do filme de Gabriel Martins, será exibido também seu longa anterior, No coração do mundo, em codireção com Maurílio Martins. [A íntegra da entrevista, em inglês, está disponível em: bit.ly/imsmarteum] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Memoria
Apichatpong Weerasethakul | Colômbia, Tailândia, França, Alemanha, México, Catar | 2021, 136’, DCP (O2 Play) Jessica, uma orquidófila, visita sua irmã doente em Bogotá. Chegando lá, faz amizade com Agnes, uma arqueóloga francesa responsável pelo acompanhamento do projeto de construção elaborado por um jovem músico. Todos os dias, Jessica é incomodada por um som cada vez mais alto, que a impede de dormir. Um som que ela não sabe de onde vem e que não é simples de descrever. Começa, assim, uma investigação pessoal para saber o que está se passando. Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes em 2021, Memoria é a realização de dois desejos de longa data do diretor Apichatpong Weerasethakul (Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas, 2011): filmar na América do Sul e trabalhar com a atriz Tilda Swinton. Em entrevista à Slant Magazine, ele comenta: “Eu acho que o filme é sobre evocar uma reação imediata, seja a alegria, o estado meditativo ou apenas ser.
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Acredito que ele permite à audiência, e também à sua protagonista, processar sua própria ideia de tempo e também de memória, por meio do áudio e dos sons.” “De certo modo, o filme é como um diário sonoro da Colômbia, porque muitos dos incidentes de fato aconteceram: o alarme de carro no hospital e também a explosão do pneu do ônibus. Eu de fato testemunhei isso, e ainda assim o alarme não soa de forma tão intensa no filme, poucas pessoas notam. Eu sempre carrego esse caderninho para anotar, principalmente, formas de abordar o som.” “O filme inteiro é como um musical. Para mim, o espanhol, eu não dominava muito. Trabalhei nele como música também. Todo o desenho sonoro é uma orquestração de expressões humanas.” [A íntegra da entrevista, em inglês, está disponível em: bit.ly/imsmemoria] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
dinheiro. Fala de subjetividades e de relações humanas em um espaço periférico de uma grande cidade. Marcos, Ana, Selma, Miro, Beto, Rose, dona Sônia e todos os outros personagens são pedaços nossos que se converteram em filme. São aquilo que éramos, somos, queremos ser e poderíamos ter sido. Uma carta de amor ao nosso lugar.” [Citação extraída do material de divulgação do filme]
No coração do mundo
Gabriel Martins, Maurílio Martins | Brasil | 2019, 120’, DCP (Embaúba Filmes) Marcos busca uma saída para sua rotina de bicos e pequenos delitos. Surge uma oportunidade arriscada, mas que pode solucionar todos os seus problemas. Para isso, ele precisa convencer sua namorada, Ana, a se juntar a Selma e executar o plano que pode mudar suas vidas para sempre. O município de Contagem, em Minas Gerais, é cenário frequente na obra dos diretores e da produtora Filmes de Plástico. Sobre esse aspecto, Gabriel Martins e Maurílio Martins declaram: “No coração do mundo parece destinado a acontecer há muito tempo. Ambos crescemos em Contagem, nos mesmos bairros onde filmamos o longa-metragem. Nós nos conhecemos na faculdade e nos aproximamos por essa característica em comum. Isso nos juntou e nos motivou a fazer vários filmes em torno da nossa história de vida e do lugar de onde viemos.” “No coração do mundo é um filme sobre a possibilidade de sonhar, em um mundo movido a 14
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Os primeiros soldados
Rodrigo de Oliveira | Brasil | 2022, 107’, DCP (Olhar Distribuição) Em 1983, o jovem biólogo brasileiro Suzano tenta sobreviver à primeira onda da epidemia de HIV/ aids. O desespero diante da falta de informação e do futuro incerto aproxima Suzano da transexual Rose e do videomaker Humberto, que também vivem com HIV. “Já vimos muitos filmes sobre aids, e 100% deles contam a narrativa europeia e norte-americana da crise”, declara o diretor em entrevista ao portal Papo de Cinema. “Temos uma imagem pronta do que é um filme de aids: ele se passa basicamente em hospitais, com uma rede de apoio heterossexual em torno das vítimas gays. Em casos recentes, de Hollywood, o caso gira em torno do personagem heterossexual, e os personagens LGBTQ ficam à margem. Alguns valores no filme me são muito caros. A gente entende a aids como uma doença que interrompeu muitos sonhos, mas nunca temos acesso a que sonhos são esses. Queria que os três personagens
IMS Convida estivessem num dos dias mais felizes do mundo, no Ano Novo, quando se tem grande crença no futuro, além da fé, da esperança.” “Desde o começo, não queria que tivesse nenhuma cena de transmissão da aids no filme. Essas cenas costumam ser muito culpabilizantes, quando se diz que tal personagem ‘pegou’… Mesmo assim, as transmissões de afeto e de conhecimento são fundamentais para esses personagens. A boate virou o espaço de transmissão de conhecimento, primeiro, pelo Humberto filmando todo mundo, registrando aqueles corpos inéditos no audiovisual da época. Eram os primeiros registros VHS. Na segunda festa, existe a transmissão de conhecimento, quando uma pessoa isolada diz: ‘Comunidade, isso pode acontecer com vocês. Tomem cuidado.’ A rede de afeto se espalha pela irmã, pelo sobrinho. Queria um filme sem nenhum personagem heterossexual, ou que isso não fique evidente [...]. A homofobia está sempre fora do quadro.” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/imssoldados] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Seguindo todos os protocolos
Fábio Leal | Brasil | 2021, 74’, DCP (Vitrine Filmes) “Olha/ sei que faz três anos que a gente não se vê/ mas/ tu topa transar seguindo TODOS os protocolos?” Entre antidepressivos, videochamadas, lives do Atila Iamarino, garrafas de álcool em gel, memes e óleos essenciais, Francisco tenta resistir a meses de isolamento social em seu apartamento. Em algum lugar entre prevenção e desejo, ele tenta viabilizar um encontro. Fábio Leal entrega aqui uma fábula ao mesmo tempo terna e divertida sobre os efeitos psíquicos, econômicos e sexuais da pandemia. Seguindo todos os protocolos será exibido junto com o curta-metragem Trópico de capricórnio, de Juliana Antunes, produzido para o programa IMS Convida. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
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Lançado pelo Instituto Moreira Salles em abril de 2020 como resposta aos danos causados na produção das artes pela pandemia, o Programa Convida comissionou mais de 150 projetos de artistas e de coletivos, apresentados no site e nas redes sociais do IMS. Nesta reabertura das salas de cinema do IMS Rio e IMS Paulista, cada um dos filmes em cartaz será acompanhado por um curta-metragem produzido no âmbito do programa. Seja por aproximação, contraste ou complementaridade, convidamos os filmes a conversar. Todas as obras produzidas estão disponíveis na página ims.com.br/convida.
Sessão Cinética
Ladeira abaixo
O mundo em cima de um avião
Cão branco
Partindo de reflexões sobre os efeitos da pandemia, Mattiuzzi reativa a memória do performar em espaços públicos. Para esse ato, a interlocução espacial é a arquitetura do colonialismo, mais precisamente o monumento modernista de Lina Bo Bardi, um jardim de inverno construído nos anos 1980 na ladeira da Misericórdia, em Salvador, que se tornou um cartão-postal em ruínas. É a expressão do desejo branco pela revitalização das ruínas do centro histórico preto.
A primeira viagem de Adryan num avião: desde que recebeu uma câmera de filmar até a ida para o espaço. Um filme autointitulado “ficcionalizinho”, realizado por Adryan Lucas, de 10 anos, com a colaboração de sua amiga Emily e pequenas aparições de sua mãe, da avó e do avô.
Julie, uma jovem atriz branca de Hollywood, adota um pastor-alemão após resgatá-lo de um atropelamento. O que ela não sabe é que seu pet havia passado por um treinamento racista para atacar pessoas negras. Ela então procura um adestrador que possa reeducar o animal. Cão branco será exibido na Sessão Cinética, em parceria com a revista de mesmo nome, que acontece a cada dois meses nos Cinemas do IMS, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A exibição do dia 20 de agosto será seguida de debate com Hermano Callou, Juliano Gomes e Bernardo Oliveira, crítico da Cinética.
Musa Michelle Mattiuzzi | Brasil | 2020, 7’, DCP (Acervo IMS)
Ladeira abaixo será exibido junto ao longa-metragem Gyuri, dirigido por Mariana Lacerda, em cartaz no Cinema do IMS.
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Adryan Lucas e Rayanna Maria | Brasil | 2020, 8’, DCP (acervo IMS)
O mundo em cima de um avião será exibido junto ao longa-metragem Marte Um, dirigido por Gabriel Martins, em cartaz no Cinema do IMS.
White Dog Samuel Fuller | EUA | 1982, 90’, DCP (Park Circus)
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
coleção DVD | IMS
Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras. Grey Gardens Albert Maysles, David Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer | EUA | 1975, 94’ As Beales de Grey Gardens. Albert Maysles e David Maysles | EUA | 2006, 91’)
Em 1973, um escândalo tomou as manchetes dos jornais americanos. Alegando falta de condições sanitárias, as autoridades de East Hampton, um balneário de luxo a 160 quilômetros de Nova York, tentaram expulsar as duas moradoras de uma mansão à beira-mar. Elas viviam isoladas ali, em Grey Gardens, há mais de 20 anos, entre guaxinins, sujeira e mato. Notícia banal, não fossem elas Edith Bouvier Beale e sua filha de 56 anos, Edie, respectivamente, tia e prima de Jacqueline Kennedy Onassis. Dois anos depois, Big Edie e Little Edie abrirão as portas de Grey Gardens a Albert Maysles e David Maysles. Eles registrarão a personalidade e os conflitos de mãe e filha, mulheres inteligentes e excêntricas. Esta edição em DVD duplo inclui ainda As Beales de Grey Gardens, em que, passadas três décadas do lançamento de seu filme, os irmãos Maysles revisitam e apresentam parte das sobras de montagem. Extras: - Faixa comentada por Albert Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer e Susan Froemke - Entrevista de Albert Maysles a João Moreira Salles (2006) - Livreto com depoimentos de Albert Maysles, Susan Froemke e Ellen Hovde
O futebol, de Sergio Oksman O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán Photo: Os grandes movimentos fotográficos Homem comum, de Carlos Nader Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman Os dias com ele, de Maria Clara Escobar A tristeza e a piedade, de Marcel Ophüls Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual La Luna, de Bernardo Bertolucci Cerimônia de casamento, de Robert Altman Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho
Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos O emprego, de Ermanno Olmi Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Cerimônia secreta, de Joseph Losey As praias de Agnès, de Agnès Varda A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov Elena, de Petra Costa A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper Seis lições de desenho com William Kentridge Sudoeste, de Eduardo Nunes Shoah, de Claude Lanzmann Memórias do subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade
Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja online do IMS: bit.ly/imsdvd. 17
Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho
Programadora de cinema Marcia Vaz
Programador adjunto de cinema Thiago Gallego Projeção Adriano Brito e Edmar Santos Legendagem eletrônica Pilha Tradução Revista de Cinema IMS
Produção de textos e edição Thiago Gallego e Marcia Vaz Diagramação Marcela Souza e Taiane Brito Revisão Flávio Cintra do Amaral
Os filmes de agosto
O programa do mês tem o apoio da revista Cinética e das distribuidoras Descoloniza Filmes, Embaúba, Olhar Distribuição, O2 Play, Park Circus e Vitrine Filmes. Agradecemos a Gabriel Martins, Musa Michelle Mattiuzzi, Luís Fernando Moura, Bernardo Oliveira, Adryan Lucas, Rayanna Maria e ao coletivo Coquevídeo.
Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, pessoas que vivem com HIV e aposentados por invalidez. Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Venda de ingressos
Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares). Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br. Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com. br e facebook.com/cinemaims. As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea.
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No coração do mundo, de Gabriel Martins, Maurílio Martins (Brasil | 2019, 120’, DCP)
Terça a quinta,
domingos e feriados sessões de cinema até as 20h;
sextas e sábados, até as 22h.
Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e
Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados das 10h às 20h.
Fechado às segundas
Última admissão: 30 minutos
Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br
ims.com.br
/institutomoreirasalles @imoreirasalles Cão branco (White Dog), de Samuel Fuller (EUA | 1982, 90’, DCP) 20
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