cinema nov.2022
Nossa voz de terra, memória e futuro (Nuestra voz de tierra, memoria y futuro), de Marta Rodríguez e Jorge Silva (Colômbia | 1981, 110’, DCP)
destaques de novembro 2022 A estreia da cópia restaurada em DCP 4K de Lúcio Flávio, o passageiro da agonia é o ponto de partida para uma revisão de diferentes momentos da obra de Hector Babenco. A programação Babenco em cartaz inclui os três primeiros filmes de ficção do diretor em cópias restauradas e exibições de Brincando nos campos do Senhor em cópia 35 mm. No Mês da Consciência Negra, o Cinema do IMS enfoca a agência de pessoas negras acerca de seus corpos, afetos, amores e sonhos. Na estreia brasileira de duas cópias restauradas da diretora americana Ayoka Chenzira, Alma e Rainbow conta a história de três mulheres que buscam seus caminhos no Brooklyn dos anos 1990, e Sylvilla: eles dançam seus batuques retrata a pioneira artista da dança Sylvilla Fort. Somam-se a essa programação olhares originais para grandes nomes da música negra: a cantora Calypso Rose, de Trinidad e Tobago, o nigeriano Fela Kuti e o americano Miles Davis. Na Sessão Mutual Films: Nossa voz de terra, memória e futuro, de Marta Rodríguez e Jorge Silva, conta com a colaboração do povo indígena Coconuco, cooperativas locais e artistas colombianos para abordar a luta e a cosmovisão de um povo em busca da retomada de suas terras ancestrais. Já em Família nuclear, o casal Erin e Travis Wilkerson parte com seus filhos e seu cachorro em viagem pelos silos de mísseis erguidos sobre territórios que carregam a memória do massacre e da resistência dos povos nativos americanos. Ainda, entre os lançamentos do mês: a resistência da igreja católica em casar uma mulher trans e um homem cis no agreste pernambucano; o reencontro de duas amigas separadas por um oceano de distância; e uma sequência de jantares deliciosos, porém fatais. [imagem da capa] Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, de Hector Babenco (Brasil | 1977, 121’, DCP) 1
Sylvilla: eles dançam seus batuques (Sylvilla: They Dance to Her Drum), de Ayoka Chenzira (EUA | 1979, 25’, cópia digital | França, Trinidad e Tobago | 2011, 85’, DCP)
Família nuclear (Nuclear Family), de Erin Wilkerson e Travis Wilkerson (EUA, Singapura | 2021, 96’, DCP)
Kevin, de Joana Oliveira (Brasil | 2021, 81’, DCP)
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Marte Um (115’) Peter Von Kant (86’) Marte Um (115’)
Peter Von Kant (86’) O clube dos anjos (102’) Kevin (81’)
O clube dos anjos (102’) Kevin (81’) Paloma (104’)
Kevin (81’) Paloma (104’) O rei da noite (98’)
Kevin (81’) Paloma (104’) Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (121’)
quarta
quinta
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Marte Um (115’) Peter Von Kant (86’) Marte Um (115’)
Peter Von Kant (86’) Kevin (81’) O clube dos anjos (102’)
O clube dos anjos (102’) Kevin (81’) Paloma (104’)
Kevin (81’) Paloma (104’) Meu amigo hindu (115’)
Kevin (81’) Paloma (104’) Pixote, a lei do mais fraco (128’)
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Peter Von Kant (86’) O clube dos anjos (102’) Kevin (81’)
O clube dos anjos (102’) Kevin (81’) Paloma (104’)
O clube dos anjos (102’) Kevin (81’) Paloma (104’)
Neste dia não haverá sessões de cinema
sexta 4
14:00 16:00 18:00
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Peter Von Kant (86’) Kevin (81’) O clube dos anjos (102’)
O clube dos anjos (102’) Kevin (81’) Paloma (104’)
O clube dos anjos (102’) Kevin (81’) Paloma (104’)
Neste dia não haverá sessões de cinema
sábado
domingo
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14:00 16:00 18:00
Peter Von Kant (86’) Meu amigo Fela (92’) Kevin (81’)
O clube dos anjos (102’) Calypso Rose (85’) Sessão Mutual Films: Família nuclear (96’) apresentada por Mariana Shellard e Aaron Cutler
Paloma (104’) Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (121’) seguido de debate com Ana Maria Magalhães e Myra Babenco
Paloma (104’) O rei da noite (98’) Alma e Rainbow + Sylvilla: eles dançam seus batuques (111’)
14:00 16:00 18:00
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14:00 15:30 17:00
Peter Von Kant (86’) Kevin (81’) O clube dos anjos (102’)
Marte Um (115’) Sessão Mutual Films: Nossa voz de terra, memória e futuro (110’) seguida e debate com Fabián Núñez, Aaron Cutler e Mariana Shellard
Kevin (81’) Miles Davis, inventor do cool (115’) Pixote, a lei do mais fraco (128’)
Kevin (81’) Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou (75’) Brincando nos campos do Senhor (186’)
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br. 3
Oriki Adurá, Mês da Consciência Negra IMS Viviana Santiago, coordenadora de Inclusão e Diversidade do IMS
Com o novembro negro, os movimentos negros brasileiros põem a história em seu devido lugar ao denunciar o intencional processo de subordinação e invisibilização que as práticas coloniais estabeleceram quando ensinaram e ensinam a história a partir do estereótipo de um povo negro passivo e derrotado. Em novembro, os leões contam a história da caçada e rugem a história de um povo altivo, ancestral que atuou, atua e não apenas reage. Beatriz Nascimento nos alertou para o fato de que um dos maiores impactos de uma historiografia europeia – que apresenta um continente africano como o locus do bizarro e do isolamento cuja história só foi despertada com a chegada dos europeus – é a maneira como essa informação marca a ruptura da identidade das pessoas negras com seu passado africano e com a trajetória nas diásporas. Dessa forma, o IMS assume uma atitude de desobediência epistemológica e decide se conectar à produção cultural e de resistência dos movimentos negros brasileiros que denuncia, 4
anuncia e celebra a presença negra no Brasil. Respondendo ao convite de Beatriz Nascimento em Orí, apresentamos uma programação que torna visível, ecoando assim sua reflexão que articula a importância de trazer a negritude para uma conexão pelo perceber e perceber-se, porque o rosto de um é o reflexo de todos os corpos. Em novembro, o IMS se faz espelho: reflete as produções negras que trazem essa história carregada de tintas, personagens, resistências, caras, corpos e vidas pretas que trazem em seu bojo a intenção de incidir para que a população negra brasileira e da diáspora possa se reconhecer e se reafirmar em sua humanidade. Nesse giro decolonial, é a população negra brasileira quem aparece aqui produzindo suas próprias imagens e narrativas, enfrentando os processos de apagamento e de construção de estereótipos que produzem epistemicídio e morte física. A programação de novembro do IMS Paulista é um convite para o exercício de uma vivência de uma criatividade
decolonial, aquilombadora, que renuncia a esse movimento de encobrimento dos povos negros e indígenas como são e que provoca para a vivência do antissublime decolonial numa geocorpopolítica outra. A programação de Novembro e Consciência Negra evoca a consciência das lutas por liberdade, por terra e pela ampliação de direitos que começaram em Palmares. No Novembro Negro, repercutimos a resistência negra que combina a luta contra o racismo com a luta por liberdade e por democracia para avançar na construção de uma sociedade justa e igualitária. Inspiradas, inspirades e inspirados por Beatriz Nascimento, em nossa programação saudamos Lima Barreto, recebemos Memórias Pretas em Movimento e o Festival Nicho Novembro, celebramos Höröyá Yaakaar – Brasil Senegal e a resistência das diásporas negras em sua atualização, construímos um tempo-espaço afrocentrado a partir da programação em parceria com a Feira Preta e, testemunhando a aliança de
parentesco entre povos negros e indígenas, contamos com a abertura da exposição Xingu: contatos. O Novembro Negro é um Ajeum. Reconhecemos e louvamos a resistência e reexistência nesse caminho, pedimos pela caminhada. Ibá Peabiru. Oriki Adurá.
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O Novembro Negro e o 2022 Márcia Vaz
No mês em que as populações negras no Brasil colocam seus punhos em riste em sinal de luta e resistência pelo Mês da Consciência Negra, a programação de cinema negro do IMS joga luz à agência de pessoas negras acerca de seus corpos, de seus afetos, de seus amores, de seus sonhos, de sua dança e de sua música, portanto, celebramos nossas existências. A partir do olhar delicado de Ayoka Chenzira, somos apresentados a uma certa década de 1990 quase nada explorada no imaginário coletivo brasileiro sobre a cultura americana. Sob a forte marca estética colorida do hip hop noventista, testemunhamos o evoluir da história de três mulheres negras tendo agência de seus corpos e suas vidas, na estreia brasileira do recém-restaurado Alma e Rainbow. Ainda, da mesma diretora, apresentamos Sylvilla: eles dançam seus batuques, um sensível documento acerca de uma das pioneiras dançarinas negras a ensinar e ter um estúdio de dança. Das poucas cuja performance moderna se desenvolveu sob a influência das culturas africanas, caribenhas e latino-americanas. 6
Tendo como sul a celebração da criação e da existência de nossas culturas pretas, não podíamos deixar de revisitar três grandes ícones da música universal em documentários históricos das apoteóticas
vidas de Calypso Rose, da franco-camaronesa Pascalle Obolo; Meu amigo Fela, do brasileiro Joel Zito Araújo; e Miles Davis, inventor do cool, do americano Stanley Nelson.
Babenco em cartaz Kleber Mendonça Filho
Os três filmes iniciais da obra de ficção de Hector Babenco – O rei da noite (1975), Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (1977) e Pixote, a lei do mais fraco (1980), foram resgatados dos arquivos e restaurados nos últimos quatro anos. A obra de Babenco parecia estar numa estante segura, porém alta, do Cinema autoral brasileiro. Seus filmes aguardavam atualização técnica. Redescobri-los via trabalho de Myra Babenco, filha do roteirista, produtor e cineasta, permite reconstruir um panorama histórico dessas obras no Cinema Brasileiro. É o melhor fruto possível da restauração de filmes de qualquer acervo. Babenco, argentino radicado no Brasil, estabeleceu comunicação notável com o grande público, o prestígio de premiações e o respeito da crítica. Os filmes sedimentaram a segunda parte de uma carreira, que continuou a impressionar, também no exterior. Essa temporada de obras de Hector Babenco no Cinema do Instituto Moreira Salles (com início em setembro na sala da Avenida Paulista e chega agora ao 7
IMS Rio) – via projeto Memória de Hector Babenco da HB Filmes – apresenta em primeira mão no Brasil a restauração em 4K de Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, um grande filme brasileiro. Depois da estreia no IMS Paulista, a cópia foi vista pela primeira vez no exterior em outubro, no prestigioso Festival Lumière, em Lyon, França. Os retratos do Brasil filmados por Babenco nas últimas quatro décadas mostram que o país continua com as mesmas áreas inflamadas, e agora com sinais de retrocesso. Em O rei da noite, a masculinidade podre na alta sociedade sudestina atravessa o século 20 fazendo estragos. É uma crônica afiada com o corte de São Paulo. Revisto em 2022, o filme é tão duro na sua lógica humana e social quanto bem encenado por Babenco, Lauro Escorel, Paulo José, Marília Pera, de fato, por todo o elenco. A violência institucionalizada mediada pela relação que o país tem com o seu próprio racismo empurram Lúcio Flávio sempre para a frente como um bólido. O filme levou milhões de brasileiros às
salas em 1978-1979. Teve enorme impacto na cultura, virou assunto, foi discutido, foi censurado. Na época, Babenco relatou livremente em entrevistas que “a única intervenção final da censura foi o corte de alguns segundos de nudez frontal de Reginaldo Faria […]. E por determinação daquele departamento, o filme recebeu um letreiro suplementar, informando – ilusoriamente – que os elementos ligados ao caso Lúcio Flávio foram expulsos da polícia e punidos criminalmente.” Eu achei que essa ordem dada pela censura não deveria estar no filme restaurado, mas entendo a decisão de deixá-la. Foi assim que o Brasil viu o filme na época. Lúcio Flávio, o passageiro da agonia transcorre na tela como se duas ou três páginas policiais de jornal fossem dramatizadas em sequências rápidas (o texto é adaptado do livro de mesmo título de José Louzeiro). É um relato assombrado por fantasmas da vida brasileira, a morte e a tortura como armas de Estado. Acima de tudo, Lúcio Flávio, o passageiro da agonia é um thriller nosso, sujo e malvado.
O abandono dos vulneráveis que o Brasil brutaliza é o coração de Pixote, que foi restaurado em 2018 pela Fundação George Lucas e Film Foundation, via Martin Scorsese. É o filme assinatura de Babenco. A história de um garoto e da sua aparente transformação em algo mais bruto nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro. A grande beleza do filme é ver que a metamorfose não chega a acontecer, e Pixote (Fernando Ramos da Silva) segue ainda um tanto doce andando nos trilhos, uma criança áspera, mas ainda uma criança… A trajetória de vida e de morte de Fernando também fala muito do país e faz até hoje uma sombra grande no filme, completando-o. Nas últimas décadas, os “títulos de catálogo” do Cinema brasileiro ficaram de fora da cultura do olhar, do (re)descobrir dentro da nossa própria indústria do audiovisual. Com a troca de tecnologia nos últimos 10 ou 12 anos, as cópias envelhecidas em 35 mm pararam de circular totalmente, e nosso acervo – com algumas exceções raras como Joaquim Pedro de Andrade, Nelson Pereira dos Santos e 8
alguns Glauber – ficou fora da nova tecnologia de restauração e difusão digital. Revendo O rei da noite, Lúcio Flávio e Pixote, totalmente restaurados, percebi que as pessoas haviam perdido o contato com eles. Lúcio Flávio e Pixote, juntos, levaram cerca de dez milhões de espectadores aos cinemas. Talvez seja a competição agressiva do produto estrangeiro (Hollywood, europeus), que não só investe no lançamento dos seus filmes em sala, mas também na manutenção dos títulos. São filmes tratados como produtos, mas cultivados como lembranças. Guardar um filme como quem guarda um livro, ou um arquivo digital, que seja… O Brasil falha ao não cultivar nossos filmes como lembranças. No último mês de maio, observou-se uma celebração no cenário de cinema brasileiro em torno da projeção no Festival de Cannes – na seleção Cannes Classics – de Deus e o Diabo na terra do Sol, de Glauber Rocha. Talvez exista hoje um desejo crescente de valorização do álbum da família disfuncional que o Cinema Brasileiro é, uma percepção
mais afiada em torno da preservação dos nossos acervos. Essa observação pode ser um tanto otimista demais. De toda maneira, é do fundo do poço de onde estamos vindo, um período marcado por dois incêndios – um no Museu Nacional e outro na Cinemateca Brasileira (unidade da Vila Leopoldina) –, incidentes que simbolizam o apagão estético e moral observado no país desde 2016. Avanços exponenciais em tecnologia de imagem e som são notáveis e cada vez mais acessíveis para a revisão de títulos de acervo. Há também a multiplicação de canais de distribuição via projeções especiais em salas de cinema bem equipadas, festivais, mostras e a exploração comercial em múltiplas mídias e plataformas de streaming, que nos permitem aguardar um novo cenário, melhor e mais otimista. Para tal, no entanto, é preciso que a memória do Cinema Brasileiro faça parte de um projeto sério de governo e Cultura, como em tantos países. E que os grandes autores e autoras do nosso Cinema sejam revistos e valorizados, mas também que
uma revisão ampla, diversa e investigativa da produção nacional seja restaurada e disponibilizada de maneira atraente e inclusiva. Que nossos filmes sejam (re)descobertos e apresentados nas suas melhores versões, como as lembranças que são. Além da trinca inicial de obras geradas por Babenco, o Cinema do IMS apresenta também revisões de Brincando nos campos do Senhor (At Play in the Fields of the Lord, 1990, projetado em cópia 35 mm da época do lançamento), com produção de Saul Zaentz (Um estranho no ninho, Amadeus), já no período internacional de Babenco. Seu último filme – Meu amigo hindu (2015, projeção em DCP) – e o filme-ensaio Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou (2019, DCP), da realizadora e atriz Bárbara Paz, também serão apresentados. O cineasta faleceu em 2016, aos 70 anos, e esta temporada celebra em imagem e som as suas conquistas. Cena de O rei da noite
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Cartaz da 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
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Pessoas são arquivos1 Dodô Azevedo
Pessoas são arquivos. Especialmente em culturas que tiveram a sorte de não terem sido, no milênio passado, invadidas, esvaziadas e violentadas pela colonização europeia. Nessas culturas afortunadas, prevaleceu a tradição oral. A distribuição e troca de conhecimento se deram de maneira radicalmente democrática. Culturas em que tudo é audiovisual. Tudo é Cinema. Lúcio Flávio, filme brasileiro de 1978, dirigido por Hector Babenco e agora restaurado em 4k, é um filme sobre a caça a pessoas arquivo. Personagens marginalizados que precisam ter sua voz calada para que possa prevalecer a cultura, o modo de vida que o colono trouxe para nossa terra. A própria lógica de funcionamento da vida na colônia caça o tempo todo filmes brasileiros. Pois são eles também arquivos vivos, cheios de coisas fundamentais a serem ditas. Quando uma cinemateca 1. Texto originalmente publicado em setembro de 2022. 11
pega fogo, é tão queima de arquivo quanto a polícia subir o morro para matar pobres. Nesse sentido, todo o cinema brasileiro é, no fundo, pobre, marginal... e perigoso. Lúcio Flávio, o personagem real, era em sua época o mais famoso líder de quadrilha de assaltos a bancos, em plena ditadura militar, quando militantes saíam às ruas à noite para pixar muros com frases do tipo “Fora FMI” ou “Os bancos são os verdadeiros assaltantes do Brasil”. Loiro do tipo galã, imediatamente se tornou produto rentável para a mídia na época. Somado-se ao fato de o sujeito colecionar um incontável número de fugas de presídios e cadeias dos quais nenhum preto conseguia fugir, era renda líquida certa para os jornais, já em busca de cliques e likes desde aquela época. Nada contra produtos. Babenco também fez do seu Lúcio Flávio um maravilhoso produto. Reginaldo Faria, olhos azuis, quase o tempo todo sem camisa, dispõe corpo e alma de forma visceral, sumindo esplendidamente no personagem, tornando-se o Robin Hood que os críticos à ditadura militar precisavam
para falar com o público dito geral, que fez filas nos cinemas de rua e transformou o filme em um dos recordistas de bilheteria de nossa história. A história sombria como um filme de terror, sufocante como um saco amarrado na cabeça, é inteligentemente toda contada de modo solar, palatável, com resultados estéticos quase próximos a O demônio das onze horas (Pierrot le fou, 1968), de Jean-Luc Godard. Se um policial sobe um morro para torturar em um bar, em plena luz do dia, o personagem de Grande Otelo, a cena é antes de tudo brejeira. Otelo e Milton Gonçalves são os atores negros do elenco. Cada um de um lado da história. Otelo é o guia espiritual do candomblé de Lúcio Flávio, enquanto Milton é o policial corrupto que o quer caçar. Apenas neste século a filmografia brasileira passou a representar personagens negros de forma não caricata. Os artistas que até este século tiveram acesso aos meios de produção são pessoas que não sabem corretamente a definição de, por exemplo, Exu. Não tiveram acesso a
estes saberes ou, quando tiveram, não souberam entender para além da visão Pierre Verger da cultura afro-diaspórica. Mas, no Lúcio Flávio de Babenco, temos dois pontos positivos em relação a tão importante assunto (posto que brasileiros pretos são arquivos que ninguém quer de fato acessar). O primeiro ponto é a colocação do personagem de Milton Gonçalves como um policial de classe média (ainda que baixa). Terno cinza, sempre cumprindo ordens, é importantíssima a cena em que seu personagem, ameaçado de morte por Lúcio Flávio em um banheiro de bar, afirma ter mulher e filhos. É tudo o que Lúcio Flávio não tem. Há um rápido e sutil jogo de inversão de poderes ali: Lúcio percebe na hora o valor da vida daquele sujeito. Milton Gonçalves nos dá uma especial verdade na intepretação de algo tão rápido e aparentemente pequenino no filme. Um grande ator. Uma grande pessoa. Grande arquivo. O segundo ponto é Grande Otelo. Uma vez o ator me fez passar um dia de cama, deprimido, com o peso do mundo sobre mim. Foi quando, em uma entrevista, já 12
bem próximo da morte, ele revelou que nunca havia interpretado um texto escrito por um negro ou uma negra. Otelo morreu semanas depois. Peço licença para repetir. Grande Otelo, um dos maiores brasileiros que já viveram, um dos maiores atores que já vimos em todo o mundo, que viveu e morreu sem nunca interpretar um texto, uma linha sequer, escrito por roteirista preta ou preto. Sou um roteirista preto. E, segundo as tradições de nosso povo, Grande Otelo vive em mim. Segue o texto. No filme, o personagem de Otelo é uma mistura de pai e oráculo de Lúcio Flávio. A cena em que contracenam falando sobre futuro e o poder dos orixás e guias no destino do herói, em um barraco limpo (parabéns aos envolvidos) no alto do morro é maravilhosamente antigrega, uma vez que na Grécia há uma imposição de destinos, enquanto nas filosofias africanas sagrado é seguir acasos e fluxos. Foi na rota comercial do Mediterrâneo, que liga o país de Platão ao norte da África, que se roubou, sem copyright, toda a cosmogonia da região. Iansã tornou-se
Afrodite, Oxóssi tornou-se Apolo, Oxalá tornou-se Zeus etc. Todos os mais de um milhão de espectadores que foram ao cinema assistir ao filme já sabiam o destino de Lúcio Flávio. Mas aí é que entra mais um dos grandes e raros atributos da obra. O filme de Babenco é cinema de gênero. Especialmente de um gênero que nossa filmografia não explora em toda sua polifonia: o filme da ação. Hoje, temos uma fórmula ainda mais engessada do que a do cinema estadunidense. Lúcio Flávio de Babenco dá uma aula de como fazer um filme de gênero sem parecer um clone. Lúcio Flávio, o personagem e a pessoa real, era, na época, o maior dos arquivos vivos. O segredo de suas incontáveis fugas de presídios, bem como o sucesso em assaltar bancos curiosamente pouco policiados, devia-se ao fato de que tudo era antes combinado com a polícia. Ele se arriscava, fazia o serviço, ficava alguns meses preso para despistar, dividia o dinheiro com a polícia, mas ficava sempre com sobras. Enquanto a polícia enriquecia.
Em determinado momento, o movimento de corrupção da polícia carioca chega até esferas mais altas, que resolvem criar pequenas milícias, chamadas de Esquadrão da Morte, que, na prática, assassinava negros e pobres nas periferias da cidade. 13
Lúcio Flávio é sobre isso. Um sujeito que viu a cultura da milícia nascer e resolveu contar tudo o que sabia, enquanto ainda era arquivo vivo. O que contou ao escritor José Louzeiro tornou-se o filme de Babenco, que comunicou ao Brasil inteiro o ovo que ali a serpente botava.
Babenco e equipe, todos arquivos vivos, passaram a ser imediatamente ameaçados pelos esquadrões da morte, homens brancos, bem-vestidos, de terno e anéis maçônicos. Hoje, às vésperas das eleições, somos todos Hector Babenco e equipe.
Figura e máscara: Nossa voz de terra, memória e futuro + Família nuclear Aaron Cutler e Mariana Shellard
O efeito produzido pela máscara é principalmente um efeito voltado para o exterior. Ela cria uma figura. A máscara é intocável e interpõe uma distância entre si própria e o observador. Ela pode – numa dança, talvez – chegar mais perto deste último. Mas ele, por si só, tem de permanecer onde está. A rigidez da forma transforma-se numa rigidez de distância também: o fato de ela não se modificar é o que lhe confere seu caráter proibitivo. E isso porque, logo atrás da máscara, começa o segredo. Trecho do livro Massa e poder (1960), de Elias Canetti1
Entre 1978 e 1981, o casal de cineastas Marta Rodríguez e Jorge Silva trabalhou em um filme que se tornou uma obra crucial do cinema colombiano. No documentário de longa-metragem Nossa voz de terra, memória e futuro (Nuestra voz de tierra, memoria y futuro, 1981), eles investigaram 1. Tradução de Sergio Tellaroli, publicada no Brasil pela Companhia das Letras em 1995 e Companhia de Bolso em 2019 (p. 473). 14
a história de opressão e luta indígena na região de Cauca, no sudoeste da Colômbia, a partir de depoimentos, casos e histórias que foram tanto encenados para o filme quanto documentados, criando uma voz coletiva e heterogênea da cultura local e das pessoas com as quais conviveram. Os próprios relatos dos indígenas inspiraram a criação de episódios com figuras teatralmente grotescas, representando o diabo e invasores estrangeiros, que espreitam as terras como antagonistas perpétuos da existência dos povos locais. No mesmo período, o cineasta norte-americano Travis Wilkerson era uma criança em Butte, no estado de Montana, filho de um pai militar e piloto (condecorado na Guerra de Vietnã) e uma mãe ativista obcecada com a guerra nuclear. Ela levava seus filhos em viagens para protestar diante dos silos nucleares presentes por todo o interior dos Estados Unidos, um hábito familiar que influenciou a obra de Travis, delineando um estilo de cinema ao mesmo tempo pessoal e político.
“A destruição da América nativa e a ameaça de destruição do mundo são dedos de duas mãos entrelaçadas”, o diretor declarou décadas depois, na narração de seu filme Família nuclear (Nuclear Family, 2021), um documentário feito em parceria com sua esposa, a ar tista e ativista Erin Wilkerson. O filme abre relembrando os episódios de infância como parte de pesadelos provocados pelas eleições recentes, e serve como uma espécie de tour guiado pelos silos nucleares ativos nos Estados Unidos, muitos deles em terras habitadas no passado por povos indígenas que foram brutalmente assassinados por colonos invasores. A ameaça da destruição nuclear em um filme ecoa a hostilidade de seres mascarados no outro. Ambos mostram, em momentos distintos, dois pares de cineastas recontando as histórias de seus países americanos e buscando compreender e transformar uma trajetória de violência em um vislumbre de um mundo viável.
Rodríguez (nascida em 1933) e Silva (1941-1987) se conheceram em 1965, no cineclube da Aliança Francesa em Bogotá. Ela já havia estudado antropologia e cinema na Colômbia e na França, inclusive com o etnólogo Jean Rouch, que articulou de forma inédita uma fusão das duas práticas. Interessou-se pelas condições de vida nos “chircales” – propriedades de produção artesanal de tijolos nos arredores de Bogotá cujos trabalhadores viviam em extrema pobreza dentro de um sistema feudal. Ao procurar colaboradores possíveis para o projeto, ela conheceu Silva, um fotógrafo, cinéfilo e autodidata, que topou registrar o cotidiano de uma das famílias. Eles trabalharam no média-metragem Chircales (1971) por seis anos e conceberam um método de criação que continuaria ao longo de suas colaborações. A produção foi escassa, com os codiretores assumindo todas as funções principais. O período de imersão foi longo e atencioso, para melhor conhecer as vidas de seus personagens. A forma final da obra intercalou momentos 15
tradicionalmente observacionais com outros mais poéticos, conduzidos pelos depoimentos e testemunhos das pessoas registradas. O impulso que direcionou os artistas foi político por natureza – o de expor a realidade de uma situação desumana e seu custo humano. Chircales teve uma boa repercussão internacional, e os prêmios que o filme ganhou em festivais ajudaram a financiar outras obras do casal. Eles logo embarcaram no que foi originalmente pensado como uma trilogia de documentários sobre a desigualdade social colombiana. Planas, testimonio de un etnocidio (1971) relata a longa história de ataques a indígenas, com foco no recente massacre do povo Guahíbo por motivos agrários, inclusive com denúncias de sobreviventes e da formação do Cric (Conselho Regional Indígena de Cauca) como um ato de resistência. Campesinos (1975) mostra a criação de ações sociais por grupos camponeses e indígenas contra donos de terra em Cauca, também trazendo uma contextualização histórica da luta contra a opressão, muitas vezes narrada pelos protagonistas.
O terceiro filme adotou uma forma diferente dos anteriores, principalmente porque Silva e Rodríguez perceberam que eles não estavam conseguindo alcançar seu principal público de interesse, os próprios indígenas. Nas palavras de Rodríguez: “Os indígenas possuem um Eu coletivo, eles tomam todas as decisões coletivamente. Quando viram cenas [em Campesinos] em que um único indígena falava ininterruptamente, eles simplesmente disseram: ‘Aquele índio é louco’. Também não gostaram que os líderes exercessem um papel tão importante no filme. [...] Os indígenas nos fizeram perceber que a narrativa de nossos filmes ia contra sua forma de ver a realidade.”2 2. De uma entrevista com os cineastas na revista Cuadernos de Cine Colombiano, publicada pela Cinemateca de Bogotá em outubro de 1982. O texto integral pode ser lido em espanhol no link idartesencasa.gov.co/artes-audiovisuales/ libros/cuadernos-de-cine-colombiano-primera-epoca-no-7-jorge-silva-y-marta.
Eles então trabalharam em parceria com cooperativas locais e montaram comissões de consultoria. O casal mergulhou por um ano no dia a dia da vida dos Coconucos e trabalhou no filme Nossa voz de terra, memória e futuro por quatro anos (inclusive com 16
uma pausa nas filmagens para fazer um curta-metragem, La voz de los sobrevivientes, 1980, em homenagem a um líder assassinado e a pedido do Cric). A obra resultante contou com elementos sobrenaturais teatralizados e relatos de naturezas distintas.
Em Nossa voz de terra, memória e futuro – o primeiro e único longa-metragem realizado por Rodríguez e Silva –, vemos figuras diabólicas se deslocarem de forma sinistra e assustadora, ao mesmo tempo que testemunhamos a força do coletivo na ocupação e no trabalho com a terra. São homens, mulheres e crianças que atravessam arames farpados, estudam uma nova língua e uma forma de organização social para reaver o que lhes pertence. Ao longo do filme, há uma dialética entre o nativo e o invasor, a percepção de mundo indígena e a imposição de uma cultura originalmente europeia, a melodia fluida das flautas andinas e o som dissonante do agressor. A fotografia em preto e branco mostra close-ups de rostos poderosos, cuja força autônoma é inextricavelmente ligada ao valor do coletivo. Nossa voz ganhou diversos prêmios (inclusive no Festival Internacional de Cinema de Berlim e no Primeiro Festival de Cinema de Povos Indígenas, no México) e gerou uma atenção inédita para o trabalho de Rodríguez e Silva.
Porém, foi o último filme que os cineastas concluíram juntos. Silva morreu subitamente, em decorrência de uma úlcera duodenal, durante as filmagens de Nacer de nuevo (1987), um filme-retrato de um casal de idosos vivendo em um assentamento, que Rodríguez finalizou junto a um outro projeto documental dos dois, Amor, mujeres y flores (1989), sobre o impacto de agrotóxicos na saúde de trabalhadoras em plantações de flores. Ela também deu continuidade ao projeto maior de denúncia da violência contra os povos indígenas colombianos e o meio-ambiente. Através da Fundación Cine Documental – produtora que ela e Silva fundaram na época de Chircales3 –, Rodríguez realizou uma longa série de documentários, em andamento, que retrata a turbulenta história recente da Colômbia, muitas vezes utilizando entrevistas com indígenas para mostrar a grandeza de um povo que batalha para preservar sua terra e cultura. 3. Mais informações sobre a Fundación podem ser encontradas no website martarodriguez. com.co/. 17
Vários desses filmes incorporam cenas de Nossa voz e outras obras realizadas com Silva, fazendo conexões entre imagens do passado e um contínuo trabalho de construção social. Um dos filmes mais recentes, La sinfónica de los Andes (2018), utiliza como condutor narrativo uma orquestra sinfônica de jovens indígenas de Cauca para relatar a complexidade da interminável guerra entre o governo, os paramilitares, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e até movimentos militares indígenas organizados pelo Cric. Essa guerra civil foi em grande parte financiada pelos Estados Unidos, fazendo da Colômbia o país sul-americano que mais recebe ajuda militar norte-americana. A obra de Travis Wilkerson (nascido em 1969) é uma das mais políticas do cinema de autor atual de seu país. O cineasta lida com questões de origem, seja a história sangrenta dos Estados Unidos ou a participação de sua própria família nela, discutindo o éthos norte-americano e seu reflexo no mundo para desmascarar o enaltecimento ao poder em histórias de
desbravamento e conquista e mostrar as consequências nocivas atuais sobre uma sociedade que perece. Seu trabalho foi inspirado no Nuevo Cine Latinoamericano (inclusive com a realização de um filme-retrato em 1999 do documentarista cubano Santiago Álvarez), principalmente na busca de uma linguagem cinematográfica engajada, rigorosa e lírica, que tenha simultaneamente valor pedagógico e artístico. Diversos de seus filmes são estruturados como densas investigações de um passado enterrado, com o diretor atuando como narrador ou protagonista, e intercalando momentos didáticos com outros mais impressionistas. Por exemplo, An Injury to One (2002) combina paisagens atuais e registros históricos ao narrar o legado da opressão sobre movimentos trabalhistas de mineradores em Butte desde o século XIX até o presente e as consequências ambientais e econômicas para a região. Distinguished Flying Cross (2011) consiste majoritariamente em cenas de uma conversa entre ele, seu irmão mais jovem e seu pai sobre a realidade da Guerra do Vietnã. Você
já se perguntou quem atirou? (Did You Wonder Who Fired the Gun?, 2017) adota o tom de um thriller na busca pessoal para resolver o caso em aberto do assassinato de um homem negro pelo bisavô racista do diretor no estado do Alabama. Tanto Você já se perguntou e Família nuclear são road movies. Porém, enquanto a primeira viagem é feita pelo cineasta 18
sozinho, na segunda ele vem acompanhado de sua esposa e coautora, Erin Wilkerson (nascida em 1982). Erin é uma artista visual que expressa inquietações similares às de Travis por meio de mídias diversas, como instalações, performances, desenhos, pinturas e colagens. Seu olhar volta-se para a representação tradicional de paisagens naturais,
subvertendo imagens romantizadas de sociedades destruidoras. Duas séries de colagens digitais são representativas de seu trabalho, inclusive na forma em que remetem à sua estética cinematográfica: Em American Landscapes, pinturas de paisagens clássicas norte-americanas são invadidas por imagens midiáticas, mostrando a violência policial do Estado contra imigrantes. E, em Objective Decay, figuras humanas de pinturas europeias importantes são inseridas em fotografias de desastres ambientais.4 Em Família nuclear, Erin evidencia mais a discussão sobre o impacto humano na paisagem natural ao retratar a presença de espécimes estrangeiras de flores que podem ser devastadoras para o ecossistema local. Enquanto Travis explora velhos campos de batalha (inclusive 4. Estes e outros trabalhos de Erin Wilkerson, inclusive obras realizadas na preparação de Família nuclear, podem ser conferidos no site de Creative Agitation, a produtora que ela e Travis Wilkerson cofundaram em 2009: www. creativeagitation.com.
um que foi previamente filmado por ele, para um curta-metragem relembrando um massacre de indígenas Cheyenne e Arapaho no século XIX, no então território do Colorado),5 observamos Erin fotografar flores com uma máquina polaroide, e subsequentemente vemos as fotos na tela enquanto nos é dito se determinada espécie é nativa ou invasora. De maneiras distintas, os dois cineastas refletem sobre o impacto que eles exercem naquelas paisagens silenciosas e aparentemente imutáveis, que mascaram um rápido avanço da humanidade para a decadência. Outros momentos do filme trazem polaroides de cânions, mísseis e veículos militares transformados em monumentos para visita pública. Algumas das cenas mais perturbadoras de Família nuclear são justamente as das visitas feitas explicitamente em família às diversas locações do filme – o casal, com suas duas crianças 5. O curta-metragem For the 150th Anniversary of the Sand Creek Massacre (2014) pode ser visto no canal de Vimeo de Travis Wilkerson, no link vimeo.com/114665191. 19
pequenas e a filha adolescente de Travis. Eles encenam um teatro irônico no qual a imagem arquetípica de uma unidade feliz e estável (a família nuclear norte-americana) é contaminada por um perigo eminente. Travis, usando o gravador de som, parece às vezes estar segurando um detector de metais; as crianças com seus pais brincam de mortos, com um tom desconfortável dado pelo contexto atual. As imagens da família caminhando, mesmo em vastos campos com céus abertos, são embutidas de uma atmosfera de melancolia e pavor frente ao passado e ao futuro, estimulada pelos traços e pelas lembranças de violência que existem em todo lugar onde pisam. O s f i l m e s d o s W i l ke rso n s e d e Rodríguez e Silva oferecem ferramentas para uma tomada de consciência de seus espectadores diante da realidade que os circunda. Eles mostram algumas das complexidades na formação de grupos, que podem se proteger da violência ou perpetuá-la, às vezes em um mesmo gesto. Escolher um inimigo – nos filmes e historicamente – pode também ser
uma escolha das máscaras que serão vestidas. O escritor búlgaro Elias Canetti continua sua reflexão sobre a máscara: “Quanto mais nítida ela for, tanto mais obscuro será aquilo que está por trás. Ninguém sabe o que poderia surgir dali. A tensão entre a rigidez da máscara e o segredo que ela oculta pode atingir proporções gigantescas. Essa tensão é a verdadeira razão de seu caráter ameaçador. ‘Eu sou exatamente o que você está vendo’, diz a máscara, ‘e, por trás disso, tudo o que você teme’.”6 A Sessão Mutual Films de novembro de 2022 é dedicada às memórias dos cineastas independentes Luis Ospina (1949-2019) e William Klein (1926-2022).
6. Massa e poder, p. 474 da edição de Companhia de Bolso.
Em cartaz
Kevin
Joana Oliveira | Brasil | 2021, 81’, DCP (Embaúba Filmes) É a primeira vez que Joana, uma brasileira, visita sua amiga Kevin em Uganda. Elas se tornaram amigas há 20 anos, quando estudaram juntas na Alemanha, e faz muito tempo que não se veem. Uma conversa entre duas amigas: as histórias do passado, os desejos, os caminhos trilhados, os diferentes modos de encarar o tempo vivido. “Eu não tinha intenção nenhuma de dar conta de Uganda”, comenta a diretora e personagem Joana Oliveira em entrevista ao portal Papo de Cinema. “Eu nem conheço o Brasil inteiro, jamais entenderia, em algumas semanas, um país tão complexo quanto Uganda. Mas então pensei: como filmaria uma história de amizade na minha cidade, em Belo Horizonte? Não ficaria explicando a complexidade da cidade, não seria essa a intenção. Queria mostrar a vida dessas duas mulheres, e entender Uganda através do que a Kevin queria me mostrar. É claro que Uganda está presente nas várias línguas faladas, na minha cara de gringa, 20
na cena em que eu derrubo tudo numa loja, para demonstrar o meu desconforto. A gente fugiu de todas as formas de exotizar Uganda, ou dar conta de algo maior do que a relação dessas duas. Nem a relação entre elas é algo de que o filme pode dar conta por completo. A gente trata com elipses, claro. Algumas pessoas vieram me perguntar: ‘Mas vocês foram na boate?’, porque a Kevin fala, em certo momento do filme, que a gente precisava conhecer a boate local. O filme nunca vai agregar tudo, as pessoas nunca vão saber de tudo o que aconteceu. Mas fomos à boate, claro!” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/kevinims] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Marte Um
Gabriel Martins | Brasil | 2022, 115’, DCP (Embaúba Filmes) Os Martins são sonhadores, otimistas e levam a vida às margens de uma grande cidade brasileira depois da decepção da eleição de um presidente de extrema direita. Uma família negra de classe média baixa, eles sentem a tensão da nova realidade. Tércia, a mãe, revê seu mundo depois de um encontro inesperado que faz com que ela suspeite ter sido amaldiçoada. Seu marido, Wellington, coloca todas suas esperanças em fazer do filho caçula um jogador de futebol. Deivinho acompanha relutante a ambição do pai, pois sonha em estudar astrofísica e colonizar Marte. Enquanto isso, Eunice, a filha mais velha, se apaixona por uma jovem de espírito livre, e se questiona se não está na hora de sair de casa. Marte Um é a estreia na direção solo de Gabriel Martins em longa-metragem e foi financiado pelo primeiro e, até agora, último edital afirmativo do Brasil, que, em 2016, contemplou três longas-metragens produzidos ou dirigidos por pessoas negras. O filme estreou na edição deste ano do Festival de Sundance, maior evento do cinema independente norte-americano e foi o filme indicado pelo Brasil para concorrer a uma vaga no Oscar. “Tudo começou com a imagem de um garoto olhando para o céu e segurando uma bola de futebol”, conta o diretor em entrevista ao portal Screen Daily. “Talvez tivesse algo a ver com o Brasil perdendo de 7 a 1 pra Alemanha nas semifinais da Copa do Mundo de 2014, em Belo Horizonte. Esse foi um grande momento, porque também estáva-
mos passando por muitas lutas no cenário político. O Brasil tem sido uma enorme bagunça desde então e antes também, então se trata de futebol, política e sonhos. Eu decidi fazer esse filme sobre o que significa para esse garoto sonhar com algo tão grande, algo tão distante dele.” “Filmamos em novembro, dezembro de 2018, então este filme é um retrato de como eu e acho que muitas pessoas estavam se sentindo em relação a raça, sonhos, política e decepção com tudo o que estava acontecendo no Brasil. [...] Tudo isso estava na minha mente, mas eu não poderia fazer um filme que fosse uma espécie de plano de vingança contra esta eleição, porque ele foi eleito de forma justa. Sim, houve fake news, como houve com Trump, mas as pessoas o elegeram democraticamente. Portanto, não há um problema apenas com Bolsonaro, mas com um país – quão polarizados nos tornamos, como não temos discussões maduras sobre política. Este é um filme sobre diferenças entre gerações também. Como o pai vai se relacionar com a filha? O jovem verá o mundo como seu pai o vê ou encontrará seu próprio caminho?” [A íntegra da entrevista, em inglês, está disponível em: bit.ly/imsmarteum] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
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O clube dos anjos
Paloma
Ao longo dos anos, as reuniões mensais do Clube do Picadinho – confraria que há décadas reúne sete amigos de longa data – passaram de rituais de poder a melancólicas assembleias de fracassos. Um clube fadado ao fim. Até que a chegada de um cozinheiro, que passa a lhes servir magníficos banquetes, reúne novamente a todos. A gula como celebração da vida. No entanto, depois de cada jantar, um integrante da confraria amanhece morto. O clube dos anjos é baseado no livro homônimo de Luis Fernando Verissimo e tem em seu elenco os atores Otávio Müller, Matheus Nachtergaele, Paulo Miklos, Marco Ricca e André Abujamra.
Paloma é uma mulher trans que vive com Zé, seu namorado, e sua filha. Ela trabalha como agricultora em uma plantação de mamão e está economizando para realizar seu maior sonho: um casamento tradicional, na igreja, seguida de festa. Mas a recusa do padre em aceitar seu pedido obrigará Paloma a enfrentar as normas do catolicismo e da sociedade rural. Em entrevista ao Jornal do Brasil, o diretor Marcelo Gomes conta do surgimento do projeto de filme: “Há mais de dez anos, li uma matéria no jornal de minha cidade, Recife, sobre uma mulher trans, agricultora no agreste de Pernambuco, que decide se casar na igreja de vestido branco, véu e grinalda, provocando, com isso, a ira de toda uma cidade. Me emocionei com aquela história. Existiam muitas camadas: falava de amor, preconceito, fé, conservadorismo, afeto. Tantos elementos tão díspares que senti que ali estava
Angelo Defanti | Brasil, Portugal | 2020, 102’, DCP (Vitrine Filmes)
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Marcelo Gomes | Brasil, Portugal | 2021, 104’, DCP (Pandora Filmes)
uma história singular que deveria se transformar em um filme. Principalmente num país como o Brasil, um dos países que se observa a maior quantidade de casos de violência contra a população LGBTQIA+. Segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), foram 175 casos em 2020, 41% a mais do que no ano anterior. E os casos só aumentam de ano a ano. Paloma é uma experiência universal. Um filme romântico sobre alguém em uma jornada de autoafirmação.” “Sempre estive muito curiosa para conhecer a Paloma que inspirou o filme”, escreveu Kika Senna em depoimento ao portal Mulher no Cinema, “mas desapeguei dessa ideia quando percebi os riscos que já vinham me alertando sobre o lugar da imitação. Ao passo que eu ia me aproximando de Paloma, ia também percebendo o quanto ela era diferente de mim.” “Fazendo os recortes de raça, classe, gênero e escolaridade, encontrei a principal referência de Paloma em minha mãe: uma mulher preta, mãe, interiorana, semianalfabeta, nordestina e com muitos sonhos. Ainda assim, no início da criação da personagem, rejeitei o romantismo ou os delírios que motivavam Paloma a correr atrás dos seus sonhos, porque eu estava bastante intolerante ao padrão que a cisnormatividade impõe para nós que somos mulheres trans e travestis, bem como para os homens trans. Demorei a entender que, para Paloma, revolucionário era conquistar o que ela queria, que era o básico. Paloma apareceu como uma sonhadora! Quando eu escutei e acolhi as relevâncias de seus sonhos, percebi que os sonhos nos aproximavam.” 22
[A entrevista de Marcelo Gomes pode ser lida na íntegra em: bit.ly/palomamg O depoimento de Kika Senna está disponível em: bit.ly/palomaks] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Peter von Kant
François Ozon | França | 2022, 86’, DCP (Bonfilm) Peter von Kant é um diretor de cinema de sucesso que mora com seu assistente, Karl, a quem gosta de maltratar e humilhar. Quando conhece o jovem Amir, Peter se apaixona, convida Amir para morar com ele e se compromete a ajudá-lo a entrar na indústria cinematográfica como ator. O filme de François Ozon faz referência direta a As lágrimas amargas de Petra von Kant (1972), de Rainer Werner Fassbinder, em parte como uma reencenação, em parte como um estudo da personalidade de Fassbinder. Na conferência de imprensa do Festival de Berlim de 2022, Ozon declarou: “Rainer Werner Fassbinder foi um dos maiores cineastas com quem cresci. Descobri seus filmes quando era muito jovem, e seu cinema foi algo que me ajudou a encontrar meu próprio caminho. [...] Quando eu era estudante, basicamente passei por todo o seu trabalho, o que foi muito emocionante para mim, mas também muito interessante
Babenco em cartaz estética e politicamente. Meu desejo de voltar a Fassbinder veio de fato do lockdown na França, quando todos os diretores se perguntavam se poderiam continuar fazendo filmes e em que circunstâncias. Então voltei a As lágrimas amargas de Petra von Kant.” [Depoimento extraído de: youtu.be/n9ARjBii6VA] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Em parceria com o projeto Memória de Hector Babenco, da HB Filmes, o Cinema do IMS apresenta uma pequena seleção de filmes do diretor como forma de marcar a estreia da cópia restaurada em 4K de Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (1977), sucesso de público e crítica por ocasião de sua estreia. Essa série reúne cópias restauradas em DCP 4K dos três filmes iniciais da obra de ficção de Babenco: O rei da noite (1975), Lúcio Flávio e Pixote, a lei do mais fraco (1980). Serão exibidos também Brincando nos campos do Senhor (1990), já do período internacional do diretor, projetado em cópia 35 mm da época do lançamento; Meu amigo hindu (2015), seu último filme; e o documentário Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou (2019), da realizadora e atriz Bárbara Paz. O cineasta faleceu em 2016, aos 70 anos, e esta temporada celebra em imagem e som as suas conquistas. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
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O rei da noite
Hector Babenco | Brasil | 1975, 98’, DCP (HB Filmes) Uma crônica dos costumes do Brasil dos anos 1940, O rei da noite retrata Tezinho, um jovem boêmio que, depois de ter o coração partido, se apaixona por duas irmãs e acaba se envolvendo com uma prostituta conhecida como Rainha da Noite. A restauração digital de imagem do filme foi feita a partir dos negativos originais preservados, pela Cinemateca Brasileira, e escaneados em resolução 4K. O som foi restaurado e remasterizado na JLS Facilidades Sonoras – Estúdio JLS, por José Luiz Sasso, tendo como matrizes o áudio transferido a partir de fitas de vídeo DigiBeta.
Lúcio Flávio, o passageiro da agonia
Hector Babenco | Brasil | 1977, 121’, DCP (HB Filmes) Recorde de bilheteria nacional quando lançado, o filme relata a trajetória de Lúcio Flávio, um fugitivo que monopolizou as manchetes dos jornais com seus roubos a banco e fugas espetaculares na década de 1970. Ao expor a brutalidade de um grupo criminoso da polícia brasileira conhecido como Esquadrão da Morte – fato revelado pelo próprio Lúcio Flávio a um repórter antes de ser assassinado –, o filme passou por censura e se tornou uma peça da história do cinema brasileiro. O filme foi vencedor do Prêmio do Público da primeira edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 1977.
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Pixote, a lei do mais fraco
Hector Babenco | Brasil | 1981, 128’, DCP (HB Filmes) Vivendo a dura realidade dos menores carentes em um reformatório de São Paulo e revoltados com as injustiças dos administradores da instituição, quatro crianças fogem e passam a conviver com uma trabalhadora sexual. Drama de 1981 baseado no livro A infância dos mortos, de José Louzeiro, o filme apresenta Fernando Ramos da Silva, um ator em ascensão que foi morto aos 19 anos pela polícia de São Paulo. “Acho que naquela época existia uma indignação muito grande pelas contradições sociais expostas que havia em São Paulo. E o que mais me incomodava era a total anestesia dos meios de comunicação, das pessoas pensantes, dos amigos jornalistas, cineastas, sociólogos, enfim, as pessoas que eu frequentava… Era um assunto no qual não se tocava e, quando se tocava, era sociologicamente”, comentou Hector Babenco em entrevista a Drauzio Varella.
“Um dia eu fui à Febem no Tatuapé com um amigo meu fazer umas fotografias e me horrorizei com o que vi. As crianças vinham falar comigo com as mãos para trás e a cabeça baixa, que era já uma estruturação corporal policialesca, de você, culpado, querer pedir perdão ao outro. E eu dei meu endereço, meu telefone pra alguém, e sei que, uma semana depois, me ligou um garoto e disse: ‘Olha, a gente fugiu da Febem, estamos aqui uns 20 e queremos passar para conversar com você’. Aí vieram ao meu escritório, eram uns oito ou nove. Eu os levei pra comer um hambúrguer, eles começaram a me contar histórias, e eu disse: tenho que fazer um filme dessa gente.” Esta cópia foi restaurada pelo World Cinema Project, que faz parte da The Film Foundation, e pela Cinemateca de Bolonha, no laboratório L’Immagine Ritrovata, em colaboração com HB Filmes, Cinemateca Brasileira e JLS Facilitações Sonoras. A restauração faz parte do projeto Memória Hector Babenco, da HB Filmes, que visa a recuperar toda a obra do cineasta, falecido em 2016.
Brincando nos campos do Senhor
Meu amigo hindu
Um casal de missionários evangélicos é enviado à Amazônia para catequizar indígenas locais. Ao mesmo tempo, dois aventureiros que estão de passagem pelo local são forçados pelo governo a bombardear a aldeia. Baseado no romance homônimo de Peter Matthiessen, o longa-metragem dirigido por Hector Babenco conta com roteiro do próprio cineasta em parceria com Jean-Claude Carrière. Em 1991, a Associação de Críticos de Filmes de Los Angeles concedeu ao filme o troféu de Melhor Trilha Sonora, que também rendeu à produção uma indicação do Globo de Ouro do ano seguinte.
Protagonizado por Willem Dafoe, Meu amigo hindu é uma ficção baseada em memórias de Hector Babenco, que lutou contra um câncer linfático por mais de 20 anos. O longa narra o drama de um cineasta que, após ser diagnosticado com um câncer em estado avançado, decide submeter-se a um tratamento experimental. No hospital, ele conhece um menino hindu e, a partir desse encontro, ambos passam a dividir fantasias que os ajudam a suportar o período de tratamento.
Hector Babenco | Brasil, EUA | 1991, 186’, 35 mm (HB Filmes)
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Hector Babenco | Brasil | 2016, 115’, DCP (HB Filmes)
Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou Bárbara Paz | Brasil | 2019, 75’, DCP (Imovision)
Em relatos marcantes sobre memórias, amores, reflexões e a frágil condição de saúde de Hector Babenco, o documentário revela o quanto sua paixão pelo cinema o manteve vivo por tantos anos. Em 2019, o documentário foi vencedor do prêmio de Melhor Documentário sobre Cinema da sessão Venice Classics, do Festival de Veneza, além de receber o prêmio paralelo Bisato D’Oro, da crítica independente.
Sessão Mutual Films Figura e máscara: Nossa voz de terra, memória e futuro + Família nuclear A última Sessão Mutual Films de 2022 traz dois filmes políticos que retratam a história nas Américas da invasão europeia e do extermínio de povos indígenas, que resultaram na formação de sociedades bélicas e desiguais. Em Nossa voz de terra, memória e futuro (1981), uma obra-chave dos documentaristas colombianos Marta Rodríguez e Jorge Silva, acompanhamos de perto a luta indígena pela recuperação de suas terras ancestrais na região de Cauca, nos Andes colombianos. Ouvimos relatos e vemos encenações de presenças demoníacas que tomam a forma de donos de terras e estrangeiros ricos – os responsáveis pela perpetuação da opressão da população local. No filme-ensaio Família nuclear (2021), o longa-metragem mais recente dos norte-americanos Erin e Travis Wilkerson, testemunhamos a jornada inquietante da família dos cineastas pelos silos nucleares presentes em todo o território dos Estados Unidos, muitos dos quais coincidem com sítios despovoados de massacres indígenas históricos. Os filmes, realizados com uma distância de 40 anos entre si, se espelham ao utilizarem símbolos arquetípicos para expressar condições sociais de violência que assombram a vida geração após geração. Uma cópia recém-restaurada de Nossa voz vai ser exibida no IMS, enquanto Família nuclear terá sua estreia brasileira. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). 26
Nossa voz de terra, memória e futuro
Nuestra voz de tierra, memoria y futuro Marta Rodríguez e Jorge Silva | Colômbia | 1981, 110’, DCP Ao longo da década de 1970, os cineastas colombianos Marta Rodríguez e Jorge Silva trabalharam de forma independente em documentários que mostram as injustiças sofridas por trabalhadores e povos indígenas em seu país. Após realizarem Campesinos (1975), sobre a história recente de movimentos trabalhistas colombianos, eles mergulharam na luta diária do povo Coconuco, na região andina de Cauca, para recuperar suas terras ancestrais. Rodríguez e Silva inicialmente seguiram o método didático materialista usado em Campesinos, mas logo perceberam que, para atingir o público desejado – os próprios indígenas –, eles precisariam mudar a abordagem do filme, descentralizando o pensamento ideológico moderno a favor da incorporação da mitologia
local. Para tal, pulverizaram as vozes, que antes se concentravam em lideranças indígenas, e abarcaram relatos fantasmagóricos sobre a influência do diabo no comportamento violento dos donos de terras e estrangeiros endinheirados. Os diretores entenderam que esses relatos eram uma forma de interpretação da opressão que viviam os povos desde o tempo da colonização e, portanto, para que o filme se tornasse uma ferramenta eficiente para a tomada de consciência indígena sobre seus direitos, era preciso incluir esse universo mágico na narrativa. Eles trabalharam durante quatro anos em Nossa voz de terra, memória e futuro, e contaram com a participação de comissões de cooperativas locais, que prestaram consultoria, inclusive na sala de edição. A realização do filme também envolveu artistas colombianos, como o compositor Jorge López e o grupo musical Yaki Kundra (para a trilha sonora) e o pintor Pedro Alcántara e o diretor de arte Ricardo Duque (responsáveis pela concepção da figura do diabo). O pacto do proprietário rico de terras com o diabo é teatralizado ao longo do filme, por meio de cenas surreais em que um monstro engravatado com um rosto anfíbio interage com uma espécie de Tio Sam a cavalo. Nossa voz narra ainda a história da luta indígena, mostrando as ações do recém-fundado Cric (Conselho Regional Indígena de Cauca), inclusive a reocupação de fazendas e o ensino de matemática, história e alfabetização. São contadas por seus integrantes as histórias de lideranças icônicas, como Juan Tama, no século XVII, Manuel Quintín Lame, nas primeiras décadas do século XX, e Justiniano Lame, um ativista assassinado em 1977, cuja vida é relembrada pela viúva, Gertrudis,
e serve como inspiração para lutas atuais. A mistura de diferentes vozes e formas narrativas no filme deu para os cineastas, nas palavras de Jorge Silva, “a oportunidade de fazer algo que nos interessava há muito tempo: tentar ir além do documentário tradicional, que geralmente ignora esses níveis de realidade – os esquece”. Em 1982, Nossa voz de terra, memória e futuro passou no Festival Internacional de Cinema de Berlim, na mostra Forum, organizada pelo Arsenal – Institut für Film und Videokunst e.V. Décadas depois, a mesma entidade restaurou digitalmente dois filmes de Rodríguez e Silva – Chircales (1971), em 2014, e Nossa voz, em 2019. O trabalho de restauração foi realizado em parceria com a Fundación Cine Documental (produtora de Rodríguez e Silva) e Hollywoodoo Films (produtora de seu filho e também cineasta, Lucas Silva), que providenciaram os negativos originais de imagem e som. [Parte da entrevista de Jorge Silva e Marta Rodríguez para o documentário New Cinema of Latin America, Part II: The Long Road (1981), dirigido por Michael Chanan, está disponível, em espanhol, no link: vimeo.com/362436707]
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Família nuclear
Nuclear Family Erin Wilkerson e Travis Wilkerson | EUA, Singapura | 2021, 96’, DCP O filme-ensaio abre com a definição de “espécie invasora”: “Qualquer organismo vivo que não é nativo a um ecossistema e provoca mal”. Em seguida, o cineasta norte-americano Travis Wilkerson relata para o espectador que, durante sua infância nas décadas de 1970 e 1980, sua mãe – uma militante política obcecada com a guerra nuclear – levava a família em viagens de carro pelos silos armamentícios presentes em todo o território estadunidense. A premissa de Família nuclear, filmado em 2019, é retomar essa viagem, numa tentativa de exorcizar os pesadelos do cineasta causados pelas recentes eleições no país. Embarcam Travis, sua esposa, a também cineasta Erin Wilkerson, seus filhos e o cachorro. Acompanhamos a família em uma jornada que reflete sobre a relação entre a história de violência dos colonos americanos contra os povos indígenas e a construção de
uma cultura estruturada no empoderamento bélico. Encontramos campos vastos e vazios, que parecem ser ocupados apenas pela família de turistas acidentais, enquanto ouvimos o patriarca descrever ora uma batalha histórica realizada em um local não marcado, ora dados e notícias sobre os silos, guardados por militares que vivem isolados e em condições precárias. Esporadicamente, a tela é preenchida por fotos polaroides de flores nativas e não nativas tiradas por Erin. A trilha sonora inclui as músicas que a família escutou durante a viagem, como “Nuclear War”, da The Sun Ra Arkestra, cujas letras alarmantes se transformam em um refrão melancólico. O casal Wilkerson criou o coletivo Creative Agitation [Agitação Criativa] em 2009 e, por meio dele, colaborou em diversos projetos, entre filmes, videoinstalações e uma revista eletrônica de arte política. Família nuclear marca a primeira colaboração dos dois artistas na autoria de um longa-metragem. Erin possui um extenso trabalho em artes visuais, com um olhar voltado para a arquitetura e para o impacto destruidor da intervenção humana sobre a paisagem. Travis possui uma longa filmografia, focada em eventos que subvertem a história ilibada dos Estados Unidos, seu conceito de liberdade e as consequências de um sistema capitalista nocivo – muitas vezes fazendo conexões com seus próprios antepassados. Quando a família visita um fosso na cidade de Butte, em Montana (onde Travis cresceu) – considerado o primeiro grande desastre ambiental do país, consequência da exploração indevida de uma empresa de mineração do início do século XX –, ouvimos que, ano após ano,
Novembro Negro centenas de gansos morrem ao pousar nas águas superácidas do fosso. A família, ao mesmo tempo vítima e agressor, prenuncia o futuro de uma sociedade que caminha para sua autoextinção. Família nuclear teve sua estreia mundial em 2021 no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, onde ganhou uma menção honrosa na mostra competitiva Estados Alterados. Desde então, ele tem passado em diversos festivais, como os de Jeonju e Yamagata, e na mostra Forum, no Festival Internacional de Cinema de Berlim. Ele terá sua estreia brasileira no IMS. A Sessão Mutual Films tem curadoria e produção de Aaron Cutler e Mariana Shellard.
Alma e Rainbow
Alma’s Rainbow Ayoka Chenzira | EUA | 1993, 86’, DCP (Milestone Films & Kino Lorber) Um misto entre comédia e drama em torno do amadurecimento de três mulheres negras que vivem no Brooklyn. O longa-metragem de Ayoka Chenzira explora a vida da adolescente Rainbow Gold, que está crescendo e navegando em conversas e experiências em torno de padrões de beleza, autoimagem e os direitos que as mulheres negras têm sobre seus corpos. Rainbow frequenta uma escola paroquial rigorosa, estuda dança e está começando a se envolver com os meninos. Ela vive sob a criação rígida de sua mãe, Alma Gold, que administra um salão de beleza dentro de casa. Quando Ruby, tia de Rainbow e irmã de Alma, retorna de Paris após uma ausência de dez anos, as irmãs entram em conflito sobre como deve ser a criação da jovem. Alma e Rainbow, que está sendo apresentado pela primeira vez no Brasil em versão restaurada em 4K, destaca um mundo de mulheres negras com
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complexidade e profundidade, no qual as personagens vivem, amam e lutam sobre o que significa exercer sua agência. O filme foi escrito, dirigido e produzido pela artista e professora Ayoka Chenzira. Premiada e aclamada internacionalmente, Chenzira foi uma das primeiras mulheres afro-americanas a lecionar produção cinematográfica no ensino superior, além de ser apontada como a primeira artista da animação afro-americana. O título original, Alma’s Rainbow, foi uma sugestão da cineasta Julie Dash (Daughters of the Dust, 1991). Atualmente, Chenzira trabalha em uma adaptação audiovisual do romance Kindred – Laços de sangue, de Octavia E. Butler. “Partes do filme são autobiográficas”, comenta a diretora em depoimento disponibilizado no dossiê de imprensa do filme. “Minha mãe tinha um lindo salão de beleza aonde as mulheres vinham e contavam as histórias mais incríveis e davam suas opiniões sobre o mundo. Mas, principalmente, eu queria fazer Alma e Rainbow porque, já adulta, morando no Brooklyn, em Nova York, conhecia muitas meninas que estavam tendo dificuldades com as mães. As histórias eram todas iguais. As mães mantinham as filhas muito, muito perto, por medo de que se tornassem mães adolescentes. E as filhas estavam ficando muito inventivas em criar maneiras de escapar do olhar atento da mãe. Então, é no centro dessa dança que Alma e Rainbow se situa.” Esta nova restauração 4K foi realizada pela distribuidora Milestone Films, pelo Academy Film Archive e pela Film Foundation. Será exibida na mesma sessão de Sylvilla: eles dançam seus batuques. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Esta cópia foi restaurada pelo Academy Film Archive e financiada pela Film Foundation. Será exibida na mesma sessão de Alma e Rainbow. [Depoimento da diretora extraído do livro Reel Black Talk: A Sourcebook of 50 American Filmmakers, de Spencer Moon] Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Sylvilla: Eles dançam seus batuques
Sylvilla: They Dance to Her Drum Ayoka Chenzira | EUA | 1979, 25’, cópia digital (Milestone Films & Kino Lorber) Filmado em 16 mm e apresentado em um novo scan 4K, este curta documentário é um retrato da dançarina e coreógrafa Sylvilla Fort, uma artista negra pioneira que influenciou uma geração de dançarinas. “Esse é um trabalho extremamente pessoal sobre minha professora de dança”, comenta a diretora Ayoka Chenzira. “Ela morreu antes que estivesse terminado. É o único documentário feito sobre essa mulher, que é o elo entre [os bailarinos e coreógrafos] Katherine Dunham e Alvin Ailey. Ela morreu cinco dias após um incrível tributo a ela ser realizado na data do meu aniversário. Após sua morte, fiquei um bom tempo sem conseguir fazer filmes.”
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Calypso Rose
Calypso Rose – The Lioness of the Jungle Pascale Obolo | França, Trinidad e Tobago | 2011, 85’, DCP (Arte Distribution) Embaixatriz da música caribenha, Calypso Rose é uma lenda viva. Para homenageá-la, a cineasta franco-camaronesa Pascale Obolo passou quatro anos com a diva da Calypso Music, em uma trajetória muito especial. “Juntas, refizemos os passos de sua vida passada e presente”, comenta a diretora Pascale Obolo. “Eu estava com ela quando ela gravou seu último álbum em Paris, visitamos Nova York, onde ela vive pelos últimos 20 anos, e viajamos para Tobago, a ilha onde ela nasceu e para onde retorna regularmente para se reconectar com suas raízes africanas e sua grande paixão pela pesca e sua espiritualidade, e depois para Trinidad, onde sua carreira internacional começou − e até para a África, para redescobrir suas raízes.” O documentário aborda não só a memória, o intercâmbio e a descoberta de diversas culturas do mundo, mas também a jornada de uma mulher
militante e autêntica. Cantora e compositora, feminista, espiritualista, celebridade e mulher negra consciente de sua origem. Nas palavras de Obolo, “na aurora da sua vida, acompanho uma grande senhora pela vereda da memória. Nessa busca, encontramos alguns cúmplices, companheiros de conflitos ou amigos de longa data. Avançando no fio que liga seu mundo privado ao exterior, somamos e subtraímos o resto de seus sonhos e suas decepções. Ela compartilha conosco o que a faz viver e o que nos faz viver. Porque a história dela também é a nossa.” [Depoimento de Pascale Obolo no portal AfricAvenir, em francês: bit.ly/calypsoims] Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
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Meu amigo Fela
Joel Zito Araújo | Brasil | 2019, 92’, DCP (O2 Play) Revolucionário, visionário, gênio, guerrilheiro, pan-africanista e pop star. São muitos adjetivos que podem ser aplicados a Olufela Olusegun Oludotun Ransome-Kuti, mais conhecido como Fela Kuti. Nascido na Nigéria em outubro de 1938, Fela estudou música em Londres e faleceu em agosto de 1997. O multi-instrumentista foi um dos pioneiros do gênero afrobeat, além de ter sido ativista político e defensor dos direitos humanos. Em Meu amigo Fela, o diretor brasileiro Joel Zito Araújo vai a Nova York entrevistar o cubano Carlos Moore, amigo íntimo e biógrafo oficial de Fela, com o objetivo de tentar entender o homem que viveu por trás do mito de “excêntrico ídolo pop africano do gueto”. Segundo o diretor, Carlos Moore não é o único amigo de Fela a que o título do filme faz referência. “Na realidade, o título Meu amigo Fela refere-se a todos os amigos de Fela Kuti que estão no filme, e indiretamente eu, um amigo mesmo que imaginário”, conta o realizador em entrevista à Revista
de Cinema. “O dispositivo fílmico para contar a história do Fela consistiu em buscar os relatos dos amigos íntimos desse grande e trágico artista. Lá, você verá o biógrafo, a amante norte-americana que fez a cabeça de Fela, o filho, uma das suas 27 esposas, os artistas gráficos, o baterista que ajudou a criar o afrobeat, e assim por diante. Eu queria, portanto, fazer um documentário que entrasse na intimidade de Fela, e esta foi a estratégia que inventei. Carlos Moore acabou tendo um papel discreto de condutor da memória coletiva. É importante também dizer que Fela foi a minha maneira de falar da África, da geração de pan-africanistas que sempre admirei e de minhas angústias com as tragédias que o continente viveu e vive. É, portanto, um filme que tem também o meu ponto de vista, nesse sentido.” [Íntegra da entrevista de Joel Zito Araújo em: bit. ly/felaims] Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Miles Davis, inventor do cool Miles Davis, Birth of the Cool Stanley Nelson | EUA | 2019, 115’, DCP
Miles Davis é um grande nome da música do século XX. Foi quem mudou os rumos do jazz inúmeras vezes, revelou nomes importantíssimos na história da música − como John Coltrane, Herbie Hancock, Chick Corea −, levou o jazz às massas na ilha Wright e foi o porta-voz de diferentes gerações. Este documentário mergulha em seis décadas de carreira de Davis: de seus dias como estudante da Juilliard ao desenvolvimento de seu som característico em gravações com seu famoso quinteto, de suas colaborações com Gil Evans às suas mudanças para novos paradigmas musicais nos anos 1970 e 1980. À medida que o filme acompanha os triunfos musicais de Davis, os meandros de sua complicada vida pessoal são contados com reflexões íntimas das pessoas mais próximas a ele. “Eu quis fazer um filme que se ocupasse apenas de música e de um músico, e eu amo jazz, e qual tema seria melhor do que Miles Davis, sabe?”, 31
comentou Stanley Nelson em uma fala de apresentação do filme para o American Film Institut em junho de 2021. “Ele era uma pessoa realmente complicada, e uma das questões que nos orientou enquanto fazíamos o filme era: como um cara que não era muito legal na maior parte do tempo podia fazer uma música tão bela? E não é apenas sua incrível música e seu incrível gosto musical que vão durar pra sempre − o álbum de jazz mais vendido de todos os tempos é Kind of Blue. Mas era também a forma como ele se vestia, os carros que ele dirigia. Ele dirigia Ferraris e Lamborghinis. Ele saía e se casava com mulheres incrivelmente belas e inteligentes. Ele era um ícone. Como alguém diz em algum momento do filme: para ser cool, bastava levar um disco do Miles Davis debaixo do braço. Mas eu acredito que Miles é sempre um farol para mim e muitas outras pessoas, porque ele estava em permanente mudança. Ele estava satisfeito com o que tinha feito, mas então resolvia fazer outra coisa, e mais outra e mais outra. E não apenas para ser diferente, mas porque era nisso que ele acreditava e era isso o que ele fazia.” Miles Davis, inventor do cool foi feito para a série de televisão American Masters, da rede americana PBS, e estreou no Festival de Cinema de Sundance em 2019. Em 2021, ganhou dois prêmios Emmy por Melhor Documentário de Arte e Cultura e Melhor Som. [Íntegra da fala de Stanley Nelson, em inglês: youtu.be/nqC5Ls4kTmY] Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho
Programadora de cinema Marcia Vaz
Programador adjunto de cinema Thiago Gallego Assistente de programação/ produção Lucas Gonçalves de Souza Projeção Adriano Brito e Edmar Santos Legendagem eletrônica Pilha Tradução Revista de Cinema IMS
Produção de textos e edição Thiago Gallego e Marcia Vaz Diagramação Marcela Souza e Taiane Brito Revisão Flávio Cintra do Amaral
Os filmes de novembro
O programa do mês tem o apoio da HB Filmes, da Mutual Films, da Pivô, da Firelight Media da Dynamo Production, da Fundación Cine Documental, da Creative Agitation e das distribuidoras Bonfilm, Embaúba, Imovision, Kino Lorber, Milestone Films, O2 Play, Pandora Filmes e Vitrine Filmes. Agradecemos a Myra Babenco, Marcella Imparato, Dodô Azevedo, Ana Maria Magalhães, Regis Faria, Reginaldo Faria, Viviana Santiago; Goretti Vidal; Nina Tedesco; Tobias Hering; Luís Felipe Flores/Cinecipó e ao Institut für Film und Videokunst e.V., nas pessoas de Carsten Zimmer, Gesa Knolle e Markus Ruff/Arsenal. Parceria
Babenco em cartaz
Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, pessoas que vivem com HIV e aposentados por invalidez. Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Venda de ingressos
Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares). Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br. Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com.br e facebook.com/cinemaims. As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea.
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Paloma, de Marcelo Gomes (Brasil, Portugal | 2021, 104’, DCP)
Alma e Rainbow (Alma’s Rainbow), de Ayoka Chenzira (EUA | 1993, 86’, DCP)
Visitação
Terça a sexta, das 12h às 18h
Sábado, domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 18h Entrada gratuita.
Mais informações: ims.com.br
Rua Marquês de São Vicente 476 CEP 22451-040 Gávea – Rio de Janeiro 21 3284 7400 imsrj@ims.com.br
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