Cinema do IMS Rio, julho de 22

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cinema jul.2022


Seguindo todos os protocolos, de Fábio Leal (Brasil | 2021, 74’, DCP) [capa] Balada sangrenta (The Harder They Come), de Perry Henzell (Jamaica | 1972, 103’, DCP)


destaques de julho 2022 Obra completa de um cineasta de dois filmes, a Sessão Mutual Films apresenta a filmografia de Perry Henzel nos cinemas do IMS. Balada sangrenta, celebrado pelo público como primeiro longa-metragem jamaicano, tem a estreia do astro do reggae Jimmy Cliff no cinema e será exibido em cópia restaurada e remasterizada em 4k. Não há lugar como nosso lar, filme que por muitos anos foi dado como perdido e conta com nomes como Grace Jones no elenco, terá sua estreia brasileira. Dentre as estreias do mês: Gyuri, de Mariana Lacerda, sobre a fotógrafa Claudia Andujar, traça uma linha geopolítica improvável entre a pequena aldeia húngara de Nagyvárad e a Terra Indígena Yanomami, na Amazônia brasileira; Os primeiros soldados, de Rodrigo de Oliveira, remonta aos primeiros anos da pandemia de HIV/aids no Brasil; 40 anos depois, em outra pandemia, tudo o que o protagonista de Seguindo todos os protocolos, de Fábio Leal, deseja é ter um encontro íntimo sem se expor ao covid. Curtas-metragens de Juliana Antunes, Helena Ignez, Karim Aïnouz e Musa Michelle Mattiuzzi produzidos no contexto do programa IMS Convida, acompanham e conversam com os longas em cartaz.

Não há lugar como nosso lar, de Perry Henzell (Jamaica, EUA | 2006, 89’, DCP)

Os primeiros soldados, de Rodrigo de Oliveira (Brasil | 2022, 107’, DCP)

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Gyuri, de Mariana Lacerda (Brasil | 2020, 88’, DCP)


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Carro rei + Missão Perséfone (109’) O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Seguindo todos os protocolos + Trópico de Capricórnio (87’)

O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Os primeiros soldados (107’) Ilusões perdidas (149’)

O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Seguindo todos os protocolos + Trópico de Capricórnio (87’) Gyuri + Ladeira abaixo (95’)

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O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Os primeiros soldados (107’) Ilusões perdidas (149’)

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O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Os primeiros soldados (107’) Ilusões perdidas (149’)

O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Seguindo todos os protocolos + Trópico de Capricórnio (87’) Gyuri + Ladeira abaixo (95’)

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O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Os primeiros soldados (107’) Ilusões perdidas (149’)

O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Seguindo todos os protocolos + Trópico de Capricórnio (87’) Gyuri + Ladeira abaixo (95’)

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O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Os primeiros soldados (107’) Ilusões perdidas (149’)

Seguindo todos os protocolos + Trópico de Capricórnio (87’) Sessão Mutual Films - exibições apresentadas por Aaron Cutler e Mariana Shellard Balada sangrenta (103’) Não há lugar como nosso lar (89’)

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Carro rei + Missão Perséfone (109’) O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Seguindo todos os protocolos + Trópico de Capricórnio (87’)

O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Os primeiros soldados (107’) Ilusões perdidas (149’)

O acontecimento + Fogo baixo, alto astral (105’) Seguindo todos os protocolos + Trópico de Capricórnio (87’) Gyuri + Ladeira abaixo (95’)

Ilusões perdidas (149’) Gyuri + Ladeira abaixo (95’)

Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br.

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Jogos de poder - A Jamaica de Perry Henzell - Sessão Mutual Films Curadoria e produção: Aaron Cutler e Mariana Shellard

Era um período mágico nos guetos da capital nos anos 70 para a primeira geração da juventude preta tropical favelada que podia ir ao cinema e se ver na tela, que ligava o rádio e ouvia pessoas conhecidas cantando sobre suas próprias preocupações. “Eu quero minha parte agora, esta noite!”, gritava Jimmy Cliff da tela de cinema, e a audiência massiva vibrava sempre. “Get up, stand up! Stand up for your rights!”, cantava The Wailers em 100 jukeboxes e sound systems por toda a ilha, e a mensagem ecoava entre as rodovias, as ruas e nas vilas pelas montanhas. “Se não aqui, onde? Se não agora, quando?” Havia um forte sentimento entre os jovens da cidade de que a conquista dependia deles; de que se não conquistassem agora, ninguém pobre ou preto conseguiria novamente. “Lembra-se dos dias da escravidão?”, perguntava Burning Spear. “Por favor, lembre-se... É adequado a você se lembrar...” Trecho do romance Power Game (1982), de Perry Henzell1 1

Tradução livre – livro inédito no Brasil.

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Quando Perry Henzell nasceu, em 1936, a Jamaica era uma colônia britânica cuja principal fonte de renda era a plantação de cana-de-açúcar. Membro de uma família abastada de fazendeiros, ele cresceu livre entre a plantação e a praia, até ser enviado para estudar na Inglaterra, em uma escola tradicional, onde sentiu pela primeira vez o fardo de fazer parte de uma elite socioeconômica recalcada. Chegou a estudar arquitetura em Montreal no início da década de 1950, porém abandonou o curso e retornou para a Europa, onde viveu viajando de carona e trabalhando como assistente de produção na BBC após ser deserdado pelo pai. Henzell voltou para a Jamaica em 1959 e abriu uma produtora de publicidade. Nesse período, a ilha passava por um processo gradual de independência, que se concluiu em 1962, com um sistema parlamentarista bipartidário liderado pelo primeiro-ministro conservador Alexander Bustamante, cujo partido governaria o novo país durante a primeira década de sua existência. Henzell, que nutria uma paixão pela Jamaica e por seu

povo, utilizou a estrutura de sua produtora para transformar seu entorno em cinema. Ele tomou como exemplo os cineastas Satyajit Ray e Federico Fellini, que projetaram para o mundo suas visões da Índia e da Itália, e buscou, de forma similar, usar a vida jamaicana como material bruto para seu trabalho. O filme resultante, Balada sangrenta (The Harder They Come, 1972), foi o primeiro longa-metragem de ficção a ser realizado inteiramente na Jamaica independente. Henzell concebeu o filme como parte de uma trilogia, com intenção de colocar em diálogo a vida rural e a urbana da ilha. Nessa primeira parte, um jovem do campo viaja para a capital Kingston para fazer sua fortuna. O filme – roteirizado em parceria com o dramaturgo jamaicano Trevor D. Rhone – se baseia na vida de Rhyging (1924-1948), um criminoso jamaicano que se tornou um herói popular, símbolo da resistência à violência policial. Embora Henzell soubesse que a escolha desse personagem agradaria potenciais investidores, ele também buscava expressar a voz do povo jamaicano e suas frustrações


frente a um sistema nacional corrupto e negligente. E, para dar voz ao povo, o diretor escalou um elenco composto majoritariamente por atores não profissionais ou estreantes no cinema, entre eles o protagonista do filme – Jimmy Cliff. Na época, Cliff (que nasceu com o nome de James Chambers em 1944) já era um conhecido músico de reggae, e vivia em Londres desde meados da década de 1960, porém compartilhava experiências similares às que Henzell procurava retratar. Cliff e Henzell acrescentaram à história do personagem de Ivanhoe Martin (o nome verdadeiro de Rhyging) detalhes da vida do cantor, para fazer do bandido um músico aspirante que busca sucesso na cidade e é ludibriado pela estrutura monopolizadora e exploratória do meio musical local. Além de protagonizar o filme, Cliff compôs parte da trilha sonora, tendo gravado pela primeira vez a canção-tema do filme – “The Harder They Come” – em uma tomada durante as filmagens. No estúdio de gravação, assistimos também ao grupo veterano Toots & the Maytals, e presenciamos o comportamento 7


opulento do produtor musical Hilton (Bob Charlton, que na vida real era um rico vendedor de seguros). Conforme Balada sangrenta era rodado – um processo que durou 18 meses, com várias pausas nas filmagens por falta de orçamento –, crescia o interesse local em fazer parte da empreitada. A recepção entusiasmada à estreia mundial do filme, em junho de 1972 – três meses após a vitória eleitoral de um novo primeiro-ministro, Michael Manley, com um programa socialista para o país –, foi antecipada em sua cena final, na qual uma plateia de cinema aplaude imagens de Ivanhoe Martin lutando contra os militares no estilo de um faroeste. Em uma entrevista gravada para um documentário de 2005, Henzell comentou sobre a noite de estreia: “Não há impacto maior que se possa ter do que mostrar uma sociedade a si mesma na tela pela primeira vez”.2

2 Um trecho da entrevista pode ser conferido aqui: www.youtube.com/ watch?v=nZjHFWwaa1w. 8

Apesar das dificuldades iniciais com a distribuição internacional do filme (muitos dos acordos sendo negociados pelo próprio Henzell), Balada sangrenta tornou-se um sucesso cult. A trilha sonora do filme foi um sucesso ainda maior e colaborou com a popularização do reggae mundo afora, tendo sido lançada um ano antes do emblemático álbum de Bob Marley & the Wailers, Catch a Fire (1973). Logo após a estreia de Balada sangrenta, Henzell iniciou as filmagens da segunda parte da trilogia, Não há lugar como nosso lar (No Place Like Home, 2006). Aos olhos do cineasta, o novo filme teria uma abrangência maior de público e daria um passo adiante em seu método de ficcionalização da realidade, utilizando como referência os trabalhos de cineastas como John Cassavetes, Ken Loach e Gillo Pontecorvo. Nesse processo, uma história mostrando a realidade jamaicana surgiria a partir de interações entre atores estrangeiros e locais interpretando versões de si mesmos, combinando cenas espontâneas com trechos roteirizados para avançar a história.

Para a realização do filme, Henzell contratou uma equipe real de cinema publicitário de Nova York para rodar um comercial de xampu na cidade portuária de Ocho Rios. Enquanto a equipe rodava o comercial em 35 mm, o cineasta rodava seu filme em Super 16. Henzell tinha a visão clara de que o filme tomaria sua forma ao longo do processo, e que apenas a imprevisibilidade poderia trazer à tela a naturalidade que ele almejava. Não há lugar como nosso lar começa com a equipe em ação. Horas de trabalho passam, e a mesma cena é repetida vez após vez para expressar a satisfação imensurável que o xampu provoca. O paraíso se torna um inferno quando todas as atenções estão voltadas para uma repetição enfadonha. Quando P.J. Soles, a modelo, cantora e atriz aspirante (que faria sucesso subsequentemente em filmes como Carrie, a estranha e Halloween – A noite do terror), desaparece do set de filmagem, cabe à produtora Susan (Susan O’Meara) encontrá-la. Susan pede ajuda a Carl (Carl Bradshaw),


o motorista local contratado pela equipe, que planeja desenvolver turisticamente uma região ainda intocada no oeste da ilha, chamada Negril, com a participação de seus moradores. Os dois embarcam em uma viagem pela ilha, e, assim, Não há lugar como nosso lar adota um tom de road movie, apoiado pelo elenco local. A jornada é cheia de encontros memoráveis com pequenos empreendedores, como a fabricante de um condicionador em barras que comercializa seu produto no boca a boca; um agricultor que retorna ao campo após ter vivido por anos na capital, para se curar de um câncer através da natureza; e jovens estrangeiros que trocaram os sapatos pelos pés na areia. Através dos olhos e ouvidos de Susan, o espectador é convidado a refletir sobre os valores materiais e imateriais da vida. Logo no início da viagem, presenciamos uma conversa entre a nova-iorquina e o jamaicano, em que ela conta como seu marido não consegue parar de trabalhar, pois isso representaria a perda de clientes – ele é extremamente bem-sucedido e ama o 9

que faz, e isso lhe custa apenas todos os dias da semana e uma queimação permanente no estômago. Intrigado, Carl conclui: ele ganha um saco de dinheiro que não pode gastar. Carl Bradshaw foi um dos poucos atores profissionais no elenco do filme. Ele havia interpretado um vendedor de drogas rival do personagem de Jimmy Cliff em Balada sangrenta e, dessa vez, interage com turistas e moradores locais na busca pela atriz sumida, enquanto faz seus próprios pequenos negócios. É por meio de Carl que compreendemos as dificuldades que a população passa para conseguir sobreviver de forma autônoma. Ouvimos relatos de batidas policiais aterrorizando os locais e os turistas, a mando de poderosos que buscam controlar a região. Entendemos que há uma guerra entre aqueles que estão tentando ganhar a vida sem se tornarem escravos do “desenvolvimento” e o poder sem rosto do dinheiro. Em determinado momento, junta-se a Susan e Carl o pescador rastafári Countryman – uma figura já conhecida internacionalmente ao aparecer em 1973

como representante de sua religião e cultura em uma longa matéria da revista Rolling Stone chamada “The Wild Side of Paradise” [O lado selvagem do paraíso].3 Ele pergunta a Susan: “Por que não tem filhos? Com que brinca em casa? Não se sente sozinha? Eu me sentiria tão sozinho.” E, assim, ao som do reggae, crianças dançando, os animais, a brisa, a natureza ao redor, nos deliciamos ao ver Susan render-se à experiência. Essa sensação de prazer dura até sermos novamente usurpados dela pela ameaça do “progresso” – que se impõe cada vez mais conforme o grupo se aproxima de Kingston, uma cidade ao mesmo tempo em construção e em ruínas. Henzell teve que interromper as filmagens algumas vezes, por falta de orçamento, estendendo a produção de Não há lugar como nosso lar por oito anos. 3 O texto pode ser encontrado aqui em inglês: www.rollingstone.com/music/music-news/ the-wild-side-of-paradise-161509/. O nome de Countryman aparece como “Cunchyman” no texto.


Durante esse período, o cineasta enviou o material bruto do filme para um laboratório em Nova York para ser armazenado. Em 1981, Henzell recebeu a notícia de que o laboratório havia falido e, ao viajar para Nova York para recuperar seu material, descobriu que o havia perdido. Financeiramente quebrado e emocionalmente devastado, ele resolveu deixar o filme para trás. Ele entrou em reclusão e passou a dedicar-se à escrita de romances, a começar com a terceira parte da trilogia, Power Game, publicado originalmente em 1982. O livro é um thriller social que retrata interações entre diversos personagens – políticos, banqueiros, membros da grande mídia, traficantes de maconha – que representam cruzamentos da sociedade jamaicana. Enquanto Balada sangrenta trata da vida de um personagem tão pobre que acaba se tornando vítima da sociedade, e Não há lugar como nosso lar, dos desafios enfrentados por uma classe emergente, Power Game aborda os conflitos entre ricos e poderosos e seu envolvimento nas dinâmicas de poder na 10

Jamaica. E, após sua publicação, Henzell acreditou ter concluído seu trabalho com a trilogia. Nas décadas seguintes, ele continuou a escrever romances e peças de teatro, trabalhou na reforma do sistema prisional jamaicano, e a família Henzell – tendo à frente a esposa Sally, que atuou como diretora de arte nos dois filmes –, abriu uma pousada e restaurante, no sul da ilha, chamada Jakes.4 4 jakeshotel.com/.

Em 2004, eles receberam a visita de David Garonzik, que então trabalhava como projecionista na produtora e distribuidora norte-americana Miramax. Garonzik havia recentemente assistido a Balada sangrenta e se apaixonado pelo filme. Ele queria não apenas conhecer a Jamaica, mas também entender por que Henzell não havia realizado um segundo filme. Garonzik ficou surpreso ao saber a história de Não há lugar como nosso lar,


e mais surpreso ainda quando, algumas semanas depois, recebeu de Henzell pelo correio um VHS degradado de uma montagem de 50 minutos do filme – o único material que havia sobrado. Garonzik embarcou em uma missão para encontrar o material perdido por meio de seus contatos na indústria de cinema. Afinal, ele e Justine Henzell (filha de Sally e Perry, e também cineasta5) encontraram 450 latas de película do filme em um galpão em Nova Jersey. Eles se dedicaram à restauração do material, severamente danificado, recebendo o apoio de algumas casas de pós-produção que fizeram seus serviços gratuitamente. Alguns atores, como Susan O’Meara, foram chamados para regravar seus diálogos em estúdio. E Henzell, que se animou com a possibilidade de concluir a obra, passou a trabalhar entre a edição nos Estados Unidos e a produção de novas imagens, retomando as filmagens na Jamaica pela primeira vez em 25 anos. 5 www.reeljamaica.com/.

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Um corte bruto de Não há lugar como nosso lar foi mostrado em uma sessão especial em setembro de 2006 no Festival Internacional de Cinema de Toronto, com a presença de Henzell. A estreia jamaicana foi realizada no início de dezembro daquele ano, no Flashpoint Film Festival. Henzell morreu às vésperas da sessão, após viver seis anos com câncer, e foi homenageado por uma plateia lotada. Levou mais de uma década para a família de Henzell e os produtores de Não há lugar como nosso lar conseguirem lançar o filme comercialmente, devido em parte às autorizações dos direitos autorais das 17 músicas que aparecem no filme (de artistas pop como Neil Diamond e Carly Simon junto a astros do reggae). A primeira entidade a dar sua permissão foi a família de Bob Marley, que liberou “Coming in From the Cold” e “Stir It Up” por valores coerentes com a realidade da produção. Após saber disso, outros detentores seguiram o exemplo, e o segundo e último filme de Perry Henzell finalmente ganhou distribuição em 2019. Não há lugar como nosso lar foi lançado tanto em salas quanto em home video,

inclusive em uma edição de luxo (lançada pela distribuidora norte-americana Shout! Factory) com uma nova remasterização de Balada sangrenta. O mês de junho de 2022 marca os 50 anos da estreia mundial do primeiro filme de Henzell. Entre os gestos comemorativos realizados, há uma exposição de obras de arte de mais de 30 artistas jamaicanos contemporâneos inspiradas em Balada sangrenta, organizada pela família Henzell e montada em sua casa, onde cenas do filme foram rodadas.6 A Sessão Mutual Films de julho de 2022 é dedicada à memória de Arnaldo Andrade (1950-2022), professor e pesquisador de engenharia de materiais no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, na Universidade de São Paulo, e um grande fã de Balada sangrenta. 6 Informação sobre a exposição, que segue em cartaz até o dia 28 de agosto de 2022 na Jamaica, pode ser encontrada aqui: www.facebook.com/THTC45 posts/656322385791844.


Gyuri, um filme para Claudia Andujar Por Mariana Lacerda

“Uma grande construção. Uma espécie de galeão, que desafia as leis físicas, se alonga até perder-se entre as árvores e na úmida pele da montanha [...]. Não, melhor, uma baleia extraviada que, empenhada em nadar contra a corrente e morro acima, descansa agora entre árvores e gente. [...] Um cetáceo irreverente, como parte de um quebra-cabeças.” Eis algumas palavras que nos chegaram diretamente de Chiapas, numa carta assinada pelo subcomandante insurgente Galeano (antes Marcos). Era um convite, e que tanto nos honrou, ao filme Gyuri, para que participasse, naquele novembro de 2019, do festival de cinema Uma baleia na montanha do sudoeste mexicano, realizado em território autônomo das terras indígenas zapatistas. Ali, Galeano descrevia a enorme baleia que então abrigou o festival. Ainda na carta-convite, ele acrescenta: “O cinema como algo muito, muito mais que um filme”. Compondo saberes, reavivando memórias, abrindo espaços de escutas e também de silêncios, o cinema pode ser uma linguagem para atualizar e multiplicar 12

alianças de luta. Com aliados encantados de tempos outros, com aliados indígenas e não indígenas, pensamos que, por meio de Gyuri, práticas de cuidado pudessem se consolidar e transformar algo. “O cinema faz comunidade”, ouvimos do sub Galeano, ele então sentado na extensa mesa da comandância geral do movimento zapatista, formada por três crianças, três mulheres e três homens. Galeano falava de um cinema que poderia

seguir na contramão da privatização do entretenimento via celulares, notebooks, tv. Falava do gesto visto ali de se encostar ombros com ombros e, no escuro e por uma ou duas horas, se deixar seguir por momentos de viagem coletiva, sonho, fantasia, fabulação. Quais são os caminhos misteriosos pelos quais um filme começa? Quais são os caminhos pelos quais um poema, uma música, um texto começam? Quais são


os nossos começos na arte? O cinema faz comunidade ao produzir encontros que desenham percursos de resistência. Gyuri foi finalizado entre 2018 e 2019, e estreou no Brasil em 2020, em meio à pandemia da covid-19, no Festival É Tudo Verdade. Agora, o filme chega às salas de cinema em um momento em que comemoramos os 30 anos da homologação da demarcação da Terra Indígena Yanomami, um dos legados de Claudia Andujar, a quem este filme é dedicado. Claudia Andujar, aos 13 anos, vinda de uma família judia, atravessou a guerra na Hungria, passou quase um mês em um trem, vagueando entre bombas, viu-se presa sozinha em uma Viena tomada pelos nazistas, em 1944. Com sua mãe, conseguiu chegar aos Estados Unidos e, por fim, refugiou-se no Brasil. Aqui, acolheu e foi acolhida pelos povos originários da floresta, os Yanomami, onde (com quem) passou a dividir sua existência. Claudia Andujar atravessou ainda a ditadura militar, foi perseguida pelos generais. Uma pesquisa pelo seu nome nos chamados “arquivos do período de 13

exceção”, no Arquivo Nacional, dá a ver o quão seus passos foram observados, em tudo o que fazia. Aos olhos daquele regime, Claudia cometia uma contravenção ao lutar pela salvaguarda dos povos indígenas. Na década de 1970, ela foi expulsa da sua convivência cuidadosa e zelosa entre os seus. Afinal, aos olhos dos militares, suas atividades eram “desnecessárias aos interesses nacionais”, diz um dos documentos do então Conselho de Segurança Nacional. O que exatamente era desnecessário “aos interesses nacionais”? Que a forma de ser e de viver dos indígenas fossem conhecidas e reconhecidas, em seus direitos de vida. O que Claudia fazia e faz era dar a ver (e a viver) ao mundo a vida que ali existia e existe. Ela trabalhava tal qual, embora ao seu modo, jeito e recursos, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Don Phillips quando foram brutalmente assassinados no vale do Javari, no início de junho de 2022. Em um texto intitulado “O que resta?”, o pensador italiano Giorgio Agamben conta que: “Ao entrevistador que lhe

perguntava ‘o que resta, para a senhora, da Alemanha em que nasceu e cresceu?’, Hannah Arendt respondeu: ‘Resta a língua’. Mas o que é uma língua como resto, uma língua que sobrevive ao mundo do qual era expressão? E o que nos resta quando nos resta apenas a língua? Uma língua que parece não ter mais nada a dizer e que, todavia, obstinadamente resiste e da qual não podemos nos separar? Gostaria de responder: é a poesia.” “Constato que me sinto à vontade neste mundo Yanomami. Não me sinto mais uma estranha. Este mundo ajuda a me compreender e a aceitar o outro mundo em que me criei. Os dois mundos estão se juntando, num grande abraço. É, para mim, um mundo só”, dizia Andujar em 1975, em um registro publicado tempos depois no catálogo da exposição Claudia Andujar: a luta Yanomami, inaugurada em dezembro de 2018 no Instituto Moreira Salles, em São Paulo. Gyuri é um filme que tenta seguir os passos de Claudia no seu desejo de coexistência de mundos. Um documentário com e para Claudia Andujar, ela que


desenhou uma linha geopolítica improvável, que nasce na então pequena e destruída cidade de Nagyvárad em guerra, na Hungria, e alcança florestas amazônicas vivas, pulsantes. Eis nossa pequena aposta, o cinema enquanto meio e fim, que faz dilatar o tempo das relações, que promove os encontros e as aproximações entre territórios, entre os povos das cidades e aqueles da floresta. Mariana Lacerda é documentarista

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Em cartaz

Carro rei

Renata Pinheiro | Brasil | 2021, 99’, DCP (Olhar Distribuição) O jovem Uno tem um dom fantástico: ele fala com carros. Quando uma lei proíbe a circulação de carros velhos, Uno e seu tio armam um plano para transformar o velho táxi da família em “novo”. O automóvel agora pode falar, ouvir e até se apaixonar. “Eu sempre tive uma certa dificuldade com humanos, e sempre me refugiei nos objetos”, comenta Renata Pinheiro em entrevista à revista Continente. “Gostava muito de estudar a semiologia deles e tinha uma obsessão de ver o rosto humano em muitas coisas. É um fenômeno chamado de pareidolia. Eu também carrego algumas coisas que foram muito usadas na época em que eu fazia videoarte, como o Guenzo [curta-metragem de sua autoria], que é com um cachorrinho de pilha vagando pela cidade, e o do barquinho de papel, que eu uso para mostrar a cidade, no caso Paris, em que ninguém se deixava ser filmado, mas eu o utilizava para contar a vida dos imigrantes. 15

Comecei a perceber que os carros estavam cada vez mais com esse olho humano. A indústria tenta humanizar suas máquinas até torná-las mais atrativas. E foi com esses pensamentos que eu estava indo a uma praia no Recife e fiquei meio irritada com os carros nas calçadas, impedindo a passagem das pessoas. Eu comentei com Serginho [cineasta, roteirista e parceiro de Renata em vários dos seus projetos] que eu queria fazer um filme em que os carros eram os reis da cidade, uma vez que isso já acontecia. E aí acendeu que teria de ser um filme sem medo, sem ter que ser Hollywood, Walt Disney, orçamento gigantesco, para dar vida aos carros.” Carro rei será exibido junto com o curta-metragem Missão Perséfone, de Karim Aïnouz, produzido para o programa IMS Convida. [Íntegra da entrevista disponível em: bit.ly/imscarrorei] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Gyuri

Mariana Lacerda | Brasil | 2020, 88’, DCP (Descoloniza Filmes) Uma linha geopolítica improvável entre a pequena aldeia húngara de Nagyvárad e a Terra Indígena Yanomami, na Amazônia brasileira. Judia, sobrevivente da Segunda Guerra, Claudia Andujar exilou-se no Brasil e dedicou a vida à salvaguarda dos povos Yanomami. Gyuri será exibido junto com o curta-metragem Ladeira abaixo, de Musa Michelle Mattiuzzi, produzido para o programa IMS Convida. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).


Ilusões perdidas

Illusions perdues Xavier Giannoli | França, Bélgica | 2021, 149’, DCP (California Filmes) Lucien é um jovem poeta desconhecido da França do século XIX. Ele larga a gráfica de sua província natal para tentar a sorte em Paris. Jogado à própria sorte, o rapaz descobre os bastidores de um mundo condenado à lei do lucro e das falsidades. Tudo se compra e se vende, da literatura à imprensa, da política aos sentimentos, das reputações às almas. “Descobri o romance quando tinha vinte e poucos anos, mais ou menos a idade de Rubempré”, comenta o diretor Giannoli sobre o romance homônimo de Honoré de Balzac. “Comecei então a acumular notas, referências visuais, estudos de críticos marxistas ou, ao contrário, de estetas reacionários, porque críticos de todas as vertentes queriam recuperar Balzac. E, desde que me lembro, sempre convivi com a ideia de um dia fazer uma adaptação cinematográfica de Ilusões.” 16

“Depois de explorar o livro e sua história por anos, precisei me libertar dele, focar no que o texto me inspirava como sensações, como sentimentos, um pouco como o que a música pode inspirar. E foi ouvindo muita música que senti o romance virando cinema. Foi a música que me trouxe de volta ao que se busca além das palavras numa obra cinematográfica, principalmente quando se trata de uma adaptação literária.” “Algumas peças se impuseram por acaso ao meu gosto. Encontrei nisso uma forma original de abordar o trabalho da adaptação, como por exemplo esta peça de Vivaldi ‘L’Inquiétudine’, que ouvimos na abertura do filme. É uma música barroca do século XVIII reorquestrada em estilo ‘romântico’ por Karajan. Diferentes épocas descobrem assim uma harmonia secreta, como a nossa com Balzac. Max Richter foi ainda mais longe ao ‘reescrever’ livremente as Quatro estações de Vivaldi, como que para expressar seu espírito e modernidade sem trair a obra. Também, e sobretudo, ouvi o concerto de Bach para quatro pianos e orquestra, sua incrível estrutura ‘coral’, em que os temas parecem dialogar de um piano para outro. Estava pensando em todos esses personagens, na harmonia que deveria ser encontrada na adaptação para unir todas essas linhas de vida, todas essas vozes, todos esses sons, o trágico e o cômico.” [Colagem de trechos de entrevista de Xavier Giannoli disponibilizada no material de imprensa do filme] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

O acontecimento

L’Événement Audrey Diwan | França | 2021, 100’, DCP (Zeta Filmes) A história de Anne, uma jovem que decide abortar para terminar seus estudos e escapar das restrições sociais de uma família operária. Essa história simples segue o itinerário de uma mulher que decide ir contra a lei. Anne tem pouco tempo pela frente. Seus exames estão chegando, e sua barriga está crescendo... Inspirada no romance autobiográfico de mesmo nome, escrito por Annie Ernaux, a diretora Audrey Diwan comenta: “Conheço o trabalho de Annie Ernaux há muito tempo: o poder de seu pensamento e a pureza de seu estilo. Mas cheguei tarde para O acontecimento. Fiquei impressionada com a dicotomia entre a fórmula banal: aborto clandestino e a realidade concreta do procedimento. Meus primeiros pensamentos foram para o corpo dessa jovem mulher, o que deve ter sofrido desde o momento em que lhe disseram que estava grávida. E o dilema que ela enfrentava. Arriscar a vida


e abortar ou ter o bebê e sacrificar seu futuro? Corpo ou mente? Eu não gostaria de escolher. Todas aquelas perguntas foram levantadas concretamente no texto inicial. Tentei traduzi-las para imagens: um processo carnal que me permitiria transformar a narrativa em uma experiência física. Em uma viagem, que espero ser possível, além das considerações de período ou gênero.” O acontecimento será exibido junto com o curta-metragem Fogo baixo, alto astral, de Helena Ignez, produzido para o programa IMS Convida. [Trecho de entrevista extraído do material de divulgação do filme, disponível em: bit.ly/imsacontecimento]

Os primeiros soldados

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Em 1983, o jovem biólogo brasileiro Suzano tenta sobreviver à primeira onda da epidemia de HIV/ aids. O desespero diante da falta de informação e do futuro incerto aproxima Suzano da transexual Rose e do videomaker Humberto, que também vivem com HIV. “Já vimos muitos filmes sobre aids, e 100% deles contam a narrativa europeia e norte-americana da crise”, declara o diretor em entrevista ao portal Papo de Cinema. “Temos uma imagem pronta do que é um filme de aids: ele se passa basicamente em hospitais, com uma rede de apoio heterossexual em torno das vítimas gays. Em casos recentes, de Hollywood, o caso gira em torno do personagem heterossexual, e os personagens LGBTQ ficam à margem. Alguns valores no filme me são muito caros. A gente entende a aids como uma doença que interrompeu muitos sonhos, mas nunca temos acesso a que sonhos são esses. Queria que os três personagens esti-

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Rodrigo de Oliveira | Brasil | 2022, 107’, DCP (Olhar Distribuição)

vessem num dos dias mais felizes do mundo, no Ano Novo, quando se tem grande crença no futuro, além da fé, da esperança.” “Desde o começo, não queria que tivesse nenhuma cena de transmissão da aids no filme. Essas cenas costumam ser muito culpabilizantes, quando se diz que tal personagem ‘pegou’… Mesmo assim, as transmissões de afeto e de conhecimento são fundamentais para esses personagens. A boate virou o espaço de transmissão de conhecimento, primeiro, pelo Humberto filmando todo mundo, registrando aqueles corpos inéditos no audiovisual da época. Eram os primeiros registros VHS. Na segunda festa, existe a transmissão de conhecimento, quando uma pessoa isolada diz: ‘Comunidade, isso pode acontecer com vocês. Tomem cuidado.’ A rede de afeto se espalha pela irmã, pelo sobrinho. Queria um filme sem nenhum personagem heterossexual, ou que isso não fique evidente [...]. A homofobia está sempre fora do quadro.” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/imssoldados] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).


IMS Convida

Seguindo todos os protocolos

Fábio Leal | Brasil | 2021, 74’, DCP (Vitrine Filmes) “Olha/ sei que faz três anos que a gente não se vê/ mas/ tu topa transar seguindo TODOS os protocolos?” Entre antidepressivos, videochamadas, lives do Atila Iamarino, garrafas de álcool em gel, memes e óleos essenciais, Francisco tenta resistir a meses de isolamento social em seu apartamento. Em algum lugar entre prevenção e desejo, ele tenta viabilizar um encontro. Fábio Leal entrega aqui uma fábula ao mesmo tempo terna e divertida sobre os efeitos psíquicos, econômicos e sexuais da pandemia. Seguindo todos os protocolos será exibido junto com o curta-metragem Trópico de Capricórnio, de Juliana Antunes, produzido para o programa IMS Convida. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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Lançado pelo Instituto Moreira Salles em abril de 2020 como resposta aos danos causados na produção das artes pela pandemia, o Programa Convida comissionou mais de 150 projetos de artistas e de coletivos, apresentados no site e nas redes sociais do IMS. Nesta reabertura das salas de cinema do IMS Rio e IMS Paulista, cada um dos filmes em cartaz será acompanhado por um curta-metragem produzido no âmbito do programa. Seja por aproximação, contraste ou complementaridade, convidamos os filmes a conversar. Todas as obras produzidas estão disponíveis na página ims.com.br/convida.

Ladeira abaixo

Musa Michelle Mattiuzzi | Brasil | 2020, 7’, DCP (Acervo IMS) Partindo de reflexões sobre os efeitos da pandemia, Mattiuzzi reativa a memória do performar em espaços públicos. Para esse ato, a interlocução espacial é a arquitetura do colonialismo, mais precisamente o monumento modernista de Lina Bo Bardi, um jardim de inverno construído nos anos 1980, na ladeira da Misericórdia, em Salvador, que se tornou um cartão-postal em ruínas. É a expressão do desejo branco pela revitalização das ruínas do centro histórico preto. Ladeira abaixo será exibido junto ao longa-metragem Gyuri, dirigido por Mariana Lacerda, em cartaz no Cinema do IMS.


Trópico de Capricórnio

Juliana Antunes | Brasil | 2020, 13’, DCP (Acervo IMS) A retomada dos vídeos familiares é a retomada de um caminho. Nesse filme em primeira pessoa, Juliana Antunes revê, reenquadra e remixa os descompassos entre a norma e o desejo. Trópico de Capricórnio será exibido junto ao longa-metragem Seguindo todos os protocolos, dirigido por Fábio Leal, em cartaz no Cinema do IMS.

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Fogo baixo, alto astral

Helena Ignez | Brasil | 2020, 5’, DCP (Acervo IMS) Em seu 34º dia de isolamento social durante a crise da covid-19 de 2020, Helena Ignez ensaia uma tentativa de resistir e existir. Fogo baixo, alto astral será exibido junto ao longa-metragem O acontecimento, dirigido por Audrey Diwan, em cartaz no Cinema do IMS.

Missão Perséfone

Karim Aïnouz | Brasil, Alemanha | 2020, 10’, DCP (Acervo IMS) No ano de 3020, a Humanidade completa 1000 anos em um corpo celeste localizado na constelação austral da Baleia, conhecido como Superterra por seus habitantes. Missão Perséfone será exibido junto ao longa-metragem Carro rei, dirigido por Renata Pinheiro, em cartaz no Cinema do IMS.


Festival Varilux de Cinema Francês

Sessão Mutual Films

O Festival Varilux de Cinema Francês retorna ao primeiro semestre do ano trazendo sucessos recentes e inéditos da filmografia francesa. Sua 13ª edição conta com todos os filmes estreando exclusivamente nos cinemas de todo o país. Este ano, estão em exibição 17 filmes inéditos e recentes e duas produções já conhecidas: O Papai Noel é um picareta, de Jean-Marie Poiré, que celebra a cinematografia do país, e As aventuras de Molière, de Laurent Tirard e Ariane Mnouchkine, em homenagem aos 400 anos de nascimento de Molière, um dos grandes nomes da dramaturgia francesa. A programação completa e mais informações podem ser encontradas em: variluxcinefrances. com/2022/.

Jogos de poder - A Jamaica de Perry Henzell

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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Em 1972, o cineasta jamaicano Perry Henzell lançou seu primeiro longa-metragem, Balada sangrenta, estrelando o músico de reggae Jimmy Cliff – que, na época, vivia em Londres e já era conhecido por hits como “Vietnam”, numa versão atualizada de um bandido jamaicano real, que apavorou e causou admiração nos anos 1940. Henzell imediatamente mergulhou na produção de seu segundo filme, Não há lugar como nosso lar, dessa vez retratando um grupo de nova-iorquinos que viajam para a Jamaica para rodar um comercial de xampu. Nos dois filmes, o diretor desenvolveu um método de realismo cinematográfico que buscou registrar seu país e seu povo de forma direta, em um contexto de narrativas ficcionais. Enquanto Balada sangrenta alcançou enorme sucesso cult, Não há lugar como nosso lar passou por grandes dificuldades de produção, e os negativos foram perdidos antes da conclusão do filme. Em meados dos anos 2000, esse material foi encontrado e restaurado, e o filme, finalizado e lançado no Festival Internacional de Cinema de Toronto, alguns meses antes da morte do cineasta. A Sessão Mutual Films de julho tem o prazer de apresentar a filmografia completa de Perry Henzell, com a estreia brasileira de uma versão remasterizada de Balada sangrenta – um filme que completa 50 anos em 2022 – e a versão final de Não há lugar como nosso lar, lançado comercialmente em 2019, quase meio século após suas filmagens iniciais. A Sessão Mutual Films tem curadoria e produção de Aaron Cutler e Mariana Shellard, que apresentarão as exibições do dia 28 de julho. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Balada sangrenta

The Harder They Come Perry Henzell | Jamaica | 1972, 103’, DCP (Shout! Factory) Ivanhoe Martin (interpretado pelo músico Jimmy Cliff em sua estreia cinematográfica) é um jovem jamaicano que viaja do interior para a capital, Kingston, levando à sua mãe a notícia da morte da avó. Ele não tem interesse em voltar para o campo e está determinado a seguir carreira no meio musical, porém logo se depara com um sistema vampiresco de exploração de músicos em início de carreira, no qual uma única gravadora monopoliza o mercado e controla o que toca nas rádios. Sem apoio, nem dinheiro, Ivanhoe é captado pelo tráfico de drogas, e logo percebe que continua a ser explorado. Inconformado, reage a tudo e a todos e embarca em uma celebrada perseguição policial, que o projeta como símbolo da resistência popular à opressão da elite econômica e do Estado. Sua música se torna um enorme sucesso, e sua vida, uma batalha mortal.


Balada sangrenta foi inspirado na história real do homônimo lendário criminoso jamaicano (popularmente chamado de Rhyging), que apavorou Kingston em 1948, quando a Jamaica ainda era uma colônia britânica. O cineasta Perry Henzell – que embarcou em seu primeiro longa-metragem após uma carreira na publicidade – vislumbrou a história de um personagem folclórico para tratar dos problemas sociais de seu país e registrar a vida local. Ele criou um roteiro com o então renomado dramaturgo jamaicano Trevor D. Rhone, mas também deixou muito espaço para a realidade se manifestar diante da câmera. A obra de baixo orçamento foi filmada em Super 16 mm e ampliada para 35 mm para sua distribuição comercial. Ela se tornou um clássico em diversos países, apoiada em boa parte por uma trilha sonora eletrizante, que contou com astros do reggae, como Toots & the Maytals, Desmond Dekker, The Slickers e o próprio Cliff. Em 2019, a distribuidora norte-americana Shout! Factory fez uma nova remasterização dos elementos originais do filme em 4K. Esta cópia vibrante de Balada sangrenta terá sua estreia brasileira no IMS, 50 anos após a estreia mundial do filme no Carib Cinema, em Kingston, em junho de 1972, quando foi celebrado por um público jamaicano como o primeiro longa-metragem nacional.

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Não há lugar como nosso lar

No Place Like Home Perry Henzell | Jamaica, EUA | 2006, 89’, DCP (Shout! Factory) Uma equipe norte-americana de cinema publicitário roda um comercial de xampu nas praias paradisíacas da Jamaica. Quando P.J. (interpretada por P.J. Soles), a atriz do comercial, desaparece, Susan (Susan O’Meara), a produtora, embarca em uma jornada pelo país acompanhada por Carl (Carl Bradshaw), o motorista jamaicano da equipe. Susan entra em contato com um povo e uma realidade antagônica àquela vendida aos turistas. Ela se depara com a brutalidade da exploração do homem e da natureza, e percebe que seu país e modo de vida são os motores dessa exploração. Carl, como muitos jamaicanos, batalha para se libertar de uma condição de perpétuo abuso laboral, traçando naturalmente para si o percurso de um empreendedor local. No caminho, os dois encontram rastafáris que vivem uma vida simples, porém politicamente engajada, entre eles Countryman (interpretando ele mesmo), um pes-

cador com o dom da palavra. O jogo de sedução entre Susan e Carl se desenvolve de maneira alegre e melancólica, sendo também uma metáfora para a estrutura socioeconômica ao redor. Perry Henzell idealizou Não há lugar como nosso lar como a segunda parte de uma trilogia, que começou com Balada Sangrenta e discute as complexas relações de poder entre as realidades urbanas e rurais da Jamaica. Ele filmou a produção de baixo orçamento ao longo de oito anos, entre 1973 e 1981, em locações reais e com diálogos frequentemente improvisados pelo elenco (que também conta com Grace Jones em seu primeiro papel no cinema). Henzell enviou os negativos para um laboratório em Nova York, que faliu e sumiu com seu material. Foi apenas no início dos anos 2000 que as latas de negativo e cópias de trabalho foram encontradas em mau estado de preservação. Com a ajuda de uma equipe engajada, Henzell começou um processo de restauração e montagem do material e retomou as filmagens de algumas sequências, concluindo o filme depois de mais de 30 anos. A versão de Não há lugar como nosso lar que estreou em 2006 foi um corte bruto, que passou em festivais e sessões especiais. O filme só ganhou distribuição comercial em 2019, após seus produtores e a família de Henzell conseguirem autorização pelos direitos autorais da trilha sonora (que conta com canções de Bob Marley, John Denver, Etta James, Toots & the Maytals e Neil Diamond). O filme terá sua estreia brasileira no IMS.


Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho

Programadora de cinema Marcia Vaz

Programador adjunto de cinema Thiago Gallego Projeção Adriano Brito e Edmar Santos Legendagem eletrônica Pilha Tradução Revista de Cinema IMS

Produção de textos e edição Thiago Gallego e Marcia Vaz Diagramação Marcela Souza e Taiane Brito Revisão Flávio Cintra do Amaral

Os filmes de julho

O programa do mês tem o apoio do Festival Varilux de Cinema Francês, da Mutual Films e das distribuidoras California Filmes, Descoloniza, Embaúba, Olhar Distribuição, Vitrine Filmes, Shout! Factory, Zeta Filmes e do Espaço Itaú de Cinema. E dedica agradecimentos a Ashley Clark e Liz Helfgott/The Criterion Collection, Juliana Antunes, Helena Ignez, Karim Aïnouz e Musa Michelle Mattiuzzi. Apoio

Meia-entrada

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, pessoas que vivem com HIV e aposentados por invalidez. Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Venda de ingressos

Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares). Devolução de ingressos

Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br. Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com. br e facebook.com/cinemaims. As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea.

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Fogo baixo, alto astral, de Helena Ignez (Brasil | 2020, 5’, DCP)


O acontecimento (L’Événement), de Audrey Diwan (França | 2021, 100’, DCP)

Visitação

Terça a sexta,

das 12h às 18h

Sábado, domingo e

feriados (exceto segundas) das 10h às 18h

Entrada gratuita. Mais informações: ims.com.br

Rua Marquês de São Vicente 476 CEP 22451-040 Gávea – Rio de Janeiro 21 3284 7400 imsrj@ims.com.br

ims.com.br

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