ARTIGO III: Mãos à massa: Práticas educacionais inclusivas no século XXI

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Mãos à massa

Práticas educacionais inclusivas no século XXI

Quando pensamos neste capítulo, diferentes discussões disputaram os holofotes da escrita. Cada uma delas argumentava sobre sua importância na realidade em que vivemos dentro do cenário das práticas educacionais inclusivas. Algumas delas insistiam no brilho do processo histórico da inclusão, que em meio a trancos e barrancos, idas e vindas, prós e contras, em 2015 nos presentearam com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - LBI (lei n° 13.146), fresquinha, acabada de sair do forno, destinada a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos das liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, visando sua inclusão social e cidadania.

Tudo aquilo que “parecia óbvio” virou lei e apesar das lacunas que ainda existem passíveis de mudança e preenchimento uma vez que a prática se inicia, seguimos vivenciando dificuldades ao tentar fazer valer o que na lei está disposto. Teríamos aqui declarações extensas sobre barreiras reais e fictícias encontradas na estrada da inclusão, mesmo pós-LBI, e sentimos informar que uma das barreiras mais presentes em diferentes contextos, dentre eles o ambiente escolar, nosso foco, é a barreira atitudinal. Esta barreira muitas vezes é consciente, outras vezes inconsciente, advinda de um padrão de comportamento e pensamento praticado há séculos que considera como ser inferior e que “dá trabalho” àquele que não lhe é semelhante, que não aprende como a maioria, que não se move como os demais, que não se comporta dentro dos padrões aceitáveis socialmente, àquele que aparentemente é diferente de todos.

Assim, quando o assunto são práticas educacionais inclusivas, não poderíamos conduzir a escrita pelo caminho histórico sem conversarmos sobre a necessidade de, antes de qualquer coisa, quebrar padrões e sairmos da zona de conforto, estabelecida pelas metodologias de ensino praticadas há tempos.

Ainda refletindo sobre este capítulo, as características do século XXI insistiam que, sem contextualizá-las, nada aqui faria sentido, pois os avanços tecnológicos e o leque informacional que a era digital disponibiliza, são os grandes responsáveis pelos avanços na educação, aprendizado e acessibilidade de aprendizes com ou sem deficiência. Neste sentido poderíamos nos dedicar à exposição

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dos recursos que podem ser usados na educação inclusiva e na forma como eles potencializam a vivência e aprendizagem de conteúdos escolares, dentro e fora da escola. Porém, não precisamos ir muito longe para nos depararmos com pessoas e comunidades inteiras que não têm acesso a todos esses avanços. Portanto, nossa escrita não faria sentido às realidades não convergentes com essas características do século XXI e, sinceramente, não esperamos que este texto seja mera utopia.

O que esperamos é que esta leitura ofereça ao leitor primeiramente, a motivação em seguir até o fim, podendo enxergar-se e encontrar-se em cada parágrafo aqui redigido, pois é assim que se inicia o aprendizado: pela aproximação e identificação pessoal com a temática exposta.

Dentro dessas reflexões, tentando não minimizar a potencialidade das discussões acima citadas, resolvemos filtrar o que consideramos fundamental de cada uma delas para significar e embasar a discussão que mais bateu o pé para ganhar o enfoque desta escrita, que é, portanto, o tema principal do nosso título: colocar a mão na massa para produção de práticas educacionais inclusivas do século XXI.

O que queremos dizer com “colocar a mão na massa para produção de práticas educacionais inclusivas” vai além de produzir materiais que favoreçam a inclusão da criança com deficiência no ambiente escolar. Aqui, a magnitude do termo “mão na massa” alcança um patamar onde estão em foco todas as crianças que com ou sem deficiência, têm suas particularidades e são beneficiadas quando expostas às diferentes maneiras de aprender e ensinar. Porque isso é inclusão, isso é respeitar as diferenças e entender que elas estão presentes em todo e qualquer indivíduo que habite este planeta.

Colocar a mão na massa é ultrapassar os limites fictícios impostos pelo livro didático, pela metodologia expositiva, pelo silêncio, pela aprendizagem em via de mão única. É permitir-se a quebra de padrões individuais e coletivos, é permitir a troca e aprendizado com o diferente, é aceitar que, aquilo que “dá trabalho”, beneficia não só um, mas todos os envolvidos direta ou indiretamente no processo. É compreender que a aprendizagem envolve um processo que precisa ser explorado por diferentes vias, até que se torne significativo e funcional na vida do aprendiz.

Portanto, embarque conosco neste universo da aprendizagem com significado, que demanda compreensão e muita mão na massa para acontecer. Para nos ajudar nesta discussão, convidamos um grande avanço que o século XXI traz consigo e que pode ser útil para qualquer pessoa disposta a encarar os desafios e demandas dessa nova realidade: os estudos sobre aprendizagem, que transbordam relevância quando falamos sobre práticas educacionais inclusivas.

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Aprendendo a aprender: mão à massa

Vamos começar com uma informação que faz parte do conhecimento de grande parte da população: o cérebro tem papel significativo no processo de aprendizagem e é através do seu funcionamento que somos capazes de aprender ou de modificar nosso comportamento na medida em que vivemos. Neste sentido, quando pretendemos ensinar alguma coisa a alguém, é importante entendermos minimamente como se dá o processo de aprendizagem a nível cortical, para que nossa metodologia de ensino seja eficiente.

Mas, afinal, o que é aprendizagem? Segundo estudos neurocienctíficos, a aprendizagem se traduz pela formação e consolidação das ligações entre as células nervosas, fruto de modificações químicas e estruturais do sistema nervoso, que exigem energia e tempo para se manifestar. Ou seja, aprender demanda tempo e, como veremos adiante, treino e repetição são etapas fundamentais para que o processo aconteça satisfatoriamente.

Para contextualizar de maneira mais especifica, vamos entender como as informações chegam até o cérebro e depois como elas são processadas por ele. Para tanto, tente responder a seguinte pergunta: como as informações do ambiente externo adentram o nosso organismo? Se você respondeu que é por meio dos nossos sentidos você acertou! É por meio dos nossos sentidos que as informações do ambiente externo adentram nosso organismo e são conduzidas por circuitos específicos. Cada sentido percorre um caminho até chegar a uma região específica do córtex cerebral, responsável por recepcioná-la. Assim que é recepcionada, a informação se torna consciente e então tomamos conhecimento sobre o que está acontecendo no ambiente ao nosso redor. Em seguida, a informação é decodificada e, caso seja necessário, uma ação é guiada como resposta do indivíduo à informação ambiental que recebeu.

Entretanto, não são todos os estímulos ambientais que se tornam conscientes. Caso a atenção esteja focada em algo específico, ruídos ambientais, luzes, aromas e sensações podem passar despercebidos, apesar de darem entrada ao sistema sensorial. Por exemplo, você está prestando atenção a um clipe que está passando na televisão, enquanto isso existe uma luz acesa sob sua cabeça, carros estão passando na rua, você está sentado no sofá recebendo input sensorial do mesmo e das roupas que está vestindo, mas nem por isso você deixa de prestar atenção no clipe, pois ele é o seu foco no momento.

Entretanto nem sempre é assim, pois quando algo foge do comum, como um barulho de buzina, um aroma estranho que você não está acostumado a

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sentir ou uma etiqueta na roupa que fica raspando em seu corpo, o centro de atenção fica dividido e então você perde alguns detalhes do clipe, que antes era seu único foco.

O que explica esta situação são os centros nervosos que regulam o processo da atenção e determinados receptores sensoriais que se adaptam a uma estimulação prolongada, que deixa de ser percebida. Isso porque o cérebro precisa gastar energia apenas com o que é necessário e importante. Quando você segue uma rotina onde o ambiente se mantém sempre o mesmo, seus hábitos são sempre iguais e as informações sempre as mesmas, você entra praticamente em um estado de “robotização”, onde não existe energia sendo gasta para decifrar informações diferentes ou resolver imprevistos que possam aparecer. Mas quando as coisas fogem do hábito é preciso queimar os neurônios e isso pode acontecer em situações cotidianas, como quando vamos visitar a tia que mora próximo à linha do trem e todas as vezes que ele passa nos atentamos ao barulho que ele faz. Não estamos acostumados e nem adaptados a este barulho, portanto todas as vezes que ele acontece, o cérebro o percebe como algo que precisa de atenção, como se fosse uma ameaça, para então percebermos que é apenas o barulho do trem e voltarmos o foco à história que estávamos ouvindo a tia contar. Alias, se a questionamos sobre o barulho, ela provavelmente responderá que já nem escuta mais, pois está acostumada.

Dentro do exposto, quando pensamos em aprendizagem, automaticamente percebemos que não é possível aprender algo sem que a atenção tenha sido voltada àquilo que se deseja aprender e então identificamos uma das bases mais importantes da aprendizagem: a manutenção da atenção. Por mais que distratores possam aparecer enquanto prestamos atenção em alguma coisa, voltar ao foco inicial é importante e fica mais fácil de acontecer quando se trata de um assunto mais interessante e significativo do que o distrator.

Quando unimos este assunto às práticas educacionais inclusivas, podemos considerar que o sistema sensorial de uma criança com deficiência pode não auxiliar por si só este processo de focar atenção e ignorar distratores, portanto determinadas ações são necessárias como reduzir os estímulos visuais distribuídos no ambiente, evitar ruídos exacerbados, dispor de alguns recursos sensoriais individualizados ao aluno para auto-regulação, entre outras estratégias que irão depender da avaliação das necessidades daquela criança específica. Porém, não precisamos ir muito além para identificar, em sala de aula, a quantidade de vezes que o educador precisa retomar com os alunos qual era o foco inicial de sua fala ou da atividade, porque no meio do caminho muitos deles se perderam e pararam de prestar atenção.

O desafio, portanto, é apresentar o conteúdo a ser estudado de maneira que os alunos o reconheçam como importante e que tenha significado para suas

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vidas. Neste aspecto, quando você se dispõe a ensinar alguma coisa a alguém, faça sempre à indagação: qual a importância de aprender isso? E, em seguida, imagine qual é a melhor forma de apresentar o conteúdo, lembrando que, talvez, os alunos não tenham os mesmos objetivos que você quando estão em sala de aula. Talvez a sua resposta para a indagação seja que o conteúdo faz-se importante para o desenvolvimento de habilidades específicas que serão requisitadas no decorrer da vida do aluno, mas para o aluno, a única coisa importante no momento é conseguir fazer um gol no jogo de futebol; ou assistir ao show do seu cantor preferido; ou ler o livro dos dinossauros; ou qualquer outra prioridade que faça parte do universo infantil e adolescente.

Essa transferência de pensamentos se faz primordial para que o educador consiga pensar estratégias que façam ligações do seu conteúdo com o cotidiano do aprendiz, porque é isso que fará sentido e é isso que trará a atenção dos seus alunos. Cada ser é individual e não podemos simplesmente passar por cima do universo de significâncias no qual os aprendizes vivem fora da escola, é preciso trazer este universo para sala de aula e a partir dele introduzir os conteúdos que serão peças-chaves para o desenvolvimento das habilidades requisitadas na vida.

Quando o assunto é interessante, inusitado e que faz parte do contexto, os distratores serão momentâneos e a aprendizagem se tornará o principal foco.

É importante ressaltarmos aqui um detalhe sobre a atenção que pode influenciar o desempenho do aluno, mesmo que a metodologia de ensino esteja adequada e significativa para ele. Este detalhe é o nível de alerta que, quando está baixo, pode ser confundido por falta de interesse, mas é preciso analisar se o aluno não está sonolento devido a noites mal dormidas, ou se tem passado por problemas familiares, se ele tem se sentido bem dentro da sala de aula, se a interação com os colegas tem sido satisfatória, se existe algum desconforto fisiológico ou algum mal estar como gripe, resfriado, virose, dentre outros fatores que possam prejudicar a manutenção da atenção.

Bem, já mencionamos o fator desencadeante da aprendizagem que é a atenção, mas como o conhecimento é retido, como acontece realmente a aprendizagem? Sejam bem vindos então ao universo da memória, onde os conhecimentos adquiridos são guardados para serem resgatados e utilizados quando preciso.

Como atentado anteriormente, a aprendizagem demanda tempo, pois está intimamente ligada às modificações químicas e estruturais do sistema nervoso, que formam e consolidam ligações entre as células nervosas. Desta forma, os circuitos nervosos, constituídos por centenas de neurônios, são os grandes responsáveis pela nossa capacidade de aprendizado, pois processam e transmitem informações uns aos outros por meio do impulso nervoso e essa passagem de informação entre eles é a chamada sinapse. Sem sinapse, não há transmissão de

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informação e consequentemente, a aprendizagem não é bem sucedida. Quando há transmissão de informação, registros vão sendo armazenados em relação às nossas experiências e esses registros, quanto mais acessados, mais irão propiciar aprendizagem.

Retomemos então o processo: inicialmente o ambiente externo estimula nossos sentidos e adentra nosso organismo por meio de informações visuais, táteis, proprioceptivas, auditivas, olfativas, gustativas e vestibulares. No momento em que adentram, as informações são processadas pelos circuitos nervosos que dependem da interação entre os neurônios e a ocorrência das sinapses. Quando as informações que chegam são novas, novas conexões serão estabelecidas, quando as informações são repetidas, mais fortes se tornarão as conexões já estabelecidas e, portanto, a resposta ou o acesso a elas será facilitado.

Isto explica a importância de submetermos as crianças a diferentes estímulos e vivências no decorrer do seu desenvolvimento, uma vez que suas conexões nervosas estão a todo vapor, absorvendo e processando tudo o que o mundo externo oferece como novo e surpreendente. Na medida em que cresce e se desenvolve, novas informações continuam requisitando novas conexões, ao mesmo tempo em que muita informação passa a ser processada de maneira mais rápida, eficiente e complexa. Isto então nos leva a compreender a importância da repetição de experiências para que o aprendizado se consolide. Quanto mais experiências na mesma situação, maior se torna nossa capacidade de compreensão e resposta. Por exemplo, um pianista que diariamente se dedica ao treino, diariamente se torna mais eficiente e ágil em sua execução. Mas vale lembrar que, assim como os músculos hipertrofiam quando usados e atrofiam quando não usados, as conexões nervosas seguem a mesma lógica. Quando nos dedicamos, exploramos e repetimos determinadas vivências e respostas sob o mundo, mais fortes e eficientes elas se tornarão, porém, quando paramos de praticar ou vivenciar algum tipo de informação, as conexões nervosas também se perdem e se tornam menos eficientes, pois o cérebro não tem tempo a perder, ele precisa focar suas energias no que é importante, freqüente e requisitado por nós.

Ao pensarmos no contexto escolar, é fácil notar a presença da repetição e do treino de habilidades e conceitos que fazem parte dos objetivos a serem cumpridos em cada fase do desenvolvimento das crianças e adolescentes. Esses objetivos seguem as teorias e estudos que descrevem os marcos e níveis de desenvolvimento sensório-motor, cognitivo e emocional esperados em cada etapa de vida e são avaliados qualitativamente, no dia a dia, com olhar diferenciado às vivências práticas que o contexto exige, e também quantitativamente, por meio de provas e avaliações. O que gostaríamos de frisar aqui, porém, é a importância da repetição acontecer não simplesmente por meio da informação bruta, mas sim por outras vias sensoriais, em contextos variados, para que as conexões ner-

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vosas de um mesmo assunto possam acontecer dentro de diferentes níveis de complexidade e áreas cerebrais.

Ainda existe em nossa cultura uma separação de contextos na vida da criança, onde a escola não se preocupa em adentrar a vida social e cultural individual de cada aprendiz; as famílias não se preocupam em entender e conhecer os conteúdos que a criança vivencia dentro do ambiente escolar; o lazer não tem lugar dentro de casa e nem dentro da escola e assim, lidamos com seres fragmentados, que não são capazes de generalizar conceitos e conhecimentos porque simplesmente não têm a oportunidade de vivenciar a mesma habilidade nos diferentes contextos que fazem parte de suas vidas.

O que queremos dizer com isso é que, “neurocientificamente” falando, o registro da memória não ocupa um único lugar dentro das conexões nervosas, mas sim é fragmentado em diferentes sistemas e circuitos localizados em diferentes regiões cerebrais. Quando visualizamos uma bola, por exemplo, conseguimos “voar” em nossos pensamentos, uma vez que aquela imagem está conectada a diferentes experiências que já vivenciamos com aquele objeto. A começar, quando visualizamos, áreas cerebrais relacionadas à visão entram em ação, incitando-nos a decodificar o que é aquilo que estamos vendo e então uma cascata de conexões são ativadas, despertando regiões auditivas, para nos lembrar como pronuncia o nome daquilo que vemos, regiões táteis para nos lembrar a textura, peso e espessura e infinitas regiões cerebrais que nos remetem às experiências que já tivemos com aquele objeto, às pessoas que conhecemos a partir daquilo; lugares que visitamos e assim sucessivamente, até que outra coisa nos chame a atenção e todo o processo aconteça novamente.

Desta forma, com diferentes memórias sobre a mesma coisa, qualquer via responsável pela entrada da informação pode nos remeter ao que é necessário lembrar. Por exemplo, escutar o filho do vizinho batendo a bola na parede pode nos remeter às mesmas memórias que seriam ativadas caso visualizássemos ou tocássemos uma bola. O mesmo poderia acontecer se o tema estudado em matemática fosse aplicado ao ir ao supermercado fazer compras com a mãe, ou ao planejar uma receita de bolo; se o tema de história fosse vivenciado no teatro, no cinema ou em um jogo e brincadeira; se o tema de geografia fosse experimentado em uma viagem de final de semana com a família ou ao explorar o próprio bairro, a própria casa. É isso que queremos dizer ao mencionar sobre aprender de diferentes vias, aprender com a memória visual, auditiva, com olfato e gustação, por meio de texto, por figuras, por vídeos, música, piadas, com o corpo, com o equilíbrio, com qualquer via que possa impulsionar as coisas a fazerem sentido, serem interessantes, despertarem o interesse e auxiliarem nas resoluções de problemas cotidianos.

Com toda vivência e repetição significativa, chegamos à consolidação do

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conhecimento, que é indispensável para o armazenamento na memória. Quando falamos em consolidação, falamos em alterações biológicas nas ligações entre os neurônios, que irão se vincular aos registros já existentes, tornando-os cada vez mais permanentes.

Até aqui falamos sobre o processo de aprendizagem que acontece desde a entrada da informação por meio dos nossos sentidos, a produção de novas conexões nervosas e potencialidade das conexões já existentes, a importância da manutenção da atenção e nível de alerta para apreensão do aprendizado e sobre a ativação da memória por meio da vivência prática por diferentes vias sensoriais. Dentro de todos estes conceitos, existe algo que não podemos deixar de mencionar, que inclusive é parte essencial da aprendizagem com significado: o valor emocional das experiências vividas.

É fato que, quando nossas respostas às demandas do mundo são satisfatórias, maior será nossa motivação em repetir as experiências vividas, e isto é fundamental para o processo de aprendizagem, uma vez que a motivação nos leva à repetição, exploração e treino. Quando nossas experiências são carregadas por uma valência emocional negativa ou por uma experiência mal sucedida, somos capazes de frear o processo de aprendizagem uma vez que somos incitados a nos negar vivenciar mais uma vez aquilo que não nos trouxe boas experiências.

Quem nunca se perdeu em um caminho ou cortou a mão ao usar uma faca mais afiada? Faz parte da vivência de qualquer pessoa passar por experiências mal sucedidas que, ao serem vivenciadas novamente, trazem um ar de desconfiança e apreensão até que a execução não se torne satisfatória, e isto está presente no ambiente escolar, assim como em qualquer outro contexto de vida que envolva a necessidade de resolver problemas.

Todo fato que é marcante em nossas vidas no traz maiores recordações sobre o que estávamos fazendo, como fazemos, dentre outros detalhes que ficam retidos na memória. Neste aspecto, quando falamos em ambiente escolar, é fundamental que a preocupação em relação às experiências emocionais da criança e adolescente sejam planejadas de forma a mobilizar emoções positivas, evitando ao máximo que a negatividade esteja presente no ambiente de aprendizado. Momentos de descontração, com uso da arte, música e risadas são importantes para a quebra de tensões ocasionadas por dificuldades e estresse advindos de avaliações ou temáticas mais complexas.

Propomos então uma reflexão a você educador, a você pai ou responsável por uma criança ou adolescente, a você profissional da saúde e reabilitação, que tem sob seus cuidados um ser em desenvolvimento: o que você estabelece como objetivo de sua atuação tem sido explorado de diferentes maneiras, terá resultados conectados aos diferentes contextos de vida do indivíduo e resultará em

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alguma função significativa no que se refere às expectativas que o meio exige do seu aprendiz? Se sua resposta for “sim!”, tem nosso respeito, aliás, podemos combinar uma conversa para trocarmos experiências e vivências. Se sua resposta for “não”, seja bem vindo ao século XXI, onde a “mão na massa” é necessária para se fazer significativa qualquer forma de aprendizado, desviando-se um pouco do foco de que apenas deficientes precisam de uma metodologia diferente de aprendizado. Precisamos começar a considerar qualquer ser como ser integral e individual, que traz consigo conceitos e cultura que devem ser respeitados e usados a favor da aprendizagem seja na escola, em casa, no parque de diversões ou em qualquer outro lugar que possa fazer parte do contexto em que se vive.

Colocar a mão na massa não faz parte de uma responsabilidade individual, mas sim transdisciplinar, onde todos os equipamentos e níveis de responsabilidade social devem estar envolvidos, mas como mencionamos no inicio deste texto, não pretendemos que ele seja apenas utópico, portanto, finalizamos com uma indagação que pode ser analisada e respondida por qualquer um: o que você pode fazer dentro da sua realidade e dentro das suas possibilidades para auxiliar a mudança e tornar o aprendizado significativo àqueles que lhe são de responsabilidade? Por menor que possam ser suas possibilidades, elas já são de extrema importância para o “ponta-pé” inicial.

Poderíamos ficar aqui conversando por páginas e páginas, falando sobre estratégias que potencializam todas estas idéias, mas a reflexão inicial que gostaríamos de incitar foi essa: a inclusão não é para parcelas da população, a inclusão é para todos. Seja um diferencial na sua atuação, saia da zona de conforto, pense estratégias diferenciadas. Seja um executor das práticas educacionais inclusivas do século XXI: mãos à massa para aprendizagem significativa e descubra as transformações que ela é capaz de proporcionar.

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Referências Bibliográficas:

ALVAREZ, Ana; LEMOS, Ivana de Carvalho. Os neurobiomecanismos do aprender: a aplicação de novos conceitos no dia-a-dia escolar e terapêutico. Rev.Psicopedagogia, v.23, n.71, p.181-190, 2006.

COSENZA, Ramon; GUERRA, Leonor. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. São Paulo: Artmed, 2011.

GOLEMAN, Daniel. InteligênciaEmocional:ateoriarevolucionáriaqueredefineo queéserinteligente . Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. OLIVEIRA, Gilberto Gonçalves. Neurociências e os processos educativos: um saber necessário na formação de professores. Educação Unisinos, v. 18, n.1, p.13-24, 2014.

Este é um conteúdo retirado do livro “Realibitação além da clínica, inclusão além da escola - Reflexões da Inclusão Eficiente São Paulo”

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