ARTIGO I - Tecnologia Assistiva e Inclusão Escolar: Adaptações por meio de Tecnologia Móvel

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Tecnologia Assistiva e Inclusão Escolar: Adaptações por meio de Tecnologia Móvel Régis Nepomuceno Peixoto

Atualmente a tecnologia está cada vez mais presente no dia a dia, facilitando diversos aspectos da vida cotidiana como a comunicação, acesso à informação e meios de transporte. A tecnologia facilita a realização de atividades diversas, trazendo comodidade, praticidade e rapidez. A tecnologia pode trabalhar a favor de todos, inclusive de pessoas com deficiência ou que possuem alguma limitação que traga prejuízos ou dificuldades na realização de suas atividades diárias. Estas pessoas podem precisar de meios que possibilitem a sua independência no dia a dia. A Tecnologia Assistiva é fruto da aplicação de recursos tecnológicos em áreas já estabelecidas e diz respeito à pesquisa, fabricação, uso de equipamentos, recursos ou estratégias utilizadas para potencializar as habilidades funcionais das pessoas com deficiência (BRASIL, 2014). Recursos de tecnologia assistiva podem ser utilizados em diversos contextos. Um deles é o contexto educacional, já que atualmente temos um novo paradigma na educação de pessoas com deficiência, a educação inclusiva, que é fundamentada na concepção de direitos humanos e no direito de todos os alunos estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação e para que todos os alunos tenham suas necessidades atendidas (BRASIL, 2001). De acordo com a Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) o atendimento educacional especializado elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem barreiras para a plena participação dos alunos considerando suas necessidades específicas. É comum ouvir relatos de que a escola não permite, ou que o uso desses recursos por determinado aluno poderia gerar tumulto entre os demais em sala de aula. Porém vale lembrar que a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (2015), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (1996) e o Plano Nacional de Educação (2014) asseguram, como direito fundamental, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para atender às necessidades do aluno, incluindo a disponibilização de material didático próprio e de recursos de tecnologia assistiva. A Lei n° 13.146 de 6 de Julho de 2015, destinada a assegurar e promover,

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em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania, ressalta dentre outras coisas, que a educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis de aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. Para possibilitar uma inclusão efetiva de alunos com deficiência e garantir o atendimento de suas necessidades em toda sua diversidade, são necessários recursos de tecnologia assistiva como mobiliário adaptado, adaptadores de lápis, material em tamanho ampliado ou alto contraste, recursos eletrônicos (computadores ou tablets) com softwares específicos ou recursos de voz, rampas de acesso ou elevadores para cadeira de rodas. Um dos conceitos mais discutidos em tecnologia, e muito comum também em educação, é a divergência entre produto e processo, principalmente quando se trata do uso de tecnologia como suporte ou substituição. Sabe-se que muitos locais no mundo vem com o conceito diferente de tecnologia, implantando inclusive universidades sem professores, mas em relação a inclusão e tecnologias educacionais, conhecemos a eficácia na utilização de recursos, que possibilitam o acesso e não substitui o fazer. A importância discussão sobre a temática também percorre na conhecida resistência quanto ao uso da tecnologia por professores, que, em uma grande parcela, acredita que a tecnologia pode ser prejudicial, ou mesmo quer limitar o uso a laboratórios específicos, não usufruindo do enorme potencial dos recursos, como na área de pesquisa que em tempo real o aluno pode colaborar com a aula e até mesmo com mais dados para o professor, desde que este perceba o processo educacional como soma de saberes, e não como o professor detentor de todo conhecimento. De alunos com deficiências intelectuais até mesmo os com superdotação, a utilização de tecnologia informática, como as tecnologias móveis do tablete ou mesmo do smartphones, podem cumprir um papel fundamental na adaptação de conteúdo escolar, desde a sua grade de disciplinas as provas. Estas tão temidas adaptações podem estar mais próximas que os professores pensam, desde que desconstruam os vilões tecnológicos. O grande arsenal de tecnologia de informática, pode contemplar todas as dificuldades que as crianças com deficiência enfrentam ao se deparar com atividades e temáticas que não são acessíveis ao seu modo de compreender e agir nos conteúdos educacionais, porém ter um computador de mesa em sala de aula, além de requerer muito espaço, pode afastar os outros alunos daquele em

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sistema de inclusão. Assim como o notebook, que apesar de ser de mais fácil transferência de locais que o computador de mesa, não tem sua manipulação tão ágil e fácil quanto os tabletes e smartphones. Estes aparelhos, classificados como tecnologia móvel, se popularizaram por todo o mundo, o que facilita muito a utilização destes recursos. Não muito distante, pensar em um recurso em sala de aula parecia impossível, pois esbarrava-se sempre na questão financeira. Hoje, além da maioria das pessoas já estarem habituadas com a tecnologia, a tendência é que os aparelhos sejam levados de casa, o que facilita pelo prévio conhecimento de funcionamento e quebra um grande questionamento da classe educacional, o desconhecimento quanto ao funcionamento das tecnologias. Ao discutir tecnologia, sempre se espera uma grande invenção, apetrechos enormes, sistemas caríssimos, aplicativos lançados ontem, e coisas intocáveis, porém a maioria dos recursos que já vem com os aparelhos móveis dos mais comuns, são desconhecidos. Este ‘desconhecimento’ não se refere apenas da existência, já que na sua maioria os recursos são utilizados, mas percebe-los como um grande aliados as adaptações escolares ainda é uma dificuldade. As adaptações de conteúdos escolares, que é garantia de toda pessoa em sistema de inclusão escolar, não trata apenas da tecnologia, garante que o fazer seja adaptado de acordo com o potencial intelectual do aluno, ou seja, adapta-se a forma de fazer e garante que a temática se mantenha, permitindo que o aluno com deficiência receba a informação necessária para aplicar na sua vida, frente a sua necessidade de idade, mas na complexidade que compreende. Assim, dificulta-se também a infantilização de pessoas com deficiência, o que infelizmente é muito comum quando não se sabe como adaptar. Define-se adaptações curriculares como possibilidades educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos. Para tanto pressupõe-se que a adaptação do currículo regular seja realizada, quando necessário, para torná-lo apropriado às peculiaridades dos alunos com necessidades especiais. Adaptação do currículo não significa um currículo novo, mas sim um currículo dinâmico, alterável, passível de ampliação, para que atenta realmente a todos os educandos. Nessas circunstâncias, as adaptações curriculares implicam a planificação pedagógica e as ações docentes fundamentais em critérios que definem o que o aluno deve aprender; como e quando aprender; que formas de organização do ensino são mais eficientes para o processo de aprendizagem; como e quando avaliar o aluno (LEITE, 2008). Podemos compreender a adaptação como flexibilização, uma vez que pressupõe a existência de alterações e/ou modificações no processo educacional, que têm como referência o currículo escolar. Ou seja, a unidade escolar adotará

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a mesma proposta curricular para todos os alunos, sendo que um ou outro será ajustado de acordo com as particularidades educacionais da demanda educacional do aluno que necessita de condições adequadas para que o aprendizado ocorra (LEITE, 2008). Muitos fatores estão envolvidos no sucesso da adaptação curricular e um dos mais angustiantes aos educadores é a necessidade de fugir do currículo tradicional, bem como das expectativas frente aos objetivos estabelecidos para cada etapa da educação básica. Antes de qualquer coisa é importante que o educador compreenda qual é o real motivo de aquela criança estar inclusa no ensino regular, em sala comum, com crianças da sua idade. Ampliar o olhar para além da expectativa de alfabetização é um dos primeiros passos para que o educador consiga respeitar o processo de aprendizagem da criança inclusa e, consequentemente, pensar em possíveis adaptações que favorecerão ao máximo o aprendizado dos temas trabalhados em sala de aula. Assim como o currículo tradicional, o currículo adaptado também contará com planejamento, estruturação de conteúdo, objetivos a serem alcançados, aplicação em sala de aula e avaliação do rendimento. Assim, percebe-se o grande potencial de auxilio no processo de adaptação de tudo que engloba o currículo de uma escola, com o que pode oferecer as tecnologias móveis. Facilitar o uso através dos recursos nativos destas tecnologias, destacam-se recursos de áudio, como os gravadores e fones, câmeras que possibilitam filmes e fotos, Zoom e tamanho de fonte e ícones, sensibilidade ao toque, contraste de cores, comando por voz, além do auxilio da internet e de Aplicativos feitos exclusivamente para este fim. Podemos pensar em tecnologia móvel como todos os dispositivos que permitem aos usuários movimentar-se ao mesmo tempo que utilizam seus recursos, como os já citados tabletes e smartphones. Na escola a movimentação de crianças por exemplo é constante, e quando a utilização de recursos não móveis, corre-se o risco de restringir a criança a locais específicos, não podendo acompanhar as outras crianças na totalidade de atividades. Pensando em crianças, que por exemplo utilizam de Comunicação Alternativa através de pranchas virtuais, a mesma não pode ter sua comunicação efetivada apenas dentro da sala de aula, ilustrando bem a necessidade do conceito móvel. Os recursos básicos, aqueles contidos na maioria dos aparelhos, podem nos surpreender quanto ao seu uso. Podemos citar os recursos de áudio, como o microfone e os fones, tantos o alto falante, como o de ouvido. Neste recurso as pessoas com, e sem deficiência, podem ouvir audiolivros, não só por comodidade, mas há de se pensar naquelas crianças que não sabem ler, mas podem compreender o que é lido para elas. Assim a informação não limita, amplia os

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horizontes. Ler, ou compreender o que alguém lê para uma criança alimenta na mesma intensidade. As câmeras dos smartphones e tabletes, além de ter melhorias em sua qualidades quase que diárias, permitem que o usuário, filme e fotografe, absolutamente tudo que quiser (vale lembrar do armazenamento que varia de aparelho para aparelho) e assim facilitar em diversos fatores, como a explanação de trabalhos realizados em casa, por crianças que não falam mas que conseguem realizar muitas tarefas, e sem estes registros, nem os colegas nem os professores podem isto perceber. Outras ações como customização é facilitado por este recurso, já que o aluno pode trazer de casa fotos dos seus objetos, da sua família, de seus ambientes que convive, entre outras coisas que favorecerão a criança a se reconhecer como aluno e individuo. A possibilidade de vídeos não se restringe apenas ao registro do usuário, nem mesmo os de fotos, já que a gama de material de vídeos escolares é enorme na internet, assim como o acesso a imagens que facilitam tanto as adaptações já previstas pela professora, como o que chamamos de adaptações dinâmicas, que referem-se àquelas atividades que necessitam de adaptações na hora, e com um aparelho é possível pesquisar atividades e informações sobre a temática em tempo real, garantindo a participação do aluno com deficiência. Um tabu a ser quebrado na escola, é que nela todas as crianças irão ler e escrever, não discute-se isto apenas na idade certa, mas é necessário perceber que algumas delas não farão isto, pelo menos da maneira convencional. O processo da escrita vai muito além do motor, necessita de estratégias cognitivas extremamente complexas, porém existem tecnologias que colaboram muito para a substituição ou facilitação da escrita, como leitor ótico para pessoas com deficiências motoras graves, ponteiras de cabeça e adaptações de teclado virtual, mas um dos recursos de mais fácil acesso é o comando de voz, já que além de possibilitar a entrada em aplicativos, pesquisa na internet, é possível digitar aquilo que está ditando e assim tornar a escrita algo mais real e concreto para aqueles que da maneira convencional apresentam muita dificuldade. Sabe-se ainda que existem recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual como audiodescrição, contraste, ajuste de letra, e muito mais. O uso de tecnologia, principalmente para os nativos tecnológicos, é intuitivo, o que não quer dizer somente que o estudo não faz-se necessário anterior ao uso, mas que os comandos já são conhecidos, o que facilita e muito o uso de tecnologia educacional, já que, além dos profissionais de educação estão se apropriando, os alunos já utilizam estes recursos, e ao apresentar alguma dificuldade de uso, até mesmo um aluno pode colaborar com o outro, sendo esta também uma tendência educacional e uma das premissas básicas da educação

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inclusiva: Educação colaborativa e aprendizagem social. Indiscutivelmente, o uso de Aplicativos e softwares criados especificamente para demanda de pessoas com deficiência em educação inclusiva são extremamente eficazes, o que não pode acontecer é a espera da aquisição ou até mesmo a criação destes recursos para que sejam sanadas as necessidades e o direito de acesso das crianças com deficiência a uma educação efetiva. Percebido o potencial dos recursos básicos, a tecnologia móvel cumpre o papel de possibilitar, de ser recurso do processo, do fazer educacional do professor, ilustrado como uma ponte que liga a informação a quem deve dela disfrutar.

Referências Bibliográficas: BENITES, Letícia N. Colégio de Aplicação da Universidade do Rio Grande do Sul

e Processos Inclusivos: trajetórias de alunos com necessidades educativas especiais. 2006. Dissertação. (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul- UFRGS, Porto Alegre-RS. BRASIL. Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Comitê de Ajudas Técnicas. Tecnologia Asssitiva – Brasília: CORDE, 2008.

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica / Secretaria de Educação Especial – MEC; SEESP, 2001. CAVALCANTI, A. e GALVÃO, C. Terapia Ocupacional: Fundamentação e Prática, Rio de Janeiro: Gunabara Koogan, 2007. GALDINO, Z. da C., BRASILEIRO, T. S. A. and BUENO, J. L. P. (2012). O desafio do

uso das tecnologias de informação e comunicação para a organização dos sistemas educacionais. Revista Pedagógica UNOCHAPECÓ, v. 2, p. 421–442. Lei n° 9.394, de 20 de Dezembro de 1996 - Diretrizes e Bases da Educação Nacional.Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em 07 de Junho de 2016.

Lei n° 13.005, de 25 de Junho de 2014 - Plano Nacional de Educação - PNE.Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005. htm>. Acesso em 07 de Junho de 2016. Lei n° 13.146, de 6 de Julho de 2015 Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20152018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso em 7 de Junho de 2016.

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LEITE, Lúcia Pereira. Práticas educativas: adaptações curriculares. In. LEITE, Lúcia Pereira; SILVA, Aline Maira da. Práticas em educação especial e inclusiva na área da deficiência mental. Bauru: MEC/ FC/ SEE, 2008. PEIXOTO, Régis Nepomuceno. Construção da Terapia Ocupacional em Educação Inclusiva IN Terapia Ocupacional: Vivências de Santa Catarina. Joinvile,SC: ABRATO SC, 2013.

Este é um conteúdo retirado do livro “Realibitação além da clínica, inclusão além da escola - Reflexões da Inclusão Eficiente São Paulo”

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