ROR DE COISAS #11

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Publicação Bimensal Reservado a Sócios

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Set | Out 2016


rordecoisas.blogspot.pt facebook.com/INDIEROR


Ficha Técnica Proprietário: Associação INDIEROR NIPC 513 588 019 Largo da Estação, 5400 - 231 Chaves Diretor: Diogo Martins Martins Diretor Adjunto: Tiago Ribeiro Subdiretor: Marta da Costa Editor: Marta da Costa Redação: Diogo Martins Martins | Marta da Costa | Tiago Ribeiro Colaboradores (Residentes): Cristiana Madureira | David Sarmento| Duarte M. M. Martins | Elisa Dias | Herculano Pombo | Manuel António Araújo | Manuela Rainho | Marta S. G. Dias | Paulo Coimbra | Paulo Sanches | Wilson Pinto Design: INDIEROR Grafismo: Tiago Ribeiro | Diogo Martins Martins Revisão: Marta da Costa Impressão: Gráfica Sinal | Rua Doutor António de Carvalho e Sousa 5400 - 570 Chaves Tiragem: 50 11ª Edição | 2016

A ROR DE COISAS é propriedade da INDIEROR. O conteúdo apresentado é da inteira responsabilidade dos seus autores. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotografias ou ilustrações da revista ROR DE COISAS para quaisquer fins, incluido comerciais, sem autorização expressa da Direção. Revista isenta de registo na ERC ao abrigo do Decreto Regulamentar nº 8/99 de 9 de junho, artigo 12º, ponto 1, alínea a)


Índice

Os Tempos Estão a Mudar

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Diogo Piçarra em Pessoa

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Entrevista a Eurico Borges

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Rolando!

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Dialogando com Grandes Autores Transmontanos

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Miasmas

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Viagens na Minha Terra |Por Lado Nenhum

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Carta Aberta a Um Pintor

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Agenda Cultural

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Zabumba | s.m. substantivo masculino Tambor grande de som grave; Bombo;


Os Tempos Estão a Mudar

Treze de outubro de dois mil e dezasseis assinala uma das decisões mais controversas da Academia Sueca, ao atribuir o Prémio Nobel da Literatura ao músico Bob Dylan. Um pouco por toda a web as opiniões fizeram-se sentir, desde os defensores acérrimos das suas músicas, que acompanharam grandes tumultos político-sociais da história americana; até aos críticos ferozes que simplesmente não concordaram com a atribuição de um prémio literário a um músico. Juízos de valor à parte, é inquestionável que uma decisão deste tipo venha a alterar por completo a visão, e até a própria definição, de literatura e música;

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abrindo novos caminhos para possíveis áreas como o cinema ou o jornalismo. O que a Academia Sueca nos pretende explicar é que escrever, será sempre escrever, independentemente da área em que o façamos ou da denominação que possamos assumir. Um poeta escreve. Um músico escreve. Um encenador escreve. Um cineasta escreve. Se a ação é a mesma e a qualidade assim o justifica, então estamos perante Literatura. E isto levanos também a outro ponto, relativo à fusão das artes e à dificuldade que agora nos deparamos em “separar o trigo do joio”. Mas haverá, ainda assim, necessidade de separar, de catalogar? Não sairemos todos mais enriquecidos se abraçarmos

indiscriminadamente esta combinação de artes? A decisão da Academia Sueca é louvável, no gesto de restauro que representa para a Literatura. Resta-nos esperar que surjam outras surpresas deste género. Quem sabe e a literatura oral passe a ser tida em conta, porque histórias serão sempre histórias, quer sejam escritas, cantadas ou ditas.



Diogo Piçarra em Pessoa Por Marta da Costa “ Isto Não É um Concerto” Fotografia | Marta da Costa e Wilson Pinto

Numa organização da Associação Chaves Mais Social 3G, o projeto educativo “Diogo Piçarra em Pessoa” apresentou-se a centenas de alunos da comunidade escolar de Chaves. A euforia por verem pessoalmente o seu ídolo marcou o decorrer da tarde de 12 de outubro. A poesia de Fernando Pessoa lançou o mote para uma tarde de conversa, onde houve ainda espaço para a música.

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Passam cerca de vinte minutos das catorze horas. O Largo da Estação e a entrada da Academia de Artes de Chaves tem hoje mais jovens do que habitual. A maioria são raparigas, dos seus quinze e dezasseis anos, com a bateria do telemóvel carregada e uma dose de hormonas mais elevada que o habitual. As portas do auditório do Centro Cultural de Chaves abrem apenas às quinze horas, mas todos têm pressa para

serem os primeiros a entrar. E de repente ouvem-se gritos de histeria, piropos lançados ao ar – porque a confiança da distância ajuda. “És lindo!”, gritam. E depois risos. Diogo Piçarra acabou de entrar pelas traseiras e já se encontra nos camarins do auditório. “Anda depressa! Ele acabou de passar aqui por nós!”, grita uma jovem ainda em histeria para a amiga que, a passo apressado, corre pela calçada

do Largo da Estação. Não conseguiu chegar mais cedo, desabafa entre a respiração ofegante. “Ele sorriu-me!”, dizlhe a amiga em tom provocador. Não fosse outra amiga confessar a sua desilusão – “ele é tão baixo” – e poderíamos ter aqui um confronto de titãs.

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Com o aproximar das quinze horas, avançamos até à entrada. As portas já abriram e uma longa mancha jovem preenche as escadas da Academia de Artes. Muitos já têm o livro do projeto na mão, mas cremos que a leitura, para já, ficará para segundo plano. As portas do auditório continuam fechadas, por isso ainda há tempo para retocar a maquilhagem. A geração selfie apruma-se a fim de garantir a melhor figura em frente do ídolo, pois nunca se sabe se haverá outra oportunidade como esta. Guardase o batom na eastpack, ajeita-se o cabelo

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mais uma vez e pede-se aprovação da amiga do lado “Estou bem?”. Às quinze horas as portas do auditório começam a abrir-se. A correria pelo melhor lugar começa. As mochilas guardam o lugar a amigos que ainda não saíram das aulas e vão chegar em cima da hora. No palco um estendal de desenhos pendurados preenche o espaço ainda vazio. Daqui a poucos minutos Diogo Piçarra aparecerá, sentando-se numa das duas cadeiras, a fim de apresentar o seu projeto sobre Fernando Pessoa.

No entanto, que a histeria hormonal que se sente não nos faça esquecer o motivo de aqui estarmos. “Diogo Piçarra em Pessoa” é um projeto desenvolvido pela empresa Betwein, especializada na criação de projetos e conteúdos educativos. A par deste projeto sobre Fernando Pessoa, a empresa possui um outro com a atriz Mariana Monteiro (“Mariana Num Mundo Igual”); e um projeto, destinado a um público infantil, que conta com o músico Filipe Pinto (“O Planeta Limpo do Filipe Pinto”); entre outros projetos. O livro que Diogo Piçarra vem hoje apresentar é uma


recolha de vinte poemas de Fernando Pessoa, com vinte interpretações do próprio Diogo Piçarra. O livro tem ainda alguns espaços em branco, de modo a fomentar a criatividade dos leitores, a fim de eles próprios fazerem também uma interpretação dos poemas. “Diogo Piçarra em Pessoa” é hoje apresentado em Chaves graças à Associação Chaves Mais Social 3G, que tem como parceira a Associação dos Amigos dos Animais de Chaves. A entrada é gratuita, sendo apenas pedido para os presentes trazerem um alimento para ser doado à Associação de Animais.

Regressando ao Auditório do Centro Cultural, são agora 15h20 e as luzes apagam-se. A histeria atinge um patamar imensurável e, apesar da escuridão, os telemóveis em riste anunciam que o espetáculo vai mesmo começar e todos estão cientes disso. Entretanto as luzes sobem e uma jovem de cabelos longos e saia plissada dá início ao espetáculo, que consistirá numa agradável conversa sobre a criação do livro. Cinco minutos depois, o tão aguardado Diogo Piçarra avança até à boca de cena, neste

espetáculo onde ele assume o papel principal. Uma onda de flashes invade o auditório, com 270 admiradores a bombardear o ídolo. Nem os professores parecem escapar à idolomania. Todos estão rendidos à eloquência do jovem músico, que começa por avisar “Isto não é um concerto”. No entanto, música e poesia sempre caminharam de braço dado e às 15h40 os primeiros acordes fazem-se soar. Novamente os telemóveis em riste e a aplicação snapchat aberta. Este momento

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é digno de captar: Diogo Piçarra toca a primeira música desta fria tarde de outono, inspirada no poema de Ricardo Reis que há pouco foi lido. Diogo conduz-nos novamente até às duas cadeiras. É questionado agora sobre a sua formação académica, sendolhe pedido que deixe um conselho aos jovens presentes: “Eu não sou o melhor exemplo. Tirei um curso que não utilizei, mas felizmente a música correu-me bem e ainda bem que eu aproveitei e dei tudo

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no Ídolos”, admite. “Façam um plano B na vossa vida, porque não sabem o dia de amanhã. Não tenham apenas sonhos, mas sim objetivos. Sonhar toda a gente sonha, mas nem todos trabalham para os alcançar. Trabalhem e acordem para a vida!”. Uma onda de aplausos enche o auditório. Os sorrisos rasgados dos docentes e o acenar das suas cabeças levanos a concluir que o jovem músico algarvio caiu nas boas graças dos professores. Segue-se agora a vez de chamar um dos presentes ao palco. Entre braços

no ar e gritos impercetíveis de nomes, a sorte caiu no jovem Teófilo que, a passos confiantes, sobe ao palco e lê um dos poemas de Fernando Pessoa e de seguida a interpretação feita por Piçarra. A desinibição do flaviense é notória e o músico parece impressionado. Teófilo regressa ao seu lugar e a conversa prossegue. Fala-se no poder das redes sociais, da forma como estas criam dependência e no facto de Diogo Piçarra ter optado por desligar-se das redes no momento da criação do livro.


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Chega agora a vez de chamar mais um jovem ao palco. A igualdade de géneros dita que agora é a vez de uma menina. Há quem grite pela Filipa; outros pela Mónica. A sorte é da Patrícia que, de forma tímida, sobe ao palco e cumprimenta o músico. Acanhada lê o poema e depois a interpretação de Diogo Piçarra. Mais um beijinho e a jovem regressa ao lugar. O tempo vai passando e a conversa prossegue, desde o estigma face a exconcorrentes de programas televisivos de música, à importância de um projeto como este. “Espero que este projeto vá a mais escolas e que eu escreva mais músicas e poemas do livro”, confessa Diogo. Os gritos e os aplausos sentem-se quando o

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músico remata com “espero cá voltar para um concerto a sério”. Passam cinco minutos das quatro da tarde e Diogo Piçarra avança até à guitarra, que gentilmente repousa no lado direito do palco. Toca mais uma música, a última do espetáculo, mas o público não se conforma e pede mais uma. O pedido é aceite e às dezasseis e vinte o espetáculo termina, com Diogo Piçarra a dar início à sessão de autógrafos. O jovem algarvio recebe cada admirador com a mesma simpatia: tira selfies, faz perguntas, autografa o livro e despede-se com um beijo ou um aperto de mão. Sem exceção, à medida que a fila com mais de duzentos admiradores vai avançando.

Uma hora depois chega a nossa vez. Somos informados que apenas teremos dois minutos para o entrevistar, uma vez que já é tarde e Diogo tem ainda uma viagem a fazer. Chegada a nossa vez, o músico recebe-nos de sorriso nos lábios e a mesma simpatia. Começamos por explicar o significado de INDIEROR e o nosso campo de ação. Diogo mostrase interessado, faz perguntas e confessa que não conhecia a palavra ror, que nós, transmontanos, tão bem conhecemos. Questionamo-lo sobre as possíveis dificuldades existentes para aqueles que não crescem nos grandes centros do litoral do país, como Porto ou Lisboa: “Eu sempre senti que não era algarvio, era português;


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mas de facto é uma verdade que são poucos os algarvios que conseguiram alguma coisa na música”. No entanto, devido aos seus vinte e seis anos e ao facto de ter crescido numa geração onde o papel da internet é essencial, leva-o a concordar que hoje é fácil chegar a qualquer canto do mundo “Nasci na época certa. Consegui romper essa barreira física e, sendo algarvio ou não, consegui fazer alguma coisa na música. Claro que há pessoas do Porto que também não conseguem, mas depois aí já não depende das barreiras, mas da vontade, do trabalho ou da qualidade da pessoa; é verdade que eu tive de me mudar para Lisboa para estar mais perto, não só das televisões e das rádios, mas também dos estúdios e dos produtores. E realmente isso fez a diferença – se tivesse ficado em

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Faro não tinha o acompanhamento certo – mas hoje em dia, como já conheço toda a gente, já poderia muito bem voltar para o Algarve e trabalhar à distância, como já faço”. Os dois minutos já passaram, mas a conversa continua por mais algum tempo. Perguntámos ao Diogo se tem alguma ligação com Trás-os-Montes ou se conhece esta região. Acabou por confessar-nos que conhece muito pouco e que não foram muitas as vezes que veio cá tocar. Para não o atrasarmos ainda mais, finalizamos a conversa com um desafio. Do mesmo modo que participa neste projeto sobre Fernando Pessoa, seria uma hipótese trabalhar o escritor transmontano Miguel Torga? “Não li muitas obras dele, mas já

li algumas coisas. Li “Os Bichos” e mais dois ou três. A escrita dele é mais crua. Se calhar, quem sabe... Se houver outro projeto é mais fácil fazer reinterpretação de poemas do que de prosa, mas era interessante”. Confessa-nos ainda o seu gosto por Saramago e o facto de ter pena de não o ter conhecido em vida, “mas Miguel Torga é uma boa ideia e vir aqui apresenta-lo seria um grande prazer”. O desafio fica lançado. Quando a destreza vocal e técnica de um músico se alia a uma personalidade cativante e a uma boa dose de simpatia, só nos resta dizer que será sempre um prazer receber Diogo Piçarra em terras transmontanas. Aguardamos uma nova visita para breve.


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Entrevista a Por Manuela Rainho Eurico Borges Fotografia | Tiago Ribeiro

É sempre um desafio definir um pintor como Eurico Borges. Diz-se flaviense e transmontano de gema, apesar de já há alguns anos estar longe do seu rincão natal. Assim, transcrevo duas frases que o definem enquanto pintor e artista. A primeira é da autoria de Osho e refere «A necessidade de criar é a primeira manifestação do divino em ti. A necessidade de criar é a presença de Deus.» Já o pintor declara, «Não tenho a pretensão de que a minha obra seja compreendida. Apenas tenho a pretensão de ser feliz ao criá-la.»

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Da nossa amena conversa no coreto do Jardim Público resultou esta entrevista interessantíssima, pelo menos para mim, que tive o privilégio de a fazer. Manuela Rainho: Como definiria Eurico Borges enquanto pessoa de cultura e pintura? Eurico Borges: Que difícil forma de começar. Para já sou bom rapaz. Sou uma pessoa que ao longo dos anos foi adquirindo e pondo na minha vida alguns dos valores que absorvi no seio da

família, da região, da sociedade em que estava inserido. Procurei estar em paz comigo e com a minha consciência. Mais do que ser bom cidadão, considerado; sinto-me vaidoso mas também que não mereço tanto. Ao ver esta gente jovem, com iniciativa, com entusiasmo; a ti, uma pessoa que com garra e sabedoria trabalha em prol da região, da cidade, sinto que não valho tanto como isso. Ao longo da vida tentei ver aquilo que a minha sensibilidade e natureza me pediam, também a minha dignidade e personalidade. E por isso me encontro agora aqui, neste espaço

lindíssimo da minha terra; sou de Chaves nascido, criado e mamado em Chaves e por isso me sinto alagado, entusiasmado e parece-me que até é demais para uma pessoa que se limitou a fazer aquilo que a sensibilidade determinava para ser feliz, a procurar que o ambiente, o meio em que estava inserido fosse feliz também. M.R.: Para ti, o que representa pintar? E.B.: Que fique claro que respeito profundamente o ser humano, que respeito as pessoas, mas de facto nasci

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sozinho e vou morrer sozinho. Ainda que seja um ser sociável, tenho a preocupação de procurar estar bem, ser feliz e queria de facto que o que emana de mim contribuísse de alguma forma para fazer felizes os outros. Matisse dizia que gostaria que os seus quadros fossem admirados por alguém que se sentasse num sofá e se sentisse feliz ao vê-los. Não nego que gosto de saber que as pessoas ficam felizes quando contemplam a minha obra, mas se não gostam, tenho muita pena por elas. É vaidade, pretensão, sobranceria da minha parte? Pode ser. Mas penso que cada um de nós ocupa um espaço, um lugar no tempo

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em que vive. Não podemos renegar esse espaço em que existimos. Gostaria muito que aquilo que faço contribuísse para a felicidade das pessoas. Seduz-me a ideia e é gratificante pensar que os milhares de quadros que pintei na vida, estão em casa de pessoas e contribuem para a sua felicidade, para que as pessoas estejam bem. Mas isso não me obsessiona muito. De facto, para mim, a arte é uma forma de vida, não um meio de vida. Então quero estar feliz, quero ser feliz.

M.R.: Tens também obras de escultura. Entre a pintura e a escultura, há diferenças? E.B.: Talvez porque a minha condição de pintor me leva a preservar essa condição mesmo quando não faço pintura, há princípios, conceitos que é impossível renegar ainda que faça outras coisas. A minha convicção quando actuo num determinado campo da arte, da inovação é a mesma, seja qual for a área de intervenção; de modo que é natural que se projecte na escultura aquilo que concebo na pintura.


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M.R.: A tua obra gira à volta da mulher. Em alguns dos teus quadros há aquilo a que chamo, combinações improváveis, como por exemplo as mulheres-gato. Fala-me delas. E.B.: Essas combinações improváveis seguramente se devem ao meu carácter transgressivo e provocador. Estimulamos a nossa inteligência, a partir do momento em que somos provocados, que aparecem pensamentos, uma proposta para além da nossa visão do mundo, do nosso próprio critério. Sempre fui um provocador, sempre procurei estimular, despertar consciências com o meu trabalho, penso que essas gatas-peixe–mulher procuram

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esse objectivo. Para mim, a mulher é o centro do mundo, da vida. Todos os projectos, já sejam pela negativa, já sejam pela positiva, passam por ela. Agora estou com um projecto cujo tema é: sociedade, consumo que me consomes. Aborda uma certa perda de valores e tento de alguma forma comunicar à sociedade, relembrar, vincar essa perda de valores que se vai sentindo cada vez mais. De alguma forma, é a mulher a primeira protagonista que deve ser responsabilizada; porque, embora haja a família, a escola, o meio social que nos rodeia, a mãe é a primeira a comunicar, portanto é a primeira a transmitir conteúdos; existe nessa comunicação

falhas, porque a maioria das mães, actualmente, querem que os filhos sejam belos, os mais perfeitos a nível plástico, estético e ideológico. Já não importa que se prepare uma criança para ser feliz ou competente. Importa que seja bonita, a mais bem vestida. Todos esses valores supérfluos levam muito provavelmente a que a sociedade esteja hoje como está. São aspectos que pretendo denunciar através deste tema agora abordado. A mulher é rainha e protagonista de tudo. É ela quem faz, gere, alimenta, transmite e talvez isso responda aquela pergunta inicial, por que razão a mulher. Pela importância que tem embora socialmente tão pouca importância lhe seja concedida. Pena que


a sociedade não lhe atribua a importância que eventualmente lhe devia dar. M.R.: Há quem considere que as mulheres que pintas são pouco belas. O que me podes dizer sobre isso? E.B.: Realmente já algumas vezes me disseram isso. Acho que pinto as mulheres mais lindas. Há uma beleza tão grande em determinadas mulheres que basta uma sugestão para traduzir essa beleza interior. Se pinto uma mão já não preciso de pintar os dedos, se pinto um rosto que expressa esse sentido, essa perceção, posso prescindir dos detalhes. Não faz falta, sobra. Um olho é suficiente, pois

a sensualidade que passa basta. São mulheres lindíssimas. Penso que as pessoas deveriam reaprender a olhar. Provavelmente não tenho razão, mas é assim que o vejo. Pinto na verdade mulheres lindíssimas. M.R.: Consideram-te um pintor fora das correntes artísticas contemporâneas. Concordas? Explicita o teu processo criativo. E.B.: Tenho a obsessão por ser criativo. André Malraux numa entrevista a que tive acesso ainda muito jovem, disse uma coisa que me marcou profundamente e constitui matriz, regra de ouro: «Arte é inovação».

Não sou um pintor de estilos, não sou um pintor que se reconheça por pintar determinadas formas que se repetem no tempo. Pinto projectos, investigo e por isso pinto coisas tão diferentes, tão díspares, ainda que tenham obviamente um sentido comum, um laço; de facto interessa-me investigar sobre a forma, sobre os temas; penso sempre naquilo que quero transmitir, esse conceito, essa ideia advém do contacto com as pessoas que me rodeiam, do ambiente; essas inquietações vão recrudescendo, ampliando, até que estabilizo num tema; trabalho esse tema e depois vejo a melhor forma de mostrar as ideias que quero transmitir às pessoas em função dos meios. Por isso pinto

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sobre tela directamente, pinto sobre serapilheira, faço colagens de roupas velhas, areias e outras técnicas. De facto, mais do que um estilo, interessa-me sobretudo a investigação. Considero-me um trabalhador da arte que investiga em termos intelectuais, ideológicos, racionais mas também técnicos. Em síntese, primeiro surge a emoção e depois é trabalhada e racionalizada através da obra que crio. Por isso a minha pintura tanto pode ser abstracta, como figurativa. M.R.: Uma das exposições, que fizeste em Cuba relaciona José Martí e Eça de Queiroz. Fala-me desse trabalho.

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E.B.: Foi já numa etapa secundária em Cuba. Conheci Martí, um pensador extraordinário, considerado o pai da pátria cubana, mas desconhecido nos nossos lados. José Martí foi contemporâneo de Eça, quando este foi cônsul de Portugal, em Havana. Nunca se conheceram porque nessa altura José Martí estava deportado em Espanha. Eça, por seu lado, escreveu muito pouca coisa sobre Cuba, pois tinha de estar ao lado de Espanha, por causa das suas funções diplomáticas que desempenhava. Com essa exposição, pretendi ficcionar um encontro entre ambos. Peguei em textos da obra de Eça e busquei uma resposta às inquietações de Eça, nos textos de Martí e vice-versa. A

exposição foi muito interessante e teve um grande êxito em Cuba, pois foi mostrada em várias cidades. M.R.: Pensas que existe uma crise de identidade cultural transmontana? De que forma ela se manifesta? E.B.: Não existe essa crise. E para demonstrar que essa crise não existe, poderíamos pedir aos jovens que estão aqui a fazer este trabalho, que virassem a câmara ao contrário. Para que vissem quem eles são. Quem está aqui, é gente jovem, com valor, com capacidade, com muita intelectualidade para dar. Portanto não podemos falar de crise.


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O que há é a crise do poder em relação à cultura. Chaves não foge à regra. Infelizmente as instituições de poder que deveriam ser a alavanca do progresso, do desenvolvimento, na maior parte dos casos são uma obstrução ao desenvolvimento e ao progresso. Se as instituições se rodeassem e procurassem ouvir as pessoas culturalmente mais capacitadas, tudo seria mais fácil. Em Portugal e em Chaves em particular, há tanta pequenez que até parece que a inteligência assusta. O poder não é obrigado a saber sobre cultura, é obrigado a decidir e sempre na melhor das circunstâncias, em favor da melhor opção. É uma pena, senhor Presidente da Câmara que seja assim, pois perdem-se tantos

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valores só porque não são reconhecidos. É importante que se dê importância à cultura pois é ela que desenvolve um país. Segundo Martí, não devemos temer o animal mais selvagem, mas sim, o homem ignorante. M.R.: Enquanto pessoa de cultura que vive na era da globalização, de que forma ser transmontano te condiciona ou te integra? E.B.: Integra-me, pois a condição de transmontano é a de um ser social, aberto, receptivo, sempre preparado para novos desafios. O Transmontano, quando tem condições, não é melhor que os outros,

é diferente. O Transmontano, já seja porque vive segregado, marginalizado no seu cantinho, já seja por outras razões históricas ou climatéricas que o faz rude, fá-lo simultaneamente mais solidário, mais forte na comunidade, mais resistente. De facto o Transmontano para onde vai, nem que seja a limpar escadas, triunfa, nunca sai derrotado, porque faz parte da sua idiossincrasia a capacidade de adaptação o que lhe permite ser um elemento integrado e integrante em qualquer sociedade.


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Rolando! Por Manuel António Araújo Ilustração | Marta S. G. Dias

Sobressaíam os pés morenos, em repouso, na cama cinco da enfermaria dois. A enfermeira Rosália recusara-se a fazer o curativo das feridas com medo de se apaixonar por aqueles pés. Chovia muito e eram cinco da tarde quando ele chegou à praça. As pingas grossas batiam nas lajes em estalidos rápidos. Um cão encharcado e meio cego pela chuva atravessou a praça e foi precipitar-se contra as pernas dele. Desabituado a mãos humanas, ladrou-lhe

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quando o homem lhe afagou a cabeça. Recolheram-se nas escadas do correio, abrigando-se da chuva. “Rolando” foi a única palavra que o homem disse durante o tempo em que se manteve sentado e depois deitado nas escadas do correio, tirando bocados de pão dum saco plástico e deixando-os na palma da mão, à espera que o cão os comesse. O cão ainda não acreditava nele, mantendo-se de rabo entre as pernas e orelhas baixas, depois

foi ouvindo aquela palavra estranha, misturada no pão e olhou-o, manso, com uma tristeza de orfandade nos olhos. Comeu a medo, pousava o focinho na palma da mão para abocanhar o pão e retirava-se para trás. “Rolando”, “Rolando”…e ambos foram comendo. Uma nuvem enorme e negra lançou a noite. Não estava frio. A praça estava agora silenciosa e alagada. Às vezes, do cimo da rua, um carro estendia os faróis amarelos, e a água, cansada, ganhava reflexos.


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De resto, não se via ninguém. Como não estava frio, ele não precisou de desdobrar o casacão de serapilheira. Antes lhe serviu de travesseiro. Ao seu lado, já com ele no coração, o cão lambia-lhe as feridas. Passava já muito das cinco da tarde. Quando entrou na urgência, descalço, disse ao Rolando que esperasse no jardim. Achava que demoraria pouco, apenas lhe

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faltava muito o ar desde ontem, apenas transpirava para respirar, qualquer coisa, achava ele, os doutores resolveriam. De modo que Rolando, espera aí no jardim, se tiveres vontade de fazer cocó, vai ao monte de areia lá fora. Rolando, eu não demoro. Ao fim da tarde, ao retomar o serviço, Rosália viu então aqueles pés morenos.


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Dialogando com Grandes Autores Transmontanos Por Cristiana Madureira e Elisa Dias

Qual será a nossa primeira memória de escola?

Ilustrações: Paulo Sanches

Em diálogo com José Francisco Trindade Coelho (1861-1908), escritor transmontano com origem na vila de Mogadouro (Bragança), descobrimos no conto “Para a escola” da obra Os Meus Amores, a descrição da experiência do seu primeiro dia de escola. Descrevendo a escola como o lugar de uma autêntica fonte de batalha que ele desde logo adivinharia. No velho casarão do Convento de São Francisco, a criada Helena entregaria a “encomendinha” como ele próprio se autodenominou. Ser “depositado” na escola é como ser forçado a ir para uma

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guerra: “(...) deixando-me no meu lugar (...) - o meu primeiro posto da arriscada milícia das letras (...)” (Coelho, s/d, Cit. In Dias, 2008: 120). Nesta guerra declarada, a conquista do aprender seguiria um regulamento severo, onde a palmatória se encontrava ao serviço do poder executivo da máxima autoridade: o mestre. A importância da escola é evidente nas palavras do mestre: “aprender é tão preciso como mamar. Concluiu numa prosa que é mesmo poesia“ (Cit. In Dias,

Ibidem). No primeiro dia de aulas descrito nesse conto “Para a Escola” o pequenito José, no final da verídica narrativa, diz então docemente, com a satisfação de quem se liberta de um pesadíssimo fardo: “(...) Helena, minha boa amiga! Acabo de chegar ao fim da viagem que principiei nesse dia. Não volto à escola!(...)” (Cit. In Dias, Ibidem). E de facto não voltou, porque nesse dia em que escrevera o conto havia concluído a sua formatura, chegara ao final dos seus estudos.


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O que mudou nesta imagem de escola, no séc. XXI? Alguns pais continuam a “depositar” os filhos na escola, mas agora com grande ceticismo, o aprender já não é perspetivado como “um bem essencial”, por muitas famílias e alunos. “Depositamnos” não apenas algumas famílias, mas a própria sociedade, em espaços supermodernos, com tecnologia de ponta, mas muitas vezes sem assumida pertença. O autoritarismo do mestre deu lugar ao legitimado despotismo de alguns alunos corroborado por uma pseudoparticipação de alguns pais na vida escolar dos seus filhos. A guerra que hoje se vive é a do combate

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ao desinteresse pelo conhecimento, talvez porque estratificado e ingenuamente “sacralizado” pelos mestres do Séc. XXI. É a ainda luta contra a da negação do valor da instituição escolar, talvez por ausência de afirmação da sua própria identidade. Vive-se entre um misto complexo e contraditório entre a “escola prisão” que a toda a força alguns são obrigados a frequentar e a “escola idílica” que persegue com criatividade construir uma cultura de paz e felicidade. Que experiência guardarão as nossas crianças do seu primeiro dia de Escola?

Bibliografia: Dias, Elisa (2008) Pedagogia do Imaginário Infantil- Análise na Região de Trás-os-Montes. ISBN: 978-972-771-925-9. Lisboa: Instituto Piaget. Madureira, Cristiana (2010). O lado oculto da Escola: um estudo qualitativo sobre histórias de vida de professoras. Vigo: Universidade de Vigo.


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Miasmas Por Wilson Pinto

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Viagens na Minha Terra Por David Sarmento Por Lado Nenhum

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Carta Aberta Por Dulce Claro

De: Dulce Claro Para: Eurico Borges Numa conversa informal de café, sugerite várias pessoas para escreverem acerca da tua obra. Sorridente, desafiasteme que fosse eu a fazê-lo. Aqui estou pronta a partilhar contigo a perspectiva experienciada, depois de me ter debruçado sobre o teu percurso artístico. A tua obra reflecte uma transparência sentida, de encontro com a sociedade que

a um Pintor

de forma natural e simples se estende como um manto ecológico, psicológico, intemporal. Encontra-se e encontras-te com o Universo Feminino no seu todo. Como um grito cálido da sua essência, esse feminino sentido com a alma deixa um rasto de sinais, um olhar de afectos que transborda e extravasa na tua pintura. Por isso, se a figura feminina ainda tem olhos é da tela que olha; inserida num fundo perdido é através duma névoa subtil que se distancia da vida. Por outro lado, se a figura feminina só tem um olho,

conserva vestígios de um tempo em que as águas ainda eram transparentes, isto é, a pureza da essência do feminino. Segundo as tuas próprias palavras, «precisamos de olhar para dentro muito mais do que para fora, daí que um olho seja para olhar para fora e o outro para o nosso interior», isso confere à figura feminina uma maior introspecção, elevando-a a uma espiritualidade gratificante para quem a contempla. Apesar de ainda terem boca, algumas calam o grito, a palavra que diriam; o que já não é possível ser dito,

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porque a fala está por demais separada do silêncio em que outrora tudo mergulhou e se disse o indizível. Depois há as mulheres anjo. Apesar de numa primeira leitura serem desfeadas, a sua volúpia e sensualidade superam essa primeira impressão e consequentemente transfiguram-se e condicionam-nos num nível de intertextualidade espiritual, quiçá divina, em que real e ideal se contaminam. Nesta tua última fase, a cor e os materiais utilizados não saciam a sede de procura

constante da obra-prima; daí a tua busca que vai no sentido de encontrar materiais que plasmem a vertente sensorial e perceptiva dum universo intrínseco que visa tocar o outro mas sobretudo a partilha da tua própria essência. Afinal não é a Arte uma forma de comunicarmos a outros as marcas que vamos adquirindo, que nos moldam e amadurecem? E porque toda a Arte é complexa, como a Vida, há diversos sentimentos que, embora contrastantes,

não se excluem. Na Arte como na Vida, viver é aprender a integrar o complexo. Sempre, em tudo, obstinadamente. E se eu fosse Deus, dar-te-ia uma tela virgem, imensamente branca, sem limites. O teu olhar deter-se-ia, com o mesmo sentido de sensibilidade e análise e num desejo transcendente tudo representarias. Magicamente a tua Arte ficaria (como já fica) para a Eternidade.


Rua de Santo Antรณnio, 37 5400-069 Chaves Tel. 276 318 460 Fax. 276 318 461 email: opticaliachaves@gmail.com

Av. 25 de Abril, 42 5430-420 Valpaรงos Tel. 278 714 093 Fax. 278 714 094 email: opticaliavalpacos@gmail.com

Av. Nuno ร lvares Pereira, 498 5470-203 Montalegre Tel. 276 518 097 Fax. 276 518 098 email: opticaliamontalegre@gmail.com

E. Leclerc Chaves - Rotunda do Raio X 5400-011 Chaves Tel. 939130570 email: opticaliachavesraiox@gmail.com

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Agenda Cultural

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Feira dos Santos 29, 30 e 31 de Outubro 1 de Novembro Chaves

Mais um ano com as tradicionais barracas e stands espalhados pelas principais ruas da cidade, a par da tão famosa Feira do Gado, 14ª Edição do Concurso Nacional de Pecuária, Festival Gastronómico do Polvo e animação de rua. Org.: ACISAT | Apoio: Município de Chaves

Sabores de Chaves Feira do Vinho 29, 30 e 31 de Outubro 1 de Novembro Pavilhão Expoflávia Chaves

Cineclube de Chaves 8 e 22 de Novembro | 21h Cine Teatro Bento Martins Chaves

Venha visitar este espaço e degustar os sabores de chaves e os bons vinhos da nossa região, acompanhados por boa música!

Apresentação e exposição projeção, debate e convívio.

Org.: Município de Chaves e EHATB

Org: Teatro Experimental Flaviense

do

filme,

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Cinema

Cinema

O Planeta limpo de Filipe Pinto

4 e 6 de Novembro | 21h30 e 15h30, 18h00, 21h30 Cine Teatro Bento Martins Chaves

11 e 13 de Novembro | 21h30 e 15h30, 18h00, 21h30 Cine Teatro Bento Martins Chaves

18 de Novembro 15h Auditório do Centro Cultural de Chaves

Um grupo de estudantes de Milwaukee, durante uma viagem para acampar em uma das florestas da região, decide penetrar ainda mais no coração das árvores do que o previsto e acaba descobrindo que a floresta esconde seres perigosos.

Da Marvel Studios chega-nos “Doutor Estranho”, a história do mundialmente famoso neurocirurgião Dr. Stephen Strange cuja vida muda para sempre depois de um horrível acidente de carro que lhe rouba o uso das mãos.

Apresentação de livro e jogo Entrada gratuita, limitada aos lugares disponíveis.

Org.: Teatro Experimental Flaviense

Org.: Teatro Experimental Flaviense

Org.: Chaves Social

“Blair Witch”

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“Doutor Estranho”


Cinema “Trolls”

19 e 20 de Novembro| 21h30 e 15h30, 18h15, 21h30 Cine Teatro Bento Martins Chaves

Dos criadores de Shrek chega-nos a mais inteligente, engraçada e irreverente comédia de animação do ano, Trolls da DreamWorks. Um maravilhoso mundo habitado por hilariantes e inesquecíveis personagens e descobre a história dos super otimistas Trolls. Org.: Teatro Experimental Flaviense

Feira Mensal de Vila Verde da Raia 20 de Novembro Largo 8 de Julho

Feira Mensal de Vila Verde da Raia, realiza-se no 3.º Domingo de cada mês durante a manhã, com pontos de venda de produtos locais, como pão caseiro, fumeiro e mel, roupa, calçado, frutas, flores, árvores, numismática e ainda uma diversidade de outros produtos da terra. Os visitantes têm ainda a possibilidade de se deliciarem com pratos que começam já a ser uma tradição na nossa feira, tais como rancho e feijoada à transmontana. Org.: Junta de Freguesia de Vila Verde da Raia

Cinema

“Pedido de Amizade” 25 e 27 de Novembro| 21h30 e 15h30, 18h15, 21h30 Cine Teatro Bento Martins Chaves

Laura é uma estudante universitária que partilha os pormenores da sua intensa vida social com os 800 amigos do Facebook. Um dia, após aceitar um misterioso pedido de amizade de uma pária social chamada Marina, a sua vida é amaldiçoada e os seus amigos mais próximos começam a morrer num encadeamento de situações cruéis e insólitas. Org.: Teatro Experimental Flaviense

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