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CARTA AO LEITOR – REVISTA MARÇO /2024
Na primeira edição de 2024 da Revista “Educação Integral: reflexões sobre educação na perspectiva da integralidade humana”, os integrantes da Faculdade de Educação Paulistana que organizam este periódico, os professores e colaboradores desta publicação, escolheram uma temática que, embora não esteja expressa na maioria dos artigos e se apoia em discussões sobre a primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil, as considerações aqui reunidas devem ser objeto de reflexão da Educação como um todo. No mês de fevereiro, foi realizada uma consulta pública, que encerrou no dia 26 deste mês para, de forma democrática, “ouvir as vozes” dos profissionais da educação docentes e não docentes sobre os Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil. Essa consulta, organizada pelo Ministério da Educação (MEC), foi respondida por escolas e unidades educacionais de Educação Infantil, universidades, fundações, grupos de estudo e pesquisa, fóruns estaduais e municipais, sindicatos e outras entidades interessadas. A participação da sociedade civil na organização das políticas públicas para a infância possibilita a contribuição de todos e todas na construção de parâmetros de qualidade para crianças pequenas e bem pequenininhas, que se constitui em um elemento significativo para atender as peculiaridades do território brasileiro, tanto nos espaços urbanos e rurais, como nos quilombos, nos locais pertencentes aos povos originários, nas populações das florestas e das águas.
Destaca-se as contribuições de alguns grupos de discussão sobre questões relacionadas às políticas públicas para a Educação Infantil, que possibilitam e reflexão para todos os níveis, etapas e modalidades da Educação Brasileira.
A primeira delas refere-se a importância do redirecionamento do financiamento para a Educação, considerando que dinheiro público deve ser encaminhado necessariamente para a escola pública, extinguindo-se gradativamente os processos de convencimento com as entidades privadas de educação.
Destaca-se a necessidade da rigorosidade no cumprimento da legislação quanto à formação dos docentes, que devem atuar diretamente com as crianças desde a Educação Infantil, que deve ser compatível com as exigências legais, isto é, os professores e professoras devem ser graduados na área educacional que atuam. Outra questão refere-se à necessidade dos sistemas federal, estadual e municipal se autoavaliarem por meio das demandas das autoavaliações das unidades educacionais, que alimentam a construção das políticas públicas para a educação, compostas de diferentes aspectos, como o financiamento da educação para o atendimento às demandas das instituições educativas.
Desta forma, apoiadas pelas políticas públicas federal e municipais, consultando Diretrizes Curriculares Nacionais e Indicadores de Qualidade nacionais e municipais, as unidades educacionais podem organizar e autoavaliar os seus Projetos Político-Pedagógicos, contemplando as ideias, interesses e perspectivas dos bebês, das crianças pequenas, das crianças maiores, dos adolescentes, dos estudantes jovens e adultos, das famílias, da comunidade do entorno e dos profissionais da educação docentes e não docentes, em um movimento permanente de gestão democrática.
Em cada uma das unidades educacionais deve-se refletir sobre a organização dos tempos e espaços que atendam às necessidades e interesses da comunidade educativa, integrando os aspectos sociais e culturais, bem como considerar os direitos dos educandos e de suas famílias de usufruir de uma educação de qualidade social.
Neste sentido, os organizadores e colaboradores desta edição esperam concretizar a interlocução com uma diversidade de leitores, que poderão continuar o diálogo aberto nesta revista, por meio da escrita de artigos, da comunicação direta ou virtual com os profissionais da Faculdade de Educação Paulistana – FAEP.
Educação Integral: Reflexões sobre educação na perspectiva da integralidade humana
INEQ / FAEP
VOLUME 1 - NÚMERO 29 (MARÇO DE 2024)
Periodicidade: Trimestral
Os conceitos contidos nesta revista são de inteira reponsabilidade dos autores. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem prévia autorização dos autores.
CONSELHO EDITORIAL
Profo Dr. Claudinei Aparecido da Costa
Profo Dr. Clemente Ramos dos Santos
Profa. Ms. Ana Maria Gentil
EDITOR CHEFE
Profo Dr. Claudinei Aparecido da Costa
REVISÃO E NORMATIZAÇÃO DE TEXTOS
Mariana Mascarenhas
CAPA E PROJETO GRÁFICO Vanice Aparecida da Costa
INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO e QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL – INEQ
Rua Santa Ângela, 252, Vila Palmeiras, Freguesia do Ó, São Paulo – SP - Cep: 02727-000
Tel.: (11) 3564 1256
e-mail: educacaointegral@ineq.com.br
ISSN 2525-4294
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Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
INEQ Instituto Nacional de Educação e Qualificação Profissional / FAEP Faculdade de Educação Paulistana
Educação Integral
Revista do Instituto Nacional de Educação e Qualificação Profissional
Faculdade de Educação Paulistana n. 29 (Março, 2024) São
Paulo: INEQ/FAEP
Trimestral
Endereço eletrônico: https://ineq.com.br/revista/
ISSN 2525-4294
Wilma Aparecida Cavazini – Bibliotecária CRB 8 2665
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APRESENTAÇÃO
REVISTA EDUCAÇÃO INTEGRAL – Março de 2024
Nesta primeira edição da revista “EDUCAÇÃO
INTEGRAL: REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO
NA PERSPECTIVA DA INTEGRALIDADE HUMANA”, o Conselho Editorial, os docentes, a direção, os coordenadores pedagógicos dos cursos da FAEP e outros colaboradores objetivaram explicitar algumas questões relacionadas às políticas públicas para a Educação, demonstrando a necessidade de concretização do diálogo entre as esferas: federal, estaduais e municipais e as Unidades Educacionais para que as demandas reais das diferentes localidades e de suas populações sejam contempladas nos planos, diretrizes, programas e projetos governamentais.
Acredita na construção conjunta de documentos que orientam os níveis, etapas e modalidades da educação brasileira para que todas as instituições educativas possam refletir sobre as diretrizes, indicadores e parâmetros que emergiram de suas reais necessidades.
Esse movimento dialógico entre o sistema nacional, os sistemas municipais e estaduais constituem-se em um processo de gestão democrática que rompe com as práticas externas controladoras, que ignoram as especificidades dos espaços urbanos e rurais, das populações
dos quilombos, das águas, das florestas e daqueles pertencentes aos povos originários.
Neste sentido, dois artigos apresentados nessa edição possibilitam a reflexão sobre as ideias que subjazem a herança controladora dos sistemas de ensino.
O primeiro artigo, “A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR E SUA RELAÇÃO COM O SISTEMA SOCIAL DE PRODUÇÃO”, revela e denuncia as marcas deixadas nos estudantes pela educação escolar, que estruturou seus espaços, tempos, rituais, procedimentos disciplinares, propostas curriculares, mecanismos de controle dos corpos e vigilância para que os educandos sejam moldados de acordo com as necessidades da sociedade vigente, organizando uma escolarização de ações moralizantes e produtora de trabalhadores disciplinados para o mercado. Esta realidade, que pode ser pesquisada e analisada em documentos históricos, também é observada atualmente nas instituições educativas. O artigo anuncia, de forma objetiva e articulada com a pesquisa científica, a necessidade de uma postura crítica que indique a mudança dos espaços escolares, para que esses possibilitem a transformação das estruturas de controle e realizem
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processos educacionais humanizadores e emancipatórios.
O outro artigo que caminha neste sentido, “FAMÍLIA X ESCOLA: UMA PARCERIA DE SUCESSO NA EDUCAÇÃO INFANTIL” destaca a importância da interação entre a família e a escola, especialmente, nos primeiros anos em que as crianças pequenas e bem pequenininhas frequentam espaços coletivos com crianças de diferentes idades e adultos. A autora do texto, preocupada com uma abordagem holística para a educação da primeira infância, aponta a necessidade de participação ativa da família para colaborar com a ação de cuidado e educação, em diálogos permanentes e ações conjuntas. Para construir sua argumentação, ela realiza um estudo histórico do conceito de infância, da função social da família e das transformações na formação na estrutura familiar, destacando como as instituições, em diferentes épocas, apresentavam intenções educacionais que pretendiam moldar as crianças de acordo com as necessidades da sociedade política vigente. Aponta também os objetivos que devem orientar as instituições de Educação Infantil, nos aspectos que envolvem a organização dos tempos e espaços para garantir as experiências e aprendizagens das crianças e destaca as questões específicas que podem permear a comunicação estratégica entre as famílias e a escola.
ção relacionada à música, inclusive nos registros bíblicos, destacando a sua importância e evolução ao longo dos tempos ao considerar desde a criação dos primeiros instrumentos musicais até a atual utilização das tecnologias digitais. Fundamenta a necessidade de introduzir experiências musicais na Educação Infantil, por meio do aprofundamento dos estudos em autores como Piaget, Vygotsky, Wallon e Montessori, que possibilitam uma argumentação coerente com os objetivos propostos para o seu artigo. Explicita também algumas sugestões para a inserção da arte musical nas experiências interativas e brincantes proporcionadas aos bebês e às crianças bem pequenas, organizadas a partir de suas pesquisas e experiências em situações reais na Educação Infantil.
NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS
Os dois textos comentados a seguir abordam aspectos significativos da Educação Infantil. O primeiro, denominado “A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA
PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES” destaca a importância da Arte Musical como integrante essencial das experiências das crianças da primeiríssima infância (0 a 3 anos). A autora realiza uma retrospectiva histórica da produ-
O segundo artigo, que aborda as “BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL, COM CRIANÇAS DE QUATRO MESES A TRÊS ANOS”, destaca a importância dos professores e professoras da Educação Infantil organizarem espaços e tempos que possibilitem as interações e brincadeiras dos bebês e das crianças pequenas, de tal forma que possam explorar os diferentes ambientes e lugares com seus corpos, além de buscar formas diferenciadas de pesquisar múltiplas materialidades estruturadas e conhecidas, mas também e, principalmente, elementos da natureza e objetos variados e de diferentes culturas. As autoras buscam refletir sobre o papel dos docentes que devem possibilitar inúmeras vivências e experiências, a partir da observação e da escuta das crianças pequenas e bem pequenininhas, considerando o direito de viverem plenamente as suas infâncias.
O artigo “SUPERANDO OBSTÁCULOS: O PAPEL INTEGRADO DO PROFESSOR DA SALA
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DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS, PROFESSOR DA SALA REGULAR, EQUIPE GESTORA E CEFAI NAS ESCOLAS DE SÃO PAULO” busca
informar a importância do trabalho colaborativo entre as Diretorias Regionais de Educação de São Paulo e as unidades educacionais no que se refere à inclusão dos educandos que são considerados público-alvo da Educação Especial. Essa integração de profissionais em diferentes espaços concretiza o que foi apontado no início dessa apresentação, neste caso, sobre o diálogo entre a esfera municipal e a unidade educacional. O texto aponta a necessidade do planejamento de práticas inclusivas que atendam às especificidades de bebês, crianças, adolescentes, jovens e adultos, com ajuda do suporte de diferentes profissionais que trabalham na perspectiva do Atendimento Educacional Especializado e da Formação e Acompanhamento à Inclusão, para que sejam garantidos os direitos a educação para todos e todas, independente das suas diferenças. Aponta a necessidade da integração dos envolvidos, da formação permanente e do desencadear de novas investigações e pesquisas que assegurem a concretização de uma educação verdadeiramente inclusiva em todas as unidades educacionais.
O grupo responsável por esta edição da revista ressalta a importância de refletir também sobre o conteúdo do artigo “EXPULSÃO DE MULHERES E HOMENS TRANSEXUAIS NO ÂMBITO ESCOLAR”, considerando a necessidade de reivindicar políticas públicas que atendam as demandas das escolas, no que se refere à violência contra educandos e educandas que reconhecem de diferentes formas seus corpos e sua sexualidade. As autoras deste artigo demonstram com vivências e dados estatísticos como as escolas expulsam adolescentes, jovens e adultos transexuais, denominando este
fato de “evasão escolar” e culpabilizando os alunos que saíram antes, durante e depois do período letivo e ignorando ações de preconceito e discriminação, presentes no espaço, que deveria ser educativo. O texto destaca os avanços e conquistas da população LGBTQIAP+, especialmente, aqueles registrados pelas mulheres e homens transexuais. Enfatiza as estratégias necessárias para romper com as práticas escolares agressivas e abusivas, que explicitam a transfobia e a homofobia, propondo a conscientização de todas e todos sobre os direitos dessas/os educandas e educandos de se apropriarem do patrimônio histórico e cultural da humanidade.
Assim, ao apresentar os artigos desta edição, a comunidade da FAEP convida os leitores a encontrarem diferentes meios de denunciarem, em múltiplas linguagens, a violação de direitos das pessoas em geral, mas especialmente de bebês, crianças, adolescentes, jovens e adultos que, mesmo tendo acesso ao ambiente escolar não são ouvidos e considerados nas suas diferenças, nem atendidas às suas necessidades e interesses. Propõe a escrita de artigos, nesta revista e em outros periódicos, que anunciem formas de possibilitar a conscientização e a reivindicação de políticas públicas educacionais que garantam uma educação de qualidade social para todas e todos.
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SUMÁRIO
A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR E SUA RELAÇÃO COM O SISTEMA SOCIAL DE PRODUÇÃO
- Rosangela Ap. dos Reis Machado
FAMÍLIA X ESCOLA: UMA PARCERIA DE SUCESSO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
- Rita Patrícia de Morais Damasceno
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES
- Adriana Viana de Souza
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BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL, COM CRIANÇAS DE QUATRO MESES A TRÊS ANOS
- Andréia Marques
- Maria Luiza Bezerra
- Patrícia Evaristo Leite
SUPERANDO OBSTÁCULOS: O PAPEL INTEGRADO DO PROFESSOR DA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS, PROFESSOR DA SALA REGULAR, EQUIPE GESTORA E CEFAI NAS ESCOLAS DE SÃO PAULO
-Ana Cristina de Souza
EXPULSÃO DE MULHERES E HOMENS TRANSEXUAIS NO ÂMBITO ESCOLAR
- Ivanete Cardozo de Oliveira
- Juliana Rodrigues de Oliveira da Silva
- Regiane Alves dos Santos
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Rosangela Ap. dos Reis Machado
A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR E SUA RELAÇÃO COM O SISTEMA SOCIAL DE PRODUÇÃO
RESUMO
O texto discute que o aparecimento da escola enquanto instituição é uma produção da sociedade moderna, idealizada para constituir a formação do cidadão, a nova categoria dos sujeitos sociais do Estado Moderno. Para tal análise abordamos o surgimento dos colégios humanistas no século XVI, e a revolução que representaram na estrutura educacional da época, com uma nova organização espacial, temporal e pedagógica que são fundamentais do poder moderno, com uma estrutura de controle institucionalizado do espaço e do tempo. Para desenvolver tal argumento é utilizado como referencial bibliográfico os textos de André Petitat e Maria Lucia Spedo Hilsdorf. O texto conclui ressaltando a importância da escola na sociedade moderna, como um meio de ascensão social e de reprodução dos valores da burguesia. Destaca-se que a organização do tempo e do espaço escolares pode ser modificada para favorecer o desenvolvimento e a formação dos sujeitos sociais, exigindo uma postura crítica em relação ao trabalho escolar.
Palavras-chaves: Estado Moderno. Colégio Humanista. Instituições escolares
INTRODUÇÃO
Esse texto tem como objeto de reflexão o espaço escolar entendido como uma construção social que é aprendida e experimentada desde muito cedo pelos indivíduos. Considero que o locus de aprendizagem, a arquitetura do prédio
e seus elementos simbólicos, a localização das escolas nas cidades e sua relação com a ordem urbana, o tipo e a disposição das salas de aulas e de outras instalações, os tempos alocados a cada disciplina são elementos estruturantes do sistema escolar e expressam as relações sociais que neles se desenvolvem.
Nessa perspectiva, o objetivo desse trabalho é apontar o aparecimento da escola enquanto instituição como uma produção da sociedade moderna, idealizada para constituir a formação do homem técnico, do intelectual e não mais a formação do bom cristão, como acontecia na Idade Média. Para tanto, evidencio como a sua organização espacial – tanto interna quanto em relação à ordem urbana instaurada- precisou ser modificada para se adequar aos objetivos impostos por aquele período.
Para desenvolver tal análise utilizarei como referencial bibliográfico os textos de André Petitat e Maria Lucia Spedo Hilsdorf.
O surgimento dos colégios humanistas
O colégio humanista adota sua forma típica no século XVI. Novo programa, nova organização dos estudos e nova pedagogia representam uma ruptura em relação às antigas faculdades de artes. Conforme Petitat (1992), a estrutura desta nova instituição apreende-se em quatro níveis: o espaço, o tempo, a seleção de elementos sócio-culturais e a estrutura de poder.
A revolução apresentada pelos colégios é pri-
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meiramente uma revolução de espaços de ensino, “pela substituição dos locais dispersos mantidos por professores independentes, por um prédio único abrigando várias salas de aula”(PETITAT, 1992:144). Uma vez os alunos encerrados num grande espaço, a organização dos estudos baseada no controle do tempo entre o aprendizado da matéria e a verificação da aprendizagem iria se desenvolver; realizada a divisão espaço-temporal dos corpos e das idades ocorre a ruptura na seleção dos conteúdos ensinados, com a passagem de um programa centrado na lógica para um programa voltado ao estudo das belas-artes, das línguas latinas e gregas marcando a pedagogia dos colégios como a pedagogia da escrita. Nesse mundo fechado e ritmado, uma nova estrutura de poder surge, na maioria das vezes, com hierarquias burocráticas - diretor, professor e aluno.
O êxito dos colégios humanistas só pode ser compreendido a partir das transformações sociais da época, como bem assinalam Petitat (1992) e Hilsdorf (2006). De forma geral, os séculos XV e XVI conhecem uma verdadeira revolução do espaço europeu com a abertura dos caminhos oceânicos, abertura que se inscreve no lastro da atividade comercial. Como destaca Petitat (1992), ao espaço fragmentado da Idade Média feudal , sucede-se o domínio centralizado; ao mundo fechado do divino, o espaço infinito dos novos conquistadores. O colégio corresponde a um controle institucionalizado e centralizado do espaço, como analogia à racionalização do trabalho.
O tempo também sofre uma transformação pois emancipa-se da Igreja; a vida ligada aos ritmos cósmicos transforma-se numa vida profana, submetida ao controle do relógio. Os colégios também encarnam estas novas relações com o tempo (PETITAT, 1992).
A escrita e o colégio são os meios de um distanciamento da vida cotidiana e é exatamente o distanciamento entre o sujeito e o objeto o que fundamenta o conhecimento cientifico, o cerne do pensamento moderno.
Enfim, segundo Petitat (1992:146), “os colé-
gios apresentam em miniatura os elementos fundamentais do poder moderno, tal este começa a se esboçar no século XVI”.
Hilsdorf (2006), ao relacionar as transformações sociais a partir do século XVI com o êxito dos colégios humanistas, destaca quatro argumentos: o primeiro é a questão da clientela. Segundo a autora, considerando que a pedagogia dos colégios humanistas é centrada na escrita e que só quem detinha o domínio desse código poderia prestar serviços à corte, ao comércio, e às carreiras do Estado e da Igreja, sua clientela estava formada pela nobreza, burguesia e camadas populares apadrinhadas. O segundo argumento relaciona-se às práticas de leitura e escrita. Ler em silêncio passa a ser uma modalidade de leitura, “possibilitando a criação dos hábitos de intimidade e privacidade que estão na base do pensamento moderno” (HILSDORF, 2006:74).
O terceiro argumento é o uso dos colégios como signo religioso. Segundo a autora, os conteúdos dos colégios humanistas foram atravessados pelo conteúdo das duas Reformas e funcionaram como uma “igreja paralela”. O último argumento relaciona-se às concepções antropológicas da época. Educar crianças em colégios, “além de antecipar-lhes a formação profissional no confronto com a universidade, a escolarização da criança no colégio permitiria a proteção desse ser, visto desde os humanistas, como frágil e precioso” (HILSDORF, 2006:76).
Assim, a vida colegial enclausurada num grande espaço e controlada pelo tempo profano será a marca da ordem, da certeza e da segurança; aspirações da burguesia em meio a uma realidade incerta, insegura e desordenada.
A organização dos colégios humanistas e os fundamentos da Escola Moderna
Como afirma Hilsdorf (2006), o modelo colegial garantia a presença dos alunos durante vários anos e a concentração das atividades de ensino num mesmo espaço, o que racionalizava a
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atuação dos professores e, em meados do século XVI os colégios humanistas já apresentavam uma “racionalização” do ensino tal como conhecemos hoje: “uma sala de aula para cada classe, com um único professor, permitindo o ensino coletivo para os respectivos alunos” (HILSDORF, 2006:79), com o uso de sistema de verificação dos estudos que abrangia exames, honrarias e castigos assim como controle acirrado da conduta cotidiana dos alunos.
Será esse modelo de ensino que se firma entre os séculos XVI e XVIII tornando a educação institucionalizada que, para ser legitimada, precisa acontecer num lugar determinado: a escola, responsável socialmente por educar as crianças. Desse modelo de ensino ratifica um modelo de infância: criança é aquela que vai à escola, que vive um tempo de não trabalho, período vivido antes da maturidade (HILSDORF, 2006).
Para educar as crianças dois traços fundamentais caracterizaram o universo pedagógico dos colégios: a separação do mundo e a vigilância dos adultos. Os colégios não só eram distantes da cidade, como também internamente havia separação de espaços conforme seus usos: “existência de pátios e jardins internos e a estratégica destinação central dos edifícios das classes” (HILSDORF, 2006:81). Tal organização do espaço escolar evidenciava a ideia de que as crianças deveriam ficar entre os muros, vigiadas pelos adultos em atitudes de obediência e submissão para tornarem-se adultos do bem (SNYDERS apud HILSDORF, 2006).
Embora nem esse modelo de colégio interno nem a imagem da infância como personagem que necessita de distanciamento do mundo adulto tenham sido tão dominantes, como bem destaca Hilsdorf (2006) ao citar outros modelos de currículos e culturas (colégios jansenistas e oratorianos por exemplo e a cultura holandesa), cabe destacar aqui a institucionalização do colégio como o principal meio educativo, promovendo a escolarização da sociedade que, por meio da organização dos seus espaços, produz aprendizagens. Aprendem-se formas de ser e agir, o que é ser
adulto ou criança, educado/a ou mal-educado/a, aprendente ou não-aprendente, obediente ou desobediente. Ao estabelecer regras e ritmos, o espaço escolar marca os corpos infantis lhes posicionando na sociedade moderna emergente.
Passar pela escola, já no século XVI, conferia às pessoas um modo próprio de ser. Os tempos, os espaços e a linguagem validados pela escola interiorizavam-se no sujeito, não apenas o instruindo intelectualmente, mas formatando seus valores e, em especial, os valores sobre si mesmo. Tal constatação desmistifica a imagem da escola enquanto uma instituição neutra, preocupada com a transmissão do conhecimento científico; ao contrário, evidencia que os padrões de organização do tempo e espaço escolar criam formas de produção e reprodução social.
O que mais nos espanta é constatar que as formas de produção social utilizadas pela escola do século XVI ainda são encontradas hoje. Quando entramos em uma escola estamos em um lugar bem conhecido. Um local que frequentamos por longos anos e do qual temos muitas recordações. Ali as coisas têm mudado muito pouco. Nós conhecemos bem a organização deste espaço físico, o tipo dos móveis, as diferentes disposições do ambiente e a forma de sua edificação e não nos causam surpresas seus padrões de relacionamento e convivência social, suas expectativas de comportamento, seus ritos, sua disciplina, seus horários de trabalho e lazer e seus procedimentos pedagógico-didáticos. A escola, por meio da sua materialidade, traduz ainda hoje o mesmo sistema de valores, tais como os de ordem (por exemplo, a distribuição das séries pelas salas de aula), disciplina (rotinas) e vigilância (instalações desenhadas para permitir o controle tanto dos alunos como dos professores) preconizados desde o surgimento do sistema escolar.
Mas porque a escola continua sendo uma instituição tão importante para a sociedade? Petitat (1994) nos possibilita um caminho de reflexão. A sociedade Moderna, ao criar o Esta-
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do-nação e os cidadãos como sujeitos dessa nova configuração social com direitos e deveres, baseado numa igualdade formal, lhes confere a possibilidade de ascensão social por um lado e, por outro, o próprio processo de crescimento do Estado com a urbanização e industrialização, multiplicam as necessidades do domínio da língua escrita e a escolarização obrigatória torna-se uma política de desenvolvimento econômico, cultural e social.
Se todos os cidadãos são iguais e a escolarização é uma política pública, a ascensão social torna-se uma aspiração do povo, que vê sua realização no domínio da escrita e leitura, daí a importância da escola ainda nos dias atuais. Porém, se a escolarização obrigatória é uma necessidade das transformações histórico-sociais, a burguesia, procurando preservar suas posições, utilizará da escola como instituição de ação moralizadora para o povo fundamentada nos seus valores, o que pode ser visto na organização do ensino: “o ensino primário público apresenta-se basicamente como uma instrução moralizadora para o povo e o ensino secundário e superior como uma formação para a elite” (PETITAT, 1994:147). E é na produção e (re)produção do sistema escolar que a burguesia atual, assim como a do século XIX “preserva seu curso de qualquer invasão, abrindo outros cursos escolares modernos; estes últimos dão espaços às esperanças de mobilidade, reforçam a ideologia a eles vinculados, produzem e reproduzem ao mesmo tempo os quadros de todos os níveis de crescente exército de assalariados da produção e dos serviços” (PETITAT, 1994:183).
Tais reflexões, longe de serem objeto de pessimismo pedagógico, permitem constatar que se entendemos que a organização do tempo e do espaço escolares é construção humana que foi elaborada no decorrer da história e que, portanto, expressa as relações sociais que aí se estabelecem, podemos vislumbrar a possibilidade de mudanças na estrutura espaço-temporal das escolas de modo a se tornarem espaços que favoreçam o processo de desenvolvimento e formação sujeitos sociais
Considerações Finais
Esse trabalho apontou que o aparecimento da escola enquanto instituição é uma produção da sociedade moderna, idealizada para constituir a formação do cidadão, a nova categoria dos sujeitos sociais do Estado Moderno. Para tanto, a sua organização espacial – tanto interna quanto em relação à ordem urbana instauradaprecisou ser modificada para se adequar aos objetivos impostos por aquele período.
Constatou-se que o espaço escolar não é uma construção neutra, pois sempre educa; desde a estrutura arquitetônica do prédio ao mínimo detalhe decorativo deve ser considerados como também fazendo parte do currículo escolar, uma vez que correspondem a padrões culturais e pedagógicos que a criança internaliza e aprende.
Dessa forma, ao evidenciar o percurso histórico-social em que a escola se desenvolveu é que podemos afirmar que tanto a organização do tempo quanto a concepção e organização dos espaços escolares podem ser mudados, exigindo, para isso, uma postura crítica em relação ao trabalho escolar concebido e desenvolvido em nossa sociedade.
Referencias bibliográficas
PETITAT, André. Entre a história e a sociologia. Uma perspectiva construtivista aplicada à emergência dos colégios e da burguesia. Teoria & Educação, 6, 1992 p. 135-149
PETITAT, André. Produção da escola. Produção da sociedade. Análise sócio-histórica de alguns momentos decisivos da evolução escolar no ocidente. Porto Alegre: Artes Médicas. 1994. Parte II, Cap.5, 6. 7 e 8.
HILSDORF, Maria Lucia Spedo. A escola secundária Erudita. In: O aparecimento da escola moderna. Uma história ilustrada. Belo Horizonte, MG: Autêntica. 2006. p. 55-107.
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FAMÍLIA X ESCOLA: UMA PARCERIA DE SUCESSO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Rita Patrícia de Morais Damasceno
RESUMO
Este trabalho visa explorar a importância da colaboração entre família e escola no processo de educação infantil, reconhecendo a influência positiva dessa parceria no desenvolvimento integral da criança. Com base em uma revisão bibliográfica abrangente, analisamos teorias pedagógicas, estudos de caso e pesquisas que destacam a relevância da interação entre a família e a escola durante os primeiros anos de vida da criança. No contexto da educação infantil, a família desempenha um papel crucial como o primeiro ambiente de aprendizado da criança. A parceria entre família e escola não apenas fortalece os laços sociais e emocionais da criança, mas também contribui significativamente para seu desenvolvimento cognitivo e socioemocional. Exploramos estratégias eficazes para promover essa parceria, destacando a importância da comunicação aberta e colaborativa entre pais e educadores. Discutimos também a implementação de atividades conjuntas que envolvam a participação ativa da família no processo educativo, promovendo uma abordagem holística para o aprendizado infantil. Além disso, abordamos desafios comuns que podem surgir nessa colaboração e propomos soluções práticas para superá-los, visando criar uma atmosfera positi-
va e construtiva para o benefício da criança. Ao concluir, este trabalho destaca a necessidade de reconhecer a família como um parceiro essencial no processo educacional, enfatizando a importância de uma colaboração bem- sucedida entre família e escola para otimizar o desenvolvimento infantil na educação inicial. A pesquisa busca contribuir para a compreensão mais aprofundada desse relacionamento e fornecer orientações práticas para educadores, pais e profissionais envolvidos no cuidado e na educação de crianças em idade pré-escolar.
Palavras-Chave: família; escola; educação infantil;
INTRODUÇÃO
A evolução da Educação Infantil, especialmente no contexto brasileiro, apresenta uma série de eventos, muitas vezes, negligenciados devido a diversas razões. Nos cursos de Pedagogia, deparamo-nos apenas com fragmentos desses eventos, resultando do formato acelerado de estudo que adotamos, onde há uma carga considerável de conteúdo em um espaço limitado de tempo. É importante salientar que essa limitação de abordagem não é exclusiva desse curso, sendo uma característica comum
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as diversas outras áreas do conhecimento. A complexidade e vastidão dos temas tornam impossível abranger todos os aspectos em um período acadêmico limitado.
Consequentemente, é fundamental compreender que há tópicos específicos que se destacam em relação aos demais, cabe aos próprios estudantes buscar aprofundamento. Somente através dessa iniciativa pessoal poderemos encontrar soluções para grande parte de nossas indagações, reconhecendo que a busca pelo conhecimento é um processo contínuo e autônomo.
Um profissional qualificado deve possuir profundo entendimento do campo em que atua. Uma das maneiras de atingir esse objetivo é por meio da pesquisa bibliográfica, cuja metodologia é essencial para compreender a evolução dos acontecimentos. Questionar o presente sem conhecimento do passado é desafiador, e para formular uma opinião crítica sobre a Educação Infantil, é crucial percorrer sua história, compreendendo seu desenvolvimento e fundamentando nosso julgamento.
Diante dessas considerações, surge a necessidade de investigar a Educação Infantil, explorando sua construção, avanços, retrocessos e conquistas. A pesquisa proposta busca responder questões fundamentais como: de que maneira o engajamento entre a família e a escola pode ser uma relação positiva e enriquecedora? Como a parceria entre escola e família pode favorecer o desenvolvimento infantil?
O trabalho está estruturado em cinco capítulos. O primeiro capítulo aborda os caminhos histórico da Educação Infantil. O segundo capítulo aborda a questão da família e a sua função social. O terceiro capítulo analisa o espaço escolar e sua importância educacional. No quarto capítulo será discorrido a questão da
relação de família X escola: formando parcerias e no quinto e último capítulo abordaremos a comunicação estratégica na relação: família X escola.
Finalmente, as considerações finais revelam os resultados da pesquisa, evidenciando a necessidade de compreender a importância da parceria entre a família e a escola, principalmente no que se refere à educação infantil, que se trata de uma fase importantíssima na vida da criança.
1 CAMINHOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Neste capítulo inicial, busca-se esclarecer a formação do conceito de infância e sua evolução ao longo da história da humanidade. Além disso, o objetivo é identificar como se deu o surgimento das primeiras escolas primárias em âmbito global e nacional, com um enfoque especial no contexto brasileiro.
Embora as crianças sempre tenham existido, o conceito de infância é uma construção social que se desenvolveu ao longo da história. Quando, exatamente, esse conceito nasceu? Como as sociedades viam as crianças antes de concebê-las como indivíduos dotados de direitos próprios, moldando assim sua trajetória histórica?
Os termos “criança” e “infância” foram forjados ao longo do tempo e continuam a ser moldados pelos valores prevalentes em diferentes períodos sociais (BERNARTT, 2009, p. 2).
Isso nos leva a refletir sobre como os contextos sociais, econômicos, culturais e políticos influenciaram a construção desses conceitos, cujas percepções sobre a infância são cons-
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tantemente refinadas por novas descobertas nas áreas de pesquisa dedicadas a compreendê-la mais profundamente.
As evidências sobre a vida infantil na Pré-História e na Idade Antiga são limitadas, mas sabemos que a mortalidade infantil era alta devido às condições precárias. Em alguns casos, famílias consentiam com essa situação, como evidenciado no Império Romano, onde práticas como enjeitamento e infanticídio eram comuns e legalmente aceitáveis (VEYNE, 2009).
Na Idade Média, as crianças eram consideradas “adultos em miniatura” até que estivessem prontas para participar da guerra ou reprodução. Não havia distinção social entre adultos e crianças, e as crianças nobres recebiam educação, mas eram vistas como versões em miniatura dos adultos (ANDRADE, 2010).
Independentemente da classe social, as crianças eram inseridas no mundo adulto desde cedo, executando as mesmas atividades. Não havia um tratamento específico para a infância, e a morte de crianças era muitas vezes encarada com indiferença, pois poderiam ser prontamente substituídas (ARIÈS, 1981).
[…] um sentimento superficial da criança - a que chamei “paparicação” era reservado à criancinha em seus primeiros anos de vida, enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadinha. As pessoas se divertiam com a criança pequena como com um animalzinho […]. Se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois uma outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato (ARIES, 1981).
Com o surgimento do sistema capitalista, surge uma preocupação crescente com o bem-estar das crianças, indo além da mera integridade física. A necessidade de educar esses jovens para assegurar a administração da herança familiar levou à consolidação da escola como uma instituição responsável por separar as crianças e jovens do mundo adulto, utilizando práticas autoritárias e disciplinares em prol da formação do “futuro cidadão” (ANDRADE, 2010).
O início das instituições de ensino marca o estabelecimento de espaços nos quais as crianças são segregadas do mundo adulto com o objetivo de moldar futuros cidadãos por meio da disciplina, visando uma cidadania adulta bem instruída. A criação da escola, nesse contexto, está intrinsicamente ligada à necessidade de instruir as crianças para a vida adulta, atendendo às demandas do sistema capitalista. Além da influência capitalista na criação das instituições de ensino primário, na Inglaterra, França e outros países europeus durante a Primeira Revolução Industrial no século XVIII, surgiram instituições destinadas a auxiliar famílias que trabalhavam longas horas e não tinham onde deixar seus filhos:
No contexto da Revolução Industrial, foram organizados serviços coordenados por membros da comunidade para cuidar das crianças cujos pais trabalhavam em fábricas, fundições e minas. Gradualmente, surgiram instituições filantrópicas voltadas para o desenvolvimento infantil” (PASSAMAI; SILVA, 2009).
Essas instituições filantrópicas, destinadas a crianças de 2 a 3 anos, visavam ao desenvolvimento por meio de atividades como ensino religioso, canto, memorização e exercícios que se assemelhavam a uma pré-escrita. Inicialmente desprovidas de uma proposta instrucional for-
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mal, essas instituições passaram a adotar práticas voltadas para o desenvolvimento de bons hábitos, regras morais e valores religiosos.
Froebel, pedagogo alemão nascido em 1782, desempenhou um papel crucial na história da pedagogia ao fundar o conceito de “Jardim de Infância”. Ele concebia esses espaços como locais para cultivar os potenciais latentes de cada criança, utilizando contatos com a natureza, atividades lúdicas e materiais apropriados (PEREIRA, 2021).
A partir do século XVIII, com o surgimento do capitalismo, as transformações familiares deram origem ao “sentimento de família”, centrando a atenção na criança como herdeira das riquezas familiares. A criança passou a ser vista como um ser dependente, frágil e ignorante, necessitando de instrução para se tornar um cidadão bem-sucedido (ANDRADE, 2010).
Diante da falta de atenção adequada por parte da família, crianças e adolescentes estão sendo orientados, principalmente, por suas próprias vivências, influências de amizades e até mesmo exposição a conteúdos impróprios na internet e programas de televisão inadequados para suas faixas etárias.
Hoje em dia, muitos pais enfrentam a necessidade de trabalhar arduamente para garantir o sustento da família, o que muitas vezes resulta na escassez de tempo disponível para dedicar à educação dos filhos.
No entanto, é essencial estabelecer um diálogo constante com os pequenos, demonstrando interesse genuíno em sua vida escolar e, assim, construindo uma relação afetiva necessária para estimular o desejo da criança em aprender mais. A união das duas instituições, família e escola, desempenha um papel crucial na formação integral da criança para a vida.
A escola é junto com a família, a instituição social que maiores repercussões têm para a criança. Tanto nos fins explícitos que persegue expressos no currículo acadêmico, como em outros não planejados, a escola será determinante para o desenvolvimento cognitivo e social da criança e, portanto, para o curso posterior da vida (CUBERO, 1995).
No Brasil, as escolas surgiram, inicialmente, no início da colonização do nosso país, por volta de 1549, com a chegada dos jesuítas, que tinham como propósito catequizar os nativos, que aqui viviam. A instrução era ministrada nos conventos, onde, conforme destacado por Ferraz et al. (2008), os índios aprendiam a ler, escrever, contar e a falar o português. Isso sugere que, desde os primeiros momentos, a educação dos indígenas seguia os padrões europeus.
A inauguração da primeira escola elementar, destinada à educação primária, ocorreu apenas 15 dias após a chegada dos portugueses ao Brasil. Essas instituições também difundiam a fé católica e adotavam o modelo europeu como referência para a educação. Contudo, um marco significativo ocorreu em 1875 com a fundação do primeiro Jardim de Infância, localizado no Rio de Janeiro.
Essa instituição, de caráter privado e financiada pela classe alta, estava voltada para as crianças da elite, enfatizando os saberes pedagógicos em detrimento da assistência, característica presente em instituições destinadas às crianças de classes sociais mais baixas.
2 - A FAMÍLIA E SUA FUNÇÃO SOCIAL
A instituição familiar passa por transformações significativas e interpretações diversas,
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variando conforme a estrutura social e o contexto histórico. Um núcleo familiar bem-organizado pode exercer uma influência substancial no desenvolvimento da criança, impactando sua vida pessoal, profissional e acadêmica. No âmbito escolar, a presença da família desempenha um papel crucial no processo educacional, contribuindo para esclarecer, ajustar e analisar a adaptação social e cultural.
É relevante destacar que, em um passado recente, os familiares eram frequentemente excluídos desse processo. Contudo, atualmente, a escola reconhece a importância da participação da família, transformando-se em um ambiente interativo. Torna-se fundamental estabelecer uma conexão entre escola, família e aluno, compreendendo que a escola não opera de forma isolada.
A instituição mais crucial na sociedade é a família, sendo considerada não apenas como a base da estrutura social, mas também como a preparação das gerações futuras. Atualmente, desempenha um papel vital nas relações sociais, proporcionando às pessoas uma perspectiva verdadeira do mundo e servindo como horizonte para o futuro individual.
A sociedade moderna enfrenta mudanças significativas nos âmbitos econômico, político e cultural, impactando todos os aspectos da vida pessoal e social. Essas transformações têm uma forte repercussão na vida familiar, que é a principal referência para seus membros, oferecendo educação, assistência, proteção e a estrutura necessária para o desenvolvimento pessoal. A família desempenha um papel fundamental na construção da personalidade do indivíduo, capacitando-o a se integrar à sociedade e alcançar seus objetivos.
Atualmente, a estrutura familiar difere substancialmente do antigo modelo de pai, mãe e
filhos. Novas formas de composição familiar surgiram, incluindo casais de relacionamentos anteriores, famílias homossexuais, avós e netos, entre outras. O século XX testemunhou transformações que afetaram a instituição familiar, como o aumento do divórcio e a maior participação da mulher no mercado de trabalho, muitas vezes assumindo a liderança na gestão da casa e dos filhos na ausência do pai. O conceito de família foi expandido, sendo reconhecido pelo artigo 227, parágrafo 5º do Código Civil brasileiro de 11 de janeiro de 2003, como qualquer união estável entre pessoas que se amem e respeitem.
Independentemente da formação familiar, os membros ainda buscam uma relação monogâmica fundamentada no respeito mútuo. Como aponta Maluf (2010): A família é originariamente o lugar onde o homem se encontra inserido por nascimento ou adoção e nela desenvolve, através das experiências vividas, sua personalidade e seu caráter.
Sobre a origem da família, de acordo com Cardoso e Brambilla (2015): é quase tão primitiva quanto o próprio homem, sendo auferível sua existência desde os primeiros povos que se tem notícia. Isto porque o ser humano possui uma inclinação intrínseca de conviver com seus semelhantes.
As conexões familiares desempenham um papel significativo na sociedade, uma vez que são legalmente dotadas de efeitos relevantes. Essas relações estabelecem direitos e responsabilidades mútuas entre os familiares, abrangendo tanto aspectos patrimoniais quanto pessoais, impondo proibições (GONÇALVES, 2021).
Sob o aspecto sociológico, a família detém o poder de transmitir valores, possibilitando o
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crescimento e desenvolvimento da criança. O desempenho das funções educativas torna-se um papel e responsabilidade fundamentais da família. Essas funções devem criar condições para a integração do futuro cidadão na vida social, sendo os pais as primeiras figuras às quais a criança se espelhará, adquirindo discernimento sobre o que é certo e errado.
A família representa a primeira instituição que introduz a criança em uma estrutura social. Dentro dos relacionamentos promovidos em seu seio, ocorre a internalização das primeiras regras e acordos entre pais e filhos.
[...] o ambiente familiar é onde se estabelecem as primeiras relações afetivas. Os pais, independentemente do gênero, são responsáveis por garantir a segurança dos filhos, bem como estabelecer laços afetivos e vínculos de confiança. Esses princípios independem de situação socioeconômica e de crenças, demandando, necessariamente, amor e proteção. É nesse cenário que se encontra a família, tanto como um espaço de amor, proteção e desenvolvimento quanto como de violação, abandono e desproteção. Cada espaço familiar é particular e distinto, envolvendo influências de fatores que vão muito além da nomenclatura e das aparências sociais. Inclusive, independe de classes socioeconômicas (LEITE, 2016).
O desenvolvimento da base educacional de cada crianças se inicia no seio familiar, com a convivência com pais e irmãos, em interação com seus responsáveis, que, de forma involuntária, contribuem para seu discernimento entre o certo e o errado, auxiliam na compreensão do significado de seus sentimentos e influenciam na formação de sua personalidade e pensamentos sobre diversos temas.
No contexto da educação infantil, quando conduzida por profissionais, esses valores originados no ambiente doméstico passam por uma reconstrução por meio de atividades educativas. O objetivo é conhecer e compreender as particularidades de cada núcleo familiar, proporcionando à criança uma experiência fundamental que os pais, por si só, não conseguem oferecer. Esse contato com a diversidade é essencial para que a criança aprenda a lidar de maneira mais eficaz ao longo de seu desenvolvimento.
Como confirma Moletta (2018): a criança possui uma natureza singular que a caracteriza como um ser que sente e pensa o mundo e no mundo. É um sujeito que, nas interações que estabelece com as pessoas e com o meio que o circunda, experimenta cultura, significa tal cultura e interpreta o mundo.
Atualmente, a estrutura e a configuração familiar passam por significativas transformações. Essas mudanças têm impactado os modelos tradicionais de família, revelando a complexidade das relações estabelecidas pelos indivíduos na sociedade contemporânea ou pós-moderna. Historicamente e culturalmente, o estereótipo de família estava fundamentado em papéis claramente definidos: o pai como provedor e autoridade máxima, a mãe como cuidadora, responsável pelos afazeres domésticos e pelo cuidado próximo dos filhos e do marido. Este modelo, reconhecido como a família nuclear, era amplamente aceito e seguia uma padronização estabelecida. No entanto, as atuais mudanças têm desafiado essas convenções, destacando a diversidade e a dinâmica das famílias contemporâneas.
na medida em que as sociedades vão adotando o modelo industrial em detrimento do agrário, as funções e o papel da família também mudam. O fato mais
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importante que ocorre e que historicamente ocorreu com o predomínio do modo de produção industrial, a passagem da família rural tradicional para a família urbana industrial, foi a mudança do grupo de parentesco extenso para o nuclear (DIAS,2015).
Em meio à revolução informacional e às transformações nas formas de socialização, observamos o surgimento de novos arranjos familiares tanto em contextos nacionais quanto internacionais. A preservação da unidade familiar também está intrinsecamente vinculada à promoção de uma melhor qualidade de vida para seus membros, e essa conexão é profundamente enraizada na produção econômica da sociedade. Nesse contexto, as responsabilidades da família na educação das crianças englobam uma série de ações que exercem influência na formação da personalidade, cultura e índole do indivíduo como um todo.
3 - O ESPAÇO ESCOLAR E A SUA IMPORTÂNCIA EDUCACIONAL
O ambiente escolar, especialmente quando se trata de educação infantil, necessita ser meticulosamente planejado para atender às necessidades das crianças. Deve ser um local acolhedor, prazeroso e alegre, proporcionando conforto e acolhimento. Cada criança é única, apresentando características próprias, qualidades, defeitos, desejos, pensamentos e comportamentos distintos. Portanto, é justo que elas tenham um espaço de aprendizado e convivência que promova seu bem-estar e favoreça o processo de aprendizagem.
Esse espaço deve ser permeado por vida, alegria e interações, um local propício para descobertas e aprendizados, contribuindo significativamente para o desenvolvimento saudável
das crianças. Quando todo o planejamento e estruturação seguem essa abordagem, a escola não apenas auxilia no processo de amadurecimento, mas também estabelece vínculos afetivos entre as crianças e os educadores.
A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação (RCNEF,1998)
A organização e ambientação nas instituições de educação infantil deve ser concebida de maneira a atrair a atenção e desafiar as habilidades das crianças. Se o ambiente não for estimulante, falhará em despertar o interesse e a curiosidade das crianças, resultando em insatisfação e dificultando o sucesso do trabalho do educador. Diversos métodos podem contribuir para esse processo de aprendizagem.
A contação de histórias, por exemplo, permite que o professor utilize artifícios para transportar as crianças no tempo. Além disso, o uso de jogos didáticos variados e diversas brincadeiras podem tornar as aulas mais prazerosas e estimulantes para as crianças, que têm o direito a essa abordagem.
Ao considerarmos os direitos das crianças e compreendermos a importância da infância dentro do espaço educacional, esse conhecimento se torna um ponto de partida crucial para a elaboração de práticas pedagógicas consistentes. O professor enfrenta grandes desafios ao buscar um planejamento eficaz. É importante reconhecer que, antes mesmo de ingressarem na escola, as crianças já são ex-
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postas a um ambiente alfabetizador, representado pelo mundo ao seu redor.
É importantíssimo recordar que a prática da escrita, antes mesmo de se manifestar no âmbito educacional, permeia o mundo ao nosso redor. As crianças, desde tenra idade, mantêm interações constantes com a escrita ao se envolverem com livros, revistas, anúncios, produtos e brinquedos. É nesse contexto que o professor, atuando como mediador da aprendizagem, pode pavimentar um percurso pedagógico sólido, conduzindo as crianças a ingressarem no processo de construção do sistema de escrita. Isso pode ser alcançado por meio da utilização de diversos materiais disponíveis na sala de aula, explorando metodologias que auxiliem os educandos a compreender o valor da escrita e sua relevância desde os primeiros anos de vida (Oliveira et al, 2012).
Quando se pensa em educação, primeiramente são enfatizadas propostas educacionais voltadas para uma educação séria, responsável e com propósitos voltados à participação da família, pois sabe-se que por melhor que seja uma escola e por mais preparados que sejam sua equipe pedagógica, haverá falhas. Devido a isso é necessário à participação efetiva e constante da família no processo de aprendizagem (SANTOS,2014).
A escola possui a responsabilidade fundamental de orientar os indivíduos que fazem parte de sua comunidade no desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social. Isso é alcançado por meio dos processos de ensino e aprendizagem, visando proporcionar aos alunos os conhecimentos e habilidades essenciais para suas vidas na sociedade. Portanto, é crucial que a escola capacite seus estudantes com a proficiência nos conteúdos fundamentais que serão aplicados ao longo de suas trajetórias,
promovendo o exercício pleno de seus direitos como cidadãos.
Mesmo diante das transformações sociais e educacionais ao longo do tempo, a escola mantém-se como a instituição encarregada de socializar o conhecimento, transmitindo e preservando os saberes acumulados ao longo da história para as gerações vindouras. A escola assume o papel de uma instituição insubstituível, fortalecendo-se ainda mais diante das mudanças, e continuando a desempenhar um papel crucial na construção da humanidade.
O que torna a educação possível e necessária é o fato mesmo da ‘modificabilidade humana’. O homem é um ser que se transforma (...) a transformação ‘interior’, que faz dele um ser histórico. (...) Há nele, portanto, um ‘desenvolvimento interior’; individual ou coletivamente, a vida humana é um ‘enriquecimento’ em que cada momento do tempo contém mais do que havia nos momentos anteriores. (BARROS, 2004).
A escola desempenha um papel fundamental na sociedade, indo além da mera transmissão de conhecimento. Sua verdadeira essência reside na formação para a autonomia, capacitando os indivíduos a autogovernarem-se.
O ato de educar só alcança plena autonomia e libertação quando o conhecimento científico é absorvido com humildade, tornando-se uma ferramenta para cultivar cidadãos críticos. A formação integral vai além das disciplinas acadêmicas, estendendo-se à compreensão dos contextos históricos, sociais e econômicos. A verdadeira autonomia educacional capacita os alunos não apenas a absorverem informações, mas a utilizarem esse conhecimento para transformar a sociedade em que estão inseridos.
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Como afirmava Paulo Freire na década de 70, a educação, por si só, não é capaz de promover uma mudança social significativa. No entanto, sem ela, a transformação é ainda mais improvável. Assim, a escola se torna uma plataforma essencial para catalisar a evolução da sociedade, moldando cidadãos conscientes e comprometidos com a construção de um futuro mais justo e equitativo.
O impacto da instituição escolar na vida da criança é notável a ponto de ser fundamental refletir sobre qual é o papel social desempenhado pela escola na vida dos estudantes e na sociedade. A escola, enquanto instituição singular, tem o conhecimento como sua principal área de atuação, um conhecimento que se origina das relações sociais prévias, fundamentais para a formação do aluno e para o desenvolvimento e continuidade da espécie humana. Para que ocorra o desenvolvimento global da formação educacional de uma criança, especialmente na fase inicial do desenvolvimento, como é o caso da Educação Infantil é importantíssimo destacar a importância de um ambiente que vá além das simples paredes decoradas, sendo, portanto, um elemento fundamental para o desenvolvimento das mais diversas trocas de experiências enriquecedoras e estimulantes aos pequenos aprendizes.
A importância do espaço escolar na Educação Infantil está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento global das crianças. O espaço escolar na Educação Infantil desempenha um papel crucial no desenvolvimento holístico das crianças. Desde a disposição das salas de aula até os espaços de recreação, cada detalhe contribui para a construção de uma base sólida para o aprendizado e para a formação integral dos pequenos cidadãos. Assim, investir na adequada estruturação e organização do espaço escolar é essencial para assegurar uma educação de qualidade e o pleno desen-
volvimento das potencialidades das crianças desde os primeiros anos de vida.
4 - A RELAÇÃO: FAMÍLIA X ESCOLA: FORMANDO PARCERIAS
A família e a escola desempenham papéis fundamentais no processo educativo das crianças, sendo responsáveis pela formação dos primeiros grupos sociais a que os alunos pertencem. A participação ativa da família no ambiente escolar é crucial para o sucesso educacional das crianças. É essencial que a escola, em colaboração com a família, destaque a importância da aprendizagem dos conhecimentos do mundo para as crianças, proporcionando uma visão clara da relevância dos estudos para seus filhos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) n. º9394/1996, em seu artigo 2º, enfatiza que a educação, como dever da família e do Estado, visa o pleno desenvolvimento do educando e sua preparação para o exercício da cidadania. De acordo com a lei, a educação da criança demanda a união entre a família e a escola. Quando a criança percebe o interesse de sua família em relação ao seu aprendizado, ela tende a demonstrar maior motivação para assimilar os conteúdos, buscando evidenciar sua evolução aos pais. Dessa forma, todos os envolvidos na educação da criança saem beneficiados, especialmente ela.
No contexto da LDB n. º9394/1996, em seu artigo 12° e incisos VI e VII, destaca-se que os estabelecimentos de ensino têm a responsabilidade de articular-se com as famílias e a comunidade, estabelecendo processos de integração entre a sociedade e a escola. Além disso, a escola deve informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o desempenho dos alunos, bem como sobre a execução de sua
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proposta pedagógica. Isso evidencia que a escola tem o dever de interagir com as famílias e criar um ambiente acolhedor para a participação ativa da comunidade em sua rotina educacional.
Se tanto a família quanto a escola visam proporcionar uma educação de qualidade, é ideal que colaborem de forma coordenada, planejando a educação escolar de maneira simultânea. Essa abordagem conjunta cria um ambiente que oferece às crianças segurança no processo de aprendizagem. A integração efetiva entre família e escola amplia as oportunidades de atender às necessidades educativas das crianças, seja elas especiais ou não, garantindo a proteção necessária ao status de cidadão infantil, com seus direitos e deveres constitucionalmente assegurados. Contudo, para que essa colaboração seja efetiva, é indispensável e obrigatória a participação da família no ambiente escolar.
Conforme reconhecido, tanto a família quanto a escola compartilham responsabilidades cruciais em relação à criança e seu desenvolvimento. A participação ativa da família no ambiente escolar emerge como um fator de extrema importância para otimizar o desempenho dos alunos. Nesse contexto, busca-se compreender a dinâmica entre família e escola, considerando os diferentes atores envolvidos nessa relação. Enquanto no âmbito familiar, os filhos estão sob a responsabilidade dos pais, na escola, a direção e o corpo docente assumem essa responsabilidade.
Ao abordarmos a interação família/escola, deparamo-nos com um desafio, visto que, frequentemente, a família se ausenta do ambiente escolar, e, por sua vez, as escolas nem sempre desenvolvem métodos eficazes para promover a aproximação familiar. Ao longo do tempo, impulsionado pelas transformações na
sociedade e nas estruturas familiares, diversos fatores têm contribuído para o distanciamento dessa relação. No entanto, a escola, em sua dimensão crítica, pode empregar mecanismos de conscientização, estimulando nos pais a reflexão sobre a importância da educação na vida de seus filhos. Isso implica alertá-los de que a educação das crianças é uma responsabilidade compartilhada, que deve ser abordada de maneira colaborativa.
Nesse sentido, é interessante que a escola na parceria com a família mostre a importância da aprendizagem dos conhecimentos do mundo pela criança para que, mesmo os pais que por várias situações de vida não tiveram a oportunidade de estudar, tenham a visão da importância que os estudos podem fazer por seus filhos, até para interromper muitas vezes um círculo vicioso, o qual afasta a criança da escola e perpetua o analfabetismo no nosso país. (PANZA, 2011, p.34).
Como resultado dessa situação, a responsabilidade pela educação da criança recai exclusivamente sobre a escola e o professor, embora essa responsabilidade deva ser compartilhada com a família. É crucial que os pais compreendam que nem todos os desafios que a criança enfrenta na escola podem ser superados sem a participação ativa da família. Existem situações em que apenas a família tem a capacidade e a responsabilidade de resolver determinados problemas.
Adicionalmente, é importante reconhecer que “a escola desempenha o papel de uma instituição destinada a desenvolver os aspectos pedagógicos do indivíduo, sendo, portanto, um complemento ao que foi iniciado no ambiente familiar” (OLIVEIRA; MARINHO-ARAÚJO, 2007).
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Nesse sentido, é importante que os princípios éticos e morais sejam transmitidos pela família, e cabe à escola reforçá-los, promovendo uma integração eficaz entre essas duas instituições.
É fundamental que tanto a instituição educacional quanto a família estejam comprometidas em colaborar harmoniosamente, facilitando o progresso acadêmico e o desenvolvimento integral do aluno/filho. A instituição familiar desempenha um papel fundamental na formação do indivíduo, contribuindo para o seu desenvolvimento social, cultural, psicológico e moral. No convívio familiar, a criança adquire a língua materna, assimila símbolos e normas, e compreende as expressões culturais e sociais do grupo ao qual pertence. Além disso, parte da educação formal é adquirida em colaboração com a escola.
A parceria entre escola e família tem sido objeto de diversas discussões, resultando em um fortalecimento nas relações entre ambas. Esse estreitamento beneficia o crescimento intelectual e social dos alunos em todas as fases da educação, com destaque para a educação infantil.
O ambiente familiar, geralmente o primeiro meio social da criança, é crucial para instilar os valores morais e comportamentos necessários para a convivência na sociedade. A participação ativa da família na vida escolar do filho impulsiona seu desenvolvimento, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais acessível tanto no aspecto social quanto cognitivo. A educação escolar desempenha um papel vital na formação do indivíduo inserido na sociedade, abrangendo aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais.
A escola, como espaço de interação social, proporciona o ensino de conhecimentos cien-
tíficos essenciais para que a criança interprete o mundo ao seu redor, utilizando seus conhecimentos prévios. Com o apoio familiar, a criança consegue assimilar de maneira mais eficaz tanto as experiências cotidianas quanto os conhecimentos específicos necessários para o seu desenvolvimento.
Ao explorar a temática da influência parental na formação educacional dos filhos e os impactos resultantes no percurso escolar, é relevante destacar diversos aspectos. A família assume um papel fundamental ao incentivar o desempenho acadêmico e o engajamento escolar, ao passo que a ausência de participação dos pais pode resultar na falta de interesse pelos estudos e na redução da importância atribuída à educação, especialmente em comunidades menos favorecidas.
Nesse sentido, os pais interagindo com a escola e com os professores auxiliam seus filhos na elaboração de suas aprendizagens, não fazendo o papel dos professores, sendo meros repetidores do trabalho escolar, mas sim colaborando para que a educação escolar possa ter continuidade no espaço familiar. Já a escola necessita ser uma instituição responsável pelo ensino dos conhecimentos, atentando- se para o fato de que a constituição da subjetividade da criança se faz tanto na interação com a família quanto na interação com a escola. (PANZA, 2011, p. 31)
Nesse contexto, é relevante que a instituição educacional, em parceria com a família, demonstre a significância da criança adquirir conhecimentos sobre o mundo. Isso possibilita que mesmo os progenitores que, devido a diversas circunstâncias, não tiveram a oportunidade de frequentar escolas, compreendam a importância dos estudos para o desenvolvimento de seus filhos. Essa abordagem visa romper com frequência um ciclo prejudicial
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que distancia a criança da educação, contribuindo para a perpetuação do analfabetismo em nosso país (Adaptado de PANZA, 2011, p.34).
Sabemos que uma das grandes dificuldades enfrentadas pela educação, dentro de um contexto geral, é a inversão de valores, nos quais a família cria a reversão de papéis e responsabilidades, juntamente com a ausência de comunicação, resultando em retrocesso no processo de ensino e aprendizagem.
É imperativo que tanto a instituição escolar quanto a família compreendam suas responsabilidades e funções. Essa responsabilidade tem início no ambiente familiar, estende-se à escola e reflete no desenvolvimento da criança como um ser integrado na sociedade. Essa sociedade influencia a maneira como a criança e o adolescente ponderam e refletem sobre suas escolhas como agentes participativos e cooperativos na comunidade em que vivem.
A responsabilidade pela educação primária recai sobre a família, incumbindo- lhe a tarefa de transmitir modelos e orientar a criança na sua jornada de desenvolvimento e aprendizado de comportamentos. É na família que a criança recebe direcionamento de acordo com os padrões sociais pertinentes ao seu contexto social. Portela e Almeida (2009) ressaltam que, embora a família não seja o único ambiente de socialização, ela ocupa uma posição privilegiada como o primeiro grupo socializador, desempenhando um papel fundamental como mediadora entre o indivíduo e a sociedade (OLIVEIRA E MARINHO ARAÚJO,2010).
Diversos estudiosos (Antunes, 2003; Bock, 2003; Epstein & Dauber, 1991; Ferreira & Marturano, 2002; Marques, 2002; Silveira, 2003) têm explorado as variadas abordagens sobre os mecanismos e estratégias de integração entre
pais e escola. Esses pesquisadores reconhecem as singularidades envolvidas e destacam os aspectos que promovem ou dificultam a relação entre a escola e a família.
5 - A COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA NA RELAÇÃO FAMÍLIA X ESCOLA
A promoção de uma comunicação eficaz entre a escola, os educadores e as famílias são essenciais para o progresso acadêmico e social das crianças. No entanto, é comum depararmos com desafios consideráveis nesse processo de interação, o que pode ocasionar dificuldades de aprendizado e a ausência de suporte adequado aos estudantes.
Uma das principais barreiras na comunicação entre a escola, os educadores e as famílias reside na falta de clareza em relação aos papéis e às expectativas de cada parte envolvida. É crucial que haja um entendimento compartilhado entre a escola, os educadores e as famílias acerca de suas responsabilidades e contribuições para o desenvolvimento educacional dos alunos.
Carvalho (2012) argumenta que a comunicação é essencial para possibilitar a interação entre duas ou mais pessoas, garantindo mútuo entendimento e proporcionando ao grupo social conhecimento sobre seus direitos e deveres. O autor ressalta a importância da comunicação para as escolas enquanto organizações, enfatizando a necessidade de meios eficientes de comunicação interna e externa para que a comunidade reconheça o trabalho da instituição.
De acordo com Marcondes e Sigolo (2012), a comunicação é uma ferramenta crucial para articular a relação entre família e escola, sendo um meio que a promove. A ausência de comu-
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nicação, segundo os autores, prejudica essa relação, destacando que a colaboração entre as duas instituições resulta em um ambiente escolar mais positivo para os estudantes.
Bhering (2003) destaca que a participação ativa dos pais na vida escolar dos filhos é tão fundamental quanto outros aspectos do processo de aprendizagem. A autora sugere que essa participação só é possível por meio da comunicação. Assim, a importância da comunicação no ambiente escolar reside no papel central que ela desempenha na eficácia da educação, estabelecendo vínculos entre escola e família. A comunicação também é crucial para transmitir feedback, como indicado por Oliveira et al. (2018), fortalecendo o processo de ensino-aprendizagem ao fornecer informações diretas aos alunos sobre seu desempenho e orientações para melhorias.
No contexto do ensino, a comunicação desempenha um papel fundamental, como destacado por Lessard e Tardiff (2014).
Considerando as diversas problemáticas no ambiente escolar, como o bullying, identificado por Vieira et al. (2019) como causador de sérias complicações, como depressão e baixa autoestima, a comunicação emerge como um caminho oportuno. Silva e Pacheco (2020) argumentam que a comunicação é um instrumento para promover a saúde mental no ambiente escolar, podendo ser vista como uma solução para práticas prejudiciais à saúde mental dos alunos.
O ato de instruir demanda comprometimento e dedicação de todos os participantes no processo educacional. Nessa perspectiva, tanto os progenitores quanto a equipe pedagógica e escolar devem ser colaboradoras, assumindo conjuntamente a responsabilidade pelo progresso acadêmico dos estudantes.
Em consideração a essa importância e à necessidade de êxito nessa parceria, é fundamental examinar os possíveis motivos que distanciam ou impedem a conexão entre família e escola. Além disso, é essencial buscar estratégias para aproximar esses agentes, que compartilham a responsabilidade pela educação escolar, promovendo assim um ambiente propício ao aprendizado.
A comunicação estratégica entre a família e a escola desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e no sucesso educacional das crianças. Uma parceria eficaz entre essas duas instituições contribui para um ambiente de aprendizado mais enriquecedor e apoia o crescimento holístico dos alunos.
É crucial que tanto a escola quanto a família sejam transparentes sobre suas expectativas e abertas ao diálogo. Isso cria um ambiente de confiança mútua. Realizar reuniões periódicas entre professores, pais e responsáveis é essencial para discutir o progresso acadêmico, o comportamento e quaisquer preocupações. Essas reuniões oferecem oportunidades para alinhar estratégias de apoio.
Além do mais, é importante incentivar a participação ativa dos pais nas atividades escolares, como eventos esportivos, apresentações artísticas ou reuniões de associação de pais e mestres, fortalecendo a conexão entre a família e a escola. A comunicação estratégica também deve incluir discussões sobre o desenvolvimento social e emocional dos alunos.
Isso pode envolver compartilhar estratégias para lidar com desafios emocionais ou oferecer recursos para apoiar o bem-estar mental. Trabalhar juntos para estabelecer metas educacionais e de desenvolvimento para os alunos. Isso cria um senso de responsabilidade compartilhada na promoção do sucesso aca-
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dêmico e pessoal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo tem como objetivo proporcionar uma reflexão sobre a interação entre família e escola, destacando a significativa influência dessas duas instituições na formação e desenvolvimento das crianças, que são parte fundamental da sociedade contemporânea. A escola, enquanto responsável pela educação formal, busca moldar o indivíduo, sendo imprescindível a colaboração ativa da família nesse processo, pois é na educação doméstica que o alicerce moral se estabelece.
É notório que a ausência de participação familiar na vida acadêmica dos estudantes acarreta desmotivação e estagnação no processo de aprendizagem, prejudicando o desenvolvimento educacional e potencialmente conduzindo-os ao insucesso. Portanto, é imperativo que a família reconheça os impactos negativos decorrentes da falta de envolvimento e assume o compromisso com a escola de manter a presença constante dos alunos, participando ativamente de seu crescimento acadêmico.
A compreensão por parte da família sobre a importância de participar de reuniões, eventos escolares e colaborar na tomada de decisões junto à direção é crucial. Em casa, o apoio aos filhos nas tarefas escolares demonstra um compromisso efetivo com o processo educacional, contribuindo para o estímulo e interesse das crianças pela aprendizagem.
A escola, em seu papel social de proporcionar educação regular, deve buscar meios de fortalecer os laços com os pais e demais membros da comunidade escolar. Essa aproximação visa ampliar a compreensão e participação desses atores nos assuntos escolares, alme-
jando benefícios para os alunos e para a instituição como um todo. A união entre família e escola, em prol do aluno, é essencial para oferecer uma educação de qualidade, adaptada à realidade individual de cada estudante.
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Adriana Viana de Souza, RA: Ped1622600 RESUMO
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES
Este trabalho teve como objetivo discutir a importância da música na Educação Infantil. Foram realizadas sínteses provisórias sobre conceitos, teorias e práticas que se constituíram por meio de uma pesquisa bibliográfica e de observações em espaços da infância, nos estágios supervisionados. Destacamos os seguintes aspectos do artigo: a música na Bíblia, a criança de 0 a 3 anos e a relação com a arte musical, o que pode ser inserido nas experiências cotidianas e, por fim, argumentamos sobre como a música proporciona o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor das crianças. Além disso, a arte musical promove a criatividade, a expressão e a comunicação, estimulando habilidades essenciais para o aprendizado. Por meio da música, as crianças aprendem a ouvir, a perceber sons, a seguir ritmos e a se expressar de forma artística. A música também contribui para a construção da identidade cultural e do senso de pertencimento das crianças. Portanto, é fundamental que a música seja incluída, de forma significativa, na Educação Infantil, proporcionando às crianças uma educação mais completa e enriquecedora.
Palavras-chave: Música. Educação Infantil. Aprendizagem significativa
INTRODUÇÃO
A música contribui significativamente para o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor das crianças na primeira infância. No aspecto cognitivo, a exposição à música estimula a memória, a atenção e a linguagem, além de promover habilidades matemáticas, como o reconhecimento de padrões e ritmos. Emocionalmente, a música auxilia no desenvolvimento da expressão emocional, no controle do estresse e na regulação das emoções. Socialmente, a música promove a interação e a comunicação, estimulando habilidades sociais e a construção de relações interpessoais. No aspecto motor, a música contribui para o desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio e habilidades motoras finas. Portanto, a música desempenha um papel fundamental no desenvolvimento integral das crianças na primeira infância.
A relevância do tema tratado pôde ser caracterizada pela necessidade primordial da música na Educação Infantil. Ao considerar nossa observação e inquietação durante os estágios, pudemos perceber como é importante e relevante o uso da música nesta etapa da educação básica, pois possibilita o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças. Quando a música faz parte do cotidiano escolar, as crianças, de forma lúdica, podem ex-
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pressar emoções, apresentar suas habilidades motoras, demonstrar a criatividade e a imaginação, além de vivenciar a socialização e o trabalho em equipe. Portanto, a música é fundamental no processo educativo das crianças Para atender aos objetivos traçados, realizamos uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, buscando conhecimentos em artigos acadêmicos, livros, vídeos etc. Esses materiais dialogaram com as nossas observações no estágio supervisionado e com as ideias da palestrante Maria Cristina Pires (Idealizadora do projeto Parque Sonoro da Prefeitura Municipal de São Paulo.)
Diante de todas as pesquisas, análises e reflexões realizadas ao longo deste trabalho, tornou-se evidente a importância e o impacto que o tema abordado possui em nossas vidas. Cada descoberta e cada argumento apresentado reforça a necessidade de compreendermos a fundo os desafios e as oportunidades que se apresentam diante de nós.
Assim, ao final desta introdução, somos tomados por uma sensação de gratidão e entusiasmo, pois sabemos que estamos apenas no início de uma jornada que nos levará a descobrir soluções, a promover mudanças e a contribuir para um futuro melhor para as crianças. Esperamos que este trabalho seja um convite para aprofundarmos nossos conhecimentos e para nos engajarmos na busca por um mundo mais justo, equilibrado e sustentável.
Para desenvolver o trabalho, organizamos três partes:
• A existência da música desde os tempos primórdios, retratando passagens bíblicas que expressaram a importância da música na adoração e louvor a Deus.
• A relação entre a música e crianças de 0 a
3 anos, utilizando as ideias de autores como Piaget, Vygotsky, Wallon e Montessori sobre a importância da música na vida das crianças.
• Com esses estudos, pesquisas e buscas nos documentos legais, pudemos sugerir ações para inserir a música na organização dos espaços e tempos na Educação Infantil.
1. RETOMADA HISTÓRICA: A MÚSICA NA BÍBLIA E AS TRANSFORMAÇÕES ATRAVÉS DOS TEMPOS.
A música existe desde os primórdios da humanidade. Nos primeiros registos arqueológicos são apontados os instrumentos de percussão feitos de ossos e pedras, as pinturas rupestres que retratam danças e rituais. Assim, pudemos perceber a presença da música na vida dos primeiros seres humanos. A música tem uma longa história que remonta aos tempos antigos, porém a concepção de música varia de acordo com a cultura e o período histórico, sendo que, em geral, pode ser definida como uma combinação de sons organizados de forma harmoniosa e melódica.
Ao longo dos séculos, a música evoluiu e se desenvolveu de diferentes formas em diferentes culturas, ao redor do mundo. Ela desempenhou papéis importantes em rituais religiosos, celebrações, expressões artísticas e até mesmo como forma de comunicação.
A música desempenha um papel significativo na Bíblia. Ela é mencionada em vários livros, como os salmos e os cânticos de louvor. A música na Bíblia é usada para adoração a Deus, para expressar as emoções, contar histórias e transmitir mensagens espirituais. Instrumentos musicais, como harpas, liras e tambores, eram comumente utilizados na música bíblica. A música na Bíblia também desempenha um papel importante nas celebrações de festividades e eventos importantes. O primeiro relato
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bíblico que menciona a música é encontrado no livro de Gênesis 4:21:” O nome do irmão dele era Jubal, que foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta.” (Bíblia Sagrada, 1997)
A Bíblia nos mostra em alguns outros versículos a importância da música, como por exemplo, relata que Davi tocava harpa para acalmar Saul dos espíritos que o perturbavam. Em Samuel 1, 16:23 (Bíblia Sagrada, 1997), está escrito: “E sucedia que, quando o espírito mau da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e a tocava com a sua mão; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito mal se retirava dele.”
Na Bíblia, é relatado também que o povo de Deus ganhou uma batalha apenas tocando instrumentos musicais e sem precisar lutar ou guerrear. Esse relato é encontrado em Crônicas 2º, 20:22-23. Nesse trecho, o rei Josafá e o povo de Judá louvaram a Deus com música e adoração e Deus causou confusão entre os inimigos, que se destruíram mutuamente. Esses são apenas alguns exemplos de como a música é parte integrante dos rituais e práticas religiosas descritas na Bíblia.
Em seu livro “A Origem da Tragédia”, Nietzsche discute a importância da música como uma forma de expressão artística e sua relação com a tragédia. Ele escreve: “A música é capaz de despertar emoções profundas e transcender as limitações da linguagem verbal, permitindo que a alma humana se conecte com o divino” (Nietzsche,1872, p.20).
A música faz parte da história, tanto que a Bíblia, o livro mais antigo, já narra sobre ela. A música nos primórdios era predominantemente vocal e instrumental, com instrumentos simples como tambores, flautas e instrumentos de corda feitos com materiais naturais.
Com o passar do tempo, a música apresentou
diversas transformações e melhorias, principalmente com o desenvolvimento de novos instrumentos musicais e avanços tecnológicos na gravação e reprodução do som.
Anos mais tarde, a invenção de instrumentos musicais mais complexos ganhou novas possibilidades sonoras, posteriormente, com a invenção da escrita musical e a criação de sistemas de notação, a música pôde ser registrada e transmitida de geração em geração. E, nos tempos atuais, a sonoridade da música se tornou muito diversificada, com a incorporação de diferentes gêneros musicais, estilos e técnicas. Assim, “os instrumentos musicais têm desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento e na diversidade da música ao longo dos séculos” (Silva, 2018).
A música eletrônica, por exemplo, utiliza sintetizadores e computadores para criar sons e ritmos complexos. Além disso, a música atual também se beneficia de avanços na tecnologia de gravação e produção musical, possibilitando uma qualidade sonora mais refinada.
As melhorias na sonoridade da música, ao longo do tempo, incluem a introdução de instrumentos de metal na música clássica, como a trompa e o trompete, que trouxeram uma sonoridade mais brilhante e potente. No jazz, o desenvolvimento de instrumentos, como o saxofone e a bateria trouxe novas possibilidades rítmicas e melódicas. E na música pop, a utilização de sintetizadores e efeitos sonoros proporcionou uma sonoridade mais eletrônica e experimental. Assim, ao longo da história, surgiram diferentes estilos e gêneros musicais, cada um com suas características e influências culturais.
Hoje, a música desempenha um papel importante na sociedade, seja como forma de entretenimento, expressão artística ou até mesmo
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como terapia. Ela continua a ser uma linguagem universal que transcende barreiras culturais e conecta pessoas ao redor do mundo.
2. A CRIANÇA DE 0 A 3 ANOS E A RELAÇÃO COM A MÚSICA
Segundo alguns autores da Pedagogia, a criança de 0 a 3 anos de idade passa por um período crucial em seu desenvolvimento. Jean Piaget, Lev Vygotsky, Wallon e Maria Montessori são autores que relatam que, durante essa fase, a criança está em constante aprendizado e descoberta do mundo ao seu redor.
Jean Piaget, por exemplo, acreditava que as crianças nessa faixa etária passam por estágios de desenvolvimento cognitivo. No estágio sensório-motor (0-2 anos), a criança explora o ambiente por meio dos sentidos e do movimento, desenvolvendo a coordenação motora e a noção de causa e efeito. No estágio pré-operacional (2-7 anos), a criança começa a usar a linguagem e o pensamento simbólico, mas ainda tem dificuldade em compreender conceitos abstratos. Desta forma, Piaget (1973) afirma que: “a construção do real na criança é um processo ativo, no qual ela interage com o ambiente e constrói seu conhecimento através da assimilação e acomodação de novas informações” (Piaget, 1973, p.20).
Lev Vygotsky enfatiza a importância do ambiente social no desenvolvimento da criança. Ele acreditava que a interação com adultos e outras crianças desempenha um papel fundamental na aquisição de habilidades cognitivas e sociais. Por meio da interação e da mediação do adulto, a criança internaliza conhecimentos e desenvolve habilidades como a linguagem e a resolução de problemas. Esse autor afirma que “através da interação com adultos e outras crianças, a criança adquire conhecimentos e desenvolve habilidades cognitivas e sociais”
(Vygotsky, 1991, p. 56).
Maria Montessori (2015) enfatiza a importância do espaço preparado para o desenvolvimento da criança. Ela defende que o ambiente deve ser organizado de forma a permitir a livre exploração e o desenvolvimento da autonomia da criança. A autora também valoriza o uso de materiais sensoriais específicos, que ajudam a criança a desenvolver habilidades motoras finas, coordenação visual-motora e concentração.
Nesse processo de desenvolvimento cognitivo, motor e emocional descrito pelos autores acima, a música tem papel fundamental. Desde cedo, a arte musical pode estimular a percepção sonora, a linguagem, a coordenação motora e a expressão emocional das crianças. Sendo assim, a música também pode contribuir para o desenvolvimento da criatividade, da memória, da concentração e do raciocínio lógico, aspectos fundamentais abordados por Piaget, Levi Vygotsky e Montessori em suas teorias sobre a educação e o desenvolvimento infantil. Portanto, ao utilizar a música como ferramenta educativa, é possível potencializar e enriquecer o processo de aprendizagem, promovendo uma abordagem integrada e holística.
Assim, a música pode desenvolver habilidades musicais e promover o desenvolvimento integral das crianças, estimulando a sensibilidade, a criatividade, a expressão e a socialização. A música proporciona estímulos sensoriais que contribuem para o desenvolvimento do cérebro, auxiliando na formação de conexões neurais e no aprimoramento da linguagem. Além disso, a música promove a percepção auditiva, o senso rítmico e a coordenação motora, por meio de atividades como danças, brincadeiras musicais e manipulação de instrumento. Segundo Wallon, a música desempenha um pa-
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pel fundamental no desenvolvimento da criança na primeira infância. Wallon (1941, p. 87) destaca que: “o desenvolvimento da criança na primeira infância é profundamente influenciado pela música, que estimula sua sensibilidade, percepção sonora, coordenação motora e expressão emocional.”
Assim, a criança pode explorar diferentes ritmos, melodias e sons, o que contribui para o seu desenvolvimento cognitivo, social e afetivo.
Com tantos autores conhecidos, descritos acima, não poderíamos deixar de fora a pessoa ilustre de Maria Cristina Pires (idealizadora do Projeto Parques Sonoros da Prefeitura Municipal de São Paulo), cuja palestra foi relevante, pois ela apresentou a sua experiência no meio musical, que fez parte da composição deste artigo. Assim, tivemos a oportunidade de conhecer e receber algumas instruções de Maria Cristina Pires, mestre em educação pela UNICAMP/SP: “O conhecimento é a única riqueza que ninguém pode nos tirar.” (Maria Cristina Pires - aula online com as alunas de pedagogia FAEP em 20 de setembro de 2023).
Articuladora e pesquisadora da primeira infância, pensa da seguinte forma:
todas as crianças estão atrás de descobrir o mundo, mas não é para nós professores dizermos como é, elas precisam descobrir e, se quiserem, podem fazer as perguntas sobre o que querem saber (Aula on-line, 2023).
Segundo Maria Cristina, é importante deixar os instrumentos musicais à mostra para que as crianças possam tocar, pois é extremamente importante criar um ambiente onde as crianças possam se divertir e explorar todos os tipos e possibilidades sonoras.
Maria Cristina Pires compartilhou algumas de suas inúmeras experiências em relação ao projeto Parques Sonoros: “algumas famílias relataram que não sabiam da capacidade dos seus filhos, porém, ao observarem eles tocando objetos musicais e se divertindo, perceberam o tamanho da imaginação das crianças para criar sons”. Esse relato integrou a aula expositiva, possibilitando uma conversa aberta, concedido pela Faculdade de Educação Paulistana (FAEP).
E ainda ressaltou: “É importante que, nós professores, saibamos disso e possibilitemos oportunidades variadas às crianças, porque a ‘arte salva!’” Maria Cristina Pires citou durante a sua apresentação a forma como Teca Brito percebe a música.
A música é uma linguagem universal. Tudo o que o ouvido percebe sob a forma de movimentos vibratórios. Os sons que nos cercam são expressões da vida, da energia, do universo em movimento e indicam situações, ambientes, paisagens sonoras: a natureza, os animais, os seres humanos traduzem sua presença, integrando-se ao todo orgânico e vivo deste planeta (Brito, 2003, p.17).
3. A LEI E ALGUMAS PROPOSTAS DE TRABALHO COM MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
3.1. A Música e a legislação
Cabe ressaltar que a Lei 11.769, de 18 de agosto de 2008. altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Faz-se necessário saber que essa Lei é de extrema importância, pois reconhece o valor da música como uma disciplina fundamental na formação educacional básica.
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No texto da lei, encontra-se: “A educação musical deve ser oferecida a todas as crianças e adolescentes, garantindo-lhes o acesso ao conhecimento e à prática dos diferentes gêneros musicais, promovendo o desenvolvimento cultural e artístico” (Brasil, 2008).
A partir deste documento, exige-se a obrigatoriedade das aulas com atividades em que as crianças possam explorar diferentes sons, tocar instrumentos musicais simples, ouvir e identificar sons do ambiente entre outros.
3.2. Experiências com a Música
Pode-se organizar as brincadeiras musicais como: dança das cadeiras, na qual as crianças dançam ao som da música e, quando ela para, precisam encontrar uma cadeira para se sentar. Essa atividade estimula o movimento e a coordenação motora.
A criação de instrumentos musicais, utilizando materiais recicláveis, como latas, garrafas plásticas, tampinhas, potes entre outros é uma possibilidade de trabalho pedagógico e pode envolver a realização de projetos.
A obra “Música na Educação Infantil, proposta para a formação integral da criança”, de Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, aborda a importância da música como ferramenta de desenvolvimento e aprendizagem na Educação Infantil (Almeida,2006).
A proposta de brincadeiras com músicas e cantigas de roda estimulam a criatividade, a coordenação motora e a percepção sonora.
Assim, as crianças aprendem a cantar as cantigas tradicionais, como “Samba Lelê” e “Peixe vivo”. Essas músicas estimulam a socialização, memória, o ritmo e a expressão corporal. No nosso imaginário cultural brasileiro exis-
tem muitas outras melodias infantis, que são famosas, tais como:
• “Atirei o Pau no Gato” - Música tradicional brasileira, de autoria desconhecida.
• “Aquarela” - Música de Toquinho e Vinicius de Moraes (Moraes, 2014).
• “O Sapo não Lava o Pé” - Música tradicional brasileira, de autoria desconhecida.
• “Ciranda Cirandinha” - Música tradicional brasileira, de autoria desconhecida.
• “Sítio do Pica-Pau Amarelo” - Música tema da série de TV, de autoria de Gilberto Gil (Gil, 2003).
• “Palavra Cantada” (Sandra Peres e Paulo Tati) – Autores de músicas populares para crianças, como “Sopa” e “Bolacha de Água e Sal”. (Peres e Tati, 2004)
Esses são apenas alguns exemplos de autores brasileiros que se destacaram no desenvolvimento de músicas para crianças. Existem muitos outros talentosos compositores no Brasil. Podemos explorar os diversos benefícios que a música proporciona para o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e motor das crianças nessa faixa etária.
Podem ser trabalhadas também: contação de narrativas musicais, utilizando histórias infantis que contenham relação com a música, “O Patinho Feio” ou a “Flauta Mágica”. Durante a contação, pode-se reproduzir trechos das músicas mencionadas na história, envolvendo as crianças na narrativa estimulando a imaginação e a percepção musical.
Trabalhar música cantada em forma de brincadeira na Educação Infantil é importante e relevante por diversos motivos. A música é uma forma lúdica e prazerosa de aprendizado, que estimula a expressão, a criatividade e a imaginação das crianças. Além disso, a música cantada em forma de brincadeira contribui
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para o desenvolvimento da linguagem oral, da coordenação motora e da socialização das crianças. Também auxilia na aprendizagem de ritmo e melodia e na ampliação do repertório cultural das crianças. Dessa forma, trabalhar música cantada em forma de brincadeira na Educação Infantil promove um ambiente educativo prazeroso e estimulante, favorecendo o desenvolvimento integral das crianças.
Ao concluir este trabalho, pudemos compreender a importância da música na Educação Infantil de uma forma muito mais profunda, pois ela se constitui em uma forma lúdica, prazerosa e pode facilitar o aprender e o ensinar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho foi de extrema importância, pois destacou a relevância da música no desenvolvimento das crianças de 0 a 3 anos. Ao longo do artigo, foi discutido como a música está presente desde os primórdios da humanidade, sendo encontrada até mesmo no livro mais antigo, a Bíblia. Ao longo dos tempos, ela apresentou diversos ritmos e sonoridades.
Também foram mencionadas a legislação sobre a música e algumas propostas de trabalho na Educação Infantil. Ela desempenha um papel fundamental na educação da pequena infância, contribuindo para o desenvolvimento global das crianças.
Ao longo deste artigo científico, exploramos os benefícios da música na Educação Infantil, abordando aspectos cognitivos, emocionais, sociais e motores.
Em relação aos aspectos cognitivos, diversos estudos demonstram que a música estimula o desenvolvimento da linguagem, da memória, da concentração e da criatividade das crianças. Por meio do canto, da exploração de diferentes ritmos e da execução de instrumentos musicais simples, as crianças são incentivadas a expressar suas ideias e emoções, desenvolvendo suas habilidades verbais e comunica-
tivas.
No que diz respeito aos aspectos emocionais, a música tem o poder de despertar emoções nas crianças, ajudando-as a identificar e expressar seus sentimentos. Além disso, a música proporciona um ambiente acolhedor e prazeroso, contribuindo para o bem-estar emocional das crianças e para a construção de sua autoestima.
No âmbito social, a música promove a interação entre as crianças, estimulando a cooperação, a escuta ativa e o respeito mútuo. Por meio de atividades musicais em grupo, as crianças aprendem a compartilhar, a trabalhar em equipes e a valorizar a diversidade de ideias e estilos.
Por fim, no que se refere aos aspectos motores, a música estimula o desenvolvimento da coordenação motora, do equilíbrio e da noção espacial das crianças. Ao dançar, tocar instrumentos ou realizar movimentos corporais em resposta à música, as crianças aprendem e se desenvolvem.
Portanto, concluo que é fundamental que os professores incluam a música nas experiências cotidianas das crianças na Educação Infantil.
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Andréia Marques, RA: 1622608
Maria Luiza Bezerra, RA: 1620322
Patrícia Evaristo Leite, RA: 1622607
BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL, COM CRIANÇAS DE QUATRO MESES A TRÊS ANOS
RESUMO
Este trabalho teve como tema principal a importância da organização dos espaços do brincar na educação infantil e as brincadeiras com ou sem materialidade, envolvendo crianças de 4 meses a 3 anos de idade. Tratou-se de uma pesquisa bibliográfica qualitativa, em que foram consultados livros e textos acadêmicos, buscando autores como Mello, Fochi, Brougère entre outros. Foram integradas à pesquisa as observações nos estágios supervisionados e interlocução com Coordenador Pedagógico de um Centro de Educação Infantil, Célio Barbosa. Este artigo teve o intuito de demonstrar que o brincar é importante para a criação e a imaginação infantis, relações entre crianças e delas com os adultos e para desenvolver a função simbólica da consciência, a vontade, a atenção voluntária e outras funções mentais superiores. Acredita-se que, ao brincar, a criança constrói sua identidade, pois ela é vital para a criança aprender e se desenvolver integralmente. Por meio das brincadeiras, com ou sem materialidades, as crianças potencializam a imaginação e vivenciam experiências significativas, considerando que sem objetos estruturados, a imaginação da
criança pode criar brinquedos inusitados e elaborar brincadeiras, desenvolvendo as suas potencialidades.
Palavras-chave: Educação Infantil. Brincar. Imaginação.
INTRODUÇÃO
O tema do nosso trabalho foi escolhido ao observarmos as crianças de 4 meses a 3 anos, na Educação Infantil, e percebermos como são desencadeadas as brincadeiras das crianças, com ou sem materialidades, constituindo-se este assunto no foco de nossa pesquisa.
Essa pesquisa é relevante, porque o brincar é uma das formas mais comuns na fase da infância para aprender e se desenvolver. Por meio do brincar, a criança conhece o meio em que está inserida, sente-se pertencente, interage consigo mesma e com os demais a sua volta, aprendendo e desenvolvendo suas habilidades, criatividade, inteligência, formas de pensar e a imaginação. É no brincar que a criança inicia a descoberta sobre si e sobre o mundo em que vive.
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Ao pensar sobre o brincar na primeira infância sob esta perspectiva, elaboramos a seguinte questão problematizadora: Como organizar os espaços do CEI para brincadeiras com ou sem materialidades, criadas pelas crianças e pelos adultos, considerando o desenvolvimento e a aprendizagem da primeiríssima infância?
Assim, para desenvolver esta pesquisa, traçamos o seguinte Objetivo Geral: Investigar formas de organizar momentos lúdicos em que as crianças do CEI possam desenvolver a motricidade, a afetividade, a socialização e a cognição, por meio do brincar. Para orientar a investigação, estabelecemos objetivos específicos: a) Compreender a criança de 0 a 3 anos; b) Relacionar o desenvolvimento das funções mentais superiores e a aprendizagem com o brincar; c) Organizar ações planejadas para desenvolver laços de companheirismo e muitos vínculos afetivos, estimulando a criatividade das crianças com suas ideias e pensamentos, promovendo a interação, apoiar e estimular a aprendizagem na educação infantil do CEI; d) Indicar brincadeiras para crianças de 4 meses a 3 anos, nos Centros de Educação Infantil (CEI).
Ao traçar os objetivos, identificamos a necessidade de estabelecer uma metodologia adequada para a nossa investigação. Assim, optamos por uma pesquisa bibliográfica qualitativa, em que foram consultados livros e textos acadêmicos. Esses materiais possibilitaram a reflexão das observações realizadas nas instituições que trabalhamos e estagiamos. Para ampliar nossas reflexões sobre o trabalho com os bebês e crianças pequenas, participamos da palestra do Professor Coordenador pedagógico de CEI Célio Jafer Lima Barbosa.
1. AS CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS DE IDADE E A EDUCAÇÃO INFANTIL
As crianças pequenas, de 0 a 3 anos, com diferenças de características de acordo com a idade, são curiosas, pesquisadoras, questionadoras, produtoras de cultura. Elas aprendem fazendo, brincando e experimentando. Portanto, elas são protagonistas ativas e não precisam o tempo todo da intervenção do adulto (Barbosa, 2023).
Os bebês e crianças são protagonistas que brincam, interagem, imaginam, fantasiam, desejam, aprendem, questionam para se adaptarem e construírem sentidos na cultura, natureza, ambiente e a socialização (Brasil, 2010).
As crianças bem pequeninhas são capazes de explorar os materiais presentes no espaço organizado para elas e pesquisar sons, texturas e maciez, experimentando diferentes tipos de movimentos para interferir no ambiente. Os bebês são observadores e “máquinas de aprendizagem”, repetindo movimentos como cientistas que são.
Assim, Riera (2019), ao analisar as estratégias infantis, para conhecer e interferir na realidade vivida, comenta:
É a análise das estratégias que nos ajuda a compreender os processos diferenciados de cada criança, conhecendo seus modos de explorar o mundo e de chegar ao conhecimento. Há crianças que confrontam a si mesmas e procuram novos desafios; outras buscam a repetição, testando suas conquistas em diferentes contextos. Enquanto algumas aprendem priorizando a ação, outras o fazem por meio de processos reflexivos [...] (Riera, 2019, p.105).
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Esta afirmativa indica o quanto a criança age sobre o mundo de forma exploratória e com diferentes estratégias. Neste sentido, pode-se observar que cada criança tem um desenvolvimento que coincide com as outras da sua idade, mas também tem peculiaridades que se constituíram por meio de vários fatores que fazem parte da sua história.
Desta forma, pode-se concordar com o autor que afirma que:
[...] falar de infância á algo muito complexo. Não podemos defini-la de uma vez por todas. A criança é sempre um sujeito desconhecido em contínua mudança. Entretanto, trata-se mais de saber como redefinir cada criança em cada momento histórico, sabendo que, hoje, o estado de mudança já não é uma transição de uma fase a outra, e sim um estado permanente, um fluxo em perene forma fluens (Hoyuelos, 2019, p. 157).
Portanto, para conhecer as crianças, torna-se necessário observar e refletir sobre as questões universais, possivelmente comuns a maioria das crianças e as peculiaridades de cada uma, por meio da observação, da reflexão e do registro de suas relações, suas ações na realidade, seus movimentos, gestos simbólicos, choros e todas as suas manifestações.
2. O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL – 4 MESES A 3 ANOS
É preciso compreender que o brincar não é apenas uma forma de se distrair, de ocupar o tempo, é uma linguagem da Infância que fornece subsídios para a expressão, sendo também um meio de desenvolver habilidades
corporais ou cognitivas de aprender a conhecer, além de propiciar a experimentação de sentimentos, tais como prazer, alegria, entre outros no ato lúdico. Com base nas brincadeiras pode-se compreender que o ato de brincar é muito importante na vida de bebê/ crianças. Afinal, as brincadeiras, os brinquedos e a maneira do brincar criam arranjos de infinitas possibilidades de experimentação, pesquisas, descobertas, formas de entender e de se apropriar ao mundo. Os bebês/crianças aprendem a brincar e a interpretar a partir de um conjunto de vivências e referências do seu cotidiano. Assim eles passam a conhecer e construir brincadeiras através da sua própria cultura infantil e lúdica. (Brougère,1998).
A criança tem uma criatividade tão grande que, mesmo com uma caixa de papelão ou algo do tipo, ela consegue pensar em uma brincadeira e vai descobrir algo novo, por meio da sua imaginação no brincar.
A brincadeira faz parte do processo de aprendizagem dos bebês e crianças, principalmente na educação infantil. Entretanto, o espírito lúdico pode estar presente em todas as idades, o que denota que a brincadeira é uma metodologia utilizada para conhecer o mundo ao redor, que possibilita novas perspectivas aos bebês, crianças, sendo que tudo isso é relevante para a aprendizagem.
Dentro das salas dos Centros de Educação Infantil, as brincadeiras e a ludicidade vêm para agregar conhecimento, vivenciar momentos de interação entre os bebês e crianças e ajudar nos relacionamentos afetivos e sociais com os professores. Quando a criança brinca, ela se sente livre de julgamentos, pois ela mesma pode criar uma realidade a sua própria regra que, quando compartilhada com outra criança, forma uma interação espontânea e autêntica.
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No Currículo da Cidade de São Paulo (São Paulo, 2019), encontram-se conceitos importantes para orientar a Educação Infantil: educar, cuidar e brincar na ação pedagógica. Assim, acredita-se que o educar, o cuidar, o brinquedo e a brincadeira são ingredientes vitais para uma infância sadia e para um aprendizado significativo, já que brincar estimula o desenvolvimento intelectual do bebê e da criança pequena. A criança, ao brincar, pensa e analisa sobre sua realidade, as culturas, discutindo sobre os papéis sociais.
Ao brincar, a criança aprende a conhecer a sua realidade, agir sobre ela, a conviver e a ser, favorecendo o desenvolvimento da autonomia, autoconfiança, curiosidade, pensamento e linguagem. Desta forma, tudo isso contribui para o desenvolvimento das capacidades dos bebês e crianças, para que eles aprendam como lidar com as relações sociais e culturais (Brasil;1998).
Por meio de experiências cotidianas, em espaços organizados de diferentes formas, é possível observar a potencialidade das crianças e dos bebês de produzirem culturas infantis ao brincarem com seus pares, o que chamamos de sistema conhecedor do brincar.
Ao pensar na aprendizagem como fruto das relações com os sujeitos, os objetivos de conhecimento e os ambientes, os professores se ocupam de pensar na qualidade dos ambientes das creches e nas relações possíveis dentro delas para crianças e adultos, assim, em suas permanentes reflexões a respeito de suas qualidades, das experiências vividas em seus espaços, buscam caminhos para construir um ambiente de relações múltiplas e interagidas (Wolff, 2020, p 16).
Assim, na Educação Infantil, devemos proporcionar não apenas momentos, mas espaços permanentes do brincar para a criança, pois é a forma predominante de aprender e se desenvolver. As brincadeiras e convivências saudáveis, criativas e construtivas contribuem para conhecer a criança, conhecer o seu mundo, possibilitando a apropriação de diferentes elementos culturais (informação, conhecimento, costumes, crenças, valores, arte etc.), que ajudarão a agir sobre o meio em que elas se encontram, resgatando diferentes formas de brincar.
O objetivo desta etapa da Educação Básica é proporcionar brincadeiras que estimulem as crianças a algo novo, a viver experiências diversificadas.
3. ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PARA EXPERIÊNCIAS COM BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS COM BEBÊS E CRIANÇAS PEQUENAS
Os espaços com brinquedos e brincadeiras para as crianças são de extrema importância, pois estimulam a imaginação, a coordenação motora, a curiosidade e a criatividade. Assim, além do espaço em casa e dentro da instituição educativa, é importante a utilização de espaços coletivos, como praças, parques e espaços abertos, que garantam a interação da criança com o meio em que vive, podendo contribuir para a construção da identidade pessoal da criança, torná-la competente e desenvolver nela a autonomia e a independência (Instituto Alana, 2015).
Ao pensarmos nesta proposta, queremos que a criança consiga ter espaços com brincadeiras com ou sem materialidades, pois só assim as aprendizagens da independência,
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da criação e das interações sociais possibilitarão o desenvolvimento, de acordo com as suas singularidades, Estes espaços devem propor desafios cognitivos e motores que farão a criança avançar no desenvolvimento de suas potencialidades. O espaço deve ter objetos que retratem algumas culturas e o meio social em que a criança está inserida, contribuindo para o lúdico, o imaginário, o cognitivo, o artístico, o afetivo, o social etc. O espaço também ensina, estimula a curiosidade e, principalmente, encanta as crianças ao realizar suas descobertas por meio do brincar.
Ao oferecer um ambiente rico e variado, ela utilizará todos os recursos disponíveis, possibilitando a aprendizagem e o desenvolvimento infantis. O “território do brincar” tem como finalidade o brincar e a vivência da diversidade. É preciso disponibilizar um tempo adequado, em que as crianças possam pensar criar, fazer e acontecer, por meio da imaginação, pois elas conseguem transformar uma coisa simples em algo criativo. As crianças criam e transformam o mundo em um novo território criado por elas. Esse território, mesmo tendo culturas e tradições diferentes, ele é um só, pois, ao deixar a criança explorar e vivenciar brincadeiras e atividades diferenciadas, ela descobre algo novo no brincar (Instituto Alana, 2015). Desta forma,
Observando as crianças em suas brincadeiras, considerando faixa etária e os aspectos predominantes na relação delas com o meio, e com os objetivos diferentes em períodos devida, chamando de modalidade de experiências, como orientação de contexto de aprendizagem dentro das salas de referência (Wolff, 2020, p.37).
Nos espaços da Educação Infantil, torna-se muito importante que eles sejam organizados
permanentemente, de forma versátil e com novas possibilidades, para que as crianças possam desenvolver pesquisas, estratégias e habilidades para as soluções de problemas, podendo trazer o encadeamento de ações e pensamentos, acolhendo suas potencialidades, de acordo com o seu ritmo. (Wolff, 2020, p.20)
Desta forma, ao propor objetos não estruturados, possibilita-se uma flexibilidade maior de utilização, embora os estruturados possam ser usados de forma diferente daquelas para as quais foram criados. São objetos não estruturados: caixas de diferentes materiais, folhas, gravetos, tampinhas etc. Ao manipular esses objetos, a criança tem possibilidades e oportunidades de criar inúmeras brincadeiras, pois ao explorá-los, elas descobrem e investigam muitas formas de brincar e criar com eles. A imaginação e o simbólico podem surgir também com as bolas, as bonecas, os carrinhos e outros brinquedos estruturados, dependendo da flexibilidade das experiências diversificadas, pois a criança pode investigar e criar algo. Quando a criança consegue utilizar os elementos que dispõe a sua volta e explicitar suas habilidades, criatividade, investigação e inteligência, ela pode brincar com uma bola de diferentes formas e com múltiplas utilidades, pode fazer o mesmo com uma boneca de pano, com a qual pode imaginar diversas situações, que não poderia com uma boneca que fala, anda, abre e fecha os olhos, como aquelas encontradas no mercado.
Na etapa conhecida como primeira infância, a linguagem representa a linha central de desenvolvimento da criança. O mundo dos objetos e instrumentos tem inicialmente um interesse imediato – não mediatizado pelo uso social que deles fazem os adultos. A exploração
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e o tateio dos diferentes objetos a que tem acesso e as descobertas que realiza nesse tateio movem seu desenvolvimento até próximo dos três anos de idade, pois, por meio dessa experimentação, a criança observa, se concentra, cria modelos de ação que também servem ao seu pensamento, interage com as outras crianças que estão à sua volta, tenta resolver as dúvidas que a manipulação dos objetos gera e, com isso, envia importantes estímulos ao seu cérebro. Nessa atividade com objetos, a criança descobre características e propriedades; ampliando o conhecimento do mundo ao seu redor, exercita sua percepção, sua comunicação, seu desenvolvimento motor, acumula experiências e cria uma memória, exercita e desenvolve a atenção, a fala, o pensamento e faz teorias, ou seja, interpreta e explica o que vai conhecendo. A experiência de generalização que vivencia na atividade com os objetos transforma a percepção em percepção categorial, o que fortalece o desenvolvimento da linguagem. A percepção sem palavras vai sendo substituída paulatinamente pela percepção verbal, o que acarreta mudanças essenciais na própria percepção (Mello, 2007).
Quando a criança não tem objetos, ela pode ter experiências enriquecedoras com o seu próprio corpo, descobrindo o que é possível fazer com mãos, pés, boca, cabeça, dentre outras partes, por meio de algumas brincadeiras com imagens, vídeos, músicas, no parque, investigando múltiplos espaços amplos e encontrando “esconderijos”. Desta forma, elas podem conhecer e brincar com o seu corpo, explorando movimentos e conhecendo seus limites e possibilidades motoras. Essas experiências produzem o conhecimento sobre
si mesmas e sobre os outros, pois se relacionam com o ambiente, se expressam e desenvolvem o conhecimento sobre o que é seguro ou não.
3.1. Algumas especificidades sobre o brincar das crianças bem pequenininhas
Para as crianças de quatro meses, será necessário organizar um espaço confortável e com tatames, pois crianças desta idade gostam de rolar, ensaiar para sentar-se sem apoio e até mesmo iniciar o movimento de engatinhar. Além disso, ela pode começar a demonstrar sorrisos mais amplos, demonstrando emoções mais claramente. Pode-se também organizar os espaços para que percebam e sintam texturas e sabores e assim passem a ver o mundo por outro ângulo, ganhando gradativamente maior capacidade de interação e aprendizagem, por meio do uso do seu corpo (Colégio Ranieri, 2023).
Para realizar a brincadeira com o Cesto de Tesouros, com crianças que já permanecem sentadas, com ou sem aparador para encostar, o adulto deve preparar um recipiente com objetos de uso cotidianos selecionados a fim de proporcionar estímulos e experiências aos cinco sentidos da criança. Os objetos do “Cesto dos Tesouros” precisam ser substituídos conforme o interesse das crianças. Essa brincadeira é exploratória, possibilita descobertas, aguça a curiosidade do bebê por meio da possibilidade de manipular materiais pré-selecionados por um adulto, podendo proporcionar experiências que são interessantes e absorventes, ensinando o bebê a buscar uma aprendizagem vital para a qual ele está pronto e ansioso. (Fochi, 2018).
Assim, [...]com os objetivos adequados, o ambiente preparado e o tempo para que o bebê
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devolva sua ação sobre os mesmos podemos conhecer mais sobre as crianças e compreender melhor o modo como elas apreendem seu entorno (Fochi, 2018, p.83).
As crianças exploram vários objetos e, em alguns casos, quem utilizou primeiramente o objeto foi o responsável pelo bebê e, por ele ser uma referência afetiva, a criança quer que ele esteja em suas mãos, mesmo sendo um objeto não estruturado. Esse objeto desperta um interesse de explorar algo novo que a criança pode já conhecer ou não, sendo diferente dos objetos estruturados, pois são brinquedos prontos. Os objetos estruturados podem refletir um certo interesse das crianças, porém eles restringem a sua imaginação e as possibilidades de utilização.
Assim, a experiência do brincar possibilita à criança o autoconhecimento, facilitando o processo de socialização, devido a situações vivenciadas com outras crianças, ou seja, brincar é uma atividade lúdica, estimulante, que proporciona constituição de memórias. A importância do brincar deve ser vista como uma construção histórica, pois, quando brinca, a criança experimenta sensações e encontra extensões para vivenciar o que de fato é uma experiência, porém de uma forma lúdica e livre.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a construção deste artigo, percebemos que o brincar contribuiu para o intelecto, o emocional, para a estrutura física da criança e para as relações sociais, portanto, atingimos os objetivos propostos para a pesquisa e a elaboração da produção escrita.
Desta forma, o brincar, com ou sem objetos estruturados e não estruturados, é um ca-
nal fundamental para o desenvolvimento da criança e do bebê, pois, por meio da interação das crianças com a fantasia, elas constroem o conhecimento de si e da realidade, aprendem a conviver, a ser, a se relacionar, potencializando sua curiosidade, autonomia, linguagem e pensamento.
Enxergamos o brincar como um direito da criança que possibilita o seu desenvolvimento global, ajudando na resolução de conflitos e favorecendo a formação de cidadãos, a partir das interações criadas entre os educadores e com outras crianças. Ela começa a compreender o mundo que a cerca e os próprios sentimentos, favorecendo a aprendizagem.
No espaço familiar, as crianças criam os seus primeiros laços afetivos e as relações com adultos e crianças da família, de forma espontânea. Entretanto, na instituição de Educação Infantil, ela produz culturas infantis com outras crianças e adultos, a partir das experiências em espaços organizados intencionalmente para tal, criando, imaginando e aprendendo.
Portanto, o brincar, que envolve, jogos, brincadeiras, cantigas de roda etc., possibilita a expressão dos sentimentos e emoções, expõe as habilidades, dificuldades e conquistas infantis. Assim, a criança se expressa, sente, reinventa e constrói novas possibilidades de exploração, por meio de sua brincadeira, desenvolvendo a função simbólica da consciência, a vontade, a atenção voluntária, autonomia e as diferentes formas de pensar e agir.
Por meio de diferentes materiais e dos próprios corpos infantis, em espaços organizados e reorganizados de forma intencional pelos professores e professoras, as crianças experimentam ações primordiais para a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento máxi-
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mo: diferentes maneiras de brincar.
Recomendamos a continuidade da pesquisa sobre esse tema em livros, artigos, realizando investigações da realidade e, o mais importante, buscando desenvolver a escuta e o olhar atento para os bebês e crianças, com a finalidade de ampliar o conhecimento sobre o brincar na Educação Infantil.
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Encontro com especialista no tema do Artigo
BARBOSA, Célio Jafer Lima. Partilhar experiências no Centro de Educação Infantil. Palestra direcionada às alunas da Pedagogia – FAEP. São Paulo: FAEP, 26 de setembro de 2023.
CASARINI, Debora Checchinato Casarini. Brinquedos estruturados e não estruturados. Encontro por vídeo – aula, pelo Google Meet. São Paulo: FAEP. 04/09/2020. Acessado do arquivo de palestras 2023.
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Ana Cristina de Souza
SUPERANDO OBSTÁCULOS: O PAPEL
INTEGRADO DO PROFESSOR DA SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS, PROFESSOR DA SALA REGULAR, EQUIPE GESTORA E CEFAI NAS ESCOLAS DE SÃO PAULO
RESUMO:
O artigo aborda os desafios enfrentados pelas unidades escolares da rede municipal de São Paulo na inclusão de bebês, crianças, jovens e adultos com deficiência. Esses desafios incluem obstáculos que muitas vezes são invisíveis, dificultando o acesso à educação e o pleno desenvolvimento dos estudantes. No entanto, através de uma colaboração sinérgica entre diversos atores, como Professores de Atendimento Educacional Especializado (PAEE), equipe gestora, famílias e serviços de apoio, são implementadas iniciativas para garantir a execução das políticas públicas de Educação Especial. Essas iniciativas, fundamentadas na Portaria SME Nº 8.764/2016 e coordenadas pelo Professor de Acompanhamento e Apoio à Inclusão (PAAI), visam principalmente eliminar barreiras para promover uma abordagem inclusiva na educação. Um dos principais desafios é a falta de recursos e infraestrutura adequados para atender às necessidades específicas dos estudantes com deficiência. O papel do professor é crucial, exigindo não apenas o ensino do conteúdo curricular, mas também a adequação da prática pedagógica para atender às necessidades individuais de cada estudante. Além disso, a equipe gestora desempenha um papel importante na promoção de uma cul-
tura inclusiva dentro da escola, garantindo que todos os estudantes se sintam bem-vindos e respeitados. O Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão (CEFAI), vinculado à Diretoria Regional de Educação de São Paulo, assume um papel essencial ao oferecer suporte especializado aos Professores de Atendimento Educacional Especializado (PAEE). Este programa visa fornecer orientação pedagógica, formação contínua e recursos didáticos adequados para os estudantes com deficiência. Apesar dos avanços realizados, ainda há desafios significativos a serem superados para garantir uma educação inclusiva e de qualidade para todos os estudantes. É necessário um compromisso contínuo de todos os envolvidos para superar essas barreiras, garantindo o direito à educação de todos, independentemente de suas diferenças.
Palavras-chave: Educação Inclusiva; Formação de Professores; Atendimento Educacional Especializado; Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão.
EDUCAÇÃO
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ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: INQUIETAÇÕES, ANÁLISES E REFLEXÕES
As unidades escolares da rede municipal de São Paulo enfrentam uma série de desafios no que diz respeito à inclusão de bebês, crianças, jovens e adultos com diferentes pessoas com deficiência. Estes obstáculos, muitas vezes invisíveis, podem dificultar, significativamente, o acesso à educação e o pleno desenvolvimento desses estudantes.
Contudo, mediante uma colaboração sinérgica envolvendo os Professores de Atendimento Educacional Especializado (PAEE) atuantes na Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), a equipe gestora, os núcleos familiares, os serviços de suporte da Auxiliar de Vida Escolar (AVE), e o Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão (CEFAI), este último um serviço municipal vinculado à Divisão Pedagógica (DIPED) e inserido nas Diretorias Regionais de Educação do estado de São Paulo, são orquestradas e executadas iniciativas com o propósito de assegurar a execução das políticas públicas de Educação Especial.
Essas iniciativas, alicerçadas na Portaria SME
Nº 8.764/2016 e coordenadas pelo Professor de Acompanhamento e Apoio à Inclusão (PAAI), visam, principalmente, a eliminação de barreiras, com o objetivo de promover uma abordagem inclusiva na educação.
Um dos principais desafios enfrentados pelas unidades escolares é a falta de recursos e infraestrutura adequados para atender às necessidades específicas dos estudantes com deficiência. Muitas escolas não estão preparadas para receber esses estudantes, seja pela falta de rampas de acesso, banheiros adaptados, ou mesmo pela ausência de profissionais preparados para trabalhar com a diversidade de necessidades presentes em sala de aula.
Nesse contexto, o papel do professor torna-se fundamental. Cabe a ele não apenas ensinar o
conteúdo curricular, mas também adequar sua prática pedagógica para atender às necessidades individuais de cada bebê, criança, jovem e adulto. Isso requer um conhecimento profundo sobre as diferentes deficiências e estratégias de ensino inclusivas, bem como uma postura aberta e receptiva às necessidades dos estudantes.
Além disso, a equipe gestora desempenha um papel crucial na promoção de uma cultura inclusiva dentro da escola. É responsabilidade da gestão escolar garantir que todos os estudantes se sintam bem-vindos e respeitados, independentemente de suas diferenças. Isso envolve a implementação de políticas e práticas inclusivas, bem como o envolvimento ativo das famílias no processo educacional de seus filhos.
Nesse cenário, o Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão (CEFAI), ligado à Diretoria Regional de Educação de São Paulo, assume um papel fundamental. Este programa oferece suporte especializado aos Professores de Atendimento Educacional Especializado (PAEE) que trabalham nas escolas municipais de São Paulo, em colaboração com os professores da sala regular e estagiários que participam das atividades pedagógicas conduzidas pelo professor da sala regular. O foco está em bebês, crianças, jovens e adultos com deficiência, fornecendo orientação pedagógica, oportunidades de formação contínua e recursos didáticos adequados.
Desta forma, o PAAI desempenha um papel essencial ao apoiar os estudantes com deficiência no ambiente escolar, fomentando a inclusão e o pleno desenvolvimento de suas habilidades. Isso é realizado por meio de atividades como “discussões sobre práticas educacionais adotadas nas unidades escolares, em colaboração com o Coordenador Pedagógico,
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familiares, responsáveis e outros educadores envolvidos, com o intuito de assegurar a aprendizagem, o desenvolvimento, a autonomia e a plena participação dos educandos.” (Artigo 7º, seção IV, da Portaria 8764/16).
No entanto, apesar dos esforços e avanços realizados, ainda há muito a ser feito para garantir uma educação inclusiva e de qualidade para todos os estudantes. É necessário que haja um compromisso contínuo por parte de todos os envolvidos - professores, equipe gestora, famílias e serviços de apoio - em superar as barreiras e desafios existentes, garantindo assim o direito à educação de todos os estudantes, independentemente de suas diferenças. Somente através de uma abordagem colaborativa e inclusiva podemos construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos.
Como mensagem final deste artigo, vale ressaltar a importância contínua de pesquisas avançadas na formação humana e aprimoramentos no apoio mais intensivo às pessoas com deficiência nas escolas. Embora tenhamos feito progressos significativos na promoção da inclusão educacional, ainda existem desafios significativos a serem superados para assegurar que todos os estudantes desfrutem de acesso equitativo e contínuo a uma educação de qualidade.
Nesse sentido, é crucial que sejam realizados estudos que investiguem de forma mais aprofundada as necessidades específicas dos estudantes com deficiência, bem como as boas práticas para atender a essas necessidades dentro do contexto escolar. Isso inclui teorias, pesquisas sobre estratégias pedagógicas eficazes, formação docente especializada, adequação de recursos e materiais didáticos, suporte emocional e social, e desenvolvimento de parcerias eficazes entre as universidades, escola, família e comunidade.
Além disso, é importante promover uma maior colaboração entre pesquisadores, profissionais da educação, famílias e pessoas com deficiência, garantindo que as vozes de todos os envolvidos sejam ouvidas e consideradas no processo de desenvolvimento e implementação de políticas e práticas inclusivas.
Somente através de um compromisso contínuo com a pesquisa, inovação e colaboração podemos garantir que todas as pessoas com deficiência tenham acesso a uma educação que promova seu pleno desenvolvimento e participação na sociedade. Que este artigo sirva como um ponto de partida para futuras investigações e ações que visem a construção de um sistema educacional verdadeiramente inclusivo e igualitário para todos.
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PORTARIA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - SME Nº 8.764 DE 23 DEZEMBRO DE 2016. Artigo 7º seção IV.
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Ivanete Cardozo de Oliveira, Ra: 1622701
EXPULSÃO DE MULHERES E HOMENS TRANSEXUAIS NO ÂMBITO
ESCOLAR¹
Juliana Rodrigues de Oliveira da Silva, Ra: 1622505
Regiane Alves dos Santos, Ra: 1622675
RESUMO
Os temas transversais estão cada vez mais presentes no currículo das escolas, porém o presente artigo buscou trazer uma reflexão à cerca do que ocorre com as mulheres e homens transexuais dentro do ambiente escolar e o motivo pelo qual ocorre a exclusão e expulsão. Desta maneira, pretendeu-se desencadear um debate com informações relevantes sobre essa população e sobre os avanços das lutas para eliminar a discriminação, buscando apontar a compreensão das estratégias necessárias para que se acabe com o bullying, violência e preconceito dentro dos ambientes escolares e fora deles, visto que é por meio da conscientização que será possível ocorrerem as mudanças. Diante disso, o principal objetivo desse trabalho foi pautar a inclusão de mulheres e homens transexuais dentro do ambiente escolar, para evitar a exclusão e evasão escolar deles. Para tanto, buscou-se, além de informações em artigos científicos, livros e palestras, trazer à vivência de quem tem conhecimento para expor seus sentimentos diante dos fatos apontados, dando voz, assim, à essa popula-
ção que, por muitas vezes, é marginalizada perante à sociedade. Pretendeu- se demonstrar que, apesar de parecer utópico, acredita-se na mudança de comportamento frente às mulheres e homens transexuais, minimizando os impactos causados durante anos de repressão.
Palavras-chave: Expulsão. Transexuais. Escola.
1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à FAEP - Faculdade de Educação Paulistana- em novembro/2023 como requisito parcial para a conclusão do curso de Pedagogia, realizado sob orientação das Prof.ªs Dra. Rosangela A p. dos Reis Machado e Ms. Ana Maria Gentil.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo buscou analisar a exclusão/ expulsão das mulheres e homens transexuais do ambiente escolar e refletir sobre quais seriam as estratégias necessárias para inclusão de mulheres e homens transexuais do sexto ao
1 - Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à FAEP - Faculdade de Educação Paulistana- em novembro/2023 como requisito parcial para a conclusão do curso de Pedagogia, realizado sob orientação das Prof.ªs Dra. Rosangela A p. dos Reis Machado e Ms. Ana Maria Gentil.
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nono ano do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Inicialmente, buscou-se compreender que a utilização do termo exclusão visa demonstrar o sentido real da palavra conforme o pensamento de Freire (2001, p. 35), em que reflete:
[...] sociedade que cria uma série de impasses e de dificuldades, uns em solidariedade com os outros, de que resultam obstáculos enormes para as crianças populares não só chegarem à escola, mas também quando chegam, nela ficarem e nela fazerem o percurso que têm direito.
Para tanto, durante o desenvolvimento deste tema, pretendeu-se organizar várias perguntas que determinariam o problema da pesquisa, como: quais as causas de exclusão e expulsão das mulheres e homens trans no âmbito escolar? Quais as estratégias necessárias para possibilitar a inclusão dentro do ambiente escolar? E o que já tem sido feito para que isso ocorra?
Entretanto, procurando delinear melhor o problema da pesquisa, determinou- se apenas uma pergunta que auxiliasse na realização de uma delimitação de investigação, considerando o tempo para desenvolvê-la e a necessidade da escrita de um artigo científico, que, de certa forma, exige um texto mais sucinto.
Sendo assim, surgiu o problema da pesquisa, com a seguinte pergunta: quais as estratégias necessárias para impedir a exclusão de mulheres e homens transexuais no âmbito escolar, no Ensino Fundamental e Ensino Médio? Porém, mesmo com o limite do tempo e do registro escrito, buscou-se possibilitar a conscientização, a mudança da valores e atitudes e apontar a necessidade da construção de políticas públicas para a inclusão.
Desta forma, o objetivo foi pensar sobre a inclusão de mulheres e homens transexuais, explicitando as causas da exclusão e organizando algumas estratégias necessárias para que estes possam permanecer no âmbito escolar, de tal forma que possam se apropriar do patrimônio histórico e cultural da humanidade, como sujeitos de direitos e que possam prosseguir os estudos ampliando suas possibilidades pessoais e profissionais.
Observou-se, ao longo da trajetória de vida pessoal e escolar do grupo, por meio de narrativas, de relatos e de vivências das mulheres transexuais e dos homens transsexuais, que a violência verbal, o bullying, até mesmo a violência física são os principais fatores da expulsão escolar dessa população no âmbito escolar.
Diante disso, acredita-se que seja necessário ressaltar a ausência e o não reconhecimento do nome social das mulheres e homens transexuais, o que é, sem dúvida, outro fator importante de exclusão e de evasão escolar dessa população, uma vez que a pessoa não tem o seu nome reconhecido como pertencente ao gênero ao qual se reconhece e se identifica, ela é invalidada como pessoa e como mulher ou homem.
O presente artigo justificou-se por compreender que a falta de políticas públicas, de acolhimento da escola e de preparação dos docentes, voltada para inclusão das mulheres e homens transexuais nos ambientes escolares é, sem dúvida, um precedente que ocasiona sofrimento, exclusão, sentimentos de angústia por não serem aceitos e compreendidos como pessoas.
Assim, a metodologia da pesquisa escolhida foi, principalmente, desencadeada pela escuta das narrativas de homens e mulheres transexuais e das vivências pessoais, que foram,
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neste trabalho, analisadas à luz dos estudos e investigações já realizados sobre o tema, em livros, documentos e textos acadêmicos. Portanto, foi uma pesquisa qualitativa, com alguns dados estatísticos fornecidos no material bibliográfico para reflexão, que possibilitou o diálogo com as vivências pessoais e outras interlocuções com a população que se constituiu no foco deste texto.
Diniz (2019, p. 03), “mulher é associada a casa, maternidade, obediência, sentimentalismo, fragilidade, inferioridade. Homem se encontra dentro de todas as figuras opostas: trabalho, paternidade, dominação, racionalidade, força, superioridade”.
2. CONCEITOS E TERMINOLOGIAS: AS CONSEQUÊNCIAS DOS EQUÍVOCOS
Dando início ao desenvolvimento do presente artigo, compreende-se que, inicialmente, se faz necessário trazer para conhecimento os diferentes termos utilizados para aprofundar os estudos sobre gênero. Conforme Amorim, Rocha e Diniz (2019, p.01), “a definição do gênero alinhado ao sexo biológico se mostra como inerente à sociedade patriarcal ainda predominante na contemporaneidade, em que a performance masculina e feminina são colocadas em posições opostas e heterogêneas”.
Primeiramente, será feito um processo de categorização dos termos, diferenças, distinções e desigualdade. À medida que não se respeita os direitos das especificidades de cada pessoa humana, corre-se o risco de classificar e hierarquizar as relações, criando desigualdades em diferentes espaços e na sociedade como um todo (Louro, 1997).
Para problematizar as desigualdades na sociedade, referentes às questões de gênero, torna-se necessário definir gênero, que se constitui em uma construção social, sendo que a sociedade determina as ações e funções que cada pessoa deve realizar, de acordo com o seu sexo biológico para cumprir um papel social e ser aceita, para se alinhar às expectativas tradicionais da sociedade. Segundo Amorim, Rocha e
Entretanto, mesmo que exista um padrão imposto pela sociedade, onde as mulheres por si só já são inferiorizadas, numa sociedade machista, isso se demonstra também na quantidade de mulheres trans comparadas aos homens trans, conforme Soares (2023, p. [online]), “a proporção de mulheres trans para homens trans é de 3 por 1”. O que ocorre é que as pessoas precisam passar por um processo de autodescoberta para construir a sua própria identidade, de acordo com as suas singularidades.
No que se refere à gênero, a questão da identidade não está necessariamente relacionada com as características biológicas, tanto na questão dos papéis sociais relacionados às funções de meninas e meninos, como quando as meninas e os meninos não se identificam com o seu sexo biológico.
Neste sentido, destaca-se a compreensão da necessidade de formação da identidade das mulheres e homens transexuais, que, desde a infância, percebem-se como uma pessoa diferente daquela correspondente ao seu sexo biológico. De acordo com pesquisa do ambulatório de psiquiatria do Hospital das Clínicas, existe a necessidade de uma compreensão das questões hormonais e/ou cerebrais para entender essa diferença, conforme Spizzirri et al. (2018, p. 04 e 05).
Vale ressaltar que um importante critério diagnóstico para disforia de gênero é o sofrimento que acompanha a incongruência entre o corpo e a identidade de
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gênero, pois as características sexuais secundárias não pertencem ao gênero com o qual se identifica. Volumes insulares diminuídos foram relatados em pacientes deprimidos indivíduos com sintomas melancólicos, e essas alterações nos volumes corticais insulares e pré-frontais podem estar especificamente associadas à manifestação de sintomas psicóticos no transtorno depressivo maior. A ínsula está relacionada a todas as sensações subjetivas e é o possível fundamento da intercepção, incluindo a consciência corporal. Além disso, a ínsula conecta os distintos sistemas funcionais envolvidos no processamento das emoções, sensório-motor habilidades e cognição. Dois estudos avaliaram a conectividade funcional em pessoas trans e encontraram um padrão de conectividade neural que inferia sofrimento devido à incongruência entre o sexo atribuído no nascimento e o gênero identidade, e que a conectividade entre a ínsula direita e o córtex somatossensorial foi negativamente relacionado a classificações em uma escala de bem-estar em relação à disforia de gênero.
Em entrevista concedida ao Globo Repórter (2016), o psiquiatra Alexandre Saadeh afirma que pode-se compreender que, no embrião humano, a genitália se forma por volta da 10º semana, enquanto isso o cérebro está em desenvolvimento. Quando o feto está por volta da 20º semana, define-se, então, a área que se dará a identidade de gênero, ou seja, a genitália masculina com o cérebro masculino, a genitália feminina com um cérebro feminino, porém isso não é regra, podendo ocorrer de forma contrária, ou seja, genitália masculina, mas o cérebro se estruturou como feminino, genitália feminina e o cérebro se estruturou como masculino. Desta maneira, pode-se observar casos
de criança que nascerão transgênero e isso se manifestará por volta dos 2, 3, 4 anos de idade, que é quando a criança tem maturidade neurológica para dizer se é menina ou menino. Então, pode-se dizer que um transgênero já nasce assim, não é escolha, não é influência do meio, porque, se fosse influência do meio, então não existiria trans.
Desta forma, se faz necessário compreender que não se trata de escolhas, mas sim de questões hormonais/ cerebrais, onde a criança já nasce não se reconhecendo com o seu sexo biológico. Conforme a Associação Nacional de travestis e transexuais (2023, p. 07) “essa discussão tem como marco histórico a inscrição da transexualidade no rol de patologias mentais na década de 1970, defendida por médicos e psicólogos distantes das demandas da comunidade trans”.
Entretanto, muitas pessoas se equivocam ao tratar como iguais os termos “homens e mulheres transexuais” e orientação sexual, sendo que esta última representa o tipo de atração sexual ou desejo que uma pessoa sente por outra do mesmo sexo, envolvendo questões afetivas e emocionais. Conforme Amorim, Rocha e Diniz (2019, p. 04), “de forma a trazer mais transparência ao que fora exposto, podese conceituar como transgênero aquele que possui identificação com gênero variante ao designado no nascimento através de seu sexo biológico”.
Torna-se importante, também, informar sobre a LGBTQIAP+, com a finalidade de provocar uma reflexão nas pessoas que generalizam a diversidade dentro do estudo sobre gênero:
Utilizamos essa sigla para nos referir à comunidade de pessoas que se declaram Lésbica, Gay, Bissexual, Transgênero/Travesti, Queer, Intersexo, Assexual,
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Pansexual ou que possuem identidade de gênero e/ou orientação sexual-afetiva fora do padrão cis-heteronormativo (Guia para pensar juntos, 2022)
Compreende-se que, apesar dos avanços, a discriminação e o preconceito estão presentes no cotidiano das mulheres e homens transexuais, visto que além de não serem aceitos perante a sociedade, ainda sofrem com o ódio e a violência, devido a rejeição que sofrem por muitas pessoas. Porém, tratar desse tema se faz necessário e urgente, visto que, principalmente no que se refere ao ambiente escolar, torna-se cada vez mais presente entre adolescentes e crianças, conforme Tomaz (2023, p. [online]):
Atualmente, 380 pessoas identificadas como trans fazem transição de gênero gratuitamente no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. Desse total, 100 são crianças de 4 a 12 anos de idade, 180 são adolescentes de 13 a 17 anos e 100 são adultos a partir dos 18 anos.
Infelizmente, a população LGBTQIAP+ é vista como minoria, mas não no sentido de quantidade, mas sim de exclusão, visto que o poder público, a sociedade, a economia e o judiciário pouco fazem para mudar a realidade, fazendo com que o preconceito e a discriminação continuem imperando em nosso país, segundo Soares (2023, p. [online]), “minoria significa poder político”. Observa-se que, apesar dos direitos, mulheres e homens transexuais continuam sofrendo e não tem seus direitos garantidos.
2. HOMENS E MULHERES TRANSEXUAIS: VIOLÊNCIAS E DIREITOS
Dia 17 de Maio é o dia internacional contra a
homofobia, a transfobia e a bifobia, tendo por objetivo aumentar a conscientização sobre os direitos da população LGBTQIAP+, porém não se trata de um dia para comemorar, visto que a homofobia e a transfobia continuam presentes na sociedade, ou seja, a não aceitação da orientação sexual e a discriminação pela identidade de gênero. Diante disso, vale à pena ressaltar alguns avanços dos direitos da dignidade das pessoas LGBTQIAP+ :
• 17de Maio de 1990 - A Organização Mundial de Saúde (OMS) retira a homossexualidade da classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID).
• 2011 - O casamento homoafetivo (união estável de pessoas do mesmo sexo) foi considerado constitucional e regulamentado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Em um dos casos, em 2011, a corte entendeu não haver impedimento legal para que pessoas do mesmo sexo se casassem.
• 18 de Junho de 2018 - A Organização Mundial de Saúde (OMS) deixou de considerar a transsexualidade como um distúrbio mental. Essa nova classificação ocorreu 28 anos depois da decisão de retirada do termo de homossexualidade da lista de doenças no dia 17 de Maio 1990. Com a mudança, o termo, que passou a se chamar incongruência de gênero, foi inserido no capiítulo sobre saúde sexual e cada país teve que se adaptar à essa cide até 1ºJaneiro 2022. Um avanço importante para reduzir o estigma e a descriminação.
• 2019 - O STF decidiu que a homofobia é um crime imprescritível e inafiançável. Na decisão, o STF entendeu que se aplicava aos casos de homofobia e transfobia a lei
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do Racismo (Lei n 7.716/1989). O artigo 20 da lei em questão prevê pena de um a três anos de reclusão e multa para quem incorrer nessa conduta.
Porém, para que esses avanços ocorressem, muito se sofreu. Segundo Gonçalves (2020), durante a ditadura militar que ocorreu entre 1964 a 1985, ocorreu muita repressão, perseguição, censura, sendo que, durante o período de 1980 a 1985, o delegado José Wilson Richetti ordenou que travestis e transexuais fossem presos, o que depois se transformou na Operação Tarantula.
As mulheres e homens transexuais sofreram muito, pois, ao analisar a história, percebe-se que, em 27 de fevereiro de 1987 era iniciada uma operação policial na capital paulista que tinha como objetivo eliminar das ruas as ameaças à “família tradicional brasileira” e higienizar a cidade de tudo aquilo que a tornava “suja” Ela foi batizada de “Operação Tarântula”, conforme relatado por Soares (2023, p [online]), em que o alvo era claro: pessoas trans e travestis que trabalhavam nas ruas de São Paulo. A operação policial violenta deixou marcas para quem presenciou o momento e ainda reflete na realidade das pessoas trans e travestis no Brasil. Conforme a revista digital Mundo Mais (2023):
A Tarântula não foi a única operação com o mesmo propósito. Arrastão, Cidade, Sapatão, Limpeza (todas em São Paulo) e Asa Branca (em Recife), foram alguns outros exemplos, contudo, para Neon Cunha, publicitária, mulher, negra, ameríndia e transgênera, “nessa ordem de importância”, como costuma afirmar, ‘a mais impressionante foi a [operação] Richetti que envolve, inclusive, o nome do delegado [José Wilson Richetti] que personifica tudo isso’.
Ao analisar o que sofrem os homens e mulheres transexuais, depara-se com os números, que fazem com que se pare para pensar o tanto que a sociedade precisa mudar. Desta maneira, cabe uma reflexão sobre como iniciar essa transformação. Lendo o Dossiê de 2022, que retrata os assassinatos e a violência contra travestis e transexuais brasileiras, logo de início pode-se constatar que crianças e adolescentes transexuais são vítimas dentro do ambiente escolar.
Em 2022, tivemos pelo menos 151 pessoas trans mortas, sendo 131 casos de assassinatos e 20 pessoas trans suicidadas. A mais jovem trans assassinada tinha 15 anos, e vimos um acirramento na patrulha contra crianças e adolescentes trans, sendo inclusive vítimas de violências dentro do ambiente escolar. (Benevides, 2023, p. 06)
Apesar dos direitos adquiridos, percebe-se que homens e mulheres transexuais ainda parecem ser invisíveis perante a sociedade e o Estado, visto que continuam sofrendo violência e violação de seus direitos. Percebe-se que os crimes cometidos são única e exclusivamente crimes de ódio, pelo simples fato de a sociedade não aceitar e respeitar a identidade de gênero.
Dados e números não são claros, visto que o governo parece não dar muita importância as informações da população LGBTQIA+, faltando inclusive nas estatísticas oficiais. Desta maneira, seria de fundamental importância compreender quantos são, como é o acesso à saúde, educação e até mesmo ao reconhecimento, para que assim, tivesse uma visão ampla sobre o que poderia ser melhorado e mudado.
O descaso do Estado em relação à LGBTfobia, seja pelo sistema judiciário ou
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pela segurança pública, polícias civis e militares, nenhum tem sido capaz de conferir a real importância sobre a produção de informações sobre o cenário da violência contra pessoas LGBTQIA+. O que nos informa dizer, por exemplo, que 17 pessoas LGBTQIA+ foram assassinadas em 2021 em todo país? Quantas eram trans ou travestis? Lésbicas? Quantas eram negras? Quais estados ocorreram e como ocorreram? Quais ações foram tomadas? Essas são algumas perguntam que precisam ser incorporadas com urgência para que tenhamos dados robustos e capazes de gerar soluções para esse problema. (Benevides, 2023, p. 12 e 13)
A análise do Dossiê (2022) por si só daria um trabalho bem complexo, porém o foco aqui é demonstrar o que ocorre com as crianças e adolescentes transexuais dentro do ambiente escolar, desta forma, foca-se principalmente no que se refere à educação, porém cabe muita reflexão e principalmente “dói na alma” de quem viveu, vive e pertence a essa população. Por isso a importância de começar um trabalho com certa urgência dentro dos ambientes escolares, buscando assim, mudar essa realidade para as gerações futuras. Segundo Benevides (2023, p. 35), “o total de vítimas menores de idade nos últimos seis anos somam 33 casos, sendo 32 pessoas transfemininas e 1 pessoa transmasculina. E representa cerca de 5,7% dos assassinatos com informações sobre idade das vítimas”.
Como dito anteriormente, os dados sobre a população LGBTQIA+ são muito rasos, porém, conforme publicação da Folha de São Paulo (2016, [p. online]) sobre a violência, tem-se uma base do que sofrem mulheres e homens transexuais, desta forma:
• 27% já sofreram agressão física por causa
da sua orientação sexual;
• 25% já sofreram agressão física por causa de sua identidade de gênero;
• 73% sofreram agressão verbal (bullying) por causa de sua orientação sexual;
• 68% já sofreram agressão verbal (bullying) por causa de sua identidade de gênero;
• 60% se sentem inseguros para frequentar o ambiente escolar acadêmico por causa de sua orientação sexual;
• 56% já foram assediados;
• 36% afirmam que foi ineficaz a resposta dos profissionais da instituição perante os episódios de violência. Principais espaços onde ocorrem situações de discriminação;
• 38,4% no uso de banheiros;
• 36,1% nas aulas de educação física.
Ainda conforme publicação da Folha de São Paulo (2016, [p. online]) sobre os principais motivos que levam mulheres transsexuais a abandonarem o ambiente educacional, considerando como obstáculos do cotidiano de homens e mulheres transexuais nos ambientes escolares:
• 10% Nome social;
• 16% agressão verbal;
• 18% assédio moral;
• 38% preconceito;
• 3% agressão física;
• 15% dificuldade de aprendizagem.
3. EXCLUSÃO- ABANDONO,EVASÃO E FRACASSO ESCOLAR DE HOMENS E MULHERES TRANSEXUAIS: VIOLÊNCIA NO AMBIENTE EDUCACIONAL
A escolha de trazer para reflexão esse tema se deu por meio da vivência, no decorrer da vida, no período em que se estava na escola e no período de transição. Compreende-se que o acolhimento e o entendimento fazem a diferença, visto que chegar a cursar uma faculdade, para
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muitos, parece impossível. Poder perceber que existem pessoas que acreditam na mudança é o que motiva a continuação da luta, pois ninguém luta sozinho. Desta forma, a busca da conscientização é a esperança na mudança da sociedade, para que futuramente mulheres e homens trans não sofram violência, principalmente dentro dos ambientes escolares.
Quem melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá, melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? Libertação a que não chegarão pelo acaso, mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de lutar por ela. (Freire, 2021, p. 42 e 43)
Diante do exposto, compreende-se que atualmente fala-se muito de inclusão no ambiente escolar, porém deve-se pensar o que de fato é a inclusão, aquela que vai além de organizar espaços físicos ou preparar materiais adaptados para quem possui alguma deficiência. Conforme Benevides (2023, p. 36), “muitas escolas não têm garantido o direito ao uso do nome social e/ou o respeito a identidade de gênero dessas pessoas, alargando os motivos que propiciam a exclusão do ambiente escolar, interrompendo o direito à Educação de uma parcela considerável da população”.
A inclusão no ambiente escolar vai muito além do que se é pensado, visto que, a garantia aos estudos é um direito de todos e, dentro das escolas, todos devem ser acolhidos, independente de raça, gênero, cor, etnia. Conforme Brasil (2020, p. 10), “o processo de inclusão não pode mais ficar restrito a discussões teóricas: é uma condição para a garantia efetiva dos direitos fundamentais à educação e ao exercício
pleno de cidadania de todo brasileiro”.
Cabe então a reflexão sobre a exclusão, que traz como consequência a evasão e o fracasso escolar de homens e mulheres transexuais, que sofrem preconceito, bullying e violência, sendo que a escola deveria ser um ambiente promotor de um ensino igualitário, porém tem deixado essas crianças e adolescentes transexuais desprotegidos. Conforme Soares (2023, p [online]), “a violência na escola que força a criança a abandonar a escola [...] a criança não sai da escola porque ela quer e sim porque ela é forçada”.
Diante disso, compreende-se que a escola deve ser um local de acolhimento e proteção para essas crianças, buscando evitar com que essas crianças sejam expulsas. O ambiente escolar deve ser aquele que além do aprendizado, traga segurança.
Escolas devem, por exemplo, adotar medidas e políticas para eliminar o bullying e o comportamento discriminatório que impedem crianças trans de participar de esportes, usar determinado banheiro ou uniforme. O argumento antitrans é de que esse impedimento visa proteger as demais crianças, situando crianças trans como possíveis algozes, embora se trate de grupos vulneráveis, que igualmente precisam de proteção. Não há antagonismo entre crianças trans e crianças cis. (Associação Nacional de travestis e transexuais, 2023, p. 16)
A escola deve ser um ambiente acolhedor, que inclua a diversidade, porém observa-se pela vivência pessoal e como estagiárias que, principalmente no que se refere ao gênero, acaba se tornando um ambiente opressor, onde os homens e mulheres transexuais não se sentem pertencentes e por isso sofrem.
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Compreende-se que a escola forma o cidadão para a sociedade e busca transformar os indivíduos, fazendo com que eles sejam reflexivos, críticos, autônomos, desta maneira, além do trabalho pedagógico, deve-se pensar no trabalho social.
É importante o entendimento de que a equidade e a inclusão devem estar tanto nas políticas como nas ações de cada instituição de ensino, uma vez que educandos com características diversas, no sistema educacional, despertam novos modos de trabalho pedagógico e social. (Brasil, 2020, p. 102)
Quando essa criança/ adolescente transexual não se sente acolhido dentro do ambiente escolar, consequentemente deixará de frequentar a escola, fazendo com que seus direitos não sejam garantidos e, em contrapartida, vivendo às margens da sociedade.
4. POSSIBILIDADES DE MUDANÇAS NO AMBIENTE ESCOLAR
Como dito anteriormente, não tem como fugir do tema inclusão ao se falar de gênero, pois como, diante do exposto até aqui, compreende-se que o papel da escola é promover igualdade, inclusão e equidade, desta forma se fazem necessárias mudanças, em que todos possam conhecer e respeitar o próximo. Essas mudanças farão com que todos aprendam uns com os outros, desta maneira, a escola deve ser um espaço de descobertas, onde o até então desconhecido possa ser explorado. A escola é um espaço de transformação, onde as crianças/ adolescentes aprendem com o cotidiano e com as vivências/ experiências adquiridas, desta maneira, quando a escola é acolhedora, consequentemente os alunos passam a perceber o outro e o mundo de forma
diferente, tendo mais respeito e empatia.
Dentro do ambiente escolar, se faz necessário trabalhar a igualdade de direitos, buscando assim uma sociedade mais justa, que aprenda a respeitar a diversidade e que tenha conhecimento sobre direitos e deveres, visto que se vive num país democrático, onde a valorização da cultura e da história devem fazer parte do cotidiano.
Dentro do ambiente escolar, a criação de projetos que tragam o diálogo pode fazer toda a diferença. Se faz necessário trazer todos os temas e ter espaços de fala para que mulheres e homens transexuais possam expor e externar seus sentimentos, demonstrando o que passam e o que sentem, para que assim, todos compreendam em que estão errando e em que podem e devem mudar. Essa é a busca da inserção social, na qual coloca-se em pautas assuntos que dizem respeito aquele ambiente no qual as crianças e adolescentes estão inseridos.
[...] cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora. (Brasil, 2018, p. 19)
A própria Base Nacional Comum Curricular –BNCC prevê que, dentro da construção de conhecimento, os temas transversais devem ser trabalhados dentro do ambiente escolar, desta forma, se faz necessário trabalhar a sensibilização, por meio de mediação, buscando assim a equidade. Segundo Diniz (2017, p. 12), “[...] uma prática docente que inclua os sujeitos e suas diferenças exige também uma formação
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que alcance a concepção de sujeito de nossos tempos por meio de uma série de rupturas nos discursos do conhecimento racional e científico”.
Diante disso, a escola tem papel fundamental nesse processo de inclusão, visto que é o ensinar para transformar, por meio de trabalhos como rodas de conversa, palestras ou pesquisas, nos quais as crianças e adolescentes possam ter conhecimento e consequentemente passem a respeitar o outro, independente de suas diferenças. Será necessário problematizar as ideias e as ações, trazendo à tona temas que, muitas vezes, passam desapercebidos. Conforme Gohn (2006, p. 05), “o método nasce a partir de problematização da vida cotidiana; os conteúdos emergem a partir dos temas que se colocam como necessidades, carências, desafios, obstáculos ou ações [...]”.
Dessa maneira, poderemos construir coletivamente novas formas de convivência e de respeito entre professores, alunos e comunidade. É preciso que a escola se conscientize cada vez mais de que ela existe para atender a sociedade na qual está inserida e não aos órgãos governamentais ou aos desejos dos educadores. (Munanga, 2005, p. 149)
Utilização de banheiros, de uniformes, nomes e pronomes, devem ser pensados e adotados como forma de inclusão, por fim, conforme reforça a Associação nacional de travestis e transexuais (2023, p. 26):
Diversidade é um tema que atravessa todo e qualquer debate, espere que possibilitem ampliar as escolhas e as opções de banheiro, de uniforme e instalações para dormir ou outras segregadas por gênero. Acompanhando tais alternativas, o nome e os pronomes devem respeitar o desejo expresso da criança.79 Não
estimule que estudantes trans permaneçam em escolas que não tomem questões de gênero e sexualidade como temas que precisam ser debatidos. É preciso que as Secretarias Municipais e Estaduais de Educação, bem como o Ministério da Educação, se posicionem firmemente pelo direito dos estudantes trans ao uso do nome social e ao banheiro de acordo com o gênero com o qual se identificam nos ambientes escolares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No desenvolvimento desse artigo acadêmico, muito se aprendeu, muito se ensinou e buscou-se então colocar os pontos mais relevantes e importantes, sendo que o foco não é chocar com números, mas sim o objetivo principal foi conseguir colocar em palavras o sentimento que ocorreu em meio à lágrimas, nó na garganta e voz embargada enquanto se discutia um assunto tão sério e sensível, sendo que percebeu-se que é possível ocorrer uma mudança nessa geração e nas gerações futuras.
Todos deveriam entender sem preconceito o que significa ser uma mulher ou homem transexual, sendo que isso não é uma opção ou escolha, mas sim uma condição que, por muitas vezes, é recriminada pela sociedade, mas que nos dias de hoje se demonstra por meio de estudos científicos vir desde a formação no ventre materno.
Conhecendo a história de perseguição e sofrimento e os motivos pelo qual essa população abandona os estudos, considera-se que a escola tem papel fundamental na eliminação da exclusão das mulheres e homens transexuais, garantindo-lhes o direito à educação, por meio da promoção de um ensino igualitário e com ações que acolham essa comunidade. Desta maneira, faz-se necessário trabalhar a igualda-
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de, o respeito, a empatia, a equidade e a inclusão, transformando assim a sociedade.
Desta forma, cabe aqui uma sugestão da busca por mais conhecimento que o tema traz, pretendendo problematizar e refletir o que ocorre dentro dos ambientes escolares.
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INEQ - Educação integral 60 Referência na área da educação Cursos Presencial e EaD 03 04 05 (11) 94709-2594 FAEP: a faculdade que pensa em você! Nota 4 no MEC (escala de 1 a 5) 02 + de 20 Cursos de Graduação + de 70 Cursos de Pós-Graduação 01 Bolsas de até 100% Rua Cordeiro da Silva, 143 - Vila Nova Parada Acesse já