Edição 07 | Agosto 2017 | R$ 15,80
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Ecossistema brasileiro de empresas inovadoras cresce e se fortalece, mas desafios ainda passam por ambiente regulatório complexo, custo alto de capital e muito esforço
Flávio Pripas, diretor geral do Cubo
O encanto das startups Impressão 3D
Carreira
Internacional
Aplicações tomam linhas de produções com promessa de revolução em algumas verticais
Com a análise de dados em alta, surge um novo líder corporativo: o Chief Data Officer (CDO)
Como o Vale do Silício inspira os investimentos mundiais para negócios em fase inicial
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Por Patricia Santana
Editorial Empreendedorismo no mundo digital Quando falamos de empreendedorismo normalmente nos vem à mente uma empresa de sucesso, que surgiu basicamente de uma ideia genial. Pode ser assim no Vale do Sílicio, ecossistema de startups que mais atrai investimentos e talentos, conforme apurou nossa correspondente em Nova York, Perla Rossetti. Embora o Brasil tenha destaque nesse quesito na América Latina, as empresas por aqui esbarram em questões regulatórias e alto custo de capital para sobreviver. Menos de 10% sobrevivem mais que cinco anos. Apuramos que a indústria de impressão 3D passa a oferecer oportunidades ao mercado de distribuição com aplicações para os setores de saúde e automotivo. Destacamos também o advento de um novo líder nas corporações. O Chief Data Officer tem, cada vez mais, importância em corporações que priorizam a análise de dados. Boa leitura! Flávia D’Angelo flavia.dangelo@inforchannel.com.br
Expediente Diretor: Cláudio Miranda Editorial redacao@inforchannel.com.br Editora: Flávia D’Angelo Editor de Arte: Guilherme Gomes Colaboradores: Cristiane Bottini, Marcelo Gimenes Vieira, Patricia Santana, Roberta Prescott (texto), Alexia Raine (revisão) e Marcelo Uchôa (foto) Projeto Editorial:
Comercial comercial@inforchannel.com.br Gerente Comercial: Pedro Brescianini
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m processo de popularização e amplo desenvolvimento no Brasil, a tecnologia de impressão 3D deve movimentar mundialmente cerca de US$ 35,4 bilhões até 2020, segundo dados da IDC. Isso representa mais do que a metade do previsto para 2016. De acordo com Sérgio Teixeira, analista do mercado de impressão na IDC Brasil, há uma abrangência de fabricantes, o que tende a se consolidar nos próximos anos. “Assim como em outros mercados, a tendência é ter 3 a 4 grandes fabricantes de impressoras 3D, mas atualmente existe uma variedade grande de empresas direcionadas principalmente para prototipagem industrial”, avalia. Para Anderson Soares, diretor de Território da Stratasys no Brasil, o avanço dos materiais usados nas impressoras 3D permite cada vez mais novas aplicações. “Indústria é o principal mercado que vem absorvendo mais, não na velocidade que gostaríamos, mas usando a impressão 3D como método intrínseco para produção”, pontua. É senso comum que a principal barreira de popularização da impressão 3D ainda é o alto investimento nos equipamentos e materiais, principalmente no contexto político e econômico do País. É por isso que surgem alternativas como a Stratasys, que possui parcerias financeiras para reduzir o investimento inicial na aquisição de uma impressora. Há ainda prestadores de serviços focados no aluguel de equipamentos sob demanda ou até mesmo indústrias que instalam um centro de impressão 3D em uma das plantas, servindo todas as unidades do negócio. E justamente para ampliar a popularização do uso da impressão 3D que a cadeia de tecnologia tem unido forças. Recentemente, a fabricante norte americana Makerbot tem anunciado parcerias estratégicas no Brasil com distribuidores e produtores de software. É o caso da Alcateia, que passa a fornecer a suas revendas e canais todo o portfólio de impressoras 3D e suprimentos da companhia. Já com a Autodesk, mais do que ampliar presença no mercado brasileiro, o objetivo é impulsionar o uso da tecnologia. Assim como foi feito no México, a Makerbot passa a vender os equipamentos com 1 ano de licença grátis ao software de modelagem 3D da Autodesk. “Atualmente, a Makerbot é a mais popular. Com essa parceria, esperamos aumentar o número de downloads e ampliar a comunidade de usuários”, diz Raul Arozi, especialista técnico em manufatura da Autodesk.
Mais do que prototipagem, as aplicações de impressão 3D vêm tomando linhas de produções e prometem revolucionar principalmente o mercado da saúde. Com isso, abre-se uma oportunidade não somente para fabricantes, mas também para canais e revendas especializadas
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Fotos: Divulgação
Raul Arozi, da Autodesk
Sérgio Teixeira, da IDC
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Longe de ter uma impressora 3D em cada domicílio, a popularização ainda habita o terreno da indústria. Arozi avalia que o grande potencial dessa tecnologia está na customização escalável. “É possível construir um fone de ouvido personalizado de acordo com as características e forma de cada orelha. Todas as empresas podem se beneficiar, a questão é avaliar como a impressão 3D pode se encaixar no perfil de cada uma”, pondera. Para o futuro, o especialista acredita que devem surgir cada vez mais materiais avançados, técnicos e resistentes. Segundo Teixeira, da IDC Brasil, mais de 50% dos implantes ortopédicos serão gerados por meio da impressão 3D até 2019. É uma forma de reduzir custos cirúrgicos e aumentar precisão de próteses. “Os canais que já são especialistas em alguma vertical devem se destacar com a impressão 3D. No mercado de hardware, a tecnologia tende a avançar mais”, complementa. Soares, da Stratasys, também aposta na indústria médica como potencial para os negócios de impressão 3D. “Temos soluções que reduzem custo, aumentam segurança e tornam o procedimento menos invasivo. Mas, apesar de promissor, é um setor tradicionalista”, avalia. De acordo com Siron Pereira, coordenador do Fab Lab Facens, o setor automobilístico encara a impressão 3D não mais como um diferencial e, sim, uma necessidade, pois gera economias financeiras e de tempo, possibilitando, também, a produção de peças com geometrias complexas que uma usinagem, por exemplo, não seria capaz de entregar com o mesmo custo e tempo. “Na medicina vem crescendo bastante também a utilização de biomodelos para facilitar cirurgias e já existem impressoras que imprimem biomodelos de titânio para implantes”, explica. No setor aeroespacial, as impressoras 3D de materiais metálicos, por exemplo, conseguem fabricar peças com boa resistência mecânica com menor peso, o que é essencial para redução de custos neste setor. O estudioso acredita no potencial da impressão 3D para mudar completamente o panorama de produção de grandes indústrias e o valor do produto estaria mais concentrado no design do que na tecnologia ou no material utilizado para a produção. “Ao invés de o consumidor ir ao shopping comprar um tênis para correr, ele poderia utilizar um software para personalizar, comprar e fazer o download de um modelo 3D de um tênis, e produzi-lo utilizando uma impressora 3D em sua própria casa”, explica. Ainda em sua avaliação, existem plataformas
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em que é possível fazer download de modelos 3D de peças úteis no dia a dia para serem produzidas por impressoras, o que, apesar de ainda ser baixo, pode mudar significativamente a necessidade de trocar ou enviar um produto para consertar em uma assistência técnica. A 3D Systems também aposta no mercado brasileiro de impressão 3D. É por isso que há cerca de três anos decidiu ter uma estrutura local para dar maior suporte aos revendedores e ao mercado como um todo. Como consequência dessa aposta, hoje o Brasil tem o maior parque de impressoras 3D da América Latina e gera cerca de 100 postos de trabalho. “E foi uma decisão certeira, pois no Brasil o segmento cresceu nos últimos anos em torno de 30%, mostrando-se estar na contramão das dificuldades econômicas do país, mas ainda há um grande potencial
Mercado de US$ 35,4 bilhões em 2020
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ivemos um momento de explosão de novas e revolucionárias tecnologias. Coisas como Big Data, Impressão 3D, IoT, Cognitive, Geolocalização e inúmeros outros conceitos abrem um conjunto inédito de novas possibilidades de negócio, basta que se tome o cuidado de não confundi-las com os negócios em si. Tomemos como exemplo o Big Data. Com exceção de fabricantes de bancos de dados e storage, Big Data não é o business de ninguém. Ninguém vende Big Data, muito menos revende Big Data. Entretanto, esse conceito faz parte de inúmeros novos negócios do mundo do empreendedorismo inovador. Vale a mesma coisa para a impressão 3D, pois tirando os fabricantes das impressoras em si, a impressão em 3D raramente é um negócio, embora ela possa ser usada para construir vários negócios. Lemos que empresas pelo mundo têm usado impressoras 3D para “imprimir” casas, próteses médicas, brinquedos, roupas e até comida. O ponto central e comum a essas notícias é que nenhuma das empresas citadas está no negócio de impressão 3D. Pode parecer paradoxal à primeira vista, mas uma nova empresa que investe, por exemplo, em uma grande impressora 3D para imprimir uma casa é uma inovadora empresa do ramo da... Construção Civil! Sim, eles acharam novas formas e novas ferramentas para se diferenciar no mercado de Cons-
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de crescimento a ser explorado”, sinaliza Andreia Cavalli, gerente comercial da 3D Systems. Para a executiva, as oportunidades se estendem para além das empresas que adotam a tecnologia, visando a redução de custos e facilitação do processo produtivo. “Abre-se oportunidades para a revenda de equipamentos e softwares, serviços de outsourcing de impressão 3D, treinamentos, além da abertura de novos postos de trabalho. A tendência é a utilização da impressão 3D para construção de peças para o uso final, e não apenas como modelos ou protótipos como usualmente é utilizada. Isso gerará um impacto ainda maior na cadeia produtiva, tornando-a mais simplificada, rápida, assegurando a confidencialidade de novos produtos, gerando redução de custos e até a otimização da cadeia logística”, analisa.
50% dos implantes gerados por impressão 3D até 2019
A ponte da inovação trução, acharam novas formas de agregar valor aos clientes que querem uma casa, acharam maneiras de se diferenciar em relação às outras construtoras, eles conhecem os custos do setor, entendem dos materiais, estão familiarizados com a mão de obra, conhecem os desejos e o comportamento dos clientes. Foi o conhecimento do negócio - suas características, seus problemas e dificuldades - que permitiu a esses empreendedores identificar que uma ferramenta como a impressão 3D poderia gerar um novo modelo de empresa de Construção, competitiva e financeiramente viável. A maioria das tecnologias emergentes se enquadram nesse perfil, são ótimos componentes para conceber novos negócios, mas via de regra não são “revendíveis”, por isso, não são um business por si só: precisam ser incluídas num contexto de negócio para fazerem sentido. Empresas inovadoras surgem da junção de novas tecnologias com velhos problemas de negócio. E isso, para os empreendedores que buscam inovação, é uma excelente notícia.
Crescimento anual médio de 24,1% ao ano de 2015 a 2020
Se a nossa única forma de explorar comercialmente essas novas tecnologias fosse revendê-las, elas poderiam até gerar algum lucro imediato, mas não contribuiriam em nada para criarmos algo realmente inovador. Na realidade, cada uma dessas tecnologias nos traria apenas uma oportunidade de negócio, o que é bastante limitado. Entretanto, esses novos conceitos podem ser combinados com inúmeros problemas de negócio para criar novos modelos, o que multiplica as nossas possibilidades de inovação (e de receitas). Tecnologias novas e disruptivas são metade da resposta para nos reinventarmos por meio da inovação. A outra metade da resposta está em verdadeiramente conhecermos em detalhes os problemas de negócio, e isso vai muito além de perguntas bissextas sobre os desafios dos gestores. A maioria de nós dedica muito pouco tempo e energia para conhecer a fundo os problemas de negócio de nossos clientes, e se a inovação é a ponte entre um problema e uma solução, de nada serve uma mala cheia de soluções se não conhecemos os problemas nos quais vamos usá-las. As novas tecnologias representam uma oportunidade muito maior do que elas são capazes de produzir individualmente. Representam a oportunidade de nos reconectarmos àquilo que traz valor aos nossos clientes.
Marcus Rossetti é CEO da Commsulting
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Entrevista 2016
crescimento em receita de 35%
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Raio-x
distribuidores para o B2C Mais de
100 mil máquinas de parque instalado
1 mil
clientes ativos
1,6 mil
pessoas trabalhando
2017 80
revendas para o B2B
projeção de 15%
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PARA ONDE CAMINHA O OUTSOURCING DE IMPRESSÃO Por Flávia D’Angelo
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ação Divulg Foto:
m épocas de transformação digital, a Simpress vê a adaptação da oferta de outsourcing de impressão e GED (Gestão Eletrônica de Documentos) para um modelo que agrega serviços e personalização da solução ao cliente. Nesse contexto, o indicador para uma boa performance não é mais a página impressa, e o GED evolui para ECM (Enterprise Content Management). Segundo Paulo Theophilo Moreira, diretor de Marketing da Simpress, especialmente nas médias e grandes contas, o outsourcing atingiu a maturidade e passa a ser relevante em vários setores e segmentos. Há mais de 17 anos no setor, a Simpress possui mais de mil técnicos especializados que promovem atendimento a nível nacional. Atualmente, a companhia administra mais de mil clientes diretos em todo o Brasil. Segundo Paulo, a oferta da empresa desde o início já era considerada o modelo de entrega de serviço, o conhecido hoje SaaS (Software as a Service). “Desde o começo, a empresa vem desenvolvendo um modelo muito focado não apenas na página impressa, mas nos processos da companhia”. Depois de crescer 35% em 2016 e com projeção de aumentar a receita em 15%, a empresa aguarda os próximos passos para a entrada da HP na operação, que assume os negócios da Samsung oficialmente após a aprovação dos órgãos defesa do consumidor nos diferentes países onde a área de impressoras da Samsung Paulo Moreira, tinha operações, inclusida Simpress ve no Brasil. A estratégia, que inclui a entrada no mercado B2C, conta com o apoio do canal.
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COMO ESTÁ O MERCADO DE OUTSOURCING DE IMPRESSÃO NO BRASIL? Paulo Theophilo Moreira: Especialmente nas médias e grandes contas, o outsourcing para a ser relevante e não só na área de impressão, mas em vários setores e segmentos. É um modelo de sucesso que permite a empresa dedicar-se a sua atividade core e deixar que especialistas cuidem de estratégias departamentais. No Brasil, esse modelo foi muito bem aceito. No caso de outsourcing de impressão, ele acabou entrando em uma fase de maturidade e ofertas diferenciais passaram a ser uma necessidade diária das empresas. PARA ONDE CAMINHA, NA SUA OPINIÃO, ESSE MERCADO? PTM: O futuro é a adoção, por parte das empresas, de maneira massiva do processo. Percebo que as empresas já aceitam e, às vezes, até cedem em alguns pontos para adotar o modelo porque necessitam digitalizar a base de dados para poder transformar em processo. A primeira fase de evolução, então, vai ser a adoção massiva dos processos de digitalização, processamento e distribuição da automação. A fase seguinte incorpora serviços a essa plataforma. E isso inclui uma evolução do serviço, que passa a ser cada vez mais automatizado. O QUE MUDOU COM A AQUISIÇÃO DA SAMSUNG E COMO SERÁ A MUDANÇA COM A HP? PTM: Com a Samsung já está consolidado e não houve alteração no trabalho. Continuamos como Simpress na oferta de outsourcing de impressão com foco no
canal B2B. A entrada da Samsung proporcionou ainda o início do atendimento ao mercado B2C com a inclusão de varejistas, como Kalunga, por exemplo. O foco era atender o público SoHo. A estratégia com a entrada da HP ainda é sigilosa, mas posso adiantar que continuaremos como prestadores de serviço. SOBRE AS INICIATIVAS DE CANAL. CONTINUAM VENDENDO 100% VIA PARCEIROS? PTM: Sim. Temos duas frentes aqui. Temos os revendedores que atendem o mercado corporativo, principalmente as empresas de médio e grande porte, e reproduzem o mesmo modelo de oferta da Simpress. Atendemos por meio de resellers especializados empresas de médio para pequeno porte. Temos o canal B2C, que chamamos de distribuidores e que atendem às necessidades do mercado SoHo. Essa ação começou em abril de 2016 e engloba empresas como Kalunga e Golden Distribuidora, por exemplo. QUAIS OS PLANOS PARA 2017? PTM: A estratégia de canal para B2B tem a oferta de outsourcing de impressão como fomentador de negócios. Isso foi mantido porque reproduz o modelo da Simpress, que tem nos dado crescimento anual consolidado. A orientação que damos é que ele deve agregar sempre hardware e serviços na venda, não mais somente outsourcing. A estratégia da companhia é oferecer soluções sustentadas ao mercado. Sem isso, a oferta é box, e box não é o nosso foco. Estamos com um calendário de treinamentos para que o canal tenha um olhar consultivo para que ele possa oferecer o que o cliente precisa. No caso de go to Market, miramos os setores de educação, industrial e saúde. Esses têm puxado bastante a oferta de soluções da Simpress.
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Carreira Por Roberta Prescott
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a esteira da necessidade das companhias em transformar os dados coletados em informações relevantes para o negócio, começa a despontar nas empresas um novo profissional: o Chief Data Officer (CDO). O cargo é relativamente novo — o Gartner calcula que existam no mundo 3.500 chief data officers e chief analytics officer —, mas a expectativa é de forte crescimento nos próximos anos. “Desde o ano passado, o número de data officers passou o digital officers devido à importância da análise de dados para as organizações”, diz Mario Faria, vice-presidente do Gartner. “Não existe transformação digital se não tiver dados e analytics”, completa. Cabe ao CDO fazer a gestão estratégica de dados, a responsabilidade da análise, como definir os modelos para que as áreas de negócios usem mais analytics, e a responsabilidade pela transformação digital. O Gartner estima que, até o fim de 2019, 90% das grandes corporações terão pessoas com o título de CDO. De acordo com Faria, a maior parte dos CDOs respondem à área de negócios e não ao departamento de tecnologia da informação: 84% dos data officers se reportam à área de negócios. Desses, 30% respondem ao CEO e apenas 16% estão sob a tutela do CIO. Com relação à área de origem ou formação do CDO, o quadro atual sugere que ainda não existe um caminho certo a seguir. De acordo com o VP do Gartner, apenas 9% dos CDOs de hoje vieram de TI. O restante é oriundo das áreas de negócios, como operações, finanças, marketing e vendas. No entanto, independentemente do departamento de origem, algumas características e habilidades são pré-requisitos para exercer a função. “63% de todos os CDOs tinham experiência com dados e analytics, e 37% não tinham experiência prévia”, detalha Faria, explicando que, ao liderar a área, o profissional torna-se responsável pela transformação da organização. Justamente por isto, ele deve ter mais conhecimento para utilizar a tecnologia para prover transformação e não necessariamente ser um especialista em tecnologia. Para isto, o CDO tem o CIO. Para a relação com o CIO não azedar, Faria recomenda que as decisões tecnológicas continuem sob tutela da TI. “O CDO tem de ser parceiro para resolver problemas que a empresa tenha e é cliente interno para a área de tecnologia”, diz. O VP do Gartner também alerta que nem toda organização comporta ou necessita da figura do CDO, explicando que em algumas delas o departamento de TI poderá exercerá a função.
O CDO TEM DE SER PARCEIRO PARA RESOLVER PROBLEMAS QUE A EMPRESA TENHA E É CLIENTE INTERNO PARA A ÁREA DE TECNOLOGIA, Mario Faria, do Gartner
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mest dad Com a análise de dados tornando-se essencial para a competitividade das empresas, surge um novo líder corporativo: o Chief Data Officer
O Braço direito dos negócios
Bancos são ávidos consumidores de dados. Eles são a base da construção de algoritmos para, por exemplo, prevenir fraudes ou abastecer a área de relacionamento para oferecer aos clientes o que eles realmente estejam buscando. Apesar da análise de dados estar na raiz da instituição desde sempre, apenas há cinco anos o Itaú Unibanco decidiu organizar e coordenar o consumo de dados. “Começamos a discutir o papel de CDO há uns cinco anos com intenção de organizar dados do banco, mas a função era essencialmente organizar dados. Mudamos a abrangência disto e demos conotação diferente há 1,5 ano”, revela o diretor do Itaú Unibanco, Estevão Lazanha, responsável pela área de engenharia de dados que conta com 300 funcionários. Lazanha reconhece que o entendimento do papel do CDO ainda não é uniforme e que muitas organizações estão limitando a atuação à gestão dos dados. “Nossa área é mais abrangente, sendo o CDO um subconjunto dela. Nosso entendimento é a exploração do dado - a melhor maneira de consumir a informação disponível - e fazemos isto com análise, tecnologia e talento humano”, diz. A área trabalha não apenas na coleta, processamento e transformação do dado em informação, como coloca o conhecimento que foi adquirido em produção, gerando efeito para o negócio. Para isto, conta com profissionais com diversas formações trabalhando em times com habilidades complementares. “Tem gente que conhece muito de negócios, tem profissional de TI especializado em, por exemplo, machine learning e inteligência artificial, e um universo de profissionais ligado a matemática e ciência de dados”. De acordo com o executivo de 39 anos, os resultados já apareceram em forma de criação Estevão Lazanha, de uma série de modelos mais precisos para ajudar na tomada de decisão. Os novos modo Itaú Unibanco delos criam alternativas para atender mais clientes e em contexto individual respondendo às necessidades de cada um deles.
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Gestão da informação ficou mais complexa
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“Com dados sendo gerados em fontes diferentes, a gestão da informação ficou mais complexa. Na Serasa, o foco estratégico nos dados é extremo porque esta é a nossa matéria-prima e tomamos decisões fortemente baseadas em informação”, resume Rodrigo Sanchez, vice-presidente de estratégia e gestão de dados da Serasa, que capta informações em 60 mil fontes diversas como cartórios, internet e por meio de compartilhamento das empresas. O dado é o principal ativo da companhia e sua fonte para vantagem competitiva. Assim, a criação, em 2016, de uma área específica para unificar a gestão dos dados, que, antes, era feita de forma fragmentada, soou natural. Responsável pela estratégia e operação de dados e gerenciamento de CRM em todas as unidades de negócios, Sanchez comanda um time de 300 pessoas que fazem, entre outras funções, a operação de dados, a gestão das fontes de informação e conta com o laboratório de dados, focado na inovação para gerar insights a partir dos dados que tem. “Fazemos o mapeamento das oportunidades e entregamos para a área de negócio”, conta o executivo de 46 anos, que reporta para o CEO e enxerga no CIO um grande parceiro. Formado em ciências da computação e com pós-graduação em marketing, Sanchez está há oito anos na Serasa. “A Rodrigo Sanchez, área de dados tem de gerar negócios para a empresa e reduzir custos, além da Serasa de entregar resultados no curto prazo ao mesmo tempo em que constrói algo para gerar negócios lá na frente”, enfatiza.
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Conhecendo melhor os médicos Os dados começaram a ganhar importância na Merck quando a empresa farmacêutica e química se deparou com a necessidade de redução da força de vendas e passou a utilizar o canal digital como forma de contato com os médicos, conta Cristiana Agostini, que comanda há 2,5 anos a diretoria de multicanais da Merck, responsável pela integração dos canais (tradicionais, online e off-line) e análise de dados. “Quando entendemos que o mesmo cliente em potencial pode ser contato por meio de vários canais, sentimos necessidade de integrar canais”. A integração dos canais físicos e digitais começou há dois anos. Para isto, a Merck desenvolveu internamente um sistema de inteligência de negócio que permite identificar, por exemplo, qual tipo de canal o médico prefere e qual tipo de conteúdo ele prefere em cada canal. “Contratamos cientistas de dados para dar escopo ao projeto e ajudar a desenhar a plataforma”, conta. Agora, a área de Agostini consegue extrair os dados da utilização de canais e enviar relatórios mensais para áreas de negócio. Com isto, gera insights, por exemplo, sobre tipo de conteúdo que mais se interessa, quanto tempo ficam em cada canal e migração de canais. “Já conseguimos ter 50% de otimização de custo. Procuramos entender os hábitos de uso dos clientes. Não usamos digitais para quem não vai receber bem este canal”, diz.
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m certo romantismo ronda a palavra “startup”. Basta mencioná-la que logo vem à mente alguns ícones do empreendedorismo norte-americano, Jobs e Zuckerbergs, jovens e rebeldes, recém-saídos da faculdade, com uma grande ideia que sozinha basta para montar negócios bilionários. A realidade é não só muito diferente como bastante dura, principalmente quando se está tão longe do Vale do Silício. O Brasil é o país com o mais maduro ecossistema de empresas focado em inovação na América Latina e, possivelmente, um dos maiores do mundo. São entre 8 e 10 mil startups, segundo estimativas da Associação Brasileira de Startups, a ABS. O número, bastante respeitável, esbarra em outro não tão animador: um terço das empresas brasileiras não sobrevive aos primeiros dois anos de atividade, segundo a Fundação Getúlio Vargas. “Dia desses vi na banca uma revista que dizia ‘abra uma startup e fique milionário’. Mas não é fácil assim, a realidade é dura”, pondera Cezar Taurion, sócio e head de transformação digital e economia da venture builder Kick Ventures. “Do total de startups abertas, 20% vai desaparecer em dois anos, e menos de 10% passa de cinco”. Apesar disso, o ecossistema brasileiro é considerado maduro, com todos os agentes necessários para o desenvolvimento das startups, incluindo investidores, aceleradoras, provedoras de serviços de nuvem, grandes empresas interessadas e casos de sucesso. Há ainda uma série de aspectos necessários para que um ecossistema de startups – ou mesmo uma empresa individualmente – seja bem-sucedido. A Infor Channel ouviu especialistas e players do setor para entender quais são esses elementos. Confira!
muito longe do romantismo Ecossistema brasileiro de empresas inovadoras cresce e se fortalece, mas desafios ainda passam por ambiente regulatório complexo, custo alto de capital e, claro, muito esforço Por Marcelo Gimenes Vieira
Flávio Pripas, do Cubo
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Cezar Taurion, da Kick Ventures
Densidade Uma fórmula que se provou bem-sucedida para startups é concentrar ecossistemas regionais, de modo a facilitar o contato entre os empreendedores. Coworkings, hubs e polos de inovação, entre outros modelos, são exemplos. Eles recebem financiamento privado, público e misto. As vantagens são inúmeras: os empreendedores podem conversar e colaborar entre si, se unir para atender potencialidades do mercado local, e em conjunto são mais capazes de atrair ou serem atraídos por aceleradoras, investidores e mesmo clientes. “Este ecossistema [de startups] é bem diferente”, explica Rafael Ribeiro, diretor executivo da ABS. “As pessoas estão muito dispostas a dar feedback sincero. Diferente do mercado tradicional, a concorrência não é levada às últimas consequências”. Algumas dessas comunidades regionais ganharam destaque no Brasil ao longo dos anos, incluindo o Sururu Valley de Alagoas, o San Pedro Valley em Minas Gerais, e o StartupSC de Santa Catarina. Talvez o mais antigo deles seja o Porto Digital, em Recife, Pernambuco, criado em 1999 em uma das áreas mais antigas da cidade. A iniciativa envolve indústria, universidades e governos municipal e estadual. No primeiro momento, buscou que grandes organizações e multinacionais se instalassem na cidade, mas hoje é uma plataforma de fomento com a missão de estimular inovação e empreendedorismo. São cerca de 300 empresas de todos os tamanhos que recebem vantagens fiscais
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Gênios da computação sozinhos não fazem uma startup. A equipe de uma empresa precisar ser formada por um mix equilibrado de talentos oriundos não só da tecnologia, mas também de outras áreas, de acordo com o segmento em que pretende atuar. Sem diversidade, inovar fica mais difícil, acreditam os especialistas. Outra quebra de clichê: o empreendedor brasileiro não é assim tão jovem (tem, na média, entre 34 e 35 anos) e acumula passagens por outras empresas ou mesmo empreitadas. “É um cara que tem experiência, já teve startup e falhou. Começamos também a ver empreendedores C-Level que decidem arriscar ao invés de ir para uma grande empresa”, explica Allan Leite, CEO da aceleradora Startup Farm. Segundo ele, esse perfil é resultado de mudanças ocorridas durante os últimos anos. “Com a crise é que a disponibilidade de pessoas mais maduras aumentou muito”. Flávio Pripas, diretor geral do Cubo, hub de inovação em São Paulo, concorda e acrescenta que no Brasil é difícil empreender pois, no geral, é necessária alguma reserva financeira para sobreviver e correr riscos. “Normalmente é alguém que estudou em boa faculdade, tem experiência e quer resolver um problema de negócios que identificou”, pondera o executivo. Segundo Cezar Taurion, o perfil da formação acadêmica oferecida pelas nossas universidades é um problema. Diferente das de outros países com grandes ecossistemas de startups, no Brasil se formam “muito mais advogados que engenheiros”, e de modo geral são ensinadas disciplinas, não habilidades como empreendedorismo, por exemplo.
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Guilherme Ximenes, do Banco Inter
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para revitalizar e ocupar imóveis históricos, além do apoio de aceleradoras, empresas, governo e comunidade local. Os três programas de aceleração e três incubadoras, além de laboratórios e outras iniciativas, já deram tantos frutos que estão se expandindo para o interior do estado: Caruaru já tem um Armazém de Criatividade, e Petrolina deve ser a próxima. “Pessoas chegam e nós as conectamos”, explica André Araújo, gerente de empreendedorismo do Porto Digital. Outro espaço já consagrado, embora bem mais jovem – nascido no final de 2015 –, é o Cubo, criado pelo Itaú e pela Redpoint Eventures em São Paulo, capital. O objetivo declarado é ser um hub de circulação de pessoas – e de ideias. Passam por lá cerca de 600 pessoas diariamente, metade delas para participação em eventos. A outra metade são empreendedores das 56 startups hospedadas. “Uma boa ideia sozinha não vale nada. Executar é que vale. O Cubo ajuda as empresas que já estão executando”, explica Flávio Pripas. “Tínhamos a tese de que poderíamos ajudá-las aqui dentro, o que conseguimos comprovar”. Além de programas e eventos, o Cubo hospeda aceleradoras e recebe investidores, o que, traduzindo, é exatamente o que toda startup quer. Atualmente, os olhos já se voltam para outras empresas no Brasil. “Estamos estudando uma plataforma de conexão ou uma vitrine de negócios, mas ainda não há nada definido”, diz o diretor. Nos próximos meses, Belo Horizonte, em Minas Gerais, deve ganhar um hub de inovação semelhante: o Órbi é fruto da união da construtora MRV, do Banco Inter e da Localiza com startups locais, oriundas do São Pedro Valley. A iniciativa contará com áreas de trabalho permanentes e temporárias, além de espaço para cursos, workshops e eventos. Deve receber inicialmente 20 startups. “Nossa missão principal é diminuir a mortalidade das empresas, e uma das formas é que elas se foquem nos produtos”, explica Guilherme Ximenes, Superintendente de TI do Banco Inter. “Queremos levar as startups para dentro das empresas”.
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Capital
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Cultura de empreendedorismo Embora o ideal romântico das startups multimilionárias seja bastante enganoso, é inegável que ter uma startup se tornou o sonho de muitos. Para que isso se efetive, além dos desafios educacionais, é necessário estimular uma cultura de empreendedorismo. “Grandes empresas podem, dependendo da região, buscar mecanismos de aceleração, atrair startups e incentivá-las. Os próprios bancos são um bom exemplo: começaram ignorando as fintechs, depois tomaram um susto e agora trabalham juntos”, pondera Cezar Taurion. “Não é preciso vê-las como inimigas”. Aceleradoras como a Startup Farm são outro exemplo de união de grandes companhias para estimular o empreendedorismo. Visa, IBM e o escritório Baptista Luz Advogados são patrocinadoras do projeto, que passou pelo Cubo e hoje reside no Campus do Google em São Paulo e já acelerou até o momento 263 empresas. “Precisamos que as corporações passem a adquirir startups”, explica Allan Leite, embora primeiro elas precisem “saber o que querem com este mercado, se [o investimento] está alinhado aos objetivos. Pode ser uma iniciativa mais pontual, como contratar”. Comprar produtos e serviços de startups não é tão simples quanto parece: boa parte delas, por serem empresas novas e pequenas, não passariam em processos criteriosos de compliance. Além disso, boa parte dos departamentos de TI ainda não as veem como confiáveis. “As grandes companhias precisam entender que trabalhar com startups tangibiliza a Transformação Digital. Nosso esforço é no sentido de permitir novas formas de contratação, criar projetos diferentes para depois colher resultados”, propõe Flávio Pripas.
A opinião é unânime: o custo do capital no Brasil é alto. Com juros muito elevados, a atividade especulativa é muito mais vantajosa para quem tem dinheiro a investir do que os riscos representados pelas startups. Apesar disso, o investimento-anjo no Brasil fechou o ano passado com R$ 850 milhões, 10% a mais do que em 2015. Poderia ser muito mais. Os perfis de investimento variam muito: há pessoas físicas interessadas em fazer pequenos aportes, investidores anjos e grandes fundos. O caminho para chegar passa por participar de competições, frequentar coworkings e hubs, conhecer outros empreendedores. Traduzindo, conversar. Outro ponto fundamental é ter um bom projeto. “Algumas startups não tem produto, ainda não vendem nada, mas querem R$ 1 milhão, sem saber se as pessoas querem o que vão vender. Para levantar dinheiro é preciso justificar esses números”, explica Rafael Ribeiro, da ABS. Apesar das dificuldades, no geral os especialistas concordam que o capital no Brasil para startups existe e está disponível para bons projetos. A grande maioria, no entanto, não atende os requisitos dos investidores. A Redpoint Ventures, por exemplo, recebe 10 mil solicitações, mas investe efetivamente em pouco mais de 10 empresas anualmente. Conseguir investimento depende, além de um ótimo projeto, de persistência. “O Airbnb teve 50 ‘nãos’ antes do primeiro ‘sim’, segundo um dos fundadores. As primeiras respostas serão ‘não’. É preciso ser persistente”, diz Taurion.
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André Araújo, da Porto Digital
Regulação
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Startups não são como quaisquer outras empresas. Apesar do potencial de escala das soluções que desenvolvem, elas operam sob um risco altíssimo de fracasso. A alta carga tributária, os imbróglios burocráticos na hora de abrir ou fechar uma empresa e a regulação complexa para obtenção e aplicação de capital são problemas apontados pelas empresas no Brasil. Para Allan Leite, o governo tanto atrapalha como ajuda o ecossistema. A burocracia, diz, mostra um governo incapaz de lidar com um mercado tão dinâmico, o que acaba inibindo a vinda de capital estrangeiro para investir em startups no País, além de criar “uma reserva de mercado não sadia”. No entanto, o executivo acha que o governo acordou, e apesar de ainda desconhecer o setor, começou a agir de forma incipiente. Existem projetos de lei no Congresso que tratam da não tributação de investimentos-anjo, e recentemente a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) editou uma norma que regulamenta operações de crowdfunding, ampliando a segurança jurídica para quem recebe e participa de financiamentos coletivos. Empresas com receita anual de até R$ 10 milhões agora podem lançar campanhas na internet. “Seria injusto dizer que o governo não se movimenta. Há várias iniciativas de fomento espalhadas pelo Brasil e ele tem ajudado muito nesse processo”, pondera Rafael Ribeiro. O Porto Digital é uma dessas iniciativas, diz André Araújo, em que setor privado, academia e governo trabalham “lado a lado de forma a conduzir uma política de Estado. Dessa forma, conseguimos passar para o empreendedor o melhor que o Poder Público pode entregar”. Para Flávio Pripas, a burocracia e as dificuldades fazem “parte do jogo”, e é natural que os órgãos reguladores corram atrás do prejuízo. É papel das empresas buscar melhorias e lidar com o ambiente, diz. “Para mim, a grande dificuldade hoje é o ciclo econômico. Talvez um ambiente mais estável estivesse promovendo mais as empresas”, reflete.
Rafael Ribeiro, da ABS
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Ecossistema global de startups é liderado pelo Vale do Silício, que detém 28% dos investimentos mundiais para negócios em fase inicial. Inovação encontra o ambiente propício com abundância de talentos, investimentos e cultura empreendedora
Guichê Virtual para seu programa de aceleração de seis meses. A Launchpad prevê mentoria de engenheiros e gerentes de produto, somados a US$ 50 mil de apoio sem contrapartida e US$ 100 mil em crédito para a compra de produtos da companhia. Como se vê, há diversas formas de apoio aos empreendedores no VS. Essa jornada por integração e inovação foi trilhada pelo brasileiro Maurício Benvenutti, que dirige o escritório do StartSe, em São Francisco, parceira da Plug and Play, a incubadora mundial onde surgiu a Paypal. A StartSe, que em outubro sediará em São Paulo evento para discutir o VS, conecta 13 mil empresários, 4 mil startups, 3 mil investidores e 2.500 mentores, além de criar estratégias de marketing para promover o crescimento do negócio, expandir a operação, criar parcerias globais e engajar clientes. “O modelo de criação de negócios mudou. O pequeno empreendedor é capaz de competir de igual para igual com uma empresa global usando os recursos e tecnologias disponíveis. O caminho é educar o empreendedor”. O empreendedorismo para ele não está restrito a quem cria, mas é uma mentalidade empregável também ao canal. “Pode estar embutida na empresa, fazendo os funcionários e parceiros se envolverem. Você pode ser um empreendedor e inovar no dia a dia internamente estimulando as pessoas”. Encontrar um bom mentor, investir em desenvolvimento constante, ter visão global e de como mudar ou melhorar a vida das pessoas é a melhor forma de atingir o sucesso.
Por Perla Rossetti, correspondente de Nova York
Atração Internacional Experiência da Startup
TOP 10 Ecossistemas das startups Talento
nities” e cofundador da incubadora Boulder, acredita que os empresários lideram a criação de uma comunidade que passa a ser alimentada por governo, universidades, mentores, investidores, e talentos conectados. Essas conexões são essenciais, segundo o diretor executivo da Startup America Partnership, Scott Case. “E é por isso que a presença de aceleradora de negócios e incubadoras, bem como eventos como encontros e festas, são vitais para o crescimento de uma comunidade”, exemplifica. Outras incubadoras, como a Launchpad Accelerator, do Google, trazem para São Francisco as startups estrangeiras. Este ano, a aceleradora selecionou as plataformas brasileiras Arquivei, Contabilizei, Contratado.Me, e
tecnológico
Alcance de Mercado
Ecossistema Brad Feld, autor do livro “Startup Commu-
Celeiro
Financiamento
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isitar o Vale do Silício (VS), na Califórnia, é viajar para o futuro. A inovação tecnológica é acelerada com realidade virtual, carros autônomos, inteligência artificial aplicada a dados e soluções para todas as vertentes de desenvolvimento em gigantes como a Google, em Mountain View; a Apple, em Cupertino, Facebook, em Menlo Park; e a Universidade de Stanford. A profusão de startups e comunidades é impressionante. Algumas crescem organicamente e outras, como as incubadoras, são criadas deliberadamente para alcançar a visibilidade, recursos e inovação tecnológica. Essa vitalidade levou o Vale do Silício a liderar o ranking dos 20 top ecossistemas globais de startups conforme o Startup Genome Project. O levantamento mostra que 28% dos investimentos realizados em startups em estágio inicial são captados pelas companhias do VS, que também detém 21% da atração de recursos globais para empresas de vários portes. A conectividade e interesse mundial é seu forte atributo. Entre 2006 e 2012, mais de 40% das empresas no Vale do Silício tinham pelo menos um fundador estrangeiro. As startups de engenharia e tecnologia implantadas por imigrantes empregaram cerca de 560 mil trabalhadores e geraram US$ 63 bilhões em vendas em 2012. São Francisco, no Vale do Silício, depois de Nova York, figura entre as cinco cidades mundiais mais propícias para atrair e dar apoio a mulheres empreendedoras em tecnologia de acordo com o “Women Entrepreneur Cities”. Encomendado pela Dell, o estudo apontou a maturidade do mercado, abundância de talentos, disponibilidade de capital, cultura empreendedora e tecnologia.
Performance
Internacional
1 Vale do Silício
1
1
1
1
1
2
Nova York
3
2
3
5
4
3
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4
2
8
5
4
Pequim
2
5
10
6
2 7
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Berlim
7
9
5
4
8
8
Shangai
8
3
6
7
9
9
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9
10
10
10
Seattle
10
10
8
2
6
Londres Berlim Boston 3.000
3
9
2.500
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4
2.000
7
8
1.500
6
9
Nova York
1.000
6
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Vale do Silício
0
Boston Tel Aviv
Empreendedores Startup
500
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O Vale do Silício atrai mais empreendedores do que outros polos
Fonte: Startup Genome
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Gestão Por Cristiane Bottini
Crise impulsiona melhoria nas PMEs Sistemas e aplicativos são os aliados dos empresários para garantir faturamento e reduzir custos
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Eros Jantsch, da TOTVS
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demanda por soluções ERP por parte das PMEs tem crescido, e um dos principais motivos é a necessidade em controlar custos e estoques aliada à gestão financeira. Neste caso, o ERP se torna estratégico para o crescimento sustentável. Dados da 2ª edição do Panorama Mercado de ERP, divulgado em abril e realizado pelo Portal ERP com 4 mil empresas, indicam que a TOTVS segue líder nesse mercado no País, seguida pela SAP, Mega Sistemas e Sênior Sistemas. Alinhada às demandas da sua base, no início deste ano a TOTVS lançou os aplicativos Fly01 Financeiro e Fly01 Faturamento, na modalidade SaaS – Service as a Service, com pagamento conforme o uso. O lançamento faz parte da estratégia da companhia iniciada em 2016, quando aprimorou o Bemacash para atender às necessidades específicas de nichos como Food Truck, Vestuário e Bares & Restaurantes, entre outros. O Bemacash é uma solução que une o sistema de gestão da TOTVS para micro e pequenas empresas aos equipamentos Bematech, com valores a partir de R$ 10,00 por dia. Segundo pesquisa realizada pela TOTVS com 300 empreendedores, a tecnologia ideal para gerenciar o negócio deve oferecer facilidade de uso (72,67%), implantação ágil (47,8%), custo acessível (38,5%) e solução integrada (23,9%) – impressora, controle de estoque e sistema de gestão. “O objetivo é fortalecer ainda mais nossa presença entre as mais de 5 milhões de empresas desse porte no Brasil. Conseguimos
impulsionar as vendas de forma exponencial, vendendo quase mil soluções em um único trimestre”, afirma Eros Jantsch, vice-presidente de Micro e Pequenos Negócios da TOTVS. Para esse segmento, a concorrente SAP oferece o Business One, também no modelo SaaS, com assinatura mensal a partir de R$ 250,00 para empresas com até 25 usuários, além do custo de hospedagem na nuvem de um provedor escolhido pelo cliente. O ERP está localizado no Brasil e é comercializado de forma modular para que a empresa tenha flexibilidade. O SAP Business One é vendido e implementado pela rede global Partner Edge. São cinco opções: SAP Business One, SAP Business One Cloud, SAP Business One para SAP HANA, SAP Business One Analytics baseado em SAP HANA e o Aplicativo móvel SAP Business One – acesso seguro e instantâneo em qualquer lugar em dispositivos iOS ou Android.
Outra opção nacional de ERP é o Bling, desenvolvido em Bento Gonçalves (RS), que acaba de receber um aporte de capital da Criatec 2 – fundo gestor da Bozano Investimentos e Triaxis Capital. Há 9 anos no mercado, o Bling automatiza diversos processos, como vendas, emissão de notas fiscais de produtos e serviços, boletos bancários e controles de estoques. “Um dos pontos fortes do Bling está no número de integrações com plataformas de lojas virtuais, marketplaces e operadores logísticos”, afirma Antônio Nodari, diretor da empresa. Conectado a mais de 70 plataformas de e-commerce e aos principais marketplaces, além de empresas de logística e Correios, o ERP não cobra taxa extra pelas integrações. Para micro e pequenos empresários do mercado virtual, o Bling dá apoio aos negócios multicanal com planos a partir de R$ 50 mensais, sem custo de instalação. Quem acaba de entrar nesse segmento, mas com uma oferta gratuita, é o Mercado Livre com o ERP Mercado Back Office Express para PME e empreendedores. Em uma segunda fase, será oferecida uma versão também ao e-commerce, atendendo lojas online próprias e outros marketplaces. A solução oferece ferramentas que automatizam as etapas de recebimento de pedidos, emissão de nota fiscal e cálculo de impostos, controle de fluxo de caixa, de estoque, conferência de pedidos e emissão de etiqueta de postagem. A estimativa é de uma economia média de tempo de 75 horas por mês com o uso desse sistema.
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Booking: app da MS ajuda na gestão O aplicativo Booking, criado pela Microsoft, faz a gestão e controle de reservas e atendimentos para pequenos empreendedores e profissionais liberais. O app, da família Office 365, é um sistema online e de fácil integração ao site e e-mail dos clientes que conta com uma ferramenta de aviso ativo para evitar o não-comparecimento, um fator que compromete o faturamento dos empresários desse porte.
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3 perguntas para
Gustavo Caetano O fundador e CEO da Sambatech falou sobre o cenário de empreendedorismo digital no Brasil em entrevista à Infor Channel. Leia a íntegra da entrevista em www.inforchannel.com.br
Novas profissões
Perigos da Deep Web
Na próxima década, as empresas repensarão os modelos atuais de infraestrutura e formas de trabalho. Estudo encomendado pela Dell Technologies para o IFTF (Institute for the Future) prevê que, graças ao avanço tecnológico, até 2030, 85% das profissões serão novas, ou seja, ainda nem foram inventadas. Por outro lado, os especialistas projetam que a tecnologia não irá necessariamente substituir os profissionais, mas vai impactar, principalmente, na forma de buscar um trabalho.
A Trend Micro constatou que a Deep Web contém uma quantidade incrível de dados que deixa a web chamada de superficial muito para trás. São cerca de 7500 terabytes contra os 19 terabytes da web ‘’superficial’’. Com o crescente aumento de atividades cibercriminosas nos últimos anos, a empresa alerta que essa parte obscura da internet inclui aproximadamente 550 vezes mais informações públicas do que a web tradicional.
Litecoin cresce 1000%
IA na prática
Em segundo plano nos últimos anos, o Litecoin voltou a ganhar destaque e viu seu preço subir mais de 1000%. Ao final de março deste ano, a moeda virtual era negociada por cerca de R$ 14. Agora, custa R$ 160 no MercadoBitcoin.com.br, empresa brasileira que negocia a moeda. Avanços técnicos na moeda digital e a volta de seu criador, Charlie Lee, para o projeto são os fatores atribuídos à alta do Litecoin.
O robozinho Tinbot, da DB1 Software, tem atuação equivalente ao gerente técnico, cujo objetivo é melhorar a eficiência e desempenho das equipes de desenvolvimento de software. A ideia é integrar novas features, diz Ilson Rezende. “Temos um protótipo de um Tinbot fazendeiro que coordena os peões. A missão dele é conectar pessoas por meio da inteligência artificial”, diz. A primeira versão do Tinbot tem um lote de 10 unidades para venda a parceiros que queiram desenvolver aplicações. Cada robô custa US$ 3 mil.
Como avalia o atual cenário de empreendedorismo digital no Brasil? Hoje, o conceito do empreendedorismo está mais difundido. Existem mais oportunidades e possibilidades, com certeza. Não quer dizer que ficou mais fácil, pois as dificuldades para empreender são muitas. Quem entende esse movimento e se antecipa às mudanças tem grandes chances de continuar crescendo. Que lições ou exemplos acredita que o nosso ecossistema pode passar ao mundo? O cenário para o empreendedor brasileiro é complexo, difícil e muito instável. O recado que podemos mostrar ao mundo é que, mesmo num ambiente como o nosso, é possível empreender, ter sucesso e impactar o mundo. Se o seu negócio resolve um problema real e é capaz de gerar transformação em alguma escala, com certeza existem oportunidades para você. Na prática, que mensagem quer passar com o seu recente livro “Pense Simples”? Sempre acreditei que quando se quer alguma coisa que não existe é porque tem demanda e, possivelmente, um mercado. Aprendi a enxergar problemas pequenos e buscar soluções imediatas. Um dos mantras do Google diz que se você não falha é porque não está se movendo rápido o bastante. Essa frase revela uma das principais características que um negócio deve ter: “Fail fast and cheap”. Ou seja, se existe uma maneira ideal para falhar, ela deve ser rápida e barata. b
VOCÊ VAI LER NA PRÓXIMA EDIÇÃO Open Source: O Brasil tem a sexta maior comunidade de linguagem OpenStack do mundo, que apoia as iniciativas e auxilia na construção de nuvens públicas e privadas Edge Computing: Para provedores de solução que estavam pensando em como poderiam participar da IoT, o surgimento do Edge Computing começa a esclarecer sua função Marketplace: Muitos distribuidores hoje encontraram seu espaço nos marketplaces B2B. Saiba como está a oferta por esse canal.
E MAIS: ENTREVISTA, GESTÃO, MARKETING
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