Infor Channel - Abr2021 #45

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VERSÃO DIGITAL

Computação de Borda Na trilha da qualificação No centro das atenções, esta tecnologia se mostra vital para a Telemedicina, mercado Financeiro e aplicações IoT

George Balbino

CIO sob o holofote

Com a pandemia a importância do cargo aumentou e a TI reforça seu protagonismo 01_CAPA-IC45.indd 1

Tecnologia e Saúde

Intensa movimentação nesse mercado gera oportunidade de negócios para TIC

Educação

Plataforma usa jogos para aprendizagem de Matemática e raciocínio lógico 04/04/2021 13:34:02


VOTE AGORA

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Edição 45 - Abril de 2021

Editorial https://inforchannel.com.br

Acesse a versão mobile da revista pelo QR Code ou a versão desktop em https://revista.inforchannel.com.br/

Diretor

Cláudio Miranda

Editora

Irene Barella

Editor-assistente Carlos Ossamu

Fale com a redação – sugestão de pautas redacao@inforchannel.com.br Tel.: 11 3063-1563

Tecnologia, Saúde, Educação e de quebra, Sustentabilidade

Colaboradores

Barbara Oliveira; Marcus Ribeiro e Solange Calvo (texto) Olavo Camilo (revisão)

A

Design Gráfico (impresso e digital)

Ricardo Alves de Souza e Josy Angélica RS Oficina de Arte

Comercial

comercial@inforchannel.com.br

Atendimento ao leitor

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Consultoria Jurídica

Dra. Mara Louzada mara.louzada@lsladvogados.com.br Dr. José Paulo Palo Prado jp@lpsa.com.br

Impressão

Referência Gráfica Infor Channel é uma publicação da Editora Mais Energia /InforChannelOficial @inforchannel @inforchannel

PAULO UEMURA

/inforchannel

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Irene Barella

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votação do prêmio Excelência em Distribuição, que destaca os distribuidores segundo avaliação dos integradores, revendas, desenvolvedores e executivos da indústria de TIC já está disponível no site e terá seu resultado divulgado em maio. Mas, antes, quero chamar a sua atenção para as reportagens desta edição, que traz na capa Computação de Borda, onde ganha-se eficiência de arquitetura para o sistema, e que já vem revolucionando o mercado com produtos e serviços inovadores. CIO: a batalha atual, mostra que a pandemia evidenciou a importância do cargo e que o papel deste profissional mudou. É necessário perceber que não se trata mais de atender a pedidos e deter o conhecimento; é preciso incentivar os funcionários a inovar. TIC na Saúde mostra o impacto da pandemia de Sars-Cov2 no nosso mercado. Fica evidente que a necessidade de digitalização do setor de Saúde e a Telemedicina podem ser importantes fontes de novos projetos para desenvolvedores e integradores. Já a seção Três Perguntas, que você começa a ler aqui na impressa e termina na digital e, também, no portal <www.inforchannel.com.br> traz o vice-presidente da Mangahigh. George Balbino fala sobre o uso de jogos para conteúdos didáticos de Matemática e raciocínio lógico. Um tema importantíssimo é Sustentabilidade! Para atender à legislação, o fabricante deve ter um programa individual de logística reversa ou aderir a um programa coletivo, e Infor Channel traz, somente na versão digital, texto detalhado sobre a questão. Acesse https://revista.inforchannel.com.br Boa leitura!

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TECNOLOGIA || por SOLANGE CALVO

A evolução da Nuvem chega pela borda 06-12_EDGE-COMPUTING_[MatCapa]_v2.indd 6

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Edge Computing vai liderar transformações digitais nas empresas, viabilizando a criação de produtos e serviços, além de oportunidades de negócio

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tecnologia segue em ritmo frenético de evolução iniciada em 2020, por força da aceleração do digital, que se tornou chave para conter os estragos econômicos e sanitários provocados pela pandemia. Agora, quem está no centro das atenções é o Edge Computing, ou Computação de Borda, que promete revolucionar o mercado com produtos e serviços inovadores. Esta tecnologia já é bem conhecida, mas vale lembrar que o Gartner a define como soluções que facilitam processamento de dados próximo da origem, ou até mesmo na origem, da geração das informações. Assim, os dados podem ser processados de forma mais eficiente quando o poder de computação está perto dos sistemas ou do usuário. Ao contrário da Computação em Nuvem, que demanda um servidor centralizado, o Edge precisa de uma arquitetura granular, com ‘microdatacenters’ espalhados para que o usuário possa ter essa conexão próxima e com resposta rápida, ou seja, de baixa latência. Fabio Pereira, líder do CFO Program da Deloitte, explica que ao se distribuir data centers menores ganha-se eficiência de arquitetura para o sistema. “Não diminui a capacidade de Nuvem centralizada, mas otimiza. Esses ‘microdatacenters’ vão processar dados que poderiam estar na Nuvem, porém, eles também vão consolidar uma série de dados que voltará para a Nuvem”, explica o executivo. A latência baixa ou zero viabiliza a adoção de tecnologias em que a resposta rápida é crítica, como as aplicações de IoT, Telemedicina e mercado Financeiro. Ela é vital, portanto, para ajudar aplicativos em tempo real a operar sem atrasos ou tempo de inatividade.

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Pereira, da Deloitte: o Edge vai provocar uma ebulição no mercado em oportunidades de negócios e inovações. Com essa possibilidade, na avaliação de Pereira, o Edge vai provocar uma ebulição no mercado em oportunidades de negócios e inovações, com uso acentuado de modelos de IA na ponta, habilitando aplicações como carro autônomo, Telemedicina, drones, entre outras tecnologias. Não por acaso, estudo da Deloitte mostra que o mercado global de Computação de Borda, que chamam de Intelligent Edge, expandirá para US$ 12 bilhões em 2021 e 70% das empresas utilizarão esta tecnologia até 2023. Esse crescimento é impulsionado principalmente pelas empresas de Telecomunicações e as redes com a tecnologia 5G em ex-

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O Edge precisa de uma arquitetura granular, com ‘microdatacenters’ espalhados para que o usuário possa ter essa conexão próxima e com resposta rápida

pansão, juntamente com provedores de Nuvem de hiperescala, entre outras tecnologias. Alberto Miyazaki, CTO da IBM Brasil, ressalta o potencial da Computação de Borda na personalização de serviços e produtos para os clientes e empresas também no mundo físico. “Pesquisa da IDC sobre o valor dessa tecnologia revela que a experiência do usuário é o driver principal e mais da metade dos participantes do estudo informaram que a melhoria na experiência do usuário é o principal benefício de Edge Computing”, comenta o executivo.

Avanço da Internet das Coisas

Quem ganha destaque nesse cenário são as aplicações de Internet das Coisas (IoT), principalmente quando chegar por aqui a quinta geração de conectividade para redes móveis e de banda larga (5G). Segundo o Gartner, uma variedade intensa de mais de 21 bilhões de “coisas” conectadas estão neste momento coletando dados e realizando todo tipo de tarefas. Além disso, levantamento da IDC aponta que 70% das empresas executarão níveis variáveis de processamento de dados na borda até 2023 e cerca de 16 bilhões de dólares serão investidos em infraestruturas de IoT. Para Andrea Faustino, diretora de Soluções em Nuvem da Ericsson, o principal impacto da tecnologia 5G e Edge será nos aplicativos IoT e na indústria. “Áreas como manufatura, energia, petróleo, mineração e agricultura serão as primeiras a fornecer novos casos de uso e novos modelos de negócios. Para casos que exigem sites avançados e com os chamados requisitos de missão crítica, o Edge é a chave”, afirma a executiva. “Embora melhores resultados comerciais e muitas oportunidades estejam nascendo na borda, o Edge também trará diversos desafios aos clientes finais, o que irá refletir muito no trabalho e oportunidades a serem realizadas pelos parceiros de canais”, alerta Américo Tomé, diretor de Canais, Distribuição e Alianças da Intel Brasil. Toda essa movimentação é devido à rapidez com que o mundo está sendo conectado por meio de dispositivos IoT, muitos deles para viabilizar aplicativos que precisam do poder de computação em tem-

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po real. “Essas mudanças nos preparam para a próxima fase, a adoção da Intelligent Edge, com as equipes de TI criando as infraestruturas necessárias. Não se trata apenas de conexão com a Nuvem, mas de como os usuários e dispositivos IoT estão conectados, incluindo como o uso de dados gerados na borda pode levar a novas experiências e resultados de negócios”, enfatiza Antenor Nogara, diretor-geral da Aruba. Nogara destaca que os dados que estão sendo gerados na borda serão usados para atender a duas dimensões: melhor experiência do usuário e melhoria dos processos nas empresas. “É aí que existe a combinação bastante alinhada entre Edge e Cloud.” Ele explica que o extrato de tudo o que for processado na borda sobe para a Nuvem, o que representa outro ganho com o Edge, visto que reduz o workload na Nuvem e consequentemente o custo por transação. A estratégia da Aruba, como fornecedor de rede e de conectividade, é tratar essa explosão de dados, permitindo que esse volume de informações seja tratado com a performance e a velocidade de escoamento que ele exige. “Nosso principal papel é prover conectividade, segura e gerenciada, para escoar esse volume de dados crescente”, diz Nogara. Por outro lado, ter bilhões de sensores conectados e um número imenso de ativos, gera uma superfície de ataque para hacker muito grande,

alerta Renier Souza, diretor de Engenharia da Cisco do Brasil. “Sensores são equipamento simples, que não têm recursos de segurança. A ideia é ter recurso que converse com os sensores por meio de protocolos, colete esses sinais e consolide essas informações e então as passe para a Nuvem de forma segura”, observa.

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Estudo da Deloitte mostra que o mercado global de Computação de Borda, que chamam de Intelligent Edge, expandirá para US$ 12 bilhões em 2021

Segundo Pereira, da Deloitte, grandes fabricantes de hacks, hardwares, sistemas de refrigeração e engenharia já estão adaptando seus produtos para oferecerem aos ‘microdatacenters’, que irão se espalhar por conta do novo desenho com a Computação de Borda. “É um excelente filão. Desde fornecedores de infraestrutura até ISPs e operadoras de Telecomunicações, todos terão de repensar seus negócios diante das oportunidades”, prevê. A migração para a Borda está mudando a maneira como os líderes da indústria pensam sobre o data center. Eles estão enfrentando um amplo ecossistema, composto por muitos tipos de instalações e dependendo cada vez mais do Edge da rede. É o que detectou o levantamento realizado pela Vertiv. “Dos participantes que hoje têm sites de Edge, ou esperam tê-los em 2025, mais da metade (53%) espera crescimento de, pelo menos, 100%. Outros 20% esperam um aumento de 400% ou mais. Coletivamente, os participantes da pesquisa acreditam que seu número total de sites de Edge possa avançar 226% até 2025”, relata Rafael Garrido, viceSTUDIO01

Tomé, da Intel: embora melhores resultados comerciais e muitas oportunidades estejam nascendo na borda, o Edge também trará diversos desafios aos clientes finais.

Novos horizontes

Nogara, da Aruba: as mudanças nos preparam para a próxima fase, a adoção da Intelligent Edge.

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-presidente da Vertiv América Latina e diretor-geral da companhia no Brasil. Com atuação no mercado de grandes data centers, que são motores dessas evoluções, a Vertiv vem se preparando para o cenário de Borda há três anos e agora vislumbra um crescimento sem precedentes com a tecnologia. “Trabalhamos com toda a parte de energia, sistemas de refrigeração e designer, então teremos uma grande movimentação por aqui. Estamos expandindo nossa capilaridade para a demanda que virá”, afirma Garrido. Vanessa Santos, gerente de Segment Marketing da Equinix Brasil, conta que a empresa está investindo na expansão de hubs pelo mundo em novos serviços de Borda e na entrega de ‘microdatacenters’, que são chave nesse novo desenho.

Canais em prontidão

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Muitas empresas já vêm se preparando para as chegadas de Edge Computing e da 5G, seja por meio de parcerias e até expansão de estruturas. Mas são os canais que estarão à frente desse novo cenário. Na Aruba, o primeiro passo foi a capacitação da força de venda indireta, de parceiros e canais. “É preciso que entendam o valor que essa estrutura unificada de infraestrutura de segurança e gerenciamento agrega aos nossos clientes, especialmente no quesito automação”, diz Nogara. Segundo o executivo, as entregas seguirão o modelo tradicional de vendas indiretas, apoiadas em distribuição e revendas. “Temos 40

Miyazaki, da IBM: parcerias em outros setores também serão cada vez mais comuns, a fim de levar uma solução para o mercado.

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Edge e 5G, o estado da arte

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uando o Edge Computing puder contar com o 5G, capaz de expandir os recursos de alta largura de banda e baixa latência na transmissão de dados, será possível aprimorar extremamente a velocidade dos sistemas de computação de ponta, aprimorando sensivelmente a sua capacidade de oferecer suporte a aplicativos em tempo real. Fabio Pereira, líder do CFO Program da Deloitte, diz que a arquitetura de Cloud to Edge não existe sem IoT aplicada na ponta e sem o 5G. Hoje ela existe sem a quinta geração e com algum IoT, que não é pouco. “Quando ela escala em cima do 5G, com ampliação de IoTs, que é uma quebra de paradigma, relacionada à velocidade, latência, realmente é um tsunami. Vai fazer o mercado repensar o seu negócio, como nunca, diante de tantas oportunidades.” “Com o 5G vai ser o Nirvana, porque vai aumentar sobremaneira a velocidade de processamento e de maneira mais confiável, mais rápida e com mais qualidade, usando seus devices (TV, celular, carros autônomos, aprimorar serviços de stream, Telemedicina, tudo). Esta tecnologia vai habilitar uma velocidade de conexão sem precedentes até então”, relata Rafael Garrido, vice-presidente da Vertiv América Latina e diretor-geral da companhia no Brasil. Alberto Miyazaki, CTO da IBM Brasil, destaca que na indústria, por exemplo, o 5G conectado à Borda automatiza operações que podem ajudar a reduzir custos e controlar a qualidade em linhas de produção por meio de robôs e análises visuais quase em tempo real. No Varejo, a tecnologia poderá ajudar as lojas a analisar os dados da cadeia de suprimentos, detectar derramamentos ou deterioração ou monitorar métricas, como a densidade da multidão, que poderiam sobrecarregar uma rede sem a Computação de Borda. Além, disso podem entregar uma experiência diferenciada em tempo real para os clientes que estão na loja.

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TECNOLOGIA

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top resellers, canais mais especializados, e cerca de 500 revendedores. Ao ano, vendemos para mais de 1,5 mil revendas. Estamos cobertos com uma boa capilaridade. Sem contar as parcerias com as operadoras, que também participam do nosso canal.” Renier Souza, diretor de Engenharia da Cisco do Brasil, conta que a companhia mantém parceria no desenvolvimento de soluções e integração com os principais provedores de Nuvem. Hoje, os dois principais parceiros de desenvolvimento são AWS e Microsoft Azure. Quanto à comercialização, ela é feita por meio dos canais parceiros Cisco. “Não comercializamos diretamente produtos no Brasil”, avisa. Na Ericsson, os principais parceiros são os operadores. A companhia possui tecnologia, soluções e vasta experiência global em conjunto com as operadoras e parceiros de tecnologia nas diferentes áreas. “A nossa experiência global não nos limita ao aspecto tecnológico, inclui o relacionamento com integradores, operadoras, provedores de Nuvem e outros potenciais participantes deste novo ecossistema, gerando valor muito além da conectividade”, ressalta Andrea

Faustino, diretora de Soluções em Nuvem da Ericsson. Por sua vez, Miyazaki revela que a IBM tem investido muito no ecossistema, principalmente no cenário B2B. “Suportamos nossos parceiros de negócios em capacitação e comercialização das soluções em nosso portfólio de maneira ampla. Parcerias em outros setores também serão cada vez mais comuns, a fim de levar uma solução para o mercado”, comenta. Já a Intel investiu US$ 13,6 bilhões em P&D somente em 2020 para desenvolver tecnologias de ponta para atender, entre outras, às necessidades do mercado de Edge Computing. “Estamos sempre aprimorando nossos programas de parceria para acelerar a transformação digital. Entendemos que os canais precisam acompanhar as constantes mudanças e conhecer os produtos para oferecer soluções inovadoras que tragam economia aos clientes”, diz Américo Tomé, diretor de Canais, Distribuição e Alianças da Intel Brasil. Tomé acrescenta a importância de um pensamento mais consultivo pelos parceiros de vendas indiretas para lidarem com as urgências e prioridades de cada empresa. “Os canais precisam ser cada vez mais estratégicos, pensando no melhor impacto que determinada solução terá em cada cliente”, observa

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Souza, da Cisco: a companhia mantém parceria no desenvolvimento de soluções e integração com os principais provedores de Nuvem.

Muitas empresas já vêm se preparando para as chegadas de Edge Computing e da 5G, seja por meio de parcerias e até expansão de estruturas

Garrido, da Vertiv: Estamos expandindo nossa capilaridade para a demanda que virá.

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CIO:

CARREIRA || por BARBARA OLIVEIRA

a batalha atual De repente, os líderes de tecnologia voltaram a ganhar destaque nas organizações a partir das exigências impostas pela crise sanitária mundial. Todos tiveram de se adequar rapidamente à Transformação Digital, com pressões para mais inovação, novos produtos, orientações e suporte aos colaboradores em trabalho remoto

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e alguém perguntar para um Chief Information Officer – CIO, quantas vezes ele foi chamado à sala de guerra com o resto da equipe para resolver um problema surgido não se sabe onde, mas que paralisou as atividades da empresa, certamente ele vai dizer que foram algumas vezes. A denominação ‘sala de guerra’ vem da área militar e nelas são definidas as estratégias de defesa e ataque a inimigos em tempos bélicos. Em 2020, a guerra foi contra o Coronavírus. Para os gestores de TI, ela foi travada em várias frentes. Demandas pelos decisores e por outros setores das organizações já haviam antes de 2020, mas foi a partir da emergência sanitária que foram aceleradas. De uma hora para outra, a Transformação Digital precisou acontecer rapidamente para evitar paralisação das empresas. E mesmo em organizações que já estavam bem preparadas digitalmente, essa pressão foi grande para atender a tantos desafios. Funcionários e colaboradores foram trabalhar em casa e foi necessário adotar programas e aplicativos que tornassem esse trabalho remoto mais fluido e menos traumático para todos os envolvidos. Sistemas internos e externos precisaram ser atualizados com ferramentas e políticas de Segurança e, nesse meio tempo, os Serviços – comércio eletrônico, pagamentos, transações financeiras, aplicativos de entrega – não podiam parar. Com a pandemia a importância do CIO aumentou e a TI foi para o centro das discussões. “A gente já observava essa tendência claramente e, agora,

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Há alguns anos, o papel da TI era desenvolver a tecnologia e garantir que o sistema não caísse. “Eles detinham a competência e a técnica, mas, com o tempo, as áreas de negócios precisaram se transformar até para atender às exigências do mercado”, lembra o professor Alberto Luiz Albertin, coordenador do Centro de Tecnologia e Informação da FGV. Os CIOs, apesar de terem o conhecimento técnico, não precisam liderar a Transformação, porque não se trata de projeto só da TI, eles devem incentivar os colaboradores a inovar e serem a ponte entre esses segmentos. “Seu papel mudou. Não é mais aquela TI que atende a pedidos e detém o conhecimento”. Quem ocupava o cargo de diretor-geral já entendia seu potencial de liderar a responsabilidade pela digitalização chamando os seus diretores setoriais a apoiarem todo o processo. O líder brasileiro sempre se destacou como sendo rápido, flexível, engajador e atento às mudanças que o mercado apresenta. “Essas habilidades foram testadas ao extremo durante esses últimos doze meses e continuarão sendo cruciais nos próximos, tendo em vista que o cenário ainda se encontra muito desafiador e desestruturado” avalia Vittorio Danesi, CEO da Simpress. Em 2020 aumenta a cobrança dos CEOs junto aos CIOs e aos conselhos de administração para sustentar a inovação. “A TI ganha mais destaque de novo porque tudo passa a ser re-

O perfil ideal passou a ser o de cocriadores e instigadores de mudanças

moto e antigos padrões, resistências e paradigmas precisaram ser superados rapidamente”, diz Albertin. Os responsáveis pela Tecnologia nas corporações estão lidando com os picos de sobrecarga nas estruturas de aplicações e infraestrutura, após a migração maciça das empresas para o trabalho remoto. A perspectiva e missão da TI são outras. Não está mais restrita ao suporte operacional, mas passa a ser ainda mais, componente essencial do ne-

gócio. “Toda e qualquer organização será empresa de tecnologia digital, mesmo que não venda produtos de tecnologia”, acredita Esdras Cândido, CIO da Orys.

Novas expectativas

O ecossistema de fornecedores muda. O velho e arraigado hábito de recorrer aos mesmos grandes fornecedores passa a dar lugar a olhar também para outros parceiros, como as startups. “Estas empresas tendem naturalmente a serem mais criativas e inovadoras que as grandes corporações. Por sua vez, de acordo com o executivo, as tradicionais empresas de tecnologia estão também lutando para se transformar e conseguir sobreviver no novo cenário digital. Essa mudança de expectativas quanto aos gestores de TI é reforçada na pesquisa realizada pela consultoria Deloitte, entre 2019 e 2020, junto a 1,3 mil executivos de tecnologia e de negócios de 63 países, sendo 141 do Brasil, para acompanhar como as empresas estão conduzindo as iniciativas tecnológicas aplicadas à operação da empresa. Fábio Pereira, líder do CIO Program da Deloitte, conta que para 84% desses profissionais pesquisados, o perfil ideal passou a ser de cocriadores e instigadores de mudanças, ou seja, ele foi desafiado a

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ficou evidente em todas as áreas de negócios a relevância desse departamento na habilitação de novas formas de trabalhar e de gerar valor”, lembra o gerente de Pesquisa e Consultoria em Enterprise da IDC, Luciano Ramos. Ele cita o fato de alguns grandes varejistas comemorarem o incremento de até 40% na sua base de clientes no comércio eletrônico, gente que não comprava de forma digital e passou a comprar. Só no Varejo digital, a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico estima que ingressaram 20,2 milhões de novos consumidores em 2020, e que 150 mil lojas passaram a vender por plataformas digitais. Esse é apenas um dos ambientes que exigiu mais dos CIOs durante a pandemia.

Incentivar a inovação Ramos, da IDC: Ficou evidente, em todas as áreas de negócios, a relevância da TI para habilitar formas de trabalhar e de gerar valor.

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Cândido, da Orys: Toda e qualquer organização será empresa de tecnologia digital, mesmo que não venda produtos de tecnologia.

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mudar. E a pandemia acelerou muito essa percepção dentro das empresas que se arriscaram mais na Transformação. “Desde o ano passado, foram agilizados os cronogramas de digitalização para evitar paralisações nas empresas, e as equipes de tecnologia tiveram uma oportunidade inédita de ajudar a moldar o futuro das organizações”, ressalta Pereira.

Visão holística

Ramos, da IDC, salienta que os CIOs devem assumir essa função de integradores, alguém que consegue discutir com outros segmentos, entender os seus pedidos e integrar processos com eficiência, agilidade e em conformidade com as práticas de segurança da informação. “A TI pode não ter um conhecimento profundo da empresa, mas possui uma visão mais holística, porque cria os sistemas que dão suporte a tudo”.

Principais objetivos de negócio que a direção da empresa espera que a equipe de TI aborde

A pandemia acelerou a colaboração, e a cobrança por resultados é maior

Em 2019, a IDC já estimava que em 2021 mais de 50% das decisões do departamento de TI seriam motivadas pelas áreas de Negócios. “Mas, só pela percepção junto às empresas, vemos hoje que esse índice subiu, porque tem mais gente entendendo de tecnologia, estão com dinheiro para contratar e mais demandas”, aponta o consultor. No entanto, Roberto Carvalho, vice-presidente da Dynatrace para Brasil e América Latina, afirma que em algumas organizações ainda existe a cultura de isolamento das equipes de trabalho, mesmo dentro da TI, o que dificulta o processo colaborativo. “É natural que em um grande banco ou indústria esses sistemas não sejam tão redondos entre times de desenvolvimento, infraestrutura, de operações, arquitetura. Mas a pandemia acelerou a colaboração e a cobrança por resultados é maior”, destaca.

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Ingressar em novos mercados geográficos

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Melhorar a Segurança e a confiança

21% 39%

Ampliar o engajamento do cliente

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Capacitar a força de trabalho

Melhorar o envolvimento dos funcionários

Pós-Covid Pré-Covid

Oferecer desempenho de TI estável e consistente

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FONTE: CIO SURVEY 2020 (KPMG/HARVEY NASH)

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Albertin, da FGV: Seu papel mudou. Não é mais aquela TI que atende a pedidos e detém o conhecimento.

Ficou evidente em todas as áreas de negócios a relevância da TI na habilitação de novas formas de trabalhar e de gerar valor

“Ninguém tem dúvida de que quebrar silos não é só uma questão cultural”, lembra Carvalho. “A comunicação existe, mas nem sempre é fluida, e se o site está fora do ar ou deu um problema no aplicativo do banco, o que é comum, essa solução pode demorar horas, porque não se sabe se a falha foi na rede, no Banco de Dados, na Nuvem, no servidor ou numa linha de código”, observa o executivo. “E é nesse momento que

eles se reúnem na sala de guerra”. Todos terão de melhorar processos para atender melhor aos clientes, ganharem mais eficiência e desenvolverem produtos e funcionalidade exigidos pelas diretorias de negócios. São expectativas confirmadas na pesquisa feita pela KPMG-Harvey Nash com 4,2 mil CIOs e executivos de TI de 83 países - observando os cenários pré e pós pandemia. Entre os ouvidos, 70% entendem que o período exigiu maior colaboração entre os setores; 97% fizeram ou estão fazendo as mudanças e 43% esperam que mais da metade de sua equipe continue trabalhando em casa. Ganharam destaques também, na pesquisa, a necessidade de capacitar a força de trabalho, melhorar o envolvimento dos funcionários, a segurança e a confiança na empresa, ampliar o engajamento dos clientes e ingressar em novos mercados geográficos (veja gráfico).

CIO na linha de frente D

DIVULGAÇÃO / TOTVS

Mara, da Totvs: Nossos clientes precisavam continuar trabalhando, e eu não poderia tirar do ar um call center com mais de mil pessoas.

epois do susto de 2020, os CIOs mostraram preparo para a inovação e resultados das empresas no processo de digitalização, e sabem que esse caminho é contínuo. O ano da pandemia os colocou na linha de frente de uma situação que nunca haviam experimentado e a urgência foi igual para todos a partir de mar-

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ço de 2020. “Era como estar na linha de frente de um hospital. Foi preciso colocar tudo para funcionar em prazo extremamente curto, e se instaurou um certo pânico na fala e no olhar porque não havia alguém para dizer: vai ser dessa forma”, lembra a CIO da Totvs, Mara Maehara, recordando o fatídico março - quando o Coronavírus começou a assustar o Brasil, as empresas, as pessoas. “Tudo é importante para o processo de gestão, e entramos sem saber aonde iríamos e quanto tempo ia levar”. Naquele mês, a Totvs precisou colocar sete mil pessoas trabalhando em casa em apenas cinco dias. E começaram a aparecer situações e desafios inéditos cujas respostas precisavam ser dadas em tempo recorde para a empresa e para os clientes que dependiam de seus sistemas. A boa notícia é que quando é testado o ser humano descobre que pode fazer mais do que é capaz. No começo, as pessoas esqueciam senhas da VPN, havia problemas de conexão em casa, mas, aos

poucos, tudo foi solucionado, conta a executiva. O time de tecnologia conseguiu se superar na entrega de projetos, no cumprimento de orçamento e disponibilidade de sistemas ao longo do ano. “Isso foi importante porque nossos clientes precisavam continuar trabalhando, e eu não poderia tirar do ar um call center com mais de mil pessoas, pelo qual eles se comunicam com a gente”. Há cinco anos na empresa, Mara pilota uma equipe de 235 pessoas no Brasil, Argentina, Chile e México. O que muda agora, segundo ela, é a intensidade e a velocidade das adaptações que já estavam acontecendo, mas foi mais exigida a partir da transformação dos seus sistemas para a Nuvem. De uma hora para outra, apareceram várias demandas e iniciativas das áreas comercial, marketing, RH para serem executadas rapidamente. Mesmo com o fim da pandemia e vacinação em massa, essa volta ao trabalho será, no mínimo, no modelo híbrido: parte presencialmente e outros em casa.

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O CIO da Orys, Esdras Cândido, lembra que além dos desafios com o colaborador, o diretor de TI passou a se preocupar com as suas famílias. “Auxiliamos a ajustar e a balancear a vida doméstica, já que o funcionário precisa se corresponder com a empresa e, ao mesmo tempo, resolver e dar atenção para questões da casa”. Com a pandemia, o CIO teve que acelerar e replanejar os projetos com o desafio de buscar rápidos resultados e aumento de receita com redução de custo e para isso o foco tem sido os projetos de inovação, de Transformação Digital, para cuidar de toda questão operacional da empresa. ”Vemos empresas que estão trabalhando 80% em home office, tendo que buscar novas tecnologias para melhorar e aperfeiçoar a comunicação, que será cada vez maior”, afirma Cândido. Por outro lado, houve a priorização de projetos com resultados rápidos – muitas vezes acordados por questão de custos, mas que agora têm de ser acelerados. “Cabe ao CIO buscar esses projetos de Go-

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TI não é custo, mas uma estratégia para mudanças significativas

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vernança, Transformação Digital e mudança operacional”, avalia. O CIO deve ser inovador. Tem que monitorar constantemente as tecnologias emergentes, não apenas como curiosidades tecnológicas, mas identificar oportunidades de redefinir mercados e criar modelos de negócios. “Não deve ficar em stand by, aguardando o que a empresa vai desenhar como estratégia. Afinal, a tecnologia é parte integrante e indissociável de qualquer iniciativa de negócios no mundo digital. O papel do CIO, portanto, é o de embutir o digital na estratégia do negócio”, conclui Cândido. Danesi, da Simpress, lembra que a pandemia exigiu dos líderes empresariais, com destaque para CEOs e CIOs, uma atuação multidisciplinar jamais testada com tanta intensidade. A rapidez de decisão, a capacidade de identificar e julgar o desconhecido para minimizar os impactos no negócio, o estabelecimento de ações táticas para buscar um mínimo de nível de atividade

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CARREIRA

econômica da empresa, a elaboração de um plano de ajuste de custos e despesas para fazer frente à repentina diminuição do faturamento, enfim o desenho da estratégia, foram alguns dos papeis na área de negócios que os líderes desempenharam. “Com igual intensidade e dedicação, um foco na comunicação transparente e realista, mas serena e permanente, com todos os colaboradores da empresa, de forma a dar um único tom e direcionamento para enfrentar a grave crise, no intuito de ter o maior engajamento do time para a execução da estratégia definida”, complementa. E para finalizar, apoiar, dar o conforto e estar disponível para todos aqueles que precisassem de um apoio emocional extra. Na plataforma de viagens e programa de fidelidade Smiles, um dos segmentos mais afetados com a pandemia, todos os 140 funcionários ainda estão em trabalho remoto, informa o CIO, Luiz Borrego, que comanda uma equipe de 55 pessoas de desenvolvimento, infraestrutura, operações, canais e prevenção de fraudes. Para ele, a pandemia trouxe a necessidade de ambientes mais colaborativos e o uso de ferramentas para permitir essa troca, a exemplo de edição de documentos, planilha e Powerpoint, foi estimulado. “Já havia uma tendência da TI em se posicionar de forma diferente, acompanhar de perto as áreas de negócios e estar mais presente”, afirma Borrego, porque a tecnologia funciona como alavanca que viabiliza as tomadas de decisões e esse posicionamento já era adotado pela Smiles. “Quando o negócio tem uma necessidade, a gente participa desde o início da solução”. Para o executivo, o conceito de atender a pedidos atrás do balcão acabou. Como a estrutura de call center não estava preparada para atender aos milhares de cancelamentos de voos, hotéis e aluguéis de carros num mesmo momento, criamos um bot com Inteligência Artificial, o que permitiu agilidade desses cancelamentos”, salienta. “É esse tipo de iniciativa que o CEO espera da TI”, diz Borrego. “Caberá aos CIOs, diretores e gerentes de TI mostrarem às empresas

Chueiri, do SAS: Caberá aos CIOs e gerentes de TI mostrarem que a Transformação Digital não é passageira, é uma jornada.

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Com a pandemia a importância do CIO aumentou e a TI foi para o centro das discussões

Borrego, da Smiles: O conceito antigo de atender a pedidos atrás do balcão acabou, quando o negócio tem uma necessidade, a gente participa desde o início da solução.

que essa Transformação Digital, motivada pela Covid-19 não é passageira”, afirma Marcelo Chueiri, diretor de Tecnologia do SAS, empresa de BI e análises estatísticas. “Do nosso lado, foi preciso garantir aos clientes um ambiente estruturado e essa foi a relevância que ganhamos em 2020,” explica Chueiri, porque esse envolvimento do SAS com a última milha, o cliente, não ia muito além da implementação e do uso do software. “Agora, trabalhamos mais próximos com outros gestores de empresas e o resultado foi positivo, criamos um ambiente seguro para todos os colaboradores, os nossos e os deles”. Sempre houve um alinhamento estreito entre CIOs e CEO na companhia, que tem uma equipe enxuta no mundo todo, mas Chueiri ressalta que seu departamento ganhou impulso com a maior integração dos negócios e com os clientes. “Passamos para eles uma experiência já adquirida dentro do SAS e, com isso, eles mantêm a produtividade, segurança e qualidade”. Se os CEOs estão mais exigentes agora, precisam entender que TI não é custo, mas uma estratégia para mudanças significativas. Um exemplo é o Magazine Luiza, que se transformou totalmente com ajuda da tecnologia. A pandemia vai passar, a vacina vai chegar e os CIOs sabem que a Transformação Digital é uma jornada contínua para a qual eles devem estar sempre preparados

LEO MARTINS

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Oportunidades

em meio ao caos Com a grave crise sanitária, a necessidade de digitalização do setor de Saúde e a Telemedicina impulsionam novos projetos em TIC

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esmo diante de um 2020 caótico e um início de 2021 trágico em termos de perdas de vidas por causa da pandemia de Covid-19, o setor de Saúde ainda mostrou uma movimentação intensa de negócios e investimentos. No total, foram 60 operações entre fusões e aquisições, que movimentaram mais de US$ 1 bilhão, enquanto no ano anterior foram registrados negócios da ordem de US$ 1,6 bilhão. Números que impressionam e podem se refletir ainda mais na aquisição de serviços, sistemas e plataformas de TIC, sem falar no fenômeno da entrada das healthtechs. E o aquecimento do mercado não deve parar tão cedo. Com 2021 em seu início, o setor teve o anúncio da fusão entre a Hapvida e o Grupo NotreDame Intermédica (GNDI), duas das maiores operadoras de planos de saúde do País. Com a integração, será criada uma companhia com valor de mercado de R$ 110,5 bilhões. Mas como isso pode se transformar em oportunidade para os canais e fornecedores de tecnologia? “De maneira geral, já se percebia uma transformação tecnológica no setor da Saúde. Principalmente em relação à prestação de serviços. Nos últimos tempos, a maior tendência estava ligada a digitalização de protocolos internos de hospital e clínicas. E a chegada da pandemia trouxe, com muita força, a Telemedicina. Antes disso, essa ferramenta era até mesmo proibida. Agora vamos ver o surgimento de startups de Saúde”, aponta Renato Stuart, sócio da RGS Partners, consultoria que acompanha de perto essa movimentação. Apenas no estado de São Paulo, de acordo com estudo da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) e do Cetic.br|NIC.br, que avaliou e dimensionou o uso, acesso e apropriação da TIC em estabelecimentos de Saúde públicos e privados, existem múltiplas oportunidades para novos projetos. “Os dados da pesquisa TIC Saúde foram coletados em um momento imediatamente anterior ao início da pandemia de Covid-19 no Brasil e demonstram que uma parcela dos estabelecimentos de Saúde ainda carece de sistemas in-

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formatizados. Nesse momento que enfrentamos a pandemia, é de grande relevância que eles estejam informatizados para que possam contribuir para o melhor controle e combate à crise sanitária”, observa Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br. Entre os diversos índices, chama a atenção que apenas 56% dos estabelecimentos de Saúde formalizaram ou documentaram uma política de segurança da informação. Isso preocupa, pois os ataques cibernéticos cresceram durante a pandemia e com a Telemedicina sendo regulamentada e as implicações da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), esse dado soa ainda mais crítico. “A consciência sobre a coleta e tratamento dos dados minimamente necessários de pacientes e o desenho seguro de seus fluxos nos ambientes pertencentes à área da Saúde, certamente ajudará a mitigar riscos de vazamento e geração de incidentes indesejados”, afirma Carlos Souza, gerente de Riscos e Performance da ICTS Protiviti.

Casos e casos

Se os fornecedores ainda estão com movimentos tímidos na ênfase deste mercado, alguns projetos começam a ganhar relevância. Com investimento inicial de mais de R$ 5 milhões, a plataforma Rita Saúde, do Grupo Sabin, foi desenvolvida dentro dos conceitos de Saúde 5.0. Nele, o Centro de Saúde coordena de forma 100% digital a estratégia assistencial na qual o acompanhamento do paciente ocorre por meio de plataforma de Telemedicina, integrada a registros de Saúde, permitindo a interação da equipe médica durante toda a jornada de cuidados com a saúde. “Estamos falando de um ecossistema inovador, que oferece saúde de forma planejada a partir de um modelo de assistência estruturado. Queremos tornar a Saúde de qualidade mais acessível para a população e contribuir com a sustentabilidade do setor, por meio do impacto de seus resultados”, argumenta Lídia Abdalla, presidente executiva do Grupo Sabin. O modelo do Centro conta com a integração de um marketplace, que oferece um ecossistema de Saúde com consultas de especialistas, serviços de análises clínicas e diagnósticos por imagem, portfólio de vacinas,

Com investimento inicial de mais de R$ 5 milhões, a plataforma Rita Saúde, do Grupo Sabin, foi desenvolvida dentro dos conceitos de Saúde 5.0 medicamentos e outros serviços. Tudo oferecido por meio de sua rede própria e de parceiros da empresa. Nesse pilar, os diversos elos da cadeia de Saúde estão integrados, e o modelo proposto não inclui serviços que compõe a chamada “atenção terciária”, como hospitais. O Centro de Saúde Digital já nasce a partir de uma base de 60 mil clientes vinculados a projetos sociais do Grupo em uma plataforma estruturada nos pilares da medicina partici-

pativa, preventiva e preditiva. Iniciado no Distrito Federal, o projeto tem como metas a expansão para outras regiões e atingir mais de um milhão de pacientes até o próximo ano.

Aposta na Telemedicina

Com números igualmente superlativos, o Grupo NotreDame Intermédica (GNDI) realizou mais de 800 mil atendimentos por Telemedicina em um ano por meio dos 1,1 mil médicos treinados para prestarem o serviço por videoconferência para seus beneficiários. Lançado em março de 2020, o serviço ganhou novas especialidades, como o lançamento de um pronto-atendimento de saúde mental, com assistência psicológica especializada. “Um de nossos objetivos, agora, é trazer os beneficiários para o atendimento em consultas eletivas pela Telemedicina, porque esse movimento de migração para o online é uma tendência que veio para ficar”, acrescenta Paulo Sng Man Yoo, gerente médico de Telemedicina e Inovação do GNDI. Atualmente, mais de 90% das demandas dos pacientes são resolvidas na própria teleconsulta de pronto-atendimento, sem a necessidade de encaminhamento do paciente para o presencial. Desde março de 2020, a Telemedicina do GNDI é oferecida por meio

GUSTAVO PITTA

DIVULGAÇÃO / RGS PARTNERS

Stuart, da RGS Partners: a pandemia trouxe, com muita força, a Telemedicina e agora vamos ver o surgimento de startups de Saúde.

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Benner, da Benner Sistemas: atualmente, há poucas empresas no Brasil com porte suficiente para participar de grandes projetos.

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Lídia, do Grupo Sabin: queremos tornar a Saúde de qualidade mais acessível para a população e contribuir com a sustentabilidade do setor.

da plataforma Conexa Saúde, que possibilita fácil acesso por videoconferência ou chat com o download do aplicativo para computador ou smartphone. Em breve, ele será embarcado diretamente no aplicativo do beneficiário, o GNDI Easy, para facilitar o acesso à Telemedicina para pacientes de idade avançada e com pouca compreensão de tecnologia.

Sotaque alemão

Outro caso interessante é o do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que se juntou à rede TriNetX para contribuir com a aceleração da pesquisa clínica e encontrar os melhores resultados para seus pacientes. Por meio do Centro de Inovação e Educação em Saúde, o Oswaldo Cruz ajudará a impulsionar a expansão futura da rede TriNetX se utilizando de seu relacionamento com outras organizações de Saúde com a meta de desenvolver o maior cluster de dados para pesquisa clínica no Brasil e na América Latina. A plataforma TriNetX permite que instituições de Saúde, indústrias farmacêuticas e organizações de pesquisa (CROs) colaborem utilizando dados do mundo real (RWD) para otimizar protocolos e viabilidade de pesquisa, identificação de si-

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O Hospital Oswaldo Cruz ajudará a impulsionar a expansão futura da rede TriNetX com a meta de desenvolver o maior cluster de dados para pesquisa clínica no Brasil e na América Latina tes, recrutamento de pacientes para potencializar a descoberta de novos tratamentos por meio da utilização de Real-World-Evidence (RWE). “Esta é uma iniciativa estratégica que contribui com nossos objetivos de inovação, pesquisa e educação no Hospital Alemão Oswaldo Cruz”, disse Kenneth Almeida, diretor executivo de Inovação, Pesquisa e Educação da instituição. Os dados disponíveis na TriNetX são anônimos e a plataforma emprega medidas de privacidade e segurança em conformidade com os regulamentos específicos de cada país e região, incluindo LGPD, HIPAA e GDPR. A também alemã SAP é uma das empresas que já tem resultados interessantes no setor, como no Hospital Care, holding administradora de serviços de Saúde pertencente à gestora Crescera e ao fundo Abaporu, que iniciou em abril de 2019 sua jornada de transformação digital com a implementação do ERP SAP S/4Hana, o que possibilitou inúmeros ganhos de integração e sinergia entre as empresas adquiridas e suas diferentes soluções locais, passando a atuar por meio de um Centro de Serviços Compartilhados que provê serviços corporativos a todas as unidades do grupo.

“Para que possamos obter sinergias e prestar serviços de Saúde de forma mais adequada, criamos a Central de Serviços Compartilhados, tirando de cada unidade as atividades que não são seu core business – a parte financeira, de suprimentos, folha de pagamento etc. – para que ela se dedique às atividades assistenciais. Ao fazermos isso, era fundamental que essa operação acontecesse em uma plataforma única para padronizar os processos e prestar esses serviços a todas as unidades, independentemente do sistema utilizado localmente”, justifica Roberto Penido, gerente de Tecnologia do Hospital Care.

Ainda em ERP

Outro fornecedor de soluções de gestão, a Benner Sistemas, aposta neste setor a tal ponto que realizou um spin off específico e criou a Otto HX. O objetivo, segundo a empresa, é apresentar ao mercado uma nova abordagem, mais centrada, verticalizada, com times ágeis e que “respirem” o setor hospitalar, a fim de oferecer soluções efetivas para a necessidade de secretarias de Saúde estaduais, municipais, assim como hospitais e clínicas de médio porte. Para a criação da divisão, entre desenvolvimento, marketing, produto, suporte e vendas, foram investidos cerca de R$ 4,5 milhões, sendo que todo o investimento para criação do produto, desenvolvimento e aprendizado, de acordo com a empresa, supera esta marca em pelo menos seis vezes. A expectativa é alcançar um faturamento de R$ 100 milhões nos próximos 5 anos. “Atualmente, há poucas empresas no Brasil com porte suficiente para participar de grandes projetos, e a Benner é uma delas. Por essa razão, temos de aproveitar as oportunidades que o mercado oferece, favorecendo empresas que possuem agilidade e novos modelos de negócios”, afirma Severino Benner, presidente do Grupo que leva seu nome. Ele revela que três fatores motivaram a criação da nova divisão: consolidação rápida do mercado hospitalar, porte dos compradores e fornecedores e, por fim, a estratégia de “dividir para conquistar”. A meta é atingir pelo menos dois grandes estados, dez prefeituras e 20 clientes privados de médio porte

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Os principais negócios de 2020

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o ano passado, as fusões e aquisições do setor de Saúde mostraram um cenário em ebulição. Apenas em dezembro, a Notredame Intermédica, que já vem de uma onda de aquisições, comprou o hospital Lifecenter, em Belo Horizonte (MG), por R$ 240 milhões. E o Grupo Dasa, dono de laboratórios como o Delboni Auriemo, adquiriu a rede de hospitais Leforte, em São Paulo, em uma operação de R$ 1,77 bilhão. No campo dos planos de saúde, a Qualicorp ficou com a carteira da Muito Mais Saúde e concluiu a aquisição da Plural e da Oxcorp. Já o laboratório Fleury comprou o Centro de Infusões Pacaembu e a Clínica de Olhos Moacir Cunha. Além disso, a abertura de capital da Rede D’Or, que colocou no caixa R$ 11,4 bilhões e que deve destinar boa parte dos recursos para novas compras, também deve agitar o mercado.

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Três perguntas para George Balbino VP da Mangahigh, plataforma educacional britânica, fala sobre o uso de jogos para conteúdos didáticos de matemática e raciocínio lógico. Leia a íntegra em www.inforchannel.com.br e https://revista.inforchannel.com.br

Qual é a base tecnológica da plataforma? É baseada na Nuvem e, como tal, está preparada para escalar horizontalmente com o aumento de tráfego automaticamente e de acordo com a demanda. Usamos também um CDN que está distribuído globalmente de forma a oferecer um acesso mais rápido aos nossos usuários ao redor do mundo. Quais ferramentas foram usadas no desenvolvimento? Entre as ferramentas, adotamos PHP e Javascript. A tecnologia foi desenvolvida em Londres e foi concebida a partir de uma ideia de Toby Rowland, cofundador da King.com, responsável pelo hit Candy Crush. A nossa plataforma está integrada a vários sistemas, a exemplo do Single Sign-On, SSO, Clever, CRM Pipedrive e do CRP Intercom. Qual a meta de vendas no Brasil? A Mangahigh já está presente no Brasil desde 2012, sendo oferecida a escolas diretamente por nossa equipe de vendas, bem como por meio de parceiros e portais educacionais

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ainda em 2021. Em termos de canais, o executivo revela que o foco será em startups, pela sua flexibilidade e velocidade, e em integradores com força regional e relacionamento com os clientes do setor. As soluções ofertadas envolvem o sistema Otto HX, originalmente um HIS (Hospital Information System) capaz de gerir a parte administrativa e assistencial de um hospital, secretaria de Saúde, clínica ou laboratório, permitindo um suporte completo de software para atender às necessidades de todas as áreas da organização.

Outro fornecedor de soluções de gestão, a Benner Sistemas, aposta neste setor a tal ponto que realizou um spin off específico e criou a Otto HX

Peso mundial

Outro gigante alemão ruge no mercado local, a Siemens Healthineers, empresa que está desenvolvendo ativamente seus serviços digitais de Saúde e serviços corporativos também por aqui. Para se ter uma ideia de seu porte, no ano fiscal finalizado em 30 de setembro de 2019 a companhia gerou receitas globais de € 14,5 bilhões e soma 52 mil funcionários em todo o mundo. Por meio das áreas de diagnóstico laboratorial, diagnóstico por imagem e digitalização, a Siemens Healthineers traz tecnologias que auxiliam no diagnóstico mais assertivo em relação a diferentes tipos de câncer, além de soluções também para o acompanhamento e respectivo tratamento da doença. Como no caso do Hospital Sírio-Libanês.

“Todas essas soluções estão à disposição do médico para que possamos tomar a melhor e a mais adequada decisão para cada paciente. Um exame de imagem com alta qualidade e que forneça o máximo de informações possíveis impacta diretamente na escolha terapêutica e possibilidades de sobrevida e cura do paciente”, explica Públio Viana, coordenador médico do setor de Tomografia do Hospital Sírio-Libanês. Outro fornecedor, a Open Labs, traz para o Brasil duas soluções no segmento da Saúde. Uma é a Medigraf, uma plataforma integrada para a execução e gestão de diagnósticos médicos, que fornece serviços de Saúde remotos, oferecendo um ambiente colaborativo com serviços de vídeo, integração a equipamentos médicos e partilha de dados clínicos. E a outra é a SmartAL, que possibilita serviços de eCare/Assisted Living, incluindo monitoramento dos pacientes (por exemplo, sinais vitais e doenças crônicas) e promove serviços de suporte diário relacionados com o bem-estar, solidão das pessoas idosas e envelhecimento ativo, via uma solução Digital com IoT e Analytics. Ambas em parceria com ltice Labs e a Universidade do Minho (Portugal) na prestação de serviços

Radiografia do setor Público

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pesquisa TIC Saúde 2019, divulgada em julho de 2020, pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), traz números relevantes do setor. Entre as Unidades Básicas de Saúde (UBS) conectadas no Brasil, 78% contam com sistemas de registro eletrônico de informação de pacientes – um aumento de 9 pontos percentuais em relação ao ano anterior. No País, 3,5 mil (9%) das UBS ainda não possuem computadores, e 7,2 mil (18%) não contam com acesso à Internet. Apesar do avanço na informatização das UBS conectadas, os serviços online oferecidos aos pacientes ainda possuem espaço para crescer no País: apenas 23% disponibilizam agendamento de consultas pela Internet, 20% fazem a marcação de exames e 22% disponibilizam a visualização de resultados online.

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