Informe C3 - Edição 06 Reformulada

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Edição C

Classificação: Para mai

Sem barba, sem lenço, sem documento Disponibilidade/Desprendimento/Visibilidade/PúblicoxPrivado Quais os elementos que nos tornam visíveis? E quando não há elemento algum? As noções de disponibilidade às vezes apresentam limites que esclarecem que estar disponível nem sempre significa estar totalmente ao dispor de alguém. O que é público para uns pode ser privado para outros. O fato de estar despido coloca o individuo em grande visibilidade, situação que tem significados diferentes. Estar sem roupa em uma revista, em um filme, na rua, no banheiro ou em fotografias possui o mesmo significado? Quais são os limites entre o público e o privado?


Censurada ores 18 anos


Despir


Foto: Anderson de Souza


ano 01 - Edição 06 - Agosto/2009

www.processoc3.com

Capa: Foto retirada por solicitação do modelo

Informe C3: Porto Alegre/Canoas/São Leopoldo/RS. Distribuição: Gratuita e ilimitada pelo território da internet. Direção e organização: Wagner Ferraz Pesquisa e organização: Processo C3 Pesquisadores: Anderson de Souza, Francine Pressi e Wagner Ferraz Projeto gráfico e execução: Anderson de Souza e Wagner Ferraz Contato: Wagner Ferraz 55-51-9306-0982 wag_ferraz@hotmail.com www.processoc3.com

Colaboradores:

- Paulo Duarte - Coimbra/Portugal - Rodrigo Monteiro - Porto Alegre/RS/Brasil www.teatropoa.blogspot.com - T. Angel - Frrrk Guys - São Paulo/Brasil www.frrrkguys.com - Luciane Moreau Coccaro - Porto Alegre/Rio de Janeiro - Marta Peres - Rio de Janeiro/Brasil - Mário Gordilho - Espírito Santo/Brasil


Bibliografia SOUZA, Anderson de; PRESSI, Francine; FERRAZ, Wagner (orgs.). “Informe C3: Sem Barba, sem lenço, sem documento - disponibilidade/desprendimento/visibilidade/públicoxprivado”. Canoas, RS: S/E, agosto de 2009. Obs.: - S/E - Sem Editora. - Apenas em formato digital.

Disponível em: http://www.processoc3.com/informe_c3/edicao05/processoc3_edicao06.pdf


Agradecimentos

Agradecemos também a todos que de forma direta ou indireta colaboraram com o Processo C3 Grupo de Pesquisa e com o Informe C3.

Terpsí Teatro de Dança

Porto Alegre/RS/Brasil www.terpsiteatrodedanca.blogspot.com

T. Angel - Frrrk Guys São Paulo/Brasil www.frrrkguys.com

Paulo Duarte

Coimbra/Portugal

Rodrigo Monteiro

Porto Alegre/RS/Brasil www.teatropoa.blogspot.com

Marta Peres

Rio de Janeiro/Brasil

Luciane Moreau Coccaro Rio de Janeiro/RJ/Brasil

Didio - Fotógrafo São Paulo/Brasil

Mário Gordilho

Espírito Santo/Brasil

Romeu Bart

São Paulo/Brasil

Vinícius Manne

Rio de Janeiro/Brasil

André Lizza

São Paulo/Brasil

Angela Spiazzi

Porto Alegre/RS/Brasil

Ricardo Marinelli Curitiba/PR/Brasil

Diogo Bezzi

Porto Alegre/RS/Brasil

Janaína Vasconcellos Santos Viamão/RS/Brasil


Apresentação A apresentação desta edição está despida de palavras. Ilustração: Anderson de Souza

Um abraço Wagner Ferraz O “Processo C3 Grupo de Pesquisa” busca investigar os processos de construção do Corpo em diferentes contextos Culturais, relacionando com os discursos e práticas da Contemporaneidade. Tendo as artes, Moda e questões socioculturais como focos para tentar esclarecer e fortalecer interrogações.


Índice Ensaio 01 - O corpo disponivel Wagner Ferraz

16

Didio - Obras e Declarações

22

Ensaio 02 - Sobrevoando configurações sócio históricas, arquitetônicas, conficionais, virtuais ... Marta Peres

30

Entrevista 01 - Vinicius Manne

34

Ensaio Fotográfico - “sem barba, sem lenço, sem documento” - retirado

38

Ensaio 03 - O que a pornografia produz em nossa visão e em nossas praticas sexuais? Luciane Coccaro

52

Ensaio Fotográfico - Corpo de Boneca

56

Entrevista 02 - Heitor Werneck

68

Crítica Teatral Rodrigo Monteiro

76

Ensaio 04 - O nu se cobre, a descoberta do nu... Paulo Duarte

78

Ensaio Fotográfico - André Liza - Coringa

80


Banco de Dados Terpsí: Terpsí despir os vícios Wagner Ferraz

84

Ensaio 05 - “Os opostos se distraem, DISPOSTOS se atraem” Francine Pressi

90

Leituras indicadas

93

Ensaio fotográfico - T. Angel

94

Entrevista 03 - Ricardo Marinelli

104

Ensaio 06: A moda influencia na construção de identidade? Anderson de Souza

110

Poema - O Belo Mário Gordilho

113

Quem é quem? Currículos Processo C3

118

Quem é quem? Currículos colaboradores

120

Foto: Wagner Ferraz


Despir?

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Foto: Anderson de Souza

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“Que legal nós dois

Fotos: Didio

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Pelados aqui Que nem

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nem me conheceram Ensaio 01 Wagner Ferraz

Este ensaio faz parte de um apesquisa em processo.

O corpo disponível Cultura, artes e moda A noção de disponibilidade pode e deve ser compreendida como extremamente relativa, pois tudo vai depender do contexto. Uma pessoa pode estar disponível para uma reunião, para um encontro, para uma festa, para o trabalho, para namorar, para assistir um filme, para transar... Estar disponível é estar à disposição, é ter tempo livre que pode ser preenchido com alguma atividade. É estar desapegado de algumas coisas para se apegar ou comprometer com outras. A disponibilidade está no sujeito que se coloca a disposição para o olhar, para o toque, ou se permite o acesso (seja lá qual for esse acesso). Mas pensando nesse acessível visualmente, é possível entender que o corpo que foge da regra é um corpo a merce. Pois o corpo “desregrado” é sinônimo de estranhamento, de curiosidade ou até de desejo. Dessa forma ou outro, o estranho, o diferente que está no campo visual de um vidente, ou ao alcance auditivo ou do toque de cego/deficiente visual, se insere numa circunstância de acesso. O acesso ao outro se dá pela condição de estar se vivendo em sociedade. Mas quando se é um outro que deseja ser visto, esse acesso é até certo ponto liberado, com limite que só no respectivo contexto pode ser analisado. De acordo com MESQUITA (2004) o aparecer, que neste texto está diretamente associado com o “ser visto”, é muito valorizado na sociedade contemporânea. “Eu aparento, tu aparentas, ele aparenta... Eu apareço, tu apareces... Aparentar e aparecer são ações extremamente valorizadas na sociedade contemporânea, um tempo no qual a presença em diferentes veículos da mídia define bastante o grau de importância de pessoas, profissões, valores e atividades”. MESQUITA (2004, 67).

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Seguindo os indícios apresentados por MESQUITA, o corpo na contemporaneidade se espetaculariza e leva a pensar na questão que já foi mencionada anteriormente - o limite. No âmbito artístico o corpo está sempre no foco do expectador, mesmo quando o corpo não aparece. Uma obra de arte feita de materiais nada humanos – ferro, plástico, borracha entre tantos outros – leva a pensar no corpo. Pois o espectador automaticamente se pergunta: Quem fez essa obra? Isso leva a pensar no artista, no corpo que moldou, pintou, retorceu... Ou também é possível pensar na seguinte dúvida vinda do espectador: Como está obra foi feita? E isto aponta diretamente para a forma como o artista, o sujeito, o corpo trabalhou para criar sua obra. Na dança o corpo é quem faz com que o movimento seja identificado como dança. O corpo torna-se disponível tanto para o coreografo moldar como para o publico analizar, observar, criticar, admirar... o corpo torna-se publico. A Cia Terpsí Teatro de Dança apresenta o corpo como cena ou como construtor da cena na relação com o outro e com todos os elementos disponíveis para a interação. A coreógrafa Lia Rodrigues apresenta em suas obras um corpo nu, despido de suas roupas tornando acessível aos olhos do espectador partes do corpo carregadas de questões tabus. O disponível nem sempre é acessado pelo toque, mas pode ser acessado pelo olhar, pela audição, pela gustação e pelo olfato. A comida mesmo distante, muitas vezes pode ser acessada pelo cheiro, e nem sempre é ingerida.


O dia que eu nasci

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Que nem no banho Seguindo os indícios apresentados por MESQUITA, o corpo na contemporaneidade se espetaculariza e leva a pensar na questão que já foi mencionada anteriormente - o limite. No âmbito artístico o corpo está sempre no foco do expectador, mesmo quando o corpo não aparece. Uma obra de arte feita de materiais nada humanos – ferro, plástico, borracha entre tantos outros – leva a pensar no corpo. Pois o espectador automaticamente se pergunta: Quem fez essa obra? Isso leva a pensar no artista, no corpo que moldou, pintou, retorceu... Ou também é possível pensar na seguinte dúvida vinda do espectador: Como está obra foi feita? E isto aponta diretamente para a forma como o artista, o sujeito, o corpo trabalhou para criar sua obra. Na dança o corpo é quem faz com que o movimento seja identificado como dança. O corpo torna-se disponível tanto para o coreografo moldar como para o publico analizar, observar, criticar, admirar... o corpo torna-se publico. A Cia Terpsí Teatro de Dança apresenta o corpo como cena ou como construtor da cena na relação com o outro e com todos os elementos disponíveis para a interação. A coreógrafa Lia Rodrigues apresenta em suas obras um corpo nu, despido de suas roupas tornando acessível aos olhos do espectador partes do corpo carregadas de questões tabus. O disponível nem sempre é acessado pelo toque, mas pode ser acessado pelo olhar, pela audição, pela gustação e pelo olfato. A comida mesmo distante, muitas vezes pode ser acessada pelo cheiro, e nem sempre é ingerida. Com o grande crescimento da população mundial, os espaços simbólicos, sociais e geográficos se tornaram mais ocupados pela população resultando em uma cultura do acesso. Onde os costumes e valores dos grupos sociais estão a cada dia mais voltados para o acesso ao outro. Assim vão se estabelecendo as relações. Acessase a vida do outro e o outro acessa a minha. Essa troca faz com que o ser humano esteja cada vez mais acessível mesmo fugindo da violência urbana, se trancando dentro de casa, shoppings ou condomínios fechados a sete chaves. “A vigilância dos poderes públicos e os instrumentos de controle coletivo foram decisivos nesse complexo processo de relação entre o mundo interno e a externalidade da vida social na sociedade contemporânea. Uma vez que compartilhamos um espaço cada vez mais disputado e

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escasso, foi necessário normatizar, regrar e conduzir a vida coletiva urbana. Institucionalizamos todas as instancias de nossa experiência, legitimando atuações cada vez mais especializadas e profissionalizadas para cuidar da vida pública”. KEMP (2005, 88). Dentro dessas normas legais ou simbólicas, surgiu a internet que em alguns meios facilita com que a vida do homem se torne pública na sua estrutura privada. A internet possibilita que o outro seja acessado, visualizado, e até violado dentro de sua casa há km de distancia. Mas além deste caso ainda há a disponibilidade de corpos em sites, blogs e redes de relacionamento na internet que vivem da sua disponibilidade para o outro. Como os vídeos pornográficos que são disponibilizados em partes, mas podem ser acessados inteiramente se o internauta solicitar uma “assinatura” para visualizar o conteúdo integralmente. É claro que mediante a realização de pagamento mensal, anual ou temporário (que depende da negociação disponibilizada pelos intermediadores). O astro pornô e performer francês François Sagat (http://fsagat.blogspot.com) disponibiliza em seu blog particular vídeos e fotos onde ele atua com seu corpo inteiramente nu, ou semi-nu. Mas o fato é que, ao acessar este blog passa-se a visualizar o corpo e performances do ator integralmente. Dessa forma sua considerada intimidade torna-se publica, porém é uma intimidade muitas vezes forjada. Um espetáculo para o outro, o privado se torna público. “... o obsceno não pode perder a essência de seu caráter, que é a revelação do prazer e, por conseqüência, a transgressão do interdito. Exibido na intimidade do lar, no espaço privado, esse caráter pode ser ‘controlado’.” ABREU (1996, 183) Esse controle poder compreendido como a escolha em ver e assistir o obsceno, o nu, o pornográfico e ou o erótico. O filme Shortbus (2006) e Calígula (1979) são exemplos onde pode se perceber uma exposição completa da intimidade e de algumas ações dessa intimidade. E visualizar isso pode ser uma escolha. O nu também se torna público em praias intituladas de “praia de nudismo”, porém nesse caso pode se dar através dos corpos que estejam vestidos. Em uma praia de nudismo, o contexto é totalmente voltado para o não vestir. Nesse caso o corpo vestido não se encaixa em um contexto onde o homem pode ser visualizado como um manequim de vitrine. No caso dos budy builder que passam horas malhando para subir em um palco, exibir o resultado de horas, dias, meses e anos de intensos exercícios, o corpo


Por baixo da etiqueta

DisponĂ­vel em: http://fsagat.blogspot.com

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É sempre tudo igual é moldado para ser visto, analisado, julgado e premiado ou desclassificado em competições. SABINO (2002,157) esclarece que: “em uma cultura na qual o entretenimento, o consumismo e publicidade se tornam pilares existenciais, a espetacularização passa a constituir o cotidiano dos indivíduos preocupados com seu marketing pessoal. O corpo, além de representar a verdade deste individuo, é também sua vitrine”. A noção de vitrine também pode se encaixar na cultura da moda. Onde o corpo que estiver mais de acordo com os padrões estéticos vigentes, ou vestindo a roupa adequada do momento, é o corpo merecedor de atenção e de ser visualizado, desejado e serve de inspiração. Como os corpos nas passarelas de eventos de moda, de propaganda na TV e revista. Salvo os casos onde alguns passam a se destacar em determinados contextos, sendo alvo da visualidade de muitos e constroem novas noções de corpo da moda e novas noções de moda conforme descrito por VILLAÇA (2007, 156) “a repaginação da periferia será assim, proximamente, um foco de nossa atenção analisando as negociações midiáticas entre centro e periferia, focando entre muitos outros casos como o Daslu versus Daspu, bem como a produção e circuitos de distribuição de filmes como “sou feia, mas tô na moda”, casos que oferecem dados para se discutir a questão identitária e ressemantizar a relação centro/periferia. Dessa forma o circuito da mediação fashion abre progressivamente seu campo performático geográfica e simbolicamente, pondo em cena agônica o corpo hegemônico e as corporeidades pluriformes da periferia.” Assim é possível pensar na visibilidade como aliada da acessibilidade. Porem é importante lembrar em alguns casos de pessoas com deficiência, que conseguem ver, visualizar certos meios mas não podem acessá-los se estes meios não forem adaptados para suas necessidades. A visibilidade só se encaixa extremamente com a acessibilidade quando um indivíduo disponibiliza informações sobre si. Dessa forma o outro pode visualizá-las e acessálas através de diferentes sensações que serão definidas com base em limites estabelecidos.

Referências: ABREU, Nuno Cesar. O olhar pornô: A representação do obseno no cinema e no vídeo. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1996. CASTILHO, Kathia e MARTINS, Marcelo M. Discursos da Moda: semiótica, design e corpo. 2. ed. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2005. KEMP, Kênia. Corpo Modificado: corpo livre?. São Paulo: Paulus, 2005. MESQUITA, Cristiane. Moda Contemporânea: quatro ou cinco conexões possíveis. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2004. SABINO, Cesar. Anabolizantes: Drogas de Apolo. In: GOLDENBERG, Mirian (org.). Nu e Vestido. Rio de Janeiro: Record, 2002. VILLAÇA, Nízia. A edição do corpo: tecnociência, artes e moda. Barueri, SP: Estação das Letras Editora, 2007.


O curioso e a xerĂŞta


Que gostoso, sem fres

Didio

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fot贸grafo


Sem disfarce,

Obras e declarações

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sem fantasia O fotógrafo Didio tem seu trabalho muito respeitado no exterio onde trabalha para algumas revistas como Geil Mag, PrefMag, Tetu, Men Evidence...recentemente foi convidado a fazer um livro por uma editora alemã e uma exposição em Paris.

Que

Seu maravilhoso trabalho está nesta edição levando a refletir sobre infinitas questões que podem ser fomentadas pelas palavras de Didio. http://modelsbydidio.blogspot.com http://www.didiophoto.com/


nem seu pai, sua mãe 1 - Fale um pouco sobre tua escolha em colocar muitas vezes os modelos nus em teus ensaios fotograficos.

“Acho que existe um engano aqui... Não fotografo modelos somente nus. O ato de se despir faz parte da carreira de modelo, acho um equivoco absurdo aqui no Brasil os modelos acharem que o nu não faz parte deste negocio...

Quando penso no homem e quero retratar esta beleza eu quero vê-lo em toda sua plenitude. No meu blog você não vê o nu como esta sendo interpretando aqui, não é erótico, não é vulgar, é simplesmente sensual”.

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Seu avô, sua tia... 2 - Como tu ve o nu masculino em alguns veículos de publicação?

Acho pobre e preconceituoso, homofóbico e equivocado. Um exemplo, tenho uma grande mídia la fora interessada no meu trabalho, em alguns momentos me chamando de o novo Bruce weber...

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Aqui no Brasil simplesmente me ignoram porque fotografo homens, não como eles manipulam, ou seja, um homem sem muitas qualidades sensuais... Se o trabalho que faço com os homens fizesse com as mulheres seria muito famoso aqui...


Proibido pela censura Ate mesmo as marcas de underwear tem medo de fazer fotos um pouco mais sensuais, como fazem a Calvin Klein e Armani... Isto tudo sempre manipulado pelas agencias de publicidade... Simplesmente não conseguem separar o pessoal e o profissional.

“Acho pobre e preconceituoso, homofóbico e equivocado”.

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O decôro e a moral

3 - O que é o nu para ti?

Um processo natural que não deveria estar em pleno sec. 21 ainda causando incomodo nas pessoas. Como disse antes faz parte da vida dos modelos o ato de se despir. Acho q a maldade esta nos olhos de quem esta vendo, eu não penso assim quando estão nus na minha frente. 4 - Como se dá o processo de despir os modelos nos teus trabalhos?

Acho que uma coisa muito importante nesta área chama-se informação, se você consegue mostrar possibilidades aos modelos, eles te acompanham... Eu tenho um grande problema em aprovar styling aqui no Brasil, acho tudo muito pobre, por isso prefiro fazê-los o mais natural possível, tentando mostrar mais personalidade deles e minha. Quando se fala em fotografia de moda, existe toda uma equipe envolvida, o trabalho nunca é só somente do fotografo, acho q as vezes é muito mais do stylist e makeup... Por isso sempre falo que este trabalho realmente posso assinar e dizer que é meu. Já tenho um trabalho com bastante prestigio mundo afora e geralmente não tenho problemas em fazê-los tirar a roupa.

“Como disse antes faz parte da vida dos modelos o ato de se despir”. 28 - Informe C3


Liberado e praticado

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Pelo gosto geral

Pela

Ensaio 02 Marta Peres

Sobrevoando configurações sócio-históricas, arquitetônicas, confessionais, virtuais... Quando foi lançado, em 1995, ‘Carlota Joaquina’, de Carla Camurati, foi acusado de ter retratado Dom João VI como um bobo, glutão, avesso ao banho, e Carlota Joaquina como uma grotesca ninfomaníaca. Nos meios de comunicação, membros da família real brasileira declararam que o filme, uma ‘comédia histórica surrealista’, apresentava esses personagens de forma debochada e inverídica. Porém, talvez porque perderia a graça, parece que não foi levantada a idéia de que não somente Dom João evitava o banho, mas praticamente todos os seus contemporâneos, considerando que esse não consistia num hábito diário. Ainda hoje encontraremos uma lista infindável de lugares no mundo em que isso não seria possível, seja pela escassez de água, seja por diferenças culturais. As cenas em que Carlota não disfarça suas ‘aventuras’ com amantes e em que Dom João, conversando com a filha, no meio do mato, satisfaz as necessidades fisiológicas – naquele tempo, utilizava-se o verbo ‘obrar’ - assim como passagens de inúmeros outros filmes, romances e peças, em que súditos afobados interrompem o rei em pleno ato sexual para transmitir uma mensagem urgente, deveriam ser corriqueiras há cerca de quatro séculos, ou até menos que isso. Basta uma visita ao Museu Imperial de Petrópolis, cidade serrana do Estado do Rio de Janeiro, palácio que funcionava como residência de campo da família real, para constatarmos a ausência de banheiros e de saneamento básico – eles faziam uso de tonéis para a higiene pessoal e de ‘cadeiras para obrar’, cujo buraco no assento possuía abaixo um objeto semelhante às comadres utilizadas por pessoas acamadas. Além disso, não havia portas que permitissem maior privacidade no interior dos cômodos. Na Europa, a realidade não era diferente: na verdade, casas, como as atuais, com cômodos e móveis especializados, representam uma modificação de mentalidades e sensibilidades posterior ao século XII, que muito lentamente se difundiu pelo restante da sociedade. A privada ‘seca’, por exemplo, só viria a ser introduzida na França no século XVIII, com uma aura de novidade inglesa. O Palácio de Versalhes, construído sem se medir despesas, no século XVII, não possuía banheiros nem,

muito menos, privadas. (Rodrigues,1999:105). Voltando a Petrópolis, o comentário de uma visitante me instigou à reflexão: ‘eu não gostaria de ter nascido naquele tempo, não... eles não tomavam banho direito, isso me dá um nojo... E essas amas de companhia? O tempo todo ajudando os nobres a se vestirem e tudo o mais, tomando conta da vida deles...’ Sua fala confirma um conceito básico das ciências sociais: se lhe fosse apresentado um extenso rol de diferentes culturas e lhe pedissem para escolher uma delas, você certamente preferiria ... a sua! Roque Laraia recorre a Heródoto (484-424 a.C.) para explicar essa idéia: tomando como referência sua própria sociedade, a grega, o ‘pai da História’ apontava os costumes do lícios como diferentes de ‘todas as outras nações do mundo’, ao mesmo tempo em que afirmava e reconhecia sua atitude ‘etnocêntrica’: ‘Se oferecêssemos aos homens a escolha de todos os costumes do mundo, aqueles que lhes parecessem melhor, eles examinariam a totalidade e acabariam preferindo os seus seus próprios costumes, tão convencidos estão de que estes são melhores do que todos os outros’ (Laraia, 1986:11). A antropologia pode nos ajudar a compreender que, além do diferente desenvolvimento do sentido do olfato - e o que lhe agrada ou não - de acordo com cada cultura, embora a configuração arquitetônica destes palácios possa nos incomodar, a privacidade nem sempre foi uma necessidade, ou mesmo, ainda que desejada, nem sempre da mesma maneira. Pelo contrário, se nos deslocarmos ainda mais no tempo, as casas medievais possuíam, em geral, somente um cômodo, onde convivia um grande número de pessoas e animais (!). Esses padrões culturais manifestavam-se em variadas esferas de existência – na superposição das casas, no apinhamento das ruas, na utilização, por diversas pessoas, da mesma cama, do mesmo prato, do mesmo banco.

Convém ressaltar que, até hoje, parte desse ideal


do todo mundo gosta arquitetônico consiste num indicador de privilégio de classe (Rodrigues,1999:105). Não é nem necessário ir muito longe ou a uma ‘comunidade’ carente. Se você mora num edifício onde vivem o porteiro e sua família – mulher e filhos – todos num mesmo cômodo, não se pode esperar que ele desfrute de privacidade em seus momentos íntimos como numa família de classe média possuidora do famoso ‘quarto do casal’ com chave para trancar a porta.

das sensibilidades denominado ‘pudor’(Elias, 1994:32-3).

O sociólogo Norbert Elias trouxe uma importante contribuição ao elucidar a historicidade das relações entre o público e o privado no mundo ocidental. Ele demonstrou que, por meio do que chamou de um ‘processo civilizador’, que atos, tais como se assoar, defecar, ter relações sexuais, antes realizados em público, passaram a refluir para a ‘privacidade do sigilo’. Elias ressalta que, embora pareça óbvio e corriqueiro, o tipo de sensibilidade e de autoconsciência que traz o sentimento de ‘individualidade’ - um ‘interior’, separado do mundo externo como que por um muro - surgiu numa determinada época e corresponde a uma estrutura psicológica e a uma conformação histórica peculiares. Concebendo os seres humanos individuais ligados uns aos outros na pluralidade que é a sociedade, este sentimento teria se estabelecido ao longo de certos estágios do processo civilizador (Elias,1994:8-32).

Recorda-se que o advento do indivíduo é quase que simultâneo ao surgimento das noções de Estado e de população, as quais exigem novas formas de controle social, por meio de suas tecnologias disciplinadoras. Ao longo do século XVII, estruturaram-se as sociedades disciplinares e respectivas instituições baseadas no controle da atividade, distribuição dos indivíduos, hierarquia, vigilância, sanções e exames, a fim de ‘assegurar a ordenação das multiplicidades humanas’(Foucault,1977:191).

O desenvolvimento do uso do espelho, ao longo do medievo europeu, ilustra o processo de fortalecimento da noção de indivíduo. É curioso que a palavra alemã para ‘eu’ (ich) tenha somente aparecido quando os membros da aristocracia, por volta de 1500, tornaram-se conscientes deles mesmos como ‘indivíduos separados da comunidade’ (Dale,1997:103). A história do sistema de denominações reflete como ‘o sentimento de identidade individual se acentuou e se difundiu amplamente’ (Corbin,1995:419). Tendo trocado de nome, a fim de escapar de uma sanção penal, Jean Valjean, protagonista de ‘Os Miseráveis’, de Victor Hugo, demonstra que era comum falsear a identidade por circunstâncias diversas. Seu destino não deveria parecer inverossímel à época: ‘por volta de 1880, o indivíduo astucioso pode mudar de pele a seu bel-prazer’ (Corbin,1995: 430). Ainda não existia o sistema policial de Registro Geral e a ‘carteira de identidade’. Observa-se, desde aquele tempo, o quanto o anonimato poderia servir como uma proteção... Estabelecido o sentimento de individualidade, segundo Elias, ao longo do processo civilizador, as manifestações impróprias do desejo passaram a ser escondidas nos porões do psiquismo. Foi assim que ‘as maneiras de comer, de se lavar, de amar e de morar se modificaram de acordo com as novas fronteiras da intimidade dos corpos e uma nova autoconsciência’. Todo o ritual burguês de civilidade estaria historicamente inscrito nesse refinamento

Dominando intensamente a esfera do comportamento, ao longo do século XIX, o pudor era associado à crença de que os sentidos são ‘portas abertas para o demônio’. O discurso médico ainda reforçava a moral vigente, à medida que preconizava ‘cirurgias’ para curar o ‘flagelo das práticas sexuais solitárias’ (Corbin,1995:454).

Debruçando-se sobre as temáticas da sexualidade, das instituições penais e do adestramento dos corpos, Foucault denunciou os mecanismos de uma onipresente tecnologia do poder na modernidade. Segundo ele, o sexual, elemento dotado de grande instrumentalidade nas relações de poder, serviu como ponto de apoio para um projeto político maior. O termo ‘sexualidade’ surgiu no século XIX, ‘para designar o conjunto de experiências – atos, pensamentos, fantasias, desejos, sonhos, prazeres – que se constitui como objeto de conhecimento científico e, por conseguinte, como a origem privilegiada dos distúrbios mentais’ (Bruno,1997:46). Assiste-se, portanto, na passagem dos séculos XVIII para o XIX, ao enfraquecimento do domínio da tecnologia da carne do cristianismo clássico. Simultaneamente, a sexualidade passa a se ordenar em torno da instituição médica, segundo a exigência de normalidade. Questões da morte e do pecado são substituídas por problemas médicos da vida e da doença. Sem negar a existência do espaço de recolhimento cristão – o confessionário - o advento da ‘sexualidade’ aponta para o surgimento da necessidade de um novo tipo de privacidade para este outro ritual da confissão, a partir de então, pertencente às esferas médica e psicanalítica. Foucault demonstrou o quanto estas novas configurações sociais estão conectadas às respectivas relações entre o público e o privado. Se, por um lado, constitui-se e fortalece-se a subjetividade individual, por outro, esta é confrontada com uma carga de controle social que o localiza dentro de uma ‘população’ da qual se conhece dados a fim de se prescrever medidas políticas necessárias ao bem-comum. Simultaneamente, a iminência de se misturar a uma massa amorfa impulsiona o desejo cada vez mais intenso de ser - ou se sentir - ‘único’.


Todo mundo quer A

Ilustração: Anderson de Souza

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h é? É! Pelado todo Foucault analisou a ‘sociedade disciplinar’, ancorada sobre o capitalismo industrial, formação histórica que vigorou entre o final do século XIX e meados do século XX. Concomitantemente à sua emergência, ‘a carne transfere-se para o organismo’ (Foucault, 1985: 111). De lá para cá, assistimos a um novo contexto, em que certas características do período anterior se intensificam e se sofisticam e outras se modificam radicalmente. Hoje, terá o ‘organismo’ se transferido para o ‘mundo virtual eletrônico’? Como se dão as relações entre proteção à privacidade e busca de exposição quando é impositivo estar ‘conectado’? Na atualidade, acessamos uns aos outros a dados pessoais com a facilidade de um clique do mouse. Não somente para quem se inscreve nos chamados sites de relacionamentos como o Orkut e o My Space, mas, como estudantes, professores, artistas, pesquisadores, devemos atualizar com freqüência bases de dados como a Plataforma Lattes, dentre inúmeras outras, sob o risco de não sermos nem mesmo aptos a concorrer em editais de projetos, bolsas, eventos. Sibilia indaga ‘como todas essas mutações influem na criação dos modos de ser’ (Sibilia, 2008: 15), discorrendo sobre o quanto a rede mundial de computadores tem dado à luz a um amplo leque de práticas ‘confessionais’. Estaria a internet ocupando, na constituição das subjetividades, uma posição análoga aos mecanismos de controle e confissão mencionados por Foucault?

gos, familiares... senão, aí que fico sem ninguém... o mundo é que tá desse jeito mesmo...’ Confortei-a dizendo que o antigo hábito de visitar alguém parece não estar mesmo mais na moda e a aconselhei: ‘Conecte-se, passe e-mails, alimente seu blog com fotos. Encaminhe os links com seus artigos publicados. Você pode não receber visitas ao vivo e a cores, mas, em tempo real, chegarão comentários, respostas e beijos (bjs)’.

Referências Bibliográficas - Corbin, Alain. In Ariès, Philippe. Duby, Georges. História da Vida Privada. Da revolução Francesa à Segunda Guerra. Cia das Letras: São Paulo. - Dale, Karen. Identity in a culture of dissection: body, self and knowledge. In Hetherington & Munro. Ideas of Difference. Social spaces and the labour of division. Oxford: Blackwell Publishers, 1997Elias, Norbert. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. - Elias, Norbert. O Processo Civilizador, 2 vols. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

Assistimos a um conflito entre a busca de privacidade e a ânsia pela exposição. A fama, por si só, é a própria morte da privacidade. O vertiginoso crescimento da indústria da fofoca, por sua vez, expandiu-se do mundo dos famosos até os anônimos.

- Foucault, Michel. Historia da Sexualidade v. I. o uso dos prazeres. Graal: Rio de Janeiro, 1985.

Contudo, tanto o espaço do privado quanto do público compartilham de uma profunda solidão. Retirar-se do espaço público, num tempo em que as pessoas não se procuram intencionalmente, mas se ‘encontram’ por aí, é abrir mão do convívio, ainda que este se revele extremamente superficial. Segundo uma entrevistada (de uma pesquisa de campo sobre a temática do corpo e intervençoes médicas), submetida recentemente a uma cirurgia, o maior estranhamento causado pela necessidade de repouso, foi o súbito ‘desaparecimento’ de toda uma extensa rede de dezenas ou mesmo centenas de pessoas com quem ela está habituada a conviver, em suas atividades cotidianas. Isso apontou para a necessidade de transitar nos espaços públicos, nos quais o contato com outras pessoas é mera conseqüência, mas que, fora do mesmo, o encontro parece não existir. Ela desabafou assim:

- Laplantine, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1997.

‘e o pior é que eu não quero ficar com raiva das pessoas, sei que não é culpa delas, não quero ficar acusando ami

- Foucault, Michel. Vigiar e Punir. Vozes: Petrópolis, 1986.

- Laraia, Roque. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1986. - Peres, Marta Simões. Corpos em Obras. Um olhar sobre as práticas corporais em Brasília. Tese de Doutorado. - Rodrigues, José Carlos. O Corpo na História. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999. - Sibilia, Paula. O show do eu. A intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. link: - Peres, Marta Simões. A mega-academia enquanto um não-lugar (filmado)


mundo fica Todo mun

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do é...

Pelado, pelado Entrevista 01

Wagner Ferraz

Vinícius Manne “pelado, pelado, nu com a mão no bolso”. No ano de 1987 um acontecimento mudou a história do Brasil no que se referia a censura. A abertura da Novela Brega & Chique criada por Hans Donner e sua equipe causou polêmica. Ao som de “Pelado”, da banda Ultraje a Rigor, a abertura mostrava um homem despido com a “bunda” a mostra, inteiramente descobertas. De acordo com inforamações no site da Rede Globo: “A censura exigiu que fosse colocada uma folha sobre o corpo do modelo Vinícius Manne, e, no segundo dia de exibição da novela, a folha estava lá, escondendo o traseiro do modelo. Mesmo assim, a Censura não achou suficiente e exigiu que o tamanho da folha fosse aumentado. Após negociações, a versão original da abertura acabou sendo liberada e voltou a ser exibida como no primeiro capítulo, embalada pelo refrão pelado, pelado, nu com a mão no bolso”. A abertura da novela ficou na história e junto com ela Vinícius Manne que se tornou ator, e de lá pra cá participou de várias novelas, peças de teatro, filmes... Vinícius fala nesta breve entrevista sobre sua participação na abertura desta novela e sua visão sobre o nu.

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Nú com a mão no bols 1 - Fale sobre a abertura da novela Brega & Chique. A abertura da novela Brega e Chique aconteceu num momento marcante. Costumo dizer que foi o fim oficial da ditadura, foi a última obra de comunicação censurada, nesse pais. Acho que aquilo foi de alguma forma, um deslize. Abriu um espaço igualitário para a mulher, enquanto consumidora do homem como objeto. E também um espaço para o homem, ser consumido daquela forma. Não vislumbro com precisão o alcance daquilo, como peça formadora de tendência - cultura portanto - por que atinge partes do imaginário popular que não me chamam atenção. Meu interesse está voltado pra outros momentos do pensamento humano e, confesso, existe uma cultura “sexista” em nosso país que me cansa. Acho que emburrece nosso povo. Acho que, quanto à isso, os sociólogos já falaram o suficiente da sensualidade do “mulato inzoneiro”. Esse pobre mulato, pra pouco se prestou além de mão de obra barata na exploração do homem pelo homem. Me parece um assunto estéril, por isso - sempre que tive oportunidade de ser ouvido – procurei chamar a atenção do povo pra necessidade de se informar, de aprender a discernir o ópio, da realidade. Discurso um tanto improvável, na boca de um modelo de 22 anos. Realmente, acho uma tolice redizer aquilo a uma peça de teor erotizante. Havia um cunho libertário, talvez até político. Aliás, a cara dos anos oitenta.

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2 - Fale sobre a abordagem dada ao corpo como algo público em situações onde a imagem e exposição do corpo nu ou semi-nu é levada como construção de um padrão de corporalidade adequada. Entendi que vc está perguntando o que acho dos padrões estéticos serem “ditados” pelas imagens veiculadas na mídia. Acho que sempre foi assim, isso é cultural. Desde a Grécia, um tipo de imagem é “definida” como a que deve ser exibida. Como é cultura, muda com otempo. No bélle epoque franês, o padrão era mulheres gordas, e assim eram as belas. Acho que hoje háum distorção de valores, onde as pessoas se rendem incondicionalmente a padrões, de forma irrefletida e até burra. Tomam drogas pra fazerem parte desse padrão, se tornam bulímicas, e outra tragédias pessais originadas por esse tipo de vazio interior. São pessoas que não sabem o que significa beleza interior, vivem mal e não poucas vezes morrem por isso.

3 - Fale sobre essa cultura “sexista” que de acordo com tuas palavras emburrece o povo. Falo de um emburrecimento vertical, que atinge a todos independente de posição social. Uma excessiva valorização do sexo como ferramenta de vendas, não por acaso nosso país é um destino turístico sexual. Acho que vem desde a colonização. Por muito tempo o português não trazia mulheres, estuprava índias e negras. Miséria, falta de educação, estupro consentido, isso se arraigou em nossa cultura. Sexo só é moeda por que há mercado. Nossa formação como país ajudou a criar esse mercado.


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Pelado, pelado 4 - Fale o que tu percebeu na visão de algumas pessoas sobre a abertura da novela Brega e Chique relacionando com o que tu cita como cunho libertário e talvez até político na abertura dessa Novela. Ficar nú, até então seria necessariamente constrangedor - ser pego com as calças na mão, uma mão na frente e outra atrás - expressões que ilustram isso. Naquela abertura o homem não ficava constrangido. No começo se escondia, mas depois se recuperava, e tranquilamente punha as mãos no bolso. A maioria dos homens se sentiu “aliviado”, via isso como libertador. Aquela peça não trazia closes do corpo, não usava a nudez com intuito erótico. Então mexia com comportamento, com uma mudança de imagem, uma perda de sisudez. Então se torna cultura, ato político. Tanto que a censura partiu de um ministro de estado, que odiou ver a imagem masculina “desmistificada”. 5 - Fale um pouco sobre a relação nu e arte. Acho que quando há arte, a nudez pode acontecer mesmo com roupa. Entenda-se por nudez - exposição, despojamento de posturas não sinceras. Na arte que faço busco isso, apresentar a emoção humana, a vivência verdadeira. Alegria, tristeza, enfim o que todo mundo vive. A arte imita a vida, quando consegue mostrar isso fielmente, é show.

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Fotos: Romeu Bart Modelo: Emerson Foto retirada porReche solicitação do modelo! 38 38 -- Informe Informe C3 C3


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Pelado, pelado

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É você ter que ficar

Foto retirada por solicitação do modelo! 50 - Informe C3


Despido de cultura


Dai não tem jeito

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Ensaio 03 Luciane Coccaro

O que a pornografia produz em nossa visão e em nossas práticas sexuais? Esse artigo não tem base em investigação de campo, mas compartilho alguns pontos de vista de alguém que se coloca como observadora – voyeur - de um universo de programas televisivos com ênfase na pornografia e no sexo explícito. Pretendo problematizar as imagens pornográficas que penetram nossa vida diária e privada. No sentido de trazer a seguinte reflexão: o que essas imagens nos causam? O antropólogo Lévi-Strauss pensou a respeito da cozinha, para ele alimento bom de comer é alimento bom de pensar. Da mesma maneira podemos perguntar em que a pornografia é boa para pensar? De acordo com Gil (1997) o corpo não fala, ele faz falar. O que representa essa exposição da nudez, de partes íntimas do corpo, de variadas maneiras de fazer sexo, ou até divisão em etapas colocadas em seqüência: sexo oral, depois sexo com penetração vaginal e no final, às vezes nem sempre, sexo anal. Isso nos vídeos mais comuns de orientação heterossexual. Na maior parte das cenas de pornografia, na TV e na internet, o papel falocêntrico do homem na sociedade dita heterossexual é reforçado. É comum cenas de duas mulheres fazendo sexo oral uma com/na outra, mas não assistimos esse tipo de prática entre dois homens, será um tabu? Será que essas imagens não estão escondendo uma homofobia? Por que duas mulheres podem aparecer transando e dois homens não? Quais os significados dessas práticas e seus arranjos? O interesse nesse assunto surgiu da constatação da imagem em torno do sexo nos programas com selo “adulto” ter virado algo de domínio público. Práticas sexuais e corpos nus-sexualizados jorram das páginas da internet e na TV. Quais os significados dessa visibilidade sexual em âmbito público? Fazer sexo é um fenômeno coletivo? Em que medida esses programas atingem nossas práticas sexuais? Como o sexo caseiro - feito no privado – se relaciona (ou não) com toda essa exposição? O que nos causam essas imagens?

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Imagens disponiveis em vídeo no site: www.xtube.com


ando a coisa fica dura Minha hipótese é a de que as práticas sexuais consumidas por meio da TV e da internet estão nos informando – como uma receita ou guia – como devemos agir no fazer sexo. Essa informação nos contamina. Segundo Katz (2001) as informações do mundo nos tocam e nos penetram num processo chamado contaminação ou contágio, graças à noção da mesma autora, de que teríamos um corpo mídia, poroso, aberto ao trânsito de informações e trocas com o meio ambiente. Segundo Hanna (1999) os historiadores da arte Margaret R. Miles (1985), Marina Warner (1985) e Edwin Mullins (1985) pesquisaram que nossa percepção é informada por imagens nos campos distintivos e opostos do sagrado e do profano. As imagens foram decisivas para transmitir informação antes do supremo reino da televisão. Nesse estudo importa perceber como a TV e a internet - através de programas de sexo explícito - transmitem conceitos de sexo. Segundo Kohlberg (apud Hanna: 1999) a teoria da modelagem fornece uma explicação: Um indivíduo tende a reproduzir atitudes, atos e emoções exibidas por um modelo observado (vivo ou filme simbólico ou televisão). Um modelo pode ser cognitivamente registrado e usado ou permanecer na memória subconsciente até que uma situação relevante o estimule. (Hanna, 1999: 37, 38) Goffman & Umiker-Sebeok apud Hanna (1999) explicaram como nossas noções de papel sexual estão codificadas na metáfora de imagens visuais na propaganda. Por exemplo, num recorte de construção de gênero masculino, temos o homem de Marlboro proclamando que qualquer homem pode ter valor de macho com um cigarro na boca. A sexualidade e suas implicações (ver Weeks, 1985; Vance, 1984) atuam através de metáforas e outros mecanismos de significação codificadora. Esses modos condensam ansiedades, desejos e aspirações em torno do prazer e do perigo, e mobilizam atitudes, energias e ações. A sexualidade e o papel sexual simbolizados concedem e adquirem valor ou significado através de imagens. Uma troca constante ocorre entre imagens e a realidade (Hanna, 1999). Deleuze (1992) argumenta sobre a importância da superfície dos corpos, porque é nas imagens de superfície – na pele, o local da inscrição dos enunciados - ora expostos, ora ocultos. Tratar das superfícies é lidar com a profundidade e não com interpretações, é perceber as dobras e redobras desses corpos em ação.

Rosa Fischer (2001) nos pergunta sobre esse aspecto da superfície se o acúmulo de imagens e informação é da ordem da experiência? Deleuze (1992) nos chama a atenção para a trama que as imagens nos propõem. Para ele uma imagem nunca está só, mas ela estabelece relações com outras imagens, mentais, pictóricas, virtuais, televisivas etc. Estamos falando de imagens e sensações sexuais compartilhadas via mídia - de prazer, de satisfação, de controle, de impulsos, de desejos. Estamos entrando no campo das emoções, mas afinal como são percebidas pela audiência estas emoções? A emoção é considerada um sentimento, e os ocidentais não fazem a separação entre sensação corporal e experiência afetiva, onde o próprio corpo é ele em si mesmo um incorporamento(2) estético de categorias específicas culturais e padrões sociais. (Desjarlais apud Leavitt: 1994) E esta noção de corpo como um incorporamento de uma cultura estética se aproxima da idéia de Lupton (1998) para quem tanto o corpo quanto as emoções - que ela prefere chamar de estados emocionais - servem para unir a natureza e a cultura. Sendo que uma forma de entender a natureza sócio-cultural das emoções é através de um olhar sobre os discursos que estão em torno das emoções. Por isto Lupton entrevistou homens e mulheres australianos sob o foco de como estes sentiam e exteriorizavam as suas emoções, o que possibilitou com que a autora recolhesse muitos discursos verbais e não retratos da realidade, que são descrições sobre as emoções vividas. Para Csordas (1988) o corpo não só faria a ponte entre natureza e cultura, mas seria ele mesmo a base existencial da cultura, o sujeito da cultura, para que isto seja possível o autor examina criticamente duas teorias de incorporação: a de Merleau-Ponty (1962) e de Bourdieu (1977; 1984); e propõe o colapso das dualidades, que nada mais é do que acabar com a dualidade corpo e mente. O paradigma de incorporamento, ou corporalidade, é entendido como emoções sentidas dentro do corpo e como estas são controladas, porque o que está em jogo é a relação entre sujeito - corpo e emoções. As maneiras como as pessoas entendem, experimentam e falam sobre suas emoções está relacionada com o senso de imagem corporal:

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Sem roupa, sem saúd A imagem corporal é um mapa ou representação do grau de investimento do sujeito no seu corpo e nas suas partes. (GROSZ 1994: 83 apud Lupton) Rosaldo (apud Lupton 1998) descreveu as emoções como pensamentos encarnados, pensamentos de alguma forma sentidos em impulsos. E a forma na qual vão ser exteriorizadas as emoções estará relacionada com limites da sociedade e padrões de comportamento culturais. As emoções são comumente sentidas e descritas como respostas a estímulos que geralmente ocorrem fora do corpo e logo criam mudanças nos estados emocionais, ou sensações dentro do corpo. (Lupton, 1998: 87) Uma pesquisa das emoções e sensações causadas por imagens de sexo explícito pode ser chave para entender de que maneira estamos sendo (ou não) tocados por tais imagens. Para tanto precisaríamos investigar aqueles, como eu – habitués – da audiência desses programas. Para um estudo específico da pornografia tanto na internet, como nos canais de TV por assinatura, sugiro algumas questões: Qual a diferença, no domínio público, de estar nu e de estar nu em situação sexual? Podemos pensar num corpo próprio para pornografia? Que corpos são esses? O que os move? Quais impulsos, estímulos e emoções estão em jogo? Nas posições e práticas sexuais variadas o que é recorrente? Será que podemos falar de uma seqüência dessas posturas? A pornografia nesses programas está servindo para informar, como regra, bula, receita, manual de aprendizado as nossas relações sexuais? No universo do Swing, essa proposta de troca de casais estará redefinindo noções de traição, fidelidade e cumplicidade? Qual o significado de fazer sexo na presença de outros casais e ainda trocando de parceiro? Quais os significados do sexo ter sido deslocado do domínio privado para a esfera pública? E as implicações disso em nossas imagens sobre sexo e nas nossas práticas? Como pensar a relação do sexo na mídia e no privado?

Nesse estudo importa perceber como a TV e a internet - através de programas de sexo explícito - transmitem conceitos de sexo. Segundo Kohlberg (apud Hanna: 1999) a teoria da modelagem fornece uma explicação:


e Sem casa, tudo é tão Um indivíduo tende a reproduzir atitudes, atos e emoções exibidas por um modelo observado (vivo ou filme simbólico ou televisão). Um modelo pode ser cognitivamente registrado e usado ou permanecer na memória subconsciente até que uma situação relevante o estimule. (Hanna, 1999:

Essas reflexões embrionárias sobre o tema mídia e pornografia colocam a questão do modo de olhar a visão de sexo da mídia. E esse olhar do telespectador é pautado na experiência de se deixar ser tocado por tais imagens. Mais do que uma imitação, a teoria da modelagem inclui atuação e escolha pessoal. O sexo explícito na mídia televisiva oferece modelos de atitudes e comportamentos, a questão está em perceber o que essas imagens nos levam a pensar, imaginar, negar, interagir, criar, esconder, sentir, viver, fazer, reproduzir, copiar... Enfim, parafraseando Lévi-Strauss e Gil: Por que elas parecem boas pra pensar?

Notas: - (1) Antropólogo fundador da Escola Estruturalista Francesa. - (2) Ver mais sobre o tema em CSORDAS, Thomas J. (1988) No texto intitulado: Incorporação como paradigma para a Antropologia.

Obras consultadas - CSORDAS, Thomas J. Embodiment as a paradigm for Anthropology. Ethos, 18: 5-47, 1988. - DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. - FISCHER, Rosa Bueno. Mídia e artes da existência: para pensar imaginários em excesso. In: Revista da FUNDARTE, v.1. n.1 Montenegro: Fundação municipal das artes de Montenegro, 2001. - GIL, José. Metamorfoses do corpo. Lisboa: Relógio D’Água, 1997. - HANNA, Judith Lynne. Dança, Sexo e gênero. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1999. - KATZ, Helena & GREINER, Christine. A natureza cultural do corpo. In: Lições de Dança 3. RJ:UniverCidade, 2001. - LEAVITT, John. American Antropologist, Arlington,V. 96, n. 3, p.758 –759, september 1994. - LUPTON, Deborah. Going with the flow. Some central discourses in conceptualising and articulating the embodiment of emotional states. In: Nettleton, Sarah & Watson, Jonathan. The body in everyday life. New York, Routledge, 1998.


A barriga pelada É que

Corpo de boneca!

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Vai! Pelado, pelado N

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NĂş com a mĂŁo no bols Entrevista 02 T. Angel

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Nuzinho pelado

Heitor Werneck Heitor Werneck é um dos maiores ícones da cultura underground da década de 90 no Brasil. Sua marca, a Escola de Divinos, vestiu milhões de pessoas, principalmente os clubbers que surgiam junto com a coqueluche nacional da música eletrônica. No auge do Mercado Mundo Mix e da Galeria Ouro Fino, lá estava Heitor Werneck com a sua marca, sempre trazendo novos conceitos. Teias de aranha fluorescentes, coroas coloridas, sapos, lagartos e insetos eram alguns exemplos das estampas trabalhadas pela marca. Indubitavelmente, a Escola de Divinos promovia uma frenesi na moda dos anos 90. Sempre atuando multiculturalmente, Heitor Werneck inovou mais uma vez ao organizar a feira Pulgueiro. Moda, música, arte, performance art, decoração preenchiam o gigantesco espaço que sediava o Pulgueiro. Iniciado também na suspensão corporal, algumas de suas suspensões foram realizadas durante as edições do evento. Por possuir diversas modificações corporais, era e ainda é comum vê-lo concedendo entrevistas falando sobre o tema. O que fez sempre com particular maestria. Atualmente, Heitor Werneck está a frente do Projeto Luxuria, uma festa de fetiche e que inclusive completa três em agosto. Talvez, essa pequena introdução fosse desnecessária pela constante atividade e feitos do nosso entrevistado. Mas se faz necessário pontuar que é uma honra e grande satisfação entrevistar alguém cujo valor cultural é imensurável e singular. Confira a entrevista!

Foto: Thiago Marzano 69 - Informe C3


Nú com a mão no

1 - T. Angel: Sabemos que você ostenta diversos tipos de modificações corporais. Conte-nos um pouco sobre o seu processo de modificação? (Quando começou, inspirações, anseios e etc) Heitor Werneck: Eu desde criança desejava ser um vampiro ou Jesus Cristo. (risos) Ai pequeno já ficava afiando os caninos na frente da TV, e a noite botava durex na orelha para deixar elas com pontas. Eu comecei a me tatuar com onze anos e com agulha e nanquim, morava no interior. Já tive várias modificações corporais, 4 transdermais, implantes penianos, implantes no peitoral, scar, branding, cutting e brincos pelo corpo. Hoje só tenho as tattoos e as scars, branding e cutting, lógico. risos Fiquei meio triste com a postura dos profissionais aqui do Brasil, de mods que eu fazia, eles até entendem a técnica, mas não te dão suporte se algo acontecer errado. Acredito que esta geração nova seja mais humilde e seja mais solidária. Infelizmente a postura de estrelismo destes profissionais aqui no Brasil é lendária e acho uma pena isto, porque no fundo nós somos os objetos de arte ambulante do trabalho destas pessoas e merecemos atenção. Não só por escolhermos eles como profissionais para realizar nossos projetos, mas também como seres humanos querendo ter alguma assessoria caso algo dê errado no processo. 2 - T. Angel: Quando você diz que morou no interior em sua infância, nos situe onde exatamente? Heitor Werneck: Fui criado no interior do Rio, depois no interior de Minas e depois no interior de SP. Meu pai era bancário, vivíamos viajando e mudando de cidade. 3 - T. Angel: Quando você cita um desapontamento com os profissionais brasileiros em relação a falta de suporte, teve alguma situação específica contigo? (não precisa citar o profissional.) Heitor Werneck: Tive várias situações desagradáveis com estes profissionais. Quando eles precisavam de mim pra estampar notícias ou fotos em bobologs, eram todos solícitos, quando infeccionava algo, eu tinha que ir em hospital ou médicos porque eles nem sabiam como lidar. Eu tive um acidente e bati o transdermal, para conseguir um profissional que olhasse o estado e fizesse algo foi dificílimo. A pessoa que fez estava sempre viajando. Tive que ir num cirurgião plástico para tirar. Não acho isto legal, destes “profissionais”, esta é uma das histórias, tenho váriaaas. Mas como disse, vejo mais humildade e preparo nesta geração nova, antes só tínhamos dois pop stars, hoje vejo mais profissionais e me parecem mais humildes. Isto é o mais legal, humildade!

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Foto: Thiago Marzano


bolso!

Pelado: Ultraje a Rigor e ainda visto. Aprendi que a porra underground sustenta a cobertura e os problemas de encanamento ficam nos andares do meio, então, eu fujo do meio e vivo nos extremos. 5 - T. Angel: Sua marca a “Escola de Divinos”, principalmente nos anos 90, vestiu muita gente. Era corriqueiro o desfile da marca entre os cybermanos das periferias e também entre as estrelas globais. Trabalhar com contrastes sociais te influenciou de alguma maneira? Heitor Werneck: Sabe eu fui punk de rua e ai tive uma grande aula sobre mendigos e ricos e tal, todos cagam... Eu sempre acreditei que contraste de cu é rola. Odeio a classe média e seu pensamento medíocre e, sempre adorei comer ricote ou camenbert, acho mussarela comum! (risos). Vestia gente que tinha a manha de se destacar e ainda visto. Aprendi que a porra underground sustenta a cobertura e os problemas de encanamento ficam nos andares do meio, então, eu fujo do meio e vivo nos extremos.

Foto: Thiago Marzano 4 - T. Angel: Além das modificações corporais, você também pratica a suspensão corporal. O que você busca com a suspensão? Heitor Werneck: Estudei teologia e fiz minha pós em Ciências da Religião. Sempre tive, como já falei, fixação em Cristo e personagens sobrenaturais. Tenho muita curiosidade em religiões antigas e nos métodos de como chegar a ter experiências místicas. Todas as formas de suspensão que fiz e faço são tiradas de rituais e tento até por sons. Tenho uma tara por estar próximo de Deus. Busco sensações corporais e quiçá algum transe místico, só tive as sensações quando fiz o coma e foi uma experiência fantástica. A melhor suspensão que fiz foi a flor de lótus e com dois profissionais do caralho, o Pingüim e o Tosacão. 5 - T. Angel: Sua marca a “Escola de Divinos”, principalmente nos anos 90, vestiu muita gente. Era corriqueiro o desfile da marca entre os cybermanos das periferias e também entre as estrelas globais. Trabalhar com contrastes sociais te influenciou de alguma maneira? Heitor Werneck: Sabe eu fui punk de rua e ai tive uma grande aula sobre mendigos e ricos e tal, todos cagam... Eu sempre acreditei que contraste de cu é rola. Odeio a classe média e seu pensamento medíocre e, sempre adorei comer ricote ou camenbert, acho mussarela comum! (risos). Vestia gente que tinha a manha de se destacar

6 - T. Angel: Em uma de suas entrevistas você fala sobre sua admiração ao modo de vida dos mendigos. Você continua os admirando? Heitor Werneck: Eu acredito piamente na anarquia que os mendigos fazem do mundo. O mundo deles tem regras e códigos e a estética dos mendigos é linda. Gosto do sujo, das cores preto, marrom, cinza e gosto das sobreposições, do jeito dos cabelos. Gosto de tudo deles, acho uma pena morrerem de frio, mas dentro de casa também morremos... Eles são únicos, você não vê um morador de rua igual ao outro, eles tem identidade. 7 - T. Angel: Sei que você não seguia tendência de moda e em diversas entrevistas renegou o título de estilista, preferindo ser chamado de costureiro. Qual a sua relação com a moda num contexto geral? Heitor Werneck: Acho um mercado de trabalho do caralho e acho que temos super profissionais legais aqui. O trampo das rendeiras do Nordeste, o bilro, o macramê, a colcheteria, o patchwork mineiro. Tivemos Zuzu Angel, Denener e um monte de gente do caralho. Acho um saco copiarmos tendências gringas, aliás, acho um saco isto só, a copia e o uso de jeans. Todo mundo com roupa igual parece uniforme, falta de estética e dizem que estão na moda? Já imaginou daqui a trocentos anos, quando forem nos estudar? A geração igual! O que acho divertido da moda é que é um império e como todo império, pode-se abala-lo. Eu sou costureiro mesmo, só tô num bairro mais caro, mas faço o mesmo processo, compro o tecido, tiro medida, corto o tecido, costuro, vendo, atendo o cliente com linha na boca e olheira por ter varado a noite, levo cheque sem fundo e tenho que correr no banco para cobrir conta.

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8 - T. Angel: Você não teme que com a busca do diferente todos acabem se tornando iguais, visualmente falando? Heitor Werneck: Eu acho que uma busca do diferente nunca resulta num igual. Todo mundo busca algo diferente do outro, isto é muito filosófico. O que não dá é pra ver todo mundo de jeans e se achando com atitude né?

que vão são lindas e produzidas e nada hypes. E pagam, não existe vip.

9 - T. Angel: Conte-nos sobre o estado atual da Escola de Divinos? Heitor Werneck: Vou abrir a loja de novo este ano. Tava meio ausente porque tive um câncer e tive como escolha entender o porquê desta doença e não ter mais ela perto de mim. Então a curei! Vou voltar com a loja, a marca neste meio tempo eu continuei trabalhando nela com roupas sob medida e figurinos pra show e tal, mas tô abrindo de novo até setembro. Tá tudo muito parado! (Risos) 10 - T. Angel: A volta da Escola de Divinos está sendo citada pela primeira vez em público, é isso? risos Heitor Werneck: Sim! É a primeira vez que falo da volta da loja! 11 - T. Angel: Como foi o processo de assimilação do diagnóstico câncer? Heitor Werneck: Eu acho que o câncer veio numa época foda. Tive uma sequência de relacionamentos ruins, um péssimo “meu primeiro amor” e um outro pior ainda. Ai minha decisão foi vou entender a doença e o porquê dela. Fiz um curso de física quântica, fiz uma escolha de religião e voltei para minha família. Fechei a loja, a fábrica e tudo. Fiz o Luxuria no final do tratamento pra me divertir e curei tudo. Agora é só sequela do tratamento. 12 - T. Angel: Dentre seus inúmeros trabalhos, temos o mercado multicultural Pulgueiro. Não há previsões de acontecer novamente? Heitor Werneck: Sim! Com a loja de volta e eu voltando para SP, fica mais fácil de organizar tudo. Vou fazer o Pulgueiro e agora com apoio né? E apoio verdadeiro! O Pulgueiro é um outro filhinho que adoro...

Foto: Thiago Marzano

13 - T. Angel: Atualmente você vem trabalhando com o Projeto Luxuria, que inclusive completa 3 anos agora. Fazendo uma análise retrospectiva, cite-nos um ponto alto e um baixo durante esses 3 anos? Heitor Werneck: Ponto alto da festa, as pessoas se vestirem, se produzirem e não usarem drogas pra se soltarem sexualmente. Ponto baixo, neste meio do BDSM há tanto preconceito como no meio de tattoo e mods e muita fofoca. Acho estranho como as pessoas que se sentem excluídas (eu não me sinto, pago o mesmo imposto e aliás queria não paga-los) e reis, dons, rainhas e tal não se juntam e só se agridem e se detonam mutuamente. Talvez por se sentirem excluídos. Mas não são todas as pessoas não, só uma parcela que se destaca e infelizmente aparece mais que o humilde que sustenta arte ou sustenta sua sexualidade em paz. 14 - T. Angel: O Luxuria retorna com o dresscode, que era comum nas festas dos anos 90. Há uma resistência a esse molde? Heitor Werneck: Nenhuma, a resistência é minha ao mundo atual e ao falso glamour da noite atual. As pessoas

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Foto: Thiago Marzano


15 - T. Angel: O projeto também se tornou um site de relacionamento. Conte-nos um pouco sobre esse salto para o território digital? Heitor Werneck: Eu odeio o mundo digital, sou real, mas tive a necessidade de abrir este site. Primeiro, o Orkut deleta perfil de BDSM, segundo, fetiche, S&M e a estética S&M é minha praia. A estética punk é formada nisto, preciso de trocas de informações e de me divertir, tudo o que faço é pra me divertir. 16 - T. Angel: Fale um pouco sobre o papel do Torture Garden como referencial para o Luxuria? Heitor Werneck: Eu sempre frequentei e fiz festas fetichistas, quando fiquei doente fui dar um role e a dona do Torture Garden é uma amiga minha, que também teve câncer. Ela falou, vai lá e faz tua festa, se divirta no tratamento e realmente isto me inspirou e não é que tá dando certo? Antes eu produzia algumas e ajudei em outra festas, mas ai não tinha a ver com o que acredito de festa de fetiche e sai delas. Eu queria fazer algo igual ao Torture Garden mesmo, um label, mais um lugar que o visu fosse o maior critério. Quando vi que nenhum lugar fazia isto e tive este conselho, fui lá e fiz. Chamei o Nagash, que é uma pessoa que acredito e que foi meu parceiro no Pulgueiro. Chamei alguns amigos donos de clubs em SP e que não faziam a festa por grana e sim por acreditarem no projeto (o Audio que eu sou super grato) e depois tá ai. Hoje em dia já tem cópia até. No meio BDSM, que tanto criticou faz igual e fico triste quando vejo que gente que não deu a cara para bater tá fazendo isto, até o nome copiam. Acho um saco, já tive roupa, tatuagem, projeto copiados e agora a festa, um saco!

Fotos do arquivo pessoal de Heitor Werneck.

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17 - T. Angel: A festa brinca com o fetiche sexual, com as fantasias e similares, todavia, é perceptível um ambiente que cambia entre o lúdico e o onírico. Era um objetivo esperado? Heitor Werneck: Sabe Neil Gaiman? O personagem Delirium, sou uma criatura de Delirium e acho que se invocamos sexualidade, mechemos com inconsciente e todo mundo dentro do inconsciente acredita num personagem né? Acho que é porque invoco deuses também, então fica energia sexual. O tantra é uma forma de magia foda né? Sexo é lúdico e delicioso. 18 - T. Angel: Agora existe o o Luxuria for men (and all). Essa iniciativa seria uma necessidade de separar o homo do hetero, uma possibilidade extra ou o que exatamente? Heitor Werneck: Os gays que pediram, eu só faço lá na SoGo porque o lugar e maior e fica um espaço no terceiro andar para os gays (que na verdade entra quem quer). Eu não acredito em separação, é principalmente isto. Mas o lugar é maior para abranger mas pessoas e também ter um lugar no domingo pra se divertir. Foi porque os gays pediram (e poucos vão aliás). Eu odeio a cultura gay dark room, faço tudo nas claras. O povo da SoGo se mostram ótimos parceiros e também.. estão apostando no projeto. 19 - T. Angel: Existem planos futuros para os próximos anos de projeto? Heitor Werneck: Tenho uma teoria assim, não sei se vou estar vivo amanhã. Faço de tudo pra estar e fazer mais coisas do que estou fazendo hoje, ou seja, milhões de projetos e tudo com pressa. Um deles é começar a fazer filme pornô. Você já viu como nosso pornô é péssimo, de mau qualidade e mau produzido? Num país que exporta puta, puto e trans? E que todo mundo dá o cu? Eu fui júri numa feira de sexo e vi os filmes, fiquei de cara com a produção feia, vamos melhorar. risos

Foto: T. Angel

Foto: T. Angel

Fotos do arquivo pessoal de Heitor Werneck

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Foto: T. Angel

Foto: T. Angel

Foto: T. Angel

Foto: T. Angel

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Crítica Teatral

Rodrigo Monteiro

Por baixo da toga ou dentro da arca Outro dia olhei a foto de um amigo em sua formatura da pré-escola. Diferente da minha que era vermelha, a bata dele era azul. Menininha, que graça é você Uma coisinha assim Começando a viver Fique assim, meu amor Sem crescer Porque o mundo é ruim, é ruim e você Vai sofrer de repente Uma desilusão Porque a vida é somente Teu bicho papão A hora em que Álvaro Vilaverde retira uma criança da platéia e faz com que, sentada no meio do palco, todas as boas energias se convertam para ela é quando nosso coração infla e nos lembramos de que somos humanos. Ao nosso lado, desconhecidos ou não, mas humanos como nós, vivenciamos o teatro, sentindo que é, em instantes como esse, que a arte se torna ritual. Crianças um dia, crianças ainda, crianças. Juntos, olhos nela como se pudéssemos olhar todas, adultos dizemos “cuide-se”, ou “aproveite” ou, quem sabe, “prepare-se”! Juntos na infância vivida, na infância perdida, na infância mantida. Juntos no medo do bicho papão. Juntos na lembrança ou na percepção ou vivência do “começando a viver”. Criança é potência. Dela vem o que virá. “A Arca de Noé”, produção da Laura Leão, da Lívia Perrone e da Patrícia Machado, fez com que, pela primeira vez em dez, onze anos, eu lembrasse de “Uma professorinha muito maluquinha” da Cia. Stravanganza ( infelizmente não há nenhuma foto desse espetáculo no Google Imagens), que me fazia lembrar de mim mesmo, na minha pré-escola, antes de vestir a toga vermelhinha. Volto ao meu passado infantil e, agora, reflito, por que, ao invés de envelhecer as crianças, são as adultos que se infantilizam em momentos como esse? Não é doce, nem colorido ser adulto? Não é leve? Não é mágico e especial ter trinta, vinte e dois, sessenta anos? Sim, acredito que, embora não sempre, às vezes é. Mas é na infância que reside a ingenuidade, que não tem nada a ver com burrice, mas que nos faz pensar sobre a mania de relacionarmos o que já vimos com o que estamos vendo, empregos antigos com o atual, velhas amizades como as que tenho agora. A criança não tem passado, ainda não consegue ver dimensões e não entende sobre o tempo.

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“A Arca de Noé” não tem história. Os atores relatam o mito do dilúvio como motivo para as músicas. Daí o principal diferencial desta produção, de Zé Adão Barbosa, dá já citada direção de Adriane Mottola. Lá a dramaturgia era fechada. Aqui é potente. Lá havia potência. Aqui há dramaturgia, mas entendendo o espetáculo enquanto atualização de um sistema, reconhecemos que cada processo consiste em (re)hierarquizar sub-sistemas de acordo com o gênero que se escolhe. Aqui é uma coletânea de músicas infantis compostas e/ou organizadas por Toquinho e por Vinícius de Moraes. Lá era a atualização para o teatro dos desenhos e textos de Ziraldo. Assim, não é pela narrativa da história bíblica que o aqui nos prende. É pela capacidade de produzir (de plantar) em nós nossas próprias histórias. (Seria “A Arca de Noé” um espetáculo infantil pós-dramático?) Os atores Álvaro Vilaverde, Beto Chedid, Lívia Perrone, Regina Rossi e Simone Rasslan se chamam pelo nome e usam um figurino (Titi Lopes) nada além de muito bonito. O cenário, bastante colorido, é de uma simplicidade imensa: não produz ambientes, mas serve unicamente para colorir o espaço e dar abrigo para elementos que não devem ser vistos em determinados momentos. Da luz (Carlos Azevedo) se diz o mesmo. Ou seja, não é através de elementos técnicos que essa produção nos prende e nos encanta. É, com certeza, pela capacidade do figurino de nos fazer lembrar nos personagens que nos fizeram sonhar; pela força do cenário que nos faz recordar as previsões que tínhamos sobre os lugares que, no futuro, visitaríamos; pela presença da luz que nos (e)leva ao nosso antigo eu. E, sobretudo, traz de volta um tempo em que não nos chamávamos por professor, escritor, mestrando, mas apenas pelo próprio nome. A experiência “A Arca de Noé” é incomparável. Podemos dizer que ela se aproxima de outras experiências inesquecíveis e nenhum pouco menores, mas é difícil falar sobre a forma como as crianças e os adultos reagem ao que acontece no palco. E aí me lembro do que se vem estudando sobre a performance, o inusitado, o aqui e agora do palco, da cena, do cotidiano. Consigo, pelo menos, observar que a incomparabilidade da experiência coletiva acontece porque é formada de pequenas experiências individuais. A direção musical de Marcelo Delacroix faz-nos contemplar Simone Rasslan, ela só um espetáculo a par-


te. O exato se vê na docilidade forte da voz de Vilaverde e na graciosidade dos outros três atores já citados. De um modo geral, mas não menos individual, de Noé a São Francisco cada humano chega, nessa assistência, a ficar próximo de Deus, mas não distante do humano. E o que vem a ser isso se não a crença em Jesus Cristo, um Deus que se faz homem? Eis que olhamos para esse espaço dentro de nós, esse lugar sagrado que reservamos para momentos em que queremos nos abrigar para não sermos vistos porque é hora de não assim sermos. É lá que encontramos os elementos em potência, o que virá a ser o que for, a volta, o retorno, o recomeço, a nova chance. Afinal, seja azul ou vermelhinha, preta , longa e solene, é o que está dentro que nos faz sermos individualmente plural, protegidos de qualquer dilúvio. Fique assim, fique assim, sempre assim E se lembre de mim Pelas coisas que eu dei E também não se esqueça de mim Quando você souber enfim De tudo o que eu amei. FICHA TÉCNICA Direção: Zé Adão Barbosa Direção Musical: Marcelo Delacroix Elenco: Álvaro Vilaverde Beto Chedid Lívia Perrone

Foto: Gustavo Razzera

Regina Rossi Simone Rasslan Preparação Vocal: Simone Rasslan Preparação Corporal: Regina Rossi Figurino: Titi Lopes Bonecos: Tânia Farias Luz: Carlos Azevedo Produção: Laura Leão, Lívia Perrone e Patrícia Machado Assessoria de Imprensa: Lauro Ramalho Foto: Gustavo Razzera


Ensaio 04

Paulo Duarte - Portugal pauloduarte.sj@gmail.com

O nu que se cobre, a descoberta do nu... “O homem e a mulher estavam ambos nus, mas não sentiram vergonha. [Mas, depois de comerem o fruto da árvore proibida] abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam nus, prenderam folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas, como se fossem cinturas, à volta dos rins”(1). Pensar o nu com uma tónica religiosa remete-me desde logo para o início, em forma de mito, narração poética, da história da humanidade, segundo a visão judaicocristã. Diz-nos o relato que o homem e a mulher estavam nus, não havendo vergonha entre eles. O nu era natural, impensável como algo a reflectir ou a averiguar, era o modo de estar e ser, que se alterou com a vontade humana de ser como Deus. A árvore proibida era-o na medida em que provocaria o endeusamento de quem dela comesse o fruto. Porque não haveria o homem e a mulher de o comer? O relato quer mostrar que o humano não pode, devido à sua condição intrinsecamente limitada, ser Deus… No entanto, comem e ao fazê-lo tomam consciência da fragilidade e a nudez torna-se sinal disso mesmo. Em causa não está a nudez, mas a forma como a realidade humana é apresentada. Podemos assim, a partir desta apresentação, ver um outro lado da nudez, sob o ponto de vista mais interior e filosófico. Estar nu… Encontrar-se em vulnerabilidade ou em liberdade. Ou até vulneravelmente livre… Tendo como pano de fundo a relação com a transcendência o humano quando está nu diante do Outro, do divinamente Outro, apresenta-se com total liberdade, ou seja, nada tem a esconder e nada a mais necessita, para além do seu ser pessoa, para ser quem é. Despoja-se interiormente para o encontro com o divino, já que é através desta relação que o ser humano poderá participar da própria vida de Deus. O encontro com a divindade em muitas culturas é preparado através de rituais de purificação, exteriores e interiores(2), que colocam a nu quem deseja esse momento de relação, com o intuito de se ser preenchido pela entidade divina. De facto, como afirma Simone Weil, “a graça preenche, mas ela não pode entrar senão onde existe um vazio para a receber(3)(…)” . A ideia de que a entidade divina tem, por um lado, a vontade explícita de penetrar nos poros do humano, por outro, o impedimento

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de o fazer caso o ser humano não se disponha a que tal aconteça, é clara com este pensamento de Weil. O despojamento, o “pôr-se a nu” diante do transcendente, é um caminho a percorrer, partindo de um autoconhecimento, passando pelo abrir de horizontes em relação ao Outro, onde o vazio é o espaço aberto resultante desses passos dados, a ser preenchido pela graça. Um artista, por exemplo, no processo de concepção passa por este vazio. A vontade de conceber que rapidamente começa a ser preenchida pela inspiração que levará a criar. Criação, que maturada, estruturada, pensada, vai revelar algo de quem a criou. No fundo, passar-se-á para o momento em que irá expor a sua obra, expondo-se, em parte, a si. Perde o sentido a criação artística que ficará fechada apenas no espaço privado. O acto de publicar, de a tornar pública, tem consigo a revelação de algo para o Outro. E aí a obra torna-se, de alguma forma, transcendente, pois sai do tempo e do espaço da sua concepção. Então aquele que concebe e que expõe, vive a ligação com o divino, participa da realização da criação divina, porque está a libertar algo de si, para o Outro. João Paulo II, na Carta aos Artistas, afirma que “o artista, quando modela uma obra, exprime-se de tal modo a si mesmo que o resultado constitui um reflexo singular do próprio ser, daquilo que ele é e de como o é (...). As obras de arte falam dos seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e revelam o contributo original que eles oferecem à história da cultura”(4). Sem desejar fazer uma generalização simplista, ao pensar neste sentido de exposição todo o ser humano é criador. Criar, no que lhe é possível, os momentos do seu dia, os encontros, as relações que vive. Expõe-se quando se dá ao outro, do mais desconhecido, até àquele com quem vive profunda empatia e intimidade, em que se destapa e revela a sua fragilidade, numa confiança plena. Como acontece este criar, do mais quotidiano ao mais extraordinário? De facto, é um caminho a percorrer, como já afirmei, através do conhecimento pessoal de si e dos outros. Dá-se neste caminhar o descobrir de quem se é. Podemos brincar com esta palavra, em que, no seu sentido literal, fala da des-coberta, neste caso do tirar o que não se conhece seja de si, seja do (O)outro, e


tirar o que não se conhece seja de si, seja do (O)outro, e também leva ao desejo de ir mais longe no descobrir, no procurar, maiores conhecimentos, ligações, novidades, que afectem a relação com o (O)outro. O ser humano e o divino têm em si esta carga de mistério, que não é o nãoconhecível, ou o não possível conhecer, mas o ter algo mais a revelar, a ir ao fundo, através da libertação do que em cada um está coberto. Todo este caminho tem uma dimensão afectiva muito forte, que passa pelo sentir, mais que o saber. O arrojar em fazer caminho na direcção da profundidade é um desafio que começa pela vontade, mas que inevitavelmente atingirá a emoção, o afecto. A tal vergonha dos primeiros homem e mulher é compreensível quando se pensa em todo este sentido do nu como revelação da própria pessoa como é, pois não sendo impossível, é difícil. No entanto, à medida que adensa o despojamento, promovido pelas descobertas feitas, a vergonha desanuviase e perde-se o medo de se estar nu diante do Outro, que, pelos passos dados em conjunto, vive-se a participação quer da humanidade quer da divindade. Assim, as folhas de figueira perante a confiança que se vive em relação ao divinamente Outro deixam de ter razão de ser e viver-se-á o nu com naturalidade, como modo de estar e ser, diante do transcendente que se esvazia para criar.

Notas: 1 - Génesis 2, 25; 3, 7. 2 - Por exemplo: as abluções, normalmente com água – já que pode ser com outros elementos -, um momento de confissão sacramental, uma caminhada ou peregrinação. 3 - WEIL, Simone – A Gravidade e a Graça. Lisboa: Relógio D’ Água Editores, 2004, p. 18. 4 - João Paulo II – Carta aos Artistas. 1999. http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/letters/documents/hf_jpii_let_23041999_artists_po.html [Visto em 2009.Jul.31].

Bibliografia João Paulo II – Carta aos Artistas. 1999. http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/letters/documents/hf_jpii_let_23041999_artists_po.html [Visto em 2009.Jul.31]. WEIL, Simone – A Gravidade e a Graça. Lisboa: Relógio D’ Água Editores, 2004.

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Coringa Auto retrato: André Liza

André Liza - São Paulo / Brasil Formado em Design de Fotografia pela Panamericana Escola de Arte e Design. Estudante do curso de graduação tecnológica de Fotografia na Universidade Anhembi Morumbi. Tem um trabalho constante e parelelo com séries de auto-retrato. Diploma em vários cursos que abordam interesses na area de maquiagem, iluminação, tratamento de imagem, direção de modelos. Tem interesse, experiencia/pesquisa assuntos como: Comportamento, expressão corporal, cores no processo de criação de imagens, audiovisual, retratos, auto-retrato. Portifólio on line no flickr: http://www.flickr.com/photos/keybaba/

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Banco de Dados Terpsí Wagner Ferraz Foto: Anderson de Souza Intérprete: Angela Spiazzi

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Terpsí Despir os vícios As obras da Terpsí Teatro de Dança apresentam possibilidades de criar cenas onde tanto o conjunto como cada parte, cada movimento, cada momento, cada elemento cênico leva a pensar no despir alguns vícios que podem ser encontrados facilmente em alguns espetáculos. Talvez a palavra “vício” possa ser substituída por outra, mas aqui ela é usada para designar códigos, imagens, lembranças e elementos muito comuns e repetitivos que muitas vezes não surpreendem. Não que toda obra coreográfica deva surpreender, pois um espetáculo ou processo criativo em dança pode falar de alguns clichês ou de imagens extremamente comuns. Porém a forma como o coreografo irá apresentar isso é que faz a diferença. Muitas vezes algumas pessoas repetem o tempo todo para outras que as amam, para quem ouve pode ser algo interessante, mas com o tempo também pode se tornar algo tão simples, tão comum que pode passar a ser visto e compreendido com banalidade e nem faça mais diferença. Pois o “Eu te amo” é dito tantas vezes e para tantas pessoas que já não surpreende mais. Mas quando alguém está doente e precisa simplesmente de alguém do lado da cama pra segurar a mão, sem nem mesmo falar nada, talvez considere isso mais importante do que ouvir, “eu te amo”. Assim pode-se compreender que falar que se ama alguém pode ser algo simples, comum, corriqueiro sem surpresas, e tantas outras coisas que leve a refletir sobre isto. Mas o fato como se diz isso é que faz a diferença. Pode-se dizer através de atitudes de ajuda, através de atenção, através de respeito, através de um abraço, através de um presente, como cada um preferir. Mas sem pronunciar em nenhum momento a frase: “EU TE AMO”. Ou repetir quantas vezes quiser, é uma questão de escolha. Na dança também se pode perceber isto. Podese falar de coisas simples, comuns e extremamente cotidianas, mas a forma como vai se falar sobre isto é que faz uma dita diferença. Algumas cenas na dança viraram tão comuns em tantos espetáculos que se pode assistir a um espetáculo de dança contemporânea por ano e falar de alguns outros sem nem mesmo assisti-los. Mas como foi dito, pode-se falar de alguns outros, não de todos. Assim, no caso de trabalhos que fogem do clichê, que surpreendem de forma simples, que prendem o espectador e que levam a pensar sobre muitos assuntos, estão as obras da Cia Terpsí Teatro de Dança. A Terpsí fala da dor sem os interpretes necessitarem fazer uma expressão dolorida no rosto, uma expres-

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são cansativa, uma expressão que não se sabe se é pra falar da dor ou se é pela falta de noção do coreografo, diretor ou interprete que não perceber uma linha tênue entre o falar sobre algo e lançar as propostas, e falar de algo e esfregar na “cara” do espectador o que está se querendo dizer. Às vezes as palavras não são necessárias, às vezes na dança contemporânea pode-se pensar em despir o intérprete de alguns exageros que podem muitas vezes prejudicar a obra. É importante pensar em estimular o intérprete, “dar asas” a estes para que tenham coragem de se despir de postu-


ras tão duras e formatadas que parecem gritos dizendo quais técnicas construíram aquele corpo para a dança. Se for se falar de uma técnica especifica, apresente-a e a assuma. Mas se for falar de algo sem a intenção de se utilizar fielmente de uma técnica especifica, é importante que não se tenha medo de se despir dela, de utilizar o que for necessário, de explorar as intenções e dinâmicas aprendidas nos anos de aperfeiçoamento técnico, mas dispa-se... Carlota Albuquerque, coreógrafa e diretora da Cia Terpsí, permite e auxilia que seus intérpretes abram mão

do que se tem, para olhar para isso tudo e decidir o que se pode ou deve usar, o que se pode ou deve vestir, tudo de acordo com o contexto proposto na obra. Então é um constante despir para depois escolher e se vestir. O despir na dança nem sempre precisa ser o despir-se do figurino, nem sempre é entrar em cena sem roupas, mas tentar ao máximo despir o intérprete de tudo o que tem, de tudo que o construiu, parece algo difícil, impossível... Seja o que for a tentativa é um exercício importante, um exercício apresentado e vivenciado sempre pela Cia Terpsí, e que se pode perceber quando os intér-

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pretes estão em cena e não dão indícios ou anúncios do que vai acontecer, e as coisas acontecem. Ao contrário de alguns bailarinos que se “armam”, “inflam”, preparam visualmente um movimento como se fosse um jogador de futebol se preparando para bater um pênalti. O pênalti é extremamente importante em uma partida de futebol, mas a partida não se constitui apenas de pênaltis. E se observarmos os jogadores de futebol, perceberemos que a ação do outro e o resultado que apresenta através da bola faz com que escolhas devam ser tomadas de imediato e automaticamente talvez tendo que se despir de alguns vícios para não perder a chance de chutar a bola no drible. Dança é dança, futebol é futebol, mas nos dois casos o que constrói a cena é o movimento, mesmo que seja só o movimento dos olhos que observa a hora adequada de se “despir” dos vícios. Porém nos dois casos se não se estiver preparado para se despir, essa roupa simbólica e fundamental pode vir a atrapalhar. Nas obras da Cia Terpsí pode se perceber que o intérprete constrói a cena despindo-se e vestindo-se o tempo todo. É um jogo onde as estratégias são traçadas através de escolhas premeditadas em longas horas de ensaios. Todos os intérpretes exercitam que a cena se constrói a partir do camarim, e o intérprete entra na cena onde o público se encontra com objetivos de falar algo, com objetivos de falar do assunto que já se iniciou fora do palco. Dessa forma, fogem de algumas situações como as em que os intérpretes entram em cena como se estivessem dizendo – “estou entrando em cena e vou dançar” – e em seguida realizam seus movimentos, cumprem com suas “obrigações” e concluem como se estivessem dizendo – “conclui, estou saindo da cena”. A Terpsí Teatro de Dança convida de uma forma tão sutil o espectador a se despir de suas “lentes”. Lentes essas que apontam muitas vezes para um único formato de dança. Pois muitos espectadores dizem ao fim do espetáculo que se sentiram dentro da obra. É como se despir do mundo lá fora e vestir um mundo novo que cria possibilidades de vestimenta que escorrem sobre cada sujeito. E ao fim do espetáculo, busca vestir o traje social construído pelos meios onde cada um transita, e lembrando-se das cenas onde os corpos cobertos se despiam o tempo do todo de certos vícios, estimulando o espectador, pelas imagens, a se despir de certos códigos sobre a dança ou sobre os assuntos apresentados.

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Ensaio 05 Francine Pressi

“Os opostos se distraem, DISPOSTOS se atraem” A frase aqui tomada como título deste ensaio, que me remete bem a situação dos artistas independentes no Brasil, tema o qual me proponho a escrever, é uma criação de Fernando Anitelli, ator, músico e compositor, responsável pelo surgimento de um projeto paulistano chamado “O Teatro Mágico”, que visa, nas palavras do próprio Anitelli, romper com o monopólio das gravadoras, com a falta de democracia na comunicação(1). O Teatro Mágico é uma grande trupe de músicos, atores, poetas e artistas circenses que buscam através da arte independente, mostrar o seu trabalho e ganhar espaço no meio cultural sem ter que pagar por isso. No próprio site oficial da trupe há uma frase que diz: “virilizar sem pagá jabá”(2), ou seja, utilizar as novas tecnologias para difundir a informação de forma gratuita, fazendo uso, por exemplo, de sites de relacionamentos como YouTube e Orkut, para explorar a questão do livre compartilhamento das músicas na internet, defendendo a bandeira da música livre. Nas palavras de Anitelli, cedidas à uma entrevista à Revista Gloss: A internet é uma ferramenta poderosa. Eu disponibilizo tudo de graça mesmo, esse processo de comunicação novo é sensacional. O nosso objetivo é tocar em Marte, se for possível e só a internet pra divulgar o nosso trabalho tão bem. Você lembra que existiam as fitas cassete e todo mundo gravava música pra todo mundo? Era a mesma coisa, mas em uma mídia diferente. O You Tube acabou com a MTV. Nós temos mais de 1700 vídeos publicados lá, mas só fizemos dois. É muito louco isso. As gravadoras querem pegar nosso dinheiro e a internet, não... (Fernando Anitelli, GLOSS, s/d) A arte independente, de uma forma geral, possibilita muitos artistas estarem divulgando seu trabalho de forma gratuita, livre das imposições colocadas por grandes empresas fonográficas, editoras e outros grupos que monopolizam o mercado cultural. E uma das maiores batalhas travadas neste sentido, é o fato de o artista acabar perdendo certas peculiaridades de seu trabalho em função de ter que se adaptar às regras estabelecidas pelo jogo comercial, pelo marketing. Os artistas independentes defendem a ideia de que é preciso ter um ideal, e lutar para mantê-lo, sem ter que modificá-lo ou pagar altos valores apenas para estar na mídia, nos grandes meios de comunicação. O departamento de marketing, ao traçar as suas estratégias de promoção, interferia na criação artística, definindo

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as características do produto, mediante análises de mercado. Disso resultou um alto grau de padronização, pois para obter um lucro certo, dentro de um mercado bastante imprevisível, era preciso investir em fórmulas já testadas e consagradas. Assim, surgiu o “artista de marketing”, que contava com mais recursos investidos na promoção e na divulgação do que na produção musical propriamente dita e alcançava um alto índice de vendas, mesmo que por um período de tempo curto. (LOPES, 2005, Pg.3) Logo, não depender destes grandes veículos de comunicação para produzir, veicular, divulgar o trabalho, é uma maneira do artista garantir seu ideal artístico, mantendo suas características próprias, suas peculiaridades. Em contra partida, necessita percorrer um árduo caminho para atingir e conquistar um público específico, já que sua imagem não se faz tão presente na grande mídia como ocorre com o artista de marketing. Sobreviver da arte independente no Brasil é uma guerra. Tem que ter humildade e cabeça fria. No rádio, a gente não toca porque tem que pagar jabá (dinheiro em troca da execução das músicas). E, como a gente não é gravadora nem pretende ser, a gente não toca. A gente acaba tendo divulgação melhor em cidades pequenas e em jornais regionais. Os artistas acham que tocar no rádio e na televisão são as únicas formas de ganhar dinheiro e fazer seu trabalho. Mas isso não é verdade. (Fernando Anitelli, GLOSS, s/d) Assim, em busca desta formação de público, o artista disponibiliza o seu trabalho à valores extremamente acessíveis à população, e até de forma gratuita na internet, ganhando visibilidade e disseminando a informação de forma muito rápida, rompendo fronteiras através da rede, levando seu trabalho para qualquer parte do mundo. Ao produzir o seu próprio disco, o músico tem a total liberdade de criação e pode se dedicar a uma música com propostas estéticas diferentes e, algumas vezes, inovadoras, ocupando uma lacuna deixada pelas grandes gravadoras que resistiam em lançar novos artistas, ainda desconhecidos, que já não tivessem sido testados. (LOPES, 2005, Pg.5) Andréa Lopes, em seu artigo A Música Independente e a Vanguarda Paulista, traça as origens destas manifestações artísticas em prol de uma música livre do poder econômico e/ou ideológico.


Em finais da década de 1970 e inícios da década de 1980, havia uma manifestação artística expressiva que não encontrava espaço de divulgação na mídia e também não atraía o interesse das grandes gravadoras, as majors, que não vinham mais investindo em novos nomes que despontavam na cena musical. Visando furar o bloqueio estabelecido pelas gravadoras que dominavam o mercado de discos no Brasil, muitos artistas assumiram a produção independente de seus discos e várias experiências de selos independentes surgiram, gerando uma produção intensa realizada fora dos domínios das majors, que marcou a produção fonográfica do início da década de 1980. (LOPES, 2005, Pg.1) Acompanhando o discurso de Anitelli em uma série de vídeos disponibilizados no youtube, e em entrevistas cedidas à algumas mídias da rede, é possível observar que, assim como na fala de outros artistas independentes, há um ideal muito forte por trás de toda esta independência, que é, buscar uma cultura mais democrática, rompendo com o monopólio criado, neste caso, pelas grandes gravadoras. Segundo Anitelli: Hoje, o que vemos e ouvimos em TV e rádio já está automaticamente contaminado. Tratam a cultura popular como entretenimento. Quando eu montei o projeto, sempre tive esse ideal de bater de frente. É importante ter um ideal, pois, senão todo o projeto seria só colorido, engraçadinho. O povo espera do artista uma contestação. Ninguém espera isso do padeiro, do cobrador de ônibus. O artista tem de falar, contestar, bater de frente mesmo. (Re-Vista!, março, 2008) A disseminação da arte independente no Brasil e a visibilidade destes artistas em um plano cultural em que a área de entretenimento ganha destaque se comparado aos trabalhos genuinamente culturais de cada região do país, é também uma questão muito presente na fala destes artistas, que buscam uma identidade própria e que investem nesse ideal na tentativa de fugir dos padrões estéticos e do sistema monopolista em que se encontram os meios de comunicação. Sobreviver de arte indo contra todo este sistema é possível, mas é também necessário muita disposição e paciência por parte destes artistas, que vão buscar uma maior articulação nesse sentido, através de união com pessoas que busquem o mesmo ideal que eles, a final, os dispostos se atraem! Pirataria Funcional Algo que também, frequentemente ocorre, é a questão do debate a cerca da pirataria. Na arte independente a pirataria não é vista como crime, mas sim como algo funcional, como uma maneira de divulgação para atingir um grande público, ela é vista como uma forma de disseminação de cultura, já que disponibiliza as obras à valores extremamente acessíveis à população. E tem que tomar um pouco de cuidado quando a gente fala em pirataria, o conceito que se dá à isso, né, que pirataria é do roubo, e a gente na verdade não ta defendendo o roubo, a gente tá defendendo o livre acesso à música, o livre acesso à cultura, entendeu? Então o Projeto Vinagrete, as músicas, os vídeos, todas as nossas coisas, estão

Assim, em busca desta formação de público, o artista disponibiliza o seu trabalho à valores extremamente acessíveis à população, e até de forma gratuita na internet, ganhando visibilidade e disseminando a informação de forma muito rápida, rompendo fronteiras através da rede, levando seu trabalho para qualquer parte do mundo. 91 - Informe C3


disponíveis, são para todos como diria a música do Chico Buarque. (Lucas Limbertt – Projeto Vinagrete - A Arte Independente – O Sucesso sem Jabá) Para os artistas independentes crime não é piratear(3), mas sim vender um cd à R$30,00 e este valor não ser repassado ao artista, crime é ter que pagar jabá(4) para colocar sua música nas rádios ou na televisão. Ser independente é ser um pouco revoltado com este sistema que se instaurou, que a gente é obrigado à acreditar que é assim que funciona a coisa, mas não, não é assim, quando a gente fala que nós somos dependentes, nós somos pessoas expostas à criar uma nova relação, uma nova postura, uma nova economia. (Fernando Anitelli - A Arte Independente – O Sucesso sem Jabá) Questiona-se aqui o seguinte fato, se a maioria dos artistas possivelmente ganham muito mais dinheiro em função da realização de shows do que propriamente com a venda de cd’s e dvd’s, será que estes artistas também não estariam em vantagem ao ter sua obra pirateada, já que assim acabam atingindo também um número mais expressivo de público em seus shows? Não estariam eles, ou sua obra, muito mais visíveis (e acessíveis) ao seu público? Até que ponto a pirataria é positiva para estes artistas e para as grandes gravadoras? Gostaria de encerrar este ensaio com uma frase citada por Fernando Anitelli na entrevista cedida à revista Gloss, onde referindo-se à contratação por grandes gravadoras multinacionais, ele ironicamente retrata a realidade em que se encontra um artista independente, que como no caso dele, vem obtendo um relativo sucesso (ainda se comparado aos ditos artistas de marketing) e que tem seu projeto artístico sondado por este sistema:

A disseminação da arte independente no Brasil e a visibilidade destes artistas em um plano cultural em que a área de entretenimento ganha destaque se comparado aos trabalhos genuinamente culturais de cada região do país, é também uma questão muito presente na fala destes artistas, que buscam uma identidade própria e que investem nesse ideal na tentativa de fugir dos padrões estéticos e do sistema monopolista em que se encontram os meios de comunicação.

“Eles oferecem uma Ferrari e você só tem uma bicicleta. Mas, como eu acredito no ET, faço minha bicicleta voar.”

Referências

NOTAS:

- A Arte Independente – O Sucesso sem Jabá - Documentário com Projeto Vinagrete, O Teatro Mágico, Cia. Truks. Roteiro e Direção de Mariana Cunha, Renatha Nicolau e Roberta Fernandes. Produção Caio Vieira, Fábio Bauer, Mariana Cunha, Renatha Nicolau e Roberta Fernandes. 2007. http://videolog.uol.com.br/video.php?id=290324 – vídeo acessado em agosto de 2009.

(1) - Frase retirada de uma entrevista concedida em 2008 para a Re-Vista! no site: << http://re-vista.info/2008/03/entrevista-fernando-anitelli/ >> (2) - Frase retirada do site: www.oteatromagico.mus.br. Conforme a explicação contida no vídeo A Arte Independente – O Sucesso sem Jabá (http://videolog.uol.com. br/video.php?id=290324) o termo Jabá é uma gíria para suborno – dinheiro, presentes ou vantagens em troca de exposição na mídia. (3) - O termo piratear está aqui inserido não no sentido de gravar e vender ilegalmente estes CD’s ou DVD’s, mas sim no sentido de gravar este material para uso pessoal. (4) - Compra dos meios de comunicação

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- LOPES, Andréa Maria Vizzotto Alcântara - Anais - III Fórum de Pesquisa Científica em Arte - A Música Independente e a Vanguarda Paulista - Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Curitiba, 2005.

- O Teatro Mágico – www.oteatromagico.mus.br – acessado em julho de 2009 - YouTube - http://www.youtube.com/ watch?v=eFWJRBWH698 - vídeo acessado em agosto de 2009. - Entrevista com Fernando Anitelli - www.gloss.abril.com. br – acessado em agosto de 2009. - Entrevista com Fernando Anitelli - www.re-vista.info/ – acessado em agosto de 2009.


Leituras Indicadas

Título: Corpos e Cenários Urbanos: Territórios Urbanos e Políticas Culturais Autor: Henri Pierre Jeudy e Paola Berenstein Jacques (orgs.) Editora: EDUFBA. Ano: 2006.

Os autores reunidos neste livro fazem parte do projeto de cooperação internacional CAPES-COFECUB “Territórios Urbanos e Políticas Culturais”, que já promoveu seminários em Salvador, Rio de Janeiro, Paris e Bordeaux. Neste livro, os autores analisam como se transformam as relações entre urbanismo e corpo, entre imagem e corpo, e entre o corpo urbano e o corpo do cidadão.

Título: Identidade e Diferença Autor: Tomaz Tadeu da Silva (org.) Editora: Editora Vozes Ano: 2007 Compreender o que é identidade é fundamental para se entender o que é diferença. Leitura fundamental para que busca abordar estes assuntos.


T. Angel

Fotos: Walter Oikava

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Fotos: Gr達o Imagem - Cavalera - SPFW Primavera/Ver達o 2009/2010.

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Entrevista 03

Ricardo Marinelli Fotos: Alessandra Haro

1 - Na performance “Eu tenho autorização da polícia para ficar pelado aqui” você tenta envolver o espectador num espaço público. Seu objetivo é democratizar a arte ou desmistificar a nudez? Busco engajar as pessoas na ação fazendo-as se responsabilizar pelo trabalho, porém, sem formas pedantes ou violentas. A primeira condição é que elas escolham como querem que aconteça. É uma fricção interessante, na qual o público não se sente coagido a participar. A segunda questão é o valor. Que tipo de valor ele quer atribuir ao trabalho. É preciso agregar valor à arte? Tenho minhas dúvidas. Mas, ainda assim, e por isso, elas escolhem quanto vão contribuir para acontecer o espetáculo. Ou se vale a pena pagar. Essa é uma questão que assombra o artista e atravessa a história da arte. Eu compartilho essa questão com as pessoas no momento em que, após elas fazerem a contribuição monetária para a apresentação, que tipo de valor tem uma pessoa se movendo em sua frente. A terceira questão é algo que chamo de quase uma obsessão, que é ficar nu diante das pessoas. 2 - Como surgiu essa obsessão pela nudez em público? Surgiu com um trabalho em 2003, no qual se encenava um espetáculo no primeiro andar de um espaço cultural em Curitiba (Casa Hoffmann). A ação era do lado de dentro da casa, mas usávamos como camarim a sacada de fora, onde ficávamos (eu e outro performer) nus durante muito tempo. Então você tinha a peça de dois lados. Chegou uma hora que tinha mais gente do lado de fora do que de dentro. E, mais tarde, apareceu a guarda municipal, que ameaçou parar a performance e o evento. Depois dessa cena me senti muito interessado em aprofundar minha discussão artística sobre idéias de nudez. 3 - E como estas questões foram processadas em seu trabalho? A primeira coisa que fiz foi ir a legislação para tentar entender o que faz com que ficar sem roupa diante de alguém seja inclusive passível de prisão. Na legislação não há descrição do que é esse atentado ao pudor, quem decide é o policial, na própria cena. Então quis saber, com a própria polícia, como fazer para ficar nu sem ser atentado ao pudor. E me explicaram que, se você é artista e quer ficar pelado na rua, basta demarcar um espaço e um momento e pedir autorização. Eu nunca cheguei a conseguir essa autorização, mas tais acontecimentos acabaram virando uma ação que leva esse nome (eu tenho autorização da polícia para ficar pelado aqui), que é um trabalho onde

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Ricardo Marinelli nasceu em 1981, em Curitiba, no Paraná. É artista e pesquisador em arte contemporânea, integrante/fundador do coletivo Couve-Flor - Mini Comunidade Artística Mundial, de artistas independentes em Curitiba. Ricardo fala sobre seus trabalhos e pesquisas em dança com foco no corpo nu.

A primeira coisa que fiz foi ir a legislação para tentar entender o que faz com que ficar sem roupa diante de alguém seja inclusive passível de prisão.


4 - Você já realizou essa performance em diferentes países. Há diferença na relação com os público? Eu só fico pelado caso alguém peça. Em Berlim, as coisas são diferentes. É uma outra organização, pensa-se de outra maneira. É uma cidade que, por exemplo, o metrô não tem catracas. Uma vez apresentei durante uma hora e meia perto de uma espécie de Sesc de lá, freqüentado por público da Terceira Idade. E fui muito bem recebido. Pediam para eu trocar de roupa constantemente e, no final, até me chamaram para jantar com eles. No interior de São Paulo também tive algo parecido, por incrível que pareça. Em São José do Rio Preto, talvez pelo próprio festival de Teatro, as pessoas mais se empolgaram do que reprimiram. Em compensação, Curitiba, que é uma cidade grande mas que guarda algumas características de província, há uma postura meio blasé. As pessoas vêem e fingem que não é nada. Mas, no interior do Paraná, em Irati, houve uma vez que dancei no meio da praça, em frente à igreja da cidade, onde aconteceriam dois casamentos no dia, além do encontro do grupo de jovens. Minha performance aconteceu bem no intervalo dos casamentos. No final, acabei pegando o público saindo de um, entrando em outro, além do grupo de jovens da igreja chegando. Uma experiência bastante forte. No final das contas, tive mais problemas com instituições do que com o público. É assim, a censura fica mais nas instituições artísticas e culturais do que nas pessoas. Ainda existe muito pudor das conseqüências.

Não sou favorável à conservação pela conservação, nem a transgressão pela transgressão, mas à conservação daquilo que precisa ser conservado e a transgressão do que precisa ser transgredido.

5 - Mas como você avalia essa censura das instituições? É algo que está na raiz da instituição social em nossa sociedade. É nela que se mantém o status quo, e abandonar essa função é como tirar a as instituições de seu lugar. Sinto que, quando uma instituição aceita transgredir essa moralidade, ela aceita transformar sua própria função na sociedade. Mas há um limite de até quando e até onde está disposta a transgredir. Não sou favorável à conservação pela conservação, nem a transgressão pela transgressão, mas à conservação daquilo que precisa ser conservado e a transgressão do que precisa ser transgredido. É uma reflexão sobre o que serve e o que não serve mais para organizar a nossa vida. Em meu trabalho faço isso com a nudez. 6 - Como se sente nu em público e como lida com a nudez na sua vida? Quando comecei, as primeiras coisas que fazia nu ainda tinham um tom agressivo, um aspecto de provocação ao público. Com essa postura, vi que as pessoas se sentem agredidas. Devagar, vi que quanto mais isso fosse corriqueiro, mais elas se familiarizariam. A idéia não é espetacularizar a nudez, e foram alguns anos de trabalho para perceber isso. Sinto que a grande questão de corpos nus está relacio-

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Também há uma relação com a indústria da beleza, do jeito que as pessoas se enxergam e que faz com que se sintam reprimidas. Toda a pressão da propaganda e da sociedade por um corpo modelo acaba levando as pessoas a se esconderem, se reprimirem. É algo que precisa ser questionado, já que a mesma instituição que me proíbe de tirar a roupa completamente paga por um outdoor com uma modelo usando quatro centímetros de pano sobre o corpo, cobrindo apenas mamilo e virilha. A noção de moralidade relacionada com o nu é muito complexa e merece um pouco mais de atenção. Mais uma vez afirmo que de certa forma isso é uma das coisas que procuro fazer através da minha arte. 7 - E atualmente? A quantas anda sua investigação com a nudez? Continuo muito interessado em discutir a nudez, mas isso vai ficando cada vez mais complexo. Não se trata somente de abordar o fato de tirar a roupa, mas de investigar o que tenho chamado de “estado nu”. Uma obsessão por trabalhar com o ato de desnudar-se, em diversos e amplos sentidos. Em meu último solo, chamado “Quase nu”, pude avançar nessa direção. Há muito me interesso pela empatia que pode se construir entre obra cênica e público a partir da exposição frágil do artista. Me parece que o mecanismo que opera na construção dessa espécie de cumplicidade, entre quem vê e quem faz, tem relação com as formas de estar nu diante de alguém. Trata-se, talvez, de um processo de identificação que se dá sensorialmente e pelo acionamento de algo relacionado com a memória, como se a atitude nua de certa forma me desnudasse. Isso tudo, no caso da organização cênica, é atravessado por uma importante questão: a cena é artificial, e ao ser artificial, é de certo modo mentirosa. Como se desnudar e mentir ao mesmo tempo? Fragilidade, cumplicidade, nudez e mentira parecem palavras que oferecem articulações interessantes para esse projeto. Tentando esmiuçar melhor essas idéias: O formato do meu corpo e a forma com que ele se move distingue e define em mim algum tipo de identidade? Como isso se revela? Na verdade, será que se revela? Tirar toda a roupa é um jeito de revelar essas intimidades? Como a nudez pode existir/existe no corpo em movimento? Tais perguntas ajudam a circunscrever meu quase obsessivo interesse por revelar intimidades que residem no corpo em movimento. A idéia de nudez aparece aqui como limite a perseguir nas ações organizadas em cena. Resgatar minhas intimidades e encontrar formas de torná-las públicas, configurando assim uma ação que me desnuda. Perseguir a nudez é, por conseqüência, perseguir uma organização cênica que coloca em jogo fragilidades. Não se trata de um estado unicamente vulnerável, mas de uma presença

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Ricardo Marinelli

nada à “fetichização” do corpo na sociedade industrial. O grande nó que precisa ser desfeito é o do corpo como imagem de fetiche. A única coisa que transforma o corpo em atentado ao pudor é relacionar sua nudez imediatamente com o sexo, como se significasse isso.



orquestradamente frágil. O trânsito que estabelece entre nudez e fragilidade tem como pano de fundo a intenção de construir entre público e obra uma relação de cumplicidade. Artista e platéia são cúmplices no sentido de compartilharem, em alguma medida, a humanidade que reside no estado frágil. E todas essas relações se estabelecem num ambiente artificializado. Não me interessa desconsiderar que a cena é impreterivelmente um contexto artificial. Ou seja, mesmo que meu esforço artístico-investigativo seja por perseguir a nudez, ela será exposta numa situação controlada, e portanto com boa dose de mentira. É por aí que estou caminhando. Ricardo Marinelli (1981) é artista da dança, educador e pesquisador em dança e arte contemporânea, integrante do Couve-flor minicomunidade artística mundial, coletivo de artistas independentes em Curitiba. Foi professor de Dança e Atividades Rítmicas no Departamento de Educação Física da UFPR, universidade pela qual é Licenciado em Educação Física e Mestre em Educação. Teve dois de seus trabalhos selecionados para a programação da terceira edição do Move Berlim, Festival de dança contemporânea na Alemanha, em abril de 2007 e já apresentou seus trabalhos e ministrou oficinas em diferentes país da América Latina e Central. Mais informações sobre os processos de criação de Ricardo: www.nudezmentiracumplicidade.blogspot.com www.asobrasdentrodaobra.blogspot.com www.couve-flor.org

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Há muito me interesso pela empatia que pode se construir entre obra cênica e público a partir da exposição frágil do artista. Me parece que o mecanismo que opera na construção dessa espécie de cumplicidade, entre quem vê e quem faz, tem relação com as formas de estar nu diante de alguém.


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Ensaio 06

Anderson de Souza

A moda influencia na construção de identidade? A moda pode ser percebida como um fenômeno social que surge e se manifesta a partir da necessidade de mudança, a necessidade do indivíduo se diferenciar do outro. Através da roupa é possível encontrar diferentes possibilidades de cobrir um indivíduo, sendo um dos elementos que auxilia o homem nesta busca pela diferenciação que automaticamente reflete na construção de identidades. Historicamente o conceito de moda nasceu quando os burgueses começaram a imitar o modo de se vestir dos nobres e aristocratas que eram os modelos que hierarquicamente detinham o poder. E uma das formas encontradas pelos burgueses para se representar como nobres era através das roupas. Eles almejavam ser identificados como aristocratas, e os nobres por sua vez, mudavam sua forma de se vestir para não serem confundidos com os burgueses, para não serem identificados como burgueses. “a necessidade de diferenciação fez com que os aristocratas se dedicassem a criar sempre novos trajes para distinguirem-se na aparência e na hierarquia” KALIL (2003, p.61) E isto acabou se tornando um ciclo vicioso de busca por identificação e conseqüentemente diferenciação que permanece presente em muitos grupos sociais até os dias atuais. De acordo com Silva (2007) identidade é aquilo que se é, e diferença é aquilo que o outro é, ou seja, para haver identidade é necessário que haja a diferença, pois uma depende da outra para existir, são inseparáveis. A exemplo do burguês, citado anteriormente, que sabe que é burguês, pois existem outros diferentes dele como o nobre ou aristocrata. Essa diferença possibilita perceber quem se é, e automaticamente auxilia, reflete e muitas vezes contribui com a construção da identidade. E o que dizer a respeito dos casos em que pessoas de baixa renda investem todo seu salário do mês na compra de uma bolsa, ou um par de tênis ou ainda uma calça, Se valendo deste artefato como um passaporte para circular em um território elitizado? Não seria a mesma situação que ocorria entre o burguês e o aristocrata? Silva (2007) complementa que a identidade e diferença são importantes ferramentas que auxiliam na comunicação, que por sua vez acabam sendo ferramentas da linguagem. Pois o homem como ser social e relacional necessita que aconteçam as trocas para que esta comunicação se estabeleça. E para que isto aconteça:

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“a identidade e a diferença têm que ser ativamente produzidas. Elas não são criaturas do mundo natural ou de um mundo transcendental, mas do mundo cultural e social. Somos nós que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais. A identidade e a diferença são criações sociais e culturais”. SILVA (2007, p.76) E para que a moda exista é necessário que haja comunicação, pois sem ela eventos de moda como São Paulo Fashion Week e Fashion Rio(1), ou mesmo qualquer outro evento onde haja um desfile de moda perderia a razão de existir. Afinal de contas tratam-se de eventos que tem por objetivo atrair a atenção da mídia e de seus consumidores para divulgar, lançar, mostrar as propostas em artefatos de moda para próxima estação. Eventos que visam propagar informações de quais serão as novas maneiras de se interferir na aparência física para se estar de acordo com os novos modelos da moda. Estar “na moda”, digo, vestindo os mais recentes lançamentos disponibilizados pelas indústrias da moda. Pelo fato de se buscar utilizar de artefatos novos “novos”, diferentes dos utilizados anteriormente como forma de se firmar uma determinada identidade, pode ser interpretada como uma forma de expressar seu poder e busca por visibilidade. Onde dentro do mesmo ponto de vista Sant’Anna (2006) comenta que este “comportamento das classes dominantes em estar sempre renovando seus padrões da moda, com o objetivo de recompor os sinais de hierarquia social, que logo serão de novo imitados” (p. 03) E se é necessário haver identidade e diferença para que se estabeleça a troca e a comunicação, para Malysse (2008), o corpo é um dos principais vetores da comunicação social. Onde as roupas acabam sendo incorporadas como uma extensão do corpo contribuindo com a afirmação do ego. Sendo por meio das aparências corporais que se estabelecem noções de identidade e diferença na moda. A autora complementa que “a aparência física humana estabelece e codifica relações significativas entre visual, cultural e o corporal”. (p.106). Sendo estas relações que possibilitam ao ser humano se representar, copiando, imitando ou se diferenciando de seu semelhante no meio social onde está inserido. Se para haver a construção de uma identidade é necessário que haja o outro , de modo que surjam trocas que resultem em uma comunicação afim de que se percebam as diferenças que irão reforçar as noções de identidade, en-


tão para que todo este ciclo ocorra é necessário que haja a presença do corpo. Pois antes de haver moda e identidade, primeiramente existe um corpo que possibilitará a construção destas noções. Pois conforme o discurso de Ferraz (2009)(2) “é no corpo, através do corpo e pelo corpo que tudo se processa”, e isto pode ser contextualizado com a moda ao dizer que é no corpo, através do corpo ou pelo corpo que a moda se expressa. Falando-se de Brasil, no início de sua história legitimada, passou a ser construído alguns modelos ideais de aparência física pelo “homem branco”, no caso com muitas influências européias. Modelos esses que ainda estão representados nas “novas” construções de corpo que estão em constante diálogo com uma moda. O europeu se representando como superior hierarquicamente (e neste momento, também culturalmente) impôs no Brasil colônia que a moda local deveria seguir os padrões vigentes na Europa. Sendo a identidade da moda brasileira construída a partir dos moldes franco-europeus, uma vez que a França neste momento já era forte referencia na moda européia. Mas foi devido a fatores como clima, contato com culturas indígenas, contato com as culturas afro trazidas pelos escravos negros, entre tantas outras diferenças existentes no Brasil em relação à Europa, que a aos poucos foi se construindo a moda brasileira. Ou seja, as diferenças promoveram as necessidades de adaptação. Mas mesmo assim, durante muito tempo a mulher brasileira para ser considerada elegante, tinha que se vestir aos moldes europeus. E isso perdurou do período colonial até os anos 50. Pois a partir deste momento, as referências na moda passam a ser os modelos americanos. E essa noção de construção social pode ser exemplificada pela citação a seguir onde a autora apresenta uma analogia em que se compara a construção da aparência corporal com a formação de uma pérola dizendo que: “o saber e a cultura se memorizam por uma lenta cristalização ao redor de suportes concretos (como o corpo) e cada aparência traz com ela toda uma história social, uma história do corpo e da indumentária, visível na superfície do corpo. Pelo simples fato de ser vista, imitada e incorporada novamente, a perola vira lição e revela ao indivíduo que lhe fez sua todo o seu saber acumulado” MALYSSE (p.106) Se os artefatos do vestuário podem ser tratados como elementos de comunicação, até que ponto os indivíduos que vivem em meios sociais escolhem uma roupa, ou uma forma de se ornamentar para si mesmos ou em detrimento dos outros? Preocupados com o que os outros vão achar?

Ilustração: Anderson de Souza

A exemplo de uma festa seja de aniversário, formatura ou casamento, é comum haver a preocupação de indivíduos com o que os outros convidados irão vestir. Pois neste caso é necessário se diferenciar, buscando não estar igual aos demais convidados. Entretanto também ocorre em muitos casos a busca pela diferenciação vir acompanhada da preocupação de não estar totalmen-

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te diferente. Para não “destoar” do todo. Preocupação que pode ser percebida com maior intensidade entre os indivíduos do sexo feminino. E em muitas culturas as preocupações com o vestuário são tomadas dentro dos “Rituais sociais”, para se estabelecer noções de identidade. Como pode ser percebido em uma cerimônia de casamento cristã, onde na maioria das vezes, cada envolvido neste ritual possui um “figurino” que o caracteriza e possibilita sua identificação. Permitindo uma maior visibilidade dos principais “personagens” envolvidos neste ritual como o caso dos noivos e do padre que muitas vezes se apresentam vestidos e ornamentados de maneira extremamente diferenciada dos demais. Outro exemplo tradicional e que continua se fortalecendo na sociedade contemporânea são as cerimônias de formatura de graduação universitária onde os formandos, como centro das atenções na cerimônia, muitas vezes utilizam uma indumentária especial para a ocasião. Falando em construções de identidade, que por sua vez resultam em uma busca por visibilidade através de construções de aparências pode-se tomar como exemplo os “cuidados” com os cabelos que como apresenta Malysse (2008), em muitas culturas acaba sendo uma das partes do corpo mais visíveis e que sofre inúmeras interferências por influência da moda. Representando, nas construções de aparência, uma parte significativa dos rituais de preparação da imagem pessoal de cada individuo. “Existe uma verdadeira ritualização dos cuidados do corpo, tanto se considerarmos os aspectos cerimoniais quanto os valores de signo e símbolo, que significam o lugar e a função do sujeito no meio do grupo. Isso é especialmente óbvio no caso dos cabelos que podem ser cortados, rasgados, longos, cacheados, compridos, trançados, presos, soltos, coloridos, falsos, mas que nunca deixam de ter um valor de signo social.” MALYSSE (2008, p.111). Mas como o cabelo pode influenciar a construção de identidade de um indivíduo? Isso pode ser percebido no caso dos penteados afro. A forma como os cabelos são penteados, presos e trançados é carregada de informações que convergem para identificação de uma cultura afro. E assim como a moda, as identidades estão em constante mudança, sempre em movimento, transitando em diferentes territórios. Movimentos que Silva (2007) considera interessantes, porém podem conspirar, complicar e subverter as identidades mas que são integralmente parte de sua dinâmica da produção. Um dos movimentos que o autor comenta é o de hibridismo(3) que na moda pode ser percebido, por exemplo, quando um estilista do Brasil desenvolve uma coleção inspirada em culturas muito diferentes da cultura brasileira. Gerando, dessa forma, um produto que é brasileiro, porém em seu aspecto visual ele possa ser considerado algo “novo”, onde se percebe traços diferentes da cultura que o produziu, mas não é possível separá-los.

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Ilustração: Anderson de Souza Outro exemplo que pode ser percebido facilmente na moda e na construção de identidades reside no fato de que com o acesso cada dia mais rápido e prático à informação, as relações de tocas entre culturas tem sido cada vez mais intensas, o que fica ainda mais explicito quando se percebe que nas construções de identidade e diferença, assim como na moda, existe a influência de relações de poder. Onde um se sobressai ao outro, onde um se coloca em posição de superioridade em relação ao outro. E talvez seja devido a esta noção de poder que os indivíduos, ao buscarem se diferenciar procuram geralmente imitar ou representar o exemplo tido como superior, como modelo.


Com base em todos os exemplos citados neste, a moda de certa forma interfere, contribui, colabora e auxilia na construção de identidades relativas, com base nas imagens criadas pelo universo da mesma. O homem constrói a moda para que através dela possa perceber diferenças e semelhanças fundamentais para se concluir quem se é. Tornando assim a identidade carregada de informações apresentadas pela moda.

Notas: - 1: São Paulo Fashion Week e Fashion Rio: tratam-se das duas maiores semanas de moda brasileira, sendo a São Paulo Fashion Week a 5ª maior no mundo. - 2: FERRAZ, Wagner (2009), discurso apresentado no curso ministrado pelo mesmo – “Moda, Corpo e Cultura” – no SENAC Canoas/Moda e Beleza no dia 01/07/2009. - 3: “Hibridismo – No contexto da teoria pós-estruturalista e da teoria pós-colonialista, tendência dos grupos e das identidades culturais a se combinarem, resultando em identidades e grupos renovados. Por sua ambigüidade e impureza, o hibridismo é celebrado e cultuado como algo desejável. Está relacionado a termos que, de forma similar, destacam o caráter fluido, instável e impuro da formação da identidade cultural, tais como mestiçagem, sincretismo, tradução e cruzamento de fronteiras”. SILVA (2000,p.67)

Bibliografia: - KALIL, Mariana. Visto, logo existo. Super Interessante, São Paulo, n° 192, p. 60 – 65, setembro, 2003. - MALLYSE, Stéphane. A moda incorporada: antropologia das aparências corporais e megahair in OLIVEIRA, Ana Claudia de;CASTILHO, Kathia. (org.) Corpo e moda: por uma compreensão do Contemporâneo. Barueri, São Paulo: Estação das Letras e Cores Editora, 2008. - SILVA, Tomaz Tadeu da.Teoria cultural e educação: um vocabulário critico. Belo Horizonte: Autentica, 2000.

O BELO Por Mário Gordilho

Estar belo por fora É estar belo por dentro! A nossa aparência É puro reflexo Da nossa transparência mental e espiritual. Estar belo Não é ser belo. Oscilante a cada instante, A beleza é fugaz. Vacila o nosso ego, Enfraquece o nosso ser. Sábio é o deleite Do nosso momento belo, Quando nos conduz A fluidos enobrecedores Do espírito sobre o corpo, Da mente sobre a estética. A sina humana Deve ser direcionada À constante valorização Do belo interno, do belo eterno. Sobrepondo-se, definitivamente, Ao belo externo, ao belo efêmero. Ao nos desprendermos Da estética pré-convencionada, Em seu desmanche Lento e gradativo, Seremos quem realmente somos, E não, quem aparentamos ser.

- SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção sócia da identidade e da diferença. In SILVA, Tomaz Tadeu da.(org.)Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Rio de Janeiro, Vozes,2007. - SANT’ANNA, Hugo Cristo. Moda e Identidade social. Hugo Cristo v.3.0, 2006. http://www.hugocristo.com.br/old/papers/HC_Moda.pdf (19/07/2009)

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O que você acredita que isto significa? Falaremos sobre isto na próxima edição.

Criação: Diogo Bezzi Janaína Vasconcellos Santos




C3

Processo

Grupo de Pesquisa

Revista Virtual

Informe C3

Corpo - Cultura - Artes - Moda

O “Processo C3 Grupo de Pesquisa” busca investigar os processos de construção do Corpo em diferentes contextos Culturais, relacionando com os discursos e práticas da Contemporaneidade. Tendo as artes, Moda e questões socioculturais como focos para tentar esclarecer e fortalecer interrogações.

Colabore

Colabora - envie sua opiniã, dúvidas, questionamentos, idéias... Esteja mais próximo de nós, mesmo que através de uma mensagem por email. wagnerferrazc3@yahoo.com.br

Anderson de Souza Pesquisador anderson_design4@yahoo. com.br (51) 9231 5595

Francine Pressi - Pesquisadora culturaderua_@msn.com (51) 8457 3757

Wagner Ferraz - Pesquisador e Diretor wag_ferraz@hotmail.com (51) 9306 0982 www.processoc3.com

www.processoc3.com 117 - Informe C3


Quem é quem?

Processo C3 Grupo de Pesquisa

O Processo C3 surgiu da união de três jovens* pesquisadores para produzir um trabalho coreográfico de linguagem contemporânea – “Campanha de prevenção ao câncer de próstata” - para o Cri-Ação Dança (evento realizado pelos estudantes da Graduação em Dança da Universidade Luterana do Brasil, ULBRA-Canoas/RS). Também ligados por “bolsas” oferecidas pelo CEC Terpsí da Cia Terpsí Teatro de Dança de Porto Alegre, onde participavam de oficinas de Ballet Clássico, Alongamento, Dança Contemporânea e Processo Criativo, os três estudantes resolveram “legitimar” a união e formar o presente grupo de pesquisa com a intenção de dividir suas buscas e dúvidas. Dessa forma surgiu o grupo de pesquisa Processo C3, que apresenta os processos pelos quais os participantes/fundadores têm passado, na busca por compreender os processos que constroem o CORPO em diferentes CULTURAS relacionando sempre com a CONTEMPORANEIDADE. Hoje o Processo C3 conta com colaboradores no Informe C3 que se empenham para que este veículo posso existir. O “Processo C3 Grupo de Pesquisa” busca investigar os processos de construção do Corpo em diferentes contextos Culturais, relacionando com os discursos e práticas da Contemporaneidade. Tendo as artes, Moda e questões socioculturais como focos para tentar esclarecer e fortalecer interrogações. *Anderson de Souza, Francine Pressi e Wagner Ferraz

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Currículos Processo C3 Anderson Luiz de Souza - Brasil/RS/Canoas

Bacharel em Moda pelo Centro Universitário de Maringá - CESUMAR. É aluno da Especialização em Arte Contemporânea e Ensino da Arte na Universidade Luterana do Brasil - ULBRA. Atualmente é Docente no SENAC Moda e Beleza / Canoas-RS no Curso Técnico em Moda e em cursos livres atuando nas áreas de história da moda, desenho e criação, pesquisa em moda e cultura, técnicas de vitrinismo e produção de moda. Pesquisador do grupo de pesquisa Processo C3, idealizador e responsável pelo site www.ferrazdesouza.com que busca disponibilizar informações relativas aos estudos sobre o corpo e cultura (dança, moda, artes, entrevistas, cinema, exposições, eventos...). Como bailarino de dança contemporânea atuou em vários espetáculos, performances, festivais e mostras de dança. Artista Plástico integrante do Grupo/Projeto Arquivo Temporário (grupo de artistas que buscam através de suas obras chamar a atenção para prédios históricos e espaços culturais de pouca visitação). Ministra palestras sobre : A relação Moda e Figurino, Inspirações e Tendências de Moda, Vitrinismo construindo cenas. Além de trabalhar como assistente de fotografia, estilista, figurinista, ilustrador de Moda e designer gráfico. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq. br/7662816443281769 .

Francine Cristina Pressi - Brasil/RS/São Leopoldo

Graduada como Tecnóloga em Dança pela Universidade Luterana do Brasil - ULBRA em 2008, foi agraciada por mérito acadêmico ao obter melhor média durante o curso de Tecnologia em Dança. Hoje está cursando Licenciatura em Dança pela ULBRA. É bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora em dança com ênfase em linguagens contemporâneas. Desenvolve trabalhos artísticos como bailarina desde 2003, participando de várias performances, espetáculos, festivais e mostras de dança, atuando em companhias de dança como a Cia. Corpo Alma, Cia. Hackers Crew, e colaborando como bailarina/interprete de dois estudos coreográficos orientados por Carlota Albuquerque e dirigidos por Wagner Ferraz (O Jogo) e Raul Voges (Provisório – Processo I). Hoje atua também na área de pesquisa em dança, abordando temas como dança, corpo, moda, cultura e contemporaneidade dentro do grupo de pesquisa Processo C3 dirigido por Wagner Ferraz.. Endereço para acessar este CV: http:// lattes.cnpq.br/8890297538503375.

Wagner Ferraz - Brasil/RS/Canoas

Graduado em Dança pela ULBRA, cursa Especialização em Educação Especial e em Gestão Cultural. Assessor da Coordenação de Cultura - ULBRA/Canoas. Bailarino, coreógrafo, professor de dança e pesquisador em dança com ênfase em linguagens contemporâneas, tem como foco investigar a relação corpo e cultura. Já dirigiu coreografou e atuou em vários espetáculos, performances, festivais e mostras de dança. Integrou o elenco da Cia Terpsí Teatro de Dança (2006/2007). Atualmente também ministra aulas e oficinas de dança, processo criativo em dança, dança contemporânea e expressão corporal no ensino regular e no ensino especial com pessoas com deficiência física, mental, auditiva e visual, além de outras síndromes. Diretor e pesquisador do grupo de pesquisa Processo C3, idealizador e responsável pelo site www.ferrazdesouza.com e Informativo FdeS onde busca disponibilizar informações relativas aos estudos sobre o corpo e cultura (dança, moda, artes, entrevistas, cinema, exposições, eventos...). Desenvolve trabalhos como assistente de fotografia e webdesigner. Ministra palestras sobre : Processo Criativo, Expressão Corporal e Adaptações para pessoas com deficiência, Dança e Adaptações para pessoas com deficiência, Corpo e Território, Modificações Corporais, Construção Social da Beleza e da Feiúra, Construção Socail de Corpo e Realções entre Corpo e Moda. Atua principalmente nos seguintes temas: dança, criação, coreografia, performance, corpo, corpo-moda, cultura e pesquisa. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/7662816443281769 .

119 - Informe C3


Colaboradores

Luciane Coccaro - Rio de Janeiro/Porto Alegre/Brasil

Mestre em Antropologia Social/UFRGS; Bacharel em Ciências Sociais/UFRGS; Professora Assistente do curso de Bacharelado em Dança – Departamento de Arte Corporal – UFRJ; Foi Professora Adjunta do Curso de Graduação Tecnológica de Dança/ULBRA; Foi Professora Adjunta da Faculdade Decision de Administração de Empresa/FGV; Foi Professora do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem/IAHCS; Bailarina – Prêmio Açorianos 2000; Atriz – Prêmio Volkswagen 2003; Coreógrafa de dança contemporânea; Diretora da Cia LuCoc e do Grupo Experimental de Dança da ULBRA – de 2006 até 2008; Diretora e intérprete do Espetáculo Estados Corpóreos em 2009.

Paulo Duarte - Portugal/ Coimbra

Jesuíta. Licenciado em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia de Braga – Universidade Católica Portuguesa. Professor de Religião e bailarino. Tem como interesse de estudos a relação entre o corpo/dança e a espiritualidade. Já actuou em espectáculos de dança contemporânea e em performances.

Marta Peres - Rio de Janeiro/Brasil

Professora Adjunta do Departamento de Arte Corporal EEFD-UFRJ, Doutora em Sociologia (UnB) com Pós Douturado em Antropologia, fisioterapeuta e bailarina. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/5570019500701293.

120 - Informe C3


Rodrigo Monteiro - Porto Alegre/RS/Brasil

Licenciado em Letras, atuando profissionalmente como professor de Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Literatura. Leciona desde 1997, quando concluinte do Curso de Magistério. É Bacharel em Comunicação Social - Habilitação Realização Audiovisual, com especialidade em Direção de Arte e em Roteiro. Foi aprovado em primeiro lugar no processo de seleção 2009 para o Mestrado em Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escreve dramaturgia desde 2000. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq. br/7379695337614127

T. Angel - São Paulo/Brasil

Técnico em moda pelo SENAC e graduando em História pela Universidade FIEO, atualmente integra o staff do site argentino Piel Magazine e é diretor geral do website Frrrk Guys, que aborda as temáticas da modificação corporal e da beleza masculina oriunda dessa prática. Além disso, desde 2005 vem atuando no cenário da performance art. Nos últimos anos, Thiago Ricardo Soares vem colaborando com artigos para diversas revistas nacionais e internacionais. Tem experiência na área de História, atuando principalmente nos seguintes temas: body art, performance e modificação corporal. Como pesquisador histórico, interessa-se pelos seguintes temas: body art, performance e modificação corporal. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2319714073115866

Mário Gordilho - Vila Velha/ES/Brasil

Pós-Graduação em Engenharia de Produção (Industrial) – Fundação Ciciliano Abel de Almeida/UFES, Vitória - ES. Graduação em Engenharia Civil - UFBA, Salvador - BA. Auditor Fiscal da Receita Estadual do ES – Secretaria da Fazenda do ES, Vitória - ES (concursado como portador de deficiência, e em exercício). Atuante como Engenheiro Civil (cedido pelo DF) no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 17ª Região, Vitória – ES. Auditor Fiscal da Receita do Distrito Federal – Secretaria da Fazenda do Distrito Federal, Brasília – DF (concursado como portador de deficiência). Atuante como Engenheiro Civil em áreas de projetos, orçamentos, fiscalização e manutenção de Obras Civis, como Engenheiro da Seção de Projetos e Obras do Serviço Social da Indústria – Federação das Indústrias do ES (FINDES), Vitória - ES. Atuante como Engenheiro Civil em áreas de projetos de estruturas metálicas, com cálculos e desenhos em CAD, como Engenheiro - Enpro Engenharia e Projetos Ltda., Salvador - BA. 1987. Atuante como Auxiliar Técnico em acompanhamento de montagem de estruturas metálicas– Metalúrgica São Carlos Ltda., Salvador - BA. Autor de alguns artigos, textos,e resenhas publicados no jornal Bahia Hoje, de Salvador-BA, além de jornal virtual da Intranet do TRT 17ª Região; e da gazeta online, ambos em Vitória-ES. Autor dos blogs: http://elencobrasileiro. blogspot.com e http://elencoestrangeiro.blogspot.com

121 - Informe C3


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