Informe C3 - Edição 07

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“Mais uma vez” é “Batata” Rituais/Crenças/Costumes/Valores Rituais podem ser formas de realizar algo acreditando que certos costumes e características “fundamentais” são responsáveis pela realização, a dita perfeição e concretização do que se pretende alcançar. Como são os rituais nas culturas urbanas contemporâneas? No que diferentes grupos sociais têm acreditado e reconhecido como importante? Ritual, repetição necessária ou T.O.C (transtorno obsessivo compulsivo)?




Foto: Foto: Anderson Anderson de de Souza Souza


Expediente Direção Geral e Coordenação Editorial: Wagner Ferraz

Pesquisa e organização: Processo C3 Grupo de Pesquisa

Pesquisadores:

Anderson de Souza, Francine Pressi e Wagner Ferraz

Projeto gráfico e Direção de Arte: Anderson de Souza e Wagner Ferraz

Produção Gráfica e Edição de Arte: Anderson de Souza e Wagner Ferraz

Colaboradores/colunistas:

Paulo Duarte - Coimbra/Portugal; Rodrigo Monteiro - Porto Alegre/RS/Brasil - www.teatropoa.blogspot.com; T. Angel - Frrrk Guys - São Paulo/Brasil- www.frrrkguys.com; Luciane Moreau Coccaro - Porto Alegre/Rio de Janeiro; Marta Peres - Rio de Janeiro/Brasil; Mário Gordilho - Espírito Santo/Brasil.

Conselho Editorial (em elaboração):

Luciane Moreau Coccaro (UFRJ/RJ); Marta Peres - (UFRJ/RJ); Anderson L. de Souza (SENAC/Moda e Beleza - Processo C3); Francine Pressi (Processo C3); Wagner Ferraz (Processo C3 e Terpsí Teatro de Dança); Rodrigo Monteiro - Critica Teatral/Porto Alegre/RS

Apoiadores/Espaços para divulgação: Wagner Ferraz

Contato:

Wagner Ferraz 55-51-9306-0982 wagnerferrazc3@yahoo.com.br www.processoc3.com www.processoc3.blogspot.com www.processoc3.ning.com

Informe C3 Processo C3 Grupo de Pesquisa Porto Alegre/Canoas/São Leopoldo

Visualização: Gratuita e ilimitada no site www.processoc3.com.


ano 01 - Edição 06 Setembro e outubro/2009

www.processoc3.com

Capa:

Espetáculo: Crépuscule des Océans - Canadá - durante o Porto Alegre em Cena/2009.

Foto:

Anderson de Souza

Local:

Porto Alegre/RS/Brasil

Edição e criação: Anderson de Souza e Wagner Ferraz

Bibliografia SOUZA, Anderson de; PRESSI, Francine; FERRAZ, Wagner (orgs.). “Informe C3: Sem Barba, sem lenço, sem documento - disponibilidade/desprendimento/visibilidade/públicoxprivado”. Canoas, RS: agosto de 2009. On line.

Disponível em: http://www.processoc3.com/informe_c3/edicao07/processoc3_edicao07.pdf


Sumário Apresentação Wagner Ferraz

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Ensaio 01 - Crer ou não crer Wagner Ferraz

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Ensaio 02 - Ser da Dança: A tradição e a inovação Luciane Coccaro

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Porto Alegre em Cena O Corpo apresentado na peça “Senhora dos Afogados” Wagner Ferraz

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Porto Alegre em Cena Terpsí - O corpo que acredita, continua e também silencia Wagner Ferraz

40

Porto Alegre em Cena Crépuscule des Océans - O que fala o corpo nu? Wagner Ferraz

42

Porto Alegre em Cena Dimenti - O corpo que hipnotiza Wagner Ferraz

44

Ensaio 03 - Rituais Contemporâneos Marta Peres

48

Crítica Teatral Rodrigo Monteiro

54


Em que você acredita?

62

Ensaio 04 - Questões de Fé, Crenças e Culto... em aberto Paulo Duarte

64

Instruciones para dar cuerda al reloj Priscilla Davanzo

68

Ensaio 05 - VII Frrrk Guys Party - 3 anos T. Angel

74

Ensaio 06 - Crenças - “Pode crê!” Francine Pressi

82

Você acredita que a moda dialoga com a arte? Disneylândia - Desfile do estilista Ronaldo Fraga Fotos: Grão Imagem

84

Ensaio 07 - As ruas de Goiás Velho eo Casarão Nelci Rosa Moreira

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Ensaio 08 - Vitrina: Marca no Espaço Urbano Anderson de Souza

108

Tempo de Cura Mario Gordilho

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Quem é quem? Currículos colaboradores

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Foto: Anderson de Souza


Agradecimentos Agradecemos também a todos que de forma direta ou indireta colaboraram com o Processo C3 Grupo de Pesquisa e com o Informe C3. Terpsí Teatro de Dança

Porto Alegre/RS/Brasil www.terpsiteatrodedanca.blogspot.com

T. Angel - Frrrk Guys São Paulo/Brasil www.frrrkguys.com

Paulo Duarte

Coimbra/Portugal

Rodrigo Monteiro

Porto Alegre/RS/Brasil www.teatropoa.blogspot.com

Marta Peres

Rio de Janeiro/Brasil

Luciane Moreau Coccaro Rio de Janeiro/RJ/Brasil

priscilladavanzo São Paulo/Brasil

Mário Gordilho

Espírito Santo/Brasil

André Lizza

São Paulo/Brasil

Grão Imagem São Paulo/Brasil

Cecília Laszkiewicz São Paulo/Brasil

Rahel Patrasso São Paulo/Brasil

Márcia Guedes dos Santos São Paulo/Brasil

Ricardo Vieira São Paulo/Brasil


Apresentação Chegamos a Edição 07, com tantas atividades e pouco tempo optamos por fazer as edições de 2 em dois meses, pelo menos até o fim deste ano. Nossa proposta experimental de uma publicação periódica digital tem rendido muito mais do que esperávamos, e isso nos faz pensar em um planejamento mais focado para o ano de 2010. Estamos considerando esse imediato resultado algo bom, pois nosso projeto inicial será finalizado com a edição de dezembro e o planeja era, após dezembro analisar tudo e pensar se continuaríamos ou não com o Projeto da Revista Digital Informa C3. Mas agora já está decidido que a Revista continuará durante o ano de 2010. Esta atual edição foi uma gestação longa e dolorida, mas de muita felicidade em conseguir “linkar” tantos assuntos que nos interessam. O Porto Alegre em Cena nos proporcionou idéias que geraram a capa, pois acabamos utilizando uma frase dita nos espetáculos da Cia Terpsí Teatro de Dança (RS) e o título do espetáculo do Dimenti (BA). Nossos fies colaboradores continuam conosco. É um grande prazer e aprendizado têlos contribuindo e dividindo suas buscas com os leitores da Informe C3. Paulo Duarte (Portugal), Marta Peres (UFRJ), Luciane Coccaro (UFRJ), Rodrigo Monteiro (RS), Priscilla Davanzo (SP), T. Angel (São Paulo) e Mario Gordilho (ES) nossa agradecimento... Também temos o prazer de ter nesta edição as contribuições de Nelci Rosa Moreira (RS); dos fotógrafos André Liza, Cecília Laszkiewicz, Rahel Patrasso com os modelos Márcia Guedes dos Santos e Ricardo Vieira em “Homem Urbano”; da Grão Imagem com as fotos do desfile (Disneylândia) do estilista Ronaldo Fraga no São Paulo Fashion Week Primavera/ Verão - 2009/2010; Chamo a atenção sobre a divulgação da Rede Social do Processo C3 Grupo de Pesquisa, http://www.processoc3.ning.com, onde qualquer interessado pode ingressar criando seu perfil, lá podemos trocar idéias, informações, criar e participar de grupos, criar e participar de fóruns de discussão, conversar no chat, divulgar eventos, postar notícias e imagens no blog, postar imagens e vídeos, fazer amizades e fazer parte dessa rede de troca de informações. Assim, deixamos essa edição com nossa colaboração para que possam pensar nos rituais contemporâneos, nas repetições diárias ou periódicas, na crença, em acreditar em algo e ter certeza de que este algo é certo ou que vai acontecer. “Mais uma vez” algo vai se repetir. “Mais uma vez” seria um ritual, seria a insistência, seria a crença? E acreditar que tudo pode dar certo, ter certeza, “é batata” que algo vai acontecer. Seria ter certeza do inesperado? “Mais uma vez” estamos aqui trazendo colaborações, e “é batata” nossa contribuição com a próxima edição.

Um abraço Wagner Ferraz O “Processo C3 Grupo de Pesquisa” busca investigar os processos de construção do Corpo em diferentes contextos Culturais, relacionando com os discursos e práticas da Contemporaneidade. Tendo as artes, Moda e questões socioculturais como focos para tentar esclarecer e fortalecer interrogações.

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Qual a sua

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a crenรงa?

Foto: Anderson de Souza 13 - Informe C3


Ensaio 01 Crer ou não crer? Wagner Ferraz*

“E acreditar Que o mundo é perfeito Que todas as pessoas São felizes...” Renato Russo É isso que diz Renato Russo na canção também de sua autoria intitulada “Índios”. O crer, o acreditar é capaz de fazer com que se persista em diferentes situações, é capaz de fazer com que se tente “mais uma vez” e grite para uma multidão: “É batata” que isso vai dar certo. Acreditar seja em quem for ou no que for, possibilita que se permaneça com uma postura e que ao mesmo tempo a abandone, talvez obrigatoriamente para se tentar “mais uma vez”. E assim se dar conta de que realmente “é batata”. Durante a 16ª edição do Porto Alegre em Cena foi possível assistir os espetáculos “Ditos e Malditos – A Instalação” da Terpsí Teatro de Dança (RS) e “Batata” do Dimenti (BA). As duas obras apresentaram cenas, palavras, frases, estimularam sensações que levaram a pensar em permanências e certezas em crer ou não crer. Permanências que não significam uma estagnação e sim o permanecer em um ritual de tentativas, tentativas envoltas em crenças e que ao fundo devem ter como “mantra” a frase: “Mais uma vez” (frase utilizada pela Terpsi no espetáculo com base em uma das obras de Beckett). Dessa forma, acreditando que mais uma tentativa, “mais uma vez”, possa permitir alcançar os desejos, as vontades, as solicitações... Acreditar que a cada dia devese recomeçar, tentar, permanecer, mesmo que seja permanecer tentando. E assim ter certeza e poder gritar que “é batata” (expressão utilizada pelo Dimenti no espetáculo “Batata” com base no universo de Nelson Rodrigues) que *Wagner Ferraz - RS/Brasil

no espetáculo “Batata” com base no universo de Nelson Rodrigues) que algo vai acontecer, que se vai conseguir algo... Foi possível acreditar em tudo o que foi escrito anteriormente? Foi possível ter certeza de que as idéias lançadas anteriormente são grandes verdades? Se foi ou não, é o papel de cada um fazer suas escolhas para acreditar e iniciar “mais uma vez” cada dia tentando. Na edição 06 do Informe C3 Revista Digital foi apresentada uma imagem intitulada “A abra”, com legenda que indicava como autores Janaína Vasconcelos e Diogo Bezzi. Junto com a imagem havia a seguinte pergunta: O que você acredita que isto significa? Muitas poderiam ser as leituras sobre “a obra”, porém a pergunta apontava para o que cada um poderia acreditar que o conteúdo daquela imagem poderia significar. O significado de “a obra” pode ser construído por quem olha. “Mais uma vez” o que está em jogo é o que se acredita, quem sabe tentar despertar uma determinada “certeza” em cada um. E a partir disso poder pensar se essa certeza é tão necessária assim? Será que essa certeza que pode levar a uma permanência tão fundamental? Ficar tentando várias vezes a mesma coisa é sinal de força ou quem sabe pode levar a pensar em Transtorno Obsessivo Compulsivo? Como uma pessoa que antes de dormir vai 8, 10 ou quem sabe até 15 vezes até a porta principal de sua casa para ter certeza que ela foi trancada. “Mais uma vez” se vai até a porta para conferir se está trancada ou não, pois se precisa desta certeza para ficar “tranqüilo”. Mas “é batata” que pelo menos 5 vezes se vá até a porta conferir... Talvez isso possa ser intitulado de o Ritual da Porta.

Graduado em Dança (ULBRA/Canoas); Especialização em Gestão Cultural (SENAC) em andamento; Especialização em Educação Especial (Unisinos) em andamento; alunos especial do Curso de Ciências Sociais (UFRGS); Assessor da Coordenação de Cultura (ULBRA); bailarino e pesquisador; diretor do Processo C3 Grupo de Pesquisa e da Revista Digital Informe C3 - Corpo/ Cultura/Artes/Moda; atuou como intérprete da Cia Terpsí Teatro de Dança (2006/2007); Assessor de Comunicação, Pesquisa e Projetos da Terpsí Teatro de Dança; Presta Assessoria de Projetos Culturais; Ministra palestras sobre: Processo Criativo, Expressão Corporal e Adaptações para pessoas com deficiência, Dança e Adaptações para pessoas com deficiência, Corpo e Território, Modificações Corporais, Construção Social da Beleza e da Feiúra, Construção Socail de Corpo e Realções entre Corpo e Moda. Atua principalmente nos seguintes temas: dança, criação, coreografia, performance, corpo, corpo-moda, cultura e pesquisa. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/7662816443281769 .

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Porém, o que será que mais perturba, crer que não se tem certeza e nem lembrança de ter trancado a porta, ou crer que a qualquer momento algo inesperado pode acontecer por não ter ido verificar a tranca da porta? Será que o “ritual da porta” é uma hipótese impossível de se acreditar? Será que o que permanece é a falta de crença em algo que possa garantir a segurança dentro de casa? “É batata” que algo muito desagradável pode acontecer se não for verificar se a porta está trancada. E “mais uma vez” o caminho que leva a porta é percorrido, o caminho que leva a crer que se vai chegar ao local onde está o motivo da perturbação. “Mais uma vez...” Então é possível pensar que a vida é feita de crenças e descrenças, de rituais, de T.O.C, de permanências, de certezas, de inseguranças? Ou não se pode crer em tudo isso que foi citado. Crer nisso tudo seria crer em algo que não oferece certezas? São palavras soltas, jogadas, frases de um texto que não está embasado por nenhum autor. Então será que é possível acreditar? Quem leu até este momento leu porque acreditou em algo ou em alguém? Ou leu por ter como ritual ler algo todos os dias como quem lê o jornal todas as manhãs? Mas isso seria um ritual? Você acredita nisso? “Mais uma vez “perguntas são lançadas e “é batata” que essas perguntas não serão respondidas neste texto. Quais os autores que você acredita que podem embasar ou contrapor essas idéias? Nem autores são citados neste texto... Será que não se acredita em nenhum, ou será que quem escreveu acredita muito em suas percepções? São certezas? Ou são incertezas aguardando respostas? E assim permanecem muitas questões, firmes nas certezas que levam muitas vezes para incertezas que acabam com o estado de permanência mostrando infinitas possibilidades de tentativas de se crer, de se tentar, de se ritualizar algo, de se repetir, de abandonar e sempre no jogo do crer e do descrer.

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O que você acredita que isto significa?

Título: “A obra”. Criação: Diogo Bezzi Janaína Vasconcellos Santos 16 - Informe C3


Foto: Wagner Ferraz

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Foto: Anderson de Souza

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Ensaio 02 Ser da dança: A tradição e a inovação Luciane Coccaro* O que significa pertencer, fazer parte, ser de dentro de algum grupo? Que valores estão envolvidos quando somos parte de um coletivo e nos reconhecemos nele? O que nos faz dizer nós em oposição aos outros? Tais questões fazem parte de uma reflexão, compartilhada aqui, sobre pertencer a uma área profissional artística, que vem se constituindo cada vez mais como um campo de estudo acadêmico: o universo da dança. Quem é da dança, muitas vezes já deve ter se deparado com a seguinte questão, normalmente vinda de alguém – outro - que não pertence à área da dança: - E aí, o que tu faz? - Eu danço! - Tá, mas em que tu trabalha? Muitos bailarinos já devem ter passado pela situação (constrangimento) acima descrita. Ainda, para os outros de fora da dança, não somos reconhecidos com uma profissão. A dança parece ser vista ainda como entretenimento, diversão, hobby, algo complementar e sem status profissional. Apesar de estarmos experimentando uma nova configuração no campo da dança, sua entrada nas universidades(1) – antes tarde do que nunca – as implicações deste processo no meio profissional talvez ainda precisem de mais tempo para um reconhecimento coletivo em nossa sociedade. O conceito de território traz embutida a idéia de espaço na sua dimensão simbólica. Maffesoli (1987) define o território em função da própria identidade do grupo. Pertencer é o resultado de uma força onde a sociabilidade está misturada com o próprio lugar. Um espaço social nas suas diferentes camadas de tempo constituindo um viver

*Luciane Coccaro - Rio de Janeiro/Porto Alegre/Brasil

compartilhado e coletivo. Território e memória coletiva necessitam da adesão afetiva das pessoas envolvidas para existirem. Se a dança está sendo repensada e com isso nos apresenta sua nova roupagem – no território da formação acadêmica - em parte é graças ao diálogo mais e mais ruidoso dentro das universidades que ao nos acolher, legitimaram assim a dança como foco de análise e carreira profissional. E esse acolhimento, ainda que tardio, em nossa longa história de dança em cursos livres é o que pode conferir efetivamente mudança na configuração do campo artístico e suas possibilidades profissionais. Na prática está sendo formado um corpo docente de dança na universidade, e em contrapartida um número cada vez mais elevado de profissionais formados em dança. Provamos haver demanda, tanto de alunos que ingressam nas universidades de dança, cuja grande maioria já era artista com trajetória reconhecida no meio, quanto de outros desprovidos de experiência ou carreira anterior, mas que vieram somar com seu frescor e suas distintas visões de mundo. Essa diversidade toda poderia terminar em guerra, no entanto estamos na universidade aprendendo com as diferenças. O lugar da dança na universidade é o local do encontro de várias formas de dança. Afinal parto do pressuposto de que dançar e coreografar são jeitos de pensar o mundo, de explicitar visões e valores. E não há nada mais universal no ser humano do que a possibilidade de se diversificar. E essa possibilidade de variedade, modos diversos, é o que nos constitui. O nó que ainda deve ser desatado não parece estar em torno da definição de quem são os melhores bailarinos ou as suas magníficas obras, pois sabemos tratar-se de

Mestre em Antropologia Social/UFRGS; Bacharel em Ciências Sociais/UFRGS; Professora Assistente do curso de Bacharelado em Dança – Departamento de Arte Corporal – UFRJ; Foi Professora Adjunta do Curso de Graduação Tecnológica de Dança/ ULBRA; Foi Professora Adjunta da Faculdade Decision de Administração de Empresa/FGV; Foi Professora do Curso de PósGraduação em Enfermagem/IAHCS; Bailarina – Prêmio Açorianos 2000; Atriz – Prêmio Volkswagen 2003; Coreógrafa de dança contemporânea; Diretora da Cia LuCoc e do Grupo Experimental de Dança da ULBRA – de 2006 até 2008; Diretora e intérprete do Espetáculo Estados Corpóreos em 2009.

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Foto: Anderson de Souza

um plano absolutamente relativo, um terreno movediço. Seguramente a disputa faz parte de qualquer profissão, mas apesar da luta estar presente, assistimos a um forte movimento migratório de alunos de outros cursos para a dança, ou de não bailarinos que ingressam na dança. Apesar de ainda perdermos tempo nos enredando em velhos juízos de valor sobre nossas práticas de dança e a dos outros, pelo menos uma contribuição a nova configuração dança em universidades parece apontar, a de que talvez nos livremos do dilema que oscila opondo o trabalho e a dança. Estão sendo formados novos coreógrafos, bailarinos, pensadores, pesquisadores, diretores de dança etc. Esse novo campo profissional nos faz voltar para o foco principal dessa reflexão: o papel das universidades junto à dança. Segundo Strazzacappa (2006) em 2002 a CBO – Classificação Brasileira das Ocupações – escolheu o uso do termo artista da dança para englobar as atividades: professor, estudante, bailarino, pesquisador, produtor, ensaiador, diretor e coreógrafo. Para romper com as distinções, pois todos são considerados artistas da dança. Essa classificação é um prato cheio para uma investigação com olhar antropológico sobre as representações de ser artista da dança e a formação acadêmica em dança.

Foto: Anderson de Souza

Focando na formação nos perguntamos: De que forma os conhecimentos são selecionados até se tornarem Os mais valorizados dentro de uma instituição educacional? E quem ou que grupo legitima esses saberes como os mais importantes dentro da formação curricular em dança? Uma maneira mais característica da nossa sociedade é a falta de rituais e regras sociais explícitas. Dá pra se pensar num mundo ordenado por regras? Sim, agora, quanto a saber conscientemente quais são elas e de que modo elas atuam em nós e os seus efeitos, já é outro papo. Falar sobre um curso de dança é um pouco pensar numa necessidade nossa de carnificar os mitos através do rito. E assim, propor no evento social – formação acadêmica em dança - uma reflexão sobre o papel do mito e do rito hoje. Entendo aqui rito como a representação presentificada do mito a partir de nossas crenças. E, de um jeito sutil, uma profissão como a dança cumpre o seu papel de rito de passagem e vai nos dando pistas de algumas dessas regras internalizadas. Se pararmos para pensar nesse assunto, vamos perceber a estreita relação entre sociedade e educação, na qual a educação é um poder. Todo o ensino, as matérias, ou os conhecimentos científicos estão presos aos valores dos grupos que lhes deram origem. Será que podemos achar um novo caminho para dizer aquilo que já foi

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Ensaio 01

Pensar no grupo de origem é falar de tradição. Uma determinada maneira de se relacionar com o conhecimento vem sido repetida geração após geração de uma mesma forma. E essa tradição quanto ao aprendizado e a sua forma é o que será discutido nesse texto dando ênfase a inovação versus a tradição.

Foto: Anderson de Souza

A inovação proposta nesse estudo se refere a uma atitude frente ao conhecimento. Conhecimento não é visto como algo acabado e estanque. Todo conhecimento é contextualizado e relativo aos valores da época. Portanto passível de dúvidas e rupturas. A inovação é um processo ligado à desconstrução/reconstrução de sentidos. Onde o aprendizado se dá mais nas incertezas e na capacidade de levantar questionamentos sobre as matérias pesquisadas do que propriamente seguir a tradição de aceitar o conhecimento como algo pronto para ser digerido e reproduzido sem crítica. A história pessoal do aluno e suas vivências entram na construção de sentido dos temas abordados em aula. A matéria estudada deve ser entendida na relação com a época e o contexto social de sua aparição. Relacionar o contexto é analisar os valores dos conhecimentos. A possibilidade de um conhecimento relacional permite perceber a tradição como algo datado historicamente e não como A “verdade”, mas apenas a verdade relativa aquele momento e produzida naquelas condições sociais. Os conhecimentos tradicionais têm uma aura de verdades absolutas e inquestionáveis, mas não o são de fato. Podemos questionar e desconfiar de tanta certeza. O pensamento relacional é chave para esse problema entre tradição e inovação. Uma postura desconfiada é inovadora em relação ao ensino e a própria ciência. A dúvida move pensamentos e explicações que tendem a relativizar as certezas intocáveis. E assim, antigos paradigmas vêm sendo historicamente desconstruídos e dando espaço à desconfiança como forma de conhecimento. A breve reflexão sobre a dicotomia tradição/inovação não é facilmente explicada. O ponto levantado no desenvolvimento do trabalho com destaque foi a postura inovadora no aprendizado – arraigada à premissa básica da desconfiança como forma de conhecimento. A desconfiança e a dúvida podem ser vistas como maneiras de investigar a chamada tradição, pois podemos perceber a universidade como momento de rito de passagem para o aluno. Local de investigação e descobertas, lugar do contato com a tradição e as novidades na área.

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Foto: Anderson de Souza


Ser da dança: A tradição e a inovação

Todo o ensino, suas matérias, ou seus conhecimentos científicos são poderes presos aos valores dos grupos que lhes deram origem. Origem legitimada pelo que chamamos tradição. Tradição como limite a ser desconstruído pela inovação da dúvida. A problemática entre o tradicional e o inovador, o permanente e o transitório, não é aqui examinada como contradição, mas como via de mão dupla: enquanto uma experiência própria da dinâmica social. A tradição é um conjunto de orientações valorativas consagradas pelo passado (Oliven, 1992). No caso dos saberes em dança, diz respeito aos conhecimentos passados oralmente pelos mestres da tradição da dança nos cursos livres, fora da universidade. Padrões culturais sobrevivem na medida em que persistem as situações que lhe deram origem, ou alteram seu significado para expressar novos problemas (Durham,1977:33). Que novos problemas e questionamentos estão sendo colocados nos cursos de dança nas universidades? Estamos lidando com inovações do conhecimento já conhecido? Voltamos assim à relação entre mito e rito. Mito como aquilo que está em nosso imaginário, nossos valores, nossas crenças, os pensamentos nos quais nos reconhecemos como nós, nos conferindo um território de pertencimento. Foto: Anderson de Souza

Nossas visões sinalizam uma tradição com suas regras implícitas. E, rito nesse texto é encarado como um momento de atualização dos nossos mitos. Instante de colocar em xeque, em dúvida, tantas certezas. Nessa dialética entre mito e rito, tradição e inovação respectivamente, acredito estar o espaço mesmo da construção de uma saber-fazer-sentir dança na universidade. Não como uma mera reprodução dos saberes em dança legitimados na tradição de dança em cursos livres, fora da universidade, mas um terreno de desestabilização das arraigadas certezas. Lidar com incertezas e dúvidas como procedimento cognitivo significa desmobilizar afetividades, desestabilizar e sair do lugar conhecido e seguro da tradição, mas esse passo pode ser uma escolha e - a meu ver - a dança na universidade deveria permitir isso aos artistas da dança.

Nota:

- (1): Cursos superiores de dança no Brasil: na UFBA (1956) o primeiro, na UFRJ, na Faculdade Angel Viana (RJ), na UniverCidade (RJ), na Universidade de Cruz Alta (RS), em Montenegro - UERGS, na Ulbra (Canoas –RS), na UFRGS (RS), na Unicamp (Campinas), na FGF - Faculdade Gama Filho de Fortaleza, na Universidade Metropolitana de Santos – UNIMES, na Faculdade Paulista de Artes- FPA, na Universidade Anhembi Morumbi (SP), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/ SP, na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), última instituição a implantar o curso de dança, em 2007. Além de cursos de Pós-Graduação em dança.

Referências bibliográficas - ALTHUSSER, L. Sobre a reprodução. Petrópolis: Vozes, 1999. - DEMO, Pedro. Introdução. In: Conhecer e aprender: sabedoria das limites e desafios. Porto Alegre: ArtMed, 2000. - DURHAM, Eunice R. A Dinâmica Cultural na Sociedade Moderna. In: Ensaios de Opinião, n.2-2, 1977. - GADOTTI, M. História das leis pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993. - AFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos. O declínio do individualismo nas sociedades de massa. RJ: Forense, 1987. - OLIVEN, Ruben G. Antropologia de Grupos Urbanos. Petrópolis: Vozes, 1992. - OLIVEN, Ruben G. A Parte e o Todo. A diversidade Cultural no Brasil-Nação. Petrópolis: Vozes, 1992. - STRAZZACAPPA, Marcia. A dança e a formação do artista. In: Entre a arte e a docência: a formação do artista

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Você acredita no que vê?

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Homem Urbano

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Foto: André Liza Cecília Laszkiewicz Rahel Patrasso Modelos: Márcia Guedes dos Santos Ricardo Vieira

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16º Edição

O ritual da cena.... Acreditar na arte faz com que este evento se repita a cada ano.

Como o corpo foi apresentado em algumas obras na 16º Edição do Porto Alegre em Cena. Wagner Ferraz

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O corpo apresentado na peça “Senhora dos Afogados” Wagner Ferraz

“Um pedaço de mim...” Assim se iniciava a peça, com todos contando: “um pedaço de mim...”. Um pedaço, ou pedaços que são lembrados ou anunciados durante alguns momentos do espetáculo. A saudade foi descrita como uma situação que tira algo de nós. A saudade pode tirar um pedaço do corpo simbolicamente, a saudade corta, fere, enclausura, prende, sufoca... O pedaço arrancado é indicado pela sensação de saudade, de vazio. O corpo com saudade é um corpo que falta algo, que sente um espaço que precisa ser preenchido, a saudade anuncia um corpo onde os limites são percebidos na delimitação desses espaços. Espaços esses que não podem ser medidos em extensão, centímetros, ou léguas, mas sim em sensações angustiantes ou “simplesmente” pela sensação de falta. Um dos personagens carregava nomes, de prostitutas, tatuados no corpo. Nomes são palavras que definem sujeitos, que definem corpos, palavras que são apresentadas marcando esses corpos e que só podem ser materializadas pela intervenção de outro que “feri” com agulha e tinta o sujeito que carrega as tatuagens. O pai descrito na peça foi acusado de matar uma prostituta que foi sua amante. O corpo apresentava na cena, a dor, a tristeza, o peso e o amargo de ter tirado a vida de outro, e passou sua vida toda com visões sobre este corpo morto. Até quando olhava para sua legitima esposa via no corpo dela o corpo da prostituta assassinada. E isso ficou claro no momento em que o pai diz que mesmo que rasgasse o vestido de sua esposa não veria seu corpo e sim o corpo da mulher que assassinou. Essa tristeza também era apresentada por outras prostitutas que choravam no porto onde ocorreu o assassinato há 19 anos. O corpo morto está muito vivo na lembrança, nas recordações, na saudade e nas angustias. A esposa teve suas mãos descritas como muitas vezes como lindas, como elemento que pode realizar o pecado, a traição, pois como foi dito por ela mesma, as mãos podem percorrer todo o corpo do outro, tocam, sentem... E no final da obra suas mãos foram cordatas, amputadas por seu marido, o que levou-a a morte.

Foto: Roberto Mourão Divulgação: POA Em Cena Segundo o marido, ele não a matou, apenas matou suas mãos, levantando as ideias de que as mãos seriam praticamente algo a parte, como se pudessem ser dissociadas do restante do ser. E assim, segundo ele, a esposa morreu de saudade das próprias mãos. E ao final pode-se ouvir todos cantando: “o que será que será? Que não tem limite?” Seria o corpo território sem limite? Ou seria o corpo território a definir todas as intervenções e manifestações que podem ser realizadas ou sentidas nele mesmo? Seria o corpo o próprio limite?

Ficha técnica

Autor: Nelson Rodrigues Direção: Zé Henrique de Paula Assistência de direção: Fabrício Pietro Elenco: João Bourbonnais, Einat Falbel, Marcella Piccin, Thiago Carreira, Marcelo Góes, Lourdes Gigliotti, Alexandre Meirelles, Elber Marques Preparação de atores: Inês Aranha Cenografia e figurinos: Zé Henrique de Paula Iluminação: Fran Barros Músicos: Fernanda Maia (piano) e Luciana Rosa (violoncelo) Produção: Firma de Teatro/ coordenação de produção: Cláudia Miranda Duração: 110 min Faixa etária recomendada: 14 anos

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Terpsí O corpo que acredita, continua e tanbém silencia Wagner Ferraz A Terpsí Teatro de Dança esteve com sua Instalação Coreográfica Intitulada “Ditos e Malditos” na 16 edição do Porto Alegre em Cena. A proposta busca referências nos ditos populares e nas obras de artistas considerados transgressores – os malditos. Esta Instalação foi criada para servir de laboratório, experimento e exercício na busca de se poder olhar para o que estava sendo desenvolvido e a partir disso iniciar o processo de criação de um novo espetáculo. Para quem teve a oportunidade de assistir várias vezes este processo coreográfico no ano de 2008, pode perceber que a cada apresentação esse processo apresentado sofria modificações. E nesses momentos se percebia o quanto existe pesquisa, tentativas e experimentações nos trabalhos da Terpsí. Pois como a obra estava em processo, e ainda está, seria impossível se acomodar nas estruturas e imagens já criadas. Nesta Cia de Dança a cultura construída, e que vive em constante construção, estabelece um fluxo onde não se percebe uma dinâmica de trabalho, mas sim o transito por diferentes dinâmicas. Automaticamente, as obras e processos desenvolvidos pela coreógrafa Carlota Albuquerque, pelos intérpretes e por toda a equipe estão sempre sofrendo modificações que podem ser identificadas como buscas por uma coerência entre as idéias, e o que é possível realizar de acordo com “tudo” que está disponível ou acessível. Falar da dança da Cia Tersí é falar de movimento, mas não apenas de um mover de estruturas ósseas e musculares, mas um mover claro de intenções e ideias que aparecem na cena. É claro que o mover de estruturas ósseas e musculares também pode ser compreendido como um mover de ideias, pois corpo e mente devem ser compreendidos como únicos, se opondo ao legado dualista cartesiano onde corpo e mente são estruturas separadas. Os corpos, falando-se de corpo enquanto indivíduo, que apresentam e compõe as obras da Terpsí estão em constante alteração, mas não como as alterações realizadas por adeptos do body modification e outros movimentos culturais que buscam alterações, e assim como o corpo modificado por uma cultura especifica, pela cultura descrita anteriormente que faz parte do sistema que rege a Terpsí. E isto pode ser percebido por quem assistiu “Ditos e Malditos” a Instalação no ano de 2008 e também assistiu em setembro de 2009. Muitas mudanças aconteceram, mudanças que podem ser percebidas nos corpos e automaticamente na cena.

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A Instalação Coreográfica vista em 2008 mantém a mesma idéia em 2009, porém se percebe mudanças que esclarecem o movimento, o trânsito, o percurso traçado pela Terpsí. “Ditos e Malditos - a Instalação” leva a pensar no corpo dito, descrito, apresentado, o corpo indicado e colocado em cena, um corpo que fala por si só quando constrói esta cena. Mas ao mesmo tempo fala de um corpo “maldito” que transita entre limites e oposições, onde muitas vezes se arrisca para ter o prazer que provocar o outro, vai até o seu considerado limite para realizar seu desejo influenciando, provocando ou interagindo como o outro. É um corpo que, como organiza Carlota Albuquerque, busca referências em BECKETT quando diz “MAIS UMA VEZ” e em ALLAN POE quando diz “NUNCA MAIS”. Um corpo de limites extremos, que enquanto de um ponto de visto um acredita e se propor o exercício ritualístico da repetição, o outro firma a descrença e desistência pensando e declarando “nunca mais”. Ficha técnica: Direção: Carlota Albuquerque / Criação e direção coreográfica: Carlota Albuquerque / Elenco: Ângela Spiazzi, Gabriela Peixoto, Raul Voges, Débora Wegner, Edson Ferraz, Cesar Campos e Gelson Farias / Participação especial: Simonne Rorato / Cenotécnico: Paulinho Pereira / Figurino: Coletivo Terpsí / Iluminação: Guto Grecca / Trilha sonora: colagem de cirandas, musicais de cinema, Coco e Rosie / Produção: C3 e Ana Essarts / Crédito fotos: Cláudio Etges / Duração: 50min Foto: Claudio Etges


Foto: Claudio Etges

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CRÉPUSCULE DES OCÉANS (Canadá)

O que fala o corpo “nu”? Wagner Ferraz O espetáculo “Crépuscule dês Océans” dirigido e coreografado pelo canadense Daniel Léveillé, que esteve na programação da 16ª edição do Porto Alegre em Cena durante os dias 12 e 13 de setembro no Teatro Renascença, deixou parte do público eufórico e outros um pouco insatisfeitos. É claro, isso está sendo dito com base em comentários ouvidos no final do espetáculo. Essa dita euforia se deu ao fato de em alguns momentos do espetáculo os intérpretes dançarem sem roupas. Pois isso mexeu de diferentes formas com diferentes pessoas levando a questionar: O que esse corpo disse na forma em que foi apresentado? Levando em consideração que o corpo em movimento dentro deste contexto e dentro desta cena repetia frases de movimentos que não exploravam diferentes dinâmicas, porém, apresentavam muita força e muita disponibilidade para o que estavam executando. Os intérpretes entravam em cena hora vestidos, hora nus... Saiam e entravam como quem diz: já falei o que tinha para dizer, ou fiz o que havia de fazer, agora me retiro. Ou... Entravam e se colocavam em cena como quem diz: Cheguei, olhem para mim, estou sem roupa agora vou mostrar o que posso fazer. Era possível se perguntar o tempo todo... Será que o corpo apresentado sem roupa tem a intenção de mostrar o que a roupa esconde? Tem a intenção de mostrar os músculos, a bunda, o pênis ou a vagina, os pêlos, o suor, ou pretendia construir uma cena? Mas que cena estava sendo construída? Poderia essa cena ser construída com os corpos vestidos ou a roupa atrapalharia? Havia uma grande diferença entre os mesmo movimentos executados pelos mesmos intérpretes vestidos e executados pelos mesmos sem roupas. Seria essa a propostas, apresentar um sujeito vestido, e quando esse sujeito se despe, mesmo que execute os mesmos movimentos pode ser identificado praticamente como outro, como diferente? Será que sem roupa os intérpretes acabam parecendo outras pessoas? Mas seria esta a proposta?

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De acordo com o release do espetáculo disponível no material impresso do 16ª edição do Porto Alegre em Cena este espetáculo “foi bastante elogiado por seus raros movimentos, baseados nos mecanismos mais simples do corpo humano, sem qualquer teatralidade, mas nem por isso mais fáceis de executar. O coreógrafo optou por corpos musculosos onde cada movimento pode ser percebido.” Talvez isso explique bem a obra apresentada, pois foi possível ver corpos músculos, que repetiam várias vezes os mesmo movimentos como se estivessem firmando o que estava sendo dito. Mas o que será que estava sendo dito? Talvez não seja algo tão declarado, pois o corpo por si só já estava declarando muita coisa. Ou será que estava declarando um corpo biológico esculpido por uma cultura? O corpo é o lugar da cultura, vestido ou nu. Mas de que cultura estava-se falando neste espetáculo. A cultura do corpo biológico, mas que apresenta resultados de costumes e valores legitimados pelo dito universo da dança, ou de práticas em dança que se preocupam extremamente com uma fisicalidade? Mas além de perguntar o que o corpo nu disse, deixo a dúvida da questão que foi levantada anteriormente. Por quais motivos será que alguns se diziam insatisfeitos com a obra apresentada? Teria algo a ver com o que o corpo apresentado nu disse, ou será que foi com o que não foi dito?

Ficha Técnica: Direção e coreografia: Daniel Léveillé / Direção técnica: Armando Rubio Gomez / Elenco: Frédéric Boivin, Mathieu Campeau, Justin Gionet, Esther Gaudette, Caroline Gravel, Emanuel Proulx, Gaëtan Viau / Produção: Daniel Léveillé Danse / Iluminação: Jean Jauvin/ Trilha Sonora: Laurent Maslé / Diretor de ensaio: Sophie Corriveau / Figurinos: Carré Vert / Crédito fotos: Denis Farley / Duração: 1h

Foto: Anderson de Souza


Foto: João Meirelles - Divulgação: POA Em Cena

Dimenti O Corpo que hipnotiza Wagner Ferraz O Dimenti da Bahia marcou presença no Poa em Cena com uma estratégia cênica diferenciada. As obras deste grupo de modo geral apresentam escolhas estéticas que quebram determinados padrões muitas vezes aguardados na cena. É possível perceber uma despreocupação, que vejo como algo muito interessante, com o agradar ou se parecer com um formato cênico considerado por muitos “adequado”. Assim, esse grupo se apresenta de forma singular, como se dissessem: Estamos aqui para lançar algumas idéias, questões e propostas, estamos aqui para brincar com certos clichês e avisar que o simples pode ser complexo e vice-versa.

Foto: João Meirelles - Divulgação: POA Em Cena

Através da obra “Batata” (2008), o Dimenti cria uma atmosfera onde o corpo que está em cena confundi o espectador durante grande parte do espetáculo. É possível falar que chegaram a uma dosagem onde quem assisti é hipnotizado pelos corpos que direcionam o olhar enquanto outros constroem a cena. Algo admirável e encantador. Enquanto muitos grupos de teatro e dança apresentam em cena infinitas possibilidades de acontecimentos para o espectador direcionar o seu olhar, o Dimenti cria possibilidades e ao mesmo tempo jogo com o público. Pois quando se é hipnotizado por um dos corpos os outros continuam discretamente em busca de determinados objetivos, e quando paramos para observar o que esses outros irão fazer, nos surpreendemos, pois eles já fizeram e não demos conta.

Foto: Maurício Concatto - Divulgação: POA Em Cena

Os corpos que compões o elenco são diversos, e isso faz com que cada um tenha particularidades especificas para hipnotizar e confundir o espectador na hora do jogo. Por mais que se acredite que será possível ver os momentos em que certos acontecimentos vão sendo elaborados e “planejados”, dificilmente se consegue ver. É “batata” que a cada cena, seremos hipnotizados, confundidos e até enganados (num bom sentido) por esses corpos que não apresentam preocupação com virtuosismo, mas sim com a certeza de estar prendendo a Ficha técnica Textos: Adelice Souza, Cláudia Barral, Elísio Lopes Jr., Fábio Rios, Kátia Borges e Paula Lice / Intérpretes criadores: Daniel Moura, Fábio Osório Monteiro, Jorge Alencar, Lia Lordelo, Márcio Nonato, Paula Lice, Vanessa Mello / Direção e dramaturgia: Jorge Alencar / Diretores assistentes: Márcio Nonato e Jacyan Castilho / Supervisão artística: Hebe Alves / Direção musical e trilha sonora original: Jarbas Bittencourt / Cenografia: Miniusina de criação e Dimenti / Projeto de luz: Fábio Espírito Santo e Márcio Nonato / Figurino: Dimenti

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Foto: Maurício Concatto - Divulgação: POA Em Cena


Foto: Maurício Concatto - Divulgação: POA Em Cena

Foto: Maurício Concatto - Divulgação: POA Em Cena

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Ensaio 03 Ri tu ais Con tem po râ neos Marta Peres*

Rituais Cariocas ‘O Rio de Janeiro é a cidade ‘mais feliz do mundo’’. Assim concluiu pesquisa realizada pela empresa norte-americana GfK Custom Research. Dentre 50 cidades concorrentes, o resultado é atribuído à tolerância e multiplicidade racial e cultural, simpatia do povo carioca e, obviamente, à praia. Segundo Paulo Senise, superintendente do Rio Convention Bureau, ‘uma imensa sala de estar em que todos são iguais’. Ressaltando o paradoxo do convívio de uma política de segurança desastrosa e violenta com uma alegria contagiante, a antropóloga Alba Zaluar recorda que na parisiense Place de Vosges ocorrem apresentações de música clássica, mas ‘os músicos não interagem com o público e faz um frio danado’. ‘O Brasil está associado a bom humor e à idéia de bem viver. O carnaval é muito importante, porque transmite a imagem clássica de felicidade que as pessoas têm da cidade (...) É um lugar para onde todo mundo gostaria de ir’, afirma Simon Anhyolt, consultor da GfK (‘O Globo’, 04/09/2009).

Por outro lado, embora contemplada por seu exuberante cenário natural e por uma simpatia inigualável, certamente, nem mesmo a ‘Cidade Maravilhosa’ escapa da crença vigente nas sociedades modernas de que ‘o indivíduo é um fim em si próprio’. Os compromissos, a urgência e o stress dos cariocas não diferem de qualquer outra metrópole. A diferença é que, se for possível uma ‘escapulida’, o mar está ao alcance e em fevereiro tem carnaval... Momentos de relações humanas com maior grau de entrega, solidariedade, compartilhamento coletivo, presentes na descontração de ir à praia ou de ‘pular’ num bloco de rua, representam valiosas oportunidades de ruptura com um cotidiano de árdua solidão que marca a vida no Rio, São Paulo, Porto Alegre, Nova Iorque.

Sociedades Holistas e Sociedades Individualistas A predominância dos valores de uma dada configuração sócio-histórica torna-se evidente em seus

*Marta Peres - Rio de Janeiro/Brasil Professora Adjunta do Departamento de Arte Corporal EEFD-UFRJ, Doutora em Sociologia (UnB) com Pós Douturado em Antropologia, fisioterapeuta e bailarina. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq. br/5570019500701293.

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rituais. Estes consistem, nada mais nada menos, em maneiras de se colocar em ação os mitos da cultura, seja por meio de danças, orações, sacrifícios, crenças comuns, dentre outras práticas ‘corporais’ (como se fosse possível pensar em alguma espécie de ritual que prescinda do corpo...). Em conformidade com seus mitos, imaginário coletivo, ideais, valores, os respectivos rituais podem ser compreendidos segundo a noção, estabelecida por Louis Dumont, de sociedades ‘individualistas’ – as modernas – e ‘holistas’ –ou sociedades tradicionais. Embora tenha diferenciado ‘individualismo’ de ‘egoísmo’, na primeira metade do século XIX, Alexis de Tocqueville, já acusava o primeiro de enfraquecer até destruir a vida pública, ‘transformando-se num egoísmo total’ (Tocqueville, 2001). O ‘holismo’, por sua vez, consiste numa ideologia que valoriza a totalidade social, à qual está subordinado o indivíduo humano. Tendo se debruçado profundamente sobre o sistema de castas da sociedade hindu, os termos cunhados por Dumont, entretanto, aplicam-se aos contrastes entre os modos de vida e visão de mundo das civilizações moderna e todas as demais, inclusive a medieval (Dumont, 1992. Dumont, 1993). Nas comunidades humanas de tipo holista reina uma espécie de ‘identidade de substância’ homem-mundo, em que homem não se distingue de seu corpo nem o mundo se distingue do homem. Delumeau chama de ‘cristianismo folclorizado’ a mistura de tradições populares locais e referências cristãs do medievo, presente nas relações entre homem, meio social e natureza. Nesta ‘con-fusão’ entre a pessoa e a multidão de semelhantes, sua singularidade não a torna um indivíduo, no sentido moderno do termo. A festa popular medieval representa, portanto, um exemplo emblemático de como cada homem participava de uma efusão coletiva, instituindo-se a regra da transgressão. Os prazeres do carnaval celebram o fato de existir, viver junto, diferentes, desiguais, frágeis, fortes, alegres, tristes ... Separações homem, corpo, meio, sociedade, cosmos, seriam introduzidas nos primórdios da modernidade pelo advento do individualismo (Le Breton, 2003:29-30). Estas categorias são relevantes para melhor compreendermos as subseqüentes descrições de alguns rituais contemporâneos que incluem os cuidados com o corpo e a atividade física. Realizando um gigantesco salto daqueles tempos até nossos dias...

Os três espíritos do capitalismo Luc Boltanski e Ève Chiapello (1999), a partir da expressão weberiana, classificam historicamente o capitalismo por meio de ‘três espíritos’: segundo ele e ela, o ‘espírito do capitalismo’ que animou o burguês protestante, ascético e empreendedor descrito por Weber consistiria no

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Ensaio 03 e empreendedor descrito por Weber consistiria no ‘primeiro’. A passagem destes tempos ‘heróicos’ da Revolução Industrial do século XIX, da ‘pré-história’ das fábricas - reino das ‘grandes máquinas sujas’, e suas relações sociais, com jornadas de trabalho de dezesseis horas diárias, imundos bairros operários, do carvão até o advento do automóvel – para o ‘segundo espírito’ traduz-se na entrada em cena da química sintética, da eletrônica e da televisão. Nos anos 1930, o ascético seria substituído pela figura-chave do ‘diretor-gerente’, ou ‘capitão de indústria’. Ocupando o centro da sociedade ‘pós-industrial’, grandes empresas voltam-se para a produção em massa. Em resposta às reivindicações dos movimentos de trabalhadores, a fim de legitimar o sistema, são criados os planos de carreiras, a associação do capitalismo privado com o desenvolvimento do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) e expressões meritocráticas por meio de julgamento de competência e diplomas. Por volta da década de 1980, o ‘terceiro espírito’ relaciona-se à abolição do modelo ‘fordista’ da economia industrial do século XX, baseado na eletricidade e produção fabril em torno da linha de montagem: instaura-se a flexibilização das relações de trabalho e a absorção das críticas dos movimentos contestatórios dos anos 1960-70. Acusado de carecer de ‘criatividade’, o capitalismo abraça novos valores, além de passar a levar em conta segmentos sociais até então considerados ‘minoritários’. Novas etapas traduzem adaptações e a habilidade do sistema em se transformar, a fim de justificar sua continuidade, aproveitando inclusive elementos da crítica de que foi alvo (Boltanski e Chiapello, 1999:8). Inaugura-se o modelo da produção flexível, das indústrias de ponta da revolução tecnocientífica, e mercadorias adaptadas a nichos de mercados. O chamado ‘toyotismo’ assistiu à ampliação do leque pela passagem do consumo massificado para a abertura de uma grande diversidade de gostos e estilos, em todos os campos, do vestuário às técnicas de construção do corpo. As práticas de atividade física vêm se multiplicando, a fim de alcançar estilos de vida mais variados. Essa idéia pode ser ilustrada pela observação de que a prática da malhação, em aparelhos de musculação e aula de ginástica localizada, convive lado a lado, tanto nas academias quanto nos espaços livres públicos, com práticas corporais consideradas não-convencionais, tal como o yoga, alongamento, atividades desportivas ‘lúdicas’. A cada verão surgem novas modalidades que podem se tornar uma febre, como indica a recente proliferação do Pilates(01), aliás, uma técnica muito interessante e saudável.

Fábulas contemporâneas e seus personagens Contrapostos ao ‘amontoamento’ presentes no carnaval, ou na festa popular medieval, no ápice da separação de-

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Rituais contemporâneos ou na festa popular medieval, no ápice da separação decorrente do extremado individualismo contemporâneo ‘pós-tudo’, o percurso de um personagem fictício de Augé fornece uma bela descrição de rituais contemporâneos: ‘X’ insere cartão magnético, saca dinheiro do caixa eletrônico, ouve saudação da máquina (‘obrigada volte sempre!’), atravessa Paris em seu carro, paga pedágio com cartão de crédito, guarda bilhete do estacionamento, estaciona no subsolo do aeroporto, realiza check-in livrando-se das bagagens, desiste de comprar no dutyfree-shop, embarca no avião e lê resenha de livro em revista de companhia aérea: ‘A homogeneização das necessidades e dos comportamentos de consumo faz parte das fortes tendências que caracterizam o novo ambiente internacional da empresa... Com base no exame da incidência do fenômeno de globalização (...) inúmeras questões são debatidas.’ (Augé, 1994: 11). Augé considera a supermodernidade produtora de ‘não-lugares’, espaços que não são em si ‘lugares antropológicos’ nem integram os antigos (idem:73). Embora desprezem o sagrado, promovem rituais de compra, busca de boa aparência, sucesso. ‘Espaços de passagem’ aeroportos, hospitais, shopping-centers, lojas de departamentos e mega-academias –, exalam uma intensa carga de significados em seus ritos de consumo. Sant’Anna observou semelhanças na decoração e arquitetura presentes em seus jardins artificiais, quadros, salas de televisão, cabeleireiros, lanchonetes, salas de espera com jornais e revistas (Sant’Anna, 2001:31), pés direitos gigantescos, vidros espelhados, grandes tubos aparentes de climatização do ar no teto, pisos assépticos, funcionários uniformizados, eventualmente de patins, roletas eletrônicas. A impessoalidade reluzente por eles compartilhada fornece um palco adequado para o solitário protagonista do ‘terceiro espírito’. Acompanhando câmeras, câmeras e câmeras, o enunciado ‘SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO’ é dirigido a ‘você’. No entanto, não se trata mais do sujeito soberano do Iluminismo. Onipresentes canteiros de obras concretizam na paisagem o sentimento de permanente insatisfação, motor da destruição criativa que marca a modernidade desde seus primórdios. Se o ‘cercamento dos campos’ serve de metáfora ao advento do indivíduo - cercas, calçadas, paredes e muros constituem limites entre corpos, semelhantes, domínios, coisas, mundo - no ‘terceiro espírito’, ao ruído repetitivo das máquinas, emoldurados por avenidas, viadutos, arranha-céus, passagens subterrâneas das megalópoles, soma-se o odor fresco dos ‘não-lugares’. Além de mera demarcação, é como se ‘o cerco fosse se apertando’ até se tornar uma sufocante camisade-força que prenuncia o ocaso do próprio indivíduo. Uma pressão crescente atinge as fronteiras da pele, seu envol-

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Ensaio 03 envoltório corporal, ensaiando uma espécie de explosão, colapso, apontada por autores recentes como uma suposta ‘crise do sujeito moderno’ (Hall, 1997). Seria a obsessão pela boa forma o ápice de uma concepção de mundo que se iniciou com o advento do indivíduo, e que expressa sua máxima sofisticação no atual culto ao corpo? No holismo, o ritual coletivo. Na sociedade individualista, trajetórias solitárias. O sentimento de insatisfação ‘moderno’ adquire novos contornos. Para alguns, um ponto de inflexão, sabe-se lá o que virá depois. No âmago da crise, as feições atuais do culto ao corpo e todos os seus ritos: cabeleireiro, pistas de caminhada, academia... Elemento crucial na construção da identidade individual e afirmação de posição no espaço social, enquanto mito, o corpo é, literalmente, ‘posto em ação’, pelo rito, mas, desta vez, ainda que praticado em conjunto, nas aulas de ginástica, solitariamente. Não por acaso, abarcando elementos de continuidade e rupturas, individualismo, entremeado à nostalgia pelo holismo, nas ‘escapulidas’ para a praia, para o bloco de carnaval, as práticas corporais tornaram-se objeto de estudo privilegiado. À descrição de Augé, poderíamos acrescentar o personagem de outra fábula, habitante de uma metrópole e freqüentador de uma globalizada mega-academia: ‘Y’ sai dirigindo de seu condomínio residencial murado, cancela aberta por controle remoto, com cartão magnético de cliente vip estaciona no shopping, sem sair ao ar-livre, ultrapassa portas automáticos e roleta eletrônica, o sistema de ar condicionado central da academia mantém a temperatura em exatos 22 graus, mas ele está aquecido por seu agasalho de Therma-Fit adquirido em viagem ao exterior, adentra o vestiário, troca de roupa, deixa tudo em armário com cadeado personalizado, levando somente garrafa d’água e toalhinha de rosto (é proibido deixar marcas de secreção fisiológica) e chave do registro computadorizado de programa de musculação e atividade aeróbica nos aparelhos ergométricos. Após duas horas de ‘malhação’, se dispuser de alguns minutos, relaxa na sauna, esboça breve diálogo, entre iguais, pois, pelo alto preço, a condição sócio-econômica dos outros freqüentadores é homogênea, toma banho, destroca de roupa, despede-se das elegantes recepcionistas do balcão de entrada, dirige até sua empresa, cuja entrada é liberada por crachá funcional magnético’. Ah, me esqueci de um detalhe: na lanchonete da academia, ele abre seu notebook e acaba um artigo que ficou de enviar para a revista virtual de um amigo que não conhece pessoalmente...

Nota

1 - Pilates: técnica de movimento de origem alemã em que são utilizados exercícios de contrações e alongamentos musculares, em colchão e em aparelhagem própria com cabos de tração.

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Referências Bibliográficas - Augé, Marc. Não-lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas, SP. Papirus, 1994. - Boltanski, Luc. & Chiapello, Ève. (1999), Le nouvel esprit du capitalisme. Paris, Gallimard, 1999. - Dumont, Louis. O individualismo: uma perspectiva antropológica da sociedade moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. - Dumont, Louis. Homo Hierarquicus. São Paulo, UNESP, 1992. - Hall, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A: 1997. - Le Breton, David. Anthropologie du corps et modernité. Paris: Quadrige/PUF, 2003. - Peres, Marta Simões. Corpos em Obras: Um olhar sobre as práticas corporais em Brasília. 2005. 347 folhas. Tese (Doutorado em Sociologia) - Departamento de Sociologia. Universidade de Brasília. Brasilia, 2005. - Peres, Marta. ‘A mega-academia enquanto um não-lugar (filmado) disponível em http://www2.pucpr.br/ssscla/anais. htm. - Sant’Anna, Denise Bernuzzi. Corpos De Passagem. Ensaios Sobre A Subjetividade Contemporânea. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. - Tocqueville, Alexis de. A Democracia na América. liv 1. leis e costumes. São Paulo: Martins Fontes, 2001. jornal ‘O Globo’, 04/09/2009.


Rituais contempor창neos

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Crítica Teatral Rodrigo Monteiro*

Peça: A mar aberto 16° Porto Alegre em Cena Me ensina a fazer tarrafa? O Capitão chega para o Seu Zé Tarrafeiro e pede que lhe ensine a fazer tarrafas visto que não voltará ao mar. “A mar aberto” conta o que aconteceu no mar que fez com que, do capitão, apenas sua rede fosse se banhar. Eu agradeço a oportunidade do Coletivo de Atores à Deriva, do Rio Grande do Norte, para refletir sobre o meu blog, que completa nesse mês um ano e dez mil acessos. Um dia, numa Oficina da Maria Lucia Raimundo e num ensaio de Bailei na Curva, senti que preferia olhar o mar ao invés de me aventurar nele. Teatro quer mesmo dizer “Lugar de onde se vê” e, na platéia, ninguém pode me dizer que eu não faço teatro. Apenas, enquanto sentado na poltrona do Câmara, não divido com ninguém os instrumentos para a construção do espetáculo, recebendo-os apenas. São os atores e, antes deles, a concepção quem mos dá. E, no caso “A mar aberto”, recebo com muito carinho cada divisão só porque é com muito carinho que me é dada. Antes de começar, todas as luzes são apagadas. Todas: escuridão total. Hora de desligar as “lamparinas do juízo” para a história que começa. Você pode sonhar de olhos abertos, mas, quando fechados, seus olhos vêem apenas você mesmo. Quando se dá o início, é você quem está construindo o espetáculo, embora no caso dessa produção dramática em-tudo-aquilo-que-se-possa-dizer-sobredrama, o espectador seja embalado num berço bem seguro. Foto: Divulgação Poa em Cena

* Rodrigo Monteiro - Porto Alegre/RS/Brasil Licenciado em Letras, atuando profissionalmente como professor de Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Literatura. Leciona desde 1997, quando concluinte do Curso de Magistério. É Bacharel em Comunicação Social - Habilitação Realização Audiovisual, com especialidade em Direção de Arte e em Roteiro. Foi aprovado em primeiro lugar no processo de seleção 2009 para o Mestrado em Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escreve dramaturgia desde 2000. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq. br/7379695337614127


Henrique Fontes, que assina como dramaturgo e encenador, ocupa o espaço e o tempo da narrativa propondo uma coleção de signos que celebram o teatro, engrandecendo-o. Há um tempo atrás, numa outra crítica, falei sobre o que é teatro e o que não é teatro. Longe de chegar perto do esgotamento dessa discussão sem fim, em “A mar aberto” estão dispostas dispostas várias questões que podem trazer luz a essa reflexão. Fontes usa da linguagem teatral para tornar teatral ações e objetos existentes fora do universo fictício-narrativo. Cordas caem do teto, duas caixas, uma placa isopor, roupas rasgadas e cabelos desgrenhados. Com a boca e as mãos, os atores produzem sons que marcam o ritmo, colorem a cena. Refletores iluminam partes e nunca o todo do palco: cada espaço é marcado no tempo como um momento que se relaciona a outros. Os cinco homens se movimentam em harmonia: passado e presente, barco e terra, sonho e realidade. Os tons das vozes, o olhar pontual, a boca de cada um compõe um desenho em que tudo encontra lugar nesse carro que carrega o sentido, que nos embala como disse acima. O resultado é a paralisação: ficamos tomados pela história bem contada. Para mim, teatro é sempre sinônimo de homenagem. Você não está saindo de casa para ver um quadro, nem ligando um rádio do carro para ouvir uma música, ou acertando o microondas e escolhendo a legenda antes de assistir ao filme. O que há de teatral num concerto musical, num espetáculo de dança e numa peça é justamente a presença de seres humanos, tais quais os que se sentam na platéia, produzindo sementes de imaginação no palco. Quem apenas vê pegou guarda chuva, enfrentou fila, marcou encontro para assistir quem não só vê, mas faz. Quem apenas vê faz tarrafa para os pescadores que se aventuram no mar, trazendo de lá alimento para os daqui.

Ficha técnica Texto e encenação: Henrique Fontes Elenco: Alex Cordeiro, Bruno Coringa, Doc Câmara, Paulo Lima, João Victor Direção e preparação musical: Danúbio Gomes Cenário e figurinos: Thiago Vieira Iluminação: Daniel Rocha Produção: Cristina Simon

Peça: Kiss Bill 16° Porto Alegre em Cena Emersão e submersão Há um sistema chamado Kill/Kiss Bill que se atualiza num/ dois filmes de Quentin Tarantino e num espetáculo de teatro/dança dirigido por Paula de Vasconcelos / Yan Lee Chan.

“A mar aberto”, reconhecendo o trocadilho com o “Amar aberto”, merece a homenagem que o público que lhe faz. Aproximando os dois Rios Grandes, um dos atores se despede de todo mundo e de uma forma enternecedora dá boa noite inclusive para os técnicos. Após ver bolinhas de gude caindo do céu, mudanças de planos que beliscam o cinema (e Dias Gomes), um tom de voz que lembra o bom Riobaldo de Guimarães Rosa, escrever sobre isso tudo é um privilégio. No mar, os peixes não são vistos, não têm nome, não têm espécie. Quando a tarrafa é jogada e alguns deles vêm à superfície, o tarrafeiro, novo ou velho, se contenta. De tão contente que está, escreve.

Foto divulgação: Paul Antoine Taillefer

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Crítica Teatral

Formalizar a construção de um todo significativo existente anterior ao filme e ao espetáculo facilita a análise porque explica as pontes que se faz entre um e outro. Quem viu o filme lembrou dele ao assistir à peça até porque é como uma releitura que ela é vendida no programa do festival. Quem for ver o filme lembrará da peça a partir de agora. Embora filme e peça existam em separado, Kill/ Kiss Bill é visto nas duas atualizações, estando aos nossos sentidos disponível todo o universo simbólico composto pela junção de um, de outros e de terceiros que ainda, talvez, não conhecemos. Em miúdos, falar de um é falar de outro. • Ausência de humanidade que se reduz à palavra sarcasmo; • Ritmo acelerado nos cortes, nos diálogos, nos movimentos dentro e fora dos quadros/cenas; • Redundância, recorrência, reforço; • Repaginação do faroeste e dos filmes orientais de ninja, kung fu, anime; Destaquei acima alguns dos sistemas que destaco na formalização Kill/Kiss Bill lembrando que existem sistemas que só emergem no filme e não na peça e viceversa. Os que trago são aqueles que encontro na superfície dos dois. E gosto! Os gestos secos, a reprodução da frieza do deserto em oposição ao sol escaldante que faz sair de buracos fechados animais discretos e perigosos. A coreografia de Kiss Bill preenche o palco em busca desse sarcasmo absurdo que só encontra lugar onde a humanidade já foi embora. Os personagens da peça só se tocam quando se ferem, embora firam sem se tocar. O beijo é mortal, o abraço é cínico. As aranhas (?) – um dos melhores momentos – são egoístas, rápidas, discretas: comem quietas. A personagem de Sylvie Moreau fala sem parar, sem parar, sem parar. A coreografia de abertura é a troca contínua de gestos nervosos de homens que se impõem para mostrar o que já vemos. As cenas são rápidas como os cortes o são em Tarantino. A trilha se repete. Se renova. Renova a cena. A ação retorna sempre: uma lista de mortes se sucede, uma lista de movimentos se repete. Um ciclo se fecha e outro reinicia. A estética oriental com ninjas aparecendo do céu e do inferno, bem como o extremo oposto da dureza do cowboy e sua pistola e chapéu se encontram na vitória de um contra duzentos mil. Tarantino/Vasconcelos pincelam a atualização do sistema trazendo dois gêneros para falar mal deles. Há um motivo para trazê-los e está exposto: Kill/Kiss Bill veio construir em cima da desconstrução. A ausência sobre a presença. O liminar do ciclo fim e do

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novo. Falando em novo, de Bang Bang pra diante só encontramos Vasconcelos e não mais Tarantino. A peça pára de atualizar o sistema e vive só do estabelecimento de uma nova organização. E afunda. O ritmo cai, a humanidade retorna, os ninjas e cowboys vão embora. O personagem de Alexandre Goyette se mostra apaixonado pela de Natalie Zoey Gauld e o que nutria a configuração de sentido já não existe. Tentamos e tentamos reconstruílo, mas a direção propõe um conceito camaleônico resistente aos nossos antivirais. Não apreendemos o sentido e um tédio imenso emerge, fazendo submergir o cenário do jardim, as coreografias finais, a trilha. Atualizar um sistema significa re-hierarquizar sentidos a partir do dispositivo. Tarantino fez isso usando a linguagem cinematográfica. Vasconcelos usando a dança. Em cada ato, alguns significados emergem outros submergem. Kiss Bill, lá pelas tantas, dorme e bate num iceberg. O transatlântico canadense, lindo e badalado, afunda. E lembramos, com saudade, do bom e velho assobio da enfermeira Ellen Driver (Daryl Hannah). Ficha técnica: Direção e coreografia: Paula de Vasconcellos / Direção técnica: Yan Lee Chan / Elenco: David Rancourt, Sylvie Moreau, Laurence Ramsay, Natalie Zoey Gauld, Alexandre Goyette, Edward Toledo / Cenário: Paul-Antoine Taillefer, Paula de Vasconcelos, Raymond Marius Boucher / Figurino: Anne-Marie Veevaete / Iluminação: Paul-Antoine Taillefer, Michel Beaulieu / Trilha Sonora: Paula de Vasconcelos / Produção: Paul-Antoine Taillefer / Crédito fotos: Paul-Antoine Taillefer / Duração: 1h45min

Peça: Mulheres fortes em corpos frágeis [lado b] 16° Porto Alegre em Cena Recorte Você pode até nunca ter ouvido falar da Análise do Discurso e de Michel Pêcheux, mas sabe que veste por dia muitas roupas. Quando com uma amiga, com a vizinha desconhecida, com o ator canadense, com o mestre em biologia, com a atriz da sua peça, com atriz ganhadora do


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do prêmio no ano passado, com sua mãe, com seu exnamorado, com seu gato, com sua professora da terceira série, com a coordenadora do seu pós-graduação, com seu chefe, com o estagiário, com a atual namorada do seu ex-marido...

novo ritmo, em cada nova moda da estação. O universo popular, da Rádio Aliança à Rádio Amizade, do jeans à saia balão, da Ciderella ao (Hugo) Chaves: o tema é sempre a passagem, a mudança. A mim, Diego Mac e Alessandra Chemello, os diretores, quiseram me falar sobre o que fica entre esse e aquele corte de cabelo, esse e aquele cinto ou cadarço de All Star. Quem fica é o olhar do outro. É esse que nos observa, que é nosso inferno. E o céu das temporadas de verão e de inverno. Um espetáculo baseado em cima da novidade cansa. E “... [lado b]” cansa várias vezes. Em momentos diferentes, o ritmo cai e levanta, cai e levanta reproduzindo, talvez, as liquidações de inverno e verão que antecedem as novas modas. Não tem início, nem fim porque usamos coisas que usávamos há dez anos com uma cor nova e tudo se repete.

Foto: Angela Alegria POA Em Cena/Divulgação PMPA Quando em casa, na sua rua, numa rua desconhecida, num parque à uma da manhã, num bar onde você vai sempre, no MSN, no Orkut, no Twitter, numa mensagem de celular, ao microfone de um videokê, na frente do padre, na casa da talvez futura sogra, no escritório da talvez futura chefe, na frente do talvez futuro orientador, no ouvido de alguém que você ama, às costas de quem você odeia...

Quando ao acordar, ao vestir-se, ao banhar-se, ao comer, ao comer-se, ao fumar, ao sair e esquecer as chaves, ao chegar e esquecer o guarda-chuva em algum momento do passado próximo, ao dormir, ao morrer, ao morrer-se... “Mulheres fortes em corpos frágeis [lado b]”, produção do Grupo Gaia, me fala de manequins expostos visivelmente às várias roupas da estação. Presos em poses, olham o mundo além do vidro. Então, alguém lhe despe e muda-lhe um braço de posição. A nova tendência chegou, novos gostos a atender. Três bailarinas expõem suas referências num programa. Tentei esquecer delas. E esqueci. Elas não me importam mesmo porque o bom desse tipo de espetáculo é que o que importa é o que eu leio. E eu leio isso: sou lido. A noção de que até mesmo quando sou sujeito, sou objeto captado pelo outro. O homem só existe como diferente do outro. Daniela Aquino, Roberta Sauvian e Alessandra Chemello são intérpretes dessa interpretação de mundo. Têm movimentos pré-definidos e que se repetem em cada

O cenário de Élcio Rossini, sem dúvida, nosso melhor cenógrafo, é realmente parte de um conceito muito bem amarrado. A mim, placas brancas pareceram giletes. Há uma gilete na capa do programa e talvez tenha sido por isso que essa imagem me veio à cabeça: recortes. A vitrine, a roupa, a modelo é um recorte do sonho, do ideal, do plano. Como também somos recortes de nós mesmos quando no churrasco da turma, no fim da festa, na fila dos crachás. Quando acabo de comer e esqueci minha escova de dentes, quando acordo e já não penso em tanta coisa, quando digo não... Ficha técnica: Direção: Alessandra Chemello e Diego Mac / Coreografia: Alessandro Dall’Omo, Diego Mac e Paulo Guimarães / Elenco: Alessandra Chemello, Daniela Aquino Roberta Savian / Coordenação técnica: Sandra Santos / Cenário: Élcio Rossini / Figurino: Lourdes Dall’Onder (especialmente convidada) / Iluminação: Liliane Vieira / Trilha sonora: Alessandro Dall’Omo, Diego Mac e Ticiano Paludo / Produção: Grupo Gaia / Crédito fotos: Cintia Bracht / Duração: 1h10min

Peça: La Douleur 16° Porto Alegre em Cena Só Ok, Porto Alegre! Eu gosto muito do teu teatro com vídeos, com bonecos em cena, com músicas, gaita e

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violão. Gosto muito de banda e coro, cenarião e figurinão, barracos, lutas, coreografias pantufísticas. Mas ah! Como é bom ver, também, um teatro sem nada: uma mulher, umas cadeiras, uma mesa e uma luz geral. Só. E se tirar a mesa e as cadeiras, fica bom também. Só ela e uma boa história pra contar. Só a atriz e uma boa história pra ela contar. Em circunstância nenhuma, ser ator é fácil. Lindas as palavras de Tatiana Cardoso no Seminário A arte do Ator, promovido pela Coordenação de Artes Cênicas, dias atrás. Dizia a Mestre, trazendo Eugênio Barba e muitos outros pensadores pensantes, que o ator é aquele que anda contra a maré, contra a corrente, contra o fluxo. Tem como obrigação, como trabalho, como parte de si ser especial. Dominique Blanc é especial! Foto: POA Em Cena/Divulgação

E vai deixar saudades. Ficha técnica La douleur, de Marguerite Duras / Interpretado por Dominique Blanc / Direção de Patrice Chéreau e Thierry Thieû Niang / Produção e Promoção: Les Visiteurs du Soir / Duração: 1h15min

Peça: Quartett 16° Porto Alegre em Cena. As coisas não ditas As coisas que ficam por dizer não desaparecem. Empedram. Esfriam. Endurecem. Mas estão ali. “Quartett”, como também “Ligações Perigosas”, me lembra sempre das coisas que não foram ditas, talvez, porque não precisavam ser ditas; talvez, porque não poderiam ou, quem sabe, porque não mesmo deveriam. Como aquilo que não é, o dito também não desaparece, embora nem sempre endureça, empedre, ou esfrie. “Quartett” fala do frio. E é frio.

Em circunstância nenhuma, um monólogo é fácil. Pra mim, monólogo é covardia. Uma pequena multidão no São Pedro e uma única pessoa no palco. Além dela, as janelas do nosso teatro olhando pra atriz e pra nós. “E ae, queridona, viemos te assistir. O que é que tu tem pra mostrar?” La Douleur fala de luto. A dor de uma separação, a dor da convivência com a ausência. Quando amamos de verdade é como uma parte de nós vivesse em corpo alheio. A personagem não sabe, durante boa parte da peça, onde está esse corpo, se está vivo, se está bem, se está. É luto pela vergonha do feito algo errado. O extermínio dos judeus faz calar qualquer europeu. Quando amamos de verdade, nossos erros ganham imensas proporções. Luto é uma saudade cabisbaixa de olhos molhados e sem esperança. O luto acaba quando a saudade acaba. E ela acaba quando ele volta. A febre baixou, a luz também. Dominique Blanc contou o que tinha pra contar.

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O espaço permanece amplo já sendo. A ausência de cenário confere à pontualidade da luz a tarefa de delimitar de espaços e os seres. Luz é o contrário de sombra e só isso. Vai e vem num apertar de botão e qualquer barreira simples a transforma. O mesmo se diz sobre o som. O som é o contrário de silêncio. Tanto um como o outro é sensível ao tempo, ao ritmo, às barreiras da mente e dos ouvidos. No palco, vemos amplas zonas escuras que valorizam os pequeníssimos espaços iluminados, como também somos recebidos por quase quinze minutos de ausência de diálogos. Potentes focos coloridos e flashes sonoros nos fazem entrar numa caverna cheia de estalactites, sem vida tranqüila, mas bastante ardilosa e escorregadia. Quem, depois de muito tempo guardando para si, encontra-se na oportunidade de dizer o até agora não dito, encontra-se no meio do iceberg cuja pontinha, porque a maré baixou, vê o sol do oceano. A proteger-se, o gelo fica ainda mais gelado. É hora do iceberg falar. Robert (Bob) Wilson é um dos diretores de teatro mais conhecidos no mundo, pelo menos, ocidental. E, trabalhando com a síntese que lhe é característica nos seus trabalhos há quarenta anos vanguardistas, impõe ao texto de Heiner Müller as mesmas ordens dadas às outras linguagens trazidas à “Quartett”: frieza, marcas pontuais, frivolidades meramente ilustrativas, ausência corporal. O elenco liderado por Isabelle Huppert e Ariel Garcia Valdès é tão plastificado como tudo nessa produção. Não


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Foto: Divulgação POA Em Cena

linhas são contrárias no início, misturam-se no fim sem perder suas idiossincrasias. O sol derrete o iceberg, mas a nuvem que se forma lhe impede de ver a terra. Chove e da água mais gelo é feito. O espetáculo de encerramento do XVI Porto Alegre em Cena chama a atenção por proporcionar ao público, através de uma experiência sonoro-visual de grande impacto, uma distribuição de potências significativas que eu tenho a impressão de serem difíceis de recuperar. Durante a assistência, me peguei várias vezes pensando em outras coisas, distraído com minhas próprias lembranças e reflexões, mas longe de estar entediado, cansado ou mesmo desatento. Não senti passarem-se quase duas horas e me surpreendi comigo mesmo, na volta catártica a que Wilson parece rejeitar com todo o seu aparate pouco cênico, mas muito plástico, a permanecer com a síntese viva nos meus sentidos. “Quartett” subverte as relações como reação a elas, não contra elas. E isso faz com que, mesmo após o fim, sempre sobra algo para se dizer. Algo que esfria e endurece. Ficha técnica Quartett de Heiner Müller Tradução de Jean Jourdheuil e Béatrice Perregaux Direção, cenografia e design de luz: Robert Wilson Composição original da música: Michael Galasso

é tão plastificado como tudo nessa produção. Não há movimentos, mas valorização dos gestos, esses muito específicos. As vozes são quase sempre expelidas no mesmo tom, a exceção, como nos gestos, de arrebates emocionais. Pequenos gritos, grandes risadas, e lamentos incluem-se como a ilustração de um comportamento exterior ao iceberg que ora vive dentro desses outrora amantes. A tela inicial (Concerto Campestre, Frans Wouters), as caídas e voltas de Valmont, os giros de Merteuil são exemplos não sonoros de materialização da mesma concepção. A qualidade plástica de “Quartett” pode ser enaltecida a partir de vários aspectos: cores fortes reagem contra a escuridão e pontuam o encontro do iceberg contra seu inimigo, o calor. Wilson começa falando de oposição pelos tons que emprega em sua encenação e pela própria cena da moeda em que vemos cada um de seus lados. Mas avança à luz de Müller que faz Merteuil falar por Valmont e ele por ela, seja colocando uma tela entre Valmont e seu duplo num jogo de espelhos, seja manipulando o casaco vermelho no palco, ou jogando com cores contrastantes ou trazendo à cena um peixe a nadar num aquário. Se as

com Isabelle Huppert - Merteuil Ariel Garcia Valdès - Valmont e Rachel Eberhart, Philippe Lehembre, Benoît Maréchal Figurino: Frida Parmeggiani Colaboração direção: Ann-Christin Rommen Colaboração cenografia: Stephanie Engeln Iluminação: AJ Weissbard Maquilagem e penteados: Luc Verschueren Músicos: Cyril Atef, Jeffrey Boudreaux, Michael Galasso, Vincent Ségal e David Taïeb Som: Jean-Louis Imbert e Thierry Jousse Assistente de maquilagem: Sylvie Cailler Assistente de penteados: Jocelyne Milazzo E a equipe técnica do Odéon-Théâtre de l’Europe Produção: Odéon-Théâtre de l”Europe, La Comédie de Genève, Théâtre du Gymnase/Marseille

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Em que vocĂŞ acredita?

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Foto: Anderson de Souza

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Em que você acredita?

“Eu acredito num futuro melhor, num Brasil mais justo com menos desigualdades pois as pessoas estão mais politizadas e mais cidadãs”. Aldo Freitas

“Acredito que haverá um depois. Bom, igual ou ruim, não importa. Para mim, sempre haverá uma continuidade.” Rodrigo Monteiro “Na humanização do sujeito!” Rose Mari Ribeiro da Silva “Acredito na intenção, que a intenção de uma ação determina o resultado. Acredito no amor, na força Divina, na fé. Que todas as pessoas estão conectadas entre si e com toda natureza, todos os reinos, todo o universo, ou seja, suas ações interferem no todo”. Camila Arioli “Em deus, na sua energia, na proteção que ele nos fornece, e na vida terrena que ele nos proporciona e que um dia se esvairá. penso que dessa maneira vamos passando por um estágio de aprimoramento da alma, para um dia chegarmos á um clímax espiritual. Isso é o verdadeiro sentido da vida, na minha concepção”. Mario Gordilho

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“Em mim! Ana Paula de Miranda “Acredito no Outro que me faz ser livre. Gera em mim o confiar que me faz dar o que tenho e sou, em passos que se constroem no partir-me e levam-me a partir. Acredito no sonho, na criatividade que é dada ao humano de se unir em comunhão, na descoberta de cada um e dos outros. Acredito em Deus, feito Homem, que convida cada humano em ser com, como e n’Ele, por Amor. Acredito no diálogo que abre portas do conhecimento mútuo, que leva ao respeito pela integridade do ser, da cultura, da Vida. Sou um homem de fé, sem contabilizações... Acredito!” “Em que o homem possa acorda dessa turbulência em forma de pesadelo coletivo e veja o quanto tempo está perdendo em destruir a natureza com lixo, descondensar a natureza humana com a ausência da ética, do convívio, da conversa e do respeito pelo outro, pelo ser e não se dando conta que a física já provou que toda ação tem uma reação. Acredito na descoberta de novos líderes, novas pesquisas para minimizar e curar doenças do século da Semana da Arte Moderna. Bem, acredito na beleza da descoberta de uma melhoria na construção de uma catarse única. ZIZI


Foto: Anderson de Souza

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Ensaio 04 Questões de Fé, crenças e culto… em aberto! Paulo Duarte* pauloduarte.sj@gmail.com

A fé mobiliza. Seja ela religiosa, seja ela futebolística, seja ela partidária. O ser humano vive uma crença de fundo quase inexplicável. No entanto, a fé religiosa, quando bem vivida, leva-o mais longe. Talvez porque leva ao questionamento, ao não querer ficar submetido ao que está, e impele a mais... As outras exemplificadas também poderão levar o ser humano mais longe, mas não o conseguirão levar à dimensão transcendental que a Vida, em si, comporta. Pode ter-se fé no jogador ou na táctica, até mesmo neste ou naquele candidato, mas não se consegue ir mais além que a simples relação com o humano. Agora a Fé, mais do que uma confiança, é um estado de vivência interior que eleva o humano à divinização com todos os outros, em que, sem dúvida, entra o campo do perdão, do respeito, da integridade - não simplesmente moral, mas totalizante - do Humano. Daí que a mensagem divina seja uma mensagem de Vida e não meramente doutrinal. No entanto, na dimensão do religioso há muita confusão. Misturam-se mitologias, com crenças religiosas. Misturam-se medos, receios, com temor e respeito pelo Sagrado. E, depois, há uma tentativa ultra-racionalista de se explicar algo - ou alguém - que é mais do que a razão humana. Para se viver o respeito pelas várias crenças, formas de encarar a Fé, há a surgir mais que um diálogo, aquilo que Hans-George Gadamer designa de fusão de horizontes. De forma bastante simples, passa por uma escuta atenta do outro, numa atitude comunicativa, não rejeitando à partida o que ele me diz ou é, mas tentando ir ao fundo do que me possa dar. Porque a pessoa, tal como podemos encontrar no campo da Fé, tem uma história que, em si, tem algo para dizer, mesmo que mínimo. Gadamer, no seu texto A Universalidade do Problema Hermenêutico, afirma que “precisamente através

através da nossa finitude, da particularidade da nossa essência, é que se detecta toda a variedade de linguagens e o diálogo infinito abre-se na direcção da verdade que somos”. A complexa questão da Fé passa pelo diálogo entre aqueles que a vivem de formas diferentes. Daí que se abre na direcção de uma relação entre um nós e não simplesmente um eu. De modo que nenhum ser humano que possa dizer: eu tenho a verdade da Fé.

Crença e Ritual De forma simplificada pode dizer-se que o ser humano vive uma crença em relação a um objecto ou sujeito, ao qual presta culto. Diariamente, do levantar ao deitar, o sujeito passa por uma série de movimentações que tocam o ritual. Seja o simples cumprimento, passando pela oração ou celebração litúrgica, dá-se a manifestação de fé, de crença, de confiança, em quem se cumprimenta, ou à divindade que se celebra. Contudo, a vivência desses momentos pode ser de abertura ou de fechamento. Maurice Blondel afirma que “o objecto [que se venera], sendo finito e insuficiente como os demais, não tem por si só a capacidade de receber a veneração que se pretende dar-lhe, mas que, justamente por causa dessa pequenez, satisfaz a dupla necessidade que tem o ser humano de criar e dominar o seu deus”(01). Rapidamente se recordam as imagens religiosas que não sendo Deus, muitas vezes são tomadas como sendo e a carga de veneração que lhes é colocada tem um peso imenso na vida das pessoas. Mais do que uma relação humana, há uma idolatria de uma imagem. Isto não se aplica apenas à imagem ligada a alguma religião, pode aplicar-se também a outras formas de idolatria ligadas à sociedade, dando como exemplos a música, o desporto, a moda. De facto, muitas dessas imagens, ou per-

*Paulo Duarte - Portugal/ Coimbra Jesuíta. Licenciado em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia de Braga – Universidade Católica Portuguesa. Professor de Religião e bailarino. Tem como interesse de estudos a relação entre o corpo/dança e a espiritualidade. Já actuou em espectáculos de dança contemporânea e em performances.

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ou personalidades, acabam por ser veneradas como um deus, algumas das quais têm uma carga simbólica muito forte, com acções concretas em favor da sociedade, ou de um povo(02). Para René Girard, o aparecimento da cultura surge sobre um fundo religioso. No entanto, pode especificar-se que o fundo religioso se inicia quando está exposto sobre o cadáver da vítima sacrificial tornando-se o mesmo cadáver objecto de veneração. “A partir da dupla transferência – maléfica e benéfica operada sobre a vítima [especificamente o cadáver da vítima], o pensamento religioso acentua mais um traço ou outro frequentemente de forma puramente aleatória, simplesmente porque ele não pode reter todos os elementos contrários que o sagrado contém. (…) Diferentes práticas rituais, obrigações e interditos que até podem ser opostos, visões míticas contraditórias, constituem, para Girard, passos sucessivos de um processo de elaboração religiosa e cultural que deriva de uma origem comum”(03). O rito é uma das formas de como o ser humano vai ao encontro do sagrado, mas que pode cair na dimensão supersticiosa. O culto é o encarnar da religiosidade, mas que mal entendido pode tornar-se mais do que promotor de vida e liberdade, sinal de opressão. De facto, há uma série de ritos que cercam a pessoa: “o nascimento, as decisões solenes, os perigos que fazem brotar um voto ou uma oração, os contratos, a palavra comprometida, a morte” , para enumerar apenas alguns. A dimensão religiosa é transmitida pelos mais velhos, conforme a cultura em que está inserida. Os ritos, os cultos, são transmitidos de geração em geração, adaptando-se, ou não, às novas realidades sociais e culturais. A propósito do culto, Girard aborda a questão do sacrifício no bode expiatório . Os grupos humanos tiveram de lidar com a real possibilidade da auto destruição, então, o culto sacrificial da vítima arbitrária torna-se o rito encontrado para, de alguma forma, acabar com a violência. “O círculo vicioso da violência endémica e selvagem foi espontaneamente, ‘miraculosamente’, substituído por uma violência focalizada e contida, orientada contra um único adversário, uma vítima arbitrária, nem mais nem menos culpada que os outros, e que terá sido morta por todos os combatentes, trazendo a salvação aos sobreviventes. O esquema ‘todos contra todos’ dá assim lugar ao ‘todos contra um’ (…)”(06)

Foto: Anderson de Souza

Através da expiação o grupo humano encontra novamente a estabilidade. De facto, acaba por haver um ritualismo como forma de libertação da violência. Ainda assim, haverá a libertação do humano? Se o rito for pura superstição, sem dúvida que não haverá. O ser humano, tendo como alicerce a dimensão do religioso e do sagrado, deve encontrar a liberdade de si e dos outros dentro

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Ensaio 04

deve encontrar a liberdade de si e dos outros dentro da relação que estabelece com a restante humanidade e com a divindade. Assim, “o maior serviço que se pode render ao ser humano é o de fazer desaparecer uma após outra, diante dos seus olhos, todas as superstições, para que obtenha o sentimento puro da esfera religiosa”(07).

Notas: 1 - BLONDEL, Maurice. – La Acción. Madrid: BAC, 1996, p. 553. 2 - Fazendo a distinção, uma coisa é ter o Maradona como ídolo, ao ponto de ser literalmente venerado como deus, nalgumas partes da Argentina, outra coisa é o sofrimento das pessoas diante do assassinato da Benazir Buttho, ou de Mahatma Ghandi. 3 - COSTA, José Miguel Dias. – O Desejo como História – O Sentido da Cultura Humana em René Girard. Braga: Publicações da Faculdade de Filosofia, 2005, p. 125. 4 - BLONDEL, op. cit., p. 357. 5 - No Yom Kippur, uma das celebrações judaicas, o sacerdote coloca as mãos sobre o bode, transmitindo assim os pecados do povo, como forma de expiação dos mesmos. De seguida o bode é largado no deserto. René Girard alarga esta concepção de “bode expiatório” a todas as vítimas que são escolhidas arbitrariamente para expiar os males do grupo a que pertencem. 6 - DIAS COSTA, op. cit, p. 109. 7 - BLONDEL, op. cit., p.364.

Bibliografia BLONDEL, Maurice. – La Acción. Madrid: BAC, 1996. COSTA, José Miguel Dias – O Desejo como História – O Sentido da Cultura Humana em René Girard. Braga: Publicações da Faculdade de Filosofia, 2005. GADAMER, Hans-George – “A Universalidade do Problema Hermenêutico”, In: Hermenêutica Contemporânea, Lisboa: Edições 70, 1980.

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Questões de Fé, crenças e culto… em aberto!

Foto: Anderson de Souza

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Ensaio 05 VII Frrrk Guys Party 3 anos T. Angel* www.frrrkguys.com Depois de um longo intervalo, eis que surge a oportunidade de se fazer uma outra edição da Frrrk Guys Party, dessa vez com um peso extra, a celebração de 3 anos do projeto. Foi tudo muito rápido, grosso modo, num dia tinha a data e noutro já era a festa. Mais do que nunca a ansiedade era muito grande, talvez numa breve comparação, sentia como se fosse a primeira vez. Em alguns momentos aquele sentimento de “e agora?” rondaram a minha cabeça, mas era uma festa de aniversário e tomei pra mim que qualquer que fosse a falha, esta deveria ser encarada com descontração e bom humor. Reduziu a ansiedade e nervosismo? Não. Ao menos foi importante pensar assim em alguns momentos. As 23:00 abriam-se as portas do Áudio Delicatessen - casa que sediou a festa comemorativa - e a multi artista e hostess Muse From Hell dava as boas vindas aos convidados. A casa é dividida em dois andares, um mais aconchegante para quem gosta de bater um papo e outro com a pista. No primeiro andar estava montada a “Expo ART.ficial 6.9”, que traziam trabalhos expostos durante os três anos de projeto. Telas dos artistas Júlio César, Fernando Fefs, Aline Torchia, T. Angel, Jullye Poslednik e Aline Aiba preenchiam o espaço, junto com algumas fotos das edições passadas. A dupla de Djs Jeff e Zezé abria a discotecagem da noite, convidavam os primeiros que chegavam para conhecer a pista e a se familiarizarem com a casa. Aos poucos o espaço foi sendo preenchido por sorrisos, gargalhadas, abraços e beleza. Passando da meia noite, eram feitos os últimos ajustes do pocket show da banda Diva Muffin. As primeiras batidas misturadas com os vocais digitalizados do vocalista Droee, foram suficientes para que todos os olhares fossem atraídos para a banda. A música que abria o show era “The world fails down” e os minutos sequentes reser-

“The world fails down” e os minutos sequentes reservavam surpresas diversas para o público presente. Surge na frente da banda, sentando num banco um dos integrantes, o performer T. Angel. Face pintada e trajando um longo sobretudo azul, iniciava sua performance. A música era “Canibalismo” e a performance fez jus ao nome. Por baixo do sobretudo o performer vestia uma roupa construída no próprio corpo, feita de papel e plástico. Em poucos minutos as estilistas Jullye Poslednik e Aline Torchia viram a “roupa” que construíram sendo literalmente destruída durante a performance. Eram convidadas pessoas da platéia, se assim podemos dizer, para simbolicamente comê-lo cru. Emilia – uma das canibais – rasgava e mordia freneticamente o corpo simbólico do performer e para surpresa de todos, foi levantada do chão com num beijo, que arrancou tímidos gritinhos de quem assistia curioso tudo aquilo. Segundo T. Angel, a roupa efêmera representava a própria pele, vísceras, músculos, corpo humano e o ato de rasgar que envolvia a performance, era a crua representação canibalesca da sociedade capitalista contemporânea. Inteiramente despido – exceto por uma sunga branca e coturnos - o performer deixa mostrar em suas costas dois ganchos estrategicamente colocados. O show continuava, a terceira música chegava aos poucos, todavia, todos já estavam inteiramente conectados com o áudio e visual que o Diva Muffin estava proporcionando naquela noite. “Substance T.” colocava alguns poucos pra dançar, mas com os olhares atentos ao próximo ato de T. Angel. O performer então chama o modifier Dark Freak que estava em um dos cantos da pista. Algumas palavras sussurradas e duas cordas ficam soltas e atadas aos ganchos. Estica, puxa, dança, sangra - não nessa exata ordem – no frenesi das batidas eletrônicas. Dark Freak novamente surge, dessa vez segurando as duas cordas de uma forma que desse maior sustentação e capacidade de controle e força.

*T. Angel - São Paulo/Brasil Técnico em moda pelo SENAC e graduando em História pela Universidade FIEO, atualmente integra o staff do site argentino Piel Magazine e é diretor geral do website Frrrk Guys, que aborda as temáticas da modificação corporal e da beleza masculina oriunda dessa prática. Além disso, desde 2005 vem atuando no cenário da performance art. Nos últimos anos, Thiago Ricardo Soares vem colaborando com artigos para diversas revistas nacionais e internacionais. Tem experiência na área de História, atuando principalmente nos seguintes temas: body art, performance e modificação corporal. Como pesquisador histórico, interessa-se pelos seguintes temas: body art, performance e modificação corporal. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2319714073115866

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Foto: Blog Modifique-se 75 - Informe C3


Ensaio 05

T. Angel faz ligeiros ensaios de tentativa de se soltar dos ganchos presos em sua costa. O que era ligeiro se torna intenso, e o performer caminha em direção a platéia que aos poucos vão abrindo um verdadeiro túnel humano. Dark Freak segue o segurando pelas cordas. Batidas eletrônicas e movimentos corporais intensificados. Um verdadeiro cabo de força estava posto, feito de carne, gancho e sangue. Chegado o final da apresentação todos aplaudiam sorridentes. A banda continuava o show no andar de cima e T. Angel descia para o térreo. Um espaço para suspensão estava devidamente montado. Luciano Iritsu e Dark Freak rapidamente ajustam os detalhes finais e em poucos minutos T. Angel estava sustentado por dois únicos ganchos. Um, dois, três e foi, corpo no ar. Rodopios, balanceios, alongamentos no ar. Alguns minutos depois e os pés novamente alcançavam o chão. O show havia chegado ao fim, mas a festa estava em suas primeiras horas.

Foto: Giuliana Ramaglia

Novamente os djs Jeff e Zezé voltam ao comando do som. A pista mais cheia e o povo mais animado. Todos tiravam muitas fotos como se quisessem guardar aqueles momentos em caixinhas de cristais. Abraços, beijos e demonstrações de carinho eram uma constante. O cenário era de um monte de crianças grandes que não se encontram sempre, que estavam apenas se divertindo e celebrando o aniversário de um projeto, que de certa forma, foi responsável por criar conexões entre quase todos os que estavam presentes e tantos outros que ficaram com vontade de estar lá. A música não pode parar e logo chegava a hora do set da Dj Madô, que colocou a todos pra dançar. Era uma verdadeira celebração! Mais uma cena curiosa da noite e novamente no primeiro andar. Um pedido do barman “liberem o espaço”, todos estranham e aos poucos se afastam do balcão. Foi tempo suficiente para que o balcão ficasse em chamas. Surge em cena Emilia, que após o fogo apagar se deita sobre o balcão. Alguns garotos se aproximam. Limão e sal são colocados sobre a barriga dela e tão logo se aproxima um dos garotos. Delicadamente é despejado Tequila sobre a barriga de Emilia e o jogo era utilizar o limão, o sal e o corpo como copo. Como diria um amigo: “wow, it sounds HOT” e realmente foi. A noite chegava ao fim. A festa de 3 anos do Frrrk Guys tinha sido sensacional assim todos saiam dizendo e os sorrisos nos olhares de cada um – até mesmo daqueles que haviam consumido uma dose extra de álcool – não os deixavam mentir. Que esses 3 anos do Frrrk Guys se multipliquem por tantos e tantos outros e que sempre possamos celebrar a beleza da vida de forma digna, feliz, singular e em paz.

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Foto: Anne Ramone Ness


VII Frrrk Guys Party 3 anos

Foto: Blog Modifique-se 77 - Informe C3


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Foto: Mariana Janeiro

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Foto: Anne Ramone Ness


VII Frrrk Guys Party 3 anos

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Ensaio 05

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Foto: Giuliana Ramaglia

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Ensaio 06 Crenças - “Pode crê!” Francine Pressi* Alguma vez você já parou para se perguntar o que nos fixa no mundo? O que faz com que, apesar dos obstáculos, continuemos firme em nossas buscas, sejam elas, pessoais, profissionais ou espirituais? Seriam as crenças responsáveis por isso?

Então seria ela capaz de salvar o ser humano deste “sofrimento” que é estar em dúvida? E fazendo uso de uma frase pronunciada por LESSA, que diz que os homens nascem como náufragos para serem resgatados, seria possível ver na crença uma forma de resgate?

Foi refletindo sobre a importância das crenças na vida humana, que me lembrei da conferência apresentada por Renato Lessa em um evento realizado em Porto Alegre na UFRGS, Mutações – A Condição Humana. O evento em si, faz parte do Programa Cultura e Pensamento, um programa realizado pelo MinC ao longo de sua gestão, desde 2005.

Partindo desta ideia da crença como uma forma de fixação no mundo, seria possível imaginar uma vida sem crenças? Lessa traça seu ponto de vista em relação a isso com base em David Hume, no Livro I do Treatise(01):

Retomando algumas anotações particulares, realizadas a partir da fala de Lessa durante tal congresso, e tendo como base seu texto O que mantém um homem vivo? (II): Novos Devaneios sobre algumas transfigurações do humano, foi possível levantar alguns pequenos questionamentos a cerca das chamadas crenças, foco central deste ensaio. Partindo da fala de LESSA, é possível analisar os humanos como animais que alucinam, pois a alucinação existe sempre que se tenta trazer coisas do passado para o presente ou aproxima-se do futuro através de ideias e planejamentos. Este pensamento aqui se faz importante, pois se entende a crença como base das alucinações, e como forma de vinculação, como uma potência de fixação do homem no mundo. O homem, enquanto animal causal que é, necessita dos “porquês” para que seu desejo de sentido não seja desfigurado, ele move-se pela força de sentido. E é a crença, ao contrário da ciência que se inscreve na dúvida, que nos traz a ideia de certeza, de convicção. Então seria

Com efeito, a equivalência entre crença e oxigênio – claramente estabelecida por Hume no paralelismo que propõe entre os atos de crer e de respirar, no Livro I do Treatise -, a meu juízo, faz da hipótese de uma vida sem crenças uma impossibilidade psicológica e um salto na direção da melancolia filosófica e do delírio. (LESSA, 2008, pág 39) Lessa nos fala sobre as crenças ordinárias e naturais, nos colocando que as crenças ordinárias seriam crenças comuns geralmente baseadas nas crenças naturais (crença mãe), já as crenças naturais seriam aquelas universalmente aceitas. Segundo Lessa: O conteúdo das crenças transforma-se com o tempo e com os usos, mas parece haver características fixas que constituem o que Hume designa como crenças naturais. Seguindo, ainda, Hume, uma crença natural é: *Uma crença ordinária, presente na vida comum * Incapaz de justificação racional * Uma crença cuja ausência tornaria impossíveis as atividades normais da vida comum * Universalmente aceita. (LESSA, pg.40, 2008) Indo além, Lessa, referindo-se aos conteúdos das crenças, cita aquilo que designa como os três atos de crença que preencheriam os critérios de uma crença

* Francine Cristina Pressi - Brasil/RS/São Leopoldo Graduada como Tecnóloga em Dança pela Universidade Luterana do Brasil - ULBRA em 2008, foi agraciada por mérito acadêmico ao obter melhor média durante o curso de Tecnologia em Dança. Hoje está cursando Licenciatura em Dança pela ULBRA. É bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora em dança com ênfase em linguagens contemporâneas. Desenvolve trabalhos artísticos como bailarina desde 2003, participando de várias performances, espetáculos, festivais e mostras de dança, atuando em companhias de dança como a Cia. Corpo Alma, Cia. Hackers Crew, e colaborando como bailarina/interprete de dois estudos coreográficos orientados por Carlota Albuquerque e dirigidos por Wagner Ferraz (O Jogo) e Raul Voges (Provisório – Processo I). Hoje atua também na área de pesquisa em dança, abordando temas como dança, corpo, moda, cultura e contemporaneidade dentro do grupo de pesquisa Processo C3 dirigido por Wagner Ferraz.. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq. br/8890297538503375.

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Crenças - “Pode crê!” de crença que preencheriam os critérios de uma crença natural, anteriormente citados: * Crer na existência contínua de um mundo exterior e independente de nossas percepções; * Crer que as regularidades que ocorrem em nossa experiência constituem uma base confiável para compreender as que ainda ocorrerão; * Crer na confiabilidade dos nossos sentidos. (LESSA, pg.40, 2008) A crença se faz presente no cotidiano do ser humano e torna-se um recurso cognitivo para dizermos o que queremos. Se indagarmos a relação da crença com os hábitos diários que constituem a vida comum dos indivíduos, LESSA afirma que há uma conexão direta entre eles, pois: O hábito, em sua essência é um hábito de agir e de crer. Ambos, hábito e crença, são constitutivos da commom life e de um padrão de regularidade e estabilidade que circunscreve o mundo. Mundo que não se faz regular por qualquer desígnio sobrenatural ou determinação naturalística, mas pela operação da história. Esta, por sua vez e tal como nos aparece na History of England, pode ser definida como o conjunto dos esforços humano para simular e criar formas de estabilidade, através das crenças e do hábito. (LESSA, pg.40, 2008) Crer no resgate deste “naufrágio” que é a vida e buscar formas de estabilidade parece-me uma constante na trajetória humana. Estaria no poder da crença, a solução de boa parte dos problemas do mundo? Independente da resposta, e correndo o risco de parecer superficial, ironicamente encerro este ensaio com uma frase muito utilizada por determinados indivíduos que diz: “É isso aí, pode crê!”

Notas: 01 - HUME, David. A Teatrise of human nature (Ed. SelbyBigge), Oxford: Clarendon Press, 1987.

Referências: LESSA, Renato – O que mantém um homem vivo? (II): Novos Devaneios sobre algumas transfigurações do humano (Páginas. 35 - 47) – In: Mutações – A Condição Humana - Curadoria: Adauto Novaes, 2008. Engelmann, Mauro. Um Mundo de Sensações – Russel e a defesa do monismo neutro (Páginas 64 -73). In. Jogo de Linguagem e Psicologia Filosófica. Revista Mente & Cérebro, série especial Mente, Cérebro & Filosofia. Duetto - Edição nº 9. São Paulo – SP.

Foto: Anderson de Souza

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VocĂŞ acredita que a moda dialoga com a arte? 84 - Informe C3


Disneyl但ndia! Desfile do estilista Ronaldo Fraga no S達o Paulo Fashion Week Primavera/Ver達o - 2009/2010. Fotos: Gr達o Imagem

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Você acredita que a moda acredita que a moda dialog dita que a moda dialoga c que a moda dialoga com a moda dialoga com a arte? dialoga com a arte? Você loga com a arte? Você acr com a arte? Você acredita arte? Você acredita que a Você acredita que a moda acredita que a moda dialog dita que a moda dialoga c que a moda dialoga com a moda dialoga com a arte?

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Ensaio 07 As Ruas de Goiás Velho e o Casarão Nelci Rosa Moreira*

Goiás Velho, cidade histórica, tombada pelo patrimônio público que, há pouco tempo, sobreviveu a uma enchente. Ruas, construções históricas foram inundadas, um grande acervo foi destruído, veio a público o abandono daquela cidadezinha, que fora no passado, importante no contexto regional goiano do Centro-Oeste; talvez na época uma grande metrópole!. Por alguns momentos, a pacata cidade virou assunto sem antecedentes nos diversos meios de comunicação, tornando manchete dos jornais impressos e televisivos, e o “mundo” , como nunca antes, conhecera Goiás Velho!. Através daqueles alardes jornalísticos, eu recordei-me, então, que havia, num passado não muito distante, conhecido aquela cidade e quiçá caminhado por tais ruas. Lembrei que visitara um casarão!, numa longínqua esquina...Havia-me deslumbrado com as janelas enormes, feitas de madeira rústica, com o piso de assoalho, do qual parecia ressoar o som de vozes vindas do porão. A sala lembrava um museu histórico, com quadros antigos pendurados na parede, que retratavam as histórias de bravuras daquele povo; das fugas dos negros para o quilombo; no centro da tal sala, uma mesa retangular velha, com doze cadeiras e sobre ela, como adorno, um ferro a brasa. Em cada canto daquela sala, havia um candeeiro. Na cozinha, o fogão à lenha, e as marcas pretejadas do picumã no teto. No quarto, a atmosfera da simplicidade, do quase vazio!, apenas um catre, envolto por uma colcha de retalho, um guarda-roupa velho, fechado a tramela e uma caixa grande de madeira com a tampa de couro, remeteu-me à austeridade do antigamente. No quintal do casarão, o monjolo apoiado por uma estaca na posição horizontal, mostrava sua parte côncava ressecada, pois a bica d’água não mais desaguava com a mesma abundância do passado. O engenho de cana-de-açúcar abandonado, à sombra da mangueira. O velho carro de boi que, outrora, fora o único meio de transporte, anunciava, melancolicamente, o fim dos seus dias de um tempo glorioso. As charretes, de assentos acolchoados, na praça, acenavam para a transformação advinda do progresso incontestável. Hoje, vistos e usados apenas como atração turística.

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Vi, naquela época, uma escritora, baixinha e idosa, popular para aquela gente, escrevendo acomodadamente sobre o aconchego de um banco, na praça. E as crianças brincavam de roda, entoando canções antigas... Enquanto isso, os pais conversavam no meio da rua, ao calor das chamas trepidantes, de uma fogueira de trempe, feita artesanalmente, para aquecer as noites frias. Os rostos queimados, do calor árido do cerrado, acentuavam, ainda mais, a expressão forte dos sertanejos, que traziam no fim da tarde, suas enxadas nos ombros, como símbolo da força do trabalho, após o dia de labuta. Contemplei desaparecendo por entre as névoas da poeira vermelha, as vielas, que ainda conservavam a simplicidade arquitetônica das casas de estuque. Percebi, contrariamente, numa outra parte da cidade, os paralelepípedos que anunciavam a chegada da modernidade, a qual Cora Coralina jamais advogou a favor ou contra, apenas acreditava no valor e na força daquela gente simples e modesta, que ela mesma tão bem retratou, em sua essência, de povo goiano, como era hospitaleiro! Por conseguinte, ainda cultivavam seus costumes e valores, que eram passados de geração para geração. Saindo daquela cidade, saltitando pueril, na caçamba de um caminhão; não poderia imaginar a importância que Goiás Velho, viesse representar num futuro vindouro, no cenário cultural. Notei que na janela do tal casarão, havia uma senhora de expressão singela, cabelos ralos e grisalhos, que acenava sem pressa para todos que por ali passavam. Talvez aquele aceno tão calmo da janela quisesse nos dizer algo. Ou quem sabe tenha dito? — hei, vocês mais novos... tenham calma! Não corram tanto!, porque para alguns a vida pode começar aos setenta anos. Oh! Doces imagens foram aquelas que guardo até hoje na memória: de ter vislumbrado ao menos uma vez, ainda que de longe!, tal poetisa, que me ensinou, de uma forma singela, a gostar da beleza da terra e a amar a poesia! Cora Coralina, em 1982, nos deixou órfãos!. Todavia ficaram seus poemas, que, para nós, leitores sedentos de poesias, ainda vivem no legado de suas obras... Como:


As Ruas de Goiás Velho e o Casarão

“Poemas dos becos de Goiás e histórias mais”, “Vintém de cobre — meias confissões de Aninha” e “Aninha e suas pedras”, este último é de onde eu destaco este poema dentre tantos outros favoritos:

EU CREIO “Creio nos valores humanos e sou a mulher terra. Creio em Garça e na sua gente. Creio na força do trabalho como elos e trança do progresso. Acredito numa energia imanente que virá um dia ligar a família humana numa corrente de fraternidade universal. Creio na salvação dos abandonados e na regeneração dos encarcerados, pela exaltação e dignidade do trabalho. Exalto o passado, o presente e o futuro de Garça no valor de sua gente, no seu constante poder de construção. Acredito nos jovens à procura de cominhos novos abrindo espaços largos na vida. Creio na superação das incertezas deste fim de século”. Cora Coralina (1985).

Nelci Rosa Moreira - Porto Alegre/RS Pedagoga com Habilitação Gestão e Supervisão, professora, Cursa Pós Graduanda em Educação Especial (Universidade do Vale do Rio dos Sinos- UNISINOS). Foto: Anderson de Souza


Ensaio 08 Vitrina: Marca no Espaço Urbano Anderson de Souza* Entre os dias 08 e 10 de setembro aconteceu na cidade do Rio de Janeiro o evento Imagens Urbanas – Vitrinas em Exposição que reuniu especialistas brasileiros e franceses no campo da semiótica e do visual merchandising. Apresentando palestras, workshops e mesas redondas onde foram debatidas idéias, experiências e tendências atuais do setor. Evento que teve a curadoria de Ana Lúcia Simões-Corrêa e Sylvia Demetresco fazendo parte da programação oficial do “Ano da França no Brasil”. Confesso ter me surpreendido com as informações e conhecimentos adquiridos neste evento, pois minhas expectativas iniciais esperavam encontrar informações mais técnicas e práticas sobre o assunto Vitrinismo, e, no entanto acabei me deparando com informações e fundamentos acadêmicos fundamentais para se construir ou mesmo embasar toda e qualquer técnica utilizada na elaboração de uma vitrina. E é com base em anotações feitas por mim durante o evento que pontuei algumas palavras chaves que marcaram as falas do evento, palavras que estiveram presentes direta ou indiretamente nos discursos de cada palestrante. Tais palavras são: marca, identidade, diferença, cidade, símbolo, cultura, sentido e utopias. E é fundamentado nestas mesmas anotações que apresentarei a seguir algumas das informações captadas neste evento. Tendo como tema “A marca na cidade: o modelo semiótico da marca no urbano”, a francesa Claire Courtois, consultora em estratégia de marcas e diretora da empresa Démarcations, apresentou em sua fala a importância que se deve dar a uma marca. Pois segundo Claire, as marcas produzem sentido para a sociedade e as cidades contemporâneas são cidades de marcas, e realmente vivemos rodeados por marcas, (roupas, calçados, carros, grafittes nos muros, luminosos em prédios, tatuagens nos corpos, etc.) e quando me refiro a marca, estou me referindo a todas as possíveis interpretações e leituras desta palavra. Pois tudo o que consumimos possui uma marca e/ou nos deixam marcas. Para Claire a marca desenha a Cidade, determinando territórios e fronteiras simbólicas e se relacionando direta ou indiretamente com a identidade

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desenha a Cidade, determinando territórios e fronteiras simbólicas e se relacionando direta ou indiretamente com a identidade dos indivíduos presentes nestes espaços. E as vitrinas são um dos meios em que as marcas marcam seus territórios, delimitam seus espaços, mudam a geografia da cidade e se apresentam como símbolos de poder. Já a fala das também francesas Anais Parenteau e Valérie Parenty, respectivamente diretora de desenvolvimento e diretora/sócia da Saguez & Partners, apresentaram como tema “o segredo das marcas e dos conceitos que funcionam”. Assunto que veio a complementar a fala da palestrante anterior no que diz respeito ao posicionamento de marcas no mercado e exemplos de estratégias de marketing. Discursos extremamente capitalistas, mas que acabam sendo muito importantes para a sobrevivência das empresas, principalmente do comercio varejista. Complementando este discurso, que de certa forma apresentava o caminho que as ações voltadas para práticas de consumo tendem a seguir, a Profa. Dra. Ana Claudia Alves de Oliveira – PUC/SP teceu através de sua fala vários apontamentos a respeito da cultura contemporânea em relação ao consumo, apontamentos que falavam sobre a construção de sujeito, e que o agir deste sujeito é o consumo. E este sujeito só busca aquilo do qual sente falta, ou que pelo menos acredita sentir falta, pois muitos dos valores do mundo estão sendo transferidos para os bens de consumo. As marcas passaram a ser utilizadas para mediar as relações entre os sujeitos. Já a fala da Profª. Dra. Lucy Niemeyer – UFRJ/RJ comentou que a Moda foi a primeira a perceber a importância da marca, em que o significado da marca carrega uma idéia de valor, de associação com outros signos percepções e impressões. E uma das falas mais esperadas por mim foi a de Anne Zazzo, conservadora do patrimônio do Museu Galliera (Musée de la Mode de la Ville de Paris) que trouxe como tema a “Vitrina no Museu”, apresentando a vitrina como uma ferramenta de sentido para o observador,


Vitrina: Marca no Espaço Urbano como tema a “Vitrina no Museu”, apresentando a vitrina como uma ferramenta de sentido para o observador, propondo um jogo de associações, pois tanto o museu quanto a vitrina trabalham com a imaginação, podendo estabelecer elos entre os objetos apresentados. Sendo o museu um local de construção de sentidos e as vitrinas janelas que pregam pistas e apresentam vistas. E sua fala veio a atestar algumas ações que eu já venho empregando há algum tempo, pois em meus discursos sobre vitrinas, sempre as relaciono com as ações de apresentadas nos museus. Onde se tem uma preocupação com a disposição da obra ou produto, com a iluminação e com a possível leitura do observador. Caroline François, historiadora, mestre em história da arte e história contemporânea e curadora do Memorial de La Shoah em Paris, trouxe como tema “A influência dos Grands Magasins (lojas de departamento) na teia urbana.” Apresentando um histórico de como surgiram as lojas de variedades que posteriormente se tornariam as grandes lojas de departamento a exemplo da Galerie Lafayette. Mostrando que assim como shoppings desempenham papel de destaque na sociedade contemporânea, lojas de departamento, desde seu surgimento, também exerciam um papel de destaque na sociedade francesa. Destaque que ainda se mantém, pois a Galerie Lafayette, por exemplo, é o segundo ponto turístico mais visitado de Paris, ficando atrás apenas da Torre Eiffel. A Profª. Dra. Carol Garcia, jornalista graduada pela Universidade Federal do Paraná, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, apresentou o tema “Políticas de visibilidade na moda da America Latina”. Partindo das supostas interpretações dos europeus colonizadores a cerca da América Latina, onde, segundo a palestrante, se iniciou a construção de uma imagem “exotizada, submissa, feminina e estereriotipada” do Brasil, e culminou no seguinte questionamento: qual á a identidade Latina? Para falar desta identidade Latina na moda, a jornalista pontuou seu discurso se referindo a três estilistas em especial. Carlos Valenzuela, com a coleção “La Milagrosa” (verão 2009), o brasileiro Ronaldo Fraga, com a coleção “Disneylândia” (verão 2010) a marca mexicana Trista com a coleção “Escucha me com los ojos” (verão 2008). Através destes exemplos e de outros a palestrante apresentou que existe a possibilidade de reposicionar a imagem dos países latino americanos perante os demais se livrando dos estereótipos. E tomando como embasamento as falas dos palestrantes que não chegaram a ser citados aqui, se pode concluir que as noções de visual merchandising brasileiro e francês têm muito a aprender uma com a outra, e que ambos concordam que o mundo mudou e que é necessário se adaptar as transições que estão ocorrendo e ainda estão por vir, e que o consumidor, seja no aspecto capitalista ou cultural quer ser surpreendido. Seja na vitrina ou

Seja na vitrina ou no museu é necessário gerar novas possibilidades, fugir do convencional e estar atento ao acontece ao seu redor. Sites indicados: - http://www.vitrina.com.br/iu2009/ - http://www.demarcations.fr - http://www.saguez-and-partners.com - http://http://www.memorialdelashoah.org - http://www.paris.fr/portail/Culture/Portal.lut?page_ id=5854 - http://www.memorialdelashoah.org/ - http://www.modusmkt.com/ - http://www.ibmoda.com.br/ Anderson Luiz de Souza - Brasil/RS/Canoas Bacharel em Moda pelo Centro Universitário de Maringá - CESUMAR. É aluno da Especialização em Arte Contemporânea e Ensino da Arte na Universidade Luterana do Brasil - ULBRA. Atualmente é Docente no SENAC Moda e Beleza / Canoas-RS no Curso Técnico em Moda e em cursos livres atuando nas áreas de história da moda, desenho e criação, pesquisa em moda e cultura, técnicas de vitrinismo e produção de moda. Pesquisador do grupo de pesquisa Processo C3, idealizador e responsável pelo site www.ferrazdesouza.com que busca disponibilizar informações relativas aos estudos sobre o corpo e cultura (dança, moda, artes, entrevistas, cinema, exposições, eventos...). Como bailarino de dança contemporânea atuou em vários espetáculos, performances, festivais e mostras de dança. Artista Plástico integrante do Grupo/Projeto Arquivo Temporário (grupo de artistas que buscam através de suas obras chamar a atenção para prédios históricos e espaços culturais de pouca visitação). Ministra palestras sobre : A relação Moda e Figurino, Inspirações e Tendências de Moda, Vitrinismo construindo cenas. Além de trabalhar como assistente de fotografia, estilista, figurinista, ilustrador de Moda e designer gráfico. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq. br/7662816443281769 .

Foto: Anderson de Souza

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Leituras Indicadas

Título: Corpos e Cenários Urbanos: Territórios Urbanos e Políticas Culturais Autor: Henri Pierre Jeudy e Paola Berenstein Jacques (orgs.) Editora: EDUFBA. Ano: 2006.

Os autores reunidos neste livro fazem parte do projeto de cooperação internacional CAPES-COFECUB “Territórios Urbanos e Políticas Culturais”, que já promoveu seminários em Salvador, Rio de Janeiro, Paris e Bordeaux. Neste livro, os autores analisam como se transformam as relações entre urbanismo e corpo, entre imagem e corpo, e entre o corpo urbano e o corpo do cidadão.

Título: Identidade e Diferença Autor: Tomaz Tadeu da Silva (org.) Editora: Editora Vozes Ano: 2007 Compreender o que é identidade é fundamental para se entender o que é diferença. Leitura fundamental para que busca abordar estes assuntos.

Foto: Anderson de Souza

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Ingresse na Rede Social Processo C3 www.processoc3.ning.com

Para ingressar na rede basta se cadastrar. Na rede é possível: - criar e particpar de grupos; - bater papo pelo chat; - criar blogs; - divulgar eventos; - encontrar amigos e pessoas afins; - deixar recados; - postar fotos, textos e vídeos; - participar e inicar foruns de discussão; - convidar amigos para participar; Visite também o site e blog do Processo C3 e colabore www.processoc3.blogspot.com www.processoc3.com

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Foto: Anderson de Souza

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TEMPO E CURA (por Mario Gordilho) É, meu irmão! Tava aqui pensando Nessa vida-maré... Quão vulnerável ela é! Ora em alta, ora em baixa, Mas indo, Sempre em movimento, No decorrer do tempo... A desilusão, a perda, A frustração, a agonia, A solidão... Existem, sim! E nos pegam de surpresa, Mas vão, E levam o tormento, No decorrer do tempo... Aí ficamos à deriva, Meio que perdidos, Em nossa própria vida, Na calmaria da maré, Vendo tudo se ajeitar, Sem perder a fé, Imprescindível elemento, No decorrer do tempo... Eis que surge o Sol! Energizando, positivamente, Nossa fé, Paciência e resistência, Iluminando, para O Criador, O caminho da nossa cura, No certo momento, No decorrer do tempo... Inertes, claro que não! Reagimos, Temos que remar! Valendo-se ou não da correnteza, Seguimos o nosso rumo, Chegaremos a algum lugar, Com o sopro do vento, No decorrer do tempo...

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Este espaço é seu!!! Colabore com o Processo C3 e auxilie a fazer a Revista Digital Informe C3. Envie textos, artigos, fotos, artes gráficas, divulgações e indicações de livros, revistas e diferentes materias que possam auxuliar pesquisadores e artístas em suas obras e processos criatícos e/ou científicos. Faça parte!!! Processo C3 Grupo de Pesquisa Wagner Ferraz 51-9306-0982 wagnerferrazc3@yahoo.com.br www.processoc3.com www.processoc3.blogspot.com www.processoc3.ning.com


C3

Processo

Grupo de Pesquisa

Revista Virtual

Informe C3

Corpo - Cultura - Artes - Moda

O “Processo C3 Grupo de Pesquisa” busca investigar os processos de construção do Corpo em diferentes contextos Culturais, relacionando com os discursos e práticas da Contemporaneidade. Tendo as Artes, Moda e Cultural como focos para tentar esclarecer e fortalecer interrogações.

Colabore

Colabora - envie sua opiniã, dúvidas, questionamentos, idéias... Esteja mais próximo de nós, mesmo que através de uma mensagem por email. wagnerferrazc3@yahoo.com.br

Anderson de Souza Pesquisador anderson_design4@yahoo. com.br (51) 9231 5595

Francine Pressi - Pesquisadora culturaderua_@msn.com (51) 8457 3757

Wagner Ferraz - Pesquisador e Diretor wagnerferrazc3@yahoo.com.br (51) 9306 0982 www.processoc3.com

www.processoc3.com www.processoc3.blogspot www.processoc3.ning.com 117 - Informe C3


Quem é quem?

Processo C3 Grupo de Pesquisa

O Processo C3 surgiu da união de três jovens* pesquisadores para produzir um trabalho coreográfico de linguagem contemporânea – “Campanha de prevenção ao câncer de próstata” - para o Cri-Ação Dança (evento realizado pelos estudantes da Graduação em Dança da Universidade Luterana do Brasil, ULBRA-Canoas/RS). Também ligados por “bolsas” oferecidas pelo CEC Terpsí da Cia Terpsí Teatro de Dança de Porto Alegre, onde participavam de oficinas de Ballet Clássico, Alongamento, Dança Contemporânea e Processo Criativo, os três estudantes resolveram “legitimar” a união e formar o presente grupo de pesquisa com a intenção de dividir suas buscas e dúvidas. Dessa forma surgiu o grupo de pesquisa Processo C3, que apresenta os processos pelos quais os participantes/fundadores têm passado, na busca por compreender os processos que constroem o CORPO em diferentes CULTURAS relacionando sempre com a CONTEMPORANEIDADE. Hoje o Processo C3 conta com colaboradores no Informe C3 que se empenham para que este veículo posso existir. O “Processo C3 Grupo de Pesquisa” busca investigar os processos de construção do Corpo em diferentes contextos Culturais, relacionando com os discursos e práticas da Contemporaneidade. Tendo as artes, Moda e questões socioculturais como focos para tentar esclarecer e fortalecer interrogações. *Anderson de Souza, Francine Pressi e Wagner Ferraz

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Currículos Processo C3 Anderson Luiz de Souza - Brasil/RS/Canoas

Bacharel em Moda pelo Centro Universitário de Maringá - CESUMAR. É aluno da Especialização em Arte Contemporânea e Ensino da Arte na Universidade Luterana do Brasil - ULBRA. Atualmente é Docente no SENAC Moda e Beleza / Canoas-RS no Curso Técnico em Moda e em cursos livres atuando nas áreas de história da moda, desenho e criação, pesquisa em moda e cultura, técnicas de vitrinismo e produção de moda. Pesquisador do grupo de pesquisa Processo C3, idealizador e responsável pelo site www.ferrazdesouza.com que busca disponibilizar informações relativas aos estudos sobre o corpo e cultura (dança, moda, artes, entrevistas, cinema, exposições, eventos...). Como bailarino de dança contemporânea atuou em vários espetáculos, performances, festivais e mostras de dança. Artista Plástico integrante do Grupo/Projeto Arquivo Temporário (grupo de artistas que buscam através de suas obras chamar a atenção para prédios históricos e espaços culturais de pouca visitação). Ministra palestras sobre : A relação Moda e Figurino, Inspirações e Tendências de Moda, Vitrinismo construindo cenas. Além de trabalhar como assistente de fotografia, estilista, figurinista, ilustrador de Moda e designer gráfico. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq. br/7662816443281769 .

Francine Cristina Pressi - Brasil/RS/São Leopoldo

Graduada como Tecnóloga em Dança pela Universidade Luterana do Brasil - ULBRA em 2008, foi agraciada por mérito acadêmico ao obter melhor média durante o curso de Tecnologia em Dança. Hoje está cursando Licenciatura em Dança pela ULBRA. É bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora em dança com ênfase em linguagens contemporâneas. Desenvolve trabalhos artísticos como bailarina desde 2003, participando de várias performances, espetáculos, festivais e mostras de dança, atuando em companhias de dança como a Cia. Corpo Alma, Cia. Hackers Crew, e colaborando como bailarina/interprete de dois estudos coreográficos orientados por Carlota Albuquerque e dirigidos por Wagner Ferraz (O Jogo) e Raul Voges (Provisório – Processo I). Hoje atua também na área de pesquisa em dança, abordando temas como dança, corpo, moda, cultura e contemporaneidade dentro do grupo de pesquisa Processo C3 dirigido por Wagner Ferraz.. Endereço para acessar este CV: http:// lattes.cnpq.br/8890297538503375.

Wagner Ferraz - Brasil/RS/Canoas

Graduado em Dança pela ULBRA, cursa Especialização em Educação Especial e em Gestão Cultural. Assessor da Coordenação de Cultura - ULBRA/Canoas. Bailarino, coreógrafo, professor de dança e pesquisador em dança com ênfase em linguagens contemporâneas, tem como foco investigar a relação corpo e cultura. Já dirigiu coreografou e atuou em vários espetáculos, performances, festivais e mostras de dança. Integrou o elenco da Cia Terpsí Teatro de Dança (2006/2007). Atualmente também ministra aulas e oficinas de dança, processo criativo em dança, dança contemporânea e expressão corporal no ensino regular e no ensino especial com pessoas com deficiência física, mental, auditiva e visual, além de outras síndromes. Diretor e pesquisador do grupo de pesquisa Processo C3, idealizador e responsável pelo site www.ferrazdesouza.com e Informativo FdeS onde busca disponibilizar informações relativas aos estudos sobre o corpo e cultura (dança, moda, artes, entrevistas, cinema, exposições, eventos...). Desenvolve trabalhos como assistente de fotografia e webdesigner. Ministra palestras sobre : Processo Criativo, Expressão Corporal e Adaptações para pessoas com deficiência, Dança e Adaptações para pessoas com deficiência, Corpo e Território, Modificações Corporais, Construção Social da Beleza e da Feiúra, Construção Socail de Corpo e Realções entre Corpo e Moda. Atua principalmente nos seguintes temas: dança, criação, coreografia, performance, corpo, corpo-moda, cultura e pesquisa. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/7662816443281769 .

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Colaboradores

Luciane Coccaro - Rio de Janeiro/Porto Alegre/Brasil

Mestre em Antropologia Social/UFRGS; Bacharel em Ciências Sociais/UFRGS; Professora Assistente do curso de Bacharelado em Dança – Departamento de Arte Corporal – UFRJ; Foi Professora Adjunta do Curso de Graduação Tecnológica de Dança/ULBRA; Foi Professora Adjunta da Faculdade Decision de Administração de Empresa/FGV; Foi Professora do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem/IAHCS; Bailarina – Prêmio Açorianos 2000; Atriz – Prêmio Volkswagen 2003; Coreógrafa de dança contemporânea; Diretora da Cia LuCoc e do Grupo Experimental de Dança da ULBRA – de 2006 até 2008; Diretora e intérprete do Espetáculo Estados Corpóreos em 2009.

Paulo Duarte - Portugal/ Coimbra

Jesuíta. Licenciado em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia de Braga – Universidade Católica Portuguesa. Professor de Religião e bailarino. Tem como interesse de estudos a relação entre o corpo/dança e a espiritualidade. Já actuou em espectáculos de dança contemporânea e em performances.

Marta Peres - Rio de Janeiro/Brasil

Professora Adjunta do Departamento de Arte Corporal EEFD-UFRJ, Doutora em Sociologia (UnB) com Pós Douturado em Antropologia, fisioterapeuta e bailarina. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/5570019500701293.

Nelci Rosa Moreira - Porto Alegre/RS/Brasil

Pedagoga com Habilitação Gestão e Supervisão, professora, Cursa Pós Graduanda em Educação Especial (Universidade do Vale do Rio dos Sinos- UNISINOS).

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Rodrigo Monteiro - Porto Alegre/RS/Brasil

Licenciado em Letras, atuando profissionalmente como professor de Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Literatura. Leciona desde 1997, quando concluinte do Curso de Magistério. É Bacharel em Comunicação Social - Habilitação Realização Audiovisual, com especialidade em Direção de Arte e em Roteiro. Foi aprovado em primeiro lugar no processo de seleção 2009 para o Mestrado em Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escreve dramaturgia desde 2000. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq. br/7379695337614127

T. Angel - São Paulo/Brasil

Técnico em moda pelo SENAC e graduando em História pela Universidade FIEO, atualmente integra o staff do site argentino Piel Magazine e é diretor geral do website Frrrk Guys, que aborda as temáticas da modificação corporal e da beleza masculina oriunda dessa prática. Além disso, desde 2005 vem atuando no cenário da performance art. Nos últimos anos, Thiago Ricardo Soares vem colaborando com artigos para diversas revistas nacionais e internacionais. Tem experiência na área de História, atuando principalmente nos seguintes temas: body art, performance e modificação corporal. Como pesquisador histórico, interessa-se pelos seguintes temas: body art, performance e modificação corporal. Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2319714073115866

Mário Gordilho - Vila Velha/ES/Brasil

Pós-Graduação em Engenharia de Produção (Industrial) – Fundação Ciciliano Abel de Almeida/UFES, Vitória - ES. Graduação em Engenharia Civil - UFBA, Salvador - BA. Auditor Fiscal da Receita Estadual do ES – Secretaria da Fazenda do ES, Vitória - ES (concursado como portador de deficiência, e em exercício). Atuante como Engenheiro Civil (cedido pelo DF) no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 17ª Região, Vitória – ES. Auditor Fiscal da Receita do Distrito Federal – Secretaria da Fazenda do Distrito Federal, Brasília – DF (concursado como portador de deficiência). Atuante como Engenheiro Civil em áreas de projetos, orçamentos, fiscalização e manutenção de Obras Civis, como Engenheiro da Seção de Projetos e Obras do Serviço Social da Indústria – Federação das Indústrias do ES (FINDES), Vitória - ES. Atuante como Engenheiro Civil em áreas de projetos de estruturas metálicas, com cálculos e desenhos em CAD, como Engenheiro - Enpro Engenharia e Projetos Ltda., Salvador - BA. 1987. Atuante como Auxiliar Técnico em acompanhamento de montagem de estruturas metálicas– Metalúrgica São Carlos Ltda., Salvador - BA. Autor de alguns artigos, textos,e resenhas publicados no jornal Bahia Hoje, de Salvador-BA, além de jornal virtual da Intranet do TRT 17ª Região; e da gazeta online, ambos em Vitória-ES. Autor dos blogs: http://elencobrasileiro. blogspot.com e http://elencoestrangeiro.blogspot.com

121 - Informe C3



Foto: Anderson de Souza


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