4 minute read

3. PÓS-LEITURA

Sabemos que as intencionalidades pedagógicas na educação infantil visam ao desenvolvimento pleno da criança. É nesse período da vida que são preparadas para as próximas etapas; que, pelo brincar, constroem significados, para que, dentre outras importantes competências, em um futuro próximo, estejam aptas a dominar a escrita e a leitura convencionais. Para tanto, as atividades relacionadas a oralidade e repertório linguístico precisam ser cuidadosamente elaboradas. Há que se garantir, além disso, a pluralidade de situações. Assim, seguem mais algumas sugestões de ações pedagógicas que você pode desenvolver com as crianças após a leitura de Bichionário.

Temos de oferecer-lhe oportunidade de contato com diferentes modelos, contextualizando a língua escrita de seus usos, mesmo antes de se tornarem efetivamente capazes de ler e escrever. É a partir desse contato que as crianças farão descobertas fundamentais ao seu processo de alfabetização. (Lucia Lins Browne Rego, in: ALVES, 2010, p. 44)

Advertisement

Nossa sugestão é que essa ação seja iniciada retomando-se os conhecimentos prévios, por meio de questionamentos que resgatem o movimento já realizado: quais bichos não conhecia? Qual bicho mais gostou de conhecer neste livro? Por quê? O que ele tem que mais chamou a sua atenção?

Sugerimos perguntas que trabalhem as características físicas. Para isso, é importante desenvolver o trabalho prévio com exemplos do que seriam tais características. Questões como: o leão tem pelos? É forte? É grande ou pequeno? Será que corre? Qual será a cor dele na natureza? É a mesma usada no livro? E assim por diante. Essa abordagem já prepara para as intencionalidades de ampliação dos conhecimentos acerca do ambiente e natureza: onde os leões vivem? Terra, água ou ar? O que será que comem? Quais têm pelos? E quais têm penas?

Outra sugestão é brincar com os nomes e possíveis rimas. Tanto os nomes dos bichos organizados em ordem alfabética quanto o trabalho em si com as rimas são estratégias para criar oportunidades de contato com a leitura e a escrita por meio das brincadeiras que poderão ser realizadas com as palavras, como, por exemplo, aranha/ ganha, formiga/amiga, leão/gatão. O professor poderá sugerir que as crianças encontrem outras palavras com o mesmo som, em um jogo de tentativa e erro, buscando com esse movimento estabelecer relações sonoras. Há outros bichos que aparecem na obra, mas que não ganharam suas próprias poesias; tem-se aí um vasto repertório para ampliar as relações com a letra inicial, como também uma deixa para a elaboração de rimas divertidas com os animais, realizadas com a participação de todas as crianças em uma roda de conversa: na página do tatu, temos outro bicho, qual é o nome dele? Tartaruga e tatu começam com a letra T (sugerimos redigir as palavras para que visualizem as semelhanças, inclusive destacando-se a letra T) – qual palavra tem som parecido com “tartaruga”? É possível que as crianças tentem achar animais parecidos fisicamente, ou bichos que também comecem com a letra T. Contudo, estimular essa interação e valorizar as hipóteses apresentadas pelas crianças é importante para que elas se sintam seguras nesses “ensaios” de leitura e escrita, tornando o momento prazeroso e divertido.

Sugerimos também intervenções relacionadas às habilidades de raciocínio matemático – o livro nos proporciona um amplo repertório de possibilidades para trabalhar as quantidades e cálculos: quantos animais já conhecemos hoje? Você poderá usar os bichos abordados no livro, mas também acrescentar os que as crianças mencionaram na dinâmica de levantamento dos conhecimentos prévios. Poderá apresentar desafios, como: quantas patas tem uma zebra? E quantas patas têm duas zebras? Nesse momento, é possível usar a imagem da zebra contida no livro, assim como pedir que as crianças desenhem ou que usem objetos para representarem as patas e poderem contá-las. Essa abordagem pode ser realizada com animais variados, criando-se contextos diversificados:

“Estava muito frio e o urubu se escondeu na caverna deserta. A zebra correu atrás do urubu e entrou na mesma caverna para se esconder também. Quantas patas havia dentro dessa caverna?”. Podemos perceber que essa abordagem apresenta situações-problema de forma lúdica. A partir do trabalho com as características, sugerimos brincar de mímica (imitação dos bichos), com o propósito de se desenvolverem as habilidades corporais por meio da dramatização e da expressão, utilizando-se para isso os conhecimentos que as crianças já possuem, desafiando-as, assim, a empreender novas habilidades corporais. Como afirma Santos (2009, p. 97), “a expressividade dramática evidencia a tendência do ser humano para a representação, isto é, para agir de maneira fictícia, experimentando papéis e vivendo situações diferentes das da vida real”. Quando a criança imita um dos animais, é necessário conhecer e trazer à motricidade esse conhecimento, para que as demais descubram que animal é esse – essa troca de saberes, e até a possível necessidade de pesquisar mais sobre como se comporta cada animal, trará um repertório de saberes que as apoiarão em uma futura escrita. Esse movimento aumenta o repertório linguístico e o traz à experiência, tornando a aprendizagem mais envolvente, dinâmica e lúdica.

Esse trabalho poderá se estender a uma produção teatral, na qual os bichos serão representados e da qual o grupo todo poderá participar, elaborando uma cena. Juntas, as crianças poderão decidir o tema da cena. É importante que a mediação direcione as possibilidades – uma sugestão é que você ajude a levantar um problema/situação, um local no qual acontecerá a cena e como poderão solucionar esse problema. A atividade poderá iniciar com perguntas como: o que estará acontecendo com os bichos? Será uma reunião de bichos na floresta? Uma conversa entre os bichos? Uma fuga? Uma festa? Estarão passando por algum perigo? Como o problema pode ser resolvido? Pensando que: no que se refere às crianças menores, até os cinco anos e meio ou seis, que não constituem um grupo de jogo, visto que possuem limitações inerentes a essa fase, deve-se, acima de tudo, respeitar inclinações naturais para jogar dramaticamente e garantir segurança e liberdade, para que o faz-de-conta possa acontecer. Pode-se convidar os pais ou familiares para assistirem ou participarem de uma brincadeira, mas sem o cunho, oneroso em ansiedade, de espetáculo a ser apreciado.

(SANTOS, 2009, p. 124)

Vamos ampliar o Bichionário?

Com todo esse material desenvolvido e o registro do processo, temos como proposta comunicativa a ampliação do Bichionário.

Sugerimos como estratégia o registro de outros animais que não estejam no livro, considerando fazer a ilustração, a escrita do nome do bicho e até rimas ou registro de características. Deste modo, você atuará como escriba da turma, tornando essa produção um material coletivo, significativo e que pode ser usado para ampliar a comunicação do que aprenderam nesse percurso.

This article is from: