MAPA TEMÁTICO TÁTIL-OLFATIVO: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA APLICADA AO ENSINO DE GEOGRAFIA ECONÔMICA PARA ALUNOS COM VISUAL SUBNORMAL
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MIKAEL VICTOR SOUZA CARLOS GABRIEL LORRAM LIMA YEPEZ2 Resumo O presente texto é fruto de uma atividade desenvolvida no curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado do Amazonas, que pode ser aplicada pelo professor de geografia aos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental com perfil de visão subnormal e normal. A realização da atividade objetiva trabalhar aspectos da divisão regional do Brasil e suas respectivas culturas agrícolas através do mapa tátil-olfativo, levando aos alunos observar os limites e extensões territoriais do Brasil e experienciar suas principais produções agrícolas. A produção do mapa é concebida em função da dificuldade de observar e interpretar mapas temáticos comuns pelos alunos com baixa visão e/ou visão subnormal, sendo este uma alternativa para esta lacuna, visto que o aluno irá valer-se de seus outros sentidos para ler o mapa e suas variáveis. Palavras Chaves: Mapa tátil-olfativo; Cartografia temática; Visão subnormal; Ensino Fundamental; Geografia Econômica. Introdução A Cartografia Tátil é a parte da Cartografia no qual são produzidos os mapas voltados ao uso de pessoas com deficiência visual, como ferramenta de pedagogica. Diante disso, o presente texto apresenta a proposta de criação de um mapa temático com variáveis acerca da divisão e extensão territorial do país, bem como suas culturas agrícolas predominantes. Este recurso pedagógico poderá ser utilizado pelo professor de geografia aos alunos do 6º ano do ensino fundamental com perfil de visão subnormal e normal. O referido tem sua importância justificado fato de que o setor agrícola é o mais cresce economicamente no Brasil atualmente, sendo responsável por números positivos no PIB nacional. Porém esse setor, distante dos grandes centros urbanos, foge da realidade dos habitantes dos mesmos, corriqueiramente desconhecendo a Graduando em Geografia da Universidade do Estado do Amazonas, mvsc.geo16@uea.edu.br; ²Graduando em Geografia da Universidade do Estado do Amazonas, glly.geo16@uea.edu.br; ESCOLA NORMAL SUPERIOR – Coordenação de Geografia. Endereço: Av. Djalma Batista, 2470, Chapada. CEP: 69050-010 MANAUS Fone: +55 (092) 3878-7728 1
origem das provisões agrícolas e suas formas de cultivo. Pensando nisso o presente mapa alia a divisão territorial do Brasil por regiões com suas culturas mais caracteristicas. Por se tratar de um mapa tátil, seu público alvo consiste em alunos com visão normal e subnormal, posto que esse estará em contato com o mesmo por meio do tato, mas também, neste caso, pelo olfato e paladar. A proposição deste recurso como ferramenta de ensino proporcionará ao aluno uma experiência sensorial completa ao aluno, por meio da exploração de outros sentidos além de sua visão, sendo para os alunos com visão normal, uma experiência complementar, e para os alunos com visão subnormal, representa a possibilidade de aprendizado que lhes são negada devido sua limitação. O trabalho tem por arcabouço literário autores como Loch (2008); Lima e Silva (2000); Damásio (2005) e Mallafati (2010), referências sobre mapa tátil e ensino de geografia para alunos com visão subnormal. Materiais e Métodos A cartografia tátil é o setor da cartografia, que se dedica na elaboração de mapas temáticos com auxílio de materiais texturizados a fim de que os mesmos possam ser lidos não apenas pelos olhos, mas por outros sentidos, apresentando-se como uma alternativa de ensino para alunos com problemas na visão. Exemplos de representações táteis no cotidiano podem ser encontrados em mapas de shoppings, paradas de ônibus, universidades, porém nem todos os mapas distribuídos pela cidade apresentam essa leitura tátil, como afirma Loch: Por mais populares que sejam os mapas nos dias atuais, e que possam ser acessados e vistos pela maioria da sociedade, existe uma camada minoritária desprovida do sentido da visão, que não pode ver e usar esses mapas (LOCH, 2008, p.37)
Ainda que existam diversas plantas cartográficas disponíveis em locais acessíveis, a utilização destes não é possível a todos devido a ausência do alfabeto braille como parte constituinte do mesmo. O contato com objetos e suas diferentes texturas vem acompanhando o indivíduo desde sua infância, e aqueles que possuem dificuldades visuais, ativam e aguçam suas funções táteis por meio de experiências como estas, como destacam Lima e Silva: [...] assim como as pessoas portadoras de visão normal aprenderam a usar sua visão, as pessoas portadoras de limitação visual aprenderam a se utilizar do sentido do tato (sentido esse de que todos aprendem a depender desde pequenos e do qual negligenciamos sua natureza, conhecimento e pesquisa). (LIMA e SILVA, 2000, p.2) ESCOLA NORMAL SUPERIOR – Coordenação de Geografia. Endereço: Av. Djalma Batista, 2470, Chapada. CEP: 69050-010 MANAUS Fone: +55 (092) 3878-7728
Da mesma maneira que pessoas que possuem uma visão normal, a estimulam para seus determinados aprendizados, as que têm baixa acuidade visual, intensificam seu tato para a identificação de determinados objetos. A confecção de materiais táteis vai para além do braille, sendo representado por diferentes curvas, formas, como bem descreve Loch: As representações gráficas de difícil transcrição para o Braille podem ser recriadas a partir de códigos táteis diferenciados pela forma, tamanho, textura, e altura (ou espessura). Estas se constituem em um trabalho artesanal demorado e que possivelmente precisará ser refeito várias vezes, sempre testado pelos cegos até chegar a ser entendido. (LOCH, 2008, p.5)
Além das representações físicas dos materiais, a orientação oral do professor é determinante ao portador de baixa visão para que ele entenda a finalidade da sua aplicação. Quando a seu uso tiver um fim didático, este precisará ser revisado a fim de ter certeza de que o discente com baixa visão compreenderá, e se irá agregar algo em sua vida. A percepção sensorial do aluno por meio da cartografia tátil é elemento chave para aproximá-lo á realidade próxima e distante, como enfatiza Damásio (2005), que diz, através de experimentos que um indivíduo reage de diferentes formas na percepção sensorial em seus diferentes sentidos, e destaca: Um processo de organização e interpretação de dados sensoriais (sensações), para o desenvolvimento da consciência do ambiente que nos cerca e de nós mesmos. Além de estabelecer a relação do indivíduo com o ambiente, em um processo contínuo de extração de informação, onde nem as estruturas que o compõem e nem os objetos do mundo estão pré -determinados. (Damásio, 2005, p. 317)
Com o objetivo de destacar a inclusão social do aprendizado dos alunos a escola tem por dever criar meios para a comunicação. Sobre isso Malafatti traz uma importante colocação: [...] não é apenas o aluno que deve se moldar ou se adaptar à escola, mas é a escola consciente de sua função que deve rever suas concepções acerca da presença da diversidade de alunos no espaço escolar. (MALAFATTI, 2010, p.1)
A escola não pode limitar-se a produzir material e voltar seu ensino somente aos alunos com visão normal pois se faz necessário a inclusão dos aprendizes que possuem visão abaixo do normal, fazendo com que esse venha não somente identificar, mas interpretar o material (o mapa em questão) e conhecer através das diferenciação desses últimos. Por meio dessas considerações apresenta-se a metodologia de confecção do material para elaboração do mapa e sua aplicação. O mapa terá sua base em papel paraná, com uma folha colada sobre a outra. Feito isso, os limites territoriais nacionais ESCOLA NORMAL SUPERIOR – Coordenação de Geografia. Endereço: Av. Djalma Batista, 2470, Chapada. CEP: 69050-010 MANAUS Fone: +55 (092) 3878-7728
e regionais serão marcados por cola colorida preta, a fim de formar uma linha grossa e perceptível ao tato e visão, dentro de cada região. Então cada região será preenchida com diferentes texturas, onde a Norte será coberta por papel emborrachado texturizado verde, a Nordeste por massa de modelar amarela, a região Centro-Oeste por lixa de madeira n° 3 marrom, a Sudeste por cetim vermelho, e a Sul por plástico bolha transparente. Logo após isso, finalizado os limites das regiões e suas respectivas texturas, um canudo de plástico irá direcionar às culturas mais relevantes para cada região ao lado do mapa, onde para a região norte, irá direcionar ao açaí e fibra de juta; nordeste, para a cana-de-açúcar e manga; centro-oeste, ao algodão e leite; sudeste, para o café e laranja; sul, para flores e uva. Todos esses produtos irão estar dispostos e em potes fixados no papel paraná com o auxílio da cola quente, e de maneira disponível para que o aluno sinta o cheiro e sabores, de acordo com a utilização de cada. IMAGEM 1 - Mapa temático tátil-olfativo proposto.
Fonte: Autor, 2019.
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Toda a escrita em braille será feita com a cola colorida branca, e a escrita tradicional também, para que o aluno com visão subnormal consiga sentir os dois alfabetos com o tato. A aplicação iniciaria com o professor Introduzindo os conceitos de Divisão Regional do Brasil. O aluno deverá ter em sua bagagem conhecimentos básicos de direções cardeais e colaterais, para compreender a posição geográfica das regiões do Brasil. Em seguida deve-se explicar quais as produções agrícolas mais significantes e demonstrar que as mesmas são responsáveis pelo desempenho na economia de sua região. Após esses momentos de conhecimentos teóricos, o professor avança aproximando os alunos de um local onde possa situar o mapa, onde também estariam dispostos os produtos agrícolas para serem examinados. Na medida em que lêem e ouvem de que forma estão divididas as regiões, os alunos poderão tocar, cheirar e até degustar os materiais que representam as produções agrícolas das regiões, sob condição de serem comestíveis. Ao final da aula o professor poderá aplicar um questionário de aproveitamento da aula, aplicando perguntas a exemplo: “Quais as principais produções agrícolas da Região Sul?” Resultados e discussões Os resultados que se esperam é que com a experiência sensorial provocada por este mapa, os alunos venham compreender de forma mais clara e íntima a importância da atividade agrícola para o país com um enfoque na região norte, na qual nem todos os seus habitantes conhecem a procedência dos principais produtos econômicos produtivos, como a fibra de juta. Referências ALMEIDA, L. C.; LOCH, R. E. N. Mapa tátil: passaporte para a inclusão. Extensio – revista eletrônica de extensão, n. 3, 2005. Disponível em: http://www.extensio.ufsc. br/20052/Direitos_Humanos_CFH_147.pdf. Acesso em: 9 mai.2018. DAMÁSIO, A. O mistério da consciência: do corpo e das emoções ao conhecimento de si. 7. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. LIMA, Francisco José de e SILVA, José Aparecido da. Algumas considerações a respeito do sistema tátil de crianças cegas ou de visão subnormal. Revista Benjamim Constant, Rio de Janeiro, RJ. Edição 17, dezembro de 2000. MALAFATTI¹, ERIANE; FELÍCIO, DÉBORA. Cartografia Tátil: Mobilidade e passaporte para inclusão. Disponível em http://unifal-mg.edu.br. ESCOLA NORMAL SUPERIOR – Coordenação de Geografia. Endereço: Av. Djalma Batista, 2470, Chapada. CEP: 69050-010 MANAUS Fone: +55 (092) 3878-7728