METRÓPOLE VISTA, VIVIDA E REGISTRADA: PROCESSOS DE DISCUSSÃO, CATALOGAÇÃO E ANÁLISE DAS FOTOGRAFIAS DO PROJETO ICONOGRAFIAS URBANAS DA UEA
Yama Talita Passos Monteiro1
RESUMO: O projeto Iconografias urbanas tem como objetivo principal identificar, analisar e catalogar elementos iconográficos que sublinhem traços da memória, identidade e paisagem urbana da região metropolitana de Manaus. No presente estudo, a análise será voltada para o processo de catalogação, análise e discussão das fotografias retiradas nas atividades de campo, o que nos leva ao ponto crucial do projeto que é, focado no aprimoramento e desenvolvimento de metodologias, a produção cultural e a análise do discurso de elementos iconográficos e suas inter-relações enquanto patrimônio artístico, histórico e cultural. Por se tratar de uma análise em desenvolvimento, espera-se que seja possível realizar uma leitura interna e localizada das imagens, assim gerando um acervo de dados que foque na valorização e preservação dos elementos iconográficos enquanto componentes patrimoniais e identitários da região metropolitana de Manaus. Palavras- chave: Iconografia; Metrópole; Manaus; Fotografia.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS A principal característica que este estudo toma, dentro do presente contexto, é baseada no fato de que há pouquíssima (ou sequer nenhuma, ainda) preocupação com a tradução e análise cultural dos discursos apresentados nos/pelos elementos iconográficos que podem encontrados nas metrópoles da Região Norte. Os processos que serão discutidos aqui são fundamentais para a valorização e preservação destes elementos, uma vez que podem vir a ser componentes do patrimônio histórico, artístico e cultural de regiões metropolitanas como a da cidade de Manaus. Bebendo da fonte de autores como Evany Nascimento (2014), Italo Calvino (1990) e Armando Silva (2001), iremos posicionar a discussão dos processos de forma 1
ESBAM, Intercidade - UEA, ytalita43@gmail.com. ESCOLA NORMAL SUPERIOR – Coordenação de Geografia. Endereço: Av. Djalma Batista, 2470, Chapada. CEP: 69050-010 MANAUS Fone: +55 (092) 3878-7728
sucinta e direta com o fim de abrir espaços flexíveis para a reflexão acerca da classificação e análise das fotografias oriundas do projeto. Partindo disso, temos como objetivo principal discutir o processo de construção e aplicação da metodologia de análise da cidade a partir da ficha de catalogação das imagens elaborada pelo grupo de pesquisa Intercidade (UEA). O que trazemos aqui é apenas o recorte de um projeto2 muito maior que, sob fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas (FAPEAM), visa, como já dito, catalogar e analisar traços de identidade, memória e paisagem da Região Metropolitana de Manaus (RMM) com o fim de estabelecer a valorização e constituição de um banco de dados que irá ampliar o campo de pesquisas relacionadas não somente à Região Metropolitana, mas da Amazônia como um todo.
PROCESSOS METODOLÓGICOS Incitamos que uma das etapas da presente pesquisa consiste, basicamente, na captura, classificação e análise de fotografias da rua que são obtidas durante as atividades de campo realizadas pelos pesquisadores. Tais atividades são realizadas na rua principal de nove das treze cidades que compõem oficialmente a RMM: Careiro Castanho, Iranduba, Manacapuru, Manaus, Itacoatiara, Careiro da Várzea, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva. O corpora trazido para discussão é parte do material coletado nas quatro primeiras cidades acima citadas, levando-nos ao caráter parcial da pesquisa maior. Os processos de análise foram baseados nas proposições sobre tradução identitária e análise do discurso desenvolvidas por Alexandre Oliveira (2013, p. 135-138) e Nascimento (2014, p. 25-30). Tais proposições resultam nas etapas de seleção, reconhecimento e contextualização e foram aplicadas em campo durante a visita aos municípios. Estes processos de análise constituem-se em uma série de três fichas: a primeira aborda a contextualização do município; a segunda trata da caracterização da Título oficial do projeto de pesquisa – Edital nº 016/2014 – PPP – CNPq: Design, identidade e imagem da cidade: estudos iconográficos na região metropolitana de Manaus – AM. ESCOLA NORMAL SUPERIOR – Coordenação de Geografia. Endereço: Av. Djalma Batista, 2470, Chapada. CEP: 69050-010 MANAUS Fone: +55 (092) 3878-7728 2
rua e, por fim, a terceira que investiga e classifica os registros fotográficos validados dentro do processo iconológico. Esta última é o foco da nossa discussão, pondo em questão sua constituição, estrutura e demonstração.
CIDADE VISTA, VIVIDA E REGISTRADA: RESULTADOS E DISCUSSÕES Quando falamos de cidade vista e vivida rememoramos de imediato o que Silva (2001) discute sobre os imaginários urbanos que compõem a cidade. Em seu primeiro capítulo3 o autor coloca em questionamento as ideias e as imagens que se constroem acerca da cidade que é vista pelo cidadão e pelo visitante. Essa discussão mostra que a ideia de que a cidade vista de fora – pelo visitante, é construída por meio da presença das tatuagens urbanas, algo que sempre esteve presente no corpo da rua, nos muros e casas. Tal matéria se mostra mais à frente de toda e qualquer primeira impressão acerca da identidade de uma cidade ou de uma rua, vindo seguida de outras impressões acerca da arquitetura e dos ideais de construção que se apresentam dentro daquela extensão. Em um segundo quadro temos o que o autor chama de ponto de vista cidadão, o que, de certa forma, entra na ideia que temos de cidade vivida. Sabemos que a concepção de vivida é algo que vai bem além do que se entende por apenas “viver na cidade”, mas sim aquilo que permeia o “viver pela cidade” e a compreensão da identidade urbana que estamos inseridos. Estas duas ideias de cidade vista e vivida entram também na constituição do rol de pesquisadores dentro do grupo de pesquisa Intercidade. A dualidade do viver na/pela cidade se encontra no fato de, por exemplo, um dos pesquisadores de um determinado município possa ser ou ter sido cidadão, há algum tempo, daquela cidade, o que facilita a fruição de debates e reflexões sobre aquele lugar e aquela rua. Já a concepção de ver a cidade se apresenta, como dito, baseada na ideia de Armando Silva de que ver e viver a cidade vai muito além de ir ao campo, ir à rua, andar, tirar fotos e voltar para Manaus. As discussões realizadas no grupo têm como motor a ideia de “penetrar nos significados
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Cidade vista: Imagens da cidade (SILVA, 2001, p. 03-12). ESCOLA NORMAL SUPERIOR – Coordenação de Geografia. Endereço: Av. Djalma Batista, 2470, Chapada. CEP: 69050-010 MANAUS Fone: +55 (092) 3878-7728
culturais de diversas experiencias na vida urbana, vinculadas a manifestações psicológicas e sociais do cidadão” (SILVA, 2001, p. 83) que faz parte daquele espaço. Portanto, não somente a ficha de catalogação de imagens, mas como todas as metodologias apresentadas até então para discussão dos produtos coletados se encaixam no que o autor propõe quando diz que a averiguação do processo de construção do imaginário, da identidade e da imagem de uma cidade se dá através do ver, compreender e viver a cidade. Partindo disso, vemos que a constituição e execução das ideias apresentadas até então são materializadas por meio das fotografias tiradas oficialmente (através das câmeras profissionais) e pessoalmente, por meio de aparelhos celulares que podem ou não compor o acervo imagético do projeto. Pensando no aproveitamento integral de toda e qualquer fotografia capturada nas atividades em campo, apresentamos a ficha que é parte de nossa reflexão. Dentro desta temos a divisão triádica de classificação de imagens separadas por cidade: a primeira é a de Pesquisadores que possui todas as fotos dos pesquisadores em ação no trabalho de campo; a segunda é a categoria de Fotos poéticas que, visando abranger a intertextualidade e a interdisciplinaridade do grupo, aborda as fotos mais elaboradas com o fim de compor, futuramente, outras modalidades textuais, como crônicas, poemas, exposições e narrativas ficcionais ou não. Por fim, temos as Fotos técnicas que entram de acordo com a metodologia de pesquisa, literalmente, mais técnica. Dentro desta categoria temos as seguintes subdivisões: Detalhes, Adjacências, Elementos naturais, Respiros, Muros, Construções, Vitrines, Tabuletas, Faixas, Placas, Panorama Fachadas, Panorama Ruas e Outros elementos. Visando explanar sucintamente cada subcategoria, visaremos as mais subjetivas que não possibilitam a compreensão literal por meio de sua nomenclatura como a categoria Detalhes que, subjetivamente, visa as imagens da que são capturadas com uma lente específica, de longo alcance. Com Adjacências queremos abranger as ruas que cruzam a via principal, uma vez que estas, ao encontrar a avenida, já se fazem parte principal da cidade. Os elementos naturais são retratados como árvores, rios, igarapés ou instalações naturais que se fazem presentes na rua principal, assim como ESCOLA NORMAL SUPERIOR – Coordenação de Geografia. Endereço: Av. Djalma Batista, 2470, Chapada. CEP: 69050-010 MANAUS Fone: +55 (092) 3878-7728
os respiros, que são os espaços abertos – propositalmente ou não –, como terrenos baldios e praças abertas. As fotografias de Panorama são as capturadas com a lente mais aberta, o que possibilita a visão mais ampla e geral seja da rua, seja das fachadas; já os outros elementos ainda não se encaixam em nenhuma outra categoria principal ou secundária da ficha, deixando em aberto sua interpretação e classificação sem pôr fora seu uso e captura. Ao fim das atividades de campo os pesquisadores se reúnem para conferir e validar imagens que possam ser utilizadas para compor o banco de dados imagético do município visitado. Todas as imagens validadas são encaixadas nas categorias supracitadas e, em seguida, analisadas previamente de acordo com a sua finalidade. A discussão que permeia a catalogação e validação, como já dito, conversa com autores teóricos que dispõem de metodologias, temáticas e reflexões acerca do imaginário, da identidade, da catalogação e construção da imagem urbana com o fim de contribuir mais ainda com as pesquisas acadêmicas que se encontram em desenvolvimento acerca da área metropolitana da cidade de Manaus.
Referências CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. OLIVEIRA. Alexandre Santos de. Identidade cultural e ensino do design no Amazonas. Rio de Janeiro, 2013. Tese (Doutorado) - Departamento de Artes & Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www2.dbd.pucrio.br/pergamum/tesesabertas/0912508_2013_pretextual.pdf. NASCIMENTO, Maria Evany do. Do discurso à cidade: políticas de patrimônio e a construção do espaço público no Centro Histórico de Manaus. Tese (Doutorado) Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Artes e Design, 2014. SILVA, Armando. Imaginários Urbanos. São Paulo: Perspectiva, 2001.
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