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Os pré-reformadores e a Reforma na Alemanha

Monumento de Martinho Lutero em Worms-Alemanha.

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Diác. Gustavo Rocha Santos Professor da Escola Bíblica Dominical

Artigo

A Reforma Protestante é um dos momentos mais importantes da história da humanidade. Para a historiografia secular em suas várias escolas, a Reforma teve sua importância, mas é relativizada ou mesmo diminuída ao se comparar com outros eventos supostamente mais significativos.

Do ponto de vista da eternidade, entretanto, é um dos mais importantes processos humanos, pois foi através da Reforma que duas coisas extraordinárias aconteceram: a Palavra de Deus, ou seja, a Bíblia, foi resgatada e popularizada para amplas populações no mundo todo; e as doutrinas da graça foram trazidas de volta. Em ambos os casos, os reformadores não inventaram nada, eles apenas resgataram grandes tesouros de Deus que estavam esquecidos.

Na Idade Média, já havia a ideia de que a Igreja de Cristo precisava ser reformada. Muitos cristãos percebiam que coisas muito erradas estavam acontecendo. A riqueza trouxe corrupção e a falta da Bíblia trouxe os desvios doutrinários. Todos sabiam que algo deveria ser feito, o que não se sabia era o que e quem deveria fazer. Foi nesse contexto que surgiram o que chamamos de pré-reformadores. John Wycliffe foi o primeiro. Chamado “a estrela da manhã da Reforma”, Wycliffe teve a importância de defender várias das causas da Reforma um século e meio antes de Martinho Lutero.

Wycliffe foi um professor de Oxford que viu a importância da disseminação da Bíblia na língua do povo e não em latim. A Bíblia é a Palavra do Deus vivo e não a fonte de rituais ininteligíveis. Por isso, ele fez a primeira tradução completa das Escrituras em língua inglesa e enviava pregadores para levar o Evangelho por toda a Inglaterra: os Lollardos.

Um dos seguidores do erudito inglês foi Jerônimo de Praga. Ele levou os ensinos do movimento inglês a Jan Huss. Huss era professor da Universidade de Praga e depois se tornou sacerdote, pregando na capela de Belém, na mesma cidade. Criticava os desvios de Roma com relação às indulgências e ao uso exclusivo do latim como língua litúrgica e nas homilias. Passou a utilizar o tcheco em suas pregações. Foi acusado de ser seguidor de Wycllife, o que de fato era verdade, apesar de também ter uma forte originalidade em seu pensamento teológico, e finalmente foi condenado no concílio de Constança. Huss havia comparecido no dito concílio para explicar e debater suas ideias. Além disso, recebera a garantia do imperador de que nada lhe aconteceria, o chamado “salvo conduto”.

Foi queimado em 1415, acusado de heresia. Antes de morrer, fez uma profecia: “Hoje vocês estão queimando um ganso (Hus quer dizer ganso em tcheco), mas, dentro de um século encontrar-se-ão com um cisne. E este vocês não poderão queimar”. De fato, 102 anos depois, apareceria o cisne, Martinho Lutero.

Em 31 de outubro de 1517, um monge agostiniano tornou-se o instrumento divino de um

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movimento que a mão do homem não conseguiu parar. Movido pela sua forte objeção contra a venda de indulgências em território alemão, Lutero afixou as 95 teses na catedral de Wittenberg. Elas tratavam de questões relacionadas à legitimidade das indulgências – documentos que se declaravam capazes de aliviar quem os comprasse, de anos a serem passados no purgatório.

A ousadia desse monge de questionar a validade desses documentos supostamente santos e a própria autoridade papal que os legitimava irritou a cúpula da Igreja Católica e o imperador da Alemanha, à frente do então chamado Sacro Império Romano-Germânico.

Lutero foi chamado para justificar suas posições em uma reunião do Sacro Império. Era a Dieta de Worms (1521), em que estariam presentes o imperador em pessoa, representantes do papa e os príncipes alemães, a alta nobreza alemã. Nesse momento o pensamento de Lutero já não estava restrito às questões das indulgências apenas (nunca esteve). Seus escritos tratavam de outros pontos sensíveis aos cristãos. Ele foi chamado a renunciar suas ideias, mas, em uma das suas declarações mais famosas, disse: “A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura e já que não aceito a autoridade do papa e dos concílios, pois eles se contradizem mutuamente, minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não

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posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém”.

Martinho Lutero declarou sua fé nas Escrituras na presença das pessoas mais poderosas da Terra. Foi cumprido o que o Senhor Jesus previra a seus discípulos: “E sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios. Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós (Mateus 10.18-20)”.

O cisne fora ousado e, ao contrário de muitos que vieram antes e depois, não sofreria o martírio. A Reforma seguiria adiante na Alemanha. O norte do país e outras regiões se renderiam à Reforma. Outros continuariam sua obra, que na verdade não era sua, mas de Deus. Melanchton, na própria Alemanha, Calvino na Suíça, Bucer em Estrasburgo, Tyndale entre os ingleses, Knox na Escócia e tantos outros. Muitos pagaram com a vida para que outros pudessem ter livre acesso à Bíblia em sua própria língua e para que a doutrina da salvação em Cristo Jesus pudesse ser conhecida e vivida.

Poderíamos dizer que tudo aconteceu pela ação e, coragem de um homem, ou ainda de vários grandes homens. Mas a verdade é que tudo começou no coração de um grande Deus. Do único Deus. Que esse Deus que enviou seu único filho para ser morto para que tenhamos vida não permita que a chama se apague em nossos corações e que a Reforma seja sempre uma realidade em nossas vidas. Que nunca nos acomodemos, mas que Sua Palavra possa sempre nos renovar e nos reformar, como indivíduos e como Igreja, até que Cristo volte. ◆

95 teses de Martinho Lutero

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