Edição 73 RCN

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ano XV | nº 73 | julho 2014 | www.construirnordeste.com.br

arquitetura | tecnologia | negócios | índices | preços de insumos

15 anos

CIDADE PARA O CIDADÃO

R$ 15,00 | € 5,00

RCN Editores Associados

Projeto Novo Recife, na capital pernambucana, traz à tona uma questão que afeta as principais capitais do Brasil: o crescimento desordenado sem planejamento urbanístico, resultado da omissão do poder público.

ENTREVISTA

Elton de Souza Góes é o primeiro nordestino a assumir a presidência do IBI

ARQUITETURA

Identidade cultural e geográfica foram as inspirações para o projeto do novo Centro de Convenções na Paraíba

VIDA SUSTENTÁVEL O projeto arquitetônico ambientalmente sustentável já é realidade?



Uns desejam inovação e tecnologia; outros, tradição e qualidade.

Quem quer tudo merece um Conic.

Pioneira nas diversas frentes em que atua, há mais de 60 anos a Conic é uma construtora engajada no desenvolvimento sustentável das nossas cidades com obras residenciais, comerciais e industriais. Nosso objetivo é adotar iniciativas que gerem tendência e tragam benefícios não só aos nossos clientes, mas a todo o mercado da construção civil.

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65 CONSTRUIR VIDA

SUSTENTÁVEL

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sumário 16 PALAVRA Contradições nas metrópoles | Luiz Augusto Pereira de Almeida 19

ENTREVISTA Impermeabilizar é preciso | Elton de Souza

22 PAINEL CONSTRUIR 28 À PRIMEIRA VISTA 32 VITRINE ESTILO 34 ESPAÇO ABERTO | PEC - Segurança e saúde ocupacional como elementos intrínsecos da sustentabilidade - Resíduos de construção civil como agregado graúdo reciclado para produção de concreto

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40 ARQUITETURA Atraindo novos olhares

46 TECNOLOGIA

80

- Eleve-se - Da madeira ao alumínio - Opinião: Elka Porciúncula

52 CAPA Cidade pra quem? 79 SOCIAL Casa da Criança beneficia mais um projeto no Ceará

19 88

46

80 O desenvolvimento sustentável e a redução do risco de desastres

85 NEGÓCIOS - Mercado imobiliário: Renato Teixeira - O caminho para a autossuficiência - Perfil empresarial: Lucian Fragoso - Opinião: Tania Bacelar de Araújo | Mônica Mercês Colunas

14 SHARE 26 CONTEÚDO DIGITAL | Giovanni Sugamosto 96 CONSTRUIR DIREITO | Rafael Accioly


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Impermeabilização, proteção e reforço das estruturas de concreto de estádios e arenas esportivas de um dos maiores eventos do mundo. Tivemos o orgulho de colaborar com estas obras e agora temos orgulho de fazer parte da torcida que mais cresce no mercado brasileiro.

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caro leitor

Objetos arquitetônicos devem dialogar com a cidade

Nossa matéria de capa mostra uma questão recorrente nas nossas cidades: as ponderações para um plano urbanístico ideal. O cenário é Recife, e o foco, o projeto para o Cais José Estelita. Mostramos os vários prismas, e, numa detalhada apuração da história do Recife, vem a constatação de que a raiz do que se vê hoje nasceu da falta de planejamento urbano, culminando no desordenamento da cidade. Acreditamos que o saldo desse debate será positivo, as cidades e seus cidadãos — todos nós — ganharão. O Caderno Vida Sustentável traz a entrevista com o arquiteto e urbanista César Barros. Ele diz que os objetos arquitetônicos devem dialogar com a cidade e a intervenção e gerar um espa¬ço urbano sedutor, priorizando o conforto para o cidadão. A partir desta edição, você vai conhecer a equipe que faz a Revista Construir Nordeste. É o novo espaço A Cara da Construir NE, para apresentar a você, nosso leitor, essa turma tão dedicada e competente. É uma satisfação enorme promover esse “encontro”. Sei que você vai gostar. Por falar em satisfação, preciso destacar o espaço Casa da Criança, que está nas nossas páginas desde nossa edição de pré-estreia (número zero), contando o que fez e faz como órgão com reconhecimento Federal, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), e que defende os direitos das crianças e dos adolescentes em todo o território nacional. Não é maravilhoso? O tema do Espaço Aberto (página 34) é a segurança e a saúde ocupacional como elemento intrínseco da sustentabilidade. O artigo apresenta um resumo do preâmbulo conceitual que tem norteado os estudos e motivado alunos de graduação e mestrado da UPE. Imperdível! Aproveite a leitura! Até o próximo número!

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agenda

30

6ª EXPOGESSO – EXPOSIÇÃO E FEIRA INTERNACIONAL DA INDÚSTRIA DE GESSO DATA: 30.07 A 02.08 LOCAL: TRINDADE/PE

27

CONCRETE SHOW SOUTH AMERICA DATA: 27 A 29.08.14 LOCAL: SÃO PAULO/SP CONCRETESHOW.COM.BR

26 26

GREENBUILDING BRASIL – 5ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL E EXPO DATA: 26 A 28.08 LOCAL: SÃO PAULO/SP EXPOGBCBRASIL.ORG.BR EXPO ARQUITETURA SUSTENTÁVEL DATA: 26 A 28.08.14 LOCAL: SÃO PAULO/SP EXPOARQUITETURASUSTENTAVEL.COM.BR

22

4º FÓRUM DE ENGENHARIA DO RECIFE DATA: 22 E 23.08 LOCAL: RECIFE/PE FORUMDEENGENHARIA@HOTMAIL.COM

12

EXPOELEVADOR DATA: 12 E 13.08 LOCAL: SÃO PAULO/SP EXPOELEVADOR.COM.BR

11

CONGRESSO HABITAR DATA: 11 A 13.08 LOCAL: SÃO PAULO/SP CONGRESSOHABITAR.COM.BR

11 23

COMPLAN 2014 – SEMINÁRIO DE COMUNIDADES PLANEJADAS DATA: 11 A 13.09 LOCAL: SÃO PAULO/SP ADIT.COM.BR/COMPLAN Feloc Rental DATA: 23 a 24 de Julho São Paulo/SP www.felocrental.com.br

ERRAMOS Na matéria do 16º Fórum Construir Nordeste (págs. 32/33), citamos a Embraco como Empresa Brasileira de Compressores. Na verdade, é apenas Embraco, construtora do Rio Grande do Norte. Na reportagem sobre Drywall, na página 32, esclarecemos que consumo do sistema no Brasil em 2004 foi de 13 milhões/ m² e, em 2012, de 44 milhões/m² - e não 6mil/m² e 20mil m², respectivamente. Também incluímos a Trevo Drywall como uma das fabricantes no Brasil.

expediente RCN Editores Associados Diretora | Elaine Lyra

Publisher | Elaine Lyra elainelyra@construirnordeste.com.br Editora EXECUTIVA | Renata Farache renata@construirnordeste.com.br EDITOR DE ARTE | Michael Oliveira michael@construirnordeste.com.br Reportagem Elane Gomes | Henrique Gonçalves | Inah Moraes | Isabela Morais Luiz Priori Jr | Pablo Braz | Patrick Selvatti Fotografia Antonio David | Albérico Pontes | Elena BurnFrancisco França Roberto Guedes | Leo Caldas | Lorena Maniçoba | Mateus Sá | Mariana Chama Marcelo Donadussi | Paulo Trigo | Luiz Priori Jr | Willians Valente Colunistas Elka Porciúncula | Luiz Augusto Pereira de Almeida | Mônica Mercês Paulo Silva Sobrinho | Renato Leal | Rafael Accioly Terry D. Bennett | Tania Bacelar de Araújo Revisão de texto Claudia Oliveira

CONSELHO EDITORIAL Ângelo Just, Adriana Cavendish, Alexana Vilar, Bruno Ferraz, Carlos Valle, Celeste Leão, Clélio Morais, Daniela Albuquerque, Eduardo Moraes, Elka Porciúncula, Francisco Carlos da Silveira, Gustavo Farache, Inez Luz Gomes, Joaquim Correia, José Antônio de Lucas Simon, José G. Larocerie, Luiz Otavio Cavalcanti, Luiz Priori Junior, Mário Disnard, Mônica Mercês, Néio Arcanjo, Otto Benar Farias, Renato Leal, Risale Neves, Rúbia Valéria Sousa, Sandra Miranda, Serapião Bispo

CONSELHO TÉCNICO Professores: Alberto Casado, Alexandre Gusmão, Arnaldo Cardim de Carvalho Filho, Béda Barkokébas, Cezar Augusto Cerqueira, Eder Carlos Guedes dos Santos, Eliana Cristina Monteiro, Emília Kohlman, Fátima Maria Miranda Brayner, Kalinny Patrícia Vaz Lafayette, Simone Rosa da Silva, Stela Fucale Sukar, Yêda Povoas

Gerente de Operações e Mercado | Tatiana Feijó tatiana@construirnordeste.com.br | +55 81 9284.4883 MARKETING | Emelly Linhares emelly@construirnordeste.com.br | +55 81 9958.5761 Representantes para publicidade Ceará NS&A | Aldamir Amaral +55 85 3264.0576 | nsace@nsaonline.com.br São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio grande do Sul | Vando Barbosa +55 11 975798834 | +55 11 996142513 vando.barbosa@raizesrepresentacoes.com.br André Maia | 21 994684171 andremaia@raizesrepresentacoes.com.br Administrativo-Financeiro | Caetano Pisani caetano@construirnordeste.com.br Assinaturas e Distribuição | Tatiana Feijó faleconosco@construirnordeste.com.br NÚCLEO ON LINE | Pablo Braz pablo@construirnordeste.com.br Portal Construir NE | www.construirnordeste.com.br Facebook: Construir Nordeste faleconosco@construirnordeste.com.br Endereço e telefones Rua José Paraíso, 210 2º andar – Boa Viagem Recife – PE – Cep: 51030-390 | +55 81 3038 1045 / 3038 1046


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A CARA DA CONSTRUIR NORDESTE

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REDAÇÃO/SUGESTÕES DE PAUTAS

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PONTE A cidade nordestina que estampa a capa da nossa Fan Page no facebook é Teresina. Mesmo não dispondo de praias em sua geografia, a beleza da capital do Piauí é exaltada pelos Rios Parnaíba e Poti, que se abraçam e formam um encontro das águas. Nomeada de Cidade Verde pelo poeta Coelho Neto, Teresina é sombreada por figueiras, oitizeiros, mangueiras e acácias. A foto mostra a Ponte Estaiada Mestre João Isidoro França, um dos marcos arquitetônicos da capital, inaugurada em 2010.

PROMOÇÃO CULTURAL Quem comanda a Vitrine Estilo da Edição 73 é o arquiteto Antonio Caramelo, que recentemente lançou o livro Caramelo - Rompendo Paradigmas Culturais para comemorar os seus 40 anos de carreira. E, para celebrarmos juntos a data, a Revista Construir Nordeste e a Caramelo Associados fazem uma promoção cultural na Fan Page da RCN. Fique de olho! Você pode ganhar uma edição do livro. A publicação traz 13 projetos do baiano, premiados nacionalmente e internacionalmente. Com 172 páginas, a edição traz fotos, perspectivas, informações e plantas de cada obra.

ADIT INVEST A Revista Construir Nordeste foi até Brasília (DF) conferir a 9ª edição do Adit Invest, evento que reuniu grandes players dos setor imobiliário e turístico. Durante 2 dias, eles tiveram oportunidade de compreender quais são os instrumentos de captação de recursos que o mercado disponibiliza para o financiamento e o desenvolvimento de empreendimentos e identificar possíveis parceiros e investidores. Além da matéria nesta edição (pág. 64), você pode acompanhar a cobertura completa no nosso portal. NOVIDADE Com a ideia de agilizar pesquisas e informações, a partir desta edição, a seção Insumos ganha espaço no portal da RCN e deixa de fazer parte das páginas impressas da Revista Construir Nordeste. No novo ambiente, é possível checar os preços unitários de insumos para construção civil | construirnordeste.com.br/insumos

PINTOR DE PAREDE Uma ferramenta que pode ajudar arquitetos e designers de interiores. Com o objetivo de ajudar os consumidores a visualizarem as cores com mais confiança nos ambientes, a Coral lança o Coral Visualizer. É um aplicativo de realidade aumentada que permite pintar paredes virtualmente e verificar o resultado em tempo real, conforme se movimentam pelo cômodo. Para isso, a ferramenta usa um detector que define bordas, superfícies e alterações no contorno, permitindo que usuários selecionem a área de uma imagem que será pintada I coral.com.br/coralvisualizer

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palavra

Contradições nas metrópoles *Luiz Augusto Pereira de Almeida

H Como romper esse paradigma histórico do desenvolvimento urbano brasileiro? A resposta é teoricamente simples, mas muito complexa em termos práticos: realizando-se um processo eficaz de descentralização.

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á uma contradição cotidiana dos brasileiros que habitam São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes cidades: todos reclamam dos problemas de trânsito, da mobilidade e das grandes filas para tudo, mas poucos estão dispostos a abdicar do acesso à cultura, ao lazer, ao ensino, à gastronomia, à assistência médica, a salários mais elevados e à infraestrutura e facilidades presentes nas metrópoles. Essa relação de amor e ódio é o sintoma psicossocial do equivocado modelo de desenvolvimento urbano do País. Este, obviamente, decorre da concentração da atividade econômica, provocada por uma serie de fatores os quais não cabe aqui analisar. Estabeleceu-se um círculo vicioso: quanto mais gente, maior a demanda de tudo o que os indivíduos precisam e apreciam; quanto mais se atende a essa procura, a cidade torna-se mais atraente, oferta mais empregos e atrai número cada vez maior de moradores. A metrópole se retroalimenta. Como romper esse paradigma histórico do desenvolvimento urbano brasileiro? A resposta é teoricamente simples, mas muito complexa em termos práticos: realizando-se um processo eficaz de descentralização. Há bons exemplos de cidades bem-sucedidas quanto à qualidade de vida e oferta de serviços, lazer, cultura, saúde e educação. Santos, Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Sorocaba, Bauru, Presidente Prudente, Joinville, Blumenau, Niterói, Caxias, Campina Grande e Londrina, entre outras, são municípios que, ao longo dos anos, fomentaram sua economia, criaram oferta adequada de infraestrutura, tiveram crescimento demográfico e atenuaram o êxodo de sua população. Entretanto, num Brasil com 200 milhões de habitantes, essas cidades médias e grandes são insuficientes para atender, em volume, aos crescentes anseios de estudo, trabalho e inserção cosmopolita dos jovens. Assim, as promessas contidas nos ideários das metrópoles são sedutoras, irresistíveis! Por isso, São Paulo e a maioria das capitais continuam crescendo desproporcionalmente. Mudanças eficazes nesse modelo de desenvolvimento urbano extrapolam a capacidade dos municípios. É necessário um plano nacional, com a participação dos governos estaduais, para a multiplicação de microrregiões de fomento

econômico. A alternativa unilateral de concessão de incentivos fiscais por parte das prefeituras para atrair investimentos e empresas, que apresentou alguns exemplos de sucesso, parece ter atingido um ponto de saturação, pois todos buscam esse mesmo caminho. A última grande Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic 2009), do IBGE, mostra que 3.134 municípios adotam mecanismos de incentivos à implantação de empreendimentos em seu território. Também nisso há uma concentração, pois 59,5% das ofertas referem-se às regiões Sul e Sudeste e predominam nas cidades com mais de 500 mil habitantes (destas, 92,5% concedem algum tipo de estímulo). Considerando assim todas essas questões e o baixo ritmo de negócios que a política fiscal tem fomentado ultimamente, ponderamos que o melhor incentivo que os municípios podem oferecer para atrair investimentos não são os de ordem tributária, mas, sim, de qualidade em sua infraestrutura e serviços. Itens como saneamento básico, segurança, hospitais, portos, aeroportos, logística e escolas parecem ser elementos muito mais importantes para potenciais investidores do que simples descontos no ISS. Não é por acaso que as grandes metrópoles e cidades mais desenvolvidas, que detêm melhores equipamentos urbanos, continuem a capturar a maior parte do capital e os interesses das pessoas. Uma política nacional de desenvolvimento urbano, com foco na melhoria e ampliação da infraestrutura dos municípios, poderia potencializar vocações econômicas regionais e contribuir para desafogar os grandes centros. Está mais do que na hora de estendermos além dos grandes centros urbanos as opções de moradia, trabalho e lazer para nossa população.

*Luiz Augusto Pereira de Almeida é diretor da Fiabci/ Brasil e diretor de Marketing da Sobloco Construtora


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entrevista

Elton de Souza

Impermeabilizar é preciso por Pablo Braz foto Dodô Villar

ENGENHEIRO CIVIL E MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO, ELTON DE SOUZA GÓES É O PRIMEIRO NORDESTINO A ASSUMIR A PRESIDÊNCIA DO INSTITUTO BRASILEIRO DE IMPERMEABILIZAÇÃO (IBI). EMPENHANDO EM FORTALECER ATIVAMENTE A IMPORTÂNCIA DA IMPERMEABILIZAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL, ELTON ENFRENTA HÁ MAIS DE 11 ANOS OS DESAFIOS PARA AMPLIAR OS CURSOS DE CAPACITAÇÃO E INTERAGIR COM OS OUTROS ORGANISMOS LIGADOS ÀS ÁREAS DE ENGENHARIA E ARQUITETURA EM TODO O BRASIL. COMO COORDENADOR DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DA BAHIA, GÓES TAMBÉM BUSCA AUMENTAR A COOPERAÇÃO DO CORPO ACADÊMICO COM O OBJETIVO DE APERFEIÇOAR PESQUISAS E ELABORAR PRODUTOS CADA VEZ MAIS EFICIENTES. EM BATE PAPO COM O REPÓRTER PABLO BRAZ, ELTON CONVERSOU SOBRE OS AVANÇOS DO SETOR.


entrevista

Qual a importância da impermeabilização para o setor da construção civil? Trata-se de uma atividade muito relevante da engenharia, haja vista que a sua maior incumbência é aumentar a vida útil das edificações, na medida em que protege as estruturas. A vantagem é, sobretudo, o caráter preservacionista, além de que o seu uso prévio reduz consideravelmente os custos de manutenção das construções. A impermeabilização deve ser realizada sempre que houver contato da estrutura com a terra ou a água nos três estados físicos da natureza: líquido, gasoso e sólido. Temos como exemplos lajes de playground, piscinas, reservatórios e jardineiras, além de outros ambientes. Como se encontra o panorama atual do mercado da impermeabilização no Brasil? O mercado da engenharia do Brasil em si passa por um momento de ajuste, seja por dificuldades de financiamento, bem como a constatação de que em alguns centros existem um estoque elevado de imóveis prontos. Contudo, é incontestável que, do ponto de vista macro, temos uma demanda reprimida muito maior do que a oferta, seja em infraestrutura, como portos, aeroportos, rodovias, como em imóveis para todas as faixas de consumo. Logo, o mercado da engenharia no País e todas as suas atividades têm um futuro promissor, de franca expansão. Particularizando-se o segmento de impermeabilização, considero que teremos um crescimento ainda maior, pois a nova norma de desempenho NBR 15.575, que entrou em vigor no fim do ano passado, é muito mais exigente quanto à performance da estrutura, sendo o seu prazo mínimo de 50 anos. Além da boa qualidade do concreto e dos serviços executados durante a estrutura, é a impermeabilização que tem um papel fundamental para esse êxito. De sorte, tanto por exigência como por um maior compromisso e melhor formação dos engenheiros, teremos um expressivo crescimento nessa atividade. Toda a cadeia tem dedicado muito mais importância para a atividade de impermeabilização. Os avanços do Código do Consumidor, bem como a maior facilidade de acesso às informações, têm levado a uma

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maior consciência de todos. Quanto mais consciente, mais exigente e mais valorizada a atividade. Portanto, sejam os empreendedores, fabricantes, projetistas, especialistas, as empresas de aplicação, todos em suma estão imbuídos de evitar problemas e passivos pecuniários ou passivos morais com os clientes finais e com a sociedade em si. Tem-se investido muito em avanços tecnológicos nas indústrias e nas obras. A evidente carência de mão de obra impulsiona diversos cursos de capacitação, além de que a nova norma de desempenho força também a um maior controle e, por conseguinte, uma melhor qualidade do produto final. E quanto ao uso da impermeabilização para as obras de grande porte, como obras públicas e patrimônios históricos? Algumas obras públicas ainda têm relegado impermeabilização ao segundo plano, e este é indubitavelmente um papel fundamental do IBI como formador de opinião, além da sua isenção comercial, no sentido de melhor conscientizar nossos gestores públicos. Capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife estão precisando realizar intervenções com certa frequência para a conservação das obras de arte. Nossos patrimônios históricos têm sido vítimas tanto da ausência de intervenção como de intervenções malfeitas que descaracterizam o valor cultural do bem. Contudo, nós temos ampliado a utilização de produtos impermeabilizantes nas construções de uma maneira geral. Como você avalia o custo para se impermeabilizar uma obra? A impermeabilização é viável do ponto de vista econômico? A impermeabilização é atividade primária na engenharia, de sorte, que, para os profissionais e empresas responsáveis, não há de se pensar em ausência de impermeabilização. Ratifico que a preservação das estruturas com o consequente aumento de vida útil decorre de uma boa impermeabilização. Descarta-se, assim, a questão opcional. Quanto ao custo, é variável em função da tipologia da edificação e da necessidade e especificidade da impermeabilização, em

geral variando de 1,0 a 3,5% do custo total da construção. Contudo, a ausência desta, além de gerar um risco à construção e desconforto e insalubridade ao usuário, fará com que após alguns anos se tenha custos elevadíssimos de recuperação da estrutura para devolver integridade à mesma. Você é o primeiro representante do Nordeste a ocupar a presidência do IBI. Qual a importância dessa representatividade para a Região e como você tem encarado o seu novo cargo? Como o IBI tem representatividade nacional e todos os seus membros são legitimamente constituídos, independente da unidade federativa, podem participar da eleição para a presidência e o conselho qualquer representante dos estados brasileiros. Temos certeza que esta eleição é um indutor no sentido de ampliar a participação de todas as regiões no instituto, bem como a capilaridade do mesmo fora do território nacional. É importante ressaltar que a bandeira do IBI é única e em favor das boas práticas da engenharia de impermeabilização. Nos últimos 6 anos, venho participando constantemente das atividades do IBI e fui bem recebido, e recebemos bem a todos, independente do estado de origem. É um desafio enorme, pois precisamos fortalecer a nossa atividade, termos uma maior sinergia com outros institutos, órgão públicos, universidades, conselhos regionais, além de interiorizar as nossas ações. Qual é então o papel do IBI dentro do segmento da impermeabilização no País? Tem um papel fundamental, pois o IBI tem se comportado como o fórum legítimo que abriga toda a cadeia do nosso segmento: fabricantes, distribuidores, aplicadores, projetistas, especificadores, profissionais autônomos, em face de agregar todos os envolvidos. Indubitavelmente, somos a vanguarda dos avanços do nosso segmento.Dentre os principais eventos promovidos pelo IBI, destacamos os Simpósios Brasileiros de Impermeabilização. Nos simpósios, temos relevantes trabalhos elaborados por profissionais de todo o Brasil, que, além da premiação financeira, prestam um valioso serviço ao segmento indicando tendências


e soluções, passando a ter merecido destaque. Existem também feiras técnicas específicas, como a Tecobi Expo, em que os fabricantes divulgam o nosso segmento pelo País a fora. Podemos destacar no Nordeste a exitosa Ficons, que se realiza com amplo sucesso no Recife (PE). O que tem sido feito quanto à normatização do uso da impermeabilização junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e ao Inmetro? Existem inúmeras normas vinculadas à impermeabilização estabelecendo parâmetros para a fabricação, execução e seleção dos produtos, como a NBR 9574/2009 (Execução de Impermeabilização); a NBR 9575/2010 (Elaboração de Projetos de Impermeabilização); e a NBR 9952/2007 (Mantas Asfálticas com Armadura para Impermeabilização). Destaco que a sede da IBI é também sede das reuniões do Comitê Brasileiro de Isolação Térmica e Impermeabilização (CB-22) desde 1994. Esse comitê tem papel essencial no setor na medida em que ele o legitima. Ainda que comumente a participação nas reuniões se dê em grupos menores, a sociedade pode participar a qualquer tempo, e toda norma passa por consulta pública nacional como etapa final da sua regulamentação. Por exemplo, recentemente fez-se a norma para o uso de polímeros acrílicos para impermeabilização dosada em obra. E, sempre que for necessário, realiza-se a revisão das normas vigentes. Quais são os grandes avanços em termos de tecnologia e estudos dos materiais apresentados hoje para o setor da impermeabilização? As questões ambientais têm sido um norte a fim de evoluirmos para produtos ecologicamente corretos, minorando os impactos desde a sua produção até a sua destinação. Os produtos de base solvente têm sido usados de forma mais restrita e têm-se crescido consideravelmente linhas asfálticas, emulsões, resinas e aditivos, sempre com a premissa de serem menos impactantes. Os produtos impermeabilizantes, via de regra, são adequados a determinado fim ou inadequados. Portanto, quando se caracterizam vantagens em um sistema

impermeabilizante, pontuam-se os comportamentos vantajosos deste quando da destinação correta. Exemplo: Os produtos de base asfáltica possuem majoritariamente boa flexibilidade, aceitando deformações maiores da estrutura. Quando adicionamos polímeros, ampliamos este ganho, como o caso do SBS-Estireno-Butadieno-Estireno. A incorporação do mesmo na massa asfáltica gera uma memória elástica, permitindo movimentos de contração e dilatação da estrutura. Contudo, isso acarreta um incremento no custo final do produto. Os produtos de base solvente, dada as necessidades de adequação dos empreendimentos a redução de impactos ambientais, têm paulatinamente reduzido a sua presença. É inegável, portanto, que em algumas situações, sobretudo os primers asfálticos que dão celeridade e qualidade, faz-se necessário cuidado na contratação de mão de obra qualificada e na sua fiscalização. Outro ponto é que os aditivos têm também ampliado bastante o seu uso. Verifica-se que as indústrias desse segmento têm investido maciçamente em pesquisa com adequação contínua das normas nacionais, o que tem gerado ganhos de desempenho e garantia de qualidade aos concretos e retorno econômico às concreteiras e, por conseguinte, a toda cadeia.

Teremos no 14° Simpósio Brasileiro de Impermeabilização um momento singular para construção e aperfeiçoamento do conhecimento especializado. Precisamos enquanto instituto estimular a todos estes grupos para que acompanhem e promovam este saber. É necessário estímulo, que é a palavra-chave. O construtor, que é a ponta antes do usuário final, necessita informar quais as dificuldades recorrentes e criar estas demandas. Contudo, se buscarmos a sinergia, estaremos envolvidos, e todos acabam ganhando.

Existe algum tipo de ação ou programa que acompanha a pesquisa, análise e o desenvolvimento de produtos do setor? Esta será uma das metas a serem implantadas no IBI, pois precisamos, sim, de um programa setorial para o desenvolvimento de pesquisas para novos produtos e sistemas. São inegáveis os esforços que os fabricantes do setor têm feito para desenvolver produtos atuais. Contudo, a sinergia envolvendo os demais players facilitará e encurtará o caminho para bons resultados.

Existem ainda desafios a serem vencidos na melhoria da produção, aplicação e mercado da impermeabilização? Um dos grandes desafios é aumentar a oferta de mão de obra qualificada do setor, porque, com o boom do mercado imobiliário a partir de 2008, essa deficiência ficou mais latente. Dentre os novos projetos, iremos implantar, por meio do IBI, cursos de formação e capacitação nos mais diferentes estados do Brasil. Precisamos também fortalecer a conscientização da importância da impermeabilização, para que os construtores e empreendedores passem a adotar projetos de impermeabilização e contratem empresas realmente qualificadas. Entendo ser necessária uma maior cooperação com as instituições de ensino superior nas áreas de arquitetura e engenharia para termos profissionais com mais conhecimento especializado.

Como se pode então promover essa sinergia? É necessário o envolvimento amplo de toda a cadeia, cabendo aí os construtores e suas representações e sindicatos, os conselhos de engenharia e arquitetura, as universidades, os fabricantes do setor, as empresas de aplicação, a dos produtos impermeabilizantes e os projetistas.

Existe algum estigma que precisa ser quebrado em torno da impermeabilização? Sim. O principal deles é entender a impermeabilização como atividade fundamental, com a mesma importância que se dá ao uso do concreto ou aço, deixando de ser uma opção do construtor, e sim uma ação primária. Outra questão a ser abordada é que, dada a sua importância, o engenheiro deve valorizar a contratação de profissionais habilitados para a elaboração dos projetos, da execução e fiscalização dos serviços, bem como fugir dos tais produtos milagrosos, os quais não existem. Todo produto tem sua limitação física, portanto há de se fazer adequação do seu uso.

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MAIS UM A Portobello Shop, maior rede franqueada de revestimentos cerâmicos, recebeu da Associação Brasileira de Franchising (ABF), pelo nono ano consecutivo, o Selo de Excelência em Franchising (SEF), na categoria Master — destinada a marcas com mais de 10 anos e mais de 60 franqueados. O SEF é concedido para as franqueadoras que obtêm um bom desempenho no relacionamento com a rede, sob o ponto de vista do franqueado. A conquista é resultado de uma pesquisa aplicada por uma consultoria isenta na base de franqueados das marcas e mede o nível de satisfação deles com a franqueadora. Para 2014, a Portobello Shop tem programada a abertura de 23 novas lojas em diversos Estados, que contribuirão para um crescimento acima da média, atingindo marca histórica de número de franquias.

PARA FICAR ATENTO O Mobilize Brasil, movimento em prol da mobilidade urbana sustentável, deu início a campanha Sinalize, que busca sensibilizar a população e o Governo para a necessidade urgente de melhorar a sinalização das vias no País. “Pedestres e ciclistas são orientados apenas nas áreas de conflito com o tráfego de carros. Não há tótens com mapas que indiquem os principais pontos de referência para serem alcançados a pé ou de bike”, explica Marcos de Sousa, editor do Portal Mobilize Brasil. A principal ação da campanha é a realização de levantamento sobre a qualidade da sinalização urbana nas cidades, através de uma ferramenta disponível no portal de avaliação baseada em leis, manuais e práticas de sinalização de vias no Brasil e no mundo.

SUPERAÇÃO E EMPREENDEDORISMO A história de sucesso de Delino Souza, que saiu da cidade de Jericó, na Paraíba, tentou a vida em São Paulo e fundou no Recife a Tintas Iquine, pode ser vista agora no livro Delino Souza: A trajetória do nordestino que criou a maior indústria de tintas 100% brasileira. A publicação é de autoria do jornalista Jaques Cerqueira. Segundo o autor, quem começou a escrever a biografia foi o jornalista Mário Melo, mas depois ele retomou a ideia a convite de Luiz Montenegro, da MMS Comunicação. Bastante lisonjeado com o resultado, Delino afirma: “Para ser um grande empreendedor, você tem que acreditar, trabalhar e não desistir. Precisa saber pisar nas pedras que aparecerem no meio do caminho e aproveitar as oportunidades que surgirem”.

NOVA MARCA Há de mais 20 anos atuando na construção civil brasileira, a Tecomat lança a sua nova marca e passa a se chamar Tecomat Engenharia, para marcar o seu crescimento e a ampliação dos seus serviços. A marca vem acompanhada de um novo slogan: Saber e Saber Fazer, que resume a cultura corporativa da empresa, a qual presta serviços de engenharia voltados para consultoria técnica e controle tecnológico de materiais da construção civil, com atuação no Brasil e no exterior, em países como Angola, México, Colômbia e Venezuela. Um dos nichos de mercado em que a empresa tem investido é o de análise de desempenho dos imóveis, devido às novas diretrizes trazidas pela NBR 15575, tendo inclusive inaugurado recentemente um laboratório de esquadrias.

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75 ANOS A Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) comemorou seus 75 anos de atividade, em uma cerimônia na Casa da Indústria, em Pernambuco. “Somos hoje o resultado de empresários que já tinham a nítida visão de que o pensamento coletivo deveria prevalecer, mudando o perfil produtivo do nosso Estado e do nosso País”, disse Jorge Côrte Real, presidente da Fiepe. No evento, o empresário Hugo Gonçalves de Souza, diretor da Tambaú Indústria Alimentícia, foi agraciado com a Medalha do Mérito Industrial. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, também foi congratulado com a honraria, mas foi representado no evento pelo chanceler da Ordem do Mérito Indústria da CNI, Paulo Afonso Ferreira.

DESENHO URBANO Profissionais e alunos do mestrado em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da escola de arquitetura Architectural Association School of Architecture (AA), em Londres, na Inglaterra, se encontraram durante o IV Workshop Internacional de Desenho Urbano, que aconteceu no Recife, em Pernambuco. Na pauta, o estudo de soluções de mobilidade e habitação social para a avenida Norte Miguel Arraes, localizada na Região Metropolitana do Recife. Muitos dos arquitetos presentes já tinham participado de projetos de mobilidade que deram certo em cidades do Brasil e de outros países, como o argentino Jorge Mario Jauregui, referência mundial em urbanização de periferias, que mostrou o trabalho desenvolvido para várias favelas-bairros do Rio de Janeiro, como o Vidigal e a Rocinha.

TOP SOCIAMBIENTAL A Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil em Pernambuco (ADVB-PE) realizou a 7ª edição do Top Socioambiental e de RH de 2014, que premiou 13 projetos entre 29 inscritos nas categorias Meio Ambiente, Sociocultural e Recursos Humanos. Entre os vencedores, estão Camará Shopping Center, Castro Projetos e Consultoria, Condomínio Shopping Center Difusora, Consórcio Ipojuca Interligações, Galvão Engenharia e Suape – Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros. Autoridades, personalidades e líderes empresariais marcaram presença no evento, que aconteceu no JCPM Trade Center, no Recife.

REGIONALIZANDO Com mais de 90 franqueados e há 2 anos no Brasil, a Jan-Pro, rede americana especializada em limpeza comercial e única franquia de serviço de limpeza a receber o Selo de Excelência 2014, da Associação Brasileira de Franchising (ABF), inaugura seu escritório regional no Recife, em Pernambuco, que será o décimo no País. “Estamos expandindo rapidamente no Nordeste e sentimos a necessidade de outro ponto de apoio na Região, além do nosso escritório regional de Salvador, em operação há mais de 1 ano”, explica Renato Ticoulat Neto, diretor nacional de novos negócios da rede.

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ENGENHARIA DO FUTURO: PASSANDO O BASTÃO PARA A GERAÇÃO Y Terry D. Bennett*

Os projetos de infraestrutura do futuro são desafiadores e complexos e ultrapassarão os limi­tes do design e da construção.

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m dos maiores desafios enfrentados pela civilização moderna é a acelerada urbanização do Planeta. Dentro de 35 anos, a população mundial deve passar dos nove bilhões de pessoas. A infraestrutura existente não é capaz de lidar com o rápido crescimento das cidades nem mesmo atender às necessidades de forma sustentável e resiliente. Para responder a esse desafio, a criação de uma nova infraestrutura deve ser definida, levando-se em conta um ciclo de vida de longo prazo e a sinergia com a urbanização já existente. Essa sincronia vai nos ajudar a criar cidades sustentáveis nos próximos anos. Mas quem vai fazer isso e como? A resposta está na geração Y, ou seja, jovens nascidos entre o final da década de 1980 e meados dos anos 1990. São pessoas que cresceram acostumadas com uma realidade virtual e com ambientes em 3D. Essa geração, imersa em aplicativos móveis e cloud computing, é sem dúvida a mais conectada que já vimos. Para entender como essa nova geração vai mudar a forma de projetar, precisamos pensar primeiro sobre como eles irão usar sua influência social e abordagem baseada em nuvem para projetos e engenharia. Os membros dessa geração são diferentes; eles assimilam tudo e simultaneamente organizam a vida de forma diferente, olhando para uma perspectiva de grupo. Sendo a primeira verdadeira geração conectada globalmente, eles têm amigos e colegas em todo o mundo e podem discutir e colaborar em tempo real sobre problemas comuns em suas cidades. Essa colaboração requer as seguintes características: desenvoltura em mídias sociais, confiança e respeito mútuos, indefinição de papéis entre as funções de planejamento, projeto e construção todos trabalham juntos —; compartilhamento de riscos e recompensas — e sobretudo de informações —; capacidade para executar várias tarefas ao mesmo tempo. É fácil notar a diferença entre esse novo modelo e a engenharia tradicional, com seus fluxos de trabalho segmentados e responsabilidades definidas.

O principal desafio seria evitar que esta nova geração trabalhe em engenharia forçada a usar velhos processos, ferramentas e abordagens ou que busque outras profissões para estender a sua criatividade, o que seria uma perda para o futuro da engenharia e construção. Os projetos de infraestrutura do futuro são desafiadores e complexos e ultrapassarão os limites do design e da construção. Esta nova geração acredita que o design não linear é normal e sua complexidade é esperada, uma vez que adoram desafios. Esses jovens acreditam que tudo deve ser modelado em 3D inteligente, que lhes permite se analisar tempo e custo em 4D e 5D e, finalmente, validar o projeto em 6D no que se refere ao impacto na sustentabilidade, já que são uma geração que se autodescreve como verde. Para esta nova geração, design e construção devem ser nada menos que um esporte de equipe, baseado em nuvem com capacidade móvel e social para interagir, se necessário, com quem, onde e quando for necessário. Para eles, Building Information Modeling (BIM) é a única maneira de projetar o nosso futuro, resultando em melhores decisões e em melhores resultados de esforço colaborativo. Durante suas vidas, eles irão projetar e viver em uma cidade neutra de carbono, substituir seus carros por elétricos ou híbridos ou simplesmente optar por não utilizar carros, ter um número único para comunicação, viver onde quiserem e trabalhar em outra localidade se desejarem, o que pode ser feito virtualmente. Esta próxima geração de designers irá adotar essas novas atitudes, perspectivas e ferramentas para transformar os processos de infraestrutura, planejamento, projeto e construção e estabelecer as bases para a mudança que os capacite a enfrentar os desafios da urbanização desenfreada. Sua visão para o futuro é que infraestrutura sustentável e cidades inteligentes são a mesma coisa.

* Terry D. Bennett, LS LPF MRICS LEED® AP, é gerente sênior de indústria, engenharia civil e construção da Autodesk. Ele tem feito parcerias com empresas e cidades para resolver desafios urbanos durante os últimos 30 anos



À PRIMEIRA VISTA

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01 BRASILIDADE Inspirado nos traços e na postura do tamanduá bandeira — símbolo brasileiro, — o banco desenhado por Sergio Fahrer acentua os ângulos presentes no animal. A técnica de curvar a madeira está presente no objeto, que utiliza o mesmo molde para inverter os sentidos e estruturar a peça. Da nova coleção da Brentowood | brentwood.com.br I 11 3646.4400.

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A poltrona Balacobaco possui a possibilidade de variação das cores para o assento de crochê, em estrutura de aço inox desmontável, dando mais dinamismo e acessibilidade.

A Cadeira Vó Judith exemplifica bem o trabalho voltado para o desenvolvimento social e a diminuição de resíduos. O revestimento é feito à mão, na técnica do crochê, com resíduos da indústria têxtil.

02 PURA DELICADEZA Após uma viagem a Buenos Aires, onde percebeu que designers faziam o papel de criadores, produtores e comerciantes, Nicole Tomazi deixou de lado a carreira de arquiteta e conseguiu concretizar um sonho: a autoprodução, com um trabalho mais artesanal e social. Considerada um talento no atual cenário nacional de designers, Nicole traz novos ares ao mercado moveleiro — e tudo em parceria com um grupo de mulheres da periferia de Porto Alegre. nicoletomazi.com I 51 3019.2039.

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Como surgiu a proposta de trabalhar com pessoas em vulnerabilidade? Foi da vontade de trabalhar com resíduos. Muitos artesãos não se interessam por essa matéria-prima. Eu chamo de produção social e não costumo falar em sustentabilidade, pois no fundo somos insustentáveis. Mas a ideia é tentar reduzir o impacto no planeta e também diminuir o abismo social. Eu faço somente os protótipos para viabilizar as técnicas. É um trabalho de formiguinha, mas bem gratificante. E suas inspirações?! São as minhas curiosidades, vêm da minha vida, do meu cotidiano. Eu não tenho um único tema de inspiração, é o cotidiano.



À PRIMEIRA VISTA

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03 ILUMINAÇÃO DIFUSA Em busca de uma expressão autônoma e formas orgânicas inspiradas na natureza, a Krisalide Redondo é uma luminária realizada em madeira maple europeu, e sua sobreposição produz sombras e transparências, conferindo um efeito autêntico e singular. A peça, da La Lampe, foi desenvolvida pelos designers Andrea Cerretelli e Fabiana de Andrade | lalampe.com.br I 11 3069.3949

04 BOLA DENTRO O livro Arenas do Brasil – Arquiteturas e Engenharias nos Estádios Brasileiros para a Copa de 2014 reúne todas as informações da modernização e construção dos 12 estádios para o Mundial de 2014, desde a concepção dos projetos. São 292 páginas de textos, memoriais, descritivos e imagens além de entrevistas com os responsáveis pelas obras e uma seção dedicada à história dos equipamentos esportivos. A publicação é da editora Mandarim | mandarim.com.br I 11 3362.2585

05 ECONOMIA E ESTILO A Lorenzetti inova ao trazer as duchas LorenAir, que possuem sistema de funcionamento semelhante ao arejador, utilizado em torneiras e misturadores para uniformizar o jato de água e contribuir para a redução do consumo. Um exemplo dessa linha é a Ducha LorenAir de teto 5011 C16, que tem design moderno e crivo articulável, proporcionando maior flexibilidade e direcionamento do jato e bico de borracha. O modelo é indicado para locais como casas térreas, sobrados e apartamentos de coberturas que possuem pouca pressão de água.

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06 É UM LUXO SÓ Desenhado pelo arquiteto Décio de Lima Beck, a ideia para o cobogó Luna veio de uma pesquisa dos efeitos gerados quando acontece a superposição da forma côncava e convexa do mesmo objetivo. Devido a essa aplicação de formas, é possível fazer diferentes paginações dos elementos vazios. Na foto, ambiente assinado por Léo Shetman para a Casa Cor/SP. Da Solarim para a Refinare. Além de elegante e funcional, possibilita um melhor aproveitamento da luz e da ventilação. refinare.com.br I 81 3031.6763 | 3033.1875.

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VITRINE Estilo

inovação que não para “Não sei se projeto quando respiro ou se respiro quando projeto.” É esse o sentimento de Antonio Caramelo quando as ideias tomam forma e saem do papel para o concreto. Nascido na Bahia, o arquiteto busca em suas criações aliar beleza e criatividade, através de um portfólio variado, que vai desde escritórios corporativos e residências até propostas de urbanização integrada de bairros, hotéis e restaurantes. Dono de um olhar crítico e inovador, o baiano já foi indicado como um dos 100 arquitetos do ano pelo Korean Institute of Architects, tendo lançado recentemente o livro A Caramelo Rompendo Paradigmas Culturais para comemorar seus 40 anos de carreira. Aqui, você pode conferir quatro projetos do estilo Caramelo de ser.

01 PIONEIRISMO O mixed-use Salvador Prime tem a sua fachada revestida em alumínio composto, o que lhe rendeu em 2011 o título de Maior Fachada em Alumínio Composto da América Latina. A integração de serviços, lazer, moradia e trabalho em um mesmo local se complementa e minimiza as dificuldades de mobilidade.

02 TECNOLOGIA Com tratamento estético singular, a tecnologia é uma forte característica do Orizon View Houses. O empreendimento conta com sensores de presença, e os apartamentos possuem sistema de automação instalado, iluminação antimofo e germicida, além de sistema antiembaçante nos banheiros e infraestrutura para sistema de aspiração central de pó e ácaros.

03 SUSTENTABILIDADE A sede da Caramelo foi construída de acordo com quesitos sustentáveis. Entre os recursos apresentados, destaca-se a estrutura metálica no sistema steel-deck, uma pele de vidro autolimpante, iluminação em LED, instalação de placas voltaicas para captação de energia solar, material cerâmico reciclável, piso elevado, captação e reutilização de água pluvial.

04 AUTOMAÇÃO O edifício Mansão Luciano Barreto Júnior tem como diferencial a automação predial, que integra sistemas de segurança, entretenimento, iluminação e climatização, controlados via celular e pocket PC. Foram implantados sensores de movimento, inundação, gás e botão de emergência.

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SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL COMO ELEMENTOs INTRÍNSECOs DA SUSTENTABILIDADE O Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (UPE), através do grupo de pesquisa Desenvolvimento Seguro e Sustentável, vem estudando estratégias e ações que possam incorporar os conceitos de Segurança e Saúde do Trabalho no cenário da sustentabilidade das construções. Alguns estudos internacionais, realizados nos últimos anos nos EUA, têm analisado os impactos negativos e positivos que as edificações consideradas verdes podem ter na segurança e saúde do trabalhador na construção. Este artigo apresenta um resumo que tem norteado pesquisas e motivado alunos de graduação e mestrado da UPE a se dedicarem ao tema. Uma apresentação detalhada do assunto está disponível no livro Segurança do Trabalho no Contexto da Construção Sustentável: Uma Visão Geral, de Kohlman Rabbani, Jalali, Arezes, Barkokébas Junior e Rabbani (2013).

*Emilia Rahnemay Kohman Rabbani Professora Associada, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Brasil e-mail: emilialsht@poli.br

*Soheil Rahnemay Rabbani Professor Titular Aposentado, Universidade Federal da Paraíba, Brasil e-mail: rabbanisoheil@gmail.com

*Frederico José Barros Santos Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade de Pernambuco, Brasil e-mail: fjbs_pec@poli.br

PALAVRAS-CHAVE Construção Civil; Segurança e Saúde do Trabalho; Sustentabilidade nas Construções; Sustentabilidade Social.

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Introdução Nos últimos anos, a ideia da sustentabilidade vem se popularizando como algo que é imprescindível para preservação da vida no planeta. De acordo com o conceito de sustentabilidade proposto pelo relatório Bruntland (WCED, 1987), o desenvolvimento sustentável é aquele através do qual as necessidades do presente são satisfeitas sem, no entanto, comprometer as capacidades das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades. Independente da área onde o termo sustentabilidade tem sido utilizado observa-se que as três dimensões básicas do desenvolvimento sustentável são constantemente abordadas: econômica, dirigida a capacidade de geração de renda para a população; sociocultural, relacionada com a preservação da cultura e da qualidade de vida, de acordo com as especificidades de cada região; e ambiental, relacionada com a utilização racional dos recursos naturais, a partir de uma visão holística da capacidade de regeneração dos ecossistemas. No entanto, na prática, as ações consideradas sustentáveis tem dado uma ênfase maior à dimensão ambiental da sustentabilidade, necessitando incorporar de forma mais enfática aos aspectos sociais, os relacionados à segurança e saúde do trabalhador principalmente no setor da Construção Civil. Motivação Os investimentos e crescimento do setor da construção civil no Brasil têm sido destacados no mundo como fatores importantes para o crescimento econômico nacional tornando-o cada vez mais evidente no contexto econômico mundial, que vem sofrendo, na grande maioria, os efeitos da crise econômica dos últimos anos. O setor tem tido crescimento recorde, refletidos no aumento do PIB da construção e expansão do mercado imobiliário, impulsionados pela contratação resultante do Programa “Minha Casa Minha Vida” e investimentos em infraestrutura do Governo Federal (BRASIL, 2012). Estes investimentos vêm ao encontro de uma necessidade antiga da população brasileira, muito embora, este rápido crescimento tenha sido acompanhado por um relativo aumento no número de acidentes de trabalho no setor da construção, que já eram elevados quando comparados com vários outros países desenvolvidos e em desenvolvimento (KOHLMAN RABBANI, et al., 2013). O tema deste artigo foi motivado pelo desejo de entender a relevância de se investir na segurança do trabalhador neste importante setor econômico e visualizar novas oportunidades disponíveis que contribuam para consolidar a cultura de segurança na construção, apoiando-se no tema que vem sendo objeto de interesse de muitos investidores e pesquisadores na atualidade - a sustentabilidade na construção. Desenvolvimento Sustentável A concepção de desenvolvimento sustentável atualmente adotada começa a se formar e difundir junto com o questionamento do estilo de desenvolvimento adotado, quando se

constata que este estilo de desenvolvimento é ecologicamente predatório na utilização dos recursos naturais, socialmente perverso com geração de pobreza e extrema desigualdade social, politicamente injusto pela concentração e abuso de poder, culturalmente alienado em relação aos seus próprios valores e eticamente censurável no respeito aos direitos humanos e aos das demais espécies (CATALISA, 2010). Segundo Gonçalves Filho (2010) “um sistema de produção, qualquer que seja ele, não é sustentável nas dimensões social, econômica e ambiental quando o ambiente onde os trabalhadores exercem suas atividades não é seguro e saudável, cause mortes, mutilações e doenças da força de trabalho. Não é sustentável socialmente, porque atinge a vida da família do trabalhador vitimado, pela sua morte ou pela sua mutilação. Não é sustentável economicamente, pois impacta principalmente a Previdência Social [o que atinge a sociedade como um todo], que tem que arcar com os custos dos benefícios para os acidentados ou para sua família em caso de morte”. Ainda com base no conceito do desenvolvimento sustentável Fernandez-Sánchez e Rodríguez-López (2010) apresentam um esquema resumo com a estrutura geral da sustentabilidade que incorpora seus principais elementos e está reproduzida na Figura 1 e onde fica evidente a necessidade da inclusão da segurança do trabalhador na dimensão social da sustentabilidade. Segurança e Saúde do Trabalho como parte da Dimensão Social da Sustentabilidade Apesar do tema da SST ser transversal as principais dimensões da sustentabilidade pode-se verificar sua ligação direta a dimensão social, que tem sido muitas vezes preterida pelas questões ambientais relacionadas ao tema. O conceito social de sustentabilidade tem evoluído com o tempo e tem se baseado muitas vezes na ética profissional e na responsabilidade corporativa. A Sustentabilidade Social se refere a um conjunto de ações que visam melhorar a qualidade de vida da população. Estas ações devem diminuir as desigualdades sociais, ampliar os direitos e garantir acesso aos serviços (educação e saúde principalmente) que visam possibilitar as pessoas acesso pleno à cidadania. Entretanto, é frágil estabelecer que uma construção será socialmente sustentável, analisando-se apenas a questão dos moradores nas circunvizinhanças da obra. De forma alguma pode-se esquecer os trabalhadores que frequentam o ambiente construtivo durante toda a vida útil da construção. (Kohlman Rabbani et al., 2013) O processo iniciado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, (que ficou conhecida por Rio 92), onde se aprovaram uma série de documentos importantes, dentre os quais a Agenda 21, recentemente revista na conferência Rio +20 (como foi conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento sustentável realizada no Rio em junho de 2012), reforça que antes de se reduzir a questão ambiental a argumentos técnicos, deve-se consolidar alianças entre os diversos grupos sociais responsáveis pela catalisação das

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transformações necessárias para atingir um desenvolvimento sustentável que consiga reduzir a pobreza, avançar a igualdade social e garantir a proteção ambiental. Neste contexto, a pergunta que se faz é se as construções consideradas sustentáveis são também mais seguras para seus trabalhadores, contemplando assim a dimensão social da sustentabilidade? Estudo recente realizado nos EUA (DEWLANEY et al., 2012), a partir de entrevistas, contatou que edifícios certificados LEED apresentavam uma taxa de lesões graves maior do que edifícios tradicionais não certificados no sistema LEED. Mostrando que há aspectos distintos relacionados a elementos do projeto, materiais e métodos de construção utilizados para obter a certificação LEED, que têm impactos negativos sobre a segurança do trabalhador. Os resultados indicam que elementos do projeto implantados para atingir 12 dos 49 créditos LEED aumentaram a frequência de lesões ou exposição a riscos de acidentes. Os autores afirmam que os impactos mais significativos evidenciados foram o aumento de 36% em lacerações, distensões e entorses na atividade de reciclagem de materiais de construção, um aumento de 24% em queda de menor nível durante o trabalho por causa da instalação no telhado de painéis fotovoltaicos de energias

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Fachada do Centro de Recreação da Universidade, que obteve certificado LEED para novas construções.

renováveis; um aumento de 19% na fadiga ocular na instalação de membranas reflexivas no telhado, e um aumento de 14% na exposição a substâncias nocivas ao instalar tecnologias inovadoras de águas residuais. Resultados do estudo de Fortunato III, et al. (2012) corroboram os dados acima mostrando que: trabalhadores de uma amostra de construções LEED analisada nos EUA estavam expostos a trabalho em altura, com corrente elétrica, próximos a solos instáveis e perto de equipamentos pesados por períodos de tempo maiores que os de projetos tradicionais; e que os trabalhadores estavam expostos a novas atividades de alto risco como construção de telhados verdes, instalação de átrios e de painéis fotovoltaicos (ver fotos 1 e 2). Percebe-se pelos estudos internacionais que alguns creditos obtidos por construções consideradas sustentáveis podem afetar negativamente a SST na construção, sugere-se que sejam analisados os reais riscos associados aos elementos e/ou às práticas de construção consideradas sustentáveis aqui no Brasil e que sejam incorporados aos sistemas de certificação (e.g. LEED e AQUA) indicadores próprios de SST ou aliados aos indicadores ambientais já existentes para garantir que construções consideradas sustentáveis sejam também mais seguras para o trabalhador do setor.

fotos: Emilia Kohlman Rabbani

Processo construtivo da Universidade do Colorado (EUA), que buscava atender os resquisitos de sustentabilidade.



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Resíduos de Construção Civil como Agregado Graúdo Reciclado para Produção de Concreto Nathalie Lundgren de Queiroga Cavalcanti* e Stela Fucale Sukar *

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grande volume de Resíduos de Construção Civil (RCC) gerado pelas atividades construtivas no Recife-PE tem provocado preocupação ambiental, social e econômica, devido a exploração de recursos naturais, descartes clandestinos, proliferação de vetores de doenças e pelo gasto com transporte e deposição dos mesmos em aterros legalizados. Dados precisos sobre geração e destinação adequada ainda são temas de pesquisas em desenvolvimento, e, em conjunto, a valorização da reciclagem surge também como uma potencial saída para amenizar a ação nociva dos resíduos no ambiente urbano, gerando ainda novos produtos comercializáveis. A fim de identificar alternativas para o uso de resíduos da construção, foi desenvolvida uma pesquisa experimental de mestrado com o objetivo principal de apresentar os resultados de uma investigação laboratorial em concretos confeccionados a partir de agregado graúdo reciclado de RCC. Foi verificada a influência do uso desse material no comportamento físico e mecânico do concreto. Para tanto, foi realizada coleta de resíduos em uma usina de beneficiamento de RCC, localizada no munícipio

de Camaragibe-PE, utilizando-se especificamente a parcela cinza de brita 19 mm, com predominância de concreto. Ensaios de caracterização foram realizados nos agregados natural e reciclado, dentre eles: análise de composição gravimétrica, granulometria, massa específica e unitária, teor de material pulverulento, teor de absorção e abrasão, buscando-se conhecer e comparar as propriedades físicas desses materiais. Os resultados sobre o agregado graúdo reciclado demostraram um teor de material pulverulento de 0,62%, praticamente o dobro do natural, que apresentou um teor de 0,36%. Trata-se, contudo, de um valor satisfatório, pois está dentro dos limites estabelecidos pela NBR 7211 (2005). Comportamento semelhante também foi observado nos ensaios de absorção de água e abrasão Los Angeles, em que os valores atingidos pelo agregado graúdo reciclado foram superiores ao natural, porém todos respeitando os limites das respectivas normas. Para a produção dos concretos (convencional e reciclado), inicialmente fixou-se o teor de argamassa (α) em 0,5, e a relação água-materiais secos (A%), no valor de 10% — para estimar-se um valor semelhante

de trabalhabilidade — em que a relação água-cimento (a/c) foi mantida entre as substituições do mesmo traço. O traço apresentado possui uma relação a/c de 0,6 e foi submetido a três substituições de agregado graúdo; o de referência (0%), 50% e 100% de substituição de agregado graúdo natural por reciclado. Foram analisadas as características dos concretos produzidos em seu estado fresco (trabalhabilidade) e endurecido (resistência à compressão axial e resistência à tração por compressão diametral). De posse dos resultados finais adquiridos, verificou-se crescimento das resistências, em todas as famílias, desde 3 até 120 dias de idade (Tabela 1). Não foi verificada influência significativa entre as substituições do agregado, indicando a eficiência desse reciclado para um uso semelhante ao convencional. Os valores de resistência à tração por compressão diametral em relação aos valores de resistência à compressão simples atingiram uma média de 10%, conforme esperado. Assim, foi possível relacionar as propriedades do concreto e a influência da substituição, mantendo um reduzido número de variáveis de dosagem.

* Nathalie Lundgren de Queiroga Cavalcanti Arquiteta e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura de Pernambuco, Mestranda em Engenharia Civil na Universidade de Pernambuco *Profª. Stela Fucale Sukar Engenharia Civil, Mestre e Doutora em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco

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arquitetura

Com um terreno de 34,2 hectares, o Complexo Arquitetônico possui 48.676 m2.

ATRAINDO NOVOS OLHARES Assumindo a sua herança geográfica e cultural, o projeto do Centro de Convenções da Paraíba foi pensado para estimular o turismo, receber grandes eventos e movimentar a economia por Elane Gomes fotos: Antonio David, Albérico Pontes, Francisco França e Roberto Guedes

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ituado às margens da Rodovia Ministro Abelardo Jurema, no litoral sul do Estado, o Centro de Convenções Poeta Ronaldo Cunha Lima, em João Pessoa, é um mix de arquitetura moderna e natureza. O projeto arquitetônico, urbanístico e paisagístico elaborados e os complementares básicos coordenados pela arquiteta mineira Isabel Caminha, mantêm o meio ambiente como pano de fundo, tirando proveito das belezas naturais da capital paraibana.

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O Complexo Arquitetônico, que tem área total construída de 48.676 m², compreende prédios com formas contemporâneas e curvas arrojadas. Os espaços são divididos entre o centro de congressos, salão para feiras e exposições, teatro, heliponto, restaurante panorâmico, mirante, estacionamentos, e as passarelas e um relógio de sol — mais uma ideia que revela a sua localização, já que a capital é o ponto mais oriental das Américas.

Antes mesmo de mergulhar nos desenhos do Centro de Convenções, Isabel Caminha conta que foi fornecido, pelo Governo do Estado, um programa das necessidades básicas do projeto, no qual constava o que deveria ser realizado na construção, sempre respeitando os aspectos regionais. “Fizemos um estudo minucioso. Além da experiência de nossa equipe, pesquisamos bastante sobre o tema — inclusive, tendo como referência projetos nacionais


e internacionais.” Ela acrescenta que, quando se lançou a obra, o primeiro passo foi ir até a Paraíba conhecer o Estado, para extrair a essência da cultura, do povo, da terra — e a visita deu certo! “Foi amor à primeira vista. Fiquei apaixonada pela cidade e pelos paraibanos. No dia em que fui conhecer o terreno, vislumbrei um mirante, como se ali já existisse, no prolongamento do eixo da avenida que leva ao mar”, comenta a arquiteta. Na concepção do projeto, um grande desafio foi a preservação e incorporação do corredor ecológico. “A nossa proposta foi que essa extensão fosse transferida para o fundo do empreendimento, de forma a não ser interrompida pelos acessos ao Centro de Convenções e abraçasse, em forma de um C, as construções com uma barreira de árvores com 100 m de largura. Nossa intenção foi relocar o espaço para que os animais que por ali transitassem ficassem protegidos, longe do asfalto. O corredor interliga dois parques ecológicos: Rios Aratu e Jacarapé”, diz Caminha, ressaltando que atendeu aos critérios presentes no Relatório Ambiental Preliminar, que faz referência ao tipo de impacto que o empreendimento trará para a fauna e flora. Bastou uma olhada rápida no privilegiado cenário, entre mata nativa e o mar, para Isabel traçar a torre do mirante e o restaurante. Sim, ainda no local.“O bloco da Torre do Mirante criei em contraste com a forma arredondada dos demais blocos, um volume na forma de um triângulo equilátero para abrigar o restaurante, e a torre em forma de pirâmide invertida. Para dar leveza ao volume do restaurante, a sete metros de altura do piso, criei seis vigas em curva por baixo e seis por cima das lajes como se fossem dedos, partindo dos vértices do triângulo, em conjunto com nosso calculista Newton Brant”. A mobilidade dentro e fora do complexo arquitetônico também foi um tópico importante no planejamento. Na planta, consta um corredor para pedestres com acesso direto para a Rodovia, facilitando a ida para as paradas

de ônibus. Os estacionamentos contam com vagas para 2.020 carros (incluindo as de portadores de necessidades especiais), 22 ônibus, 47 motos, 5 caminhões, além de pontos para táxi. Os blocos do Congresso, da Feira e do Teatro possuem área de carga e descarga, para facilitar o processo de distribuição de mercadorias durante os eventos. Isabel Caminha explica que o terreno de 34,2 hectares foi moldado para ajudar nos acessos, com entradas, retornos e rotas alternativas. Com ocupação inteligente, o empreendimento está situado no Polo Turístico Cabo Branco. Ou seja, oferece o zoneamento para inserir a infrestrutura de hotelaria e comércio necessárias para o desenvolvimento da região.

Espaços em detalhes Cada ambiente do Complexo Arquitetônico foi planejado minuciosamente, buscando valorizar as

características naturais do local, como o vento e a iluminação. No Centro de Congressos, por exemplo, a estrutura recebeu pilares e vigas e foi modulada e lançada em 15 pórticos externos com modulação de 12 m. O espaço também recebeu um arco inspirado no casco de uma tartaruga. João Pessoa é conhecida por proteger o período de desova de tartarugas marinhas. O Centro de Congressos é extenso e possui três pavimentos. O primeiro tem uma área de 11.087,98 m², com foyer; ball-room com divisórias móveis acústicas, podendo funcionar em um único ambiente para auditório com capacidade de 2.340 pessoas ou subdivido em até oito espaços com acessos independentes; salas multiúso e de apoio; e ainda três conjuntos para sanitários públicos, reprografia; sala para médico; cozinha e refeitório; sanitários para funcionários fixos e temporários; acessos sociais, de serviço e administrativos.

Feira (esquerda), Centro de Congressos (meio), restaurante e Torre do Mirante (direita).

Integrar à natureza foi um dos principais pontos do projeto.

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arquitetura

Visão frontal do Centro de Congressos no dia da inauguração.

O segundo pavimento tem uma área de 1.379,28 m², e por lá estão distribuídas as salas de administração do Centro de Convenções e de eventos, dependências para decorador e áreas técnicas. Já o terceiro pavimento tem de 1.174,72 m², contando com áreas técnicas para climatização e subestação. Com 11.763,04 m², o teatro foi outra etapa bem esboçada. Com 3.042 lugares, ainda está em construção (previsão para finalização em novembro deste ano) e terá seis níveis. O local contará com elevadores, sistemas de movimentação do cenário, piso removível na parte frontal do palco para o fosso da orquestra, área para curso de teatro com sala de administração e secretaria, salas e instalações sanitárias, mezanino, copa, varanda, depósito e camarins. O teatro foi projetado com formas arredondadas, composto por quatro volumes: hall de entrada, foyer, plateia e palco. O condicionamento acústico também foi previsto. Para isso, foi contratado um especialista para fazer a especificação dos materiais, com o objetivo de garantir o funcionamento adequado dos ambientes. “Destaco a importância da inserção do estudo acústico nas etapas mais precoces da arquitetura. Se não, poderíamos

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ter dificuldade no tratamento dos ambientes. Os resultados já comprovados no restaurante no Centro de Congressos e na Feira de Exposições foram ótimos”, fala a arquiteta. Um dos destaques da obra é o Mirante. De encher os olhos, o prédio está a 55 m de altura, possui piso, paredes e teto na cor preta. O intuito é impedir o reflexo desses elementos e das pessoas nas esquadrias, permitindo uma ampla visão do exterior. “Com as três faces do triângulo envidraçadas, temos visão a 360° de todo o lugar. Como a região é muito plana, temos do mirante uma vista deslumbrante do mar”, relata Isabel.

Um projeto ambientalmente correto Em todas as etapas do projeto do Centro de Convenções Poeta Ronaldo Cunha Lima, privilegiou-se o que era considerado ambientalmente correto. Não só pela localização da obra, mas também pela cidade, conhecida como capital verde. De acordo com arquiteta Isabel Caminha, as árvores utilizadas no paisagismo do estacionamento são da Mata Atlântica. Os exemplares escolhidos foram da vegetação mais regional, como Murici, Mulungu, Imbiriba e Ipê. A ideia é que cada fileira de vagas para os veículos tenha árvores

com floração diferenciada, o que facilitará no momento de localizar os carros, sendo a referência o tipo de árvore da alameda. Outro ponto relevante do projeto foi a criação de um Relógio de Sol. “Acordei, um dia, já em fase adiantada do projeto, com a visão do relógio. Ele não fazia parte do programa de necessidades. Pensei: João Pessoa é o local em que o ‘sol nasce primeiro’. Nada melhor para registrar isso que um ponteiro (gnomo), que utiliza a luz do sol para marcar as horas. Existem pessoas que viajam o mundo visitando relógios de sol, e queria que a capital da Paraíba entrasse nesse roteiro”, afirma Isabel. Já o espaço da Feira foi posicionado na direção do vento dominante norte/sul em sua maior dimensão. Ao longo das fachadas, foram colocadas venezianas a 50 cm do piso para propiciar a entrada do ar por baixo, empurrando o ar quente para cima. O empreendimento também conta com espelhos-d’água junto à Feira e ao Centro de Congresso, estes também têm a função de amortecimento da vazão das chuvas, atenuando o impacto nas bacias dos rios próximos. Os lagos existentes na obra foram projetados para armazenarem 30 cm de profundidade a mais durante as chuvas.


Perspectiva geral do projeto.

Tecnologia Toda a obra também recebeu toques de tecnologia. Os sistemas de ar condicionado central, por exemplo: em cada bloco, foram instalados individualmente, para personalizar e garantir a eficiência energética. Os telhados da Feira, do Centro de Congressos e do Teatro foram projetados em telhas termoacústicas, as conhecidas telhas sanduíche, com a função de diminuir o calor interno dos ambientes e minimizar a saída do som para o exterior e o barulho das chuvas no telhado.

No que diz respeito aos tipos de revestimento, a Torre do Mirante foi projetada em forma de pirâmide invertida, sendo executada com estrutura metálica com fechamento em chapas de alumínio tipo ‘alucobond’ na cor branca, o que deu um acabamento mais uniforme à superfície, maior agilidade e um menor custo à obra. A concepção de todo o projeto básico foi mantida do começo ao fim das obras, pelo menos nas etapas já concluídas e inauguradas pelo Governo do Estado. “O conjunto corresponde ao que idealizei, à medida que tudo ia sendo

levantado, ia sendo testado, com chuva, ventos muito fortes e as altas temperaturas do Sol. Tudo foi adaptado durante o processo. E é muito satisfatório ver o que tínhamos imaginado no papel estar funcionando na prática”, finaliza Isabel, referindo-se a alguns detalhes que foram ajustados às necessidades da obra. Serviço: A&A Arte Arquitetura Isabel Caminha R. Levindo Lopes, 333, cj. 210. Funcionários Belo Horizonte (MG) | 31. 3281.0730 contato@isabelcaminha.com.br

Isabel Cristina Soares Caminha é casada com o engenheiro Carlos Almeida Cunha Filgueiras, que também participou do projeto do Centro de Convenções de João Pessoa. Isabel é formada em Arquitetura pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem especialização em Urbanismo. Sócia-diretora da empresa A&A Arte Arquitetura Isabel Caminha Ltda. É professora no Instituto de Arte e Projeto, no curso de Design de Interiores. Também é diretora do Instituto de Arquitetos do Brasil em Minas Gerais. Ela conta que, ao cursar o 1º grau no colégio vinculado à Universidade Federal, foram aplicados testes vocacionais durante 4 anos. Ao final, o resultado dela foi: Arquitetura ou Belas Artes. Desde adolescente, interessava-se pela História da Arquitetura e observava construções. Quando criança, montava bloquinhos. “Construindo os meus sonhos de ser arquiteta”, lembra feliz.

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arquitetura

1. PRAÇA DO RELÓGIO DE SOL 2. TORRE DO MIRANTE 3. CENTRO DE CONGRESSOS: 13.642 m2 3A. CARGA E DESCARGA DO CENTRO DE CONGRESSOS 04. TEATRO -> NÃO ESTÁ CONSTRUÍDO 4A. CARGA E DESCARGA DO TEATRO -> NÃO ESTÁ CONSTRUÍDO 05. FEIRA DE EXPOSIÇÕES E EVENTOS: 19.346 m2 5A. CARGA E DESCARGA DA FEIRA DE EXPOSIÇÕES 6. PASSARELAS COBERTAS 7. GUARITA DE ENTRADA 8. GUARITA DE SAÍDA 9. GUARITA DE SERVIÇO/ COMPARTIMENTO DE LIXO E GÁS 15. HELIPONTO: 900 m2 -> NÃO ESTÁ CONSTRUÍDO 10. GUARITA DE PEDESTRES, PRÓXIMA À RODOVIA 16. RESERVA PARA AMPLIAÇÃO DO ESTACIONAMENTO 11. PONTO DE ÔNIBUS, NA RODOVIA 17. JARDINS 12. ESTACIONAMENTO PARA 2.001 CARROS | VAGAS PARA 18. ÁREA VERDE DE PRESERVAÇÃO (MATA EXISTENTE), PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS COM 100 m DE LARGURA PARA CONTINUIDADE DO 13. ESTACIONAMENTO PARA 22 ÔNIBUS CINTURÃO VERDE DO PÓLO TURÍSTICO CABO BRANCO 14. PONTO DE TÁXI 19. LAGOS/ESPELHOS-D’ÁGUA: 18.000 m2

CENTRO DE CONGRESSOS

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O conjunto corresponde ao que idealizei, à medida que tudo ia sendo levantado, ia sendo testado, com chuva, ventos muito fortes e as altas temperaturas do sol. Tudo foi adaptado durante o processo.


TEATRO

MIRANTE

FEIRA

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Tecnologia

A atualização tecnológica dos elevadores permite deslocamentos mais suaves e precisão no nivelamento, além de menos espaço na casa de máquinas e uma redução no consumo de energia

FOTO: otis

eleve-se Além da valorização estética, a modernização dos elevadores é hoje uma necessidade para garantir economia, alta performance, conforto e segurança aos usuários por Pablo Braz

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onsiderados um dos transportes mais seguros do mundo, os elevadores são peças essenciais na tendência crescente da verticalização dos prédios, desenvolvendo um papel crucial na urbanização das cidades e principalmente na projeção de edifícios cada vez mais altos. Com o tempo, porém, a performance e a segurança desses equipamentos ficam comprometidas, visto que no Brasil a maioria dos elevadores tem mais de 2 décadas de uso, encontrando-se ultrapassados tecnologicamente e oferecendo riscos aos usuários. Paradas bruscas, desnivelamento da cabina com o piso do andar, alto consumo de energia e gastos excessivos com manutenção e troca de peça são alguns sinais de que é hora de rever o equipamento. Para garantir não só um bom funcionamento e confiabilidade, mas também conforto, economia e a valorização do patrimônio, a modernização desse transporte, ou seja, a atualização tecnológica nos principais circuitos do elevador, torna-se imprescindível para mantê-lo em atividade durante um

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bom tempo. Segundo Paulo Manfroi, vice-presidente de Modernização da ThyssenKrupp Elevadores, um dos componentes mais importantes da modernização é a instalação dos quadros de comando microprocessados com inversores de frequência em substituição aos antigos comandos eletromecânicos a relé.“Essa mudança permitiu um melhor desempenho do elevador, deslocamentos mais suaves nas viagens, precisão no nivelamento, além de ocupar menos espaço na casa de máquinas e uma redução no consumo de energia”, explica. Nesse cenário de tecnologias avançadas, um dos destaques é o sistema de gerenciamento de tráfego. De acordo com Rodrigo Lameiras, gerente regional Nordeste da Atlas Schindler, esse sistema possibilita o direcionamento personalizado dos usuários, evitando as indesejáveis filas no saguão do prédio. “Através de um programa lógico que racionaliza o fluxo de pessoas, o sistema indica o andar desejado, analisando a demanda em tempo real e encaminhando o passageiro para o elevador que irá

levá-lo ao seu andar de destino da forma mais rápida, sendo possível agrupar no mesmo elevador quem vai para andares iguais ou próximos”, ressalta. Lameiras diz que, além do gerenciamento do tráfego, existe também a possibilidade de um amplo controle de acesso com diferentes níveis de personalização e comunicação com o usuário. “Através de terminais, com tela tipo touch, o sistema reconhece as necessidades individuais e oferece a melhor alternativa, como instruções multilíngue aos passageiros e total integração com o sistema de automação do condomínio”, detalha. Além disso, existe também o sistema inteligente de biometria digital para reconhecimento de usuários, geralmente indicado para elevadores residenciais e que é um aliado em termos de segurança para o condomínio. “Essa tecnologia opera através da análise da impressão digital dos passageiros, permitindo o acesso apenas aos andares autorizados”, esclarece. “Além do ingresso por meio das digitais, a restrição ao uso do elevador pode ser feita com senhas secretas


do edifício, em que pode ser reutilizada por outros elevadores, para a iluminação elétrica, para o ar condicionado, para os computadores e até por outros equipamentos que estiverem conectados à mesma rede elétrica do edifício. “O que antes era desperdício torna-se geração de energia. Esse pacote tecnológico pode trazer redução de consumo de energia de até 75%, se comparado a equipamentos convencionais, maior durabilidade do equipamento, além de um transporte mais suave e silencioso”, pontua Peiter. No entanto, a modernização dos elevadores vai além das alterações estruturais e técnicas. A cabina é o cartão de visita do equipamento, e a atualização estética da mesma torna o elevador mais atraente e harmonioso para os usuários, agregando significativamente valor ao empreendimento. De acordo com Aristóteles Leite, gerente comercial da Hyundai Elevadores Wollk, a revitalização da cabina pode valorizar os prédios em cerca de 30%. O gerente assegura que o mercado dispõe de diversas opções para a renovação estética, tais como: revestimento em aço inox ou em fórmica da cabina, rodapé em aço inox, subteto, piso em granito ou em chapa metálica, painéis laminados, espelho de cabina, corrimão tubular em aço inox e até o uso de lâmpadas LED, que reduzem em até 30% o consumo energético em comparação com as fluorescentes. “Em relação ao critério da acessibilidade, há a possibilidade de trocar o painel de comando e as botoeiras por modelos atuais com código em braile e sistema de voz, que indica o andar em que o elevador se encontra”, completa Leite. Porém, mesmo que a modernização técnica e visual dos elevadores represente um avanço e principalmente uma necessidade para a valorização e conservação do patrimônio, há ainda o desafio do custo com a renovação. Segundo Guttemberg Dantas, diretor operacional da Hyundai Elevadores Wollk, esse custo é muito variável, pois depende do número de parada, capacidade da cabina e velocidade do equipamento existente no empreendimento. Mas

FOTO: otis

para chamadas de cada andar, que são previamente cadastradas pelos usuários”, complementa Rodrigo. Paulo Manfroi lembra que diversos itens de segurança podem ainda ser instalados durante a modernização, como cortina de proteção para portas de feixes infravermelhos que interrompe o fechamento quando uma pessoa ou objeto estiver passando; dispositivo pesador de carga que bloqueia o atendimento de chamadas quando o peso da cabina atinge 80% de sua carga nominal; e iluminação de emergência e central de interfone para facilitar a comunicação entre quem está no elevador e na portaria. Em relação ao sistema de abertura das portas, os microssensores em pontos localizados podem ser substituídos por uma régua eletrônica que cobre toda a extensão da porta, dando mais segurança aos usuários. Uma grande novidade também é a utilização de elevadores sem casa de máquinas em modernizações. Para Fernando Peiter, diretor de vendas e marketing da Elevadores Otis, esse modelo possibilita um maior aproveitamento da caixa de corrida, otimizando o espaço com melhor eficiência energética. Além disso, esses elevadores podem utilizar um sistema de cintas de aço revestidas com poliuretano para tracionar a cabina, tecnologia essa patenteada pela Otis. “Tanto as cintas quanto a máquina sem engrenagem com rolamentos selados não necessitam de lubrificação, isentando o uso de óleo. As cintas de poliuretano são até 20% mais leves e duram até três vezes mais que o cabo de aço convencional. São mais silenciosas e flexíveis, além de eliminar o efeito de atrito entre os metais, produzidos pelos cabos de aço tradicionais contra as polias”, explica Fernando. Outra tecnologia inovadora usada hoje na renovação de elevadores é o sistema de regeneração de energia. O mecanismo funciona com drives regenerativos, que, combinados com uma máquina sem engrenagem, possibilitam que a energia desperdiçada em sistemas tradicionais em forma de calor possa realimentar a rede elétrica interna

O Gen2 Switch é um elevador residencial que elimina a necessidade de energia elétrica trifásica, pode ser operado a energia solar e utiliza tecnologia a bateria para continuar em operação quando a energia elétrica acaba. O elevador opera com energia monofásica, sendo adequado para retrofits ou em edifícios novos onde o elevador é a única instalação de energia trifásica.

Guttemberg diz que o custo empregado inicialmente consegue ser revertido em lucro em um pequeno espaço de tempo, decorrente da considerável economia de energia elétrica em relação aos equipamentos substituídos. “A modernização é proporcional ao nível de conhecimento do cliente, e a simples substituição das botoeiras de cabina e pavimento só agrega estética. A base para a redução de consumo de energia só é possível com a substituição do quadro de comando. Pensando na segurança, no conforto e na performance elevados, isso acaba se tornando um grande investimento”, esclarece Dantas.

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Tecnologia

Forma para paredes circulares na construção de uma estação de tratamento de água, em Aracaju, SE.

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Da madeira ao alumínio Nas últimas décadas, o sistema de formas para a construção civil foi se aperfeiçoando e hoje o mercado conta com tecnologias mais produtivas, resistentes e sustentáveis por Pablo Braz

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onceituadas como estruturas provisórias destinadas a moldar e sustentar as pressões laterais do concreto, o sistema de formas para a construção civil tem vivido transformações significativas ao longo das últimas décadas. Desde a fabricação de painéis utilizando chapas de madeira compensada na década de 1940, a evolução dessa tecnologia no país foi bastante impactada com o aparecimento dos sistemas tubulares no início de década 1970. Com o surgimento das formas metálicas, que começaram a ganhar mais destaque a partir dos anos 1980, a indústria da construção foi se diversificando, e, para garantir a produtividade, qualidade e especificidade de cada projeto, há hoje diversas opções de sistemas, entre os quais o uso de materiais como aço, alumínio, plástico e até papelão, em que a escolha e a técnica adequadas são imprescindíveis para o sucesso do empreendimento.

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Segundo Paulo Lago, diretor comercial regional da SH, o sistema de formas é essencialmente necessário à etapa estrutural de qualquer tipo de edificação, pois é responsável por garantir a geometria desejada, o posicionamento das peças, manter as características do concreto ainda em estado mole, permitir a obtenção de superfícies específicas e proteger o concreto novo contra impactos e variações bruscas de temperatura, possibilitando assim a estanqueidade do concreto até ele estar totalmente solidificado. “O uso adequado desse sistema evita patologias como deformações, vazamento de finos, desalinhamento, trincas e fissuras resultantes de concretagem rápida demais e até mesmo um colapso de estruturas por erros de dimensionamento de escoramentos, de qualidade do concreto ou da armação”, pontua. De acordo com o engenheiro João Neves, Gerente Nacional de Locação para Construção Civil da Mecan, para

evitar essas complicações estruturais e obter os resultados desejados, é fundamental que o uso do sistema de formas seja compatível com o tipo de obra. João fala que, mesmo com uma variedade de produtos presente no mercado, não se pode generalizar as soluções, e sim personalizá-las de acordo com as necessidades de cada projeto. “O ideal é que a escolha seja feita através de critérios como acabamento, prazo de execução, interferências presentes na estrutura, reaproveitamento, leveza, facilidade de montagem e desmontagem, flexibilidade geométrica, adaptabilidade, resistência mecânica e segurança do sistema e de seus componentes”, explica. Entre as opções, estão as formas de madeira, que, mesmo sendo as mais antigas no cenário da construção, são também as mais utilizadas no País. Para Neves, cerca de 55% do mercado ainda aplica esse tipo de material, pois ele confere ao sistema baixo custo,


adaptabilidade, facilidade no manuseio e leveza. Porém, o engenheiro alerta que as desvantagens do uso da madeira são inúmeras, como pouca durabilidade, baixa produtividade na montagem e desmontagem, pouca resistência nas ligações e emendas, grandes deformações quando submetidas a variadas e bruscas mudanças de temperatura e umidade e geração de resíduos, característica essa que produz impactos ambientais consideráveis quando o material não é certificado. Uma alternativa para reduzir o uso da madeira nas obras e garantir um projeto mais sustentável e produtivo, tem sido as formas metálicas, que são usadas quando há necessidade de muitas repetições na obra, mas que acabam tendo um custo mais alto se comparadas com as de madeira. O arquiteto João Dalberto Ziani, gestor de negócios da BKS no Nordeste, diz que as formas de aço, mesmo sendo pesadas, apresentam alto módulo de elasticidade, permitindo uso de menor número de ancoragens e menores deformações. “A combinação de quadros de aço com face frontal sintética resulta em bom acabamento de concreto, sem perdas, com menor uso de acessórios e um mínimo índice de mão de obra e peso de painéis suportáveis. A movimentação com grua propicia a utilização de painéis de grandes dimensões e assim um incremento de produtividade”, completa o arquiteto. Mais leve e resistente, porém com um custo bem mais elevado que o aço,

o alumínio surge também como uma alternativa eficiente e que não gera resíduos, por ser 100% reciclável. Ziani ressalta que as formas de alumínio têm como característica o baixo peso, apropriada para movimentação manual, além de baixo módulo de elasticidade, o que obriga o uso de maior número de tirantes e acessórios, com reflexo em maior índice de mão de obra. O diretor de negócios da SH, Marcelo Milech, esclarece que, além do aço e do alumínio, há as formas de papelão, usadas em pilares circulares. Práticas e leves, as peças já vêm prontas e garantem um bom acabamento, no entanto são descartáveis, produzem resíduos e têm baixa capacidade de carga. Além disso, Milech cita as formas de plástico, bastante aplicadas em obras com lajes nervuradas e que apresentam leveza nos elementos e custo diminuto, mas em contrapartida revelam uma pequena resistência, pouca capacidade de carga requerendo reforços em aço e produtividade reduzida. Marcelo ressalta também a existência de sistemas que funcionam completos e permitem a montagem e o deslocamento rápido entre uma concretagem e outra. Um exemplo é a Mesa Deslizante, equipamento ideal para a execução de grandes lajes, principalmente protendida, em curtos espaços de tempo.“Se trata de uma forma de laje que se apoia nos pilares já concretados, onde o escoramento convencional é mínimo ou em alguns casos nem se faz

necessário qualquer escoramento adicional. As mesas podem ser movimentadas horizontalmente, puxando em cima de rolamentos, ou verticalmente, com auxílio de grua, e não precisam ser desmontadas para a movimentação, dando maior velocidade na execução da obra”, detalha. Outro sistema destacado por Milech é a Mesa Voadora, indicada para obras com ciclos rápidos de concretagem e com repetição frequente de geometria. Compostas por perfis de alumínio, cabeçais e escoras, esses elementos são ligados com parafusos, criando conjuntos rígidos, sendo movimentadas horizontalmente, com a ajuda do carro de içamento hidráulico manual, ou verticalmente, com grafo içado por grua ou guindaste. O engenheiro João Neves admite a importância dessa diversificação no processo evolutivo da construção civil em relação às formas e fala que, hoje em dia, há uma presença progressivamente maior nas obras dessa tecnologia. Pequenas e médias construtoras que nunca trabalharam com esse sistema e até investidores o procuram para viabilizar seus projetos. Mas Neves reforça: “Por mais que esse cenário tenha melhorado nos últimos tempos, o tema formas e escoramentos por vezes é tratado com descuido, e nem sempre há a valorização ou o reconhecimento por facilitar o processo de construção. Para mim, o maior desafio é sensibilizar constantemente o construtor da real importância desses sistemas”.

A utilização da tecnologia Mesa Deslizante na construção do Shopping Boulevar, na Bahia.

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TECNOLOGIA OPINIÃO

TECNOLOGIA NO TRANSPORTE VERTICAL Elka Porciúncula *

A Com o avanço da engenharia e a construção de torres cada vez mais altas, os elevadores são obrigados a ter maior capacidade de pessoas e serem mais eficientes.

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tendência mundial no setor da construção civil são empreendimentos com maior altura. Os edifícios de mais de seis pavimentos eram uma raridade até o século 19, quando o desenvolvimento de elevadores de passageiros juntamente com os avanços em materiais e técnicas de construção possibilitou a construção de empreendimentos mais altos. Naquela época seria impossível escalar o número de escadas necessário para chegar ao topo de algumas edificações, tornando os andares mais altos menos valorizados. A crescente população urbana deixa o embate para o automóvel e o elevador, com os carros fazendo o possível para as pessoas se espalharem horizontalmente, incentivando a expansão da ocupação para o subúrbio. Já os elevadores, incentivam um adensamento ocupacional com maior eficiência do uso do lote, e o uso misto (residencial e comercial) da edificação. Nessa discursão, chegamos ao nosso limite da engenharia e da sustentabilidade ambiental. Com o avanço da engenharia e a construção de torres cada vez mais altas, os elevadores são obrigados a ter maior capacidade de pessoas e serem mais eficientes. Algumas empresas já têm desenvolvido elevadores capazes de transportar até 80 pessoas de uma só vez e chegam a atingir a velocidade de 60 km/h (1.000 m por minuto). As solicitações do transporte vertical em construções com até mais de 600 m (Shangai Torre – 632 m de altura em construção na China) vêm exigindo o emprego de tecnologias inovadoras no transporte vertical e soluções para, dentre outros pontos, regenerar energia elétrica e reduzir o consumo de energia, frenagem, redução da vibração dos trilhos de guia e vento em ultra- alta velocidade, isolamento acústico, resistência ao calor, resistência à abrasão e impactos, estabilidade, segurança, controle da pressão do ar evitando alterações na pressão atmosférica, fazendo uso de tecnologias de redução dos efeitos adversos das variações bruscas como pressão e atenuação de vibrações e ruídos fornecem aos passageiros um deslocamento confortável. Para essa nova demanda de velocidade, a nova geração de elevadores serão capazes de subir desde o piso térreo até ao último andar de um edifício de até 95 andares em pouco menos de 60

segundos, mesmo considerando à necessidade de utilização de ciclos de aceleração e abrandamento (Guangzhou CTF Finance Center - 440 m de altura em construção na China). Outra solução que esta aparecendo no mercado da construção civil são os elevadores de dois andares com velocidade de deslocamento de mais de 10 m/s, vencendo alturas de até 660 m (Kingdom Tower em construção em Jeddah, na Arábia Saudita).Os elevadores de dois pisos demonstram tecnologia inovadora e sustentável, fornecendo transporte agradável, seguro e eficaz. Esses elevadores, cada um composto por duas cabines conectadas, se movem simultaneamente no mesmo eixo e podem atingir uma velocidade de até 36km/h. A solução economiza espaço, duplica a capacidade de transporte, reduz o tempo de espera dos passageiros e economiza energia. Com a alta velocidade desenvolvida e a variação de pressão brusca do deslocamento vertical por essas alternativas, o grande desafio será impedir que os passageiros de elevadores sintam dores ou incômodos. Os novos elevadores estão projetados pare atender à demanda de pessoas que irão circular pelo edifício equipados com sistemas de antecipação e distribuição de chamada e destino, sistemas regenerativos de energia que filtra a energia produzida pelo elevador em movimentação e a devolve à rede do próprio empreendimento para a utilização diversa, iluminação em LED (etc), sendo ecoeficientes. Por fim, vale lembrar que para longas distancias do carro teremos o skydrive, os elevadores de veículos que os levam até o pavimento do proprietário, atendendo assim a demanda do consumidor mais exigente.

*Elka Porciúncula é arquiteta, assessora técnica da Ademi PE e sócia-diretora da Paralelas Projetos




A falta de planejamento urbano combinada à omissão do poder público torna Recife símbolo de um problema que afeta as principais capitais brasileiras: o crescimento desordenado das metrópoles do Brasil. Não é à toa que a capital pernambucana tem o pior trânsito do País, segundo pesquisa divulgada recentemente pela empresa de tráfego TomTom. Os recorrentes problemas de urbanização acabaram direcionados para mais um empreendimento imobiliário. O projeto Novo Recife, no Cais José Estelita, região central da cidade, gerou um debate mais amplo sobre a relevância de uma legislação atualizada e a importância de ouvir os principais setores da sociedade antes de decidir os rumos do desenvolvimento urbano. Fato é que o País passa por um momento de transição, de carência pública e senso coletivo. A forma de construir e comercializar imóveis também mudou — e muito tem para mudar. O formato não está definido. No final das contas, o que se espera é que todos saiam ganhando, uma equação nem sempre fácil de solucionar. por Henrique Gonçalves e Inah de Moraes foto por Lorena Maniçoba


foto: direitos urbanos

Vista para os galpões do Cais José Estelita.

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ocalizado em uma parte estratégica, o Cais José Estelita é uma área com mais de 100 mil metros quadrados que abriga um pátio ferroviário, um trecho ativo da Transnordestina e uma série de armazéns de açúcar. Abandonada há anos pelo poder público, a área da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA) foi a leilão em 2008, quando acabou arrematada pelo Consórcio Novo Recife, formado pelas construtoras Moura Dubeux, Queiroz Galvão, Ara Empreendimentos e GL Empreendimentos. O grupo pagou R$ 55 milhões pelo terreno, o preço mínimo estipulado pela União, e pretende construir 12 torres no local, sendo sete residenciais, duas comerciais, dois flats e um hotel. O plano é que os edifícios tenham aproximadamente 40 andares, além de estacionamentos com cerca de 5.000 vagas. Tudo foi orçado em R$ 800 milhões, e o preço inicial dos apartamentos pode variar de R$ 400 mil a R$ 1 milhão. Em contrapartida, está previsto um investimento de R$ 63 milhões em benefícios públicos: parque, biblioteca, ciclovia,

Nós temos uma cidade que cresceu de forma desorganizada, devido a essa herança de um processo ocupacional que se deu de forma intensa e acelerada, e não estava preparada para isso. (thiago pereira).

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seis quadras poliesportivas, estacionamento, academia, novos acessos viários e ainda a restauração da matriz de São José e a recuperação de 12 galpões para a criação de um centro cultural, que serão doados para o município. (Veja as perspectivas e entenda melhor o projeto no final da reportagem). A ideia, no entanto, não agradou parte da sociedade recifense. Estudantes, professores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), arquitetos, militantes de movimentos sociais e moradores do bairro criaram o movimento Ocupe Estelita, no qual reivindicam participação nas discussões sobre o projeto e melhor aproveitamento do espaço. Por outro lado, um segmento da população considera o Novo Recife uma oportunidade para um reordenamento urbanístico e desenvolvimento econômico da cidade. “Recife inteira está passando por um processo de higienização, destruição do seu patrimônio histórico, natural e paisagístico. Isso vai entristecendo e revoltando a população”, diz a advogada Liana Cirne Lins, integrante do grupo Ocupe Estelita. Eduardo Moura, representante do Consórcio Novo Recife, acredita que o projeto proporcionará uma real integração entre o trecho do bairro de São José e a orla, além de levar uma série de benefícios com obras de uso público. “O mais importante é levar pessoas para residirem no Centro, onde existe carência de ofertas residenciais. Tudo isso irá refletir positivamente na dinâmica econômica do bairro de São José e seus arredores”.

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o Novo Recife tem problemas por não cumprir procedimentos básicos para um empreendimento desse porte: não há um estudo de impacto de vizinhança nem de impacto ambiental. Segundo o MPF, o grupo de construtoras não submeteu o projeto aos órgãos competentes, como o próprio Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O Consórcio nega os problemas apresentados pelo órgão na Justiça. “Todos os procedimentos foram cumpridos. O projeto foi submetido à análise de diversos órgãos: municipal, estadual e federal. Não existe qualquer ilegalidade na aprovação, o que pode ser comprovado nos resultados. Os estudos de impacto foram apresentados”, garante Eduardo Moura. Ele acrescenta que as consultas ao Dnit e à ANTT, como recomendado na aprovação pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) e solicitadas pela Superintendência Regional do Iphan, serão necessárias na ocasião da emissão dos Alvarás de Construção, procedimentos, ainda, em curso. (O estudo de impacto e as plantas detalhadas do projeto foram enviados à equipe da Revista e estão disponibilizados no portal construirnordeste.com.br.) A urbanista e presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Vitória Régia de Lima Andrade, defende que a situação chegou nesse ponto por omissão


da prefeitura e do governo do Estado. “A gente acredita que o imbróglio foi causado por falta de clareza e postura do poder público em não cumprir a legislação urbanística para a área. Havia a previsão de um plano urbanístico para a região, o que é fundamental para uma metrópole, um plano específico para aquela área, mas que nunca foi transformado em lei, apesar da aprovação dos projetos. Daí a origem dos problemas. A partir do momento em que a prefeitura não regulou nem deu condições urbanísticas, o Consórcio Novo Recife fez isso”.

Onde nasce o caos urbano Os problemas de desenvolvimento urbano não são recentes no Recife. A raiz do que hoje culmina em uma insatisfação popular vem, provavelmente, de um crescimento descontrolado que aconteceu na capital pernambucana entre 1920 e 1945. É o que mostra um estudo do Programa de Pós-graduação em História (PPGH) da Universidade Federal de Pernambuco, feito no ano passado. A pesquisa conclui que, já naquela época, a falta de planejamento urbano levou à “periferização” das habitações tidas como populares e, consequentemente, ao desordenamento da cidade. O autor do estudo, Thiago Pereira Francisco, procurou entender como os mocambos (casas populares que ocupavam a região central da capital naquela época) foram marginalizados. Ele descobriu que, no período analisado, Recife passava por um processo de modernização, e as tais residências representavam um problema estético para o governo. Com isso, os mais atingidos foram exatamente os pobres. “Nós temos uma cidade que cresceu de forma desorganizada, devido a essa herança de um processo ocupacional que se deu de forma intensa e acelerada, e não estava preparada para isso. As habitações populares refletiam a condição de vida da população. O governo não dava atenção a isso e, por não ter uma tradição de se preocupar com a urbanização com o planejamento da cidade, deixou um legado negativo

para o Recife. Ainda hoje, as moradias dos trabalhadores mais pobres são precárias, e ações de resolução para esses problemas são pouco priorizadas por parte do governo”, resume Thiago. E esses problemas se refletem até hoje no desenvolvimento urbano da capital pernambucana. Para se ter uma ideia, há aproximadamente 4 anos, arquitetos holandeses vêm colaborando com profissionais brasileiros para identificar os problemas locais e propor soluções urbanísticas. Quando desembarcaram por aqui, há 2 anos, os holandeses compararam a situação do Recife à crise urbana vivida por eles no pós-guerra, em 1945, quando cidades inteiras da Europa foram destruídas em função dos conflitos da Segunda Guerra Mundial. Naquela época, a Holanda chegou a tomar o caminho de ações imediatistas, mas mudou o rumo do desenvolvimento urbano após pressão popular. Isso porque a capital Amsterdã, que também foi construída sobre águas de rios, chegou a secar alguns canais com a intenção de transformar esses espaços em ruas para carros. O governo holandês só não conseguiu levar a proposta adiante por conta das críticas da sociedade, que já pedia a valorização do espaço público.

Na ocasião, os arquitetos holandeses ainda sugeriram quatro alternativas que deram certo na capital do país e que poderiam ser aplicadas no Recife. Não por coincidência, uma das sugestões foi justamente “planejamento com participação social”, centro da questão no Cais José Estelita. Os outros conselhos foram “nova relação com as águas”, “mobilidade baseada no transporte público e limpo” e “valorização do patrimônio histórico e cultural”. “As pessoas da cidade podem ser convidadas a planejá-la. Estudantes, filósofos, urbanistas, donas de casa, sem-tetos, empresários, gestores públicos e tantos outros atores sociais podem dar sua sugestão. Uma forma de fazer isso é disponibilizar uma maquete do bairro numa área pública, como uma igreja ou um shopping, e permitir que as pessoas interfiram indicando os elementos que elas gostariam de colocar, melhorar ou retirar. Isso está sendo feito em Amsterdã, onde a população está sendo convocada para pensar junto aos órgãos de planejamento. Foram promovidas 96 noites de debates para discutir a cidade em conjunto. Com esse formato, abre-se um canal diferente com a sociedade”, explicou Eric van der Kooij, então chefe do Departamento de Planejamento Físico de Amsterdã.

foto: direitos urbanos

Integrantes do Ocupe Estelita no início do movimento.

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Ideias e plano integrado Se há saídas para o impasse do Cais José Estelita, o que fazer, de fato, com uma área tão extensa no coração do Recife? Desde que o assunto ganhou repercussão, várias propostas foram debatidas tanto entre os próprios integrantes do movimento Ocupe Estelita como em encontros promovidos pela Universidade Federal de Pernambuco ou por órgãos do setor de arquitetura e urbanismo. Os envolvidos garantem que, apesar de não aprovarem o projeto Novo Recife, não defendem que o cais continue do jeito que está, abandonado e sem uso. A discussão em torno de um projeto que seja benéfico para toda a população do Recife fez um grupo de arquitetos criar um Tumblr (espécie de site temático em que os usuários podem publicar fotos, textos e vídeos relativos àquele assunto) para agrupar todas as propostas. Com o nome de Pense Recife, a página reúne projetos de arquitetura, como um que sugere transformar as dezenas de galpões existentes no cais em salas de recreação, lazer e cultura, além de complexos esportivos, salas de cinema, teatro, restaurante e áreas de exposição. “Sem radicalismo”,o grupo diz que ainda não sabe qual a melhor solução para o Cais José Estelita, mas que a proposta

Perspectiva do Grupo #penserecife.

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atual está longe da ideal.“O principal conceito desse projeto é mostrar que há várias soluções possíveis que conjuguem os interesses financeiros e imobiliários sem prejuízo aos interesses urbanos, e, para isso acontecer, é fundamental que as partes tenham o desejo de fazer dar certo. A conta do empreendedor precisa fechar, mas não necessariamente ele precisa sugar o máximo do potencial construtivo de um terreno para isso acontecer. É preciso também que ele consiga entender a importância das suas ações no cenário da cidade e a consequência daquele empreendimento para o seu entorno. Um plano diretor consciente, proposto pelo governo enquanto representante da população, deveria ser o grande articulador dessa relação público-privada, regendo o crescimento da cidade de forma ordenada, respeitando a escala da rua, a história do local e a paisagem urbana. Não há vilões nem heróis. A iniciativa privada é necessária, mas o interesse público tem de prevalecer”, conta Manoela Pires, membro da equipe. Os arquitetos propõem que sejam construídos edifícios residenciais e comerciais, além de um hotel e equipamentos públicos (Outras informações e entrevista com o grupo, no portal da Construir Nordeste). Mas, diferentemente do

conceito do Novo Recife, os prédios não seriam muito altos e ficaram suspensos para que a área sob os andares pudesse ser aproveitada pelos pedestres.“Edifícios residenciais e corporativos implantados de modo elevado, livrando o passeio para os pedestres, com comércio no térreo, promovendo uso misto. A volumetria cria um jogo de luz, sombras e visadas com um bloco de forte identidade estética”.

Interesse público x privado É possível conciliar os interesses públicos e privados para alcançar algo interessante para ambos? Na opinião da urbanista Raquel Rolnik,quando há um conflito como esse, é papel do Estado “garantir que a cidade não seja totalmente mercantilizada”. “Queremos discutir como vai ser nossa cidade, queremos que exista uma parte do território que não seja única e exclusivamente desenvolvida com base no critério do uso mais lucrativo, mais rentável. Há outros valores de uso que estão sendo colocados sobre a mesa, ou seja, a apropriação dos espaços públicos, o convívio, a produção artística e cultural, a habitação social, coisas que têm pouca importância econômica e que podem não ser totalmente mercantilizadas, mas que têm uma enorme relevância para a cidade. Então, a afirmação desses valores muda totalmente a forma como a política urbana deve e pode ser definida”, argumenta. Raquel alerta que deixar o desenvolvimento urbano ser decidido apenas pela iniciativa privada é um modelo “velho”.“O movimento Ocupe Estelita importante apenas para o Recife, é importante para o Brasil. A resistência e o questionamento sobre quem e como decide o que vai acontecer na cidade é um questionamento absolutamente necessário num contexto em que a política urbana há décadas é conduzida única e exclusivamente na direção do mercado imobiliário, com todo o poder que esse ator tem nos processos decisórios, dentro da estrutura do Estado e no controle sobre a informação nos meios de comunicação, e por aí vai. Esse é o novo no processo”.


Já o professor Ruskin Marinho de Freitas fala que apenas um projeto não vai resolver o problema da metrópole. Na questão da moradia popular e da integração de diferentes classes sociais em um mesmo espaço, ele sugere que o poder público incentive a ocupação de imóveis ociosos que já existem no centro histórico, poupando a construção de novos prédios e, consequentemente, de uma estrutura de água, esgoto e energia elétrica. “Tem todo um bairro [na região] com muitas construções abandonadas. É possível trazer incentivos para que mais pessoas morem no centro, incentivando reformas. Então, seria preciso de linhas de financiamento, de ajuda, como a diminuição do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). Ao lado desse terreno, há muitos imóveis nessas condições. Isso ajudaria a resolver o problema de mobilidade. Pelo lado da sustentabilidade, quanto menos eu construo, melhor”, afirma. A presidente do IAB de Pernambuco concorda que deve prevalecer o interesse da população, mas defende que, mesmo quando há reivindicações da sociedade em jogo, é possível envolver o mercado imobiliário de uma maneira rentável e sem que os valores coletivos sejam deixados para trás. “Se existe uma unanimidade, é o que deve ser feito com o Estelita. A questão é a prefeitura assumir o papel e fazer valer o interesse de todos. Esse projeto refeito vai ser um grande negócio. O empreendedor precisa se modernizar. O que está se discutindo é o coletivo. A gente quer mais, a gente quer a cidade”, opina Vitória Régia. Segundo ela, a discussão em torno de um novo projeto para o Cais José Estelita é uma oportunidade para as construtoras de Pernambuco darem o exemplo do que deve ser uma forma moderna de participar do desenvolvimento urbano de uma metrópole. É uma chance para o Recife dar exemplo para outros estados brasileiros que sofrem com o mesmo problema. “O empresário nordestino pode apresentar uma nova maneira de fazer negócio. A sociedade conclama o empreendedor de um Estado que está sempre na vanguarda a inovar no desenvolvimento urbanístico. É uma oportunidade para novos negócios antenados com o século 21”,conclui.

Carlos Leite: especialista em desenvolvimento urbano sustentável, é arquiteto e urbanista com mestrado e doutorado pela FAU/USP e pós-doutorado pela Universidade Politécnica da Califórnia. É professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie e professor visitante em diversas instituições internacionais. Também é diretor de Stuchi & Leite Projetos e Consultoria em Desenvolvimento Urbano e autor do livro Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes.

Qual é a importância do Poder Público e da sociedade para a regeneração urbana sustentável? São necessários serviços de governo mais inteligentes, ágeis, transparentes e eficientes, através de compartilhamento de informações. Mas cada vez mais se busca ir além dos governos e construir novas instâncias de governança junto à sociedade civil organizada. Na essência, uma cidade sustentável e inteligente pressupõe sempre cidadãos partícipes. É a chamada cidade para as pessoas — e não para os carros, não para os condomínios fechados e distantes. É preciso observar que a gestão local dos prefeitos nunca foi tão importante — e a crescente importância das cidades sustentáveis só vem corroborar a cobrança sobre maior competência e menor corrupção de nossos políticos, que devem, no ideal, ser grandes Gestores de Cidades, como em Bogotá, Barcelona, Copenhague e Nova York. Como o setor imobiliário pode estimular a promoção da sustentabilidade urbana, contribuindo com o desenvolvimento sustentável? Quanto ao mercado imobiliário, está evidente que o setor precisa aproveitar a oportunidade do boom atual e alavancar uma reinvenção de seus modelos de incorporação. A sociedade anseia pelo resgate de modelos imobiliários que construam cidades com urbanidade, menos estanques, com a desejável sociodiversidade territorial e menor setorização e deslocamentos, ou seja, núcleos urbanos compactos e multifuncionais. A relação entre o setor e o ambiente urbano é estreita. Ela é condicionada por elementos tão diversos quanto à legislação urbana, contexto econômico e segurança pública, por exemplo. Isso aponta a complexidade do caminho para alcançar a sustentabilidade urbana e de como o setor da construção deve agir para apoiá-lo. É preciso que, ao construírem o espaço urbano, os empreendedores tenham uma ampla visão da relação entre seus projetos e a cidade, as condições existentes para integrar aspectos de sustentabilidade em seus empreendimentos. Por que reinventar as áreas metropolitanas deterioradas?! E como? Ou seja, em princípio — e sem entrar no mérito dos projetos em curso no Recife —, pode-se colocar que a reinvenção de áreas centrais e/ou portuárias, atualmente subutilizadas, é bem-vinda e faz parte do modelo de desenvolvimento urbano sustentável atual: construir novas centralidades multifuncionais e com densidade qualificada, que propicie menos e menores deslocamentos e incorpore multimodalidade, é a tendência para reativarmos nossas cidades. O grande desafio sempre é fazê-lo de modo que o projeto urbano seja aderente aos princípios do Novo Urbanismo, à estratégia geral do Plano Diretor da Cidade, e não atenda apenas aos interesses mercedológicos dos incorporadores e propicie uma centralidade plural, qualificada para o conjunto da sociedade urbana. Particularmente, eu tenho levantado sempre a necessidade no Brasil de construirmos Agências de Desenvolvimento Urbano específicas para fazer a gestão desses territórios em transformação. O Porto Maravilha, no Rio, montou a sua de modo ainda incipiente, mas com grande potencial para se replicar nas grandes cidades brasileiras. Ou seja, é fundamental que tenhamos a construção da Inteligência Territorial.

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PARA BONS pensadores, ORTTON, 45 ANOS, MÚSICO E COMPOSITOR Acho que as possibilidades de espaços desativados dentro de centros urbanos de cidades como Recife têm que ter um significado mais humano. Habitar esses espaços com uma forma de arquitetura utilitária, e não meramente figurativa. O bacana seria um complexo habitacional (democrático) com uma infraestrutura voltada para educação, esporte e cultura — e que nesse lugar tivesse escola, supermercado, farmácia, padaria, teatro, praças e que as pessoas que trabalham no comarcão, nos centros, pudessem viver e dar vida própria ao lugar.

ROBERTO MONTEZUMA, 54 ANOS, PRESIDENTE DO CAU/PE Destacamos a idoneidade, a competência e a ética dos arquitetos envolvidos no projeto Novo Recife, cujo acordo segue parâmetros autorizados pelo poder público. No entanto, há de se ressaltar que esta é uma legislação vencida, que não está voltada para os padrões urbanísticos contemporâneos. O Cais José Estelita é uma área estratégica, bem situada entre o Centro e as Zonas Norte e Sul do Recife. O CAU/PE defende urgentemente o desenvolvimento de um planejamento urbano para a área. Este é um momento histórico, no qual temos uma enorme oportunidade para estabelecer um debate mais amplo, fértil e construtivo sobre o futuro de não apenas um bairro, mas do Recife como um todo, numa perspectiva a longo prazo. Precisamos de soluções além do modelo de urbanização exaurido que temos, que não atende às necessidades e os anseios da população e da cidade.

ANDRE CALLOU, 44 ANOS, PRESIDENTE DA ADEMI/PE Considerando que o projeto foi aprovado atendendo às legislações correspondentes, é complicado para o setor imobiliário ficar sujeito ao cancelamento ou a qualquer outra ação que prejudique o desenvolvimento do empreendimento. Isso gera insegurança jurídica para todo o segmento de construção imobiliária. O Novo Recife será um projeto que gerará muitos empregos e renda para Pernambuco, sendo, inclusive, aprovado pela maioria da população.

DUCA LAPENDA, 49 ANOS, CHEF DE COZINHA Sou a favor do projeto no Cais José Estelita e vislumbro o aproveitamento daquela área há muitos anos. Porém, os aspectos legais de ocupação do solo urbano devem ser respeitados. Gostaria muito de uma ocupação que contemplasse o desenvolvimento, sem prejudicar o bem comum. Acredito no respeito à propriedade privada e sou contra a ocupação de uma propriedade com dono legítimo . A discussão tem que ser em alto nível e sem violência. Quero um Recife melhor para todos!

PAULO CUNHA, 57 ANOS, PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO A questão do Cais José Estelita provocou no Recife o surgimento de um outro modelo de vida urbana. Para os construtores, torna-se crucial imaginar que os projetos que segregam os espaços e as circulações de pessoas serão cada vez menos tolerados. Ou seja: a indústria da construção civil vai ter de buscar outras formas de interferir no espaço urbano. O que já é comum nas cidades europeias se tornou um valor no Recife: a importância da mobilidade, do uso misto do espaço, com comércios, moradias (de diversos padrões), lazer e cultura, da garantia que a paisagem é um valor a ser tornado público, e não privado.

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ALGUMAS PALAVRAS

BASTAM.

RAÍSSA MACIEL GADELHA, 23 ANOS, ESTUDANTE DE DIREITO (UFPE) Infelizmente, muitas pessoas ainda pensam que construir um parque é sinônimo de resolver o impasse do Estelita. O que eu quero é a revitalização da área — e revitalização nos remete, ou deveria nos remeter, à vida. E não é com a mera construção de um espaço público ou de 12 torres + píer + ciclofaixa com movimentação aos domingos e feriados que vamos dar vida àquela área. Mas, sim, com comércio, lazer e serviços e, por que não, moradia também? Enfim, acho que todas as ideias, diante da imensidão e do potencial daquele terreno — e dirigida apenas para um setor da sociedade —, são restritas.

HÉLIO GURGEL, 65 ANOS, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENTIDADES DO MEIO AMBIENTE Recentes manifestações de participação da coletividade em projetos de interesse público vêm sendo percebidas, que devem se limitar ao que a lei assegura de direitos e deveres. Ao poder público, cabe a presença na execução obrigatória das atribuições que lhes são conferidas: ao Executivo, o desenvolvimento de projetos que se impõem a partir de procedimentos coordenados; ao Judiciário, garantia do cumprimento legal; e ao Legislativo, a proposição das normas que presidem o processo. Se em algum momento a legislação se torna anacrônica e a norma ultrapassada, carente de ajustes — estas podem e devem ser reformuladas, através dos meio competentes, ou seja, dos legítimos representantes do povo. E, no desenvolvimento dessas regras, é enriquecedora a contribuição popular democrática — trazendo novas ideias, interpretações, contribuições, para o que conta com a ação do Ministério Público, exatamente para assegurar a fiscalização do cumprimento legal. Dessa forma pode-se caminhar para resultados positivos — que sejam oportunos e pertinentes ou sobretudo amadurecidos — com foco rumo a um movimento de Ocupe Recife, uma nova atitude para fazer desta cidade cada vez mais um lugar melhor de se viver.

EDUARDO AMORIM, 36 ANOS, JORNALISTA, CORRESPONDENTE DO PORTAL TERRA E CRIADOR DO BLOG MÍDIA CAPOEIRA O movimento #OcupeEstelita tem uma importância enorme por ter alertado a sociedade, que está cobrando o cumprimento da legislação urbanística e a presença de órgãos como os ministérios públicos nessa discussão. Chegamos ao ponto, no Recife, em que não dá mais para continuarem surgindo projetos que prejudicam a mobilidade e diminuindo as chances de construção de habitação popular sem contrapartidas de porte semelhantes aos problemas criados pelos empreendimentos.

SERAPIÃO BISPO, 53 ANOS, COORDENADOR DO MOVIMENTO VIDA SUSTENTÁVEL O projeto Novo Recife traz, para uma área “morta” hoje na cidade, vida! E vida em toda abrangência da palavra, racionalizando uma infraestrutura existente não utilizada, agregando um grande desenvolvimento urbanístico para a região com o projeto de mitigação proposto. O MVS está atento para que as iniciativas tenham apelo para o que preconiza a construção sustentável.

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entenda o projeto novo recife

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O sistema viário da área no entorno do Forte das Cinco Pontas com a retirada do viaduto das Cinco Pontas e a construção, no local de um túnel e o prolongamento da av. Cais José Estelita. O Forte passaria a se integrar, novamente, À Bacia do Pina, pois deixaria de ter o viaduto como uma parede, separaNdo o Forte do Cais. Além disso, todo o entorno do Forte seria unido ao Parque que será construído pelo Novo Recife.

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Exemplo de um empresarial e um hotel que seriam construídos próximos a armazéns que serão preservados e reformados. Uma passarela será erguida na área para garantir o acesso da população que estiver nos edifícios ao calçadão na margem do Cais. Um píer poderá ser construído no local para a atracação de barcos. Serão construídas seis quadras poliesportivas equipadas com alambrados e iluminação na extensão inferior do Viaduto Capitão Temudo, que receberá também paisagismo e mobiliário urbano e um estacionamento, além de um parque de 90 mil metros quadrados. Novas avenidas serão construídas dentro do terreno do projeto. O sistema viário atual vai dar lugar a um parque na beira do cais. Os jardins dos prédios serão abertos e integrados ao Cais. Os edifícios não terão muros, permitindo integração total do empreendimento.

O #penserecife hoje é: Antonio Neto, Bruno Calazans, Fox Figueiredo, Isis Figueirôa, Manoela Pires, Melina Motta, Pedro Jessen, Raissa Mattoso, Renata Paraíso, Thiago Valença, Tibério Valença. Para saber mais sobre as ideias do grupo, acesse o portal da Construir Nordeste.

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PARA SABER MAIS...

A ESCALA HUMANA (THE HUMAN SCALE)

CIDADES SUSTENTÁVEIS, CIDADES INTELIGENTES

DINAMARCA/2012

CARLOS LEITE

ANDREAS DALSGAARD

EDITORA BOOKMAN, 2012

CIDADES PARA PESSOAS

PROJETOS DE EDIFICAÇÕES SUSTENTÁVEIS

JAN GEHL

MARIAN KEELER/BILL BURKE

EDITORA PERSPECTIVA, 2013

EDITORA BOOKMAN, 2010

UMA CIDADE PARA AS PESSOAS. PARECE MUITO ÓBVIO À PRIMEIRA VISTA. AINDA, SE QUISERMOS FAZER ISSO, TEREMOS DE FAZER ALGO MUITO DIFERENTE DO QUE TEMOS FEITO EM TODAS AS CIDADES, DE TODO O MUNDO, PARTICULARMENTE DURANTE OS ÚLTIMOS 80 ANOS. (ENRIQUE PENÃLOSA, EX-PREFEITO DE BOGOTÁ).

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INFORME TÉCNICO

A Isoeste Construtivos Isotérmicos está presente na obra do shopping RioMar Fortaleza, do Grupo JCPM, após participação de grande sucesso em outro empreendimento do grupo, o RioMar Recife. Na cobertura de todo o empreendimento e do cinema foi utilizada a Isotelha Trapezoidal, devido a sua grande capacidade de isolamento térmico. Em toda a extensão foi utilizada aproximadamente 20.000 metros do produto que, além destes locais, cobriu também, pontos de ônibus, passarelas e guaritas. Para um melhor isolamento térmico também do cinema, do Espaço Games e do teatro foram utilizados também

os painéis de fachada Wall PUR, com aproximadamente 17.000 metros de produto instalado. Além de proporcionarem, uma obra de montagem muito mais rápida, limpa, resistente ao fogo, e sustentável, a utilização dos construtivos isotérmicos possibilitou um melhor planejamento do sistema de climatização do empreendimento, pois possibilitará na ocasião de seu funcionamento grande economia de energia, já que a utilização dos painéis e telhas térmicas reduz a demanda de equipamentos de climatização.

O desempenho dos produtos Isoeste em termos de qualidade, eficiência, durabilidade e manutenção, garantiram a continuidade da parceria com o Grupo JCPM na construção do segundo shopping da rede RioMar. Segundo Francisco Bacelar, diretor da divisão imobiliária do Grupo JCPM, trabalhar com a Isoeste e com construtivos isotérmicos tem sido uma experiência muito produtiva. Prova disso é que entre a construção dos shoppings RioMar de Fortaleza e Recife, aumentou o uso e as aplicações dos materiais Isoeste.

“Entre as vantagens em trabalhar com o material fornecido pela Isoeste está a facilidade de adaptação às nossas demandas. Nos dois projetos do grupo, tanto RioMar Recife quanto RioMar Fortaleza, a empresa foi e tem sido capaz de nos atender de forma personalizada, adaptando-se à nossa demanda. Outro ponto que destaco é a pontualidade. É um fornecedor extremamente comprometido com o prazo. Algo importante


Francisco Bacelar Diretor da Divisão Imobiliária do Grupo JCPM

Sérgio Bandeira de Mattos Diretor de Desenvolvimento e Relações com o Mercado da Isoeste

quando se trata de uma obra com período de entrega definido”. - BacelarCom relação ao uso de construtivos isotérmicos nos empreendimentos JCPM, e na construção civil em geral, Bacelar destaca: “A vantagem desse tipo de material é por conta da praticidade envolvida. É um produto industrializado e que, além de ter a vantagem do prazo, não tem desperdício, outro fator que valorizamos na nossa obra”. Segundo o Diretor de Desenvolvimento e Relações com o Mercado da Isoeste, o engenheiro Sérgio Bandeira de Mattos, nos últimos dois anos a empresa aumentou sua participação no segmento de shoppings centers em torno de 25% a 30% pois os projetistas de ar condicionado, os calculistas, os arquitetos, os gerenciadores, os investidores e as construtoras já testaram e reconheceram as vantagens da utilização dos painéis Wall Pur nas edificações voltadas para este tipo de empreendimento. Estes benefícios começam na redução dos pesos das obras, beneficiando um alivio significativo nas cargas das fundações. Favorecem também os projetistas do ar condicionado, pois existe uma redução muito grande no calor penetrante das fachadas, chegando a reduções de 40% a

50% se considerarmos fachadas e coberturas. Estes dois resultados anteriormente citados junto com a alta produtividade de montagem e redução de atividades de obras (tijolo, reboco, massa fina, pintura e ou revestimentos nobres), demonstram claramente que os produtos Isoeste, beneficiam aos investidores, gerenciadores e construtores, reduzindo o custo final do empreendimento e o tempo de obra, fazendo que o retorno do capital investido chegue mais rápido para todos. “Estamos neste nicho de mercado há aproximadamente 06 anos e temos com certeza no nosso portfólio mais de 27 empreendimentos prontos em mais de 06 Estados do País”. - Bandeira Associado a tudo citado acima, as grandes dimensões dos painéis Wall Pur, a sua textura e cor, e a sua modulação possibilitam aos arquitetos criarem formas modernas com uma estética muito interessante. Os painéis e telhas Isoeste, garantem uma obra até seis vezes mais rápida que uma obra convencional, segura contra o fogo, sem desperdício de tempo e de materiais e um canteiro de obras limpo, resultando numa construção totalmente sustentável.

Empresa líder do segmento Ranking 2013 das 500 Grandes da Construção Revista O Empreiteiro


Mercado hoteleiro e shoppings em foco no ADIT Invest Durante dois dias, evento reuniu mais de 40 especialistas nacionais e internacionais dos setores imobiliário e turístico Por Patrick Selvatti

O

s riscos que o setor hoteleiro no Brasil vivencia por conta dos investimentos com pouco retorno pela Copa do Mundo e a crise dos shoppings centers foram alguns dos temas tratados com destaque na 9ª edição do ADIT Invest, que reuniu incorporadoras, construtoras e loteadoras. Há quase 10 anos, o encontro conecta o setor financeiro ao mercado imobiliário, contando também com a presença das principais redes hoteleiras, de fundos de investimentos, securitizadoras e bancos. Mais de 250 pessoas estiveram presentes nos 2 dias de evento no Centro de Eventos e Convenções Brasil 21, em Brasília. Com a superoferta de hotéis em algumas cidades em cima da expectativa do Mundial da Fifa, a projeção é de um ano mais complicado, em 2015, para o setor hoteleiro.“Capitais como Belo Horizonte, Cuiabá, Manaus e Brasília, por exemplo, aumentaram consideravelmente o número de leitos para o grande evento, sem ter o retorno esperado”, lembra Gilberto Martins, do grupo Neoturis, um dos painelistas convidados. Outro desafio que a hotelaria brasileira tem encontrado refere-se a grande oferta de pacotes para destinos internacionais com preços bem mais atrativos ao turista. Quem tem sofrido bastante com esta realidade é o ramo de resorts, em especial no Nordeste, que não consegue competir de igual para igual com os empreendimentos do Caribe. “A questão

do câmbio pesa bastante para que os preços deles sejam bem mais competitivos. Mas não dá para comparar com o Caribe. Por aqui, se for praticada a oferta de lá, vai faltar fôlego para fechar a conta no fim do mês”, lamenta Roberto Rocha, da GJP Hotéis e Resorts. “Infelizmente, existem poucas linhas de financiamento que propiciem desenvolvimentos de projetos que permitam aos hotéis uma promoção melhor dos serviços”, alega o executivo Guilherme Cesari, da franquia Marriot International & Ritz-Carlton. Segundo pesquisa da Mapie Especialistas Estratégicos em Serviços, os consumidores reclamam que os hotéis brasileiros poderiam ser melhores ou mais baratos são caros para o que oferecem e não têm personalidade inovadora. “Existem algumas alternativas viáveis para que o negócio sobreviva, como estruturar e consolidar seus recursos e suas capacidades internos. Importante também é manter o seu produto competitivo”, observa Carolina Sass de Haro, sócia-diretora da Mapie. Outro modelo em ascensão e que acende o sinal de alerta entre donos de hotéis é o AIRNB, que consiste no aluguel de apartamentos e casas próprias ocupadas para hospedagens. O sistema já funciona em 192 países como modelo de negócios, visto pela rede hoteleira tradicional como concorrência desleal. “É um modelo inadmissível, até porque não paga impostos. Mas nós

O evento que aconteceu em Brasília, trouxe como um dos pontos de discussão a crise dos shopping centers . foto: adit

entendemos que precisamos adaptar os nossos produtos para conseguir disputar esse mercado de igual para igual. Assim, o efeito da ameaça pode ser positivo”, avalia Gilberto Martins, da Neoturis | CBRE. Mas nem só de perspectivas negativas vive a hotelaria brasileira. Dados mostram que a demanda por hotéis cresce duas ou três vezes em relação ao PIB. O fenômeno se manifesta também nas companhias aéreas: de 2001 para cá, o crescimento é observado pelo aumento da demanda doméstica. A realidade desenha um novo cenário que vem sendo muito observado no momento, que é o do empreendimento multiúso. “O mix de hotel, mall e business center conectado ao aeroporto é uma tendência. Os problemas de trânsito também são facilitadores desse tipo de empreendimento, o que barateia o processo na medida em que eles podem ser feitos longe dos grandes centros”, define Gilberto Martins. Segundo o painelista Lucas Izoton, da Viverbem, ficou clara a confiança de que o segmento de hotelaria deverá crescer, mas frisou que o resultado da Copa do Mundo poderá ter tanto repercussões positivas quanto negativas.“Durante o evento, os visitantes vão se encantar com o Brasil e, no final, tudo vai dar certo”,observou. Felipe Cavalcante, Presidente da ADIT Brasil, considera que o mercado imobiliário está sempre se renovando e a entidade tem conseguido captar o seu curso, adaptando-se às novas realidades, inclusive nos segmentos turístico e hoteleiro. Para ele, o grande mérito da ADIT Brasil é se manter atualizada com o que está acontecendo no Brasil e no mundo. “Apesar de sermos uma entidade, nosso foco é aplicar e gerar business para o setor e, para isso, precisamos acompanhar as tendências e fazer ajustes para atender às necessidades dos nossos associados”.


ano IV | nº 22 | julho 2014

EQUILÍBRIO COM MEIO AMBIENTE

Arquitetura sustentável é fruto do conhecimento da realidade regional e do compromisso com conceitos de uma relação equilibrada com o meio ambiente

Entrevista O arquiteto César Barros fala sobre gestão participativa e urbanização consciente na construção de uma cidade mais saudável

Tendências Renato Leal coloca em pauta os desafios do setor da construção civil em um novo ambiente econômico e social

Resiliência Urbana O engenheiro civil Paulo Silva Sobrinho ressalta a eficiência e sustentabilidade da galvanização a fogo


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agenda Mvs - Agosto

8h30 - 8h50 Abertura | Palestrante Serapião Bispo 8h50 - 9h30 Projeto de segurança contra incêndio na norma de desempenho ABNT NBR 15.575 | Ricardo Lucena 9h30 - 9h50 Debate 9h50 - 10h30 Sistema de proteção contra incêndio | Rodrigo Machado Tavares 10h30 - 11h00 Debate 11h00 - 11h10 Encerramento | Renildo Guedes Sede do Sinduscon PE Rua Marques Amorim, 136 Boa Vista - Recife/PE

O Movimento Vida Sustentável (MVS) vem colocando o tema Sustentabilidade na Construção Civil na ordem do dia, entre empresários, profissionais, professores, estudantes e sociedade. Busca contribuir com a modernização do setor, divulgando os princípios da construção sustentável, com foco nas pesquisas; na divulgação de produtos e iniciativas eficientes; na multiplicação de conhecimento com a promoção de debates e capacitação, com ênfase na geração de energia, no reúso da água, nas drenagens e na gestão dos resíduos.

72 67 EU DIGO | Paulo Silva Sobrinho 68 TENDÊNCIAS | Renato Leal 72

CONSUMO CONSCIENTE

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ENTREVISTA | César Barros

74 CAPA | Sustentável além da certificação


eu digo

A GALVANIZAÇÃO A FOGO NA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL Paulo Silva Sobrinho*

E

ntre os processos de proteção contra corrosão de peças de aço e de ferro fundido, a Galvanização a Fogo é o mais eficiente e tem como base os fundamentos da sustentabilidade, ou seja, dentro do aspecto social a criação de um ambiente saudável e não tóxico, além de proporcionar a segurança às obras. Do ponto de vista ambiental, a proteção do meio natural, a minimização do consumo dos recursos naturais e a maximização da reutilização de recursos renováveis e recicláveis, e, no aspecto econômico, a redução dos custos de manutenção através da maior vida útil dos produtos. Para atender aos parâmetros econômicos de um desenvolvimento sustentável, o Custo do Ciclo de Vida (LCC – Life Cycle Cost) deve ser considerado, visto que a Galvanização a Fogo proporciona um desempenho livre de manutenções por 75 anos ou mais na maior parte dos ambientes, o seu Custo do Ciclo de Vida é quase sempre o mesmo que seu custo inicial. Dois métodos para medir sustentabilidade bastante conhecidos e aceitos são a combinação do Inventário do Ciclo de Vida (LCI – Life Cycle Inventory)/Avaliação do Ciclo de Vida (LCA -Life Cycle Assessment) e a Liderança em Energia e Design Ambiental do Conselho Americano de Construção Verde (LEED® - Leadership in Energy and Environmental Design). O LCI e a LCA trabalham em conjunto para quantificar fluxos de materiais, fluxos de energia e impactos ambientais de um determinado produto. No processo de Galvanização a Fogo, a peça é totalmente imersa no banho de zinco fundido entre 450 e 460 °C, que se liga metalurgicamente com o aço base, e toda a superfície da peça que permitir acesso será protegida, inibindo a corrosão. É um procedimento bastante utilizado e difundido na Europa e América do Norte, onde a galvanização é realizada em vergalhões para fabricação das armaduras metálicas de construções com concreto, perfis estruturais e de telhados, perfis de aço em substituição aos dormentes de madeira para ferrovias, estruturas de torres de eletrificação e comunicação, postes (de iluminação/sinalização), pórticos de rodovias, defensas metálicas, estruturas de aeroportos (terminais de passageiros, cargas, hangares de manutenção),

guarda-corpos, tubulações, eletrocalhas, fixadores (parafusos, porcas, arruelas, estojos), cordoalhas (inclusive para pontes estaiadas) e outros.

Vergalhão Galvanizado a Fogo: Por mais de 50 anos, os revestimentos de zinco obtidos através da Galvanização a Fogo têm sido usados ao redor do mundo para proteger os vergalhões da corrosão, de modo econômico e eficaz, a exemplo da Ilha de Bermudas.O concreto é um material constituído de pequenos poros e capilares, através dos quais os elementos corrosivos como água, íons cloreto, oxigênio, dióxido de carbono e outros gases se infiltram na matriz de concreto, eventualmente atingindo os vergalhões. Para cada mistura de concreto, em alguns níveis críticos de elementos corrosivos, o aço despassiva-se, e a corrosão se inicia. Uma linha de defesa importante é proteger o próprio vergalhão pela Galvanização a Fogo. Os revestimentos obtidos através de Galvanização a Fogo formam uma barreira constituída de camadas intermediárias de ferro-zinco e zinco metálico ao redor do aço, que isola a superfície do aço do concreto ao redor. Os vergalhões galvanizados oferecem muitas vantagens sobre os vergalhões convencionais sem proteção, incluindo: Os revestimentos de zinco proporcionam uma proteção de sacrifício ao aço, o que significa que, se ocorrer alguma imperfeição ou rachadura no revestimento expondo o aço, a corrosão se concentrará preferencialmente na camada de zinco circundante, proporcionando assim uma proteção eletroquímica ao aço exposto.

...a Galvanização a Fogo propor­ciona um desempenho livre de manutenções por 75 anos ou mais na maior parte dos ambientes.

Fontes: Instituto de Metais não Ferrosos (ICZ); International Zinc Association (IZA) e American Galvanizers Association (AGA).

*Eng° Paulo Silva Sobrinho, coordenador Técnico do Instituto de Metais Não Ferrosos (ICZ)

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TENDÊNCIAS

Os tempos que virão Renato Leal *

O O caminho será sempre consequência de ações integradas de marketing, produção — maior industrialização da atividade — e técnicas construtivas.

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ano que se aproxima de forma acelerada vai se apresentar, indubitavelmente, num novo ambiente econômico e social, que as empresas do nosso setor terão que considerar, qualquer que seja o candidato vitorioso nas eleições presidenciais. Entre muitos pontos a evidenciar neste novo momento do nosso país, arrolo abaixo uns poucos, mas de suma importância. São eles, a desaceleração da economia; uma troca da causa inflacionária, agora com uma presença do componente custos; perda de poder de compra da população; redução da capacidade de endividamento das famílias; aumento na taxa de juros... As consequências disso vão além: descontentamento social; instabilidade política, paralisações sistêmicas; boicote nas atividades relacionadas às funções públicas; fuga de capitais, uma mudança nos preço relativos da economia e algumas crises setoriais. O PIB vai se manter fraquinho, muito aquém das necessidades sociais do nosso país. Desemprego crescente deve ser previsto. As obras da Copa, em regime de contratação acelerada para entrega parcial, vão acabar. Estas últimas consequências serão diferentes dependendo do Presidente eleito, e da nova distribuição de forças do Congresso Nacional. Nesse campo, as expectativas e os humores dos empresários e investidores serão cruciais. E vou parar por aqui.Tudo ocorrerá em função do ajuste no câmbio, nos juros, nas tarifas e nos gastos. E o investimento vai minguar. Nesse cenário, o que o nosso setor deve fazer? Abaixo, algumas sugestões que me vieram à cabeça, mas que não esgotam as possibilidades. 1. Diferenciar os seus produtos — nos novos projetos e naqueles em que ainda são possíveis mexer — adicionando valor e difenciando-o no mercado. Paralelamente, aumentar os investimentos em marketing. Nessas condições de mercado, quem faz isso à frente dos seus concorrentes sabe que o efeito negativo será sempre menor. Quem sai à frente ganha mais ou perde menos. 2. Buscar novos nichos, o que pressupõe investimentos em inteligência de mercado — informações que permitam identificar, por exemplo, demanda futura e oferta prevista de produtos no mercado — e que levam algum tempo para maturar. Desses estudos, surgem oportunidades

específicas que podem ser a ponte para superar estes 2 ou 3 anos de um amornar do mercado. Exemplos: built to suit; apartamentos com serviços acoplados, de pequena dimensão e acabamento diferenciado; aplicação de conceitos de sustentabilidade. Parece-me que os segmentos de escritório e flats já deram a sua conta e vão andar devagarinho por uns anos. Nos setores ligados à construção pesada, haverá uma desaceleração pelo esgotamento dos recursos públicos e pela finalização das obras da Copa do Mundo. 3. Rever preços, desovando estoques com menor rentabilidade, sem deixar que as suas empresas entrem em ciclos de tesouraria negativa, que tanto impacto causa na sua gestão e no seu valor. É tempo de decisões rápidas e corajosas. 4. Adiar projetos, ganhando tempo para agregar valor a eles, sob a forma da diferenciação, já comentada acima, e mesmo de alteração na sua concepção arquitetônica, na tecnologia construtiva e nos materiais empregados. Uma capitalização, ou reestruturação de passivo, também será bem-vinda. Ou então readequar-se a outros mercados. É tempo de inovar nesses campos. 5. Há sempre a alternativa de se deslocar para áreas com maior desenvolvimento ou, pelo menos, com menores reduções de atividade. Há sempre muitos outros caminhos, e parte do nosso setor saberá indentificá-los. Mas tenho a sensação de que dificilmente fugirão a estes acima descritos. O caminho será sempre consequência de ações integradas de marketing, produção — maior industrialização da atividade — e técnicas construtivas. Os que passarem ao largo poderão vir a ter problemas no curto prazo e inviabilidade no longo prazo. É tempo de inovar.

* Renato Leal estrutura negócios, atuando no Brasil e em Portugal


entrevista

César Barros

POR UMA ARQUITETURA NÃO SOLICITADA por Pablo Braz foto Leo Caldas

ESPECIALISTA EM DESENVOLVIMENTO URBANO E EM GESTÃO DE PROJETOS, CÉSAR BARROS É UM DOS ARQUITETOS QUE ENXERGAM ALÉM DO TRAÇO. SENSÍVEL E COM UM OLHAR CRÍTICO, ELE DEFENDE UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA PROJETOS ARQUITETÔNICOS, MODELAGENS URBANAS, PLANOS DE MOBILIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA OS CENTROS URBANOS. EX-PRESIDENTE DA EMPRESA DE URBANIZAÇÃO DO RECIFE (URB), O ARQUITETO JÁ CONCEBEU PROGRAMAS COMO O “RECIFE SEM PALAFITAS” E CAPIBARIBE MELHOR, E RECENTEMENTE LANÇOU O LIVRO DIGITAL, RECIFE ENXERIDO, NO QUAL APRESENTA PROPOSTAS PARA TORNAR A CAPITAL PERNAMBUCANA MAIS INCLUSIVA. EM ENTREVISTA PARA CONSTRUIR NORDESTE, CÉSAR FALA SOBRE MOBILIDADE, GESTÃO PARTICIPATIVA, URBANIZAÇÃO CONSCIENTE E DESAFIOS PARA UMA METRÓPOLE MAIS SAUDÁVEL.


entrevista

Como surgiu a ideia de lançar o livro Recife enxerido? O livro surgiu a partir da discussão de ideias com amigos, profissionais, parentes e outros atores, ao longo dos últimos 10 anos, sobre temas como mobilidade, meio ambiente, patrimônio histórico, arborização de ruas, estratégias para ciclovias e parques e urbanização de favelas. Mais de 60% por cento da população mundial vive hoje nas cidades, com perspectivas de que esse número chegue aos oitenta, em pouco mais de trinta anos. Estamos caminhando para um mundo inteiramente urbano, que exigirá mudanças nos comportamentos de habitantes e gestores em relação às cidades, em um novo contexto tecnológico e social. A obra contribui, então, para proporcionar uma visão diferenciada sobre os problemas urbanos desse novo contexto, trazendo a cidade do Recife como exemplo. Ao mesmo tempo, pretende reverberar seu conteúdo com toda a sociedade, possibilitando a sua apropriação pelo cidadão comum, em busca de um pacto legítimo para construção de uma cidade com maior qualidade. O livro, inclusive, defende o movimento chamado de Arquitetura não Solicitada. O que seria o movimento Arquitetura não Solicitada? Esse movimento, que nasceu na Holanda, busca explorar um papel mais ativo dos arquitetos na sociedade, que devem ir além dos trabalhos encomendados. Esses profissionais se assumem como atores que querem discutir a cidade, e tem interesse pela mesma, pensando em temas específicos e estabelecendo propostas. Trata-se de uma arquitetura não passiva, com uma metodologia criativa ligada às novas tecnologias de modelagem, com autonomia profissional independente de requerimentos, projetando novas visões para administrar os desafios das cidades contemporâneas. Por sinal, o livro ia ser chamado anteriormente de Recife não Solicitado, baseado nesse movimento. É preciso ressaltar que a intervenção do arquiteto no território urbano tem que estar em harmonia com a natureza, com uma contribuição social, de maneira que o seu trabalho enriqueça o território. O que se observa muitas vezes são objetos

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arquitetônicos que não dialogam com a cidade, sendo apenas ícones isolados, gerando um espaço urbano sem poder de sedução e sem conforto para o cidadão. E parte da culpa reside na universidade. A geração anterior não foi preparada academicamente para pensar a cidade em toda a sua diversidade. A cidade é uma coisa que eles não dominam. Os estudantes de hoje, especialmente dos últimos 5 anos, é que estão começando a refletir de maneira mais ampla, considerando o entorno de onde vivem. Qual a grande contribuição do livro para qualquer metrópole brasileira que vive hoje os mesmos problemas estruturais, sociais, políticos? Essas propostas rompem a barreira geográfica? O livro está tratando do território da cidade como um todo, inclusive em um ambiente metropolitano de forma integrada. Assim é que se tem que pensar a cidade. O livro trabalha então com temáticas, e não com áreas isoladas, justamente para ter um caráter mais universal. Se fizéssemos uma intervenção na rua X, espaço Y, iríamos ficar limitados a dar proposta para aquela área. No momento em que se trabalha com temáticas, apresentando diretrizes e padrões, as possibilidades são mais amplas, aumentando a chance de serem replicadas. O livro trabalha sobre padrões de vias, formas de intervir na questão dos mananciais, a forma de encarar a questão do patrimônio cultural. Então se você pegar as diretrizes do Recife Enxerido, elas podem ser aplicadas em Petrolina (PE), São Paulo (SP), Souza (PB), por exemplo. Inclusive já existe muito material coletado sobre a cidade de São Paulo, e em breve a ideia é que seja lançado também o São Paulo Enxerido. As cidades, considerando as suas peculiaridades, passam por desafios que muitas vezes são compartilhados. E quais são os maiores desafios para tornar uma cidade mais saudável e sustentável? O que mais impede é a maneira de se perceber a cidade. Hoje, se alargam vias, estreitam calçadas e derrubam árvores, quando se poderia fazer o contrário. É apenas uma mudança de comportamento. Nesse contexto, existem condicionantes básicos

em um ambiente urbano: os mananciais, os cursos de água e os movimentos naturais de deslocamento. Uma cidade como Recife, por exemplo, é fruto de um rio serpenteando, e seu tecido urbano, de alguns canais que naturalmente juntavam água por questão topográfica, além dos caminhos de deslocamento dos engenhos para atividades mais importantes. Quando se reconhece esse território e trabalha para que ele seja o menos impactado possível, tudo muda. Se um rio existe há 200 anos, não adianta se retificar o rio e mudar o seu formato só por capricho. Deixá-lo no seu formato natural seria a forma mais correta. Passamos a vida retificando e envelopando canal, mas a água vai procurar sempre um lugar para escoar. Se eu aterro uma área aqui, irá alagar em outro canto. É preciso mudar a atitude, mantendo os mananciais, incrementando a arborização e construindo integralmente. Vamos pensar no ser humano e esquecer a máquina, o edifício, o objeto construído. É necessário mudar os pré-requisitos para se construir uma cidade, gerando produtos que a sociedade possa usufruir. E o mais importante é a participação da sociedade. Não há uma pre-disposição para o diálogo entre arquitetos, empreendedores, engenheiros, gestores e sociedade, para colocar a discussão de maneira coletiva. Há também um desencontro entre tempos técnicos, financeiros e políticos que precisa ser reorganizado. Como assim um desencontro entre tempos técnicos, financeiros e políticos? O que acontece é que se tem o projeto, tem a vontade política, mas não tem o dinheiro para executar. Em outra ocasião se tem vontade política, tem dinheiro, mas não tem o projeto. Ou então tem projeto, dinheiro, mas não tem vontade política. E nessa conjuntura a política é sempre um condicionante muito forte na execução das ações, tendo pouca relação com um plano maior de cidade. Não há o plano diretor da cidade, e sim o plano diretor do prefeito. E os prefeitos não têm culpa disso. Eu sou inclusive a favor de eleger dois atores: um prefeito e um gerente de cidades. O prefeito faria as articulações políticas, relacionando-se com outros gestores para discutir as questões metropolitanas.


O gerente de cidades teria metas e obrigações diárias com a cidade, como um síndico, resolvendo a parte operacional. Dessa forma, a cidade seria encarada na sua diversidade: política e técnica, com atuação também de economistas, antropólogos, jornalistas, cientistas, arqueólogos, além de arquitetos, urbanistas e engenheiros.

se debruça sobre uma cidade como São Paulo você percebe que passa 2 horas para deslocar em uma distância de menos de 20 km. A cidade não tem um desenho pensado integralmente. É muito simples resolver a cidade a partir do momento que você a encara sob uma gestão participativa.

Como você encara então os planos urbanísticos das metrópoles brasileiras? Os gestores geralmente encomendam planos urbanísticos diretores sem ter uma noção abrangente das cidades. O erro é imaginar que um político vai resolver o problema urbano. Aí vem os técnicos contratados, que fazem planos sem conversar com a população. Quando conversam, trazem diálogos ultrapassados. Muitos desses planos diretores se superpõem à lei do uso do solo, a de edificações, a de poluição visual, entre outras. O ideal seria esquecer tudo o que foi discutido de 5 anos para trás. As cidades eram diferentes, o mundo era diferente. Toda a discussão da cidade hoje está se voltando para a questão da mobilidade, do adensamento territorial, do abastecimento de agua, da limpeza urbana. Esses pontos foram sempre vistos de forma quantitativa. Deu errado. Temos que discutir em cima de outros parâmetros. Por exemplo, a arborização. Você poderia arborizar uma cidade toda em 2 anos. Por que não fazem? É simples. Você poderia ter a cidade toda “ciclável”, adaptada através de ciclovia. A sinalização vertical e horizontal está dentro do orçamento de todas as prefeituras, por menor que sejam. A sociedade precisa sair do life in box, da caixa que é sua casa para a caixa que é seu carro. Da caixa do carro para deixar seus filhos na escola. Depois outra caixa que é o shopping, o escritório. Aí, quando você sai dessas caixas e desce do seu prédio, você vê uma calçada esburacada, sem arborização, com água poluída correndo na sarjeta. Porque como a cidade não é sedutora nem confortável, você se tranca no seu carro que é a melhor opção, pois tem ar-condicionado, som ambiente e se protege da chuva. Então, quando você

Qual é a importância de uma gestão participativa nesse cenário? A gestão participativa tem uma importância enorme. É necessário convidar a população para fazer o diagnóstico juntos. O que custa então a população começar a fazer foto, opinar e depois reunir com as informações dos especialistas? Aí você pensa: a população não entende nada. Quem disse que não entende? Pode não entender tecnicamente, mas é a população quem vive no local. Quando se traz a população para discutir isso, está se construindo uma cidade em cima das diferenças. Para mim, a cidade inclusiva tem que ser resolvida em um único plano, tudo se relacionando. Sem viaduto, sem passarela. Mas nós tivemos uma cidade que foi planejada desde a década de 1920 até hoje para o carro. Então, alargamos vias, colocamos viadutos, ignoramos o pedestre e o colocamos para atravessar a passarela. Quando a cidade tem esse planejamento participativo de verdade, com envolvimento da sociedade, ela é legítima. Portanto, a relação de não pertencimento do povo é oriunda da sua não participação no processo de consolidação da sua cidade, além de se relacionar também com a falta de conhecimento, da história do lugar onde se está inserido. O cidadão mora ali há 10 anos, mas não sabe a historia que a rua dele tem e não conhece as ruas próximas de sua casa. A ideia é resgatar elementos históricos que um dia existiram, com escavação arqueológica, museu a céu aberto, colocar placas incrustadas no chão, contando um pouco daquele lugar. Falta essa sensação de pertencimento. As pessoas trabalham, estudam, cruzam a cidade, movimentam-se pelas calçadas, mas nem percebem a cidade, é como se estivessem todos no modo automático.

Não se pode negar que a mobilidade é uma das grandes questões que preocupam os governos, a população e os especialistas. Para você, qual é o grande nó quando se fala em mobilidade urbana? A mobilidade é oriunda de duas coisas: a falta de planejamento territorial e a incompetência na gestão do transporte e trânsito. A questão é democratizar as vias, trazendo acessibilidade para todos. Vias características para carro, bicicleta, moto, patins, pedestre, dando oportunidade do cidadão se deslocar da forma que lhe for conveniente. A gestão do transporte está equivocada, não há um gerenciamento inteligente e equilibrado. Por exemplo, os binários foram criados para gerar mais vagas paradas, com carros dormindo em plena luz do dia. Via não é para ter carro parado, via é para circular. Isso acaba transformando a cidade toda em um grande estacionamento. E, quando perguntam o que é transporte público de qualidade, o povo pensa: é ônibus com ar-condicionado e veloz. Transporte com qualidade é na verdade conforto e previsibilidade. Não se precisa andar velozmente. O ideal é esperar no máximo 10 minutos para pegar o ônibus e que todos os passageiros viajem sentados. Ou então saber a hora que o coletivo vai chegar. Isso é simples demais. Basta só o monitoramento dos ônibus com GPS. Porém, no contexto da mobilidade, existem também os modismos, como as ciclofaixas móveis que são colocadas aos domingos no Recife, que pouco significa em termos de política urbana. Outro modismo falho é o bike share, tecnologia a curto prazo, que por vezes é traiçoeira. Por exemplo, você chega em uma estação, a bicicleta está lá, mas o aplicativo diz que não tem bicicleta nenhuma. Ou então as vagas estão todas lotadas, e você não tem onde colocar a bike. Eu sugiro uma infraestrutura permanente e adequada ao ciclista, permitindo passeios públicos confortáveis e democráticos. E ainda tem aquele paradigma: não se anda de bicicleta porque não tem ciclovia ou não se tem ciclovia porque não tem ninguém andando de bicicleta? O certo é que infraestrutura gera demanda. Faça ciclovias, e as pessoas começarão a andar mais.

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CONSUMO CONSCIENTE

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01 PARA A CABECEIRA Na sua quarta edição, o livro Ecohouse continua sendo referência e fonte de inspiração para engenheiros, arquitetos e construtores, apresentando soluções para uma arquitetura mais sustentável. Com 15 capítulos e 488 páginas, o lançamento traz novidades em materiais e tecnologias de baixo impacto, além de incluir um capítulo sobre o uso da biomassa como fonte energética e estudos de caso. Da editora Bookman | grupoa.com.br I 0800 703 3444

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02 TRAMA HARMONIOSA A peça em formato de bola é do neozelandês David Trubridge, que recentemente foi escolhido como Designer Revelação na feira Ligth+Building, em Frankfurt, na Alemanha. A luminária é de bambu com possibilidade de escolha da cor e, devido ao seu design, cria um efeito de sombras e luz, transformando o ambiente em um espaço mais intimista. Com exclusividade para a Della’s. A loja, em João Pessoa (PB), tem o conceito de unir arte e iluminação, com palestras, oficinas e eventos culturais | facebook.com/dellasiluminao I 83 3244.4985

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Banco Apenunga feito de madeira pequiá e pés de acrílico. 390x70x45 cm.

A mesa de jantar Manauara da Tora Brasil, produzida em pequiá, sustentada por pés de aço corten, abusa do luxo na fusão de uma natureza quase bruta e um quê industrial. O design é de Cristiano Valle. Dimensões: 220x197x7 cm.

03 LINHAS ORGÂNICAS Criada em 2003, quando o agrônomo Cristiano do Valle foi viver na Amazônia e visualizou o potencial da natureza, a Tora Brasil é hoje uma das empresas líderes na produção de móveis de madeira maciça. A empresa, que tem certificação Forest Stewardship Council (FSC), destacada-se pela exclusividade e pelo compromisso com o desenvolvimento sustentável, que está presente em toda a cadeia de produção — desde a retirada da matéria-prima da Floresta Amazônica ­— até a fabricação dos produtos e os estudos para o meio ambiente. As peças ecofriendly são assinadas pelo próprio Cristiano. Na foto, ele e o sócio, Pedro Costa | torabrasil.com.br I 11 3819.8001

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04 PRESENÇA CONFIRMADA Unindo design e tecnologia, a torneira Touch Still, da Deca, garante economia de água através de um sensor luminoso. Seu acionamento se dá por meio de um leve toque, que após 8 segundos é interrompido por um temporizador ou por um segundo toque. O sensor luminoso tem baixo consumo de energia, contribuindo ainda para mais para atitudes sustentáveis | deca.com.br | 11 3088.2744

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05 NBR A Aubicon vem com uma proposta de atender à norma de desempenho NBR 15.575 e lança a Manta Acústica Sound Soft Laje Zero, feita a partir de grânulos de pneus usados descartados (borracha SBR). Com o produto, as obras estarão em conformidade com a nova norma sem a necessidade de um contrapiso, podendo se enquadrar a elas no nível mínimo sem alterar o projeto. Medidas: 0,5 m de largura e 10 m a 20m de comprimento, com espessuras de 2,3 mm e 5 mm | aubicon.com.br | 11 2348 5555

06 MAIS DO QUE VERDE Um telhado com cisterna para captação e reúso de água da chuva. A novidade é da Ecotelhado, empresa especializada em infraestrutura verde. A água pode ser tratada internamente por meio de um sistema biofílico e armazenada na cisterna. As vantagens não param por aí: a cobertura também pode ser integrada a placas fotovoltaicas para a capacitação de energia solar | ecotelhado.com I 51 3242.8215

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07 RAÍZES BRASILEIRAS Indicada para revestimentos de paredes internos e móveis, a placa de mosaico Manauara é produzida artesanalmente com baixo impacto ambiental. A matéria-prima da peça, uma criação da Colormix, tem sua origem na Floresta Amazônica e é coletada por famílias extrativistas de baixa renda que coletam o ouriço da Castanha do Pará, em um método socialmente justo e ecologicamente correto. | colormix.com.br I 11 3763.2410

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Sustentável além da certificação Em expansão no Brasil, o mercado de etiquetagem de construções e materiais sustentáveis tem ganhado cada vez mais espaço e importância no setor da construção. Mas será possível fazer uma arquitetura sustentável somente com selos e certificações como Procel Edifica, Leed, Aqua e Breeam? Essas ferramentas podem, de fato, auxiliar os profissionais, mas muitas vezes não passam de jogadas de marketing. Para os especialistas, a questão é clara: os selos e as certificações ainda não são 100% eficientes e não devem ser tomados como fator único e decisivo na projeção de uma obra sustentável. por Isabela Morais fotos por Elena Burn, Mateus Sá e Paulo Trigo


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onforme revela Paulo Trigo Ferreira, arquiteto especialista em meio ambiente e desenvolvimento sustentável, quando o projetista se apoia exclusivamente sobre as novas tecnologias, esquece-se da essência da arquitetura sustentável. “As inovações muitas vezes vêm para compensar um mau plano arquitetônico”, comenta. Para Paulo, é obrigação do arquiteto estudar detalhadamente a área de intervenção. Fatores como clima, insolação, vento, topografia, cultura e técnicas construtivas disponíveis pela mão de obra local devem nortear o projeto. “A ideia de uma arquitetura internacional, de um estilo predominante, é extremamente questionável, pois não considera este fator primordial da arquitetura: de que cada caso é um caso e deve ser tratado com a devida exclusividade”, garante o arquiteto. Carla Matheus, arquiteta e urbanista da Intentio 8 Arquitetura Sustentável, complementa: “O que difere de um projeto convencional é que o ambiente guia o conceito, e não vice-versa”. Um dos primeiros pontos que deve receber atenção durante a formulação de um esboço é a questão da insolação, destaca Paulo. “Onde instalar a janela? Os motivos para colocá-la em determinado lugar devem ser orientados por questões funcionais, não estéticas”, afirma. Quando a estética se sobrepõe à funcionalidade, é preciso apelar para alternativas que consomem muita energia, como, por exemplo, a utilização de ar-condicionado. Carla também lembra: “O desenho deve ser feito de forma a utilizar métodos passivos tanto para iluminação como para resfriamento e aquecimento dos ambientes”. “Ao importarmos da Europa e dos demais países desenvolvidos a estética dos edifícios envidraçados, estamos criando um grande problema de conforto ambiental no Brasil. Então, como medida paliativa, são especificados vidros especiais (Low-E) e sistemas de condicionamento de ar mais eficientes para compensar esse efeito de ganho térmico, quando, na verdade, a solução deveria vir um passo antes: considerar

os materiais adequados ao clima”, avalia o arquiteto. Essas ferramentas, ao serem vendidas como sustentáveis, criam um grande erro de conceito. Os brises, que tiveram seu uso no auge na década de 1960, são propostas arquitetônicas sustentáveis muito interessantes para a circulação de ar e iluminação natural dos ambientes, indica o arquiteto. Para o sistema hidráulico, o mais indicado é um sistema de captação da água da chuva, para reúso no vaso sanitário e para serviços de limpeza geral. “Atualmente, colocar uma cisterna que armazene a água do telhado é uma medida muito mais barata que antigamente”, avalia. Já Carla lembra que é possível incluir inúmeros dispositivos economizadores de água, como torneiras e duchas com arejadores e descargas com duplo acionamento, que hoje são facilmente encontrados no mercado. Além da sustentabilidade do próprio edifício, o projeto também deve prever um processo de construção que respeite o meio ambiente. E, para isso, é essencial o conhecimento da realidade local. “Cada planta tem que ser feita tendo como principio básico a sua localização”, comenta a arquiteta. Paulo destaca a importância de conhecer a procedência dos insumos e sua durabilidade. “Além de se certificar de que a madeira é de reflorestamento, por exemplo, o arquiteto precisa estar atento à durabilidade do material. Se ele dura mais, é mais sustentável. É muito comum se focar apenas na procedência e esquecer que a durabilidade também é uma concepção muito importante”, destaca. Para se economizar matéria-prima, Carla aconselha o reaproveitamento de sobras de demolição na construção. “Outra solução que tem sido cada vez mais utilizada é o tijolo modular solo-cimento. É um tijolo sem queima, até por isso é chamado de tijolo ecológico. Além disso, ele tem buracos por onde passam os tubos de hidráulica e os conduítes para elétrica, evitando assim a quebra das paredes e o acumulo de entulho”, orienta. A decisão de escolha do produto e do método construtivo é

Ao importarmos da Europa e dos demais países desenvolvidos a estética dos edifícios envidraçados, estamos criando um grande problema de conforto ambiental no Brasil, paulo trigo.

fundamental para uma obra sustentável, racional e economicamente viável. “Através de um bom projeto e uma boa execução, um edifício pode utilizar muito menos recursos naturais durante sua construção e durante o seu uso ao comprar e utilizar o material de forma consciente.” O transporte dos insumos até o canteiro de obras também deve ser previsto. De acordo com os arquitetos, prezar por tecnologias locais diminui o custo energético e financeiro da obra. Paulo afirma: “Se limitar a uma distância de até 300 km faz com que o transporte ainda valha a pena”. E arremata: “Acredito que a arquitetura sustentável esteja muito mais ligada aos saberes tradicionais abandonados pelos arquitetos contemporâneos do que pelo uso excessivo de alta tecnologia em edifícios”.

O arquiteto Paulo Trigo, especialista em meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

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Os brises de madeira nos cômodos permitem a circulação do ar e a entrada da luminosidade natural.

Suspensa a seis metros do solo, essa passarela conecta os quartos e salas de estar e jantar ao banheiro do segundo pavimento.

No Recife, a residência do arquiteto Bruno Lima ocupa um lote remanescente de um parcelamento de um engenho, em pleno centro da cidade. A planta, assinada por seu escritório O Norte, foi planejada de modo a manter a sensação de se estar em uma mata — e, de tão bem executado, o local até parece mais uma casa na árvore. A opção pela intervenção mínima na vegetação fez com que as árvores originais do terreno — uma fruta-pão, um jamelão e um abacateiro — fossem preservadas integralmente. Por se localizar em uma região central e valorizada da cidade, o método construtivo foi determinado pela possibilidade de transformação futura do

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terreno em empreendimento imobiliário. Chico Rocha, um dos sócios do escritório O Norte, ao lado de Bruno e de Lula Marcondes, conta que o sistema composto de peças pré-fabricadas descarta a demolição e torna possível a desmontagem e remontagem da residência em outro local. “A moradia é, antes de tudo, um modelo de habitação para a cidade, pensada com o objetivo de ser replicada tanto em bairros mais periféricos quanto centrais”, diz. A planta apresenta duas salas, três banheiros, cozinha, área de serviço e três quartos, organizados em três corpos diferentes. O primeiro é feito em alvenaria e concreto e agrupa as áreas

molhadas, como banheiros, cozinha e área de serviço. O segundo, suspenso e em estruturas pré-moldadas de madeira de alta durabilidade, abriga as áreas “fechadas” da construção: quartos e salas de estar e jantar. A terceira e última parte abriga o banheiro do segundo pavimento e a caixa-d’água superior. Sua estrutura é feita em concreto, e o fechamento foi executado com placas recicladas. Esse corpo se conecta ao segundo, de madeira, através de uma passarela suspensa a seis metros do solo, no nível da copa das árvores. A articulação entre o térreo e o primeiro pavimento é realizada pelo único elemento fechado do projeto, o hall de acesso e a escada. Essa “caixa” de madeira utiliza um sistema construtivo de tramas horizontais e verticais, comum tanto em construções mais rudimentares de taipa quanto em empreendimentos metálicos em steel frame. No sistema hidráulico, adotou-se a captação de água pluvial. “A água da chuva é recolhida por uma cisterna e canalizada para um reservatório que a distribui para o uso como água sanitária e de limpeza externa”, explica o arquiteto. Nos quartos do pavimento superior, o tradicional madeirite utilizado para a vedação foi substituído por placas feitas a partir de uma tecnologia reciclada de embalagens de pasta de dente cobertas por massa. “Trata-se de um material resistente, de fácil manuseabilidade, que se presta muito bem para a divisão dos espaços. O sistema é leve, o que faz com que a estrutura não fique sobrecarregada. O material reciclado é mais econômico e traz em si uma lógica que não a do descarte”, avalia. Além disso, a residência é “porosa”. Para poupar energia, foram utilizadas alternativas que permitem a circulação do ar e a entrada da luminosidade natural, como cobogós e brises de madeira. Para melhorar ainda mais a passagem do ar, o desenho faz com que as paredes sejam defasadas. Para Chico, as alternativas empregadas para a captação da água, a vedação e o próprio sistema construtivo desmontável “são as grandes virtudes da casa”. Mas, além da edificação em si, o projeto também previu soluções sustentáveis


para todo o processo de execução da obra. Nenhum elemento precisou ser fabricado sob encomenda especial, e toda a casa foi construída com materiais locais. “O tamanho das peças foi pensado de modo a não requerer grandes formas de deslocamento”, acrescenta o arquiteto. Isso possibilitou a economia de energia com transporte durante todo o processo. Ademais, a própria natureza do material impossibilitou a geração de resíduos. A construção da residência durou cerca de 3 meses. Nas mesmas proporções, um edifício em alvenaria tradicional levaria 8 meses. Fundado pelos amigos Bruno, Chico e Lula, em 1998, o escritório O Norte vai além da arquitetura. Unindo artes visuais, design, urbanismo e cultura, O Norte abre suas dependências para grupos e instituições, como a Associação do Povo Xukuru do Ororubá, o Maracatu de Baque Solto Leão Africano, a Associação Capoeira Angola Navio Negreiro, entre outros. Com perfil inovador, o escritório cresceu rápido e, em 16 anos, já alcançou grandes feitos. Em 2004, foi consultor para a criação da sede da ONG Habitat For Humanity, no Recife, por meio de um projeto de microcrédito para famílias de baixa renda. No mesmo ano, ganhou o Prêmio Jovens Arquitetos pelo IAB-São Paulo e Museu da Casa Brasileira. Dois anos depois, foi selecionado para participar da V Bienal de Arquitetura Ibérica-Americana, no Uruguai. Em 2010, foi escolhido pela Revista AU – Arquitetura e Urbanismo como um dos 25 escritórios de arquitetura mais promissores do Brasil para os próximos 25 anos, sendo o único representante das regiões Norte e Nordeste.

A casa utililiza telhas termocústicas. O primeiro corpo, feito de alvenaria e concreto, agrupa banheiros, cozinha e área de serviço. O segundo é suspenso em estruturas pré-moldadas de madeira.

SERVIÇO Bruno Lima, Chico Rocha e Lula Marcondes O Norte - Oficina de Criação onorte.arq.br Carla Matheus Intentio 8 Arquitetura Sustentável i8bioarquitetura.eco.br Paulo Trigo TETO Arquitetura Sustentável teto2r.com

Acreditando em uma arquitetura mais criativa e sustentável, os amigos Bruno, Chico e Lula fundaram O Norte, escolhido como um dos 25 escritórios de arquitetura mais promissores do país.

Para mais fotos e informações sobre o projeto do escritório O Norte, acesse construirnordeste.com.br

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PÚBLICO ESPECIALIZADO É DESTAQUE NA TECOBI 2014 Durante três dias, a feira reuniu cerca de 3.200 profissionais altamente qualificados e com a mesma proposta: gerar negócios.

A

segunda edição da TeCobI Expo — único evento 100% focado no mercado de telhados, coberturas e impermeabilização — mais uma vez se destacou pela qualificação do público, perfil observado pela empresas expositoras. Durante 3 dias do evento, a TeCobI Expo recebeu profissionais de alto nível de especialização, entre visitantes e congressistas, que puderam conhecer as principais novidades dos fabricantes, como novas tecnologias para sistemas de telhado verde, soluções para coberturas que priorizem a iluminação natural, coberturas e engradamentos metálicos, telhado branco, telhados em cerâmica, sistemas de impermeabilização, entre outros. A principal característica da TeCobI, que é colocar frente a frente quem vende e quem compra, foi destaque nesta edição, especialmente pelas empresas que participaram pela primeira vez no evento.“Nos surpreendemos com a clareza dos clientes que vieram. Sabiam o que queriam”,diz André Carvalho, gerente de desenvolvimento de negócios da Polysistem. A Barrobello, uma das maiores fabricantes de telhas em cerâmica do Brasil, foi outra estreante nesta edição da TeCobI Expo. “Foi fundamental para as nossas estratégias de cada vez mais difundir a marca pelo Brasil. Com os negócios que fizemos, cobrimos

Programa de conferências O evento também contou com a TeCobI Summit, programa de conferências realizado em paralelo à exposição, com workshops e seminários, que recebeu alguns dos maiores experts do mercado de telhado, coberturas e impermeabilização. Na ocasião, os participantes puderam promover networking e trocar experiências sobre os assuntos referentes às suas áreas de atuação. Um dos principais destaques desta edição foi a primeira edição do Fórum Latino-Americano de Infraestrutura Verde Urbana, iniciativa da Associação Tecnologia Verde Brasil (ATVerdeBrasil). O tema que norteou os debates foi Telhados Verdes: A Revolução Sustentável das Cidades Começa por Eles. O fórum contou com a participação de autoridades, professores, arquitetos, diretores de grandes empresas e entidades do Brasil e da América Latina. Outros destaques da TeCobI Summit foram os seminários, painéis e as palestras, como Os Caminhos e As Possibilidades de Especificação de Soluções em Alumínio para Coberturas, Novas Tecnologias para Coberturas com Geometrias Complexas e ainda outros temas com foco em impermeabilização.

todo o nosso investimento”,afirma Leandro Stabili, gerente de vendas da companhia. A Kofar, empresa que atua no segmento de construção civil, especialmente na fabricação de coberturas metálicas, lajes metálicas e perfis de aço, também marcou presença. De acordo com Vanderlei Dias, gerente comercial da empresa, a participação na próxima edição é garantida.“A maioria absoluta das pessoas que estiveram em nosso estande sabiam o que queriam. O público da feira é bem direcionado”,conta. Na prática A segunda edição da TeCobI Expo, pensando no aprimoramento da mão de obra para o desenvolvimento da construção civil no Brasil, realizou um extenso programa de treinamentos certificados para profissionais do ramo da carpintaria, organizado pela Eternit, empresa líder no segmento de coberturas e uma das expositoras desta edição. O programa, que fez parte da TeCobI Summit, teve como foco o desenvolvimento de técnicas de carpintaria metálica e telhadista. Os participantes tiveram a oportunidade de conferir, em aulas teóricas e práticas, como executar cálculos, medidas, recortes e instalar as estruturas metálicas, bem como as telhas, de forma segura e prática durante a execução do projeto.

A partir da próxima edição, prevista para junho de 2015, o evento passa a chamar-se Roofing Expo Brazil.

foto: clarion

Próxima edição Como estratégia para ampliar o seu alcance internacional, a Clarion-Quartier — empresa responsável pela organização da TecoBI Expo — já anunciou que, a partir de 2015, o evento passará a se chamar Roofing Expo Brazil. “O objetivo é atrair mais empresas e visitantes internacionais e aumentar a gama de equipamentos e tecnologias inovadoras”, explica Fernando Merida, diretor da feira. Ele acrescenta que o evento não fugirá às suas principais características, que é de ser o único evento 100% focado neste segmento.


SOCIAL

CASA DA CRIANÇA BENEFICIA MAIS UM PROJETO NO CEARÁ Desta vez, Projeto firma parceria e entra na luta para combater a cegueira

O

Centro de Aperfeiçoamento Visual Ver Esperança Renascer (Caviver), comandado pela médica Islane Verçosa, no Ceará, foi selecionado pelo Projeto Casa da Criança pela relevância do trabalho voluntário desenvolvido desde 1991, ajudando milhares de jovens durante todo o período. A parceria vai resultar na construção de uma nova sede para a Organização Não Governamental, gerando espaços bem planejados — desde ambientes para atendimentos ambulatoriais e cirúrgicos até recreação, permitindo um acolhimento mais organizado e humanizado. O objetivo do Caviver é o diagnóstico prematuro, tratamento e a reabilitação de crianças socialmente desfavorecidas no Ceará, evitando o alastramento da cegueira, além de contribuir para a redução da pobreza. O trabalho da ONG é realizado com a colaboração da Organização Mundial de Saúde, da Agência Internacional de Prevenção da Cegueira, do Instituto de Visão e

Desenvolvimento e da ONG alemã Cristoffel Blindness Mission. Em Fortaleza, o Projeto Casa da Criança acontece através da Franquia Social do Ceará formada por: André Verçosa, Augusto Souza, Isabel Figueiredo, João Mendonça e Paulo Pepino. O envolvimento dessa mobilização já conta com mais de 70 profissionais das áreas de arquitetura, ambientação e design, além de 40 empresas locais, com a doação de produtos necessários para a construção e ambientação. Todas essas ações são somadas ao apoio de grandes empresas socialmente responsáveis que cedem materiais a todas as iniciativas do Casa da Criança no Brasil. São as Patrocinadoras Nacionais, como a Araforros, Amanco, Cerâmica Eliane, Esmaltec, Celite, Fabrimar, Florense, Siemens e Sicmol. Há ainda a significativa ajuda das lojas Pizza Hut do Ceará e da Paraíba, nas quais os clientes podem participar doando R$ 1,00 ao Casa da Criança — e

a Pizza Hut ainda adiciona 20%, a cada colaboração. A empresa é Parceira Máster por investir nas ações desenvolvidas pelo Projeto, doando recursos financeiros necessários ao gerenciamento do trabalho e à aplicabilidade de novas tecnologias sociais em todo o País, como o Q’Alegria e Programa Cia dos Anjos.

O Projeto O Casa da Criança é uma organização com reconhecimento Federal, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), que defende os direitos das crianças e dos adolescentes em território nacional através de ações que vão desde reformas e construções a ações de interesse nacional que primam pela qualidade do atendimento. Também trabalha para a influência nas políticas públicas, cobrando junto aos governos suas responsabilidades para com a infância e na melhoria do atendimento ao câncer infantil.

Perspectiva da fachada do Caviver, que terá uma área de 425,40m2. A unidade deve atender 150 jovens de 0 a 15 anos por mês.

foto: casa da criança


O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A REDUÇÃO DO RISCO DE DESASTRES texto e fotos por Luiz Priori Jr.

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o mês de maio, realizou-se, na cidade de Guayaquil, Equador, a Plataforma Regional para a Redução do Risco de Desastres das Américas (PR-14). O evento foi coordenado pela The United Nations Office for Disaster Risk Reduction (UNISDR) com o objetivo de reunir os principais especialistas sobre o tema, nas Américas e no Caribe, e unir esforços no âmbito internacional, nacional e regional, através da troca de informações e experiências, fomentando, assim, o conhecimento sobre um assunto crucial para o desenvolvimento sustentável. Para que se tenha uma ideia da relevância do tema para o Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40,9% dos municípios brasileiros sofreram, pelo menos, um desastre “natural” entre os anos de 2008 e 2012. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), o Brasil ocupa o terceiro lugar no mundo em número de mortes por desastres “naturais”, o que evidencia uma grande fragilidade nos mecanismos de gestão de riscos de desastres no País e o descaso na preservação do meio ambiente e no desenvolvimento sustentável.

Vistas da cidade de Guayaquil, Equador.

Vale salientar que o conceito de desastres naturais deriva da concepção de que essas catástrofes resultariam unicamente de eventos climáticos extremos. Entretanto, hoje se tem a consciência de que o grau de risco desses eventos é, na maioria das vezes, ampliado (exponencialmente) pela ação do homem sobre o meio ambiente. Forjados na concepção de desastres naturais esses eventos são, na verdade, muitas vezes, catástrofes construídas. Dados do United Nations Development Programme (UNDP), apontam que, nos últimos 20 anos, foram devastadores os impactos dos desastres sobre a humanidade, afetando 4,4 bilhões de pessoas, com 1,3 milhões de mortes e uma perda econômica de dois trilhões de dólares. O impacto não registrado nas famílias de baixa renda e nas empresas informais pode aumentar essas perdas totais em 50%, elevando esse montante para três trilhões de dólares, pondo em risco o desenvolvimento sustentável em todos os seus aspectos: social, econômico e ambiental. No aspecto social, os desastres expõem as desigualdades e mantêm os pobres

mais pobres. Em termos comparativos, os países em desenvolvimento, embora apresentem apenas 33% dos desastres, contabilizam 81% das mortes. A escolha do Equador como anfitrião da PR-14 não foi aleatória, uma vez que esse pequeno País da América do Sul apresenta características ambientais e geográficas marcantes. Situado entre a Floresta Amazônica e o oceano Pacífico, o Equador é cortado pela cordilheira dos Andes, o que possibilita, num percurso de apenas 200 km (distância menor que a do Recife a Maceió), atingir-se uma altitude de 3.500 metros acima do nível do mar. Além disso, foi nas ilhas equatorianas de Galápagos que o cientista inglês Charles Darwin inspirou-se para formular a sua famosa teoria da seleção natural que explica a evolução das espécies. Para um país tão pequeno e sujeito aos mais diversos tipos de desastres naturais, terremotos, erupções vulcânicas, enchentes, tsunamis, deslizamentos de terra, entre outros, a saída está sendo formular políticas públicas relacionadas à redução do risco de desastres. Uma das mais interessantes


é a incorporação de critérios técnicos para a redução de risco de desastres ao ciclo de vida dos projetos de infraestrutura urbana, que inclui as etapas de projeto, construção, operação e manutenção, de modo a reduzir a vulnerabilidade física. No caso do Brasil, segundo o Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic 2013), lançado recentemente pelo IBGE, os três tipos de desastres mais frequentes nas cidades são as inundações bruscas (como as que devastaram o litoral sul de Pernambuco e o norte de Alagoas em 2010), seguido das enchentes graduais, como as que assolam o Recife e outras cidades devido a fortes precipitações pluviométricas localizadas, e os deslizamentos de encostas — exemplo do que ocorre na região serrana do Rio de janeiro —, sendo esses os desastres que causam mais mortes por soterramento. A urbanização acelerada é uma tendência importante na ocupação humana. Esse processo de urbanização rápida e não planejada, segundo relatório de 2012 do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), tende a agravar a vulnerabilidade a desastres. As altas concentrações populacionais nas cidades aumentam a vulnerabilidade urbana pela exposição de um maior número de pessoas aos riscos de desastres, aliada ao fraco desenvolvimento da infraestrutura urbana. O efeito das alterações climáticas pode aumentar a vulnerabilidade das populações urbanas até provocar uma série de catástrofes naturais. Nas cidades brasileiras, os fenômenos hidrológicos extremos, como o aumento das chuvas fortes, geram duas situações de risco graves: enchentes e deslizamentos de terra. Os impactos desses fenômenos nos sistemas de infraestrutura urbana podem deixar seus habitantes vulneráveis a uma série de desastres, que convergem para três eixos: danos aos assentamentos urbanos, falhas nos sistemas de saneamento e fornecimento de eletricidade e na mobilidade urbana.

Vistas do Serro Santa Ana (Guayaquil).


Conforme a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco (Condepe/Fidem), a cidade do Recife possui uma população em torno de 1.530.272 (um milhão, quinhentos e trinta mil, duzentos e setenta e dois) habitantes, distribuída numa área de mais de 218 km². De acordo com o censo 2010, a cidade concentrava mais de 470 mil domicílios particulares, muitos sob forte vulnerabilidade, principalmente nas áreas de morro. A área territorial da cidade está distribuída da seguinte forma: 67,43% são áreas de morros; 23,26%, áreas de planícies; 9,31%, áreas aquáticas; e 5,58% são zonas especiais de preservação ambiental, sendo que 35% das famílias do Recife moram em áreas de morro. As vulnerabilidades na infraestrutura do Recife corroboram com o aumento do risco de desastres urbanos na cidade e concentram-se nos seguintes sistemas: energia (má conservação dos postes e fiações aéreas que geram perigos de choques), saneamento (problemas na rede de drenagem urbana, na rede de distribuição de água e coleta de esgoto, com pontos de vazamento e esgoto a céu aberto), resíduos (coleta irregular e/ou deficiente, com pontos de concentração de lixo nas calçadas), transporte (dificuldade de mobilidade de veículos e pedestres, transporte público ineficiente, manutenção

Vistas do Morro da Conceição (Recife).

inadequada das calçadas ou ausência delas). No aspecto do uso e da ocupação do solo, verificam-se construções irregulares e ocupação de áreas de risco. A cidade de Guayaquil é a maior concentração urbana do Equador, com uma população em torno de 2,3 milhões de habitantes. Nela, pode-se observar exemplo prático de melhoria na infraestrutura, integração urbana e redução de risco de desastres em área de morro da cidade, o Serro Santa Ana, que, através da reurbanização, foi integrado ao bairro histórico de Las Peñas e transformado em um dos principais pontos turísticos da cidade, graças a uma ação conjunta da gestão municipal e da comunidade. Impossível não ir a Guayaquil sem subir os 444 degraus do Serro Santa Ana para admirar a vista panorâmica da cidade e na descida parar em um dos inúmeros bares e restaurantes que contornam as famosas escadarias, para reabastecer as energias. Esse exemplo de desenvolvimento urbano sustentável poderia ser aplicado aqui, na cidade do Recife, mais precisamente no Morro da Conceição, local emblemático para a cidade por ser ponto de peregrinação religiosa e guardar a imagem de Nossa Senhora da Conceição. Santa de grande devoção popular, atrai centenas de visitantes ao bairro nos dias que antecedem a festa da padroeira.

O lugar, porém, permanece no ostracismo durante o restante do ano. Carente de infraestrutura adequada, o local apresenta áreas de risco de desastres e, não tendo outros atrativos, recebe apenas os moradores da região. Concluindo: é primordial a promoção de políticas de planejamento e gestão do uso do solo, voltadas para a redução do risco de desastres, uma vez que as cidades crescem e se expandem para áreas marginais, como planícies de inundação e encostas íngremes. Também, a consideração do grau de suscetibilidade e exposição à ocorrência de cheias, deslizamentos de encostas e outros eventos climáticos extremos e perigosos nos projetos urbanísticos para as novas áreas de desenvolvimento das cidades; a adoção de sistemas de transporte eficientes para viabilizar a expansão urbana para locais disponíveis em novas áreas mais distantes do centro, reduzindo os incentivos para o desenvolvimento em locais mais vulneráveis; o impedimento à construção de assentamentos em áreas de alto risco, que pode salvar vidas e evitar a destruição; a reforma de edifícios já existentes; a adoção de padrões de projeto mais robustos para as novas construções e melhorias na infraestrutura contribuem para reduzir o risco de desastres urbanos e promovem o desenvolvimento sustentável.


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NEGÓCIOS MERCADO IMOBILIÁRIO

PERSPECTIVAS DO MERCADO IMOBILIÁRIO DO NORDESTE POR RENATO TEIXEIRA

Como você avalia o panorama do mercado imobiliário na Região Nordeste? O mercado imobiliário do Nordeste vem se acomodando num processo de redução de preços de imóveis, segundo os últimos levantamentos. Essa queda de preços se deve ao alto número de lançamentos dos anos anteriores, especialmente em Aracaju, Maceió, São Luis e Salvador. As ofertas nos preços dos lançamentos e o aumento da procura por imóveis usados incentivam o consumo e reduzem a quantidade de imóveis desocupados nas capitais do Nordeste. Com as obras de infraestrutura realizadas para a Copa do Mundo, várias áreas foram valorizadas, trazendo boas perspectivas ao mercado imobiliário nos próximos anos.

A disseminação do crédito imobiliário pelo País influenciou de alguma forma o cenário nordestino? Com certeza, a viabilização de crédito imobiliário com taxas de juros menores e maiores prazos para pagamentos incentivam o acesso à aquisição da casa própria, sobretudo na baixa renda, com o programa Minha Casa Minha Vida. Há um grande potencial a ser explorado pelo mercado, já que a tomada de créditos imobiliários no Brasil representa apenas 7% do PIB, enquanto por exemplo, no Chile, é de 20%. Temos ainda muito o que crescer com um déficit de mais de 6 milhões de moradias. Portanto, o mercado imobiliário é um investimento seguro, e a tendência é continuar evoluindo.

Qual o impacto de programas habitacionais como Minha Casa, Minha Vida no mercado imobiliário do Nordeste? A implementação de investimentos de grande porte, como o programa Minha Casa Minha Vida, criado para subsidiar a aquisição da casa própria para atender usuários de baixa renda, atende ao déficit habitacional das classes D e E, que não tinham como comprar um imóvel antes.

O que você destacaria de relevante entre os estados nordestinos quanto à oferta e procura do mercado imobiliário? Por seu potencial turístico e econômico e de desenvolvimento social, o Nordeste é uma das regiões do Brasil que mais recebe investimentos nacionais e internacionais na área imobiliária. O setor de construção civil apresenta crescimento e absorve mão de obra. O Nordeste também tem atraído investidores estrangeiros pela proximidade com os Estados Unidos e a Europa, por possuir um ótimo clima e por suas belas paisagens naturais.

Quais são os grandes desafios enfrentados no mercado imobiliário da Região? Nada indica que a Região vai entrar em recessão. A Consultoria Tendências afirma que o crescimento médio até 2018 deverá ser de 3,3% ao ano, acima do projetado para o País (2,5% anuais). Cada vez mais, para continuar a se desenvolver, a Região vai ter de buscar saídas para contornar os entraves sociais, mão de obra e infraestrutura.

*Renato Teixeira é presidente da RE/MAX no Brasil. A empresa é uma franquia imobiliária internacional, presente em 90 países.

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NEGÓCIOS PERFIL EMPRESARIAL

AGOSTO 26-28, 2014 EXPO CENTER NORTE

SÃO PAU LO

EXPOSIÇÃO > 11h - 20h

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A Expo Arquitetura Sustentável apresentará novos conceitos e soluções de sustentabilidade para eficiência na construção de casas, escritórios e indústrias. Único evento do mercado que reúne todos os modelos de normas e certificações. E ainda: Conferência Internacional de Construção e Arquitetura com 3 dias de palestras e debates, além de visitas técnicas a empreendimentos sustentáveis.

Proibida entrada de menores de 16 anos, mesmo que acompanhados. Evento exclusivo e gratuito para profissionais do setor que fizerem o seu pré-credenciamento por meio do site ou apresentarem o convite do evento no local. Caso contrário, será cobrada a entrada no valor de R$ 55,00 no balcão de atendimento.


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NEGÓCIOS

Com o boom da construção civil no NE, aumentou o consumo de cimento. As indústrias correm contra o tempo para aumentar a capacidade de produção.

foto: shutterstock.com/ VikOl

O caminho para a autossuficiência Instalação de novas fábricas de cimento no Nordeste promete equilibrar capacidade produtiva e demanda da região Por Isabela Morais

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produção e o consumo de cimento na Região Nordeste andam em descompasso. Dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) apontam que, no último ano, as empresas da Região foram responsáveis pela fabricação de 14,5 milhões de toneladas do produto, fazendo do Nordeste o segundo maior produtor regional do Brasil, perdendo apenas para o Sudeste. Apesar disso, a capacidade produtiva nordestina não deu conta de sua própria demanda: no mesmo ano, a indústria da construção consumiu 15,3 milhões de toneladas da mercadoria, uma diferença de 800 mil toneladas. De acordo com o relatório anual do SNIC, o boom da construção civil nordestina vem causando um aumento acima da média nacional no consumo do produto nos últimos 5 anos. Só em 2012, a procura por cimento na Região aumentou 11%, quase o dobro do crescimento no Sul e Norte, que apresentaram taxa de 6%. Segundo Francisco Silveira, consultor de planejamento estratégico da Brennand Cimentos, para

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recuperar a diferença, o mercado tem optado pela compra do produto em outras regiões do País e, em menor escala por importações do exterior. O cenário atual permanece o mesmo, conforme mostram as pesquisas preliminares referentes a 2014 e por isso “a produção deste ano, continua menor que a demanda”, avalia Silveira. Em janeiro deste ano produziu-se 1,2, mas se consumiu 1,4 milhões de toneladas no Nordeste. Apesar do déficit, os especialistas alertam que não há motivos para temer um movimento de importação generalizada do produto, já que a expansão da indústria cimenteira na região deverá garantir a autossuficiência da mesma nos próximos anos.

Investimento pesado Se por um lado o crescimento acima da média do setor construtivo aumentou a diferença entre a oferta e a procura, por outro, criou um clima favorável para o investimento de diversos grupos cimenteiros nacionais e internacionais no

Nordeste, e diversas unidades fabris estão ou em processo construtivo ou de ampliação. No segundo semestre deste ano, o Grupo Elizabeth inaugura em Alhandra, litoral sul da Paraíba, sua primeira fábrica de cimento. Rodrigo Lyra, superintendente comercial da Elizabeth Cimentos, afirma que a fábrica terá capacidade produtiva inicial de 1,2 milhões de toneladas anuais. Ainda no Estado, entram em operação nos próximos anos a segunda unidade produtiva da InterCement, em Conde, e a primeira da Brennand Cimentos, no município de Pitimbu. Ao todo, os investimentos da indústria cimenteira no estado chegam a R$ 2,3 bilhões. Quando todas as plantas previstas estiverem em funcionamento, a Paraíba contará com um grande polo cimenteiro em seu litoral sul, com um total de cinco fábricas de grande porte. Estimativas do governo indicam que o Estado deverá quadruplicar sua produção até o final deste ano e se consolidar como segundo maior produtor de cimento do País, com uma produção de cerca de 10 milhões de toneladas por ano.


Os grupos Cimento Apodi e Cimento Mizu recentemente expandiram as suas capacidades produtivas com a construção de novas fábricas em Quixeré (CE) e Baraúna (RN), respectivamente. Conforme explica Sérgio Fabiano, diretor comercial da Apodi, a nova unidade já está em operação. “O mercado ainda não reagiu como esperávamos, mas, mesmo assim, nossa possibilidade de produção aumentou em mais de 120%”, garante. A nova unidade deverá acrescentar mais 1 milhão de toneladas anuais à produção estadual, o que representa 56% de todo o volume produzido no Ceará no ano passado. No Rio Grande do Norte, a Mizu elevou sua produção de 1,2 para 2,4 milhões de toneladas anuais em 2013. Até 2015, com a ampliação da planta, a empresa pretende passar a produzir 3,6 milhões de toneladas anuais, o que elevaria em

133% a capacidade produtiva do estado com relação aos números de 2013. Em Alagoas, a fábrica da Cimento Zumbi, no município de Marechal Deodoro, realiza os preparativos finais antes de entrar em pleno funcionamento. A estimativa da empresa é atingir uma produção de 350 mil toneladas anuais. Outros empreendimentos preveem a inauguração de unidades fabris da SRM Cimentos em Currais Novos (RN), da ASA Cimento no Complexo Industrial Portuário de Suape (PE) e da Cimento Búfalo em Surubim (PE). Atualmente, a Região Nordeste já conta com um grande potencial instalado, com pelo menos uma fábrica de cimento em cada estado. De acordo com o SNIC, são duas unidades no Maranhão (municípios de Codó e São Luís), uma no Piauí (Fronteiras), quatro no Ceará (Sobral, Caucaia,

Barbalha e Dionísio Torrer), duas no Rio Grande do Norte (Mossoró e Baraúna), duas na Paraíba (João Pessoa e Caaporã), três em Pernambuco (Goiana, Cabo de Santo Agostinho e Paulista), uma em Alagoas (São Miguel dos Campos), três em Sergipe (Laranjeiras, Nossa Senhora do Socorro e Pacatuba) e três na Bahia (Campo Formoso, Brumado e Candeias). Mesmo que muitas indústrias ainda não estejam em operação, a expansão do setor cimenteiro já tem aquecido o mercado regional. De janeiro a maio deste ano, o Nordeste apresentou um crescimento de 7,8% da sua capacidade de produção em relação ao mesmo período do ano anterior. Para Silveira, as perspectivas são positivas. Com a capacidade atual somada às novas fábricas, ele diz “O Nordeste deverá garantir a autossuficiência em poucos anos.”

produção e consumo aparente de cimento em 2014* Região Nordeste

Produção

Consumo

Maranhão

72.151

131.032

Piauí

51.229

131.032

Ceará

154.516

194.313

Rio Grande do Norte

143.872

95.915

Paraíba

214.272

120.774

Pernambuco

108.865

273.839

Alagoas

68.452

79.628

Sergipe

289.157

55.907

Bahia

117.679

361.021

“O mercado ainda não reagiu como esperávamos, mas, mesmo assim, nossa possibilidade de produção aumentou em mais de 120%.” SÉRGIO FABIANO, DIRETOR COMERCIAL DA APODI.

*Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento. A primeira fábrica de cimentos do Grupo Elizabeth, na Paraíba, terá capacidade produtiva inicial de 1.200.000/ano.

foto: elisabeth

foto: VIVIX

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NEGÓCIOS PERFIL EMPRESARIAL

Com mais de 60 anos de atuação, a Construtora Conic é uma das mais antigas de Pernambuco. Desde de que foi fundada pelo engenheiro Júlio Maranhão Filho, a empresa tem investido em estratégias e ações que a tornaram destaque no cenário imobiliário regional e nacional. Trazendo um portfólio amplo e diversificado, que vai de obras residenciais a construção de fábricas e hotéis, a Conic tem ampla experiência com regime de condomínio fechado, mas sem abrir mão da incorporação imobiliária, implantando em 2012 o sistema de governança corporativa. A empresa construiu o primeiro empreendimento com certificação Leed do Recife, apostou em tecnologia pioneira na construção do Grand Tower Shopping e vem desbravando novas possibilidades no Estado, a exemplo do Terra Brasilis Caruaru, o maior prédio residencial do interior do Norte/ Nordeste brasileiro. Entrando na empresa como engenheiro civil trainee em 1999, Lucian Fragoso, atual CEO (Chief Executive Officer), é o responsável por gerenciar essas mudança. num bate-papO com a conStruir nordesTE.

Experiência com regime de condomínio fechado Mais de 100 empreendimentos entregues e com clientes satisfeitos. No regime de condomínio fechado, o cliente paga o seu empreendimento durante a sua execução, ou seja, apesar de mensalmente ele pagar parcelas um pouco maiores, assim que termina o empreendimento o débito está quitado. Já na incorporação imobiliária, você consegue pagar parcelas menores porque o banco financia, mas muitas vezes leva de 10a 30 anos para quitar a dívida. O regime de condomínio fechado permite que a empresa construtora consiga formar um grupo e apresentar imóveis com grande qualidade de especificação e também com um preço mais barato, com uma economia que varia entre 30% e 40% se comparada com a da incorporação. Outra vantagem desse tipo é que a obra é feita com gestão compartilhada: os condôminos participam de todo o processo de planejamento, execução e conclusão, desde a assinatura dos cheques até a definição do tipo de elevador, por exemplo. Isso dá uma garantia de que eles estão acompanhando todo o desenrolar da construção.

Não abre mão da incorporação imobiliária Através da incorporação imobiliária, queremos atingir o público de pessoas que tem vontade de morar em um empreendimento de qualidade e que não podem adquiri-lo no regime de condomínio fechado, pois o fluxo de caixa muitas vezes não comporta. Lançamos, nesse sentido, por exemplo, o Complexo Rmpresarial e Residencial Boa Vista, no centro do Recife, com apartamentos de um quarto, com 40 m², e com dois quartos, com 55 m². Esse projeto se voltou para pessoas que queriam ter sua primeira moradia, utilizar o polo médico ou as universidades próximas. A resposta foi extremamente satisfatória. Apostamos em um prédio compacto e esteticamente bonito, que em cerca de 60 dias vendeu aproximadamente 90% das unidades. A decisão do nosso conselho é que se intensifique também esse modelo de negócio para que se possa atender tanto o público da incorporação como do condomínio fechado.

Sustentabilidade é primordial para crescer No quesito da sustentabilidade, atuamos na área imobiliária e também na prestação de serviços. Um exemplo é a nova sede do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), localizado na Rua da Aurora, no Recife. É um empreendimento com alta tecnologia, em que se controla o consumo e a distribuição elétrica de todo o Brasil. São cinco centros desses no País, sendo este o primeiro empreendimento Green Building com certificação Leadership in Energy and Environmental Design (Leed) do Recife. A partir desse projeto, começamos a intensificar o conceito de sustentabilidade na empresa, replicando para os canteiros de obras práticas sustentáveis como economia e reúso de água, coleta de materiais tóxicos e utilização de madeira apenas certificada para evitar desmatamento ilegal. O sítio Donino e o Reserva do Poço, localizados no Poço da Panela, foram construídos com apenas sete pavimentos de altura, sendo utilizado apenas 40% da área para a construção, com os outros 60% inteiramente de área verde para uso dos próprios condôminos. Buscamos também a melhoria dos processos para fazer com que a espessura dos revestimentos sejam a menor possível, conforme norma, pra que não se tenha desperdício de material. Os próprios canteiros hoje já são projetados com telhas translúcidas para evitar alto consumo de energia e com um sistema interno que reaproveita água de torneira para dar descarga no banheiro. Os equipamentos são totalmente controlados para fazer o descarte adequado de óleo ou de graxa, com coletores especiais para que não seja despejado na terra.

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NEGÓCIOS MERCADO IMOBILIÁRIO

Investimento em tecnologia inovadora Estamos construindo o empresarial com a maior lâmina do Nordeste, ou seja, a maior área por pavimento, que é de 1.200 m². É o Grand Tower Shopping, onde será utilizado um sistema de ar condicionado idêntico ao usado no ONS, que faz com que a produção do ar frio seja através da água gelada, e não diretamente pela energia, em que os usuários pagarão menos por isso, além de vidros com capacidade de absorção maior de raios ultravioleta. O uso de estacas mistas, de concreto pré-moldado com ponta metálica, foi a grande solução da empresa para resolver a formação geológica atípica do solo em questão, que era misto e de má qualidade, mas com uma camada rígida no meio. As estacas diminuíram os custos e otimizaram o uso dos materiais, sem atrasar a obra. Essa novidade implantada no processo de fundação é um marco, permitindo que ocorra o monitoramento das estacas depois da obra concluída. A Conic pode acionar periodicamente sensores colocados na execução da obra de fundação, que calculam alterações nessas estacas para possíveis ações preventivas. Por sinal, essa instalação da mensuração dessas estacas é pioneira no Brasil.

Governança corporativa Uma das grandes decisões foi a implantação da governança corporativa, ou seja, deixou-se de ter aquele viés de empresa familiar, em que se faz todos os processos de acordo com a vontade do mandatário. Hoje a Conic tem um conselho de administração e uma diretoria executiva instituída. As coisas acontecem por geração de resultados, por melhor controle, por satisfação dos nossos clientes e colaboradores, em que as pessoas estão crescendo na organização por meritocracia. Nesse processo de implantação da governança corporativa, nos baseamos no modelo do Instituto Brasileiro de Gestão Corporativa (IBGC) e estamos introduzindo as melhores práticas dessa governança na Conic. Por exemplo, os conselheiros não atuam na parte executiva da empresa. A execução é feita hoje por pessoas totalmente separadas do Conselho, trabalhando metas e com remuneração variável. Todo o recebimento e toda adespesa são acompanhados por esse grupo executivo. Uma das grandes decisões foi a implantação da governança corporativa, ou seja, deixou-se de ter aquele viés de empresa familiar, em que se faz todos os processos de acordo com a vontade do mandatário.

Desbravar novos locais e mercados Além de fortalecer ainda mais a atuação na Região Metropolitana do Recife, a Conic está se expandindo para o interior pernambucano, expansão que se iniciou em 2013. O Agreste, principalmente Caruaru, é uma região que está crescendo bastante. Fizemos pesquisas na área e constatamos que há uma procura por empreendimentos classe A. Pensando nisso, criamos o Terra Brasilis Caruaru, primeiro empreendimento da empresa na cidade e considerado o maior prédio residencial do interior do Norte/Nordeste brasileiro. Com uma área de 324 m²,os apartamentos têm quatro suítes, uma das quais master, com closet e dois banheiros, sala para três ambientes, três varandas com uma delas gourmet integrada ao estar íntimo e à cozinha, copa, gabinete com acesso independente do apartamento, dois quartos de serviços, depósito e despensa. Cada unidade dispõe de cinco vagas de garagem. E não para por aí: o projeto tem piscina com raia e prainha, sala de fitness, lava a jato, brinquedoteca, salão de festa, minicampo de futebol, sala de jogos, pista de skate, quadra de tênis, quadra poliesportiva, bicicletário com capacidade para 40 bicicletas e pista de patinação. Foi um sucesso absoluto. Outra cidade interiorana comtemplada foi Petrolina, que recebeu o Edifício Beira Rio Smart Life, na Beira Rio, também o primeiro empreendimento da Conic na cidade. A empresa pretende sedimentar a sua atuação nessas regiões, fortalecendo e dinamizando a praça de Caruaru e de Petrolina, expandindo-se cada vez mais para fora da capital pernambucana. Estamos também adentrando o litoral sul pernambucano, mais especificamente na Praia dos Carneiros, eleita a segunda mais bela praia do Brasil segundo pesquisa do site de viagens TripAdvisor. Levamos para lá o Eco Resort Carneiros, um projeto que tem diversas opções de planta para apartamentos e bangalôs, dando ênfase à preservação da natureza local e investindo no paisagismo. Outra meta também é entrar no mercado de João Pessoa (PB). Já estamos prospectando terreno lá para em breve lançar nossos empreendimentos.

Portfólio amplo e diversificado Temos também um portfólio diversificado desenvolvendo projetos na área de engenharia de negócios, empreendimentos residenciais, obras industriais e comerciais, desde galpões para operações logísticas, fábricas, centros empresariais a construção de hotéis. A empresa também executa serviços de engenharia para empresas e clientes privados. Nesse momento, estamos concluindo o projeto de ampliação do Enotel, que fica em Porto de Galinhas. Já prestamos serviço para a petroquímica Suape; construímos a fábrica da Tigre em Escada (PE); e fizemos o maior call center da América Latina, a Contax, um empreendimento de 42 mil metros quadrados. A Conic também prestou serviço para órgãos públicos como Ministério do Exército e executou obras de Oscar Niemeyer.

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NEGÓCIOS OPINIÃO

A CONSTRUÇÃO E A TRAJETÓRIA RECENTE DA ECONOMIA ESTADUAl Tania Bacelar de Araújo*

Na bonança ou na dificuldade, a construção civil é um bom sinalizador do comportamento da economia estadual.

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economia de Pernambuco experimentou recuperação importante a partir de meados da década passada, superando fase de grandes dificuldades que marcaram as décadas finais do século 20 no Estado. O dinamismo do consumo das famílias ao lado da implantação de importante bloco de investimentos são os responsáveis pela recente fase de prosperidade vivenciada pelo Estado. Novos empreendimentos produtivos e obras importantes de infraestrutura se dirigiram para este Estado, e sua implantação mobilizou sua competente indústria da construção civil, que se ampliou e se firmou como um dos setores líderes do crescimento estadual. Segundo dados das Contas Nacionais, do IBGE, entre 2005 e 2010 essa atividade se expandiu no Estado a uma taxa média de 11,8% ao ano, mais que o dobro da média nacional (5,6%). Como boa absorvedora de mão de obra, a atividade se destacou como criadora de postos de trabalho formal, passando de 50.626 empregados, em 2006, para 158.124, em 2012. Com isso, passa de 4,4% para 9,3% seu peso no total dos empregos formais do Estado neste mesmo período, segundo dados da RAIS/MTE.

Os impactos da desaceleração da economia brasileira e pernambucana nos anos recentes, no entanto, não pouparam a construção civil. Desde 2010, o Brasil vem apresentando grande dificuldade para manter o dinamismo de sua economia, e Pernambuco, embora resista e mantenha taxas de crescimento superiores à média nacional, não consegue ficar imune à nova conjuntura. Mesmo a dinâmica construção civil vem sendo afetada, como mostra o nítido declínio das taxas de criação de emprego formal, nos meses iniciais de 2014, revelado pelo gráfico abaixo. Como visto, não se restringe à desativação gradual do canteiro de obras da Refinaria Abreu e Lima o impacto negativo observado no mercado de trabalho desta atividade econômica: todos os segmentos da construção civil apresentam em maior ou menor grau a mesma tendência declinante no primeiro quadrimestre de 2014. Na bonança ou na dificuldade, a construção civil é um bom sinalizador do comportamento da economia estadual. Esperemos, assim, por melhores tempos!

Pernambuco: número índice da evolução do PIB real e do VAB real da indústria da construção civil (1995-2010)

PE: taxas de crescimento mensal do emprego formal na construção civil em 2014

Fonte: RAIS/TEM Elaboração CEPLAN

* Tania Bacelar de Araújo é sócia da CEPLAN Consultoria

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NEGÓCIOS OPINIÃO

Lições pós-boom imobiliário III Mônica Mercês*

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os dois últimos artigos, as ideias foram sobre aquisição de áreas, lançamento e vendas de empreendimentos imobiliários, como parte dos aprendizados obtidos pós-boom no Brasil. Agora, o assunto, pensando nas grandes etapas do negócio imobiliário, é a produção da obra, etapa crucial para o alcance do que inicialmente foi planejado. A abordagem que faço é sobre a gestão da produção, pois enxergo um canteiro de obras como uma empresa, num conceito ampliado. Como tal, requer projetos, orçamentos, suprimentos/estoque de materiais, tecnologias, segurança, qualidade e gente. Tudo isso conduzido por processos de gestão que devem ser organizados e controlados. Sem isso, há um risco elevadíssimo de ser perder prazos e qualidade e, consequentemente, as margens esperadas para o negócio. Em muitos canteiros, são dezenas, centenas e até milhares de pessoas trabalhando diretamente e indiretamente, direcionadas a um mesmo objetivo. A experiência recente mostra que muito mais de que uma boa técnica, é necessária uma boa gestão e atenção aos movimentos do mercado, pois, diferentemente do que se pensa, há influência direta dentro da obra. O grande aquecimento do setor, nos últimos anos, causou problemas na cadeia produtiva da obra. Houve estrangulamentos no fornecimento dos projetos com boa parte dos escritórios de arquitetura com dificuldades de atender às demandas; problemas na compra de materiais com entregas atrasadas por parte dos fornecedores; muita dificuldade na disponibilidade e qualidade da mão de obra, além de estouros nos orçamentos em relação aos valores projetados. Muitas empresas de capital aberto reconheceram, ao longo da produção da primeira remessa dos empreendimentos do período do boom, que cometeram equívocos em suas projeções — equívocos esses que custaram caro e derrubaram margens de vários negócios. Lembro de uma delas ter afirmado que os estouros em seus orçamentos, por exemplo, causariam impactos nas margens da empresa durante os 18 meses seguintes após a revisão dos números. Outra divulgou que a terceirização do processo construtivo culminou na perda do controle sobre os custos e a qualidade da obra. Resultado: desfez a parceria, pois o terceirizado não tinha condições de arcar

com o estouro no orçamento nem com a qualidade necessária. Além disso, o grande ingresso de trabalhadores nas obras, se por um lado foi benéfico para a empregabilidade do setor e da economia como um todo, foi, e ainda é, difícil em muitos canteiros, no quesito qualidade final. O retrabalho é sinônimo de perda e tem impacto direto numa variável muito sensível: o tempo. E a não terminalidade no período projetado afeta fortemente todo o cronograma físico e financeiro do negócio, configurando-se numa grande ameaça, que, em várias situações, é ignorada. Sinceramente, confesso: não entendo isso! Por outro lado, há que se validar também todo o aprendizado positivo, com adições de novas tecnologias e ganhos de produtividade, além dos desafios de se organizar canteiros com milhares de unidades, fruto dos projetos voltados ao segmento econômico. Na outra ponta, projetos de alto padrão e arrojo arquitetônico também trouxeram uma nova e bela composição à paisagem das cidades brasileiras, sem contar as grandes áreas de lazer, que levaram para dentro das residências verdadeiros clubes, desafiando, mais uma vez, a gestão da obra em harmonizar edificações vocacionadas à unidade habitacional com as direcionadas ao lazer. Entre o início e o término da obra, meses se passam, anos. Planejamento, foco, disciplina, controle e gestão são palavras muito usadas, mas não podem ser vistas como desgastadas, sob pena de não se obter os resultados planejados — nem para os empreendedores nem para os clientes. A próxima e última lição será sobre a entrega dos imóveis aos clientes e o momento do repasse aos bancos. Até lá!

A experiência recente mostra que muito mais de que uma boa técnica, é necessária uma boa gestão e atenção aos movimentos do mercado...

*Mônica Mercês é economista, assessora de Planejamento e Inteligência de Mercado da Diretoria da Queiroz Galvão Desenvolvimento Imobiliário (QGDI)

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construir direito

Inscrição no Cadastro Ambiental Rural deve ser requerida até 2015 Rafael Accioly*

O CAR tem por objetivo integrar as informações ambientais das propriedades e pos­ses rurais, criando uma base de dados...

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Cadastro Ambiental Rural (CAR) foi instituído pelo atual Código Florestal (Lei nº. 12.651, de 25 de maio de 2012) e tem por objetivo integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, criando uma base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento, sendo tal cadastro obrigatório para todos os imóveis rurais do País, que atualmente representam um montante de 5,6 milhões.

Com efeito, em que pese tal instituto ter sido criado há mais de 2 (dois) anos, sua eficácia ficou limitada em razão da ausência de norma regulamentadora de sua aplicabilidade. No último dia 05 de maio, entretanto, foi publicado o Decreto nº. 8.235, que trata do Programa de Regularização Ambiental (PRA) e estabelece regras para inscrição no CAR. De forma complementar às normas trazidas pelo decreto acima citado, a Ministra do Meio Ambiente, após oitiva dos Ministros da Agricultura, Pecuária e Abastacimento e do Desenvolvimento Agrário, publicou, em 06 de maio de 2013, a Instrução Normativa nº. 2/MMA, estabelecendo novas regras sobre o CAR, bem como a respeito do funcionamento do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), instrumento utilizado para a inscrição do imóvel rural no CAR. A partir da edição de tais normas, iniciou-se a fluência do prazo de 1 (um) ano previsto no art. 29, § 3º do Código Florestal, para que os proprietários ou posseiros de imóveis rurais requeiram a sua inscrição no CAR. As referidas normas, recentemente publicadas, trazem também regras para a regularização de passivos ambientais relacionados a Áreas de Preservação Permanente (APPs), de Reserva Legal (RL) e de Uso Restrito (UR) dos imóveis rurais, oportunidade em que poderão os proprietários ou possuidores proceder à regularização ambiental mediante adesão aos Programas de Regularização Ambiental (PRA), implantados pelos Estados e pelo Distrito Federal, mediante a celebração de termo de compromisso com o referido ente, sendo certo que tais termos de compromisso deverão ser únicos para cada imóvel rural.

No termo, deverão estar previstos, além dos dados básicos do imóvel, informações sobre a localização das APPs, Reserva Legal ou área de uso restrito, objeto do acordo, além da descriminação da proposta do proprietário ou possuidor, visando a recomposição, recuperação, regeneração ou compensação das áreas acima referidas, seus prazos e multas aplicáveis pelo descumprimento. O art. 9º do decreto estabelece, ainda, que, enquanto estiver sendo cumprido o termo de compromisso, ficará suspensa a aplicação de sanções administrativas associadas aos fatos que deram origem à causa da celebração do referido acordo. Além disso, após o cumprimento das obrigações do termo de compromisso pelo proprietário ou possuidor e a inserção de tais informações pelo órgão competente no Sicar, as eventuais multas e sanções serão convertidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, regularizando o uso de áreas rurais consolidadas, conforme definido no PRA. Destaca-se, ainda, que a inscrição no CAR, além de possibilitar a adesão ao PRA, conforme já citado, traz outras prerrogativas ao proprietário ou possuidor de imóvel rural, como a obtenção de crédito agrícola, que, a partir de 2017, ficará restrito aos proprietários de imóveis rurais com inscrição no CAR (art. 78-A do Código Florestal), e o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal (art. 15, III do Código Florestal). O Cadastro poderá ser feito através do portal criado com esta exclusiva finalidade (www.car.gov.br). No entanto, recomenda-se que as inscrições e suas eventuais retificações sejamassessoradas por profissional com profundo conhecimento das normas que regulamentam o tema.

* Rafael Accioly é sócio da área de Direito Imobiliário do escritório Queiroz Cavalcanti


foto: sh

Obra do Shopping Vila Velha (ES), na qual foi utilizado o sistema Mesa Deslizante da SH.

SH: 45 anos

Empreendedorismo e inovação marcam a história da empresa

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m 1969, nasceu a Serviços de Construção (Servicon). Fundada a partir do departamento responsável pelo fornecimento de andaimes suspensos para aplicação de argamassas e rebocos da Quartzolit, a nova empresa logo se expandiu e foi buscar, no mercado alemão, novas tecnologias para oferecer aos construtores brasileiros. Uma das novidades foi a inserção das formas metálicas para lajes nos canteiros de obra, em substituição aos tradicionais sistemas em madeira, marcando o início da industrialização da construção civil no Brasil. Em 1976, a Servicon fechou parceria com a Hünnebeck, líder no mercado mundial de formas metálicas e treliças para concretagem, à época, subsidiária do conglomerado Thyssen. Desde então, a empresa Hünnebeck, posteriormente SH, apresenta ao mercado brasileiro soluções em engenharia, baseadas na tecnologia alemã adaptada aos moldes da construção nacional.

A SH Hoje Atualmente, a SH comemora 45 anos como líder no fornecimento de formas, andaimes e escoramentos. A empresa disponibiliza sistemas para locação e venda por meio de unidades instaladas estrategicamente em 11 estados do Brasil (São Paulo, Ceará, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Pernambuco, Pará, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo e Bahia) e está presente em mais 1.200 obras, como metrôs, barragens, aeroportos, viadutos, usinas hidrelétricas, complexos industriais e comerciais, além de edifícios residenciais e habitações de interesse popular.

Em 2013, o faturamento da SH atingiu R$ 245 milhões. A unidade fabril da empresa, a SH Indústria, produziu mais de 80 mil m2, o dobro do volume produzido no ano anterior, e os investimentos giraram em torno dos R$33 milhões. “No momento, o mercado de infraestrutura é o carro-chefe da empresa para a continuidade do crescimento, que em 2013 foi de 20%, e este ano a previsão é que chegue aos 30%”, explica o diretor regional da SH, Paulo Lago. Também estão no foco da empresa o mercado de habitações de interesse social, movimentado por programas governamentais como o Minha Casa Minha Vida, e a construção de grandes complexos comerciais, como shopping centers, em várias regiões do País.

Inovar para crescer Nos últimos anos, a SH desenvolveu e fabricou equipamentos de ponta, adequados para atender a diversos nichos da construção, em especial a chamada construção pesada. “O plano é continuar investindo em inovação, qualificando nossos colaboradores para o atendimento de médio e longo prazo”, conta o diretor regional da SH, Fabrício Fiorini. Em destaque, está o sistema Lumiform SH®, baseado em formas de alumínio para paredes de concreto; a Mesa Deslizante SH®, ideal para a execução de grandes lajes, principalmente protendidas, em curtos prazos de tempo; e o Multiform SH®, sistema próprio para paredes, pilares, geometrias especiais, como pontes e viadutos; e estruturas complexas, como túneis e vãos maiores.

Fabrício Fiorini: o plano é continuar investindo em inovação, qualificando os nossos colaboradores.

Paulo Lago, diretor regional da SH.


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