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Guerreiro de Fé

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Esperança

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Guerreiro de Fé

Sabe aquela frase que as pessoas falam: “Enfrentar nossas dificuldades de frente”? Então, foi exatamente isso que Manoel Gonçalves fez. Mas espera aí, você deve estar se perguntando...quem é esse? Manoel é um rapaz simpático. Estatura média para alta, negro, cabelo enroladinho e um sorriso aberto. Ele tem 21 anos e veio diretamente de Paracatu-MG para estudar Jornalismo em Patos de Minas. O detalhe é que Manoel não é “bom no português”, como ele ressalta. Mas resolveu escolher o curso com o objetivo de se desafiar. Para entendermos essa história melhor, vamos ir ao início de tudo. Em uma cidadezinha no Noroeste de Minas, com pouco mais de 90 mil habitantes, morava Manoel. Ele estudou todo o ensino fundamental e médio na cidade. Segundo ele, sempre gostou de aprender. —Eu sempre amei estudar, ler livros, conhecer as coisas. Só que eu sempre tive a limitação. Fui deixado como a pessoa que não tinha capacidade...sempre tive dificuldade. Acontece que Manoel tem Dislexia. Um distúrbio que dificulta a leitura, a fala e a escrita. Ele conta que quando estava na 2ª série do ensino fundamental, sua mãe foi chamada pelos professores e alertada de que havia grandes chances de Manoel ser dislexo. A partir daí o cuidado com sua aprendizagem teve que ser redobrado. —Eu sempre tive uma pessoa do meu lado me auxiliando. Às vezes eu estudava na escola e não entendia. Mas eu tinha professor em particular, que eram meus primos, porque eram inteligentes.

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E, a partir disso, Manoel resolveu se revelar um verdadeiro guerreiro, como Davi, mas não lutando com o gigante Golias, e sim com palavras e letras. Ao terminar o 3º ano do ensino médio, Manoel fez vestibular para Jornalismo e passou. O desafio agora viria a ser se mudar. —Eu vim para Patos de Minas sozinho, não tinha família aqui. Eu só conhecia um Pastor em distância, porque eu trabalhava na igreja Casa da benção, e ela tinha a liderança em Patos de Minas. Eu conhecia o Pastor só de reuniões. Manoel precisava de um lugar para ficar. Foi então que ele se lembrou do Pastor e resolveu pedir esse favor a ele, que aceitou de prontidão. Hoje Manoel mora em uma casa nos fundos da igreja do Pastor em Patos de Minas. Além da dislexia e distância da família, Manoel também tem outra dificuldade: trabalhar para conseguir pagar a faculdade. —Eu abria a igreja e ali eu trabalhava até meio dia. De tarde eu ia trabalhar na Cemil (Indústria do ramo alimentício de Patos de Minas). Então eu pegava ônibus e às vezes não tinha tempo de almoçar, comprava alguma coisa na rua, entrava dentro do ônibus e comia. Saía da Cemil 5 horas da tarde e chegava no centro às 18 horas. Descia, trocava de camiseta e subia, porque 18:50 tinha que estar na faculdade. A rotina de Manoel era puxada, mas não parava por aí. Ele conta que de 18:50h, ficava na faculdade até às 10 horas da noite. Então ia embora, gastava 20 minutos para chegar em sua casa, mais 1 hora para fazer o jantar, 1 hora para fazer tarefas de casa, e às vezes, ainda estudava depois. Assim, ele dorme em média às uma hora da madrugada todos os dias. E no fim de semana, as coisas não eram das mais tranquilas.

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—No fim de semana eu acordava mais tarde, umas nove horas ou dez, tomava um banho, arrumava e ia para o outro serviço no restaurante. Quinze horas eu voltava, quatro horas da tarde eu chegava em casa, tomava um banho e subia para a igreja onde eu trabalho... depois, chegava em casa por volta de 22:30, porque era eu quem fechava a igreja. E, mesmo com tantos desafios, Manoel não se abala. Percebo que ele fica feliz em dizer que será o primeiro membro da família a pegar um diploma do ensino superior. É isso Manoel, eu acredito que, assim como eu, a sua família que você tanto ama, também está orgulhosa de você. Nos encontraremos em 2020 para pegar o nosso tão sonhado diploma de Jornalismo.

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