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Bio = Vida
Bio = Vida
Imagine morar a vida toda em um povoado, e depois vir fazer faculdade na cidade. Imaginou? Pois bem, essa é a história de Fernando. Fernando Carlos tem 20 anos e cursa Ciências Biológicas. Ele está no 4º período. Conheci Fernando por acaso. Acaso não, por causa de um gafanhoto para ser mais verdadeira. Mas isso é história para outra hora, vamos voltar ao que interessa aqui, as dificuldades de Fernando. São 17:00 horas e estou sentada em uma cadeira na casa de Fernando. É uma casa simples. Sala, cozinha, 2 quartos e um banheiro. Quando solicitei a entrevista a ele, Fernando ficou um pouco receoso, mas acabou cedendo no final. Ele é um jovem de estatura média, usa óculos, tem pele branca, cabelos castanhos e sempre está alegre e sorridente. Ao chegar em sua casa, o encontro sentando em uma cadeira apoiado na mesa, com roupas de “ficar em casa” (estilo típico dos mineiros). Passada a primeira impressão da minha fonte e do local, ligo o gravador e começamos a nossa conversa. Como de praxe, o pergunto se ele gosta de estudar. Fernando me diz que sim. —Sim, mas a dificuldade é a leitura. Ficar lendo me dá
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sono.
Vejamos que, com uma única pergunta, já descubro a primeira dificuldade de Fernando em relação ao estudo: a leitura. Fernando quer licenciatura e bacharel em biologia. Ele é apaixonado por alguns animais específicos: os pássaros. Ele me diz que pretende se especializar nesta carreira.
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— Quero me especializar em Ornitologia, que é o estudo das aves, uma área muito bacana, precisa de um pouquinho de leitura porque tem que conhecer todos os nomes, mas esse tipo de leitura me agrada bastante. Mas, voltando um pouquinho no tempo, para Fernando conseguir chegar ao patamar de planejar seu futuro na biologia, muita “água passou por debaixo da ponte”, como nosso povo costuma dizer quando muita coisa já aconteceu até hoje. Fernando me conta que, antes de ir morar no povoado de Firmes, (localidade próxima a Patos de Minas) ele morou na fazenda. — O mais difícil era esperar o transporte, porque o meu transporte carregava para mais um outro local e aí a gente sempre era os últimos a ir embora, ficava mais uma hora na escola. Faço uma pausa ao escrever a história de Fernando. Uma manhã de sábado. Choveu a noite toda, até o momento. Olho pela janela e o vento nas árvores me chama a atenção. As folhas dançam, balançam, e eu quase consigo escutar a melodia de agradecimento das árvores pela chuva. Volto para o papel. Isso mesmo, com um lápis em uma folha de papel amarela, conto a história de Fernando para o mundo. Então, nada mais justo do que voltarmos para ela. Parece que, as dificuldades são dobradas para quem mora na fazenda. Mas Fernando lidava bem com isso. Segundo ele, está mais difícil agora, do que naquela época. — Agora tenho que aprofundar mais ainda no estudo, antes era algo supérfluo. Mas como será que Fernando lida com suas dificuldades? Ele me relata que sua família sempre o apoia, além de também se consultar com um psicólogo uma vez por semana.
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— A terapia ajuda a colocar metas, o que vou fazer durante o dia, pra não ficar um dia muito cansativo. Às vezes escuto música para ficar mais calmo também. Acho interessante a história de vida de Fernando. Veio da fazenda, de um povoado onde as coisas acontecem devagar e chegou à faculdade com a bagagem de mil sonhos, superando até hoje as suas dificuldades.
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