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Arteira

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O olho de Thandera

O olho de Thandera

Arteira

Após uma chuva forte, típica das tardes de novembro, chego ao local da entrevista de nossa penúltima fonte. Ela é uma mulher com estatura média, loira, branca, com olhos azuis hipnotizantes. Ela é formada em Artes pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Seu nome é Andreia Teles. Me encontro com Andreia ainda no corredor da escola pública onde ela dá aulas. Andreia estava como sempre, dando atenção aos seus alunos. Chegando mais perto eu pude ouvir que se tratava de um projeto de música que estavam organizando. Andreia gentilmente me cumprimenta e vamos a sala de visitas da secretaria para a entrevista. Ao entrar pela porta me deparo com outra professora de qual eu também fui aluna, assim como Andreia. Ela dava aulas de matemática, e ficou feliz ao me ver. O interessante é que, estudei meus últimos dois anos do colegial nesta escola, e só naquele momento, percebi que eu nunca havia entrado ali naquele local, onde eu e a professora Andreia estávamos sentadas. Primeiramente, pergunto a Andreia se ela já deu aulas em diferentes tipos de escola. Ela diz que sim. — Eu já trabalhei em escolas da Zona Rural, as regiões que eu trabalhei assim foi Pindaíbas, Areado, mas a partir dos adventos tecnológicos que alcançaram as cidades, mudou um pouquinho a perspectiva da região. No meu tempo a disposição e a humildade dos alunos era um diferencial. É instigante imaginar, o quanto Andreia teve contato com diferentes tipos de estudantes, e que cada um deles tem dificuldades específicas, dentro do meio ao qual estão inseridos. Seja a fazenda, no caso dos alunos da zona rural, ou a Classe Média Alta, já no caso dos estudantes de escola particular.

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Andreia me diz que cada vez mais o contato extracurricular entre aluno e professor tem sido deixado de lado. —A gente chega para conversar sobre alguma coisa e eles falam que não precisam aprender. A professora Andreia faz parte deste capítulo pelo seguinte motivo: a sua capacidade de adaptação aos diferentes locais de sua carreira e o seu amor pela profissão. Este primeiro nós já conhecemos o porquê, agora, o segundo motivo é algo que me deixou emocionada. Ao contar-me como foi a escolha do seu curso superior, Andreia me diz que sua mãe na época foi bem assertiva quando disse que “se você quiser fazer esse curso, saiba que não será por dinheiro”. Algo bacana que Andreia me contou, foi que, onde ela mais gosta de trabalhar é em escolas públicas. Pois são nelas que os estudantes realmente precisam dela, querem entender sua matéria e a importância da arte em suas vidas. —Meu perfil é escola pública, onde o aluno precisa de mim. Eu preciso convencer, ser necessária para esse aluno que não viaja, que nunca fez turismo, que não fez aula de pintura desde cedo, que não faz aula de balé. Arte em escola particular não tem essa euforia, eu não sou tão necessária. Também a questionei quanto a importância do estudo. Andreia diz que, os alunos já não conseguem mais prestar atenção como antes e reconhecer o valor de estudar, “dizem que nunca vão precisar daquilo”. E qual seria a solução para isso? Para Andreia, somente uma “revolução estudantil” seria capaz de possibilitar novos horizontes ao estudo. —Nossa escola é o modelo da década de 60, mesas enfileiradas, todo mundo em silêncio, aprender as fórmulas e aplicar. Enquanto outros caminhos são muito mais interessantes, como o vídeo, o áudio...

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Apesar das escolas oferecerem o seu melhor, dentro dos recursos disponíveis, ainda há muito que ser feito. Mas, o importante no momento é fazer o que se pode. Mas como? Como a Andreia e seu amor pela profissão, com esperança, apoio e diversos outros valores que já foram descritos aqui no livro. Um dia chegaremos lá, mas enquanto esse tempo não chega, continuaremos aqui de pé, lutando e acreditando por “dias melhores pra sempre”, como já dizia Jota Quest em sua canção.

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