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Reitoria
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Milton Roberto de Castro Teixeira tem 60 anos e é Reitor do Centro Universitário de Patos de Minas. Ele é a última, mas não menos importante personagem deste livro. Quando decidi que faria uma entrevista com Milton, eu não esperava o que ouvi de sua história. Chego na reitoria 20 minutos antes do horário marcado para a entrevista. A secretaria me avisa que Milton se atrasará um pouco por causa do mau tempo (não parava de chover na cidade já havia uma semana). Então me sento e espero observando as pessoas que passam por lá. Já haviam 2 homens esperando por Milton no outro sofá, várias pessoas ziguezaguearam por lá, até que Milton chega e a secretaria me convida para ir a sua sala. Me levanto e encaminho-me para lá. Chegando a sala, pude perceber que era um espaço amplo, com plantas, almofadas e jarros de decoração. E por falar nestes últimos, um jarro que estava num aparador ao lado do sofá me chamou atenção. Ele era branco com detalhes florais, lindo. Este vaso me agradou tanto que, ao final do capitulo vocês podem conferi-lo junto à fotografia de Milton. Muitas vezes, erroneamente olhamos para uma pessoa no topo, sem olhar tudo o que está para trás e esta ação nos faz pensar que, tudo foi fácil, que as portas sempre estiveram abertas, mas não é assim. E com Milton, não foi diferente. Ele morou na fazenda grande parte de sua vida, depois de um tempo é que veio para a cidade. —Eu vim de uma família extremamente pobre, carente, filho de uma professora dos primeiros anos, antigamente chamados de primário, que não tinha formação nem de 1º grau, nem de 2º. Ela era professora de Zona rural e tinha uma crença de que a gente podia vencer na vida estudando. Depois que não
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conseguiu atingir o estudo para os filhos, ela se mudou para a cidade, mesmo sem condições financeiras. Fomos morar com nossos avós e ela continuou dando aulas na zona rural, andando 7 km para ir e para voltar. Milton aprendeu a lutar desde cedo. E por isso, seu talento para administração desabrochou ao ver um tio ao qual pertencia uma lojinha. —Eu tinha desde os meus 14 anos um sonho imenso em fazer administração, não sei porque, mas acho que a gente sempre tem alguém que inspira a gente na vida, e não precisa ser donos de megaempresas. No meu caso acho que foi um tio que eu trabalhei com ele, ele tinha uma pequena loja de eletrodomésticos e eu me sentia espelhado e inspirado por ele e fui fazer administração. Percebo Milton um pouco inquieto em nossa entrevista, mas mesmo assim, ficava feliz em lembrar-se de histórias e me contá-las. E nestas histórias, estão também as dificuldades. Milton diz que seus maiores desafios foram enquanto ele estava cursando o ensino superior —Foi difícil demais no início, difícil para eu perceber que era uma universidade federal, porque eu tinha feito o ensino médio fraco, porque eu trabalhava 9 horas por dia. Foi difícil, mas eu consegui começar como estagiário na Caixa Econômica Federal, fui bolsista na faculdade para trabalhar lá e ter almoço, ajudava a servir, trabalhava de garçom. Depois prestei um concurso para a universidade e passei como auxiliar administrativo e consegui me manter. Mas, segundo ele, encontrou pessoas boas no caminho, que fizeram a total diferença em sua vida. —Eu tive um acolhimento muito bom, as pessoas do meu trabalho gostavam demais de mim. Me sentiam que eu era só, sem família, me levavam para o fim de semana...as pessoas me
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acolheram, me adotaram mesmo, porque onde eu trabalhava todas as pessoas eram mais velhas, talvez a mais nova lá tivesse 35 anos. Tinha várias senhoras solteiras que me adoravam, pela minha humildade, minha vontade de aprender, acho que pela minha condição financeira também, porque não tinha com quem eu passar o dia das mães, o natal, então todos eles brigavam por mim.
E isso ainda não era tudo. Milton conta que uma vez ao adoecer, ele recebeu apoio igual nunca tinha visto antes. Segundo ele, “nem em casa eu seria tratado assim”. - Foi geral na universidade, teve algo que deu infecção intestinal em uns 4 mil alunos lá e assim a minha infecção me deixou com febre, urinando sangue, e teve uma pessoa que me levou para dentro da casa dela, com boas condições financeiras, arrumou outro colega de trabalho para dormir comigo no quarto, fiquei quase que 1 semana assim. Eu acho que a minha válvula de escape foram ombros amigos. Milton é formado em Administração pela Universidade Federal de Viçosa- UFV, mestre em Administração pelo Centro Universitário do Triângulo - UNITRI, e mestre em Administração na área de Gestão Estratégica das Organizações pela Faculdade de Estudos Administrativos - FEAD. Pergunto para ele sobre a importância de levar conhecimento para seus alunos. Ele diz que é algo que ele ama fazer. —Quando eu vou para a sala de aula, eu me preparo tanto, porque eu penso no meu aluno. Não posso decepcionar essas pessoas que vem de tão longe. Eu vou fazer o maior esforço pensando em cada palavra que eu vou falar, cada exercício que eu vou dar, cada dinâmica que eu vou dar, pensando que aquilo vai agregar algo para eles. A minha condição de ser professor é que eu posso agregar muito conhecimento aos meus alunos.
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Milton ainda comenta sobre a atenção que recebe de seus alunos, que é algo que ele adora. - Eu fico muito feliz de encontrar as pessoas e falar assim “você lembra que você era meu professor, eu lembro da sua aula assim, das suas aulas assim “, isso me deixa extremante feliz, e me alimenta o ego de ser educador. E sobre o valor do estudo, a resposta não é muito diferente. —O estudo foi uma alternativa para que a nossa vida melhorasse de alguma maneira. Para mim foi a minha vida, o meu porto seguro. Então vejamos que, de um menino pobre que morava na “roça”, Milton Roberto se tornou uma das principais personagens da cidade de Patos de Minas e do Estado de Minas Gerais, por estar na frente de um dos principais Centros Universitários do país.
Para terminar nossa entrevista, Milton deixa uma mensagem da Madre Tereza de Calcutá para todas aquelas pessoas que estão tentando subir na vida por meio do estudo. —Uma mensagem que eu adoro é a da madre Tereza de Calcutá, que já velhinha, com os traços fortes de idade, debaixo do viaduto, porque ela sempre esteve com doentes terminas com feridas expostas, passou um executivo perto e tirou um valor até substancial e colocou lá para ela e falou: “olha, eu não faço isso por dinheiro nenhum”. E ela fitou bem nos olhos dele e falou assim: “eu também não faço. Porque eu também não faria, eu só faço isso por amor” . Então, quando você faz as coisas por amor, por mais pesado que seja, fica mais leve e a gente tem que pensar isso quando se fala em educação e um futuro melhor. E com essa frase, terminamos as nossas histórias deste livro. Espero que a vida de Milton, assim como a dos outros personagens, possa auxiliar a todos os estudantes. Seja por meio de superação, autoajuda ou inspiração, para que não desistam
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dos seus sonhos pois um dia vocês também chegarão aonde desejam.
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