NÚMERO ESPECIAL
!"#$%&'$"% Número Especial 2010 || Linhas de Torres
Portugal Cont. 4,90!
POR TRILHOS
DAS LINHAS DE TORRES VEDRAS PERCURSOS PEDESTRES
CONVERSAS E OPINIÕES À VOLTA DAS LINHAS: O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO
CAMINHAR NA NOVA GRANDE ROTA DAS LINHAS DE TORRES (GR30) CONVIVER EM LOCAIS APRAZÍVEIS
####$
WWW.ITINERANTE.PT ! "#$#%& '#"%()
A primeira revista de pedestrianismo em Portugal Caminhar, Conhecer e Conviver - a Itinerante faz a ligação entre os trilhos pedestres que propõe e a história/cultura das regiões por onde passam, bem como a gastronomia/hotelaria locais.
trilhos !"# Por das Invasões Francesas
trilhos em redor !"$ Por dos Faróis de Portugal
!"#$%&'$"% Nº4 || Novembro 2010 - Fevereiro 2011
CAMINHAR WALKING
R
CONHECER KNOWING
INÉDITO: UMA BANDEIRA DA REPÚBLICA 5 DE OUTUBRO, UM ENSAIO DE LOURENÇO PEREIRA COUTINHO JOÃO DA SILVA, UM CHAUFFER INJUSTIÇADO ####& À CONVERSA COM EDUARDO NOBRE
R
Portugal Cont. 6,50!
CONVIVER SOCIALIZING
POR TRILHOS
DA REPÚBLICA PERCURSOS PEDESTRES
! "#$#%& ##"%'$ ####(
WWW.ITINERANTE.PT ! "#$#%& ##"%'$ ####!
trilhos do Caminho !"% Por Português de Santiago
! "#$#%& ##"%'$
!"& Por trilhos da República
Se ainda não o fez, comece agora a sua colecção Itinerante! !"#$%&'()'*$+,)-$#,.'!&,.)$/*0#(%)1&2$)&,(3$4'&5,1. -))/677+++8/*00(%)1&28%19
Pode assinar a Itinerante por 4 números em www.itinerante.pt/assinaturas ou adquirir os números que lhe faltam (pedido de informações para assinaturas@itinerante.pt)
1
!"#$%&#'( m ano depois, voltamos ao tema das Invasões Francesas, agora para nos dedicarmos em exclusivo às Linhas de Torres Vedras. Apesar de relativamente recente – faz agora “apenas” 200 anos –, este eficiente sistema defensivo é pouco conhecido dos portugueses. Foi no entanto determinante na defesa de Lisboa, na terceira invasão francesa; para muitos historiadores, o recuo de Masséna foi o primeiro sinal do declínio de Napoleão. Aproveitando os obstáculos naturais da região, este sistema incluiu quatro Linhas defensivas com uma extensão total de cerca de 90 km, 152 fortificações, estradas de ligação e sistema de comunicações – uma obra de engenharia formidável para a época e para os meios então disponíveis, construída em menos de quatro anos! Com o aproximar das comemorações do bicentenário da sua construção, os seis concelhos que abrangem as duas principais Linhas encetaram um trabalho conjunto de recuperação, valorização e divulgação do património, a Rota Histórica das Linhas de Torres. Este projecto incluiu, na vertente do pedestrianismo, o desenvolvimento da Grande Rota das Linhas de Torres (GR30), para além de percursos pedestres de Pequena Rota. É neste contexto que surge este número especial da Itinerante, no qual apresentamos e avaliamos diversos troços da nova GR30 e, como é nosso hábito, enquadramos o tema em termos históricos e culturais, com o contributo de individualidades de reconhecida competência no tema, e indicamos-lhe alguns bons locais para conviver e recuperar forças.
)
Supported by a grant from Iceland, Liechtenstein and Norway through the EEA Financial Mechanism. A ITINERANTE agradece a:
Miguel Gonçalo Guisado, cujo empenho e entusiasmo foram determinantes para o lançamento deste número; Carlos Guardado da Silva, que nos ajudou a “minorar” os erros históricos. Todos os que encontrar são da nossa responsabilidade; Associação Napoleónica Portuguesa; Biblioteca Nacional de Portugal (gravura de G. W. Terry-pág.26); Todos os que nas 6 autarquias nos ajudaram a tornar possível este projecto.
A year later here we are back to the subject of the French Invasions, this time to focus our attention exclusively on the Lines of Torres Vedras. Though quite recent – it is just celebrating its 200th anniversary – this efficient defense system is little known to the Portuguese. However, it was determinant to the defense of Lisbon during the 3rd French invasion; to many historians, Massena’s retreat was the first sign of Napoleon’s decline. Taking advantage of the natural obstacles of the region, this system included four defense lines with a total length of about 90 kilometres, 152 fortifications, link roads and a communication system – built in less than four years, it was a remarkable engineering work considering the time and the means then available! As the bicentenary celebration of the Lines construction is getting closer, the six municipalities which include the two main Lines undertook the collective task of recovery, enhancement and promotion of the heritage, the Historical Route of the Lines of Torres. Within the scope of pedestrianism this project comprises the development of the Great Route of The Lines of Torres (GR30) as well as pedestrian trails of the Small Route. It’s this context that accounts for this special issue of Itinerante where we present and evaluate several parts of the new GR30 and, as usual, situate the subject in its historical and cultural context with the help of some highly competent experts on the subject. We also provide information about some good places where to socialize and regain strength.
2
!"#$%&'!"# ()#*+,,)"#-)(,!" por LORD DOURO
ive o grande prazer de visitar as Linhas de Torres Vedras em três ocasiões diferentes. De cada vez fiquei maravilhado com a dimensão e importância estratégica das Linhas. Nenhum visitante pode deixar de ficar impressionado pelos fortes que ainda sobrevivem. Quando o meu antepassado, Sir Arthur Wellesley, a pouco tempo de se tornar Visconde Wellington, deu instruções para que se construíssem as Linhas, tomou, certamente, uma das melhores decisões da sua vida. A visão estratégica e o método prático de construção estão entre as acções mais eficazes tomadas por um comandante militar durante uma campanha. Teria sido difícil para ele imaginar que, um ano mais tarde, na retirada em direcção a Lisboa após a Batalha do Buçaco, poderia levar as suas tropas através das Linhas, para lugar seguro, com tanta facilidade. Os seus perseguidores franceses, sob as ordens do Marechal Masséna, foram impedidos de continuar o seu caminho e
$
tiveram que recuar em mau estado. Alguns anos atrás, decidi que tinha que tentar visitar, antes dos respectivos bicentenários, os locais de batalha do meu antepassado. Esta decisão levou-me, em 2007, guiado com perícia por Pedro Avilez, a visitar alguns dos fortes nas Linhas de Torres Vedras e a Roliça e Vimeiro. Em 2008 visitei os lugares onde o exército britânico atravessou o Douro e entrou no Porto. Nesse mesmo ano, depois de visitar o Buçaco, mais uma vez não consegui resistir a visitar as Linhas de torres Vedras. As Linhas e os seus fortes foram construídos por dez mil milícias portuguesas e artífices: o facto de tantas destas fortificações terem sobrevivido durante duzentos anos revela a qualidade da sua construção e projecto. Qualquer visitante facilmente imagina estes fortes ainda com a sua artilharia e soldados vigiando a passagem para Lisboa. Já visitei muitos locais de campos de batalha nos últimos quatro anos, e muito poucos conservam vestígios das grandes batalhas aí travadas
THE LINES OF TORRES VEDRAS By Lord Douro I have had the great pleasure to visit the Lines of Torres Vedras on three different occasions. Each time I have marvelled at the scale and strategic importance of the Lines. No visitor can fail to be impressed by the forts which still survive. When my ancestor, Sir Arthur Wellesley, shortly to become Viscount Wellington, gave instructions for the Lines to be built, he surely took one of the best decisions of his life. The strategic foresight and the practical method of construction are among the more effective moves made by a military commander during a campaign. It would have been difficult for him to imagine that a year later, when falling back towards Lisbon after the Battle of Buçaco, he could take his troops through the Lines to their sanctuary with such ease. The pursuing French under Marshal Massena, were stopped in their tracks and eventually had to withdraw in a sorry state. Some years ago, I decided that I must try and visit, before the respective bicentenaries, the battlefield sites of my ancestor. This took me in 2007, under the expert guidance of Pedro Avilez, to visit several of the forts in the Lines of Torres Vedras and to Roliça and Vimeiro. In 2008, I visited the places where the British Army crossed the Douro and entered Oporto. That same year, after visiting Buçaco, I could not resist again visiting the Lines of Torres Vedras.
3
no passado. Mas nas Linhas de Torres Vedras há vestígios desses em abundância e são tremendamente evocativos. Em Março de 2010 fui convidado para percorrer as linhas a cavalo, e de facto tive a sensação perfeita que eu e o meu cavalo (gentilmente cedido por Gonçalo de Vasconcellos Guisado) pisávamos as mesmas estradas e trilhos que o meu antepassado e os seus homens tantas vezes deviam ter percorrido. Não há melhor maneira de vivenciar a história da defesa de Portugal em 1810 do que esta. A Batalha do Buçaco, em 1810, a cujo bicentenário acabei de assistir, e a criação e construção das Linhas de Torres Vedras trouxeram para um novo plano a aliança entre Portugal e Inglaterra. O sucesso das forças Anglo-Portuguesas na Guerra Peninsular foi considerável, e as Linhas são um dos lugares mais emocionantes onde se pode verificar este sucesso. Espero que os leitores deste artigo se sintam tentados a visitar as Linhas de Torres Vedras quando estiverem em Portugal. Lord Douro é tetraneto de Arthur Wellesley, 1º Duque de Wellington, comandante-chefe do exército aliado aquando da Guerra Peninsular. Lord Douro is the great-great-great-grandson of Arthur Wellesley, first Duke of Wellington, commander-in-chief of the allied army in the Peninsular War.
The Lines and their forts were built by ten thousand Portuguese militia and craftsmen. The fact that so many have survived for two hundred years demonstrates the quality of their construction and design. It is so easy for a visitor to imagine these forts still with their cannon and their soldiers guarding the passage towards Lisbon. I have visited many battlefield sites in the last four years but so few retain any evidence of the great battles once fought. But the lines of Torres Vedras have evidence in plenty and are extremely evocative. In March 2010, I was invited to ride on horse-back along the Lines. I really felt that I and my horse (kindly lent to me by Gonçalo de Vasconcellos Guisado) were treading the same roads and paths which my ancestor and his staff must have ridden over so many times.There is no better way to experience the history of the defence of Portugal in 1810. The Battle of Buçaco in September 1810 (the bicentenary of which I have just attended) and the creation and construction of the Lines of Torres Vedras brought to a new level the alliance between Britain and Portugal. The successes of the Anglo-Portuguese forces in the Peninsular War were considerable. One of the most exciting places to visit to see this success is the Lines. I hope that anyone who reads this article will be tempted to explore the Lines of Torres Vedras when they are next in Portugal.
#*"#+! Propriedade e Edição: Itinerante - Divulgação Histórica e Cultural, crl. NIPC 508951500 Morada (Sede/Redacção): Rua Abranches Ferrão, 23-3º, 1600-296 Lisboa info@itinerante.pt www.itinerante.pt
AS LINHAS DE TORRES VEDRAS por Lord Douro
CONHECER CONTEXTO HISTÓRICO
AS LINHAS DE TORRES VEDRAS
ESTANTE
GLOSSÁRIO PARA “ENTENDER” UM REDUTO LINHAS DE TORRES VEDRAS; REGRESSO AO PASSADO, UMA VIAGEM AO FUTURO CENTROS DE INTERPRETAÇÃO DAS LINHAS DE TORRES GUERRA PENINSULAR – UMA PERSPECTIVA PORTUGUESA por Clive Gilbert
Direcção: Nuno Gama Nunes Redacção: José Constantino Costa (coordenador CONHECER) - jose.costa@itinerante.pt Nuno Gama Nunes (coordenador CAMINHAR) - nuno.nunes@itinerante.pt Carlos Vaz (coordenador CONVIVER) - carlos.vaz@itinerante.pt Carlos Oliveira Frederico Gonçalves Tratamento de imagem: Luís Ribeiro - luis.ribeiro@itinerante.pt Tradução: Casimira Albuquerque Maria João Batalha Reis 4VSHYpnS +Vj½GE Joana Oliveira Susana Gama Web Design: CoreFactor - IT Consulting & Design Publicidade: publicidade@itinerante.pt
O EXÉRCITO FRANCÊS por Cristina Clímaco
A EFÉMERA GLÓRIA DE MARCOS PORTUGAL
VESTÍGIOS A LATA DOS FRANCESES... E DOS INGLESES TAMBÉM! A 6ª MARCHA DOS FORTES – DE SOL A SOL, 200 ANOS DEPOIS
Assinaturas: assinaturas@itinerante.pt Impressão: 7-+ 7SGMIHEHI -RHYWXVMEP +Vj½GE Rua Pêro Escobar, 21 2680-574 Camarate Distribuição: Logista Portugal Tiragem: 10.000 exemplares
SEGREDOS DA SERRA por Alison Roberts
O RAID DAS LINHAS DE TORRES VEDRAS. UM CASO DE SUCESSO por Gonçalo Guisado
Periocidade: Quadrimestral Registo ERC nº 125763 Depósito Legal nº 301328 / 09 ISSN nº 1647-4082
02
FOGO À PEÇA!! por Marco Noivo
16 17 18 20 24 40 42 44 50 52 53 55 56 58 60
CAMINHAR
62 64 65 69 73 77 81 85
LOCALIZAÇÃO DOS TRILHOS
INFORMAÇÕES SOBRE OS TRILHOS DO FORTE DE S.VICENTE AO FORTE DO GRILO DA SRA. DO SOCORRO AO FORTE DO ALQUEIDÃO DO FORTE DO ALQUEIDÃO AO FORTE DA CARVALHA DO FORTE DA CARVALHA AO FORTE DA AGUIEIRA DO FORTE DA AGUIEIRA AO FORTE DE MONTACHIQUE
DO FORTE DO ZAMBUJAL A RIBAMAR
CONVIVER
90 91 92 93 94 95 96
DO RAPOSO PARA O REPOUSO
A CRIATIVIDADE NO MERCADO
AQUI O TEMPO TEM MAIS VALOR
DE TORTO NÃO TEM NADA
UM RESTAURANTE QUE NOS CAÇA
UMA COZINHA A REGRESSAR
LEMBRAR AS LINHAS DE TORRES VEDRAS por D. Manuel Clemente
6
7
Infantaria de Linha inglesa fazendo fogo. )RWRJUDĂ€D GH /XLV 5LEHLUR
14
Soldado da King!s German Legion (KGL), tropa de Infantaria Ligeira ao serviço da Grã Bretanha )RWRJUDÀD GH &RURQHO 5LEHLUR GH )DULD
15
!"#$%!%& '#"()#*
16
!"#!$%&'%!"()*%+,)#!" -.*")$/.*0&*"1,.$#&*.* &"-."#!$*%,234!"-.*"5)$(.*"-&"%!,,&*"/&-,.* 6 1
o início do século XIX, Portugal fica no centro das atenções na Europa. Napoleão Bonaparte quer expandir o império francês e, para isolar a rival Inglaterra, decreta o Bloqueio Continental – os portos dos países então submetidos ao império gaulês ficam interditos aos navios ingleses. Portugal, velho aliado dos britânicos, ao desafiar o Bloqueio Continental, vê-se envolvido – e de que maneira – na disputa entre França e Inglaterra pela hegemonia da Europa e “obriga” Napoleão a invadi-lo.
!
São três as investidas gaulesas a território luso: a primeira invasão dá-se em Novembro de 1807, sob o comando do general Junot. A Família Real parte para o Brasil, Junot ocupa Lisboa e assume a presidência do conselho de Governo, mas as tropas anglo-lusas, comandadas pelo general Arthur Wellesley (mais tarde Duque de Wellington), levam a melhor sobre os franceses nas batalhas da Roliça e Vimeiro e, em Agosto de 1808, após a assinatura da Convenção de Sintra, os franceses abandonam Portugal. Em Março do ano seguinte, o exército gaulês, agora comandado pelo marechal Soult e aproveitando o embalo dado pela vitória na Galiza, invade novamente o país, ocupando o Porto. Dois meses depois, as tropas aliadas vencem a batalha do Douro e obrigam Soult a sair de Portugal. Temendo uma terceira invasão 4 francesa – que viria a acontecer, em 1810, comandada por Masséna –, o general Wellington organiza a defesa de Lisboa, através de um conjunto de fortificações em torno da capital. Os trabalhos de construção iniciaram-se no Outono de 1809 e, em menos de um ano, construíram-se, no maior segredo, 126 obras, entre fortificações permanentes e outras de carácter temporário. O aperfeiçoamento das Linhas de Torres de Vedras continuou até 1812 – Wellington acreditava que Napoleão não desistiria de conquistar Portugal. No total foram erguidas 152 obras, entre redutos e baterias, apetrechadas com 523 bocas-de-fogo. 1- Jean-Andoche Junot (1771/1813) 2- Arthur Weslesley (1769/1852) 3- Napoleão Bonaparte (1769/1821)
4- Nicolas Jean-de-Dieu Soult (1769/1851) 5- André Masséna (1758/1817)
3
2
The historical context of the French Invasions and of the construction of the Lines of Torres Vedras At the beginning of the 19th century Portugal attracts all Europe’s attentions. Napoleon Bonaparte wants to expand the French empire and decrees the Continental Blockade in order to isolate England the rival country – all the ports under the Gallic empire are closed to English ships. Portugal, an ancient ally of the British, defies the Continental Blockade thus getting involved – and to what extent! – in the dispute between France and England for the supremacy over Europe and “forces” Napoleon to invade the country. There were three Gallic onslaughts into Lusitanian lands: the first invasion takes place in November 1807 under the command of General Junot. The Royal Family escapes to Brazil, 5 Junot occupies Lisbon and assumes the presidency of the Government, but the Anglo-Portuguese troops commanded by General Arthur Wellesley (later to become Duke of Wellington) defeat the French at Roliça and Vimeiro and, in august 1808 following the signing of the Sintra Convention the French leave Portugal. In March next year and after a victory in Galicia, the Gallic army now commanded by Marshal Soult invades the country again and occupies Oporto. Two months later the allied troops win the battle at Douro and force Soult to leave the country. Fearing a third French invasion, which would occur in 1810 under the command of Massena, general Wellington organizes the defense of Lisbon and builds several fortifications around the capital. The construction work begins in the autumn of 1809 and in less than a year 126 units were built in the utmost secret: some were permanent fortifications, others temporary. The improvement of the Lines of Torres went on till 1812 because Wellington believed Napoleon wouldn’t give up conquering Portugal. A total of 152 fortifications were built, blockhouses and batteries included, equipped with 523 cannons.
17
.*"5)$(.*" -&"%!,,&*"
/&-,.*
1ª linha tinha uma extensão de 46 quilómetros e ligava Alhandra à foz do rio Sizandro, em Torres Vedras. Foi organizada em termos defensivos e funcionava em linha com as obras que tinham sido construídas nas elevações do Sobral do Monte Agraço e de Torres Vedras. Como reforço das posições elevadas, foram preparados dispositivos para inundar os terrenos junto ao rio Tejo, para dificultar o atravessamento do rio e a progressão por estrada. Os flancos das Linhas eram reforçados por flotilhas de navios ingleses, que constituíam verdadeiras baterias flutuantes.
"#
A 2ª linha tinha uma extensão de 39 quilómetros e estendia-se da Póvoa de Santa Iria a Ribamar (junto à foz do Safarujo), interceptando os desfiladeiros de Bucelas, Montachique e Mafra. Apoiava-se nas serras de Fanhões e Serves, no Cabeço de Montachique e na serra de Chipre. Havia duas outras linhas, mas já fora da região: a 3ª linha tinha três quilómetros de extensão e ligava Paço de Arcos à Torre da Junqueira e foi pensada para proteger a zona onde, em caso de necessidade, embarcaria o exército britânico. A 4ª linha tinha uma extensão de 7,5 quilómetros, ligando a zona da Mutela (junto a Cacilhas) ao alto da Raposeira, na Trafaria. Tinha como funções garantir a segurança no momento de um eventual embarque e controlar a acção do inimigo na península de Setúbal.
The Lines of Torres Vedras The 1st line was 46 kilometers long and connected Alhandra with the mouth of the Sizandro river in Torres Vedras. It had been organized for defense purposes and it worked in line with the forts that had been built on the hills of Sobral do Monte Agraço and Torres Vedras. In order to strengthen the high sites devices had been prepared to flood the land near the Tagus river and thus make more difficult the crossing of the river and the advance by road. The sides of the Lines were protected by English flotillas, which were true floating batteries. The 2nd line was 39 kilometres long and stretched from Póvoa de Santa Iria to Ribamar near the mouth of the Safarujo river. It intersected with the gorges of Bucelas, Montachique and Mafra. It was set up on the mountains of Fanhões and Serves, on Montachique hilltop and on Chipre mountain. There were two other lines but they were outside the region: the 3rd line was three kilometers long and connected Paço de Arcos with Torre da Junqueira. It had been planned to protect the site where the British Army would embark if the need be. The 4th line was 7.5 kilometres long and joined the area of Mutela, near Cacilhas, to the top of Raposeira, in Trafaria. Its role was to assure safety at the moment of a probable embark and to control the enemy’s action in the peninsula of Setúbal.
24
!"#$%&'()'''' ,).,)&&+'%+'/%&&%(+0' 12%'-"%.)2'%+'31*1,+ por FREDERICO GONÇALVES
NO ANO EM QUE SE COMEMORA O BICENTENÁRIO DAS LINHAS DE TORRES VEDRAS, A ITINERANTE RECUA DOIS SÉCULOS E VAI AO BAÚ DAS MEMÓRIAS RECORDAR EPISÓDIOS QUE MARCARAM A PASSAGEM DE INGLESES E FRANCESES, DURANTE A GUERRA PENINSULAR.VAI TAMBÉM OLHAR PARA O FUTURO, DESCOBRINDO O QUE ESTÁ A SER FEITO NOS SEIS MUNICÍPIOS ONDE FORAM ERGUIDAS AS LINHAS DEFENSIVAS – LOURES,VILA FRANCA DE XIRA, ARRUDA DOS VINHOS, SOBRAL DE MONTE AGRAÇO, MAFRA E TORRES VEDRAS – PARA QUE NÃO CAIA NO ESQUECIMENTO UMA DAS MAIORES OBRAS DE ENGENHARIA MILITAR, A NÍVEL MUNDIAL, DETERMINANTE E DECISIVA PARA PORTUGAL E PARA A EUROPA QUE HOJE CONHECEMOS.
O Monumento a Hércules nasceu da iniciativa do marquês Sá da Bandeira, por volta de 1870, para comemorar a defesa das Linhas de Torres Vedras. Entregue o projecto ao tenente-coronel Joaquim da Costa Cascais e a estátua ao escultor Simões de Almeida, ficou concluído em 1883.
sta é uma história com 200 anos. E é, certamente, uma história que vai perdurar com o passar do tempo. É acerca de um dos momentos mais marcantes da História de Portugal, para muitos na génese do Portugal Contemporâneo, embora seja, por vezes, um pouco esquecido.
!
É um facto: nem todos os portugueses estão familiarizados com a construção das Linhas de Torres Vedras, sendo várias as perguntas que se colocam quando se fala sobre este tema. É a resposta a algumas delas que tentaremos dar, com base nas conversas informais que tivemos com representantes dos seis municípios que albergam as fortificações das Linhas. Nestas conversas focámos dois pontos essenciais – o passado e o futuro –, através de episódios significativos que aí aconteceram há 200 anos e do que está a ser feito em prol do património histórico e cultural das Linhas. Iniciemos a nossa viagem...
LINES OF TORRES VEDRAS; RETURN TO THE PAST AND A JOURNEY INTO THE FUTURE In this year of celebrations of the bicentennial of the Lines of Torres Vedras, Itinerante goes back two centuries in time and opens the memories chest in order to recall episodes that marked the passage of British and French troops during the Peninsular War. It will also look into the future and discover what is being done in the six municipalities where the defensive lines were built – Loures, Vila Franca de Xira, Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço, Mafra and Torres Vedras – so that one of the world’s greatest works of military engineering that was decisive to Portugal and to Europe as we know them is not forgotten. This is a 200 year old story. And it is certainly a story that will persist over time. It is about one of the most important moments of the History of Portugal. For many it also is at the origin of contemporary Portugal, although this is nowadays somewhat forgotten. It is true - not every Portuguese is aware of the construction of the Lines of Torres Vedras and many questions arise when this topic is mentioned. We will try to provide an answer to some of them on the basis of informal conversations that we have had with representatives of the six municipalities within which the fortifications of the Lines of Torres are located. In these conversations two essential points were focussed – the past and the future – through meaningful episodes that happened there 200 years ago as well as what is being done in order to preserve the historical and cultural heritage of the Lines. Let us start our journey...
25
'''''*+,,)&'-)(,%& Vila Franca de Xira: a importância do rio Tejo
Nos arredores de Lisboa, Vila Franca de Xira é o nosso primeiro ponto de paragem. E a conversa com Carlos Silveira, do Museu Municipal, começa de forma interessante: “Entre os seis concelhos onde foram construídas as Linhas, Vila Franca tem uma particularidade: a ligação ao rio. O flanco direito das Linhas de Torres acabava no rio e foi uma vantagem ter a marinha britânica com navios de guerra ancorados nas águas fronteiras a Alhandra e 12 a 14 lanchas-canhoneiras a defender o Tejo. As tropas francesas não conseguiam passar para o outro lado, para a margem sul, para tentar alcançar Lisboa, por exemplo, por Almada”. Wellington, desde a primeira hora, sabia da importância do rio Tejo e no documento que redigiu com as instruções a seguir para a defesa de Lisboa das invasões, escreveu: “Examinar a ilha no rio, defronte de Alhandra, determinar o local e calcular os meios e o tempo necessários à montagem de baterias no local, para se defenderem os acessos a Alhandra.”
Reflexo da actividade dos navios de guerra estacionados no Tejo, Carlos Silveira recorda o que se passou com Sainte-Croix, um oficial francês: “Há o episódio, referido em vários testemunhos franceses, da morte do general de cavalaria Sainte-Croix, atingido a tiro por uma lancha-canhoneira. Terá sido um tiro de aviso, mas há relatos que dizem que ficou dividido em dois”. Adianta que, com a morte do general, a ideia de atacar directamente as linhas se perdeu um pouco: “Ele era um dos braços direitos do General Masséna e, ao que parece, um dos grandes defensores do ataque.” Outro episódio histórico passou-se na região de Calhandriz: “Foi no dia 16 de Outubro de 1810 que aconteceu o episódio do reconhecimento do marechal Masséna. Os reconhecimentos que os franceses tinham feito anteriormente referiam alguma debilidade daquela zona e consideravam a possibilidade de tornear a posição de Alhandra para conquistar Alverca. Masséna quis confirmar. Foi então que, da obra militar nº 120, o
Vila Franca de Xira: the importance of the Tagus River Vila Franca de Xira is our first stop. And the conversation with Carlos Silveira, curator of the Municipal Museum, starts in an interesting way: “Of the six municipalities where the Lines were built, Vila Franca presents a particular aspect: its connection with the river. The right flank of the Lines of Torres ended at the river and it was advantageous to have the British Navy warships anchored in the waters opposite to Alhandra and 12 to 14 gunboats defending the Tagus river. The French forces were therefore not able to cross to the other margin, from where they could reach Lisbon for instance through Almada”. As an example of the activity of the warships that were stationed in the Tagus river, Carlos Silveira speaks about what happened to the French general Sainte-Croix, who was hit by a shot fired by a gunboat. Another historical episode happened in the Calhandriz region: “On the 16th October 1810, while undertaking a reconnaissance operation Marshal
Masséna was almost hit by a shot fired by the gunners in the Serra do Formoso Redoubt. Legend has it that Masséna raised his hat and bowed in salute to the quality of the shooter and rode off ”, explains Carlos Silveira. Although indirectly, Quinta da Subserra in the outskirts of Vila Franca de Xira, is also connected with the Invasions. After having fought on the French side while belonging to the Portuguese Legion, general Pamplona went to live there. Within the scope of the celebrations of the 200th anniversary of the Lines of Torres, Vila Franca de Xira has already carried out visible work. For instance, the Monument to the Lines of Torres, better known as the “Monument to Hercules”, has been restored and there is a plan to restore three groups of fortifications: 2 in Alhandra, on the first line, 3 in Serra da Aguieira (Monte Serves) and Forte da Casa, where the Interpretation Centre of Vila Franca de Xira will be established. More knowledgeable now, we leave Vila Franca to “discover” another municipality...
A MORTE DE SAINTE-CROIX, CONTADA PELO GENERAL BARÃO DE MARBOT “Esperávamos um ataque em simultâneo em toda a linha, quando o general Sainte-Croix, que o tinha aconselhado, foi morto por um tiro de canhão à frente de Vila Franca! Este excelente oficial fazia, juntamente com o general Montbrun, um reconhecimento de Alhandra e percorria o rio Tejo, que era cruzado por várias chalupas portuguesas que direccionavam o fogo para a nossa vanguarda, quando uma bala camuflada de ramos veio cortar em dois o desafortunado Sainte-Croix! Foi uma perda imensa para o exército, para Masséna e sobretudo para mim, que o amava como a um irmão!...”
Carlos Silveira “explica” a gravura. “É uma gravura extraordinária e diria quase única. Vê-se Alhandra, Vila Franca de Xira, as fragatas da marinha britânica a patrulharem o Tejo e as lanchas-canhoneiras a dispararem contra Vila Franca. Há outro aspecto muito interessante: os escarpamentos, feitos a pique para evitar a progressão das tropas. O escarpamento, na zona de Alhandra, teria cinco a seis metros de altura...”
44
#$%&'()*+#$,(-.)/0
por CRISTINA CLÍMACO
" !
armée de Portugal, assim se designa o exército que Napoleão formou em Abril de 1810 para a conquista do país, põe-se oficialmente em marcha a 16 de Setembro de 1810, após ter passado o Verão nos cercos e conquista de Ciudad Rodrigo e Almeida. Esta última praça capitula a 27 de Agosto, mas as dificuldades de preparação da expedição, nomeadamente em termos de constituição de uma reserva alimentar, da falta de transportes e da insuficiência de munições atrasam a entrada em Portugal até esta data. O exército põe-se finalmente em marcha mas os problemas não tinham sido completamente ultrapassados, pelo que o exército francês entra em Portugal insuficientemente preparado para os obstáculos com que se deparará no caminho até Lisboa, o primeiro dos quais é o mau estado das estradas que parte e avaria os, já por si insuficientes, carros, cujo carregamento tem de ser abandonado ou transportado por outros veículos, aumentando o peso da carga dos exaustos animais. O exército francês comandado pelo marechal Masséna, Prince d’Essling e duque de Rivoli, é composto por três corpos: 2°, 6° e 8°, à cabeça dos quais se encontram o général Reynier, o marechal Ney e o general Junot, para além da cavalaria comandada pelo general Montbrun, da artilharia do general Eblé, do corpo de engenheiros… Um total de 60 mil homens, segundo os cálculos de Napoleão, mas que na realidade estava já bastante desfalcado quando entra em Portugal, não passando dos 46.172 homens segundo os relatórios de quinzena. Segundo o 1° ajudante de campo de Masséna, o então chefe de batalhão Pelet, este número seria, no entanto, pouco superior a 40 mil homens aptos ao combate. A marcha até Viseu é extremamente penosa, em particular para a artilharia que se arrasta na retaguarda com praticamente dois dias de atraso relativamente ao grosso do exército, obrigando Masséna a decretar uma pausa para reunião das tropas e reparação dos carros desta arma. Espíritos menos bem intencionados dirão que a paragem se ficou a dever às fadigas de uma senhora, Madame de Lebrentron, que acompanhava Masséna desde a expedição à Calábria. A 27 de Setembro, os exércitos anglo-português e francês encontram-se no Buça-
co, mas os franceses, apesar de derrotados, continuam a sua marcha em direcção à capital. A divisão do general Loison, que abriu a marcha até ao Buçaco, cede o lugar a uma avançada comandada pelo general Montbrun, composta por tropas de cavalaria (1°, 2° e 3° regimentos provisórios de dragões, 1° e 3° regimentos de hussardos, e 15° e 22° regimentos de caçadores), alguma infantaria (15° regimento de infantaria ligeira e 46° e 65° regimentos de infantaria de linha) e por uma companhia de artilharia a cavalo, que marcha com um dia de avanço relativamente ao resto das tropas. Após Coimbra o avanço é bastante rápido e os franceses seguem de muito perto a retaguarda do exército aliado com a qual têm alguns confrontos. A avançada chega a Pombal a 5 de Outubro, a Molianos a 7, a Rio Maior a 8, a Alcoentre a 9 (se bem que os piquetes comandados pelo general Sainte-Croix tivessem aqui chegado na véspera). As instruções recebidas são as de reconhecer a estrada real
O marechal Masséna, Príncipe de Essling e duque de Rivoli, foi o comandante do exército francês, à conquista de Portugal, no Verão/Outono de 1810.
45
em direcção a Lisboa e a estrada transversal para o Sobral, pontos imediatamente identificados como determinantes para a conquista da capital. A 10 de Outubro Montbrun está em Alenquer e a 11 o promissor general de brigada Sainte-Croix, com apenas 23 anos, é atingido mortalmente em Povos por um tiro lançado de uma canhoneira da chamada bateria do Tejo. Masséna passa o dia de 11 de Outubro em Alcoentre para reunir as tropas ainda na retaguarda e esperar o resultado dos reconhecimentos efectuados pela avançada sobre Santarém e Alenquer. É aqui que recebe as primeiras notícias concretas sobre as Linhas de Torres Vedras, enviadas pelo general Pamplona que integrava a avançada e obtidas de prisioneiros ingleses, segundo as quais as cumeadas de Mafra e a serra de Montachique estavam a ser fortificadas e que em Alhandra, no local onde a estrada real passava junto ao rio, tinham sido colocados abatizes e canhões de grande calibre. Masséna despacha de imediato o responsável pelo corpo de engenheiros, o general Lazouwski, para Alenquer, para onde transfere no dia seguinte o seu quartel-general. A 12 de Outubro os três corpos de l’armée de Portugal ocupam as posições que lhe foram consignadas por Masséna, entre o Tejo e o Sobral. O 2° corpo concentra-se no terreno compreendido entre Vila Franca (divisão Heudelet), Castanheira (divisão Heudelet), Cadafais e Cachoeira (cavalaria) e Carregado (divisão Merle), onde também se instala o quartel-general. O 8° corpo espraia-se entre a direita da Arruda e a Caixaria, povoação onde Junot acabará por instalar o seu quartel-general, muito provavelmente na Quinta da Conceição, e que constituirá o extremo direito da linha de ocupação do exército francês, com a cavalaria em S. Domingos. O 6° corpo do marechal Ney protege a retaguarda dos corpos de
Os efeitos da passagem do exército francês pelas quintas da região são ainda visíveis em algumas delas. É o caso da Quinta da Abrigada; o chão, mas sobretudo o tecto chamuscado da capela são prova das atrocidades cometidas. Aqui, faziam-se fogueiras...
Reynier e Junot, tendo a sua esquerda em Vila Nova da Rainha (divisão Marchand), centro na Ota (divisão Mermet) e a direita na Pipa (divisão Loison), e o quartel-general no Moinho de Cubo (transferido a 7 de Novembro para a Azambuja). Enquanto isso, o general Treillard, posto ao serviço do 6° corpo com tropas de cavalaria, é enviado para Alcoentre para vigiar os destacamentos aliados que viessem de Peniche e Óbidos. Mais tarde, já no final da estadia frente às Linhas, mudar-se-á para Tagarro devido ao esgotamento de subsistências para os cavalos. A cavalaria do 6° corpo é enviada para Porto de Mugem, onde mais tarde a administração instalará um depósito de reserva de cereais. Masséna passa os primeiros dias a reconhecer as Linhas de Torres Vedras; a 13 desloca-se a Vila Franca, a 14 ao Sobral onde lança o ataque sobre o Outeiro para observar e determinar a força dos Aliados e a 15 novamente a Vila Franca. A 16 de Outubro toma a decisão de não atacar as Linhas de Torres Vedras. Esta decisão conta com o apoio de Ney e Reynier, mas tem a oposição de Junot, que pretendia passar entre Mafra e o mar. Analisando a posição do inimigo, entrincheirado por detrás de três linhas, e os meios de que o seu exército ainda dispõe, Masséna prefere não jogar o futuro da expedição num ataque incerto – por um lado as perdas não poderiam ser substituídas e, por outro, um fracasso implicaria o fim desonroso da campanha portuguesa, numa altura em que a águia imperial não tinha ainda sofrido uma derrota de vulto. A primeira razão apresentada prende-se com a disposição dos redutos no terreno e os meios de defesa que apresentam, que não permite atacá-los, e ainda com a certeza de que o inimigo se refugiaria por detrás da 2° linha mesmo que conseguissem passar a 1°.
60
!"#"$%$&'()** por MARCO ANTÓNIO NOIVO
Marco António Noivo. Guia-intérprete.
s sentidos vão sendo despertados desde o primeiro instante em que entramos no forte e olhamos o vale à frente e os outros montes, qual muralha, à esquerda e à direita da nossa posição. Junto ao que resta do parapeito de 2m, entre as canhoneiras onde já não estão os canhões, podíamos subir para a banqueta e assumir a nossa posição de disparo sobre o parapeito. Inspiramos fundo e o ar fresco é bem diferente do que seria há 200 anos. Nuvens de fumo denso dos disparos da artilharia iriam cegar-nos, a garganta seca ficaria ainda mais áspera e, assim que rasgarmos com os dentes a ponta do cartucho e depositarmos uma parte da pólvora na caçoleta e o restante pela boca do mosquete, ficamos com o sabor salgado e forte da pólvora entranhado. Três disparos num minuto e ardem os olhos, o rosto fica enegrecido e com queimaduras das muitas faíscas que saltam. O tambor dá o toque de recarregar, o oficial inglês grita “PRIME AND LOAD!”. Avança contra nós a coluna francesa, baionetas apontadas e em Pas de Charge. Os tambores calam-se e ouve-se o grito que ecoou vitorioso por toda a Europa: “VIVE L’EMPEREUR!”. Nós respondemos instintivamente a plenos pulmões “PORTUGAAAAAAL!”. Abafa-os a valentia que ressoa por toda a guarnição de 250 homens. “MAKE READY!”, grita o sargento. Está armado! “PRESENT!” Está apontado! O silêncio e os artilheiros a carregar! Mas eles cantam?! Os franceses vêm a cantar! “FIRMES!”, gritam os oficiais portugueses! 30 passos... 25 passos... Já lhes vemos o branco dos olhos e as ganas de cá chegar acima! “FIRE!” Olhos fechados, o coice da arma, o Manel moleiro que cai morto ao vosso lado e o estrondo das nossas quatro peças de calibre 9. Tudo ao mesmo tempo! Que razia! A coluna grita, contorce-se com a carnificina da granada Shrapnel. Explode por cima dos homens, espalha esferas que abrem clareiras entre os uniformes azuis e brancos manchados de vermelho. O treino dos nossos cinco artilheiros por cada peça, conseguem uns mortíferos quatro disparos por minuto. Eles que venham cá acima! Já fogem!
!
Uma visita guiada a um forte podia começar assim. Cada visita, cada discurso é diferente. A exposição do Guia-Intérprete Oficial apela aos sentidos, invoca factos e vivências. Baseia-se no rigor histórico, na investigação e no estudo do terreno. Porém, desengane-se quem acha que o trabalho do guia se reduz ao domínio da história. No desempenho da nossa profissão, desenvolvemos a análise e a correcta reacção ao comportamento dos indivíduos, garantimos a operacionalidade do Tour e controlamos o esforço do grupo. Através de dinâmicas, promovemos a participação e o interesse. Gerimos as expectativas, as motivações e as frustrações das pessoas. Este trabalho técnico resulta do treino e da formação específica onde ganhamos consciência do efeito catalisador do Guia-Intérprete. Guiar nas Linhas de Torres é uma experiência transversal e abordamos temas como: botânica, geologia, fósseis, fauna, avifauna, história militar, tradições. O vocabulário técnico nas várias línguas é dominado e explicado, adequando a informação e o discurso. A visita às Linhas com os mais jovens é apaixonante e surgem as questões mais extraordinárias. As visitas são sempre um desenrolar de histórias paralelas à história. Pessoas que no estrangeiro dedicaram longos anos de estudo à Guerra Peninsular, ou os que vêm venerar estes locais plenos de significado familiar. –“Aqui na Roleia [Roliça] combateu um antepassado meu! E combateu na Batalha de Vimiera [Vimeiro] também!“. Assumi a missão de reencontrar e divulgar a memória das Linhas e das gentes que aqui combateram. Um facto curioso: conhece a música “Eu perdi o Dó da minha guitarra...”? É uma canção que tem origem na marcha militar napoleónica La chanson de L’oignon onde o “É bom camarada! É bom camarada! É bom! É bom! É bom!”, era gritado pelos franceses no Passo de Carga, o Pas de Charge. “Au pas camarade! Au pas camarade! Au pas! Au pas! Au pas!”. Era esta a canção que a coluna vinha a cantar quando nos atacava. No final desafinaram.
61
!"#$%&"' (")*$%+
END
62
"!##$%&'$(#)%
Do Forte de S.Vicente ao Forte do Grilo
1
END
%!1#)*&($&,!/"$&)2#)3!& 4
Da Sra. do Socorro ao Forte do Alqueid達o
2
)##+()&(!%&'./0!%
Do Forte do Alqueid達o ao Forte da Carvalha
,)-#)
Do Forte do Zambujal a Ribamar
3
6 *!+#$%
Do Forte da Aguieira ao Forte de Montachique
5
63
#+,GRANDE ROTA DAS LINHAS DE TORRES
A Itinerante apresenta em primeira mão esta nova GR através de seis etapas seleccionadas e representativas de cada um dos concelhos atravessados. Apesar de a Grande Rota poder ser percorrida nos dois sentidos, seleccionámos um deles, o do “ponteiro dos relógios”, para fazermos a “Descrição do Trilho”, uma vez que a marcação no terreno está ainda, nesta fase, incompleta.
END
END
'.*)&-#)/5)&($&6.#)
Do Forte da Carvalha ao Forte da Aguieira
END
4 END
64
./-!#,)37$%&%!1#$ 4 !%&"#.*0!% TIPO | Circular ou não circular. TYPE
Circular or non circular.
OUTROS SÍMBOLOS OTHER SYMBOLS
Circular: que termina no ponto de partida.
Existência (ou não) de WC público no trilho.
Não circular: que não termina no ponto de partida.
Existência (ou não) de locais de abastecimento no trilho.
Public toilets available/not available along the trail.
Circular: it starts and ends at the same place.
Non circular: it does not end at starting point.
Refreshments available/not available along the trail.
Localidade mais próxima.
DIFICULDADE | Avaliação do nível de dificuldade física
atribuído, resultante da avaliação do conjunto de características do trilho que influenciam a progressão: distância, ascensão total, tipo de piso, duração do esforço.
DIFFICULTY
Level of physical difficulty resulting from the assessment of the trail’s features that may influence the walking activity: distance, total ascent, type of terrain, effort duration.
Muito baixa | Very low Baixa | Low Média | Moderate Alta | High Muito alta | Very high
DISTÂNCIA | Distância total a percorrer (Km). Total walking distance (Km).
DISTANCE
Nearest town.
CARACTERÍSTICAS FEATURES
Não aconselhável em tempo invernoso. Not advised in winter weather.
Não aconselhável em tempo muito quente. Not advised in very hot weather.
Com muita lama em tempo de chuva. Very muddy in rainy weather.
Escorregadio em tempo de chuva. Slippery in rainy weather
Pouco arborizado, pouca sombra. Few trees, little shade.
Obrigatório o uso de botas - piso difícil, irregular. Boots are compulsory – hard, irregular surface.
Desaconselhado o uso de calções/ saias - passagem por vegetação muito densa.
Shorts / skirts not advised – passes through very dense vegetation.
Paisagem muito bonita.
DURAÇÃO |Duração média total, em função da distância e da
Superb scenery.
dificuldade de progressão (horas e minutos).
TIME
Total time required according to the distance and the difficulty level (hours and minutes).
ASCENSÃO TOTAL | Total da ascensão efectuada, acumulado de todas as subidas (metros).
TOTAL ASCENT
The total cumulative ascent (metres).
“A descrição dos trilhos não pretende ser exaustiva e o percurso pode ser alvo de alterações, pelo que podem ocorrer erros ou omissões. Os trilhos deverão ser percorridos com o mapa, uma bússola, e se possível com o GPS. A Itinerante não assume qualquer responsabilidade legal ou civil pelos leitores que percorram os trilhos apresentados.” Os mapas apresentados são extractos das folhas da Carta Militar de Portugal, do Instituto Geográfico do Exército, na escala 1/25.000, série M888
INÍCIO E FIM DO TRILHO COM COORDENADAS GPS START AND END OF THE TRAIL WITH GPS COORDINATES
!"#$"
/ %&'
Nome do local onde o trilho começa/termina. Name of the place where the trail starts/ends.
Formato Lat/ Lon hdddº mm’ ss.s’’ Sistema de referência: WGS 84
Os trilhos para GPS poderão ser descarregados a partir do site GPS trails may be downloaded from
www.itinerante.pt
65
"!##$% '$(#)% CLASSIFICAÇÃO
7/10
'PEWWM½GEpnS Rating
ITINERANTE
22,7 km 8h00 730 m Torres Vedras Sim|Yes Sim|Yes
!"#$%&'%& ()&*+,%-$%&&&&&&&
./01&234&22)56& 701&584&8/)86&
Mapas/Maps IGeoE: Folha nº 374
1
66
(!&-!#"$&($&%8'.5$/"$& -#!,&-!#"$&($&%8'.5$/"$& "!&-!#"$&(!&2#.*! )!&-!#"$&(!&2#.*! Esta é uma das etapas mais representativas do GR30, uma vez que se inicia e termina no Forte de S. Vicente, junto a Torres Vedras. Por altura da sua construção, esta era a localidade mais importante das Linhas Defensivas, situada numa posição central da 1ª Linha e perto da Serra do Socorro, o principal posto de sinais e de observação. Deixando para trás a vista privilegiada sobre a cidade, o percurso atravessa-a, passando pelo Castelo, pelo antigo e característico Chafariz dos Canos, pela linda Igreja de S. Pedro, pelo Convento da Graça, subindo depois para as colinas a oeste. A partir daí faz-se um périplo pelo Castro do Zambujal, por diversos fortes das Linhas de Torres e pelo bonito Convento do Varatojo. Caminha-se essencialmente por caminhos tradicionais e estradas de acesso a terrenos de cultivo, com paisagens maioritariamente agrícolas. É uma etapa bastante longa, circular, com diversos desníveis a vencer, apesar de não muito acentuados.
This is one of the most representative tracks of the GR30 since it starts and ends at Forte de S. Vicente, close to Torres Vedras. When it was built this was the most important locality of the defensive lines, on a central position of the 1st line and in the proximity of Serra do Socorro, the main signal and observation station. The route unfolds essentially through traditional trails and access roads to farming areas, along mostly agricultural landscapes. It is a rather long circular trail, with several not too steep ascents and descents.
($%5#.39!&(!&"#.*0! 4&
$/"#$&!%&:!/"!%&($&./"$#$%%$ #
(
O caminho inicia-se no Forte de S. Vicente, para a esquerda, depois 1ª rua à direita, novamente à direita, com desnível muito acentuado, direita novamente no final. Na N9 vira-se à esquerda, depois direita pela ponte e em frente a subir até ao castelo.
(
)
Continua-se a descer um pouco, depois pela Rua do Quebra Costas à esquerda, Trav. do Quebra Costas à direita e Rua Mouzinho de Albuquerque à esquerda, até ao antigo Chafariz dos Canos. Segue-se à direita e depois direita novamente, até à Igreja de S. Pedro, seguindo-se à esquerda pela Rua 9 de Abril, até à bonita Praça 25 de Abril, que se segue à Praça da República. Antes da Igreja e Convento da Graça, vira-se para a direita pela Rua António Batalha Reis e segue-se por caminho estreito entre vedações dos Bombeiros e da PSP, depois de atravessar o jardim. Segue-se pela ponte pedonal, depois direita, novamente direita e esquerda, continuando pela N555-3, a subir. Segue-se depois por caminho de pé posto à esquerda, ainda a subir e pela estrada estreita de alcatrão à direita. Entronca-se em estrada um pouco mais larga e segue-se à esquerda, a subir. Sempre em frente, segue-se à esquerda em bifurcação de estradas de piso de terra, com passagem junto a vinha e pinhal. Vira-se à esquerda no entroncamento e depois à direita na primeira bifurcação, a descer até ao Castro Zambujal.
)
'
Desce-se um pouco mais e segue-se novamente por alcatrão, tomando-se depois a direita e a Rua da Bela Vista à esquerda, em Casais da Torre. Já com piso de terra, passa-se o pouco visível Forte do Pelicano e continua-se até Casais de Pedrulhos. Vira-se à esquerda e depois à direita, pela Estrada Militar, durante cerca de 1 km, até uma bifurcação com estrada de terra à direita, por onde se segue. Vira-se para o caminho que entronca à direita, a subir até ao Forte do Cabrito. Segue-se à direita pela cumeada até ao Forte Outeiro da Prata, volta-se para trás e continua-se até ao Forte da Milharosa. Volta-se novamente um pouco para trás e segue-se por caminho à direita, que atravessa a estrada de alcatrão para se descer com a companhia de vinha. No cruzamento seguinte abandona-se este troço do GR30 para a direita, na direcção do troço que volta a Torres Vedras. Segue-se na direcção de C. do Telhadouro e neste lugar segue-se no cruzamento à esquerda, a subir até ao Forte do Grilo.
'
%
Volta-se um pouco para trás e vira-se à esquerda junto à última casa do lugar. Segue-se por caminho rural, pela cumeada, com bonita vista para o rio Sizandro. Depois do vértice geodésico de Serra, vira-se à esquerda, a descer até à Ribeira de Pedrulhos, que se segue para a direita. Passa-se a ponte à esquerda, depois direita, pela aldeia até à N1069. Vira-se à direita e de imediato à esquerda. Sempre em frente, passa-se pelo Forte de Palheiros e vira-se à esquerda em Casais da Cruz. Passa-se junto ao Forte da Cruz, segue-se por trilho de pé posto, depois à direita por estrada de terra que leva ao Varatojo, depois à esquerda até ao Convento.
%
#
Continua-se a descer pela estrada de alcatrão. No vale, vira-se para a direita e acompanha-se um canavial que esconde o rio Sizandro, até à via rápida de Torres Vedras que se atravessa por túnel à esquerda, junto ao rio. Segue-se à esquerda, por ponte pedonal e continua-se em frente, a subir por estrada bonita de terra e pedra depois de atravessar a N9, até ao Forte de S. Vicente.
'
67
:$#-.*&'$#".5)*
)
# (
'
#
%
!"#$" %&'
#
(
%
!"#$ Os mapas apresentados são extractos das folhas da Carta Militar de Portugal, do Instituto Geográfico do Exército.
)
68
:!/"!%&($&./"$#$%%$;&#$-$#</5.) #
FORTE DE S.VICENTE
O Forte de São Vicente era o mais poderoso forte das Linhas de Torres. Defendia, conjuntamente com o Castelo de Torres Vedras, a estrada principal de Coimbra a Lisboa. Era formado por três fortes rodeados por um perímetro amuralhado com cerca de 1500m. A sua forma poligonal, com inúmeros ângulos, permitia aos canhões um fogo cruzado com a consequente maior amplitude de fogo e cobrindo todo o terreno circundante. Os contornos desta fortificação adaptam-se perfeitamente à morfologia do terreno, no cimo do monte.
The São Vicente Fort was the most powerful fortification of the Lines of Torres. Together with the Torres Vedras castle, it defended the main road from Coimbra to Lisboa. It consisted of three forts surrounded by a 1,500 metre long walled perimeter.
(
CASTELO DE TORRES VEDRAS
Forte com capacidade para 500 soldados, com 5 peças de artilharia de calibre 12. Após a primitiva ocupação do sítio pelos romanos, as primeiras muralhas terão sido construídas pelos árabes. O castelo foi tomado aos mouros por D. Afonso Henriques, em 1148. Ao longo dos séculos, o castelo de Torres Vedras foi palco de muitas lutas, a última das quais aconteceu durante as Guerras Liberais. Nestas foi utilizado como quartel das tropas do Conde de Bonfim, tendo sido bombardeado em Outubro de 1846 pelo exército do Marechal Saldanha, bombardeamento que culminou com explosão do paiol. No interior do Castelo merece também uma visita a Igreja de Santa Maria, construída pouco tempo depois da tomada do castelo aos mouros.
This fort had capacity for 500 soldiers and was equipped with five calibre 12 pieces of artillery. After the first occupation of the site by the Romans, the first walls have probably been built by the Arabs. The castle was conquered from the Moors by D. Afonso Henriques in 1148.
)
CASTRO ZAMBUJAL
O Castro do Zambujal é um povoado fortificado da Idade do Cobre ou Calcolítico datado do 3.º milénio a.C., situado num esporão rochoso na margem direita da Ribeira de Pedrulhos, afluente do Rio Sizandro. Descoberto em 1932 por Leonel Trindade, foi escavado ao longo da década de 60 e inícios de 70 pelo Instituto Arqueológico Alemão. Trata-se de uma fortificação Pré-Histórica com quatro muralhas e torres que teve ocupação humana ao longo de, pelo menos, 800 anos.
Castro do Zambujal is a fortified settlement of the Copper Age or Chalcolithic that dates from the 3rd Millenium BC. It is located on the right margin of the Ribeira de Pedrulhos, a tributary of the Sizandro River. It is a Pre-historic fortification with four walls and towers that was occupied by man for at least 800 years.
'
FORTE DO GRILO
Forte da 1ª Linha de Torres Vedras, com 340 soldados, 3 peças de artilharia de calibre 12 e uma peça de calibre 9. Possuía posto de sinais.
Fort of the 1st Line of Torres Vedras, with 340 soldiers, three 12 calibre and one 9 calibre pieces of artillery. In this fort there was a signal station.
%
CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO,VARATOJO
Fundado em 1470, por voto e devoção do rei D. Afonso V à Ordem de S. Francisco, foi sendo ampliado ao longo dos séculos. Da primitiva traça conserva a fachada e a porta. A não perder: a capela-mor da Igreja, a Capela de Nossa Senhora do Sobreiro em frente à entrada da igreja, o claustro e a sala do capítulo.
Founded in 1470, by order of king D. Afonso V to the Franciscan Order, it was extended over the following centuries. The façade and the gate are all that remains from the early monastery. A visit to the church’s main chapel, the Nossa Senhora do Sobreiro Chapel that faces the church entrance, the cloister and the chapter-room is imperative.
89
!"#$%$&' ("!%)*%+%#,
90
INFORMAÇÕES
'PEWWM½GEpnS -XMRIVERXI Itinerante Rating :
8/10
Restaurante Retiro do Raposo Rua Vasco da Gama, 32 2670-633 BUCELAS
!"#$%&"'"# &%$%#"#$(&")'"
Contactos / Contacts:
Telefone: +351 219 694 109 Fax: +351 219 694 109
Horário de Funcionamento/ !
Working Hours:
Das 10:00 às 23:00 Encerra à Quarta-feira / Closes on Wednesdays
ucelas, terra onde a gastronomia tem uma presença marcante, a que não é alheia a ancestral fama do vinho branco da região, com a casta Arinto como predominante, tem vários representantes da restauração igualmente afamados, sendo o Restaurante Retiro do Raposo um desses locais de culto. O Retiro do Raposo é um restaurante operado pela família Raposo desde há meio século, estando as rédeas, actualmente, nas mãos das irmãs Conceição, na cozinha, e da Esmeralda, na sala. Situado no interior da vila de Bucelas, o Retiro do Raposo ocupa a antiga casa da família, com alpendre a toda a largura, protegido por uma magnífica buganvília, espaço que, em tempo adequado, funciona como esplanada. Repartido por 3 salas contíguas de diferentes dimensões, tem uma decoração rústica, com a metade superior das paredes decorada com quadros, pratos de loiça e tapetes em ponto de Arraiolos, alguns deles da autoria das manas Raposo. Ementa baseada na gastronomia tradicional portuguesa, incluindo a local, contém agradáveis surpresas. Desde logo, para ir aquecendo o estômago, os enchidos assados em aguardente, queijo gratinado com orégãos ou a pasta de tamarilho, são propostas irrecusáveis. Nos peixes, o bacalhau à casa, gratinado no forno, a feijoada de chocos ou a sopa de peixe, com tintureira, são iguarias a não perder. Quanto às carnes sobressaem o lombo à camponesa e o ex-líbris pote atabafado: um aprazível e apaladado guisado de carne de porco, chouriço, curgete, cenoura, batata, grão e ervas aromáticas servido num original pote de barro vermelho, depois de levado ao forno coberto com massa folhada. Entre as muitas arrasadoras sobremesas inovadoras prove-se o típico Saloio de Bucelas ou o soberbo Pedaço de Lua, um manjar de gema de ovos e açúcar, com laranja e canela. Nos vinhos, experimentou-se com agrado um Quinta das Murgas tinto, de 2001, do Freixial. Um elogio muito especial para a competência e simpatia com que a D. Esmeralda e companhia colocam no atendimento, não enjeitando qualquer esclarecimento. E, por fim, não estranhe se depois de sair do Raposo não lhe puxe para o repouso...
!
Preço Médio / Average Price: 15! - 20!
Pagamento / Payment Cartões Crédito e Multibanco Coordenadas GPS / Coordinates: N 38º 53' 59.3" W 9º 06’ 58,0” Resting after Raposo “O Retiro do Raposo” (“The Fox Lair”) is a restaurant in Bucelas that occupies the ancient family house. A porch covers the full width of the house; there is also a lovely bougainvillea protecting it. In good weather the place beneath the porch is used as a terrace. It consists of three interconnected rooms of different sizes with rural decoration: the upper half of the walls is decorated with paintings, chinaware and Arraiolos rugs, some of them signed by the Raposo sisters. The menu is based not only on regional gastronomy but also on the gastronomy of other regions and it offers some pleasant surprises. As to starters, sausages roasted in brandy can’t be refused. Among the fish courses, codfish “à casa” (gratin), cuttlefish and beans stew or fish soup are a must. The most remarkable meat courses are loin of pork “à camponesa” and “pote atabafado”, the ex-libris – pork stew with varied vegetables cooked in a clay pot. There are also many delicious desserts but the typical “saloio de Bucelas” (almond and cinnamon cookies in wine) and “pedaço de lua” ( eggs, sugar, orange and cinnamon) stand out. As to wine, try the famous wine of Bucelas. A special reference must be made to the competent and friendly service. Table reservation is advised.
91
%#*$+%,+-+!%!(#
."#/($*%!" o primeiro andar do moderno edifício do mercado municipal de Sobral de Monte Agraço, vão poder encontrar o Vilamanjar, um restaurante que, depois de experimentar, vos vai ficar, de certeza, retido na lembrança para repetir com urgência. As duas salas contíguas que o compõem abrem-se para a praça envolvente através de paredes envidraçadas, permitindo a entrada da luz natural em abundância, proporcionando um ambiente extremamente acolhedor. As mesas e cadeiras de braços, em madeira, ajudam a esta envolvência, agradavelmente complementada com as toalhas de rolo de papel em cinzento escuro, onde repousa o serviço de pratos branco com o logótipo do restaurante, denotando evidente bom gosto. Praticando uma gastronomia de cariz regional, sob a batuta de Sérgio Ribeiro, tem no entanto a particularidade de introduzir inovação e criatividade na recheada ementa que apresenta. Atente-se, desde logo, nas entradas com a alheira de caça com maçã reineta e uva passa, picante quanto basta, a sobressair, numa notável confecção que conquis-
ta o mais reticente palato. Esta originalidade até no prato de peixe do dia está patente: salmão com crosta de amendoim! Envolto em pasta de azeitona verde, que a assadura não desfez totalmente, e coberto com o amendoim tostado, o peixe vem à mesa acompanhado com legumes no forno (abóbora, curgete, couve-flor, cebola, alho francês e cogumelos) gratinados com molho branco. Nas carnes, experimentámos uns deliciosos cubos de vitela com castanhas e esparregado. Para finalizar o repasto, as propostas de sobremesas são, igualmente, fora do comum, como o doce da casa (doce de maçã), a mousse de chocolate com suspiros ou a espetada de frutos tropicais (banana, ananás, kiwi e manga) coberta com leite creme queimado na hora, simplesmente fabulosa pelo contraste de sabores! A oferta de vinhos, embora não muito longa, é suficiente, podendo sempre optar pelo vinho da casa, da região, apresentado em jarro. Com um serviço atencioso e rápido, este Vilamanjar fideliza os apreciadores mais exigentes. Aconselha-se reserva de mesa.
Creativity in the market place
From alheira (bread and game meat sausage) with apple and dried raisins to start with, to salmon topped with peanut sauce or cubes of veal with chestnuts and mashed spinach for instance, to a dessert of espetada of tropical fruits covered with freshly caramelised egg and milk custard, any of the dishes that you can eat there is simply delicious – your palate will thank you. With a friendly and quick service, the most demanding connoisseurs will become fans. Table reservation advised.
"
On the first floor of the modern building of the Sobral de Monte Agraço municipal market you will find Vilamanjar, a restaurant which, once you visit it for the first time, will certainly require many more visits. A décor that is proof of good taste, together with the light that comes in through the glass walls give this space an extremely cosy atmosphere. The menu that is based on the regional gastronomy is full of innovation and creativity.
INFORMAÇÕES
'PEWWM½GEpnS -XMRIVERXI Itinerante Rating :
8/10
Restaurante Vilamanjar Rua Francisco Lázaro Loja 8 Mercado Municipal 2590-019 SOBRAL DE MONTE AGRAÇO Contactos / Contacts:
Telefone: +351 261 943 170 / +351 917 631 066 Fax: +351 261 942 210
Horário de Funcionamento/ Working Hours:
Das 12:20 às 15:00 e das 19:30 às 22:00 Encerra à terça-feira / Closes
on tuesdays
Preço Médio / Average Price: 20,00 !
Pagamento / Payment Cartões Crédito e Multibanco Coordenadas GPS / Coordinates: N 39º 01' 14.9" W 9º 09’ 13.4”
96
!"#$%&%'&('!)*+&(' ,"'-.%%"('/",%&( por D. MANUEL CLEMENTE
D. Manuel Clemente Comissário da Comissão Municipal (Torres Vedras) Comissioner for the Municipal Commission (Torres Vedras)
ara os portugueses, lembrar as Linhas de Torres Vedras é muito mais do que uma simples efeméride, dois séculos depois. Por “efeméride”, entendem os dicionários alguma “notícia de acontecimento importante ocorrido em determinada data”. Ora, o que as nossas Linhas evocam ocorre agora, como então, na permanente disposição que temos como povo de garantir a identidade e a liberdade do nosso ser colectivo. Impressionante foi verificar na altura como é que, com a oportuna colaboração britânica, se conseguiu em tão pouco tempo mobilizar populações inteiras, para construir uma barreira defensiva que se revelou intransponível. Impressionante foi também a capacidade de manter em segredo tudo o que se fazia, causando no invasor uma surpresa que foi o princípio da sua desistência e recuo. Sendo, como a Guerra Peninsular no seu conjunto, um momento difícil da vida nacional, que acabaria por tornar inviável qualquer regresso ao anterior estado de coisas, as Linhas de Torres Vedras abriram a época contemporânea em que, a vários títulos, continuamos. Lembrá-las hoje, na paz europeia de que felizmente gozamos, é evocar todos os que aqui estiveram, dos dois lados das Linhas, quando nós, seus descendentes, nos reencontramos num projecto comum para o Continente e para o Mundo. Lembrando os de então, abrimos o futuro na solidariedade e na paz.
!
Remembering the Lines of Torres Vedras Remembering the Lines of Torres Vedras is to the Portuguese much more than a mere ephemeris celebrated two centuries later. Dictionaries define “ephemeris” as “news of an important event that happened at a certain date”. But what our Lines evoke is happening now as it happened then in the permanent mood we have as a people to grant our collective identity and freedom. It was impressive the way whole populations were mobilized in such a short period of time to build a defensive and impassable barrier, even with timely British collaboration. It was equally impressive the capacity of keeping everything they did in the utmost secret. The invaders were taken by surprise and that was the beginning of their failure and retreat. The Lines of Torres Vedras, as well as the whole Peninsular War, were a difficult moment in the life of the nation that would hinder going back to the previous state of affairs. They are the beginning of the contemporary age we are still living in. To remind the Lines today when Europe is fortunately at peace is to pay tribute to all those who were on both sides of the Lines now when we, their descendants, are united by a common project to Europe and to the world. When we remember those of the past we open the door to the future in solidarity and in peace.
Pró nú xim me o No ro vem
POR TRILHOS
DA REPÚBLICA PERCURSOS PEDESTRES
bro 201 0
% " $ ' & !"#$% vembro Nº4 || No
HAR C AMINWALKING
R
ER EC OWING CONHKN
R
Portugal
11 ereiro 20 2010 - Fev
Cont. 6,5
0!
ER VCIIV ALIZING C O NSO
ÚBLIC A DA REP EDESTRES
ILHOS POR TR BLICA DA REPÚ ENÇO NDEIRA : UMA BA DE LOUR ENSAIO INÉDITO UM , UBRO O 5 DE OUT JUSTIÇAD UTINHO IN CO ER A PEREIR CHAUFF E SILVA, UM O NOBR JOÃO DA ####&COM EDUARD VERSA À CON $ #"%' #%& # ! "#$
$ #"%' #%& # ! "#$
SOS P PERCUR
T E. PT IN ER A N W W W.IT
####(
####!
$ #"%' #%& # ! "#$
Não perca nenhum número! Assine. Coleccione. Ofereça. www.itinerante.pt