01 EDITORIAL
EDITORIAL O
brigado! Foi com muita satisfação e orgulho que eu e toda a equipa da Itinerante fomos recebendo pessoalmente, por e-mail e através de comentários no site, palavras animadoras e muitos elogios após o lançamento da revista nº.1. Frases como “(…) as minhas felicitações pela excelente publicação e os meus votos de grande sucesso”, “Adorei a vossa revista – muitos parabéns por esta iniciativa.”, “The Itinerante magazine is very well produced indeed” ou “parabéns pelo vosso trabalho dedicado ao pedestrianismo” vêm confirmar que estamos no bom caminho e encorajam-nos a fazer mais e melhor. Mas esta revista é um projecto de todos e para todos. O comentário de outro leitor – “Fazia falta uma revista transversal a todos os andarilhos, caminheiros etc. Um elo de ligação, um trilho comum!” – acertou na mouche. É mesmo isso, um elo de ligação! E para que este elo cresça e se fortaleça, precisamos da colaboração de todos. Precisamos de leitores activos lendo e comentando os artigos, caminheiros enérgicos andando pelos trilhos Itinerante, clubes, federações e associações dinâmicos divulgando a revista pelos seus associados e também empresas e instituições com visão associando-se a esta filosofia de vida e apoiando projectos de substância. Este número da revista traz uma nova secção — o Bloco de Notas — que potencia essa colaboração. Constitui como que uma ponte para os leitores e o mercado, pois inclui o Correio dos Leitores, Press Releases seleccionados e pequenos textos sobre assuntos variados. Finalizo com o tema da revista: os faróis, incontornáveis pela importância do seu papel num país com largas centenas de quilómetros de costa recortada. Essas “luzes seguras”, que já evitaram muitas tragédias, são agora a referência para os percursos desta revista e levam-nos a percorrer trilhos inesquecíveis ao longo da costa portuguesa. Antes de se pôr a caminho fique a conhecer com a Itinerante a história dos faróis portugueses, a sua “linguagem” e instrumentos, histórias de naufrágios na costa portuguesa, lendas à volta dos locais dos faróis e muito mais. E, nos seus planos para os dias de caminhada, não se esqueça de contar com um tempo extra e generoso para conviver com os seus companheiros de caminho, aproveitando as nossas (saborosas) propostas. Nuno Gama Nunes
Thanks! I and all the team of Itinerante are very proud and pleased for having received so encouraging and praising comments personally, by e-mail and on the site after publishing magazine no. 1. Comments such as “I loved your magazine – congratulations for the initiative” or “congratulations for your work in favour of pedestrianism” prove that we are treading the right path and encourage us to do more and better. Lighthouses, those “safe lights” which have already prevented many tragedies from happening, are now our reference, and lead us to unforgettable trails along the Portuguese coastline. Before setting out please read Itinerante and learn about the history and the stories of Portuguese lighthouses; you can also use our suggestions to be with your travelling companions and enjoy their company.
INDICE Propriedade e Edição: Itinerante - Divulgação Histórica e Cultural, crl. NIPC 508951500 Morada (Sede/Redacção): Rua Abranches Ferrão, 23-3º, 1600-296 Lisboa info@itinerante.pt www.itinerante.pt Direcção: Nuno Gama Nunes Redacção: José Constantino Costa (coordenador CONHECER) - jose.costa@itinerante.pt Nuno Gama Nunes (coordenador CAMINHAR) - nuno.nunes@itinerante.pt Carlos Vaz (coordenador CONVIVER) - carlos.vaz@itinerante.pt Carlos Oliveira Duarte Vilar Frederico Gonçalves Miguel Ângelo (cartoon) Fotografia: Luís Ribeiro - luis.ribeiro@itinerante.pt Tradução: Casimira Albuquerque Maria João Batalha Reis Produção Gráfica: Joana Oliveira Miguel Vaz Susana Gama
MOMENTOS CAMINHEIROS
CONHECER FAROL DE ALEXANDRIA, O GPS DA ANTIGUIDADE
A LINGUAGEM DOS FARÓIS
SINAIS HUMANOS QUE SALVAVAM VIDAS
FARÓIS GUARDIÕES DO MAR DOS AÇORES O PEQUENO GRANDE MUNDO DOS FARÓIS E DOS FAROLEIROS
ESTANTE
A GÉNESE DA SINALIZAÇÃO MARÍTIMA
DO MAR PARA TERRA E DE TERRA PARA O MAR
FAROL DA PONTA DO PARGO
FAROLEIRO MARTINS DIXIT
ASSIM REZAM AS LENDAS
À CONVERSA COM JOAQUIM BOIÇA UM MAR REPLETO DE HISTÓRIAS E... NAUFRÁGIOS
Web Design: CoreFactor - IT Consulting & Design Publicidade: José Santos - jose.santos@itinerante.pt Assinaturas: assinaturas@itinerante.pt Impressão: SIG - Sociedade Industrial Gráfica Rua Pêro Escobar, 21 2680-574 Camarate Distribuição: Logista Portugal Tiragem: 10.000 exemplares Periocidade: Quadrimestral Registo ERC nº 125763 Depósito Legal nº 301328 / 09 ISSN nº 1647-4082
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CARTOON
por Miguel Ângelo
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CAMINHAR
50 52 54 55 59 63 67 71 75 79
INFORMAÇÕES SOBRE OS TRILHOS
MICRO-TRILHO CASCAIS
LOCALIZAÇÃO DOS TRILHOS
DE VIANA AO FAROL DE MONTEDOR
DA RIA AO FAROL DE AVEIRO
DO FAROL DO CABO CARVOEIRO A PENICHE
DAS ARRIBAS AO FAROL DO CABO DA ROCA DO CASTELO DE SESIMBRA AO FAROL DO CABO ESPICHEL
DE VILA DO BISPO AO FAROL DE S.VICENTE DE CACELA VELHA AO FAROL DE V. R. STO. ANTÓNIO
CONVIVER
84 86 88 90 92 93
NA APÚLIA, UMA NORTADA DE BOA COZINHA
O DOCE PRAZER PORTUGUÊS
COM FARTURA E MUITO ESMERO
GOSTAM QUE GOSTEM DE ESTAR
A VIDA MÁGICA DOS FARÓIS por Duarte Vilar
BLOCO DE NOTAS
Farol do Cabo Espichel N38ยบ 24' 57.28'' W9ยบ 12' 55.96'' alt.127m
Farol do Cabo da Roca N38ยบ 46' 52.26'' W9ยบ 29' 53.47'' alt.106m
12 FICÇÃO
MOMENTOS CAMINHEIROS por MARIA LETRA
A
iii... Tanta gente! E não conheço ninguém... Incrível! de comboio por Itália! Que lindo!... — “Foram integrados num grupo Há desde crianças até velhotes! Mmmm... será que vade alpinistas espanhóis e parece que deixaram uma série deles para trás!”. mos ter que estar sempre a parar no caminho à espera — “Oh Margarida, que exagero! Foi só aquele jovem casal de professores destas pessoas mais velhas? Ohh! Até há um que traz galegos inexperientes... ”. — “Atenção grupo! Vamos arrancar! Eu vou à uma espécie de sacola de oxigénio às costas, com um frente e aqui o António é o nosso homem-vassoura; não lhe dêem muito tubo ao alcance da boca! Meus deuses, só espero que trabalho, por favor. Bom passeio!”. Vassoura?? Não quero acreditar no não lhe aconteça nada! Não na minha primeira camique acabo de ouvir!... Será possível? — “Então, já a ficar para trás e nhada, please! — “Viva, Leonor, sê bem vinda ao nosso grupo! É tudo ainda agora começámos? Estou a ver que vou ter muito que «varrer» hoje!”. gente simpática, vais ver. Vais-te dar muito Está muito enganado! Eu não sou nenhuma bem!”. Cá estou eu, Zé, à espera de ordens selvagem que ande para aí a atirar papéis tuas! — “Vamos só esperar mais 5 minutos e para o chão!... Mas porque se estará a rir?? E arrancamos. Já agora, deixa-me apresentar-te não pára?!... Toca mas é a acelerar! Não quea Margarida, uma das nossas «tias bastãonáro nada com este tal de António. Tenho que “ATENÇÃO GRUPO! VAMOS rias»”. Tias bastãonárias? — “Olá Leonor. Sê dizer ao Zé que estes seus amigos são um ARRANCAR! EU VOU À FRENTE bem vinda às nossas caminhadas.”. Com este bocado esquisitos... Olha, já entrámos na E AQUI O ANTÓNIO É O NOSSO título só pode ser especialista em bastões! estrada de terra! Rápido, trocar de bastão!... HOMEM-VASSOURA. BOM PASSEIO!”. E este que traz com ela é lindo! — “Foi o Como é que se reduzia o bastão...? Calma! VASSOURA?? Zé que o fez a partir de um ramo caído, sabes? Recapitular o que o vendedor ensinou. Ai Ele tem imenso jeito para estas coisas…”. E o que já não me lembro!... Oh meus deuses, outro? Também terá sido ele a fazer? — “O o que fazer? Olha, paciência, vai mesmo asoutro? Só tenho este. Nem quero mais nenhum! sim para dentro da mochila! Eeee... E como Não gosto de andar com as duas mãos ocupadas...”. Estranho... Especiaé que aumento o outro bastão? Socorro! — “Olá outra vez! De novo lista em bastões e só tem um?... Mas o Zé disse-me que vamos passar na cauda do «pelotão»?”. Só me faltava este António «vassoura» outra por caminhos de terra e por estrada de alcatrão... — “???”. Então, vez! Rápido, agir como se tudo estivesse perfeito. Mochila de novo eu trouxe dois, um para alcatrão e um para terra, para ir mudando! às costas com o bastão de estrada, ainda estendido. Bastão de terra na Mas porque se estará a rir?? — “Então, Margarida, não nos apresentas mão, ainda reduzido. Ar profissional. O dia está maravilhoso!... Da esta nova caminheira?”. Pelo menos 70 anos, tanto ele como ela! O última vez que aqui caminhei fazia um tempo terrível! — “É verdade, que estarão aqui a fazer? E de botas...? — “Leonor, apresento-te o Rui tivémos imensa sorte. Mas olha, agora é melhor pores a postos o teu bastão e a Ana, acabados de chegar de Itália, onde fizeram a via ferrata Ivano pois vamos passar por uma zona um pouco difícil devido ao mau tempo Dibona nos Dolomites!”. Via ferrata? Caminho de ferro? Uma viagem que fez nos últimos dias”. n
CONHECER KNOWING
16 CURIOSIDADES
A LINGUAGEM
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Farol da Gibalta, um farol de enfiamento.
s faróis são fascinantes! Farol tem a ver com mar e mar é vida; por vezes suave, de um azul tranquilo; outras vezes buliçoso, cinzento; outras ainda mau, traiçoeiro, breu. Farol tem a ver com ajuda, solidariedade. Para quem anda no mar não há sensação mais reconfortante do que descobrir a luz de um farol. É sinal de que «Estamos quase! É já ali...» Farol tem a ver com história e tecnologia. Basta recordar que o farol de Alexandria, o primeiro de que há registo, foi construído em 280 a.C. e foi considerado uma das sete maravilhas da antiguidade. Desde essa data até aos nossos dias milhares de faróis foram construídos recorrendo a novas técnicas e utilizando as mais avançadas tecnologias à época. Um dos momentos mais marcantes deveu-se à lente de Fresnel, o sistema óptico constituído por uma grande lente recortada com anéis concêntricos de prismas. Foi nos inícios do século XIX, com o incremento do comércio marítimo costeiro, que os faróis se tornaram (ainda) mais indispensáveis. Mas havia um problema: para conseguir maior alcance era fundamental “concentrar” a luz. O físico suíço Aimé Argand (1755-1803), em 1781, já tinha inventado uma lâmpada cujo pavio concentrava mais a luz ao desenhar um círculo quase completo. Mas os sistemas de lentes utilizados para focar a luz da chama e para transportar o sinal luminoso em feixes concentrados eram muito caros; as lentes eram gigantescas, espessas e de bom vidro, para serem o mais transparente possível. Foi em 1822 que Augustin Jean Fresnel (17881827) resolveu o problema ao inventar um sistema de lentes mais ligeiro e económico. As preocupações agora são outras… Por exemplo, o farol das ilhas Selvagens, na Madeira, foi o primeiro farol português a utilizar células fotovoltaicas com recurso a energias limpas em 1981, iniciando assim um ciclo que culminará, certamente, na total automatização dos nossos faróis. Mas farol também tem a ver com… individualidade! Não há dois faróis iguais, tanto em
DOS FAROIS
Os dispositivos ou as marcas de Ajuda à Navegação englobam todas as estruturas/equipamentos que contribuem para a segurança da navegação: neste universo incluem-se faróis, farolins, bóias, balizas, barcos faróis entre muitos outros. Este é o farolim situado à entrada da ria Formosa, entre as ilhas Deserta e da Culatra.
17 CURIOSIDADES
termos arquitectónicos como da “linguagem” utilizada… Cada farol tem uma forma própria de se “expressar”… Isto é, o sinal que emite é único e a razão é simples: o navio tem que identificar a terra por onde passa… Essa identificação é constituída por três elementos. O primeiro classifica a forma como a luz pisca: se emite sinais breves diz-se que emite flash (código “Fl”); se emite uma luz quase contínua, com interrupções curtas, diz-se de ocultação (código“Oc”); finalmente, se está tanto tempo aceso como apagado diz-se isofásico (código “Iso”). O segundo elemento refere-se à cor da luz – branca, vermelha ou verde – que habitualmente é identificada pela respectiva inicial em inglês. O terceiro corresponde à duração, em segundos, de um ciclo de luminosidade. Na era da tecnologia, do GPS e do piloto automático, os faróis podem parecer obsoletos mas não é o que acontece; eles continuam a ser preciosos na ajuda que prestam aos navios. E continuam a ser fascinantes! n The language of lighthouses The Lighthouse of Alexandria, the world’s first known lighthouse, was built in 280 B.C. Since then thousands of lighthouses have been built resorting to the most advanced technologies for their time. In order to obtain a longer range light it was fundamental to “concentrate” the emitted light. Swiss physician Aimé Argand (17551803) had already invented in 1781 a new type of lamp with a wick that concentrated the light as it performed an almost full circle. However, the lens systems that were used at the time to concentrate the light and to carry the light signal in concentrated beams were very expensive. In 1822 Augustin Jean Fresnel (1788-1827) solved the problem when he designed a lighter and more economical lens system. There are no identical lighthouses both in architectural terms and in what concerns the “language” used … The light signal they emit is unique and there is a simple reason for this: the ship has to identify the place it is passing by … This identification consists of three elements. The first element is the way how the light flashes: if it exhibits only short flashes of light it is called a flashing light (code “Fl”); if it emits an almost continuous light with short interruptions it is called occulting light (code “Oc”); and finally if the flashing light has dark and light periods of equal length it is called isophase light (code “Iso”). The second element is the colour of the light – white, red or green – which is usually identified by the initial of the English word. The third element is the duration in seconds of a full light cycle.
EXISTEM BASICAMENTE DOIS TIPOS DE FARÓIS: DE POSIÇÃO E DE ENFIAMENTO. OS FARÓIS DE POSIÇÃO ESTÃO COLOCADOS NA ORLA COSTEIRA E DESTINAM-SE À NAVEGAÇÃO DE PASSAGEM AO LONGO DA COSTA E À APROXIMAÇÃO A PORTOS. OS FARÓIS DE ENFIAMENTO IMPLICAM UMA COMBINAÇÃO DE, PELO MENOS DOIS FARÓIS QUE, QUANDO VISTOS ALINHADOS DEFINEM UMA LINHA DE NAVEGAÇÃO SEGURA E/OU A ENTRADA NUM PORTO OU NUMA BARRA. THERE ARE ESSENTIALLY TWO TYPES OF LIGHTHOUSES: THE COASTAL LIGHTHOUSES AND THE RANGE LIGHTHOUSES. THE FIRST ONES ARE LOCATED ON THE COASTAL ZONE AND THEIR PURPOSE IS TO GUIDE SHIPS NAVIGATING ALONG THE COAST AND THEIR ENTRY INTO THE HARBOUR. THE RANGE LIGHTHOUSES IMPLY A COMBINATION OF AT LEAST TWO LIGHTHOUSES. WHEN THE LIGHTS ARE ALIGNED THEY DEFINE A NAVIGATION PATH THAT THE SHIPS WILL HAVE TO FOLLOW TO BE ABLE TO NAVIGATE SAFELY.
O farol do Cabo Sardão tem a seguinte “linguagem”: Fl (3) W 15s. E é fácil de o entender… Emite 3 relâmpagos (Flash) de luz branca (White) e a duração total de cada ciclo é de 15 segundos.
28 HISTÓRIA
po
´ A GENESE DA SINALIZAÇÃO , ´ MARITIMA po
COLABORAÇÃO DA DIRECÇÃO DE FARÓIS
D
esde os primórdios da humanidade que os cursos de água, os rios e os lagos exerceram sobre o homem uma grande atracção, por constituírem simultaneamente uma importante fonte de recursos alimentares e uma não menos importante via privilegiada para movimentação e deslocação para outras paragens, no início cavalgando um simples tronco de madeira levado pela corrente de um rio, recorrendo ao auxílio de uma vara a fim de se desviar das rochas e dos obstáculos que lhe surgiam no caminho. Quando se aventurava a navegar num rio, num braço de mar ou numa ria, avolumava-se a sensação de risco e instalava-se um temor e um grande sentimento de angústia por ter de navegar num meio cujos perigos desconhecia. Apesar desta navegação se cingir às margens dos rios, dos lagos e próximo da costa, a aparentemente inofensiva superfície de água poderia
esconder fundões, bancos de areia, formações rochosas, entre outros obstáculos submersos, que constituíam uma ameaça permanente, e obrigavam à identificação e memorização de referências em terra ao longo dos trajectos, quando em busca de locais de pesca, de caça e, posteriormente, de comércio. Com o decorrer dos tempos foram sendo construídas embarcações com os cascos mais robustos, propulsionados por remos e velas, possibilitando ao homem aventurar-se progressivamente de forma a desvendar o mar profundo. Para os navegadores do passado, a linha de costa constituía simultaneamente uma segurança, um conforto e um perigo. Segurança porque lhes permitia um razoável conhecimento da sua posição, principalmente no período diurno; conforto porque, em caso de mau tempo, os abrigos estariam perto; perigo, em especial de noite ou com má visibilidade, porque uma deficiente ou mesmo inexistente
OS FARÓIS PORTUGUESES EM DATAS
Entre 1515 e 1520 – Existem referências de já funcionar, no Cabo de São Vicente, uma luz sobre uma torre mandada erigir por ordem do bispo do Algarve, D. Fernando Coutinho, tendo como fonte iluminante uma fogueira ou candeias alimentadas a azeite ou óleo animal. 1528 – Por iniciativa do bispo de Viseu, D. Miguel da Silva, em S. Miguel-o-Anjo, na foz do rio Douro, terá sido construída uma torre onde era mantida uma fogueira. Cerca de 1537 – Existem registos de ter sido construída uma torre alta onde era mantida uma luz de quatro ou cinco candeias de azeite, no lugar de Nossa Senhora da Guia, em Cascais. 1680 – Foi construído o Farol de Nossa Senhora da Luz, na barra do rio Douro, mantido pela confraria do mesmo nome. Ainda no séc. XVII – Há referências à existência de luzes nos fortes de S. Lourenço da Cabeça Seca-Bugio (por volta de 1643) e de S. Gião-S. Julião (antes de 1755), ambos situados na barra de Lisboa. 1 de Fevereiro de 1758 – Por alvará com força de lei do Marquês de Pombal passaram os faróis a constituir uma organização oficial, tendo a sua responsabilidade sido entregue à Junta do Comércio. 1761 – Entra em funcionamento o Farol de Nossa Senhora da Luz – o primeiro farol construído para essa finalidade, substituindo o Farol de S. Miguel-o-Anjo (mais tarde substituído pelo Farol de Leça em 1926). Em Cascais, é construído o Farol de Nossa Senhora da Guia em substituição da antiga torre, muito danificada pelo sismo de 1755. Ficou então sensivelmente já com o aspecto que hoje lhe conhecemos e é o farol mais antigo actualmente existente construído especificamente para essa finalidade. Cabo da Roca (1772), S. Julião e Bugio (ambos em 1775) completaram o plano de alumiamento aprovado. O Farol do Cabo da Roca foi construído de raiz, enquanto nos de S. Julião e do Bugio foram reedificadas as torres danificadas pelo sismo de 1755 e aí instaladas as luzes.
29 HISTÓRIA
1775 – É levantado o Farol da Serra da Arrábida, sobranceiro à barra de Setúbal, outro importante porto da nossa costa mas transferido em 1863 para o Forte do Outão – Farol do Outão, uma vez que os frequentes nevoeiros ocultavam repetidamente a luz do farol primitivo. 1790 – São construídos os faróis do Cabo Carvoeiro e do Cabo Espichel.
OS EGÍPCIOS E OS ROMANOS, FACE AO CRESCENTE E INTENSO COMÉRCIO QUE SE FOI DESENVOLVENDO NO MAR MEDITERRÂNEO, EVIDENCIARAM-SE COMO PIONEIROS NA IMPLANTAÇÃO DOS PRIMEIROS FARÓIS, QUE MAIS NÃO ERAM QUE FOGUEIRAS ACESAS EM LOCAIS ESPECÍFICOS ERMOS E PROEMINENTES
1833 – Por decreto de 17 de Setembro, o serviço de faróis transita para a responsabilidade do Guarda-Mor do Serviço das Alfândegas do Ministério da Fazenda, tendo sido decidida a construção de mais cinco faróis: Montedor, Cabo Mondego, Berlenga, Cabo de S. Vicente e Cabo de Santa Maria, encarregando destas obras o engenheiro Gaudêncio Fontana, o qual tinha acabado a modernização do Farol de Nossa Senhora da Luz com a implantação da primeira óptica girante em Portugal. Entre 1842 e 1858 – São estabelecidos os faróis do Duque de Bragança na ilha Berlenga (1842), de D. Fernando no Cabo de S. Vicente (1846), do Cabo de Santa Maria (1851) e do Cabo Mondego (1858). Só em 1910 é que foi construído o Farol de Montedor.
sinalização impedia uma suficiente definição do contorno de costa e dos obstáculos adjacentes. Quando o homem compreendeu que não lhe bastavam as referências naturais existentes, passou a colocar paus e outros sinais improvisados nas margens das vias navegáveis ou a assinalar perigos submersos conhecidos e, mais tarde, passou a acender fogueiras na costa para sinalizar perigos, pontas de terra proeminentes ou a localização de portos. Apesar de incipiente, foi esta a génese da sinalização marítima e da segurança da navegação. Esta sinalização era aleatória, de implantação inopinada, em função dos interesses e necessidades específicos daquela época, de características diversificadas e, obviamente, utilizável apenas pelos conhecedores dos diversos locais e do significado das marcas. É mesmo de crer que algumas destas marcas, por uma questão de prudência, fossem também colocadas de forma a induzir em erro potenciais invasores ou visitantes indesejáveis! Em todo o caso, entre o instinto de defesa das comunidades ribeirinhas e o seu desejo de desenvolvimento económico – só possível com um tráfego comercial marítimo evoluído – acabou por prevalecer este último. As marcas começaram então a apresentar formatos e características diferenciadas de acordo com a sua posição relativa nos canais
de navegação. Porém, cada local adoptava os seus códigos próprios e a navegação era relativamente segura quando conduzida por conhecedores das diversas zonas e durante o período diurno. Mais tarde, quando as marcas começaram a dispor de fonte luminosa, passaram a apresentar uma luz fixa, facilmente confundível com luzes situadas em terra ou a bordo de embarcações. No entanto, já era possível garantir alguma segurança na navegação nocturna, embora reservada aos práticos locais. Os não conhecedores deparavam-se com uma série de luzes, porventura iguais, dispersas numa área à sua frente. Numa altura em que a cartografia estava longe de ser uma ciência exacta, estariam certamente bastante longe de “decifrar” o seu real significado e conseguir encontrar o caminho certo rumo ao destino pretendido. Os Egípcios e os Romanos, face ao crescente e intenso comércio que se foi desenvolvendo no Mar Mediterrâneo, evidenciaram-se como pioneiros na implantação dos primeiros faróis, que mais não eram que fogueiras acesas em locais específicos ermos e proeminentes, destinados a garantir maior segurança à navegação nocturna. Não foi por acaso que no Século III a.C. Ptolomeu II mandou construir na Ilha de Pharos (origem etimológica da palavra Farol) o Farol de Alexandria – um dos fogos mais
1852 – Os faróis passam para a alçada do Ministério das Obras Públicas, entretanto criado. Entre 1864 e 1892 – A responsabilidade pelo serviço de faróis constitui responsabilidade da Direcção-Geral de Telégrafos e Faróis do Reino (Ministério das Alfândegas e Obras Públicas, de 29 de Dezembro de 1868 a 7 de Julho de 1880) e da Direcção-Geral dos Correios, Telégrafos e Faróis (de 7 de Julho de 1880 a 14 de Agosto de 1892). 1865 – É instalado no Farol de S. Julião um aparelho lenticular fixo, que utilizava como fonte luminosa um candeeiro a azeite ou petróleo e posteriormente um bico queimando gás proveniente da destilação da madeira, constituindo o primeiro farol em Portugal a utilizar um gás como combustível para a sua fonte luminosa. Em 1871 foi instalado no Farol de Nossa Senhora da Guia idêntico sistema de queima. 1868 - Entra em funcionamento o Farol de Santa Marta, em Cascais. 1868 – O capitão-de-fragata engenheiro hidrógrafo Francisco Maria Pereira da Silva, que já tinha anteriormente exercido as funções de Inspector de Faróis em 1864 (primeiro oficial da Marinha a dirigir o serviço de faróis) é nomeado para integrar uma comissão criada para estudar e propor uma nova organização dos faróis.
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JOAQUIM BOIÇA ,
À CONVERSA COM
ENTREVISTA
ESTÁ UM FINAL DE TARDE CHUVOSO; NESTES ÚLTIMOS DIAS A CHUVA NÃO TEM DADO TRÉGUAS. ESTOU NUM BAR, NA PRAIA DA TORRE, PERTO DE OEIRAS E AGUARDO A CHEGADA DE JOAQUIM BOIÇA. FOI ELE QUE ESCOLHEU O LOCAL… O MAR ESTÁ REVOLTO, QUEZILENTO. E ESTÁ FRIO. SÃO QUASE SEIS E MEIA… A HORA COMBINADA. ELE DEVE ESTAR A CHEGAR. OS NOSSOS ENCONTROS TÊM SIDO MARCADOS PELA “PONTUALIDADE BRITÂNICA”. NÃO FALHA! AÍ ESTÁ ELE. EM PONTO. UM APERTO DE MÃO VIGOROSO, UM SORRISO SEMPRE RASGADO NO ROSTO E UMA VONTADE ENORME DE FALAR SOBRE FARÓIS. Joaquim Boiça nasceu em 1958 e é licenciado em História pela Universidade Clássica de Lisboa, Faculdade de Letras. Tem dirigido e coordenado projectos museológicos e/ou museográficos, com destaque para os que desenvolveu em Mértola Vila Museu e para o Farol Museu de Santa Marta, em Cascais. Actualmente a sua principal área de investigação é a historiografia dos faróis portugueses. É o actual Presidente da Direcção da Espaço e Memória, Associação Cultural de Oeiras. (CONSULTOR CIENTIFICO DO “CONHECER” DESTE NÚMERO DA ITINERANTE)
41 ENTREVISTA
Por que razão escolheu este local para nos encontrarmos? Fiquei curioso quando, ao telefone, pediu para que fosse aqui... Sem razão especial... Aqui é como se estivesse em casa... Este local pertence ao meu imaginário juvenil... Eu vivi no Forte de S. Julião da Barra... A Praia da Torre e este restaurante foram parte integrante da minha juventude. Sinto-me bem aqui... S. Julião da Barra de um lado, o Bugio do outro... Faróis sempre presentes... Sim. É um facto. Os faróis fazem parte da minha vida. Não nasci num farol – tenho familiares meus, primos, que nasceram – nasci na cidade, em Aveiro, mas nasci aí porque o meu pai estava a fazer serviço no Farol da Barra de Aveiro. A excepção foi mesmo só o nascimento porque depois vivi, durante muitos e muitos anos em faróis... Por onde é que andou? Não andei por muitos sítios... Depois de Aveiro viemos para a zona de Lisboa e por aqui fomos ficando... Morei em Cascais, em Paço de Arcos, em S. Julião da Barra, no Cabo Raso, na Roca... No fundo, foi um pequeno saltar. Diferente é quando, por exemplo, se estava na Costa Norte e depois se ia parar aos Açores... Havia essas situações mas também havia a preocupação de preservar as raízes familiares e nessa altura, nos anos sessenta, setenta, isso era particularmente evidente. Havia autênticos conjuntos familiares. Parece que havia como que um passar de testemunho... passava de pais para filhos... É natural. Aconteceu isso com o meu pai. Ele até não pensava ser faroleiro só que há uma circunstância, que permanece real e motivadora para quem vai para este ofício: tem uma casa... Melhor ou pior é uma casa... E depois tem uma pequena horta, pode pescar o peixe para o almoço... Tudo isso favorecia a decisão. Uma das coisas curiosas, quando se fala sobre estas questões, tem a ver com o papel que as mulheres dos faroleiros assumiam; acabavam por ser uma espécie de faroleiras, não é? Em termos sociológicos é extremamente interessante, porque não são muitas as profissões onde a mulher vive no local de trabalho do marido... E muitas vezes elas assumiam parcialmente a responsabilidade. Em 1865 foi elaborado um relatório sobre a realidade dos faróis portugueses e no inquérito que é feito perguntava-se se o faroleiro sabia ler e escrever. Em alguns faróis isso não acontecia e como a mulher o sabia era ela quem fazia os registos. E os filhos, quando era preciso, também trabalhavam...
A tal passagem de testemunho... É isso. Para as autoridades, esta passagem de testemunho até era benéfica; um filho de faroleiro já sabia o que o esperava, já conhecia perfeitamente o ofício, não necessitava de grandes cursos, de grandes aprendizagens; em muitos casos, os filhos dos faroleiros já eram quase os faroleiros. De qualquer forma e só para falarmos mais um bocadinho sobre si... não segue a vida de faroleiro mas quando se torna investigador vai pegar nessas vivências e vai estudar a história dos faróis? Mas não comecei logo. O interesse existia, como é óbvio, mas, no início peguei noutros temas. Depois, quando surgiu a oportunidade não a enjeitei e apercebi-me logo que, do ponto de vista historiográfico, era um assunto que estava pouco trabalhado. Ainda hoje é assim, apesar dos avanços que se deram. Estou convencido que a dispersão das fontes históricas é uma das causas dos poucos trabalhos que há sobre faróis. Por que é que isso acontece? Por causa do enquadramento institucional dos faróis; primeiro estiveram na dependência da Junta do Comércio, depois passaram para o Ministério do Reino, depois Ministério das Obras Públicas, Obras Públicas e Transportes e, finalmente Ministério da Marinha. Estes saltos dificultam a pesquisa. E às vezes encontra-se documentação em sítios que não nos passaria pela cabeça. No outro dia, a minha mulher descobriu, num local onde não devia estar, nem sabemos como é que lá foi ter, o primeiro regulamento de faroleiro que se conhece... OS NOSSOS PRIMEIROS FARÓIS SÃO CONSEQUÊNCIA DE SERMOS UM PAÍS QUE PARTE À DESCOBERTA... Falemos sobre os nossos faróis. Quando é que surgem os primeiros faróis, em Portugal? Há um enquadramento de fundo para a emergência dos faróis em Portugal: somos um país que parte à descoberta e é a intensificação do nosso comércio marítimo que vai impulsionar a história dos nossos faróis; daí que seja precisamente nas décadas de vinte e trinta do século XVI, que surgem os primeiros faróis em Portugal. E estamos a falar de que faróis? É engraçado... são em três pontos-chave da costa. É o Farol do Cabo de S. Vicente, em 1520, sensivelmente, depois em 1528, esta data é segura, o Farol de S. Miguel-o-Anjo, no Porto e, por volta de 1537, o Farol da Guia...
CAMINHAR WALKING
MICRO TRILHO Pela sua importância para o tema (faz a ligação de três faróis), pela sua beleza natural e pelo seu interesse turístico, é obrigatória a inclusão neste número deste pequeno percurso pedestre na zona de Cascais. Preparámos um MicroTrilho (6,4 km) muito fácil, sempre plano, que permite fazer a ligação entre o Farol do Cabo Raso e o Farol de Sta. Marta, passando pelo farol da Guia. Este MicroTrilho, não circular, inicia-se assim no Farol do Cabo Raso e segue sempre a pedovia em direcção a Cascais. Acompanham-se as arribas com o mar do lado direito e as dunas do parque natural de Sintra-Cascais do lado esquerdo. Passa-se pelo bonito e totalmente restaurado Forte de S.Jorge de Oitavos, de seguida pelo farol da Guia, terminando o passeio no Farol Museu de Santa Marta.
CASCAIS PONTOS DE INTERESSE/ REFERÊNCIA FAROL DO CABO RASO O Farol do Cabo Raso está implantado no pequeno forte marítimo de S. Brás, que foi erguido com o objectivo de vigiar aquele trecho do litoral. Cruzava fogos com o Forte de Crismina na defesa da praia do Guincho, vasto areal onde embarcações inimigas facilmente poderiam desembarcar tropas. Com uma torre metálica vermelha de 13 m de altura e actualmente com um alcance de 20 milhas marítimas, o farol está em funcionamento desde 1894. The Cabo Raso Lighthouse stands on the small maritime fort of S. Brás that was built to watch over that area of the coastline. It crossed fire with the Crismina Fort to protect the Guincho beach where enemy vessels could easily land troops. With a 13m high red metal tower and currently with a 20 nautical mile reach, the lighthouse has been operating since 1894.
FORTE DE S.JORGE DE OITAVOS Construído entre 1642 e 1648, este forte era inicialmente conhecido como baluarte de Oito Ovos, por estar perto do cabeço com o mesmo nome, hoje designado Oitavos, onde então existia uma vigia. Fortificação marítima de pequenas dimensões, apresenta planta poligonal de cinco lados desiguais, adaptada ao relevo da falésia onde se ergue. Desde cedo a sua defesa foi reforçada por uma trincheira. Dispõe também de uma extensa bateria, cisterna e guaritas. Ao longo do parapeito, que no fim do século XVIII recebeu canhoeiras e merlões, posicionam-se as peças de artilharia e na rectaguarda, ao centro, ergue-se o antigo quartel e demais dependências abobadadas. O Forte é hoje um Centro Interpretativo, aberto ao público, onde se conta a história das fortificações marítimas do concelho de Cascais. Built between 1642 and 1648, this fort was originally known as the Oito Ovos stronghold because it stood near the Oito Ovos hill, currently Oitavos, where there was a look-out. A small sized maritime fortification, it has a poligonal plant with five different sides that is adjusted to the relief of the cliff where it stands.
FAROL DA GUIA MicroTrail - Cascais Owing to its relevance to the subject (it makes the connection between three lighthouses), its natural beauty and touristic interest, this short pedestrian trail in the Cascais area is a must. We have prepared a Micro- Trail (6,4 km) that is a very easy walk following flat ground and that allows to make the connection between the Cabo Raso and the Sta. Marta lighthouses, passing by the Guia lighthouse. This non-circular Micro Trail starts at the Cabo Raso lighthouse and follows the pedestrian lane towards Cascais. It offers beautiful views: the cliffs and the sea on the right side and the dunes of the Sintra-Cascais natural park on the left. Then the trail goes through the lovely and fully restored Forte de S.Jorge de Oitavos, the Guia lighthouse and ends at the Santa Marta lighthouse museum.
Pensa-se que terá começado a funcionar em 1537. Muito danificado pelo terramoto de 1755, foi totalmente reconstruído em 1761, com o aspecto actual de uma torre octogonal em alvenaria, branca com lanterna vermelha. Tem edifícios anexos, 28 metros de altura e alcance de 19 milhas. Possui ainda um farolim de enfiamento Santa Marta - Guia, de luz vermelha com um alcance de 16 milhas náuticas. It started operating in 1537. Extremely damaged by the 1755 earthquake, it was totally rebuilt in 1761. It is a 28 metre high white octagonal masonry tower with a red lantern and adjacent buildings.
FAROL DE SANTA MARTA Este farol situa-se num pequeno forte com o mesmo nome, erguido na década de 50 do século XVII num esporão rochoso avançado sobre o mar, tendo feito parte da defesa marítima de Cascais até ao século XIX. Em 1762 foi modernizado, tendo iniciado o seu funcionamento como farol em 1868, após perder o seu valor militar. Transformado em 1908 e aumentado em 8 metros no ano de 1936, foi automatizado em 1981, dispensando desde então a presença contínua de faroleiros. Tem uma altura de 20 metros e um alcance de 18 milhas. Neste Farol Museu reúnem-se peças simbólicas que ilustram a sua actividade enquanto farol, destacando-se um conjunto de aparelhos ópticos dos séculos XIX e XX, bem como um núcleo audiovisual onde é feita a exibição de um documentário multilingue sobre os faróis de Portugal. This lighthouse stands in a small fort with the same name. It was built in the middle of the 17th century on a rocky strip of land over the sea. It was part of the maritime defence of Cascais up to the 19th century. In 1762 it was modernized and started operating as a lighthouse in 1868 after losing its strategic interest.
CLASSIFICAÇÃO Classificação /
7/10 ITINERANTE Rating
6,4 km Farol do Cabo Raso N38º 42´ 33.5” W9º 29´ 06.7”
Farol de Santa Marta N38º 41´ 25.8” N3 W9º W9 25´ 16.2”
Mapas/Maps IGeoE: Folhas nº 429 e 430
OUTROS PONTOS DE INTERESSE MUSEU-BIBLIOTECA CONDES DE CASTRO GUIMARÃES A construção da Torre de S. Sebastião, actual Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães, data do início do século XX e foi mandada edificar pelo aristocrata Jorge O’Neill. Obra notável da arquitectura romântica, a Torre de S. Sebastião fascina pela mistura de estilos e por um envolvente misticismo. Em 1910, o palácio foi vendido aos Condes de Castro Guimarães que, após procederem a algumas alterações, passaram a habitá-lo grande parte do ano. O Museu-Biblioteca dos Condes de Castro Guimarães foi oficialmente inaugurado a 12 de Julho de 1931. The construction of the S. Sebastião Tower, currently the Condes de Castro Guimarães Museum-Library, was commissioned by the aristocrat Jorge O’Neill in the beginning of the 20th century. A remarkable work of romantic architecture, the S. Sebastião Tower fascinates due to the mix of different styles and a surrounding mysticism. In 1910 the palace was sold to the Condes de Castro Guimarães who after some alterations inhabited it for most of the year. The Museu-Biblioteca dos Condes de Castro Guimarães (Museum-Library) was officially inaugurated on July 12, 1931.
FORTALEZA DA CIDADELA Fortificação seiscentista que protegia a baía de Cascais e fazia parte de um cordão de artilharia costeira que defendia as zonas de desembarque na aproximação à capital. Proporciona um belo panorama e abriga, actualmente, um pequeno museu de artilharia ao ar livre. A fortification that dates back to the 16th century that protected the Cascais Bay and was part of a coastal artillery system that defended the landing areas close to the capital. It offers splendid views and currently houses an outdoor small museum of artillery.
MUSEU DO MAR O Museu do Mar Rei D. Carlos está sediado no espaço do antigo Sporting Club de Cascaes, fundado em 1879, por iniciativa do então Príncipe Carlos (futuro D. Carlos I). Durante várias décadas do século XX, este edifício, também conhecido por Clube da Parada, foi palco de muitos acontecimentos sociais, lugar de lazer e de divertimento. Em 7 de Junho de 1992, foi inaugurado neste local o actual Museu do Mar. The Museu do Mar Rei D. Carlos is housed in the old Sporting Club de Cascaes and was founded in 1879 by the then crown prince Carlos (later King D. Carlos I). For several decades in the 20th century this building also known as Clube da Parada was the setting of many social events, a place of leisure and entertainment. On July 7, 1992, the current Museu do Mar was inaugurated.
63 TRILHO 3
CARVOEIRO CLASSIFICAÇÃO Classificação / Rating
ITINERANTE
7/10
14,9 km 4h30 350m Peniche Sim|Yes Sim|Yes
Farol do Cabo Carvoeiro N39º 21’ 36.5” W9º 24’ 28.8”
Mapas/Maps IGeoE: Folha nº 337
3
64 TRILHO 3
DO FAROL DO CABO CARVOEIRO A PENICHE Este trilho, circular, inicia-se e termina no Farol do Cabo Carvoeiro. Desenrola-se quase sempre com o mar à vista, percorrendo todo o perímetro da península de Peniche. É um trilho sem grandes dificuldades que passa por locais de grande beleza natural. Na costa sul, a partir do imponente e “selvagem” Cabo Carvoeiro, o trilho leva-nos até Peniche sempre pela arriba, acompanhando o mar e passando por belas zonas naturais, como é o caso da Gruta da Furninha. Em Peniche, onde visitamos a Fortaleza, passamos por uma zona urbana e vamos até à praia. A partir daqui, caminha-se ao longo de toda a costa norte, passando pela Papoa e pelo Santuário dos Remédios, com a ilha da Berlenga ao longe.
FROM CAPE CARVOEIRO LIGHTHOUSE TO PENICHE This circular trail begins and ends at Cape Carvoeiro Lighthouse almost always within sea view and around all the Peniche peninsula. It’s an easy trail of an extreme natural beauty. On the southern coast, from the imposing and wild Cape Carvoeiro on, the trail takes us to Peniche always along the cliffs and the sea and past beautiful natural spots such as the Furninha Cave. We’ll visit the fortress in Peniche walking through an urban region towards the beach. From there on we walk along the northern coast past Papoa and the Sanctuary of Remédios with the Isle of Berlenga in the distance.
DESCRIÇÃO , DO TRILHO
ENTRE OS PONTOS DE INTERESSE O trilho inicia-se junto ao cabo Carvoeiro, por um estradão de terra batida que acompanha a costa sul da península de Peniche. Segue-se sempre junto às arribas, até descer umas escadas para o mar que dão acesso a uma varanda sobre o oceano, junto à gruta.
Retoma-se o caminho em direcção a Peniche. Junto às primeiras casas, depois da praia do Porto de Areia Sul e de um restaurante, segue-se uma rua que acompanha um varandim, junto ao mar. Vai-se por entre as casas, por ruas muito estreitas e quase labirínticas, até chegar à Fortaleza de Peniche.
Depois de visitar a bonita Fortaleza, segue-se para baixo, depois pela Avenida do Mar, no largo do Município segue-se para o lado direito, junto à Capitania, passa-se uma ponte pedonal e depois segue-se sempre em frente por uma avenida larga, com a vedação do porto de pesca do lado direito. Depois da rotunda, segue-se pelo meio do jardim, sempre pela ciclovia, virando-se à esquerda antes do estádio de futebol. Passa-se por um túnel por baixo de uma avenida larga, vira-se à esquerda e acompanha-se a avenida pelo caminho pedonal. Na rotunda vira-se para a direita e pouco depois, junto a um hotel, vira-se à esquerda, atravessa-se a estrada e a duna até à praia de Peniche. Chegando à praia, vai-se pelo areal para o lado esquerdo, até junto à muralha da cidade de Peniche. Entra-se nas muralhas e vira-se de imediato para a direita, passando-se a acompanhar a costa norte. Depois do forte da Luz, chega-se à Papoa através de uma pequena ponte.
Continua-se pelas arribas, por trilhos de pé posto e estradões de terra batida. Passa-se pela Ponta do Trovão, até ao Santuário dos Remédios.
Continua-se a acompanhar a costa, sempre com o mar e a ilha da Berlenga à vista, até chegar ao Farol do Cabo Carvoeiro.
1 Km
65 TRILHO 3
PERFIL VERTICAL
Carta militar do Instituto Geográfico do Exército
66 TRILHO 3
PONTOS DE INTERESSE/ REFERÊNCIA PAPOA
FAROL DO CABO CARVOEIRO O Farol do Cabo Carvoeiro foi mandado edificar pelo alvará pombalino de 1758 e começou a funcionar em 1790. Situa-se a uma altitude de 57 metros acima do nível do mar e tem uma altura de 27 metros. O edifício onde assenta a lanterna é uma torre quadrangular em alvenaria. Encontra-se junto à igreja de Nossa Senhora da Vitória, sobre a qual consta ter havido uma luz para guia dos navegantes antes da existência do farol. Actualmente, a sua luz tem um alcance de 15 milhas náuticas. Cape Carvoeiro Lighthouse was built by order of Marquês de Pombal in 1758 and began working in 1790. It stands 57 metres above sea level and it is 27 metres high. The building where the light is set is a quadrangular masonry tower. It stands near Santa Maria da Vitória Church where the legend has it there was a light to guide sailors before the lighthouse had been built. At present its light has a 15 sea miles range.
GRUTA DA FURNINHA A Gruta da Furninha, localizada na costa Sul da península de Peniche, corresponde a uma cavidade natural ocupada durante o período pré-histórico, tratando-se da mais importante estação pré-histórica do concelho. Hoje localizada junto ao mar, esta gruta foi ocupada entre o Paleolítico Médio e o final do Calcolítico, tendo sido escavada em 1880 pelo estudioso Nery Delgado. Utilizada como abrigo e necrópole, esta estação pré-histórica forneceu um vasto espólio arqueológico, do qual se destacam: vestígios osteológicos de vários hominídeos, nomeadamente do Homo Sapiens (Homem de Neandertal) e de Homo Sapiens Sapiens (Homem actual); vestígios de fauna do período quaternário (peixes e mamíferos); utensílios líticos (bifaces, pontas de seta, machados de pedra polida...); utensílios em osso; e várias peças de cerâmica neolítica (os célebres vasos de suspensão da Gruta da Furninha).
Furninha Cave is located on the southern coast of the Peniche peninsula; it’s a natural cave that was inhabited in prehistoric times and it is the most important prehistoric site of the region. Nowadays situated by the sea, this cave was occupied between the middle Palaeolithic and the late Calcolithic and it was excavated in 1880 by scholar Nery Delgado.
FORTALEZA DE PENICHE
A Papoa é uma pequena península, quase ilhéu, situada na costa norte da península de Peniche. Aqui nidificam diversas aves, podendo observar-se uma colónia permanente de corvos-marinho-de-crista. Foi na Papoa que ocorreu em 1786 o importante naufrágio do navio de guerra espanhol San Pedro de Alcântara. Papoa is a small península, almost an islet, situated on the northern coast of the Peniche península. Different birds nest here; there is even a permanent water crows colony. The shipwreck of the Spanish man-of-war San Pedro de Alcântara took place in 1786 in Papoa.
SANTUÁRIO DOS REMÉDIOS A Capela de Nossa Senhora dos Remédios constitui a base de um Santuário consagrado ao culto mariano. Desconhece-se a data de construção desta igreja, supondo-se todavia que terá sido edificada no séc. XVI. Segundo a lenda, a imagem de Nossa Senhora terá sido encontrada no séc. XII escondida numa pequena caverna situada no local onde hoje se ergue a capela, tendo-se iniciado, a partir dessa data, o culto da chamada Senhora dos Remédios. A importância deste culto traduzido em peregrinações anuais, os círios, terá motivado a criação de um santuário no séc. XVII, composto pela referida igreja e por uma praça fronteira orlada de casas nas quais residiam o ermitão e os mordomos, se abrigavam os romeiros e se implantavam as cavalariças. No que toca a este templo é de salientar a capela-mor onde se venera a imagem de Nossa Senhora, os painéis de azulejos setecentistas evocando episódios da Paixão de Cristo e a chamada capelinha do Senhor Morto onde se venera uma imagem de Cristo, apelidada de Senhor dos Remédios.
The Chapel of Nossa Senhora dos Remédios is the basis for a sanctuary dedicated to Marian worship. The date of construction is unknown; however, it is supposed to have been built in the 16th century. Legend has it that the image of Virgin Mary was found hidden in the 12th century in a small cave on the very spot where the chapel stands nowadays, thus starting the worship of the so called Senhora dos Remédios. This worship was so important that people went there on annual pilgrimages, the “círios”, which would have led to the building of a sanctuary in the 17th century. It is formed by the above mentioned church and an opposite house-lined square. Those houses were the hermit’s and the piligrimage organizer lodgings and shelter for pilgrims.
Mandada edificar por D. João III em 1557 e concluída em 1645 por D. João IV, que a considerou a principal chave do Reino pela parte do mar, destacam-se na Fortaleza de Peniche, para além da típica traça em estrela, o Baluarte Redondo primeira fortificação construída na península de Peniche - a Torre de Vigia, e a capela de Santa Bárbara. Este imóvel viu o seu espaço utilizado de forma diversa de acordo com as necessidades e as vicissitudes históricas de cada época. Praça militar de vital importância estratégica até 1897, abrigo de refugiados Boers provenientes da África do Sul no início do séc. XX, residência de prisioneiros alemães e austríacos durante a Primeira Guerra Mundial, prisão política do Estado Novo entre 1934 e 1974, alojamento provisório de famílias portuguesas chegadas das antigas colónias ultramarinas em 1974 e, a partir de 1984, albergue do Museu Municipal, a Fortaleza de Peniche assume especial relevância enquanto importante documento de uma diacronia histórica de índole local e nacional.
D.João III had it built in 1557 and it was finished in 1645 by order of D.João IV who considered it the main sea access to the kingdom. Apart from its typical star-shaped layout, the outstanding parts of Peniche Fortress are the Round Bastion (the first fortification to be built in the Peniche peninsula), the Watchtower and Santa Bárbara Chapel. This building has had different uses according to the needs and historical hazards of each epoch. It was a military site of vital strategic importance till 1897, a refugee shelter for Boers from South Africa in the early 20th century, a home for German and Austrian prisoners during the First World War, a political prison of Estado Novo (Salazar’s government) between 1934 and 1974 and temporary lodging for Portuguese families running away from the former Portuguese overseas colonies in 1974. From 1984 on it has housed the local museum. Thus the fortress is a particularly relevant document of both the local and national course of history.
88 À MESA
COM FARTURA E
MUITO ESMERO
É
óbvio que toda a gente conhece o restaurante da Quinta do Farta Pão. Não? Pois então, não sabem o que perdem! O Farta Pão, como é mais conhecido, situa-se no Concelho de Cascais, no lado esquerdo da estrada para a Malveira da Serra, 1,3 km após passar o cruzamento de Murches. Embora se aviste da estrada, fica um pouco escondido pelo que requer alguma atenção. Tem um grande parque de estacionamento vigiado. Com uma ampla e espaçosa zona de refeições, possui também um jardim contíguo onde, assim o tempo o permita, se pode tomar um copo e petiscar. A sala principal, outrora com artefactos agrícolas nas paredes, conserva como decoração dessa época apenas as bases de tonéis nelas incrustadas. Ao fundo, a grande lareira com traves de madeira, que ocupa a quase totalidade da parede, foi também poupada continuando a conferir, juntamente com o tecto igualmente em madeira, o ar bucólico e rústico, ainda que muito mais arejado. É pois um restaurante com ambiente típico, onde impera a cozinha tradicional portuguesa, da qual as sopas – o caldo verde, o caldo do cozido à portuguesa ou a sopa de mariscos – são propostas bem representativas. E é precisamente pelo cozido à Portuguesa que o Farta Pão ficou afamado: especialidade cozinhada diariamente, que se pode repetir o que quiser, até fartar! A qualidade e tempo de
cocção das carnes, os enchidos, as couves e legumes dão a este prato um sabor realmente digno de ser experimentado, que não se altera com o passar dos anos. Quem lá for pela primeira vez tem que ter cuidado para não se deixar tentar por todos os acepipes colocados na mesa pois, por serem, eles também, de uma qualidade ímpar, corre o perigo de não lhe sobrar vontade para os pratos principais, servidos em doses bem generosas. Nos peixes e mariscos, desde o pregado, garoupa, sargo, robalo e linguados da nossa costa para grelhar, às amêijoas e gambas confeccionadas de variadíssimas maneiras, passando pelo arroz de tamboril, pelos filetes de cherne, pelas espetadas ou pelo bacalhau à lagareiro, tudo é feito com esmero. A nossa escolha recaiu na espetada de lulas e na açorda de gambas. As lulas, acompanhadas com batatas a murro e feijão verde e regadas com um excelente azeite, estiveram à altura. Mas a açorda de gambas com coentros é, sem qualquer sombra de dúvida, um prato que, desde a primeira vez que tivemos o ensejo de o experimentar (e já lá vão algumas décadas!), nos preenche a boca de prazer ao saborear, tal é a textura e paladar do bom pão da região, desfeito em azeite e alho, que envolve as magnânimas gambas cozidas no ponto. Nas carnes, para além do já famigerado cozido à portuguesa, outras iguarias há que também não lhe ficam atrás, nomeadamente o cabrito assado à saloia, outro ex-líbris desta
89 À MESA
INFORMAÇÕES
Classificação Itinerante Itinerante Rating :
casa, ou ainda o pato com laranja, o tornedó com molho de natas e cogumelos, a carne de porco à alentejana ou os secretos de porco preto grelhados. Quanto aos doces, as propostas apresentadas são, também elas, honestas. No entanto, as farófias não respeitavam fielmente a receita tradicional, não tendo as claras sido cozidas no leite, às colheradas, uma a uma; foram, em vez disso, levadas ao forno num tabuleiro e de seguida cobertas com o tradicional creme de leite. O sabor não desagradou mas faltou-lhes a textura do creme a envolvê-las. Já quanto ao bolo de bolacha, apesar de inovador em termos de confecção, manteve o sabor que lhe é característico. A tarte de queijada de Sintra é outra iguaria a não perder. A carta de vinhos complementa com rigor aconselhando-se, no entanto, o vinho da casa, oriundo da região de Aveiras, servido em jarro de barro. O serviço é competente e atencioso. Por tudo isto os bons “garfos” não o devem perder, não podendo esquecer a reserva de mesa. n
Eating to one’s heart’s content The Farta Pão restaurant is situated in the Cascais county, on the left side of the road to Malveira da Serra, 1,3 km after the Murches intersection. Although one can catch a glimpse from the road, it is somewhat hidden and one has to pay attention not to miss it. There is a large guarded parking lot. It has a wide and spacious dining that opens to a patio where, weather permitting, one can have drinks and nibbles. It is a restaurant that offers quality Portuguese traditional dishes in huge servings. You should therefore pay attention and avoid to be tempted by all the superb starters that are placed on the table since you could lose your appetite. But do not forget to try the mushrooms and the variety of cheese. So close to the sea, all the variety of fish and seafood that can be found in this area is very well represented here. You should try for instance ‘açorda de gambas’ (a shrimp and bread pudding dish) or the codfish Lagareiro’ s style. But their great specialities are the meat dishes, where the ‘cozido à portuguesa’ (Portuguese stew) and the ‘cabrito assado à saloia’ (roast goat) truly stand out. The ‘cozido’ is one of the most representative dishes of the traditional Portuguese cooking and the version that is offered here is surely one of the best. The desserts and the wine list are very satisfactory. The service is competent and attentive. It is advisable to book in advance.
8/10 Restaurante Quinta do Farta Pão Alcorvim de Baixo Estrada da Malveira da Serra 2755-162 ALCABIDECHE Contactos / Contacts: Telefone: +351 214 870 568 FAX: +351 214 858 289
Horário de Funcionamento / Working Hours: Aberto até às 23h / Open till 23h Encerra às segundas-feiras / Closes on Mondays
Preço Médio / Average Price: 20.00 / 25.00 euros
Pagamento / Payment Multibanco e Cartões de Crédito
Coordenadas GPS / Coordinates: N 38° 24' 34.8" W 9° 27' 04.7"