ITINERANTE Nº5

Page 1



1

!"#$%&#'( uem conhece Portugal sabe que são inúmeras as suas maravilhas naturais, de Norte a Sul, no Continente e nas Ilhas, sem excepção. A empresa promotora das “7 Maravilhas Naturais de Portugal” fez um levantamento inicial onde seleccionou 323 candidaturas, das quais 77 mantiveram-se na corrida como pré-finalistas. Este processo culminou numa votação pública, on-line, tendo como concorrentes somente 21 desses locais. No final, ganharam 7. Sejam ou não as que mais merecem essa distinção, uma coisa é certa: todas as 7 vencedoras são Maravilhosas! É, pois, em ambiente de grande beleza natural que se caminha com esta edição da Revista Itinerante. Vamos à descoberta destas 7 maravilhas para melhor as conhecer – preparamos o terreno com uma boa leitura, para depois o desbravarmos... a pé. Os textos transportam-nos ao fundo de grutas, ao cimo de montanhas, a paisagens de floresta luxuriante, ao litoral onde Atlântico e Mediterrâneo se encontram. Com eles vamos conhecer lágrimas coloridas de antigas lendas e linguajares locais quase esquecidos. Depois de os ler, nada nos vai fazer ficar em casa! E no final, porque não uma iguaria da gastronomia local, bem merecida depois do esforço dispendido, para recuperar as calorias perdidas? Mas não ficamos por aqui! Desta vez trazemos uma nova secção onde apresentamos uma outra forma de usufruir os trilhos: o geocaching. Definido como a versão hi-tech da “Caça ao tesouro”, o geocaching tem entusiastas em todo o mundo – sozinhos ou em grupo, com amigos ou família, o desafio é a procura dos geocaches escondidos e a partilha dessa experiência on-line. Uma vez que a localização dos geocaches é registada pelas suas coordenadas, o geocaching pratica-se com GPS, um equipamento que tem estado a vulgarizar-se rapidamente. Aliás, o GPS é, desde a edição nº 1, um “parceiro” potencial do caminheiro Itinerante, uma vez que todos os trilhos da revista estão disponíveis para download em www.itinerante.pt Com ou sem geocaches à vista, esta edição da Itinerante leva-nos numa autêntica caça ao tesouro em 7 etapas, todas elas com um tesouro à nossa espera – as 7 Maravilhas Naturais de Portugal. Nuno Gama Nunes

)

Those who know Portugal are fully aware of its many natural wonders, from North to South, in the mainland and in the islands with no exception. The company that promoted the “7 Natural Wonders of Portugal” contest had initially selected 323 applicants, 77 of which stayed in the race as semi-finalists. This process ended with another round of on-line public voting to select the 7 winners from 21 semi-finalists. Whether or not they are those that deserve this title, one thing is sure: all the 7 winners are wonderful! It is therefore in an environment of great natural beauty that we walk with this issue of the Itinerante magazine. We are going to discover these 7 wonders in order to know them better – first we will prepare the ground with good reading and then we will walk... The texts take us to the bottom of caves, to the top of mountains, to landscapes of luxuriant forest, to the coast where the Atlantic and the Mediterranean meet. Through them we are going to know colourful tears of ancient legends and local dialects almost forgotten today. After reading them, no one will be able to make us stay at home! And in the end, why not a well deserved local cuisine meal in order to recover the lost calories after all that effort? But there is more. This time we have a new section where we present you a new way to enjoy the trails: geocaching. Geocaching is the hi-tech version of the treasure hunting game and has fans all around the world – alone or in a group, with friends or family, the challenge is to find hidden geocaches and the on-line sharing of this experience. Since the location of the geocaches is carried out through their coordinates, geocaching is a game where you use a GPS receiver, the use of which has been growing rapidly. Besides, since issue nº 1 GPS has been a potential “partner” of the Itinerante walker, since all the trails are available for download at www.itinerante.pt With or without geocaches in sight, this Itinerante issue will take us in a true treasure hunt in 7 stages, all of them with a treasure waiting for us – the 7 Natural Wonders of Portugal.


#*"#+! Propriedade e Edição: Itinerante - Divulgação Histórica e Cultural, crl. NIPC 508951500 Morada (Sede/Redacção): Rua Abranches Ferrão, 23-3º, 1600-296 Lisboa info@itinerante.pt www.itinerante.pt Direcção: Nuno Gama Nunes Redacção: José Constantino Costa (coordenador CONHECER) - jose.costa@itinerante.pt Nuno Gama Nunes (coordenador CAMINHAR) - nuno.nunes@itinerante.pt Carlos Vaz (coordenador CONVIVER) - carlos.vaz@itinerante.pt Carlos Oliveira Duarte Vilar Miguel Ângelo (cartoon) Tratamento de imagem: Luís Ribeiro - luis.ribeiro@itinerante.pt Tradução: Casimira Albuquerque Maria João Batalha Reis 4VSHYpnS +Vj½GE Joana Oliveira Susana Gama Web Design: CoreFactor - IT Consulting & Design Publicidade: publicidade@itinerante.pt

MOMENTOS CAMINHEIROS

CONHECER PORTUGAL MARAVILHOSO por Francisco Ferreira

ENTREVISTA A LUÍS SEGADÃES

ILHA DA MADEIRA – PÉROLA DO ATLÂNTICO PRAIA DE PORTO SANTO

por João Costa e Silva

À DESCOBERTA DO MUNDO SUBTERRÂNEO ESPELEOLOGIA: O ESTUDO DAS GRUTAS por António Sobreira

O CALÃO DOS NEGOCIANTES por Carlos Alberto

FORMOSA, A RIA por Gonçalo Duarte Gomes

PORTINHO DA AL-RÁBITA – UM SANTUÁRIO NATURAL por Ricardo Soares

PARQUE NACIONAL DA PENEDA GERÊS: MARAVILHA NATURAL por Joaquim Cracel Viana

Assinaturas: assinaturas@itinerante.pt Impressão: 7-+ 7SGMIHEHI -RHYWXVMEP +Vj½GE Rua Pêro Escobar, 21 2680-574 Camarate

A LENDA DAS 7 CIDADES, VERSÃO ITINERANTE

Distribuição: Logista Portugal Cesodilivros Tiragem: 6.000 exemplares Periocidade: Quadrimestral Registo ERC nº 125763 Depósito Legal nº 301328 / 09 ISSN nº 1647-4082

12

PICO – UMA MONTANHA ÚNICA

CARTOON

por Miguel Ângelo

14 16 18 22 24 26 28 29 32 36 40 42 44


CAMINHAR

46 48 50 51 55 59 63 67 71 75

NATUREZA + AVENTURA + GPS = GEOCACHING

LOCALIZAÇÃO DOS TRILHOS

INFORMAÇÕES SOBRE OS TRILHOS DA “PORTA” DE CAMPO DO GERÊS À BARRAGEM DE VILARINHO DAS FURNAS

DA FÓRNEA ÀS GRUTAS

DO PORTINHO À SERRA DA ARRÁBIDA

DA FUSETA A SANTA LUZIA

PELA LEVADA DO CALDEIRÃO VERDE (E DO INFERNO)

PELOS MIRADOUROS EM REDOR DA LAGOA DAS 7 CIDADES

À CONQUISTA DO PICO

CONVIVER

80 82 84 86 88 90 91

DE PAPINHO CHEIO

É, COM CERTEZA, UMA CASA ALGARVIA

A BOA ESPETADA MADEIRENSE

UMA EXPERIÊNCIA GASTRONÓMICA SÓ PARA ALGUNS

UMA APOSTA BEM GANHA

AS PEQUENAS MARAVILHAS por Duarte Vilar

BLOCO DE NOTAS



Lagoa das Sete Cidades / Açores - N37º 50’ 21.3” W25º 47’ 41.7”


12

!"!#$%"&' ()!*$+#*,"& por MARIA LETRA

"'!#-')!*."'(/" subida era íngreme e a Leonor, uma ainda_fumadora_com_ _muito_orgulho, estava aflita... Aflita e irritada! Então não é que a dona do cão_com_problema_na_anca e o dito cão já tinham passado por ela várias vezes?! Como o “menino Cão” precisava de fortalecer as coxas, a dona subia com ele, várias vezes ao dia, aquela subida gigante. E, porque o veterinário tinha desaconselhado as descidas ao dito cão, o marido da dona ia buscá-la, e ao cão, lá acima, numa carrinha pick-up, para os levar de volta ao início da subida.

!

No entanto, se uma grande parte dos viciados é permeável a estes terroristas_do_bem, outra há que reaje exactamente ao contrário do que seria desejado. E a Leonor encaixa nessa parte – os ex-fumadores e a sua verve fazem-lhe alergia e só uma coisa lhe tira a comichão por eles criada: um bom dum cigarrinho, bem puxado e inspirado, eventualmente seguido de um segundo, de preferência aceso no primeiro... É um desafio a que dificilmente consegue resistir!

Mas a luz que irradiava da nobre imagem de si própria, qual cruzado, combatendo o fundamentalismo anti-tabágico, não chegou para se abstrair do calvário daquela subida! Era demais! Quem lhe dera não ser fumadora... Chiu...! Isto foi só um desabafo, que não chegou sequer a ser verbalizado... MAU HUMOR

Sim, a Leonor estava muito irritada! Todos os seus músculos a mandavam parar. Os seus pulmões então, já não sabiam o que mais dizer... E esta história do COMO O SEU cão e da dona do cão, a passarem por ela, lestos JÁ TINHA AFUGENTADO TODA A subida era realmente muuuito íngreme! Íngreme e contentes, vezes sem conta, não era normal! A GENTE, ELA ERA AGORA A Decididamente! e extensa, a pior das alianças. Aliás, era tão íngreme ÚLTIMA DO GRUPO. e tão extensa que até os picaretas falantes se iam Não falem comigo! Não me chateiem! Finjam calando, um a um – o silêncio vindo desse lado é o que eu não existo! maior indicador da dificuldade de uma subida, todo o caminheiro o sabe. Mas pior do que esse estado de quase-coma com que se debatia, era ter que ouvir aquela lenga-lenga tão previsível dos ex-fumadores do grupo: “devias deixar de fumar, como eu”, “eu também era assim e agora olha para mim!”, nhâ nhâ nhâ... nhâ nhâ nhâ... Será que só ela é que reparava que não há seres mais chatos e fundamentalistas do que os ex-fumadores? Se um dia quisermos erradicar um qualquer vício deste mundo, não peçamos ajuda aos puros, àqueles que nunca prevaricaram... O grande segredo é chamarmos os piores entre os impuros, aqueles que mais e durante mais tempo prevaricaram e que entretanto se livraram do vício. Esses exemplos vivos são os doutrinadores mais persistentes e os inspectores mais incorruptíveis. Os melhores dos aliados!

De repente, vislumbrou a salvação! A carrinha pick-up do marido da dona do dito cão_com_problema_na_anca vinha aí, depois de os ter deixado lá em baixo pela milionésima vez. Como o seu mau humor já tinha afugentado toda a gente, ela era agora a última do grupo. E o António, o vassoura, estava entretido a falar ao telemóvel... É agora ou nunca! –“O senhor, por favor, importava-se de me dar boleia até lá acima? É que já estou muito cansada...”. –“Claro! Entre.” E lá foi a Leonor, subida acima, sem que nenhum dos seus companheiros reparasse, de tal maneira absorvidos iam no seu próprio sofrimento. Chegada lá acima descansou. Bendito cão! Quando começou a ver os primeiros companheiros a aproximarem-se, não resistiu: puxou de um cigarro e acendeu-o. –“Então? Prontos para mais uma subidinha?”


conhecer knowing


16

!"#$!%&'#( 0 ()*+&')'!,(-.!'/! !"#$%&#'(#)&*$) +),*"*-%./*$! ITINERANTE (Itin): Como nasceu a New 7 Wonders? Qual a sua razão de ser, isto é, quais são os objectivos da New 7 Wonders? LUÍS SEGADÃES (LS): A ideia partiu do filantropo suíço Bernard Weber. Criou a New 7 Wonders Foundation, com sede no Le Corbusier, em Zurique, com o objectivo de lançar a maior votação à escala planetária jamais realizada para eleger as “Novas 7 Maravilhas do Mundo®”. Partindo do conceito original criado por Bizâncio na Grécia Antiga, há mais de 2.200 anos, quando foram estabelecidas as 7 Maravilhas, que funcionavam como roteiro turístico, a ideia de Weber consistiu em envolver a população mundial numa campanha de divulgação do património construído pelo homem e com isso contribuir para a sua preservação. Ele diz que se queremos salvar alguma coisa, primeiro precisamos de saber apreciá-la realmente. E assim, em 2007, o cidadão de qualquer país contribuiu para a construção de uma memória global, através do seu voto, elegendo as “Novas 7 Maravilhas do Mundo®” a partir de 21 monumentos pré-seleccionados classificados pela UNESCO como Património da Humanidade, anteriores ao século XXI. Na cerimónia que decorreu em Lisboa foram divulgados os resultados da votação à escala global, que se traduziu em mais de 100 milhões de votantes de todo o planeta. Itin: E em Portugal, como é que apareceu a New 7 Wonders? Que projectos já foram desenvolvidos em Portugal? LS: A New 7 Wonders Portugal foi criada exactamente para abraçar o projecto das “Novas 7 Maravilhas do Mundo®”. Fomos nós que organizámos a Declaração Oficial

em 07.07.2007, que decorreu no Estádio da Luz. Foi um dos maiores eventos de sempre em Portugal, tendo tido uma repercussão que ecoou pelos 4 cantos do planeta. Lisboa é hoje reconhecida como a cidade onde esta Declaração Global foi efectuada. Em paralelo, a New 7 Wonders Portugal organizou a eleição das “7 Maravilhas de Portugal®”. Em 2009 foram eleitas as “7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo®”, uma iniciativa que demonstrou o orgulho dos portugueses na sua história, no seu património além-fronteiras, e em 2010 elegeram-se as “7 Maravilhas Naturais de Portugal®”. Itin: Em relação às 7 Maravilhas Naturais como é que decorreu o processo? LS: A eleição das “7 Maravilhas Naturais de Portugal®” teve como objectivo sensibilizar os portugueses para a necessidade de preservar o património natural do nosso país. Porque 2010 foi o Ano Internacional da Biodiversidade, este projecto veio reforçar um movimento ambientalista que cresce a nível global e pretendeu ser uma referência no contributo para a sustentabilidade ambiental no nosso país. Considerou-se Maravilhas Naturais de Portugal os monumentos naturais em território nacional que continham um ou mais aspectos de raridade ou representatividade em termos ecológicos, estéticos, científicos e culturais. Os nomeados foram organizados em 7 categorias, que representam a diversidade paisagística de Portugal: Zonas Marinhas; Grutas e Cavernas; Praias e Falésias; Florestas e Matas; Grandes Relevos; Zonas Protegidas; Zonas Aquáticas não Marinhas. A New 7 Wonders Portugal desenvolveu um levantamento exaustivo dos locais naturais a

considerar para o processo de votação, lista que foi conhecida no início de 2010. Para chegar a uma shortlist de 77 locais naturais pré-finalistas foi criado um painel de 77 especialistas, representantes das várias áreas científicas e com representatividade geográfica nacional, convidados pela New 7 Wonders Portugal. Posteriormente, um painel de 21 personalidades notáveis do nosso país escolheu as 21 Maravilhas finalistas, as quais foram apresentadas para votação pública a 7 de Março de 2010. Nesta lista de 21 Maravilhas finalistas esteve presente, no mínimo, um finalista de cada uma das sete regiões do país: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira, com o objectivo de assegurar a representatividade geográfica do país. Itin: E os portugueses aderiram? LS: De uma forma inequívoca... A votação, auditada pela PricewaterhouseCoopers, decorreu entre 7 de Março e 7 de Setembro e foram registados 656.356 votos, o melhor resultado de sempre. O site do projecto (www.7maravilhas.sapo.pt) contou com 2.623.239 visualizações de páginas, com visitantes provenientes de todo o mundo. Itin: E em relação ao futuro... Está em curso as 7 Maravilhas da Gastronomia... Como está a decorrer esta vossa nova iniciativa? LS: Agora as 7 Maravilhas®, entidade promotora por excelência da identidade nacional do país, convida todos a sentarem-se à mesa e a apreciarem a gastronomia tradicional portuguesa... Em 2010 comemoraram-se os 10 Anos de Gastronomia como Património Cultural e, por isso, a ementa reserva-nos mais um ano em que damos a conhecer um Portugal mais rico, mais saboroso e sempre ao gosto de cada um. Pretendemos, pois, promover e salvaguardar o receituário português, garantir o seu carácter genuíno, promover a exigência de produtos agrícolas de superior qualidade e privilegiar a diversidade regional. Vamos eleger as “7 Maravilhas da Gastronomia®”!



18

adeira, de Ilha da M n ra g a s o m chama; Passa o assi[m] se d re o v r a o it , Que do mu s a primeira o m a o v o p s ó fama. Das que n ome que por n r o p re b le eira, Mais cé ndo a derrad u m o d r se r o ma; Mas, nem p ntas Vênus a a u q m ja ta n a Se lhe ava a, se esquecer su ta es o d n a. Antes, se Pafos e Citer , o id n G , ro De Cip ões Luis de Cam ”, Canto V. as ad sí u L “Os

% * $ ) ! ( & $ ' % $ & % $ # !"

% , & % $ +()," 1 , 0 ! / . " $

ão se sabe quem foi o primeiro homem a avistar esta ilha perdida no Oceano Atlântico... Provavelmente um navegador da antiguidade surpreendido por alguma tempestade ou por um vento mais traiçoeiro! O que não há dúvida é que num atlas italiano, o atlas Medici, de 1370, já lá aparecem assinaladas umas ilhas, mais ou menos na zona. Têm um “formato” diferente mas estão lá! Também não há certezas quanto à data em que os Portugueses chegaram. Sabe-se, e isso sim é certo, que João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, ao serviço do infante D. Henrique, provavelmente em 1418, desembarcaram em Porto Santo. Se logo de seguida se aventuraram a descobrir aquela mancha escura que se via lá ao longe ou se regressaram a Portugal, e só depois, numa segunda viagem, foram até lá, é um mistério que permanece! Tanta incerteza é terreno fértil para as lendas. Uma delas diz que os primeiros habitantes da ilha foram Roberto Machim, um jovem e belo

!

cavaleiro inglês, e a donzela Ana de Arfert que, perdidos de amores e sem qualquer hipótese de casarem, decidiram fugir num barco indo aportar a uma ilha deserta, onde viveram felizes para sempre, num sítio chamado... Machico! Também se conta que os marinheiros portugueses não partiram de imediato de Porto Santo porque recusaram aproximar-se daquela mancha negra que se via ao longe. Diziam ser o abismo, a boca do inferno, o fim do mundo. Parece ter sido a “coragem” do capitão Zarco que, contra ventos e marés, decidiu enfrentar tais desafios sendo recompensado com tanta beleza. Paisagem deslumbrante, luxuriante... Montanhas a cair a pique sobre o mar, vales recolhidos entre altas serranias, densa, muito densa, vegetação, árvores e mais árvores, entrelaçadas umas nas outras, algumas nunca antes vistas... “— Vamos chamar-lhe ilha da Madeira, parece-te bem?” terá talvez perguntado Zarco a Teixeira...

“— VAMOS CHAMAR-LHE ILHA DA MADEIRA, PARECE-TE BEM?” TERÁ TALVEZ PERGUNTADO ZARCO A TEIXEIRA...


19

Que terra de sonho! Hoje, alguns séculos passados, a ilha da Madeira está muito diferente. Continua a ser uma terra de sonho mas já não tem somente meia dúzia de povoadores; tem perto de 250.000 habitantes, conhecidos pela sua simpatia, amor à terra e um prazer enorme em bem receber a visita anual de quase um milhão de turistas que, de todos os cantos do Mundo vêm à procura do clima temperado, do sol constante, do mar azul, de locais únicos e inesquecíveis. Subir ao Monte e descer nos carros de cesto, ir a Cabo Girão sentir o infinito do mar, descobrir Curral de Freiras lá longe, como se de casinhas de bonecas se tratasse, passear entre as casas de colmo de Santana, dar um mergulho nas piscinas naturais de Porto Moniz, ir do Pico do Areeiro ao Pico Ruivo, beber uma poncha ou saborear uma espetada são alguns dos momentos inesquecíveis que podemos passar nesses locais.

Madeira island. a pearl in the atlantic! No one knows who was the first man to catch sight of this island lost in the Atlantic Ocean. It was probably a seaman of Ancient Times caught unaware by a storm or by a deceitful wind! No one is sure about the date the Portuguese arrived there either. What we know for sure is that João Gonçalves Zarco and Tristão Vaz Teixeira probably landed on Porto Santo in 1418 in the service of the royal prince D. Henrique and then risked exploring the dark blur seen in the distance. They found a stunning and luxuriant landscape... Mountains steeply overlooking the sea, valleys hidden among high mountains, dense, very dense vegetation, more and more trees interlacing with each other, some of them never seen before... Nowadays, some centuries later, Madeira island is very different. It is still dreamland but it doesn’t have half a dozen settlers only; it has around 250,000 inhabitants known for their kindness, love for the land and great pleasure in welcoming the annual visit of a million tourists who come to the island from all over the world in search of mild weather, evershining sun, blue sea, unique and unforgettable sites. To climb the “Monte” (mountain) and go downhill in two-seater wicker sledges (toboggan sledges), to go to Cape Girão and feel the infinite sea, to catch a glimpse of Curral das Freiras in the distance as if its houses were doll houses, to walk among Santana’s thatched cottages, to dive into the natural pools of Porto Moniz, to go from Pico do Areeiro to Pico Ruivo, to drink “poncha” (Madeira’s drink made of honey and sugar cane alcohol) or to taste a “espetada” (meat skewered on a wooden stick) – these are some of the unforgettable moments we can live in those places. Another unique site is the Laurisilva Forest. It is UNESCO’s World Natural Heritage since 1999 and it is classified as a Biogenetic Reserve of the Council of Europe. This forest consists of trees and bushes of flat leaves, fern, moss, lichen and other small plants, some of them endemic. It is part of Madeira’s Natural Park and is found mainly on island’s northern coast in São Vicente municipality. On the southern coast, where man’s interference is more evident, the Laurisilva Forest is restricted to some spots. Its origin dates back to the Miocene and Pliocene Periods of the Tertiary Era, about 20 million years ago. Travel to Madeira and walk right through the Laurisilva Forest. You’ll be delighted! Due to its importance, beauty, and uniqueness, the Portuguese have nominated it for the category of Forests and Woods as Portugal’s Natural Wonder.

ifícil de o densa e d tã a er ra ei ad ato na a a ilha da M idiram atear fogo ao m ri b co e u q suas s dec A vegetação nstruírem as eiros colono m co ri a p ar s p o s e ra u assem r clarei derrubar, q as se propag am guirem abri se ch n as co e e u d q focos de a esperança esperavam er uase uma década houve ão n os es el e u nte q ue os colon casas. O q nteceu. D ura que, já na altura em q o ac o m to n co da forma – conta-se o calor era ta prava forte, r toda a ilha o so p e io rt s ao largo. d o n n cê to in m ancorado se o ven , va al ta ch es n e u u F q viviam no a os barcos que fugir par am h n ti e u q


24

!"#$%&'() *+"%'()'%+") ,'()&-./)"$%'(.'*#0(.'&#/$)""10). ano de 1947 ia sequeiro. Pouco tinha chovido no Inverno e os poços e as cisternas estavam quase secos. Era preciso descobrir água. Alguém se lembrou que no sítio dos Moinhos Velhos, em Mira de Aire, uma coluna de vapor de água e ar quente saía de uma fenda, nos dias frios. Talvez... Nada melhor que verificar!

!"

No dia 27 de Julho de 1947, quatro homens da vila – Ernesto Morais, Manuel Zé “da Tia”, Manuel “Trouxa” e Jaime Caetano – decidem aventurar-se. Desobstruem a fenda, entram pelo algar, lançam cordas, descem até uma pequena galeria e... ficam deslumbrados perante tanta beleza. Estavam certamente longe de pensar que tinham descoberto um dos locais que, actualmente, mais turistas atrai em Portugal: desde 1974, ano da inauguração ao público, até aos nossos dias, as Grutas de Mira de Aire já receberam mais de 6 milhões de visitantes! As Grutas de Mira de Aire, com 11 quilómetros de extensão, dos quais apenas 600 metros são visitáveis, situam-se em plena

Discovering a subterranean world 1947 had been a year of dry weather, it hadn’t rained much in the winter and wells and cisterns were almost dry. Water had to be found. Someone then remembered that in the Old Mills area in Mira de Aire, a jet of hot steam rose from a rift in cold days. Perhaps... It had to be checked! On the 27th July 1947 four village men – Ernesto Morais, Manuel Zé "da tia", Manuel "Trouxa" e Jaime Caetano – decided to take the risk: they cleared the rift, they entered through the ravine, they threw ropes, they went down onto a small gallery... and they marveled at such beauty. They were certainly far from believing that they had discovered one of the places that attracted the most tourists in Portugal. Since 1974, the year of the opening to the public till nowadays, Mira de Aire Caves have already been visited by more than 6 million of tourists. The Caves are 11 kilometres long but only 600 metres can be visited; they are situated in the centre of Portugal, a region which is very rich in this kind of heritage. They are part of the Natural Park of Serras de Aire and Candeeiros right in the middle of the Limestone Mountain Range of Estremadura and they were formed

AS GRUTAS DE MIRA DE AIRE SÃO UM DOS LOCAIS QUE MAIS TURISTAS ATRAI EM PORTUGAL. DESDE 1974, ANO DA INAUGURAÇÃO AO PÚBLICO, JÁ RECEBERAM MAIS DE 6 MILHÕES DE VISITANTES!


25

NO DIA 27 DE JULHO DE 1947, QUATRO MIRENSES DECIDEM AVENTURAR-SE EM BUSCA DE ÁGUA. DESOBSTRUEM A FENDA, ENTRAM PELO ALGAR, LANÇAM CORDAS, DESCEM ATÉ UMA PEQUENA GALERIA E... FICAM DESLUMBRADOS PERANTE TANTA BELEZA

zona centro de Portugal, uma região muito rica neste tipo de património. Fazem parte integrante do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, em pleno maciço calcário estremenho e foram formadas há mais de 150 milhões de anos, na Idade Média Jurássica, numa altura em que os dinossáurios habitavam a região. Visitar as Grutas é descobrir um mundo fantástico, feito de estalactites e estalagmites, por entre salas, galerias e cursos de água, como a Sala Vermelha, a Sala Grande, a Joalharia, o Rio Negro e o Grande Lago, desafiando a imaginação do visitante com nomes bem sugestivos: a Alforreca, o Marciano, a Boca do Inferno... As Grutas de Mira de Aire estão historicamente associadas à fundação da espeleologia portuguesa, e a sua complexa rede subterrânea atrai permanentemente os especialistas que continuam, regularmente, a realizar novas investigações e descobertas. As Grutas de Mira de Aire são umas das 7 Maravilhas Naturais de Portugal. Não deixe de as visitar. Elas são a Capital do Mundo Subterrâneo português.

more than 150 million years ago, in Middle Jurassic Period when the dinosaurs inhabited the place. To visit the Caves is to discover a fantastic world made of stalactites and stalagmites among chambers, galleries and streams such as the Red Chamber, the Big Chamber, the Jewellery, the Black River and the Great Lake. The visitor’s imagination is challenged by suggestive names: the Medusa, the Martian, Hell’s Mouth... Mira de Aire Caves are historically connected with the foundation of Portuguese speleology, and their complex subterranean grid keeps attracting experts who regularly go on carrying out new investigation and discoveries. Mira de Aire Caves are one of Portugal’s 7 Natural Wonders. Don’t miss a visit! They are the capital of the Portuguese Underground World.


44

!"#$%%& por MIGUEL ÂNGELO


45

!"#$%&"' (")*$%+


46

&"$'#()"*"+(&$'#"*,-./ ,(%!"!01&, Na introdução do site de Geocaching oficial e internacional (Geocaching - The Official Global GPS Cache Hunt Site) lêem-se as seguintes palavras, traduzidas do inglês: Geocaching é um jogo de caça ao tesouro, de alta tecnologia, jogado em todo o mundo por entusiastas de aventura equipados com receptores GPS. A ideia base é procurar contentores físicos escondidos, chamados de geocaches, ao ar livre e partilhar a experiência on-line. Geocaching é praticado por pessoas de qualquer idade, que partilham um forte sentimento de comunidade e o respeito pelo ambiente. Todas as pessoas podem praticar geocaching! Isoladamente ou em grupo, esta actividade é uma boa forma de juntar os amigos e a família proporcionando diversão ao ar livre. Chama-se geocacher àquele que pratica geocaching. O Geocaching envolve a utilização de um GPS para encontrar uma cache colocada em qualquer local do mundo. Uma cache típica é uma pequena caixa (ou tupperware) fechada, preferencialmente à prova de água, contendo um livro de registo ou visitas – LogBook – e alguns objectos, como canetas, moedas ou bonecos para troca. Muitas vezes o maior prémio é a busca em si, a descoberta da cache e o prazer em conhecer um local novo, onde nunca se tinha estado. A descrição de cada cache está publicada numa página internet, em www.geocaching.com, o site oficial. É necessário efectuar um registo grátis inicial e, a partir daí, é possível aceder às coordenadas geográficas das inúmeras caches publicadas, bem como a outro tipo de informações relevantes como, por exemplo, entre outras, o seu dono (owner) que é, geralmente, a pessoa que a escondeu e que faz a sua manutenção. As caches são classificadas de 1 a 5 consoante o seu nível de dificuldade (esforço necessário para a encontrar) e igualmente de 1 a 5 para a complexidade do terreno e do acesso ao local. Existem caches escondidas em parques públicos, monumentos, cidades, altas montanhas, desertos, dentro de água, na Antárctida, no fundo do mar e, até, na Estação Espacial Europeia. De uma forma simples, o geocaching é uma versão hi-tech da antiga caça ao tesouro, actualizada para o século XXI e para as novas tecnologias. Geocaching e a Itinerante

Nesta secção damos a conhecer as caches existentes nas zonas dos trilhos apresentados na revista, indicando algumas informações de interesse como, por exemplo, o nome da cache, o seu tipo e graus de dificuldade e ainda o endereço da internet (link) que permite aceder directamente a toda a informação publicada sobre a cache. Se ainda não é um fã do Geocaching, experimente! Verá que rapidamente se vai tornar um geocacher.

SÍMBOLOS QUE CARACTERIZAM O TAMANHO E O TIPO DAS CACHES E SEU SIGNIFICADO TAMANHOS DE CACHES (PARA TODAS AS CACHES QUE TENHAM UM RECIPIENTE FÍSICO): Micro – Caixas de rolos fotográficos de 35mm ou mais pequenas (menos de 100ml, aprox.), tipicamente contendo apenas o livro de visitas (logbook). Pequena (small) – Recipiente do tipo Tupperware com o tamanho aproximado de uma sanduíche ou similar (menos que 1L – comporta um livro de visitas e alguns itens para troca). Regular – Recipiente do tipo Tupperware ou caixas de munições. Grande (large) – Bidão de 20 litros ou maior.

TIPOS DE CACHES: Cache tradicional – Este é o tipo original de cache. Consiste, no mínimo, de um recipiente e de um livro de visitas. Se for uma cache pequena, regular ou grande (ver legenda de tamanhos de caches), poderá estar cheia de presentes, ou objectos para troca. Se for uma microcache então conterá somente o livro de visitas. As coordenadas publicadas na página de uma cache tradicional são as da sua localização exacta. Multi-Cache – Semelhante à cache tradicional, mas é necessário visitar um ou mais pontos intermédios para determinar as coordenadas da cache final. Cache Mistério – O expoente máximo de todos os tipos de cache. Envolve normalmente a resolução prévia de complicados quebra-cabeças para determinar as coordenadas da cache. Em muitas caches deste tipo, as coordenadas publicadas não são as exactas, mas as de algum ponto de referência (que não deverá estar a mais de 2 ou 3 Km da localização real da cache). Caixa Postal Híbrida (Letterboxes) – É uma mistura de Caixa Postal e Geocache na mesma caixa. Têm um carimbo-assinatura e um livro de visitas e podem ou não ter objectos para troca. Devem envolver o uso de GPS como parte integral da busca, não podendo ser concebidas para serem encontradas usando apenas pistas. Cache Evento – São reuniões organizadas por geocachers, abertas a todos os geocachers. Um concerto de música ou um evento desportivo não são considerados Caches Evento porque os organizadores e o público alvo não são geocachers. EarthCache – Mantidas pela Sociedade Geológica da América, são caches com fins pedagógicos, que apresentam alguma particularidade geofísica única no terreno. Registar a visita a uma Earthcache requer que se cumpram os requisitos estabelecidos pelo seu dono, incluindo respostas a questões colocadas via e-mail, etc.


47

Sites relacionados Site Oficial - http://www.geocaching.com Sites Portugueses - http://www.geopt.org e http://geocaching-pt.net WIKI - http://wiki.geocaching-pt.net Revista Portuguesa - http://www.gzportugal.pt Lojas - http://www.geocacherzone.pt e http://www.lojadogps.com FAQ Media - http://www.geocaching.com/articles/Brochures/footer/FAQ_Media.pdf

CACHES NAS ZONAS DOS TRILHOS DESTA REVISTA NOME

Procure este símbolo nos mapas dos trilhos Itinerante TIPO

DIFICULDADE

NÍVEL

TERRENO

NÍVEL

LINK

Multi Tradicional Tradicional Multi Tradicional Tradicional Multi Tradicional Multi Tradicional Tradicional

3 1.5 2 2 3 2 2 1.5 2.5 2 2.5

3.5 1.5 2 1 3 2 3 2.5 4 3 3

http://coord.info/GC1AW31 http://coord.info/GC1A0N7 http://coord.info/GC1A0NN http://coord.info/GC1F68F http://coord.info/GC1F60D http://coord.info/GC23919 http://coord.info/GC1HGHW http://coord.info/GC2BZWG http://coord.info/GC14DT4 http://coord.info/GC9F3D http://coord.info/GC15DFN

Earthcache

2.5

3

http://coord.info/GC1A65W

Tradicional Multi Tradicional Tradicional Multi Tradicional

1.5 1 1.5 2 1 1.5

1.5 3 1.5 1.5 3 2.5

http://coord.info/GC1DJ65 http://coord.info/GC1KXB2 http://coord.info/GC15NV6 http://coord.info/GC1KT7G http://coord.info/GC1KT8Z http://coord.info/GC1EF8J

Earthcache Tradicional Earthcache Tradicional Tradicional Tradicional

1 2 2 2 1.5 2.5

1 2 1 1.5 3 4

http://coord.info/GC1RAAR http://coord.info/GCJTXQ http://coord.info/GC1N2Q8 http://coord.info/GC1Q782 http://coord.info/GC1R2EX http://coord.info/GC1Q295

Tradicional

2

4.5

http://coord.info/GCK1JY

Tradicional Tradicional Tradicional Tradicional Multi Tradicional Tradicional

1.5 1.5 2.5 3 1.5 1.5 2

1.5 1.5 1 4 1 1.5 3

http://coord.info/GC1GCW9 http://coord.info/GC27EXD http://coord.info/GC27ATR http://coord.info/GCN93J http://coord.info/GC1F38H http://coord.info/GC1WVD1 http://coord.info/GCGTWC

Tradicional Multi Tradicional Tradicional Tradicional Tradicional Tradicional Tradicional Multi Tradicional Tradicional Tradicional

2.5 2.5 1.5 2 2 2 2 2 2.5 2 2 1.5

3.5 1.5 2 4 3.5 2.5 2.5 2 3 3 4 4.5

http://coord.info/GC1Q1FB http://coord.info/GC1KW1Y http://coord.info/GCA14F http://coord.info/GC1EERN http://coord.info/GC1E0DM http://coord.info/GC25QRR http://coord.info/GC2851Y http://coord.info/GC1AKDP http://coord.info/GC1VWRR http://coord.info/GCXF5A http://coord.info/GC29C4F http://coord.info/GCH618

GRUTAS DE MIRA DE AIRE Nunca pares de descobrir TP 98 [Alvados] Grutas de Alvados Grutas de Santo António Grutas de Mira de Aire É a Pena O Cruzeiro Reflexão para bem da nação! [Alvados] Patelo [de BTT ou de JIPE] P.R. Castelejo -TP 46 [Alvados] Soft Water over Hard Stone [Porto de Mós] TF-05 Alto da "Cova da Velha"

MADEIRA CALDEIRÃO VERDE EARTHCACHE

PARQUE NACIONAL PENEDA GERÊS Lusitani: Cávado VIA NOVA XVIII - Milha XXX Carvalheira - Gerês BOM JESUS DAS MÓS VIA NOVA XVIII - Milha XXV Homem Romano [Gerês]

AÇORES - LAGOA DAS 7 CIDADES Lagoa das Sete Cidades EarthCache Sao Miguel Real #1 FF12 - Ying Yang Miradouro do Cerrado das Freiras Around Sete Cidades v3.0 Túnel de descarga da lagoa das 7 cidades

AÇORES – PICO

Atlantis [Pico]

RIA FORMOSA Praia dos Tesos Pinheiro Torre d'Aires Cactus Creek Long Life - Sta. Luzia - [Faro] Walkway to Barril [Faro] Armação do Barril

PORTINHO DA ARRÁBIDA Forte de Sta. Maria Da Capela ao Poço Cave of Santa Margarida [Setubal] Convento da Arrábida [Setúbal] Lusitani: Península de Setúbal A lagoa Perdida - A Cache (da) Matreira! A Arca Perdida (Arrábida) ENTRE VALES (ARRÁBIDA) Baden-Powell [Arrábida] Rota das Capelas O Calvário [Arrábida] Six Feet Under [Arrábida]


48

!"#$!%&$'(") , *"+),-%!."+ 3$-:01)4$#%"4$!) 3141*$;/1-<+

1

Da "Porta" de Campo do Gerês à Barragem de Vilarinho de Furnas

/-0,$+)*1)2%-$)*1)$%-1 Da Fórnea às Grutas

3"-,%4.")*$)$--56%*$

2

Do Portinho à Serra da Arrábida

-%$)8"-2"+$

Da Fuseta a Santa Luzia

3

8!"-1+,$)!$0-%++%!9$

Pela Levada do Caldeirão Verde (e do Inferno)

4 !$/"$)*$+)7)#%*$*1+ Pelos Miradouros em redor da Lagoa das 7 Cidades

5

7

6

3$%+$/12)90!#=4%#$) *$)%!.$)*")3%#" À conquista do Pico


67

!"#$%&'( "()$*&&*"+( CLASSIFICAÇÃO

9/10

'PEWWM½GEpnS Rating

ITINERANTE

13,7 km 4h00 290 m Santana Não|No Sim|Yes

!"#$%&'(")' *%&+,"(") '''''''

-./0'123'45617''''''' 8590':13'/46;7

Mapas/Maps IGeoE: Folhas nº 3, 5 e 6

5


68

,%"(-"%+(.(-.#-/(".%*$0#+%$.%-1%-.#-*2!%$2#3 Considerada uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal, a Floresta Laurissilva foi a vencedora na categoria de Florestas e Matas. E merecidamente, uma vez que esta floresta indígena da Madeira, de uma beleza ímpar, já desde 1999 que está classificada pela UNESCO como Património Natural da Humanidade. A Laurissilva madeirense ocupa uma área de cerca de 20% da ilha, nas encostas viradas a Norte. É precisamente nesta zona, perto de Santana, que se situa a Levada do Caldeirão Verde, um percurso simples mas espectacular pela beleza envolvente. E para alcançar as paisagens selvagens do interior da Ilha da Madeira, nada melhor do que percorrer as Levadas, esses canais de irrigação à volta das montanhas, construídos pelo Homem, muitos deles à mão nos primórdios do povoamento, que hoje percorrem mais de 2.000 km. A floresta Laurissilva apresenta um aspecto uniforme, sempre verde ao longo de todo o ano, dado que a quase totalidade das árvores e dos arbustos que a compõem nunca perdem a folha. Entre as árvores, merecem especial destaque o Til, o Vinhático, o Loureiro e o Barbusano, todos da família das Lauráceas. Este trilho que acompanha a levada do Caldeirão Verde é pois de grande beleza em qualquer altura do ano. O percurso inicia-se no Parque Florestal das Queimadas, a uma altitude pouco acima dos 900 m. Daí até ao Caldeirão Verde percorre-se um trilho muito bem preparado, com varandim de protecção, que passa por túneis e cascatas de água, com a distância total de 5,9 km. A partir daí pode continuar-se um pouco mais, pela levada, sem varandim (!), até ao Caldeirão do Inferno, ou voltar para o local do início. É um percurso muito fácil, quase plano (mais difícil e com subida íngreme caso pretenda atingir o Caldeirão do Inferno), que permite “sentir” a maravilhosa Floresta Laurissilva, com a presença constante da água, na levada e em quedas de água.

4-

.%&/$*90#-.#-'$*"8# 4-

5("6*27-'8%-"%+(.(#!-/(".%*$0#-+%$.%1(2.-#!-*2!%$2#3

Laurisilva Forest is one of Portugal’s 7 Natural Wonders – it won the prize in the class of Forests and Woods. And deservedly so because this forest indigenous to Madeira and of a unique beauty has been classified as World Natural Heritage since 1999 by UNESCO. Madeira’s Laurisilva covers around 20% of the island area on the slopes facing north. Levada do Caldeirão Verde is situated exactly in this area near Santana; it is an easy trail remarkable for its surrounding beauty. The best way to reach the wild landscape of the island’s interior is to walk the Levadas, man-made irrigation canals around the mountains, many of them made by hand on the early days of human settlement. These canals spread for more than 2,000 km. Laurisilva forest is always uniformly green throughout the year since almost all its trees and bushes never loose their leaves. Among these trees, Til, Mahogany, Bay laurel and Barbusano of the Lauraceae family must be referred to. This trail that runs parallel to the Levada do Caldeirão Verde is very beautiful no matter the time of the year. The trail begins at the Forestal Park of Queimadas at an altitude of slightly more than 900 m. From there to Caldeirão Verde we walk a very well preserved trail with a protection balcony running through tunnels and waterfalls for a total distance of 5.9km. From there on we can walk a bit further along the levada without a balcony (!) up to Caldeirão do Inferno or go back to the starting point. It is a very easy and almost flat trail (it becomes more difficult and steep in case you want to reach Caldeirão do Inferno) that allows us to “feel” the wonderful Laurisilva Forest with water always around in the levada and in the waterfalls.

%2'$%-#&-,#2'#&-.%-*2'%$%&&% #

!

O percurso inicia-se no Parque Florestal das Queimadas (Santana). Passa-se em frente à bonita Casa de Abrigo, que ainda mantém as características originais das casas típicas de Santana, e segue-se sempre junto à Levada do Caldeirão Verde, plana, pela linda Floresta Laurissilva. O trilho é extremamente rico na sua paisagem adornada por quedas de água, fauna e flora. Pelo caminho passam-se 4 túneis, sendo o segundo bastante longo (aconselha-se que vá munido de uma lanterna) e o terceiro com tecto bastante baixo (cuidado com a cabeça!) e piso muito molhado. Chegados à zona do Caldeirão Verde, segue-se para a esquerda da levada, um pouco a subir junto à linha de água, até ao local paradisíaco da queda de água.

!

"

A partir daqui pode-se regressar para o Parque das Queimadas ou continuar um pouco mais, acompanhando a levada até ao Caldeirão do Inferno. Atenção que este troço tem o piso muito irregular e sem varandim, pelo que pode tornar-se bastante perigoso. No final poderá fazer-se uma subida com grande declive e com piso escorregadio.

"

,%$!*"-+%$'*/("

#

O regresso é já conhecido, mas nunca é de mais percorrer um dos trilhos mais belos da bela Ilha da Madeira!

#

!

"

#


69

'()

#

$%#&%

! "

!"#$


70

,#2'#&-.%-*2'%$%&&%:-$%!%$;2/*( #

PARQUE DAS QUEIMADAS

O Parque Florestal das Queimadas é um bonito parque situado a 5 km de Santana, onde se pode observar a Floresta Laurissilva, através de vários percursos pedestres dominados por espécies arbóreas. É daqui que partem os trilhos da Levada do Caldeirão Verde e do Pico das Pedras. Neste parque também se encontra a casa de abrigo das Queimadas, uma enorme construção de telhado de colmo, destinada aos guardas florestais, que ainda mantém as características originais das antigas casas de Santana. Forestal Park of Queimadas is a lovelyl park 5 km from Santana where we can watch the Laurisilva Forest walking through several trails full of different tree species. It is the starting point for the trails of Levada do Caldeirão Verde and Pico das Pedras. There is also the Queimadas shelter housed in a huge thatched building for foresters’ use that still keeps the unique features of the ancient Santana houses.

!

CALDEIRÃO VERDE

O Caldeirão Verde é um dos mais bonitos locais da Floresta Laurissilva, com uma majestosa cascata de água a cair de uma altura de 100 m num lago de água transparente. Caldeirão Verde is one of the most beautiful sites in the Laurisilva Forest, with an impressive waterfall where water cascades from a 100 m height into a lake of transparent water.

"

CALDEIRÃO DO INFERNO

O Caldeirão do Inferno, em pleno interior selvagem da Floresta Laurissilva, é um vale em garganta (“Canyon”), talhado pelas águas ao longo duma linha de água, junto à Ribeira Grande. Right in the wild middle of Laurisilva Forest Caldeirão do Inferno is a Canyon cut by the water along a water line near Ribeira Grande.

#)'$#&-,#2'#&-.%-*2'%$%&&% PICO RUIVO Com uma altitude de 1962 m, o Pico Ruivo é o pico mais alto do Maciço Montanhoso Central. É Reserva Geológica de Vegetação de Altitude do Parque Natural da Madeira e Zona Especial de Protecção da Rede Natura 2000. Com uma vegetação rasteira e com grande variedade de flores endémicas, o Pico Ruivo permite uma vista panorâmica sobre quase toda a ilha e sobre os cumes vulcânicos em redor. Deste cume partem trilhos para o Pico do Areeiro e para a Achada do Teixeira. Tem também ligação com a Levada do Caldeirão Verde.

1962 m high Pico Ruivo is the highest peak of the Central Mountain Range. It is a Geological Reserve of Altitude Vegetation in Madeira’s Natural Park and also a Special Natura 2000 Net Protection Zone. With its creeping vegetation and a great variety of endemic flowers Pico Ruivo offers a panoramic view over almost the whole island and the surrounding volcanic peaks.


79

!"#$%$&' ("!%)*%+%#,


84

!"#

espetada madeirense é, provavelmente, o prato mais conhecido e o mais consumido em piqueniques, em festas e romarias das ilhas da Madeira e Porto Santo, nas quais os vários açougues colocados à disposição de todos expõem carne para todos os gostos. Carne que, depois de cortada, espetada e temperada, é assada por cada um em enormes grelhadores, junto aos quais a festa é permanente. A carne para a famosa espetada madeirense deve ser tenra, preferencialmente do Acém ou Vazia, Alcatra ou Filete, suculenta ou gordurosa, mais conhecida por carne marmorizada e com uma capa de gordura na parte exterior da peça (flor). A carne deve estar num período de maturação a

uma temperatura positiva entre 1 a 4 graus e entre 4 a 14 dias. Deve ser cortada em cubos ou paralelepípedos com cerca de 3,5cm a 5cm. Com a brasa feita de lenha não resinosa, a carne deve ser preparada à temperatura ambiente, de forma a grelhar melhor e libertar ainda mais os seus aromas. Deve ser temperada logo que a brasa esteja pronta, adicionando-se-lhe alho esmagado com a própria casca e louro cortado em pedaços pequenos, envolvendo muito bem. Logo de seguida junta-se o sal, do mais grosso, levando a espetada à brasa nos espetos, de preferência de pau de louro, e não dando tempo para o sal derreter. Com a brasa em cor de fogo e a uma distância de 10 cm da espetada, de forma a não deixar a carne passar de mais e manter toda

a sua qualidade e sabor, roda-se cada espeto, gradualmente, até que cada pedaço de carne ganhe um tom aloirado e apetitoso como têm as espetadas do Restaurante As Vides. Situado na povoação de Estreito de Câmara de Lobos, a uns escassos quilómetros do Funchal, o restaurante As Vides é um restaurante histórico da ilha da Madeira, aberto desde 1950, então como “Adega do Terreiro”, tendo sido o berço das espetadas madeirenses na restauração da ilha. O restaurante localiza-se atualmente num edifício junto à Igreja Matriz, construído na sequência de um fogo que destruiu as anteriores instalações. Conheci essas instalações em 1983, quando da minha primeira passagem pela ilha da Madeira no cumprimento do Serviço Militar, de que recordo, com agrado e nostalgia,

The good old “espetada” from Madeira

garlic and laurel in small pieces. Coarse salt must be immediately added and the “espetada” grilled right away skewered on laurel sticks before salt melts. With fire-red embers and at a distance of 10cm of the skewer so that meat won’t be too well-done and will keep all its quality and flavor, each skewer must rotate gradually till every piece of meat gets a golden and appetizing crust like the “espetadas” in restaurant “As Vides”(The Vines). Situated in the village of Estreito de Câmara de Lobos, a few kilometers from Funchal, “As Vides” is a historic restaurant in Madeira. It is open since 1950 and it was the first restaurant in Madeira to serve “espetadas”. Although nowadays the fire is no longer fed with vineyards wood which gave the restaurant its name, the quality of meat and the experience of those who grill it still make these “espetadas” tender and uniquely tasty. But it is not only the quality and flavour of meat that make this restaurant worth a visit because everything

here justifies it, from the appetizing and addictive “bolo do caco” (Madeira’s typical bread) with garlic butter, to the oregano salad, the tasty chipped fried potatoes with lots of chopped garlic and the crunchy fried corn cubes. And you won’t regret if you choose to drink the restaurant “sangria” with your meal and custard to finish it. The service is adequate and efficient. Table reservation is advised.

!

The “espetada” (small meat pieces skewered on a wooden stick) is probably the most famous dish and the most served in picnics, parties and pilgrimages in Madeira and Porto Santo islands. The different butcher’s shops available display all kinds of meat for all tastes. After being cut, skewered and seasoned, meat is grilled in huge grills around which there are always groups of people partying. Meat for the famous “espetada” must be tender, preferably sparerib, short-loin, sirloin or fillet, juicy or fat usually known as marbled beef and with a fatty cover on the outside of the meat piece (fleur de sel). Meat must be aging during 4 to 14 days to a temperature of 1 to 4 degrees. It must be cut into cubes or parallelepipepds with about 3.5cm to 5cm. Embers must be of non-resinous wood. Meat must be prepared to room temperature in order to be better grilled and to free all its flavor. As soon as embers are ready meat must be rubbed with smashed unpeeled

Fotografia cedida por Manuel Pedro Freitas

#

$%&$'#(#) *#($+,$-%$


85

INFORMAÇÕES

'PEWWM½GEpnS -XMRIVERXI Itinerante Rating :

8/10

Restaurante As Vides Rua da Achada, 17 9325-017 Estreito de Câmara de Lobos Contactos / Contacts:

Telefone: +351 291 945 322 Fax: +351 291 945 974 as barraquinhas construídas com ramos de loureiro onde os clientes eram servidos, mantendo a tradição do botequim original onde começou, erguido inicialmente não muito longe do atual local. Ao tempo, era o cliente que decidia a quantidade de carne a ser assada nas espetadas de pau de loureiro, uma vez que o restaurante também comercializava a carne fresca diretamente ao público. A denominação deste restaurante deve-se à matéria prima inicialmente utilizada na confeção do braseiro para as espetadas, oriunda das videiras, existentes em grande quantidade nesta freguesia, não fosse o Estreito de Câmara de Lobos a região vinícola da Madeira mais importante. Apesar de, na atualidade, o braseiro já não ser assim alimentado, a qualidade da carne

e a experiência de quem a grelha continuam a conferir às espetadas aqui confecionadas a garantia de uma macieza e paladar ímpares. Mas não é só pela qualidade e sabor das mesmas que se aconselha a visita a este restaurante, pois tudo o que as acompanha também o justifica: desde o apetitoso e viciante bolo do caco (pão típico da Madeira), barrado com manteiga de alho, à salada, às magníficas batatas fritas em palitos temperadas com bastante alho picado e orégãos e aos crocantes cubos de milho frito (outra originalidade da cozinha madeirense), tudo é irrepreensível! Se beber a sangria da casa a acompanhar e terminar com um leite creme, vai ver que não se vai arrepender. Quando for à Madeira, não deixe, por isso, de experimentar o restaurante As Vides.

Horário de Funcionamento/

Working Hours:

12h30m-15h00m e 19h30m-23h00m Não encerra/Open every day

Preço Médio / Average Price: 15 a 20!

Pagamento / Payment Cartões Crédito e Multibanco Coordenadas GPS / Coordinates: N 32º 40' 15" W 16º 58' 44"


86

.*#)$/&$,+0-1+#) 2#%',"-"*+1#) %")&#,#)#32.-% ozido das furnas! Regalo para uns, experiência gastronómica negativa para outros. O cozido das furnas não é mais do que um cozido à portuguesa, em que os ingredientes necessários à confecção, temperados a gosto, são colocados numa panela de alumínio, deixada bem tapada, num dos buracos (caldeiras) feitos na terra quente existentes na margem da Lagoa das Furnas. Ficam lá entre 5 a 8 horas, dependendo da altura do ano ou do gosto de quem o come, bem ou mal cozido. Sendo um dos eleitos da tradicional gastronomia açoriana, talvez o mais emblemático, este prato tornou-se conhecido pela carolice de alguns comerciantes, constituindo hoje uma fonte de rendimento dos restaurantes locais. O Vale das Furnas, freguesia do concelho da Povoação, encerra uma lagoa com cerca de 2Km2 que serve de manto a um cone vulcânico aberto desde 1630, último rebentamento de que há memória em S. Miguel. É na margem norte desta lagoa, que canais vindos das profundezas conduzem os vapores de água com misturas de enxofre e magnésio até à superfície, que fazem a diferença do sabor deste cozido, mantendo quente toda a zona de contacto. Outrora, os habitantes desta freguesia, aproveitando estas zonas de terra quente, faziam buracos e enterravam galinhas recheadas de vegetais embrulhadas em panos em jeito de trouxa, para que a terra as cozinhasse. Este ritual, em tempos praticado só por alguns, tornou-se frequente e partilhado por um maior número de habitantes, tirando partido do engenho e arte de quem cozinhava, tendo os sucessos dos cozinhados sido transmitidos às gerações seguintes. Ainda hoje, acesa a tradição com o chamado “enterro dos ossos”, que tem lugar na terça-feira seguinte aos festejos da padroeira “Stª Ana” em finais de Julho, os habitantes da freguesia vão em romaria até as margens da lagoa, onde cada

"

INFORMAÇÕES

'PEWWM½GEpnS -XMRIVERXI Itinerante Rating :

8/10

Lagoa das Furnas

Furnas - Ilha de São Miguel Açores

Coordenadas GPS / Coordinates: N 37° 46' 7.2" W 25° 19' 51.6"

família cozinha, em caldeiras abertas por elas ou utilizando as já existentes, as suas receitas de carne, peixe e doce, numa partilha de sabores e de pequenos segredos, que fazem a diferença entre os vários cozidos. Aproveitando assim um recurso geotérmico que muitos gostariam de ter, mas que só a alguns é concedido, não deixe de experimentar este cozido à portuguesa com sotaque açoriano. A gastronomic experience for a privileged few “Cozido das furnas”! A treat for some, a negative gastronomic experience for others. The “cozido das furnas” is nothing more than the necessary ingredients for “cozido à portuguesa” (boiled meat, sausages, potatoes and vegetables) left in a tightly covered aluminum pot inside one of holes dug in the warm ground of Lagoa das Furnas lakeside, S.Miguel. These canals from the earth’s depth carry steam, magnesium and sulfur to the surface thus keeping that ground hot, giving the “cozido” its special flavor. In the past the inhabitants of the Vale das Furnas parish used the sites of hot ground to dig holes and bury hens stuffed with vegetables and wrapped in cloth to be cooked there. This ritual has become frequent and shared by a greater number of inhabitants who took advantage of the cooks’ skill and art. The success of the dishes spread to the coming generations and it is nowadays an income source for the local restaurants. Even nowadays the tradition is still alive in the so-called “burial of bones” on the last days of July. That is when the inhabitants of the parish go on pilgrimage to the lakeside where each family prepare their meat, fish or dessert dishes in holes they dig or using others already dug before, sharing cooking secrets. Do not miss this “cozido” with the accent from Azores.


95

!"#$%&'"()*+,$%,---

Jorge Romeira

Presidente da Câmara Municipal de S.Vicente

Revista Itinerante (RI) – O que tem o concelho de São Vicente para “oferecer” a quem o visita? Jorge Romeira ( JR) – Nas montanhas, temos o turismo virado essencialmente para uma floresta única no mundo; para as caminhadas nas levadas e veredas; para a aventura. No mar, temos baías já famosas – sobretudo a “Baía dos Juncos” – para a prática do Surf, que vêm sendo bastante procuradas não só por surfistas locais mas também por outros, para a realização de provas nacionais e internacionais. As grutas de origem vulcânica (formadas a partir de uma erupção vulcânica há cerca de 890 mil anos, iniciada num planalto sobranceiro – o Paul da Serra) e o Pavilhão de Vulcanismo, junto à vila de São Vicente, sendo um passeio ao interior da terra, constituem outro pólo de interesse e outra fonte de receita. Tudo isto aliado a casas de turismo de habitação/ rural, três hotéis de 4 estrelas e vários restaurantes com gastronomia regional e local, é a oferta que temos. RI – Especificamente para caminheiros, o que aconselha em São Vicente? JR – Temos vários percursos pedestres – veredas, levadas, caminhos –, dos quais destaco a Levada da Fajã do Rodrigues, o Caminho das Torrinhas, que nos leva da Encumeada ao Lombo do Urzal, o

Caminho entre as Ginjas e o Paul, com passagem pela paisagem idílica do Caramujo, ou a variante que vai da Encumeada, também às Ginjas. RI – O que significa, para o concelho de São Vicente, a Floresta Laurissilva ter sido eleita uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal? JR – A Floresta Laurissilva molda a nossa vida desde os primórdios e queremos mostrar a quem nos visita toda a exuberância do verde em zonas montanhosas, quebrado aqui e ali por flores de cores vivas, as quedas de água com pequenas bacias, o silêncio só quebrado pelo cantar de uma qualquer ave, os nevoeiros misteriosos, o gotejar de água provocado pela condensação constante, que fazem desta floresta uma maravilha em que a Natureza se oferece totalmente ao Homem... Foi com o intuito de divulgação e promoção dessa floresta e de todo o Norte da Madeira que concorremos. E, o facto da Floresta Laurissilva, Património Mundial da Unesco desde 1999, ter ficado entre as “Sete Maravilhas Naturais de Portugal”, foi uma mais valia pois constituiu uma grande divulgação de um pequeno Concelho e de todo o norte de uma ilha que tem para oferecer uma mancha de laurissilva muito bem conservada – e que é um património único – com as suas centenas de endemismos, as suas árvores centenárias, as suas quedas de água, a sua fauna riquíssima.


96

78!9:;<(=8>?@A<( :A(B29:A

!"#$%"&'()'(*+,+-.%/.0'1( 2-.(30'4.()$("53$0.6&' por ANTÓNIO CRUZ apcruz@netcabo.pt

Na imortal frase de Hemingway, as wide as all the world, great, high, and unbelievably white in the sun, was the top of Kilimanjaro. Ninguém como o escritor norte-americano descreveu em tão poucas palavras e tão bem a sensação de estar no topo da montanha mais alta de África, e que se saiba, sem nunca lá ter chegado. Como para todos que o empreendem, o desafio de subir o monte Kilimanjaro na Tanzânia foi, também para mim, uma experiência única de vida. Se me pedissem para a resumir à sua essência, diria que é sublime, é árdua, ou, se calhar, é sublime porque é árdua.

Tamanha beleza e espanto não nos são dados sem uma contrapartida. É que reclamar o prémio final

implica esforço. E muito. O ataque ao cume é feito de madrugada, com temperaturas de quinze graus abaixo de zero, somente metade do oxigénio existente ao nível do mar, através de carreiros ziguezagueantes com um declive pronunciadamente acentuado, pisando um solo de escorregadia gravilha coberta de neve. Nesta, como em todas as grandes montanhas, expostos à sua face, os limites físicos e, sobretudo, psicológicos de cada um são testados. No decorrer das mais de sete horas da ascensão final, em que a determinada altura já não se sentem as extremidades dos dedos das mãos, em que os nossos pés se arrastam literalmente atrás dos do companheiro ou companheira da frente, muitas dúvidas nos invadem a mente: “O que estou eu aqui a fazer?”, “Bem me

avisaram que devia estar louco”, “Onde vou arranjar forças para continuar e chegar lá acima?” Mas quando o dia começa a dar sinais de vida e somos presenteados com o nascer do sol mais bonito que alguma vez iremos ver, nesse preciso e precioso instante, todo o sofrimento desaparece. Alcançar o cume do Kilimanjaro é alcançar o cume de uma montanha mítica, que se apresenta com vários títulos: “Africa’s Highest Point”, “World’s Highest Free-Standing Mountain” ou “World’s Highest Walkable Mountain”. Mas para mim, chegar ao cume do Kilimanjaro, bem acima da linha das nuvens, sob aquela luz quase sobrenatural, foi como ter chegado ao céu, ter lá estado por momentos e, de lá, ter voltado! Ascensão do Kilimanjaro Fotografias de António Cruz

Ascender a estes quase seis mil metros é como ir da linha do Equador aos Pólos em apenas seis dias, tal a diversidade de zonas climáticas atravessadas: floresta tropical, lar de calor húmido e chuvas diluvianas; tundra envolvida em nevoeiro que esconde plantas de espécies gigantes ou, vindo de cima, granizo do tamanho de berlindes abafadores; deserto alpino com traços de paisagem lunar; zona ártica onde nevões caídos do céu encontram glaciares levantados do chão de rocha vulcânica, com tudo me fui deparando e surpreendendo à medida que avançava montanha acima.

António Cruz é um apaixonado por viagens de aventura, tendo percorrido a pé alguns dos mais belos trilhos do mundo, entre eles, o Caminho Inca até Machu Picchu, na Cordilheira dos Andes; o Circuito do Monte Branco, atravessando os Alpes Franceses, Suíços e Italianos; as Ilhas do Norte e do Sul da Nova Zelândia; e subido ao cume do Kilimanjaro, em África.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.