Livro vista chinesa

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FICHA TÉCNICA

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Rosinha Matheus Governadora

Luiz Paulo Conde Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano

Isaura Fraga Presidente da FEEMA

Mauricio Lobo Presidente do IEF

Carlos Frederico Castello Branco Presidente ITPA

Equipe Técnica

Mauricio Ruiz Castello Branco Coordenador

Equipe técnica:

Cecília Bueno Moacyr de Lima e Silva Especialista em Fauna (mastozoologia)

André de Almeida Cunha Especialista em Fauna (mastozoologia)

Henrique Bastos Rajão Reis Pesquisador Assistente (mastozoologia)

Roberto Antonelli Filho Especialista em Fauna (avifauna)


Carlos Esberárd Especialista em Fauna (quirópteros)

José Peres Pombal Especialista em Fauna (herpetologia)

Antônio José Mayhé Nunes Especialista em entomologia

Sérgio Veiga Ferreira Especialista em entomologia

Achilles D'avila Chirol Especialista em análise de solo e serrapilheira

Leonor Ribas de Andrade

Especialista em botânica

Rita de Cássia Martins Montezuma Especialista em botânica

Estagiários:

Adarene Guimarães da Silva Ernesto Gomes Imbroisi Fabiana Abreu de Barros João Crisostomo Hozlmeister Paulo Gustavo Homem Passos Priscila da Silva Nogueira


APRESENTAÇÃO O Corredor Ecológico do Frei Vellozo está localizado no maciço da Tijuca, no bairro do Alto da Boa Vista, entre as zonas sul e oeste da cidade do Rio de Janeiro. Está inserida em uma área de grande importância ambiental por ser uma região de mata atlântica preservada do processo de urbanização e crescimento da cidade. A área do Frei Vellozo e o seu entorno tem um grande atrativo turístico. Isso se deve pela existência de pontos de visitação de grande veiculação na mídia, como a Vista Chinesa, a Mesa do Imperador, entre outros. Outro fator de atração é a preservação floresta da mata Atlântica próximo a áreas de intensa urbanização, o que favorece a circulação de pessoas que buscam momentos de lazer, tranqüilidade, ar puro, espaço para caminhadas, ciclismo e outras atividades que dificilmente são realizadas em regiões intensamente antropizadas. A preservação ambiental da área torna-se uma amenidade positiva, o que a valoriza e eleva sua procura. Esta valorização pode ser constatada nos tipos de residências localizadas na região, de grandes dimensões em geral, com dois e três pavimentos, piscinas, entre outros que caracterizam habitações de classe média alta e classe alta. Vale lembrar que o bairro no qual o corredor ecológico está inserido é um importante meio de ligação entre as zonas oeste e sul. Em uma cidade como a do Rio de Janeiro que se caracteriza pelos engarrafamentos, principalmente, na hora de grande fluxos de veículos (rush), as vias alternativas são constantemente procuradas para que o tempo no trânsito seja cada vez menor. Logo, o Alto da Boa Vista é uma área que recebe um grande fluxo de veículos pois constitui-se como forma alternativa de ligação entre duas grandes regiões da cidade.

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ÍNDICE

SUB PROJETO - PESQUISA DETALHADA DE FAUNA na área do Corredor Ecológico Frei Vellozo:

MÉDIOS E GRANDES MAMÍFEROS: LEVANTAMENTO DA FAUNA DIURNA E NOTURNA: ESPÉCIES FLORESTAIS DE ÁREAS ABERTAS, DA VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA; ESPÉCIES VAGANTES, RARAS, ENDÊMICAS E AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO. Cecília Bueno

PEQUENOS MAMÍFEROS André Almeida Cunha

LEVANTAMENTO DA FAUNA DE MORCEGOS Carlos E. L. Esbérard, Adarene Guimarães Motta e Priscilla Nogueira

HERPETOFAUNA José P. Pombal Jr.

INVENTÁRIO DAS FORMIGAS DE SERAPILHEIRA DA RESERVA FLORESTAL VISTA CHINESA COM VISTAS À IMPLANTAÇÃO DO CORREDOR ECOLÓGICO FREI VELLOZO Antonio José Mayhé Nunes

LEVANTAMENTO DA ABUNDÂNCIA, COMPORTAMENTO E ESTRUTURA GENÉTICA DE ESPÉCIES DA AVIFAUNA COMUNS A TODOS OS MACIÇOS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, COMO O TIÊDO-MATO GROSSO (HABIA RUBICA), RENDEIRAS (MANACUS MANACUS), TANGARÁ (CHIROXIPHIA CAUDATA)

LEVANTAMENTO DA ABUNDÂNCIA, COMPORTAMENTO E ESTRUTURA GENÉTICA DO CAXINGUELÊ (SCIURUS AESTUANS), ESPÉCIE COMUM A TODOS OS MUNICÍPIOS DO RIO DE JANEIRO André Almeida Cunha

SUB PROJETO - PESQUISA DETALHADA DE FLORA

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LEVANTAMENTO DOS GRANDES MAMÍFEROS

1. INTRODUÇÃO

indicando que a caça clandestina é a maior ameaça à viabilidade de grandes carnívoros em muitos dos parques nacionais do mundo. Como o Parque Nacional da Tijuca apresenta, para mamíferos de grande porte, uma área territorial reduzida e simultaneamente com pressão de caça, estes acabaram por desaparecer. A Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC) está inserida no Maciço da Tijuca e assim, como o Parque Nacional da Tijuca, não apresenta avistamentos e registros atuais de exemplares de grandes mamíferos.

Dentre os países detentores de maior biodiversidade, destaca-se o Brasil, considerado um país "megadiverso", com o maior número de espécies de plantas, 10% de todas as espécies de mamíferos e a maior diversidade de primatas (Myers et al., 2000). No Brasil, foram descritas 525 espécies de mamíferos, sendo que 25% são endêmicas (Fonseca et al., 1996). O Brasil é o sexto país em endemismo de vertebrados terrestres (Mittermeier et al., 1997). A Mata Atlântica, devido à alta diversidade e número de endemismo, se encontra em quinto lugar na lista dos hotspots (pontos críticos de conservação) mundiais, segundo a Conservation International (CI, 2004) e Cincotta et al. (2000). Apesar disto, a Mata Atlântica, e particularmente no Estado do Rio de Janeiro, continua sofrendo os efeitos da ocupação humana. O Maciço da Tijuca, onde a exploração da cultura do café e cana no século XIX destruíram boa parte de sua vegetação, apresenta um caráter insular (Bueno, 1998). Este é cercado pela alta densidade populacional do Rio de Janeiro. A pressão humana na região traz conseqüências para a conservação da floresta, e desta pressão dois fatores se destacam neste contexto: a redução de área florestada e a caça.

Uma conseqüência disso é observada por Fonseca e Robinson (1990). Eles identificaram que a perda de grandes predadores em fragmentos florestais é um fator responsável pela diminuição da riqueza e biodiversidade destas comunidades, indicando que a pressão da predação altera os padrões de estrutura da comunidade. Os mesmos autores sugerem que a ausência de jaguatiricas resulta num aumento do número de gambás (Didelphis aurita), e conseqüentemente menor densidade de roedores. Os gambás são favorecidos pela cobertura e densidade do folhiço e pela presença de artrópodes no folhiço. Este estudo apresenta os resultados do levantamento das espécies de médio e grande porte na área da RFVC. Os mamíferos de médio e grande porte são considerados aqueles que não são capturados em armadilhas usuais para pequenos mamíferos, como as dos tipos Sherman e Tomahawk (Voss e Edmmons, 1996; Voss et al., 2001). Alguns autores consideram animais de até 3 kg e outros de até 5 kg como pequenos mamíferos (Fleming, 1979; Jones et al. 1996), e, acima disso, médio e grande porte. Como essa classificação não é genérica e consensual, deve-se considerar o bom senso na contabilidade local. Foram considerados aqui, já selecionando espécies de possível ocorrência na região, como de médio e grande porte, as das famílias: Myrmecophagidae, Bradypodidae, Dasypodidae, Cebidae, Callithricidae, Canidae, Procyonidae, Mustelidae, Felidae, Erethizontidae, Hydrochaeridae, Agoutidae, Dasyproctidae e Leporidae.

Os mamíferos são espécies alvejadas pelos caçadores e, assim, principalmente pelos dois fatores citados acima, os médios e grandes mamíferos do Maciço da Tijuca vêm sendo deplecionados em suas populações. Os mamíferos de grande porte, como a onça (Panthera onca), já estão extintos na área, mas, de acordo com Esberárd (2003), o maciço ainda possui representantes de mamíferos de médio porte, embora em reduzidas populações. Dobson et al. (1999), em seus estudos sobre espaços vitais, sugerem que as exigências de espaço de carnívoros, primatas e ungulados se relacionam alometricamente com o tamanho do corpo. Desta forma, os grandes mamíferos particularmente carnívoros e aves de rapina demandam amplos espaços vitais. Estas estimativas empíricas de tamanho são, no entanto, moderadas pelo trabalho de Woodroffe e Ginsberg (1998, in Dobson et al., 1999), (3)


2. METODOLOGIA

vestígios coletados (fezes e pegadas) e novamente preparadas (isca, alisamento e umedecimento da areia). Como já citado, as chuvas freqüentes interferiram intensamente, principalmente nas armadilhas de areia, apagando os vestígios deixados pelos possíveis visitantes.

Para a realização de um inventário de fauna em curto prazo é necessária a utilização conjunta de técnicas de amostragem e coleta, envolvendo trabalhos de campo, entrevistas com pesquisadores locais, estudos da literatura e consulta a coleções. Para este estudo, além do levantamento da literatura e coleções, foram efetuadas três etapas de campo, totalizando 80 horas. A freqüência dos campos foi variada por problemas administrativos e também de ordem climática, relacionada à elevada incidência de chuvas no período, o que impediu, muitas vezes, as observações de vestígios. As metodologias utilizadas foram visitas pontuais na área, Transectos lineares e armadilhas de areia. Os animais avistados foram fotografados. A partir da metodologia proposta por Cullen Jr. e Rudran (2003), foram feitas marcações de pontos de observação dos transectos lineares com fitas brancas a cada 50 metros, e cada ponto recebeu um número para controle (mapa no Anexo 1 e Figura 1). O Transecto 1 foi posicionado ao longo da estrada e 19 pontos foram marcados, com 50 m de distância, totalizando 950 m. O segundo transecto foi feito no interior da mata e incluiu 6 pontos marcados, totalizando 300 m. Os percursos foram percorridos a pé, com paradas para observação. Os transectos foram percorridos no período da manhã, tarde e noite (1), do dia 12/08 a 17/08, num total de 6 dias. Em razão do mau tempo (6 períodos chuvosos), o censo no interior da mata foi dificultado. Pelo fato da RFVC contar com uma mata em terreno íngreme e acentuado aclive, os censos não obtiveram os resultados esperados.

Figura 1 - Fita branca para marcação do ponto de observação no transecto linear no interior da RFVC. Fotografia de Cecília Bueno.

Devido a isso, foram montadas três armadilhas de areia em pontos diferentes da reserva (mapa e Figura 2), usando a metodologia proposta por Pardini et al. (2003). Para a construção de armadilhas de areia de 1,0 m X 1,0 m X 3 cm de altura foram utilizados 80 quilos de areia. As iscas utilizadas foram banana e bacon. As armadilhas foram instaladas no dia 17/08 e retiradas no dia 27/08, perfazendo 10 dias. Nas vistorias, as armadilhas foram fotografadas (Figura 3), os (4)


3. RESULTADOS Nos levantamentos de Bueno (1998), a mastofauna de médio e grande porte do Parque Nacional da Tijuca é representada, basicamente, pelas espécies Cebus nigritus (macaco-prego), Nasua nasua (quati), Dasyprocta agouti (cutia), Sylvilagus brasiliensis (tapeti), Cerdocyon thous (cachorro-do-mato), Eira barbara (irara) e Procyon cancrivorus (guaxinim). Segundo Oliveira (1987), observa-se também, Bradypus tridactylus (preguiça), Callithrix jacchus (micoestrela), Cavia aperea (preá), e Sciurus aestuans (caxinguelê). Depositada em 1999, no Museu Nacional, encontra-se uma Agouti paca (paca). A lista pode ser observada no Anexo 2. Foram poucas as espécies observadas durante os trabalhos de campo. Dentre estas, foram visualizadas Cebus nigritus e Callithrix jacchus. Estes primatas de hábitos diurnos são generalistas quanto às características de habitat e utilizam com freqüência áreas de vegetação aberta e/ou clareiras, áreas florestais, ocupando tanto floresta de vegetação primária quanto secundária, são comuns na Mata Atlântica. As características do C. jacchus foram citadas também nos dados de pequenos mamíferos por serem capturados nas armadilhas. Estas espécies se alimentam, diariamente, com bananas e ovos de codorna, ofertados em bandejas, pela reserva (Figura 4 e 5), um dos motivos de serem sempre observadas na reserva.

Figura 2 Armadilha de areia. Fotografia: Cecília Bueno

Cebus nigritus pertence à família Cebidae, é endêmico do sudeste e sul do Brasil, ocorrendo até a Argentina, sendo limitado à oeste pela Cordilheira dos Andes e a leste pelo Oceano Atlântico (Rocha et al., 1998; Silva Jr., 2001). É uma espécie onívora, tendo assim uma grande capacidade de adaptação aos ambientes alterados pelos humanos, e vivem em grupos de até 20 indivíduos (Gobbo e Setz, 2004). Callithrix jacchus pertence à família Callithrichidae e ocorre no nordeste do Brasil, tendo sido também introduzido nas matas do sudeste brasileiro. Vivem em grupos um pouco menores que os de Cebus nigritus, com cerca de 7 a 15 indivíduos. Alimenta-se de insetos, ovos e filhotes de aves,

Figura 3 Armadilha de areia com isca. Fotografia: Cecília Bueno

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goma de árvores e frutas. Segundo Costa et al. (2004), o declínio da população de aves pode estar relacionado à predação de ovos e de filhotes por diversas espécies de animais. Callithrix jacchus (Figura 6) é um predador potencial e tem sido introduzido em diversas áreas do Brasil. Na RFVC esta espécie é exótica introduzida, e pode estar interferindo na biota local. Estes dois primatas foram avistados em todas as campanhas. A freqüência, e provavelmente um adensamento populacional local pode ser esperado pela suplementação da alimentação ofertada diariamente na reserva. Em média, o censo no Transecto 1, que com uma acuidade visual de cerca de 50m para cada lado da linha de censo, a área pesquisada neste transecto foi de 9 ha, foram avistados 14 indivíduos de C. nigritus, o que dá uma densidade de 1,5 ind/ha se for considerada apenas a área da reserva. O Transecto 2, utilizando o mesmo cálculo, a área pesquisada foi de 3 ha e 8 indivíduos desta espécie foram avistados, o que resulta numa densidade de 2,6 ind/ha. É interessante observar que as populações, tanto de Cebus quanto de Callithrix, estão em atividade reprodutiva, pois foi freqüente a observação de filhotes. Para uma avaliação mais precisa da dinâmica populacional das espécies de primatas que ocorrem na RFVC seria necessário censos de pelo menos uma semana ao mês, ao longo de pelo menos um ano, o que não foi possível efetuar neste projeto, além da previsão do mesmo ser de apenas seis meses, ocorreram também problemas administrativos.

esteja na lista de animais em extinção, já está desaparecendo de várias regiões onde era comum, como no Nordeste brasileiro. No dia 03/09/2004, às 10:00 horas, foi observado pela Chefe do Serviço de Ecologia Aplicada, RFVC, Norma Crud Maciel, um casal de quatis (Nasua nasua). Este animal é bastante comum no Parque Nacional da Tijuca mas, até então, não havia sido avistado na área da RFVC. Entrevistas informais com a chefe da reserva, o estagiário Marcus Fellipe Oliveira da Silva e o funcionário Carlos Alberto Leal de Oliveira, forneceram dados de ocorrência das seguintes espécies, identificadas visualmente ou por vestígios: Sphigurus villosus (ouriço-cacheiro) (Figura 7); Tamandua tetradactyla (tamanduá-mirim); Cerdocyon thous (cachorro-do-mato) e Dasypus novemcinctus (tatu-galinha). O Anexo 2 faz um resumo das espécies inventariadas para a RFVC e, a seguir, baseado em Emmons (1990), Fonseca et al. (1996) e na Pró-Carnívoros Associação para Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Pró-Carnívoros, 2004), foram citadas algumas informações destas espécies de mamíferos de médio porte. Sphigurus villosus é uma espécie comum na Mata Atlântica do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e até do Rio Grande do Sul. É um animal frugívoro/granívoro e arborícola. Alimenta-se de broto e talos de plantas e é estritamente noturno. Na RFVC ele é visto ao anoitecer, se alimentando no mamoeiro, mas como este não estava com frutos nos períodos de campo, não foi possível sua visualização. Tamandua tetradactyla se distribui pela América do Sul, é diurno, habita campo e florestas, é solitário e é insetívoro (cupins, formigas e abelhas). Pode ser visto alimentando-se no chão ou nas árvores. Cerdocyon thous é o mais conhecido dos canídeos brasileiros. É encontrado na América do Sul exceto na Bacia Amazônica. Habita comumente áreas abertas, alteradas, campos e florestas (principalmente as alteradas) e é noturno. É um animal territorialista, podendo esporadicamente ser visto em casais na época de reprodução (agosto a fevereiro), embora não cace em grupo. Alimenta-se de pequenos

No Transecto 2 foi observada uma preguiçacomum, Bradypus variegatus, espécie da Mata Atlântica (Figura 8). Ela é encontrada em áreas florestadas em todo o Brasil, sendo natural da Mata Atlântica e da Amazônia, e em outras partes das Américas do Sul e Central. É uma espécie solitária, diurna e noturna, e se alimenta de folhas de várias espécies de árvores. Como estratégia de sobrevivência, ela executa movimentos lentos e silenciosos e sua pelagem se confunde com as árvores, desviando a atenção dos predadores naturais. Apesar de ser de difícil visualização é alvo de caçadores (Emmons, 1990). Embora não (6)


Figura 4 - C. nigritus se alimentando na varanda da sede da RFVC. Fotografia Cecília Bueno.

Figura 6 - Callithrix jacchus na RFVC. Fotografia: Cecília Bueno.

Figura 5 - C. nigritus se alimentando de banana bandeja da área externa à sede da RFVC. Fotografia de Cecília Bueno.

Figura 7 - Sphigurus villosus. Trilha do Bico do Papagaio, Floresta da Tijuca, PNT. Fotografia: Cecília Bueno.

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Espécies florestais e de áreas abertas: das espécies inventariadas neste trabalho, classificadas de acordo com Fonseca et al. (1996), são considerados animais diurnos de áreas florestais e áreas abertas, Cebus nigritus, Callithrix jacchus, Tamandua tetradactyla, Bradypus variegatus, Sciurus aestuans, Nasua nasua, Dasyprocta leporina. As espécies Cebus nigritus, Callithrix jacchus, Bradypus variegatus e Sciurus aestuans ocorrem áreas de florestas. Tamandua tetradactyla, Nasua nasua e Dasyprocta leporina ocorrem em ambientes florestais e campos.

Durante os trabalhos de campo, foram avistados cães domésticos, tanto nos Transectos 1 e 2, quanto nas áreas das armadilhas de areia. A presença de animais domésticos é um fator de interferência para a fauna silvestre local, por predação e competição por recursos, além de possíveis transmissores de patógenos. Segundo Frölich et al. (2000), o problema maior ainda é o contato entre canídeos e felídeos domésticos com os carnívoros silvestres. Desde a mais simples verminose até uma grave virose como a cinomose, parvovirose ou a raiva, pode ser fatal para um indivíduo selvagem que não apresenta os anticorpos necessários para o combate a certos patógenos desenvolvidos e transmitidos pelos domésticos. Desta forma, este pode ser um dos motivos do não avistamento de carnívoros silvestres na área.

Espécies da vegetação secundária: todas as espécies inventariadas neste trabalho podem ser consideradas de ocorrência em áreas de vegetação secundária. Espécies vagantes: segundo Crud, uma espécie vagante é aquela que foi registrada "fora" de sua área regular de reprodução, trânsito ou descanso reprodutivo. A vagância estaria relacionada com movimentos aleatórios, irregulares de uma espécie que eventualmente ou regularmente se dispersa. Segundo esta definição, nenhuma espécie de médio mamífero, que tenha sido constatada para a RFVC, pode ser considerada como vagante.

Os poucos vestígios que foram conseguidos em função das chuvas, indicam que Cebus nigritus e cão doméstico visitaram as armadilhas. Um dos vestígios encontrados na armadilha 2 foram frutos roídos de Ocotea, podendo ser a indicação da presença de cutia ou do ouriço, mas este dado necessita ser confirmado. Foi percebido um forte aroma de urina de gato e marcas de unhas deixadas em um tronco, indicando a possível presença de felino na área da armadilha 1, mas nenhuma visualização ou identificação positiva foi obtida. As fezes coletadas ainda se encontram em processo de identificação, não oferecendo até o momento nenhum resultado.

Espécies raras: segundo Crud, durante muitos anos os conceitos usados eram: espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção. Raras seriam aquelas espécies que possuem naturalmente baixa densidade populacional. Sua distribuição geográfica pode ser ampla ou restrita, mas com pequena e relativa pouca quantidade de indivíduos. Segundo esta definição, nenhuma espécie de médio mamífero, que tenha sido constatada para a RFVC, pode ser considerada como rara.

Os resultados dos trabalhos de campo, juntamente com as entrevistas, confirmam as espécies citadas no Anexo 2, sendo assim, a fauna de mamíferos de médio e grande porte da RFVC, como esperado, é similar a do Parque Nacional da Tijuca. 3.1 Levantamento da Fauna Diurna

Espécies endêmicas: nenhuma espécie diurna, classificadas de acordo com Fonseca et al. (1996), inventariadas neste trabalho, é considerada espécie endêmica da Mata Atlântica, pois ocorrem em outros biomas (observar anexo 2).

Conforme metodologia descrita no item 3.0, forma observados e copilados através da literatura, os mamíferos de médio e grande porte da RFVC, considerados diurnos, que são: Bradypus variegatus, Tamandua tetradactyla, Callithrix jacchus, Cebus nigritus, Nasua nasua, Sciurus aestuans, Dasyprocta leporina.

Espécies ameaçadas de extinção: segundo Crud, atualmente, espécies ameaçadas de (8)


4. RECOMENDAÇÕES

extinção estão sendo denominadas como "vulneráveis". Nesta definição, nenhuma espécie inventariada neste trabalho pode ser considerada como ameaçada de extinção.

1. Levantamento e monitoramento, ao longo das estações, das espécies de mamíferos de médio porte na RFVC, com o objetivo de se ter um conhecimento mais preciso das espécies que utilizam a área da Reserva.

3.2 Levantamento da Fauna Noturna Conforme metodologia descrita no item 3.0, foram observados e copilados através da literatura, os mamíferos de médio e grande porte da RFVC, considerados noturnos, que são: Dasypus novemcinctus, Cerdocyon thous, Procyon cancrivorus, Agouti paca, Sphiggurus villosus, Sylvilagus brasiliensis e Leopardus wiedii.

2. Identificar as espécies de mamíferos mais atropeladas, caçadas ou capturadas na área e entorno da RFVC, com o objetivo de ações futuras de conservação, com ênfase a atividades de fiscalização e manejo. 3. Informar aos moradores, freqüentadores e passantes, que circulam próximo da área da Reserva, dos cuidados a serem tomados, a fim de evitar danos a conservação da biodiversidade local.

Espécies florestais de áreas abertas: as espécies inventariadas neste trabalho, são considerados animais noturnos de áreas florestais e ou áreas abertas, da seguinte forma: Dasypus novemcinctus, Leopardus wiedii, Procyon cancrivorus, Cerdocyon thous e Sylvilagus brasiliensis ocorrem tanto em ambientes florestais quanto em áreas abertas, campo. Agouti paca e Sphiggurus villosus ocorrem em ambientes florestais.

4. Retirar o suprimento alimentar ofertado às espécies de Cebus nigritus e Callithrix jacchus, pelo fato do aumento exacerbado de suas populações oferecerem risco a conservação de outras espécies, como das aves (pressão de predação de ovos e redução de território), além de reduzir a seleção natural, importante para a evolução destas espécies. Vale lembrar que Callithrix jacchus é uma espécie introduzida no Rio de Janeiro e, portanto, estimular o crescimento desta população coloca em risco a conservação das espécies silvestres locais.

Espécies da vegetação secundária: todas as espécies inventariadas neste trabalho podem ser consideradas de ocorrência em áreas de vegetação secundária. Espécies vagantes: nenhuma espécie de médio mamífero, que tenha sido constatada para a RFVC, pode ser considerada como vagante.

5. Elaboração de um Plano de Manejo, para se estipular o uso, condutas, zoneamentos e todas as informações necessárias para o Manejo da RFVC.

Espécies raras: nenhuma espécie de médio mamífero, que tenha sido constatada para a RFVC, pode ser considerada como rara.

6. Contratar equipe de pesquisadores qualificados para somar ao quadro de funcionários da RFVC, a fim de que possam ser efetuados, continuamente, trabalhos de pesquisa, tanto em fauna quanto em flora na área.

Espécies endêmicas: das espécies noturnas inventariadas neste trabalho, classificadas de acordo com Fonseca et al. (1996), é considerada espécie endêmicas da Mata Atlântica, o ouriçocacheiro, Sphiggurus villosus. Espécies ameaçadas de extinção: Nesta definição, encaixam-se Leopardus wiedii e Agouti paca.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

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PEQUENOS MAMÍFEROS

1. INTRODUÇÃO

Neste estudo foi feito um levantamento preliminar da comunidade de pequenos mamíferos da Reserva Florestal da Vista Chinesa RFVC, inserida no Maciço da Tijuca. Foram analisadas características individuais das espécies e a estrutura e composição da comunidade. Adicionalmente foi analisada a eficácia relativa das diferentes armadilhas e iscas utilizadas para captura de roedores e marsupiais separadamente. Por fim, foram feitas considerações sobre o status de conservação das espécies e sobre a representatividade e eficácia da RFVC para preservação dos pequenos mamíferos do Maciço da Tijuca.

O levantamento de informações confiáveis sobre a qualidade ambiental e o desenvolvimento de padrões metodológicos de coleta e análise de dados é reconhecido como objetivo primordial do Ministério do Meio Ambiente-MMA (Rizzo, 2001). O levantamento e o monitoramento da vida silvestre são essenciais para compreendermos os padrões de composição das comunidades biológicas, as mudanças causadas pelo impacto humano nestas comunidades, e para planejarmos o uso e manejo das Unidades de Conservação UCs. Entretanto, segundo Terborgh & Davenport (2003), estas são atividades pouco priorizadas ou até inexistentes em muitos países em desenvolvimento.

2. METODOLOGIA Entre 26 de março e 21 de abril de 2004 foram estabelecidos quatro transectos de armadilhagem na Reserva Florestal da Vista Chinesa - RFVC seguindo trilhas pré-existentes na área. A primeira (A) a partir da escada atrás da sede, seguindo à esquerda em direção ao Alto da Boa Vista. A segunda (B) foi estabelecida na trilha do divisor de águas do morro acima da sede da RFVC, terminando na extremidade da RFVC, junto a placa de demarcação. A trilha para a Gruta Geonoma foi usada para armadilhagem do terceiro transecto (C). E finalmente, em uma trilha pré-existente, paralela a estrada da Vista Chinesa (ca 10 m de distância) foi montado o quarto transecto de armadilhas (D), este com onze estações de armadilhagem, e os três demais com 20 estações, totalizando um esforço de captura de 4.170 armadilhas.noite.

A região Neotropical engloba uma alta diversidade biológica, entretanto pouco se conhece sobre a biologia das espécies, o manejo destes organismos e dos ecossistemas onde vivem (Robinson & Redford, 1991). A Mata Atlântica do Brasil é o quarto ecossistema em riqueza e ameaça à biodiversidade mundial (Myers, et al., 2000). Os mamíferos da Mata Atlântica compõem um dos grupos mais ameaçados de extinção devido a destruição e fragmentação dos habitats. Atualmente, cerca de 108 mihões de pessoas vivem entre os remanescentes de Mata Atlântica em mais de 3.000 cidades (Jacobsen, 2003) cujo crescimento demográfico está acima da média mundial (Cincotta, 2000). A Serra do Mar está situada na região mais populosa e povoada do Brasil e paradoxalmente mantêm os maiores remanescentes de Mata Atlântica (SOS/INPE/ISA 1998). Neste contexto, o Maciço da Tijuca destaca-se por ser a maior floresta urbana do mundo, possuindo cerca de 4.200 hectares de cobertura florestal inseridas dentro do município do Rio de Janeiro (Folha de São Paulo, 1998). Essa floresta, apesar de descaracterizada pelas atividades antrópicas ao longo dos últimos séculos, e de ser resultado, em grande parte, de um reflorestamento iniciado no século XIX, ainda abriga significativas populações de espécies nativas.

As estações de captura foram montadas a uma distância de 20 m uma das outras, tendo sido instaladas três armadilhas por estação, duas do tipo gaiola (modelo Tomahawk, 41 x 14 x 14 cm), sendo uma no chão e outra disposta no subbosque da floresta (de 1,5 m à 3 m de altura), e uma armadilha tipo Sherman (8 cm x 9 cm x 23 cm) armada no chão. Foi utilizada a isca padrão (pasta de amendoim, banana, bacon, e aveia), em todas as armadilhas Shermam, e em metade das Tomahawk (neste caso, nas armadilhas do solo das estações pares, e do estrato arbustivo das estações ímpares). Alternativamente foi utilizada na outra metade das armadilhas (12)


Tomahawk uma isca composta por pinhão (semente do pinheiro-do-Paraná, Araucaria angustifolia) e castanha-do-Pará (semente da castanheira, Bertholetia excelsa). As armadilhas foram checadas preferencialmente duas vezes ao dia, pela manhã (06:30h às 10:00h) e à tarde (15:00h às 18:00h). Entretanto, devido a dificuldades logísticas, em alguns dias as armadilhas foram checadas apenas uma vez por dia. Os animais capturados foram identificados, pesados, e observados quanto às características reprodutivas e de dentição. Após marcados com brincos numerados individualmente, os animais foram liberados no solo e observados quanto à rota de fuga, pelo solo ou árvore. As freqüências absolutas de captura de marsupiais e roedores em diferentes armadilhas e iscas foram comparadas através do teste do Qui-Quadrado (Sokal & Rolhf, 1990). 3. RESULTADOS Foram capturadas oito espécies de pequenos mamíferos, inclusive o sagüi (Callithrix jacchus), totalizando 31 indivíduos em 56 capturas. As espécies mais capturadas foram Didelphis aurita (Didelphimorphia: Didelphidae) e Trinomys dimidiatus (Rodentia: Echymidae), três espécies de marsupiais, um primata e cinco roedores, sendo duas destas espécies exóticas, além do calllitriquídeo, foram capturadas (Tabela 1), o que pode ser considerada uma comunidade relativamente pouco rica em número de espécies.

Tabela 1: Trilhas, indivíduos, capturas totais e por estrato vertical para cada espécie de pequeno mamífero capturado na RFVC. * espécies exóticas.

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O sucesso de captura médio foi de 1,3%, sendo semelhante entre os estratos amostrados, mas diferente para os tipos de armadilha, com maior sucesso nas armadilhas Tomahawk (Tabela 2). A avaliação dos métodos utilizados e dos resultados obtidos para os pequenos mamíferos são discutidos abaixo.

Tabela 1: Trilhas, indivíduos, capturas totais e por estrato vertical para cada espécie de pequeno mamífero capturado na RFVC. * espécies exóticas.

3.1.

Amostragem da Comunidade de Pequenos Mamíferos

Estratificação Vertical As comunidades de pequenos mamíferos neotropicais são compostas por espécies com diferentes padrões ecomorfológicos, ocupando distintos espaços na floresta, desde espécies terrestres, passando por escansórias, pelas arborícolas de sub-bosque, até aquelas especializadas à vida no dossel da mata (Cunha & Vieira, 2002). Neste estudo, com a armadilhagem em diferentes estratos da floresta, foi possível capturar espécies com diferentes hábitos locomotores. Assim como Malcoln (1991) demonstrou para Amazônia, e Passamani (1995) para a Mata Atlântica, na Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC), a armadilhagem acima do chão permitiu a captura de uma espécie inéditas, nas capturas ocorridas no solo, proporcionando uma amostragem mais detalhada e fiel da comunidade de pequenos mamíferos. A freqüência de capturas no solo e acima do solo foi marginalmente diferente para marsupiais e roedores (X2= 3,640; P=0,0564). Os roedores foram freqüentemente mais capturados no chão da floresta, quando comparados aos marsupiais. A armadilhagem acima do solo na RFVC permitiu a captura exclusiva de Caluromys philander, além de indivíduos de D. aurita (n=6) e S. aestuans (n=3). O gambá (D. aurita), o caxinguelê (S. aestuans), e o sagüi (Callithrix jacchus) foram as únicas espécies capturadas nos dois estratos amostrados. Com exceção de S. aestuans todos os roedores foram capturados no solo. A cuíca-marron (Metachirus nudicaudatus) também foi capturada no chão da floresta, apoiando o hábito predominantemente terrestre desta espécie, evidenciado por Cunha & Vieira (2002) através do método do carretel-de-rastreamento. Tipos de Isca O uso de diferentes tipos de armadilhas e iscas permitiu um inventário mais detalhado da comunidade de pequenos mamíferos. Houve diferença significativa na freqüência de capturas entre roedores e marsupiais para as diferentes iscas utilizadas (X2= 5.484; P=0,0192). Marsupiais foram significativamente mais capturados com a mistura, 17 das 21 capturas ocorreram com esta isca. Exceto para S. aestuans a isca padrão atraiu todas as espécies. A utilização da castanha-do-pará e pinhão mostrou-se mais eficiente para captura de roedores em relação aos marsupiais, destacando-se a captura de Sciurus aestuans, cujas quatro capturas foram exclusivamente com esta isca e Trinomys dimidiautus (sete de 18 capturas). Metachirus nudicaudatus, Caluromys philander, Oligoryzomys sp., e (14)


mus musculus, tiveram uma única captura, o primeiro com castanha e pinhão e os demais com mistura.

neste estudo, uma diferença significativa entre o sucesso de captura para as diferentes ordens (X2= 6.837; P=0,009), onde a freqüência de captura dos marsupiais nas armadilhas com a mistura também foi destacadamente maior, em comparação com aquelas iscadas com pasta de amendoim (56 e 27 capturas, respectivamente, Woodman, et al, 1996). A freqüência de capturas de roedores foi semelhante entre as duas iscas (213 e 204 capturas para mistura e pasta de amendoim, respectivamente, Woodman, et al, 1996). Assim como no presente estudo, as ordens e espécies têm preferências distintas relacionadas à dieta.

Os resultados indicam uma distinção na preferência de iscas entre as ordens e espécies claramente ligada a preferências específicas da dieta. Os marsupiais neotropicais são primariamente onívoros, com diferenças secundárias desde espécies onívoras-frugívoras à onívoras-carnívoras (Astua de Moraes et al., 2003). Logo, a maior freqüência de capturas de marsupiais com a mistura de aveia, banana, bacon e pasta de amendoim, reflete a dieta predominantemente onívora da taxocenose dos didelfídeos neotropicais.

Frente a eficácia diferenciada das distintas iscas utilizadas, torna-se recomendável, se não essencial, a utilização de diferentes iscas para um inventário completo da comunidade de pequenos mamíferos neotropicais. A mistura padrão foi confirmada com uma isca atrativa para quase todas as espécies, entretanto preferências alimentares específicas, podem levar a necessidade de iscas alternativas para captura de algumas espécies, como no caso do caxinguelê.

Já os roedores neotropicais são em sua maioria frugívoros (Fonseca et al., 1996; Finotti, 2003), com distinções secundárias de espécies frugívorasherbívoras a frugívoras-onívoras, além de algumas espécies insetívora-onívoras. Logo, o maior sucesso de captura de roedores (37%) nas armadilhas com isca de castanha e pinhão, em relação ao sucesso desta isca para os marsupiais (10%), pode ser explicado pela maior proporção de espécies frugívoras dentre os roedores, particularmente das frugívorasgranívoras, nesta taxocenose. A preferência por esta isca foi evidente no caso de S. aestuans, cujos indivíduos foram capturados exclusivamente com a utilização desta isca.

Tipos de Armadilhas A utilização de diferentes armadilhas também foi importante na amostragem dos diferentes grupos (roedores e marsupiais) da comunidade de pequenos mamíferos da RFVC, possibilitando inclusive a captura de espécies de diferentes tamanhos corporais (variando de aproximadamente 10g a 1.460g). Devido ao maior porte, os indivíduos adultos de marsupiais (M. nudicaudatus 460g, n=1; C. philander 240g, n=1; e Didelphis aurita 1110g-1460g, n=3) foram mais capturados em Tomahawks (X2= 2,813; P=0,0468), apenas 2 capturas de indivíduos recém-desmamados de D. aurita (170-180g, n=2) ocorreram em armadilhas Sherman. Quanto aos roedores, as espécies de maior porte (Trinomys dimidiatus 205-335g, n=8; e Rattus rattus 55-110g, n=4) exceto S. aestuans (205230g, n=2), apresentaram freqüência de capturas semelhantes nas duas armadilhas (X2= 0,2827; P=0,5949). Enquanto que as espécies de menor porte, como Oligoryzomys nigripes (10g,

Pequenos mamíferos apresentam preferências distintas para diferentes iscas (Beer, 1964; Buchalczyk & Olszewski, 1971; Rickart et al., 1991). Entretanto apenas um estudo sobre diferenças no sucesso de captura com diferentes iscas foi conduzido na região neotropical (Woodman, et al, 1996, na Amazônia), e nenhum na Mata Atlântica. Os autores supracitados compararam somente o sucesso total de captura entre duas iscas, sem comparações entre as ordens. Eles contrastaram a eficiência de uma mistura de bife de fígado, aveia, passas, grãos e baunilha e outra de pasta de amendoim com aveia, e não encontraram diferenças significativas em relação ao número total de indivíduos capturados. Entretanto, analisando seus dados foi possível verificar, assim como (15)


n=1), e Mus musculus (15g, n=1) ocorreram exclusivamente nas armadilhas Shermans. As capturas de S. aestuans foram somente em Tomahawks.

A cuíca-lanosa ocorre em todas as florestas neotropicais; incluindo ambientes campestres e plantações. Ocupa matas preservadas, mas também fragmentos de mata pequenos e degradados (Olifiers, 2002). C. philander é uma espécie tipicamente arborícola, se locomove habilmente por entre os galhos e lianas dos estratos superiores da floresta (Cunha & Vieira, 2002). Habita predominantemente os estratos mais altos da floresta (>10m), mas utiliza com freqüência o sub-bosque. É comum a captura de indivíduos no dossel de mata de baixa estatura, como a formação florestal do topo do morro da RFVC, onde a captura ocorreu à 3m do solo, em uma floresta composta por árvores com aproximadamente 5m de altura. Esta captura acima do solo assim como a rota de fuga pela árvore após a soltura do indivíduo, corroboram o hábito arborícola da espécie.

Poucos estudos analisaram a eficácia dos tipos de armadilha na captura de pequenos mamíferos. Estudos na região temperada já demonstraram diferenças no resultados de inventários faunísticos utilizando tipo e tamanho distintos de armadilhas (O'Farrel, 1994). Na região neotropical, o único estudo também é o de Woodman, et al. (1996) na Amazônia. Neste trabalho, as armadilhas tipo ratoeira “snap-traps” foram mais eficazes no número total de indivíduos e conseqüentemente de espécies capturadas do que as armadilhas Sherman. Os autores não teceram considerações sobre a eficácia das armadilhas para as diferentes ordens (roedores e marsupiais). Ao analisar seus dados não foi possível detectar diferenças significativas entre a freqüência de captura de roedores e marsupiais nos dois tipos de armadilha (X2= 3,098; P=0,0784). Isto provavelmente deve-se ao fato das armadilhas utilizadas por Woodman, et al. (1996) possuírem tamanhos semelhantes (Sherman 8cm x 9cm x 23cm; e “snap-traps” 8,7cm x 17.5cm).

De acordo com o estudo de Julién-Laferrière (1995), as áreas de vida de C. philander não diferem em tamanho entre machos e fêmeas, a área média utilizada foi de 3ha, durante 3 anos de acompanhamento. Este pesquisador constatou ainda que tanto machos quanto fêmeas sobrepõem suas áreas de vida, e que as fêmeas exploram maiores áreas quando lactantes. Em 1997, Julién-Laferrière publicou um estudo descrevendo os períodos diários de atividade da espécie, e mostrou que a cuíca-lanosa é ativa durante toda a noite durante fases de baixa luminosidade da lua. Entretanto em períodos de alta intensidade luminosa, próximos à lua cheia, os indivíduos exibem picos de atividade com longos intervalos de descanso, provavelmente como uma estratégia anti-predação (JuliénLaferrière, 1997). Na RFVC houve somente uma captura de C. philander, durante à noite, confirmando o hábito noturno da espécie.

Neste estudo, a diferença no sucesso de captura diferenciado para roedores e marsupiais entre as armadilhas está diretamente relacionado ao tamanho do corpo, sendo as espécies de menor porte (principalmente roedores) capturadas em Shermans, e as de maior porte (particularmente marsupiais) capturadas em Tomhawks, como detalhado acima. Desta forma, convêm enfatizar novamente a importância do uso de diferentes ferramentas e métodos (tipos de armadilhas, iscas, e estratos da vegetação) visando uma amostragem mais completa da comunidade de pequenos mamíferos neotropicais.

Entre os marsupiais neotropicais, a cuíca lanosa é o mais frugívoro (Astúa de Moraes, et al. 2003). A dieta é complementada ainda com insetos, além de goma e néctar, particularmente em períodos de escassez de frutos (JulienLaferrière, 1995). A alimentação da cuíca-lanosa é composta principalmente por partes reprodutivas de inúmeras angiospermas,

3.2. Aspectos da História Natural das Espécies Caluromys philander (Linnaeus, 1758, Figura 1)

(16)


entretanto ainda não existem estudos enumerando as espécies de plantas consumidas. Baseado na contribuição predominante dos frutos e adicional do néctar na dieta de C. philander, somada à relativa resistência e permanência desta espécie frente aos distúrbios antrópicos, e ainda levando-se em conta as interações de dispersão e polinização, torna-se fundamental estudar a força destas interações afim de avaliar a importância desta espécie para o funcionamento do ecossistema e manutenção da diversidade biológica local, particularmente para as angiospermas.

ocupam áreas mais sobrepostas e maiores (0.93 0,22ha), englobando o território de varias fêmeas. Estes autores comprovaram ainda que o pico de atividade da espécie é concentrado entre às 18:00h e 20:30h, continuando menos intenso até 00:00, e diminuindo drasticamente após às 00:30h. Na RFVC, foram capturados 10 indivíduos de D. aurita, sendo quatro adultos, 1 subadulto e cinco recém-desmamados. Baseado nas distâncias entre sucessivas capturas, foi possível observar que adultos se deslocaram mais, até 140 m lineares. Alguns indivíduos foram capturados apenas uma vez próximo aos limites da Reserva, sugerindo que eles possam utilizar a RFVC como parte de suas áreas de vida, ou também como passagem para outras áreas. Já os indivíduos recém desmamados ocuparam áreas menores e sobrepostas, inclusas dentro da área de vida materna, com sucessivas capturas distando no máximo 80m. Nos dias em que as armadilhas foram verificadas pela manhã e à tarde, todos as capturas desta população foram feitas entre 17:00h e 06:00h, corroborando o hábito noturnocrepuscular característico da espécie.

Didelphis aurita (Wied-Neuwied, 1826, Figura 2) O gambá da Mata Atlântica ocupa diferentes formações vegetacionais do bioma Mata Atlântica, da restinga às florestas alto montanas. O gambá pode ser considerado generalista na escolha de habitats, pois é encontrado desde matas aparentemente maduras e pouco alteradas até áreas com forte influência antrópica como fragmentos florestais, campos, plantações e até em latões de lixo. Não é raro encontrar indivíduos atropelados em vias públicas próximo a áreas florestadas, como as estradas que cortam a Floresta da Tijuca. O gambá é um dos pequenos mamíferos que utiliza com maior amplitude os estratos verticais da floresta. Desloca-se principalmente pelo chão da mata, mas utiliza com freqüência o sub-bosque e eventualmente o dossel da floresta (Cunha & Vieira, 2002). Os indivíduos utilizam o estrato vertical na estação seca e chuvosa com a mesma intensidade. Ao longo da vida tendem a deslocarse com mais intensidade acima do solo quando recém-desmamados, provavelmente como uma estratégia para evitar a predação (Cunha & Vieira, submetido).

A alimentação do gambá é onívora, generalista e oportunista. Os itens mais freqüentes observados em sua dieta são invertebrados do folhiço (Diplopoda; Hymenoptera; Blattariae; Coleoptera; Orthoptera; Opiliones; e Gastropoda, entre outros), mas indivíduos adultos consomem também pequenos vertebrados como: o roedor Akodon cursor; os lagartos Mabuya sp. e Tropidurus torquatus; além de pássaros e peixes (Santori et al., 1995). Oliveira & Santori (1999) relatam um comportamento especializado de predação de D. aurita sobre a jararaca (Bothrops jararaca), cujo veneno o gambá é imune, o que contribuí para o sucesso de predação deste marsupial.

O gambá da Mata Atlântica percorre amplas distâncias em seus movimentos. Com carretel de rastreamento constatou-se que indivíduos adultos podem deslocar-se por mais de 500m em poucas horas durante a noite na floresta (Cunha, comunicação pessoal.). De acordo com o estudo de Cáceres & Monteiro-Filho (2001), as áreas de vida das fêmeas são menores (0.93 0,22 ha) e mais exclusivas (territoriais), já os machos

O consumo dos itens da dieta de D. aurita parece ser fortemente relacionado à disponibilidade destes itens no ambiente, o que naturalmente varia no espaço e no tempo. Desta forma, Vieira & Izar (1999) e Cáceres et al. (1999) reportam o consumo oportunistico de frutos na estação chuvosa, quando estes são mais abundantes. Os (17)


Coleoptera e Hymenoptera, além de frutos de algumas espécies e poucos vertebrados (Santori et al., 1995; Freitas et al., 1997). Estes trabalhos, assim como Emmons & Feer (1997) apontam como característica específica da dieta da cuícamarrom o consumo de formigas e cupins.

principais frutos encontrados por Santori et al. (1995b) e Cáceres & Monteiro-Filho (2000; 2001) pertencem às famílias Solanaceae; Passifloraceae; Piperaceae; Myrtaceae; Sapindaceae; e Araceae. O gambá pode ser considerado um dispersor efetivo (sensu Fleming & Sosa, 1994) das sementes destas e provavelmente de outras famílias de angiospermas. Estudos sobre o sucesso de germinação de sementes consumidas pelo gambá, como o realizado por Grelle & Garcia (1999) para Cecropia, devem ser conduzidos não só para o gambá, mas para toda a comunidade de vertebrados frugívoros visando esclarecer as relações entre estes grupos.

Trinomys dimidiatus (Günther, 1877, Figura 4) O rato-de-espinho é um habitante comum das florestas neotropicais. O gênero Trinomys engloba espécies de um antigo subgênero de Proechimys, atual grupo das espécies amazônicas. T. dimidiatus é endêmico da Mata Atlântica, mais especificamente na região do Estado do Rio de Janeiro (Lara & Paton, 2000). Ocorre em diferentes formações vegetacionais, na floresta ombrófila densa, na semi-decídua, assim como em vegetações abertas como a restinga de Maricá (Cerqueira et al., 1995) Segundo Emnmons & Feer (1997), Trinomys utiliza predominantemente o chão da floresta em seus deslocamentos. Na RFVC todos os indivíduos de T. dimidiatus foram capturados no solo, e a rota de fuga adotada na soltura foi sempre pelo chão (n=18), confirmando o hábito terrestre característico do gênero.

Metachirus nudicaudatus (E. Geoffroy, 1803, Figura 3) A cuíca-marron ocorre desde a América Central até o sul do Brasil, na floresta Amazônica e a Atlântica, assim como matas de galeria do cerrado. É uma espécie estritamente terrestre (Cunha & Vieira, 2002) preferindo microhabitats com vegetação herbácea relativamente mais densa (Freitas et al., 1997), o que pode estar relacionado a proteção contra a predação. M. nudicaudatus locomove-se pelo chão da floresta, percorrendo grandes distâncias em poucas horas da noite. Embora tenha apenas cerca de um terço do tamanho corporal, é provável que a cuíca-marron (M. nudicaudatus) apresente taxas de deslocamento semelhantes às de Didelphis aurita (Gentile & Cerqueira, 1995). Embora com tamanhos de corpo e necessidades energéticas distintas, a semelhança nas taxas de deslocamento pode estar relacionada à exploração de recursos, já que o gambá pode explorar os recursos presentes em todos os andares da mata, enquanto que Metachirus consome insetos do folhiço exclusivamente no chão da floresta. No presente estudo, houve apenas uma captura, à noite, de Metachirus nudicaudatus nos limites da RFVC.

O estudo de Gentile & Cerqueira (1995) sobre os padrões de uso do espaço por pequenos mamíferos, evidenciou que Trinomys exibe baixa mobilidade, áreas de vida pequenas, e tempos de residência longos. No presente estudo a variação individual dos deslocamentos mostrou-se evidente. O indivíduo mais capturado (n=6) deslocou-se por distâncias relativamente grandes entre os pontos de captura (até 200 metros), já o segundo indivíduo mais capturado (n=4) foi capturado três vezes no mesmo ponto e uma vez a 40m de distância deste ponto. Logo, são necessários estudos mais detalhados, focados principalmente nas variações individuais, para analisar os padrões de movimento da espécie. A dieta é frugívora-granívora, os itens consumidos incluem sementes, frutos, fungos de micorrizas, insetos e folhas (Emmons & Feer, 1997). Estudos detalhados para algumas espécies de Proechimys destacam o consumo de

A dieta onívora desta espécie tem uma forte tendência à insetivoria, sendo composta principalmente por insetos das ordens Blattariae, (18)


frutos de palmeiras como uma importante interação no funcionamento das florestas tropicais (Smythe, 1986). A dinâmica das espécies de Trinomys e Proechimys parece estar diretamente relacionada à abundância de recursos alimentares, particularmente de frutos (Bergallo & Magnusson, 1999; e Addler, 1994, respectivamente). Estudos sobre consumo, predação e dispersão de frutos por Trinomys dimidiatus devem ser realizados visando entender a importância relativa destas diferentes interações e suas implicações para o ecossistema como um todos e particularmente para a comunidade de plantas.

predominantemente terrestre e o período de atividade noturno. É uma espécie hospedeira de diversas moléstias à saúde humana, e deve ser eliminada onde ocorre. A dieta é onívora e oportunista, forrageia geralmente sobre lixos, carniça animal, depósito de grãos, e até em itens pouco palatáveis , como couro e sabão (Emmons & Feer, 1997). As capturas na RFVC ocorreram em sua maioria (cinco de seis) na trilha D, em estações de captura paralelas a estrada da Vista Chinesa e próximas as construções da sede da reserva, indicando que de fato a espécie parece concentrar as populações no entorno das habitações humanas no Maciço da Tijuca. Uma captura ocorreu na trilha C, a cerca de 100m da construção mais próxima da sede da RFVC, evidenciando que embora a espécie ocorra associada a residências, os indivíduos invadem áreas florestais próximas a estas casas, constituindo uma ameaça a fauna nativa. Os indivíduos ocorreram em armadilhas Tomahawk e Sherman, mas exclusivamente com a isca de mistura. Todos os ratos domésticos capturados foram removidos da RFVC.

Oligoryzomys nigripes (Olfer, 1818) O rato-do-mato ocupa diferentes biomas brasileiros, sendo encontrado no cerrado, na caatinga e na Mata Atlântica, inclusive nos Campos Sulinos. Aspectos da história natural de O. nigripes são pouco conhecidos. Este rato-domato está presente em ecossistemas com diferentes fisionomias vegetacionais desde formações abertas a florestas densas. Em cada um destes ecossistemas parece ser uma espécie relativamente generalista na escolha de microhabitats, como observado por Vieira (2003) no cerrado. Quanto à utilização dos estratos da floresta, o rato-do-mato parece viver principalmente no solo da floresta e explorar eventualmente as camadas mais baixas do subbosque. Em um estudo na Mata Atlântica do Paraná, Cáceres & Monteiro-Filho (2001) verificaram dois picos de atividade para a espécie, das 18:30h às 20:30h, e das 04:00h às 06:30h, desta forma a espécie parece ter uma atividade maior nas horas de transição entre o dia e a noite. Na RFVC houve apenas uma captura, no chão da mata e durante à noite, o que está de acordo com o que é previsto para a espécie.

Mus musculus Linnaeus, 1758 O camundongo doméstico é uma espécie, originária da Europa, que atualmente está distribuída por todo o planeta (Wilson & Reeder, 1993). Ocorre principalmente junto a habitações humanas. É uma peste associada principalmente a áreas de cultivo de grãos, acampamentos, e habitações. Locomove-se pelo chão, mas eventualmente escala com destacada habilidade. A dieta é composta de grãos, particularmente arroz e milho, além de insetos e outros itens em menor proporção (Emmons & Feer, 1997). Apenas um indivíduo foi capturado na RFVC, ocorreu em uma armadilha Sherman durante a noite e a cerca de cinco metros da construção principal da sede da RFVC, a isca utilizada foi a mistura padrão. Este indivíduo foi removido.

Rattus rattus (Linnaeus, 1758) O rato doméstico é uma espécie originária da Península Índica, que atualmente é considerada uma peste distribuída por todo o mundo (Wilson & Reeder, 1993). Habita as cidades, depósitos de lixo, entulhos e por vezes até florestas adjacentes as áreas residenciais. A locomoção é

Sciurus aestuans Linnaeus, 1766 O caxinguelê, serelepe, ou esquilo é o único sciurídeo na Mata Atlântica. Sua distribuição, no entanto, abrange também outras formações (19)


florestais da América do Sul, como a Floresta Amazônica. Ocupa desde florestas bem conservadas até jardins e parque urbanos. Entretanto, parece estar ausente em pequenos fragmentos florestais (Olifiers, 2002). Os indivíduos locomovem-se por todos os estratos da floresta, mas principalmente pelo sub-bosque (ver capítulo caxinguelê).

Os indivíduos forma capturados em todas as condições na RFVC, ou seja, em ambos os estratos amostrados, com as duas iscas e nas duas armadilhas disponíveis, indicando uma estratégia relativamente generalista quanto ao uso do espaço da floresta e também em relação à alimentação e à preferência de habitat, já que foi capturado e/ou observado em todas trilhas da RFVC. As capturas aconteceram sempre durante o dia, e a observação de grupos sugere que os indivíduos são ativos desde o começo da manhã até o final da tarde, com menor intensidade no meio do dia.

A dieta é classificada como frugívora-onívora. O caxinguelê têm preferência destacada por frutos, particularmente por castanhas e frutos de palmeiras, os quais são predadores e potenciais dispersores das sementes. Na RFVC, os indivíduos foram capturados exclusivamente durante o dia, em armadilhas Tomahawk e com a isca de castanha-do-pará e pinhão. Callithrix jacchus (Erxeleben, 1977, Figura 5) O sagüi-de-tufos-brancos é uma espécie nativa do nordeste do Brasil e foi introduzida no Maciço da Tijuca provavelmente na década de 1950. Atualmente, encontra-se distribuída por várias localidades do sudeste do Brasil. Habita desde formações abertas como a caatinga e cerrado em sua distribuição original, até a Floresta Ombrófila Densa. A população do Maciço da Tijuca parece muito abundante, é comum o avistamento de grupos, inclusive em ruas arborizadas dos bairros do entorno do maciço. Os sagüis usam preponderantemente o subbosque em seus movimentos diários, embora freqüentem também o chão da floresta e a copa das árvores. A espécie é tipicamente gomívora, ou seja, grande parte de sua dieta é composta por exudatos vegetais de espécies arbóreas, outros itens importantes são frutos carnosos, insetos e pequenos vertebrados. No Maciço da Tijuca foi freqüente observar indivíduos consumindo frutos de jaqueira (Artocarpus integrifolia). Castro (2003) sugere que a exploração de goma é uma estratégia de alimentação alternativa frente a escassez de frutos, um grupo de indivíduos foi observado alimentando-se de exudatos de uma espécie arbóreas não identificada. Entretanto estudos mais detalhados são necessários para elucidar a dieta da espécie e demais relações ecológicas no Maciço da Tijuca. (20)


Figura 1: Caluromys philander no estrato arbustivo (Sub-Bosque). Note a habilidade com que o indivíduo segura os pequenos suportes, enquanto torce o corpo para se equilibrar, refletindo a especialização para viver nos estratos acima do chão da mata. Fotografia: Maja Kajin

Figura 2: Didelphis aurita no chão da mata. Note o brinco numerado utilizado para marcação individual. O gambás da Mata Atlântica variam na cor da pelagem desde o cinza grisalho até tons mais escuros, o indivíduo fotografado apresenta coloração acentuadamente negra. Fotografia: Paula Aprigliano.

Figura 3: Metachirus nudicaudatus. Note os membros posteriores bem desenvolvidos do indivíduo, característica típica da espécie, que proporciona um bom desempenho nos longos deslocamentos terrestres e saltatoriais realizados. Fotografia: Maja Kajin.

Figura 4: Trinomys dimidiatus capturado em uma armadilha Tomahawk no chão da mata da RFVC. Note os pêlos aculeados, em forma de espinho, característico da família Echymidae. As patas traseiras longas, estreitas, e brancas são características marcantes do gênero. Fotografia: Henrique Rajão.

Figura 5: Callithrix jaccus se na bandeja de alimentação da sede da Reserva Florestal da Vista Chinesa. Residências dentro e no entorno do Maciço alimentam com freqüência grupos desta espécie exótica. Fotografia: Herique Rajão.

(21)


3.3. Caracterização da Comunidade de Pequenos Mamíferos

futuros estudos com a espécie no Maciço da Tijuca.

Uso do Habitat - Formações Florestais Abertas e Clareiras

A maior riqueza de espécies foi registrada na trilha B, onde houve a captura de cinco espécies de pequenos mamíferos, além de C. jacchus (Tabela 2). A riqueza elevada nesta trilha provavelmente está relacionada a heterogeneidade ambiental encontrada ao longo do transecto. Neste podemos identificar uma vegetação de “topo-de-morro” caracterizada por arbustos de três a seis metros de altura e uma densa vegetação herbácea. Esta trilha englobou ainda áreas com floresta mais desenvolvida, com dossel de 10 à 20 metros de altura, algumas árvores de grande porte e abundância de epífitas. Dada esta variedade de ambientes era esperado de fato encontrarmos maior riqueza de espécies nesta área.

A Reserva Florestal da Vista Chinesa abrange distintas fisionomias vegetacionais (ver capítulo de vegetação). As trilhas para amostragem da comunidade de pequenos mamíferos foram estabelecidas de forma a representar estes distintos ambientes. A análise dos pontos e trilhas de capturas para cada espécie na RFVC, apoiada pelo conhecimento bibliográfico, permite portanto algumas inferências a respeito do uso e preferência do habitat pelas espécies. Foi possível observar que a comunidade de pequenos mamíferos na proximidade de habitações e estradas encontra-se extremamente alterada, com presença de espécies exóticas, localmente mais abundantes do que as nativas. Na trilha D foram capturadas quatro espécies e outras duas foram observadas (Sciurus aestuans e Callithrix jacchus). Três destas são espécies exóticas, e aparentemente são mais abundantes nesta área no entorno de residências, principalmente Rattus rattus. As duas únicas espécies nativas capturadas nesta trilha foram Didelphis aurita e Trinomys dimidiatus, consideradas resistentes as distúrbios antrópicos.

Os pequenos mamíferos capturados na RFVC são característicos da Mata Atlântica. Portanto são típicos de ambientes florestais. Analisando os pontos de captura para cada espécie foi possível observar que algumas ocorreram em pontos de clareira e/ou vegetação relativamente mais aberta. Desta forma, embora todas as espécies sejam típicas da Mata Atlântica, podemos classificar o gambá (D. aurita) e ratode-espinho (T. dimidiatus), assim como C. jacchus e S. aestuans que foram avistados nestes ambientes, como espécies plásticas, ou generalistas quanto às características do habitat, que utilizam com freqüência áreas de vegetação aberta e/ou clareiras.

Nas trilhas A, B, e C, estabelecidas em áreas florestais mais afastadas da sede da RFCV, a comunidade de pequenos mamíferos apresentou-se menos descaracterizada pelos distúrbios antrópicos e pela presença de espécies exóticas. Exceto por Callithrix jacchus, houve apenas uma captura de Rattus rattus no início da trilha C. A trilha A apresentou a comunidade menos rica, apenas três espécies de pequenos mamíferos foram capturadas, entretanto, com exceção do sagüi, não houve o registro de espécies exóticas. Na trilha C foram capturadas quatro espécies, além de C. jacchus (Tabela 2). Nesta trilha destacou-se a presença abundante de Trinomys dimidiatus, onde ocorreram 14 das 18 capturas da espécie neste estudo. Logo, esta área deve ser priorizada para

O primata C. jacchus foi capturado e observado com freqüência na trilha B e final da trilha A, em pontos de vegetação mais baixa e relativamente aberta. Isto pode refletir um bom desempenho e adaptações para explorar um ambiente semelhante à Caatinga e ao Cerrado, biomas onde a espécie é nativa. Embora típicas de áreas florestadas do Maciço da Tijuca, podemos considerar D. aurita; T. dimidiatus; C. jacchus, e S. aestuans como espécies freqüentes em clareiras e/ou vegetações abertas dentro da RFVC, e podemos induzir que assim também o sejam em todo o Maciço da Tijuca e outras áreas da Mata Atlântica. (22)


a)

Períodos de Atividade, Dieta e Uso do Espaço Vertical da Floresta

O uso do espaço ou habitat pelas espécies, assim como a composição da dieta alimentar e o período de atividade são as três dimensões mais importantes do nicho ecológico das espécies (Pianka, 1999). Cunha & Vieira (2004) propõem que o padrão de uso do espaço (bi-dimensão espaço-tempo) é o principal aspecto do nicho ecológico. Logo o principal foco para entendermos melhor os padrões de riqueza e coexistência das espécies deve ser o estudo do uso do espaço. Analisando os três principais aspectos do nicho ecológico (espaço, tempo, e dieta) das espécies que compõem a comunidade de pequenos mamíferos da RFVC (tabela 3), percebe-se que as espécies tendem a distinguir-se quanto ao uso do espaço vertical da floresta, ou então, são distinguidas nas outras dimensões do nicho. Por exemplo: o gambá (Didelphis aurita), o caxinguelê (Sciurus aestuans), e o sagui-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus) utilizam todos os estratos da floresta, entretanto distinguemse quanto ao horário de atividade, e em relação a dieta.

a CH= chão; DO = dossel; SD= sub-dossel. b AT= itens antrópicos; FO= frugívoro-onívoro; FG= frugívoro-granívoro; IO= insetívoro-onívoro; GO= gomívoro-onívoro. c DI=Diurno; CP=crepuscular; NT= noturno. Tabela 3: Principais aspectos do nicho ecológico das espécies capturadas no levantamento faunístico da Reserva Floresta Vista Chinesa.

O período de atividade também é importante para a compreensão dos padrões de coexistência de espécies ecologicamente semelhantes. Ao analisarmos este aspecto do nicho percebemos que espécies com sobreposição no período de atividade distinguem-se em outras dimensões, particularmente na alimentação (tabela 3). O horário de atividade também é importante para compreendermos as interações entre as espécies. Como proposto por Cáceres & Monteiro-Filho (2001) a atividade do gambá (D. aurita) após o pôr-do-sol parece ser estratégica para possibilitar a caçada de pequenos mamíferos que servem de presa, como o rato-do-mato (Oligorizomys nigripes). Sobretudo, estudos mais detalhados são necessários para elucidar os períodos de atividade de cada espécie.

(23)


É importante destacar que os aspectos do nicho foram aqui analisados grosseiramente, sem o desenho e esforço amostral adequado, mas mesmo assim foram essenciais para o entendimento da composição da comunidade. Estudos mais detalhados sobre o padrão de uso do espaço, preferência de habitat, períodos de atividade e interações com outros elementos do ecossistema, particularmente as plantas angiospermas, são fundamentais para uma compreensão detalhada da estrutura e dinâmica deste ecossistema.

maior tamanho populacional e alta capacidade reprodutiva, além de requerimentos ambientais relativamente pouco exigentes. Espécies tipicamente raras, caracterizadas por populações localmente pequenas e/ou baixas densidades são mais suscetíveis às flutuações ambientais, e provavelmente foram extintas ao longo dos últimos séculos, no Maciço da Tijuca. É necessário ressaltar que este foi um estudo pontual, e no mínimo três fatores devem ser considerados para explicar a aparente ausência de espécies raras: (1) a comunidade pode ser de fato composta de poucas espécies comuns; (2) um levantamento detalhado da comunidade de pequenos mamíferos exige maior esforço amostral e metodologias de captura alternativas para espécies consideradas “tímidas” para as armadilhas convencionais, que podem estar presentes na RFVC e serem, ou não, espécies raras; (3) é possível também que caso fosse utilizada a metodologia de captura com coleta dos indivíduos, ao invés da marcação e soltura, fossem capturadas mais espécies, já que teriam sido retiradas da área as espécies mais abundantes e superiores competitivamente, permitindo então um espaço livre de inimigos (enemy free-space, sensu Begon, 1996) para as espécies menos comuns e provavelmente afastadas por interferência competitiva, desta forma, permitindo maior possibilidade de captura.

Status de Conservação Espécies Raras, Endêmicas e Ameaçadas de Extinção Os pequenos mamíferos capturados na RFVC são considerados relativamente comuns na Mata Atlântica (Emmons & Feer, 1997), assim como Callithrix jacchus é freqüentemente avistado nos biomas no qual é nativo, cerrado e caatinga (Auricho, 1995). Nas florestas neotropicais Trinomys e Didelphis são as espécies mais freqüentes, representando, na Mata Atlântica, os gêneros mais comuns de roedores e marsupiais, respectivamente. Na RFVC este padrão foi corroborado, as duas espécies tiveram o maior número de indivíduos e de capturas (Tabela 2). O número de capturas por espécie sugere que exista uma diferença nos padrões de abundância das espécies, dois marsupiais (Caluromys philander e Metachirus nudicaudatus) e dois roedores (Mus musculus e Oligoryzomys nigripes) foram capturados somente uma vez, em contraste D. aurita e T. dimidiatus, tiveram 17 e 18 capturas respectivamente (tabela 2). No entanto, todas as espécies capturadas neste estudo são consideradas comuns para a Mata Atlântica (Emmons & Feer, 1997), ou seja, não foram registradas espécies consideradas tipicamente raras para a Mata Atlântica na RFVC.

Entre as espécies capturadas distinguem-se diferentes escalas de endemismo. Algumas espécies têm distribuição por todo o mundo como Rattus rattus e Mus musculus (Emmons & Feer, 1997), são consideradas espécies cosmopolitas. Metachirus nudicaudatus ocorre desde a América Central até a Argentina, e pode ser considerado endêmico da região neotropical (Emmons & Feer, 1997). Caluromys philander, Olioryzomys nigripes e Sciurus aestuans são endêmicas da América do Sul (Emmons & Feer, 1997). Já D. aurita é endêmico da Mata Atlântica (Cerqueira, 1985). A espécie com distribuição mais restrita é Trinomys dimidiatus, que ocorre na região do Estado do Rio de Janeiro (Lara & Patton, 2000). Um caso preocupante é do primata

Atualmente, as espécies de pequenos mamíferos presentes na RFVC e no Maciço da Tijuca são aquelas que resistiram às mudanças drásticas na paisagem da floresta da Tijuca nos últimos dois séculos. Logo, é esperado que as espécies que tenham resistido a tais transformações neste ecossistema sejam aquelas mais comuns, ou seja, aquelas com (24)


Callithrix jacchus, espécie originalmente restrita ao Cerrado e à Caatinga, do nordeste brasileiro, que hoje está distribuído na Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro (Rylands et al, 1993) e provavelmente em outros estados brasileiros, onde também não ocorrera de acordo com sua distribuição original.

demográfico. Os pequenos mamíferos são dependentes da área que utilizam na RFVC em níveis variados. Os indivíduos de espécies como Trinomys dimidiatus, Sciurus aestuans, e Oligoryzomys nigripes ocupam áreas de vida relativamente pequenas. Para estas espécies, a área da RFVC permite a sobevivência de vários indivíduos da população. Já para espécies de maior tamanho corporal e altas taxas de movimentação, como Didelphis aurita, a RFVC pode englobar poucas áreas de vida individuais e/ou servir parcialmente para alguns indivíduos. Logo, a importância relativa da RFVC para cada espécie varia com o número de indivíduos da espécies vivendo dentro da reserva.

As espécies registradas neste estudo não constam da lista da Fauna Ameaçada de Extinção do Estado do Rio de Janeiro (Bergallo et al, 2000), assim como estão ausentes da Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (www.ibama.gov.br). Na Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza IUCN (www.redlist.org) apenas a cuíca lanosa (C. philander) é classificada como em baixo risco de extinção.

Adicionalmente, vários ambientes distintos (mesohabitats) estão representados na RFVC, o que é importante para a conservação de espécies com diferentes características ecológicas e desempenhos adaptativos desiguais em cada um destes ambientes. Desta forma evidencia-se que a RFVC representa parte significativa da diversidade biológica e genética, além de diferentes ambientes e belezas cênicas p r e s e n t e s n o M a c i ç o d a Ti j u c a , e s u a conservação torna-se estratégica para manutenção da riqueza natural local.

Por fim, a comunidade de pequenos mamíferos da Reserva Florestal da Vista Chinesa é composta por poucas espécies, que são comuns, com áreas de distribuição geográfica relativamente grandes, e são também resistentes aos distúrbios antrópicos, e apenas uma fraca candidata a espécie ameaçada de extinção. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O M a c i ç o d a Ti j u c a é u m e c o s s i s t e m a drasticamente modificado pelas atividades e distúrbios antrópicos, e embora possua uma mastofauna depauperada, abriga, no mínimo, oito (este estudo) e provavelmente 16 (Bueno, 1998) ou mais espécies de pequenos mamíferos. Dado o tamanho do fragmento florestal do maciço, as populações destas espécies são relativamente grandes, contendo uma incontável e inexplorada diversidade genética, associada a um amplo espectro de interações ecológicas entre estas espécies e o ambiente que as cercam.

O uso de diferentes tipos de armadilha, dispostas em distintos estratos da floresta, e com iscas alternativas foi essencial para um inventário detalhado da comunidade de pequenos mamíferos da RFVC. Os diferentes métodos são complementares, e todos devem ser utilizados nos levantamentos faunísticos. Ou seja, deve-se buscar amostrar todos os estratos da floresta, com diferentes armadilhas e iscas variadas, visando a captura de espécies com diferentes tamanhos corporais, hábitos locomotores e alimentares.

A Reserva Ecológica da Vista Chinesa tem um papel fundamental na manutenção desta diversidade biológica, já que é uma área protegida de contínuo florestal cada vez mais ameaçado pelo crescimento da cidade e intensificação dos processos de degradação ambiental associados ao crescimento

A eficácia das diferentes armadilhas e iscas utilizadas neste inventário, para marsupiais e roedores, refletiu as características ecológicas destes grupos, ou seja, os marsupiais têm maior tamanho corporal e dieta predominantemente onívora, e foram capturados com maior (25)


freqüência em armadilhas Tomahawk, e com a isca de mistura padrão. Já os roedores agrupam espécies de menor porte e dietas tendendo mais à frugivoria, por estes motivos foram mais capturados, quando comparados aos marsupiais em armadilhas Sherman e com isca de sementes.

Ambiente do Estado do Rio de Janeiro - FEEMA, e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, pelo apoio.

A comunidade de pequenos mamíferos da RFVC, assim como a da Floresta da Tijuca como um todo, é relativamente pobre, composta por espécies comuns e resistentes ao distúrbios antrópicos. Roedores exóticos estão presentes ao redor de habitações, mas parecem não invadir as florestas adjacentes. No entanto, as espécies, inclusive as nativas, possuem grandes populações no maciço, que desempenham funções ecológicas essenciais para manutenção do ecossistema, assim como detêm imensurável diversidade genética. A RFVC é estrategicamente importante para preservação da diversidade biológica regional, já que é uma área protegida que abriga espécies nativas, ambientes fisionomicamente distintos, e belezas cênicas particulares, sendo por estes motivos uma área representativa das riquezas naturais encontradas na Mata Atlântica da região. A preservação ou conservação da comunidade de pequenos mamíferos da RFVC a médio e longo prazo irá depender da preservação das áreas verdes do entorno, assim como da manutenção de conexões, ou corredores ecológicos, entre eles. Outro ponto importante é avaliar a influência das espécies exóticas sobre as nativas.

Agradecimentos: aos amigos, Ricardo Machado Darigo, e Ana Carolina Crisóstomo pela ajuda no trabalho de campo. À Henrique Rajão pela assistência ao longo do projeto. À equipe do SEAFEEMA, especialmente a Norma Crud Maciel pelo apoio logístico. Aos Drs. Marcus V. Vieira, e Rui Cerqueira pela cessão de equipamento e material bibliográfico do Laboratório de Vertebrados. Às equipes envolvidas no projeto do Instituto Terra de Preservação Ambiental ITPA, da Fundação de Engenharia do Meio (26)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ÁSTUA DE MORAES, D., R. T. Santori, & R. Cerqueira. 2003. Nutritional and fiber contents of laboratoryestablisehed diets of neotropical opossums (Didelphimorphia, Didelphidae). In J. M. Dickman & M. Archer (eds.), Predators with pouches. Beer, J. R. 1964. Bait preferences of some small mammals. Journal of Mammalogy, 45:632-634. Bergallo, H. G., & W. E. Magnusson. - 1999. Effects of climate and food avaiability on four rodent species in southeastern Brazil. Journal of Mammalogy, 80:472-486. Bergallo, H. G., L. Geise, C. R. Bonvicino, R. Cerqueira, P. D'Andrea, C. E. EsberÁRd, F. Fernandez, C. E. Grelle, A. Peracchi, S. Siciliano, & S. M. I. Vaz, pp. 125-135. ,. 2000. - Mamíferos. In H. G. Bergallo, C. F. D. Rocha, M. A. S. Alves & M. V. Sluys (eds.), A Fauna Ameaçada de Extinção do Estado do Rio de Janeiro,, pp. 125-135. Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Buchalczyk, T., & J. L. Olszewski. 1971. Behaviour response of forest rodents against trap and bait. Acta Theriologica, 16:277-283. Bueno, C. 1998. Conservação De Biodiversidade Nos Parques Urbanos: Caso Do Parque Nacional Da Tijuca. Rio de Janeiro: DissertaÇÃO de Mestrado, UNESA, 153p. CÁCeres, N. C., Dittrich, V. A. O. & Monteiro-Filho, E. L. A., 1999. Fruit consumption, distance of seed dispersal and germination of Solanaceous plants ingested by common opossum (Didelphis auritai) in southern Brazil. Rev. Ecol. Terre Vie, 54 : 225- 233. CÁCeres, N. C. & Monteiro-Filho, E. L. A., 2000. The common opossum, Didelphis aurita, as seed disperser of several plants in southern Brazil. Ciência e Cultura, 52 : 41- 44. CÁCeres, N. C., & E. L. A. Monteiro-Filho. 2001. - Food habits, home range, and activity of Didelphis aurirta (Mammalia, marsupialia) ion a forest fragment of southern Brazil. Studies on Neotropical Fauna & Environm, 36:85-92. Castro, C. S. S. 2003. Tamanho da área de vida e padrão de uso do espaço em grupos de saguis, Callithrix jacchus (Linaeus) (Primates, Callithrichidae). Revista Brasileira de Zoologia, 20:91-96. Cincotta, R. P., J. Wisnewski, & R. Engelman. 2000. - Human population in the biodiversity hotspots. Nature, 404:990-992. Cunha, A. A. & Vieira, M. V., 2002. Support diameter, incline, and vertical movements of four didelphid marsupials in the Atlantic Forest of Brazil. Journal of Zoology. Cunha, A.A.& Vieira, M.V. 2004. - Two bodies cannot occupy the same place at the same time, or The importance of space in the ecological niche. Bulletin of the Ecological Society of America, 85: (1):25-26. Cunha, A.A. & Vieira, M.V. submetido. Age, season, and vertical use of the atlantic rain forest by the common opossum, Didelphis aurita, Wied 1826. Submetido a revista Acta Theriologica Emmons, L., & F. Feer. 1997. - Neotropical Rainforest Mammals: A Field Guide. 2a ed. University Of Chicago Press., Chicago. Fleming, T. H. & Sosa, V. J., 1994. Effects of nectarivorous and frugivorous mammals on reproductive success of plants. J. Mamm. 75 : 845- 851. Folha de SÃO Paulo, 1998. Floresta da Tijuca perde 1km2 por ano (05 /07/1998). Fonseca, G. A. B., G. Herrmann, Y. L. R. Leite, R. A. Mittermeier, A. B. Rylands, & J. Patton. 1996. - Lista Anotada dos mamíferos do Brasil. Occasional Papers in Conservation Biology, 4:1-38.

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(29)


LEVANTAMENTO DA FAUNA DE MORCEGOS

1. INTRODUÇÃO

2. METODOLOGIA

O nome Chiroptera é a segunda ordem dos mamíferos em número de espécies, com cerca de 1.001 formas já conhecidas, cujo número só é superada pela Ordem Rodentia. Os morcegos ocorrem em todos os continentes, só não sendo encontrados nos pólos. São em geral pequenos, na grande maioria não excedendo 100 gramas de peso. Apresentam hábitos crepusculares e noturnos, e parte significativa das espécies orienta-se pela ecolocalização, emitindo sons de alta freqüência, inaudíveis ao homem, que ao esbarrar em algum objeto, retornam sob a forma de eco (Nowak, 1995; Hutson et al., 2001)

As coletas foram realizadas com redes de neblina na única área plana da Reserva Florestal da Vista Chinesa. A RFVC apresenta uma encosta íngreme e redes armadas em terreno ingreme e em acentuado aclive mostram-se pouco produtivas em capturas e põe em risco a equipe durante o trabalho noturno. Realizamos 28,5 horas de coleta empregando 21 redes, totalizando cerca de 600 h*redes (Tabela 1). Gravações com detectores de morcegos foram realizados em cinco noites por 60 minutos cada, enquanto o pesquisador deslocava-se lentamente a pé. A gravação iniciou imediatamente após o pôr-do-sol (estimado através das efemérides astronômicas) e as espécies foram identificadas através de sons previamente identificados disponíveis em bibliotecas especializadas ou em banco de dados.

Os morcegos apresentam hábitos alimentares bem diversificados, variando da frugivoria, nectarivoria, insetivoria, piscivoria, carnivoria e hematofagia (Gardner, 1977). Este grupo tem recebido crescente interesse por serem considerados os principais responsáveis pela formação das florestas tropicais, importantes no controle de insetos e relevantes para a saúde pública (Brass, 1995).

Devido a disponibilidade de apenas 12 sons de espécies de insetívoros com ocorrência provável na área e previamente capturados em localidades próximas, os sons foram limitados aqueles que puderam ser aferidos por comparação à uma destas espécies. Parte dos sons coligidos, portanto, não puderam ser identificados. Adotamos como padrão a sensibilidade e o “ratio” citados em trabalhos semelhantes e o volume em intensidade igual a 7. As amostragens bioacústicas foram realizadas na cercania da Reserva para evitar interferência de ruídos de deslocamento dos pesquisadores e aumentar a probabilidade de obter sons de espécies que se deslocam em áreas abertas (Famílias Molossidae e Vespertilionidae) (Figura 1).

O Maciço da Tijuca, no Município do Rio de Janeiro, se constitui em uma oportunidade única para análise da riqueza e diversidade de morcegos. Desde o século XVI, suas encostas tiveram a vegetação explorada e destruída para produção de lenha, cana-de-açúcar e plantio de café. O processo de reflorestamento realizado no final do século XIX, aliado a recolonização dos remanescentes de florestas, resultou na mata secundária hoje observada, limitada em sua maior parte por áreas grandemente povoadas da segunda maior metrópole da América do Sul. Nesse grande fragmento de mata, com cerca de 3.300 hectares, várias populações isolaram-se inteiramente e as espécies de mamíferos de médio porte apresentam populações pouco numerosas (Esbérard, 2003a). As espécies inventariadas neste estudo podem ser considerados animais noturnos de áreas florestais e de áreas abertas, com exceção de Tonatia bidens, que só foi capturada em área florestada (Esbérard, 2004). Todas as espécies inventariadas podem ser consideradas de ocorrência em áreas de vegetação secundária. (30)


Tabela 1 - Descrição das atividades de rede e gravação para o levantamento de morcegos da RFVC. (*) Uma das coletas idealizadas e agendada não foi realizada, e (**) uma fita teve de ser descartada por problemas causadas por ruídos excessivos ocasionados, principalmente, pelo tráfego.

Consideramos toda a periferia (raio de cerca de 250 m) para o levantamento de espécies, pois já havia registro de visitas anteriores de nossa equipe a residências e relatos atuais da presença de morcegos e a distância poder ser coberta facilmente por uma espécie de pequeno porte em uma período de atividade normal de uma noite (ESBÉRARD, 2003b). 3. RESULTADOS Nas coletas com o uso das redes de neblina, em três noites de coleta, foram obtidas cinco espécies de morcegos. Em visitas a duas propriedades próximas constatamos a presença de quatro espécies. Com o uso de detectores de morcegos, confirmamos a ocorrência de 3 espécies de morcegos pela bioacústica (N = 16 sons) e pelo menos três espécies permanecem não identificadas (N = 31 sons; 30, 50 e 55 khz). Duas espécies foram confirmadas também pela visualização durante o vôo antes do escurecimento e uma teve seu refúgio descoberto (entre folhas de palmeiras), mas foi impossível a captura devido a altura do mesmo. Outra identificação feita foi através da doação de um morador, que doou um exemplar de morcego achado caído (Myotis nigricans). As espécies com ocorrência comprovada na RFVC e periferia está discriminada na Tabela 2.

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Tabela 2 - Espécies confirmadas na RFVC e adjacências

Notas: OBS: RFVC Reserva Florestal da Vista Chinesa; GP Gávea Pequena, RES restos de presas e ACU Estrada da Vista Chinesa (com ANABAT). Classe: Espécies de áreas abertas (EAA), espécies de florestas secundárias (EFS). Ocorrência: ampla mais de 11 localidades no Maciço da Tijuca, Pouco freqüente de 6 a 10 localidades no Maciço da Tijuca, rara de 1 a 5 localidades no Maciço da Tijuca. Na RFVC e periferia, foram confirmadas nove espécies de morcegos, das quais 3 frugívoras, 1 nectarívora, 3 insetívoras, 1 insetívora-carnívora e 1 hematófaga. Nenhuma das espécies capturadas é ameaçada de extinção, segundo a listagem brasileira de espécies ameaçadas de extinção ou pela listagem estadual de espécies ameaçadas de extinção (Bergallo et al., 2000). A riqueza de espécies obtida na RFVC está em conformidade com o obtido para localidades amostradas na área residencial do Maciço da Tijuca (mínimo de 4 e máximo de 14 espécies). Dez localidades amostradas em área residencial apresentaram o total de 20 espécies (Gráfico 1). A única localidade com riqueza maior que nove espécies apresentava vários atrativos para morcegos, a saber: dois lagos de grandes proporções, árvores exóticas frutíferas e criação de aves silvestres que eram alimentadas com frutos maduros. A riqueza de espécies não pode ser explicada pela localização geográfica ou pela altitude, sendo provável que seja determinada pela riqueza de espécies frutíferas (zoocóricas) local.

Gráfico 1 Variação na riqueza de espécies em 10 localidades amostradas no Maciço da Tijuca em área residencial. Fonte Esbérard (2004) e dados deste relatório.

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A diversidade de espécies de morcegos provavelmente pode ser explicada pela diversidade de espécies frutíferas, pelo comportamento de algumas espécies de morcegos, que voam acima do dossel, e pela inexistência de grandes fontes de água no interior da RFVC, que poderiam ser utilizadas por morcegos insetívoros. O monitoramento acústico com Anabat ainda apresenta limitações associadas à inexistência de bibliotecas de referência para espécies brasileiras. Adicionalmente, os morcegos podem apresentar variação dos sons de acordo com a estrutura do habitat e variar a altura do vôo. As redes de neblina por sua vez, amostram principalmente a família Phyllostomidae, que apresenta hábitos alimentares frugívoros, nectarívoros, carnívoros e insetívoros-carnívoros, não sendo funcionais para as famílias Vespertilionidae e Molossidae (Voss & Emmons, 1996). O uso de redes foi bastante limitado pela inclinação do terreno, inexistência de grandes clareiras e inexistência de grandes fontes de água. Adicionalmente, o período de amostragem apresentou longo período de chuvas, que impediu o uso deste material de coleta.

da disponibilidade deste recurso. Dentre as três espécies, a Platyrrhinus lineatus é a mais adaptada ao meio urbano (Esbérard et al., 1999), e usa os frutos das árvores do paisagismo urbano para alimento, nas épocas em que diminui a disponibilidade destes na mata. É possível supor que se as coletas fossem realizadas no período idealizado (primavera-verão) haveria maior probabilidade de captura destas espécies que, em coletas anteriores, foram capturadas em localidade situada no Alto da Boa Vista, com vegetação similar (distante 1,3 km).

Figura 2 Riqueza total dos pontos de coleta no Maciço da Tijuca (31 localidades) considerando a latitude, longitude e altitude. Notas: (1) de 1 a 10 espécies acumuladas; (2) de 11 a 20 espécies acumuladas e (3) de 21 a 30 espécies acumuladas. As altitudes estão marcadas em cores diferentes, variando do verde a azul (Fonte Esbérard (2004) e dados deste relatório).

Análise publicada recentemente demonstrou que, para analisar a diversidade de morcegos, variar os locais de coleta mostra-se mais eficaz do que aumentar o número de noites de coleta, ou adicionar mais horas de esforço (Bergallo et al., 2003). Na RFVC, o uso de mais de um ponto de coleta que seja produtivo em número de capturas mostra-se muito pouco provável, pela inexistência de clareiras e pela elevada inclinação do terreno.

A predominância de espécies frugívoras e insetívoras está de acordo com o observado para a área residencial do Maciço da Tijuca. As espécies frugívoras podem ser beneficiadas pela maior diversidade de espécies vegetais frutíferas observadas em quintais, em períodos de escassez dos recursos na mata. As insetívoras utilizam este tipo de hábitat pela existência de áreas mais abertas, facilitando o forrageio, e se aproveitam dos insetos atraídos pela iluminação artificial (Esbérard, 2004), além de utilizar as residências para abrigo (Esbérard et al., 1999). Nas 10 localidades amostradas anteriormente, entre 1991 e 2004, a Lasiurus ega ainda não havia sido registrada na área residencial deste Maciço (Esbérard, 1999, 2003 e 2004).

Considerando as espécies presentes em áreas residenciais do Maciço da Tijuca, pode-se esperar a ocorrência de três outras espécies de frugívoros, que não foram capturadas na RFVC (Tabela 2.): Sturnira lilium, Artibeus obscurus e Platyrrhinus lineatus. Sturnira lilium é especializada no consumo de frutos de Solanaceae, e pode ter sua densidade temporal e localmente determinada pela disponibilidade deste recurso. Artibeus obscurus é consumidor de Ficus e, como a espécie anterior, dependente (33)


As espécies inventariadas neste estudo podem ser considerados animais noturnos de áreas florestais e de áreas abertas, com exceção de Tonatia bidens, que só foi capturada em área florestada (Esbérard, 2004). Todas as espécies inventariadas podem ser consideradas de ocorrência em áreas de vegetação secundária Das espécies noturnas inventariadas na Reserva Florestal da Vista Chinesa, classificadas de acordo com Fonseca et al. (1996), nenhuma pode ser considerada espécie endêmica da Mata Atlântica. Nenhuma espécie pode ser considerada como vagante, rara ou se encontra incluída na listagem de espécies ameaçadas de extinção do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (versão 2004) ou na listagem de espécies ameaçadas de extinção do Estado do Rio de Janeiro (1997). Tonatia bidens foi considerada vulnerável no Estado do Paraná (2003).

Tabela 2 Espécies confirmadas no Maciço da Tijuca (31 localidades) Notas: Espécies capturadas na RFVC estão sombreadas. A RFVC foi considerada como residencial (veja texto). (*) Lasiurus ega ainda não havia sido confirmada na área residencial do Maciço da Tijuca.

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Artibeus lituratus

Carollia perspicillata

Desmodus rotundus

Tonatia bidens

Mapa 1 - Distribuição de Desmodus rotundus no Maciço da Tijuca. Os pontos marcados discriminam os locais de coleta já amostrados no Maciço da Tijuca.

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Mapa 2 - Distribuição de Tonatia bidens no Maciço da Tijuca. Os pontos marcados discriminam os locais de coleta já amostrados no Maciço da Tijuca.

Mapa 3 - Distribuição de Lasiurus ega no Maciço da Tijuca. Os pontos marcados discriminam os locais de coleta já amostrados no Maciço da Tijuca.

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Mapa 4 - Distribuição de Molossus molossus no Maciço da Tijuca. Os pontos marcados discriminam os locais de coleta já amostrados no Maciço da Tijuca.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGALLO, H.G.; L. GEISE; C.R. BONVICINO; R. CERQUEIRA; P.S. D'ANDREA; C.E.L. ESBERÁRD; F.A.S. FERNANDEZ; C.E. GRELLE; A. PERACCHI; S. SICILIANO & S.M. VAZ. 2000. Mamíferos. In: Bergallo, H.G.; C.F.D. Rocha; M.A.S. Alves & M.V. Sluys (Eds.) A fauna ameaçada de extinção do Estado do Rio de Janeiro, p.125-136. EdUERJ, Rio de Janeiro, RJ. BERGALLO, H.G.; C.E.L. ESBÉRARD, M.A.R. MELLO, V. LINS; R. MANGOLIN & M. BAPTISTA. 2003. Bat species richness in Atlantic Forest: What is the minimum sampling effort? Biotropica 35 (2): 278-288. ESBÉRARD, C. 1999. Diversidade de Chiroptera em Unidades de conservação do Maciço da Tijuca, Município do Rio de Janeiro, RJ. Tese de Mestrado. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 82 p. ESBÉRARD, C.E.L. 2003a. Diversidade de morcegos em uma área de Mata Atlântica regenerada no sudeste do Brasil (Mammalia: Chiroptera). Revista Brasileira de Zoociências 5 (2): 189-204. ESBERARD, C.E.L. 2003b. Marcação e deslocamentos em morcegos. Comunicaçoes Tecnicas do Museu de Ciências Rio Grande do Sul. ESBÉRARD, C. E. L.; A.S. CHAGAS; E.M. LUZ; R.A. CARNEIRO & L.F.S. MARTINS. 1998. Ocorrência e comportamento do Morcego Hematófago Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810) na Cidade do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Medicina Veterinária 19 (5) : 209-212. FENTON, M.B.; L. Acharya; D. Audet; M.B.C. Hickey; C. Merriman; M.K. Obrist; D.M. Syme & B. Adkins 1992. Phyllostomid bats (Chiroptera: Phyllostomidae) as indicators of habitat disruption in the Neotropics. Biotropica 24 (3): 440-446. GARDNER, A. L. 1977. Feeding Habits. In R.J. Baker, J.K. Jones & D.C. Carter (ed.), Biology of bats of the New World Family Phyllostomatidae. Part II, Spec. Publ. Mus. Texas Tech. Univ. 13: 1-354 pp. HUTSON, A.M.; S.P. MICKLEBURGH & P.A. RACEY. 2001. Global status survey and conservation action plan. Microchiropteran bats. Information Press, London, 259p. VOSS, R.S. & L.H. EMMONS. 1996. Mammalian diversity in neotropical lowland rainforests: a preliminary assessment. Bulletin of American Museum of Natural History 230: 1-115.

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HERPETOFAUNA

1. INTRODUÇÃO

Com os elevados níveis de degradação que vários ecossistemas vêm sofrendo em um espaço de tempo relativamente curto, uma das grandes dificuldades para se estimar os efeitos negativos da perda de habitats e a conseqüente diminuição da diversidade biológica é a falta de informações prévias sobre a composição de espécies e os vários padrões relacionados às comunidades que habitavam nestes ecossistemas antes dos processos de degradação (Pimm, 1992; Rocha, 1998). Embora a Mata Atlântica brasileira seja o ecossistema considerado como o de maior diversidade biológica do planeta, é também um dos submetidos aos maiores níveis de degradação. É surpreendente que para um bioma com uma distribuição tão ampla na América do Sul, com elevada diversidade biológica e níveis de endemismos (Lino, 1992), haja tão poucas informações disponíveis sobre a herpetofauna a ele associada (Haddad, 1998; Rocha, 1998). A definição de áreas prioritárias para a conservação configura-se, neste cenário, de suma importância para o futuro da diversidade neste bioma. Entretanto, a única forma de definir áreas prioritárias para a conservação é através dos inventários faunísticos transcorridos nos remanescentes da Floresta Atlântica (veja Haddad, 1998).

O Brasil ocupa um lugar de destaque dentre os países detentores de megadiversidade, possuindo entre 15 a 20% da diversidade global (MMA, 2000). Porém, sabe-se que o número de espécies ainda desconhecidas pela ciência, em alguns grupos de vertebrados, se aproxima de 50% (e.g., peixes de água doce). Dessa forma, configuram-se urgentes ações que visem uma melhor caracterização de nossa fauna, para que seja possível traçar de uma forma consciente as medidas conservacionistas necessárias, no intuito de gerir essa formidável riqueza. A Mata Atlântica e seus ecossistemas associados cobriam, à época do descobrimento, 1.360.000 km2. Atualmente, apenas 8% da área do bioma preserva suas características bióticas originais (MMA, 2000). Apesar da devastação a que foi submetida, abriga ainda altíssimos níveis de biodiversidade e endemismos, configurando-se como um dos maiores hotspots do planeta (Lino, 1992). A fauna de vertebrados da Mata Atlântica é aproximadamente composta de 1.810 espécies, sendo 389 endêmicas, constituindo cerca de 7% da diversidade global de vertebrados. No que tange a herpetofauna, este bioma concentra aproximadamente 340 espécies de anfíbios, correspondendo a 65% das espécies brasileiras conhecidas, sendo que o número de espécies endêmicas chega a 80, podendo incluir famílias inteiras, como é o caso dos sapos da família Brachycephalidae. Em relação aos répteis, das 470 espécies brasileiras, 197 estão representadas na Mata Atlântica, números equivalentes a 42% da nossa fauna (MMA, 2000). No entanto, os estudos neste bioma ainda permanecem insatisfatórios (Sazima & Haddad, 1992; Haddad, 1998; Marques, 1998; Rocha, 1998). Alguns trabalhos de levantamento e descrição de espécies de anfíbios anuros e répteis têm sido realizados de forma pontual (Cardoso et al. 1989; Heyer et al., 1990; Franco et al., 1998; Marques, 1998; Rocha, 1998), e muitos dados importantes sobre riqueza e diversidade de espécies se baseiam nestes poucos estudos (Haddad & Abe, 2002).

Este estudo objetivou realizar levantamento da fauna herpetológica diurna e noturna da RFVC, apresentando as espécies florestais de áreas abertas, da vegetação secundária; espécies vagantes, raras, endêmicas e ameaçadas de extinção e gerar informações específicas sobre répteis florestais, tais como, quantas espécies vivem em áreas abertas; predominância ou não de ofídios de hábitos noturnos, tipo de dieta (roedores e invertebrados, com o objetivo de indicar o grau de alteração da mata e a crescente urbanização das áreas próximas).

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2. METODOLOGIA

3.1. ANFÍBIOS

Para a realização de um inventário de fauna em curto prazo é necessária a utilização conjunta de técnicas de amostragem e coleta, envolvendo trabalhos de campo, pesquisa bibliográfica e verificação de registros em coleções. A fim de cumprir o objetivo deste estudo, foram efetuadas seis campanhas, totalizando 80 horas de campo. Sendo que a primeira, de reconhecimento, foi realizada durante o período diurno, e as outras cinco campanhas entre o final da tarde (cerca 17:00h) e a primeira parte da noite (cerca de 22:00/23:00h).

Dez espécies de anuros pertencentes a três famílias foram observadas na área de estudo: Família Bufonidae, Bufo crucifer “Sapo” Esta espécie apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo do nordeste ao sul do Brasil, em Misiones na Argentina e leste do Paraguai (Frost, 1985; obs. pessoais). O nome B. crucifer tem sido atribuído a mais de uma espécie. Esta espécie possui atividade predominantemente noturna, durante o dia refugiam-se entre raízes de árvores, tocas no chão, entre pedras ou sobre ramos a poucos centímetros do solo (Haddad & Sazima, 1992; Pombal & Gordo, 2004). A vocalização pode apresentar dois picos de atividades, um no crepúsculo e outro na aurora. Podem ser ouvidos em atividade de vocalização em margens de pequenos rios em poças dentro e nas bordas de mata. A desova é composta por um cordão gelatinoso, lembrando um colar de contas (Pombal & Gordo; 2004; obs. pessoais). Na área de estudo, indivíduos em atividade de forrageamento foram observados; em áreas próximas foram ouvidos machos vocalizando. Todavia na área de estudo, nenhum indivíduo foi ouvido em atividade de vocalização.

Com intuito de realizar registros visuais e acústicos da herpetofauna, a área de estudo foi inspecionada a fim de se reconhecer ambientes propícios para a reprodução dos anuros, bem como procura ativa por répteis e anfíbios. Para isso, o método de localização auditiva e busca ativa às espécies foi utilizado durante os trajetos pela mata e imediações da sede do SEA. Sempre que possível os indivíduos foram fotografados em diapositivos e, para algumas espécies, suas vocalizações de anúncio foram gravadas em g r a v a d o r D AT Ta s c a m c o m m i c r o f o n e Sennheiser ME-66. Além da amostragem de campo, os registros visuais de terceiros, e os dados disponibilizados pela coleção do SEA foram considerados. As coleções de anfíbios e répteis do Museu Nacional, bem como a literatura disponível, foram consultadas proporcionando informações relevantes sobre a composição de espécies nas áreas adjacentes, permitindo inferir prováveis ocorrências na área em questão. Por uma questão de tradição anfíbios e répteis são considerados em conjunto na maioria dos diagnósticos faunísticos (Herpetofauna), embora os modos de vidas destes grupos pouco tenham em comum. Aqui, os resultados são apresentados separadamente.

Família Microhylidae, Myersiella microps Espécie de anuro que vive entre a serapilheira da Mata Atlântica (Izecksohn et al., 1971) com distribuição conhecida entre os estados do Espírito Santo e litoral norte de são Paulo, inclusive Minas Gerais. A desova é entre a serapilheira e o desenvolvimento é direto, onde os jovens eclodem diretamente dos ovos (Izecksohn et al., 1991). Na área de estudo, esta espécie foi ouvida esporadicamente (mas não visualizada) a noite. Família Hylidae, Flectonotus goeldii Espécie amplamente distribuída pela Floresta Atlântica do sudeste do Brasil (Frost, 1985), com vida associada a bromélias. Na área de estudos, os machos vocalizam a partir das bromélias. As fêmeas carregam os ovos no dorso (veja figura) e as larvas se desenvolvem na água acumulada

3. RESULTADOS As espécies visualizadas, ouvidas (para anuros), observadas por terceiros e depositadas na coleção do SEA são comentadas a seguir.

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das bromélias (Weygoldt & Carvalho e Silva, 1991).

outros machos (Martins et al., 1998). Esta é uma das espécies brasileiras melhor conhecida com relação a sua biologia. As características vocalizações foram ouvidas em terrenos vizinhos a área de estudo. Provavelmente esta espécie não se reproduz na área de estudo devido a ausência de ambientes propícios para a reprodução; todavia, é provável que utilizem a área como abrigo e locais de forrageamento.

Família Hylidae, Scinax trapicheiroi Esta espécie é conhecida do litoral norte de São Paulo (obs. pess.) até o Rio de Janeiro no município de Maricá (Carvalho e Silva & Carvalho e Silva, 1994). Os machos vocalizam próximos a riachos ou trechos de remansos em riachos. A reprodução se dá principalmente entre os meses de maio e setembro e nas noites menos quentes de verão. As desovas são feitas em remansos de riachos ou poças dentro de mata, sendo comum desovarem em piscinas ou qualquer recipiente que acumule água, onde os girinos se desenvolvem (Carvalho e Silva & Carvalho e Silva, 1994). Na área de estudos foram observados em uma caixa d'água ao lado da sede da reserva onde girinos eram abundantes.

Espécie de anuro arborícola abundante na área de estudos e suas imediações. Esta espécie é conhecida da Mata Atlântica na Floresta da Tijuca, Tinguá e Sacra família do tinguá (Cruz & Peixoto, 1985). Os girinos se desenvolvem na água de riachos e na área de estudos podem ser facilmente observados em uma pequena represa para captação de água.

Família Hylidae, Hyla faber “sapo-martelo”; “sapo-ferreiro”

Família Leptodactylidae, Adenomera marmorata “rãzinha”

Espécie com ampla distribuição geográfica, ocorrendo do nordeste do Brasil, Misiones, na Argentina e sudeste do Paraguai (Frost, 1985). Espécie de grande porte e atividade noturna, algumas vezes pode ser encontrada durante o dia, refugiada na vegetação, e também a descoberta sobre ramos ou folhas grandes (Haddad & Sazima, 1992; Pombal & Gordo, 2004). Machos vocalizantes desta espécie podem ser observados em poças dentro ou em bordas de mata. Devido à semelhança de sua vocalização com som produzido por marteladas sobre bigorna, essa espécie é conhecida popularmente como sapo-ferreiro ou sapomartelo. Os machos podem vocalizar a partir da vegetação que circunda as poças e lagoas, do chão dentro d'água em locais rasos e, com freqüência dentro de pequenas “piscinas” construídas pelos machos em margens barrentas (Pombal & Gordo, 2004). Os machos são territoriais e podem lutar pela posse das piscinas. As desovas são postas dentro das piscinas, na superfície da água. Quando a alta densidade de Hyla faber, as piscinas são vigiadas pelos machos por até dois dias após a desova, o que impede o uso do ninho como sítio de canto por

Esta rãzinha é uma espécie de pequeno porte, com atividade predominantemente diurna ou crepuscular (Pombal & Gordo, 2004). Apresenta ampla distribuição geográfica na Mata Atlântica, entre os Estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina (Frost, 1985); todavia, parece tratar-se de um complexo de espécies. Sua vocalização característica, que muitas vezes é confundida com um grilo (Pombal & Gordo, 2004). Apesar de sua aparente abundância, os indivíduos dessa espécie raramente são observados. Os ovos são depositados em câmaras esféricas subterrâneas. Os ovos e os girinos desenvolvemse dentro de um ninho de espuma no interior destas câmaras (veja Heyer et al., 1990).

Família Hylidae, Hyla albofrenata “perereca”

Família Leptodactylidae, Eleutherodactylus binotatus “Rã-da-mata” Essa espécie é distribuída na Mata Atlântica pelo sudeste do Brasil (Frost, 1985; obs pessoais). Eleutherodactylus binotatus apresenta hábitos diurnos, crepusculares e noturnos, sendo encontrada sobre serapilheira ou a pouca altura o solo no interior ou borda de mata (Haddad & Sazima, 1992; Heyer et al., 1990; Pombal & Gordo, 2004), ela foi freqüentemente encontrada em trilhas no interior de mata da área de estudo, e (44)


4. COMENTÁRIOS

eventualmente sobre gravetos a pouca altura do solo. Embora não haja registro para o modo de reprodução dessa espécie, devem apresentar desenvolvimento direto, como outras espécies do gênero (e.g., Lynn & Lutz, 1946).

Para a região do município do Rio de Janeiro há três levantamentos de espécies abrangentes (Myers, 1946; Lutz 1954; Izecksohn & Carvalho e Silva, 2001). O trabalho de Izecksohn & Carvalho e Silva (2001) é o mais atual e engloba as listas anteriores.

Família Leptodactylidae, Eleutherodactylus guentheri “rãzinha” Possui ampla distribuição geográfica (veja Heyer, 1984) na Mata Atlântica. Essa espécie apresenta atividade de vocalização principalmente no início da noite, quando os machos podem ser observados sobre ramos a pequena altura do solo (Pombal & Gordo, 2004). Na Vista Chinesa foi observado no interior de mata vocalizando durante chuva fina no começo da noite. Como outras espécies do gênero, apresenta desenvolvimento direto, depositando seus ovos em locais abrigados no solo e na serapilheira (Haddad & Sazima, 1992; Lynn & Lutz, 1946). Os ovos e os estágios de desenvolvimento foram descritos e figurados por Lynn & Lutz (1946).

Considerando todas as espécies de anfíbios conhecidos para a região do município do Rio de Janeiro (Izecksohn & Carvalho e Silva, 2001; veja também Rocha et al., 2004) como de possível ocorrência na Reserva Florestal Vista Chinesa, julgamos as espécies comentadas abaixo como de possível ocorrência, ainda que não tenham sido observadas durante o período de estudos. A coleta regular de dados foi prejudicada pela falta de amostragem durante o início da estação reprodutiva (outubro/novembro), ainda assim consideramos nossa listagem consistente, devido ao esforço amostral em uma área de tamanho reduzida. Apesar da pequena disponibilidade de ambientes aquáticas dentro da área de reserva, o número de espécies de anuros observados não foi pequeno (cerca de 15% das espécies de todo o município). Isto se deve ao fato de muitas espécies de anuros da Mata Atlântica se reproduzirem independentemente de água livre (como poças, lagos e riachos; para exemplos veja comentários sobre as espécies e Pombal & Gordo, 2004). Parte considerável da anurofauna do município do Rio de Janeiro (cerca de 40%) tem sua ocorrência restrita a áreas abertas de baixada, não sendo, portanto, esperado seu encontro na RFVC. Todavia, algumas espécies que comumente se reproduzem em poças não foram observadas em função da indisponibilidade de ambiente apropriado. Algumas destas espécies, entretanto, podem ter parte de seu ciclo na RFVC (e.g. Hyla faber, que foi ouvida em terreno vizinho). Vale ressaltar, que a maioria das observações de anfíbios anuros se dá em função da atividade reprodutiva destes animais, que é bastante conspícua devido a vocalização. Assim, consideramos como possível a ocorrência na área da reserva as espécies conhecidas na Floresta da Tijuca e que

Família Leptodactylidae, Thoropa miliaris “rã-das-pedras” A espécie Thoropa miliaris, rã-das-pedras, é amplamente distribuída pela Mata Atlântica do leste do Brasil (Frost, 1985). Na Vista Chinesa, indivíduos de T. miliaris foram encontrados à noite sobre faces inclinadas de rochas. Os girinos dessa espécie geralmente são observados sobre paredões úmidos, freqüentemente em superfícies completamente verticais cobertas por um filme d'água (Pombal & Gordo, 2004). Sazima (1971) encontrou itens da fauna marinha, além de terrestre, na dieta dessa espécie, revelando uma adaptação alimentar pouco freqüente entre os anuros (veja Abe & Bicudo, 1991).

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Família Leptodactylidae, Thoropa lutzi

apresentam reprodução independente de água livre. É importante ressaltar que estas espécies poderiam ocorrer, o que não significa que seja provável.

Esta espécie está desaparecida da região há muitos anos sendo considerada em risco de extinção (Caramaschi et al., 2000). Esta espécie se reproduz em lajes úmidas de pedra, onde os girinos se desenvolvem. Todavia, devido ao seu desaparecimento, é improvável o encontro desta espécie na RFVC.

Com o intuito de facilitar alguma nova ocorrência na área, as espécies que julgamos de possível ocorrência são comentadas abaixo. Família Bufonidae, Dendrophryniscus brevipollicatus

Família Leptodactylidae, Zachaenus parvulus

Espécie de bufonídeo que se reproduz em bromélias, onde os ovos e girinos se reproduzem. Esta é uma espécie normalmente difícil de amostrar (obs. pess.). Embora não tenha sido observado na área de estudos, sua presença não seria surpresa.

Esta espécie se reproduz no chão da mata onde os girinos se desenvolvem completamente independente da água (Lutz, 1944). Seu modo de vida, torna possível seu encontro na área de estudos. Ordem Gymnophiona - Família Caeciliidae, Siphonops hardyi

Família Leptodactylidae, Eleutherodactylus octavioi

Espécie de anfíbio semelhante a uma cobracega, com quem freqüentemente é confundida. Anfíbios de hábitos fossoriais e raramente observado. Algumas vezes é visto na superfície, normalmente após fortes chuvas. Devido a ocorrência na Floresta da Tijuca, sua presença na área de estudos é prevista.

Como outras espécies do gênero, deve apresentar desenvolvimento direto (dos ovos eclodem jovens completamente formados; sem fase larval). Todavia, esta espécie é bastante rara, sendo considerada endêmica da Floresta da Tijuca, e conhecida de poucos exemplares. Como sua reprodução é independente da água livre, sua ocorrência na RFVC é possível.

Levantamento de espécies noturnas: Adenomera marmorata e Eleutherodactylus guentheri apresentam atividade de vocalização predominantemente crepuscular e também noturna. Todas as outras espécies de anuros observados são noturnas.

Família Leptodactylidae, Eleutherodactylus parvus Esta espécie apresenta desenvolvimento direto (Lutz, 1944) e é geralmente comum na serapilheira da mata Atlântica. Devido ao seu modo reprodutivo e a relativa abundância (embora normalmente difíceis de serem observados) sua presença na área de estudo é prevista.

Espécies florestais e de áreas abertas: Adenomera marmorata e Bufo crucifer são espécies comumente encontradas em borda de mata. Hyla faber é associada a poças de áreas abertas, próximas a mata ou a clareira de matas. Thoropa miliaris é um anuro que se reproduz sobre paredões de pedra úmidos. Podendo ser encontrados em mata ou áreas mais abertas como em costões rochosos próximo ao mar.

Família Leptodactylidae, Euparkerella brasiliensis Pouco é conhecido sobre a biologia das espécies do gênero Euparkerella. É provável que também apresentam modo reprodutivo independente da água. Raramente são encontradas, provavelmente devido a sua coloração críptica e o modo lento de locomoção (caminhando ao invés de saltar). Sua ocorrência na área de estudo é possível.

Espécie de vegetação secundária: todas as espécies inventariadas neste trabalho podem ser consideradas de ocorrência em vegetação secundária. Espécies vagantes: nenhuma espécie de anuro que tenha sido observada na RFVC pode ser considerada como vagante. (46)


Espécies raras: nenhuma espécie de anuro observada na RFVC pode ser considerada rara.

“comumente” encontrado e as pessoas geralmente os confundem com serpentes. Ainda que o encontro destes animais seja extremamente furtivo, é mais freqüente em dias chuvosos pela inundação das galerias escavadas pelos mesmos. Os dados de história natural disponíveis para outros anfisbenídeos, possibilita-nos extrapolarmos uma alimentação a base de anelídeos (e.g., minhocas) para a espécies em questão.

Espécies endêmicas: exceto por Hyla faber, todas as espécies de anfíbios observadas na RFVC são consideradas endêmicas do Bioma da Mata Atlântica. Este resultado era esperado visto que das 334 espécies de anuros reconhecidas para o Bioma Mata Atlântica, 93% são consideradas endêmicas; desta forma a Mata Atlântica apresenta a maior riqueza de espécies de anuros e um dos maiores endemismos do planeta (Duellman, 1999).

Sub-ordem: Lacertilia Família Gekkonidae

Espécies ameaçadas de extinção: nenhuma das espécies observadas na RFVC é considerada como ameaçada de extinção no Brasil ou no Estado do Rio de Janeiro pelas listas oficiais.

Hemidactylus mabouia (lagartixa de parede) Espécie cosmopolita, distribuindo-se pelo Continente Africano, América do Sul cisandina até o Rio Grande do Sul (Vanzolini et al., 1980). Esta espécie vive em edificações humana, mas pode ser igualmente encontrada em ambientes naturais, sendo relativamente comum na Mata Atlântica. Alguns autores têm sugerido que esta espécie seria originária da África e teria sido introduzida no Brasil a época do descobrimento. Apesar de serem animais extremamente comuns, dados sobre biologia e história natural ainda são limitados e podem ser sumarizados como se segue: hábito arborícola com atividade noturna; estratégia de forrageamento de espreita e alimentação a base de insetos; estratégias de defesa por meio de mimetismo, autotomia da cauda e realhação; postura de um a dois ovos, com ciclo reprodutivo não sazonal.

3.2 Répteis As espécies de répteis comentadas a seguir tiveram sua ocorrência confirmada na área de estudos através do trabalho de campo, dados de literatura, observações de outros pesquisadores ou funcionários na RFVC e, principalmente, através da coleção de referência que se encontra no laboratório da Reserva. As coleções locais são importantes fontes de informações sobre a fauna e flora de uma dada região, e no presente estudo, se mostrou de grande relevância. A lista de espécies disponível para a área da RFVC (Silva, 1995), também foi considerada no sentido de confirmar a presença dos referidos táxons na região

Gymnodactylus darwinii (Lagartixa)

Ordem: Squamata

Espécie endêmica da Mata Atlântica, onde ocorre desde o estado do Espírito Santo até o São Paulo. A posição sistemática deste táxon é controversa, embora alguns autores continuem tratando a população da Mata Atlântica como subespécie de Gymnodactylus geckoides, esta parece constituir de fato uma espécie distinta. Gymnodactylus darwinii é uma espécie de hábito noturno, no entanto, as vezes é visto ao sol, termorregulando-se no fim da tarde; apresenta estratégia de forrageamento de espreita, alimentando-se de pequenos artrópodos, especialmente cupins; seu ciclo reprodutivo é provavelmente não sazonal, com postura de um a

Sub-ordem: Amphisbaenia Família: Amphisbaenidae Leposternon microcephalum (cobra-cega) Esta espécie apresenta uma ampla distribuição na Mata Atlântica e ecossistemas associados (e.g., Matas de Galeria), apesar de ser furtivamente encontrada devido aos seus hábitos secretivos. Dados sobre história natural e biologia da espécie são completamente desconhecidos. Juntamente com Amphisbaena alba é a espécie de anfisbenídeo mais

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dois ovos colocados geralmente debaixo de troncos ou pedras; apresenta mimetismo e autotomia como estratégias defensivas. Apesar de ser uma espécies endêmica da Mata Atlântica, parece suportar bem alterações moderadas desde que o ambiente retenha uma cobertura vegetal satisfatória e considerável umidade. Esta espécie não foi observada por nós durante o trabalho de campo, mas Silva (1995) lista-a para a área da RFVC.

ficar imóveis durante dias em posições bizarras. As espécies do gênero apresentam comportamentos reprodutivos altamente elaborados, onde os machos fazem corte às fêmeas através de movimentos exibindo a região gular de colorido diferenciado. O ciclo reprodutivo de A. punctatus não foi estudado em detalhe, mas como os demais representantes do gênero, provavelmente é sazonal. Enyalius brasiliensis, Camaleãozinho

Família Gymnophtalmida

Espécie que se distribuí na Floresta Atlântica do Sudeste do Brasil, ocorrendo desde o Estado do Espírito Santo até Santa Catarina (Jackson, 1978). A taxonomia do gênero é relativamente complexa, na última revisão Jackson (1978) reconheceu duas subespécies (E. b. brasiliensis e E. b. boulengeri), ainda que ambas se encontrem em simpatria por grande parte de sua distribuição. De fato, os caracteres usados pelo autor para reconhecer estas duas formas (e.g., comprimento relativo da cauda), têm se mostrados insatisfatórios para a sua distinção. Dados de história natural são meramente anedotais, fazendo alusão, por exemplo, à altura da vegetação (c.a. 2 m) na qual eles geralmente encontram-se em atividade (Jackson, 1978). No entanto, como os demais policrotídeos, está espécie apresenta hábito arborícola e estritamente diurno, se alimenta de pequenos artrópodes e se utiliza também do mimetismo como estratégia de defesa. Apesar de E. brasiliensis ser uma espécie típica de Mata Atlântica, parece suportar bem ambientes com distúrbios moderados oriundos da atividade humana.

Placosoma glabellum (Calanguinho) Espécie endêmica da Mata Atlântica, ocorrendo desde o estado do Espírito Santo até Santa Catarina (Peters & Orejas-Miranda, 1970). Placosoma glabellum é uma espécie bem caracterizada, sendo de fácil identificação. Este lagarto diurno de pequeno porte e com hábitos semi-fossoriais geralmente está associado ao folhiço, onde se alimenta de pequenos artrópodes. Dados mais detalhados sobre história natural e biologia da espécie são completamente desconhecidos. Esta espécie ocorre geralmente em ambientes com reduzido grau de alteração ambiental, ou seja, provavelmente requer matas com altos níveis de umidade e sombreamento. Família: Polychrotidae Anolis punctatus (Camaleão) Espécie amplamente distribuída na América do Sul, onde ocorre ao longo da Floresta Amazônica e com uma população disjunta na Mata Atlântica (Peters & Orejas-Miranda, 1970). Os lagartos da família Polychrotidae apresentam grande dimorfismo sexual em colorido, que se acentua muito durante a época reprodutiva. Como os demais policrotídeos, A. punctatus apresenta: hábito estritamente diurno e arborícola; dieta a base de insetos, com estratégia de forrageamento por emboscada; estratégia de defesa através de mimetismo extremamente eficiente e movimentos lentos, ainda que, quando ameaçados possam se locomover com grande velocidade por períodos curtos. Estes lagartos são geralmente observados sobre a copa de árvores em grandes alturas, onde podem

Urostrophus vautieri , Camaleãozinho Espécie amplamente distribuída no Sudeste do Brasil, onde ocorre desde o Estado de Minas Gerais até o sul de São Paulo. Apesar desta espécie ser de fácil identificação, o gênero carece de uma revisão que estabeleça o seu relacionamento em relação aos gêneros próximos como Enyalius e Strobilus. Alguns dados de biologia e história natural estão disponíveis para este lagarto arborícola de médio

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porte e podem ser sumarizados como se segue: hábito arborícola com atividade diurna e dieta a base de insetos (ortópteros e coleópteros segundo Sazima & Haddad, 1992); forrageamento por espreita; estratégia defensiva através de mimetismo. Apesar de Urostrophus vautieri ser uma espécie típica de Mata Atlântica, parece suportar bem ambientes com distúrbios moderados oriundos da atividade humana.

gênero tem sido bem estudas do ponto de vista de história natural, o que ainda não ocorreu com T. torquatus, provavelmente devido a sua ampla distribuição. Ainda assim, os dados de biologia para a espécie podem ser sumarizados como se segue: hábito diurno e terrícola; estratégia de forrageamento por espreita, com dieta concentrada em artrópodos, ocasionalmente capturando pequenos vertebrados; ciclo reprodutivo provavelmente não sazonal, com ninhadas de 4 a 14 ovos. Está espécie apresenta dimorfismo sexual acentuado em tamanho, com os machos atingindo um tamanho superior ao das fêmeas, muito provavelmente devido ao fato dos machos serem territorialistas e defenderem o seus sítios (e.g. sítio de corte, sítio de alimentação).

Família Teiidae Tupinambis merianae , teiú Espécie amplamente distribuída em Florestas Equatoriais da América do Sul, ocorrendo ao sul da Bacia Amazônica na vertente atlântica desde o Estado do Ceará até o norte da Argentina (Figura 17). Recentemente o nome T. merianae tem sido atribuído as populações do sudeste, sul e centrooeste do Brasil, sendo que o nome específico T, teguixin é atualmente restrito a Bacia Amazônica (Ávila-Pires, 1995). Esta espécie é extremamente comum na região Sudeste do Brasil, onde se aproxima muito das habitações rurais para se alimentarem de ovos e restos de comida. Dados de história natural estão disponíveis para este lagarto terrícola de grande porte e podem ser sumarizados como se segue; forrageamento ativo com o pico de atividade durante o dia, mas ativos até o crepúsculo; dieta onívora alimentando-se de frutas, insetos e pequenos mamíferos; estratégia defensiva por retalhação direta por meio de mordidas, ou fuga em velocidade utilizando-se somente os membros inferiores, reprodução provavelmente sazonal.

Família Scincidae Mabuya cf. agilis, Calanguinho Espécie distribuída ao longo da costa sudeste do Brasil, desde o estado do Ceará até o litoral sul do Rio de Janeiro principalmente em áreas de restinga. No entanto, várias espécies do gênero são igualmente encontradas em enclaves de área aberta entre regiões florestadas, inclusive em altitudes elevadas (< 1000m). A taxonomia do gênero é caótica, em parte devido ao grande número de espécies descritas e a ausência de uma revisão satisfatória. Este fato, acarreta grande dificuldade para a identificação de várias espécies mal caracterizadas e insuficientemente amostradas. Assim, na ausência de exemplares testemunhos e com base somente em registro fotográfico, nos optamos por colocar esta espécie na categoria “à conferir”. Inúmeras espécies do gênero têm servido como modelo para estudos em ecologia e tem sido bem estudadas também do ponto de vista de história natural. Os dados disponíveis para M. agilis podem ser sumarizados como: hábito estritamente diurno e terrícola; forrageamento ativo, com dieta a base de artrópodos especialmente aranhas e ortópteros; ciclo reprodutivo sazonal; neonatos atingem a maturidade sexual após um ano de vida. Na literatura esta população foi considerada como M. dorsivittata (Silva, 1995).

Família Tropiduridae Tropidurus torquatus (Calango) Espécie amplamente distribuída ao longo das formações abertas da América do Sul, ocorrendo principalmente em áreas de Cerrado, desde o Estado de Rondônia até São Paulo. Contudo, igualmente ocorrem como populações relictuais em enclaves de formação aberta dentro de áreas florestadas (Rodrigues, 1988). Esta espécie exibe grande variação ao longo da sua grande área de dispersão, ainda que, a sua identificação seja relativamente fácil. Algumas espécies do (49)


Sub-ordem: Serpentes

com atividade diurna e forrageamento ativo; dieta baseada em anfíbios anuros principalmente leptodactilídeos; comportamento defensivo por meio de achatamento lateral do corpo, descarga cloacal, abertura da boca com deferimento de botes, reprodução sazonal com o pico reprodutivo entre os meses de novembro a janeiro e mudança ontogenética de colorido, com os jovens exibindo um padrão de coloração bandeado e os adultos uniformemente coloridos; padrão reprodução sazonal (Marques & Sazima, 2003; Marques & Sazima, 2004). Apesar desta espécie geralmente ocorrer em regiões florestadas, ela pode igualmente ocupar ambiente pouco alterados desde que mantenham uma cobertura vegetal.

Família: Boidae Boa constrictor , Jibóia (Figura 19) Espécie amplamente distribuída na região Neotropical, ocorrendo desde o norte do México até a Argentina meridional. Embora atualmente sejam reconhecidas oito subespécies de Boa constrictor (McDiarmid et al., 1999), há discordância entre inúmeros autores sobre o status de vários táxons (veja Price & Russo, 1991). Boa constrictor constrictor (Figura 19), apresenta um padrão de distribuição disjunto entre as Florestas Amazônica e Atlântica, sendo aparentemente o Estado do Rio de Janeiro limite sul de sua distribuição. Apesar desta subespécie ter originalmente uma distribuição restrita às matas úmidas do sul da América do Sul, ela se adaptou bem a ambientes antropizados, onde se alimenta freqüentemente de animais de estimação como o gato doméstico. Dados de biologia e história natural são bem documentados para a subespécie nominal (Greene, 1997), os quais podemos resumir como: hábito semiarborícola predominantemente noturno; dieta baseada em pequenos mamíferos e aves; espécie vivípara de reprodução não sazonal, com ninhadas muito numerosas; comportamento defensivo por meio de botes e abertura da boca (Marques et al., 2001).

Chironius fuscus (cobra-cipó) Esta espécie apresenta uma ampla distribuição, ocorrendo na porção Andina desde a Colômbia até o sul da Bolívia, em toda a região amazônica e na Floresta Atlântica do Estado da Bahia até São Paulo. Dixon et al. (1993) reconheceram duas subespécies de Chironius fuscus (C. f. fuscus e C. f. leucometapus), inicialmente através do padrão de colorido da cabeça, sendo a subespécie nominal para a Mata Atlântica e a outra para a região amazônica. De fato, ambas parecem constituir populações alopátricas com um amplo hiato ao longo de sua distribuição, hoje representado pela diagonal seca (e.g., Caatinga, Cerrado). Ademais, os caracteres diagnósticos usados por estes autores aparentemente discriminam bem os dois táxons. Dessa forma, estas subespécies podem ser elevadas a categoria de espécie plena em futuro próximo. Dados de história natural são igualmente bem documentados para a subespécie nominal, os quais se assemelham em demasiado com a espécie anterior, somente diferindo desta pela sugestão de um padrão reprodutivo não sazonal (Dixon et al., 1993; Marques & Sazima, 2004).

Família Colubridae Chironius bicarinatus (cobra-cipó) Espécie amplamente distribuída na Mata Atlântica e matas ciliares do leste do Brasil e Bacia do Prata, onde ocorre desde o Estado da Bahia no Brasil até a província de Misiones na Argentina (Dixon et al., 1993). Esta espécie é facilmente diagnosticada das demais congêneres por apresentar a seguinte combinação de caracteres: 12 séries de escamas dorsais até o meio do corpo, com redução para 10 escama na parte posterior e escama anal dividida. Dados de história natural são bem conhecidos para esta serpente (Dixon & Soini, 1986: Dixon et al., 1993; Marques et al., 2001; Marques & Sazima, 2004), os quais podem ser sumarizados como: hábito arborícola/terrícola,

Dipsa indica (dormideira, come-lesma) Espécie amplamente distribuída na região Neotropical, ocorrendo desde o norte da América do Sul até a Argentina meridional (Peters & Orejas-Miranda, 1970). Atualmente são (50)


reconhecidas cinco subespécies: D. i. indica para a região amazônica; D. i. equadoriensis para Bacia Amazônia do Equador; D. i.cisticeps para o charco entre Bolívia e Paraguai e, no Pantanal brasileiro; D. i. bucephala para as áreas abertas do Cerrado, Campos e Pampas no Brasil até a Argentina; D. i. petersi para a Mata Atlântica do estado do Espírito Santo até Santa Catarina no Sudeste do Brasil. Alguns autores têm sugerido que a subespécie da Mata Atlântica poderia ser elevada a espécie plena (Marques et al., 2001), e de fato, a mesma exibe caracteres distintivos frente a espécie nominal com a qual é mais relacionada filogeneticamente (R. Fernandes, com. pessoal). Embora, várias espécies do gênero estejam entre as espécies Neotropicais mais estudadas do ponto de vista de história natural (Sazima, 1989; Porto & Fernandes, 1996; Hartman et al., 2001: Myers & Cadle), D. i. petersi ainda não teve a sua biologia estudada em detalhe. Os únicos dados disponíveis na literatura indicam que é uma espécie noturna com hábito terrícola / arborícola, malacófaga como as demais congêneres e apresenta um repertório defensivo com movimentos erráticos, triangulação da cabeça, descarga cloacal e eventual deferimento de botes. Devido a malacofagia e a sua preferência de forrageamento e ou repouso sob bromélias, esta espécie configura-se muito exigente em relação ao nível de distúrbio ambiental, só sendo encontrada em áreas com matas razoavelmente preservadas.

Bernardo, com. pessoal). A despeito da discussão sobre alocação genérica do grupo brevirostris, nós optamos por seguir as sugestões de Di Bernardo (1992) reconhecendo o gênero Echinanthera como definido pelo mesmo. Apesar desta espécie ser uma das mais comuns do gênero, dados sobre a sua história natural e biologia são pouco conhecidos até o momento. Marques et al. (2001) sugerem que esta espécie áglifa teria: hábito terrícola e semifossorial, com atividade diurna; dieta a base de anfíbios e lagartos e comportamento defensivo com achatamento dorsal do corpo e descarga cloacal. Esta espécie por apresentar hábito semifossorial e dieta especializada, é dependente de ambientes florestados com pequeno ou moderado grau de distúrbios oriundos da ocupação humana, onde se encontre uma considerável camada de folhiço e diversidade de micro-ambientes. Echinanthera cephalostriata (papa rã) Espécie endêmica da Mata Atlântica do Sudeste do Brasil, ocorrendo do Estado do Espírito Santo até o Nordeste de Santa Catarina (Di Bernardo, 1996). Esta espécie é muito similar a E. cyanopleura, da qual se distingue pelo padrão de coloração da nuca e morfologia hemipeniana (Di Bernardo, 1996). Como destacado por este autor, existem ao menos três áreas de contato entre as referidas espécies com alguns presumíveis híbridos, os quais exibem um padrão intermediário entre as duas espécies. Embora, alguns autores sugiram a possibilidade da população representada por E. cephalostriata trata-se na verdade de uma clina de variação de E. cyanopleura (veja Marques et al., 2001), a ampla zona de simpatria ao longo da distribuição de ambas não justifica o reconhecimento de E. cephalostriata como subespécie de E. cyanopleura (Di Bernardo, 1996). Similar as demais espécies do gênero, dados de história natural para esta espécie são ainda pontuais e muitas anedotais. Marques et al. (2001) ressaltam as seguintes características gerais para a espécie: hábito terrícola, sendo ativa tanto durante o dia como a noite; dieta exclusivamente a base de anfíbios anuros e comportamento

Echinanthera affinis (papa rã) Espécie endêmica da Mata Atlântica, onde ocorre desde o sudeste do Estado de Minas Gerais até o extremo nordeste do Rio Grande do Sul (Di Bernardo, 1992). A posição taxonômica do gênero é controversa, apesar de Myers & Cadle (1994) terem retirado o gênero Thaeniophalus da sinonímia de Rhadinaea para abrigar as espécies do grupo R. brevirostris, no qual E. affinis se encontra. Outros autores não aceitam este arranjo (Di Bernardo, 1996; Marques et al. 2001), sugerindo que o gênero Thaeniophalus não possui nenhuma sinapomorfia que o defina e que, portanto Echinanthera deve prevalecer (M. Di (51)


defensivo por meio de achatamento dorsal do corpo e descarga cloacal. Como em E. affinis, esta espécie é exigente quanto ao grau de alteração ambiental e necessita de uma mata em estado de conservação moderado a bom para a manutenção de uma população natural.

gênero, distribuindo-se na vertente atlântica do Estado do Ceará até Santa Catarina. Esta espécie tem sido relativamente bem estudada do ponto de vista de história natural e configura-se como exceção entre as serpentes Neotropicais no que tange a este aspecto. Portanto, podemos destacar os seguintes dados biológicos para a mesma: hábito estritamente arborícola com atividade noturna; estratégia alimentar de forrageamento ativo; dieta a base de anfíbios anuros e lagartos; comportamento defensivo por meio de descarga cloacal e ocultação da cabeça através do enrrodilhamento do corpo (Marques et al., 2001); padrão reprodutivo não sazonal (para populações Amazônicas) e tempo de incubação dos ovos de cerca de dois meses e meio. Embora esta espécie seja associada à Floresta Ombrófila, ela pode ser encontrada em remanescestes florestais em estágio de regeneração.

Elapomorphus quinquelineatus (fura-terra) Espécie amplamente distribuída na Mata Atlântica, ocorrendo desde o Estado da Bahia até o norte do Rio Grande do Sul (Peters & OrejasMiranda, 1970). Apesar do estado atual de grande confusão nomenclatural relacionado ao gênero Elapomorphus, esta espécie é facilmente diagnosticada por apresentar uma série de cinco faixas longitudinais nos adultos. E. quinquelineatus apresenta hábitos secretivos (fossorial), havendo controvérsias a respeito de seu período de atividade (se diurna ou noturna). Os dados de biologia e história natural disponíveis para esta serpente opistóglifa podem ser sumarizados como: dieta generalista a base de cobras, anfisbenídeos, lagartos, anfíbios e insetos; reprodução sazonal com postura de um a três ovos, que levam pouco mais de dois meses para eclodir; comportamento defensivo através de movimentos erráticos e descarga cloacal (Marques et al., 2001). Apesar de se tratar de uma serpente venenosa, o hábito secretivo e furtivo da espécie endossam a sua reduzida periculosidade para as populações humanas que vivem próximas a áreas florestadas. Embora esta espécie ocorra predominantemente em áreas de Mata Atlântica, freqüentemente é encontrada em áreas urbanas no entorno de fragmentos de mata. Dessa forma, provavelmente a sua dieta generalista e hábito fossorial, a permitam ocupar áreas com moderados índices de distúrbios ambientais.

Siphlophis compressus, Dorme-dorme Espécie de ampla distribuição, ocorrendo desde o Panamá até o Estado do Rio Janeiro em áreas de Floresta Equatorial. A população da Mata Atlântica distribui-se do Estado de Sergipe até a cidade o Rio de Janeiro, onde parece ser o limite sul de sua distribuição (Peters & Orejas-Miranda, 1970). Apesar da imensa área de dispersão, S. compressus mostra-se pouco variável, apresentando um padrão de coloração característico e muito conspícuo. Alguns dados de biologia e história natural para esta espécie opistóglifa estão disponíveis em (Marques et al., 2001), os quais podem ser sumarizados como: hábito estritamente arborícola, com atividade noturna; dieta a base de lagartos; comportamento defensivo por meio de movimentos erráticos e descarga cloacal. Devido a sua dieta muito especializada e hábito estritamente arborícola, S. compressus , provavelmente é uma espécie que necessita de porções de mata moderadamente conservadas para a manutenção de populações naturais.

Imantodes cenchoa (dormideira) Espécie de ampla distribuição, ocorrendo desde o México até o norte da Argentina e Paraguai (Peters & Orejas-Miranda, 1970). Atualmente são reconhecidas três subespécies de I. cenchoa (I. c. cenchoa, I. c. leucomelas e I. c. semifasciatus), sendo que a subespécie nominal segue o mesmo padrão de distribuição do

Spilotes pullatus (Caninana) Espécie endêmica da região Neotropical, distribuindo-se do México à Argentina (Peters & (52)


Orejas-Miranda). Spilotes pullatus exibe uma grande gama de variação, principalmente de colorido, ao longo de sua ampla área de dispersão e vários autores tem utilizado tais caracteres para o reconhecimento de subespécies. Embora atualmente sejam reconhecidas três subespécies de S. pullatus (S. p. pullatus, S. p. anomalepis e S. p. maculatus), a grande variação ontogenética e individual apresentada pela espécie, torna difícil uma avaliação adequada do status real das populações. Esta serpente de grande porte é extremamente generalista ocorrendo em praticamente todos os biomas brasileiros e podendo alimentar-se de quase todos os grupos de vertebrados. Dados de história natural são bem documentados para a espécies e podem ser sumarizados como: hábito diurno e arborícola/terrícola; estratégia de forrageamento por espreita, com dieta a base de lagartos, pequenos mamíferos e aves (principalmente ovos ou filhotes); imobilização de presas por constrição; ciclo reprodutivo não sazonal, com ninhadas de 7 a 10 filhotes; estratégia defensiva por meio de inflagem da região gular e escancarar a boca com possível deferimento de botes (Marques et al., 2001). Esta espécie se mostra pouco exigente em relação a cobertura vegetal mínima para o estabelecimento de uma população, podendo ocorrer em pequenos fragmentos de mata próximo a áreas urbanas, florestas secundárias, bem como em formações vegetais abertas.

Alguns dados de biologia e história natural para esta espécie opistóglifa estão disponíveis em (Marques et al., 2001), os quais podem ser sumarizados como: hábito terrícola / arborícola, com atividade noturna e forrageamento ativo; dieta a base de anfíbios anuros e lagartos; comportamento defensivo por meio de achatamento dorsal do corpo e de ferimento de botes. Aparentemente o achatamento do corpo é uma característica conservativa dentro da tribo Thachymenini, sendo amplamente utilizado tanto por serpentes de hábitos terrícola/arborícola, como por espécies exclusivamente arborícolas (Franco et al, 2003). Embora esta espécie seja associada à Floresta Ombrófila, ela pode ser encontrada em remanescestes florestais em estágios variados de regeneração. Xenodon neuwiedii (Boipeva) Espécie de ampla distribuição, ocorrendo na vertente atlântica desde o estado de Minas Gerais até a região Sul do Brasil (Peters & OrejasMiranda, 1970). Esta espécie é facilmente caracterizável e aparentemente não apresenta problemas taxonômicos em uma esfera mais ampla. Algumas vezes confundida por leigos com a jararaca (Bothrops jararaca), embora não seja peçonhenta. Alguns dados de história natural estão disponíveis para esta serpente áglifa e podem ser sumarizados como se segue: hábito estritamente terrícola com atividade diurna; dieta exclusivamente a base de anfíbios anuros; ciclo reprodutivo não sazonal; comportamento defensivo por meio de achatamento dorsal do corpo e deferimento de botes (Marques et al., 2001). Embora esta espécie ocorra principalmente em ambientes de Mata Atlântica, ela pode ocorrer também em áreas com considerável grau de distúrbios ambientais.

Thamnodynastes hypoconia (Corredeira) Espécie distribuída no Sudeste do Brasil desde o Estado de Minas Gerais até Santa Catarina, ocorrendo na Floresta Atlântica, bem como em remanescentes florestais associadas a este bioma (obs. pessoal). O reconhecimento das espécies deste gênero é relativamente complexo e devido a ausência de uma ampla revisão o número de espécies pode estar sendo muito subestimado (Franco & Ferreira, 2003). Esta espécie foi recentemente revalida (Franco & Ferreira, 2003), ainda que, os autores tenham somente apresentado um quadro comparativo em relação as demais espécies do gênero.

Família Elapidae Micrurus corallinus, Coral-verdadeira Espécie de ampla distribuição, ocorrendo ao sul da Bacia Amazônica desde o Estado do Rio Grande do Norte até Misiones na Argentina (Peters & Orejas-Miranda, 1970). Dentro desta ampla área de dispersão a espécie mostra-se (53)


homogênea, apresentando reduzida variação geográfica. Este elapídeo de hábitos secretivos tem a sua biologia bem conhecida, a qual pode ser sumarizada como se segue: hábito fossorial com atividade diurna; dieta a base de lagartos, serpentes e anfisbenídeos; comportamento defensivo por meio de achatamento dorsal do corpo, movimentos erráticos, exibição da cauda com concomitante ocultamento da cabeça; ciclo reprodutivo sazonal com pico na estação chuvosa (Marques et al., 2000; Marques et al., 2001). Apesar de ser uma espécie característica de Mata Atlântica, M. corallinus ocorre comumente em áreas urbanas próximas a remanescentes florestais.

contrário de Bothrops jararaca , esta espécie só ocorre em remanescentes florestais em moderado estado de conservação e não é muito comum sua aparição próxima a grandes centros urbanos. Dados de história natural são igualmente bem documentados para a espécie, os quais podem ser sumarizados como se segue: hábito terrícola com atividade diurna e noturna; estratégia de forrageamento de espreita; dieta baseada em anfíbios (nos jovens) e pequenos mamíferos (nos adultos); comportamento alimentar de atração de presas em jovens através de engodo caudal; ciclo reprodutivo não sazonal com grandes ninhadas (vivípara); comportamento defensivo por meio de achatamento dorsal do corpo, deferimento de botes e descarga cloacal (Marques et al., 2001).

Família Viperidae Bothrops jararaca, Jararaca

Levantamento da fauna diurna de répteis: foram encontrados os seguintes lagartos diurnos nesta área de estudo: Leposternon microcephalum (Amphisbaenia), Placosoma glabellum, Tupinambis merianae (diurna e crepuscular), Anolis punctatus, Enyalius brasiliensis, Urostrophus vautieri, Tropidurus torquatus e Mabuya cf. agilis. E as seguintes espécies de serpentes: Chironius bicarinatus, Chironius fuscus, Echinanthera affinis, Elapomorphus quinquelineatus (diurna e noturna), Spilotes pullatus, Xenodon neuwiedii e Micrurus corallinus.

Espécie distribuída desce o extremo sul da Bahia até a região de Misiones na Argentina (Peters & Orejas-Miranda, 1970). Embora a sua distribuição seja contígua à Mata Atlântica, B. jararaca é uma das espécies de ofídios mais adaptadas a ambientes antropizados e, conseqüentemente, das mais abundantes nas regiões Sul e Sudeste do país. Onde se alimentam essencialmente de roedores atraídos pela criação de animais, ou pela crescente quantidade de lixo produzidas nas grandes cidades. Dados de biologia e história natural são bem conhecidos para a espécie, os quais podem ser sumarizados como: hábito terrícola/semiarborícola, com atividade noturna; estratégia de forrageamento de espreita; dieta baseada em anfíbios (nos jovens) e roedores (nos adultos); comportamento alimentar de atração de presas em jovens através de engodo caudal; vivípara com ciclo reprodutivo não sazonal; comportamento defensivo por meio de achatamento dorsal do corpo, deferimento de botes e ocultamento da cabeça (Marques et al., 2001).

Espécies florestais de áreas abertas: espécies que (ou também) ocorrem em área aberta: Tupinambis merianae, Mabuya agilis, Tropidurus torquatus, Chironius fuscus, Spilotes pullatus, Xenodon neuwiedii. Espécies vagantes: nenhuma Espécies raras: espécies raras, com reduzida densidade populacional ou de encontro fortuito: Placosoma glabellum, Echinanthera cephalostriata. Espécies endêmicas: as espécies endêmicas do bioma Mata Atlântica são: Enyalius brasiliensis, Urostrophus vautieri, Tupinambis merianae, Mabuya agilis, Placosoma glabellum, Chironius bicarinatus, Echinanthera affinis, Echinanthera cephalostriata, Elapomorphus quinquelineatus,

Bothrops jararacussu, Jararacuçu Espécie distribuída pela Floresta Atlântica desde o sul de Minas Gerais até o Estado do Rio Grande do Sul e em Matas Ciliares do Sul do Brasil até o norte da Argentina (Peters & Orejas-Miranda). Ao (54)


Micrurus corallinus.

Dipsas indica (subespécie D. i. petersi), Chironius bicarinatus, C. fuscus, Echinanthera affinis, E. cephalostriata, Elapomorphus quiquelineatus, Thamnodynastes hypoconia, Bothrops jararaca, Bothrops jararacussu e Micrurus corallinus.

Espécies ameaçadas de extinção: nenhuma. Levantamento da fauna noturna de répteis: conforme a metodologia aplicada neste estudo foram observados os seguintes representantes de lagartos noturnos: Gymnodactylus darwinii e Hemidactylus mabouia. Em relação as serpentes, foram observadas as seguintes espécies noturnas: Boa constrictor, Dipsas indica, Echinanthera cephalostriata, Imantodes cenchoa, Thamnodynates hypoconia; Siphlophis compressus, Bothrops jararaca e Bothrops jararacussu.

Espécies ameaçadas de extinção: nenhuma das espécies de répteis inventariadas no curso deste estudo tem o status de ameaçada ou vulnerável pelas listas nacional e estadual oficiais. Considerações finais A área do Maciço da Tijuca abriga um importante remanescente de Mata Atlântica do município do Rio de Janeiro, tanto do ponto de vista conservacionista como histórico, sendo localidade-tipo de várias espécies de répteis. Das 127 espécies de répteis registradas para o estado do Rio de Janeiro (Rocha et al, 2004), cerca de 50 espécies distribuídas em 12 famílias e 30 gêneros são conhecidas para a área do Parque Nacional da Tijuca ou regiões limítrofes (coleção MNRJ).

Espécies florestais de áreas abertas: em concordância com a metodologia adotada para este estudo, entre as espécies inventariadas Bothrops jararaca é encontrada em áreas abertas próximas a floresta; Boa constrictor, Chironius bicarinatus, C. fuscus, Elapomorphus quinquilineatus, Xenodon neuwiedii e Spilotes pullatus são espécies encontradas em áreas abertas. Dentre os lagartos, Tupinambis merianae, Tropidurus torquatus, Urostrophus vautieri e Mabuya cf. agilis são espécies que ocorrem em área aberta. Além destes, a lagartixa de parede Hemidactylus mabouia é característica de áreas antrópicas.

Em relação às espécies registradas para os 15 ha da RFVC, a representatividade foi de 24 espécies distribuídas em 10 famílias e 20 gêneros. Ao compararmos a fauna de répteis do Parque com a registrada na RFVC, observamos que cerca de 50% das espécies existentes na Floresta da Tijuca ocorrem no RFVC. Um fator, que influenciou a ocorrência das espécies é a ausência de corpos d'água como, brejos ou poças perenes no interior da mata, onde várias espécies de serpentes se alimentam ou vivem, tais como: Liophis miliaris, Liophis reginae, Liophis poecilogyrus e Helicops carinicaudus. Contudo, tanto a representatividade dos répteis por família ou por gênero foi muito próxima do encontrado no Parque, o que sugere uma continuidade na distribuição da fauna de répteis entre as duas áreas.

Espécies de vegetação secundária: todas as espécies de répteis inventariadas neste estudo podem ser consideradas de ocorrência relictual ou acidental em floresta com vegetal secundária. Espécies vagantes: nenhuma das espécies de répteis registradas para a área de estudo pode ser considerada como vagante de acordo com a definição empregada neste trabalho. Espécies raras: em concordância com a metodologia aplicada neste estudo, podem ser consideradas espécies raras as serpentes: Dipsas indica, Echinanthera cephalostriata e Siphlophis compressus. Espécies endêmicas: entre as espécies noturnas inventariadas neste trabalho podemos considerar endêmicos do bioma Mata Atlântica os lagartos Gymnodactylus darwinii e Enyalius brasiliensis. Dentre as serpentes as espécies

Além disso, como répteis e particularmente serpentes, são animais de hábitos criptobióticos, apenas ocasionalmente observados, existe a possibilidade de algumas espécies não registradas para a RFVC ocorrem na região. (55)


Notadamente em relação ao número de espécies de serpentes, a representatividade na RFVC pode ser maior do que foi encontrado devido ao fato de muitas espécies com ciclo reprodutivo sazonal (e.g. Pseustes sulphureus) e baixa densidade populacional, serem de difícil observação, mesmo em estudos de longo prazo.

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INVENTÁRIO DAS FORMIGAS DE SERRAPILHEIRA DA RESERVA FLORESTAL VISTA CHINESA COM VISTAS À IMPLANTAÇÃO DO CORREDOR ECOLÓGICO FREI VELLOZO

1.INTRODUÇÃO

prioritárias. Para o êxito dos programas de monitoramento eles não devem ser exaustivos, mas baseados em espécies indicadoras ou em um conjunto de espécies indicadoras (Kremen et al., 1993).

Este projeto teve como principal objetivo realizar o primeiro inventário das formigas de serapilheira da área denominada Reserva Florestal Vista Chinesa, onde está sendo proposto o Plano de Estruturação do Corredor Ecológico Frei Vellozo. Foram feitas três expedições de coleta, e capturadas 112 espécies de formigas. Cerca de 84% das espécies vivem na serapilheira, de onde foram extraídos 5.889 indivíduos de 91 espécies, distribuídas entre 36 gêneros, com valores médios em torno de 118 individuos/m2 e 16 espécies/m2. Nas capturas por métodos diretos foram coletadas 26 espécies de 14 gêneros, entre as quais encontram-se seis espécies arborícolas obrigatórias; as outras não são arborícolas, mas pelo menos duas têm o hábito de forragear sobre a vegetação. Estimativas da riqueza de espécies das formigas de serapilheira revelaram que provavelmente vivam neste microhabitat 119 ou 103 espécies, respectivamente pelos estimadores Jacknife1 e Bootstrap.

Segundo Silva & Brandão (1999), o uso de indicadores da biodiversidade tem se intensificado, com atenção especial em testar o poder dos bioindicadores terrestres, particularmente daqueles que possam melhorar as estimativas da riqueza de espécies dos grupos chamados “hiper-diversos” como, por exemplo, insetos, aracnídeos e nematódeos. A crescente utilização da fauna de invertebrados para este tipo de estudo deve-se a algumas particularidades destes organismos: abundância local alta, distribuição geográfica ampla, diversidade ecológica e facilidade para amostragem (Cranston & Trueman, 1997). As formigas possuem estas características e, além disso, desempenham importante papel no funcionamento dos ecossistemas, devido à alta riqueza de espécies e enorme biomassa do grupo (Holldobler & Wilson, 1990). Estes insetos também são considerados bons indicadores por estarem organizados em grupos funcionais ou guildas, para explorar os recursos naturais (Silvestre, 2003). Esta organização faz com que elas acabem refletindo a situação em que se encontra a comunidade vegetal, o ambiente físico e, em determinadas vezes, a diversidade de outros organismos (Majer, 1992; Brown Jr., 1997). Um exemplo clássico é a guilda das formigas da tribo Attini (onde estão as saúvas), especializadas no cultivo de fungos simbiontes (Delabie et al. 2000); estes pesquisadores apresentaram valiosas informações sobre formigas de serapilheira da Mata Atlântica no sul da Bahia, esquematizando as guildas de formigas naquela região deste importante Bioma.

As estimativas para as amostragens de formigas arborícolas e epigeicas foram 42 ou 34 espécies, respectivamente. Duas espécies tiveram destacados registros de presença e abundância na serapilheira: Pheidole sp1 e Pyramica sp1. Entre as formigas arborícolas obrigatórias, Procryptocerus convergens destacou-se com 18% de freqüência na amostragem, somente superada por Camponotus sp1 (F = 26%), uma espécie que faz trilhas na vegetação, mas não é arborícola obrigatória. Foram registrados altos percentuais de gêneros que compõem as guildas de formigas de serapilheira, quando os resultados foram comparados com uma proposta de guildas destas formigas para áreas de Mata Atlântica da Bahia e da Reserva Biológica (ReBio) Tinguá. A análise comparativa do inventário das formigas de serapilheira na Vista Chinesa, com a amostragem destas formigas na ReBio Tinguá, revelou a existência de alta semelhança entre as formicifaunas destas duas áreas de preservação ambiental.

Apesar do tema estar longe de esgotado, não são poucas as pesquisas sobre o uso de formigas como bioindicadores. Alguns exemplos podem servir para ilustrar a utilidade destes insetos na avaliação de condições ambientais. Na Austrália, desde o início da década de 1980, elas são utilizadas para monitorar a recuperação de áreas

Um dos esforços que se faz necessário para a conservação da biodiversidade é seu monitoramento com o objetivo de definir ações. (60)


degradadas por mineração (Majer, 1983; Majer & Nichols, 1998); o mesmo foi feito no Brasil por Majer (1992), em Minas Gerais, e por Oliveira & Della Lucia (1992), no Pará. A composição da fauna de formigas também pode ser utilizada para inferências sobre as condições de agroecossistemas (Perfecto & Snelling, 1995; Peck et al., 1998; Ramirez & Enriques, 2003) e até mesmo sobre o impacto causado pelo uso de pesticidas (Wang et al., 2000).

Existem vários artigos científicos sobre plantas mirmecófilas. A simbiose entre embaúbas (Cecropia) e formigas do gênero Azteca ou entre Acacia e algumas espécies de Pseudomyrmex são exemplos clássicos da relação formiga x planta. No Brasil, formigas conhecidas como “tachi” (também do gênero Pseudomyrmex) protegem os tachizeiros (Triplaris) de insetos desfolhadores e, em troca, a planta fornece abrigo para suas colônias.

Nos últimos cinco anos, com a implementação do Programa Biota Fapesp, foram executados vários inventários da formicifauna na Mata Atlântica, em um gradiente latitudinal de Santa Catarina até a Paraíba. Como parte deste projeto está o inventário na Reserva Biológica do Tinguá; tema da dissertação de mestrado de Ferreira (2003), que é o nosso atual padrão para o Estado do Rio de Janeiro, visando futuras comparações com outros fragmentos das florestas fluminenses.

Dentro deste contexto geral, nosso principal objetivo foi fazer o inédito inventário das formigas de serapilheira da Serra da Carioca, nesta oportunidade, restrito à área da Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC), visando fazer o primeiro estudo comparativo das amostragens de duas localidades no Estado do Rio de Janeiro: a floresta urbana carioca (Maciço da Tijuca) e a Reserva Biológica do Tinguá, que tem sua maior área de abrangência localizada no município de Nova Iguaçu.

Por outro lado, formigas arborícolas representam outra fonte de investigação sobre o papel destes insetos na biodiversidade das florestas, pois muitas espécies de formigas estão intimamente relacionadas de alguma maneira com plantas. Segundo Holldobler & Wilson (1990), plantas com flores (angiospermas) e formigas têm uma estreita associação ao longo de suas respectivas histórias evolutivas. Cerca de 110 milhões de anos atrás (Cretáceo Médio) já estavam em cena as formigas fósseis da subfamília Sphecomyrminae, enquanto ocorria a diversificação das angiospermas e sua disseminação pelo planeta, como uma nova forma de vegetação terrestre dominante.

2. METODOLOGIA Considerando a possibilidade de existirem diferenças entre as duas principais regiões da RFVC, “mata da sede” e “mata do alto” (Figura 1), observadas durante a instalação do experimento, um transecto de 1.200 m de comprimento foi dividido em duas metades: a primeira, a partir daqui denominada TR1, entre os pontos de amostragem 1 e 14 (correspondendo às parcelas 1 a 25) e, TR2, entre os pontos 15 e 25 (com as parcelas restantes). Foram feitas três expedições de coleta, nos dias 9/02, 11/02 e 17/09/2004, utilizando-se duas técnicas de coleta: métodos diretos visando a amostragem de formigas arborícolas e extratores de Winkler para capturar formigas de 50 parcelas de 1 m2 de serapilheira (25 em cada uma das duas primeiras expedições), ao longo de um transecto de 1.200m de comprimento. Com os métodos utilizados foram capturadas 112 espécies de formigas.

Muitas espécies de plantas tornaram-se dependentes de insetos para sua polinização que, cada vez em maior número, passaram a utilizar como alimento o néctar e o pólen produzidos por elas. Neste cenário co-evolutivo entraram as formigas, gradativamente ampliando seu papel como polinizadoras, dispersoras de sementes e protetoras de plantas que servem para abrigar suas colônias (plantas mirmecófilas).

Amostragem de Formigas de Serapilheira Como técnica de amostragem foram utilizados

(61)


extratores de Winkler para a captura das formigas de 50 parcelas de 1m² de serapilheira, peneiradas nos pontos indicados no mapa da RFVC (Figura 1), em dois eventos de coleta (9 e 11/02/2004), utilizando o protocolo proposto por Bestelmeyer et al. (2000). O peneirado de cada parcela foi individualizado em sacos para o transporte ao laboratório, onde foram submetidos aos extratores por 48h. O extrator de Winkler tem duas peças: um tubo de nylon aberto nas duas extremidades (Figura 2), dentro do qual coloca-se um saco de filó (Figura 3) com a serapilheira peneirada. A fauna extraída cai em um frasco coletor, contendo álcool 70%, na extremidade inferior, após a extremidade superior ser fechada (Figura 4).

Figura 1. Mapa da Reserva Florestal da Vista Chinesa, com os pontos de amostragem das formigas de serapilheira. Rio de Janeiro, RJ, 2004. Obs.: números escritos em azul indicam as parcelas de onde foram retiradas as amostras (devido à acentuada declividade não foram retiradas amostras dos pontos 4 e 5).

Figuras 2 - 4. Extrator de Winkler. Da esquerda para a direita, no sentido horário: 2. Extrator pronto para ser ativado; 3. Saco de filó; 4. Extratores ativados no laboratório.

(62)


Relação Formiga x Planta

espécies prováveis. Os exemplares que não puderam ser determinados ao nível de espécie, particularmente dos gêneros mega-diversos, foram tratados como morfoespécies.

O foco de abordagem desta questão concentrouse em dois grupos de formigas: as que nidificam (arborícolas) e/ou têm trilhas de forrageamento preferencialmente sobre árvores e as que nidificam em troncos caídos em decomposição ou ainda vivos.

Todo o material conservado em via liquida e seca está depositado na Coleção Entomológica Costa Lima do Instituto de Biologia, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro que, particularmente para as formigas, teve o Prof. Dr. Cincinnato Rory Gonçalves como seu principal organizador.

Amostragem de Formigas Arborícolas e Epigeicas Para a captura das formigas arborícolas foi utilizada a coleta direta (pinças, pincéis e aspiradores entomológicos), por dois coletores, com um esforço de amostragem de 3 horas/homem (totalizando 6 horas de amostragem).

3. RESULTADOS 3.1. Formigas de Serapilheira Nas duas expedições para a coleta dos 50 m2 de serapilheira foi capturado um total de 5.889 indivíduos, distribuídos entre 36 gêneros e 91 espécies de formigas (Tabela 1): TR1 = 2.237 (média de 89,5 indivíduos/m2) e TR2 = 3.658 (média de 146,3 indivíduos/m2), com média total de 117,8 indivíduos/m2.

Amostragem de Formigas em Árvores Caídas Seis árvores vivas e seis troncos em decomposição, caídos no chão da floresta, foram selecionados para a coleta de formigas encontradas no seu interior, com a mesma técnica citada acima.

Foram encontradas 68 espécies entre os pontos 1 e 14 (TR1), onde foram peneiradas as amostras das primeiras 25 amostras e 74 na outra metade (TR2), entre os pontos 15 e 25, correspondendo as amostras 26 a 50 (ver Figura 1); 51 espécies foram comuns as duas metades do transecto e, respectivamente, 17 e 23 foram exclusivas de cada metade (Tabela 1).

Análise dos Dados e Tombamento do Material Coletado Os dados obtidos no inventário foram analisados com o programa de computador EstimateS (Cowell, 2000), para calcular a riqueza estimada de espécies por métodos estatísticos nãoparamétricos. Para a classificação das guildas foi adotada a proposta de Delabie et al. (2000), que separou as formigas de serapilheira da região sul do Estado da Bahia em nove categorias. Aqui foi incluída uma décima categoria, Incertae Sedis, para os gêneros que não foram citados pelo Dr. Jacques Delabie.

O número de espécies de formigas capturadas variou consideravelmente entre as 50 amostras: 6 e 26, com uma densidade média de 15,8 espécies/m2. Em TR1 - TR2 a densidade ficou pouco abaixo e acima da média, respectivamente 15,1 e 16,5 espécies/m2. De um total de 36 gêneros encontrados, 31 foram coletados em TR1 e 27 em TR2, com quatro gêneros exclusivos de TR1, cinco de TR2 e 22 comuns as duas metades do transecto. O maior número de espécies coletado pertence à subfamília Myrmicinae (52 spp), seguida por 30 spp de Ponerinae, cinco de Formicinae, duas de Cerapachyinae, uma de Dolichoderinae e uma de Ecitoninae.

O material biológico capturado foi triado sob microscópio estereoscópico e conservado em álcool 70%. Após a triagem do material, exemplares de formigas de cada amostra, considerados diferentes entre si, foram montados em via seca para identificação ao nível de gênero, com base em Bolton (1994). Alguns táxons puderam ser identificados ao nível de espécie, somente nos casos em que existem revisões taxonômicas recentes; os nomes específicos precedidos por “prox” indicam

Oito espécies estavam presentes nas amostras com freqüência maior ou igual a 50%, em pelo (63)


menos uma das metades do transecto (Tabela 2). A classificação pelo percentual médio de freqüência mostra que somente duas espécies destacaram-se pelos registros em mais de 80% do total das amostras: Pheidole sp1 e Pyramica sp1. Entretanto, cabe registrar que outras cinco espécies também estiveram presentes com alta freqüência em pelo menos uma das metades do transecto: Solenopsis sp2, Cyphomyrmex sp gr rimosus, Wasmannia sp2, Gnamptogenys cf porcata e Solenopsis sp1. As seis espécies mais abundantes representam cerca da metade do total de indivíduos capturados (49,5% do total de 5.889 indivíduos), porém, considerando as 13 mais abundantes, o percentual atinge 73,2% do total de indivíduos (Tabela 3); além de serem as que tiveram maior freqüência, Pheidole sp1 e Pyramica sp1 foram também as mais abundantes.

Tabela 1. Lista das espécies de formigas coletadas em 50 parcelas de 1m² de serapilheira,submetidas ao extrator de Winkler por 48 horas (Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2004).

Tabela 2. Classificação pelo percentual médio de freqüência (F) das espécies de formigas de serapilheira, capturadas com extratores de Winkler, com pelo menos 50% de freqüência em uma das metades do transecto. Números entre parênteses se referem à posição na classificação (Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2004).

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A classificação dos gêneros encontrados, utilizando a única proposta disponível na literatura para as guildas de formigas de serapilheira da Mata Atlântica (Quadro 1), revelou a ausência de poucos dos seus elementos na RFVC. Além disso, somente quatro gêneros foram classificados como Incertae Sedis.

Tabela 3. Classificação pelo percentual médio de abundância (A) das espécies de formigas de serapilheira, capturadas com extratores de Winkler, com pelo menos 3% de abundância em uma das metades do transecto. Números entre parênteses se referem à posição na classificação (Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2004).

Quadro 1. Guildas de formigas de serapilheira da Reserva Florestal da Vista Chinesa, com base na proposta de Delabie et al. (2000) para a Mata Atlântica (Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2004).

As estimativas de riqueza de espécies, pelos métodos estatísticos utilizados no protocolo para o inventário de formigas de serapilheira, indicam que podem existir 119 ou 103 espécies na serapilheira da RFVC (Figura 5); respectivamente a maior e a menor estimativa pelos métodos Jacknife1 e Bootstrap. A curva de captura acumulada mostra que as primeiras 25 amostras (Sobs na 25ª parcela) têm 68 espécies; o que representa aproximadamente 75% do total de 91 espécies coletadas.

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Figura 5. Curvas de acumulação de espécies de formigas capturadas em 50 amostras de 1m2 de serapilheira na Reserva Florestal da Vista Chinesa, através de 100 aleatorizações (Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2004). Input file: Matriz de incidência. Sobs (91 spp) = riqueza observada; Jacknife1 (119 spp) e Bootstrap (103 spp) = métodos estatísticos para estimativa de riqueza.

Relação Formiga x Planta Os métodos de coleta utilizados para cumprir esta meta do projeto, proporcionaram a captura de um grupo de formigas raramente amostrado com extratores de Winkler. Entretanto, em 10 pontos de amostragem não foram observadas formigas em atividade. Formigas Arborícolas ou Epigeicas De um total de 28 espécies capturadas, por meio da técnica de coleta direta, foram encontradas 12 espécies entre os pontos 1 e 14 (TR1) e 25 na outra metade (TR2); nove ocorreram nas duas metades do transecto e, respectivamente, três e 16 espécies foram exclusivas de cada metade (Tabela 4). O número de espécies de formigas capturadas variou consideravelmente entre as 50 amostras: 1 e 7, com uma média de 1,5 espécies/amostra. Em TR1 - TR2 a média ficou pouco abaixo e acima da média, respectivamente 1,2 e 1,8 espécies/amostra.

Tabela 4. Lista das espécies de formigas coletadas em 50 amostras por meio de coleta direta (Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2004). (*) gêneros exclusivos de cada metade do transecto; espécies arborícolas estão sublinhadas

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De um total de 14 gêneros encontrados, nove foram coletados em TR1 e 13 em TR2, com dois gêneros exclusivos de TR1, seis de TR2 e seis comuns as duas metades do transecto. O maior número de espécies coletado pertence à subfamília Myrmicinae (11 spp), seguida por nove spp de Ponerinae, quatro de Formicinae, três de Pseudomyrmecinae e uma de Dolichoderinae. As estimativas de riqueza de espécies, pelos métodos estatísticos utilizados, indicam que podem existir 42 ou 34 espécies na RFVC (Figura 6); respectivamente a maior e a menor estimativa pelos métodos Jacknife1 e Bootstrap. A curva de captura acumulada mostra que as primeiras 25 amostras (Sobs na 25ª parcela) têm 12 espécies; o que representa aproximadamente 43% do total de 28 espécies coletadas.

Figura 6. Curvas de acumulação de espécies de formigas capturadas em 50 amostras por meio de coleta direta na Reserva Florestal da Vista Chinesa, através de 100 aleatorizações (Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2004). Input file: Matriz de incidência. Sobs (28 spp) = riqueza observada; Jacknife1 (42 spp) e Bootstrap (34 spp; obs.: esta curva foi omitida no gráfico, devido aos amplos desvios-padrão) = métodos estatísticos para estimativa de riqueza.

Cinco espécies estavam presentes nas amostras com freqüência maior ou igual a 8%, em pelo menos uma das metades do transecto (Tabela 5). A classificação pelo percentual médio de freqüência mostra que somente duas espécies destacam-se pelos registros em mais de 20% do total das amostras, pelo menos em uma das metades do transecto: Camponotus sp1 e Procryptocerus convergens.

Tabela 5. Classificação pelo percentual médio de freqüência (F) das espécies de formigas capturadas por meio de coleta direta, com pelo menos 8% de freqüência em uma das metades do transecto. Números entre parênteses se referem à posição na classificação (Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2004).

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de simbiose, como no caso de P. minutula e da melostomatácea Maieta guianensis (Hooldobler & Wilson, 1990). O amplo repertório comportamental do gênero é comparável a sua mega-diversidade de espécies, que varia de detritívoras a predadoras, com algumas espécies capazes de dispersar ou predar sementes.

Além das espécies coletadas próximo aos 25 pontos de amostragem, em torno da sede da RFVC foram capturadas nove espécies: Acromyrmex coronatus, Camponotus sericeiventris, Camponotus sp4, Gnamptogenys p r o x . p o r c a t a , O d o n t o m a c h u s c h e l i f e r, Pachycondyla apicalis, P. striata, P. crenata e Procryptocerus convergens; destas, somente três espécies (A. coronatus, Camponotus sp4 e P. crenata) foram exclusivamente encontradas naquele local.

Além de sua constante ocorrência nas amostras de serapilheira da Mata Atlântica, Pheidole sempre apresenta um elevado número de espécies. As minúsculas operárias de Pheidole sp1 capturadas no inventário têm coloração marrom-escura e esculturação tegumentar pontuada. No Estado do Rio de Janeiro existem várias espécies com estas características, o que impossibilitou garantir sua determinação específica.

Formigas em Árvores Caídas As cinco espécies coletadas já tinham sido registradas nas duas primeiras expedições de coleta, quando foram feitas as amostragens de formigas arborícolas e de serapilheira. Foram coletadas três espécies em troncos em decomposição (Pachycondyla apicalis, Brachymyrmex sp2 e Camponotus sp1) e uma em árvore viva caída (Hypoponera sp1). Durante a inspeção dos troncos foi encontrada uma quinta espécie caminhando no local 1 da coleta (borda da RFVC, próximo ao número 540 da Estrada da Vista Chinesa): Ectatomma permagnum.

Gênero Pyramica Roger Segundo Bolton (1999), atualmente o gênero Pyramica reúne um elevado número de espécies, originalmente descritas em outros gêneros: Codiomyrmex, Glamyromyrmex, Neostruma, Smithstruma e Strumigenys. Suas espécies são geralmente muito pequenas e inconspícuas na natureza, porém são muito características quando examinadas sob microscópio, devido possuírem antenas com poucos segmentos e, muitas, terem mandíbulas notavelmente alongadas.

3. RESULTADOS 3.1. As Cinco Formigas Mais Comuns na Serapilheira As informações apresentadas aqui ilustram a diversidade das formigas que ocorrem na área da RFVC, assim como servem para dar uma visão geral sobre alguns aspectos da sua biologia e ecologia.

As operárias de Pyramica são predadoras de outros pequenos artrópodes e também sempre são encontradas em extratores de Winkler nas amostragens de formigas da Mata Atlântica, onde constroem seus ninhos na serapilheira.

Gênero Pheidole Westwood Entre as formigas, este gênero é um dos mais ricos em espécies. A sua riqueza é tão elevada que Wilson (2003) relacionou mais de 600 espécies somente para o “Novo Mundo” (regiões Neotropical e Neártica). Seus ninhos são facilmente reconhecidos, pois quando molestados, além das operárias (Figura 7), também saem os soldados (Figura 8), prontos para defender o formigueiro.

A espécie que ocorreu com maior freqüência e abundância, Pyramica sp1, assemelha-se a P. eggersi Emery (Figura 9), porém ainda não é possivel garantir a determinação desta espécie, sem estudos taxonômicos mais acurados sobre o gênero. Brown Jr. (1960) comentou que ela também pode ser encontrada nidificando em plantas epífitas de florestas secundárias ou em áreas de cultivo, ressaltando que isto indica sua maior tolerância a ambientes mais secos, quando comparada a outras espécies da sua tribo (Dacetini). Com base nestas observações,

Apesar de muitas espécies de Pheidole nidificarem no solo, algumas são encontradas sobre árvores, onde podem estabelecer relações (68)


especulou que ela pode estar sendo disseminadas por atividades antrópicas.

vem um dos seus nomes populares, “formiga-defogo pequena”, em comparação com formigas do gênero Solenopsis, também denominada “pixixica”.

Gênero Solenopsis Westwood Solenopsis também é um gênero mega-diverso, representado por um grupo de formigas conhecido como “formigas-de-fogo” ou “lavapés” (Figura 10), temido por sua dolorosa ferroada que, igualmente Pheidole, tem alta freqüência e riqueza de espécies na serapilheira. Talvez sejam as formigas mais famosas do país, devido ao hábito de algumas espécies construírem fofos montículos de terra sobre seus formigueiros no solo que, quando pisados, fervilham de agressivas operárias alvoroçadas. Entretanto, os hábitos de nidificação da maioria das espécies são bastante variáveis e formigueiros com montículos de terra parecem ser a exceção.

Gênero Gnamptogenys Roger Este gênero também é formado por um grande número de espécies e reúne formigas exclusivamente predadoras (Lattke, 1995). Muitas espécies são generalistas, porém algumas se especializaram em predar determinados grupos de artrópodes, tais como, gongôlos, besouros, cupins ou até mesmo outras formigas. Seus hábitos de nidificação também são variados, mas, ainda que preferiram nidificar no solo ou em troncos apodrecidos, existem espécies arborícolas. Uma pequena diferença observada na morfologia da espécie mais freqüente do gênero no inventário (Gnamptogenys prox porcata), indica ser mais prudente não garantir sua identificação específica, antes de uma verificação cuidadosa sobre a possibilidade de tal diferença seja fruto de uma variação ao longo da ampla distribuição geográfica de G. porcata (Emery) (Figura 12). Segundo Lattke (1995), esta espécie parece ser uma predadora generalista que habita florestas neotropicais úmidas, onde mantém suas colônias em troncos apodrecidos, mas também pode ser encontrada sobre árvores.

Gênero Wasmannia Forel As formigas do gênero Wasmannia são comumente encontradas na região Neotropical. Wasmannia auropunctata (Roger) é considerada uma “formiga vagabunda”; tramp ant (Figura 11). É uma espécie comedora de carniça, onívora ou predadora, e as operárias podem recrutar rapidamente companheiras de ninho para conseguir seus recursos alimentares. Suas colônias têm várias rainhas (poligínicas) e os ninhos não têm limites bem definidos. Esta espécie pode ser abundante tanto em florestas primárias como secundárias, úmidas ou secas, embora citada como “talvez mais abundante em ambientes alterados” (Longino, 2004). Em áreas urbanas podem invadir construções, ocasionando um problema de saúde pública, p ri n ci p a l me n te q u a n d o o co rre m g ra n d e s infestações em hospitais. Nas florestas seus ninhos são encontrados em folhas enroladas ou gravetos na serapilheira, debaixo de pedras, em troncos apodrecidos ou em vários tipos de abrigos sobre plantas. Por serem formigas extremamente minúsculas são pouco visíveis no campo, mas tem reputação de dar uma picada dolorosa, incomodando bastante, principalmente quando várias operárias juntamse para atacar suas vitimas. Deste hábito terrível

Figura 7. Operária de Pheidole biconstricta: tribo Pheidolini. (Foto de Longino, 2004).

Figura 8. Soldado de Pheidole biconstricta: tribo Pheidolini. (Foto de Longino, 2004).

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Cephalotes). Aqui serão apresentadas informações sobre os cinco gêneros de formigas arborícolas encontrados no inventário, utilizando-se métodos de coleta direta, seguindo a ordem de freqüência decrescente. Além destas, aqui também estão os comentários sobre uma outra espécie arborícola que foi coletada na serapilheira com extratores de Winkler: Crematogaster nigripilosa Mayr.

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Figura 9. Operária de Pyramica eggersi: tribo Dacetini (foto de Longino, 2004).

Gênero Procryptocerus Emery As espécies do gênero Procryptocerus (tribo Cephalotini) são endêmicas da região Neotropical. Todos os membros da tribo (Cephalotes é o outro gênero) vivem na vegetação, nidificando principalmente sobre árvores, aproveitando ramos ocos, vivos ou mortos. Este grupo de formigas é facilmente reconhecido por suas cabeças adaptadas para realizar fragmose (Figura 13), que é o hábito das operárias utilizarem a cabeça para fechar os orifícios de entrada dos seus ninhos.

Figura 10. Operária de Solenopsis invicta: “formiga-de-fogo” ou “lava-pés” (USDA, 2004).

A biologia e ecologia da única espécie do gênero encontrada no inventário, P. convergens (Mayr), é desconhecida. Esta formiga já tinha sido constatada no Estado do Rio de Janeiro e tem distribuição entre o RJ e RS (Kempf, 1972). A fotografia de uma espécie muito semelhante (Figura 14), P. paleatus Emery, serve para dar uma idéia da sua morfologia.

Figura 11. Operária de Wasmannia auropunctata: tribo Blepharidattini, “formiga-de-fogo pequena”; “pixixica” (foto de Longino, 2004).

Gênero Pseudomyrmex Lund Este é outro gênero mega-diverso, que tem mais de 100 espécies com ocorrência constatada na região Neotropical (Kempf, 1972). A única exceção ao hábito arborícola destas formigas é uma espécie relativamente comum no Rio de Janeiro, Pseudomyrmex termitarius, que nidifica no solo, mas não foi capturada no inventário na RFVC.

Figura 12. Operária de Gnamptogenys porcata: tribo Ectatommini (foto de Longino, 2004).

A predação é bastante comum, mas não é exclusiva, pois freqüentemente as operárias incluem itens variados na dieta das larvas e adultos da colônia. Moffet (2000) publicou um interessante artigo sobre a simbiose entre formigas e plantas, ilustrando as relações de Pseudomyrmex com a Accacia. Estas formigas protegem os vegetais de insetos desfolhadores e

3.2. Formigas Arborícolas Cada um dos cinco gêneros, comentados a seguir, reúne um grande número de espécies que mantém estreitas relações com plantas, como em Pseudomyrmex e Azteca, ou utilizam obrigatoriamente árvores como local para nidificação oportunista (Procryptocerus e

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PEQUENOS MAMÍFEROS

de plantas parasitas e, em troca, a planta hospedeira fornece abrigo e alimento, utilizado para nutrir suas larvas.

Todas as espécies são fortemente “blindadas” e a maioria tem o corpo dorso-ventralmente achatado (Figura 18), o que lhes confere um meio de defesa passiva, enquanto outras possuem defesas químicas que as tornam impalatáveis para predadores (Coyle 1966). De uma maneira geral elas são formigas pacíficas, que podem utilizar as mesmas trilhas de forrageamento de outras formigas agressivas que compartilham seu micro-habitat.

Gênero Azteca Forel Segundo Kamesh (2002), a relação entre Cecropia (Figura 15) e Azteca é uma das mais conspícuas entre todas as associações formigaplanta na região Neotropical. O tronco oco da árvore é utilizado como abrigo para suas colônias e a produção de corpúsculos de Mueller (Figura 16), rico em glicogênio, é uma recompensa alimentar. Em troca destes recursos fornecidos pelos vegetais, as formigas atuam como eficientes protetoras, atacando furiosamente herbivoros que tentam predar Cecropia spp que abrigam espécies de Azteca. Entretanto, existe uma controvérsia sobre as relações entre hóspede-hospedeiro, com um questionamento sobre o papel desempenhado por algumas espécies de Azteca. Apesar de Vasconcelos & Casimiro (1997) relatarem que a presença destas formigas em Cecropia inibe a herbivoria por saúvas (formigas cortadeiras do gênero Atta), Andrade & Carauta (1982) questionaram o benefício de Azteca para as plantas hospedeiras.

Seus hábitos alimentares ainda não são bem conhecidos, mas parecem ser onívoras e comedoras de carniça; já foram observadas em iscas de açúcar e em nectários extraflorais, assim como sobre outras substâncias, como fezes de pássaros e carne apodrecida. Gênero Pachycondyla Fr. Smith Este é um dos maiores gêneros de Ponerinae e atualmente inclui espécies descritas originalmente em outros cinco gêneros: M e s o p o n e r a , N e o p o n e r a , Te r m i t o p o n e , Trachymesopus e Wadeura. Somente uma operária de Pachycondyla villosa (Fabricius) foi encontrada no inventário, mas ela provavelmente deve ser uma espécie comum na Vista Chinesa. A pilosidade aveludada que recobre seu corpo é uma das principais características desta formiga, além do seu considerável tamanho (Figura 19). As operárias são predadoras generalistas, atacando vários grupos de outros artrópodes, mas também já foram observadas sobre nectários extraflorais, cujas gotículas carregam entre as mandíbulas para compartilhar com outros membros de suas colônias, inclusive com larvas (Valenzuela et al. 1994). Tem hábitos de nidificação arborícola oportunista, instalando seus ninhos em ramos de árvores, inclusive em internódios vazios de Cecropia.

O gênero Azteca é um dos maiores da subfamilia Dolichoderinae e algumas espécies têm duvidosa eficiência como protetoras de embaúbas. Devido a este fato, Longino (1991) comentou que a questão poderia ser direcionada para “quando e onde” a relação entre elas é um caso de mutualismo, uma vez que o número de espécies ocupantes destas plantas varia tanto quanto seu comportamento em relação aos intrusos e utilização das plantas. Azteca alfari Emery (Figura 17) é amplamente distribuída na região Neotropical; mas sob este nome existem muitas duvidosas infra-espécies. Gênero Cephalotes Latreille

Gênero Crematogaster Agassiz

Cephalotes reúne a maior quantidade de espécies da tribo Cephalotini. Estas formigas têm hábitos muito similares aos de Procryptocerus, já relatados acima, ou seja, são formigas arborícolas amplamente distribuídas no Novo Mundo, com a maioria das espécies habitando a região Neotropical.

Este gênero possui um grande número de espécies e teve sua taxonomia parcialmente revisada por Longino (2003). Crematogaster nigropilosa (Figura 20) tem uma ampla distribuição geográfica, que se estende do Estado de Santa Catarina até a América Central, (71)


na Costa Rica (Kempf, 1972). Pode ser encontrada em uma ampla variedade de hábitats e altitudes, com exceção de áreas extremamente secas (Longino, 2004). É comum em florestas neotropicais de altitude média, restrita aos microhabitats úmidos de áreas que têm um período sazonal seco. Embora mais abundante entre médias e baixas altitudes, também pode ocorrer em florestas nubladas, com altitude elevada; o maior registro altitudinal de ocorrência é 2600m no Panamá. Seus ninhos são freqüentemente instalados em partes macias de madeira morta ou em pequenos talos ocos de plantas vivas, inclusive em Cecropia. As operárias visitam nectários extraflorais, mas também já foram capturadas com iscas de sardinha, o que indica que provavelmente sejam onívoras.

Figuras 15-16. Simbiose entre Azteca e Cecropia: à esquerda, Cecropia; à direita, corpúsculos de Mueller (foto de Longino, 2004).

Figura 17. Operária de Azteca alfari: tribo Tapinomini (foto de Longino, 2004).

Figura 18. Operária de Cephalotes minutus: tribo Cephalotiini (foto de Longino, 2004).

Figura 19. Operária de Pachycondyla villosa (foto de Longino, 2004). Figura 13. Cabeças de operárias de Procryptocerus spp: tribo Cephalotini (foto de Longino, 2004).

Figura 20. Operária de Crematogaster nigripilosa: “formiga-acrobática” (foto de Longino, 2004).

3.3. Formigas Predadoras Mais Comuns Figura 14. Operária de Procryptocerus paleatus: tribo Cephalotini (foto de Longino, 2004).

Várias formigas coletadas no inventário podem ser incluídas nesta categoria, todas pertencentes à subfamília Ponerinae. Algumas chamam a atenção por serem extremamente ativas e, além disso, por seu tamanho avantajado, podem ser facilmente encontradas na área da RFVC. (72)


Entretanto, existem predadoras minúsculas de hábitos cripticos, altamente especializadas e dificilmente observadas, podendo até ser consideradas raras; as informações sobre estas formigas estão em outro capitulo.

que ela é uma espécie frequentemente coletada em extratores de Winkler.

Gênero Pachycondyla Fr. Smith Uma das espécies mais notáveis na RFVC é Pachycondyla apicalis (Latreille) (Figura 21) que, para este autor, poderia tornar-se formiga símbolo para a Vista Chinesa. Segundo Longino (2004), suas operárias são forrageadoras solitárias e podem ser vistas caminhando pelo chão da floresta, vibrando nervosamente as antenas, em busca de presas vivas ou mortas. Elas não são arborícolas, seus ninhos são construídos em troncos apodrecidos, caídos no chão das matas.

Figura 21. Operária de Pachycondyla apicalis (foto de Longino, 2004).

Figura 22. Operárias de Odontomachus: a. O. chelifer; b. O. meinerti (foto de Longino, 2004).

Gênero Odontomachus Latreille Este é um gênero representado por 14 espécies com ocorrência constatada na região Neotropical (Kempf, 1972). As formigas deste gênero são facilmente reconhecidas pela forma de suas mandíbulas, notavelmente alongadas e quase sempre amplamente abertas enquanto as operárias estão forrageando.

Figura 23. Operária de Ectatomma edentatum (foto de Longino, 2004).

Odontomachus chelifer (Latreille) e O. meinerti são espécies muito comuns na RFVC (Figura 22). Ambas têm ampla distribuição geográfica, que vai da Argentina até o México (Kempf, 1972), mas O. meinerti aparece com mais freqüência em amostras de serapilheira. São predadoras de outros insetos e seus ninhos podem ser construídos no solo; O. meinerti já foi observada nidificando sob tronco caído no chão de floresta (Longino, 2004).

3.4. As Formigas Fungívoras Sob esta categoria encontra-se um interessante grupo de formigas que desenvolveu, ao longo de sua história evolutiva, uma estreita relação com fungos simbiontes. Pertencem à tribo Attini, que está formada por 12 gêneros (Brandão & MayhéNunes, 2001), restritos ao Novo Mundo, com 95% das espécies encontradas na região Neotropical. Nesta tribo estão incluídas as famosas saúvas (gênero Atta), muito conspícuas na natureza pelo hábito de cortarem folhas que usam como substrato para o cultivo dos seus “jardins de fungos simbiontes”. As espécies do gênero Acromyrmex, conhecidas popularmente como quenquéns, também são cortadeiras de folhas, mas os outros gêneros utilizam matéria orgânica em decomposição (folhas e gravetos semiapodrecidos, fezes e cadáveres de insetos) para alimentar seus fungos.

Gênero Ectatomma Fr. Smith Neste gênero estão incluídas 14 espécies neotropicais (Kempf, 1972). Desde Brown Jr. (1958), pouco se conhece sobre uma das espécies coletada na serapilheira da RFVC, E. edentatum Roger (Figura 23). Longino (2004) registrou a observação de uma operária entrando num orificio no solo, o que indica seu provável hábito de nidificação. Pela experiência acumulada em inventários de formigas de serapilheira na Mata Atlâtica, pode-se afirmar (73)


Gênero Acromyrmex Mayr

Gênero Cyphomyrmex Mayr

Acromyrmex coronatus (Fabricius), conhecida popularmente como “quenquén-de-árvore” (Figura 24), é uma das formigas cortadeiras com maior área de distribuição no Brasil, ocorrendo do Rio Grande do Sul ao Amazonas (Kempf, 1972). Segundo Gonçalves (1961), seu nome popular deve-se ao hábito de cultivar seus “jardins de fungos” sobre árvores, envolvidos por uma cobertura de palha formada por pequenos gravetos e folhas secas.

As formigas do gênero Cyphomyrmex estão divididas em dois grupos de espécies: rimosus (Figura 26) e strigatus. Elas também são habitantes crípticos da serapilheira, constantemente coletadas em extratores de Winkler. Cabe comentar que a coleta de C. strigatus Mayr foi uma importante aquisição, pois, apesar de ser uma espécie de ocorrência conhecida no Rio de Janeiro (Kempf, 1972), ainda não tinha sido depositado nenhum exemplar no acervo da Coleção Entomológica Costa Lima da UFRRJ.

Esta espécie somente foi coletada perto da sede da RFVC e chama a atenção não ter sido encontrada no interior da floresta. Aliás, também não foram encontradas saúvas, um componente muito comum da formicifauna fluminense em várias localidades do Estado do Rio de Janeiro. Gênero Apterostigma Mayr Estas formigas são constantemente coletadas na serapilheira e na RFVC apareceram com certa frequência, mas em mediana abundância. Suas operárias são facilmente reconhecidas por terem um corpo esguio e pilosidade abundante (Figura 25), contrastando com outros membros da tribo que têm corpos mais atarracados e, geralmente, pilosidade escassa (exceto no gênero Sericomyrmex).

Figura 24. Operária de Acromyrmex coronatus: “quenquén-de-árvore” (foto de Longino, 2004).

As crípticas operárias de movimentos lentos constroem seus ninhos no solo, em troncos apodrecidos ou envolvidos num pacote fúngico, que aderem a partes protegidas de barrancos ou próximos a troncos de árvores.

Figura 25. Operária de Apterostigma (foto de Longino, 2004).

Gênero Cyphomyrmex Mayr As formigas do gênero Cyphomyrmex estão divididas em dois grupos de espécies: rimosus (Figura 26) e strigatus. Elas também são habitantes crípticos da serapilheira, constantemente coletadas em extratores de Winkler. Cabe comentar que a coleta de C. strigatus Mayr foi uma importante aquisição, pois, apesar de ser uma espécie de ocorrência conhecida no Rio de Janeiro (Kempf, 1972), ainda não tinha sido depositado nenhum exemplar no acervo da Coleção Entomológica Costa Lima da UFRRJ.

Figura 26. Operária de Cyphomyrmex rimosus (foto de Longino, 2004).

As Formigas Raras Em inventários de formigas de serapilheira na Mata Atlântica, o número de formigas consideradas raras é sempre elevado. Aqui será comentada e ilustrada somente uma pequena fração deste grande grupo, que tem espécies classificadas abaixo dos 10% de freqüência nas amostras. (74)


Antes, cabe ressaltar que o próprio conceito sobre o que é raro e o que é comum, varia segundo a opinião de cada pesquisador. A intensificação do uso de extratores de Winkler parece mostrar que não existe formiga rara, desde que sejam utilizadas técnicas de coleta adequadas.

ou mortos, mas parece que não são capazes de escavar a madeira e suas colônias são relativamente pequenas, nunca excedendo algumas dezenas de indivíduos. Gênero Thaumatomyrmex Mayr Em situação semelhante a Amblyopone, a literatura é escassa sobre este pequeno gênero de formigas predadoras. Ele também não tinha ocorrência constatada para o Rio de Janeiro, até ser encontrado na amostragem do Tinguá (Ferreira, 2003). A forma das mandíbulas (Figura 30) também não deixa dúvidas quanto ao hábito predador de suas operárias que, no caso de T. mutilatus, são especializadas para capturar diplópodes polixinideos (Brandão et al. 1991).

Subfamília Ponerinae Gênero Amblyopone Erichson Este é um pequeno gênero, representado por 10 espécies na região Neotropical (Kempf, 1972). Pela forma das mandíbulas (Figura 27) não parece caber dúvida que suas operárias sejam predadoras, mas pouco é conhecido sobre seus hábitos; são formigas muito pequenas, raramente coletadas.

Subfamilia Myrmicinae Gênero Octostruma Forel

Antes do inventário na Reserva Biológica do Tinguá (Ferreira, 2003), sua ocorrência não tinha sido constatada no Estado do Rio de Janeiro. As duas espécies coletadas na RFVC são as mesmas do Tinguá; aparentemente são próximas de A. elongata e/ou A. armigera, ambas já encontradas no Estado de São Paulo.

O gênero Octostruma da tribo Basicerotini (Figura 31) está restrito aos trópicos do Novo Mundo, distribuído entre o sul do México e o norte da Argentina (Brown & Kempf, 1960). Faz parte da fauna criptica da serapilheira por serem formigas pequenas e de movimentos lentos; além disso, algumas espécies se camuflam com camadas de terra que grudam sobre várias partes do corpo.

Gênero Discothyrea Roger As formigas do gênero Discothyrea (Figura 28) são habitantes cripticos da serapilheira e extremamente pequenas. Apesar de operárias e rainhas do gênero serem freqüentemente encontradas nos inventários com extratores de Winkler, nunca são numericamente abundantes nas amostragens e são difíceis de coletar com qualquer outra técnica. Elas são predadoras especializadas em ovos de artrópodes, particularmente de aranhas (Dejean & Dejean, 1998).

Estas características comportamentais dificultam a visualização para a captura das operárias no campo, tanto que até recentemente eram consideradas formigas raras. Porém, o uso crescente de extratores de Winkler mostrou que ele é um gênero relativamente comum em florestas úmidas neotropicais. As colônias são construídas em madeira apodrecida ou na serapilheira e as operárias são predadoras de pequenos artrópodes de corpo mole (como, por exemplo, colembolos).

Gênero Pachycondyla Fr. Smith Pachycondyla crenata (Roger) tem ampla distribuição geográfica e foi coletada somente na área próxima a sede da RFVC; o que poderia indicar que é uma espécie rara no Rio de Janeiro. Entretanto, Longino (2004) comentou que ela é uma forrageadora arborícola muito comum na Costa Rica e pode ser particularmente abundante em florestas secundárias. Suas operárias nidificam em cavidades de ramos vivos

Gênero Tetramorium Mayr Das quatro espécies de Tetramorium registradas por Kempf (1972), duas têm ocorrência constatada no Rio de Janeiro: T. guineense (Fabricius) e T. simillimum (Fr. Smith). Longino (2004) chamou a atenção para a semelhança entre esta última (Figura 32) e Wasmannia auropunctata. (75)


O gênero é formado por espécies cosmopolitas, espalhadas pelo comércio, sendo frequentemente encontradas invadindo construções (um hábito também compartilhado com W. auropunctata) e, por isto, também incluídas entre as sinantrópicas formigas “vagabundas” (tramp ants). Figura 31. Operária de Octostruma iheringi: tribo Basicerotini (Longino, 2003).

Devido esta classificação entre as formigas sinantrópicas, sua presença na RFVC poderia ser preocupante. Entretanto, o registro de um único indivíduo na amostragem indica que ela está representada em pequeno número na área e, portanto, não parece ser um problema.

Figura 32. Operária de Tetramorium simillimum: tribo Tetramoriini (Longino, 2004)

3.5. Comparação com as Formigas de Serapilheira da ReBio Tinguá

Figura 27. Operária de Amblyopone degenerata (foto de Longino, 2004).

Figura 28. Operárias de Discothyrea: a. D. sp; b. D. humilis (foto de Longino, 2004).

Um dos resultados principais da amostragem na RFVC é, sem dúvida, a obtenção de dados para fazer a primeira comparação entre dois inventários na Mata Atlântica fluminense. A partir de agora será possível fazer uma análise mais acurada da estrutura da comunidade deste importante grupo de insetos, visando sua futura utilização como bioindicadores da recuperação de fragmentos florestais no Estado do Rio de Janeiro. Cabe novamente ressaltar que o Tinguá representa nosso atual padrão para formigas de serapilheira, cuja amostragem foi realizada em local bem distante da borda daquela reserva (conhecido como Barrelão). Espera-se, portanto, que a lista de formigas do Tinguá esteja bem próxima da verdadeira composição de espécies de serapilheira para o Rio de Janeiro.

Figura 29. Operária de Pachycondyla crenata (foto de Longino, 2004).

Ainda que uma simples análise visual possa não ser suficiente para permitir determinadas inferências, pode-se afirmar que provavelmente a topografia e a pressão antrópica sejam as principais variáveis notavelmente diferentes entre a Vista Chinesa e o Barrelão no Tinguá. Entretanto, apesar dos dois inventários terem sido realizados na mesma época do ano (fevereiro), durante o início da peneiração das primeiras 25 amostras de serapilheira na RFVC,

Figura 30. Operária de Thaumatomyrmex atrox (foto de Longino, 2004).

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fortes pancadas de chuvas cairam sobre a área, o que não aconteceu no Tinguá. O efeito da precipitação pluviométrica sobre a formicifauna de serapilheira pode ser observado no gráfico de captura de individuos (Figura 33) que teve uma eficiência reduzida para números abaixo de 40 individuos/m2. Esta redução coincide com as chuvas que cairam no momento em que estavam sendo peneiradas as amostras 4, 5, 7 e 8. No Tinguá (Figura 34), somente em uma amostra das primeiras 25 foi coletado um pequeno número de individuos (47), mas a média de captura foi de 167,8 indivíduos/m2, maior do que a observada na Vista Chinesa (89,5 individuos/m2); esta diferença é visualmente clara nos gráficos (Figuras 33 e 34). No total, contabilizando as 50 amostras, as médias de captura também foram notavelmente distintas: 117,8 (Vista Chinesa) e 159,7 individuos/m2 (Tinguá). Devido a esta diferença nas médias de captura, era de se esperar que os números totais de individuos coletados nas 50 amostras de cada inventário, também fossem diferentes. Isto de fato ocorreu, a Vista Chinesa e o Tinguá apresentam distintas abundâncias de formigas: 5.899 e 7.987 espécimes coletados, respectivamente.

Figura 33. Abundância de formigas por amostra de 1m2 de serapilheira (amostras 1-25). Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, 09/02/2004.

Figura 34. Abundância de formigas por amostra de 1m2 de serapilheira (amostras 1-25). Reserva Biológica do Tinguá, Nova Iguaçu, RJ, 04/02/2002.

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Figura 35. Curva não aleatorizada da acumulação de espécies de formigas de serapilheira coletadas em 25 parcelas de 1m² (entre os pontos 1 e 13), submetidas ao extrator de Winkler por 48 horas (Floresta da Tijuca, Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, 09/02/2004).

Apesar da pequena diferença observada na composição dos gêneros, comparando os números totais de espécies e de gêneros coletados em cada um dos inventários, a Vista Chinesa (91 spp e 36 gêneros) também se mostra muito semelhante ao Tinguá (96 spp e 40 gêneros). Estas diferenças numéricas são tão pequenas que, mesmo sem um tratamento estatístico dos dados, pode-se dizer que existe uma grande similaridade entre estas duas áreas de Mata Atlântica. As médias da densidade de espécies (número de espécies coletadas por metro quadrado) também foram muito similares, ficando em torno de 16 e 15 spp/m2, respectivamente para a Vista Chinesa e o Tinguá. Das cinco espécies mais comuns na Vista Chinesa, somente a de Gnamptogenys não é a mesma espécie mais comum das Gnamptogenys do Tinguá. Por outro lado, doze gêneros não foram encontrados na serapilheira da RFVC, porém, três (marcados com asterisco) foram capturados pelo método de coleta direta: Acanthoponera, Acromyrmex*, Acropyga, Camponotus*, Carebara, Leptothorax, Mycetarotes, Monomorium, Nomamyrmex, Lachnomyrmex, Leptogenys e Procryptocerus*. O contrário também ocorreu, isto é, cinco gêneros coletados na Vista Chinesa não foram encontrados no Tinguá: Cerapachys, Labidus, Oligomyrmex, Oxyepoecus e Tetramorium. Uma análise comparativa das guildas de formigas de serapilheira do Tinguá e da Vista Chinesa, utilizando a Bahia como padrão para a comparação, mostra que os percentuais de presença dos gêneros no Rio de Janeiro são altos (Quadro 2). Isto indica que os grupos funcionais de formigas da serapilheira nas duas reservas estão estruturados de maneira muito semelhante ao que já foi observado em áreas de Mata Atlântica na Bahia.

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Quadro 2. Comparação entre as guildas de formigas de serapilheira de Mata Atlântica, com base na proposta de Delabie et al., 2000 (obs.: percentuais foram calculados usando as guildas da Bahia como padrão para a comparação).

Percentuais diferentes foram observados em quatro guildas (1, 2, 5 e 8) e, além disso, não foram capturados os dois componentes da guilda 6 (Acropyga e Tranopelta). Entretanto, três gêneros que ocorrem na serapilheira da Bahia e também não foram encontrados na amostragem da Vista Chinesa, foram coletados por métodos diretos: Acromyrmex, Azteca e Camponotus. 3.6. Comparação entre as Duas Metades do Transecto Os resultados confirmaram a suspeita de existirem diferenças entre a primeira metade do transecto (TR1), próxima à sede da RFVC, e a metade final (TR2), na área de altitude mais elevada (ver Tabelas 1 e .4 em Resultados). De fato algumas espécies foram exclusivamente coletadas em uma das metades, mas como este fenômeno também ocorreu no transecto do Tinguá, é impossível garantir que tais diferenças sejam ou não fruto de um efeito de borda, pela presença da Estrada da Vista Chinesa na área próxima à sede. Na amostragem por métodos diretos ficou muito evidente a maior captura de espécies em TR2, porém isto pode ter acontecido mais pela influência de algumas limitações deste método de amostragem, conforme será discutido em Relação Formiga X Planta. O que se pode confirmar é que a peneiração de 50 amostras deve ser o esforço mínimo para um inventário de formigas de serapilheira na Mata Atlântica do Rio de Janeiro. Caso a amostragem fosse limitada ao TR1, teriam sido capturadas 68 espécies, ou seja, as 23 exclusivas de TR2 não seriam coletadas. Ao contrário, em uma amostragem limitada ao TR2, deixariam de ser coletadas as 17 espécies exclusivas de TR1. Esta perda de informação pode ocultar elementos importantes para o entendimento de como as guildas da serapilheira estão estruturadas. 3.7. Relação Formiga x Planta Apesar dos métodos de coleta utilizados, para cumprir esta meta do projeto, terem proporcionado a captura de um grupo de formigas raramente amostrado com extratores de Winkler, a coleta direta tem sérias limitações.

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Coletas por métodos diretos são seletivas, fortemente influenciadas pela acuidade visual e destreza do coletor, resultando em uma menor quantidade de informação biológica. Esta redução no poder de informação é notável quando comparada com a eficiência dos extratores de Winkler. Além disso, em 10 pontos de amostragem não foram observadas formigas em atividade; somente sob esta limitação da técnica de coleta deixou-se de registrar a informação de 20% do total de 50 amostras.

Quantidade de terra, para a escavação de suas enormes câmaras e longas galerias subterrâneas. Devido existirem relatos de casos de construções que tiveram alicerces comprometidos pela instalação e ampliação de sauveiros, não parece absurdo imaginar que isto também possa acontecer com árvores. Entretanto, além da literatura carecer de referências sobre a ação de saúvas na derrubada de árvores, não foram observadas evidências de que as atividades destas formigas tenham ocasionado a queda de árvores na RFVC; aliás, chama a atenção que não foram encontradas saúvas no inventário.

O maior número de espécies coletadas com esta técnica na metade TR2 do transecto, provavelmente seja uma característica do próprio ambiente. Em um longo trecho daquela área da reserva o tipo de vegetação, mais esparsa e/ou arbustiva, permite a incidência de maior luminosidade e isto pode ter contribuído para melhorar a visualização das formigas pelos coletores.

A queda de algumas árvores em florestas é um fenômeno comum e, quando ocorre em pequeno número, como é o caso na RFVC e no Tinguá, não indica que isto possa ser efeito de qualquer perturbação no ambiente. Aparentemente, as condições topográficas e edáficas da Vista Chinesa são fatores a serem considerados para explicar a queda de árvores.

Por outro lado, a relativa pequena atividade de formigas sobre a vegetação foi explicada por Bestelmeyer et al. (2000): nas regiões tropicais a umidade das florestas diminui em determinados períodos, como geralmente acontece nos invernos secos do sudeste brasileiro. Nesta estação do ano, algumas formigas epigeicas aprofundam seus ninhos no solo, em busca de maior umidade, porém muitas passam a forragear sobre a vegetação, aumentando o fluxo destes insetos neste extrato da floresta.

4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Este projeto proporcionou a obtenção de dados fundamentais para a ampliação dos conhecimentos sobre formigas de serapilheira da Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro. Pela estrutura das guildas, pelo padrão da curva de acumulação de espécies capturadas e, também, pelo número de espécies e de gêneros capturados, pode-se afirmar que existe grande semelhança entre a formicifauna de serapilheira da RFVC e da ReBio Tinguá (nosso padrão de comparação).

Ao contrário, os protocolos de coleta para formigas de serapilheira recomendam que os extratores de Winkler sejam utilizados em períodos chuvosos, exatamente para aumentar a eficiência da amostragem das formigas epigeicas que, nesta época, passam a forragear com maior intensidade na serapilheira.

Os registros de presença e de abundância de espécies não mostram anormalidade, isto é, nenhuma das populações de formigas está presente em quantidade anormal, o que indica um equilíbrio entre as guildas da RFVC. Neste contexto, chama positivamente a atenção que também não foi percebida qualquer anormalidade, mesmo no caso das formigas conhecidas como “vagabundas” (tramp ants,como Wasmannia auropunctata), que costumam ampliar suas populações em áreas antropizadas (Souza, 2003).

3.8 Formigas em Árvores Caídas Nenhuma das formigas coletadas em troncos apodrecidos e a única em árvore caída (Hypoponera sp1) tem reconhecida sua capacidade para derrubar árvores. Mesmo sem registro bibliográfico, talvez as únicas formigas capazes de abalar uma árvore seriam as saúvas que, ao construirem seus ninhos, retiram grande. (80)


A eficiência dos extratores de Winkler foi notavelmente superior, quando comparada com as informações sobre as formigas da RFVC conseguidas pelos métodos de coleta direta. Pelas médias das estimativas de riqueza (Jacknife e Chão), o inventário foi capaz de detectar a presença de 82 e 68% das espécies de formigas da RFVC, respectivamente para a serapilheira e vegetação.

Vista Chinesa e em outras áreas do Estado do Rio de Janeiro. Particularmente no caso da RFVC, seria importante conhecer a fauna de formigas epigeicas ao longo da Estrada da Vista Chinesa, diversificando as técnicas de coleta e as épocas do ano, para utilizar os conhecimentos já disponíveis no monitoramento da pressão antrópica nesta área de conservação ambiental. Apesar de não estar diretamente embasada nos dados sobre formigas, outra recomendação é que seja estudada a possibilidade de reflorestar, com espécies da Mata Atlântica, a área entre os pontos de coleta 15 e 20 (“mata de candeia”, ver Figura 1 em Procedimentos Metodológicos).

Existe uma teórica incompatibilidade entre as duas técnicas de coleta utilizadas. Enquanto os extratores de Winkler devem ser empregados em períodos chuvosos, a amostragem de formigas arborícolas no sudeste brasileiro deveria ser realizada preferencialmente nos invernos secos. Estreitamente relacionado ao parágrafo anterior, cabe ressaltar que as chuvas que caíram durante as expedições de coleta impossibilitaram observações mais detalhadas sobre as relações formiga x planta. Porém, os dados obtidos na serapilheira são suficientes para duas publicações em revistas científicas (em preparação): a primeira sobre as formigas da RFVC e outra, comparando este inventário com o da ReBio Tinguá. A suspeita sobre a ação de formigas como responsáveis pela derrubada de árvores na RFVC carece de respaldo bibliográfico. Além disso, as observações sobre as espécies de formigas encontradas sobre troncos indicam que estes insetos não foram responsáveis pela queda de árvores. As informações obtidas sobre formigas de serapilheira da RFVC serão fundamentais para novas comparações, visando o monitoramento de outros fragmentos da Mata Atlântica fluminense. No momento está sendo processado um volumoso material da ReBio Tinguá, coligido ao longo de dois anos de amostragem (50 amostras em cada estação dos anos de 2002 e 2003, totalizando 800 amostras), para investigar o efeito da sazonalidade sobre as populações de formigas de serapilheira e melhorar as estimativas de riqueza de espécies. Neste sentido, é recomendável a busca de recursos para implementar novos projetos na (81)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LEVANTAMENTO DA ABUNDÂNCIA, COMPORTAMENTO E ESTRUTURA GENÉTICA DO CAXINGUELÊ (SCIURUS AESTUANS), ESPÉCIE COMUM A TODOS OS MUNICÍPIOS DO RIO DE JANEIRO

1.INTRODUÇÃO

As espécies neotropicais foram muito pouco estudadas. Entre os escassos trabalhos destacase o de Heaney & Thorington (1978) sobre Sciurus granatensis, o esquilo neotropical cujos aspectos da história natural são mais bem conhecidos. Para a única espécie de esquilo da Mata Atlântica (Sciurus aestuans) estudos pontuais começam a elucidar alguns aspectos de sua ecologia, como o de Paschoal & Galetti (1995) sobre comportamento alimentar; o trabalho de Bordignon & Monteiro-Filho, (1997) sobre posturas, atividade diária e outros aspectos do comportamento da espécie em cativeiro, além de estudos sobre abundância e conservação das populações em fragmentos florestais (Chiarello, 1999; Cullen Jr. et al., 2000). Entretanto, várias lacunas existem a respeito do conhecimento da história natural, conservação, e manejo da espécie. Logo, torna-se evidente a necessidade de pesquisas sobre as características ecológicas gerais da espécie além de estudos sobre a relação com outras espécies e tendências de abundância e tamanho populacional nos locais onde o caxinguelê ocorre. Desta forma, este estudo inédito pretende preencher algumas dessas lacunas.

A família dos esquilos (Rodentia:Sciuridae) compreende cerca de 50 gêneros e 265 espécies no mundo, sendo apenas 4 gêneros e 19 espécies endêmicos da região neotropical (Emmons & Feer, 1997). Os esquilos e os demais roedores granívoros de pequeno porte são os principais agentes predadores e dispersores de sementes e frutos em florestas tropicais (Brewer & Rejmánek, 1999), e contribuem significativamente para a aceleração dos processos de regeneração florestal (Wunderle, 1997). Aspectos da história natural e interações ecológicas foram amplamente estudados para as principais espécies do hemisfério norte, entretanto pouco se sabe sobre a ecologia de espécies neotropicais. Os esquilos de países temperados foram detalhadamente pesquisados quanto ao comportamento, dinâmica populacional, interações ecológicas, além de estudos relacionados à fragmentação de ecossistemas, conservação e manejo das espécies. Dentre os diversos estudos podemos citar, sobre ecologia de paisagem e modelagem com sistemas de informação geográfica SIG, os trabalhos de Gurnell et al. (2002), Zollner (2002), e Macdonald & Rushton (2003); sobre fragmentação florestal, Delin & Andren (1999); uso do habitat e gradientes urbano-rurais, Browers & Breland (1996), Derge & Yahner (2000) e Spritzer (2002); área de vida, Cargin et al. (2000); dinâmica de populações e disponibilidade de recursos, Magris & Gurnell (2002), e Gurnell (1996); comportamento social, Riege (1991); antipredação, Summer & Proctor (1999); padrões de vocalização, Smith (1978); interação com parasitas, Tompkins et al. (2002); técnicas de captura e manuseio, Arenz (1997) e Koprowski (2002); avaliação de metodologias para estimativa de densidade, Healey & Welsh (1992); além de estudos sobre a dinâmica de esquilos invasores (Sciurus carolinensis) no Reino Unido, Usher et al. (1992), e Fitzgibbon (1993); e manejo de espécies nativas Stone et al. (1996) e Shuttleworth (1999); entre outros trabalhos menos relevantes.

O objetivo deste trabalho foi evidenciar, através do armadilhamento e censos visuais, na área da Reserva Florestal da Vista Chinesa (RFVC), Maciço da Tijuca, RJ, aspectos do comportamento alimentar, uso do habitat, estratificação vertical, utilização de suportes e interações ecológicas da espécie, assim como coletar tecido para futuras análises genéticas, traçar perspectivas para a conservação e manejo, além de propor técnicas para o estudo in situ de Sciurus aestuans. 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 2.1. Armadilhagem Foram montadas um total de 4.170 armadilhas/noite para a captura do caxinguelê, assim como dos demais pequenos mamíferos ocorrentes na Reserva Florestal da Vista Chinesa RFVC. Visando aumentar a probabilidade de captura de Sciurus aestuans, dois terços das armadilhas utilizadas foram do (85)


tipo gaiola (modelo Tomahawk), na qual geralmente ocorrem as capturas de S. aestuans (ver Ollifiers, 2002; e Grelle, 2003). As outras armadilhas utilizadas foram do tipo Shermam. Metade das armadilhas Tomahawk foram montadas no chão, e a outra metade no subbosque da floresta, objetivando cobrir os principais estratos ocupados por este roedor escansorial.

alternativamente, na outra metade das armadilhas Tomahawk, foi utilizada uma isca composta por pinhão (semente do Pinheiro-doParaná, Araucaria angustifolia) e castanha-doPará (semente da castanheira, Bertholetia excelsa). Bordignon & Monteiro-Filho (1997) relatam uma aparente preferência por pinhão, por parte de serelepes vivendo em cativeiro e alimentados ad libtum. Ambas são espécies nativas do Brasil, e foram utilizadas também por serem amplamente comercializadas em todo o país, permitindo entre outras finalidades a replicabilidade deste estudo.

As armadilhas ficaram montadas entre 26 de março e 21 de abril de 2004, em quatro transectos de armadilhagem seguindo trilhas pré-existentes na área. A primeira (A) a partir da escada atrás da sede, seguindo à esquerda em direção ao Alto da Boa Vista. O segundo transecto (B) foi estabelecido na trilha do divisor de águas do morro acima da sede da RFVC, terminando na extremidade da RFVC, junto à placa de demarcação. A trilha para a Gruta Geonoma foi usada para armadilhagem do terceiro transecto (C). E finalmente, em uma trilha pré-existente, paralela a estrada da Vista Chinesa (cerca de 10m de distância) foi montado o quarto transecto de armadilhas (D), este com onze estações de armadilhagem, e os três demais com vinte estações. As armadilhas foram checadas preferencialmente duas vezes ao dia, pela manhã (06:30h às 10:00h) e à tarde (15:00h às 18:00h). Entretanto, devido a dificuldades logísticas, em alguns dias as armadilhas foram checadas apenas uma vez por dia.

2.3. MANUSEIO DOS INDIVÍDUOS Em trabalhos que envolvem a captura dos serelepes não é raro relatos de morte do animal por estresse. Uma alternativa para evitar esta injúria é a aplicação de anestésicos veterinários à base de quetamina para manipulação do indivíduo. Entretanto, estas substâncias podem causar sérios danos aos indivíduos como convulsões, letargia, desequilíbrios e desfalecimentos de até 6 horas, como verificado por Arenz (1997) para ciurídeos norteamericanos. Por este motivo, o manejo dos indivíduos capturados foi feito com saco de contenção especificamente desenhado para manipulação de esquilos (baseado em Koprowski, 2002). Devido ao maior tamanho de corpo das espécies norte-americanas estudadas por Koprowski, (2002), quando comparadas ao esquilo na Mata Atlântica, foram reduzidas as medidas de comprimento e altura cerca de 20%, e o espaçamento entre as fitas de velcro perpendiculares de 20cm para 15cm.

2.2. ISCA A baixa frequência ou a não captura (mesmo em locais onde fora avistado) do caxinguelê em outros estudos na Mata Atlântica (ver Ollifiers, 2002; Grelle, 2003; Cunha & Rajao, subm.) pode estar relacionada, entre outros fatores, à pouca atratividade da isca utilizada nestes estudos para Sciurus aestuans, geralmente uma mistura padrão (pasta de amendoim, banana, bacon, e aveia), embora seja uma isca eficiente para captura de pequenos mamíferos em geral.

Após imobilizado no saco de contenção, o indivíduo foi pesado, observado quanto ao sexo e condição reprodutiva e marcado com um brinco individual numerado. Amostras do tecido auricular dos indivíduos foram coletadas e armazenadas em etanol absoluto para futuras análises genéticas. Em um dos indivíduos foi aplicado o carretel de rastreamento, de acordo com Cunha & Vieira (2002). Após este procedimento padrão, os animais foram liberados no solo e observados quanto à rota de fuga, se pelo solo ou árvore.

Para testar a eficácia de captura, foram utilizados dois tipos de isca: 1) a mistura padrão em todas as armadilhas Shermam (chão), e em metade das armadilhas Tomahawk (chão e sub-bosque); e 2) (86)


2.4. Censos Os censos tiveram início entre 06:00h e 07:30h e fim entre 10:30 e 12:00h, três censos preliminares foram realizados em fevereiro e março, e a maior parte do esforço amostral entre junho e outubro de 2004, percorrendo um total de 100,4 km. Os censos foram realizados ao longo de 7,7 km da Estrada da Vista Chinesa, percorrido de bicicleta à uma velocidade média de 3,5 km/h, utilizando a metodologia de transectos-lineares (sensu Buckland et al., 1993) Foram feitas observações sobre o uso de suportes, estratificação vertical na floresta, comportamento alimentar, além de tomadas medidas para estimativa de índices de abundância relativa e densidade do caxinguelê no Maciço da Tijuca (Tabela 1). Observações sobre interações sociais e interespecíficas também foram registradas. Em avistamentos de mais de um indivíduo, o primeiro visualizado foi selecionado como indivíduo focal (sensu Altman, 1974) para as anotações sobre uso de suportes e estratificação vertical. Para a análise do comportamento alimentar, cada item consumido por cada indivíduo foi considerado como uma observação exclusiva. Para as análises relativas à estratificação vertical e horário de atividade, foram acrescentados dados de censos realizados no Parque Nacional da Serra dos Órgãos PNSO, entre outubro de 2003 e maio de 2004. O horário de atividade foi calculado levando-se em conta o número de observações relativo ao esforço amostral dispendido em cada intervalo de duas horas (6-8h; 8-10h; 10-12h), minimizando desta forma possíveis resulltados equivocados por artefato amostral.

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As comparações foram feitas com o teste do qui-quadrado bicaudal, adimitindo como significativos os valores de P menores ou iguais a 0,05 e utilizando a correção de Yates quando necessário. 3. RESULTADOS Durante a sessão de armadilhagem ocorreram quatro capturas de dois indivíduos adultos (Tabela 2). Nos censos ocorreram oito visualizações do caxinguelê. Adicionalmente, foram registradas seis observações casuais da espécie ao longo da Estrada da Vista Chinesa durante o período de estudo. Considerações baseadas nos dados coletados são apresentadas a seguir:

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Tabela 2: Capturas de Sciurus aestuans, na Reserva Florestal da Vista Chinesa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

3.1. Armadilhas Os resultados obtidos neste estudo demonstram que as ferramentas necessárias para estudos com captura de Sciurus aestuans são mais específicas, dentre as usualmente utilizadas para estudos com pequenos mamíferos em geral. A armadilha Tomahawk foi a única eficaz para capturar o caxiguelê. As quatro capturas ocorreram exclusivamente neste tipo de armadilha (Figura 1). Este modelo é também o mais utilizado em estudos de captura, marcação e recaptura de ciurídeos do hemisfério norte (Arenz, 1997; Koprowski, 2002). Constata-se, portanto, que armadilhas do tipo gaiola, com gatilho por plataforma (modelo Tomahawk), são as mais recomendadas para a captura dos serelepes.

Figura 1: S. aestuans (indivíduo AAC 35) capturado em armadilha modelo Tomahawk, no sub-bosque da RFVC, Maciço da Tijuca, RJ. (Foto Henrique Rajão).

3.2. Estratos Amostrados As armadilhas colocadas acima do solo foram mais eficientes para a captura dos indivíduos, quando comparadas com aquelas dispostas no chão da floresta. Neste estudo, três das quatro capturas foram nas armadilhas dispostas acima do solo (1,5 - 3m de altura) e uma única no solo. Em estudo realizado na Mata Atlântica do Parque Estadual do Rio Doce, MG, Grelle (2003) capturou Sciurus somente acima do solo. O elevado sucesso de captura em armadilhas acima do solo evidencia a necessidade da amostragem no estrato arbustivo e arbóreo para estudos in situ da espécie. 3.3. Manuseio dos IndivÍDuos A utilização do saco de contenção adaptado a partir de Koprowski (2002) foi absolutamente efciente para o manuseio dos indivíduos. A imobilização dos indivíduos deu-se com a compressão das fitas de velcro perpendiculares, uma sobre os membros posteriores, tentando mantê-los comprimidos, e outra logo abaixo do pescoço. O velcro transversal permitiu então, acesso a todas as partes do corpo do indivíduo. A sexagem, coleta de tecido e aplicação do brinco de identificação demorou cerca de dez minutos, e uma das vezes foi feita por um único pesquisador, o que demostra a eficiênia deste método para o manuseio e (88)


tomada de procedimentos comuns em estudos populacionais. Após a tomada dos dados necessários, os velcros perpendiculares foram abertos, assim como o transversal, permitindo a saída do animal, que em todas as vezes ocorreu prontamente, demonstrando que nenhum dano ou sequela foi deixado pelo método empregado. Desta forma indico a utilização deste saco de contenção para o manuseio de indivíduos de Sciurus aestuans, sendo descartado o uso de qualquer tipo de anestésico.

C) A coleta de sangue foi descartada, devido a baixa concentração de DNA neste tecido, em mamíferos, sendo recomendada a coleta de outros tecidos (Dessauer et al. 1996). Foi considerado também que a necessidade de coletar entre 0,5ml e 1ml de sangue, poderia ser prejudicial ao indivíduo, dado seu pequeno tamanho de corpo, e sua potencial dificuldade de coagulação, podendo causar injúrias significativas aos animais. A coleta do tecido cartilaginoso foi feita com sucesso, os indivíduos não reagiram ao pequeno corte na orelha e fugiram prontamente após liberados, não apresentando sinais de sequela ou dano físico. D) O tecido coletado compõem material suficiente para estudos iniciais de caracteristicas genéticas da espécie e da população em questão. Estudos genéticos do caxinguelê são de extrema importância em diferentes escalas. A estrutura genética pode ser analisada em nível de espécie (em toda sua distribuição geográfica), em nível de uma região biogeográfica mais retrita, em um nível regional ou de paisagem, dentro de uma pequena população, e até mesmo em um nível de parentesco entre indivíduos de uma mesma área.

3.4. Isca A utilização de uma isca alternativa à mistura geralmente utilizada foi fundamental para a captura do caxinguelê. Todas as capturas foram feitas com a isca alternativa à mistura padrão. Sementes e/ou frutos secos parecem ser especialmente atrativos para a espécie, como sugerido por Bordignon & Monteiro-Filho (1997) para o pinhão (Araucaria angustifolia), e o coquinho Syagrus romanzoffiana. A isca composta por castanha do Pará (Bertholetia excelsa) e pinhão (Araucaria angustifolia) é particularmente indicada, pela eficácia comprovada neste estudo e pela fácil disponibilidade no mercado.

E) Numa escala continental, as análises genéticas podem complementar análises morfológicas em um trabalho de revisão do gênero e da espécie, na possível distinção e elevação, ou não, das subespécies do caxinguelê (S. aestuans), ao nível de espécies. No realizado por Wettstein et al. (1995) foram comparadas as sequências gênicas do citocromo b mitocondrial de seis sub-espécies de Sciurus alberti dos Estados Unidos e México, e estabelecida uma filogenia com três grupos distintos de sub-espécies. Logo, está técnica parece adequada para estudos futuros sobre especiação incipiente. As amostras coletadas neste estudo servem ainda como material para análises filogenéticas do grupo dos ciurídeos, a partir de comparações com sequências já descritas para outras espécies e depositadas em bancos de dados virtuais, sendo o principal deles o “Gene Bank” (www.ncbi.nlm.nih.gov), onde encontram-se sequências genéticas de outras.

A) 3.5.Coleta de Tecido para AnÁLises GenÉTicas b) Visando permitir futuras análises genéticas da espécie e da(s) população(ões) do Maciço da Tijuca, foram coletadas amostras do tecido auricular dos dois indivíduos capturados. Os estudos de genética de populações são demasiadamente demorados, trabalhosos e onerosos. Por restrições de tempo, e pela necessidade de otimizar os recursos diponíveis, o material genético coletado não foi analisado, mas permanece adequadamente armazenado para estudos futuros. As amostras foram fixadas em etanol absoluto e estão depositadas no banco de tecido do Laboratório de Vertebrados, Departamento de Ecologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com números de depósito (AAC 31; e AAC 35).

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espécies do grupo como, Sciurus aberti, S. carolinensis, S. granatensis, S. griseus, S. ignitus, S. lis, S. niger, S. stramineus, S. vulgaris, assim como do próprio caxinguelê (S. Aestuans)

3.6. Carretel de Rastreamento A utilização do carretel de rastreamento é eficaz para a descrição do uso do espaço por espécies de pequenos mamíferos escansoriais (Cunha & Vieira, 2002). Entretanto, para espécies que utilizam na maior parte dos seus deslocamentos os estratos acima do solo, o acompanhamento da linha e medição dos estratos e suportes utilizados pode tornar-se difícil ou até impossível, caso a linha não seja visualizada nos estratos acima do solo.

O material genético coletado neste estudo permitirá ainda análises comparativas da variabilidade genética da população do Maciço da Tijuca, em relação a outras populações da espécie na Mata Atlântica. Barratt et al. (1999) comparando populações de Sciurus vulgaris no Reino Unido e Europa, através da técnica de sequencia da região controle do DNA mitocondrial (em inglês “mtDNA control region sequence”), verificou alta variabilidade da diversidade genética nas localidades. Nenhum padrão filogeográfico foi observado, e a variabilidade encontrada foi melhor explicada por processos deriva genética.

O carretel de rastreamento foi aplicado no indivíduo AAC 31 (Figura 2). Entretanto não foi possível localizar a linha na copa das árvores após cerca de vinte metros de deslocamento do indivíduo. Uma alternativa quando a linha não é localizada na copa, é tentar localizá-la próxima ao chão caso o indivíduo realize deslocamentos de descida ao sub-bosque ou chão da floresta. Desta forma a linha foi procurada em um raio de cerca de vinte metros para tentar localizar o trajeto do animal, mas a linha não foi localizada. Isto pode indicar um hábito predominantemente arborícola da espécie. Este resultado demonstra também a ineficácia deste método para descrever os padrões de movimento desta espécie, particularmente em Floresta Ombrófila Densa de Encosta, como é o caso da área deste estudo. É possível que em áreas de vegetação aberta, de menor estatura, e/ou com declives menos acentuados o carretel de rastreamento seja eficaz para descrever os padrões de movimento da espécie. Entretanto, dada a fácil visualização dos indivíduos é possível descrever a utilização de suportes e do espaço vertical da floresta a partir da observação direta no campo, como foi realizado neste estudo.

Em uma escala espacial regional, o estudo de DNA “ fingerprint” de S. vulgaris feito por Wiegand & Schropfer (1997) demonstrou que, embora isoladas em dois pequenos fragmentos florestais da Alemanha, havia intercâmbio genético das populações, configurando provavelmente uma estrutura de metapopulações. Wauters et al. (1994), verificaram que a baixa variabilidade genética em pequenas populações isoladas de S. vulgaris está diretamente relacionada ao tamanho da população, evidenciando que a perda de variabilidade genética é uma ameaça as pequenas populações deste ciurídeo, e está mais ligada a um processo demográfico do que genético. Estudos como os citados acima poderão ser realizados para investigar o intercâmbio genético entre as populações dos fragmentos florestais do município do Rio de Janeiro e entorno. Assim como, para analisar a variabilidade genética da população do Maciço da Tijuca, fator fundamentalmente importante para traçar perspectivas sobre a conservação desta população, já que a variabilidade genética é um fator-chave para respostas evolutivas frente a mudanças ambientais. A partir de um desenho amostral bem delineado, a abordagem genética pode ser também uma ferramenta interessante para investigar a eficácia de corredores ecológicos ligando fragmentos florestais em comparação a fragmentos não conectados. (90)


anterior, e de um dos jovens com cerca de dois meses e meio de vida. O tempo de gestação e de amamentação de Sciurus aestuans provavelmente é semelhante aos relatados para S. carolinensis, de 44 dias de gestação (Nixon & McClain, 1975) e de seis a oito semanas de amamentação (Seton, 1929 apud Heaney & Thorington, 1978). Desta forma, a visualização do sub adulto 47 dias após a primeira visualização dos recém-nascidos, a cerca de 20m de distância, indica tratar-se da mesma ninhada.

Figura 2: Aplicação do carretel de rastreamento (sensu Cunha & Vieira, 2002) no indíviduo AAC 31, com a utilização do saco de contenção, adaptado de Koprowski (2002). (Foto Henrique Rajao).

No Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em 19 de outubro de 2003, foi observada uma interação típica de perseguição (sensu Bordignon & Monteiro-Filho, 1997) entre três indivíduos, aparentemente uma fêmea e dois machos disputando a liderança na fila de perseguição à fêmea. Finalmente, Bordignon & Monteiro-Filho (1997) relatam o nascimento de três filhotes de S. aestuans no mês de dezembro de 1995, em cativeiro, no Paraná, Curitiba.

3.7. COMPORTAMENTO REPRODUTIVO Durante o período de observação in situ dos comportamentos típicos de Sciurus aestuans, mais intensamente concentrados de julho a outubro de 2004, não foram registradas interações intraespecíficas típicas de comportamento reprodutivo (sensu Bordignon & Monteiro-Filho, 1997). Entretanto evidências regiStradas anteriormente na área de estudo (Maciel, comm. pess.) e no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Cunha, Obs. pess.), assim como aquelas relatadas por Bordignon & Monteiro-Filho (1997), são aqui reunidas no intuito de evidenciar padrões gerais do comportamento reprodutivo de Sciurus aestuans na Mata Atlântica.

De acordo com essas informações, pode-se sugerir que na Mata Atlântica, o comportamento de acasalamento de S. aestuans inicia-se no final do período seco, durando cerca de dois ou três meses, até o início da estação chuvosa, quando começam a nascer os primeiros filhotes, semelhante ao relatado por Heaney & Thorington (1978) para S. Granatensis.

Na Reserva Florestal da Vista Chinesa, aspectos do ciclo reprodutivo foram detalhadamente observados por Norma Crud Maciel, chefe do Serviço de Ecologia Aplicada, SEA-FEEMA. De acordo com esta pesquisadora, na primeira quinzena de dezembro de 2003, um casal de caxinguelês nidificou em um oco de tronco de uma embaúba (Cecropia sp.) morta, com abertura de cerca de 20cm de diâmetro, aproximadamente a cinco metros do solo, e relativamente isolada em relação as árvores a sua volta. Dois filhotes foram vistos fora do ninho pela primeira vez no dia 27 de dezembro. Em fevereiro de 2004, um indivíduo jovem foi visto próximo à sede, onde um adulto fora observado na semana anterior. Provavelmente tratava-se da fêmea adulta que nidificara em dezembro

3.8.Comportamento Social Os caxinguelês (S. aestuans) vivem a maior parte do tempo solitariamente. Durante o período deste estudo, ao longo da Estrada da Vista Chinesa, no Maciço da Tijuca, foram realizados quatorze avistamentos. Em doze destes registros os indivíduos estavam sozinhos. Em um dos outros avistamentos, dois indivíduos adultos foram observados alimentando-se do mesmo fruto de jaqueira (Artocarpus heterophyllus). No outro caso, quatro indivíduos estavam explorando os frutos de uma palmeira. Durante estas observações, os indivíduos estiveram por diversas vezes muito próximos (cerca de 30cm) uns dos outros, sem que nenhuma interação agonística tenha sido observada. (91)


Heaney & Thorington (1978) relatam para S. granatensis associações de três indivíduos machos adultos e até cinco subadultos alimentando-se na mesma planta-mãe. Os autores supracitados ressaltaram que o avistamento de indivíduos juntos é pouco frequente, e as interações sociais aconteceram somente no ritual do acasalamento, no cuidado materno, e em brincadeiras entre juvenis, além das associações alimentares relatadas. O mesmo parece acontecer para o esquilo da Mata Atlântica.3.9. AlimentaÇÃO e Frugivoria

detalhados para compreensão da guilda de frugívoros do Maciço da Tijuca.

O caxinguelê é tipicamente frugívoro, consome tanto frutos secos (em inglês “nuts”), como frutos carnosos (Paschoal & Galetti, 1995). A relação de frugivoria desta espécie engloba as interações de predação e/ou dispersão de sementes. Esta relação depende da parte consumida no fruto, do tamanho do fruto e do comportamento de estocagem do animal, pelo qual o esquilo enterra frutos para o consumo futuro. Alguns destes frutos, esquecidos no chão da mata, germinam posteriormente com maior probabilidade de estabelecimento, dado o distanciamento da planta-mãe, o que teoricamente diminui as taxas de predação e competição. Na tabela 3 estão relacionados os frutos da Mata Atlântica, e as respectivas partes consumidas por Sciurus aestuans, de acordo com os trabalhos já publicados, e com o presente estudo. Silva & Tabarelli (2001) argumentam que o caxinguelê (Sciurus aestuans) e a cutia (Dasyprocta spp.) são geralmente os únicos mamíferos dispersores de semente, em fragmentos de Mata Atlântica com a mastofauna depauperada. Este parece ser o caso do Maciço da Tijuca. Não foram feitos registros neste estudo, nem houve relatos recentes da presença da cutia, o que sugere uma abundância reduzida, ou mesmo a ausência desta espécie, neste fragmento. A ocorrência da paca (Agouti paca) na área de estudo, outra espécie importante dispersora de sementes, não foi registrada nos trabalhos de campo, embora tenha sido coletado um exemplar no ano de 1999, no bairro do Horto (depositada na coleção de mamíferos do Museu Nacional do Rio de Janeiro). Recomenda-se estudos mais (92)


Tabela 3: Frutos consumidos pelo Caxinguelê (Sciurus aestuans) na Mata Atlântica

A importância relativa dos itens consumidos pelo serelepe na RFVC, Maciço da Tijuca, diferiu claramente. A grande maioria dos itens alimentares registrados neste estudo foram frutos, embora tenha sido também registrada uma observação de forrageamento a procura de insetos (Figura 3), na qual o caxinguelê retirava à casca de um tronco morto. Dentre as plantas utilizadas como recurso alimentar destacaram-se as palmeiras, particularmente Astrocaryum aculeatissimus, representando dez dos quatorze frutos de palmeira consumidos por S. aestuans. Vale destacar que esta importância relativa está influenciada pelo período de estudo relativamente curto, e pelos baixos índices de avistamento e de observações sobre o comportamento alimentar. Desta forma, apesar da preferência por frutos de palmeira relatada nos estudos pretéritos (Emmons & Feer, 1997) ter sido confirmada neste estudo (Figura 1), a importância relativa de cada espécie de palmeira deve ser investigada mais detalhadamente em estudos futuros.

(93)


essencialmente importante investigar a complexidade e especificidade das interações de dispersão e predação das espécies de planta consumidas pelo caxinguelê, por sua especial relevância para o manejo do ecossistema como um todo. 3.10. PredaÇÃO sobre o CaxinguelÊ A predação é uma interação ecológica que contribui para a diminuição das populações das presas, no caso S. aestuans. A importância desta contribuição depende, entre outros fatores, da intensidade de predação, da especificidade do predador (amplitude da dieta) e da abundância ou tamanho populacional da própria população da presa. Embora uma análise detalhada e precisa desta interação requeira estudos detalhados, observações feitas sobre a predação em caxinguelês (Sciurus aestuans) na RFVC, Maciço da Tijuca, apoiadas por bibliografia pertinente, permitem algumas considerações sobre os predadores de caxinguelê e potenciais influências sobre a população deste roedor.

Figura 3: Frequência relativa dos itens alimentares consumidos por Sciurus aestuans na RFVC, Maciço da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, (n=21).

O papel de Sciurus aestuans como predador e dispersor de sementes na RFVC, Maciço da Tijuca, não pôde ser profundamente analisado neste estudo. Entretanto, algumas observações permitem uma avaliação preliminar destas interações. De acordo com Smythe (1986), a preponderância da dispersão sobre a predação está relacionada, entre outros fatores, à abundância de frutos da planta (recurso). A fenologia das palmeiras em geral apresenta um período de frutificação com elevada abundância de frutos distribuída em infrutescências (cachos). A grande quantidade de frutos diponíveis neste período permite não só a saciação imediata dos indivíduos que os consomem, mas também a estocagem de parte destes frutos para situações futuras. O processo de estocagem ao acaso (em inglês “scatter hoarding”) é comum entre os roedores frugívoros. Neste estudo, foi verificado o comportamento de estocagem para frutos de A. aculeatissimus, no qual, em quinze minutos de observação direta, um único caxinguelê removeu nove frutos desta palmeira, enterrando-os no folhiço na mata em direções variadas, distando de 6 a 8 metros da planta mãe. Este comportamento observado sugere que, ao menos para esta espécie de palmeira, e provavelmente para outras, o caxinguelê é um efetivo dispersor das sementes. Outro indivíduo foi observado consumindo frutos do cambucá (Plinia edulis). Nesta ocasião, o indivíduo removeu a polpa do fruto e roeu a testa, ou o endosperma da semente, atuando portanto como predador desta espécie. Desta forma, é

Nos censos realizados ao longo da Estrada da Vista Chinesa, foi observada uma tentativa efetiva de predação sobre S. aestuans por Cebus sp. (macaco-prego). Nesta, dois macacos-prego caçaram ativamente dois caxinguelês, um deles fugiu, enquanto que o outro foi cercado nas partes baixas da árvore no qual todos estavam. Com extrema habilidade e rapidez, o caxinguelê conseguiu encontrar uma rota de fuga e escapar desta tentativa de predação. Além do macaco-prego (Cebus sp.), outro predador efetivo de Sciurus aestuans no Maciço da Tijuca e entorno é o gato-doméstico (Felis catus). No ano de 1999, gatos domésticos foram observados consumindo e brincando com partes do corpo do caxinguelê no arboreto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (SAJB, 1999). A aparente rarefação de caxinguelês no arboreto foi relacionada ao aumento da população de gatos domésticos no local (SAJB, 1999). Magris & Gurnnell (2002) também registraram a predação do gato doméstico sobre o esquilo vermelho (Sciurus vulgaris) na Inglaterra. Estudos científicos detalhados, como os de (94)


Churcher & Lawton (1987) e Carss (1995) já evidenciaram altas taxas de predação de gatos domésticos sobre pequenos mamíferos no entorno de áreas florestadas. Além dos pequenos mamíferos, pássaros e répteis nativos também são mortos e consumidos por estes animais domésticos.

tempo, e dieta (Pianka, 1999). Em relação à dieta, o caxinguelê é frugivoro, e relativamente especialista (Paschoal & Galetti, 1995). Na RFVC e arredores (Maciço da Tijuca), a maior parte dos itens consumidos nas observações sobre comportamento alimentar foram frutos de palmeiras (Figura 3). Desta forma, em relação à dieta, parece não haver grande sobreposição entre Sciurus e seus potenciais competidores, especialmente dentro do grupo de mamíferos arborícolas diurnos.

Ao compararmos características da história natural dos predadores de Sciurus aestuans no Maciço da Tijuca, podemos avaliar a contribuição destes para diminuição da população do caxinguelê neste ecossistema. O macaco-prego (Cebus sp.) é um primata com dieta onívorafrugívora (Auricchio, 1995), consumindo vertebrados apenas oportunisticamente (Resende et al, 2003). Já o gato doméstico (Felis catus) é um carnívoro, e consome itens de origem animal em maior parte de sua dieta, por vezes caçando-os ativamente no entorno das áreas residências onde habitam. No Maciço da Tijuca o macaco-prego não foi visto consumindo de fato o caxinguelê, mas somente perseguindo-o, já o gato doméstico foi relatado em mais de uma ocasião predando efetivamente, ou seja, causando a morte de serelepes. Estes fatos sugerem que a pressão e eficácia de predação do gato doméstico sobre o caxinguelê é maior do que a do macaco-prego. Soma-se a isto, o fato de que o primeiro predador é uma espécie exótica, enquanto que o segundo é uma espécie nativa do ecossistema. Embora não ocorra na RFVC, a presença de gatos é bastante comum no Maciço da Tijuca. Dessa forma, é relevante centrar esforços para elucidar, através de estudos científicos, a intensidade da predação de Felis catus sobre S. aestuans, e promover através de atividades de educação e interpretação ambiental para a população humana do município, particularmente do entorno do Maciço da Tijuca, a sensibilização e conscientização sobre o problema.

Ao analisarmos as outras dimensões fundamentais do nicho (espaço e tempo), percebemos que há uma relação conflituosa entre Sciurus aestuans e Callithrix jacchus no Maciço da Tijuca. Ambas são espécies diurnas, e utilizam principalmente o sub-bosque da floresta em suas atividades diárias, portanto apresentam ampla sobreposição nestes aspectos do nicho, ou seja no padrão de uso do espaço, considerado aspecto fundamental para a compreensão da estrutura e coexistência de espécies (Cunha & Vieira, 2004). A competição por espaço (literalmente) foi corroborada por uma interação agonística, num encontro entre grupos das espécies em questão. Nesta ocasião, enquanto observava um grupo de quatro ou cinco indivíduos adultos de Sciurus alimentando-se dos frutos abundantes de uma palmeira (espécie ainda não identificada), um bando de sete ou mais indivíduos de C. jacchus passou pelo local, alguns destes indivíduos (três a quatro) se aproximaram (a cerca de 4 metros) dos caxinguelês, aparentemente para intimidálos. Entretanto os Sciurus não abandonaram a palmeira. Então, todos os caxinguelês de um lado, e a maioria dos saguis do outro lado, ficaram vocalizando frente à frente, durante 40 minutos. Depois, alguns indivíduos de saguis continuaram sua rota, enquanto outros continuaram vocalizando para os caxinguelês. Estes, ao se sentirem menos ameaçados com o afastamento de alguns saguis, gradualmente recomeçaram a explorar os frutos da palmeira.

3.11.COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICA O estudo de potenciais relações competitivas deve levar em conta diversos aspectos do nicho ecológico das espécies suspeitas de competirem entre si, particularmente aqueles aspectos considerados fundamentais, como espaço,

De acordo com o fato relatado acima, torna-se evidente a competição direta entre Sciurus aestuans e C. jacchus no Maciço da Tijuca. Esta (95)


interação é potencialmente nociva à população do caxinguelê, já que estes geralmente são solitários e os saguis vivem sempre em bando, sendo por este e, provavelmente, por outros motivos (como o típico comportamento agressivo), competitivamente superiores. Adicionalmente, os saguis consomem vertebrados, e é possível que não só compitam com os caxinguelês, mas também os predem ativamente, particularmente indivíduos jovens ou recém-nascidos no ninho.

sede, caracterízado por uma vegetação herbáceo arbustiva de baixa estatura. Análogamente, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, o caxinguelê não foi avistado acima de 1600m de altitude, em formações baixas da Floresta Alto Montana e de Campos de Altitude. Este aparente limite altitudinal relacionado a formações arbustivas pode ser explicada, entre outros fatores, a escassez de locais para nidificação, geralmente ocos de árvores ou emaranhados de cipós (Emmons & Feer, 1997; Norma Crudi, com. Pessoal).

A única interação efetivamente registrada de competição interespecífica foi de S. aestuans com C. jacchus. Este estudo indica que não há sobreposição na dieta do caxinguelê com esta espécie invasora e competidora (C. jacchus). Por outro lado, evidencia uma intensa competição por espaço entre as duas espécies, já que ambas utilizam preponderantemente o sub-bosque da floresta. Esta interação é particularmente preocupante dada a elevada abundância desta espécie exótica (C. jacchus) na RFVC e entorno (Cunha, obs. pessoal). Desta forma, torna-se evidente a importância de monitorar, e considerar todas as espécies e interações ecológicas desta comunidade, para traçar planos de manejo confiáveis e realistas.

Em relação ao microhabitat, não existem relatos específicos sobre padrões de utilização ou preferência para S. aestuans. A variabilidade dos dados coletados neste estudo, somado ao baixo sucesso de avistamento, não permite elucidações dos aspectos do microhabitat estudados, exceto para a densidade do estrato arbustivo. A maior parte dos avistamentos ocorreu em pontos da floresta com estrato arbustivo denso ou muito denso. Este fato está de acordo com o observado por Derge & Yahner (2000) para S. niger e por Summers & Proctor (1999) para S. vulgaris. Este último trabalho sugere ainda que a preferência por microhabitats mais densos está relacionada a uma estratégia para evitar cruzar áreas abertas entre árvores pelo chão, diminuindo desta forma a possibilidade de predação.

3.12. Uso do habitat e Microhabitat O caxinguelê (S. aestuans) pode ser considerado relativamente generalista em relação à preferência ou ao uso do habitat. Ocorre tanto em florestas maduras, secundárias e alteradas, como também em plantações e jardins (Emmons & Feer, 1997). Neste estudo, esta tendência foi confirmada. Ao longo da Estrada da Vista Chinesa indivíduos foram visualizados, na maior parte dos casos em formações florestais, mas também em áreas de clareira e próximos ou dentro de residências localizadas ao longo da estrada. O número de visualizações nestes diferentes habitas (6, 4, e 4, respectivamente) provavelmente não difere significativamente da proporção em que estes habitats são encontrados ao longo do transecto estudado. Dentro da RFVC, o caxinguelê foi avistado em todas as trilhas, exceto no topo do morro acima da

3.13. ESTRATIFICAÇÃO VERTICAL O uso do espaço vertical da floresta pelo caxinguelê apresenta uma tendência clara para maior intensidade de uso do estrato arbustivoarbóreo do sub-bosque da floresta. Das 21 observações visuais feitas para a espécie, em 14 delas o caxinguelê estava no sub-bosque, em alturas variando de 2m a 10m em relação ao chão da mata. Adicionalmente, a frequência de avistamentos no chão e no dossel da floresta foi semelhante, e cerca de quatro vezes menor do que o número de avistamentos no sub-bosque (Figura 4).

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Variando desde 2cm a 50cm de diâmetro, com similar frequência entre as classes de diâmetro, nas diferentes categorias de movimento (Figura 5). Todos os tipos de suportes foram utilizados como: troncos, galhos, trepadeiras e até folhas.

Figura 4: Frequência relativa dos avistamentos de Sciurus aestuans nos diferentes estratos verticais da floresta, (n=21), na RFVC.

Três das quatro visualizações no chão foram registradas quando os indivíduos estavam cruzando a Estrada da Vista Chinesa. Apenas uma observação do caxinguelê cruzando a estrada pelo dossel da mata foi registrada. Estes dados indicam que o caxinguelê atravessa a estrada preferencialmente pelo solo. Ao menos duas hipóteses (não exclusivas) podem ser sugeridas para este fato: 1) Os suportes acima do solo (galhos) não são contínuos o bastante para possibilitar a passagem do indivíduo, já que os caxinguelês não conseguem saltar distâncias superiores a dois metros, e 2) A presença de potenciais predadores, como o macaco-prego e aves de rapina, pode ser mais frequente no dossel da mata, o que de fato ocorre (Cunha, obs. pessoal). Desta forma, a segunda hipótese é mais parcimoniosa e pode explicar também o padrão geral do uso do espaço vertical observado, ou seja, dada a maior ocorrência de potenciais predadores no dossel, os caxinguelês ocupam preferencialmente os estratos intermediários da floresta.

Figura 5. Distribuição das classes de diâmetro nos deslocamentos acima do solo de Sciurus aestuans (n=64), na RFVC.

Os deslocamentos acima do solo ocorreram em uma altura média de 6,30m (desvio padrão = 3,04m). A maior altura atingida foi de 12m acima do chão da mata. O serelepe deslocou-se, frequentemente, por saltos entre os suportes acima do solo. Os saltos foram feitos entre suportes de 2cm a 35cm de diâmetro, com um distância média de 1,35m (desvio padrão = 0,45m). Com base nos dados coletados, calculou-se uma taxa de 4,75 saltos a cada 100m de deslocamento acima do solo. Apenas os deslocamentos horizontais acima do solo apresentaram uma tendência para a utilização de suportes mais finos, entretanto, não foram detectadas diferenças estatísticas. Somente com maior acúmulo de dados será possível evidenciar diferenças mais sutis na utilização de suportes. Sobretudo, de acordo com as observações e dados coletados neste estudo, é possível afirmar que Sciurus aestuans é plenamente adaptado a vida arborícola, deslocando-se com extrema habilidade e rapidez (quando necessário) por diferentes suportes acima do solo.

O uso preferencial dos estratos intermediários para Sciurus foi sugerido por Emmons & Feer (1997) para S. aestuans, e por Heaney & Thorington (1978), para S. granatensis. Desta forma, este estudo confirma o hábito predominantemente arborícola e o uso preponderante do sub-bosque por S. Aestuans. 3.14. Uso de Suportes O caxinguelê parece não ter nenhum tipo de limitação quanto ao diâmetro e inclinação dos suportes utilizados em seus movimentos, nos estratos arbustivo e arbóreo. Nos deslocamentos acima do solo, Sciurus aestuans utilizou suportes

3.15. ATIVIDADE DIÁRIA O ritmo de atividade diária de Sciurus aestuans não foi estudado com detalhes anteriormente, e também não foi objeto de estudo específico neste trabalho. As capturas de caxinguelê nas (97)


armadilhas ocorreram entre 08:00h e 14:00h. Entretanto, com os dados de censo e observações casuais obtidos é possível analisar a frequência de avistamentos por intervalo de tempo, no período diurno, no qual foi concentrado o esforço amostral deste estudo, e detalhar um pouco mais o ritmo de atividade da espécie.

Entretanto, ao analisarmos detalhadamente os dados coletados durante estas visualizações, é possível considerar diferenças no comportamento, em cada período da manhã. Por exemplo, das sete observações no final da manhã, cinco aconteceram em dias nublados ou parcialmente nublados, e duas foram de indivíduos consumindo e armazenando frutos de palmeiras, o item alimentar preferido da espécie. Sabendo que a atividade diária dos esquilos é determinada por condições ambientais (Gurnell, 1987 apud Hely & Welsh, 1992), devemos considerar estas condições diferenciadas nas quais ocorreram as visualizações no final da manhã (tempo nublado, semelhante a luminosidade e temperatura do começo do dia; e frutos de palmeira abundantes, ou uma ilha de recurso que deve ser exaustivamente aproveitada). Ou seja, o segundo pico de atividade, no final da manhã, pode ser considerado um artefato amostral, e de fato o caxinguelê pode ser mais ativo nas primeiras horas da manhã. Entretanto a confirmação de qualquer padrão do ritmo diário e sazonal do caxinguelê somente poderá ser esclarecida após estudos mais específicos, focados neste aspecto do comportamento.

Em observações feitas em cativeiro, Bordignon & Monteiro-Filho (1997) notaram um maior gasto de tempo com alimentação durante o inverno, no qual as atividades concentram-se preponderantemente no período da manhã. No verão, os indivíduos permaneceram inativos entre 12:00h e 14:00h, provavelmente como um comportamento compensatório e termoregulatório frente as temperaturas mais altas. Heaney & Thorington (1978) relataram uma maior atividade de S. granatensis entre 08:00h e 11:30h, embora não tenham estabelecido um desenho amostral adequado para inferir os ritmos circadianos da espécie. Hely & Welsh (1992) enfatizam que a maior parte das observações visuais de S. carolinensis foram feitas até três horas depois do alvorecer. Desta forma, sugere-se que a atividade de ciurídeos arborícolas em geral concentra-se na parte da manhã.

3.16.ABUNDÂNCIA POPULACIONAL

Neste estudo, a frequência de visualizações não diferiu claramente entre os três intervalos de tempo analisados (Figura 6). Neste gráfico, percebe-se dois picos de atividade, um no começo da manhã e outro no final, entre 10h e 12 horas.

E

TA M A N H O

A realização de censos por transectos lineares é a metodologia mais recomendada para o monitoramento de populações de ciurídeos em áreas extensas (Healy & Welsh,1992). A inferência de padrões de densidade e tamanho populacional requer um número de avistamentos mínimo de 30 a 40 visualizações (Buckland et al, 1993). No presente trabalho, não foi possível atingir este número mínimo. Estimativas de densidade populacional (n° de indivíduos/Km2) são mais precisas, entretanto, medidas de abundância, como frequência de ocorrência por unidade de esforço amostral, também permitem inferências importantes sobre o tamanho e dinâmica populacional. Índices de abundância relativa (e.g. indivíduos/10 km de transecto) são mais robustos e podem ser estimados mesmo com um número menor de avistamentos. Desta

Figura 6: Frequência relativa dos avistamentos de Sciurus aestuans em diferentes horários no período da manhã (n=21), na RFVC.

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forma, foram utilizados os dados obtidos para estimar estes índices e compará-los a dados de populações de outras áreas da Mata Atlântica do sudeste brasileiro. A saber: Chiarello (1999) para fragmentos do Espirito Santo; Cullen Jr. et al. (2000) para florestas de São Paulo; e Cunha (comm. pessoal) para o Parque Nacional da Serra dos Órgãos - PNSO, RJ.

Fatores que influenciam a abundância de serelepes na Mata Atlântica permanecem desconhecidos. Os dados sugerem que pode existir uma tendência de diminuição da abundância com o aumento da latitude da localidade estudada, ou seja quanto mais ao sul menos abundante. Sobretudo pode tratar-se apenas de um artefato amostral. Outra hipótese que merece ser investigada em estudos futuros é a possível existência de uma relação direta da abundância de caxinguelês com a abundância (em números absolutos ou em biomassa) de palmeiras, ou de frutos de palmeiras, recurso alimentar preferido por este roedor.

A abundância relativa do caxinguelê na Mata Atlântica é altamente variável, em São Paulo variou de 0,02 a 1,26 ind/10km (n=5); no Espirito Santo de 2,85 a 10,54 ind/10km (n=6). No Estado do Rio de Janeiro, as estimativas foram de 0,8 ind/10Km, para a RFVC, e de 3,0 ind/10km, no PNSO (Figura 7).

Figura 7: Índice de Abundância Relativa - IAR(n° de encontros/10km de transecto percorrido) do caxinguelê (Sciurus aestuans) para populações da Reserva Florestal da Vista Chinesa, RJ (RFVC) e outros fragmentos de Mata Atlântica do sudeste do Brasil (Chiarello, 1999, para ES; Cullen Jr. et al. 2000, para SP; e Cunha (obs. pessoal) para RJ).

Chiarello (1999) não encontrou relação da abundâcia relativa do caxinguelê com o tamanho dos fragmentos estudados (de 210ha a 24.250ha). Cullen Jr. et al. (2000) não conseguiram explicar as diferenças observadas na abundância relativa relacionando-as com as diferentes pressões de caça, nas áreas estudadas por estes pesquisadores. Desta forma, não é possível determinar se a abundância da população em 15 ha do Maciço da Tijuca está alterada por perturbações antrópicas no ambiente. Na verdade, constata-se que os valores encontrados para o Rio de Janeiro estão entre aqueles observados para o Espirito Santo, e os estimados para matas de São Paulo (Figura 5). Ou seja, a abundância relativa do caxinguelê na RBVC está entre os valores esperados com base em outros estudos na Mata Atlântica. Os

Estimativas do tamanho da população de serelepes no Maciço na Tijuca não foram possíveis com o baixo sucesso de avistamento neste fragmento. Chiarello (2000) calculou o tamanho populacional de S. aestuans em fragmentos de tamanhos diferentes, e encontrou populações efetivas com mais de 500 indivíduos apenas nos maiores fragmentos (ca. 20.000ha). O trabalho de Chiarello (1999, 2000), é o mais detalhado e adequado a metodologia proposta. Admitindo uma relação direta entre a abundância e a densidade médias estimadas para os fragmentos estudados por ele e o presente estudo, calcula-se uma densidade hipotética do caxinguelê no Maciço da Tijuca de 6,61 ind/Km2. Assumindo a área da RFVC como habitat disponível para a espécie, entre 4.000ha e 5.000ha, temos uma população de 264 a 330 indivíduos. Considerando a estimativa do tamanho da população, a partir do número de indivíduos adultos que ocupam a área da RFVC (dois ou até quatro indivíduos em 15 hectares), calcula-se uma população total para o fragmento entre 533 e 1333 indivíduos. Estas estimativas não foram geradas a partir dos passos metodológicos recomendados para esta finalidade, entretanto, é razoável admitir que o tamanho populacional de caxinguelês no Maciço da Tijuca deve variar dentro desta ordem de grandeza. A partir das considerações feitas acima é possível sugerir que o tamanho da população de S. aestuans na RFVC é menor ou igual ao número

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de indivíduos necessário para manter uma população mínima viável a longo prazo, ou seja, uma população efetiva (de indivíduos reprodutores) de cerca de 500 indivíduos, ou uma população total de 1.500 a 5000 indivíduos, já que a população efetiva é de três a dez vezes menor que a população total de individuos adultos (Frankham, 1995).

Maciço da Tijuca. 2. O problema de predação da fauna nativa pelo gato doméstico é frequente em todo o mundo. Em algumas zonas residenciais próximas a áreas verdes os gatos podem tornarse os principais predadores de pequenos mamíferos, como o caxinguelê, além de outros roedores e pássaros (Churcher & Lawton, 1987). Embora não tenham sido observados na RFVC, torna-se urgente uma campanha oficial para a redução da população de gatos abandonados em todo o Maciço da Tijuca. A campanha também deverá contemplar os moradores e proprietários de gatos, sugerindo a adoção de algumas medidas preventivas como castração, contenção dentro dos limites residenciais e dotá-los de um pequeno sino no pescoço, o que diminui significativamente a eficiência destes predadores (Ruxton & Thomas, 2002). Estudos futuros sobre a pressão de predação sobre S. aestuans e manejo destes predadores são extremamente importantes para considerações sobre a viabilidade a longo prazo da população de caxinguelês no Maciço da Tijuca.

4. MANEJO DE SCIURUS AESTUANS: PROPOSTAS As informações geradas neste estudo fornecem uma base inicial sobre o conhecimento das características ecológicas do caxinguelê, incluindo relações interespecíficas e considerações sobre abundância relativa e tamanho populacional. É possível então, traçar algumas perspectivas para o manejo da espécie neste ecossistema. 1. As medidas de manejo mais urgentes não devem ser direcionadas diretamente ao caxinguelês, mas sim as espécies que exercem influência na diminuição da população de S. aestuans, ou seja aquelas que competem, como o mico-estrela ou sagui-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus), e aquelas que predam o serelepe, como o macaco-prego (Cebus sp.) e o gato doméstico (Felis catus). As populações dos primatas citados parecem estar acima da abundância registrada em qualquer outra área onde ocorrem (Cunha, obs. pessoal). Portanto, estariam competindo e predando sobre S. aestuans em níveis superiores aqueles que normalmente ocorrem em outras áreas. Soma-se a isto o fato de que estes primatas são espécies alóctones ao Maciço da Tijuca. O sagüi, por exemplo, é oriundo do nordeste e foi introduzido no Maciço. Já o Cebus, autóctone na forma de subespécie original, vem sofrendo ao longo dos anos miscigenação com outras subespécies de macacos pregos oriundo de outras regiões da Mata Atlântica, como as do nordeste, por exemplo, constituindo uma mistura de subespécies, provavelmente já hibridizadas (Silva Jr. comm. pessoal). Desta forma, evidencia-se a necessidade de estudos visando a idealização e implementação de medidas que visem a diminuição das populações destes primatas no

3. Frutos de palmeira aparecem com um dos mais, senão o mais importante item na dieta do caxinguelê. Logo o aumento da disponibilidade destes frutos poderá exercer influência significativa para o aumento populacional de S.aestuans no Maciço da Tijuca. Além do serelepe, diversos outros vertebrados frugívoros se alimentam deste recurso. De acordo com o estudo de Galetti et al. (1995) sobre o palmito (Euterpe edulis), no mínimo 21 espécies de aves e 11 de mamíferos consomem seus frutos. Entretanto, é importante resaltar que no caso de uma intervenção visando o aumento da abundância de frutos de palmeira, não só a guilda de frugívoros será afetada, mas sim toda a teia trófica envolvida, além de potenciais mudanças indiretas em todos os componentes do ecossistema. 4. Outra medida de manejo a ser estudada é a implantação de caixas-ninho (“nest-boxes”), que pode ser um recurso para o aumento da natalidade dos caxinguelês. Entretanto não é possível inferir se a disponibilidade de locais para (100)


para ninhos (ocos de árvores e emaranhados de cipós) é um fator limitante para o aumento da população de S. aestuans, não só na RFVC, mas em todo o Maciço da Tijuca. Existem diversos fatores a favor e contra a implantação destas caixas que devem ser levados em conta. As caixas-ninhos podem funcionar como um recurso extra, promovendo o aumento da população, e também é a melhor ferramenta para o estudo de aspectos reprodutivos da espécie in situ (Shuttleworth, 1999), como número de filhotes por ninhada, razão sexual da prole e mortalidade infantil, entre outros dados essenciais para o conhecimento da estratégia bionômica da espécie. Por outro lado, as caixas-ninho são utilizadas também por outras espécies, as taxas de ocupação pelos ciurídeos podem ser inferiores a 40%, o custo operacional pode ser excessivamente oneroso, e principalmente os predadores podem desenvolver um comportamento de aprendizado e direcionar seus ataques as caixas-ninho. Portanto, todos estes fatores devem ser detalhadamente avaliados antes da proposição de implantação desta ferramenta.

manter uma população mínima viável a longo prazo. 6. Fica evidente a necessidade de um manejo integrado da paisagem (sensu Margules & Pressey, 2000) dos remanescentes florestais do município do Rio de Janeiro, visando estabelecer corredores florestais que permitam o intercâmbio entre as populações isoladas nestes fragmentos. Medida esta, que deve ser adotada desde já nos planejamentos urbanos e paisagísticos da cidade do Rio de Janeiro e municípios do entorno. 7. Estudos sobre a variabilidade genética da população do Maciço da Tijuca e da similaridade desta com outras populações do entorno também são prioritários para uma abordagem completa das caracteristicas necessáras para elaboração de um plano de conservação dos caxinguelês na região. 5. CONCLUSÕES 1. O caxinguelê (S. aestuans) é uma espécie florestal, generalista quanto ao uso do (meso) habitat, ocupa com maior frequência o subbosque da mata, onde locomove-se por todos os tipos e tamanhos de suportes, saltando com frequência até 2m nos seus deslocamentos. A dieta é relativamente especializada, e frutos de palmeira são aparentemente os itens preferidos, a relação de predação e dispersão efetiva destes frutos deve ser estudada com mais detalhe.

5. Em relação à abundância e tamanho populacional, é preciso considerar que ao comparamos a abundância relativa encontrada neste estudo com outras áreas de Mata Atlântica, verificamos que os valores são intermediários a aqueles encontrados por outros pesquisadores, ou seja, dada a alta variabilidade destes dados, não é correto concluir que a abundância do caxinguelê na RFVC está abaixo ou acima do esperado para espécie. Na ausência de estudos de monitoramento da espécie no Maciço da Tijuca, também não é possível indicar se a abundância atual está abaixo do que ocorria no passado, embora esta aparente tendência de declínio da população seja relatada por diversos funcionários da RFVC. Assim, é essencial um estudo de monitoramento de médio a longo prazo (> 5 anos), que permita inferências sobre tendências de aumento ou diminuição populacional. Por outro lado, os dados indicam que o tamanho da população em todo o Maciço da Tijuca está abaixo do número suficiente para

2. Trabalhos de captura e manuseio dos indivíduos devem ser realizados com ferramentas e metodologias específicas. Para captura as armadilhas devem ser preferencialmente do tipo gaiola e dispostas acima do solo, como isca devem ser utilizadas sementes ou frutos secos, como o pinhão (Araucaria angustifolia) e a castanha-do-Pará (Bertholetia excelsa). O manuseio dos indivíduos deve ser feito com saco de contenção específico, em forma de cone e com velcros transversais e perpendiculares, que permitem o acesso a todas as partes do indivíduo, sem deixar sequelas. 3. As estimativas preliminares de abundância e tamanho populacional sugerem um número abaixo do necessário para manter uma (101)


população viável a longo prazo. Caso a tendência seja confirmada, medidas para promover a conexão do Maciço da Tijuca com outros fragmentos florestais vizinhos podem ser benéficas a permanência da espécie. 4. Interações agonísticas parecem ser importantes forças para diminuição da população de caxinguelês. Particularmente a competição com o exótico e agressivo mico-estrela (Callithrix jacchus), e a pressão de predação exercida pelo gato-doméstico (Felis catus) e pelo macacoprego (Cebus sp.). A aparente abundância exacerbada destas espécies devem ser monitoradas com urgência. 5. As medidas de manejo mais importantes para a população de serelepes neste fragmento de Mata Atlântica são: o monitoramento e manejo das populações de C. jacchus, F. catus e Cebus sp.; e um planejamento integrado da paisagem incluindo corredores florestais no município e entorno. O plantio de espécies de palmeira utilizadas pelo caxinguelê, e a implantação de caixas-ninho, também podem ser boas medidas para conservação de S.aestuans, mas devem detalhadamente estudadas e monitoradas.

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SUBPROJETO “PESQUISA DETALHADA DA FLORA” NA ÁREA DO CORREDOR ECOLÓGICO FREI VELLOZO

APRESENTAÇÃO

f a u n a a s s o c i a d a ( M C C O N N A U G H AY E BAZZAZ, 1987; LAURENCE E YENSEN, 1991; TABANEZ et al. 1997 E VILELA, 1999). A magnitude desses efeitos varia conforme o tamanho da área em pauta, posição topográfica, declividade e orientação, além da existência de clareiras naturais ou não.

Farta literatura tem apontado a importância das condições vegetacionais na estabilidade de encostas florestadas. A cidade do Rio de Janeiro é caracterizada pelas suas florestas montanhosas, dentre as quais ressaltam-se os maciços da Tijuca e da Pedra Branca. O primeiro tem a sua importância destacada por ser a maior floresta urbana do mundo, cujo histórico de relação homem-natureza magnifica sua importância, pois resulta do somatório das intervenções antrópicas em diversas modalidades, tais como ocupação urbana, agropecuária, reflorestamento e lazer, acrescida da sua capacidade de auto-regeneração (SCHEINER, 1976, DRUMOND, 1997, OLIVEIRA, 1999). O somatório dessas ações é um mosaico vegetacional de diversos ecossistemas e em diversos estágios de regeneração. Um dos importantes corolários dessa condição ímpar da floresta urbana é a fragmentação florestal.

Neste contexto sobressai a condição ambiental da reserva Frei Velloso. Esta, situada no setor B do Parque Nacional da Tijuca (PNT), vertente sul do Maciço da Tijuca, é circundada pela estrada da Vista Chinesa, o que lhe confere o caráter de área fragmentada, ainda que sendo parte do complexo vegetacional do Maciço da Tijuca. Acrescente-se a isso a existência de construções e trilhas. Apesar de sua importância, tanto na escala local (PNT) como regional (município), existem lacunas no conhecimento da flora e fauna em geral e especificamente da floresta da Tijuca, a maior parte do conhecimento levantado até o presente é descritivo, ressalte-se os trabalhos de MARTINS (1993), COIMBRA-FILHO & ALDRIGHI (1971), COIMBRA et al. (1973), LAROCHE (1976), MATTOS NETTO (1979), COELHO NETTO (1985), CLEVELÁRIO JR. (1988), CASTRO JR. (1991), MIRANDA (1992), ZAÚ (1994), OLIVEIRA et al. (1995), MONTEZUMA et al (2000), dentre outros.

Por fragmentação entende-se o isolamento em área de determinados ecossistemas circundados por um “mar” de habitats distintos. Esta concepção está alicerçada na teoria de MCARTHUR E WILSON (1964) conhecida como a Biogeografia de Ilhas. Esta postula a importância do tamanho da área e da distância do continente na sobrevivência das ilhas, sejam elas reais ou virtuais. Como fruto desse escopo teórico surge a ideia dos corredores ecológicos como propulsores do restabelecimento ou manutenção da biodiversidade em ecossistemas naturais (FORMAN & GORDON, 1986, FORMAN 1996).

No que tange especificamente à área em pauta, sobressaem-se os trabalhos desenvolvidos por BOUDET FERNANDES, 1987; CARAUTA 1993, 1994; FONTENELE ROMERO, 1989; LIMA, 1986; MARTINS, 1983; MIRANDA, 1983; PASTANA et al. 1999; SCHEINVAR et al., 1996; SODRÉ, 1989; SOMMER, 1983 enfocando os aspectos relativos à florística, exceção feita ao trabalho de OLIVEIRA et al. (1995), o qual aborda a importância dos aspectos abióticos para a estruturação da vegetação nas encostas da floresta da Tijuca.

Outra questão relativa a insularidade das áreas protegidas reside na área do entorno, onde sua estrutura e composição têm relação direta com a sobrevivência da unidade. A isto se chama “efeito de borda”. As consequências do efeito de borda sobre a vegetação adjacente são observadas na alteração do microclima, das condições edáficas e, por conseguinte, no controle dos processos hidrológicos que ali ocorrem, o que se reflete na transformação da estrutura e diversidade das espécies vegetais com correspondência para a

Considerando sua condição de área tropical úmida, onde pesa a conhecida megadiversidade brasileira, espera-se que estudos reveladores de sua composição tanto florística como faunística, bem como da estrutura das comunidades que abriga, sejam de grande importância para a (105)


I INTRODUÇÃO

compreensão dos processos que aí ocorrem, auxiliando na sua conservação. De acordo com KAGEYAMA (2000), deve-se enfatizar que a alta diversidade de espécies da floresta tropical está associada a uma alta ocorrência de espécies raras, ou aquelas com densidade de indivíduos adultos por hectare, muito baixa na mata natural. Assim, segundo este autor, pode-se dizer que uma pequena área de um hectare dessas florestas pode conter mais de 200 espécies arbóreas diferentes, em decorrência da alta incidência das espécies denominadas raras (GANDARA, 1996 E LEPSCH-CUNHA, 1996 apud KAGEYAMA, 2000). Entendendo-se como espécie rara aquelas com menos de um indivíduo adulto por hectare, sendo comuns aquelas com densidade acima desta.

1.1 O Histórico de Ocupação do Maciço da Tijuca Até o início da colonização portuguesa o território fluminense era ocupado por grupos indígenas, Tupinambás, Tamoios e Goitacás, que pouco impacto trouxeram à vegetação existente face ao processo tecnológico que usufruíam para lavrar a terra, só vindo a tornarem-se mais significativos com o uso de ferramentas, como machados, foices, enxadas e facões obtidos em escambo com os europeus (DEAN, 1995; DRUMMOND, 1997 e SCHEINER, 1976). É provável que até o ano de 1750 as partes mais altas do PNT tenham permanecido intocadas e, antes desse período, os primeiros habitantes permanentes da área foram lenhadores, carvoeiros, negros ou mulatos livres, além de um quilombo grande que levou anos para ser desbaratado pela polícia (DRUMMOND, 1997).

Entretanto, é necessário observar que a preservação destas unidades deve ser avaliada em diferentes escalas de análise. A escala da paisagem é requerida neste contexto para garantir o intercâmbio do pool gênico através da conectividade dos fragmentos florestais significativos (ARAÚJO CORTE, 2000), dos quais ressalta-se o Maciço da Pedra Branca como uma grande matriz e de maior proximidade ao maciço da Tijuca.

FERREZ (1972) comenta que o francês Louis François Lecesne, chegado ao Rio de Janeiro em 1816, foi o grande pioneiro e veterano na plantação de café do Maciço, onde instalou sua fazenda, conhecida por São Luis, em sua homenagem, na Gávea Pequena, sendo a partir deste momento o maior produtor de café naquele momento, uma vez que plantou, assim que se estabeleceu, 50.000 pés, quando via de regra plantava-se não mais do que 10.000 pés:

Assim sendo, a justificativa para o desenvolvimento deste projeto reside na sua condição ímpar de ser uma área do bioma Mata Atlântica e reserva da biosfera, que se encontra sob o status de um parque nacional localizado em um dos maiores centros urbanos do país, cuja sustentabilidade é de interesse não apenas para a preservação da flora e fauna tropical, mas também para o conjunto de vidas humanas que se concentra em seu entorno.

“Já em 1799, o Rio de Janeiro exportava 57 arrobas de café; em 1796 8.495 arrobas e em 1806 82.245 arrobas, segundo Affonso Taunay. O viajante Watkin Tench, em 1787, anotara que o Rio de Janeiro deixara, então, de recebr café de Lisboa e passara a exportá-lo. Até a chegada de Lescene, as fazendas de café, que se espalhavam pela Tijuca, Andaraí, Jacarepaguá, etc. eram pequenas, de cinco a dez mil pés. Freycinet afirma que até 1818 não existia uma com mais de 20.000 pés o que é confirmado por Hippolyte Taunay, que na maioria os fazendeiros eram filosoficamente moderados e se contentavam com, no máximo, cinco a seis mil pés, o que dava para viver sem se cansar demais”. Avizinhado a Lescene, FERREZ (1972) aponta o segundo maior produtor de café o holandês Charles Alexander Moke, com 40.000 pés, sendo esta propriedade melhor mecanizada do que a de Lescene. Juntamente a estes acrescenta ainda outras fazendas menores de nobres europeus, a saber: os de Taunay, ao pé da Cascatinha; os de Gestas e de Roquefeuil, logo acima da mesma; Rohan, mais acima e Scey próximo à entrada da estrada atual do Açude da Solidão, no morro que passou a se chamar da Sé.

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A resultante deste processo de ocupação foi percebida através de secas sucessivas que afetaram, principalmente, os mananciais que abasteciam a cidade, levando o Governo a baixar algumas disposições nos anos de 1817 e 1818. Após uma sequência de secas em 1824, 1829, 1833 e a grande a seca de 1844, seguida de enxurradas e inundações das partes baixas da cidade, o Ministro do Império Almeida Torres deu início à proposta de desapropriação e aos plantios em terras particulares da Tijuca. Este processo só começou a ser efetivado a partir de 1856, por influência de um amigo pessoal do imperador Luís Pedreira do Couto Ferraz, Vi s c o n d e d o B o m R e t i r o . A s p r i m e i r a s desapropriações localizavam-se junto aos mananciais dos rios Carioca, Maracanã e Comprido (SCHEINER, 1976; PERNAMBUCO et. al., 1979; DRUMMOND, 1997).

Dada as suas condicionantes históricas, resulta hoje em um mosaico de coberturas diversas formadas a partir de sucessões naturais e induzidas, associadas às diversas formas de intervenção humana; produto de forças naturais e culturais integradas a um contexto históricogeográfico que lhe confere uma complexidade singular, inserida em uma malha urbana de uma das maiores metrópoles brasileiras. Esta inserção na urbe torna o PNT uma ilha virtual, onde as possibilidades de trocas gênicas com outros parques vizinhos são fortemente comprometidas, sendo muito reduzida pelas vias terrestres, restando fracas possibilidades por dispersão aérea.

Sendo caracterizada como uma vegetação do tipo Tropical Pluvial de Encosta, em termos fito fisionômicos praticamente inexistem matas primitivas. Remanescentes mais próximos das priscas matas encontram-se isolados em meio a vastas áreas em estágios sucessionais mais recentes. São estes a Mata do Pai Ricardo e o vale que drena para a represa dos Ciganos (COELHO NETTO, 1992).

Entretanto, o processo de reflorestamento só teve início a partir de 1861 na administração de Manuel Gomes Archer conhecido como Major Archer que, com seis escravos negros Eleutério, Constantino, Manuel, Mateus, Leopoldo e Maria, procederam a revegetação, tendo-se como áreas prioritárias àquelas mais erodidas: encostas do pico do Papagaio e Tijuca, entre o Alto da Boa Vista, a Pedra do Conde e o Açude da Solidão, utilizando mudas da Floresta das Paineiras, Jardim Botânico do Rio de Janeiro (fonte de espécies exóticas) e de sua fazenda em Guaratiba. (MATTOS et al., 1976; DRUMMOND, 1997).

Na paisagem destacam-se espécies típicas de mata secundária inicial a tardia como as quaresmeiras (Tibouchina granulosa Cogn) e embaúbas prateadas (Cecropia hololeuca Mig); nas áreas mais altas encontram-se uma vegetação típica das altitudes; o estrato arbóreo varia entre 30 a 40m onde podem ser encontrados: o jequitibá vermelho (Cariniana excelsa Casar), pau Brasil (Caesalpina echinata Lam), Jacarandá caviúna (Dalbergia nigra Allem), canela sassafrás (Ocotea preciosa Ness), canela miúda (Nectandra puberula Ness), angicos (Piptadenia peregrina Benth e P. colubrina (Vell) Benth), dentre outras; no estrato arbustivo são observadas várias palmeiras, dentre as quais o palmito juçara (Euterpe edulis Mart.), geonomas (Geonoma elegans e schottiana), brejaúvas (Astrocaryum aculeatissimum) indaiá (Pindarea faustuosa Barb. Robdr.), jerivá (Arecastrum

A partir de então administrações sucessivas empreenderam esforços de magnitudes variadas que culminaram no que é hoje o Parque Nacional da Tijuca. 1.2 O Geoecossistema O Parque Nacional da Tijuca (PNT) compreende uma área de 33 km2 e foi criado em 6 de julho de 1961 pelo Decreto Federal no 50.925 com o nome de Parque Nacional do Rio de Janeiro, vindo a adquirir o nome atual em 8 de fevereiro de 1967, através do Decreto Federal no 60.183 (PERNAMBUCO et. al. 1979). O Parque engloba duas serras, ao sul a Serra da Carioca e ao norte a Serra dos Três Rios ou da Tijuca. (107)


romanzoffianum Becc) e as já citadas quaresmeiras e embaúbas e várias espécies de samambaiaçus; e no estrato herbáceo predominam as bananeiras do mato (Heliconia angustifólia Hook), marantas (Calathea zebrina) antúrios, bromélias etc. Cabe ressaltar que ao longo de todos os estratos é comum a presença de várias epífitas, tais como orquídeas, bromélias e cactáceas (MATTOS et al., 1976; SANTOS & SANTOS, 1976 e SANTOS, 1979).

voltadas para o sul a serrapilheira retém 1,6 vez mais umidade do que a da vertente norte, além de apresentar maior número de espécies, com indivíduos mais altos e mais espessos. A associação dos fatores bióticos e abióticos, somados ao histórico de ocupação humana na área, têm aumentado significativamente a susceptibilidade as encosta do maciço levando a uma progressiva retração floretal. A figura 1 demonstra a evolução desse quadro num contexto relativamente recente, retratando a perda, em 24 anos de 20% das Formações Florestais (Florestas Clímax Local e Secundária Tadia) (GEOHECO, 2000c).

Compondo estes diversos estratos são observadas no conjunto várias espécies exóticas, tais como Maria-sem-vergonha (Impatiens balsâmica), eucaliptos (Eucalyptus ssp), jaqueiras (Artocarpus integrifólia), jambeiros (Syzygium malaccense), etc. Nas áreas mais degradadas é comum a presença de capim colonião (Panicum maximum). Em consequência das alterações sofridas, a fauna típica de florestas tropicais, tais como mamíferos de porte grande e médio, vários répteis, anfíbios, aves, diversos insetos e aracnídeos, foram substituídos por uma fauna menos rica e alterada pela presença de espécies exóticas, como saguis e alguns animais domésticos. Atualmente restam algumas populações de macaco-prego (Cebus apella nigritus Goldfuss), cuícas (Philander opossum quiçá Temminck), gambás (Didelphis marsupialis aurita Wied), quatis (Nasua nasua solitária Sechinz), vários gaviões, falconídeos, tucanos, periquitos, cobras, lagartos, e diversos artrópodos (ALDRIGHI, mimeografado).

FIGURA 1: Evolução da cobertura vegetal do Maciço da Tijuca no período de 1972 a 1996. Fonte: GEOHECO/UFRJ

A Bacia Hidrográfica do Cachoeira/ Gávea Pequena O geoecossistema do maciço da Tijuca é dividido em três grandes sub-sistemas hidrográficos, a saber: Sub-sistema da Baía de Guanabara (SSHBG), bacia de Jacarepaguá (SSHJ) e da Zona Sul (SSHZS), mais precisamente na bacia do Cachoeira/Gávea Pequena, o qual é composto ainda por três outros trechos: alto, médio e baixo curso do rio Cachoeira (figura 2).

Acrescente-se ainda que a distribuição dessa estrutura biótica difere em diversas escalas, das quais a mais expressiva é resultado da orientação de suas encostas. Apresentando uma orientação geral a mais expressiva é resultado da orientação de suas encostas. Apresentando uma orientação geral no sentido Nordeste-Sudoeste, o maciço da Tijuca é subdividido em dois domínios principais: quadrante norte e quadrante sul, os quais diferem quanto à declividade, temperatura, umidade, irradiação e, por conseguinte, na composição e distribuição específica da flora e de sua fauna associada. De acordo com OLIVEIRA et al. (1995), nas encostas

Uma análise da cobertura vegetal no período de 1972 a 1996, analisado em GEOHECO (2000c), foi observado que as bacias que se encontram inseridas por completo no limite do Parque Nacional da Tijuca (ex: Bacia do Alto rio Cachoeira e as porções superiores dos rios Gávea Pequena e Anil/Sangrador) não sofreram neste (Anil/São Francisco, Quitite, Papagario, Pedras/Retiro e Pedras, Itanhangá, baixo e médio Cachoeira), o que resultou em uma grande perda de formação florestal (Clímax Local/Secundária Tardia).

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De acordo com o trabalho supracitado, a bacia do baixo e médio Cachoeira e da Cachoeira/Gávea Pequena, onde se insere o presente estudo, apresentam um padrão de tipos de modificações semelhantes que ocorreram principalmente de Floresta Secundária Inicial ou Formações Pioneiras para coberturas de Gramíneas e de Gramíneas para Alta e Baixa Densidade Urbana. Nas bacias do Baixo Carhoeira (69%) e Cachoeira/Gávea Pequena (97%), entre os anos de 1984 e 1996 foram encontrados os maiores percentuais de transformação (figura 3).

FIGURA 3: Mapa do uso e cobertura vegetal da Sub-bacia hidrográfica do rio da Cachoeira no ano de 1996, com destaque para a área de localização da reserva Frei Vellozo. Baseada em foto-reconstituição na escala 1:10000. Fonte: GEOHECO/UFRJ.

De um modo geral este sub-sistema apresenta um grau elevado de urbanização, tanto de baixa como de alta renda, correspondendo a uma das áreas de mais antiga ocupação (vide histórico da área), portanto com grande parte de sua vegetação alterada. Na área concernente à bacia da Gávea Pequena, no fundo do vale, se encontram ruínas do sítio do Mocke, retratato em FERREZ (1972) como o vizinho de Lescene, que, juntamente com Mocke, era o maior produtor de café no século XIX. Embora grande parte desta área seja resultante de um processo sucessional avançado após o abandono do cultivo do café, é possível que áreas de declive conforme se observa na área de estudo, tenham sido preservadas.

FIGURA 2: Rede de drenagem da sub-bacia do rio da Cachoeira. Baseada em foto-reconsituição na escala 1:10000. Fonte: GEOHECO/UFRJ.

Segundo a análise apresentada por GEOHECO (2000c), na vertente da margem esquerda do rio da Gávea Pequena “localiza-se um trecho de matas conservadas (na verdade um reduto (109)


vegetacional) com área de aproximadamente 50 ha e que ocupa os morros do cochrane e andorinhas. tem como característica notável o fato de se constituir uma área bem preservada com orientação de encosta voltada para o quadrante norte”.

levantamento para esta bacia em geral, ou seja, é comparado com as espécies que ocorrem em particular na área da reserva Frei Vellozo. Pois, dentro de um ecossistema mais amplo, a exemplo da Floresta da Tijuca, as áreas possuem particularidades biótics e abióticas que condicionam a flora e fauna local.

Neste mesmo trabalho destaca-se que na margem esquerda existem vestígios de espécies exóticas, como jaqueiras (Artocarpus integrifolia) e mangueiras (Mangifera indica), além de espécies características de matas bem preservadas, tais como : Sclerolbium denudatum, uma leguminosa cuja abundante floração se dá apenas a cada oito anos, lauráceas bem representadas por numerosas canelas pouco comuns como Cryptocarya moschata, Ocotea pretiosa e Nectandra reticulata, candeia (Vanilosmopsis erythropappa), associada a uma vegetação xerofítica, onde numerosas orquidáceas tanto terrestres como epífitas estão presentas: jequitibá (Cariniana estrelensis), braúna (Melanoxylum brauna), garapa (Apuleia leiocarpa), freijó (Cordia trichotoma), mirtáca (Eugenia supra-axilaris), dentre outras.

2. OBJETIVOS Através de uma abordagem ecossistêmica, avaliar o grau de fragmentação da Reserva Floretal Frei Velloso com vistas a obter um diagnóstico das condições ambientais em que esta se encontra, bem como fornecer subsídios para a análise da biabilidade de preservação e manutenção da flora e da fauna própria desse ecossistema no contexto de sua localização dentro de um sistema florestal urbano. 2.2 Específicos: 1. Ampliar o conhecimento da flora local. 2. Avaliar o estado da cobertura vegetal. 3. Determinar o grau de fragmentação da mata atual. 4. Estudar as modalidades de relacionamento entre animais e plantas neste ecossistema a partir das condicionantes vegetacionais.

Na margem direita do rio da Gávea Pequena existe um outro reduto florestal formado pelo Morro do Queimado, Boavista e Freira, com 719, 716 e 622 m.s.m., respectivamente. Limita-se pela linha de cumeada destes morros abrangendo toda a vertente sul até a estrada da Vista Chinesa, em bom estado, voltadas para os quadrantes Norte e Sul. Dentre as espécies que apresentaram maior destaque em termos de raridade salientaram: as perobas Aspidosperma parviflorum e Aspidosperma ramiflorum (Apocynaceae), Parinari excelsa (Chrysobalanaceae), Terminalia januariensis (Combretaceae), Cinnamodendron axillare, Criptocarya moschata, Ocotea pretiosa (Lauraceae), Eugenia phaea (Myrtaceae) e Qualea gestasiana (Vochysiaceae), conhecida apenas por erráticas coletas do século passado.

5. Fornecer subsídios para a análise da viabilidade de conservação na área de estudo. 3. ÁREA DE ESTUDO Situada no setor B do Parque Nacional da Tijuca (PNT), vertente sul do Maciço da Tijuca, a Reserva Frei Velloso, atualmente Reserva Florestal Vista Chinesa, compreende uma área de 15 ha entre as coordenadas 22o43'00 e 22o45'02” S e 43o18'45” e 43o16'15” W. Seus limites começam na costa 345, fazendo limite a 593 metros de altitude, no seu divisor de águas, com o Parque Nacional da Tijuca e com as terras da Academia Feminina do Sagrado Coração de Jesus. Ao sul é circundada ao longo de grande parte de seu perímetro pela estrada da Vista Chinesa, cuja abertura data de 1856 (N. Crud, comunicação pessoal). Atualmente abriga o Serviço de Ecologia Aplicada da Feema.

Em anexo segue uma lista de espécies (Anexo 2) obtida em levantamento registrado em GEOHECO (2000c), o qual constitui um dos principais levantamentos recentes desenvolvidos na bacia em pauta. Este (110)


4. METODOLOGIA

Os primeiros registros históricos iniciaram-se por volta de 1856 quando Luís Pedreira do Couto Ferraz, Visconde de Bom Retiro, o qual mandou abrir o caminho chamado de “Estrado do Caminho do Jardim”, ligando o Alto da Boa Vista ao monumento chamando de Vista Chinesa; mais tarde, continuou o traçado da estrada ligando a Vista Chinesa ao Jardim Botânico e a Gávea, pela estrada Dona Castorina. No início da Estrada Vista Chinesa até pouco tempo havia uma placa comemorativa com a data de 1857 em homenagem ao Visconde de Bom Retiro, onde hoje existe um lampião (N. Crud, comunicação pessoal).

Os ecossistemas de Floresta Atlântica, em face à sua fragilidade e grau de destruição, evidenciam a necessidade de melhores definições de propostas metodológicas para o uso compatível das mesmas e para uma estratégia mais ampla de conservação das áreas remanescentes. O conhecimento florístico e fitossociológico é de grande importância para o desenvolvimento de trabalhos de natureza ecológica e reconhecidamente uma necessidade prioritária para a conservação e uso racional deos ecossistemas (GUEDES-BRUNI, 2002; KERSHAW, 1975).

De acordo com a classificação do IBGE (1992), a área da Reserva Florestal da Vista Chinesa encontra-se sob o domínio da formação de Floresta OMbrófila Densa Submontana, caracterizada pela presença de fanerófitos de alto porte com aproximadamente 30 m. O subbosque é representado por plântulas de regeneração natural, poucos nanofanerófitos e caméfitos, além da presença de palmeiras de pequeno porte e lianas herbáceas em maior quantidade.

4.1 Caracterização da Área e Definição dos Sítios Amostrais Com o auxílio de uma carta topográfica escala 1:2000 foi feita a divisão da área em domínios geobiofísicos considerando a interação das condições físicas do terreno, tais como tipo de interferência urbana, adensamento habitacional e proximidade de visas públicas, vegetacionais, condições topográficas e geomorfológicas. Definidos os domínios a partir da carta topográfica, doravante grafados com D, fez-se um caminhamento expedito visando à checagem e redefinição dos pontos previamente selecionados, o que resultou na seguinte divisão (tabela 1):

É importante ressaltar ainda que, durante o ciclo do café, em meados do século XIX, toda a floresta original foi derrubada para o estabelecimento das plantações, o que acarretou sérios problemas hidrológicos nas encostas desta região. Com o objetivo de mitigar estes efeitos, toda a floresta foi replantada, caracterizando um processo de sucessão vegetal, denominando assim esta vegetação de flroesta secundária. Como resultante desse processo de transformação corrido desde o período colonial até o presente, a área em estudo apressenta uma heterogeneidade esperada, demonstrando uma resposta fitofisionômica e, ocasionalmente física (deslizamento, exposição e/ou deslocamento de blocos, p.ex.), às várias interferências antrópicas no local, tais como a abertura da clareira para instalação da represa, trilhas, presença de cercas delimitadoras de terrenos e estradas próximas.

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Tabela 1: Caracterização dos domínios geobiofísicos

Feita a divisão em domínios, dada a heterogeneidade ambiental própria de ambientes montanhosos em regiões tropicais, fez-se necessário uma segunda divisão que melhor contemplasse as condicionantes vegetacionais, ua vez que as áreas sob condições geomorfológicas distintas apresentam relações hidrológicas que alteram as condiçnoes de umidade, podendo gerar zonas de saturação, como em eixos de concavidades, ou zonas de dispersão de fluxos, como nas áreas convexas e retilíneas. A morfologia do terreno, por sua vez, influencia a biota, tanto no que concerne aos seus aspectos taxonômicos quanto estruturais e funcionais. Assim sendo, foram selecionados 12 pontos para instalações das áreas amostrais nos domínios previamente definidos (figuras 4 a 9), cuja distribuição e características encontram-se listados na tabela 2. Destaca-se, contudo, que os domínios apresentam quantidades distintas de áreas amostrais. Tal fato deve-se à dimensão e variabilidae interna destes domínios, resultando em várias transectos em alguns (p. ex. DII e DIV) e apenas um em outros (DI, DIII, DV e DVI).

FIGURA 5: DII sob a influência da Estrada da Vista Chinesa, destacando-se área de deslizamento recente.

FIGURA 4: DI sítio amostral ao fundo da sede do DIVEA. Em destaque a localização do Transecto 1.

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FIGURA 8: DV, sob a influência dos afloramentos. Área situada acima da grua Geonoma..

FIGURA 6: DIII, dossel acima da cerca e vegetação sob a cerca à direita.

FIGURA 9: DVI, enfatizado pela presença da represa.

FIGURA 7: DIV com a variação de fisionomia ao longo do gradiente topográfico.

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4.2 Instalação dos Sítios Amostrais Conforme determinação do edital BID/FEEMA, para o corredor ecológico Frei Velloso, foram instalados 12 transectos em uma área total de 15 hectares, concernentes à reserva Frei Velloso. Cabe ressaltar que, visando possibilitar a continuidade dos estudos, optou-se pela instalação dos transectos em caráter permanente. Este método demonstra-se adequado em levantamentos expeditos, principalmente quando a maior ênfase do estudo é a estrutura da vegetação. Face à presença de um grande afloramento no centro da reserva e da presença de trilhas, foi decidido que a instalação dos 12 transectos, com 100m de extensão por 2m de largura traria um maior distúrbio para área, além de oferecer desconforto para eventuais trânsitos na mesma. Isto posto, foi dado como alternativa a redução da extensão do transecto para 50m, com aumento da largura para 4m, o que resultou na manutenção do tamanho da área mostral 200m2 por transecto (2.400m2 no total), não trazendo, portanto, nenhum prejuízo para o estudo em desenvolvimento.

FIGURA 10: Transectos instalados nos sítios amostrais. Em detalhe a trena centimetrada utilizada na demaração dos sítios e a estaca de PVC marcando o ponto médio dos transectos em caráter permanente.

4.3 Caracterização Geográfica da Área Para melhor compreensão dos processos de colonização e desenvolvimento vegetacional na área, foi acrescentado o levantamento os dados físicos de cada sítio amostral.

Para tanto, após a definição do ponto inicial, deuse prosseguimento à demarcação das áreas amostrais fixando-se uma estaca de PVC de ½ e 1,50m de comprimento, perfurada na extremidade superior, através da qual passou-se um cordame. O cordame demarcou o ponto central do transecto sendo estendido até os 50m, com uma estaca fixada aos 25m. Com o auxílio de uma estaca de madeira de 2,0m de comprimento, percorreu-se cada lado do transecto resultando em uma área amostral de 50 x 4,0m, conforme explicado anteriormente (figura 10).

Este dados consistem na análise da declividade, primordialmente aos 0m, 25m e 50m marcados no transecto. A título de localização e de análise do posicionamento dos sítios amostrais dentro da Reserva, foram tomadas as orientações e o georreferenciamento de cada transecto, orientação e descricão geomorfológica das encostas utilizando o aparelho de GPS (GLOBAL POSITIONING SYSTEM) modelo ETREX marca GARMIN, fornecido pelo DIVEA/FEEMA (figura 11).

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optou-se pela fixação das etiquetas com anel de nylon. As árvores mortas ainda em pé e vivas ou mortas com ocos também foram incluídas na amostragem, de acordo com os objetivos do trabalho. Além de avaliar-se o grau de infestação de trepadeiras herbáceas e lenhosas ao longo dos sítios amostrais.

FIGURA 11: Equipamentos empregados na análise de dados físicos: declividade e orientação dos transectos.

4.4 Levantamento Fitossociológico Como critério de inclusão das espécies para o levantamento fitossociológico adotou-se o diâmetro a altura do peito (DAP) maior ou igual a 5,0cm. Para cada indivíduo marcado tomam-se a medida de perímetro do tronco com uma fita métrica centimetrada, este é medido a 1,30 metros do solo, obtendo-se então o DAP (Diâmetro a Altura do Peito), medida mundialmente padronizada (figura 12). No caso dos troncos perfilhados é realizada uma conversão matemática através do programa MULTIDAP, desenvolvido por E. DALCIN (1992).

FIGURA 12: Procedimento para levantamento fitossociológico. Na sequência a) Medição do Diâmetro a Altura do Peito (DAP), b) marcação dos indivíduos arbóreo-arbustivos e c) indivíduos identificados com etiquetas e altura da mensuração do DAP (marca fosforecente).

4.5 Mapeamento das Espécies Vegetais Conforme explicado no item 3.3.1 da PROPOSTA TÉCNICA encaminhada por esta equipe, o atendimento deste item foi realizado a partir da tomada das coordenadas geográficas por um aparelho GPS (GLOBAL POSITIONING SYSTEM) naqueles locais onde é possível à captação de sinais dos satélites. Nestes casos, optou-se por registrar as coordenadas do início do transecto (a 0 metro), o qual encontram-se, em quase todos os casos, nas borda da Reserva, exceções feitas aos transectos 11 e 12 (ver na tabela 2 a localização dos domínios e transectos).

Nos transectos se procederam ainda a mensuração da altura, contabilização e marcação de indivíduos mortos, conforme metodologia descrita em MUELER-DOMBOIS e ELLEMBERG (1974). A título de contribuir para um monitoramento futuro as alturas em que os DAPs foram mensurados foram marcadas com tinta spray fosforecente. Os indivíduos amostrados foram identificados por meio de etiquetas plásticas numeradas. Estas foram presas por pregos de cobre de uma polegada de comprimento, enterrando-se um terço do mesmo no tronco da árvore, para permitir seu crescimento sem perigo do prego ser expulso e sem maiores danos para a árvore. Outrossim, acrescente-se que em casos de indivíduos de diâmetros baixos, por medida de precaução

Após a localização do início amostral, com o auxílio de uma bússola foram tomadas as direções geográficas para efetuar a plotagem do transecto em um mapa da área de estudo. Essa medida torna-se, portanto, uma alternativa à impossibilidade de detecção dos sinais pelo GPS (115)


A mesma explicação aplica-se à localização dos indivíduos. Face ao supracitado, foi realizada a tomada da localização de todos os indivíduos pelo método das coordenadas geográficas (figura 13), tendo-se como referência o eixo do transecto. Após o levantamento os dados foram plotados em gráfico de localização utilizando o software ArcView.

FIGURA 13: Marcação dos indivíduos incluídos na amostragem.

TABELA 2: Localização e caracterização geral das áreas amostrais da reserva da Vista Chinesa, RJ.

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4.6 Inventário Florístico

evitar enganos na amostragem do material. Outros procedimentos que foram objeto de especial atenção nas coletas botânicas foram: não coletar em dias chuvosos, devido ao risco pessoal em áreas de acentuada inclinação e também porque a coleta de plantas molhadas propicia a formação de mofo; escolher exemplares sem vestígios de ataque por insetos, infestação de fungos e outros sintomas patológicos evidentes; coletar número suficiente para identificação, porém sem depauperar a planta matriz.

Para efeito de uma análise vegetal mais completa, adotou-se como critério de inclusão o DAP maior ou igual a 1,5 cm, o qual incorpora indivíduos pertencentes ao sub-bosque. Contudo, em virtude da grande maioria dos estudos fitossociológicos abrangerem particularmente indivíduos do componente arbóreo, ou seja, com DAP igual ou superior a 5,0 cm, optou-se por considerar neste inventário florístico da área da R.F.V.chinesa o mesmo critério adotado nestes estudos. Assim sendo, foram inclusos aqui aqueles indivíduos enraizados nos transectos que apresentassem diâmetro igual ou maior a 5,00cm, os quais foram marcados com etiquetas plásticas numeradas conforme descrito no item 4.4. As árvores e os arbustos têm alguns de seus ramos seccionados com tesoura de poda e estes constituem as amostradas representativas dos indivíduos; estes cortes devem ser inclinados para impedir o acumulo de água na extremidade secionada, evitando assim danos à planta matriz (IBGE, 1992) (figura 14). Árvores cujos ramos estão em alturas inacessíveis são coletadas por meio de tesoura de alta poda. Porém, árvores de alturas ainda maiores, emergentes em sua maioria, só podem ser coletadas por pessoas especializadas em arborismo (escalada em árvores de grande porte), com o equipamento adequado. Na realização deste trabalho foi utilizado o método de subida com “peconhas”, com equipamento de alpinismo conforme descrito por OLIVEIRA & ZAÚ (1995), conforme demonstra a figura 15. Este método foi preferido em relação ao método de subida com “esporas” por não causar danos no tronco da árvore, pois as perfurações causadas pelo uso de esporas podem abrir caminho para infestações de agentes patogênicos. Maiores detalhes de técnicas de coletas arbóreas em DIAL & TOBIN (1994), PERRY WILLIAMS (1981) e WHITACRE (1981).

Figura 14: coleta de material botânico (a) com destaque para o transecto instalado e a marcação dos indivíduos nos transectos (b).Ainda no campo, as amostras separadas e identificadas com a fita crepe e com a numeração do indivíduo e da parcela escrita com caneta para retro projetor, foram acondicionadas em sacos plásticos. A utilização de canetas para retro projetor é recomendada devido á tinta da mesma não desbotar. Para melhor conservação do material, até a prensagem, este foi borrifado com álcool liquido ainda no campo. Os sacos plásticos com as amostras foram levados para a sala de preparação de material botânico do Herbário Castellanos (GUA) da DIVEA. O material foi acondicionado no freezer até a herborização, o que evita o posterior ataque de pragas, que podem levar até a destruição das amostras.

É comum nas áreas de mata de encosta a ocorrência de árvores com copas justapostas e/ou infestadas de trepadeiras. Nestes casos a coleta foi objeto de especial atenção buscando (117)


malaccense), maria-sem-vergonha (Impatiens balsamica) nas bordas, marantas (Maranta sp, Calathea sp), dentre outras. Porém, encontra-se em um estado regular de conservação, a julgar pela presença de indivíduos de maior porte das famílias Sapotáceae, Annonaceae, Lauraceae e Apocynceae. Estas, com exceção da última são espécies zoocóricas, que, juntamente com as Myrtaceae nativas e a exótica (jambo), constituem uma concentração pontual de recursos alimentares para a fauna. A presença de trilhas nesse domínio aumenta o risco de deslizamentos rasos resultante da constante compactação do solo pelo pisoteio, que nesta área é maior que na demais, uma vez que dá acesso a todos os outros pontos da Reserva. A exemplo disto, foi observada ao término deste trabalho uma área adjacente ao transecto 1 e à parte final do transecto 2, uma clareira formada por queda de duas árvores paralelas que se tornou ampliada por uma terceira de maior porte, situada entre ambas (figura 16). É provável que a queda desta última tenha sido favorecida pelas outras. A terceira árvore era uma espécie de grande porte, aproximadamente 15 m de altura, contendo trepadeiras herbáceas e lenhosas ao longo do tronco. Ao cair este indivíduo acarretou um efeito dominó através da queda de outros indivíduos situados abaixo. Além disto, causou ainda uma ruptura longitudinal no tronco de outra árvore situada imediatamente atrás.

Figura 15: Técnica para coleta de alta poda: a) coleta em altura mediana de indivíduos arbóreos próximos; b) coleta de indivíduos emergentes destacando equipamento de segurança para arborismo e c) utilização de tesoura de alta poda em coleta de indivíduos emergentes.

Na parte inicial da herborização, os ramos coletados foram preparados adequadamente para prensagem. Seguindo a metodologia tradicional (MORI, 1989) os ramos com muitas folhas foram desbastados e as amostras foram preparadas em tamanho em média de 35 a 25 cm, de acordo com a metodologia padrão supracitada. Após a operação de secagem, as amostras foram submetidas a processos especiais para impedir infestações diversas. A seguir, as amostras foram separadas por morfo-espécies, acondicionadas em sacos plásticos com naftalina e cânfora para serem enviadas para identificação taxonômica e posterior incorporações no herbário. 5- RESULTADO E DISCUSSÃO: 5.1 Caracterização dos Domínios e Sítios Amostrais 5.1.1 DOMÍNIO I: Compreendendo o transecto 1, encontra-se sob a influência imediata das edificações da sede do DIVEA, distando destas aproximadamente 25m em linha reta. De um modo geral este domínio apresenta várias espécies exóticas, tanto arbóreas, quanto arbustivas e herbáceas, muitas das quais utilizadas em jardinagem na vizinhança. Dentre estas se destacam jambeiros (Syzygium

Figura 16: Primeira clareira formada contendo vários indivíduos mortos (a); tamanho da abertura no dossel (b) deixada pela clareira; rachadura no tronco da árvore tombada em

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Setembro/2004 seta destacando a direção da queda (c) e o desenraizamento da árvore, com destaque para o rompimento do tronco de outra árvore adjacente à base do indivíduo recém-caído (d). A condição de declive associada aos solos rasos e grandes blocos no estorno propiciam o desenraizamento de árvores e arbustos. A proximidade da estrada somada à clareira das edificações do DIVEA favorece a ação do vento. A ocorrência da amplificação da clareira confirma o grau de suscetibilidade nestes domínios. Como demonstra a figura 17, a distribuição diamétrica nesta área tende a apresentar a forma de um J invertido, típico de comunidade de espécies com regeneração abundante e estrutura populacional estável. Nesta estruturação a maior parte dos 23 indivíduos encontrados esteve concentrada nas primeiras classes, evidenciando que novos indivíduos estão crescendo neste domínio, o que sugere que há uma regeneração em andamento.

Figura 17: Distribuição dos indivíduos (%) arbóreo-arbustivos por classe de altura (m) e diâmetro a altura do peito (DAP cm) do transecto 1. Reserva /Rio de Janeiro. 2004.

Em média, as espécies observadas apresentaram um diâmetro em torno de 14,6 +- 12,4cm, variando de 5,9 a 64,3 cm de espessura, o que resulta em uma variação total de 85%. Em termos de distribuição de altura observou-se que estes indivíduos não ultrapassaram 25m, apresentando uma estratificação irregular, com um predomínio de indivíduos entre 8 a 12 m, o que gerou uma média de 10,8 +- 5,7 m, variando entre 1,5 a 25 m (CV = 52%). Esta distribuição irregular para os padrões normais de variação de altura em áreas estabilizadas de Mata Atlântica significa que este domínio tem uma maior presença de indivíduos de baixo porte, com poucos emergentes. A discrepância entre alturas baixas e diâmetros grandes pode ser conseqüência de corte, o que não ocorre no local, ou de quebra do indivíduo com um posterior rebrotamento, o que deve ocorrer com certa freqüência. 5.1.2.DOMÍNIO Englobando inicialmente os transectos 2 a 6, abrange encostas próximas à Estrada da Vista Chinesa até aproximadamente a cota 400m onde está edificada uma residência. Devido a esta peculiaridade, o transecto 6 aí instalado demonstrou ter um predomínio da influência da vizinhança edificada, sendo neste modo mas afeito ao DIII, onde ora encontra-se classificado. Face ao oposto a análise do transecto 6 será feita no referido domínio. Toda a área do DII corresponde à borda da Estrada da Vista Chinesa, cuja abertura data de 1856 (N.Maciel comunicação pessoal). Para a abertura desta via foi necessário um corte na encosta que em grande parte é retilínea. Esta característica, se por um lado reduz o efeito da declividade pelo fato do corte ter sido praticamente a 90º, como no caso de transectos 4 e 5, por outro foi mais interferente, onde a declividade menor favorece o carregamento de sedimentos em pequenos deslizamentos, como o ocorrido na base do transecto 4 (figura 18)..

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Ainda como conseqüência dessa condição sobressai a necessidade de manutenção do arruamento e da iluminação, requerendo podas periódicas. A presença de estrada resulta em um efeito similar às clareiras naturais, porém o constante desgaste da vegetação que recoloniza periodicamente suas bordas atrai o recrutamento de espécies oportunistas, destacando-se principalmente as trepadeiras herbáceas. Estas, devido à facilidade de suporte oferecida pelos postes de iluminação e de rede de fios e cabos transmissores, facilmente atingem a copa das árvores mais internas, se sobrepondo às copas ali existentes e competindo por luz. O somatório dos efeitos do crescimento das trepadeiras nas bordas da estrada apresenta-se ambíguo, uma vez que por um lado se elas interconectam as árvores, conferindo-lhes um apoio mecânico, por outro, quando da desestabilização de uma delas, ocorre um efeito cascata. Muitas dessas espécies oportunistas formam adensamentos ao longo da encosta e no, período seco, tornam-se excelentes combustíveis, como no caso das áreas dominadas pela samambaia de barranco Gleichenia SP (figura 19).

Figura 18: Área com vestígios de erosão recente e em processo de recolonização natural (a). Deslizamento ocorrido em setembro /2004 na borda da Estrada da Vista Chinesa, na base do transecto 4 (b).

Figura 19: Vegetação da borda da estrada. Em destaque a biomassa de trepadeiras utilizando a fiação como suporte e as samambaias (Gleichenia sp) ao longo da encosta.

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O resultado geral desse efeito foi bem exemplificado pelo transecto 4, onde as árvores de grande porte ali presente estão morrendo e a abertura favorecida pela perda de suas copas e/ou sua queda, favorece a invasão de bambu taquara em maior expressão e, em menor escala, ciperáceas. A presença da taquara impede o crescimento de outras espécies de estádios mais avançados (figura 20). Este fato é bem caracterizado pelo mapa do transecto, onde as áreas com ausências de ocupação correspondente aquelas já dominadas pelos bambus (anexo 1).

toda a sua extensão, indica que o uso desta via foi intenso, podendo ter sido usado moderadamente por longos períodos ou intensamente por um período curto. Nesta são observados samambaiaçus (Alsophilla sp.), brejaúva (Astrocarium aculeatissimum), e várias herbáceas. Destaca-se também a presença de matacões que eventualmente se desprendem e atingem a estrada (figura 21).

Figura 21: Transecto 5 com a amplitude do corte da trilha (a); espaçamento entre os indivíduos arbustivos (b); largura da trilha (c) e os matacões (d).

No trasecto 2, por está instalado sobre um eixo de concavidade, reúne boas condições de umidade e sombreamento. No entanto a condição geral da área que representa é de nítida degradação. Também aí taquara se expande dificultando o estabelecimento de outras espécies em médio prazo (figura 22). Além do seu papel na canalização da água da chuva, comentadas nos itens subseqüentes, a serrapilheira produzida por esta espécie oferece pouco retorno de nutrientes ao solo, empodrecendo-o. A sua baixa decomposição resulta em acúmulo que no período de chuva promove escoamento superficial de água favorecendo a concentração á jusante. Este efeito pode levar a saturação de água em outras áreas trazendo riscos de deslizamento e reduzindo a carga de água

Figura 20: Taquaral que se expande ao longo do trasecto 4.

O transecto 5 apresentou a melhor condição este domínio. O corte retilíneo (em 90°) dessa porção da encosta permitiu uma melhor sobrevivência das espécies que ali se desenvolvem. Contudo, há um segundo corte paralelo á estrada que possivelmente serviu de trilha em tempos pretéritos. A vegetação que se desenvolve ao longo deste caminho, predominantemente arbustiva e não ultrapassando 4m de altura em (121)


infiltrada no solo, a qual alimenta os canais de drenagem da bacia. Outro risco a ser acrescentado diz respeito á expansão de incêndios de superfícies, por construir-se um excelente combustível em períodos de seca. Sua proximidade da estrada e a presença de redes de transmissão agravam sobremaneira este risco. Incêndios ocorrentes na superfície aumentam a degradação do solo e afetam significativamente o sub-bosque, alterando o tempo de recuperação de sistema. A condição de concavidade possivelmente confere a área um atenuante ao risco de incêndio, devido ao maior teor de umidade que propicia.

Figura 22: Cavidade onde está situado o transecto 2 (a); presença de cipós (b); piso florestal (c) composto basicamente por folhas da taquara (d).

O transecto 3, instalado em uma encosta convexa, de média declividade, que se acentua na parte interior da Reserva, apresenta uma cobertura vegetal pouco densa com sub-bosque incipiente. O dossel não é contínuo, com arvoretas principalmente da família Melastomataceae, algumas árvores de maior porte e trechos onde a vegetação arbórea é interrompida, ocasionando um aspecto de parque (anexo 1). Muitos galhos e troncos médios caídos são encontrados nessa área, provavelmente devido a uma vulnerabilidade á ação de ventos. O descolamento nesta área, após a parte adjacente á borda não encontra obstáculos maiores (figura 23).

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Figura 23: Localização do transecto 3 (a) próximo a Estrada da Vista Chinesa; borda do transecto (b); área posterior á borda, com declividade atenuada (c) e v egetação mais esparsa (d).

De um modo geral o DII apresenta, distribuições de alturas e diâmetros irregulares (figura 24). Isto poderia ser devido ao fato de a área estar exposta ao efeito de borda da estrada, o que torna a mata mais vulnerável aos ventos, resultando em prejuízos para a vegetação através do dano físico direto com o arrancamento de árvores. Nas proximidades da estrada da estrada também é comum a ocorrência de deslizamentos. Neste domínio os maiores percentuais de indivíduos mortos foram observados nos transectos 3 com 16% e no 4 com 26%. De um modo geral as alturas médias se concentraram nas menores classes, não ultrapassando 25m e a distribuição diamétrica não apresentou o padrão do J invertido, reforçando que neste domínio a ocorrência de distúrbios é freqüente o que pode ser visualizado pelas as interrupções nas classes de diâmetro (figura 24). Dos transectos que compõem o domínio ressaltamos que o transecto 2 foi o que apresentou o menor número de plantas com diâmetro maior do que 5,0cm, seguidos pelos transectos 4, 3 e 5. Entretanto os indivíduos de maior espessura ocorreram no transecto 4 (média de 17,9 ± 14,4cm), com o valor máximo de 66cm, bem como em relação as alturas apresentando uma média de 10,9± 8,0m, registrando também o indivíduo de maior alturade todo o domínio (25m). As menores alturas ocorrem no transecto 5, que se caracterizou pela expressiva ocorrência de espécies da família Myrtaceae, conforme MORI (1983), esta família pode formar stands e permanecer por muito tempo no processo sucessional , nas florestas tropicais, o que parece estar ocorrendo.

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Figura 23: Localização do transecto 3 (a) próximo a Estrada da Vista Chinesa; borda do transecto (b); área posterior á borda, com declividade atenuada (c) e v egetação mais esparsa (d).

5.1.3. DOMÍNIO III Definido em princípio pelo transecto 7, encontra-se agora representado também pelo transecto 6, conforme explicado no item anterior. A área representada pelo transecto 6 foi caracterizada pela influência de uma edificação residencial mais expressiva do que da estrada que bordeja. Foi notada a presença de plantas exóticas, restos de jardins como comigo-ninguém-pode e marantas que ultrapassaram os limites da cerca e adentraram a Reserva. Também se constata aí entulhos de obras e lixos em geral (figura 25 e 26).

Figura 25: Lixo diverso encontrado em todo o entorno do transecto 6.

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por conseguinte, os efeitos erosivos sobre esta. Este fato, aliado as taquaras dominantes nesta área, pode suscetibiliza-la á ocorrência de deslizamentos rasos, uma vez que o sistema radicular dessa espécie facilita a infiltração de água, podendo levar à saturação do solo em superfície, condição propícia aos deslizamentos rasos comuns em períodos de grande precipitação. OLIVEIRA et al. (1996) registraram n o M a c i ç o d a Ti j u c a m a i s d e 8 0 % d e deslizamentos nas áreas degradadas ou sob o domínio de gramíneas, o que reforça a gravidade da expansão dessa condição em áreas declivosas, como é o caso em pauta.

Figura 26: DIII, representado pelo entorno do transecto 6 onde está situada a casa. Espécies exóticas utilizadas em paisagismo ocorrendo no interior da Reserva Vista Chinesa

O efeito de borda nesse domínio se faz presente através de espaços abertos devido á residência e a cerca que demarca os limites do terreno, a qual é margeada por uma trilha de aproximadamente 3m, aberta na propriedade particular. Esta mesma trilha bifurca-se em direção ao interior da propriedade, gerando um efeito de clareira sobre a área da Reserva (figura 27). Dada a sua extensão e seu aparente uso freqüente, uma vez que não há indícios de recuperação vegetacional sobre ela, as condições ali desenvolvidas demonstram que esta clareira vem exercendo um efeito prolongado e permanente sobre a reserva. Isto é exemplificado pela presença dominante de taquaras e algumas trepadeiras características de áreas abertas e degradadas.

Figura 27: DIII Transecto 7, com a cerca (a) e o muro divisório (b). Em pontilhado a delimitação das trilhas. A abertura da clareira (c) com tronco de árvore partida em destaque e em (d) a condição do dossel sobre a cerca.

Considerando a sua localização no divisor de uma bacia e sua condição de solo compactada, comum as trilhas, é esperada e constante formação de fluxos superficiais de água, os quais só carreiam sedimentos como também nutrientes. Estudos desenvolvidos na Floresta da Tijuca confirmam a importância das trilhas e atalhos na ampliação de degradação florestal (COELHO NETO, 1996). Este efeito é aumentado quando sob a condição de declive, o qual é acentuado neste lado da Reserva, aumentado,

Ressalta-se ainda que a vegetação ali predominante, como bambus, ciperáceas e muitas pteridófitas, espécies de pouca biomassa a susceptível á dessecação nos períodos de baixa pluviosidade, aliadas aos aglomerados de trepadeiras herbáceas ocorrentes em áreas degradadas, formam um excelente combustível, conforme ilustra a figura 28. Dada sua orientação para o oeste, região com índices de umidade inferior a vertente sul, esta condição se agrava (125)


aumentando sua susceptibilidade a novos incêndios, que podem se propagar gradativamente para o interior ainda preservado.

até voçorocamentos. A todo esse processo denomina-se efeito de borda. Nas áreas onde o lixo está mais presente, como observado no transecto 6, o prejuízo pode ser ainda maior, já que os entulhos de obra e outros materiais pouco recicláveis prejudicam a espansão vegetacional. Além disso, muitos desses materiais imersos na matriz edáfica funcionam como blocos de rochas no colúvio, ou seja, funcionam como pontos de impedimento hidrológico, por não serem permeáveis a água e geram fluxos de água em seu entorno, formando sulcos que podem auxiliar na desestabilização de encosta já sujeito a outras pressões e desgaste. A figura abaixo (29) exemplifica as conseqüências de somatório desses efeitos, que além do avanço de uma vegetação que amplia a degradação em superfície, também recrudesce a expansão da clareira causando a desestabilização de indivíduos de maior porte, normalmente arbóreos, os quais, com a redução de sua copa, tornam-se vulneráveis a ação do vento. Frequentemente a queda desses indivíduos se dá por desenraizamento ou quebra, ambas acarretam um efeito dominó sobre os indivíduos situados ao longo da trajetória da queda, exarcebando os efeitos da clareira promovem ainda mais a substituição da vegetação outrora presente por outra de estágio sucessional menos avançado. Efeito semelhante foi comentado no item referente DI.

Figura 28: Necromassa seca de bambus, ciperáceas e trepadeiras no entorno do transecto 7..

O fogo, aliado à vegetação de bambus, ciperáceas, pteridófitas e gramíneas diversas, gera uma condição permanente de avanço da degradação e recuo de áreas melhor preservadas. Após a queima, as bordas da mata se deterioram em função ou da perda de copa ou da queima das raízes. A abertura através da perda de copa permite uma maior infiltração da radiação solar e dos ventos, causando a perda de umidade e favorecendo o estabelecimento de espécies de início de sucessão, como as gramíneas de um modo geral dentre outras. Estas espécies, por apresentar um poder invasor muito grande, rapidamente penetram na mata e a cada fogo interiorizam estes efeitos. Além disso, com a perda da estratificação da mata e com a abertura do dossel, a água da chuva, que sem atenuação progressiva dos extratos, arbustivos e herbáceos, nesta ordem, tem o poder erosivo de suas gotas sobre o solo aumentado, gerando o efeito conhecido por splash ou salpicamento, o qual leva a compactação do solo favorecendo a formatação de sulcos erosivos que progridem em ravinas ou. (126)


Figura 29: Clareiras de diversos tamanhos (a,b e c) observadas na área correspondente ao DIII. Observar o avanço de vegetação rasteira (a) e as áreas de solo exposto (b e c).

Figura 30: Distribuição dos indivíduos (%) arbóreo-arbustivos por classe de altura (m) e diâmetro a altura do peito (DAP cm) dos transectos 6 e 7. Reserva Frei Vellozo/Rio de Janeiro.2004.

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Este domínio apresenta uma estratificação com alturas irregulares, porém com a distribuição de diâmetros tendendo a forma de J invertido. Embora as médias de alturas sejam similares (em torno de 10,0 cm), há uma maior homogeneidade no transecto 7, o que associado a sua melhor distribuição diamétrica uma diminuição dos efeitos da residência (figuras 30). No transecto 6 ainda há uma grande ocorrência de espécies da família Myrtaceae (30%), caracterizando uma situação semelhante aquele comentada para o transecto 5. 5.1.4. DOMÍNIO IV Composto pelos transectos 8,9 e 10, abrange a área limítrofe ao Parque Nacional da Tijuca. Este domínio compreende um gradiente topográfico onde as condições edáficas mudam gradativamente. O ultimo transecto dessa seqüência espelha o ápice da topografia correspondente ao ponto mais alto da área da Reserva. Esse conjunto de fatores reflete-se na vegetação que, por esta razão, assemelha-se um campo de altitude. Figura 31: Declividade acentuada e espaçamento da vegetação no transecto 8 (a); início do transecto bem próximo ao divisor (b); mudança da fitifisioma com adensamento da vegetação (c) e desenvolvimento de bambus sobre árvore com cobertura da copa (d)..

Os transectos 8 e 9 tiveram seus pontos iniciais posicionados no divisor e direcionados transversalmente em direção ao interior da Reserva. A primeira metade de ambos compreende uma área plana que posteriormente apresenta um aumento brusco de declividade. Esta variação resulta em uma mudança na vegetação de tal forma que no início dos transectos a vegetação apresenta-se bastante alterada, com a presença de taquaras invadindo a parte mais baixa do terreno. A medida que findam os transectos, á jusante, a declividade vai se atenuando e a vegetação se apresenta mais conservada como demonstra a figura 31.

Ao longo da área representada pelo transecto 8 foram registrados vários indícios de incêndio recente. A presença de tocos de árvores queimados (figura 32) indica que o fogo teve muita expressão na base do tronco. Incêndios dessa magnitude eliminam espécies de subbosque, alteram as condições físicas do topo e do solo desestruturam a comunidade edáfica responsável pela atividade biogênica mantenedora da estruturação física do estrato superficial do solo, alterando, consequentemente, sua condição hidrológica. Quando o fogo das árvores, o outro agravante é a perda da sustentação arbórea como seqüência da destruição dos sistemas radiculares ZÁU (1994), FREITAS (2001). Não foi observado nenhum indício do fator detonador do fogo, contudo acredita-se que uma das causas prováveis são balões, tendo em vista a orientação voltada para uma região em que (128)


freqüente esta prática. A presença de gramíneas e ciperáceas nessa área favorece a ocorrência e expansão do fogo. Vestígios similares também foram observados no transecto 9, o que sugere simultaneidade de ocorrência do incêndio ou maior freqüência. Este transecto é dominado nos primeiros 25 metros pela taquara, a partir dos quais a mata torna-se mais fechada; com bambus somente no estrato herbáceo; aumento do sub-bosque e do sombreamento, inclusive com o aparecimento de epífitas. Nesta área foram observadas formações de cavas, vestígios de construção não necessariamente de moradias, visto que o local não consta ter tido esta finalidade, mas possivelmente deve ter havido algo que tenha servido de entreposto nas antigas trilhas.

Figura 33: Vista geral dos primeiros 25 metros do transecto 9 (a) e após os 50m (b).

No transecto 10, embora não tenham sido notados vestígios de incêndios, a proximidade das áreas, as condições topográficas e vegetacional tornam a área susceptível ao mesmo risco. Nesta área a vegetação baixa e retorcida e a p r e s e n ç a d e c a n d e i a s ( Va n i l l o s m o p s i s erythropapa), vassourinhas Myrcia rostrafa, quaresmeiras e o estrato herbáceo com dominância de Gleichenia sp, torna-a muito semelhante aos campos de altitudes. Possivelmente esta característica deve-se ás condições edáficas aí reinantes. A fisionomia da vegetação neste transecto é bastante peculiar e estende-se por toda a zona do cume (figura 34). A baixa estatura da vegetação aliada á topografia permite uma excelente visibilidade da vertente sul do maciço da Tijuca. Vertente está de melhor condição vegetacional, apresentando estruturas, composição florística e funcionamento ecossistêmico muito diferenciado da face norte (OLIVEIRA et al, 1995). Como observado nos transectos anteriores, deste Domínio, a mudança de declividade implicou em mudança na estrutura e composição da vegetação, conforme pode-se observar nas figuras 33 e 34.

Figura 32: Área queimada em torno do transecto 8 (a), clareira aberta com i ndivíduo arbóreo morto em pé (b); fragmentos de troncos espalhados pela área (c) e base queimada de um indivíduo (d).

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Figura 34: Vista geral do transecto 10 (a) com detalhe para aglomerado de Gleichenia sp. dominado o estrato herbáceo com parte de sua biomassa seca (b); vegetação arbórea desenvolvida nas partes mais baixas da área (d).

Em termos estruturais 8 e 9 se assemelham, tanto em relação á distribuição diamétrica quanto a da altura (figura 35), tendo registrado os maiores valores destes parâmetros. Neste aspecto a média de DAP e altura do transecto 10 foram expressivamente menores (altura: 4,9 ± 2,2 m e DAP: 8,7 ± 4,8 cm), ressaltando que foram os menores valores de altura e diâmetro de toda a área de estudo. Em parte esta fitifisioma pode ser atribuída a condição física que por sua vez favorece a maior ocorrência de candeias e quaresmas, corroborando as condições edáfico-climáticas comentadas anteriormente.

Figura 35: Distribuição dos indivíduos (%) arbóreo-arbustivos por classe de altura (m) e diâmetro a altura do peito (DAP cm) dos transectos 8, 9 e 10. Reserva F.V.Chinesa/Rio de Janeiro. 2004.

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DOMÍNIO V Este domínio, representado pelo transecto 11, sítio acima da gruta denominada Geonoma, corresponde á área que vai do limite da Reserva próximo ao Morro do Queimado e se estende por todo o limite leste demarcado naturalmente pela presença de um paredão rochoso, englobando a gruta. De todos os domínios este se destaca por apresentar a melhor condição vegetacional da Reserva. A alta umidade é espelhada por um sub-bosque rico em samambaias de várias espécies, dentre os quais o samambaiaçu, considerado um indicador de umidade alta. Esta umidade é bastante favorecida pela presença de paredões rochosos e diversos afloramentos, os quais oferecem ao ambiente um significativo input de água advindo de sua superfície impermeável, o que favorece a ocorrência de vários pontos de exfiltração de água. O solo nesta área apresenta-se mais poroso e escuro, diferentemente de outros domínios. É comum observar-se nesta área algumas árvores de porte elevado característico de vegetação secundária tardia ou climáxica, podendo ser considerado como um domínio em estádio avançado de sucessão. A presença de um dossel descontínuo é atribuída por KURTZ & ARAÚJO (2000) como uma associação á declividade acentuada, o que condiciona uma distribuição escalonada das copas, além da ocorrência de muitos afloramentos rochosos, que dificulta o desenvolvimento de árvores de maior porte. As duas são características da área deste domínio (figura 36).

Figura 36: Domínio V de forte declividade e sub-bosque com predomínio de samambaias (a); árvores de grande porte como Cordia sp. (B) e presença de cipós (trepadeiras lenhosas) (c).

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Comparativamente este domínio registrou o segundo maior valor médio de DAP (16,0 ±13,7cm) e altura (10,0±6,0), inferior apenas ao transecto 4. Em termos de valores máximos, ambos os parâmetros foram mais altos no domínio V (DAP máximo = 74,8cm; altura máxima = 30m). Conforme observa-se na figura 37, as árvores emergentes concentram-se na classe de 28 a 30m, distanciando-se aproximadamente 8 m do dossel.

Figura 37 Distribuição dos indivíduos (%) arbóreo-arbustivos por classe de altura (m) e diâmetro a altura do peito (DAP cm) do transecto 11. Reserva Frei Vellozo/ Rio de Janeiro. 2004.

DOMÍNIO VI Neste encontra-se instalado o transecto 12. O DVI caracteriza-se pela presença de uma represa em torno da qual é marcante a degradação da área. Sendo observados pequenos deslizamentos, cujo área de movimentação de sedimentos foi recentemente ampliada após as chuvas de janeiro/fevereiro de 2004. A presença do afloramento rochoso á montante e de grandes blocos em todo domínio não favorece a fixação de indivíduos arbóreos de grande altura. Esta condição determina a existência de solos rasos muito sujeitos á saturação em água, causando a desestabilização da ação do terreno exemplificada pelos movimentos de massa rasos descritos anteriormente. Este fato acrescido da proximidade de um grande declive gera uma grande entrada de luz e aumento da ação do vento. Queda de árvores é resultante da interação de fatores locais como direção predominante dos ventos, propriedades de solo, características estruturais da vegetação. A conjugação desses efeitos promove o estabelecimento de espécies de início de sucessão. Aí se destacam em área de clareira sobrepujando a copa dos arbustos e bambus em franco desenvolvimento, como é possível ser observado na figura 38. Contudo, foi observado a presença de muitas trepadeiras lenhosas, indicativas de ambientes mais preservados, florestas maduras, provavelmente sobreviventes aos impactos ocorrentes na área.

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Figura 38: Clareira á montante de represa (a) com vários indivíduos mortos em pé (b), com predominância de indivíduos de baixa estatura (c) e concentração de necromassa seca proveniente da morte de trepadeiras e do indivíduo por elas estrangulados em destaque (d).

O transecto 12 apresenta a altura média 10,6 ± 4,7m e o DAP médio 12,4 ± 7,2cm. A figura 39 mostra uma estratificação irregular, possivelmente devido ao substrato rochoso ainda predominante nesta área. Seu histograma de diâmetros está em J invertido, característico de áreas em regeneração.

Figura 39: Distribuição dos indivíduos (%) arbóreo-arbustivos por classe de altura (m) e diâmetro a altura do peito (DAP cm) do transecto 12. Reserva Frei Vellozo/Rio de Janeiro. 2004.

Na tabela (3) consta uma descrição, sumarizada das características físicas dos diversos domínios da Reserva F.V. Chinesa.

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Tabela 3: Localização e caracterização Geral dos domínios e sítios amostrais do estudo das condições vegetacionais da Reserva Frei Vellozo/Rio RJ

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5.2 Estrutura e Composição Florística 5.2.1 Estratificação e distribuição das classes de diâmetro A análise da distribuição das alturas para a Reserva como um todo (figura 40) demonstra a inexistência de estratos definidos, ou seja, os indivíduos se distribuem de forma contínua com maior densidade até 10m de altura, diminuindo gradativamente em direção aos emergentes que alcançam até 30m de altura, como um exemplar de Cordia sp. Outras árvores, secundárias tardias ou climáxicas, sobressaem do dossel a exemplo de Cariniana estrellensis, Coussarea meridionalis, Cryptocarya SP, Fícus sp, Malouetia arbórea, Pseudopiptadenia contorta, Vochysia acuminata. Porém, quando analisamos os domínios separadamente geralmente não se observa a ocorrência de um estrato único. Deste modo o dossel localmente apresenta alturas descontínuas, o que, conforme o comentado nos domínios pode ser devido a fatores como a declividade acentuada em várias áreas, a existência de afloramentos rochosos que dificultaria o desenvolvimento arbóreo em certos trechos e a ocorrência de clareiras pontuais.

Figura 40: Distribuição dos indivíduos arbóreo-arbustivos por classe de altura e diâmetro a altura do peito (DAP) da Reserva F.V. Chinesa/Rio de Janeiro. 2004.

A distribuição geral dos diâmetros tende a forma de um J invertido, sinal de áreas em regeneração. Quando a distribuição é balanceada, o fator de redução de uma classe para outra é constante. Entretanto, nos casos aqui observados há interrupções em algumas classes em determinadas áreas, significando que algum distúrbio interrompeu a regeneração no passado. Os distúrbios provocados pelo vento, aliado a pouca profundidade do solo, com a queda de árvores de grande porte e abertura de clareiras na mata,, levando a um aumento de luminosidade, facilita o desenvolvimento de indivíduos de estágios iniciais com menores alturas e diâmetros. Os bambus também podem expandir sua distribuição, com o aumento de luminosidade devido a ocorrências de clareiras, retardando a regeneração das áreas abertas. Florística Em uma área total de 2.400m² (0,24 ha), distribuídos em 12 transectos, foram amostrados 404 indivíduos arbóreos vivos e 30 mortos (7,4%) ainda em pé. Os indivíduos vivos identificados distribuíram-se por 38 famílias, 79 gêneros 117 espécies e 69 não identificadas e agrupadas em morfo-espécies. De um modo geral, das 38 famílias identificadas que apresentaram o maior quantidade de indivíduos, a saber: Myrtaceae (65), Melastomataceae (48), Rubiaceae (33), Laureceae (26) e Compositae (11), foram também as que apresentaram maior numero de espécies, com exceção de Compositae, que foi representada por apenas duas espécies. Destas destacaram-se Lauraceae (14), Rubiaceae (11), Melastomataceae (10), Leguminosae (8), Myrtaceae (7). A figura 41 apresenta as famílias identificadas em ordenação decrescente quanto ao numero de indivíduos e de espécies. A tabela 4 apresenta a listagem das espécies, bem como os respectivos nomes vulgares. (136)


Figura 41: Distribuição das famílias por número de indivíduos (Ni) (a) e por números de espécies (b). No gráfico b foram agrupados outras 24 famílias que continuam até 2 espécies.

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Tabela 4: Lista das espĂŠcies amostradas na Reserva Florestal Vista Chinesa, FEEMA

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Como apontador por MARTINS (1993) e KURTZ & ARAUJO (2000), a identificação dos indivíduos em levantamento fitossociológicos é dificultada pela carência de bibliografias especializadas, floras e revisões taxonômicas, o ainda escasso conhecimento dos recursos florísticos da Mata Atlântica, a pouca representatividade de alguns grupos taxonômicos em herbário e o grande volume de material estéril, inerente nestes estudos. Isto justifica quantidade de indivíduos identificados apenas ao nível de família, gênero ou morfo-espécie. Em relação a lista geral da Floresta da Tijuca (anexo 2), o levantamento apresentou várias espécies não listadas, geralmente pouco amostradas. Além disso, destaca-se a presença do jequitibá (cariniana estrellensis), peroba (Aspidosperma spruceanum) e de várias canelas. A leguminosa Zollernia ilicifolia é reconhecida por Rizzini (1971) como um dos elementos arbóreos característicos da Mata Atlântica que ocorrem em matas pluviais mais interiores. Samambaias arborescentes ou samambaiaçus (Alsophila ssp) também são freqüentes nas partes mais sombreadas. Dentre os possíveis usos medicinais, destacamos a sapucainha ou chaulmogra (Carpotroche brasiliensis) utilizada no tratamento da hanseníase e a brajaúva (Astrocaryum aculeatissimum), que além do aproveitamento das fibras das folhas para a fabricação de vassouras e chapéus e do estipe, (139)


muito duro, para ripas e bengalas, o endosperma do fruto verde, líquido indicado como laxativo e contra a icterícia e quando maduro, o endosperma carnoso serve como vermífugo.

alguns aspectos. Algumas espécies reconhecidamente comuns, a exemplo de Cecropia sp e Myrsine venosa, nas matas de encostas, foram incluídas como raras por terem sido amostradas com apenas critério de inclusão utilizado (DAP a 5cm). Por outro aspecto, devese salientar jequitibá (Cariniana estrellensis), a sapucaia (Lecythis lanceolata), o guatambu (Brosimum guianiense), o angelim (Hymenolobium janeirense), que atestam a qualidade e a importância da preservação da área.

Para o Rio de Janeiro, além do jequitiibá, também Sorocea racemosa Coussarea nodosa, Qualea gestasiana e Qualea glaziovii são espécies em perigo de extinção e Ocotea daphnifolia, Hymenolobium janeirense, Luetzelburgia trialata, Mollinedia longifólia, Brosimum guianense, mendoncaei e Ezembeckia grandiflora tem classificação de vulnerável por ocorrerem em áreas sob pressão de desmatamento.

5.2.2. Análise da diversidade, agregação e distribuição das espécies nos grupos ecológicos

5.2.1 Números de espécies raras

Considerando a análise fitossociológica empreendida com apenas as espécies identificadas até o nível de Família, destacaramse a morfo-espécie classificada como Myrtaceae 1,, Voshysia acuminata sp. laurifólia (Warm.) Staflen, Myrcia rostrata, DC., Miconia cinnanomifolia Naud.,

Nos 2.400m² amostrados na Reserva F.V.C. a maioria das espécies identificadas até o nível de família pode ser classificada como espécies raras neste local. Na amostragem 61 espécies (52%) ocorreram com apenas um indivíduo e 25 (21%) com até dois indivíduos. Apenas 4 espécies (3%) apresentaram até 10 indivíduos, d e s t a c a n d o - s e A m a i o u a i n t e r m e d i a v a r. brasiliana (A. Rich.) Steyerm. (10), Vanillosmopsis erythropappa Schultz-Bip (10), Myrcia rostrata DC.(12) e Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn. (14).

Cordia sp., Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn., Cordia magnoliaefolia Cham., Malouetia arbórea (Vell.) Miers, Garcinea gardneriana (Planch. & Triana) Zappi, Garcinia gardneriana ( Planch. & Triana) Zappi e Amaioua intermédia var. brasiliana (A. Rich.) Steyerme. Como as de maior valor de importância (tabela 5) na reserva F.V.C. . Pode-se afirmar que a morfo-espécie da família Myrtaceae apresentou o maior valor de importância (31), dada sua freqüência (83%) nos sítios amostrais, favorecida pelo maior números de indivíduos registrados (41) e elevada área basal total (0,78m²/ha), comparativamente as outras espécies coletadas. Executando Myrcia rostrata DC. Que se destacou na terceira colocação do valor de importância em função do numero de indivíduos (12), as outras três espécies subseqüentes deveram sua posição a expressiva área basal, principalmente Cordia sp. que foi representada por apenas um indivíduo.

Considerando como critério de espécies raras, aquelas que ocorrem com apenas um indivíduo, comparou-se a área com estudos de DAVIS (1945, apud MARTINS 1993), GUEDES (1988), GUEDES-BRUNI et al. (1997), KURTZ & ARAUJO (2000), LEITÃO FILHO (1993), MONTOVANI (1993), MONTOVANI et al. (1990) M AY O & F E V E R E I R O ( 1 9 8 2 ) , M E L O & MONTOVANI (1994) MORI et al. (1983), OLIVEIRA et al. (1995), PESSOA et al. (1997), SILVA & LEITÃO FILHO (1982), VELOSO & KLEIN (1957, apud MARTINS 1993). Para as formações de Floresta Atlântica o percentual de espécies raras varia de 9,2% em Santa Catiarina a 64,3%, no Rio de Janeiro a variação é de 9,5 45,2%.

Tibouchina granulosa e Amaioua intermedia var. brasiliana apresentaram VI, elevado principalmente em função do número de indivíduos e da freqüência relativamente alta. A primeira deve esse resultado as condições de

O percentual encontrado neste estudo pode ser considerado alto, entro os maiores valores para Floresta Atlântica, porém deve-se ressaltar (140)


clareiras áreas abertas, uma vez que é espécie secundária inicial. Ressalte-se ainda que um número expressivo dessa espécie foi computado nos transectos do divisor da microbacia, especificamente em T10 e T9, nesta ordem. A predominância da condição secundária também se confirma pela presença significativa de Miconia cinnamomifolia entre as espécies de maior VI (tabela 5). No anexo 2 constam as localizações de cada indivíduo contabilizados nos sítios amostrais, seguidos da listagem das espécies por transecto. O tipo de distribuição (ao caso, agregada ou regular) foi determinado pelo índice de Morisita, que é um método independente do tipo de distribuição, do número de amostras e do tamanho da média. Foi calculado para as espécies com numero de ocorrências igual ou maior que cinco e que tivessem sido identificadas ao menos até gênero.

Tabela 5: índice de agregação (Morisita) das espécies ocorrentes na Reserva F. V.

Verificamos que espécies não localmente raras á agregação, principalmente as de estágios iniciais de sucessão, havendo exceções como a Sapindaceae Cupania racemosa. Estas talvez estejam influenciadas não diretamente pelo tamanho da amostra, mas pelo tipo de amostragem de classes de diâmetro que deveria ser mais baixo para um panorama mais exato das espécies de inicio de sucessão. Outros fatores devem ser considerados na agregação como ocorrência em clareiras pontuais na mata, nas áreas com mais luminosidade e também os afloramentos rochosos nesse caso como obstáculos a maior distribuição das espécies. Ocotea schottii, uma Lauraceae de estágio mais tardio de sucessão, também teve um índice mais próximo de uma distribuição ao acaso. Em termos sucessionais verificamos que 27,5% das esppécies foram classificadas como climáxicas, 27,5% como secundárias tardias, 13,75% como secundárias iniciais, 22,5% como secundárias iniciais, 22,5% como secundárias somente 12,5% como pioneiras, ressalta-se que certas espécies aapresentam mais de uma classificação (tabela 6). A menor presença das secundárias iniciais e pioneiras deve-se a abertura das clareiras em uma mata que provavelmente herdou uma condição vegetacional bem preservada.

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Tabela 6: Classificação sucessional das espécies da Reserva F.V.C de acordo com referências bibliográficas, análises morfológicas e observações de campo (Pi pioneira; S secundária; Si secundária inicial; St secundária tardia e C climáxica; s/d = sem dados).

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Em termos de diversidade botânica pode-se considerar, a priori, a área com um índice relativamente alto e dentro daqueles registrados para a Mata Atlântica, uma vez que foi obtido umm índice de Shanon (H') de 4,2 nat/ha. A posterior identificação das 69 espécies não determinadas pode alterar futuramente este resultado. 5.2.3 Quantificação e georreferenciamento das árvores mortas por hectare Em um total amostrado de 404 indivíduos com porte arbóreo foram encontrados 30 indivíduos mortos ainda em pé, perfazendo 7,4% da amostragem. Valores considerados elevados para área de mata Atlântica e, especialmente para Floresta da Tijuca, onde normalmente está abaixo de 10% (MONTEZUMA, 2005) 5.2.4 Existência de ocos, de animais que ocupam esses ocos e de que forma (dormitório, nidificação) Das árvores amostradas encontrou-se apenas quatro apresentavam disponibilidade de ocos, o indivíduo 47 no transecto 4 e indivíduos 23, 58 e 88 no transecto 8 (vide mapas em anexo), ou seja a porcentagem de ocorrência de ocos foi de aproximadamente 1%. Em relação á ocupação destes ocos e (143)


a forma desta, pela fauna local, o âmbito da pesquisa refere-se aos zoólogos. Cabe ressaltar a existência de várias reentrâncias formadas por grandes árvores tombadas e pelas formações rochosas da área, possíveis de utilização pela fauna em geral. 5.2.4 Síndromes de dispersão Entre as síndromes de dispersão predominam as espécies zoocóricas que representam 71,8% do total. Nas florestas tropicais, a forma mais freqüente de dispersar as sementes é através dos animais (zoocoria). Cerca de 60 a 90% das espécies vegetais da floresta são adaptadas a esse tipo de transporte (MORELLATO & FILHO1992). Quanto a classificação de zoocoria, quando havia uma citação a um grupo específico de dispersores esta era adicionada á tabela, o que não implica em afirmar a exclusividade de dispersão por este grupo. Muitas das espécies zoocórias encontradas na Reserva são adaptadas por pássaros e morcegos, atuantes em áreas abertas e clareiras. Segundo REIS et al. (1999), este processo geralmente é mais generalista, ou seja, uma espécie que possui fruto do zoocórico pode atrair animais de espécies e tamanhos bastante distintos. Os dispersores se mantêm nas áreas onde existem alimentos disponíveis durante todo o ano. Das espécies que apresentaram dispersão abiótica, 19,2% eram (dispersas por vento) e em menor proporção espécies autocóricas com 3,9% do total. Em trechos mais degradados ou em fase inicial de regeneração a dispersão por vento prevalece. Por outro lado para as árvores emergentes, com copas acima do dossel, esta estratégia também tem se mostrado eficaz. Na tabela 7 encontram-se listadas as síndromes de dispersão por espécie.

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Tabela 7: Classificação das espécies da Reserva Frei Vellozo por tipo de dispersão.

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5.2.5. Infestação de cipós

A idéia de que a abundância de trepadeiras, em áreas perturbadas, possa influenciar negativamente a recuperação local, ocasionando uma maior mortalidade de árvores, seja por sombreamento excessivo e abafamento, quanto pelo efeito mecânico direto é pouco embassado, talvez sendo decorrente do fato que as trepadeiras são mais visíveis nas áreas com distúrbios, mais abertas que nas matas mais fechadas. Nas áreas mais preservadas, as trepadeiras também são abundantes, com diferentes estratégias de vida. Além disso, a tendência natural da sucessão é de que a abundancia de trepadeiras decresça (PUTZ 1984), pois gradualmente as árvores vão sobrepujando a vegetação circundante e emergindo do emaranhado de trepadeiras provocando seu sombreamento. Como trepadeiras semilenhosas e herbáceas dominantes em áreas muito perturbadas geralmente são espécies muito heliófilas (HEGARTY e CABALLE, 1991), o fechamento do dossel e sombreamento acaba controlando sua infestação (HEGARTY, 1991b), a não ser que os distúrbios sofridos pela floresta sejam muito intensos e freqüentes. Isto explica a constante abundância de trepadeiras de áreas mais pertubadas, nos Domínios II e III.

Realizou-se uma por domínio da ocorrência de trepadeiras e sua magnitude com possíveis efeitos na dinâmica da área (figura 42 a e b). No Domínio II foi constatada a maior abundância de trepadeiras. Embora não sejam necessariamente a causa primária e degradação, elas podem estar atualmente agravando a situação em função das condições atuais devido as características da área e a proximidade com a estrada e os impactos decorrentes particularmente das podas de manutenção. No domínio III, as trepadeiras lenhosas, semilenhosas ou herbáceas são de pequeno diâmetro em geral. A presença de muitos íris, ou brejaúvas, e bambus, inibe a ocorrência destas, por outro lado, as clareiras formadas proporcionam um rápido avanço do crescimento de trepadeiras. Na área com a melhor condição vegetacional da Reserva, no Domínio V destaca-se a presença de trepadeiras lenhosas com diâmetros maiores, também são representativas no Domínio VI, chegando a atingir um porte arbóreo, como no anterior. O Domínio I, referente á área que se localiza a sede do SEA, ainda há muitos cipós lenhosos, mas aumenta a ocorrência de herbáceos e semilenhosos. Na área aparecem por exemplo, cucurbitáceas, caracteristicamente ruderais, de áreas de influência antrópica, dentro de um padrão esperado.

Trepadeiras exercem importantes papéis nas florestas tropicais , como por exemplo interconexão entre copas de árvores vizinhas, aumentado a estabilidade de árvores indivíduos e sua resistência a ventos. Entretanto, quando uma árvore muito infestada cai, muito provavelmente derrubará consigo outras árvores a ela conectadas; em ambas as situações verificamos serem consideráveis para a área em estudo.

Pelos efeitos potenciais sobre as árvores, as lianas sempre foram consideradas pragas do ponto de vista do manejo florestal. O corte e eliminação de cipós tem sido operações rotineiras dentre os tratamentos silviculturais.

As trepadeiras contribuem muito para diversidade de espécies e sua destruição, levaria a um empobrecimento significativo das florestas tropicais. Elas também contribuem para a estabilização do microclima melhoram as condições para germinação e estabelecimento de plântulas de espécies arbóreas. Por serem abundantes nas bordas de matas e margens de clareiras e por formarem massas densas e

Entretanto, quando o enfoque é na conservação das florestas e fragmentos, e não na produção florestal em si, o que se observa é um desconhecimento dos possíveis impactos ecológicos decorrentes da discussões entre ecologistas e manejadores.

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impenetráveis ajudam na formação de uma faixa tampão, que protege a floresta dos efeitos de borda (RANNEY et al 1981) diminuindo a taxa de mortalidade de árvores pelo vento e mudança no microclima nesses ambientes (WILLIAMSLINERA 1990), evitando a invasão por plantas alienígenas, principalmente gramíneas. Este papel é particularmente importante no caso de florestas fragmentadas, que estão sujeitas a um maior efeito de borda pela maior relação perímetro-área.

(1960) confirma a diferenciação das relações existentes entre a geometria das encosta e o direcionamento dos fluxos da água no solo, permitindo a distinção entre os processos hidroerosivos, os quais refletem o grau de vulnerabilidade de cada segmento analisado. Os fatores acima associados a uma declividade média alta, condicionam a formação de solos rasos, os quais, estando sobre a influência de paredões rochosos e a presença de blocos rochosos, suscetibilizam a área de freqüentes distúrbios tais com chuvas intensas e fortes ventos comuns na região tropical. A proximidade de habitações, estradas e trilhas, magnífica os efeitos destes distúrbios, seja pela introdução de espécies exóticas, pela formação de clareiras antrópicas, desestabilização de encostas para abertura de vias, impermeabilização do solo ou a simples compactação do solo em trilhas, gerando fluxos superficiais de água canalizados com alto potencial erosivo.

A presença de trepadeiras é importante para a fauna, principalmente vertebrados arborícolas, oferecem proteção e abrigo, além de transmitirem movimentos causados pela presença de predadores (JACOBS 1988). Além de recursos alimentares para frugíferos e folhívoros, sendo de maioria plantas sempreverdes com produção de folhas novas durante o ano todo. Embora o meio de dispersão predominante de trepadeiras seja a anemocoria, a zoocória é uma característica das trepadeiras ou semilenhosas, nos estágios sucessionais mais precoces, em bordas e clareiras.

Embora não haja registro sobre a ocupação humana na história recente da Reserva (anterior a criação da unidade), evidencias encontradas no campo testemunham a utilização da área. A presença de áreas no interior da reserva com corte retilíneo na encosta e solo compctado sugere a exigência de antigas vias, nas quais a vegetação ali desenvolvida ainda encontra-se em estágio inicial de desenvolvimento, levando a suspeita de que houve um uso intensivo destes caminhos. Estas áreas, devido a sua proximidade com a estrada da Vista Chinesa, p o d e m e s ta r r e ta r d a n d o o p r o c e s s o d e regeneração das áreas limítrofes da Reserva adicionado ao efeito de borda provocado pela estrada. A presença de testemunhos de antigas cavas e tijolos maciços reforça a hipótese de uso antrópico n área, mesmo naqueles de altitude mais elevada. Na atualidade, a presença da represa nas proximidades de um paredão rochoso aumenta o efeito da ação dos ventos e da chuva: uma atuando como clareira antrópica e o outro como clareira natural respectivamente.

Figura 42: a) trepadeiras herbáceas em áreas abertas ; b)trepadeiras lenhosas em parte de área ainda preservada.

6. Conclusões Os resultados obtidos corroboraram a subdivisão da área em domínios, com características geomorfológicas e vegetacionais próprias, tornando evidente a heterogeneidade observada anteriormente. A divisão das encostas em segmentos côncavos, convexo e retilíneos conforme metodologia de HACK & GOODLETT (1960) confirma a diferenciação das relações

A distribuição dos diâmetros na área total tende a forma de um J invertido, típico de comunidade de espécies com regeneração abundante e (147)


estrutura populacional estável. Nesta estruturação a maior parte dos indivíduos encontra-se concentrada nas primeiras classes, evidenciando a entrada de novos indivíduos, sinal de recuperação de área. Com uma concentração de indivíduos na primeira classe, o que indica que a maioria dos indivíduos esta em fase de crescimento.

A maior quantidade de espécies encontradas no estudo pertencem aos grupos mais tardios de sucessão. 7 RECOMENDAÇÕES:

1. Buscar minimizar o efeito da clareira criada pela represa a partir de plantios no entorno com espécies arbóreas e arbustivas que simulem uma estratificação da vegetação, a titulo de atenuar o poder erosivo das chuvas reduzir a ação do vento.

Neste estudo foi observado que o percentual de espécies raras na Reserva Frei Vellozo situa-se fora do padrão descrito para o Rio de Janeiro até o momento, porém muito próxima daqueles descritos para Santa Catarina. Esta condição ressalta a importância desta área como unidade de conservação.

2. Remover manualmente o entulho do entorno da cerca próxima á habitação (vizinha ao transecto 6), juntamente com as espécies exóticas invasoras, promovendo a instalação de uma cerca viva, não comburente, sobre a já existente, objetivando criar uma condição física de proteção da Reserva; frear o avanço da interferência biótica do entorno; tamponar os efeitos dos fatores físicos, tais como ventos e chuva e formar uma área de refúgio para as espécies da flora e fauna que auxiliem na regeneração natural da Reserva.

Cabe ressaltar que grande parte das espécies considerada rara apresenta dispersão zoocórica, o que destaca o risco da desfaunização para a sustentabilidade deste sistema vegetacional ou que sugere a viabilidade da manutenção desta população desde que seja fomentada a preservação de áreas correlatas e contíguas em maior escala. Isto também sugere a necessidades de manejos permanentes em que sobressai o emprego de áreas de tampão como garantia de proteção da unidade.

3. Utilização das espécies zoocóricas de ocorrência na área como alternativa para substituição gradual da colocação de incremento alimentar para fauna da Reserva.

Podemos ponderar que a prevalência do padrão de distribuição espacial agrupado pode sugerir influência máxima de fatores abióticos (características edáficas, disponibilidade de espaço, luz e/ou água) e uma menor influencia de fatores bióticos (competição intra e interespecífica, comportamento reprodutivo das espécies, dispersão dos frutos ou herbivoria), na distribuição horizontal das populações, porém são necessários maiores estudos, especialmente de populações, porém são necessários maiores estudos, especialmente de populações florísticas e interações faunística.

4. Controle da infestação de bambus, através de corte e principalmente do desenraizamento, com subseqüente plantio imediato de plantas de rápido crescimento favorecendo o sombreamento que levará ao deslocamento dos bambus. 5. Não há maiores necessidades de manejo das trepaadeiras. Nas bordas, junto á estrada, a necessidade é de regularizar as podas da vegetação arbórea, feitas pela concessionária de iluminação. Recomenda-se a preservação especialmente das trepadeiras lenhosas de maiores diâmetros, evitando o corte desses.

A zoocória se mostrou a estratégia de dispersão predominante para área neste estudo, seguida pelas espécies anemóricas. Tanto em termos florísticos (composição de espécies) quanto fitossociológicos (número e dimensão dos indivíduos por espécies), a área apresenta indicativos de recursos para fauna.

6. Selecionar e delimitar as trilhas que conduzem ás áreas de constante visitação, ressaltando aos usuários a importância de evitar novas aberturas e pisoteio intenso e desnecessário. Nestas, deve-se-á fazer (148)


manejos constantes, incluindo a sinalização, de modo a garantir a correta utilização destas trilhas. 7. Por fim, dada a configuração espacial e a localização da área, recomenda-se que não seja atribuída á reserva F.V. Chinesa a condição de Corredor Ecológicos. Porém, deve-se lhe garantir o “status” de unidade de conservação face sua importância para o complexo do Maciço da Tijuca e para a cidade do Rio de Janeiro. O estabelecimento de uma faixa tampão em todo o seu entorno a titulo de proteger a área dos efeitos das edificações e serviços de urbanização vizinhos apontados no presente relatório.

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ANEXO 1) Mapa de localização das espécies arbóreo-arbustivas contabilizadas nos transectos de 1 a 12. Estão incluídos todos os indivíduos com DAP a partir de 1,5cm, com destaque para aqueles com DAP > 25,0 cm, mortos e com troncos múltiplos.

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Anexo 2: Levantamento da flora do vale do Rio Cachoeira (Maciรงo da Tijuca, vertente Oeste), depositada no Herbรกrio Alberto Castellanos da FEEMA. Fonte: GEOHECO (2000C).

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PLANO AMOSTRAL

PH DO SOLO

A partir do levantamento e da delimitação de parcelas efetuado pela equipe de vegetação, foram escolhidos seis destes para coleta das amostras. O critério de escolha foi o nível da degradação apresentado pelas parcelas (cada um com 50 metros), sendo escolhidos aqueles com maior grau de degeneração. Assim foram selecionados as parcelas 4, 6, 7, 8 e 9, os mais degradados, a parcela 11, que apresenta a melhor condição de preservação e foi escolhido como controle. Em cada parcela foram coletadas seis amostras, sendo duas a cada 25 metros. Com isso tivemos duas amostras no início (ponto 0), duas no ponto de 25 metros e mais duas no ponto de 50 metros da parcela. Este procedimento foi adotado para verificar se existem variações internas dentro das parcelas, e poder analisar possíveis efeitos de borda.

Todas as áreas apresentaram um PH ácido, abaixo de 4,2. Este padrão esta associado a forte relação que existe entre a precipitação e baixa saturação de bases (CHEN et al, 2000), típica de ambientes montanhosos florestais como o da área de estudo. Estes valores também são próximos aos encontrados por CHIROL (2003) para a bacia do alto rio da cachoeira, também localizada na floresta da Tijuca. O valor mais elevado encontrado no domínio 11 pode ser conseqüência da melhor condição vegetacional encontrada ali pela equipe de flora, assim como o menor valor encontrado no domínio 7 pode ser resultado da sua localização próxima ao divisor e ao efeito de borda (como foi observado pela equipe de flora).

RESULTADOS Textura do solo De acordo com o gráfico 1, podemos observar que os domínios estudados apresentam solos onde predominam a fração da areia, sendo que o maior valor está na parcela 8 e os menores nas parcelas 4 e 11. A textura do solo está associada a diversos aspectos geobiofísicos do ambiente, como as características do material parental e a dinâmica hidro-erosiva, entre outros (LEPSCH, 2002). Assim é difícil, partindo dos dados coletados, relacionar diretamente e granulometria com alguma causa específica, porem a textura mais grosseira das parcelas 7,8 e 9 podem ser conseqüência das condições geomorfologicas de proximidade do divisor.

Gráfico 2: ph do solo nas áreas de estudo

CÁLCIO, MAGNÉSIO E SÓDIO DO SOLO O cálcio apresenta um padrão complexo de distribuição (gráfico 3), com o maior valor na parcela 9 e o menor na parcela 6 (onde é 0,0). O alto valor em 9 poderia ser explicado pela presença do cálcio na parede celular (SONGWE et al 1995), assim domínios em condições vegetacionais inferiores apresentam vegetação com folhas de mais difícil decomposição, e apresentam teores mais elevados, como foi observado por CHIROL (2003). Porém os baixos valores em 4, 6 e 7 contrariam este pressuposto. Pode ser que estes valores mais baixos nestas parcelas sejam resultado da dinâmica hidroerosiva, já que cálcio é facilmente transportado pela erosão superficial, mas não se pode fazer uma interferência direta pela ausência de dados de escoamento. O magnésio também apresenta (166)


uma grande variação entre domínios estudados (gráfico 3), sem apresentar um padrão definido. Como um dos seus principais inputs é através das chuvas, pode ser que a capacidade de retenção de água do solo esteja afetando de alguma forma a concentração deste nutriente, mas é difícil confirmar.

erosiva, pois este nutriente é pouco susceptível a erosão (ROSS, 1992).

Gráfico 5: Fósforo do solo nas áreas de estudo

O potássio do solo tem um padrão semelhante de distribuição ao do fósforo, com o maior valor na parcela 11 (gráfico 6). Uma das principais fontes deste nutriente é o processo de inteperismo (ZARIN et al. 1995), e o potássio é um dos nutrientes mais susceptíveis a erosão (ROSS, 1992 e FUELLEN et al. 1995), desta forma, em função do papel importante que a vegetação tem no controle do processo erosivo (COELHO NETTO, 1996), a tendência é que em melhores condições florestais os teores de potássio sejam mais altos.

Gráfico 3: Magnésio e Cálcio do solo nas áreas de estudo

O sódio (gráfico 4) apresenta maiores concentrações nos domínios localizados próximos aos divisores, o que pode estar relacionado tanto ás características da vegetação quanto as morfologia, já que o sódio pode ser usado pelas plantas na ausência de potássio (caso dos domínio 7 e 9).

Gráfico 4: Sódio do solo nas áreas de estudo Gráfico 6: Potássio do solo nas áreas de estudo

FÓSFORO E POTÁSSIO DO SOLO CARBONO E NITROGÊNIO DO SOLO

A maior concentração de fósforo ocorre na parcela 11 (gráfico 5), e acompanha o padrão encontrado por ZARIN et al.(1995), ROSS (1992) e CHIROL (2003), que mostram que concentrações altas de fósforo são encontradas em áreas onde a condição de vegetação é melhor, pela associação entre as características do aporte e eficiência do sub-sistema d e c o m p o s i t o r. D e s t a c a - s e u m a p o s s í v e l associação ao padrão do fósforo com a dinâmica

O Carbono apresenta uma distribuição ao longo das parcelas diferente da do fósforo e potássio (gráfico 7). Isto ocorre porque o carbono tende a ter valores maiores em áreas da floresta secundaria inicial e primária (ZARIN et al. 1995), uma vez que estas formações costumam ter o processo de decomposição mais lento e maior representatividade da fração galho na serrapilheira. Assim pode-se explicar os maiores (167)


teores encontrados nas áreas 9 e 4, além da alta variabilidade espacial que existe na parcela 8.

comportamento que já havia sido observado nos relatórios anteriores para serrapilheira, pois estes apontam para uma maior eficiência do subsistema decompositor nesta área. Como o comportamento deste sub-sistema é controlado diretamente pela qualidade do aporte florestal em associação com o ambiente edáfico e o clima (SWIFT et al, 1979), sugere-se que sejam seguidas as propostas apresentadas no relatório de vegetação para o manejo da área. As características dos dados também dificultam a identificação das causas desta degeneração das demais áreas, isto é, se estão relacionadas à chuva ácida ou ao efeito de borda. Porém a localização das parcelas 7,8,9 (próximas ao divisor), 4 e 6 (próximas a estradas e edificações) associadas aos dados do relatório de vegetação, apontam para uma maior influência do efeito de borda em detrimento da chuva ácida.

Gráfico 7: Carbono do solo nas áreas de estudo

O nitrogênio apresenta um padrão semelhante ao fósforo e potássio (gráfico 8), o que reforça a qualidade do estado da vegetação na parcela 11. Apesar do nitrogênio ser muito resiliente em ambiente florestais (ZARIN et al. 1995), a sua baixa disponibilidade pode ser um indicador de algum nível de uma degeneração do sistema (CHIROL, 2003), por indicar que o sub-sistema decompositor ali funciona de uma maneira mais eficiente que nas demais áreas.

Gráfico 8: Nitrogênio do solo nas áreas de estudo

CONCLUSÕES Em função das características dos dados coletadas, pelo pequeno período amostral e do baixo número de amostras, os resultados obtidos tem muito mais a função de caracterização da área de estudo do que uma base de informações confiável para implementação de um plano de gestão. Isto pode ser evidenciado pela caracterização da serrapilheira acumulada, onde houve apenas uma coleta. Porém algumas considerações podem ser feitas: A primeira é que os dados do nitrogênio, fósforo, potássio e pH reafirmam a melhor qualidade da área da parcela 11 caracterizada pelos dados de vegetação, (168)


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