"Da pesca à associação"

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A paixão pela pesca esportiva foi tão intensa que três pescadoras de Goiânia, para compartilharem essa sensação com outras brasileiras, lançaram a Associação Mulheres Que Pescam Ecologia e Turismo. A primeira ação: a criação do mulheresquepescam.com.br. Em videoconferência por skype (sim, elas são inovadoras!), Roberta Menezes e as irmãs Solange e Sandra da Mata falaram sobre os objetivos da iniciativa e o papel feminino na pescaria Por: Janaína Quitério i Fotos: Arquivo Pessoal i Arte: paula bizacho

ECOAVENTURA:

Estou sempre à procura de mulheres apaixonadas pelo segmento de pesca esportiva. E, buscando no Google, achei o site de vocês! O que é o Mulheres que pescam? Sandra: É a divulgação da atividade em nível nacional para que mais mulheres possam praticá-la, pois ainda são poucas. Se observarmos os programas de pesca, só dá homens! Na verdade, o site é um projeto da associação, que também pretende ter atuações socioeducativas para preservação ambiental, principalmente nas cidades ribeirinhas, e organizar grupos que priorizem a participação de toda a família.

EA: Como surgiu a ideia do site? 68

Solange: Tal qual a minha paixão pelo esporte, tudo aconteceu muito rápido. Primeiro fui ‘abduzida’ para essa atividade, que era praticada pela Roberta e pela Sandra nos pesque-pagues de Goiânia. Em seguida, passei a acompanhá-las ao Araguaia, de onde gostei muito. Aí, resolvemos comprar uma casa em Aruanã, depois uma lancha — para termos mais conforto na pescaria —, e um dia a Roberta apareceu com uma camiseta, que estampava o “mulheres que pescam”. Disso para o site foi um passo!

EA: O site está no ar desde meado do segundo semestre de 2010. Como tem sido a recepção por parte do público feminino? Sandra: Temos uma quantidade boa de

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acessos e já recebemos bastantes e-mails com perguntas sobre quando e onde vamos pescar ou se já há alguma excursão programada pela associação. E não são apenas as pescadoras que se interessam, mas os esposos e namorados também.

EA: Vocês acham que faltam informações e ações voltadas para a pescadora? Sandra: Vou responder a partir de uma experiência que tivemos. Há alguns anos acontece em Goiânia uma feira do setor. Em 2009, um dos chamativos do evento era de que teria um espaço para mulheres. Quando vimos isso, foi uma ansiedade danada de nossa parte para conferir o que seria. Pensamos mil coisas: haveria


uma roupa legal ou um equipamento específico? Enfim, fomos à feira, que acontece dentro de um shopping, e andamos, andamos, e nada de encontrar o tal lugar. Inocente, achei que estava relacionado à pesca, mas, quando chegamos ao último cantinho da feira — o espaço era até grande e bonito —, fiquei chocada! Como a Roberta havia previsto, tratava-se de um local para relaxamento, massagem etc., mas nada de pesca para mulheres. Então, infelizmente, ainda há um preconceito conosco. Solange: Não existe um equipamento voltado para a gente, uma ferramenta mais leve, ou uma roupa mais confortável, e não temos percebido nenhuma movimentação dos empresários do setor para criar algo específico.

Da esq. p/ a dir.: Sandra, Roberta e Solange uniformizadas

“Temos uma quantidade boa de acessos e já recebemos bastantes e-mails com perguntas sobre quando e onde vamos pescar" – Sandra da Mata Roberta e Sandra, quando não vão ao Araguaia, alimentam o "vício" em pesque-pagues

Mini-perfil das particip@ntes Roberta Menezes nasceu em Goiânia e trabalha com informática. Pesca há dois anos, e o próximo passo será aprender fly. Sandra e Solange da Mata são irmãs paulistanas e há dez anos se mudaram para Goiânia. Pescam uma vez por mês, devido à distância de mais de 300 quilômetros até o rio. No restante dos fins de semana, vão aos pesque-pagues goianos.

Site ainda é projeto inicial e receberá sugestões de pescadoras do Brasil todo

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Para as três pescadoras, pescar é um estilo de vida

“Descer o rio bem de manhazinha renova a nossa energia, mesmo que a gente venha picada de insetos, com os pés inchados ou depois de voltarmos queimadas do Sol quente" – Solange da Mata

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EA: Por que o número de pescadoras é tão reduzido, na opinião de vocês? Sandra: São os homens jogando contra. Eles insistem em dizer que as iscas são sujas. Mas, se elas vêm conosco, a percepção muda totalmente.

EA: O que pescar agrega às pessoas? Roberta: Em meio a esse mundo turbulento, pescar traz essa paz que é procurada por todos os seres humanos. Solange: Descer o rio bem de manhazinha renova a nossa energia, mesmo que a gente venha picada de insetos, com

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os pés inchados ou depois de voltarmos queimadas do Sol quente. Sandra: A sensação maior já começa no início da semana na qual sei que, no fim dela, vou pescar. Todo dia fica diferente, a alegria fica contagiante, começo a imaginar se vou pegar ou não, o que vou encontrar ou aprender, porque procuro estar com a percepção aberta para o lugar. Pescar é tudo e significa ter maior estabilidade no trabalho e com a família. Quando vou pescar, sinto que não tenho nenhum problema, que está tudo bem, é maravilhoso!


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