[ mulheres que pescam ]
Como nasce uma nova paixão A história de uma “mulher de pescador” que excluiu o “de” da própria alcunha: continuou mulher e agora também pescadora. Como? Acompanhe a trajetória de uma nova adepta desse fabuloso esporte
POR: JANAÍNA QUITÉRIO l FOTOS: WILSON FEITOSA l ARTE: PAULA BIZACHO
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asos como aquele em que o casal não tem afinidade mútua antes de enamorar-se são bem triviais. Assim também é o fato de mulheres de pescadores acharem a “diversão masculina” pra lá de enfadonha a partir do imaginário comum de que pescar seja tão somente aguardar sentada a isca ser mordiscada. E, isso, nunca atraiu Dag Véras. Mulher de pescador esportivo experiente, ela já chegou a achar que “viajar para pescar” fosse um eufemismo de “farra”. Até posteriormente virar acompanhante de pescarias. — Eu não acreditava que existia peixe desse tamanho — Dag sinaliza com a mão a medida grande — Nunca havia pensado em ser uma pescadora. Mas, no Panamá, eu vi o quão deslumbrante é a pesca esportiva.
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Fase 1: descobrir a beleza de pescar Ao Panamá, a esposa foi acompanhar o marido a fim de simplesmente viajar. Ali quietinha, ele preocupava-se em vê-la parada. Ela, por sua vez, não queria atrapalhar o trabalho dele. Um queria o outro satisfeito, por isso, ele fisgava o peixe e a incentivava a tirá-lo d’água. Foi nesses primeiros contatos com a pesca, quando o marido lhe passou um caniço com um Atum ferrado, que aconteceu o primeiro susto. “Quase fui puxada para dentro d’água, tal a força do peixe. Isso só não ocorreu porque o capitão estava atento e me segurou a tempo”. Nessa brincadeira, Dag decidiu: “Agora quero aprender a pescar de verdade”. A próxima pescaria, marcada para o rio Teles Pires, seria a oportunidade para o treinamento. O marido achou graça, afinal, como guia de pesca internacional há mais de 15 anos, ele sabia que demoraria pelo menos seis meses para qualquer iniciante pegar um pouco de prática. Mas, no caso dela, a paixão pareceu “nascer feita”.
Primeiro contato com a pesca de Xaréuamarelo-do-Pacífico
Dag precisou da ajuda do capitão para se manter no barco
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Apesar de relativamente pequeno, este Atum quase levou Dag para a água
Fase 2: primeiros passos No primeiro dia, o paciente marido ensinou-a a segurar a vara corretamente. Arremessou com molinete. Depois com carretilha. Sempre com isca artificial, porque, segundo ela, “é mais elegante”. A timidez era um obstáculo a mais: “Se eu arremessar errado vão me chamar de bobinha”, pensava. No dia seguinte, Dag levantou de madrugada, ansiosa. Maquiou-se, arrumou o cabelo, colocou a roupa de pescadora, chegou ao rio e, já nos primeiros arremessos, o esperado Tucunaré — maior que o dele. “Eu nunca vira nestes anos todos alguém aprender tão depressa”, admirou-se o marido. Sorte de principiante? “Não, talento e vocação aliados à vontade de aprender!”, arremata ele.
Maior Tucunaré no rio Teles Pires, onde ela fisgou quase 30
Fase 3: ser paciente No início, a isca enroscava na vegetação de beira do rio. E o guia tirava. Concentrou-se para evitar a escaramuça. Foi metódica: se a timidez atrapalhava, a insistência ajudava. O marido, ao invés de reclamar, incentivava-a a continuar arremessando bem próximo às galhadas e apostava que conseguiria melhorar a precisão, tão importante nesse tipo de pesca quanto aprender a arremessar. Uma vez treinada, era lançar e fisgar: “Nossa, você está arremessando muito bem, parece que já sabe faz anos”, encoraja o marido e parceiro. Ela pegou tanta vontade, ficou tão fanática em apenas um dia, que não queria ir mais embora. Jantar pra quê?
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Roosterfish, um dos peixes mais cobiçados do Pacífico
Primeiro Tucunaré da vida em um dublê com Betão, seu marido
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Maior troféu, um Jaú de aproximadamente 50 kg ...
Fase 4: a proeza de fisgar um dos maiores peixes de água doce À mesa da pousada, Dag avistou a foto de um Jaú enorme e profetizou: “Amanhã vou pescar um desse”. Na corredeira “Sete Quedas”, o novo parceiro preparou o equipamento e a isca e entregou a ela: “É teu. É a mesma coisa que pescar Lambari, com a diferença de ser um peixão”, tentou ser didático, ainda sem muita confiança. Dentro do barco, com colete salva-vidas grudado ao corpo, ela sentiu a pressão. Assustou-se, afinal, pesou muito. Pediu ajuda, pois tinha um pino no braço, mas ele queria que a esposa se superasse. Ela brigou até cansar-se, e o peixe logo veio para perto do barco: um
Jaú de mais de 50 quilos! “Uma mulher desse ‘tamainho’ devia pescar peixinho, não esse monstro, ainda mais em menos de dez minutos”, suspira incrédulo. Dag não sabia se chorava, ria, pulava ou descartava o nojo do muco protetor do peixe e o abraçava para posar para as fotos. Eram vários sentimentos misturados. Os maiores deles: a superação da timidez e o nascimento de uma pescadora. Definitivamente, não era mais uma “intrusa” no clube do Bolinha e sim uma nova desbravadora, que se aproveitou do condicionamento físico de 15 anos consecutivos em academia para firmar a força de vencer um peixão de 50 quilos.
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... capturado nas Sete Quedas do rio Teles Pires
Fase 5: mulher pescadora Pronto: a nova adepta estava formada. A partir de então, interessa-se por artigos de pesca esportiva, repara em qual vara o marido usa, por que tal isca é mais efetiva, qual a melhor técnica para fisgar diferentes espécies. Ainda no Teles Pires, era a última que aceitava voltar à pousada. No derradeiro dia, o marido enganouse com o horário e a tirou uma hora mais cedo da pescaria: até hoje ela o repreende por isso! “Betão me moveu de lá porque já estava pes-
cando mais que ele”, brinca. De volta a São Paulo, o casal saiu para jantar. O papo: pesca esportiva. Como mulher independente, ela agora quer o próprio material e sonha em fisgar espécies como Robalo, Caranha e Tucunaré-açu. Atualmente, está na “fase 6” — aquela em que se espalha a semente: “Eu aconselho toda mulher a pescar. É a melhor coisa do mundo: além de acompanhar o marido, é um esporte de ação. Se seu companheiro não gosta de pesca, convide-o, inverta a relação”, finaliza.
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