"O pescador Almir Sater"

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Perfil do pescador »Por: Janaina Quitério janaina@revistapescabrasil.com.br

O cantor, compositor, violeiro e ator Almir Sater fala da sua relação com o meio ambiente e proseia sobre como gosta de pescar

— Ah, que saudade de pescar... Foi com esse suspiro que o músico Almir Sater recebeu a equipe da Revista Pesca Brasil após a passagem de som do show realizado no final de agosto, em São Caetano do Sul – SP. Com um chapéu marrom confortável na cabeça — para combinar com a viola? — Almir Sater lançava de si um leve aroma amarelo de maracujá. Ou, pelo menos, sua figura construída em imagem e som como homem pantaneiro fazia os sentidos de quem estava por perto associarem-no inteiramente à natureza e ao Pantanal. A voz sorria grave e sem pressa, pedindo para a memória puxar o sucesso “Tocando em frente” — composição sua com o parceiro Renato Teixeira: “Ando devagar porque já tive pressa levo esse sorriso porque já chorei demais”.

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No palco, Almir Sater declama a música que toca na alma. Em cena, ponteia a viola, distribuindo um som de pegada que traz os ouvintes para o interior do palco. Nos bastidores, o violeiro também constrói em versos sua relação com a natureza: “Fui criado em Campo Grande – MS, cidade na qual as fazendas estão bem pertinho. A gente saía caminhando e já chegava naquela ‘chacrinha’. Eu sempre gostei muito de mato. A maioria dos pescadores, quando vai pescar, também está indo para o meio do mato, à procura de um pouco de paz, de contato com a natureza. Todo bom pescador que conheço gosta muito de preservar a natureza”, papeia. Mais importante do que fisgar o peixe é estar pescando, confessa Almir. E se não pegar peixe? “Sei lá eu... como um sanduíche, compro o peixe. Gosto é de estar num barco, sabendo que nesse dia ninguém vai me achar no meio do rio, e que não tem mais nada para fazer a nгo ser ficar dando comida aos peixes”. Durante muitos anos, Almir Sater criou a família na fazenda Campo Novo, em Aquidauana – MS, аs portas do rio. Todo dia buscava peixe para o almoço e janta. Lá, nunca deixou de trazer peixe: — Nem que fossem piranhas, que é um peixe muito bom de comer. Como gosta de pescar? “Eu gosto de pescar com linha de mão e uso uma câmara de bicicleta cortadinha como dedeira. Eu não gosto de ficar muito tempo segurando molinete, porque aquele rio nosso tem muito peixe. E molinete dá muito trabalho. E gosto de pescar com vara de bambu: aquela pescaria em que a gente solta o barco e vai descendo а beira do

rio, fazendo de conta que é a frutinha que vai caindo. O peixe acha que é a frutinha, e a gente engana o peixe”, explica. Almir Sater tem três filhos. O mais velho — o violonista Gabriel Sater — seguiu os passos do pai e tem apresentado o show “Filhos de peixe”. O filho mais novo, hoje com 12 anos, gostava de pescar jacaré. Com os dois mais novos em idade escolar, Almir Sater mudou-se para a Serra da Cantareira - SP, onde tem o parceiro Renato Teixeira como vizinho. Nos meses de férias, Almir Sater retorna ao Pantanal: “Em julho fui pescar no rio Aquidauana, lá pra baixo, no Pantanal. Acho um rio muito bonito”. A natureza parece ser uma inspiração para sua criação musical. “Eu amo a natureza, gosto do silêncio para tocar”. Quando algum fã questiona se ele vai lançar o show em DVD, Almir Sater responde sereno: — Gosto de que as pessoas me ouçam de olhos fechados. Assim é a relação de Almir Sater com a música e com a natureza: música para sentir. Natureza para curtir. Ambas para preservar. Tudo se toca, como é cantado no trecho da música “Um violeiro toca”:

inspira-se no violeiro Tião Carreiro e tem como parceiros os músicos Paulo Simões e Renato Teixeira. Com Paulo Simões, Almir Sater montou a Comitiva Esperança — com quem percorreu mais de mil quilômetros pelo Pantanal pesquisando a música e os costumes da região. O primeiro disco foi gravado em 1981, pela Continental. Durante muitos anos, seu instrumental de viola “Luzeiro” foi o tema musical de abertura do Globo Rural. Almir participou da novela Pantanal, hoje reprisada, Ana Raio e Zé Trovão, Rei do Gado — encenando o personagem Pirilampo, da dupla fictícia “Pirilampo e Saracura” — e Bicho do Mato. O último CD é o Sete Sinais — uma produção independente gravada em 2006.

“Tudo é sertão, tudo é paixão, se o violeiro toca. A viola, o violeiro e o amor se tocam...” Pantaneiro Neste novembro, dia 14, Almir Sater completa 52 anos. Desde jovem toca violão, mas se apaixonou pela viola quando estudava Direito no Rio de Janeiro. Nascido na região Centro-oeste do Brasil, a influência musical vem de fora: folk americano, música paraguaia e andina. De dentro do país,

Almir Sater autografa a Revista Pesca Brasil após entrevista. Os bonés — também autografados — serão sorteados aos leitores que fizerem assinatura

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