"Fundo do mar na sala de estar"

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Aquarismo »Por: Janaína Quitério janaina@revistapescabrasil.com.br

Praticado como hobby por amadores e profissionais, o aquarismo fundamenta-se em aprendizado constante sobre as condições necessárias para proporcionar bemestar à população criada em aquários. Nesta edição, você saberá quais procedimentos são indispensáveis para a montagem e a manutenção de aquários marinhos Pesca Brasil l 44

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o interior de um retângulo de vidro transparente, o vaivém de peixinhos coloridos anima o ambiente. O aquário não expõe objetos de decoração, mas vidas zeladas por ‘hobbystas’ apaixonados pela vida submersa em бgua salgada. São peixes, corais, invertebrados e outros organismos aquáticos transportados para um mundo em miniatura, no qual o ecossistema deverá ser monitorado para oferecer condições de sobrevivência. Foi no meado da década de 1980 que aquários marinhos começaram a ser montados. Na época, os aquaristas iam ao mar, coletavam peixes e simplesmente jogavam-nos no aquário. “Mas, não é tão simples assim”, adverte o biólo-


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Aquário marinho com variedade de peixes e corais. Este é um aquário sem cascalho

go e aquarista Jeferson Campoy Garcia. “Com o tempo, foram inventados aparelhos de condicionamento para que aquários começassem a ter vida”, completa. De lá para cá, o aquarismo marinho evoluiu bastante, embora ainda seja escasso de informações e abundante em mitos. “Depois do filme ‘Procurando Nemo’, assistimos a uma febre de aquários marinhos. Mas, faltou instrução. Não se pode colocar qualquer espécie de peixes ao mesmo tempo, o que os faz brigarem e matarem-se mutuamente. Por isso, muitas pessoas ficaram desanimadas com os aquários marinhos”, lamenta Jeferson. Confira as dicas de montagem e manutenção listadas pelo biólogo e aquarista.

O mar dentro de um pote

Para garantir o bem-estar das espécies cultivadas, é preciso colocar o mar — e todas as possibilidades que existem nele — num compartimento quadrado para transformá-lo em um habitat o mais próximo do natural. Segundo Jeferson Garcia, trata-se de observar o pH da água e mantê-la limpa, de adequar o nível de cálcio — que é a alimentação para corais —, garantir a movimentação da água e manter uma colônia de bactérias para sustentar o aquário.

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1º — os cascalhos

Assim que montado, a primeira coisa a ser inserida no aquário são os cascalhos — responsáveis por manter a água com um pH alcalino, ou seja, que varia entre 8.2 e 8.6. Diferentemente dos aquários de água doce, nunca se pode sifonar o aquário marinho — isto é, retirar a sujeira do fundo do cascalho. Isso porque, ao mexer neles, o nitrato — que й, segundo Jeferson Garcia, o único elemento químico acumulativo no aquário marinho — sobe, o que pode causar a morte dos peixes e de outros organismos. Portanto, nunca no aquário marinho se mexe nos cascalhos.

2º — platô de rochas

Em seguida, inserem-se as rochas — montadas em platôs. Segundo o aquarista, platôs de rochas têm a função de imitar o habitat natural do mar. “É um pedaço de mar dentro do aquário. Assim, além de o peixe sentir-se em casa, as rochas ajudam a manter o pH da água alcalino, servem de esconderijo para peixes — como acontece no mar — e, em seus poros, são colonizadas bactérias, as quais são responsáveis por armazenar restos de comida do aquário e por absorver parte da urina, complementando o trabalho da filtragem de manter a água cristalina”, explica Jeferson. No aquário marinho de um metro, são colocados de 15 a 20 quilos de rochas. Há aqueles que colam a rocha no vidro.

3º — que água usar?

Para encher o aquário, há quem compre água salgada diretamente da loja — uma água coletada do fundo do mar, onde não há nenhum tipo de doença existente. Outra forma mais utilizada, de acordo com o biólogo Jeferson, é utilizar sal sintético dissolvido em água deionizada — água extremamente pura, sem nenhum elemento químico. Basta, em seguida, medir sua densidade para certificar-se de que ela esteja equilibrada, ou seja, entre 1.022 e 1.024.

4º — mais que luz

A iluminação não traz apenas luz, mas também energia para organismos do aquário. Os corais, por exemplo, possuem algas com quem vivem em Pesca Brasil l 46

simbiose, chamadas zooxantela — estas se alimentam da luz, e os corais se alimentam delas. Os corais mais duros necessitam de mais luz e, por isso, são colocados na parte superior do platô. Já os corais moles necessitam de pouca luz, localizandose perto do cascalho. Segundo Jeferson, quando a água fica verde, geralmente há excesso de iluminação no aquário.

5º — manutenção

Um dos mais enraizados mitos sobre aquarismo marinho se refere à sua manutenção. Muitas pessoas têm a idéia de que o aquário marinho é trabalhoso demais em relação ao de água doce. Mas, segundo o aquarista Jeferson, é a metade do trabalho. “No aquário de água doce, é preciso trocar a água uma vez por semana. No marinho, apenas 20% da água uma vez por mês”, explica. Para iniciantes, o tamanho propício do aquário é de 1m X 40cm X 50cm, o que abriga 200 litros de água. Para tanto, o aquarista precisará de um filtro com cerca de 60 centímetros, denominado sump — que retirará, por meio de um aparelho chamado skimmer, a amônia e todas as impurezas da água, a gordura e ácidos graxos. Como explica Jeferson Garcia, o skymmer é fundamental. “Há pessoas que perguntam: para que usar skimmer se no mar não há skimmer? No mar tem sim. Quem é o skimmer do mar? As ondas. No mar, as ondas — quando fazem aquelas movimentações — produzem espumas, que expulsam as impurezas. O skimmer faz essa função de retirar as impurezas do aquário. É preciso também haver uma bomba interna para jorrar água e uma bomba para movimentação de água, bem diferente do aquбrio de água doce, que é levemente movimentado”. Além disso, manter o aquário pede que uma bucha seja passada na parede de seus vidros, além da limpeza do skimmer e, em seguida, a feitura de testes de pH, de reserva alcalina e de nitrato. “Observar se o filtro está funcionando corretamente; testar a temperatura da água; alimentar o peixe; olhar para cada um e ver se apresenta manchas. Cinco minutos diários dão trabalho? Não, é uma terapia, além de trazer bem-estar para o ambiente, pois o aquário deixa o ar úmido. Toda pessoa deveria ter um aquário”, aconselha.


Aquarismo O palhacinho é a alegria da criançada desde o filme “Procurando Nemo”. Atrás, coral green bali brain — coral exótico, que traz uma coloração de encher os olhos

Blue tang (Paracanthurus hepatus) e peixe-palhaço (Amphiprion ocellaris). Aquário bem estabilizado, com água

Fotos: Jeferson Garcia

cristalina. No canto superior à direita, algas calcárias

Coral leather: resistente, é comum estar abrigado em aquários marinhos

Serviços » Jeferson Garcia jeferson.c.g@hotmail.com

6º — habitação e coabitação

O grande segredo do aquário marinho é não ter pressa em habitá-lo. “É comum as pessoas ficarem muito ansiosas para encherem o aquário de peixes. Mas, para ter um aquário perfeito, imagine-se subindo uma escada: um degrau após outro. Se você pular qualquer fase, não demorará a perceber o prejuízo no ambiente”, revela Jeferson. Assim, os primeiros habitantes do mini-mar não precisam necessariamente ser peixes. Estrelas, anêmonas, camarões-aranha e outros invertebrados podem ser inseridos primeiro. “Se esses organismos ficarem bem, o aquário já tem vida e nele podem ser colocados os primeiros peixes”, recomenda o aquarista. Mas, quais peixes colocar? Jeferson Garcia adverte que os ‘hobbystas’ precisam estar bem instruídos antes de inserir os peixes. Isso porque os peixes marinhos são muito territorialistas e, em espaços pequenos, brigam avidamente por seu território. Se, em um metro de aquário de água doce podem ser colocados 30 peixes, no aquário marinho do mesmo tamanho cabem até oito peixes. Vale ressaltar que, diferentemente de um aquário de água doce — no qual uma semana após ter sido montado os peixes podem ser inseridos —, no marinho é preciso esperar 40 dias para que o primeiro ser vivo possa habitá-lo. Além disso, os peixes devem ser incluídos na ordem do mais fraco para o mais forte. “Se o aquarista colocar um peixe de espécie briguenta, ele vai querer dominar o território e não vai deixar outro peixe entrar. Então, é preciso colocar um peixe nãobriguento e deixá-lo viver no aquário por pelo menos uma semana. Se ele não desenvolveu algum problema, se não ficou doente, então o aquário está pronto para receber outros peixes”, explica Jeferson. Um exemplo é colocar a Doris (peixe-personagem do filme “Procurando Nemo”) — que é a espécie blue tang (Paracanthurus hepatus) — com o yellow tang (Zebrasoma flavescens) juntos. “Esses dois peixes conviverão bem se colocados ao mesmo tempo. Entretanto, se for colocado primeiro o yellow tang, e depois de 20 dias o blue tang — e este for um pouco menor —, eles brigarão muito, e a Doris poderá até matá-lo”, adverte o aquarista. Assim, para que o aquário não se torne um ringue em exposição, Jeferson aconselha que os iniciantes procurem lojas especializadas mais antigas em busca de orientação antes de montar o aquário marinho. Pesca Brasil l 47


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