"Competir nos Estados Unidos para desenvolver a pesca esportiva no Brasil"

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Perfil »Por: Janaína Quitério l Foto: Luiz A. Tavares janaina@revistapescabrasil.com.br

“A pesca de tucunaré no Brasil é o sonho de todo pescador esportivo norte-americano. Deus, quando projetou o tucunaré, esculpiu-o como uma espécie top da pesca esportiva no mundo”

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Marcos Malucelli é um brasileiro que fez da apaixonante pesca esportiva uma profissão. Há dois anos, ele compete nos Estados Unidos, dedicando-se à pesca do black bass. Sua missão é altruística: representar o país, focalizando com os dois olhos bem abertos o desenvolvimento do esporte no Brasil

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odo dia ele faz tudo sempre igual: sacode-se às cinco horas da manhã e, faça chuva ou faça sol, sorri para pescar às seis. O fim da tarde encerra-se às cinco, e quando ele bota o pé direito em casa, já se prepara para o dia seguinte. Sábado, tira o pó das tralhas e calibra o barco. No sétimo dia, descansa. Tudo muito simples. Mas como simples não quer dizer fácil, a rotina é árdua. Para Marcos Malucelli, pescar está além de uma paixão, fez-se profissão. Há dois anos viajou para se tornar pescador esportivo profissional em um país no qual a pesca — como no Brasil — é o segundo esporte com maior participação: Estados Unidos. A diferença é que lá a pesca esportiva é mais difundida como competição. E o pescador esportivo profissional, mais respeitado. Malucelli explica que, se fizéssemos uma analogia entre pesca (d)esportiva e futebol, ele estaria competindo na segunda divisão norte-americana. “Minha profissão é competir em campeonatos. Quanto melhor minha performance, mais prêmios em dinheiro, e também maior o meu nível de patrocínio”. Quando criança aprendera a pescar com a mãe e com o pai (Sim! A mãe nunca foi uma simples acompanhante do pai, mas era uma

exímia pescadora). Pequenino, ela levava uma bacia de plástico e botava lá lambarizinhos para o filho brincar: “Ainda sinto o cheiro daquelas experiências”. Assim, sua memória de infância traz lembranças de pescaria — uma semente de vida. Aos 41 anos de idade, Malucelli vê a sua árvore construída amadurecer os frutos na pesca esportiva: depois de atuar 13 anos no Brasil como guia de pesca, consolida-se no circuito profissional norteamericano da pesca de black bass. Malucelli é o próprio black bass: versátil, flexível e adapta-se bem. Ao que tudo indica, é também persistente e brigador: “O campeonato de black bass é o maior do mundo, e é onde estão as maiores oportunidades. Eu me inspiro muito no Guga, que, depois de ganhar o campeonato mundial de tênis, deu um grande impulso para esse esporte se desenvolver no Brasil. A pesca esportiva só não é mais difundida porque não ganhou força na mídia. Meu sonho é ganhar um campeonato mundial para ver o Brasil explorar — de forma coerente e ecologicamente correta — a pesca esportiva”, respira fundo. Se não fosse profissional de pesca esportiva, o que seria? “Eu não consigo me ver se não for pescando”. Ele confessa: quando parar de competir, espera estar envolvido de alguma forma com a

preservação e desenvolvimento da pesca esportiva no Brasil.

A pesca esportiva em duas perguntas O pesque e solte está conquistando o seu espaço? Malucelli: Sim. A nova geração de pescadores tem uma cultura mais enraizada em relação ao pesque e solte. Antigamente, quando se falava de ecologia na pesca, as pessoas olhavam desconfiadas: “qual o objetivo de pescar se você não levar o peixe?” A nova geração tem entendido a pesca como esporte, e respeita a natureza.

Você, como profissional da área, preocupa-se com a pesca industrial? Malucelli: Não podemos apontar o dedo ou culpar o pescador profissional, porque é a profissão dele, e uma forma de ele ganhar o seu sustento e de sua família. Agora, é necessário educar esse pescador para que ele encare a pesca de forma diferente, e dar recurso para ele. É preciso tirálo da classe de predador e transformá-lo em guia de pesca. Foi o que aconteceu em Miami, por volta da dйcada de 1970, quando proibiram a pesca de rede. O governo proibiu, mas investiu em educação, e hoje estima-se que há 250 mil guias de pesca por lá. Pesca Brasil l 67

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