"Não se ferre com o ferrão"

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saúde

não ‘se ferre’ com o

ferrão No mar ou na água doce, várias espécies de peixes apresentam mecanismos de defesa, como dentes afiados, espinhos, escamas, choques e o desgostoso ferrão — tema deste artigo. Acompanhe DA REDAÇÃO l FOTOS: Arquivo Ecoaventura l ARTE: Marcelo Kilhian

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alvez você já tenha ouvido falar que um bom remédio para amenizar a dor causada pela ferroada de um peixe é lavar o local afetado com a própria urina. Se não der certo, talvez a fé resolva: é só cortar em cruz o ferimento e espremê-lo bastante para o veneno sair junto com o sangue. Porém, a alternativa mais eficaz ensina que o mal passará se você arrancar os olhos do espécime ‘agressor’ para esfregá-los onde o ferrão penetrou. No caso dos olhos dos Mandis, não se trata de lenda: pesquisadores da Área de Fisiologia da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) comprovaram cientificamente que seus olhos possuem uma proteína no humor vítreo

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(líquido do olho), capaz realmente de ajudar na cicatrização e no alívio da dor. Já as lendas populares certamente são efeitos da tentativa desesperada de livrar as vítimas de uma experiência bastante dolorosa, causada por um descuido na hora de segurar ou armazenar algumas espécies cujo mecanismo de defesa é um pontiagudo ferrão. Integram essa lista tanto espécies de escamas — como a maioria dos Bagres — quanto os chamados peixes de couro ou lisos. Saber lidar com eles é essencial para evitar um desconforto intenso e duradouro, contra o qual é muito difícil encontrar um antídoto para um alívio efetivo.

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Nos rios, lagos e represas onde praticamos a pesca esportiva há uma infinidade de peixes cujos ferrões podem ocasionar ferimentos muito dolorosos. Saber como manuseá-los é a única forma de se precaver

Não há tratamento? Certa vez, um médico-cirurgião picado no Araguaia por uma Arraia injetou em si próprio doses de um poderoso e conhecido analgésico ao redor da ferroada para dar fim à dor. Segundo ele, embora o sofrimento tenha diminuído assim que se automedicou, foi o efeito do remédio passar para a dor se revigorar. Foram 36 horas intermináveis sentindo latejamento no local, ínguas e câimbras. Conclusão: tomar cuidado para evitar esse tipo de acidente é a única solução. ecoaventura

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Entre os seres aquáticos, a Arraia é a que costuma provocar os acidentes mais dolorosos. E o pior é que não há antídoto para aliviar o sofrimento dos desafortunados

Como fugir da Arraia

Entre os peixes de couro, diversas espécies e de porte variado possuem ferrões que podem provocar ferimentos. Os menores, como os Mandis, são os mais perigosos

A maioria dos acidentes com Arraia acontece quando o pescador entra na água. Andar arrastando os pés no fundo do rio pode afastar o ataque, já que essas espécies só usam o ferrão quando se sentem ameaçadas — ou seja, encostar nela é pouco para uma investida. Outra dica é cutucar a frente de onde se anda com um pedaço de pau para espantar o animal, que pode estar em seu caminho. Mas, quando ela aparece na ponta do anzol, só mesmo aqueles que têm muita experiência devem tentar manuseá-la para a soltura, pois durante esse procedimento o animal se contorce, e seu ferrão pode atingir mãos e braços. Na dúvida, corte a linha.

Bagres Pintados, Jaús, Jurupocas, Piraíbas, Filhotes, Mandis e os pequenos Mandichorões compõem a lista dos Bagres que costumam apresentar três ferrões — dois localizados nas laterais e um no dorso. Para evitar acidentes, alguns procedimentos durante o manuseio se mostram extremamente eficientes. Quando for um Bagre pequeno, apoie-o em local firme e posicione a mão com os dedos abertos atrás do peixe. Após encaixar o vão dos dedos no ferrão do dorso, dobre 72

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as suas pontas nos ferrões laterais. Assim seguro, o anzol pode ser retirado sem que o peixe escape ou possa ferir as mãos. Ao liberá-lo do anzol, caso tenha interesse em transformá-lo em petisco, corte todos os ferrões antes de guardá-lo no viveiro do barco ou na geladeira. Já os peixes maiores devem ser seguros pelos próprios ferrões laterais, sempre com o dorso para o lado oposto do pescador. E, quando a intenção for expor o animal a uma sessão de fotos, o melhor é fazer a sua barriga encostar-se à do pescador e o mantê-lo no colo com o braço por trás dos ferrões [veja exemplo na foto ao lado].

Como dica final, lembre-se: a pressa é a maior inimiga da perfeição, portanto tenha calma e proceda com cuidado ao manusear essas espécies. Boas Pescarias.

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