"Iguape: destino de muitos patrimônios"

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No final de 2009, a Estância Balneária de Iguape, no Vale do Ribeira, teve seu centro histórico tombado como Patrimônio Cultural brasileiro pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) — que, por si só, já merece uma visita. Mas a cidade do litoral sul paulista abriga outros atrativos que enriquecem o repertório cultural do visitante e proporcionam passeios com exuberante vida natural em meio às reservas da Mata Atlântica do Sudeste, tombadas pela Unesco, em 1999, como Patrimônio da Humanidade Por: Janaína Quitério | Fotos: Inácio Teixeira e Diego Dionísio (carnaval) | Arte: glauco dias

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Q

uem se direciona ao litoral sul do Esta-

do de São Paulo em busca de paisagens naturais preservadas também pode encontrar um cenário repleto de casarios coloniais que guardam, em suas construções, a herança das primeiras expedições ibéricas em terras brasileiras. Ao chegar a Iguape, imóveis com fachadas coloridas, distribuídos por ruas estreitas, estimulam o visitante a desvendar a sua história. A primeira pergunta que vem à mente é como esse notável patrimônio ainda tem sido tão pouco divulgado. A essa questão, Carlos Alberto Pereira Junior, diretor de Cultura, Turismo, Esportes e Eventos da Prefeitura Municipal de Iguape, agrega outra infor-

mação: “Quando fomos pela primeira vez à sede do Iphan, em Brasília, para reivin-

A Basílica do Bom Jesus foi construída por escravos entre os séculos 18 e 19 e, em seu interior, abriga imagens sacras importantes, como a de Nossa Senhora das Neves — padroeira da cidade — e de Bom Jesus de Iguape. Em agosto, acontece em Iguape a segunda maior festa religiosa do Estado, que só perde em popularidade para a festa de Nossa Senhora Aparecida

Casarão dos Veiga

dicar o tombamento, que foi oficializado há dois anos, a existência desse conjunto histórico era desconhecida pela equipe”, revela. O centro histórico de Iguape é o primeiro conjunto urbano paulista a ser protegido em nível federal.

O conjunto arquitetônico tombado compreende, além do Centro Histórico de Iguape, todo o seu entorno e ruas circundantes, além do antigo sistema portuário fluvial e marítimo, que inclui o Canal do Valo Grande e o Morro do Espia Casarão dos Oliveira

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Prédio onde está instalada a Prefeitura


A Rua XV de Novembro, umas das mais importantes de Iguape, mostra a diversidade construtiva da cidade

O Museu Histórico e Arqueológico está instalado na antiga Casa de Fundição de Ouro — tida como a primeira construção para esse fim no Brasil —, edificada em 1630. Abriga peças, documentos, painéis gráficos e fotográficos sobre a escravidão e os dois ciclos econômicos. Lá também é possível conhecer objetos confeccionados por grupos pré-históricos do “Homem Sambaqui” (em tupi-guarani, “montes de conchas”), cujos vestígios datam de cinco mil anos [à dir.]

Iguape guarda uma história tão rica

fluvial, e seguia em carroças por dois qui-

quanto antiga. Constituída como vila por

lômetros até o principal porto do litoral

navegadores europeus, em 1538, sua lo-

paulista, o Porto de Iguape, situado no

calização geográfica estratégica a torna-

Mar Pequeno — braço de mar que banha

va ponto de partida às expedições explo-

a cidade —, para ser exportado. Outro

ratórias ao interior em busca de metais

caminho feito pelas embarcações para

preciosos e madeiras nobres, por meio

despachar a produção era seguir pelo rio

do rio Ribeira.

Ribeira até a foz, entrar pela barra do Ica-

Dois ciclos econômicos elevaram Iguape à condição de uma das principais vilas

para e alcançar o porto, o que acrescentava ao percurso quase 60 quilômetros.

coloniais da época, ao lado do Rio de Ja-

O Museu da Arte Sacra está instalado na entrada lateral da Igreja do Rosário, construída no século 16

neiro e Salvador: o ciclo do ouro, que fez da cidade um importante polo de mineração no rio Ribeira e afluentes, entre 1560 e 1670; e a rizicultura, responsável por transformar Iguape em uma das maiores produtoras mundiais de arroz, de 1820 a 1930, e proporcionar a mais próspera fase já experimentada pela região. Nesse ciclo, toda a produção de arroz do Vale do Ribeira, que descia pelo rio de mesmo nome, era escoada no porto O arruamento de Iguape foi traçado pelos colonizadores em forma de funil a fim de defender a cidade contra invasores, já que suas entradas poderiam ser facilmente interditadas

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Mirante do Cristo e Morro do Espia: pontos que oferecem visão privilegiada da cidade. De lá, sai uma trilha ecológica com cerca de 2 quilômetros de extensão

Fonte do Senhor — a gruta foi construída sobre uma pedra na qual a imagem do Senhor Bom Jesus de Iguape teria sido lavada, em 1647. Milhares de romeiros visitam o local para extrair lascas das pedras, que, segundo a crença, têm poderes milagrosos

O sítio arqueológico “Caverna do Ódio” localiza-se no sopé do Morro do Espia e ainda abriga possíveis vestígios do “Homem Sambaqui”

prosperidade e declínio

mente ao Mar Pequeno, com dois metros

rítimo, o que, por infortúnio, impedia a en-

de largura, um de profundidade e dois qui-

trada de navios de grande calado — e isso

Os produtores da época, para minimi-

lômetros de extensão. Em menos de duas

inviabilizou o porto. Resultado: segundo

zar o esforço de escoar o arroz pelo porto

décadas, além de as margens desbarran-

Carlos Alberto Pereira Junior, além de o co-

marítimo, decidiram fazer um atalho: abri-

carem devido à força do rio, os sedimen-

mércio de arroz ser prejudicado, a cidade

ram um canal, denominado Valo Grande,

tos trazidos pelo Ribeira depositaram-se

permaneceu isolada por aproximadamen-

em 1852, para ligar o rio Ribeira direta-

no Mar Pequeno, em frente ao porto ma-

te 80 anos e amargou as consequências de um vertiginoso declínio econômico. “Foi um período difícil para os habitantes de Iguape e, de certa forma, até hoje, eles carregam essa sensação de derrotismo com eles”, lamenta o diretor de Cultura, Turismo, Esportes e Eventos da prefeitura.

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Para chegar à praia da Jureia, é preciso fazer a travessia de balsa


O acesso ao Costão da Jureia, distante 18Km do centro de Iguape, depende da tábua de marés Barra do Ribeira Rio Suamirim

Por outro lado, se a cidade padeceu, do ponto de vista econômico, com a falta de interação com outras regiões, a natureza descansou suas raízes. No livro “Iguape: Princesa do Litoral, Terra do Bom Jesus, Bonita por Natureza”, organizado por Carlos Alberto Pereira Junior, o Vale do Ribeira tem mais de 2,1 milhões de hectares de florestas — o que equivale a mais de 21% dos remanescentes de Mata Atlântica do A Trilha Ecológica da Vila Alegria inicia-se no bairro da Barra do Ribeira depois de atravessar o rio Suamirim, com caminhada em passarela construída sobre o mangue

País, 150 mil de restingas e 17 mil de manguezais, além de abrigar uma das mais importantes áreas de espeleologia do Brasil. Esse patrimônio ambiental começou a ser reconhecido com a criação de algumas reservas por parte do Estado. Só Iguape abriga, em seu território, 70% de área natural protegida, o que inclui a Estação Ecológica dos Chauás, e aproximadamente 80% da Estação Ecológica de Jureia-Itatins, além de estar parcialmente inserida na Área de Proteção Ambiental Cananeia-Iguape-Peruíbe. ecoaventura 57


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Pescadores artesanais na praia da Jureia

Por tudo isso, rios, morros, cachoei-

turismo tem crescido na cidade, cujo

ras, manguezais e praias desabitadas

número de visitantes, na temporada de

resplandecem seu cenário natural ao

2011, chegou a 200 mil, com mais in-

lado do seu já reconhecido patrimônio

tensidade no período de carnaval.

Pescadores de praia próximos à Barra do Ribeira

material e imaterial. Não é à toa que o

Terra da folia A tradição histórica de Iguape, que completou 473 anos em dezembro do ano passado, influencia diretamente as manifestações populares. Seu carnaval ainda é animado por marchinhas, blocos e bonecos de rua. Devido à sua forte ligação com a cidade do Rio de Janeiro, no ciclo do ouro, Iguape é uma das únicas cidades brasileiras — além da carioca — que mantêm as características originais dos blocos de Zé Pereira, hoje carro-cheO carnaval de rua é marca registrada de Iguape

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fe do carnaval iguapense.


Rabeca e cestarias são alguns dos artesanatos feitos na região

Serviços Onde ficar Em Iguape, há cerca de 80 estabelecimentos para hospedagem, inclusive destinados à pesca esportiva. Mais informações podem ser solicitadas no Posto de Informações Turísticas. Tel.: (13) 3841-3358 Como chegar De São Paulo, pegar a BR 116 (Rodovia Régis Bittencourt) até o acesso à SP 222 (Rodovia Prefeito Casimiro Teixeira). Nesta estrada, vale a pena dar uma parada em uma das barracas de beira-de-estrada para experimentar as bananas-ouro e outras iguarias típicas do Vale do Ribeira

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