Os Dalla Vecchia

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IMIGRAÇÃO ITALIANA OS DALLA VECCHIA RS 1875-1890

JANDIR JOÃO ZANOTELLI E AGOSTINHO DALLA VECCHIA

ED. CÓPIAS SANTA CRUZ PELOTAS - 2011



A nossos pais A nossos filhos A nossos netos Aos que nos deram raízes E esperanças



APRESENTAÇÃO Este livro pretende apresentar um pouco da história da família Dalla Vecchia, descendente dos irmãos Ângelo e Pietro que imigraram para o Brasil em 1878, localizando-se primeiro em Linha Janzen (Bento Gonçalves) e depois em Linha Auxiliadora (Encantado, RS). Mostra a história da família desde Veneza e sua migração para Vicenza no século XIII e dali para o Brasil. Num segundo momento refere os descendentes dos irmãos Ângelo e Pietro a partir de fotografias, documentos, narrativas e experiência pessoal dos autores. Apresenta depois traços identitários da família em sua organização econômica, política, social e cultural. Ao final, em apêndice, refere elementos para uma árvore genealógica da família Dalla Vecchia, especialmente derivada de Ângelo e Pietro. Com isto os autores buscam ajudar os descendentes desta família a encontrar raízes de sua identidade e esperança, bem como auxiliar os estudiosos da imigração para a contextualização e especificação dos imigrantes que compõem etnologicamente o mapa humano do Rio Grande do Sul.

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ÍNDICE APRESENTAÇÃO........................................................................5 Introdução - A Família Dalla Vecchhia.......................................11 I – HISTÓRIA DA FAMÍLIA DALLA VECCHIA...................13 1. Em Veneza............................................................................13 1.1. Veneza antes do Império Romano................................14 1.2. Império Romano............................................................14 1.3. Entre os Francos e Bizâncio..........................................17 1.4. A República...................................................................20 1.5. Dificuldades e Decadência............................................30 2. Em Vicenza..........................................................................35 2.1. O Vêneto até a segunda metade do séc. XIX................35 2.2. O Vêneto na segunda metade do sec. XIX....................43 2.2.1. O Contexto Sócio-econômico............................... 43 2.2.2. A Educação............................................................48 3. A Emigração........................................................................48 3.1. A situação européia e Vêneta – final séc. XIX..............48 3.2.O Brasil que os esperava.................................................51 3.3. No Rio Grande do Sul....................................................60 3.4. A viagem para o Brasil-Rio Grande do Sulpara Dona Isabel (Linha Janzen).....................................................78 4. No Brasil..............................................................................80 4.1. Colônia Dona Isabel – Linha Janzen..............................80 4.2. De Jacarezinho – Auxiliadora – para o Brasil................87 II – DESCENDENTES DE ANGELO DALLA VECCHIA CC ANGELA SERAFINI ....................................................103 2.1. Benjamim Serafini Dalla Vecchia................................105 7


2.2. Luis Serafini Dalla Vecchia..........................................113 2.3. João Serafini Dalla Vecchia..........................................114 2.4. Carlos Serafini Dalla Vecchia.......................................114 2.5. Pedro Serafini Dalla Vecchia........................................115 2.6. Maria Serafini Dalla Vecchia........................................117 2.7. Luiza Serafini Dalla Vecchia.........................................117 2.8. Rosina Serafini Dalla Vecchia.......................................118 2.9. Pierina Serafini Dalla Vecchia.......................................118 2.10. Ermínia Serafini Dalla Vecchia....................................119 2.11. Ricardo Serafini Dalla Vecchia....................................119 2.12. Antonieta Serafini Dalla Vecchia.................................119 2.13 e 2.14. Gêmeas...............................................................119 DESCENDENTES DE ANGELO CC FORTUNATA GRAZZIOLA.................................................................120 2.15. Ângela Grazziola Dalla Vecchia.................................120 2.16. Dosolina Grazziola Dalla Vecchia..............................120 2.17. Josefina Grazziola Dalla Vecchia................................120 2.18. José Grazziola Dalla Vecchia......................................120 2.19. Maria Luiza Grazziola Dalla Vecchia.........................121 2.20.Inês Grazziola Dalla Vecchia.......................................121 2.21. Augusto Grazziola Dalla Vecchia...............................123 2.22. Jorge Grazziola Dalla Vecchia....................................123 2.23. Gema Grazziola Dalla Vecchia...................................123 2.24. Romana Grazziola Dalla Vecchia...............................123 III- DESCENDENTES DE PEDRO DALLA BARBA DALLA VECCHIA cc CATARINA CENSI.......................124 3.1. Antonio Censi Dalla Vecchia..........................................131 3.2. Ângelo Censi Dalla Vecchia...........................................132 3.3. Catarina Censi Dalla Vecchia.........................................133 DESCENDENTES DE PEDRO COM PÁSCOA CENSI...133 3.4. José Censi Dalla Vecchia................................................133 3.5. Luis Censi Dalla Vecchia................................................134 3.6. João Censi Dalla Vecchia................................................133 3.7. Augusto Censi Dalla Vecchia..........................................134 8


3.8. Vitório Censi Dalla Vecchia............................................134 3.9. Batista Censi Dalla Vecchia............................................135 3.10. Silvio Censi Dalla Vecchia............................................135 3.11. Atílio Censi Dalla Vecchia ............................................135 3.12. Lúcia Censi Dalla Vecchia.............................................135 3.13. Maria Censi Dalla Vecchia............................................136 3.14. Rosa Censi Dalla Vecchia .............................................136 3.15. Luiza Censi Dalla Vecchia.............................................136 DESCENDENTES de Antonio Censi Dalla Vecchia........136 DESCENDENTES de José Censi Dalla Vecchia. ............153 IV – ASPECTOS IDENTITÁRIOS DA FAMÍLIA DALLA VECCHIA......................................................................159 1. Organzação econômica......................................................159 2. O trabalho...................................................................162 3. Instrumentos de trabalho...................................................173 4. Produção e Comércio........................................................179 5. Os Dalla Vecchia construíram suas residências........182 6. Alimentação e Consumo...........................................184 7. Poupança...................................................................186 8.Organização Social............................................................188 8.1Família........................................................................188 8.2Relações sociais.....................................................195 9. Organização política.................................................199 9.1.O poder – estrutura, formas, ritos, símbolos e encenações...........199 9.2. O poder político........................................................204 10.Organização cultural........................................................206 10.1. Educação informal..................................................206 10.2. Educação formal.....................................................208 11. Religião – moral e ética – desejos e ascese...............210 12. Lazer..........................................................................219 BIBLIOGRAFIA...............................................................223 9



INTRODUÇÃO A FAMÍLIA DALLA VECCHIA

A família Dalla Vecchia provém da cidade e da República de Veneza. No século XIII desloca-se para o interior de Vicenza, localizando-se nas montanhas de Schio, Le Rocchete (San Rocco) e Montemezzo de Sovizzo. Na onda migratória do final do século XIX, um grupo de Dalla Vecchia vem para o Brasil. A maioria dos Dalla Vecchia do Rio Grande do Sul sabe-se descendente dos irmãos Pietro e Ângelo Dalla Vecchia. Pietro e Ângelo vieram em 1878 acompanhados pelos pais Beniamino Dalla Vecchia e Domenica Fantoni Dalla Barba, e da irmã de meses de idade Catarina Dalla Barba Dalla Vecchia. Sabe-se que Beniamino morreu na viagem e foi jogado ao mar. A filhinha, definhando o leite da mãe, também faleceu no mesmo navio.

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Desembarcaram, portanto, em Porto Alegre, Domenica (viúva), Ângelo com 18 anos e Pietro com 14. Beniamino era filho de Ângelo Colla Dalla Vecchia e de Orsola Pozzan1. Ângelo tinha sete (7) irmãos (tios de Beniamino): Rosa, Maddalena, Verônica, Palma Oliva, Giovanni, Cornélio e Pietro Luigi. Ângelo, por sua vez, era filho de Antonio Dalla Vecchia e Maddalena Colla (avós de Beniamino), e tinha uma irmã chamada Virginia. O casal de imigrantes Beniamino Pozzan Dalla Vecchia2 e Domenica Dalla Barba3, vem, pois, com os filhos Ângelo4, Pietro5 e Catarina. A seguir, a história dos descendentes de Ângelo e Pietro, de agora em diante denominados Ângelo e Pedro. 1

Livro de Casamentos da Paróquia Santa Maria e S. Vitola pg. 41, nº 3 (Montemezzo, Itália) 2 Beniamino nasceu em 05/03/1819 em Montemezzo, Montechi Maggiore – Vicenza Itália e morreu no mar em 1878 3 Domenica nasceu em 26 de agosto de 1820 e o casamento com Beniamino aconteceu em 23/02/1859. Cf. Livro 1 Casamentos da Paróquia Santo Antonio de Bento Gonçalves RS (Izabela) pg 84, nº 34. Conforme tb. Registro do Estado Civil da Paróquia de S. Bartolomeo, em Montemezzo de Sovizzo dos anos de 1849 a 1870 nº 2. 4 Ângelo nasceu em 06/02/1860 em Montecchio Maggiore, Montemezzo, Vicenza Itália e faleceu em 05/08/1946 em Jacarezinho, Auxiliadora, Encantado RS onde está sepultado. 5 Pietro, nasceu em Montemezzo, Vicenza, em 25 de fevereiro de 1864 e faleceu e foi sepultado em Jacarezinho, Auxiliadora, em 05/11/1940. 12


I - HISTÓRICO DA FAMÍLIA DALLA VECCHIA

Para entender os hábitos, as tradições, o estilo de vida dos Dalla Vecchia é preciso: entender a história de Veneza; entender a história do Vêneto e especialmente de Vicenza; caracterizar o contexto econômico, político, social, cultural e religioso do século XIX, especialmente depois de 1850; as condições oferecidas pelo Brasil; alguns fatos da migração e, por fim, sua vida de imigrantes. 1 – EM VENEZA Na Itália, Veneza é atualmente a capital da província de Veneza e da região vêneta que compreende as províncias de Beluno, Pádova, Rovigo, Treviso, Verona e Vicenza. O Vêneto compreende uma zona extensa e plana ao longo da costa que vai desde o delta do rio Pó até a desembocadura do rio Tagliamento; uma zona de leves ondulações como a dos montes Béricos e 13


as colinas Eugâneas; e finalmente uma faixa pré-alpina desde Aziago e Belluno, culminando em ampla zona montanhosa onde se salientam as Dolomitas com mais de 3.300 metros de altitude. Os rios principais são o Pó, o Ádige, o Brenta, o Sile e o Piave. O maior lago é o de Garda cuja costa oriental pertence ao Vêneto. O clima é suave, chuvoso no outono. Sua superfície é de 18.369 km2 e a população beira a 4.500.000 de habitantes. 1.1 O Vêneto antes do Império Romano

“As colinas eugâneas e as planícies do Vêneto já estavam povoadas desde o paleolítico. Depois, desde a Europa oriental, chegariam os vênetos e da Europa setentrional os récios, enquanto os etruscos pressionavam pelo sul. Os vênetos predominaram na região até o século II e I aC. quando aconteceu a gradativa colonização romana”6 1.2 No Império Romano

“O período que se seguiu foi significativamente favorável às cidades vênetas que se enriqueceram enormemente com o comércio, graças à eficiente rede de caminhos, graças ao saneamento, aos portos e outras obras públicas realizadas pelos romanos”7 “Desde o baixo Império (cerca de 350 dC) a região das lagunas contava com pequena população independente vivendo da pesca e da exploração do sal e era frequentada 6 7

Guia de Italia, pg 93. Guia de Itália pg. 94 14


também por habitantes de Ravena, Altinum e Aquiléia que lá mantinham ancoradouros e um comércio costeiro. Somente no século V, entretanto, iniciou-se o estabelecimento de novos grupos na área. Em virtude das invasões bárbaras, elementos de Aquiléia e localidades vizinhas refugiaram-se nas várias ilhotas, organizando-se um tipo de comunidade ainda muito rudimentar. Segundo Cassiodoro (Favius Magnus Aurelius Cassiodorus Senator; (480-575), em 537-538 viviam esses habitantes em casas semelhantes a „ninhos de pássaros aquáticos‟ , gozando de liberdade, autonomia e igualdade entre si. A autoridade política estava confiada a um „tribuno marítimo‟, que zelava pelo monopólio dos transportes na região, enfrentando italianos e bizantinos”8 “Nos séculos IV e V tiveram lugar, por um lado, a afirmação da organização eclesiástica (cujo centro principal foi Aquiléia)9 e por outro, as devastadoras invasões dos bárbaros. No século VI seguiu-se a reconquista bizantina, e depois o longo período ostrogodo e, sucessivamente, a ocupação lombarda. Os lombardos estabeleceram-se no interior da região enquanto as cidades costeiras permaneciam fiéis a Bizâncio”10 8

Mirador, Veneza, pg 11344. É bom prestar atenção que o Cristianismo até 313 vivia perseguido pelo Império Romano (10 perseguições). Em 313 Constantino declara o Cristianismo religião livre. Em 387 Teodósio declara o Cristianismo religião oficial e, em 391, religião única do Império. O Império Romano já decadente e o Cristianismo se unem, se fundem no Estado de Cristandade que implantará sua estrutura eclesiástica em toda parte. Também na região do Vêneto. 10 Guia de Italia pg. 94 15 9


Com a invasão lombarda vinda do norte (568)para Veneza, “os habitantes de Concórdia fixaramse em Caorle, os do Baixo Friuli em Iesolo, os de Treviso em Rialto, os de Pádova em Malamocco, os de Altinum em Torcello e os de Oderzo em Cittanova (Heraclea). Tal fato gerou maior necessidade de adaptação material da área (reforço do solo, diques, escoadouros, etc), assim como de alteração em seu equilíbrio político... E a chegada do patriarca de Aquiléia, que se refugiara em Grado desencadeou uma questão entre o Friuli (sob suzerania lombarda e depois franca) e a Venezia quanto ao domínio da área. Finalmente, em 584, um representante do Imperador Maurício induziu a população das lagunas a prestar submissão não juramentada, em troca de concessões e privilégios comerciais... No tocante à política interna, uma série de conflitos impôs a criação de uma comissão de 12 tribunos (tribuni maiores) encarregados de tratar de questões comuns às várias pequenas comunidades: a supervisão geral do governo cabia ao exarca de Ravena, embora a situação reinante não permitisse o exercício efetivo de qualquer autoridade. As rivalidades no comércio e na pesca bem como incompatibilidades entre os habitantes e outros conflitos, aliados agora à política do imperador e as repercussões da questão iconoclasta, determinaram no século VIII o aparecimento de nova forma de governo, o dogato (ducado) conferido por eleição”.11 11

Mirador, Venezia, pg 11344 16


1.3 Entre os francos e Bizâncio.

“A queda de Ravena (751), a ameaça lombarda e principalmente o avanço franco sobre a Itália colocaram as lagunas em situação perigosa entre bizantinos e francos. O rei franco da Itália, Pepino (777-810) disposto a tomar posse efetiva da região, já com relativa importância comercial e marítima, reuniu uma frota em Ravena, capturou Chioggia e alcançou Malamocco (então capital da comunidade das lagunas). Daí resultou a mudança da capital para Rialto e a fixação do sítio de Veneza. Pelo tratado de 812, entre bizantinos e francos, os habitantes foram, finalmente reconhecidos como súditos do Império Oriental, sendo mantidas as vantagens comerciais que desfrutavam na Itália. Internamente, a aristocracia francófila foi afastada do poder, agora detido pelo doge Agnello Partecipazio, heracliano da facção „maurícia‟. Essa facção pendia para Bizâncio ao mesmo tempo que desejava transformar o dogato num posto hereditário; os francófilos constituiam a facção democrática, composta pelos primitivos habitantes das lagunas, aspirando a instituições livres e maior vinculação com a Igreja. A concentração do poder e o deslocamento das funções administrativas e religiosas para Veneza já representavam, entretanto, certa união dos moradores das várias comunidades, e mesmo uma conciliação entre os partidos políticos, visando à manutenção da independência regional contra os dois impérios, através de um Estado centralizado. Tal fato adquiriu base moral 17


mais sólida com a chegada das relíquias de S. Marcos, trazidas de Alexandria em 828, e a construção de sua primeira igreja em Veneza.

A basílica e a praça de S. Marcos

Teoricamente, a região continuava a ser uma província bizantina, embora a afirmação gradativa de Veneza como poder naval acarretasse, em 840, a omissão do nome da província em seus documentos e a equiparação da dignidade ducal à de reis e imperadores. Sua preponderância sobre as demais localidades da laguna é patente em meados do século IX; nos séculos X e XI, Veneza organiza-se melhor para 18


desempenhar seu papel de capital, empreendendo-se uma série de obras na cidade”. 12 O Vêneto, como um todo, “no século X, esteve fracionado em numerosos feudos, sobretudo nas zonas rurais, enquanto isso, nas cidades, depois de um período em que prevaleceu o poder episcopal, iniciavam a constituir-se as primeiras organizações municipais que alcançaram seu máximo esplendor no século XII”13.

Jandir Dalla Vecchia Zanotelli e Ruth Avila Zanotelli na praça S. Marcos de Veneza – Revivendo raíses.

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Mirador, Veneza, pg 11344 e 11345. Guia de Italia, pg 94. 19


Veneza e suas gôndolas

1.4 República

“Afastadas as tendências políticas que visavam à formação de um dogato hereditário, o traço básico do desenvolvimento político consiste, a partir do século XI, na gradativa alienação dos poderes popular e ducal em favor da aristocracia, criando-se assim uma república patrícia. Surge uma complexa engrenagem política com órgãos amplamente ramificados e onde a participação na vida pública não só depende de eleições como da sorte. Esse processo torna-se mais nítido a partir de 1143, quando o placitum (assembléia popular) se limita 20


a ratificar as decisões do conselho dos sábios que cerca o doge, perdendo assim a sua iniciativa legislativa. Nesse mesmo ano aparece a “comuna de Veneza”, instituição que agrupava as mais ricas famílias patrícias, dispostas a coibir qualquer intervenção no governo ducal por parte dos não-nobres. Além disso, os sábios, eleitos nos diversos bairros da cidade, passam a constituir um conselho permanente adjudicado ao doge, emitindo deliberação com efeito executivo, em contraposição ao conselho privado ducal. Nessas duas novas instituições já se delineiam o grande conselho e o pequeno conselho”.14 O doge já não toma decisões sem a prévia aprovação dos „sábios‟ e em 1148 já deve prestar promissioni ducali (juramento) ao patriciado. Entre 1150 e 1180 o número de participantes do placitum é limitado por contrade (paróquias) e a frequência às reuniões da assembléia diminui. Em 1171 o povo já não elege o doge, mas é, apenas, uma comissão eleitoral de 11 membros que escolherá o doge. Em 1268 a escolha do doge caberá ao Grande Conselho. A escolha era feita em 6 etapas pelos nobres evitando, assim, que o doge se coligasse com o povo. “Até o fim do século XII , a administração financeira fugira à competência ducal, assim como a nomeação de funcionários públicos e juizes. No século XV, a Assembléia Popular estava de fato e legalmente destituída de qualquer iniciativa 14

Mirador, pg 11345. 21


política, enquanto o doge se via obrigado a obedecer a uma severa legislação restritiva de seus poderes” 15

Veneza – “Il ponte dei sospiri” ligando o palácio à cadeia. Quem passasse do palácio imperial por esta ponte para a prisão jamais retornaria. Por isso o nome de a ponte dos suspiros, das lamentações, da derradeira despedida. Na memória dos Dalla Vecchia a severidade dos doges de Veneza permanecia indelével. Isto se deve, certamente ao fato da revolta ocorrida no século XIII e cujo resultado foi o afastamento, fuga, dos ancestrais desses imigrantes para a terra firme, especialmente para Vicenza e as regiões montanhosas desta província. Da listagem de 156 nobres de Vicenza, os Dalla Vecchia constam há muitos séculos antes da imigração para o Brasil. Veneza, suas águas, sua República e a ponte dos suspiros são curiosidade que os turistas não perdem. 15

Mirador, pg 11345. 22


Veneza – Praça S. Marcos – Agostinho

A aristocracia domina o Grande e o Pequeno Conselhos e suas comissões como a dos projetos fiscais e financeiros. Uma das comissões do Pequeno Conselho (dos pregradi ) mais tarde será o senado. “Pouco a pouco, os monopólios comerciais da aristocracia, obtidos principalmente a partir da quarta cruzada (1204),16 estendem-se também à área política. O Grande Conselho torna-se a peça essencial do sistema 16

As Cruzadas, são uma guerra “santa” que a Europa feudal e, para interesse também do comércio em mãos dos judeus, empreenderá contra os islamitas árabes e turcos que dominavam os lugares santos de Jerusalém e arredores. Isto tudo sob o efeito do medo do fim do mundo no virar do primeiro para o segundo milênio. A Primeira Cruzada foi em 1096, a oitava e última em 1270. 23


constitucional, agregando 35 membros em 1200, 430 em 1261, 577 em 1276, até ultrapassar mil membros no séc. XIV. Já em 1232 manifestava-se como poder legislativo autônomo, e em 1250 seus atos tinham precedência sobre os do doge e do Pequeno Conselho. A política oligárquica veneziana assume sua forma concreta na lei denominada Serrata del Maggior Consiglio (1297), tornando-se automaticamente elegíveis os conselheiros dos quatro últimos anos e aqueles cujos ancestrais tivessem tido assento no conselho e excluindo o resto da população. Essa lei foi perpetuada em 1299, seguindo-se a isso uma série de medidas destinadas a concentrar os poderes de governo em mãos de umas poucas famílias; essas tiveram seus nomes nos registros de elegíveis de direito (1314), precursor do „livro de ouro‟ do século XV”.17 Em 1322 o patriciado se tornou nobreza de função cabendo-lhe o controle de toda a máquina governamental e os principais postos. Excluído da participação, o povo se rebelou em 1299 exigindo inclusão no Grande Conselho e o patriciado também excluído rebelou-se em 131018. Na guerra contra Ferrara e consequentemente com o oposição do papa o Grande Conselho se divide entre Guelfos e Guibelinos. Diante disso Benjamim Tiepolo alia-se às famílias Quirini e Badoer e conspira. Em 17

Mirador, pg. 11345. Nesta conspiração deveriam estar envolvidos os Dalla Vecchia que, perseguidos, se exilam no continente perto de Schio e Vicenza. 24 18


reação criou-se o Conselho dos Dez encarregado de descobrir e julgar os crimes contra a segurança do Estado. Em 1335 ele se fez permanente com poderes acima de todos os Conselhos e do próprio doge. Assim em 1354 o doge Marino Faliero (1274-1355) aproveitando o descontentamento popular pela guerra contra Gênova pretende restaurar a autoridade ducal e se fazer príncipe: o Conselho dos Dez o prende e decapita na Praça de São Marcos. O Grande Conselho e o Senado administram as finanças, a economia, a cidade, as possessões, a navegação, o comércio, o exército e a política internacional. “Contrariando as tendências da época, Veneza permanece no século XV uma república urbana, não oferecendo oportunidade para a presença de um déspota de tipo renascentista. O poder coletivo do Estado representava-se pela Signoria presidida pelo doge. Este raramente desempenhava algum papel pessoal relevante; como exceções podem citar-se o humanista Andrea Dandolo (1307-1354) tendo governado de 1343 a 1354; Michele Steno (1331-1413) tendo governado de 1400 a 1413; Francesco Foscari (1373-1457 tendo governado de 1423 a 1457; Niccolo Contarini que governou de 1630 a 1631. Estes influenciaram pessoalmente a política de Veneza. No mais o doge, com seus atributos simbólicos, sua pompa e o respeito que lhe era devido, apresentavase quase que somente como uma expressão visual da 25


hegemonia, do poder e da riqueza do império marítimo veneziano”.19 Três estratos compunham a sociedade de Veneza: a aristocracia, os cittadini e a infima plebe. Os cittadini tinham direitos civis, podiam ascender a alguns cargos públicos e entre eles era escolhido o Grande Conselheiro (chefe dos cidadãos a partir de 1268), mantinham privilégios econômicos, podiam navegar sob a bandeira de São Marcos e ser protegidos pelo Estado. A plebe, composta de pequenos artesãos20, dependia do Conselho dos Dez que funcionava como instrumento conservador, supervisor e controlador das corporações de ofícios. As corporações não exerciam papel político e suas aspirações ao poder morreram com Marino Faliero. Aliás, as manufaturas tinham função secundária na economia de Veneza, ao contrário do que ocorrerá nas outras cidades européias. Suas principais atividades eram a de construção de navios, indústria de madeiras e metais, tecidos de luxo, tinturarias, cerâmica, vidraria, trabalhos em peles e indústria alimentícia. A força da economia de Veneza, porém, vinha do comércio. Como já acenamos, enquanto a Europa, nos territórios abrangidos pelo Império Romano, mergulhava, a partir de 476 dC 21 no mais profundo processo de feudalismo – com a ruralização da 19

Mirador, pg. 11346. Destaque-se entre eles os artesãos judeus que, em Veneza encontrarão refúgio contra as perseguições. 21 Data da queda do Império Romano nas mãos dos invasores “bárbaros” e da Igreja. 26 20


sociedade, com o esfacelamento e pulverização do Estado e de suas funções (cunhar moeda, legislar, estabelecer a justiça, manter a infra-estrutura para a produção e o comércio como estradas, pontes, policiamento etc), com a clericalização da sociedade e a acentuada hierarquização da Igreja, com a privatização da defesa, com o isolamento de cada pequeno senhor em seu castelo rodeado de servos da gleba, com o desaparecimento do comércio interno e a divisão da sociedade em estamentos muito próximos a castas22 com o estabelecimento de um rígido Estado de Cristandade (fusão de Império Romano e Igreja Cristã), - enquanto o próprio Vêneto se subdividia em numerosos feudos, Veneza, pelo contrário, após ser dividida e administrada como todo o Vêneto em províncias episcopais, organiza-se em instituições municipais que chegam ao esplendor no século XII como organização urbana, comercial e republicana. Veneza se fez uma das maiores potências políticas e econômicas da Europa especialmente entre os séculos XII e XVI através do comércio considerando especialmente que: a) O Império Bizantino concedeu a Veneza privilégios comerciais em troca do apoio militar contra búlgaros, muçulmanos, normandos...que investiam contra o Império; b) O apoio de Veneza às cruzadas e a retomada dos estreitos de Dardanelos e Bósforo diante de 22

“os homens foram feitos por Deus: uns para trabalhar, outros para rezar e outros para guerrear e mandar”. 27


Constantinopola na 4a. cruzada em 1204 introduz Veneza em seu primeiro apogeu comercial c) “A partir do século XII Veneza já possuía o controle absoluto do Adriático, com estações e entrepostos em vários pontos. Gradativamente seus contatos se estenderam de Constantinopla ao Mar Negro, Criméia e Mar de Azov. Possuíam entrepostos no litoral da Ásia Menor, no Sul do Egeu, na costa e interior da Síria, assim como no Oriente Muçulmano. Para o Norte, atingiam Iconium e Armênia. A administração das colônias ficava a cargo de um chefe em Constantinopla, um visconde ou bailio na Síria e um cônsul nomeado pela República em Alexandria. Os venezianos transportavam para Oriente principalmente produtos da Alemanha e Itália, em troca de frutas exóticas da Síria, trigo do sul da Rússia, vinhos da Ásia Menor, especiarias, açúcar, tecidos finos de algodão e seda, tapetes, pedras preciosas, vidros e cerâmica fina, ouro, âmbar, alume, algodão e seda em bruto, corantes ... O mundo eslavo fornecia escravos, madeiras, mel, cera, peles e cânhamo. Os muçulmanos forneciam através de Alexandria, sedas da China, especiarias da Insulíndia e Índia, açúcar, linho, algodão do Egito, perfumes da Arábia e couros em troca de trigo, 28


tecidos, metais, coral e âmbar trabalhados, peles, ferro e artigos manufaturados de ferro. Essas mercadorias, mesmo quando destinadas a outras partes do Mediterrâneo, eram descarregadas em Veneza e aí submetidas à taxação. A redistribuição fazia-se em grande parte por mar ou via fluvial, embora não excluísse o comércio por via terrestre. O controle de algumas rotas terrestres e também dos entroncamentos fluviais do Pó, Ádige e outros afluentes levaria Veneza à política de conquista no continente. No começo do século XV, calcula-se que o comércio veneziano tenha alcançado a cifra de 20 milhões de ducados, percebendo os intermediários cerca de 4 milhões”.23 d) “A estabilidade do Império seria ameaçada no

século XIII com a retomada de Constantinopla pelos gregos, a ascensão comercial genovesa e a submissão de Acre aos muçulmanos (1291), fechando os mercados orientais, ao mesmo tempo em que se desencadeava uma guerra entre Veneza e Gênova. No princípio do século XIV, porém, Veneza já conseguira restaurar parte do Império, reforçando sua posição em Negroponte, Creta e Moréia. Por outro lado, a paz de Turim (1381), marcou o fim do conflito com Gênova. A perda da Terra Santa levou Veneza a afirmar sua posição no Egito, apesar dos obstáculos oferecidos pelas proibições 23

Mirador, pg. 11346 e 11347. 29


papais, e também a aproveitar a oportunidade oferecida pelo Império Mongol para manter relações diretas com o Extremo Oriente. Nesse quadro inserem-se a chegada de Marco Pólo (1214) à China e a conclusão de tratados de comércio com a Pérsia e Tamerlão. Tudo isso converteria Veneza numa cidade riquíssima, luxuosa e com um dos mais intensos movimentos de capitais da Europa”.24 1.5 Dificuldades e Decadência.

A partir do século XVI Veneza e seu comércio encontrarão muitas dificuldades: a) Os turcos avançam sobre as rotas comerciais que Veneza tinha com o Oriente. “A partir de 1430 os venezianos perderam gradativamente suas possessões bizantinas para os turcos, só vindo a contrabalançar essas perdas com a posse de Chipre revertida à República em 1480, após o governo de Caterina Cornaro (1454-1510)”.25 b) Os portugueses descobrem novo caminho para

as índias e assim anulam as vantagens dos comerciantes de Veneza que, comprando dos árabes as especiarias em Alexandria, revendiamnas para a Europa. Agora, os comerciantes deveriam comprar as especiarias do Oriente em 24 25

Mirador, pg. 11347. Mirador, pg. 11347. 30


Sevilha ou Lisboa, para onde haviam se deslocado a maioria dos banqueiros judeus que haviam enriquecido em Veneza, Gênova e Florença. Aí esses produtos serão bem mais baratos. Assim Veneza fica fora da rota para o comércio com o Oriente e o Mediterrâneo que, durante dois mil anos fora o grande mar do comércio e da cultura é substituído pelo Atlântico, tendo à frente Portugal e depois Espanha. c) Diante dessas dificuldades Veneza adapta seu

potencial marítimo e comercial transformando-o em industrialização de tecidos de luxo e, depois em centro europeu de diversão. No século XVIII seu carnaval de máscaras e luxo durava seis meses ao ano. Por outro lado os investimentos voltar-seão cada vez mais para a produção agro-pecuária no continente (terra ferma). “Por volta de 1590 essas possessões já abasteciam 4/5 das necessidades alimentares venezianas”. Algumas datas devem ser recordadas:  1338 a Signoria tomara conta da marca de Treviso.  1404 tomada de Pádua, Bassano, Vicenza e Verona  1420 tomada de Friuli  até 1454 (Paz de Lodi na guerra de Veneza e Florença contra Milão), Veneza fica com toda a região a leste do Adda com Romanha e Trentino e depois, Lodi e Piacenza, Bréscia, Bérgamo e Cremona. 31


Respeitando as culturas locais e nelas instalando somente um podestá para o governo civil e um capitão para assuntos militares, a Sereníssima de Veneza não só não foi combatida como até acolhida por essas comunidades que viam em Veneza maior chance de progresso. A bandeira do leão de São Marcos foi adotada como a sua própria.  1464 unem-se Florença, Nápoles, Milão e o

papa contra Veneza  1495, ante a ameaça francesa, Veneza unese ao papa, a Milão e ao rei da Espanha e em seguida une-se à França de Luis XII (1462-1515) obtendo assim novamente Cremona e Lodi. Morto Cesar Bórgia (1475-1507), Veneza anexa parte da Romanha.  Por isso, em 1508, todos os oponentes formam a liga de Cambrai que obriga Veneza a devolver as possessões papais da Romanha. A partir de então, Veneza conservará seus territórios no continente mediante acordos.  Com a influência cada vez maior da Espanha na Itália, especialmente através dos papas espanhóis, com a derrota definitiva dos árabes em Lepanto (1571), os constantes conflitos com a Santa Sé, Veneza 32


transforma-se em potência européia de segunda categoria.  1669 Veneza perde Creta  1718 paz de Passarowitz consagra o fim da influência veneziana no Oriente.  1797 pela paz de Campofórmio, o Vêneto e Veneza conquistados por Napoleão, ficarão sob o domínio austríaco ou francês até 1814. Finda assim a história da República de Veneza que ultrapassou incólume a Idade Média européia e ofereceu à burguesia da Idade Moderna um modelo econômico e político bem como a inspiração da frivolidade decadente.26  1866, vencida a Áustria pelos prussianos, o Vêneto e Veneza são incorporados à Itália unificada.

26

Interessante observar um episódio típico de cidade comercial como Veneza traduzido em sua vida noturna e sexual. Por influência da Igreja, no auge da atividade comercial (Sec. XIII), as prostitutas que serviam os comerciantes marítimos em Veneza, foram expulsas da cidade por significar imoralidade. Assim elas se refugiaram em Pádova. Pouco tempo depois, porém, eclodiu em Veneza uma situação ainda mais constrangedora para os parâmetros da moralidade: por falta de prostitutas os marinheiros visitantes mantinham relações sexuais com rapazes (e o homossexualismo grassou). Para evitar esse escândalo o Grande Conselho decidiu chamar de volta as prostitutas e ficar com o “mal menor”. Contactadas e organizadas as prostitutas exigiram como condição para seu retorno: seguro saúde, aposentadoria vitalícia pagas pelo Estado. E Veneza aceitou. Para anunciar que as “mulheres” estavam de volta exigiu-se que elas, no alto de uma ponte mais visível do Canal Grande expusessem seus seios nus. Essa ponte até hoje é conhecida como a ponte “delle tete”. 33


A Itรกlia com os Alpes no alto e seus limites a leste

34


2. EM VICENZA A partir de 1314 os Dalla Vecchia saem de Veneza e se regugiam na região montanhosa de Vicenza 2.1 O Vêneto até a segunda metade do século XIX Hoje Vicenza é província da região do Vêneto. Sua capital, a cidade de Vicenza, com um pouco mais de 120.000 habitantes, ao lado dos montes Bérici, está situada no eixo rodo-ferroviário que vai de Veneza a Milão, entre as cidades de Verona e Pádova. A província ocupada desde tempos pré-históricos pelos paleovênetos, foi organizada pelos romanos no século IV dC e a cidade se chamava Vicentia. Ao final do Império Romano e até o ano 1.000 Vicenza foi corredor das tropelias dos invasores bárbaros que vinham especialmente do norte e que determinaram o empobrecimento do território, reduzindo e até extinguindo as culturas introduzidas pela técnica agrária romana. As matas voltaram a recobrir grande parte da região e a atividade silvo-pastoril predominou então sobre a agrícola. Muitos aluviões castigaram ainda mais a área que não dispunha de racionalização dos cursos 35


d‟água. A população diminuiu e só voltaria a crescer logo depois do ano 1.000.

Vicenza - Ruth, Lírio Dalla Vecchia Zanotelli e esposa

36


Vicenza – Palazzo Ducale – Os Dalla Vecchia ofereceram materiais para a sua construção, especialmente pedras talhadas.

Monges beneditinos e cistercienses evangelizaram a região e re-introduziram a atividade agrícola, com adubação e organização social das atividades. A ação desses religiosos esteve sempre desvinculada do clero secular e do bispo que controlava a cidade. Por isso o abismo entre cidade e campanha ficou sempre maior. 37


Ruth Zanotelli ante o palácio Ducale em Vicenza

A burguesia com seu individualismo, não permitiu que as obras públicas condicionadas sempre pela união de esforços da coletividade, fossem empreendidas ou recuperadas. O latifúndio burguês situava-se nas melhores terras que já haviam sido beneficiadas ou à beira dos melhores meios de comunicação e comércio. Pelo comércio, urbaniza-se a vida. Vicenza foi assim uma cidade romana, lombarda, franca e depois participante da liga dos municípios contra Frederico Barbarroxa. Depois do século XII foi súdita da família Carraresi (que dominava Pádova também), dos Scaglieri, dos Visconti e por fim de Veneza. 38


Ruth A. Zanotelli em Vicenza ante Giuseppe Garibaldi

39


Jandir João Dalla Vecchia Zanotelli – em Vicenza

Ao final do século XV e no século XVI Vicenza gozou de prosperidade econômica por conta dos investimentos realizados pelos nobres vicentinos e patrícios venezianos, que lhe permitiu um grande florescimento artístico com as pinturas de Bartolomeu Montagna e com um dos maiores arquitetos da Itália, Andrea Palladio (1508-1580) que fora educado pelo poeta Gian Giorgio Trissino e será seguido por Vicenzo Scamozzi (1552-1616). Os castelos medievais transformar-se-ão em sede de “vilas” senhoriais de grandes proprietários com expansão da agricultura. A cidade pequena e fortificada da Idade Média far-se-á centro agrícola. 40


Vicenza - o centro da cidade

A crise do século XVII, com a redução dos investimentos fará regredir a atividade agrícola e o retorno ao predomínio da atividade agro-pastoril. As “vilas” transformar-se-ão em residência de campanha dos patrícios citadinos. 41


Após 1700 o avanço dos estudos e da ciência agrária incentivada pelos iluministas vênetos voltará sua atenção novamente para a agricultura, com novos métodos, novas técnicas e melhor produtividade. A racionalização da atividade agrária recobrará força. Em 1797 os exércitos de Napoleão tomam conta da cidade e da província. Napoleão entregará à Áustria todo o Vêneto e Trentino em troca da mão de Maria Luiza que depois será a grã-duquesa de Parma. Com a unificação da Itália em 1861 e com a vitória prussiana sobre a Áustria (1866) essa região do Vêneto e, consequentemente Vicenza será entregue à Itália. Os imigrantes vênetos que, em massa, vieram ao Brasil a partir de 1875, aqui chegaram como italianos, ao contrário do que aconteceu com os que emigraram do Trentino que ficou subordinado à Áustria até o tratado de S. Germain em 1919 e que vieram, pois, como tiroleses austríacos27. Hoje Vicenza tem uma exuberante atividade industrial e comercial acima da agricultura ocupada por menos de 5% da população. Vicenza, embora nunca tivesse sido uma cidade particularmente importante ou poderosa, no entanto é

27

A lei 379/00 de 14 de dezembro de 2000 permite aos descendentes de trentinos emigrados, igualdade com os descendentes de outras regiões da Itália quanto à aquisição de cidadania italiana. 42


uma das cidades italianas com mais monumentos arquitetônicos e com um núcleo histórico invejável28 Os Dalla Vecchia provindos de Veneza serão agricultores nas montanhas de Vicenza e, embora com resquícios de nobreza, com este horizonte, imigrarão ao Brasil.

2.2 O VÊNETO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX 2.2.1- Contexto sócio-econômico O sistema feudal de produção terminou, no norte da Itália, com a “primavera dos povos” de 1848, meio século depois da Revolução Francesa. A unificação da Itália aconteceu em 1861 e o Vêneto foi incorporado à Itália em 1866. A unificação foi “uma conquista do país pelos grupos econômicos mais poderosos do Norte... e não acarretou nenhuma mudança fundamental na estrutura da propriedade agrícola da Península; ao contrário, agravou os seus aspectos mais atrasados, seja desencadeando fatores que geraram maior concentração da propriedade da terra nas mãos dos grandes latifundiários, seja pela venda de bens 28

( cf. Guia de Itália, pg 123). 43


da mão-morta (de comunidades religiosas) e outros inalienáveis” 29 “A economia era dependente de poucos industriais e de muitos latifundiários ainda afetos a esquemas econômicos medievais de feudalismo e de exploração da força operária e agrícola(...) A unificação política não destruíra o fenômeno escravagista de uma economia tradicional e ultrapassada... esquemas antiquados de grandes proprietários feudais com títulos hereditários de posse de terras e de elementos humanos que as trabalhavam.”30 O latifúndio e o minifúndio improdutivo e insuficiente para uma família era a estrutura reinante no Vêneto como em todo Norte da Itália. “...sobre 48.279 hectares cultivados no distrito de Vicenza, dos quais 34.772 eram constituídos de aratórios, pelo menos 5.000 pertenciam aos 28 proprietários que, no censo, haviam declarado possuir mais que 400 campos vicentinos31; os proprietários do distrito de Vicenza atingiam a 10.932, dos quais 3.791 com menos de um campo, 5.364 com menos de 10 campos, 672 com menos de 20 campos, 435 com menos

29

IANNI, Homens sem Paz, Rio, Civilização Brasileira, 2a. edição, 1972, pg. 75. 30 FROSI-MIORANZA, Imigração italiana no Nordeste do Rio Grande do Sul, POA, Movimento, 1975 pg.12. 31 ( 400 campos vicentinos= 1545 pérticas censitárias; 10 pérticas censitárias= 1 hectare) 44


de 40, 212 com menos de 60, 211 com menos de 100, 141 com menos de 200, 78 com menos de 400”32 Vivendo como meeiro nas terras e casas toscas dos latifundiários, devendo pagar parte em produção e parte em dinheiro, contribuindo com ovos, aves, palha, com metade dos casulos de bicho da seda e, a partir da unificação italiana, pagando o escorchante imposto do “macinato” (imposto de moagem), era difícil a vida do agricultor vicentino. Possuir como próprio um pequeno pedaço de terra era, para o agricultor um sonho “seguido de inenarráveis preocupações”33. Contra o “macinato” houve verdadeiras batalhas campais de agricultores contra a polícia. “Entre 1873 e 1881, nada menos de 61.831 pequenas propriedades foram tomadas pelo fisco por falta de pagamento de impostos, que muitas vezes não iam além de umas poucas liras; entre 1884 e 1901, o número de propriedades perdidas pelos contadini por impossibilidade de pagar impostos se elevou a 215.759; as vendidas judicialmente por dívidas a particulares somaram 70.774 entre 1886 e 1900”34 “O maior flagelo era a pelagra, endêmica em toda a região, uma afecção com tríplice sintomatologia: cutânea, gastro-intestinal e nervosa. Conhecida na Itália desde meados do século XVIII, já se havia observado na 32

LANARO, Sílvio. Società e Ideologia nel Veneto rurale. Roma, Ed. Storia e Letteratura, 1976, pg 25. 33 Ibidem pg. 32. 34 IANNI, 11972, pg 73. 45


Espanha e noutros países sob a designação de mal de rosa (...) O mais que haviam conseguido era que se relacionava com o consumo de milho. Supunha-se ocasionada pela preparação da polenta com milho verde ou estragado... Somente em 1879 se faz um levantamento em todo o Reino da Itália. Apura-se um total de 97.855 doentes, assim distribuídos: Piemonte 1.692 casos, Ligúria 148, Lombardia 40.838, Vêneto 29.936, Emília 18.728 (...). Em 1881 o total subia a 104.067, aumento devido quase exclusivamente ao Vêneto que, de 29 mil e tantos casos, passa a 55 mil... Essa alarmante incidência de desnutrição qualitativa correspondia à pobreza da água em sais minerais e ao consumo quase exclusivo de trigo, de castanha e particularmente de milho (...); a carne de gado, de ovinos, de porco e de aves domésticas comia-se apenas nos dias de festa e as mais das vezes era reservada aos homens que, nos domingos, a encontravam nas tavernas... A grande popularidade da caçada de passarinhos e a predileção, entre os pobres do Norte da Itália, pelo prato de polenta e oséi (...), explica-se pelo fato de que as pequenas aves silvestres eram uma das poucas e escassas fontes de carne”.35 A crise econômico-social-cultural que se abateu sobre toda a Europa após a “primavera dos povos” de 1848 e, especialmente, depois da crise de mercado 35

AZEVEDO, Thales. Italianos e Gaúchos. Porto Alegre, IEL/ A Nação, 1975, pg. 49-51 in BONI e COSTA. Os italianos do Rio Grande do Sul. Caxias, EDUCS, pg. 61. A mesma situação se observa no Trentino. O vale de Cembra do qual emigraram os ascendentes Zanotelli era denominada de Val della Pelagra. 46


espelhado na crise da superprodução de trens e trilhos na Inglaterra em 1873, afligiu mais profundamente as áreas periféricas do sistema capitalista europeu. Assim a Inglaterra que já se havia industrializado a partir de 1767 (quando a primeira máquina a vapor foi acoplada ao tear), a França a partir de 1800, a Prússia a partir de 1850, algumas áreas da Itália como o Piemonte a partir de 1850. O Vêneto e o Tirol como periferia do Império austríaco recém saía do sistema feudal em 1848. As estradas de ferro que rasgavam a Itália de norte a sul e de leste a oeste recém foram implantadas a partir de 1850. Por outro lado, o liberalismo anticlerical e muitas vezes maçônico destruía a ideologia e a cultura de uma região milenarmente cimentada sobre o Estado de Cristandade...36 A nova organização do trabalho que o liberalismo manufatureiro e industrial acarretava, gerava uma situação desumana que não deveria ser diferente da do Trentino: “há meninas em casa; vão às fábricas de seda, trabalham bestialmente das 4 da manhã às 8 e meia da tarde, com um tempo livre somente para comer, e ganham 40 centavos as mais bem pagas”37 Em 1832 na Bélgica há uma lei reveladora: proïbe-se o trabalho infantil abaixo de 8 anos e as 36

Cf. ZANOTELLI, Zanotelli a Saga de um Imigrante Trentino, 1997 pg.18 e ss. 37 La voce Cattolica, de 19/10/1875 in GROSSELLI, Vencer ou Morrer, pg 138. 47


crianças com menos de 12 anos tem o direito de trabalhar somente 12 horas por dia. As mulheres grávidas e as que trabalham em situação inóspita tem o mesmo direito de só trabalhar 12 horas por dia.38

2.2.2 - A Educação “Em 1871 o Vêneto contava 65% de analfabetos na população acima dos 6 anos de idade, o Piemonte 42% e a Lombardia 45%, taxas que em 1911 haviam baixado respectivamente a 26%, a 11% e a 13%, enquanto para o país era de 37%. A instrução era muito prejudicada pela falta de professores e pela participação das crianças nos trabalhos agrícolas e nas manufaturas, apesar da proibição legal da ocupação de menores de 12 anos nas indústrias” 39 Os índices de analfabetismo na data da unificação da Itália eram altos em toda a Itália e mais altos no sul. No Tirol o Império Áustro-húngaro tinha favorecido a escolarização, tanto assim que em 1875 cerca de 80% da população estava aflabetizada, contra uma média inferior a 50% em toda a Itália.

38 39

Cf. P. Beltrão ... AZEVEDO, 1975, pg. 52. 48


3. A EMIGRAÇÃO. Para compreender melhor a emigraçãoimigração da família Dalla Vecchia desde Vicenza para a Linha Janzen, em Izabela, no RS, a partir de 1876, detalharemos brevemente a situação européia que forçava a emigração, a situação do Brasil que convidava para a imigração, e a viagem dos Dalla Vecchia.

3.1 Síntese da situação européia e vêneta no final do século XIX. Era difícil a situação econômica dos pequenos agricultores ou trabalhadores rurais recentemente “liberados” do sistema feudal, com minúsculas frações de terra que tornavam impossível o sustento da família, e com a migração constante dos trabalhadores à procura de trabalho sazonal nos arrozais dos vales do Vêneto ou na vindima da uva e na colheita dos casulos do bicho da seda. Isto desmontava a estrutura familiar; ocasionava o êxodo rural concentrando jovens trabalhadores ao redor das cidades que iniciavam sua industrialização como

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Milão, Turim ao norte da Itália; a deficiência alimentar gerando epidemias como as da pelagra40. Por outro lado, desde 1850 a peste do bicho da seda e da uva aniquilavam as maiores fontes de sustento dos pequenos agricultores na região. A guerra político-ideológica dos liberais (anticlericais e fautores da industrialização e do progresso, contra o domínio do clero e da religião sobre a população) contra os “católicos” guiados e fiéis ao clero e sua estrutura paroquial e comunitária, levava angústia às famílias pobres que queriam salvaguardar os valores tradicionais da família e da religião. O desejo plantado pela burguesia moderna de ser dono (paron), proprietário, auto-determinado e a impossibilidade de sê-lo no contexto em que viviam, aumentava e potencializava as promessas que vinham da propaganda de terra abundante e da “cucagna” da América, muito embora essa ideologia capitalista fosse contraditória à manutenção de seus valores familiares e religiosos.

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Pelagra é uma doença causada pela falta de niacina (ácido nicotínico ou vitamina B ou vitamina PP) ou do aminoácido essencial triptofano e conhecida por seus três sintomas que começam com a letra D. São eles: o aparecimento de uma cor escura na pele (Dermatite, que fica seca e áspera. Mais tarde aparecem Diarreias e alterações mentais (Demência); também conhecida como doença dos três D's. O nome 'vitamina PP' faz referência à ação Preventiva à Pelagra. 50


A pressão das comunas por livrar-se do encargo cada vez maior dos pobres que não conseguiam se manter com suas próprias mãos, e do interesse de alguns em comprar pequenas frações de terra por preço irrisório, também estimulavam a emigração. Enfim, a lógica do capitalismo liberal que se implantava, ao mesmo tempo impelia à emigração e tornava atraente a proposta de aventurar-se em novas terras.41 3.2 O Brasil que os esperava42 O Brasil nasceu, nos planos dos conquistadores portugueses, para ser estruturado como um conjunto de: latifúndios, monocultores (de açúcar), exportadores, escravagistas e de acordo com os interesses daqueles que dominavam e dirigiam Portugal. De 1500 a 1528, período em que o comércio com a Ásia sorria a Portugal (trazendo-lhe os lucros 41

Para elucidar melhor o contexto de vida dos emigrantes Dalla Vecchia desde Vicenza no final do século XIX remetemos ao nosso trabalho Zanotelli, a Saga de um Imigrante Trentino que analisa a vida ao norte da Itália naquela época. Acrescente-se que, pelo fato de o Vêneto integrar o novo Estado italiano desde 1866, sobre os pobres agricultores da região recaíram novos impostos e gravames que tornaram a vida ainda mais difícil. 42 O texto a seguir, sobre o Brasil que aguardava os imigrantes é extraído, com pequenas modificações, da obra Zanotelli, A Saga de Um Imigrante Trentino, de autoria de Jandir João Zanotelli. 51


esperados, novas terras e novos fiéis cristãos), o Brasil não contava nos planos dos „descobridores‟ senão como terra de especiarias (pau brasil para pinturas...) e que necessitava ser defendida dos países rivais e concorrentes, como a França, por exemplo, cujo rei, ao ser notificado por Portugal para que respeitasse as terras brasileiras que eram de sua propriedade, propriedade essa decorrente da descoberta, respondeu que não aceitava a divisão do mundo entre Portugal e Espanha patrocinada pelo papa porque desconhecia que o testamento de Adão e Eva assim tivesse dividido o mundo. Com o declínio do comércio com a Índia, pelos encargos cada vez maiores assumidos pela coroa portuguesa para protegê-lo e ampará-lo, e com a expulsão dos judeus de Portugal em 1517 que financiavam os empreendimentos da coroa, e pelos perigos de ataques estrangeiros de que essa terra descoberta era alvo, Portugal concentrou-se no Brasil. E resolveu fazer dele uma colônia para produzir açúcar. O açúcar, cuja produção era especialidade dos árabes, tinha sido produzido experimentalmente, por Portugal, nas ilhas da Madeira, com escravos africanos. Vendido a altos preços na Europa, o açúcar era o „ouro branco‟ que poderia substituir os lucros que o comércio com a Índia deixou de dar. Assim o Brasil foi planejado, organizado, institucionalizado como a terra portuguesa para produzir açúcar. Para isso era necessário dividir o Brasil em latifúndios. A pequena propriedade era 52


impossível para o objetivo. O Brasil não nasceu para que aqui as famílias, com seu trabalho, produzissem o seu sustento. Nasceu para que a empresa (o engenho) produzisse, em grandes latifúndios, apenas açúcar, e apenas para a exportação. Para isso, as condições necessárias eram: o latifúndio e a escravidão. A divisão das terras do Brasil, inclusive para a reforma agrária, até hoje, encontra dificuldade nesse projeto originário e constitutivo do Brasil: produzir em grande escala (latifúndio, engenho, com numerosos trabalhadores escravos), um só produto, o açúcar (que interessava exclusivamente à metrópole, proibindo-se cultivar qualquer outro produto, mesmo que fosse para a alimentação), exclusivamente para a exportação (não seria para ser consumido pela colônia senão minimamente em forma de rapadura) e através do trabalho escravo (inicialmente índio e depois negro, sendo que era indigno o trabalho manual e produtivo para o branco e „nobre‟). Assim o Brasil nasceu como um conjunto de latifúndios, monocultores, exportadores e escravagistas. Estas 4 características do Brasil, tão bem descritas por Darcy Ribeiro e seguidas pela historiografia brasileira, vigoraram durante os 500 anos da História do Brasil depois da „descoberta‟. Assim, até quase 1700, o Brasil existiu apenas para produzir açúcar para a Metrópole portuguesa. 53


O Brasil colonial vai concentrar sua monocultura no açúcar até por volta de 1657. Os holandeses,43 que invadiram o Brasil em 1620, aprenderam a técnica da produção do açúcar e, saindo em 1657, vão produzí-lo nas Antilhas. Portugal já não tem, então, a quem vender o açúcar. E nem quem o refine e comercialize na Europa. Lembremos que sempre foi a Holanda quem refinava e comercializava o açúcar português para a Europa e que , com o refino e a venda lucrava mais do que Portugal com a produção e transporte até a Holanda. Agora Holanda e Inglaterra dominam o comércio mundial44 e Holanda domina a produção e comercialização também do açúcar. Portugal lança-se, então, desde meados do século XVII, a procurar, no Brasil, ouro e outros metais e pedras preciosas para compensar o fracasso com a monocultura do açúcar. O ouro seria a riqueza, uma vez que os metais preciosos estavam escassos na Europa, 43

É importante lembrar que Portugal desde 1580 estava sob o domínio espanhol (O Brasil, portanto, como colônia portuguesa estava sob o domínio da Espanha). Os Países Baixos (Bélgica e Holanda) que também eram domínio espanhol lutavam por sua independência. Para atacar a Espanha invadem o Brasil em 1620 e aqui ficam, especialmente em Pernambuco, até 1657. Holanda e Bélgica se independizam pelo tratado de Westfália (1648) que põe fim às guerras de religião. Os holandeses que deveriam, portanto, ter deixado o Brasil em 1648, só saem daqui em 1657, depois das lutas que Portugal lhes move. 44 Em 1654 Portugal , por um tratado secreto, vai permitir à Inglaterra vender todas as suas manufaturas (e a Inglaterra era a „oficina do mundo‟) em Portugal e suas colônias e Portugal só poderá vender para a Inglaterra e suas colônias vinho, azeite e bacalhau. O maior produto de Portugal ( o açúcar ) não poderá ser vendido nos domínios ingleses. Este tratado será ratificado pelo de Methuen em 1703. 54


considerando que a Espanha havia esgotado suas minas do México e do Peru. A primeira mina de ouro do Brasil é descoberta em Cuiabá em 1693. E até às vésperas de 1800, o Brasil produzirá toneladas e toneladas de ouro e pedras preciosas para Portugal e, para isso, concentrará todos os esforços e recursos. Será o século do ouro. Assim crescerão as regiões de Minas Gerais e São Paulo e o governo geral do Brasil deixará de estar na Bahia (centro da produção açucareira) para localizar-se no Rio de Janeiro. O gado que servia para a produção do açúcar agora será alimentação para os trabalhadores das minas. O charque e a carne de sol será a base dessa alimentação. É assim que nasce Pelotas no RS, onde os autores residem, como centro charqueador do Brasil Meridional em 1780. O gado introduzido no sul pelos jesuítas, já não é levado vivo para São Paulo e Minas, mas é conduzido para Pelotas, ali charqueado e enviado para o centro do país bem como para Buenos Aires, Europa, Estados Unidos e Antilhas. A partir de 1800, esgotada a mineração do ouro, o Brasil produzirá café e algodão para exportar, especialmente para a tecelagem inglesa. Assim, os imigrantes italianos, no final do século XIX, são atraídos pelo interesse do Império e das Províncias Brasileiras, para substituir a mão de obra escrava (em crise) nas grandes lavouras de café do Sul do Espírito Santo 55


(região de Cachoeiro do Itapemerim), para S. Paulo e Paraná e para povoar as terras de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Em 1808, quando a coroa portuguesa, com a elite da nobreza (15.000 pessoas) foge de Lisboa para o Rio de Janeiro, para escapar dos exércitos de Napoleão, o Brasil é reorganizado em função da corte. O Brasil que não existia para si, mas somente para a Metrópole, deverá ser agora modernizado: na economia, na organização política, na estruturação urbanística, nas artes, na cultura, etc. em função da corte 56


que agora reside aqui. O ensino primário do Rio de Janeiro é incentivado.45 São abertas duas escolas de direito e uma de medicina. Artistas são contratados para embelezar estética e arquitetonicamente o Rio de Janeiro. É incentivada a produção do café especialmente nos atuais estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, sul da Bahia e São Paulo... mais tarde também no Paraná. A mão de obra era, na totalidade, escrava. Por outro lado, a Europa já vivia os ares do capitalismo que, por interesse próprio, era contra a escravidão. A Inglaterra, centro do capitalismo pressiona para acabar com a escravidão e consequentemente com o tráfico de escravos, substituindo-os por mão de obra livre e assalariada46. Com isso cresceria o mercado consumidor para os produtos ingleses.

45

Depois da expulsão dos jesuítas ( mais de 500 do Brasil, 2.000 da América Latina) em 1759 e 1767, realizada pelo iluminismo liberal de Pombal, primeiro ministro português, o ensino primário no Brasil, especialmente, ficou um caos. Eles eram os melhores professores, eles tinham os melhores manuais e métodos, agora o ensino decairá. D. João VI, rei de Portugal veio com a mãe D. Maria (a louca), avisado que foi pelo exército inglês de que a França invadiria Portugal, veio trazido por navios ingleses e com um ministro inglês encarregado das relações comerciais com a Inglaterra. Portugal era praticamente uma colônia inglesa. Ao chegar ao Rio de Janeiro inúmeras famílias foram desalojadas de suas casas para dar lugar aos 15.000 nobres que chegavam. O Rio só tinha 45.000 habitantes. 46. Assim, para ter reconhecida a Independência declarada em 7/9/1822, o Brasil, além de assumir a dívida que Portugal tinha para com a Inglaterra, declarava também a intenção de abolir a escravatura. Em 1827 esse compromisso é exigido pela Inglaterra para que o Brasil já não importe negros escravos da África. Em 1849 pela lei Eusébio de Queirós o Brasil aceita não mais importar escravos. Em 1861, tendo em vista a velhice dos escravos, declara-se livre o sexagenário: o escravo com mais de 60 anos era livre. Isto é, 57


Inicia o incentivo à imigração: D. João VI, através de um decreto de 25 de novembro de 1808, assegura aos estrangeiros, pela primeira vez na história do Brasil, o direito à propriedade de terras em território brasileiro, e a distribuição gratuita de terras sob a condição de que elas fossem imediatamente medidas e cultivadas. Em 1815 o Brasil (na mesma época e no mesmo rumo da Conferência de Viena) é declarado Reino Unido a Portugal e Algarves. E, para obedecer às necessidades de mercado reclamadas pela produção inglesa, o Brasil deveria, além de abrir os portos às nações amigas (leia-se Inglaterra) em 1808, abolir gradativamente a escravidão conforme cláusula de compromisso assinado com a Inglaterra. Com efeito, o escravo não tem dinheiro para comprar, e a Inglaterra precisa do maior número de pessoas que tenham algum dinheiro para comprar seus produtos. A Inglaterra havia suprimido o tráfico de escravos (1807) e abolido a escravidão (1833) nas Antilhas (suas colônias). Assim a escravidão no Brasil vai diminuindo em número por submissão aos interesses ingleses e por exigência do capitalismo. Tudo isso porém, envolto num discurso humanista e libertário ao estilo da Revolução Francesa.

ficava livre o senhor daquele encargo. E livre o escravo para morrer de fome e miséria. 58


É interessante observar que a independência do Brasil (1822) não modificará em nada a condição dos escravos bem como da maioria da população brasileira. Apenas mudam os donos do poder. Em 1818, segundo Perdigão Malheiro47, o Brasil tinha 1.887.900 habitantes livres, (neles compreendendo 259.400 indígenas, quase todos marginalizados da vida do país) e 1.930.000 escravos. Mais de metade da população brasileira, portanto, era escrava. Em 1826 o Brasil que, para ter reconhecida sua independência declarada em 7.9.1822, havia pago a dívida que Portugal tinha para com a Inglaterra, se compromete a não mais importar escravos da África (essa lei só foi promulgada em 1831). A Inglaterra, pelo Bill Aberdeen de 1845 não só proibia por motivo de „humanidade‟ a saída de escravos da África, como também se autorizava a interceptar navios negreiros, confiscá-los tanto no mar como na costa. A lei Eusébio de Queirós de 1849, assim, determina para o Brasil o fim do tráfico de escravos. Continuará, porém, o contrabando de escravos. Em 1861, é declarado livre o sexagenário: livra-se o senhor de sustentar o escravo após os 60 anos, e o escravo é livre para passar miséria e morrer de fome. Em 1871, é declarado livre todo nascido de escrava, mas seu senhor poderá contar com seu trabalho até aos 18 47

citado por Maranhão et alii in Brasil História, vol 2 pg. 273 . 59


anos para compensar o custo de sua criação. Em 1888 é, finalmente, declarada extinta a escravidão no Brasil. A escravidão formal foi extinta, as condições de escravidão e semi-escravidão perduram, para alguns, até os dias de hoje. Dentro da revolução industrial (liderada pela Inglaterra) a escravidão se tornou inútil, onerosa e prejudicial. Mais barato e eficiente seria contratar um empregado ou fazer contrato de parceria com imigrantes para as fazendas de café. Para substituir os escravos, pensa-se em imigrantes europeus dos países industrializados. Assim em 1819 chegam 1.666 colonos suíços( outros 350 haviam morrido na viagem) que se localizam na região de Nova Friburgo no Rio de Janeiro48. Em 1824, o já Imperador do Brasil D. Pedro I solicita a vinda de 1.000 rapazes alemães para o exército brasileiro. Alguns ficaram no exército (guarda nacional) e outros (126) vieram para o Rio Grande do Sul e iniciaram a primeira colônia de imigrantes em S. Leopoldo. 3.3 - No Rio Grande do Sul Em 1826 é criada para os alemães a colônia de Três Forquilhas e a de Torres no RS, em 1828 a de S. Pedro de Alcântara em SC, em 1828 a do Rio Negro no PR, em 1829 a de Santo Amaro em SP. 48

De BONI e COSTA, 1979, pg 27. 60


Por outro lado os proprietários de latifúndios (obtidos, ou por doação do Governo ou por estratagemas cartoriais), subdividem suas propriedades em colônias e vendem-nas aos colonos. Ao longo do rio dos Sinos nascem Mundo Novo em 1847 (Taquara), Padre Eterno em1850, Sapiranga e Picada Verão. Em 1846 Bom Princípio, em 1848 Caí, em 1857 Montenegro e, por fim Nova Petrópolis. Ao longo do rio Taquari, em 1853 surgem Lageado e Estrela, em 1868 Teotônia. A Província cria em 1849 Santa Cruz e, em 1855 Santo Ângelo (Agudo). Rheinghanz , em 1858 cria a colônia de S. Lourenço, perto de Pelotas. Quando, em 7/4/1831, o Imperador D. Pedro I renuncia, entregando o Império ao filho ainda criança (período da Regência...), os latifundiários, que eram contra a colonização, forçaram os parlamentares a cortar as verbas destinadas à imigração. Pelo Ato Adicional à Constituição de 1834 “passou-se às Províncias, carentes de recursos, o encargo de promover a vinda de estrangeiros, esquecendo-se, além do mais, de dar a elas no mínimo a condição fundamental para tanto: terras (estas, enquanto devolutas, pertenciam ao governo Imperial). Só em 1848, pela lei 514, é que as Províncias seriam contempladas com algumas léguas quadradas, nas quais poderiam assentar colonos”...49 O RS recebeu, como as demais províncias, 36 léguas quadradas de terras devolutas, e com elas criou as colônias de Santa 49

De BONI e COSTA, 1979, pg 27. 61


Cruz, Santo Ângelo (Cachoeira), Nova Petrópolis e Monte Alverne50. Os lotes foram doados segundo a lei provincial 229 de 1851 e de acordo com a lei Geral 601 de 1850. Em 1847, Nicolau Vergueiro, um latifundiário cafeicultor de mentalidade liberal e que lutava contra a escravatura, introduziu em sua fazenda em S. Paulo imigrantes europeus, especialmente alemães: 80 famílias com 400 pessoas, com um contrato de parceria. O contrato foi burlado especialmente com a obrigação de os colonos se abastecerem nos armazéns da fazenda, de tal forma que os altos preços ali cobrados e o baixo preço pago pelo café produzido, aprisionavam os colonos a uma dívida que sempre aumentava. A condição desses colonos assemelhou-se a dos escravos. Em 1857, em 26 fazendas brasileiras trabalhavam 1.031 alemães, 1180 suíços, 616 portugueses e 88 belgas51. A denúncia da condição de trabalho aqui, foi ouvida na Europa e a Alemanha, Inglaterra, França e Suíça proibiram ou dificultaram a emigração para o Brasil. A lei de terras, Nº. 601 de 18/9/1850 e seu regulamento de 1854 estabelecem que as terras já não seriam dadas, mas vendidas aos imigrantes. Aos brasileiros que não tivessem terra e especialmente aos ex-escravos não era permitida a venda de terra. Assim se mantinha o latifúndio e nas terras montanhosas, de 50 51

De BONI e COSTA, R .1979: 28 e 63. FRANCESCHINI in GROSSELLI, 1987, pg 240. 62


matas, difíceis para a criação do gado, ficariam os imigrantes. Essa lei possibilitava também a naturalização voluntária dos imigrantes, após dois anos de permanência no país e os dispensava das obrigações militares. De 1850 a 1867 quando saiu o decreto 3.784 incentivando a imigração, arrefeceu muito o fluxo de europeus para o Brasil. Os parlamentares escravocratas reforçaram a idéia de que às Províncias cabia incentivar e apoiar a colonização. As Províncias, porém, não dispunham de recursos para isso. Entregavam a incumbência a particulares. Mesmo após a lei 514 de 28/10/1848. Assim, o Estado brasileiro entregava terras a particulares para serem loteadas e vendidas aos imigrantes ao preço de 1.500 réis ao hectare. As companhias particulares organizavam a imigração e vendiam as terras entre 36.000 a 40.000 réis ao hectare. Algumas Províncias, como o Rio Grande do Sul promoviam, elas próprias a imigração. O interesse pela imigração de europeus “autores do desenvolvimento industrial e agrícola” em seus respectivos países não era, porém, só do Brasil. Argentina, Colômbia, México, Austrália, Estados Unidos faziam propaganda buscando atrair esses possíveis imigrantes. A guerra de propaganda na Europa foi, às vezes, escandalosa, mentirosa e sempre incisiva, com redes de informantes, aliciadores e representantes 63


em cada país, em cada pequena região de emigração. Se o Brasil oferecia as melhores condições legais e de intenções, os Estados Unidos ofereciam as melhores condições objetivas. Assim, dos 5 milhões de alemães que emigraram, apenas 140 mil vieram para o Brasil (nem 5% ). De 1820 a 1926 entraram nas diversas províncias brasileiras 4 milhões de imigrantes; nos EU , de 1820 a 1920 entraram 26 milhões de europeus; na Argentina de 1857 a 1926 entraram mais de 3 milhões de europeus 52. De 1819 a 1940 entraram no Brasil 253.846 alemães, 1.513.115 italianos e trentinos, 1.462.117 portugueses, 598.802 espanhóis53. A ganância dos particulares, o fracasso de colônias anteriores, a má fama de que o Brasil gozava na Europa pelo não cumprimento dos contratos, além da contra-propaganda de que aqui o clima era terrível, as epidemias grassavam e o Brasil vivia em estado absoluto de miséria e subdesenvolvimento, limitavam a imigração. Quatro são os fatores apontados por Grosselli para o malogro da colonização até 1870: “a falta de seleção dos imigrantes que muitas vezes eram artesãos, soldados ou com outras profissões e que não se adaptavam absolutamente ao cultivo da terra; a absoluta falta de vias de comunicação que impedia a comercialização dos produtos agrícolas; a localização de muitas colônias em territórios de clima tropical, não 52 53

GROSSELLI, 1987, pg. 241 CARNEIRO in GROSSELLI, 1987, pg. 238. 64


adequados à colonização européia; a proximidade das colônias aos latifúndios que desestimulava os colonos e impedia o desenvolvimento da pequena propriedade”54

A economia brasileira precisava de mão de obra. Os escravos já não entravam no Brasil no volume necessário, tendo em vista o ataque permanente da frota inglesa: em 1849 entraram 54.000 africanos e em 1852 somente 70055. O desenvolvimento capitalista era incompatível com a escravidão porque ele exigia a liberação de todos os fatores da produção: da mão de obra, do mercado de matérias primas, de consumo, de comércio... O desenvolvimento europeu e norte-americano era visto como sendo fruto da raça branca, indo-européia. Por isso, pensava-se que, para alavancar o progresso no Brasil, era necessário o ingresso de imigrantes brancos, preferentemente alemães, ingleses, suíços, franceses, belgas e do norte da Italia. Era preciso branquear a raça. O mesmo fizeram a Argentina e o Uruguai quando trucidaram os índios do interior para dar lugar aos brancos que deveriam imigrar. Imaginava-se que o branco que havia construído o progresso europeu (apenas porque era branco), vindo para cá, construiria aqui o mesmo progresso, sem levar em consideração as condições em que se deu o 54 55

GROSSELLI, 1987, 238. De BONI e COSTA, pg. 29 65


desenvolvimento desses países europeus. Como se o progresso deles não estivesse ligado diretamente às condições de troca de nossa matéria prima (paga a preços cada vez mais aviltantes e fixados por eles) com os produtos industrializados por eles (e cujos preços cada vez mais elevados eram também fixados por eles). Como se nosso modelo colonial, latifundiário, exportador e escravagista fosse o mesmo que o da Europa. Por outro lado, deve-se salientar que os imigrantes europeus vinham também com essa mentalidade que explodirá, depois, nas motivações das duas guerras mundiais, especialmente na segunda, onde o superhomem que levaria a humanidade à perfeição seria o de raça branca indo-européia... Os italianos, que vieram depois de 1900, traziam na lembrança as fracassadas guerras da Etiópia e Líbia contra os negros que nunca se deixaram vencer56. Por outro lado, o contato com os escravos, aqui, reforçou o preconceito de que o negro é indolente, preguiçoso, infiel, mentiroso... Como se, (e sem acatar a afirmação), para sobreviver como escravo, houvesse outra possibilidade...E como se a escravidão não fosse o mais vil e mentiroso, desumano e brutal modo de viver e trabalhar. O Brasil insistiu, na primeira metade do século XIX, em trazer alemães para criar, entre a população 56

MONTANELLI, Indro. L‟Italia di Giolitti, 1975, pg. 123 e ss. 66


portuguesa do RS e a espanhola do Rio da Prata, um núcleo de desenvolvimento que servisse também como um dique para as pretensões rioplatenses.57 A guerra Cisplatina que o Brasil teve de 1818 a 1851, com a Argentina, o recomendava. Assim de 1824 a 1889 entraram no RS 25.000 colonos alemães. Surgiram, porém, dificuldades com as colônias alemãs: dificuldades em se integrar à vida nacional, em harmonizar sua cultura com a brasileira, em falar a língua portuguesa. Os contatos constantes com a pátria mãe, o fato de entre eles ter vindo não apenas agricultores mas técnicos, intelectuais, homens de ciência e de negócios facilitava sua auto-organização. A tal ponto que a idéia surgida na Alemanha de criar a Grande Alemanha com seus milhões de emigrados espalhados pelo mundo, e acolhida aqui por apenas alguns intelectuais, perturbou as autoridades do Império. As idéias expostas num jornal de língua alemã dava oportunidade de assim concluir. A falta de comunicação, o exclusivismo da raça e a conservação de suas tradições e religião protestante levantou também a desconfiança especialmente da Igreja Católica. A religião católica era a religião oficial do 57

Os colonos açorianos que foram trazidos por Portugal para Santa Catarina e depois para o Rio Grande do Sul a partir de 1746, para povoar de uma vez essa região reivindicada pelos castelhanos, localizaram-se na Barra do Rio Grande e São José do Norte e, após o ataque de Ceballos de 1763 deslocaram-se para Viamão e Porto dos Casais (Porto Alegre), para Rio Pardo, Triunfo e Taquari, alguns para Pelotas. Foram ao todo cerca de 5.000 colonos. Lembremos que a população do RS em 1800 era de cerca de 60.000 habitantes. 67


Império brasileiro dentro do Estado de Cristandade e na institucionalização do padroado. O Sul do Brasil poderia transformar-se numa zona dominada pelos protestantes. Os conflitos entre comunidades luso-brasileiras e alemãs chegaram ao incêndio provocado na Exposição teuto-brasileira, em São Leopoldo. de 188258. Era preciso isolar o problema circundando as colônias alemãs com colônias de imigrantes italianos (católicos) e de outras nacionalidades. Para incentivar a imigração o decreto imperial n.3.784 de 19/1/1867 estabelecia: As novas colônias seriam criadas pelo Estado, com a dimensão mínima de 15 hectares (até 60 hectares), podendo o imigrante escolher o lote, ao preço de 2 a 8 réis à braça quadrada (4.48m2) para os lotes rurais, e 40 a 80 réis para os lotes urbanos. O pagamento podia ser feito à prestação (em cinco anos) com o acréscimo de 20% e o título então seria provisório. O colono tinha o prazo de dois anos para residir e cultivar a terra, do contrário o lote iria a leilão. O colono recebia com a terra, 20.000 réis como auxílio para os gastos dos primeiros meses. Tinha a chance de trabalhar em obras públicas (como abertura de estradas) ao salário diário de 1.500 réis, sendo que o Diretor vigiaria para que no mínimo cada adulto tivesse a chance de 15 dias de trabalho remunerado por mês e 90 dias por semestre, dando preferência aos chegados mais recentes. 58

Grosselli, 87 pg 243. 68


O colono receberia ainda, ferramentas, sementes, auxílio para a derrubada das árvores para ter um espaço a cultivar e erguer sua casa, sendo que esses valores eram adiantamento para serem pagos junto com a terra e naquelas condições. Se ele não tivesse como se sustentar nos primeiros dias, o valor para isso também lhe seria adiantado. Nas colônias não poderiam residir escravos nem pessoas que tivessem escravos. A colônia teria também um prédio para acolher os colonos que chegassem e ainda não tivessem escolhido o lote. Deveria ter um asilo para órfãos. E a colônia seria dirigida por uma Junta Colonial composta de um Diretor, um médico e 6 colonos que já houvessem quitado suas obrigações financeiras. Era uma lei excelente para os colonos, considerando-se que, embora comprados, os lotes rurais poderiam ser pagos com, aproximadamente, 80 dias de salário por trabalhos nas estradas. Mesmo assim não aumentou muito a migração para o Brasil senão a partir de 1875, quando o Império contratou com Joaquim Caetano Pinto Júnior ( contrato assinado em 30 de junho de 1874) a introdução no Brasil de “100.000 imigrantes alemães, austríacos, suíços, italianos do norte, bascos, belgas, suecos, dinamarqueses e franceses, agricultores, sadios, trabalhadores de boa moral, nunca menores de 2 anos, nem maiores de 45, salvo os chefe de família. Destes imigrantes, 20% 69


podem exercer outras profissões”(Cláusula I)59. E isto num período de 10 anos, recebendo Caetano Pinto 120.000 réis para cada um dos 50.000 primeiros imigrados, 100.000 réis para os 25.000 imigrantes sucessivos e 60.000 réis pelos últimos 25.000. Observese que os gastos totais de Caetano (incluindo propaganda e pagamento de agenciadores, passagem e toda a despesa de viagem ) não ultrapassava a 45.000 réis para cada imigrante. As despesas todas estavam cobertas, nada devendo ser cobrado dos colonos imigrantes, nem mesmo a passagem e os lotes deveriam ser vendidos aos preços estabelecidos no decreto 3.784. Pelo contrato, o Império brasileiro se recusa a assumir outra responsabilidade além das cláusulas do contrato. Os custos, porém, desse empreendimento, levarão o Império a suspender essas condições para a imigração ( e o contrato) em 1877, tendo em vista também a difícil situação econômica do Brasil. A Província do Rio Grande do Sul em 1870 vivia uma situação bem diversa da encontrada ali pelos imigrantes alemães em 1824: “A população provincial saltara de 110 para 440 mil pessoas. Em vez de 5 municípios, eram agora 28, divididos em 73 paróquias60. A cidade de Porto Alegre contava com 30.583 habitantes, segundo o recenseamento de 1872. O resto 59

GROSSELLI,1987, pg 250. Lembremos que no Estado de Cristandade vigente no Brasil Império, a Igreja e o Estado estavam ligados, sendo que a criação de municípios e paróquias era atribuição do Estado, bem como o sustento dos padres e seminários... 70 60


da população dividia-se de modo muito desparelho pelo solo gaúcho. Uma sexta parte dos habitantes residiam na zona de colonização alemã. Nos campos de Cima da Serra, a paróquia de S. Francisco de Paula contava com 5.360 habitantes, a de Vacaria com 5.755, e a de Lagoa Vermelha com 4.744. No Planalto Médio, a de Passo Fundo tinha 8.368 habitantes, a de Soledade 9.177 e a de Cruz Alta 8.402. Maior população encontrava-se na Depressão Central, no Litoral e na Campanha. Entrementes, cerca de 87 mil quilômetros quadrados de serras, na Encosta Nordeste e no Alto-Uruguai, principalmente, permaneciam como terras devolutas”61. A modernização do capitalismo industrial no Brasil, muito embora ocorresse em função do capitalismo europeu e norte-americano, tinha aqui algum reflexo: havia já estradas de ferro, a rede telegráfica que a acompanhava, um incipiente sistema bancário, navegação fluvial e lacustre com barcos a vapor que ligava Rio Grande, Pelotas, Porto Alegre, Cachoeira, Rio Pardo, Taquari, Lageado e Caí, Montenegro... A produção pecuária era agora complementada com produção agrícola das colônias alemãs. “A economia cresce, a cultura toma lugar de destaque, há uma assistência social organizada, o regime educacional é bom, aparecem as bibliotecas públicas e a Escola Normal torna-se estabelecimento modelo”62. 61 62

De BONI e COSTA. pg. 62 LAYTANO, in De Boni e Costa 79: 75. 71


As dissensões políticas haviam amainado: A guerra dos Farrapos (1835-1845) terminava em paz e o governo imperial voltava a investir em obras públicas na região da Campanha. A Guerra do Paraguai (1865-1870) já fora concluída. A revolta dos Múckers, na região alemã fora apaziguada. A lei Provincial 304 de 30/11/1854 já estabelecia que os lotes não seriam mais doados aos colonos imigrantes e sim vendidos, à vista ou no prazo de 5 anos sem juros, haveria adiantamento para despesas de viagem e auxílio para os primeiros meses, como vimos. A hospedagem e o transporte desde Rio Grande seriam gratuitos. O custo médio de um lote era de 120.000 réis equivalente a: 80 dias de trabalho em obras públicas, ou 40 sacas de milho, ou 850 litros de cachaça, ou 350 galinhas, ou 130 kg de manteiga.63 Em 1869 a Província requereu ao Império a concessão de mais duas glebas para colonização. Em fevereiro de 1870 o pedido foi atendido e concedidas 32 léguas quadradas ao preço de 1 real à braça quadrada. Em 24 de maio de 1870 o Presidente da Província criava as colônias Conde d’Eu e Dona Isabel entre o rio Caí e os Campos de Vacaria localizando uma à esquerda e outra à direita da estrada dos tropeiros que ia de Maratá ao rio das Antas.

63

GROSSELLI, 1987 pg 179. 72


Enquanto eram demarcados os primeiros 500 lotes em Conde d‟Eu a Província do Rio Grande do Sul contratava com Caetano Pinto a entrada de 40.000 imigrantes no espaço de 10 anos ao preço de 60.000 réis para cada adulto e 25.000 réis para cada menor de 10 anos. Estes valores eram a diferença do preço da passagem Europa-EU e Europa-Brasil. Essa vantagem visava compensar o atrativo que os EU ofereciam e assim procurar captar imigrantes para o Brasil. Em 1872 chegam ao Rio Grande do Sul os primeiros imigrantes trazidos por Caetano Pinto. São 1.354. Serão 1.607 em 1873. E 580 em 1874, e 315 em 1875; a custos elevadíssimos para a Província: 288 contos de réis, equivalentes a 1/6 de seu orçamento. Em 27 de outubro de 1875 a Província pedia ao Império que assumisse as colônias Conde d‟Eu e Dona Isabel e que a Província fosse reembolsada dos valores já gastos. O governo imperial aceitou. Em 1873 Conde d‟Eu tinha 80 lotes medidos e 20 cultivados. Em 1874 lá moravam 74 pessoas. Em 20 de maio de 1875 chegam os primeiros imigrantes italianos ou trentinos64. 64

A data oficial da imigração italiana é 20 de maio de 1875. Antes , porém , devem ter chegado alguns italianos e trentinos (então austríacos). A Província do RS registra de 1859 a 1875 o ingresso de 729 italianos provindos de Montevideo e Buenos Aires. Por outro lado, em Pelotas, RS, registra-se a entrada dos primeiros imigrantes italianos provindos de Montevideo em 184344, certamente por influência de Garibaldi que, nesta época havida deixado a luta Farroupilha e com 1.000 cabeças de gado como pagamento vai vendê-las em Montevideo. Em Montevideo é contratado para defender Montevideo contra Buenos Aires, criando então seu exército de camisas vermelhas 73


Relação das principais colônias criadas no RS após 187065 (“camicie rosse”). Por informação dele os italianos de Montevideu emigram para Pelotas. São cerca de 70, com ofícios urbanos (conforme nossa pesquisa nos registros em Pelotas). Por outro lado a presença de italianos no RS marcou a Revolução Farroupilha (1835-1845). Fugindo da perseguição do Antigo Regime reabilitado em 1815, e seguindo as idéias revolucionárias e socialistas de Mazzini que defendia a “Jovem Itália” com um programa de: Unidade e República e tendo como divisa: “Deus e Povo; Pensamento e Ação” Giuseppe Garibaldi, marinheiro da Ligúria, vem para o Rio de Janeiro em 1835. Lá encontra um grupo de italianos: Rossetti, Giovanni Battista Cuneo, Luigi Carniglia, Domingos Torrisano e Castellini que são convencidos pelo Conde Tito Livio Zambeccari a participar da Revolução Farroupilha no RS. Zambeccari era chefe do Estado-Maior de Bento Gonçalves e havia sido preso na batalha do Fanfa com Bento Gonçalves da Silva, Onofre Pires da Silveira Canto e Corte Real e, com eles, enviado para o Rio de Janeiro. É assim que Garibaldi entra na Revolução. Cuneo, residindo em Montevidéo intermediará a ida de Garibaldi para aquela cidade em 1843 e provavelmente ambos endereçarão para Pelotas um bom grupo de italianos que residiam em Montevideo. Em 1/10/1873 surge em Pelotas a sociedade italiana “Unione e Philantropia”. Pouco depois surgem a Sociedade de Socorros Mútuos “Circolo Garibaldi”, a Sociedade Choral Italiana, a Sociedade Italiana 20 de Setembro e são unificadas em 18/10/1883 sob o nome de Sociedades Italianas Reunidas (nossa pesquisa). 65 Nossa (JZ) pesquisa nas prefeituras respectivas. “A colonização no Espírito Santo, de modo geral, foi patrocinada pelo Regime Imperial com a criação de quatro importantes colônias: Colonia de Santa Teresa (1847), iniciada com imigrantes alemães; Colônia de Rio Novo (1855) encampada pelo governo em 1961; Santa Leopoldina (1857) e Colônia Castelo (1880)”65. Além dessas colônias, em 1895 havia 8 núcleos: Costa Pereira, Afonso Cláudio, Antônio Prado (com as seções: São Jacinto, Santa Maria, Mutum, Estrada de Baunilha, Baunilha Acima, Baunilha Abaixo e Vila Colatina como centro comercial), Accioly Vasconcellos (com as seções: Pau Gigante, Ubás, Triunfo, Esperança, Treviso, Café e Othelo tendo Linhares como centro comercial) , Moniz Freire( com 6 seções na região do Rio Doce: Cavalinho, Lagoa do Limão, Brasil, 7 de setembro,15 de agosto e Santo Emílio e 6 seções na região do Riacho: Ribeirão, Retiro, Taquaral, Santo Antônio, São Gabriel e Gabriel Emílio), Demétrio Ribeiro ( com 7 seções: Curubixá, 13 de junho, Clotário, São Carlos, Alto Bérgamo, São Benedito e Tranqüilo), Santa Leocádia e Nova Venécia.65 74


Colônias

Criação

Mudanças

Emancip.

s Conde (Prov)

d‟Eu

1875 - Imper.

Dona Izabel (Prov) Fundos Nova Palmira 1875 - ( Imper)

1875 - Imper. 1884

18 7 5 24-518751875

Municípios Atuais 1884 Garibaldi Carlos Barbosa Bento Gonçalves

11-3-1887 Colônia 1884 Caxias

Encantado (partic)

1882

1915

Silveira Martins - (Imperial) Alfredo Chaves (Imperial)

1877

1882

Antônio Prado Imperial Mariana Pimentel (Imperial)

1885

1884

1888

Caxias do Su Flores da Cunha – Farroupilha S. Marcos Encantado Arroio do Meio (1934) -Nova Brescia (1964)Guaporé (1886) - Anta Gorda (1964) -Ilópolis (1964) Capitão (1992) Arvorezinha (1964) Relvado (1992) Silveira Martins Veranópolis Nova Prata Nova Bassano - Cotiporã Antônio Prado Mariana Pimentel

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Guaporé (Partic)

1892

1886

Vila Nova de Sto. Antônio (Imperial) Barão do Triunfo (Imperial) Jaguari (Imp) Ernesto Alves (Imperial) Marques do Herval (Repúbl) Marau (Partic) Nova Araçá (Particular) Ciríaco (Partic.) Paraí (Partic.) Davi Canabarro (Particular) Erechim (Partic.)

1888

Guaporé Muçum Serafina Correa Vila Nova

1888

Triunfo

1889

Jaguari

Marcelino Ramos (Particular)

1908

-

1890 1891

S. José Herval

1892 1892

Marau - Vila Maria Nova Araçá

1892

Ciríaco

1892

Parai

1892

Davi Canabarro Erechim Aratiba Itatiba do Sul - Três Arroios - Jacutinga Vila Áurea Viadutos Guarama Severiano de Almeida Marcelino Ramos

1908

do

Em síntese, o Brasil que aguardava os imigrantes italianos e trentinos na década de 1870 era:

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 Um império (o único na América; os outros

países da América se independizaram como repúblicas) que produzia gado, café e algodão, sendo que no passado tinha produzido açúcar e ouro para Portugal; em latifúndios escravagistas e monocultores.  Independente politicamente de Portugal desde 1822, vivia um neo-colonialismo capitalista dependente especialmente da Inglaterra. Uma oligarquia rural lutava para manter a escravatura e uma burguesia liberal pretendia eliminá-la para adequar-se aos parâmetros do capitalismo inglês e do liberalismo francês...  A religião oficial do Império era o catolicismo compreendido no horizonte do Estado de Cristandade e nas concordatas do padroado. O liberalismo positivista e maçônico já levantava suas teses: ensino público e não particular, separação de Estado e Igreja, subordinação da Religião ao Estado (bispos foram presos porque acompanharam o papa na condenação à maçonaria), anti-clericalismo, a religião tida como mentalidade obscurantista e que não permite a „liberdade‟ preconizada pela Revolução Francesa; as ciências „positivas‟ como única forma legítima de conhecimento; a República (e não a monarquia) como única forma democrática de governo...

77


3.4 A VIAGEM- para o Brasil – para o RS – para Dona Isabel (linha Janzen) Os primeiros Dalla Vecchia que imigraram para o Brasil estão ligados a Beniamino Dalla Vecchia casado com Domenica Dalla Barba. Chegaram em 1877 dentro das condições de imigração acima descritas. Seu destino primeiro: Linha Janzen, na Colônia Dona Isabel, também chamada de Colônia Izabela (depois município de Bento Gonçalves), RS.66 Beniamino e Domenica, em 1877, saíram do interior de Montemezzo di Sovizzo, província de Vicenza e, como todo emigrante, foram a Vicenza, tomaram o trem para Milão, dali para Gênova. Embarcados num navio a vapor, que substituía os navios a vela, rumaram para o Rio de Janeiro com intenção de ir ao Rio Grande do Sul. A preferência poderia ser a Argentina, mas pelo fato de essa nação ter um regime político republicano, o Brasil foi preferido porque Império monárquico. Com efeito, os Dalla Vecchia, com alguma ligação com a nobreza, não poderiam concordar com um regime que ideologicamente era liberal, 66

Beniamino Dalla Vecchia, nascido aos 5/3/1819, em Montecchio Maggiore, nas proximidades de Montemezzo, província de Vicenza, era filho de Ângelo Dalla Vecchia e de Orsola Pozzan (conforme consta do Livro de Casamentos da Paróquia S. Maria e S. Vitole pg. 41, número 3). Era neto de Antônio Dalla Vecchia e de Maddalena Colla.Beniamino casou com Domenica Dalla Barba nascida em 26/8/1820, em Montemezzo, Vicenza. 78


anticlerical, à semelhança liberalismo na Europa.

das

repúblicas

e

do

Não se sabe ao certo quantos foram os dias de viagem. Sabe-se que em alto mar Beniamino veio a falecer e foi jogado às ondas. Sua mulher Domenica que amamentava a filha Catarina, angustiada pela morte do marido67, estancou o leite e a filha também faleceu. Escondeu-a, envolta em panos, pretendendo enterrá-la quando chegasse ao Brasil. O mau cheiro denunciou o fato e o corpo da menina também foi jogado ao mar. Restavam Domenica, os filhos Ângelo (com 18 anos) e Pedro (com 14 anos). Da ilha das Flores do Rio de Janeiro, com um barco de navegação costeira que fazia a linha Rio-Porto Alegre, passaram por Santos, Rio Grande e, pela Lagoa dos Patos, chegaram a Porto Alegre. Cerca de 3 dias em Porto Alegre e depois, com um barco subiram até S. Sebastião do Caí, e depois: os adultos a pé, as crianças e os que tinham dificuldades para caminhar no lombo de mulas, subiram a Serra pela estrada ou picada que ia de Maratá até Lagoa Vermelha. Ao lado direito dessa estrada geral, um pouco antes do rio das Antas, aguardava-os a Linha Janzen na Colônia

67

Entre os descendentes comentou-se que Domenica, por ignorância e medo de que alguém pudesse acusá-la da morte do marido, pôs nos bolsos do falecido o dinheiro razoável com que vinham e, assim, perdeu-se no mar a chance de uma nova vida mais tranqüila na América. 79


Dona Isabel, que depois se chamará Bento Gonçalves e hoje pertencente ao município de Farroupilha .68

4. NO BRASIL – 4.1- COLONIA DONA ISABEL - LINHA JANZEN – Na Linha Janzen os irmãos Dalla Vecchia e a mãe, em dezembro de 1877 ou janeiro de 1878, ocuparam os lotes 143 e 144. Enquanto as famílias ficavam abrigadas no barracão comum aos imigrantes em D. Isabel, os homens derrubavam o mato para os primeiros plantios, quando o desmatamento não tivesse sido já efetuado pelo próprio governo, com a mão de obra dos imigrantes que chegavam primeiro. A primeira casa? Galhos de árvore formando um cercado, para proteger-se dos animais, um telhado de folhas especialmente de gerivá (coqueiro), ou ainda uma pequena barraca coberta com os lençóis do casal. Até a primeira safra de milho, mandioca, feijão, abóboras, trigo..., a fome rondava as precárias casas dos imigrantes, muito embora o governo adiantasse algum dinheiro para alimentação, sementes e ferramentas para 68

ZANOTELLI, 1997, pg. 103. A Linha Janzen, com sua Vila Janzen e sua colônia hoje pertence ao município de Farroupilha. 80


os primeiros meses, como já dissemos. Pinhões abundantes, caça e pesca, raízes e frutos do mato aliviavam a situação. Derrubado o mato, feita a semeadura, enquanto não chegasse a safra, os irmãos Ângelo e Pedro trabalhavam, como todo imigrante, na construção e reparo das estradas federais, para o quê o governo garantia 15 dias de emprego mensal nos 6 primeiros meses. O salário era de 1$ 500 R (mil e quinhentos reis) por dia. A terra era comprada do governo a 3 réis à braça quadrada (4,84m2). O lote de terra de 25 hectares (era uma colônia) poderia ser pago com cerca de 3 meses de salário. Ou pago depois de 5 anos de carência. Quando não havia trabalho em obras do Império, havia trabalho nas estâncias de gado de Vacaria que não distavam muito dali. Foi assim que, segundo contam os filhos de Ângelo , especialmente Maria Luiza, seu pai e o tio Pedro trabalharam na estância do General Deodoro da Fonseca, que foi depois presidente do Brasil e que, então, desempenhava alta função militar no RS. A estância dele ficava em Vacaria. Ângelo e Pedro trabalhavam juntamente com escravos, na construção de cercas de pedra. Ali eles aprenderam das escravas a fazer queijos especiais utilizando a coalheira de vaca, para coalhar o leite. Na Colônia Izabela, um ano e meio depois da chegada, Ângelo casou com Angela Serafini em 81


7/6/1880 sendo celebrante o P. Giovanni Menegoto69. Angela era filha de Carlo Serafini e Maria Danda naturais de Chiampo, Vicenza. Tiveram 15 filhos, sendo que duas gêmeas faleceram pequenas e um menino também morreu criança. Viúvo de Angela, Ângelo casou, depois, com Fortunata Grazziola e com ela teve mais 10 filhos, como se especifica na árvore genealógica. Alguns anos após, os Dalla Vecchia vão para a nova Colônia de Encantado, então distrito de Estrela. As fertilíssimas margens do rio Taquari e afluentes atraíram desde cedo os Dalla Vecchia – Encantado.

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Livro de Casamentos n.1 pg. 84 n. 34 Paróquia S. Bento de D. Izabela (Bento Gonçalves). “Ângelo Dalla Vecchia, fu Beniamino e Domenica Dalla Barba - de Montemezzo, Vicenza - nascido em 6.2.1860, residente na linha Janzen, 143 da Izabela, contadino. Spozato a 7.6.1880 com Angela Serafini figlia de Carlo Serafini e Maria Danda nascida em Chiampo, Vicenza em 2.8.1859, agricultora, menor. Pe. Giovanni Menegoto”. 82


Fertilíssimas várzeas do Rio Taquari entre Encantado e Roca Sales

Primeira capela de Encantado, 1888 – in Ferri, Encantado, 17. 83


Igreja de Encantado em 1933. In FERRi, 100 anos pg. 61.

O altar mór desta igreja de Encantado foi feito por Pedro Dalla Barba Dalla Vecchia. Hoje, este altar está na capela de Lambari. Pedro e Ângelo foram fabriqueiros desta Igreja de cujo lançamento da pedra fundamental participaram. Aqui foram batizados e crismados muitos Dalla Vecchia, incluindo Jandir João Dalla Vecchia Zanotelli. O livro tombo relata muitas atividades dos DV. Pedro casou, nesta Igreja de Encantado, com Catarina Censi com quem teve 3 filhos. Viúvo, casou 84


com Páscoa Censi com quem teve outros 11 filhos, como se verá.

Igreja de Encantado em 2000 – Símbolo de fé e de identidade.

Esta foi a primeira paróquia da congregação dos Carlistas, fundada especialmente para acompanhar os imigrantes italianos que vinham para o Brasil. João B. Scalabrini fundou-a em Milão, ao perceber o desamparo daqueles emigrantes que abandonavam suas comunidades e se aventuravam, sem guia espiritual pelas florestas da América. Ele próprio visitou esta paróquia depois. Valdastico de Vicenza e Encantado lembram sempre sua estreita relação, como se pode ver abaixo. 85


Placa comem. do Gemellaggio de Encantado e Valdastico em 1993. Giovanni Pretto , ĂŠ pai de Rosa casada com Beniamino Dalla Vecchia (filho de Ă‚ngelo). In FERRI, Gemel, pg. 126.

A Igreja de S. Carlos em Jacarezinho, Encantado. 86


4.2 DE JACAREZINHO – AUXILIADORA – PARA O BRASIL Para as colônias particulares abertas em Estrela, que compreendia o atual município de Encantado com as colônias de Jacaré, Jacarezinho, Capitão, os irmãos Angelo e Pedro Dalla Vecchia descem desde a Linha Janzen para Jacarezinho (linha N. S. Auxiliadora) no início da década de 1890.

Capela de Nossa Senhora Auxiliadora - em Jacarezinho

Na onda de expansão da colonização no RS, os Dalla Vechhia seguem o seguinte roteiro: 87


 1877 chegam à Colônia Izabela (hoje Bento Gonçalves) e se instalam na Linha Janzen;  1882-1892 deslocam-se para a Colônia Jacaré, em Encantado, e situam-se na linha Jacarezinho (N.Sra. Auxiliadora), onde até hoje permanece um núcleo de descendentes. A data mais provável da descida da Colônia Izabela para Encantado é 1891.  1908, fundada a colônia de Erechim (então Paiol Grande) e a de Marcelino Ramos ao norte do RS, alguns se deslocam para lá. A maioria dos Dalla Vecchia, especialmente de Pedro, migra para Erechim (Barra do Rio Azul, linha Pinhão) no final da década de 1930;  Nessa mesma década alguns Dalla Vecchia migram de Encantado ou de Erechim para as colônias recentemente abertas no Oeste de Santa Catarina e Paraná70;  Posteriormente, e especialmente depois de 1960, a migração dos Dalla Vecchia se fez para todo o Brasil, notadamente para o Paraná, Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia; um grupo de Dalla Vecchia, especialmente vinculados a Carlos, filho de Pedro, no final da década de 1990 deslocou-se para Rondônia.

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Sirva como exemplo: Beniamino ou Benjamim, o filho primogênito de Ângelo que, em 1932 sai de Encantado e fixa-se em Ponte Serrada, município de Cruzeiro (atual Joaçaba) no oeste de Santa Catarina.. 88


 Atualmente, no contexto de modernização e urbanização do Brasil, os Dalla Vecchia, já não podem ser identificados como prioritariamente agricultores, muito embora os Dalla Vecchia trazem na alma e nos calos das mãos o gosto rude da terra. Dentre eles há muitos intelectuais, sacerdotes, profissionais liberais, artistas, comerciantes, políticos, industriais, pecuaristas...71 71

Benjamim Dalla Vecchia, filho mais velho de Ângelo Dalla Vecchia e Angela Serafini, casado com Rosa Pretto, nascido em Linha Janzen, Bento Gonçalves, e tendo migrado para Jacarezinho no final do século XIX, saiu de Jacarezinho (Auxiliadora) para Xapecozinho, município de Cruzeiro ( hoje Joaçaba) em 1932. Acompanhado de seus filhos (eram 11), sendo que as filhas freiras Maria, Ana e Pierina, ficaram nos conventos do RS. Com toda a mudança carregada num pequeno caminhão Chevrolet, num Domingo à tarde de abril, deixa Jacarezinho e sobe até Passo Fundo onde chega 3 a.feira ao meio dia (A distância entre essas localidades não superava a 200 kms). Toma o trem (Maria Fumaça) 4a. feira às 22 hs., e, passando por Marcelino Ramos, chega em Cruzeiro na 5a. feira à tardinha. Na 6a. feira, com outro caminhão Chevrolet, viaja (90 kms.) para Ponte Serrada, chegando lá Sábado à tarde. Na memória desses migrantes permanece viva até hoje a imagem da chuva, dos atoleiros, da quase inviabilidade das estradas e picadas. De 9 de abril até final de maio de 1932, a família de Benjamim, é hospedada em casa de João Dalla Vecchia (de alcunha João Sapateiro) que era irmão de Benjamim. Era casado com Maria Spezato e já residia há alguns anos em Ponte Serrada. Dias depois da chegada, João e Antônio filhos de Benjamim, acompanhados do tio João (Sapateiro) deslocam-se até Xapecozinho onde já residia Ângelo Dalla Vecchia (filho de Pedro Dalla Vecchia), casado com Leonora (Nori) Dellazzari e que já residia ali há alguns anos, para localizarem a gleba de Benjamim e construirem nela uma casa. Benjamim comprara as terras da Cia. Ângelo de Carli em Caxias do Sul que, por sua vez adaquirira a área (Fazenda Ressaca) de Zeferino de Almeida Bueno, um grande fazendeiro de Palmas. Pronta a nova moradia (uma casa de madeira de 9,50m por 6 ms.) para lá vai a família de Benjamim e ali fica até 1971.Benjamim morre em Xapecozinho em setembro de 1949. Os filhos casam e se dispersam pelo Brasil. Antônio, em 1971 se desloca para a cidade de Anchieta. Duas observações que Antônio guardou até hoje: por muitos anos era grande a saudade do Rio Grande (as comunicações eram dificílimas); os 89


Em tudo, o trabalho dos Dalla Vecchia lembra o lema : esser Paron O trabalho em mutirão ou “puxerão”, era costume benfazejo entre os imigrantes, com tradições na vida missioneira do RS. A entreajuda para cuidar dos doentes, para assistir as viúvas, para compor um pequeno dote para o casamento, etc. marcará a vida dessas comunidades. Mesmo residindo uns ao lado dos outros e não como acontecia na Itália em que as famílias viviam num vilarejo e trabalhavam ao redor dele, o sentido comunitário continuou o horizonte de vida desses imigrantes. Quando a participação na comunidade se fizesse difícil, difícil se tornava a vida de cada um. Depois de muitos encontros-desencontros com um Brasil republicano onde o público e o estatal se “caboclos” da região tinham viva lembrança da luta do Contestado. ( Esta, como se sabe, foi a luta encarniçada dos colonos, posseiros e pequenos serradores, contra a concessão dada à companhia inglesa que construiu a estrada de ferro pela qual esta podia explorar a madeira dos pinheirais e as terras na faixa de 15 km de cada lado da ferrovia, além de amplas fazendas que essas companhias haviam adquirido do governo em terras que eram reivindicadas simultaneamente pelos Estados do Paraná e Santa Catarina. Os colonos , “posseiros” , eram liderados por José Maria sucessor de João Maria, que os colonos chamavam de “São João Maria”, foram, ao final massacrados pelo exército brasileiro (de 1911 a 1915) a mando do General Fernando Setembrino de Carvalho, o mesmo que terminou a Revolução gaúcha de 1923. Ponte Serrada fica bem próximo de Irani e Taquaruçu, principal lugar de enfrentamento). 90


confundem, o caráter comunitário original faz falta para encontrar saídas à participação política, não só para estas famílias, mas para as perspectivas da nacionalidade brasileira.

Os Dalla Vecchia em mutirão para arrumar as estradas no início do século XX: Modalidade de pagamento de imposto territorial mediante dias de trabalho arrumando as estradas. Instrumentos de trabalho: pá, picareta, enxada. José Censi DV (capataz), Quinto Lorenzon, Batista DV ( irmão de José), Leonel DV (filho de Pedro, neto de Ângelo), Mário DV (filho do capataz), Constantino DV (irmão de Leonel), Genuíno DV (filho de Luiz, neto de Ângelo), Remígio DV (filho de José, capataz, irmão de Ivo DV e de Padre Avelino DV. Arrumar as estradas, especialmente logo após as chuvas da primavera era obrigação, festa e vinculação à administração política do município. O capataz do grupo será valorizado.

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Aspectos de Jacarezinho, Encantado. As terras à esquerda pertenceram a Antônio Vicenzi Dalla Vecchia, filho mais velho de Pedro. Pedro, com sua numerosa prole continuou a viver até a morte, quatro quilômetros acima neste mesmo vale. As montanhas ao fundo foram de João Zanotelli cujo filho Leonel casou com Ana Catarina Dadalt Dalla Vecchia, filha de Antonio. Na foto Vinícius e Rosana Zanotelli, Agenor Zanotelli e Ruth Zanotelli casada com estwe autor Jandir J. Zanotelli. O asfalto facilitou a vida desses descendentes italianos. A modernidade se faz presente não só nos equipamentos disponíveis como TV, internet, automóveis, mas no próprio modo de viver

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Em Jacarezinho, entre a Igreja de S. Carlos e a de N.S. Auxiliadora, numa casa semelhante a essa, em frente a qual estão situados os descendentes de Zanotelli Dalla Vecchia nasceram João Zanotelli, seu filho Leonel Zanotelli e o neto Jandir João Dalla Vecchia Zanotelli. De Jacarezinho, alguns Dalla Vecchia irão para Erechim, Marcelino Ramos e para o Oeste Catarinense, Xapecozinho, fundos da fazenda Ressaca. Xapecozinho teve como primeiro habitante Angelo, filho de Pedro, irmão de Antonio. As dívidas fizeram com que, com quase nada, se mandasse para os fundos dos sertões do Oeste Catarinense, para tentar nova vida.

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A cachoeira do rio Xapecozinho em Santa Catarina dividia as terras de Ă‚ngelo DV filho de Pedro (acima) e moviam seu alambique, das de Benjamim Serafini DV(abaixo).

Xapecozinho, hoje D. Carlos, para onde os DV emigram em 1932. 94


Antonio, solidário nas dívidas do irmão Ângelo, pagou as dívidas com o suor de todos os filhos. Cinquenta anos depois, Angelo, retornou ao Pinhão, para onde havia migrado Antônio, reencontrou o irmão Antonio para uma reconciliação.

A família de Benjamim Dalla Vecchia cc Rosa Pretto que emigrou para Santa Catarina com os filhos João, Antonio e André e as filhas Maria, Ana, Ema, Pierina, Gema, Olinda e Helena

A criação da cidade, com suas igrejas, seus moinhos e serrarias encontrava sempre o trabalho operoso dos Dalla Vecchia

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Igreja de Xapecozinho. O primeiro à direita é Antonio Luiz Dalla Vecchia filho de Benjamim DV, este filho de Ângelo. À esquerda, o último é Ângelo Dalla Vecchia filho de Pedro DV.

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Xapecozinho– casa de Antonio Dalla Vecchia –construída por elel próprio. Terras novas desafios e auto-determinação, e a capacidade técnica aprendida junto aos pais, abrem espaço.

Bodas de ouro de Antonio e Dosolina com os filhos 97


`Filhos de Antonio: Fiorindo, Faustino, Antonio, Dosolina, Sírio, Agostinho e Vendelino..

Antônio, Ir. Pierina, Ir. Ana, João e Helena Dalla Vecchia, filhos de Benjamim e netos de Ângelo Dalla Barba Dalla Vecchia. 98


Igreja de Barra do Rio Azul, município de Erechim, RS, para onde emigraram Dalla Vecchia em 1938. Ruth, revendo raízes.

Residência de Emílio Bagatini, c.c. Maria Dadalt Dalla Vecchia, filha de Antônio e neta de Pedro, na Barra do Rio Azul 99


Em Barra do Rio Azul, na casa de Maria Dadalt Dalla Vecchia casada com Emílio Bagatini aparecem, sentados: Maria Dadalt Dalla Vecchia e Emílio Bagatini com a neta. De pé: Itelvina Dalla Vecchia Zanotelli e Jandir João DV Zanotelli, netos de Antônio e bisnetos de Pedro Dalla Barba DV.

Emílio e Maria seguiram Antonio Censi Dalla Vecchia quando, em 1938 migraram de Jacarezinho para Erechim, especificamente para a Linha Pinhão e Barra do Rio Azul. Carlos, o irmão de Antônio, também foi ao Pinhão. Mais tarde Carlos e filhos foram para Santa Catarina e Oeste do Paraná.

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A linha Pinhão – Barra do Rio Azul – vista do alto –. Para aqui Antônio Dalla Vecchia e Francisca Dadalt migraram em 1938. Na foto Itelvina neta de Antônio e seu marido Basílio Michelon

Segue a relação mais pormenorizada de Ângelo (II) e de Pedro (III) Dalla Vecchia

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II - DESCENDENTES DE ANGELO DALLA BARBA DALLA VECCHIA Casado com Ângela Serafini, Ângelo teve os 14 Família de 1. Benjamim c.c. Rosa Pretto. 2.Luís c.c. filhos a seguir: Fortuna Bagatini 3. João c.c. Maria Spezzatto. 4. Carlos c.c. Augusta Dadalt. 5. Pedro c.c. Vitória Buvié. 6. Maria (freira). 7. Luiza (freira). 8. Rosina (freira). 9. Pierina c.c. Luciano Dellazzari. 10. Ermínia c.c. Eurico Fontana. 11.Ricardo c.c. Rosa Dellazzari. 12. Antonieta c.c. Ângelo Mazziero. As de número 13 e 14: meninas gêmeas, morreram crianças. Viúvo, Ângelo casou com Fortunata Grazziola com quem teve dez filhos: 1. Ângela, faleceu solteira. 2. Dosolina c.c. Albino Buvié. 3.Josefina c.c. Martin de Conto. 4. José (Beppi del Buso) c.c. Fiolomena Berti. 5. Maria Luiza (freira). 6. Inês c.c. Luís de Conto. 7. Augusto c.c. Ana de Conto. 8. Jorge c.c. Elvira Tiecker. 9. Gema c.c. Albino Grazziola. 10. Romana (solteira).

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Família de Angelo Dalla Barba Dalla Vecchia e Fortunata Graziola: José, Augusto, Ângela, Maria Luiza, Inês, Gema, Dosolina, Josefina, Romana e Jorge. Fortunata, sentada, está com uma criança no colo e Ângelo com suas botas características.

Ângelo Dalla Barba Dalla Vecchia, filho de Beniamino Dalla Vecchia e Domenica Dalla Barba, nasceu em Montecchio Maggiore, Montemezzo, Vicenza, em 6.2.1860. Veio ao Brasil com o irmão Pedro e a mãe. O pai e a irmã Catarina morreram na viagem, no mar. Casou com Angela Serafini e, viúvo, com Fortunata Grazziola em Jacarezinho. Teve 24 filhos.

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A seguir, os filhos de Ângelo com a respectiva descendência:

1. Benjamim Serafini Dalla Vecchia, cc Rosa Pretto, na Linha Auxiliadora, Encantado. Em 1932 foi para Xapecozinho, SC. Teve 11 filhos: 1.Maria (freira); 2.Pierina (freira); 3. Ana (freira); 4. João cc Idalina Fachinelo Destri; 5. Antônio cc Dosolina Bocchi; 6. André (+ solteiro); 7. Olinda cc Aquiles Mazzotti; 8. Helena cc Genuíno Gugel; 9. Valentim (+ solteiro) 10. Inês cc Abel Macagnan; 11. Gema cc Primeto Basanella.

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Família de Benjamim Serafini Dalla Vecchia cc Rosa Pretto.

Irmã Pierina (Santos SP) Ir. Maria (Encantado RS), Ir. Ana (Casca RS), com a mãe Rosa Pretto Dalla Vecchia, sendo que as irmãs são netas de Angelo Dalla Vecchia 106


A viúva Rosa Pretto com os netos em Xapecozinho, Santa Catarina.

Acima - Antonio, Ir. Pierina, Ir. Ana (50 anos de opção religiosa), João e Helena: irmãos, fillhos de Benjamin Serafini Dalla Vecchia e Rosa Pretto. 107


Jo達o Pretto Dalla Vecchia cc Idalina Dalla Vecchia

Dosolina Bocchhi cc Antonio Pretto Dalla Vecchia

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Ao lado de Padre Foscalo está José Pretto (Tita Galina), pai de Rosa casada com Benjamim Serafini Dalla Vecchia

Família de Antonio Pretto Dalla Vecchia e Dosolina Bocchi Dalla Vecchia, em Anchieta SC, com os filhos, da esquerda para a direita: Vendelino, Agostinho, Ércules, Sírio, Faustino, Fiorindo. 109


Fiorindo Bocchi Dalla Vecchia (Ă esquerda) cc Adelaide Capeletti e seus oito filhos

Ir. Faustino Bocchi Dalla Vecchia sendo recebido por JoĂŁo Paulo II no Vaticano. 110


Regina, Ir. Pierina, Ir. Faustino e Ir. Rosina todos Dalla Vecchia.

SĂ­rio Bocchi Dalla Vecchia cc Lurdes Gubert

111


Ércules cc com Edna de Mello. Os filhos:Alexander de Mello Dalla Vecchia cc Selma Valkíria Alves Dalla Vecchia com a filha

Lisandra. Fabiana de Mello Dalla Vecchia cc Émerson de Souza Bueno com o filho Caio Felipe Dalla Vecchia Sacardi Bueno e Simone Dalla Vecchia

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2. -Luiz Serafini Dalla Vecchia, casou com Fortunata Bagatini, em Encantado e teve 7 filhos: 1. Albino cc Ítala Pretto; 2. Clemente cc Gema Zanotta; 3. Guerino cc Cândida De Conto; 4. Rafael cc Messia Lorenzon; 5. Maria cc Guido de Conto; 6. Madalena cc Martin Pederiva; 7. Ângelo falecido pequeno. (Em ordem, da esquerda: Maria, Fortunata, Madalena, Albino, Luis e Angelo)

Ângelo Baagatini Dalla Vecchia, filho de Luiz e neto de Ângelo Dalla Vecchia. (4.7.1911 – 4.6.1965 113


3-João Serafini Dalla Vecchia, casado com Maria Spezato, era sapateiro na Linha Macaquinho, Encantado. Teve dificuldades para saldar dívidas de empréstimo e foi morar em Ponte Serrada SC. Teve 3 filhos: 1. Belarmino; 2. Angelo (Angelin); 3. Gomercindo 4.Carlos Serafini Dalla Vecchia e sua esposa Augusta Dadalt. Casou na Linha Auxiliadora, foi morar em Pinhão – Aratiba (em 1938) juntamente com seu Genro João Dellazari), e depois em Nonoai.

Filhos: Antônio (comerciante na Barra do Rio Azul), Virgínio, Martin. 114


Carlos Dalla Vecchia e família como diz a foto

5.Pedro Serafini Dalla Vecchia, casado com Vitória Buvié viveu na Linha Auxiliadora, Encantado e teve 12

filhos: 1. Leonel cc Elza Zanatta; 2. Rita cc Desidério 115


Dellazzari; 3. Rosália cc Leonel Valandro; 4. Nairton cc Maria Grazziola; 5. Romildo cc Nair Lorenzon; 6. Paulina cc Dionísio Sbarderoto; 7. Marta cc Romano Grazziola; 8. Galdino cc Ana Grazziola; 9. Constantino cc Josephina (Pina) Flech; 10. Elza cc Orestes Conte; 11. Gila cc Remígio Grazziola; 12. Lídia cc Egídio Grazziola.

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Pais e irmãos da esposa Leonel Dalla Vecchia,Elza Zanata ; fotos da família de Leonel, filho de Pedro e Neto de Angelo Serafini Dalla Vecchia.

6. Maria Serafini Dalla Vecchia, filha de Ângelo e Angela Serafini, foi freira do Imaculado Coração de Maria.

7. Luiza Serafini Dalla Vecchia, freira Congregação do Imaculado Coração de Maria

117

da


8.Rosina Serafini Dalla Vecchia, irmã carlista, trabalhava em hospital. Faleceu em Jundiaí SP 9.Pierina Serafini Dalla Vecchia, casada com Luciano Dellazzari, na Linha Sagrada Família em Encantado, teve 2 filhos: Anselmo e Gema.

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10.Ermínia Serafini Dalla Vecchia casada com Eurico Fontana e seus três filhos: Deosene, Erasmo e Mercedes. 11.Ricardo Serafini Dalla Vecchia, casado com Rosa Dellazzari, foi residir em Marau RS e teve 4 filhos: 1. Adolfo; 2. Alício; 3. Angélica; 4. Otávio. 12. Antonieta Serafini Dalla Vecchia (Tonina), casada com Ângelo Mazziero, residiu em Lageadinho, Encantado 13. Gêmea –faleceu criança 14. Gêmea – faleceu criança. 119


DESCENDENTES DE ANGELO DALLA BARBA DALLA VECCHIA CASADO COM FORTUNATA GRAZZIOLA 15. Angela Grazziola Dalla Vecchia, faleceu solteira 16. Dosolina Grazziola Dalla Vecchia cc Albino Buvié 17. Josefina Grazziola Dalla Vecchia cc Martin de Conto

18. José Grazziola Dalla Vecchia (Bepi del Buso) cc Filomena Berti. Produzia mel famoso, é lembrado pelos companheiros de quatrilho e pelo acerto do pagamento 120


das talhas até o último palito. Recebia com amendoim e batata doce em longas noites de inverno. (informou Ivo DV e Leonel Z.) 2.19. Maria Luiza Grazziola Dalla Vecchia, ir. Aquilina em Vale Veneto.

Maria Luiza à frente, Lídia Dalla Vecchia, Olinda, Ida e Romana

20. Inês Grazziola Dalla Vecchia cc Luiz de Conto

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Acima, fotos da famĂ­lia de Leonel Dalla Vecchia

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Família de Martin Pederiva casado com DV

21. Augusto Grazziola Dalla Vechia cc Ana De Conto

22. Jorge Grazziola Dalla Vecchia cc Elvira Mekel Viúvo, casou com Amélia Bertozzi 23. Gema Grazziola Dalla Vechia cc Albino Grazziola

24. Romana Grazziola Dalla Vecchia (solteira)

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III = DESCENDENTES DE PEDRO DALLA BARBA DALLA VECCHIA Reordemos que a família Dalla Vecchia provém da cidade e da República de Veneza. No século XIII desloca-se para o interior de Vicenza, localizando-se nas montanhas desde Schio, Lê Rocchete e Montemezzo. Na onda migratória do final do século XIX, um grupo de Dalla Vecchia vem para o Brasil. A maioria dos Dalla Vecchia do Rio Grande do Sul sabe-se descendente dos irmãos Pietro e Ângelo Dalla Vecchia. Pietro e Ângelo vieram em 1878 acompanhados pelos pais Beniamino Dalla Vecchia e Domenica Fantoni Dalla Barba, bem como de sua irmã de meses de idade Catarina Dalla Barba Dalla Vecchia. Sabe-se que Beniamino morreu na viagem e foi jogado ao mar. A filhinha, definhando o leite da mãe também morreu na viagem.

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Beniamino é filho de Ângelo Colla Dalla Vecchia e de Orsola Pozzan72. Ângelo tinha sete (7) irmãos: Rosa, Maddalena, Verônica, Palma Oliva, Giovanni, Cornélio e Pietro Luigi. Ângelo, por sua vez, é filho de Antonio Dalla Vecchia e Maddalena Colla, e tinha uma irmã chamada Virginia. O casal de imigrantes Beniamino Dalla Vecchia73 e Domenica Dalla Barba74, vem, pois, com os filhos Ângelo75, Pietro76 e Catarina. Beniamino e Catarina morrem na viagem. Segue a história dos descendentes de Pietro (Pedro)

72

Livro de Casamentos da Paróquia Santa Maria e S. Vitola pg. 41, nº 3 (Montemezzo, Itália) 73 Beniamino nasceu em 05/03/1819 em Montemezzo, Montechi Maggiore – Vicenza Itália e morreu no mar em 1878 74 Domenica nasceu em 26 de agosto de 1820 e o casamento com Beniamino aconteceu em 23/02/1859. Cf. Livro 1 Casamentos da Paróquia Santo Antonio de Bento Gonçalves RS (Izabela) pg 84, nº 34. Conforme tb. Registro do Estado Civil da Paróquia de S. Bartolomeo, em Montemezzo de Sovizzo dos anos de 1849 a 1870 nº 2. 75 Ângelo nasceu em 06/02/1860 em Montecchi Maggiore, Montemezzo, Vicenza Itália e faleceu em 05/08/1946 em Jacarezinho, Auxiliadora, Encantado RS onde está sepultado. 76 Pietro, nasceu em Montemezzo, Vicenza, em 25 de fevereiro de 1864 e faleceu em Jacarezinho, Auxiliadora, em 05/11/1940. 125


Pedro Dalla Barba Dalla Vecchia, irmão de Ângelo, casou com Catarina Censi77 e com ela teve 3 filhos: 77

Pedro casou com (Catarina) Luzia Censi filha de Francesco Censi e Catharina Maziero, em 11 de fevereiro de 1888, em Encantado, casamento, “intra missam” presidido pelo padre João Menegotto, sendo testemunhas Ezichiel Conzatti e João Batista Rossi conforme Livro 1 de Casamentos de Encantado pg. 76, nº10. Viúvo, casou com a irmã de Luzia Censi, Páscoa, nascida em 23 de maio de 1876 e falecida em 19 de julho de 1942 126


1.Antônio c.c. Francisca Dadalt. 2. Ângelo c.c. Leonora (Nori) Dellazzari. 3. Catarina c.c. Pedro Dellazzari. Viúvo, casou com Páscoa Censi e com ela teve 12 filhos: 1. José c.c. Catarina (Catina) de Conto. 2. Luís c.c. Marta de Conto. 3. João c.c. Josephina Tiecher. 4. Augusto c.c. Elvira Turati. 5. Vitório c.c. Ângela Spezzatto. 6. Batista c.c. Rosa Bagatini. 7. Sílvio c.c. Maria Mússio. 8. Atílio cc Angelina Bagatini. 9. Lúcia cc João Buvié. 10. Maria cc Pedro de Conto. 11. Rosa cc Afonso de Conto. 12. Luiza c.c. Cesar Tiecher.

Pedro Dalla Barba Dalla Vecchia, à frente ao lado de Padre Foscalo; do outro lado do sacerdote está 3 2 Giovanni 1 4 Batista Pretto (Tita Galina), e o maestro Ângelo Bergamaschi, com o coral de Encantado em 1929. 127


Pedro era músico, agricultor, carpinteiro e muito respeitado em todas estas profissões. Dirigia o coral da capela, participava do coral de Encantado. O altar da Igreja de Encantado foi produzido e esculpido por Pedro. Os instrumentos de trabalho também foram criados por ele. O manguá em mãos do neto de Pedro, evidencia a engenhosidade da ligação dos bastão que além de bater sobre o feijão a debulhar, deveria rodar sobre si mesmo. Este instrumento foi feito e utilizado por Pedro.

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O ancinho ĂŠ tambĂŠm obra de Pedro.

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A pá, de cedro, para joeirar o feijão, feitura original de Pedro

Lápide de Pedro e Páscoa Censi, no cemitério da capela da Sagrada Família, Jacarezinho, Encantado. 130


1.Antônio Censi Dalla Vecchia, o primogênito de Pedro, nasceu em 1888, casou com Francisca Vicenzi Dadalt e com ela teve 12 filhos: 1.Albino cc Cesarina Bagatini; 2.João cc Maria Bagatini; 3. Maria cc Emílio Bagatini; 4 Ana cc Leonel Zanotelli; 5. José cc Amélia Cecchin; 6. Ângelo cc Leonilda Albertoni; 7. Rosa cc José Frigeri; 8. Vitório cc Élia Ferranti; 9. Inês cc José Muccelin; 10. Augusto cc Maria Pilatti; 11. Avelino cc Nair Dalla Rosa; 12. Davide falecido aos 6 anos. 131


t 2. Ângelo Censi Dalla Vecchia (fundos), cc Leonora Dellazzari (Nori), nasceu em Jacarezinho (Auxiliadora) construiu um moinho na Auxiliadora, teve seus negócios conturbados; foi morar em Vargeão, Xapecozinho, Santa Catarina onde instalou alambique, além de trabalhar com barca sobre o rio Xapecozinho. Ele e seus descendentes deslocaram-se depois para Capanema PR. Teve 9 filhos: 1. Etore; 2. Pacífico; 3. Olga cc com Tiecher; 4. Ferdinando cc Gugel; 5. Aurélio cc Dionilde Schio; 6. Ernesto; 7. Davide; 8. Orestes; 9. Alice.

As dificuldades nos negócios, nem sempre formalizados, geraram, por vezes até desencontros nas relações familiares e de vizinhança.78 78

Em sociedade com Antonio, Angelo construiu um moinho movido a água nos altos da Sagrada Família. Este moinho depois foi vendido a Giacomo Cristani para onde eu (Jandir) ia montado em meu burrinho, com um saco (60 kg) de milho ou trigo para moer e trazer farinha, farelo e semolina. A cada saco de milho retornava cerca de 50 kg de farinha e 4 de farelo. A cada saco de trigo bom, cerca de 45 kg de farinha, cinco a sete kg de semolina e 5 ou 6 kg de farelo. Pagava-se a moagem em dinheiro (1.500 réis) ou descontava-se o equivalente em farinha. Quando Angelo migrou para Xapecozinho SC, c oube a Antonio liquidar as Liquidadas as dívidas restantes do moinho. Honradas as dívidas, com o alambique, Antonio, deixa as ”terras velhas” de Encantado e vai, em 1938, para Pinhão –Aratiba com toda a família para dívidas tentar nova sorte (em “terras novas”) 132


3 Catarina Censi Dalla Vecchia casou com Pedro Dellazari e viveu na linha Sagrada Família, em Encantado e teve 8 filhos: Albino, Severino, Luiza cc Antenor Valandro, Inês cc Bernardo Bagatini, Teresinha cc Balduíno Berté, Catarina, Maria cc Avelino Barbieri e Adelaide cc -Laste.

4. José Censi Dalla Vecchia (filho de Pedro e Páscoa), casou com Catarina (Catina) De Conto, viveu na Linha Auxiliadora, Encantado e teve 11 filhos: 1. Ida cc Manoel Bagatini; 2. Dervile cc Adolfina Bianchini; 3. Ivo cc Edi Secchi; 4. Genuino cc Rosa Lazzari; 5. Mário cc Irma Bagatini; 6. Remígio cc Alda Lucci 7. Olinda; 8. Adélia cc Alfeu Miotto; 9. Gelindo cc Nédia Batisti; 10. Avelino, sacerdote; 11. Jovila cc Aquilino Pederiva.

6. João Censi Dalla Vecchia. Casou com Josefina Tiecher. Migrou para Francisco Beltrão, PR. Filhos: Sérgio e Gilda.

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5 .Luiz Censi Dalla Vecchia, casado com Marta De Conto, fixou residência na Linha São Luiz, em Encantado (seus descendentes foram para Descanso SC ou Nova Bréscia RS) e teve 12 filhos: 1. Adolfina cc Jandir Nieckel; 2. Ciro cc Raquel Dellazzari; 3. Emílio cc Cesira Berté; 4. Adelino cc Ana Dellazzari; 5. Vinícios cc Neusa Dellazzari; 6. Deonilo cc Schena; 7. Gino; 8. Demétrio; 9. Olindo cc Barbieri; 10. Ana; 11. Zélia; 12. Davide

7 -Augusto Censi Dalla Vecchia, casou com Elvira Tiecher e fixou residência em Encantado. Teve 3 filhos: 1. Leonildo; 2. Teresinha; 3. Jovila.

8 -Vitório Censi Dalla Vecchia, casou com Ângela Spezzatto, comerciante em Estefânia e depois em Soledade, teve 8 filhos: 1. Primo; 2. Modesto; 3. Nelci cc Jair Camol; 4. Maria cc Jatir Mezzacasa; 5. Iraci; 6. Celito cc 134Dal Pian; 7. Alice cc Cândido De Conto; 8. Teresinha;


9 -Batista Censi Dalla Vecchia, casou com Rosa Bagatini (ao lado) e foi residir em Pato Branco PR. Teve 9 filhos: Dirce cc Eri Secchi; 2. Anair; 3.Agenor; 4. Darci; 5. Pedro; 6. Élia; 7. Iracilde; 8. Margarete; 9 Nelson.

Rosa (Rosina) Bagatini (nascida em 13/09 de 1917 e falecida em 09/10/1965) era casada com Batista Censi Dalla Vecchia, filho de Pedro e neto de Beniamino. Os filhos foram residir em Pato Branco, Paraná. 10 -Sílvio Censi Dalla Vecchia, casado com Maria Mússio, morou na Sagrada Família, Aratiba, retornando depois para Relvado. Sabe-se que tinha dificuldade em saldar suas dívidas. Teve 7 filhos: 1. Alei; 2. Nilo cc Da Croce; 3. Amarildo; 4. Dolores; 5. Adiles; 6. Iraci; 7. Ivete.

11 -Atílio Censi Dalla Vecchia casou com Angelina Bagatini (filha de Luís), foi residir em Aratiba onde era famoso com lapidação de pedras para túmulos. Teve um casal de filhos

12 - Lúcia Censi Dalla Vecchia casou com João Buvié, morou em São Luiz, Encantado e teve 8 filhos: 1. Avelino cc Gema De Conto; 2. Dionísio; 3. Danilo; 4. Valdemir cc Gema Coferri; 5. Antenor cc Griti; 6. Claudino; 7. Adiles; 8. Odila. 135


13 -Maria Censi Dalla Vecchia, casada com Pedro De Conto, fixou residência em Encantado e teve 3 filhos: 1. Olir; 2. Inês; 3. Ida cc Antônio Genesini (Gianesini)

14 - Rosa Censi Dalla Vecchia, casada com Afonso de Conto, reside na Linha Argola, Encantado, e teve 5 filhos: 1. Jaime; 2. Albertina; 3. Teresinha cc Devide Grazziola; 4. Geni; 5. Valmor.

15 - Luiza Censi Dalla Vecchia, casada com Cesar Tiecher,

1 -Descendentes de Antonio Censi Dalla Vecchia e Francisca Vicenzi Dadalt

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Família de Antônio Vicenzi Dalla Vecchia e Francisca Dadalt-

À página seguinte: Valentin Dadalt (casado com Desiderata Vicenzi), pai de: 1.Maria Dadalt casada com Franzel Bagatini; 2. Francisca Dadalt casada com Antônio Dalla Vecchia; 3. Guilherme casado com Ana; 4. Pedro casado com Luiza de Conto; 5. João casado com Arzila Pretto; 6. Angelino casado com Olinda Pretto; 7 Ana casada com Paulo Spezzatto; 8. Rosa casada com Santo de Michei; 9. Inês casada com Dorvalino Secchi; 10. Augusta casada com Carlos (Carleto) Dalla Vecchia; 11. Antônio morreu solteiro de apendicite; 12. Luís morreu solteiro na explosão de caldeira de alambique em Jacarezinho. Valentin usava um brinco de rubi. Viúvo, casou e recasou com Palmeira de tal com quem dispendeu seus bens.

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138


A família de Antônio Censi Dalla Vecchia em 1918 com os filhos José, Albino João, Ana e Maria.

Família de Antônio e Francisca em 1928. Ana, Maria, Albino, João, José. À frente: Rosa, Francisca, Vitório, Antônio, Ângelo. 139


Nas bodas de ouro de Antônio e Francisca (à direita) o carinho fraterno de José e Catarina, em Pinhão, Aratiba (ex-município de Erechim).

Na Linha Pinhão – Aratiba – Antônio ao lado do Padre Vigário, e seu coral. À direita, sentado: Zanoelo 140


Bodas de Ouro de Ant么nio e Francisca DV em 1962, o grupo reunido aos fundos das terras de Albino Dadalt Dalla Vecchia.

Nas bodas de ouro Francisca e Ant么nio com as filhas : In锚s, Rosa, Maria e Ana 141


Nas bodas de ouro de Antônio e Francisca, presentes os filhos: (De pé) Inês, Rosa, Ângelo, Augusto, Avelino; (Sentados) Ana, Maria, Francisca, Antônio, Albino, José Albino Dadalt Dalla Vecchia, filho de Antônio DV e Francisca Dadalt, casado com Cesarina (Cesira) Bagatini, em Encantado, mudou-se para a Linha Pinhão, Aratiba, junto com o pai, em 1938. Até então administrava o moinho que fora do tio Ângelo na Linha Sagrada Família. Teve 10 filhos: 1. Jandir cc Rech; 2. Deolino cc Rech; 3. Clarice cc Ricieri Muccelin; 4. Nilo; 5. Vilma cc Fiorelo Deotti; 6. Terezinha cc Alfeu Stacklober; 7. Claudino cc Tremea; 8. Darci cc Signori; 9. Nair cc Valter Stacklober; 10. Ivanor cc Ida 142


João Dadalt Dalla Vecchia, casado com Maria Bagatini e seus filhos.Casou em Encantado e precedeu o pai indo para as terras novas da Linha Pinhão em Aratiba, então Erechim, em 1937.

Adélia

Arlindo

Maria

Ida

João 143

Irma

João


Maria Dadalt Dalla Vecchia, casada com Emílio Bagatini em Encantado em 9 de setembro de 1939, dias antes de seu pai Antônio ir para PinhãoAratiba, teve 11 filhos: 1. Irino cc Roselita Albertoni; 2. Olir cc Lurdes Rigo; 3. Valdir cc Ana Pavan; 4. Teresinha (+ criança); 5.Jovita cc Genuíno Serraglio; 6. Dilce (freira); 7. Flavina cc Eusébio Muraro; 8. Jacir cc Vilma Chaquine; 9. Valcir; 10. Neodir cc Salete Strapasson; 11. Zélia cc Ezílio Fabiani. Casou, no dia 9 de setembro de 1938, 15 dias depois de Leonel e Ana. Uma semana depois Antônio e Francisca iriam morar no Pinhão. O pai de Emílio morreu assassinado na Barra do Jacarezinho, por questões de terras. Emílio era amigo de cartas e noitadas com Leonel Zanotelli...

Impressiona ver como Antonio e Francisca, com bondade e paciência infinitas, com religiosidade que lhes guiava cada passo e cada momento do dia, conseguiram educar seus filhos e infundir especialmente nas filhas o espírito franciscano da simplicidade, de fazer bem o que estivesse fazendo e despertar amizades duradouras. A união das quatro filhas era admirável.

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Ana Dadalt Dalla Vecchia, casada com Leonel Agostini Zanotelli em Encantado, residiu depois em Linha Pinhão, Bentevi (Aratiba), e depois retornou para Encantado, Soledade e Canoas RS, tendo 11 filhos: 1. Jandir cc Ruth Machado Ávila; 2. Geni (+ criança); 3. Gino cc Helena Schmit; 4. Irma cc Marcial Nardin; 5. Itelvina cc Basílio Michelon; 6. Ilva cc José Queiroz; 7. Castilo cc Rosa Xavier e, viúvo casou com Neiva Teresinha Pertile; 8. Clasi cc Carlos Pagnussatt; 9. Olir cc Gisele Barbosa; 10. Lírio cc Gislaine Barbosa; 11. Dinasir cc Maria Inês Pagnussatt.

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José Dadalt Dalla Vecchia cc Amélia. Casou no Pinhão, morou nas cabeceiras da Linha Pinhão. O fruto do trabalho e das terras vendidas empregou em sociedade com Ângelo na Barra do Rio Novo e, no insucesso da sociedade, comprou terra e alambique no Saltinho, onde faleceu.

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Rosa Dadalt Dalla Vecchia, casou em Encantado com José Frigeri e teve 7 filhos: 1. Vilson cc Élide Fachini; 2. Valdir; 3. Vani; 4. Volmir; 5. Valmor; 6. Vladis; 7. Vilma. Morou na Linha Anita, em Encantado. Depois foi morar em Jacarezinho, onde faleceu. Pequeno comerciante, foi tropeiro e agricultor.

Ângelo Dadalt Dalla Vecchia casou em Aratiba com Leonilda Albertoni, residiu no Saltinho e depois na Barra do Rio Novo em Aratiba onde montou casa comercial e criação de gado com o irmão .Teve 3 filhos .

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José Frigeri (1910-1978), casado com Rosa Dadalt Dalla Vecchia (1918-1964


Vitório Dadalt Dalla Vecchia, casado com Élia Ferranti, na Linha Pinhão, Aratiba. Depois foi residir na Volta do Uvá, Aratiba, onde montou alambique. Teve 3 filhos

Inês Dadalt Dalla Vecchia e José Mocelin. Muito prestativo, de uma família de cerca de 15 irmãos, gostava de reunir vizinhança para jogar futebol. Morou, trabalhou e morreu em Pinhão, Aratiba. Teve 13 filhos: 1. Celino cc Teresinha; 2. Teresinha cc Laurindo Menegatt; 3. Gentil cc Nilze Bender; 4. Élfi Pedro cc 5. Elói cc Rosângela Ferigolo; 6. Neodir cc Lucila Bach; 7. Nair; 8. Ledir cc Ivo Cima; 9. Lenir cc Nédio Basso; 10. Lairi; 11. Maria Rita; 12. Ivanir; 13. Nilton Antônio.

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Augusto Dadalt Dalla Vecchia, casou com Maria Pilatti na Linha Pinhão, Aratiba. Augusto e Avelino herdaram as terras dos pais para sustentá-los ao final da vida. Casou, viveu e morreu no Pinhão. Teve 10 filhos: 1. Dioclides cc Ângelo Mezzarruba; 2.Eri cc Lucila Hendges; 3. Egídio; 4. Valdir cc Neusa Menegat; 5. Olir cc Neide Minella; 6. Gentil cc Maria Franco; 7. Rita cc Orides Strapasson; 8. Lírio; 9. Jair; 10 Davi.

Avelino Dadalt Dalla Vecchia, casado com NNair Dalla Rosa é o último dos filhos de Antônio. Trabalhava muito. O trabalho purifica e enobrece. Teve 8 filhos: 1. Albino; 2. Alberto; 3. Santo; 4. José; 5; Vitalino; 6; Maria cc Moacir Vanzotto; 7. Ivanete; 8. Inês cc José Taschin.

149


Leonel

Ana

Ana e Leonel em 1988, nas bodas de ouro de casamento 150


Leonel Zanotelli e Ana Catarina Dadalt Dalla Vecchia e filhos: (De pĂŠ)Castilo, Irma,Olir, Itelvina, LĂ­rio, Ilva, Dinasir, Clasi (Sentados) Gino, Leonel, Ana e Jandir 151


Jandir Joテ」o Dalla Vecchia Zanotelli cc Ruth Machado テ」ila

Gino Dalla Vecchia Zanotelli cc Helena Scmit

Castilo e Rosa Xavier

Olir e Gisele Isabel Barbosa 152


Dinasir e Ma.Inês Pagnussat

Lírio e Gislaine Barbosa

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4 José Censi Dalla Vecchia. Na página anterior, de pé: Ida, Dervile, Ivo, Genuíno, Mário, Remígio e Olinda. Sentados: Adélia, Gelindo, José, Catarina, Avelino e Jovila.

Remígio De Conto Dalla Vecchia, casado com A- lda Luci tem 8 filhos: 1. Anir; 2. Neuri cc Carmen, tem 3 filhos; 3. Antenor sacerdote carlista; 4.Alvani cc Valdir Bianchini, com 2 filhos; 5. Valmor cc Teresinha Dalé; 6. Dolores cc Bassani; 7. Maria de Lurdes cc Paulo Dalé; 8. Luiz.

Mário De Conto Dalla Vecchia casado com Irma Bagatini tem 11 filhos: 1. Valdir; 2. Dirceu; 3. Miguel, sacerdote carlista; 4. Odete; 5. Maria; 6. Cleunice; 7. Mairi cc Ivo Center; 8. Paulo; 9. Moisés; 10. Marilene; 11. Jesseni.

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Ida De Conto Dalla Vecchia, casada com Manoel Bagatini tem 10 filhos: 1. Jovila cc Aquilino Pederiva, com 3 filhos – Graciela, Zaquiela e Muriel; 2. Neodir cc Irene Casaril, com 2 filhos – Gustavo e Emanuel; 3. Lurdes cc NNeodir Pederiva; 4. Inês cc Jaime, com um filho André; 5. Roni cc Solani De Conto; 6. Ivanor; 7. Sérgio cc Marisa Radaelli, com 2 filhos – Kely....; 8.Sônia; 9. Catarina cc Longo, com um filho; 10. Lenira.

Olinda De Conto Dalla Vecchia

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Gelindo De Conto Dalla Vecchia, casado com Nédia Batisti tem 5 filhos: 1.Paulo; 2. Luiz; 3. Sônia; 4. Silvana; 5. Sílvio cc ......, com dois filhos- Hugo e Sílvio.

Genuíno De Conto Dalla Vecchia casado com Rosa Lazzari tem 7 filhos: 1.Clademir; 2. Vítor; 3. Teresinha cc ...... com dois filhos – Sabrina e.....; 4. Joacir; 5. Rosane; 6. Mônica; 7. Rosângela.

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Ivo De Conto Dalla Vecchia casado com Edi Secchi, residente na Linha Auxiliadora, Encantado, tem 6 filhos: 1. Clarice cc Gabriel Diogo Hamilton, com dois filhos – Pedro e....2. Jovir; 3. Joacir; 4. Iraci; 5. Gilberto; 6. Silvana.

Dervile De Conto Dalla Vecchia cc Adolfina Bianchini, tem 5 filhos: 1. Alcir cc Izabel, com uma filha – Camila; 2.José cc ....., com um filho – Felipe; 3. Jorge; 4. Jaqueline; 5. Romeu.

Jovila De Conto Dalla Vecchia, cc Danilo Lorenzon, tem 4 filhos: 1. Pedro cc ........, com dois filhos – Danilo e........; 2. Neiva cc Júlio....3. Janete; 4. Jorge cc ...., com um filho

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Adélia De Conto Dalla Vecchia cc Alfeu Miotto, tem 3 filhos: 1. José Marcelo cc Valquíria e com um filho; 2. Simone; 3. Carla.

Avelino De Conto Dalla Vecchia, sacerdote secular, Monsenhor, da Arquidiocese de Porto Alegre. Está enterrado junto aos pais na Linha Auxiliadora, Encantado.

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159


IV– ASPECTOS IDENTITÁRIOS DA FAMÍLIA DALLA VECCHIA

Para compreender a família Dalla Vecchia no contexto da imigração italiana e sua adequação à realidade brasileira destacaremos alguns aspectos de sua organização econômica, política, social, cultural e recreativa baseados em observações pessoais e entrevistas realizadas com alguns descendentes Dalla Vecchia. Obs. É de lamentar que o Diário de vida que Ângelo Dalla Barba DallaVecchia relatando a trajetória desde a saída da Itália, tenha sido equivocadamente queimado por quem não avaliava seu valor histórico. 1. Organização econômica Os Dalla imigraram para o Brasil na qualidade de agricultores e pequenos artesãos. A terra era para eles não só meio de produção como também espaço 160


existencial, raiz, sentimento, símbolo e lugar de experiência mística e religiosa. Mas, antes de mais nada, a terra era a propriedade e a propriedade era a definição mesma da dignidade do homem. Ser dono (paron), ser proprietário era tudo o que o imigrante queria; e ser proprietário de terras abundantes, suficientes para a família ampla e unida. A propriedade definia o social, o político e o cultural, incluindo a posição religiosa na comunidade. Muito embora esta não fosse a perspectiva do Cristianismo e sim do Estado de Cristandade, ela marcou profundamente a vida e a visão dos Dalla Vecchia no Brasil. Os lotes destinados à colonização italiana eram, no RS, cobertos de matas nativas e em áreas montanhosas. Muito embora a fração de terra que era entregue ao colono fosse destinada totalmente ao plantio e às pastagens, no entanto o colono sempre aprendeu a reservar boa parte das matas para delas extrair madeiras para tábuas, telhados, cabos, pipas, etc. A coivara, como método indígena de desmatamento e queima, para plantar sobre as cinzas, era a maneira mais usual de abrir condições para o uso do solo. Só recentemente surgiu a preocupação com a conservação da terra (curvas de nível, adubação orgânica e reflorestamento com objetivos de consumo e comercio). A “colônia” de cada agricultor era uma faixa estreita de terra que iniciava geralmente no arroio e ia até o topo do monte por onde corria um travessão 161


imaginário que dividia as glebas. Uma colônia era dividida em linhas. Por exemplo a Colônia Jacaré era dividida em: Linha Argola, Linha Jacarezinho, Linha São Luiz, Linha Jacaré, Linha Pinheirinho... Cada gleba (de cerca de 25 hectares: um pouco mais de 100 metros de largura por pouco mais de 2.000 metros de comprimento), que os colonos denominavam sua “colônia”, era assim dividida: uma parte era cercada para potreiros e mangueiras, uma parte central e de melhor posição em relação às águas e aos ventos era destinada à moradia e aos galpões, estrebarias, ao parreiral, à horta e alguma pastagem para socorro aos animais mais fracos no inverno; a restante, e era a maior parte, era destinada à lavoura, restando ainda uma parcela para matas, no alto do morro e na beira dos arroios. Ao contrário da maneira européia de organização dos agricultores (todos morando numa vila e tendo as terras de cultivo em convergência para a vila, ou ao redor da vila), aqui as terras eram localizadas em glebas sucessivas perpendiculares aos arroios e morros. Os colonos eram vizinhos isolados e não agrupados em vilas. Cada colono contava com um vizinho de cada lado, para tudo, inclusive para socorro em situações de doenças. As terras que foram destinadas à colonização italiana eram férteis mas pedregosas e muito propensas à erosão. Descuidar-se disso era fatal. As terras na Linha Jansen foram adquiridas pelos irmãos Ângelo e Pedro à razão de dois réis à braça 162


quadrada. As terras em Jacarezinho, Auxiliadora, compradas de empresa particular de imigração foram adquiridas à razão de 20 réis à braça. O prazo de cinco anos para pagar possibilitava a compra.79

2. O trabalho O minifúndio de tamanho familiar (a “colônia”), trabalhado apenas com os braços familiares e com todos estes braços (que, entre os Dalla Vecchia formavam um grupo de 20 ou mais pessoas), com instrumentos de trabalho elaborados artesanalmente, tinha como força de trabalho os músculos humanos e a tração animal, especialmente de bois. Os cavalos serviam como montaria e para debulhar feijão. Desde o início os Dalla Vecchia utilizaram também a força da água e do vento para mover moinhos, alambiques, serrarias como também máquinas a vapor. A divisão do trabalho obedecia ao critério de sexo e idade dentro da família. Numerosos filhos formavam um apreciável exército de mão de obra que, desde a tenra idade de 6 ou 7 anos dividiam a escola com a enxada, e, para cada grupo etário e sexual havia um trabalho diferente.

79

Cf. Zanotelli. A Saga de um Imigrante Trentino, pg. 89 ss. 163


Assim o comando competia ao homem mais velho. Comprar, vender, decidir o que plantar era assunto dos homens, muito embora as mulheres dessem sua opinião. Os trabalhos tidos como de menor importância eram atribuídos às meninas. Era trabalho de criança apanhar água na fonte, abastecer de achas de lenha (cortadas pelos adultos) a caixa (baú e assento) que ficava atrás do fogão80 e levar recados. Era função das meninas e mulheres cuidar da casa, preparar a alimentação, lavar a louça no “secier”81, lavar a roupa no arroio ou em tanques próximos à casa quando uma fonte permitisse; cuidar das aves e da ordenha, costurar, remendar, trançar palhas de trigo (drezze) e, com elas, fazer chapéus e bolsas (sportole), cuidar das flores e jardins82, cultivar verduras, legumes e temperos na horta, cuidar das crianças ( do alimento, higiene, vestuário, saúde, bons modos), dar afeto e carinho, ensinar o catecismo e vigiar para que todos cumprissem os deveres elementares de cristão (como os de ir à missa ou à reza do terço aos domingos, confessar seguidamente e comungar, não blasfemar etc). 80

Nos primeiros tempos, os imigrantes dependuravam as panelas em correntes aproximando-as mais ou menos do fogo. Depois, uma chapa de ferro fundido, sobre umas muretas de tijolos e barro, eram o “focolar”. Depois vieram os fogões a lenha, de ferro esmaltado, com forno e caldeira para água quente. 81 O “secier” era uma pia de madeira construída com tábuas e sobre a qual eram lavadas as louças e que servia também como mesa auxiliar da cozinha. As águas servidas escorriam do “secier” por uma canaleta também de madeira, para fora da cozinha e servindo de beberagem aos animais domésticos. 82 “A gente conhece o amor de uma mulher por seu marido e sua família pelo jardim de sua casa” dizia Maria Zanotelli às filhas. 164


Além disso, e acima de tudo, a mulher também trabalhava lado a lado com o homem na lavoura e acompanhava-o em passeios e visitas. Dupla jornada de trabalho? Se considerarmos que uma jornada de trabalho ia de sol a sol, a mulher sempre tinha uma dupla jornada. A comemoração dos dias festivos, como armar um pequeno presépio no Natal, também era tarefa feminina. A honra de uma mulher consistia também em mostrar uma casa ajardinada e florida, a alimentação saborosa com quitutes e doces, a roupa asseada de todos os familiares, embora fosse remendada, e uns panos bordados que enfeitavam mesas, janelas e paredes e, muitas vezes, com mensagens morais e religiosas tais como: “Deus abençoe este lar”, “Nesta casa não se blasfema” . Para os meninos e rapazes desde cedo, além de ajudar na lavoura, estavam reservados os trabalhos como o manejo de bois, terneiros, porcos, cavalos. A capina dos pomares e parreirais, a festa de amassar a uva com os pés na época da vindima, ir ao moinho, à venda, levar recados e, sempre que possível estar no lombo de um cavalo, eram coisas de menino. Um rapaz deixava de ser adolescente quando mostrava que era capaz de lidar com a carroça, com os bois e cavalos, e arar a terra. Para isso era necessária força como também habilidade. Essa iniciação à vida adulta acontecia por volta dos 15 anos. Para o homem adulto, além do domínio de todas as atividades econômicas da produção, do planejamento 165


do plantio, da limpeza e da colheita, dos negócios, cabia a direção. Os cuidados com a reprodução animal, acasalamento, parto e saúde, o abate de animais (crianças e meninas não deveriam ver), a derrubada das matas também eram tarefas para o homem adulto. O sol, o suor, o cansaço e a alegria do fruto colhido cabia a todos. A jornada de trabalho iniciava antes de clarear o dia e terminava depois do sol posto. Por volta das 4 horas da manhã os pais e os filhos mais velhos se levantavam para tomar chimarrão perto do fogão a lenha, e combinar as tarefas do dia. Uma polenta brustolada83 na chapa do “focolare", um pouco de salame ou queijo, uma xícara de leite ou chá e lá se vão os trabalhadores para a lavoura. Quando o dia amanhece já estão a postos a lavrar, a capinar... É a hora mais fresca do dia e o trabalho rende mais. Por volta das 9 horas um dos meninos ou meninas que não foram à escola, leva o café para os que estão na lavoura (geralmente a lavoura ficava no alto das montanhas e a mais de um quilômetro de casa). O café ( la collazzione) servia também para uma pausa no trabalho. Depois, o trabalho ia até meio dia. Normalmente os trabalhadores não retornavam para casa para o almoço. Este era levado à lavoura, especialmente no tempo da colheita do trigo e do feijão.

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Sapecada sobre a chapa do fogão. A polenta que sobrava da janta anterior e cortada em fatias era sapecada na chapa e consumida com queijo e salame. 166


Após o almoço, assim como em casa, estiravamse à sombra de uma árvore e sesteavam uma boa hora. O trabalho reiniciava por volta das 15 horas e estendia-se até o escurecer. Indo ao trabalho de manhã, ou retornando à noite (a carroça carregada de mantimentos colhidos ou de pasto para os animais) cantava-se e rezava-se. Chegados em casa, já escuro, as meninas e moças cuidavam da ordenha, dos pintos, das galinhas, da janta... os rapazes da alimentação dos animais vacuns, eqüinos, suínos... Um rápido banho para retirar o pó mais denso, e depois, na varanda, homens e mulheres a cantar. Canções de amor, de amor às montanhas, aos vales, à Itália longínqua, os “mazzolin di fiori” ... canções de vindima , canções religiosas...canções burlescas e satíricas: “El véccio trivelin”... Depois da janta, infalivelmente a reza do terço. O trabalho amainava um pouco aos sábados à tarde quando se fazia o pão para a semana, algumas bolachas, melado, limpeza da casa e da roupa. Também preparava-se a lenha para o fogão e o “pasto” para os animais.84 Depois, ao entardecer o banho no arroio, tão festejado pelos meninos. Domingo era o dia da missa (os Dalla Vecchia levantavam-se de madrugada para ir até Encantado), da 84

Tendo em vista que o número de animais domésticos era maior do que a capacidade de alimentação das pastagens dos potreiros, plantava-se para eles forrageiras diversas que eram trazidas da roça ao final do dia e mais ainda aos sábados. 167


reza na capela, dos encontros e namoros, do jogo de cartas e bochas bem como da “morina”85 E esta jornada e estes trabalhos estiravam-se por toda a vida, até que as forças permitissem. E os Dalla Vecchia eram longevos86. A previdência social para a doença, para a velhice, viuvez ou orfandade, diuturnamente, vinha do trabalho e, em casos extremos, da solidariedade da comunidade. Muitas vezes um dos filhos mais jovens restava morando com os pais e cuidava deles na velhice. É bom lembrar que os agricultores, no Brasil, iniciam a ter alguns direitos sociais (como proteção à saúde, aposentadoria por velhice, auxílio natalidade) só bem entrada a segunda metade do século XX. Trabalhar para que? Ora, para que?! Trabalhar para sobreviver, para ganhar o pão com o suor do rosto. Trabalhar porque é educativo e faz bem (quem não trabalha e é vagabundo é mau), trabalhar para a prosperidade da família, para capitalizar-se um pouco, trabalhar também para alegrar os pais e merecer seu reconhecimento e a recompensa de, ao final da semana, realizar “aquela pescaria”... 85

A “mora” e a “morina” é um jogo de aposta na soma dos dedos apresentados sobre a mesa pelos dois contendores que, ao mesmo tempo da apresentação e numa velocidade incrível, gritam espalhafatosamente o número. Um juiz controla quem faz pontos. O perdedor cede imediatamente lugar ao vizinho. E assim segue. O perdedor paga o copo de vinho. 86 A longevidade dos Dalla Vecchia é quase proverbial. A morte para uma familiar que não fosse criança ou acidental era lastimada enormemente quando ocorresse abaixo dos 50 anos. Grande parte ultrapassou sobranceiramente os 80 anos, a começar com Ângelo e Pedro Dalla Vecchia. 168


Os imigrantes italianos tinham verdadeira ojeriza aos vagabundos, identificados com escravos e negros (“brasiliani”). Alguém que fosse observado em dias úteis a passear ou a festejar, e o desprezo, a ironia, a chacota caíam sobre ele: “Até parece que não tem o que fazer”! Os assalariados, geralmente não descendentes de italianos, eram aproximados aos vagabundos e preguiçosos, incapazes. Tanto eram vistos como incapazes que, se dizia, “nem tem terra própria”. Brincar durante o trabalho ou nas horas reservadas ao trabalho, que eram praticamente todas, era inadmissível. Os minutos de brinquedo eram “roubados” nos momentos em que os adultos descansavam. O pequeno diálogo que segue e que foi real revela o que esses “italianos” pensavam do trabalho: À noite, depois da janta e da reza do terço, enquanto os adultos jogavam um carteado de quatrilho, o menino de 8 anos está brincando sob a mesa com sua “canguinha de carretéis vazios de linha”87. O pai pergunta:  então, meu filho, não vais estudar a lição? Tu só pensas em brincar?  mas pai, o dia não foi feito p‟ra brincar?  tu já estás muito grande para ficar brincando como criança.  e tu, pai, o que estás fazendo? Jogar carta é trabalhar?

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Uma miniatura de carroça cujos rodados eram dois carretéis de linha vazios. 169


Diante do olhar severo e irado do pai, o menino compreendeu que deveria ir para outra sala. Na verdade esgueirou-se para a cama. O trabalho das crianças, que eram tratadas como pequenos adultos, deveria render quase como o dos adultos. Os horários, os rigores, a seriedade do trabalho eram para todos. Pode-se imaginar o cansaço das crianças ao final do dia. Por isso, à noite, mal terminada a janta, enquanto se iniciava a reza do terço, cada qual de joelhos e escorado no espaldar de uma cadeira, iam as crianças silenciando uma a uma, caindo sentadas sobre os calcanhares e adormecendo. Os pais insistentemente procuravam manter acordadas as crianças e jovens para que respondessem aos “Pai-Nossos e Ave-Marias”, mas ao final as crianças não alcançavam uma “Ave Maria” completa. Os cochilos, os recomeços são recordados pelos filhos de imigrantes com hilaridade. Para os Dalla Vecchia, o trabalho é condição humana, ascese, meio de sobrevivência e de capitalização, bem como caminho de salvação. Do trabalho sempre intensivo deveria extrair-se, não só o pão nosso de cada dia, mas também a garantia do futuro e a melhoria de vida. A dureza das condições de trabalho, fizeram muitos filhos de imigrantes depois de casados, referirem-se aos tempos de solteiro como de “exploração intensa” por parte dos pais. Como se os pais quisessem aproveitar a força e juventude de seus filhos para arrumar a sua própria vida e sobrevivência. 170


Nem sempre, e sempre parcimoniosamente, os pais ajudavam financeiramente os filhos quando estes constituíam uma nova família. A comunidade se unia para isso. Em mutirão, cada vizinho e parente ajudava a constituir o pequeno dote dos cônjuges, e isto representava um grande motivo de união comunitária. Aos poucos e ao sucederem-se as gerações estes costumes foram sendo modificados. O individualismo do mercado penetrou profundamente também entre esses filhos de imigrantes. O sentido ascético e purificador do trabalho era marcante entre os Dalla Vecchia. Como se, com o suor, o corpo expelisse também os pecados. Assim o trabalho era vivido como expiação de culpas e portanto como castigo, como dor, como sofrimento. Um trabalho que não importasse em dor e sofrimento não seria considerado propriamente um trabalho. Os ferimentos oriundos da dureza do trabalho e seu riscos, muitas vezes exacerbados, eram mostrados especialmente pelos rapazes e homens adultos como troféus, como bandeiras. O prazer, o lazer, o descanso, o feriado, o domingo, como um intervalo entre dois trabalhos e para dar maior produtividade e intensidade ao trabalho, parecia, àqueles impenitentes lavradores, como se fosse um roubo, algo tolerado mas nunca louvado e benquisto em si mesmo. E, como não poderia deixar de ser, o assunto das horas de folga ainda era o trabalho. O trabalho media-se pelo rendimento, pelo volume, pela quantidade mas também pela qualidade. 171


O trabalho como entre-ajuda era também muito comum para os Dalla Vecchia e seus vizinhos. Por ocasião de enfermidades que impossibilitassem a um chefe de família trabalhar sua terra; em caso de viuvez de uma senhora vizinha; na hora da vindima ou da colheita do trigo, reuniam-se todos os vizinhos em mutirão ou “puxirão” de trabalho e se ajudavam mutuamente. A viúva, geralmente carregada de filhos pequenos, tinha na cooperação de seus vizinhos a garantia do cultivo e produção de sua gleba. Normalmente revezavam-se os vizinhos de tal forma que em todos os dias da semana alguém estivesse cultivando a terra da viúva ou do vizinho doente. Com isso, era comum que essas pessoas em dificuldades conseguissem maior volume de produto do que teriam feito sozinhas. Esse era também um modo de previdência e assistência social exercido pelos próprios colonos. Ainda hoje subsistem alguns sinais desses costumes. Trilhar o trigo, previamente cortado e empilhado em medas pela família, requeria o trabalho conjunto de muitas pessoas (ao redor de 15) e isso se fazia em mutirão. Era sempre uma festa da vizinhança. Os meninos, especialmente, encarregados de afastar a palha, rolavam pelos montes dela na maior algazarra. Ao meio dia, a família anfitriã, oferecia um almoço reforçado e regado a vinho. Assim, o trabalho era fator decisivo de integração. 172


Festa semelhante acontecia na vindima da uva. Colhia-se a uva com a “brítola”88, depositando os cachos maduros em grandes cestos de vime.89 Os rapazes carregavam as cestas da suculenta uva, para ser amassada com o pisotear dos meninos. O suco, com as cascas era depositado no “mastelo”, tal como se fosse uma pipa cortada ao meio. Alguns dias, e a fermentação separava as cascas do suco. Depois da fermentação o suco era trasladado para uma pipa e daí, depois de decantado, era “stravazado” para uma pipa definitiva, onde era curtido por 3 geadas, no mínimo. E o vinho tinha o sabor da vida. À noite, nos dias de vindima, os vizinhos degustavam junto o suco de uva ainda não fermentado: o vinho doce. O parreiral, componente essencial da estrutura produtiva da “colônia”, estava sempre num lugar apropriado, bem ensolarado, nas proximidades da residência, e entre muitas pedras e ladeiras. Trazer da Itália, o maior número de variedades de parreira possível, era a recomendação que os imigrados davam a parentes e amigos que quisessem imigrar também. Trabalhar e poupar, juntar capital, emprestar a juros, investir no futuro...eram valores incorporados pelos Dalla Vecchia. A industrialização própria e alheia será beneficiária dessa poupança da região de colonização do RS. Os bancos de Porto Alegre e 88

Um canivete de lâmina curva em forma de foice, muito afiada, e que tinha entre as múltiplas funções a de apanhar os cachos de uva. 89 O fabrico de cestos de vime era uma habilidade excepcional dos imigrantes italianos do norte da Itália. 173


especialmente o Banco Pelotense amealharam grandes volumes desse capital financeiro que os colonos juntaram. A falência do Banco Pelotense (1938) trouxe enormes prejuízos aos colonos de Garibaldi, Bento Gonçalves, Encantado... inclusive aos Dalla Vecchia, bem como deixou em maus lençóis as indústrias de Pelotas.

3. Instrumentos de trabalho Os instrumentos de trabalho como arado, carroça, cabos de enxada, foices, machados, machadinhas, martelos, serras, enxós, cangas, arreios e correame trançado, apesar de rudimentares, exigiam todo cuidado do agricultor que os elaborava artesanalmente. Um colono que era ferreiro produzia facões, enxadas, foices, arados, e as mais variadas e temperadíssimas lâminas. As serras e serrotes, vinham normalmente da Europa. Os Dalla Vecchia faziam seu próprio “torcio” (moenda de cana), seu pilão e monjolo para descascar arroz, os fornos para o pão, o “focolare” de tábuas tijolos e barro ou a trempe com correntes para a suspensão das panelas acima do fogo. Os Dalla Vecchia faziam a canga completa para os bois, os arados, as carroças, as pipas para o vinho, as casas, as estrebarias, os paióis para guardar a safra, os 174


cercados, quase sempre de pedras...enfim, o vestuário, o alimento, a habitação... Dentre as panelas, que sempre eram muito poucas, destacava-se o “parol” (ou “cagliero” ou “brondin”) de fundo arredondado para fazer a polenta. Uma colher ou pá de madeira (“mescola”) para mexer a polenta era, também, uma arma para afugentar o marido que viesse mexericar nas panelas. A frigideira “padela”, a caçarola, a chaleira completavam a lista. Para lavar a louça e guardar os talheres havia uma espécie de pia de madeira, sobre um canto da cozinha: “el secier”, acima referido, a água usada escorrendo por uma canaleta de madeira para o pátio. Sobre o “secier” um balde (“secia”) de água fresca para beber e sobre ele, dependurada, uma concha exclusiva para isso. Os recipientes para o vinho, já dissemos: “el mastel”, espécie de meia pipa para receber a uva moída; as pipas ( “le bote”) da melhor madeira (grápia, louro, canela) para o vinho e para a “graspa” ou “grappa”. As casas, os galpões, chiqueiros, estrebarias, paiol, mangueiras com cerca de pedra, tudo era construído pelo próprio imigrante. Balaios, cestos, bolsas e chapéus ( de palha de trigo trançada, drezze), tudo era artesanato familiar. Assim também as gamelas de madeira trabalhadas com enxó, para a higiene e para trabalhar e conservar carnes. Além dos músculos humanos, repitamos, a força de trabalho provinha de alguma queda d´água, o vento e os bois e cavalos. Os cavalos serviam não só como 175


montaria mas também para debulhar feijão, como dissemos. Numa grande eira, uma grande lona de algodão recebia os pés de feijão que haviam sido arrancados e secados ao sol. O volume era mais ou menos de um metro de altura por 8 metros de diâmetro. Os cavalos treinados deviam saltar para cima do feijão e, guiados, circulavam até amassar completamente a palha abrindo assim todas as vagens. Virava-se depois a palha já amassada para um último repassar dos cavalos.90 Sacudia-se bem a palha para que o feijão ficasse na lona e a palha era separada em grande montes para servir de adubo. O feijão assim “trilhado”, embora separado das palhas, continha ainda muita sujeira. Com uma pá de madeira, fabricada pelo próprio colono com uma enxó, jogava-se o feijão contra o vento, o mais alto possível, indo o feijão, já limpo, cair noutra lona. Obviamente, com o vento soprando contra, o colono cobria-se de pó e sujeira. O suor colava a sujeira ao corpo e gerava uma insatisfação que era proverbialmente lembrada. Ensacado o feijão em volumes de 60 quilos, era conduzido ao galpão (paiol) à espera do comerciante. Se o feijão ainda estivesse úmido devia ser secado ao sol, por uma semana, no pátio da casa. Outras vezes, especialmente quando a produção era pequena, debulhava-se o feijão a “manguá”. 90

ZANOTELLI, Jandir. Zanotelli, A saga de um imigrante trentino, pg 109. 176


O processo consistia em depositar o feijão com vagens secas numa lona e bater sobre ele com uma vara amarrada a outra que servia de cabo para fazer vibrar a primeira sobre a eira. Assim não era necessário dobrar o corpo para bater. Batidas as vagens, retirava-se a palha e ventilava-se o feijão contra uma aragem mais forte, como no primeiro caso.

O manguá, feito e usado por Pedro Dalla Barba Dalla Vecchia. Símbolo do suor, da inventividade, do modo de trabalhar, do produto produzido. Lembrança e convite a um modo de ser. Ivo, filho de José e neto de Pedro guarda zelozamente aqueles instrumentos de trabalho feitos pelas mãos do avô. Na festa dos Dalla Vecchia 177


realizada em Jacarezinho-Auxiliadora, todos admiravam e aprendiam com o pequeno museu assim montado.

Ivo, filho de José, esposa e filho, com o rastilho (rastello), o manguá, e a pá para limpar o feijão e o trigo. Feitos e usados por Pedro. Em capacidade de produzir instrumentos, impressiona sobremaneira a figura de Pedro Dalla Vecchia: Ele chega ao Brasil com 14 anos de idade; um adolescente, diríamos; seu irmão Ângelo tem apenas 18. Sem pai, que lhe pudesse servir de professor, ele mostra uma surpreendente capacidade criativa. Com efeito, além de 178


produzir todos os instrumentos de trabalho necessários a um agricultor, além de construir suas casas com habilidade espantosa de trabalhar com pedra, madeiras, além da sensibilidade estética de construir altares e estátuas, além de escrever e entender música teórica e praticamente, dirigindo corais com mais de 100 participantes como o da Igreja de Encantado, além de dirigir a vida litúrgica na capela era exímio educador de seus filhos. Para exemplificar, seu filho Antônio herdou-lhe o gosto e a educação nestas mais variadas áreas, inclusive como entendido e mestre de coral. Para compreender o processo, Inês, filha de Antônio nos relatou: “Trabalhávamos na roça até o escurecer. Descíamos do monte fazendo as orações da noite. Depois de um banho rápido e da janta, o pai reuniu todos, especialmente os homens ao redor da mesa grande. E botava todo mundo a estudar: ler, escrever, contar. Depois disso vinha o canto, na teoria e na prática, cada um com sua voz. Depois vinha o terço. E todos iram dormir”. Sem perguntar se 14 anos é idade própria para trabalhar ou não, sem perguntar se a mesa com seus 14 lugares era feita para comer ou para estudar, ou para cantar, Pedro, assim como seu irmão e seus filhos ensinaram a viver.

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4. Produção e Comércio O que produz a família Dalla Vecchia? Numa economia de subsistência que produz o que consome e consome o que produz, muito pouco restava para o mercado. As trocas podiam acontecer entre os próprios imigrantes vizinhos: assim quando um colono carneasse uma rês ou um porco, os 5 ou 6 vizinhos mais próximos recebiam um naco de carne fresca como presente. Por sua vez receberia dos vizinhos o mesmo tratamento. Por isso, o abastecimento de carne fresca, quando ainda não existia geladeira, acontecia pelas mútuas doações. E a família produzia quase tudo o de que necessitasse. Dentre os produtos agrícolas podemos destacar: arroz, feijão, milho, pipoca, trigo, batata inglesa e batata doce, abóboras, melancias, melões, pepinos, cenouras, tomates, chuchus, centeio, favas, amoreiras (saudade da produção da seda na Itália), vimes ( para fazer balaios e cestos), uvas, figos, cítricos, bananas, maçãs, nozes, amendoins, ameixas, marmelos, cerejas, e muitos outros frutos próprios do RS. Alguns produziam café (especialmente nos lugares mais baixos, próximos aos vales do rio Taquari, onde não geava). Dentre os produtos de origem animal: Carnes, (frescas ou como charque) salames, copas (“ossacol”), presuntos, “pancetas”, morcilhas, banha, torresmos, 180


toucinhos. Do leite de vaca: queijos, requeijão ( “puina”), natas e mil quitutes. Da farinha do trigo: pães, massas (“agnolini”, “tagliadele”, “bigoli”, “gnocchi”, “grostoli”, “cappeletti”, “fregoloti”), doces, e comidas a milanesa. O amendoim, a pipoca, o aipim, a cana de açúcar com seu caldo (garapa) e os melados e açúcar mascavo, e pés de moleque (as delícias das noites de inverno) tudo era produzido pelo próprio colono.91 A erva mate, que crescia nativa e abundante, preparada em casa e secada em carijos era de excelente qualidade e os colonos, desde cedo, aprenderam dos gaúchos a utilizá-la como chá e como chimarrão. Os Dalla Vecchia sempre produziram feijão. Uma boa colheita resultava em pouco mais de 100 sacos: 90% para o comércio, e 10% para o consumo e para semente da próxima safra. O trigo com colheita previsível de cerca de 50 sacos era reservado em 50% para o consumo e 50% para o comércio. O milho que servia para o prato diário da polenta, para alimento dos animais especialmente dos porcos e galinhas, tinha pouco excedente para a venda. As aves (galinhas, perus, faisões, patos, marrecos, pombas, galinhas d‟Angola “faraona”) e os ovos, quando eram vendidos, cobriam os pequenos gastos diários de

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Zanotelli, pg. 115 181


sal, botões, linha, e temperos, alguns cadernos e lápis, e as “lousas” para a escola... Os suínos, no início eram todos utilizados para alimento: carnes, embutidos, banha. Depois que surgiram os frigoríficos (década de 1930...) um bom número de porcos era vendido, ficava sempre uma dúzia para o abate e utilização doméstica. Vacas e bois raramente eram vendidos. Eram entregues (um a cada seis meses) para o açougueiro que, abatia e vendia ou entregava a carne aos colonos. O animal entregue era devolvido em porções semanais. Assim o colono sempre tinha carne fresca sem despender dinheiro. Quando as cotas se esgotavam o colono entregava nova rês. Ovelhas e cabras eram raras nos potreiros dos Dalla Vecchia. O vinho e as frutas (muitas e variegadas, agregadas às frutas de origem européia), como bananas, ananás e abacaxis também não eram destinados ao comércio. O excedente perdia-se, doava-se... Queijos, salames, copas, banha... serão também vendidos, só bem entrado o século XX. Mais tarde, os Dalla Vecchia também diziam que o sucesso vem do comércio... e do moinho. Os Dalla Vecchia dedicaram-se ao comércio e tiveram sucesso como comerciantes. São testemunhas disso as cidades de Soledade, Encantado, Erechim, Ponte Serrada, Aratiba, o Oeste paranaense e hoje Rondônia e Mato Grosso... como também na Itália. 182


O moinho colonial, com mós de pedra, para moer o milho e o trigo era, para os colonos um lugar de contradição. O agricultor levava 60 quilos de trigo e esperava mais do que 45 quilos de farinha. O moinheiro entregava menos e, além do custo da moagem, regateava ficar com o farelo, a quirela... E assim como o colono sempre desconfiava da balança do vendeiro localizado no núcleo da comunidade (onde estava a capela, o cemitério, a escola, e um salão de festas), assim sempre deitava suspeitas sobre o moinheiro. E os Dalla Vecchia também estavam dos dois lados: como comerciantes e moinheiros e como colonos que se serviam do moinho e da venda. 5. Os Dalla Vecchia construíam suas residências. Na perspectiva estética dos Dalla Vecchia, com memórias guardadas do Vêneto, estavam presentes as montanhas, os vales, o receio das inundações que os rios Ádige e Pó não deixava apagar, os porões de pedra (la cantina) com abrigo fresco para o vinho, salames e queijos. O pé direito tanto dos porões como da casa era sempre alto (cerca de 4 metros). As casas de madeira sobre o porão de pedra (irregulares mas magistralmente alinhadas), geralmente com 2 edifícios, um reservado à cozinha e sala de jantar e o outro para sala de estar ampla para reuniões maiores e vários quartos (geralmente acima de 5), uns no primeiro e outros no segundo piso à beira 183


do telhado (su sora). Os telhados, em duas águas, permitiam janelas grandes nas extremidades altas. Entre os dois prédios, uma espaçosa varanda coberta e aberta, ao nível do primeiro piso, servia de entrada da casa e lugar comum de estar para as prosas familiares e as canções em noites de verão. Os corrimões que cercavam a varanda e a entrada da casa eram sustentados por colunetas (às vezes simples tábuas), adornadas com motivos artísticos, tanto quanto também as abas do telhado. As tábuas eram serradas manualmente: a tora de pinho (araucária brasiliensis), com 5,80 ms. de comprimento e com cerca de 0,80 ms. de diâmetro, era erguida sobre um pequeno estrado ou cavalete e, um homem embaixo, outro em cima da tora, puxavam a serra manual no melhor alinhamento possível. Daí a expressão: “serrar de cima” como privilégio e “serrar de baixo” como castigo ou sofrimento, uma vez que a serragem toda caía por cima deste último. Para os galpões, usavam-se também pranchas lascadas com cunhas, tendo em vista que o pinheiro é muito próprio para lascar. Do pinheiro também extraíam as telhas (candole), pequenas tábuas, primeiramente lascadas e em seguida alisadas com uma lâmina de aço puxada com as duas mãos. Muito embora a dificuldade de conseguir vidraças para as janelas, estas eram amplas, possibilitando arejamento, iluminação e visão do vale. As fechaduras? Taramelas (tramelas) de madeira tanto para janelas como para as portas sendo que as portas de saída tinham uma 184


pequena tranca interna que era erguida por fora por um cordão. Os móveis, poucos e rústicos (camas, assentos, armários, mesas, gamelas, bacias, etc.) eram feitos em casa, pelo próprio colono, sendo que os Dalla Vecchia eram exímios nisso, com madeira de pinho ou de lei (cedro, canela, imbuia, angico, louro, grápia etc.). Para se avaliar a capacidade de carpintaria dos Dalla Vecchia é muito significativo ver o altar-mor da Igreja de São Pedro de Encantado, elaborado artesanalmente por Pedro Dalla Vecchia no início do século XX.

6. Alimentação e Consumo A dieta diária dos Dalla Vecchia enriqueceu-se com o passar do tempo. À polenta, queijo, leite, massas, verduras acresceram-se carnes e embutidos, feijão, arroz e muitas frutas. Aos domingos a alimentação era mais variada. Às carnes de aves (galinhas, galinhas de Angola, pombas, faisões, perus, patos, marrecos, gansos, ) de ovinos, caprinos, suínos e vacum, agregavam-se sempre as saborosas carnes de caça ( veados, pacas, cotias, lebres, capivaras, antas, e aves como papagaios, pombas, tucanos, umbus, jacus, urus, etc. abundantes na região até 1940) e peixes. 185


À mesa comparecia diariamente a polenta, o pão (mais escassamente do que a polenta), o queijo, o salame, a sopa “minestra”, o arroz, o feijão, as carnes (“lessa”: cozida na água, ou “rostia”: frita), as saladas verdes (de radicci, rúculas, alfaces, cenouras, beterrabas, cebolas, tomates, repolhos) e couves, o vinho em abundância, um gole de “graspa” no café, e para sobremesa: frutas, doces, geléias...

Antônio Pretto Dalla Vecchia: salames secando acima do fogão a lenha. Atrás, a cuia do chimarrão.

O “brodo” (caldo de galinha velha) era pretexto para reuniões à noite entre amigos e vizinhos (filó), bem 186


como para surpresas de aniversário. Os aniversários festejados eram dos adultos. Para as crianças não era costume fazer festa de aniversário. Nas festas de “sagra”, em honra do padroeiro da capela, havia galinhas, churrascos, cucas, bolachas, vinhos, doces... Bebidas? Vinhos, graspa, gasosas, licores... 7. Poupança Trabalhar e poupar: capitalizar. - “Como vais? - „Manco male‟, respondia o outro colono, ao ser saudado. Nunca dizia que estava bem. Era falta de modéstia, jactância. Contar o sucesso de produção, disfarçando e desprezando o muito com “pouco e miséria” era melhor. Dizer que vai bem é arrogância, prepotência...dizer que vai mais ou menos, ou menos mal era, sem dúvida, uma forma arrogante sob a capa da humildade... E poupar. Poupar sempre, poupar tudo. Esbanjar era sempre pecado. Com a pele e a lembrança curtidas pelas ansiedades que a doença trazia, pela fome e pela pelagra que varria a Itália dos emigrantes, era necessário poupar, prevenir, assegurar o futuro. “Chi sparagna vede la cucagna” (quem poupa verá a abundância). Por outro lado a quem exagerasse no poupar, acumulando riquezas e desprezando os outros, não faltava o lembrete: “chi 187


sparagna, gata magna” (o rato roi a roupa de quem muito poupa). Poupar para os momentos difíceis (doenças, carestias, velhice). Poupar para comprar novas terras. Poupar para capitalizar. A riqueza vem do trabalho. E o que fazer com a poupança? Guardar em casa, embaixo do colchão. Emprestar a juros. Depositar no banco (especialmente no Banco Pelotense) que prometia juros e vantagens. E com a falência do Banco Pelotense, esfumaram-se as poupanças de muitos colonos. É interessante perceber que a ética protestante como espírito do capitalismo de que nos fala Max Weber, vinha confusamente no espírito dos imigrantes italianos e especificamente dos Dalla Vecchia. Com efeito, a industrialização e as instituições do capitalismo liberal marcavam a Europa, maximamente Inglaterra, Alemanha, França e o norte da Itália (Milão, Turim). As estradas de ferro rasgavam a Itália de norte a sul, de leste a oeste e a inseriam na Europa. Por isso a mentalidade de poupar, de acumular, de capitalizar não apenas para fazer frente às dificuldades futuras, mas para ter sucesso e mostrar que era abençoado por Deus. O sucesso e a bênção como sinal da pre-destinação de Deus para a Salvação não eram tão evidentes.

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8. Organização social 8.1- Família A família Dalla Vecchia, a exemplo de quase todos os imigrantes, especialmente dos italianos, era extensa. Não era apenas uma família nuclear (pais e filhos), mas ampla, abrangendo parentes consangüíneos e afins e de mais de uma geração. Os parentes sempre se sentiram ligados entre si. Por vezes bastava o sobrenome para que as pessoas se sentissem ligadas e até íntimas em poucas e rápidas relações. Isto se explica pelas próprias condições da imigração: fortalecer o grupo de pertença para fazer frente ao desconhecido e até hostil. O parentesco como vinculação social marcou os Dalla Vecchia tanto na Europa quanto mais no Brasil. A família extensa funcionava como corporação de trabalho, como organização política, como sistema moralizante e fiscalizador dos padrões de conduta social. O parentesco, a monogamia acima de qualquer suspeita, a inadmissibilidade do divórcio e mesmo da separação de casados, e muito menos ainda a permissão de novas ligações matrimoniais (tidas sempre como adúlteras), a repressão sexual que levava a maioria absoluta dos jovens a casarem virgens e ingênuos (tanto homens como mulheres), a impensabilidade do aborto (e até do controle da natalidade), a subordinação da mulher ao marido nos negócios e questões sociais, - muito 189


embora ela tivesse algum espaço de independência no manejo da casa -, a subordinação dos filhos (mesmo casados) aos pais e, a reverência quase religiosa aos mais velhos, eram tantos outros padrões familiares de conduta que marcavam os Dalla Vecchia. Muito embora os namoros surgissem, furtiva e espontaneamente, nas festas e liturgias da capela, ou nos serões (filós) e mutirões, o noivado (o noivado sempre antecedia o casamento) deveria ter a aprovação dos pais (quando não da família extensa)92. O pai do futuro noivo, ia até a casa da futura noiva e formulava o pedido oficial. Depois de saberem que os namorados “se queriam bem” (i se vol ben), e todos sabiam previamente disso, mas fingiam não saber, tornava-se público o assentimento dos pais. Começava, então, para os agora noivos, a preparação para o casamento. A moça preparava o enxoval: roupas e louças. O rapaz providenciava a casa (às vezes na própria terra dos pais), uma junta de bois, uma vaca, um cavalo, ferramentas mínimas, e um traje apropriado para o casamento. Mesmo depois de noivos, embora estes tivessem mais liberdade, não eram aceitas intimidades, como beijar-se em público e muito menos toques e carícias sensuais. 92

Dentre os critérios utilizados para o consentimento ao noivado poderíamos enumerar: ser católico praticante; não ter antecedentes morais negativos; ser de origem italiana; não ser negro, bugre, mulato...; acenar com bens suficientes (ser proprietário)... A convivência mudará aos poucos esses critérios. Hoje, pode-se dizer que eles inexistem. O homossexualismo era inadmissível. 190


O casamento era uma festa não só da família mas de toda a comunidade. Ao rito religioso (que tinha validade civil93), seguia-se o almoço mais variegado e suculento possível (era questão de demonstração de status), com música, canções, brincadeiras picarescas, até o final da tarde quando os noivos sumiam para seu novo lar. A falta de informação e a inexperiência sexual geravam, então, os quadros mais cômicos se não fossem quase trágicos e que só bem mais tarde os homens e mulheres repartiam a seus pares com hilaridade. A sensualidade e o prazer eram reservados para o homem, quando aconteciam, e eram sempre vistos como luxúria, quase pecado. Impensáveis para a mulher. A mulher tolerava (poucas aceitavam prazerosamente) o ato sexual como meio para a procriação. E esta sempre era difícil e trabalhosa. Muitas mulheres confessavam, já velhas e até viúvas, que nunca tinham experimentado um orgasmo, muito embora tivessem mais de dez filhos. Mas a convivência do casal, se não podia ser completa, sempre era prazerosa. E aqueles agricultores, nos parâmetros ditados pela religião do Estado de Cristandade, contentavam-se com essas alegrias como se fossem naturais. 93

No Brasil, assim como era definido no Estado de Cristandade, o casamento religioso tinha validade civil, assim como seu registro (e o de nascimento e óbito) que era feito sempre nos livros da Igreja. A separação do casamento religioso do casamento civil só aconteceu com o advento da República (1891) mas o registro civil só aconteceu em 1916. Assim, para encontrar registro dos Dalla Vecchia, antes desta data, deve-se recorrer aos registros religiosos recolhidos à Secretaria das dioceses respectivas. 191


Infidelidade? Nem pensar. E, afora raríssimas e deploradas exceções, o casal levava à risca o compromisso que anunciara no altar: “até que a morte nos separe”. Assim, mesmo em condições quase desumanas de convivência e de tolerância, o casal mantinha o casamento até o fim da vida. Por outro lado, mostrava que, mesmo acima do prazer e até contra o prazer, era preciso ser homem, cristão, fiel e passar esse exemplo aos filhos e netos. O Estado de Cristandade, com o dualismo anticristão de sofrimento contra o prazer, só será superado, aos poucos quando o Concílio Vaticano II (1962-1965), exigir uma renovação da vida cristã buscando nas raízes do amor, da comunidade, da justiça e da alegria a fonte do viver. Família numerosa: não só pela alta taxa de natalidade como pela baixa taxa de mortalidade infantil em confronto com as altíssimas taxas de mortalidade experimentadas por eles na Itália, incluindo o Vêneto. Lá a situação difícil para a família era causada por falta de alimentação adequada (cf. a pelagra...), por péssimas condições de moradia e de higiene. Sirva de exemplo o número de filhos das primeiras famílias originadas de Ângelo Dalla Vecchia, filho de Beniamino. Sabemos que Beniamino teve 3 filhos na Itália. Ele próprio e uma filha (Catarina) faleceram na viagem. Seus dois filhos remanescentes, Pedro e Ângelo, tiveram respectivamente 15 e 21 filhos. Estes, por sua vez tiveram, em média, mais de 10 filhos. 192


A necessidade de braços para trabalhar a terra, o isolamento dos grupos de imigrantes dentro de um país que, em tudo, lhes era estranho embora acolhedor, fez com que a família Dalla Vecchia vivesse (e para isso fosse incentivada pela comunidade religiosa e pelo clero) à mística dos muitos filhos, à mística de ter todos os filhos que Deus quisesse lhes dar, de a mulher passar bem mais de 10 anos da vida grávida, e de trabalhar de sol a sol nestas condições e com filhos pequenos a cuidar. Porque numerosa e extensa, a família era incentivada a ser também solidária. Em primeiro lugar, os filhos aprendiam a repartir tudo o que havia sem reclamar: os sapatos, as roupas, os livros, dos mais velhos passavam para os mais jovens tão logo lhes deixassem de servir. Os irmãos mais velhos (às vezes com 7 ou 8 anos) encarregavam-se de cuidar dos menores enquanto os pais trabalhavam na lavoura. A solidariedade de todos para com os doentes (que gozavam da prioridade dos poucos recursos disponíveis) levava a todos ao exercício muito freqüente da renúncia, do sacrifício, da poupança, da frugalidade até como ascese religiosa cristã. Por outro lado, na grande família extensa Dalla Vecchia, o auxílio mútuo, os empréstimos, os socorros, as festas de aniversários, casamentos congraçaram sempre seus membros que aprenderam a traduzir o espírito de comunidade cristã em forma de solidariedade familiar e de parentesco.

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Algumas vezes, porém, essa solidariedade foi usada para alguns trapacearem os outros, tendo em vista o alto grau de mútua confiabilidade (porque eram parentes) e pela informalidade das transações daí decorrentes. A família Dalla Vecchia era profundamente religiosa. Toda a atividade se desenvolvia em torno da oração e da Igreja. Uma família que canta: canta para cantar, canta para rezar, canta para sepultar, canta para trabalhar, canta para descansar, canta para tudo... Qualquer pretexto para reunir é um pretexto para cantar. E as canções sempre polifônicas cuidando mais da harmonia do que do compasso. E, além de todos cantarem, homens e mulheres nos rituais litúrgicos das missas e dos terços, com as ladainhas em latim a ecoar pelas montanhas, havia os corais afinados para as missas cantadas. Com partituras, com regência severa e uma baqueta batendo o compasso na estante. Pedro Dalla Vecchia não só regia o coral em Encantado, como também escrevia as partituras para o conjunto.

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Livro de missa cantada copiada e composta por Pedro Dalla Vecchia

E os ensaios davam às noites enluaradas um caráter sagrado e quase místico que fazia bem à alma e à esperança daqueles lavradores. Eles eram os professores, e todos os jovens e adultos, em princípio eram candidatos ao coral da Igreja. À noite, logo antes ou depois da janta e do terço, cada família era um coral na varanda a entoar canções do folclore italiano. E as canções com várias estrofes traziam sempre como estribilho (“ritornello”) e pano de fundo: as montanhas, o namoro, o amor, a guerra, o mar, a dor, a religiosidade, o congraçamento que se faz harmonia afinada bem pertinho do ouvido do outro.(cf. Zanotelli, a Saga de um Imigrante Trentino).

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O primeiro canto da missa a três vozes copiada por Pedro Dalla Vecchia

8.2 Relações sociais. As relações sociais da família Dalla Vecchia eram marcadas pelo patriarcalismo e pela dinâmica do Estado de Cristandade. Na hierarquia social encimada pelo clero ao qual tudo obedecia, o patriarca familiar (proprietário e pai de numerosos filhos) detinha o status mais evidente. Muitos resquícios do feudalismo e da servidão podiam 196


ser encontrados nas relações familiares, de vizinhança, de comunidade etc. As relações sociais intra-familiares eram marcadas pelos laços do familismo: porque eram muitos os irmãos, sempre havia um irmão ou irmã que era o confidente, o mais íntimo, e isto dava um sabor de ternura às relações fraternas. Mesmo que houvesse rixa com um ou mais irmãos, haveria outro que ouviria, que amparava, que animava. O mesmo se diga dos grupos de adolescentes e jovens (quase gangues) dos primos contra outras famílias. Se, com os pais e mais velhos, aprendia-se a severidade da hierarquia (os pais não beijavam nem acariciavam os filhos...a exigência de disciplina era o melhor carinho) com os irmãos exercia-se a igualdade. O centro de convivência e de relacionamento social mais claro era constituído pela capela (numa encruzilhada ou no meio de uma linha em terras de um colono que, cedendo-as, também tinha interesse de valorizar suas terras) ao redor da qual estavam: um salão comunitário que, muitas vezes, servia como escola; um cemitério dentro do qual não se enterravam suicidas ou não católicos); uma “bodega” (pequena casa comercial de “secos e molhados”); nunca poderia faltar sob pena de “lesa traição à tradição” uma cancha de bochas e mesas para o jogo de mora e de quatrilho. Na hora do ato litúrgico, fechavam-se as casas e os jogos e todos, invariavelmente todos, iam ao terço ou à missa. 197


Aos domingos, por ocasião do rito religioso, ou nas visitas familiares, as mulheres reuniam-se com as mulheres, os homens adultos entre si, as crianças e os jovens ficavam mais a vontade. De quando em quando, longe das capelas, surgia, por iniciativa de um colono ou de um grupo de vizinhos, um “capitel”: pequena capela dedicada a um santo de devoção especial e para pagar promessas. Esses oratórios, às vezes, na festa do santo, reuniam um bom número de fiéis. O mesmo se diga de inúmeras “grutas” que se transformavam em capitéis. E a festa na gruta era sempre memorável. As relações difusas de servidão aparecem na subordinação da mulher ao homem, no tratamento dado aos raros empregados e especialmente às empregadas domésticas (a quem se dava o nome de “serva”). Os remanescentes descendentes de índios, os descendentes de escravos (a quem a lei não permitia adquirir terras de colonização) e que trabalhavam como diaristas por um prato de comida e algum trocado, eram discriminados como inferiores. Aos poucos, o termo brasiliano, para designar os que não eram imigrantes europeus recentes (italianos, alemães, poloneses...), passou a ser depreciativo e quase sinônimo de: preguiçoso, indolente, esbanjador, não proprietário, quase ou como escravo, supersticioso, não confiável, 198


mulherengo, pouco afeito ao trabalho e sem perspectivas de futuro melhor. Quanto mais pobre, e na lógica crescente do capitalismo, mais discriminado e excluído. E o sucesso econômico (a inclusão social também) era atribuído ao trabalho, ao esforço pessoal sem olhar as condições do modo de produção em que estavam os colonos inseridos. Os Dalla Vecchia, como imigrantes italianos, tinham, portanto, uma visão etnocêntrica e quase racista marcada pela situação da Itália e pela escravidão no Brasil: A Itália vivia em beligerância com os negros da África especialmente Abissínia..; os imigrantes vieram para substituir a mão de obra escrava, porque mais qualificados que os escravos... Os preconceitos de lá e de cá não deixaram de afetar sua cultura... Os Dalla Vecchia nunca conceberiam que um filho ou filha casasse com um negro ou mulato, aos quais eles associavam os brasileiros (“brasiliani”) como também não conceberiam, até bem passado 1950, que um Dalla Vecchia casasse com uma alemã (os alemães eram preponderantemente protestantes...). Embora tudo isso, porém, os negros conviveram bem com os Dalla Vecchia: trabalhavam como assalariados para os Dalla Vecchia, tomavam as refeições à mesa como todos os familiares; eram ajudados com donativos, no exercício da caridade e da piedade. A discriminação racial e religiosa, era para os primeiros 199


Dalla Vecchia no Brasil, um fator de manutenção da auto-estima e da identidade. Hoje, a integração social, a miscigenação, a tolerância mudaram estes pre-conceitos, muito embora permaneçam como brasas debaixo das cinzas, no riso zombeteiro dos mais velhos. As relações sociais de vizinhança eram guardadas com muito cuidado, considerando a necessidade que cada vizinho tinha do outro. Um atrito de vizinhos era o menos recomendável. As trocas de pequenos presentes (uma costela de porco por ocasião do abate, frutas excepcionais...especialmente queijos e ovos às mulheres quando davam à luz uma criança) reforçavam os laços. O trabalho conjunto na abertura e conservação das estradas também. Os maiores atritos derivavam quase sempre dos prejuízos causados por animais que fugiam do cercado e das traquinagens das crianças e jovens.

9. Organização Política e ideologia 9.1 O poder - Estrutura - formas - ritos e símbolos – encenações. Dentro de um sistema quase feudal (o feudalismo só findou no Norte da Itália em 184894), com as terras em 94

Cf. Zanotelli, a saga... pg 19 ss. 200


mãos de poucos senhores (alguns deles bispos), a submissão ao poder se mostrava antes de mais nada pela religião. O poder emana da religião. “Deus é o dono do mundo, o papa é o representante de Deus na terra e os bispos e sacerdotes representam o papa”...era o argumento definitório do Estado de Cristandade95. E a religião católica, na senda da teologia medieval que era inspirada na visão indo-européia de Platão, insistia equivocadamente em dizer que Deus criou os homens em 3 categorias: uns para trabalhar, outros para comandar e guerrear e outros para rezar. Cada homem teria assim uma vocação dada pela natureza que Deus criou em cada um: assim uns são “chamados”, têm vocação para o sacerdócio, outros para governar e outros para trabalhar. A obediência a essas vocações geraria a justiça e a paz. Haveria, assim, três estamentos, quase castas, com superposição e subordinação clara. Entre os imigrantes italianos o status mais elevado era do clero e dos religiosos. Depois vinha o status do político e dos pais. Por fim o status de trabalhador, com mais consideração ao artesão do que ao colono lavrador. O poder tinha, então, hierarquia e, assim, era exercido. O controle social mais forte era exercido pela Igreja . O que o padre dizia era sagrado e absoluto. 96

95

Cf. o Estado de Cristandade in Zanotelli a Saga de um Imigrante Trentino. O Estado de Cristandade centrado no Estado, através do Padroado, para os Dalla Vecchia, conflitava com a idéia de centralização da Igreja e da Religião na pessoa do Papa e da Hierarquia. A Romanização da Igreja brasileira acontecia desde o Concílio Vaticano I, de 1859... No Brasil esta romanização gerou conflitos como a Questão Religiosa de 1872, quando dois bispos foram presos e obrigados a trabalhos forçados pelo Império Brasileiro. 201 96


Deveria ser seguido e obedecido sem discussão. Afinal de contas ele era entendido nas leis de Deus e da Igreja e a elas tudo estava subordinado. Essas leis não eram a expressão de convenções humanas mas refletiam a própria natureza das coisas. A fé era o modo mais profundo e absoluto do conhecimento. Obedecer aos mandamentos de Deus e da Igreja (sempre decorados no catecismo) fazia com que todas as coisas estivessem no seu devido lugar. Havia, assim, um controle de quem ia ou não ia à missa ou à reza do terço na capela, aos domingos e dias santificados, (quem não fosse era “comunista”); a confissão auricular assídua e a comunhão não apenas uma vez por ano... o batismo imediatamente logo após o nascimento, o casamento entre noivos virgens, em tudo vigorava o poder e o controle hierarquizado. A prática dos ritos e a manutenção dos mitos misturados com teologia97 reforçavam o poder dos ministros religiosos (verdadeiros “intelectuais orgânicos” dos imigrantes italianos). As armas da “excomunhão”, da “interdição” e da “Inquisição” embora vistas como longínquas e quase inaplicáveis, permaneciam, no entanto, sempre no horizonte da possibilidade do controle da conduta individual e social, e da ameaça verbal. 97

Muitas explicações eram atribuídas à Bíblia ou à história de Cristo, sem fundamento nenhum na realidade. Assim para explicar o racismo dizia-se: “quando Deus andava na terra...e fugiu para a África...os negros não o acataram...foram amaldiçoados”. O mesmo se dizia para explicar porque o quero-quero não pousa em árvores etc... 202


A maldição, porém, era uma ameaça concreta e sempre possível, tanto ( e sempre pior ) quando provinha do padre, como quando provinha dos pais que, em casa, conduziam e controlavam a conduta ( “a bachetta”). O filho amaldiçoado pelos pais (especialmente pelo pai) ou pelo padre, estava perdido. Não teria mais sossêgo nem esperança possível. Por isso a maldição, dizia-se, era reservada aos quase endemoninhados. A religião, introjetada ideologicamente, realizava o controle dos desejos, sentimentos e emoções (sempre vistos como perversos, como maus, como demoníacos) e exaltava a ascese corporal, do sofrimento como mística, como santificação. O fato de que muitas mulheres (mais mulheres do que homens), entre os Dalla Vecchia, buscaram o caminho da vida religiosa e fugiram do casamento, indica que o casamento era para elas um “perigo” de salvação, e isso por dois motivos: pelo prazer do sexo, visto como tentação e pelo acúmulo de trabalhos que o casamento trazia para todos, especialmente para a mulher. Distraídos, dispersos nos trabalhos “do mundo”, os casados não tinham tempo para se dedicar à alma e à salvação. E, para que se vive neste mundo, senão para salvar a alma? O celibato era decantado como o ideal de vida para todos. “Infelizmente, nem todos são capazes de viver celibatariamente”, dizia-se. E então, “é melhor casar-se do que abrasar-se”. Este ideal celibatário ocupava o mundo simbólico de muito jovem que adotava maneirismos de fuga ao feminino, confundido às vezes com comportamentos 203


efeminados ou homossexuais, encobrindo um vulcão de sexualidade não expressa. Mesmo a maior virilidade e saúde hormonal masculina era sempre mantida nos limites precisos demarcados pela religião e pela fé. Pelo que se sabe poucos deveriam ser os casos de masturbação, de relações sexuais antes e fora do casamento, e menos ainda contatos com animais. Esse controle quase heróico tinha como suporte a religião, a moral sempre lembrada pelos pais e pelos padres, a participação efetiva nas congregações e movimentos religiosos...Quando eram poucos os padres, quando apenas funcionava o padre leigo, as coisas deveriam ser mais difíceis... A religião do Estado de Cristandade permeava, orientava, fundava e controlava a vida dos Dalla Vecchia sempre e em toda parte. O tempo, o espaço, a vida, a morte, tudo era embebido no sentido religioso da Cristandade. Os símbolos do poder estavam por toda parte: O pai que pouco falava, (o silêncio é um símbolo), sentado à cabeceira da mesa e servido em primeiro lugar; a mulher servindo a todos e cuidando da cozinha e da casa; o cinto dependurado à parede (como instrumento para bater e castigar); os negócios realizados só pelo marido (mulher não se mete em negócios), embora à noite o casal dialogasse sobre os negócios, pois negócio é coisa de homens e entre os homens; o marido controla o dinheiro, os filhos pouco dinheiro vêem, as filhas menos ainda; a razão sempre está com os pais e especialmente com o pai; os pais decidem o casamento dos filhos; a blasfêmia (embora poucos Dalla Vecchia a empregassem) só proferidas por homens, eram 204


demonstração de insubordinação, de autonomia frente aos padres e às normas religiosas vistas ou vividas como normas políticas. Dentre os símbolos mais evidentes do poder estão a capela ( a melhor casa da comunidade, com um potente sino que lembra, define, marca impecavelmente as horas de rezar e trabalhar); o latim como língua dos cultos, e tanto mais importante quanto mais incompreensível; e ser associado à diretoria da igreja (fabriqueiro, festeiro, “padre leigo” puxador de terço, dos cantos e litânias polifônicas, dos sepultamentos com ritual em latim e cantado) ou ter um padre ou uma freira na família... Era o mesmo que guindar a família ao topo da hierarquia social. Um pouco dessa posição passava para quem estudasse no convento ou seminário para padre ou freira. Era uma clara forma de ascensão social. Era uma coisa lícita, querida por todos e a melhor de todas. Mas era preciso ter vocação...

9.2- O poder político Por formação religiosa (dentro do Estado de Cristandade onde Política e Religião se vinculavam), e por experiência política de seus antepassados, os Dalla Vecchia zelavam por uma proximidade aos centros de poder. Uma lembrança de aristocracia e nobreza marcava suas atitudes políticas. Assim, foi determinante para sua decisão de emigrar para o Brasil e não para a Argentina 205


(uma oportunidade que lhes era concreta), o fato de que o Brasil era um império e a Argentina república. Como dissemos, acima, os Dalla Vecchia pertenciam à lista dos nobres de Vicenza, muito embora a pobreza em que viviam os emigrantes. Uma república? Era o espaço do popular (visto com certo desprezo porque não tinham nome nem berço), dos liberais (inimigos da hierarquia da Igreja a quem os Dalla Vecchia eram fiéis), dos grupos clandestinos (maçônicos e carbonários que se diziam livres pensadores e até ateus). Uma república não representava o país que os Dalla Vecchia buscavam para sua família e sua fé. O Brasil era o único país que não era República na América Latina. Os Dalla Vecchia o preferiram. Essa lembrança da proximidade do poder não se esvaiu na vida e na organização social dos Dalla Vecchia. Pode-se dizer que, em política, em geral, os Dalla Vecchia eram conservadores, zelosos da ordem e da autoridade. Tendo o vigário como intelectual orgânico e mediador, os Dalla Vecchia tinham proximidade com o delegado, o prefeito, com a diretoria da Igreja (eram fabriqueiros tanto em Jacarezinho como em Encantado). Com o advento da República, com a experiência das atrocidades das revoluções das degolas (1893 e 1923), o confisco de seus cavalos e de suas vacas, fez com que, como a maioria dos imigrantes italianos da Serra e dos vales de Encantado, os Dalla Vecchia pendessem para a admiração e o comando de Getúlio Vargas. A maioria dos Dalla Vecchia passaram a ser getulistas e, mais tarde, alguns até brizolistas. Mas, os 206


partidos conservadores sempre encontraram nos Dalla Vecchia seu apoio. Quando o Comunismo apontou no horizonte da história européia (1917), o clero orientou os imigrantes para um anti-comunismo radical. “Comunista” passou a ser epíteto atribuído a todos os rebeldes, descontentes, anti-clericais, blasfemos... Como dissemos, não ir à missa era ser comunista. Ter qualquer deslize sexual, ou não pagar suas dívidas era ser comunista. O comunismo era pintado como o terror.Depois da década de 1970, a exigência de dignidade e respeito, de justiça, levou os jovens Dalla Vecchia, muitos já empobrecidos e uns poucos com sucesso empresarial, a oferecer quadros para movimentos sociais de esquerda: PT, MST, à semelhança do conservadorismo de Trento na Itália que gerou as brigadas vermelhas na década de 1970. Se os avós eram conservadores, os pais conservadores-liberais, os filhos, em grande número, serão de tendência socialista, até como exigência de justiça da fé cristã.

10. Organização cultural 10.1 Educação informal A educação informal era a conformação aos princípios da moral e da religião e visava formar um homem bom, honesto, trabalhador, paciente e religioso. 207


Esses eram os elogios para o homem exemplar e que eram proferidos especialmente nos elogios fúnebres. O que se aprendia? O que se ensinava? O menino aprendia antes de mais nada a “respeitar” os mais velhos, a ouvir tudo o que eles tinham a dizer, a não “responder”, isto é, a não se rebelar. Os pais imigrantes italianos costumavam bater em seus filhos, como extrema exigência de disciplina. Os Dalla Vecchia, porém, tinham, por tradição, não bater nos filhos, pelo menos, não eram violentos no bater e castigar. As mães eram mais moderadas, davam palmadas, puxões de orelha, repreensões e pouco mais, ameaçando sempre, em casos extremos, com a autoridade do pai. Ter a mãe como aliada, que nada revelasse ao pai das traquinagens cometidas, era de importância vital... E quando os meninos disparavam para não apanhar, a mãe lembrava: “te arriverai sul fil della polenta” (voltarás certamente na hora do jantar). Impressiona o testemunho de que naqueles tempos muitas famílias percebiam que era mais eficiente pedir do que mandar. Lembro de minha avó Francisca, esposa de Antônio, que educou seus 12 filhos sem nunca ter batido, nem mandado. Um pedido dela era irresistível tanto para os filhos como para os netos. Dizia: por favor, busca um balde de água (Da bravo, va torme una secia d´ácqua” 98 Os meninos aprendiam cedo as lidas com os bois, com o arado, com a carroça, com buscar lenha e água, 98

Lembranças de Jandir João Dalla Vecchia Zanotelli, autor majoritário do texto. 208


com buscar vinho e salames no porão, com os trabalhos mais pesados e em circunstâncias mais difíceis ( chuva, frio...). As meninas aprendiam a varrer e arrumar a casa, lavar a louça, a fazer todo tipo de comidas e temperos, a conhecer todas as ervas e suas valias, a tirar leite das vacas, a cuidar dos pintos e galinhas, a cuidar dos irmãos em casa, a lavar a roupa, a remendar, a trançar palhas para fazer chapéus e cestos (drezze), a recatar-se e silenciar por trás dos homens (pai e irmãos...). Na hora do trabalho da lavoura, não havia distinção de sexo... a dureza era para todos... E no meio do trabalho, as crianças se “perdiam” brincando... não havia outro espaço para brincar. Aprendia-se a viver vivendo. Os hábitos de vestir, muito embora a precariedade da situação, mantiveram sempre um ar senhoril, como se pode ver nas fotografias (gravatas, relógios, paletós, vestidos rendados...) Pode-se dizer o mesmo dos mínimos hábitos de higiene, de alimentação, de acolhimento às visitas. Sua visão de mundo se expressa também nas artes que cultivavam: de marcenaria, carpintaria, música, com seus corais, suas bandas. 10.2 - Educação formal “A escola é para meninos e não para meninas. Elas não necessitam de escola” ( dizia Antônio Vicenzi Dalla 209


Vecchia quando Ana e Maria queriam estudar). As mulheres, como donas de casa não necessitavam saber ler e escrever. Elas retrucavam que para ler os livros sagrados, os livros de reza e o catecismo era preciso saber ler, escrever e contar... A educação escolar visava ao principal: negócios e religião. Geralmente a escola ensinava a ler, escrever e contar e não passava do Terceiro Livro (três anos escolares). Entre os Dalla Vecchia, como entre todos os imigrantes italianos, a necessidade de aprender a ler não era tanta como entre os alemães (protestantes) para quem ler a Bíblia (para homens e mulheres) era de vital importância religiosa, social e até política. Uma “lousa” de pedra (miniatura de quadro negro emoldurado em madeira) era o lugar dos exercícios, escritos com uma caneta de pedra. Fazer o exercício, apresentar para a professora (alguma menina mais atilada da comunidade) e apagar (com um paninho e água “ou cuspe mesmo”, como diriam os meninos travessos) para novos exercícios e para levar o dever a ser feito em casa. A professora tinha, por autorização explícita e renovada dos pais, a autoridade suprema para ensinar, corrigir, castigar. E se os pais soubessem que o filho foi castigado, era o mesmo castigado de novo em casa, e sem perguntar o motivo. Muito embora, toda a encenação de autoridade, os meninos e meninas sabiam como negociar seus segredos, suas conivências, sempre lembradas na fase adulta. 210


11. Religião - moral e ética - desejos e ascese A religião católica, presente em tudo e sempre, foi o elo de ligação para todas as relações sociais (as econômicas, as políticas, as culturais, as recreativas, e principalmente familiares), cimentando os valores, as esperanças, os limites e vedações, ritualizando os símbolos e significações. Encontraremos os Dalla Vecchia sempre envolvidos com atividades e preocupações religiosas. Católicos fervorosos, achavam uma festa madrugar aos domingos para percorrer quase dez quilômetros a pé para freqüentar a missa na matriz de Encantado. Fabriqueiros da Igreja de Encantado, promotores da capela de Na. Sra. Auxiliadora de Jacarezinho, puxadores das preces e cantos religiosos, sacerdotes e freiras e irmãos religiosos, os Dalla Vecchia, faziam da religião católica sua definição e seu rumo. Devotos de Santo Antônio (de Pádova), de São Roque, do Sagrado Coração de Jesus e de Maria, com a Santa Ceia acima da mesa grande das refeições que sempre eram precedidas por orações do anúncio do Senhor a Maria (“Angelus domini nuntiavit Mariae”), os Dalla Vecchia jamais deixavam passar uma noite sem que, após a janta, o pai puxasse o rosário respondido sonolentamente em suas Ave Marias e Pai Nossos, por 211


todos os membros da família ajoelhados no chão e escorados no assento das cadeiras. Depois vinham as ladainhas (às vezes cantadas em coral) de Nossa Senhora, depois, orações pelos mortos, pelos doentes, ou pela chuva que demorava a cair. Vinham depois (às vezes individualmente ao pé da cama) os “Atos de fé, de Esperança e de Caridade”, os Salmos, o “Santo Anjo do Senhor, meu zelozo guardador...” e o pedido para que Deus concedesse a graça de uma boa morte, antecedida por uma boa “Confissão e Comunhão”. Ao clarear do dia, ao meio dia e ao escurecer o sino da capela com três batidas repetidas três vezes e repicando solto depois lembrava a todos a hora da oração da manhã, do almoço e do anoitecer: a hora da Ave Maria. O falecimento era também anunciado pelo sino, assim como o convite para as cerimônias religiosas dominicais. A voz do sino, - o melhor possível para marcar o status de uma comunidade -, era a voz que todos entendiam, que se fez familiar e íntima como se fosse a voz da consciência. Para os meninos, geralmente quem morasse mais próximo à capela, era uma honra tocar o sino, ao mesmo tempo que ocasião das maiores cabriolices, subindo e descendo dependurados nas cordas. O cemitério, ao lado da igreja, era o “campo santo”, a terra abençoada para onde iriam os restos mortais dos fiéis católicos. Quem não fosse batizado, crente ou católico e especialmente os suicidas, tinham lugar próprio fora dos muros do cemitério. 212


Domingo de manhã, um pouco antes do almoço, as crianças reunidas (e eram sempre muitas) decoravam o catecismo que era tomado como lição na capela ou aos sábados à tarde ou no domingo antes da liturgia. As celebrações da Paixão e Morte de Cristo, na Semana Santa eram marcantes: penitências, silêncio absoluto na Sexta Feira, jejum e abstinência de carne durante toda a Quaresma, cinza na fronte na Quarta Feira de Cinzas, culminando com a procissão do beija pé de Cristo morto. E todos cumpriam rigorosamente o preceito de se confessar e comungar pela Páscoa da Ressurreição. Na Igreja, duas carreiras de genuflexórios e assentos, um para os homens (lado direito) e outro para as mulheres (lado esquerdo), estabelecendo uma barreira geográfica para cada sexo. As mulheres de cabeça coberta por um véu preto, vestido longo, mangas até os punhos, sem decote, era sinal de recato e submissão ao homem e à religião. Os homens de cabeça descoberta simbolizando o poder masculino e a autoridade. Na igreja imperava o silêncio total: era o lugar da oração Ao redor do pescoço, o escapulário de pano com a efígie de Na. Sra. para que ela se lembrasse do fiel na hora da morte. No bolso dentro de uma pequena cápsula de metal, uma relíquia ou a imagem de Santo Antônio. E a oração do “Si quaeris miracula” para Santo Antônio fazia com que se encontrassem as coisas perdidas. Assim, orações, corais, missais e livros religiosos, lugares e tempos marcados pelo sagrado, comemorações e nomes, proibições e permissões, tudo se liga pela religião. A arte 213


e a religião, a educação e a religião, a política e a religião tudo é unificado. Aos poucos e em tudo a religião vai integrando o céu e a terra, a vida e a morte, a alegria e a tristeza, transformando a vida numa totalidade de sentido. Se um dos motivos fundamentais para deixarem a pátria Itália e se aventurarem nas condições difíceis que as colônias do Brasil ofereciam, era a de salvar a família e os valores religiosos postos em perigo pelo liberalismo e industrialização, aqui, os Dalla Vecchia fizeram da religião seu refúgio e a garantia de sua sobrevivência. Diante do desconhecido e difícil, a união comunitária e familiar, embalada na religiosidade, era uma exigência. A absoluta falta de clero para ministrar os sacramentos e a orientação religiosa, era suprida com o “padre leigo”, escolhido pelos colonos entre os que tinham melhor nível de escolarização e de liderança moral. Os Dalla Vecchia, a começar por Pedro e Ângelo sempre estiveram ligados a essas funções. Ângelo foi um dos primeiros fabriqueiros da Igreja de Encantado, Pedro produziu o altar da mesma igreja, ambos fundaram a capela de N. Sra. Auxiliadora com os outros colonos. Dentre os Dalla Vecchia oriundos de Ângelo e Pedro contam-se numerosos (dezenas) sacerdotes e religiosos, seminaristas e juvenistas, tudo indicando que o padre representa para eles, como para toda a colonização italiana do RS, o “intelectual orgânico” dos imigrantes. 214


É interessante considerar que, entre os Dalla Vecchia, bem como entre os imigrantes das colônias de Garibaldi, Encantado, Caxias, Farroupilha e toda a vasta área de colonização italiana posterior a 1875, não existem liberais, maçons, positivistas, em número expressivo. Alguns anarquistas, mais garibaldinos e mazzinianos que anarquistas, não chegam a marcar significativamente a visão de mundo desses colonos. Lembremos que os Dalla Vecchia resultam de um grupo algo aristocrata em Vicenza e que não traziam em si perspectivas socialistas ou anarquistas. A religião zelava para que cada um harmonizasse seu comportamento com sua consciência (a consciência cristã do Estado de Cristandade), para que os valores do ascetismo, da renúncia, da resignação, da aceitação do sofrimento, da lealdade e obediência marcassem toda a existência. O prazer, controlado dentro dos parâmetros do permitido, era por isso mesmo, sublimado, postergado ou simplesmente negado. O carinho, o afago, a ternura, incluindo a atividade sexual (até dentro do próprio matrimônio), eram tolerados, nunca incentivados, quando não vistos como fraqueza, moleza, falta de verdadeiro espírito cristão, ou simplesmente picardia. Para os homens, especialmente, isto era severo: um homem não beijava ninguém em público, nem o filho, nem a filha, nem a esposa. O afago, o abraço, o beijo era “compreendido” se feito para as crianças e isto porque “inocente” e feito também com muita parcimônia. 215


Quando os pais e filhas dos descendentes de portugueses, negros e índios mostraram para o Brasil outro modo de relação, mais afetuosa, as filhas dos descendentes de italianos, neles abrangendo também os Dalla Vecchia, geraram uma crise familiar. Por que nossos pais não nos beijam? Não nos afagam? Nossos pais terão menos afeto? Não gostam de nós? Foi difícil entender que para os italianos a disciplina, a ordem, a autoridade eram formas de afeto e carinho. E que, para eles, acariciar um filho era “perder” a autoridade. A religião funcionou como ideologia e fundamento de toda a estrutura social: do trabalho, da família, da sexualidade, do poder, do divertimento, da educação, da política. Na religião estavam os mais altos valores, os decisivos critérios, as derradeiras sanções. As lideranças religiosas eram, ao mesmo tempo as que detinham o mais alto poder na comunidade bem como as que permitiam a vinculação com a Igreja do mundo inteiro representada pelo papa, no Estado de Cristandade. Os sacerdotes eram, sem dúvida, repitamos, os intelectuais orgânicos das comunidades de imigrantes. Os Dalla Vecchia situam-se perfeitamente nessa perspectiva. Por isso mesmo, a vida religiosa e o sacerdócio representaram para os imigrantes e acentuadamente para os Dalla Vecchia, o mais fácil, efetivo e mais bem quisto canal de ascensão social. Diante de tamanha expressão religiosa da vida resta sempre um questionamento: seria a religião uma forma doentia de alienação? A vida desses colonos cuja invejada longevidade beira aos 100 anos teria sido 216


desumana, menos saudável, menos plena de significado e realização? Não evidenciariam doenças mentais (eram raríssimos os casos), porque o ambiente comum era já doentio? Seria menos saudável, o viver comunitário e familiar, sem muito espaço para o individualismo e o solipsismo sado-masoquista do autismo que hoje ronda tantos de nós? O certo é que, embora os múltiplos constrangimentos e sofrimentos, mortificações e silêncios, há na vida desses Dalla Vecchia um cerne vital, uma saudabilidade, que faz os pósteros ter saudades dessas raízes. Contudo, é importante salientar a perspectiva também ideológica que a religião às vezes tomava: quando a sociedade e os homens eram injustos, Deus era sempre o grande e supremo justiceiro. O mundo era apenas uma passagem, um vale de lágrimas, muito embora uma boa colheita fosse motivo de ação de graças. Transferir para o céu o que é tarefa da terra, sublimando, negando, fugindo, não é uma atitude saudável. Os Dalla Vecchia, porém, sabiam distinguir as coisas: sabiam muito bem que a boa política cuida dos interesses de todos e que a cafajestice política era hedionda e abominável. Resguardavam, contudo, o último espaço para a religião, lá onde o homem é intocável em sua liberdade e salvação; onde o homem tem a ver-se pessoalmente, face à face com Deus. Suportar estoicamente os reveses da vida, o desprezo pela dor, pelos ferimentos, pelo trabalho quase desumano eram indicação de fortaleza, bravura, honorabilidade....e religiosidade. 217


Avelino de Conto Dalla Vecchia, filho de José e

Catarina, em sua ordenação sacerdotal – Festa da comunidade. Churrasco – Uma vala – espetos de pau – um cheiro de carne assada dando água na boca.

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Da esquerda: o 3º é Leonel DV filho de Pedro. O último é Guerino DV, filho de Luís DV e Fortuna Bagatini. Nas festas de “sagra”, em honra do padroeiro da capela, galinhas, churrascos, cucas, bolachas. O chimarrão e as rodas de chimarrão fazem parte da vida Faustino Bocchi Dalla Vecchia, irmão de São Camilo, alcançando um chimarrão ao sobrinho. Isto mostra como os costumes brasileiros e gaúchos integram a tradição da família Dalla Vecchia. Assim como as tradições italianas integram os costumes gaúchos hoje. dos Dalla Vecchia

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12. Lazer O lazer dos colonos Dalla Vecchia abrangia: cantar, visitar parentes e vizinhos para serões (“filó”), a reunião na pequena capela aos domingos para as rezas e um jogo de cartas (quatrilho, bríscola, escova, treissete), para uma disputa de mora, umas partidas de bochas ou bolão, e, mais adiante, de futebol (assistido por todas as famílias). Uma boa pescaria e caçada, carreiras de cavalos, e as festas religiosas, bem como o carnaval e os bailes 220


(estes quase sempre combatidos pelos padres) também integravam o lazer dos Dalla Vecchia. O espírito burlesco, descontraído, sardônico, que permite rir das próprias desgraças, a alegria de uma mesa farta e de um horizonte aberto pela frente, faziam da vida pacata da agricultura e dos encontros, dentro de um sistema regido em tudo pelo ainda dominante Estado de Cristandade, uma realização da sonhada “cucagna” que motivou sua imigração. Os grupos de rapazes que, nas noites de sábado, percorriam as estradas e picadas em busca da casa da namorada, ao se encontrarem barulhentamente nos caminhos, não deixavam passar a ocasião para acordar a noite e as canhadas com duas ou três canções de amor. No silêncio parado das casas em repouso, alguma janela sempre se abria para escutar melhor. Festa na capela: namoros e congraçamento

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Um copo de vinho rega a alegria

Em festa de carreira de cavalos em Jacarezinho.

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Coral sinfônico de Encantado – o mestre é Pedro.

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