Revista nº 23

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REVISTA DA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS Jandir Jo達o Zanotelli (organizador)

Pelotas Abril - 2012

No.23

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REVISTA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS Fundada em 9 de maio de 1970 Diretoria Presidente: Olga Maria Dias Ferreira Vice-Presidente RS: Maria Beatrz Mecking Vice-Presidente SC Vice-Presidente PR: João Darcy Ruggeri Secretário: Wilma mello Cavalheiro Tesoureiro: Marísia Ferreira Vieira Conselho Editorial Ângela Treptow Sapper Jandir João Zanotelli (organizador) Joaquim Moncks José Clemente Pozenato Lígia Antunes Leivas Maria Alice Estrela Maria Beatriz Mecking Caringi Sérgio Oliveira Wilma Mello Cavalheiro __________________________________________ Revista da Academia Sul-Brasileira de Letras- N 23 (Abril 2012)

Pelotas: EDUCAT, 2012. Semestral. 150 p. ISSN 1809-5540 CDD B869.05 Letras – Periódicos. 2. Literatura – Periódicos. __________________________________________ Sede: Rua 3 de Maio 1060 – Conj.403 – Pelotas – RS– 96010-620 E-mail- jjzanotelli@ig.com.br 2


SUMÁRIO Apresentação...................................................................5 EVENTOS.......................................................................7 POESIA ........................................................................33 Interrupção – Wilma Mello Cavalheiro....................33 Às margens de um rio – Luiz Gonzaga da Silva.......34 A bolha de viver – Joaquim Moncks........................37 Amar é bom! ...(mas dói!) – Miguel Russowsky......39 TROVAS......................................................................41 TROVAS HUMORÍSTICAS.......................................43 CONTOS E CRÔNICAS.............................................45 Trabalhar – Jndir João Zanotelli...............................45 Encontros – Jandir João Zanotelli............................49 Histórias – Ana Gouvêa...........................................53 Colhendo Flores do Lácio – Jorge Moraes..............60 Sede...ção ou Sedução? – Jorge Moraes ................65 Amanhã muda a lua, talvez a porca dê cria! – Jorge Moraes...72 Família – Francisco de Azevedo..............................80 A solução - Maria Beatriz Meckiing......................84 Em Paz – Maria Beatriz Mecking ...........................84 Consolo – Maria Beatriz Mecking...........................85 Junção de Dois – Inalva Nunes Fróes......................86

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ARTIGOS.....................................................................89 A Crítica segundo o autor novato – Joaquim Moncks89 Ditos populares – Jorge Moraes ................................93 A Ironia dos Eufemismos – Jorge Moraes..................97 Desculpar ou não? Eis a questão.- Jorge Moraes......103 ASBL – Estatuto Social...............................................113 ASBL – Cadeiras – Patronos – Titulares.....................131

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APRESENTAÇÃO É outono. No hemisfério Norte é primavera Tempo de Páscoa. Tempo de vida nova. Por aqui as árvores ainda são liberadas de suas folhas. O inverno se aproxima ameaçando recordes históricos. A alegria das festas de investidura de novos acadêmicos dão texto e contexto para nossos textos. Em Florianópolis, no recanto sul da maravilhosa ilha, Ribeiraõ da Ilha, a posse aconteceu nas dependências do Lindo e bem estruturado Ecomuseu de Nereu do Vale Pereira. Ele, Augusto César Zeferino e Luiz Carlos Amorim foram empossados, respectivamente nas cadeiras 50, 14 e 19. Todos, na liderança de Pilati, Júlio e Nereu armaram um espaço paradisíaco para o ritual das letras que a ASBL jamais esquecerá. Outra posse está programada para este ano. Duas cerimônias mais estão previstas para 13 de abril e 15 de maio.

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No intervalo, a festa de aniversário, no dia 9 de maio. São 42 anos de ensaios, lutas e labor pela palavra que é nosso dom e tarefa. Enquanto choramos a ausência-presente de Suelly Corrêa Gomes, e já neste início de maio a de Valter Martins de Toledo, labutamos em nossa tarefa da Palavra. Ela pode alimentar a tantos espíritos, como nunca famintos de uma fatia de Esperança. Reiteramos a cada um o abraço fraterno do Natal que se faz Páscoa e tempo de vida apesar do desencanto ético que assola as plagas de nosso país. Jandir João Zanotelli Coordenador.

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EVENTOS

1. SESSÃO DE INVESTIDURA REALIZADA NO DIA 18/11/2011, EM FLORIANÓPOLIS / SC

CONVITE A ACADEMIA SUL BRASILEIRA DE LETRAS, por sua Presidente Olga Maria Dias Ferreira, tem a satisfação de convidar V. Exa. e Exma. Família para a Solenidade de Investidura em sua Seção Catarinense, dos Escritores: Augusto César Zeferino – Cad. 50 - Ocupante anterior Hoyêdo de Gouvea Lins - Patrono Virgílio Várzea.

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Luiz Carlos Amorim – Cadeira 19 - Ocupante anterior Lauro Junckes - Patrono Mário Quintana. Nereu do Vale Pereira – Cadeira 14 - Ocupante anterior Lydia Mombelli da Fonseca - Patrono Marcelino Antônio Dutra. Local: Ecomuseu – Ribeirão da Ilha – Florianópolis SC Data: 18 de novembro de 2011, às 18h telefone: 3237-8148 ou ecomuseu@pousadadomuseu.com.br Endereço do Ecomuseu: Rodovia Baldicero Filomeno (dois quilômetros após a Praça da Matriz do Ribeirão www.pousadadomuseu.com.br

2. Discurso de posse do Acadêmico Augusto César Zeferino - Saúdo inicialmente a Senhora Presidente da Academia Sul Brasileira de Letras, Dra. Olga Maria Dias Ferreira, bem como os demais Sócios aqui presentes. 8


- Saúdo em especial o Acadêmico Júlio Queirós, autor do convite para a minha investidura neste egrégio, bem como o Acadêmico José Isac Pilati, Vice-Presidente/SC. - Saúdo, também, meus colegas Nereu do Vale Pereira e Luiz Carlos Amorim, que hoje comungam desta investidura. - Senhoras e Senhores: O convite que me foi dirigido para adentrar tão seleto grupo de intelectuais desta Instituição me fez, de início, questionar sobre a própria vida como enlace entre o espírito e o intelecto. Como acadêmicos, perseguimos o reconhecimento pelo nosso trabalho, mesmo sabendo que a glória do mundo é transitória SIC TRANSIT GLORIA MUNDI -, como diz São Paulo em um de seus escritos. Tratei, logo, de buscar respostas que me mostrassem o caminho a seguir, para que o espírito não viesse a sofrer, mas, sim, se alegrasse com o exercício intelectual no novo convívio, fortalecendo, ao mesmo tempo, a minha vida familiar e de cidadão. 9


Buscamos, na vida, um caminho, e nesse sentido devemos procurar seguir o caminho que passa em frente à nossa morada – ele sempre nos levará a algum destino. Essa caminhada nos dá um sentido na vida. E é nesse sentido que nos respaldamos em Alceu Amoroso Lima que, ao tomar posse na ABL em 1935, disse que as funções literárias da Academia são complementares e de duas ordens: a de tradição e de manutenção do que ficou de bom, e a de criação e de renovação da cultura nacional. Este pensamento nos mostra um caminho a seguir. É lição permanente e atual. Somos livres para escolher aquilo que fazemos, acreditamos em idéias e ações, muitas vezes estando elas além de nossa capacidade física, intelectual e emocional, mas não desistimos, vamos à busca de resultados para a lenda que imaginamos. Alcançá-la é ponto de honra, mas mesmo não a alcançando, ela terá ajudado a iluminar o caminho que porventura tenhamos percorrido, e algo terá sido realizado. Ao buscar respaldo na plêiade de literatos com vistas à escolha do patrono, pensei, inclusive, na minha origem geo-espacial e social, e optei por Virgílio Várzea. As razões afloraram 10


com clareza – Várzea nascera na Freguesia de São Francisco de Paula de Canasvieiras -, vila vizinha à minha comunidade – Praia dos Ingleses, ambas vilas, então, de agricultorespescadores. Virgílio Várzea, que nasceu em 06 de janeiro de 1863 em Florianópolis e faleceu em 29 de dezembro de 1941 no Rio de Janeiro, tendo, portanto, vivido 78 anos, trabalhou o mar como poesia e prosa, e neste particular é considerado o criador do marinhismo entre os latino-americanos – seus escritos soam, às vezes, como uma leve brisa que balouça o mar nas cálidas noites enluaradas do outono ilhéu, outras vezes se arvora de tempestade que varre a alma em suas mais remotas lembranças. Virgílio Várzes, que atuou firmemente no movimento contra o conservadorismo romântico, objetivando implantar a chamada "Idéia Nova", ou seja, rompendo com o passado e buscando a renovação estética do RealismoNaturalismo, movimento que atuou entre os anos de 1883 e 1887, intitulado "Guerrilha Literária Catarinense", foi patrono da cadeira 40 da Academia Catarinense de Letras. Seu percurso de marinheiro, treinado ainda menino, no qual literalmente se lançou ainda aos 13 anos de 11


idade, e que expõe uma geografia universal, não somente o levou a outras terras e a outros mares, mas o levou, também, a outros campos de atuação – foi poeta, escritor, jornalista e ativista político. Sua vida e sua obra o colocam como se no mar fora concebido. O Dr. Hoyedo Gouvea Lins, meu ilustre e saudoso colega do IHGSC, que me antecedeu na Cadeira 50 desta Academia, autor de dezenas de livros, transcendia a qualidade padrão de um ser humano – sua quietude provocava a admiração, pois era carregada da aura da sabedoria e da elegância. E seus escritos eram, mesmo, como dito em uma de suas obras, apropriados para a luz do entardecer! Ambas as personalidades me respaldam para comungar deste sodalício, mas conto, também, com a participação dos colegas. Nosso trabalho só pode crescer com a comunhão de todos. Não há lugar para corrida de um atleta só – a união faz a força, diz o velho e cansado adágio, porquanto precisamos seguir produzindo como partes de um todo, para que a vida seja plena de conquistas. O mundo precisa de sábios, mas precisa muito da sua essência – o amor. Esta é a chave para o sucesso do homem e da humanidade como um todo. 12


Lembremos, finalmente, que a sociedade, hoje, está a produzir uma questionável separação entre ciências e humanidades, levando a crer que ―cada vez se sabe mais e mais sobre menos e menos, quase tudo sobre quase nada‖, conforme posto por Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça, quando de seu discurso de posse na presidência da ABL. Isto nos lembra o conto de Hans August Thofeham, quando o menino pergunta: afinal o que é um sábio? Ouviu ele que havia dois tipos de sábios: os especialistas que cada vez sabem mais sobre menos coisas, até saberem tudo sobre nada, e os enciclopedistas - que cada vez sabem menos sobre mais coisas, até saberem nada sobre tudo! E ao perguntar o que era um Geógrafo, ficou feliz o menino, pois soube, no contexto da resposta, que as flores precisam continuar a crescer e as águas a correr! Muito obrigado.

3. A PUC - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, através do Magnífico Reitor Dr. Joaquim Clotet dá início as comemorações de "Luiz de Miranda, 45 Anos de Poesia 13


(São Paulo,1967/Porto Alegre, 2012)", dia 23 de abril, a partir das 17 horas, no Salão de Atos da Faculdade de Arquitetura. Segue-se palestra do Dr. Antonio Hohlfeldt sobre a obra do poeta. Depois, João de Almeida Neto, a grande voz do Rio Grande, canta quatro canções de Miranda e poeta recita um dos seus poemas. Após, segue o lançamento de "Salve Portugal", o terceiro volume da coleção Luiz de Miranda da EdiPUCRS. Em setembro, sai o quarto volume da coleção, com lançamento nacional de ―Amores Amargos‖. Em outubro sai Miranda para inglês ver: Antologia‖Luiz de Miranda‘Themes and Poetry‖, ou seja ―Temas e Poemas de Luiz de Miranda‖, ediPUCRS. Tradução e apresentação de Eduardo Jablonski. Haverá evento semelhante na Europa,no mês de outubro, na Universidade das Illes Balears, em Palma de Mallorca, Espanha, coordenado pelo pensador e crítico Dr. Perfecto Cuadrado, que faz uma Antologia Poética de Luiz de Miranda, com apresentação e tradução suas.

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No mês de novembro será homenageado no V Festival da Poesia, em Parnaíba, Piauí, onde será saudado pelo poeta Diego Mendes Sousa. Serão outorgadas Dez Comendas Poeta Luiz de Miranda da Real Academia de Letras a personalidades daqui e da Europa. Será criado um Selo do Correio com a foto do poeta e escrito Poeta Luiz de Miranda, 45 Anos de Poesia. Miranda participará de eventos em Santa Maria, Pelotas, Santa Cruz e Uruguaiana, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, também haverá comemorações na Argentina, Paraguai e Uruguai.

4. DISCURSO DE OLGA MARIA DIAS FERREIRA na posse de Inalva Nunes Fróes "A Literatura, segundo definição de Afrânio Coutinho, como toda arte, é uma transfiguração do real, a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida 15


através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio." Em assim pensando, realizamos, nesta noite,a festa da literatura, da recriação do real, da vida e dos personagens. Festejamos o espírito criativo do escritor, nas mais variada formas, em todos os contextos. A palavra popular ou erudita se expressa na criação do autor, expressando sentimentos e emoções. Este o momento que vivemos e festejamos. A Academia Sul-Brasileira de Letras se engalana e presta homenagem a mais uma escritora a destacar-se no mundo artístico: INALVA NUNES FRÓES. INALVA, a empossanda de hoje, nasceu em Bagé, sendo seus pais Alvérico Nunes e Ercília Sains Nunes. Iniciando os estudos no Colégio Salis Goulart, prosseguiu nos cursos secundário e normal, desta feita no Colégio Santa Margarida. Buscou a formação universitária no Curso de Letras, licenciando-se em Português e Francês, pela Universidade Católica de Pelotas. Seguindo a jornada cultural, 16


exerceu o magistério no Colégio Gonzaga, Instituto de Educação Assis Brasil, Escola Estadual Profª Sílvia Mello e na Escola Joaquim Duval. Desempenhou, outrossim, as funções de Supervisora Escolar, no colégio Salis Goulart, Ao concluir o Curso de Pós-Graduação em Metodologia da Pesquisa Educacional, tornou-se especialista na área. Seu vasto currículo apresenta, ainda, farta produção literária, onde se encontram inúmeras crônicas publicada na imprensa local e prêmios auferidos em concursos. Consta também a participação na coletânea de Contos da 1ª Oficina de Criação Literária, sob o título ―Tarde demais para não publicar.‖ Possui, obra de contos, no prelo e publicou o livro ―Vida e Outras mulheres‖, em que, segundo palavras textuais da escritora pelotense, Hilda Simões Lopes, ―o universo feminino é a matéria prima que Inalva Nunes Fróes utiliza nos contos: dona de um texto criativo, a autora instiga o leitor a percorrer as perplexidades de suas personagens. Leva-nos, assim às reflexões em torno ao papel da mulher e,como não poderia deixar de ser, das demais funções humanas na família e na sociedade.‖ Esta, meus caros amigos, a acadêmica que adentra os umbrais da Academia Sul-Brasileira 17


de Letras. Esta amante da letras e das artes veste o manto do reconhecimento pelo mérito de seu trabalho. A sensibilidade de Inalva é extravasada na pureza de seus contos. A vida em seu melhor contexto é explorada e expressa nos mais nobres sentimentos. A bravura é o ponto alto das mulheres que ilustram o cotidiano. Desde a emoção mais simples, ao mais complexo ideal de sobrevivência, está a fortaleza de sua alma, na grandeza dos ideais de justiça. Ler Inalva é estabelecer um pacto de verdade, em que o inverossímil parece forte demais para ser abordado de forma serena. Inalva aborda a obviedade dos fatos, a semelhança dos contrastes, a fortaleza dos fracos. Neste pauta, entendemos e apreciamos sua arte, o acendrado amor à literatura, o exemplo digno de uma verdadeira mestra. Sejam-lhe, nesta noite de gala, ofertados os galardões e louros da vitória. Ascender a uma Academia de Letras é mais do que uma honra, é Missão. Cumpre enaltecer seu nome, dentro da rota traçada pela insigne Magda Costa, o desempenho dos grandes escritores que nos cercam e os que nos antecederam neste 18


sodalício. Sirva-lhe, portanto, como estímulo este momento, para que propicie aos pósteros a magnitude de sua obra e outros livros venham, para gáudio dos apreciadores assíduos da boa leitura. Sejas muito bem vinda, querida afilhada, minha mais nova companheira, nesta Academia. Que os céus te cubram de bênçãos, para que seja feliz, cada vez mais, e, todos saibam dimensionar tua verdadeira grandeza. 13/04/2012 5. Discurso de Inalva Nunes Fróes, por ocasião de sua posse na ASBL – 13 de abril de 2012 Ilustres Acadêmicos Excelentíssimas Autoridades presentes Prezados Amigos Queridos Familiares

É com muita honra e com a alma enlevada que assumo a cadeira número 10 na ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS. Entidade cultural que conta com insignes escritores, autores de obras valiosas conhecidas, 19


tanto no âmbito da cidade como do estado, do país e internacionalmente. Agradeço, portanto, a indicação do meu nome, através de minha madrinha, a competente poeta e exímia sonetista Olga Maria Dias Ferreira que muito tem contribuído para as letras pelotenses e aprovação por parte dos demais acadêmicos que compõem esta conceituada casa de cultura. No discurso de posse, nossa ilustre presidente, declarou o seguinte: ― Dos mais remotos sonhos, aos tempos que me acalentam as tardes do agora, só existe espaço para a literatura como um todo, em sua defesa e aprimoramento. Assim sendo, seguirei minha rota, decidida e firme, de levar a literatura às ruas, o livro ao povo, a poesia a crianças, jovens e idosos, a todos indistintamente.‖ Palavras sábias, objetivos dignos de uma intelectual que sempre esteve preocupada com a verdadeira sapiência. Essa postura, adotada por todos integrantes da Academia Sul - Brasileira de Letras muito me empolgou e vem de encontro com meus princípios pessoais e literários. Asseguro que não medirei esforços e que tudo realizarei para acompanhar, de maneira 20


positiva, esta caminhada no sentido de divulgar e popularizar a cultura. Reconheço grande responsabilidade ao assumir a cadeira anteriormente ocupada pelo saudoso Irmão Elvo Clemente na ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS, tendo como patrono o grande poeta pelotense Francisco Lobo da Costa. Não poderíamos deixar de lembrar a grande obra do saudoso Antonio João Silvestre Mottin conhecido pelo nome religioso IRMAO ELVO CLEMENTE que nasceu em Maróstica (Itália) em 1921 e, com apenas três anos, emigrou com a família para o Brasil. Depois de licenciado (1948) concluiu doutorado em Letras Clássicas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1953) defendendo a tese ―Aspectos da vida e obra de Francisco Lobo da Costa‖. Fez concurso da cátedra Língua Portuguesa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul com a tese ―O temporal e o eterno na poesia de Paulo Corrêa Lopes”. Atuou como professor e fundador de um dos programas de pós-graduação da Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 21


Colaborador da imprensa gaúcha e crítico literário ele foi também autor de mais de trinta livros, dos mais variados temas. Presidiu organizações ligadas à cultura do Rio Grande do Sul, tais como o Conselho Estadual de Cultura e a Academia RioGrandense de Letras, além de ter sido integrante da Academia Sul-Brasileira de Letras, da União Brasileira de Escritores e da Associação RioGrandense de Imprensa. IRMÃO ELVO CLEMENTE tinha o dom das línguas, deixou-nos vasta e variada produção literária e conforme seu depoimento utilizava, nas aulas de língua ou literatura, na Universidade poemas do inspirado poeta Lobo da Costa. Declarou também ― Como era interessante e belo ouvir recitações do Lobo por gente do povo, tanto na Capital quanto no interior do Estado‖. Apresento-vos, através de alguns versos contidos no poema ―Aquele ranchinho‖ o poeta Francisco Lobo da Costa que ocupou lugar de destaque na literatura rio-grandense, pelo valor de sua poesia e pela imortalidade de suas composições. “Tu me perguntas a história Daquele triste ranchinho, Que abandonado encontramos 22


Coberto por negros ramos Contou-me o velho moleiro Há pouco menos de um mês. (E continua a história aguçando nossa curiosidade sobre o desenrolar dos acontecimentos). Este é um dos poemas mais conhecido da população regional. Pessoas de todos os níveis sociais recitavam, há alguns anos atrás, no mínimo, algumas estrofes. Os versos ficaram na memória do povo, que embora já não lembrasse o nome do autor, continuaram vivos como monumento cultural e ficaram pertencendo ao folclore. A perda da autoria, nessas condições, é glória máxima a que um poeta pode aspirar. É a certeza de que seu texto alcançou aquela dimensão da linguagem que o torna um objeto intocável e permanente, mesmo através da transmissão oral. Este ilustre poeta FRANCISCO LOBO DA COSTA nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul, no dia 12 de julho de 1853. Seu pai Antonio Cardoso Costa era natural de Santa Catarina e sua mãe Jacinta Júlia da Costa, da Bahia. Em 1865, com doze anos de idade, exalta em versos o feito das armas nacionais, por 23


ocasião da rendição da cidade de Uruguaiana, ocupada pelos paraguaios. O poema é publicado no jornal ―Eco do Sul‖ de Rio Grande. Aos quatorze anos, os negócios do pai não vão bem e emprega-se no cartório de Francisco José das Neves, onde, espírito sonhador e já voltado para a poesia, distrai-se do trabalho desinteressante para rascunhar seus poemas. No ano seguinte passa a trabalhar numa agência do telégrafo, o que lhe disponibiliza mais tempo para dedicar-se à leitura, principalmente, dos grandes românticos brasileiros. Compõe versos que vai publicando na imprensa. Em Rio Grande, a ARCÁDIA, jornal literário que divulga novos talentos, publica seus poemas. Em 1869 deixa o telégrafo para dedicar-se às letras. É uma decisão séria para um jovem de dezesseis anos, destituído de recursos econômicos. Funda o jornal ―Castália‖, de breve duração. Continua a publicar poemas na ―Arcádia‖, onde faz sua primeira tentativa de ficção narrativa, o romance ―Heloisa‖.

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Faz sua iniciação jornalística no JORNAL DO COMÉRCIO que substituíra a Arcádia, cujo proprietário viera para Pelotas. Em 1871 sai do Jornal do Comércio para fazer parte da redação do DIÁRIO DE PELOTAS, transformado em centro de reuniões dos republicanos e abolicionistas. Por esse tempo, como poeta e jornalista, freqüenta a sociedade, onde, conforme comentários da época, apresentava-se ―modesto, atraente, elegante e amável, despertava viva simpatia‖. Possuía o dom de encantar, principalmente, o público feminino Desse contexto resulta o relacionamento com a família de Saturnino Epaminondas Arruda a que pertence a ― MARIA‖ de seus poemas, segundo ―Morivalde Calvet Fagundes‖. É nesse ano que morre sua mãe, perda da qual se ressentirá para sempre. Dedica, então, um grande afeto a sua pequena irmã IDELVIRA. Tentando recuperar-se do golpe sofrido, transfere-se para Rio Grande onde é recebido na casa da família MELO. Devotadas à poesia, REVOCATA FIGUEIROA DE MELO e suas filhas reconhecem o talento do poeta e dedicam-lhe duradoura amizade 25


Entra para a redação do ECO DO SUL, em cujas oficinas imprime e edita o romance ― ESPINHOS DA ALMA‖ e o livro de poemas ―ROSAS PÁLIDAS‖. Compôs, também, outro livro, ―MARIPOSAS‖, inédito, segundo o Almanaque Estatístico do Rio Grande do Sul ( 1889). Buscas feitas desde o século passado não localizaram esses dois livros de poemas. No ano seguinte, desligando-se do Eco do Sul, torna-se redator de O Investigador . Aí anuncia a publicação de ―Romances da Província” e “Tempestades no Lar” (drama), obras que também se perderam. É desse ano o ensaio “O jesuitismo”. Em 1874 a Grinalda publica novos poemas de Lobo da Costa que continua a colaborar nos jornais de Pelotas, firmando sua reputação literária. Mais tarde, hospeda-se, por algum tempo, na estância de Molhos, Uruguai, onde se encontra com Maria, a musa inspiradora de seus mais belos poemas de amor. Embora lesse muito sobre variados temas e autores, sentia necessidade de uma formação mais sólida e sistematizada. Decide estudar Direito em São Paulo, onde leva uma vida desregrada e boêmia. Continua produzindo 26


versos e por influência de Carlos Ferreira, poeta gaúcho, consegue publicar “Lucubrações”, único livro de poemas editado pelo autor que sobrevive, hoje, em exemplares raríssimos. Com a saúde debilitada, volta ao Sul. Em Pelotas, retoma suas atividades literárias. Em janeiro de 1876, o jornal ECO DO SUL registra a estréia da peça ―O Maçom e o Jesuíta‖ em Rio Grande no teatro SETE DE SETEMBRO. Primeira experiência do jovem escritor no ramo da dramaturgia. Em Pelotas é chamado a colaborar no ―Jornal do Comércio‖. Funda ainda dois jornais literários ― Lanterna‖ e ―Trovador‖, de existência efêmera. Já há algum tempo, vinha se entregando ao alcoolismo que domina sua alma sensível e romântica. A jovem a quem amava, pertencente à família de destaque na sociedade, afasta-se dele, definitivamente. Torna-se assíduo colaborador do Progresso Literário, onde publica um dos seus mais belos poemas, “À Beira-Mar”, os contos, ―A Cabana de Violetas‖, ―Fantasias de um morto‖, e a crônica ―Sabatina‖. Vai para Rio Grande mais uma vez e, retornando a Pelotas retoma os trabalhos no ―Onze de Julho‖. 27


Na luta política entre conservadores e liberais, a imprensa promove campanhas violentas. Os ataques excessivos do Onze de Julho provocam a reação dos ofendidos que decidem inutilizar a tipografia do Jornal. Moncorvo Júnior e Lobo da Costa fogem para Jaguarão onde continuam a editá-lo. Encontra-se com a jovem Carolina Augusta Carnal e casa-se com ela no dia 27 de setembro de 1879. Desse casamento nasce uma filha chamada Amanda. Esta união não se mantém e, já separado da esposa, permanece algum tempo em Arroio Grande, na residência da família Araújo. Volta a Jaguarão. Torna-se secretário de um grupo teatral, acompanhando-o a Pelotas e Porto Alegre. Desliga-se do emprego e busca colocação nos jornais da Capital. ―A Tribuna‖ de Marcos Menezes Correia de Castro, aceita-o, mas pelos escândalos que provoca, o jornal é destruído pela população. As desventuras não o afastam da poesia. O jornal ―O Lábaro‖ recebe sua colaboração por mais de dois anos. Tem pronto um livro que se esforça, inutilmente, para publicar e cujo destino ignorase ate hoje. 28


Volta a Pelotas com a saúde comprometida, mas a imaginação continua viva. Escreve o ―episódio poético-dramático‖ Espinhos e Flores para a atriz Julieta dos Santos, encenado no teatro Sete de Abril, pela Associação Dramática, dirigida por Moreira de Vasconcelos. Transfere-se para D. Pedrito e redige, por algum tempo, ―A Fronteira‖, colaborando também na ―Gazeta Pedritense‖. Lança, então, seu melhor texto dramático “O Filho das Ondas”, representado pela Sociedade Dramática Tália Pedritense, com dezenas de representações nos palcos de várias cidades do Rio Grande do Sul. Entre 1883 e 1885, vagueia entre Pelotas, Bagé e Porto Alegre. Já não pode trabalhar e, muito doente, concorda com parentes e amigos que o aconselham a tratar-se. Fiel a sua poesia, compõe sempre e retribui com versos a atenção das pessoas que o visitam na Santa Casa. A cidade, consternada com sua situação, mobiliza-se para auxiliá-lo. Ainda faz versos. São os últimos frutos de sua criação. Quando melhora, volta às ruas e aos mesmos hábitos. Cada vez mais doente, o poeta retorna à Santa Casa. Seu quarto torna-se um lugar de peregrinação. 29


Trabalhou, ainda, num poema de exaltação à gente farroupilha, um ambicioso projeto que não pode concluir. À tarde do dia 18 de junho de 1888, Lobo da Costa sai do hospital sem destino certo. Buscam-no, mas não o encontram. Cai uma noite gelada e chuvosa de inverno. Quando amanhece, um carroceiro entra em Pelotas, ainda adormecida, com o corpo inerte do poeta, encontrado ao relento, bem próximo a rua Santa Cruz. Desaparece mais uma estrela na constelação do céu literário de nossa Princesa do Sul, mas como toda estrela sua luz não se apaga. Continua brilhando através de uma obra extensa: romances, contos, crônicas, peças de teatro, em sua maioria perdidas, e textos que produziu como jornalista. Sem data precisa são os dramas Os Amores de um Cadete, A Bolsa Vermelha e Assunção ou a morte do Tirano Lopes em Aquidaban. A parte mais importante dessa obra, no entanto, é constituída por centenas de poemas que publicou nos jornais da Província. Deve-se a Francisco de Paula Pires a compilação da grande maioria desses poemas em três livros póstumos: Auras do Sul, Dispersas e Flores do Campo, Prosa e Verso. Desses livros 30


Mansueto Bernardi selecionou ―As Melhores Poesias‖, que a Globo editou em 1927. Morivalde Calvet Fagundes identifica no poeta e prosador, várias facetas de sua produção literária: lírica, épica, social, abolicionista, democrata, satírica, nacionalista, regionalista, pelotense, bucólica, indianista, folclorista, religiosa, sonetista e epistolar. Sua obra torna-se imortal por suas características de permanência e universalidade. Pode-se colocar em primeiro plano e como motivadora da maioria de sua produção lírica a palavra ―paixão‖. Paixão pela mulher, representada em seus versos, por flores humildes, açucena, lírio, violeta ou camélia. No vocabulário predominam flor e rosa, metáforas do amor ideal que em vão procura. Sentimento traduzido em suas palavras: “Se és fada, acorda desse encanto mágico, Onde te engolfas a sonhar, mimosa! Se és flor, reabre o vaporoso cálice Aos beijos mornos deste amor que nasce”. Amor não correspondido e algo inalcançável transformaram-se em poemas líricos belíssimos. “ Jurei! Meu protesto selei-o com prantos 31


Chorados em noites de ausência sem fim Não há quem me arranque do peito esse afeto Que és tu sobre a terra senhora de mim!” Como todo poeta, fantasiou muito, exagerando suas mágoas e sofrimentos do coração. Nada se sabe ao certo, senão que amou demasiadamente e o resultado de tanta paixão, de tanto esbanjamento de amor, foi viver sozinho e morrer solitário, talvez, por opção, conforme seus versos: “Adeus! Eu vou partir. Por que soluças? Que eu te diga este adeus – manda o destino! Eu sou náufrago vil, sem norte ou guia. Açoitado por ventos de agonia Nas cavernas fatais do coração”. Mas, o poeta não partiu, continua presente através de seus versos no coração do povo e com certeza, na alma, da ACADEMIA SULBRASILEIRA DE LETRAS. Agradeço a presença de todos!

Inalva Nunes Fróes

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POESIA INTERROGAÇÃO Wilma Mello Cavalheiro

Meu Deus, quanta discórdia neste mundo a humanidade embruteceu de vez, a hipocrisia é um manancial sem fundo, a luxúria exibe a sua nudez. Será, Senhor, que o crime é oriundo da ganância, da nossa pequenez, da falta de um amor grande e profundo que nos devolva a fé e a honradez? Há um singular e desigual combate entre o bem e o mal, que só abate a quem perdeu a fé e segue andando. Te peço, a covardia nunca nos arraste, que cada homem encontre, neste embate, a sua paz em sonhos velejando. 33


ÀS MARGENS DE UM RIO Luiz Gonzaga da Silva

GOSTO DA BEIRA DE UM RIO. AS MARGENS ME INSPIRAM A ESCREVER SOBRE A VIDA, SOBRE OS ACONTECIMENTOS QUE A ENVOLVEM. AS ÁGUAS QUE CORREM TRANQÜILAS OBJETIVANDO CHEGAR AO MAR SÃO COMO A CORRERIA DO SER HUMANO TENTANDO ALCANÇAR OS OBJETIVOS SONHADOS E ALIMENTADOS PELA ESPERANÇA. OS ENTULHOS TRAZIDOS PELAS ENCHENTES QUE TENTAM IMPEDIR 34


A PASSAGEM DAS ÁGUAS SÃO COMO OS OBSTÁCULOS QUE ENCONTRAMOS PELOS CAMINHOS QUE TENTAM OBSTRUIR A CONCRETIZAÇÃO DOS NOSSOS SONHOS. É MUI SALUTAR O AR QUE SE RESPIRA ÀSMARGENS DE UM RIO, O MURMÚRIO DAS ÁGUAS QUE PASSAM NOS INDUZ A UMA PROFUNDA REFLEXÃO. QUE SER PODEROSO CONSTRUIU TODAS ESSAS MARAVILHAS? QUE SABEDORIA ILIMITADA CONSEGUIU PLANEJAR E EXECUTAR TÃO ENTUSIAMANTE ESPETÁCULO? QUE PODER EXTRAORDINÁRIO ESTABELECEU OS LIMITES

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PARA TUDO QUE EXISTE? PARA AS ÁGUAS QUE DESCEM EM CASCATA NOS EXTASIANDO O OLHAR, AS ORLAS CILIARES QUE ENCANTAM PELA DIVERSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES, AS AVES QUE BUSCAM REFÚGIO E SOBREVIVÊNCIA NAS ÁGUAS E O SOM QUE EMITE OS SEUS CANTOS. GOSTO DAS MARGENS DE UM RIO, POIS É ALI QUE NA MEDITAÇÃO CHEGO A CONCLUSÃO DE QUE É MARAVILHOSO FAZER PARTE DESSE IMENSO PROJETO EXECUTADO POR DEUS.

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A BOLHA DE VIVER Joaquim Moncks

Um jovem professor de Literatura, em sala de aula, tenta abordar a temática da Poesia, e empolgado, faz pilhéria com os alunos do ensino médio, todos muito temerosos com a prova do vestibular. Dono da bola, pleno de humor, toma um gole d‘água, e na maciota reza a sua fala... O poema pode ser visto assim: um maluco em meio a um jardim de muitas flores, com uma bolha de sabão estalando nos lábios, junto ao canudinho, e na outra mão, o caneco amassado da infância... O lirismo é incomum e inusitado. Sua função no mundo é a de propor o encantamento, tal o arco-íris dentro da lépida bolha de água e sabão: faceira, efêmera, brilhante, a ponto de chamar a atenção para ela e para a doidice de fazer pequenos sois de água e sabão. Neste momento o esquálido jardineiro utiliza pernas-de-pau – que é o que o liga à realidade – e com elas fica mais alto do que os arbustos. E de imediato, num repente, talvez uma nesga de céu desça pra nos mostrar o arcoda-velha ao alcance das mãos. Mesmo que se 37


queira guardar os rascunhos nas gavetas, a voz poética foge para mostrar-se. Porque em Poesia, o estado de espírito nunca será realmente passado a limpo.Dentro e fora da bolha de viver... Os alunos entreolham-se. No corredor, ouve-se a sirene que anuncia o final da aula. Alguns desataviados – uns poucos – em algaravia, atropelam uns e outros, varando o pátio da escola, direto para o jardim. É inverno. Não há flores. Somente o busto de Castro Alves e sua mão estendida aos inconformados...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.

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AMAR É BOM!... (MAS DÓI!) Miguel Russowsky

Amar é bom!... (mas dói). Tal como a seda, agrada ao tato, alisa... e rompe à toa, ave, sem galho fixo, na alameda, ao menor dos zunzuns, se espanta e voa.

Amar é bom, mas dói!... Então conceda , mais tolerância caso o amor lhe doa!... Nem vá dizer que a vida seja azeda, quando alguém, a quem ama, lhe atraiçoa.

O amor é bom, mas...dói. Não interfira!... Deixe que role ao Deus dará, sem juras!... Promessas são prenúncios de mentira. 39


O amor é bom!... (mas dói). Assim são todos. E os que não doem, nem causam penas duras, são meras formações de húmus e lodos.

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TROVAS

Na ternura desta hora queria ter o direito de colher a cor da aurora para enfeitar nosso leito Wilma Mello Cavalheiro Bonança e paz sobre a terra, é tudo o que eu peço a Deus, para que as armas de guerra virem peças de museus! Aloísio Alves da Costa – Fortaleza CE Quando eu grito: - Deus me acuda! – que o peso entorta meus passos, Deus não tira o peso, ajuda, pondo mais força em meus braços! Pedro Ornellas – S. Paulo – SP

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Por este amor insensato eu sei que o céu me condena, mas a escolha de meu ato eu troco por qualquer pena. Alonso Rocha – Belém – Pará.

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TROVAS HOMORÍSTICAS

Se o lobo mau fosse esperto, não tinha pego o desvio. Em vez da vovó, por certo, um ―chapeuzinho‖ macio! Lizete Johnson – Porto Alegre-RS

A vida é feita de escolhas, os acertos festejamos... O duro é virar as folhas nas tantas vezes que erramos. Milton Souza – Porto Alegre - RS

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CONTOS E CRÔNICAS HISTÓRIA CRÍTICA -TRABALHAR1 Jandir João Zanotelli ―Quem muito trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro‖. Se o trabalho se medisse pelo dinheiro que dele resulta, pode-se dizer que trabalham apenas os jogadores de futebol, os atores de TV e os políticos. Os agricultores, os criadores de gado, os produtores de alimento, de tecidos, casas, estradas, energia, os professores, não trabalham. Os banqueiros, os manipuladores financeiros, os jogadores das bolsas de valores, estes trabalham muito. Mais do que todos os outros. Vê-se o que eles ganham. O exercício dos serviços essenciais, saúde, educação, segurança, não é trabalho. Os imigrantes italianos, alemães, franceses, japoneses... vieram para o Brasil para não mais trabalhar para os outros. O feudalismo, onde o Senhor explorava os servos da gleba, como 1

Os dois textos a seguir são das ―colunas‖ jornalísticas semanais que a ASBL mantem. 45


semi-escravatura, findava na Europa ao longo da primeira metade do século XIX. Os imigrantes vêm para serem patrões, senhores de seu próprio trabalho. “Esser paron...” E pensaram que o trabalho enriqueceria. Era preciso trabalhar com afinco, desde antes de o sol nascer até bem depois do sol posto. As cicatrizes do trabalho eram troféus a expor, como quem volta vitorioso da guerra. O descanso era apenas uma pausa para maior trabalho. Apenas para recuperar as forças. Depois veio a dolorosa lição: o dinheiro, fruto de seu trabalho não fica com quem trabalha. Fica com o intermediário que manipula seu produto no mercado. E no mercado, quem tem força não é quem produz ou comercia mas os donos do setor financeiro. E então o trabalho voltou a ser interpretado pelos imigrantes e seus filhos como imposição do Criador, castigo pelo pecado, redenção da culpa... Foi Deus quem criou os homens com a diversidade de vocações: criou alguns para governar (deu-lhes sangue azul), outros para rezar e pertencer à hierarquia da Igreja, e criou os outros, a maioria, para trabalhar. Marx ensinou que a essência do homem é o trabalho. Não, porém, o homem transformado em força de trabalho para o capital. O homem é 46


trabalho vivo: que tem necessidades, que arranca da natureza o fruto ou produto para satisfazer sua necessidade e que ao consumir o produto refaz a vida como festa de ser. E isto em comunidade. Em sociedade com os outros. Porque o homem é essencialmente social. No sistema capitalista implantado no Ocidente, o fruto do trabalho era roubado por alguns, limitando o trabalhador a ser mera força de trabalho para o capital que se amontoa e se reproduz a si mesmo. O capitalismo é a negação do trabalho. É a efetivação e a louvação da exploração do trabalho. A superação da exploração do trabalho aconteceria no socialismo e, ao final, no comunismo. Aí ninguém mais seria explorado em seu trabalho. Cada um daria tudo o que pudesse e receberia tudo o de que necessitaria. O tempo de trabalho seria diminuído. Haveria mais tempo de lazer, de cultura, de liberdade. A propriedade dos meios de produção seria do Estado que cuidaria da necessidade de todos. Esqueceu-se Marx que a propriedade, privada ou coletiva não importa, é a fonte e raiz de toda a exploração do homem pelo homem. E os caminhos, ou descaminhos históricos para esta meta, já os conhecemos. A denúncia da exploração e dos mecanismos que levam a ela 47


permanecem, porém, uma grande lição histórica desse pensador. Não só de pão vive o homem... e muito menos do pão permanentemente dado como esmola. Jamais se pode negar um bocado de pão ao faminto. Mas dar ao faminto o pão tirandolhe a dignidade é mais do que matá-lo. O pão que o homem come e sacia sua fome sempre tem o sabor de seu suor e da chuva que vem do alto. Ou não é pão. É amargo demais o pão que só tem gosto de suor. É insosso demais o pão que só tem gosto de chuva. Pelo trabalho, o homem semeia, colhe, cozinha, parte e reparte o pão. E encontra o divino no humano que se faz comunidade. No Brasil, o trabalho que era a expressão da liberdade e vitalidade dos índios, passou a ser símbolo, e expressão de escravidão, de exclusão e negação humana. Por isso, hoje, quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro. E, dizem e repetem os meios de comunicação, o que importa é ganhar dinheiro, enriquecer acima de tudo e de todos. Assim fazem muitos políticos, os bancos, os especuladores. Festa do trabalho? Do trabalho vivo. É preciso que seja.

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ENCONTROS Jandir João Zanotelli Tivemos o 7º. Encontro mundial da família Zanotelli. Dias 28 e 29 de janeiro transcorrido. Foi em São Miguel do Oeste, SC. A turma de Misiones e Las Perdizes da Argentina, região do vinho e do gado. A turma da Itália, especificamente de Cembra, pertinho de Trento, com 26 pessoas e um coral magnífico e que encheu o encontro com melodias antigas e novas, burlescas e saudosas, de montanhas, vales, amores e de fé. A missa inaugural foi toda cantada por eles, numa comemoração dos valores pelos quais os antepassados migraram e os pósteros fundam suas esperanças. Um pouco de ar para respirar vida comunitária e familiar. Como todos insistiram, o encontro e o sobrenome são apenas pretexto para o abraço, para a felicidade de estar e prometer sempre estar juntos. O esmero no acolhimento por parte das lideranças municipais (Prefeito, Câmara de Vereadores, e as mais diversas chefias) se fez notável especialmente no alimento (churrasco de costelão e porcos no rolete, feijoada etc), tudo preparado pela comunidade que se integrou à 49


festa e lhe deu o sabor especial da região. E as lideranças sublinhavam que aquela não era apenas a festa dos Zanotelli e sim a festa e proposta para todos as famílias de S. Miguel. Num mundo em que esses valores desmoronam e são substituídos pelo individualismo, neo-liberal e consumista, guardar a memória da solidariedade, da participação, da fidelidade, da ajuda aos mais fracos, da valorização do trabalho e do lazer que se faz canção e oração, é algo que comove e reanima. Sem alardes nem protocolos, uma reunião de família pode colocar a vida em seu devido lugar. É então que a comunidade se mostra como o espaço único, insubstituível da vida humana. E o mundo globalizado, o mundo geral, o mundo do anonimato, o mundo virtual da economia de mercado, do individualismo liberado para o nada, se mostra como o avesso do humano, da felicidade real do viver. Há muito tempo que a vida pública, a vida laboral, a vida social, política e até religiosa se destacou, se desvinculou, se alienou da família. Muitos pensam que isto é o progresso, a evolução natural das coisas. Por outro lado a vida familiar de alguns passou a determinar toda a vida política, 50


econômica e até cultural dos outros. E por mais que se disfarcem as relações sociais, empresariais e partidárias em ―familiares‖, o sentido profundo da família parece proscrito, banalizado, proibido. Manifestações de afeto, de carinho, de saudade, e solidariedade parecem demonizadas como atraso, descontrole, fraqueza e superstição... Família numerosa, como foi a dos nossos pais e avós, especialmente entre os imigrantes, era tida como bênção de Deus, como garantia da força de trabalho e segurança da comunidade. Passou, depois, a ser um peso inútil e até uma irresponsabilidade, especialmente assim pensada por aqueles que deveriam garantir lugar de trabalho, educação e saúde. No bojo, porém, dessa família numerosa, medravam os valores que, desde sempre, moldaram a humanidade do homem: a posse comunitária e não a propriedade individual das coisas; a ética da solidariedade, do auxílio mútuo, especialmente ao mais fraco e desamparado; não mentir como norma fundamental; a fidelidade à palavra dada; não explorar os outros... e nisto tudo a experiência da transcendência não só como rito mas como lastro existencial de ser. É verdade que nem sempre estes valores valeram e valem em nossas 51


famílias. Mas eles são o ―dever ser‖ que mede o agir, o fazer e o ser. Pois bem, quando a família ―está em liquidação‖ pelo preço mais barato possível, e não estamos falando nos tipos sociológicos de organização da família (nuclear, ampla ou diminuta) e sim nos fundamentos de ser em família, um encontro familiar que busca raízes para alimentar a esperança, faz bem ao coração. O encontro sempre faz bem. A árvore genealógica dos Zanotelli, por nós organizada com a colaboração de muitos, evidencia a presença de mais de 10.000 pessoas com este sobrenome ou vinculados a ele, no Brasil. Desde Livo e Cembra na Região de Trento, essa família migrou, a partir de 1874 para as mais diversas pátrias da terra: Austrália, Canadá, EEUU, México, Argentina e no Brasil localizou-se especialmente n Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Mas, sobrenome é apenas pretexto. Como membro da Academia SulBrasileira de Letras tive a alegria de experimentar o suculento sabor da palavra em forma de dialeto, de canções e de muito abraço. Desejo também a você, leitor, experiências de viver e conviver assim. 52


HISTÓRIAS Ana Gouvêa

A gente vai falando tanto e acaba se perdendo entre os assuntos. Os textos idem... Histórias quase autobiográficas de um casal, textículos de uma adolescente gaúcha, contos aleatórios (ou desabafatórios, se o Aurélio me permite o neologismo), camisetas e gauchismos. Vamos organizar as ideias? Sou canoense, 35 anos, casada há 8, quase cega há 24 (porque descobri aos 11 anos, antes disso eu era só estabanada) e seria uma típica guria de apartamento se não tivesse um pai baiano que nos levasse á praia em julho. Larguei emprego em Porto Alegre, deixei a proximidade com a família e vim morar no interior da Bahia por um amor que me amava platonicamente. Nem tenta entender, adiante peregrinho. Desde 2005 eu tento me adaptar a esta vida de cidade pequena, ruas de terra e calor intenso, sendo eu tão "cidade grande" e com tanta vontade de civilização. Meu filho saciou uma sede que eu não sabia que tinha, mas todas as outras ânsias eu trato escrevendo. Isso ficou 53


claro no conto do Feijão de Andu, e quem me conhece entendeu cada frase do Silêncio como uma quase redenção. Enfim, eram só duas linhas, desculpa, deixa eu transformar isso num twit: "Canoense vivendo no interior da Bahia, formada na UFPR, empresária, mãe, legalmente cega e esporadicamente escritora." A Julieta Cristina é uma guria de uns 22 anos, estabanada e com ímã pra gente de nome esquisito. Tem um irmão mais novo pra pentelhar seus momentos de diversão, a mãe se comporta como uma gatora de 17 anos e a cachorra, uma São Bernardo chamada Sinfonia, transforma aem baba grande parte de seus objetos de estimação. São 25 histórias curtas, "Gramática" é uma das minhas prediletas. Juju foi dormir na casa do namorado e... Gramática - Bom dia. Aqui é o Anacoluto, quem fala por favor? - Anacoluto? Aqui é a Antonomásia. Ah, vai te catar, isso são horas de passar trote gramatical? Putzgrila. Cinco e meia da manhã, primeira vez que o Mário dorme aqui em casa e o telefone nos acorda? Saco. - Quem era, amor? 54


- Desculpa te acordar, paixão. Era um doido se dizendo figura de linguagem... - Anacoluto? -É...Por quê? - Cris, é o tio Anacoluto, que vai levar a gente pra praia! - Ai meu Zeus, eu esqueci! Desculpa, mas vamos combinar que o nome dele não é muito usual... E a ligação me pegou de surpresa, eu tava dormindo tão gostoso! - Isso me dá ideias! O que tu acha de a gente... Triiiiiimmmmmmm - Alô? - Oi, aqui é a Eujácia, o Mário tá por aí? - Bom dia, Dona Eujácia. É a Cris. - Oi lindinha! Vocês já estão prontos? O Tuto ligou há pouco, mas acho que se enganou, pois me disse que alguém muito grosseiro atendeu. - Capaz tia! Aqui o telefone não tocou...Bem, dá 10 minutos que a gente tá no jeito! - Certo fofinha, já nos vemos! Ufa, ainda bem que fiz as malas ontem. Ai, xiriguidum, depois de uma noite perfeita vem um findi na praia com o meu amor, que delírio! - Bom dia, meninos! A mim, você pode chamar tio Anacoluto, combinado Julieta Cristina? - Certo, tio Anacoluto. E que belo anacoluto o senhor construiu na frase, hein? 55


- Grande menina! Garanto: gostas de gramática. - Verdade, gosto sim. Agora deixemos de aliterações e vamos à praia? - Chega de papo, vocês dois: já passei filtro solar e quero tomar um torrão até o meio dia, já pro carro! - Isso mesmo, tia Eujácia. Tô tri nas pilha de pegar umas ondinha. - Assassino! Não destrate assim o pai Aurélio! - Calma, tio Anacoluto, estou apenas parafraseando um surfista amigo meu, é brincadeira! - Ufa. Então está certo. Sem mais onomatopéias, todos pra dentro do vumvum! Ai meus sais. Isso vai ser engraçado. Espero... - Achei que era em Tramandaí, tio... Pra que praia a gente vai? - Julieta Cristina, isso foi quase uma alit... - Chega, eu falei! Cris, a gente vai pro Cassino, o Euclides gosta de espaço. - Euclides? Esse eu não conheço, tia Eujácia. - É o nosso cachorro, querida. Ele é um pouco grande, por isso a gente deixa ele na casa da praia, tem mais espaço. - É, não se pode negar que ele tenha espaço no Cassino... -Bom,chegamos. 56


Pelamordedeus! Isso é uma casa de praia? Parece um hotel-fazenda com faixa litorânea! Ó só, tem até um bezerro ali na varanda! Ele tá vindo pra cá. Credo, como corre! -Socoooooooorrooooooooooooooooooo!!! -Euclides,junto! - Alguém anotou a placa? Uma jamanta me atropelou. - Bela metonímia, Julieta Cristina. Este é o Euclides, nosso dog alemão. É um belo cão, não é? Vem, garoto. - Bonito sim, tio Anacoluto. E um belo desenhista, olha que beleza de arte ele fez com as patas na minha blusinha branca... - Ora, esta menina está se revelando uma grata surpresa! Acertou na ironia! - Pois tu vês, tio, nem foi intencional. Eu devia estar acostumada, a Sinfonia não é muito diferente. Esses cuscos são a antítese do ―cão de estimação‖... Tá, vou me trocar, vamos dar uma volta na praia, Mário? Feitoria. Biquininho novo, chinelinho combinando, bloqueador solar... - Tia Eujácia, passa protetor solar nas minhas costas? - Claro querida, chega aqui. Vou usar o meu, tá? -Mááááário, tá pronto? 57


- Querida, o Mário foi na frente com o Anacoluto, pediu pra você encontrá-los na praia. Ai, ai, que maravilha... Tá, né, fazer o quê... Aiiiii, e chega de eufemismos, prosopopéias e catacreses. E que vá se catar o português correto. Droga, cadê esse povo? Já tô caminhando há uma hora e meia e nada deles. Legal, né? Pedem pra gente se encontrar na praia... será que alguém lembrou que a gente tá na praia do Cassino, a maior do mundo? Onde tá o Google Earth quando a gente precisa dele? Pera... Google Earth... Eu deveria procurar pelo bezerro, digo, cachorro. Como é mesmo o nome? Pleonasmo? Não, merda, é nome de gente, de algum livro daqueles que obrigam a gente a ler no colégio... Escobar? Não, esse é o corno da Capitu. Eurípedes? Não, essa é a mulher do Orfeu. Ai, o Tony Garrido... Volta, Cris, a hora do recreio é depois! Como é o nome daquele potro? Demóstenes? Não, esse é meu ex. Bela fonte de nomes esquisitos, a minha lista de ex. Só o Mário se salva, mas a família dele tem cada obra! Droga, não viaja guria, como é o nome do cusco? É com E. Eustáquio? Ermenegildo? Euzébio? Ercílio? -Euclides,não!Isso!Euclides! Aaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! 58


- Alguém anotou a placa? Acho que uma jaman... Aaaaaiiiiii que dor nas costas! - Amor, tá tudo bem? - Morri e tô no céu, mas com as costas no inferno. O que houve, Mário? - O Euclides te achou na praia, pulou em ti e te derrubou. Tu bateu a cabeça numa planonda e desmaiou. Só não sei porque tu passou protetor solar no corpo todo menos nas costas, tem até bolhas de tanta queimadura! - Eu passei sim! Na verdade, a tia Eujácia passou o dela... - Tia Eujácia???? Ela só usa óleo de côco!! - O que mais pode acontecer, pelamordedeus? -Jujuuuuuuuuuuuuuuuu!! - Ai não. O Paulo Afonso nãooooooooooooo!!!!

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COLHENDO “FLORES DO LÁCIO” Jorge Moraes

À medida que a vivência se acumula na brancura dos cabelos, e os músculos relutam em obedecer ao nosso comando, tornando-se peças que não mais se contraem, assim como a palidez da face revela suspiros e ais, e os netos deixam de ser crianças, as reflexões tornam-se mais intensas. As noites são vertentes de sonhos a transportar-nos por mananciais em que veleiros jamais aportam nas praias ou ancoradouros. Andamos sem rumo por ―Ceca e Meca‖. O lugar das nossas quimeras, muitas vezes inacessível, fica ―pra lá de Bagdá‖. A alguns, a felicidade e as alegrias são tão efêmeras, duram tão pouco, esvaem-se por entre os dedos do tempo, e o próximo Natal começa no dia subsequente ao anterior. O distante cronológico está sensitivamente perto. O antes agrega-se ao depois. Nossa vaidade, nosso 60


orgulho, nossas aspirações, às vezes são esquecidos, preteridos. Louváveis os que não se deixam abater, vivem e vestem-se ―à grande e a francesa‖. Reúnem forças além das próprias forças, e costumam ―meter uma lança em África‖. A vida é uma pugna constante. Sem tréguas...não permite hesitações. Por natureza somos insatisfeitos. Nascemos para dividir, ceder, compartilhar. Na divisão, somamos afeto. Ao ceder, conhecemos a reciprocidade. Compartilhando, a multiplicidade torna-se una. E quando somos felizes, mesmo momentaneamente, defendemos a apologia de que ―antes ser o segundo em uma aldeia que o primeiro em Roma”. E o rio de nossa aldeia, segundo Fernando Pessoa, é mais bonito que o Tejo. Edificamos ontem o teto que hoje nos abriga. E almejamos, para o amanhã, uma cadeira de balanço, à sombra da varanda, onde sorveremos, em boa companhia, sob o murmúrio do zéfiro, o mate das reminiscências. Ao final do último ato, ao cessarem os acordes, com a 61


anuência do maestro, ‖sairemos à francesa‖, quase imperceptível, de tal sorte que tenhamos agradado ―a gregos e troianos”. Nem todos assistem ao final do espetáculo. A tragédia e a comédia ostentam a mesma máscara. Risos e lágrimas brotam no mesmo leito. Revoga-se o ―jeitinho brasileiro‖. Contudo, nem sempre se harmonizam o ser e o querer. A semente lançada, por vezes fenece, quem sabe até por falta da rega ou desígnios imutáveis, e resta-nos tirar a cobertura de um ―presente grego‖. Revela-se a sagacidade de Odisseu na imponência ardilosa do ―cavalo de Troia‖. Talvez seja esse o preço da solidão. A idade não deve ser passaporte para o incontestável, mas reconhecimento do legado e respeito aos olhos turvos. Os ombros caídos, os trôpegos passos não mais comportam a rigidez da ―disciplina espartana‖, a precisão da ―pontualidade britânica” ou a ―arrogância farisaica‖. Repudiam-se ―filas indianas‖. Mesmo assim, não se lhes neguem o direito de tentar, pois o eco dos sorrisos de descaso pode ensurdecer ouvidos moucos. Prudência com 62


quem professa ―a Cascais nunca mais‖ ou ―de Espanha, nem bons ventos, nem bons casamentos”. A juventude, entorpecida nas benesses da matéria, não dimensiona os limites do provável, do casuísmo, do acidental. Preocupa-se com a morada, sem saber como proteger-se da ventania. Os jovens contemplam o mar, mas ignoram as borrascas e as procelas. Apregoam, indiferentemente, que as mazelas da idade são apenas engodos “para inglês ver‖. Não se creem ter vocação a ―bom samaritano‖. Tal qual Dario I, justificando ―ser lembrado dos atenienses”, precisamos, constantemente, realimentar manifestações de fraternidade, de amor, de crescimento intelectivo e espiritual, lembrando que mesmo aos aquinhoados a vida não é um eterno ―negócio da china‖, menos ainda sedutoras ―paisagens das arábias”. Indiferente a nossas pretensões, muitos conhecem as agruras de um ―corredor polonês‖ ou o vilipêndio da “tortura chinesa‖, e só se redimem quando chegam, humildemente, aos patamares da ―pobreza franciscana‖. Aí 63


pode ser muito tarde. ―Inês é morta‖. De nada vale inocentar-se declarando que ―isto pra mim é grego‖. O beijo que seduz pode levar à traição. A vela que ilumina pode ser a causa da queima. Com a agulha das recordações, vou osturando os retalhos do passado. Assomam-se aos olhos baços os versos líricos do vate romântico Álvares de Azevedo: ―Beijaria até uma caveira / Se espumante o ―madeira” corresse. E se não o tiver, sorveria uma taça do capitoso e borbulhante ―champanha‖ ou ainda gordos goles de um autêntico ―porto‖. Enquanto isso, dormitam empoeirados, num móvel centenário, uma caixa de ―havanas‖ para brindar nascimentos, uma bengala com punho de madrepérolas e um legítimo ―panamá‖. ―A media luz‖, inspirado em Gardel, nossa imaginação troca passos com ilusão.

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SEDE...ÇÃO ou SEDUÇÃO? Jorge Moraes

A partir do momento que as transações comerciais, prioritariamente, condicionaram-se a sofisticados veículos de divulgação, atendendo aos clamores do processo de globalização, ficamos, mais do que nunca, atrelados aos efeitos advindos de uma linguagem alicerçada na criatividade. A ortodoxia não se coaduna com quem objetiva conquistas. Desde o folclórico carroceiro, a valer-se de recursos parcos – e que ainda o faz nas regiões periféricas – que divulgava seus produtos através de rouquenhos brados e batidas fortes numa tábua ao alcance do cabo de relho, até as imagens tridimensionais, terminologia científica e intrincados efeitos mirabolantes, engendrados em berços virtuais, as estratégias mercadológicas passaram por mudanças imensuráveis. 65


A mensagem impressa, gráfica, sonora ou televisiva, nem sempre respeitando princípios e postulados gramaticais, prioriza, em espaços físicos e temporais diminutos, conquistar, principalmente por mecanismos solertes, um público que sempre fez sua opção através da espontaneidade. E poucos não alteraram seu ―modus acquirendi‖. Na limitação de nosso julgamento, cremos que a falta de adesão imediata ocorre por insensibilidade ao apelo, desconfiança, conservadorismo ou defesa de sua liberdade opcional. Tomemos como ponto de partida as campanhas publicitárias alardeadas pelas indústrias e empresas cervejeiras. Durante muitos anos, a embalagem convencional esteve às mãos do mercado consumidor em garrafas de 600ml. No início dos anos 90, chega ao Brasil a lata de alumínio. Fontes confiáveis afirmam que em 2011, 30% do consumo de cerveja deu-se através de embalagens metálicas de 269ml, 350ml e principalmente 473ml. Tendo-se como referência a lata de 350ml, passou-se a denominar, sem que haja deslize gramatical, uma vez que o enfoque é substantivo, ―latinha‖ e ―latão‖. Naturalmente, se tivermos como opções embalagens de 350ml e 473ml, a de menor volume será considerada ―latinha‖. 66


O consumidor de cerveja, quando sozinho, em grande parte, restringe-se a uma ou duas latas, ou talvez a uma garrafa de 600ml. Os comedidos satisfazem-se com a embalagem long neck 355ml. Uma vez reunida a confraria, a descontração, os petiscos, a sedução olorífera e visual de bons cortes, o acompanhamento musical, despertam nossa sensibilidade e ingerimos, talvez, mais do que o recomendado. Citem-se, dentre outras marcas de cerveja, a alemã/holandesa Heineken com 330ml; as uruguaias Patricia e Norteña, com 960ml; a argentina Quilmes com 960ml; a belga Stella com 960ml; a Bohemia Pilsen com 990ml. Nossa indústria cervejeira, a buscar inovações ao mercado, investe maciçamente, também, na embalagem próxima a 1000ml, ou seja quase um litro. E mais, as agências publicitárias fundamentam expressivas vantagens, classificando o litro como ―litrão‖. Arrolando, como não poderia ser diferente, múltiplas vantagens. Não fora uma estratégia de venda, a levarnos a crer que um litrão possui mais líquido que um litro, a denominação estaria completamente inadequada. Isto porque se um ―litrão‖ aproxima-se de 1000ml, quanto terá o litro convencional? E o curioso é que a prática não se 67


efetiva com outras embalagens. Não empregamos um ―litrão‖ de leite, um ―litrão‖ de água mineral, um litrão de azeite. E ainda que tenham quase dois litros ou mais, embalagens de refrigerante são chamadas de ―litrão‖. E hora de nos perguntarmos qual é o volume exato de um litro? Quem sabe, em breve, conheceremos o ―litrinho‖. Lembremos que as unidades de medida (SI: Sistema Internacional) não podem ser passíveis de flexões. E percebam como é curioso – segundo a matemática Magda Sievert – o ―litrão‖ possui menos volume que o ―litro‖, nesse caso. Talvez seja questionável sabermos se o consumidor influenciou a mídia, ou por ela foi influenciado? Permitam-nos enfatizar que quando desejamos aludir a espaços temporais reduzidos, temos por vezo encontrar minutos com, provavelmente, menos de sessenta segundos. Caso nos convenha, diremos: Somente cinco minutinhos nos separaram do fechamento da porta. Mudemos o foco de nossa análise. Temos ouvido, frequentemente, alguns vocábulos e construções bizarras e/ou jocosos, e uma vez proferidos por comunicadores de notoriedade artística, mesmo que cometam atrocidades ao 68


idioma pátrio, de pronto se tornam máximas incontestáveis. Encontram guarida em torpes seguidores, que os repisam, temendo, pelo desuso, falta de identificação com os fluxos vigentes. Em alguns programas televisivos, que se atêm a comentar nuances da intimidade de personagens que habitualmente estão em evidência, quer pelo glamour, quer pela celeuma, quer pela competência, quer por comportamentos desairosos ou conquistas honoríficas, divulga-se a glorificação da maternidade, afirmando que esta ou aquela atriz está gravidíssima. Naturalmente, são programas que possuem público fiel aos fuxicos que envolvem os famosos. Convém recordar que dois são os graus do substantivo: aumentativo e diminutivo. Os adjetivos fazem flexão em estruturas comparativas e superlativas. Em o sendo superlativos (grau máximo), apresentam-se como absolutos e relativos. Sendo relativos, podem ser de superioridade (analíticos ou sintéticos) e de inferioridade. Quando absolutos, classificam-se como analítico – A estátua é muito bela. – ou sintéticos – A estátua é belíssima. – Alguns adjetivos absolutos sintéticos, considerados eruditos, vão buscar nas 69


vertentes grega e latina fundamentação radicular. Dessa forma, teremos paupérrimo (pobre), magérrimo ou macérrimo (magro), nigérrimo (negro), dulcíssimo (doce). Predominam os sufixos “imo” (facílimo), ―íssimo” (fortíssimo). Os advérbios, mesmo classificados como invariáveis, por vezes apresentam flexão: pertinho, cedinho. Algumas palavras, em se considerando o enfoque sintático, mudam de categoria gramatical (derivação imprópria). Examinemos a palavra ―grávida‖ em: A grávida compareceu à ginecologista. É óbvio que é substantivo (sujeito), e mesmo o sendo, não aceita aumentativo ou diminutivo. Não obstante, se a empregarmos em: Maria está grávida, teremos, agora, Maria como sujeito, e grávida evidencia o estado qualificativo. Para que não tenhamos dúvidas, podemos substituir, quem sabe, por Maria está cansada. Entretanto, “cansada‖ aceitará os graus do adjetivo, inclusive cansadíssima. Na colocação ―gravidíssima” , à semelhança de outras palavras, tais como ―morto‖, ―vítima”, o superlativo, gramaticalmente, não encontra respaldo. Não teremos mulheres mais ou menos grávidas que outras, bem como não teremos mortíssimo. A 70


colocação “mortinho”, para o substantivo ou adjetivo, enquadra-se nas liberdades afetivas. Parece-nos, salvo que estejamos equivocados, que ao afirmarem: Maria está grávida! não possuem certeza plena. Recorrem, destarte, ao superlativo, ainda que violentando a castidade da língua pátria. Não faltarão, bem sabemos apologistas dos exemplos ―Os menino saiu daqui agorinha mesmo.‖ e ―Eles foi buscar as marmita.‖, preconizados no livro Por uma vida melhor. Segundo o professor Sírio Possenti, ―trata-se de uma espécie de experimento mental, para que fique mais clara a relação entre fazer gramáticas que levam em conta construtivamente certa tradição escrita e cultural e fazer gramática que não incluam tais elementos‖. Nosso receio fundamenta-se na constante descaracterização da racionalidade idiomática, em beneficio de agravos que põem em risco a visão lógica de nossos vocábulos e estruturas. Não se aconselhe ou defenda, na prática trivial, o preciosismo Machadiano, entretanto, não cheguemos a afirmar que Maria tomou um litrão de dois litros de refrigerante, ficando com o ventre inchado como se estivesse gravidíssima.

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“AMANHÃ MUDA A LUA, TALVEZ A PORCA DÊ CRIA” Jorge Moraes

Com a chegada do Natal e mudança de ano, julgamos de bom alvitre, fazermos algumas ilações a respeito de calendários. A contagem de tempo baseia-se nos movimentos aparentes do Sol e da Lua - para determinar as unidades do dia, mês e ano. O dia nasceu do contraste entre a luz solar e a escuridão da noite. A periodicidade das fases lunares gerou a idéia de mês. A repetição alternada das estações, que variavam de duas a seis, de acordo com os climas, deu origem ao conceito de ano. Os anos lunares têm que ser regulados periodicamente, para que o início do ano corresponda sempre a uma lua nova. A fim de que os meses compreendessem números inteiros de dias, convencionou-se o emprego de períodos alternados de 29 e 30 dias. Mas como o mês lunar médio resultante é de 29 dias e 12 horas, 72


isto é, mais curto 44 minutos e 2,8 segundos do que o sinódico, adicionou-se, a partir de certo tempo, um dia a cada trinta meses, com a finalidade de evitar uma derivação das fases lunares. As origens do calendário Juliano remontam ao antigo Egito. Foi estabelecido em Roma por Júlio César no ano 46 a.C.. Adotaramse 365 dias, divididos em 12 meses de 29, 30 ou 31 dias. A diferença do calendário egípcio está na introdução dos anos bissextos de 366 dias a cada quatro anos. O esquema foi reformulado para que o mês de agosto, nomeado em honra ao imperador Augusto, tivesse o mesmo número de dias que o mês de julho: homenagem a Júlio César. Com o passar dos anos se registra um adiantamento na data do equinócio da primavera. Caso fosse mantido o calendário Juliano, tê-lo-íamos em seis meses no início das estações. Para evitar o problema, recomendou-se ao papa Gregório XIII a correção. O calendário Gregoriano demorou a ser aceito, principalmente em países não-católicos. Inicialmente, foi adotado por Portugal, Espanha, Itália e Polônia. Nas nações protestantes da Alemanha o foi no decorrer do século XVII. No Egito e Japão entrou em vigor desde 1873. Na China em 1912, no Brasil em 1582. Há países 73


que não o aplicam: Israel, Iran, Índia, Bangladesh, Paquistão, Argélia. Na China a adoção foi tão problemática que até gerou o dia 30 de fevereiro. O calendário Gregoriano, usado na maior parte do mundo, compreende 365 dias, mas a cada quatro anos há um ano de 366 dias - o chamado ano bissexto, em que o mês de fevereiro passa a ter 29 dias. São bissextos os anos cujo milésimo é divisível por quatro, com exceção dos anos de fim de século cujo milésimo não seja divisível por 400. No calendário Gregoriano os anos começam a ser contados a partir do nascimento de Jesus Cristo, em função da data calculada, no ano 525 da era cristã. E é mais provável que Jesus Cristo tenha nascido quatro ou cinco anos antes, no ano 749 da fundação de Roma, e não no 753. Para a moderna historiografia, o fundador do cristianismo teria na verdade nascido no ano 4 a.C. O calendário Gregoriano distingue-se do Juliano porque: Omitiram-se dez dias (de 5 a 14 de Outubro de 1582). Corrigiu-se a medição do ano solar, estimando-se que este durava 365 dias solares, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos. Acostumou-se a começar cada ano novo em 1 de Janeiro. 74


No Império Romano, a astrologia acabou introduzindo, no uso popular, a semana de sete dias (septimana, isto é, sete manhãs, de origem babilônica). Os nomes orientais foram substituídos pelos latinos, do Sol, da Lua e de deuses equiparados aos babilônicos. Com o cristianismo, o nome do dia do Sol passou de Solis dies a Dominica (dia do Senhor, Dominus) e o Saturni dies (dia de Saturno) foi substituído por Sabbatum, dia do descanso (santificado). O português adotou a nomenclatura do latim litúrgico cristão, que designou os dias por sua sucessão ordinal. Para perfazer esses 365 ou 366 dias, seis meses alternados teriam 31 dias (março, maio, julho, setembro, novembro e janeiro) e os outros teriam 30 dias (abril, junho, "sextilis", outubro e dezembro), à exceção de fevereiro, na época o último mês do ano, para o qual só restaram 29 dias (e 30 dias nos anos bissextos, os anos de 366 dias), tinha 31 dias, resolveu-se igualar o número de dias de agosto, subtraindo 1 dia de fevereiro, que ficou com 28 ou 29 dias, e se alterou a sequência dos meses de 31 dias (outubro e dezembro teriam 31 dias, no lugar de setembro e novembro). O mês de março era o primeiro mês do ano. Observe, a esse propósito, que SETEmbro era o sétimo mês. Só mais tarde 75


o mês de janeiro - mês do início do mandato dos cônsules romanos - passou a ser o primeiro e não o décimo-primeiro mês do ano. Isso definiu as atuais regras dos meses com 31 dias (janeiro, março, maio, julho, agosto, outubro e dezembro), com 30 dias (abril, junho, setembro e novembro) e com 28 ou 29 dias (fevereiro). A origem do nome dos meses – Janeiro, homenagem a Janus, deus de duas caras. Fevereiro, homenagem a Februa, deusa das purificações e dos sacrifícios. Março, homenagem a Marte, deus da guerra. Abril, de origem contraditória, sobressaindo a referência ao "abrir" (germinar) das sementes. Maio, também de origem polêmica, ora associado à magistratura, ora associado à deusa Maia. Junho, associado a Junius, antigo mês consagrado aos jovens. Julho, homenagem a Júlio César. Agosto, homenagem a César Augusto. Diferentemente da crença popular, o nome "bissexto" não teve origem no fato de anos bissextos contarem 366 dias. A explicação é que o dia complementar seria colocado entre o sétimo e o sexto dia anteriores às "calendas de março" (isto é, entre 23 e 24 de fevereiro - mês que na época tinha 29 dias, normalmente), o que fez denominá-lo "bissexto calendas" (em outras palavras, dois "sextos dias" antes de março). 76


Os registros de datas, como conhecidos hoje, somente foram organizados a partir do Concílio de Nicéia, à época do Papa Silvestre I (foi ele que inspirou o nome da Corrida de São Silvestre e, nas folhinhas, é ele o santo do dia 31 de dezembro), inclusive no que diz respeito ao dia de Natal e ao domingo de Páscoa. E já que aludimos às “folhinhas”, lembram como eram? Outrora, pequenos estabelecimentos comerciais: armarinhos, bazares, ferragens, armazéns, funerárias, padarias, oficinas de conserto de eletrodomésticos, expressavam tradicionais votos natalinos e de novo ano através de calendários, habitualmente pendurados num preguinho nas portas de madeira da copa ou da cozinha, com doze folhas retangulares, em média 30 por 40 cm. Predominavam, nas ilustrações, imagens religiosas, paisagens bucólicas, jardins, castelos, animais (gatos, cães, coelhos, cavalos, peixes), crianças, casais de idosos, acervo gauchesco. As estampas eram aproveitadas, no ano seguinte, nas salas de aula, como material didático. Ao pé, numa quadrícula, apareciam os dias, observações e recomendações. Tão logo tínhamos às mãos as esperadas relíquias, marcávamos o dia semana em que 77


ocorreriam os aniversários e acontecimentos festivos. Ao longo do ano, permitiam-nos identificar o ―Santo do Dia‖, tomar ciência das fases da Lua – fundamentais ao corte de cabelo, à plantação, aos animais ―chegadinhos a dar cria‖, (galinhas, porcos, vacas) e a mulheres ao final da gestação. Alguns exemplares expunham mensagens espirituais ou citações de pensadores consagrados. Nas firmas comerciais – escritórios, tínhamos os calendários de mesa. Nas borracharias e em algumas oficinas mecânicas, a divulgar óleos, pneus e peças, fotos de sedutoras mulheres em vestes sumárias ou desnudas constrangiam o ingresso de respeitáveis e pudicas senhoras. Calendários e agendas, publicados por instituições religiosas, dentre elas as das Irmãs Paulinas, tinham expressiva aceitação nos lares católicos. Colecionava-se o Almanaque do Pensamento. Custos operacionais reduziram as folhinhas, inicialmente, a três estampas, e daí limitou-se a uma, com ou sem imagem. Alega-se que os números maiores favorecem a visualização. Afirmam os mais velhos que nas folhinhas de hoje o tempo passa mais depressa. As farmácias e drogarias divulgavam produtos farmacêuticos através de pequenos almanaques. 78


Conservamos ainda, testemunhando a história, registros dos laboratórios Sanifer, Silveira, Kraemer (IZA), Catarinense (Renascim, Sadol), – com a tradicional carta enigmática - Fontoura, Inkas, Flora da Índia, Klein. Posteriormente, surgiram os pequenos calendários a serem guardados nas carteiras de documentos, facilitando a consulta. Poucos são os estabelecimentos que ainda investem em folhinhas. Raros os laboratórios que nos brindam com calendários. Algumas empresas de grande porte presenteiam clientes preferenciais, com luxuosas agendas. É inevitável, já que as mudanças são constantes, que também nossos registros tivessem uma nova face. Entretanto, parece-nos que, mesmo com a praticidade dos novos calendários, inclusive virtuais, com o desaparecimento das ―folhinhas‖, feneceram dias de lembranças e de lirismo.

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FAMÍLIA (Trechos do livro "O arroz de palma" de Francisco Azevedo.)

"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema... ...Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir... ...Mas a vida... sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, 80


abundante. Aquele, o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente... ...Já estão aí? Todos? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza. Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa. Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto: é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. 81


Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada. O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Manière; Família ao Molho Pardo (em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria). Família é afinidade, é à Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir. Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. 82


Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."

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A SOLUÇÃO Maria Beatriz Mecking

Virou e revirou o jornal, ficou olhando-o como se não o estivesse vendo. Nada havia escrito para aquele dia, nem para o anterior. Estavam cobrando dele algum texto. Apertou a cabeça com as mãos, numa frustrada tentativa de extrair-lhe alguma idéia. Não, a sua cabeça parecia ter-se esvaziado. O toque do telefone acordou-o daquela aflição. Fora de perigo, repetiu. Fora de perigo! Tomou vorazmente o caderno onde costumava fazer as suas anotações. Estava salvo.

EM PAZ Maria Beatriz Mecking

Afastou-se devagar. À medida que a chuva apertava, seu passo tornava-se mais veloz. ‗Minha filha está protegida das intempéries, nada pode lhe fazer mal‘. Lágrimas misturaram-

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se às gotas que lhe banhavam o rosto. Na saída do cemitério, procurou um táxi.

CONSOLO Maria Beatriz Mecking

"Você não me ensinou a te esquecer." Engulo o erro de concordância, a melodia se espalhando pelo carro, penetrando-me pelos poros, coração adentro. "Você não me ensinou a te esquecer" – a frase sorrateira não me deixa, me cobrindo com um véu de melancolia. Mudo de rumo, enveredo para a casa em que um menininho me espera sorridente. Ele me pega pela mão e me escancara um mundo em que me insinuo. E ali me perco, com gosto.

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JUNÇÃO DE DOIS Inalva Nunes Fróes

Os primeiros raios de sol despertaram a dupla de um sono apaziguante. Dormiam abraçados na mais perfeita harmonia de corpos e alma. O espírito era singular, junção de dois, entrelaçados nos emaranhados da emoção. Sobressaltaram-se com o repentino acordar, não do sono, mas da magia que se instalara entre eles. Ao nascer do dia, surgiam recordações de fatos rotineiros que colocavam nuvens cinzentas sobre suas cabeças inebriadas pelo novo sentimento. André cansara de ouvir – professor tem que dar bom exemplo. Isso considerava verdade, mas – não era um bom professor, mestre na arte de ensinar? Sabia que os alunos apreciavam suas aulas, encantados com a facilidade que captavam suas mensagens. 86


Desempenhava o papel de conselheiro e amigo, em função da confiança que os jovens lhe depositavam, procurando-o sempre que se julgassem em apuros. A profissão escolhera por vocação, nunca desanimara em função do baixo salário, continuava dando seu melhor e esperava usufruir o – tudo de bom que a vida tem a oferecer. Ele, moço solteiro, bonito, sarado, ouvia só suspiros ao passar pelo corredor da escola. Embora fosse campeão em sua categoria, João passava o dia treinando entre valentões em meio a brigas, socos e pontapés. Lutava utilizando técnicas apropriadas e inteligentes aproveitando as fraquezas do adversário a seu favor. Quando fora do ringue, fugia de confusões. Gostava de ler como forma de relaxar os músculos enrijecidos pelo esforço físico diário contra seus antagonistas e conflitos internos sobre a repercussão, nos meios esportivos, de sua preferência sexual. Sabia separar o lado profissional de questões amorosas. Os colegas, certamente, duvidariam dessa posição. Poderiam, talvez, confundir qualquer postura e atitude neste sentido. Observava os parceiros de trabalho e não sentia atração física por eles. Aqueles homens 87


musculosos, alguns até serviam de modelo, como ele próprio, e que tanto atraiam as mulheres, não mexiam com sua libido. André era seu refúgio, sua âncora, seu descanso da labuta diária, seu equilíbrio no universo. Discutiam política, trocavam livros, comentavam filmes. Assim, sobressaltados e deslumbrados com esta primeira vez, não sabem o que fazer com tanta profusão de sentimentos que afloram e os emocionam. Com lágrimas nos olhos, dão-se as mãos e fazem uma promessa com o olhar. A comunidade escolar foi surpreendida pela manhã, quando André chegou, de carona com o namorado. O estádio quase veio abaixo, à tardinha, no instante em que André foi buscar João com um beijo de saudade.

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ARTIGOS

A CRÍTICA SEGUNDO O AUTOR NOVATO Joaquim Moncks Recebo, com alegria, esta interessante mensagem de uma confreira do Recanto das Letras sobre temática que me parece relevante a merece uma reflexão mais funda. Resguardo o nome da interlocutora para evitar malentendidos. "Caro escritor, já tive a oportunidade de ler alguns comentários seus em textos de outros recantistas, e lhe digo que a força de suas palavras,duras e incisivas, me retiram lágrimas. Bom, eu as enxuguei e queria dizer-lhe que, caso um dia você tenha um tempinho e paciência, me sentiria honrada em passar pelo fio de sua navalha. Melhor a dor a sangre frio que passar a vida recebendo pomada anestésica. Ninguém evoluciona com tapinhas nas costas. Obrigada.”.

– via e-mail pelo site do Recanto, em 27/10/2011.

Causa-me alguma estranheza que alguém se emocione até as lágrimas com uma colocação 89


de análise crítica, ou seja, do mesmo eito ou similar ―sentir‖ de quem lê uma peça poética – em que há a participação da emocionalidade – e daí se pode, naturalmente, entender a origem da contingência capaz de causar a emoção. Porque uma das funções da POESIA é emocionar o receptor. A crítica literária é fruto de análise racional sobre uma proposta emocional – especialmente em textos de iniciantes ou novatos – porque estes ainda se encontram no período em que estão à busca dos elementos estéticos conjunto de versos que dará origem ao POEMA... São os NOVE ANOS que Horácio, na antiguidade, dizia que era ―para guardar o poema na gaveta‖, esperando a sua maturação, para, então, PUBLICÁ-LO... Nessa fase o criticado nem conseguem ver a Crítica como ação intelectiva que lhe possa fazer crescer... Para pessoas muito sensíveis, nessa fase, a CRÍTICA pouco poderá ajudar, até porque o autor não se dá conta de que, particularmente em Poesia, não é o EGO quem escreve, e, sim o ALTER EGO... E esta linguagem detalhista o iniciante ainda não percebeu nem apreendeu, porque simplesmente a desconhece. Eventual dureza e incisividade não juízos críticos com base na EMOÇÃO. No receptor do estudo analítico sobre a sua peça poética ou prosaica, 90


em geral, os juízos analíticos (de quem cumpre o ofício de escritor) são entendidos como uma afronta ou interferência no processo pessoal de criação e inventiva, e, usualmente, são mal recebidos, mas, daí até provocar o choro, vai uma grande distância. Denota, denuncia e escancara que o criticado é apenas um DILETANTE, que escreve para alimentar o EGO e não para a celebração da CONFRATERNIDADE entre os de similar concepção do mundo e de condenação ao pensar. A crítica literária será útil para quem já passou por essa etapa primária de compulsão do EGO e da necessária chamada de atenção para si como vetor de compulsão criacional ou, ainda, que faz da criação literária a introjeção de terapia psíquica individual ou grupal, no caso de associação ou grupos literários, objetivando comportamentos dos sujeitos do processo ARTE & REALIDADE. Porém, aí o agente propulsor – ANTÍTESE – impulsionando a criação e/ou ação comportamental é o terapeuta e não o oficineiro de Poesia, como é o meu caso. Ou seja, o que atua na estimulação da produção do texto em Poesia. A estética do Belo se dá pelo aprimoramento dos elementos que a fazer fluir. A provocação ou a instigação crítica não se 91


confunde com o gesto negligente e de certa maneira desidioso e cúmplice do ―tapinha nas costas‖. Isso é certo, verdadeiro, como bem colocou a missivista... Todavia, este provocar não pode ser tão tétrico a ponto de ―passar o autor no fio da navalha‖... No processo de aprimoramento literário, a lisonja e a conivência não são métodos propícios ao aprimoramento dos canteiros dos jardins do Belo. Também não é menos verdade que ―cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém‖. E estas valem para

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DITOS POPULARES – (Sentido conotativo) (1) Jorge Moraes É pelo dedo que se conhece o gigante!

Objetivamos, através de exposições coloquiais, tendo como enfoque ―ditos populares‖, utilizar alguns desses importantes, indispensáveis e curiosos recursos linguísticos, inseridos no contexto redacional, que caracterizam a linguagem figurada ou conotativa, Sem delongas, colocamos a mão na massa, evitando que o olho seja maior que a barriga, comendo o mingau pelas beiradas, a conduzir, cautelosamente, a proposta, cozinhando-a em banho-maria. Do contrário, estaremos sujeitos a privar-nos da azeitona da empada, e embananado, a provar um angu de caroço, a beber água por vinho. Iniciamos, arrolando expressões em que predominam vocábulos e ideias, vinculadas ao corpo humano, algumas abrangendo manifestações genéricas, e tantas outras fazendo alusão a alimentos, corroborando que é pelo 93


estômago ou pela boca que se processa a conquista. Contudo, a tarefa, aparentemente fácil, sem entraves, autêntica sopa no mel, ou quem sabe verdadeiro mamão com açúcar, revela-se uma batata quente às mãos, um pepino, a exigir esforços para descascar o abacaxi, sob pena de notarmos que, por vezes, dá crepe, perigando que compremos gato por lebre, e sua existência torne nula todos os esforços. Assim sendo, quando o negócio desanda, de nada vale, nem mesmo chorar as pitangas ou ter pernas pra que te quero ante o leite derramado. A saída, talvez, seja mandar tudo às favas, a provar que a rapadura é doce, mas não é mole. E embora pimenta nos olhos dos outros seja refresco, não é prudente beber água na orelha dos outros. E com o intuito de vender o peixe, temos a clara percepção e o cuidado de que é inviável fazer-se a omeleta sem quebrar os ovos, uma vez que o apressado come cru, e pode, por imprudência, enfiar o pé na jaca. Exige-se, destarte, cautela, pois o caldo pode entornar. Entretanto, quem não arrisca, não petisca, e a persistência atesta que é de pequeno que se torce o pepino, e água mole em pedra dura, tanto 94


bate até que fura, desde que não se confundam alhos com bugalhos. A cada etapa desta salada de frutas, sem passar do ponto, sem engrossar o caldo, bem como tentando não encher linguiça, já que de grão em grão a galinha enche o papo, o universo se amplia. Nosso patrimônio vocabular e linguístico, manancial inesgotável pelas contribuições que a ele se agregam, coloca-nos a faca e o queijo na mão. Faz-se mister separar o joio do trigo, para percebermos que a beleza não põe mesa e toda farinha tem seu dia de araruta. Mesmo na superficialidade dessa análise, ocorrem-nos múltiplos ditos, contudo, sem ir com sede ao pote, nem tirando doce da boca das crianças, menos ainda juntando a fome com a vontade de comer, predominam construções, a enfatizar o negativismo do fato. Não é sem razão que quem comeu e não gostou, lastimavelmente, cospe no prato e procura alguém que pague o pato ou seja o bode expiatório, isto se não estiver nos ludibriando ao chorar de barriga cheia. Em nossas variantes expressionais, deparamo-nos com muitos que, inconscientemente, só dizem abobrinhas, são interlocutores de meia-tigela, vacilam e, por imperícia, pisam no tomate, pisam na batatinha, 95


viajam na maionese. Outros, prolixos, escondem a poeira do desconhecimento debaixo do tapete, tentam puxar a brasa para a sua sardinha, o fogo para o seu assado, a fim de que não se vá tudo água abaixo: por que esquentar a água para outros tomarem mate? Como decorrência, empurram as dificuldades com a barriga, a julgar que, com o tempo, as águas passadas não movem moinhos e o que não mata, engorda. Bem sabemos que quando as coisas azedam há a iminência de provarmos do pão que o diabo amassou. Ratifica-se a máxima de que quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Mesmo sob os limites da sardinha em lata, contradiz-se o valor de preço de banana, e nota-se que embaixo do arroz tem linguiça e nem tudo é farinha do mesmo saco. Já que ingressei como arroz de festa nesse folguedo, e ainda existe muito café no bule, no frigir dos ovos, cremos que a conversa tenha chegado à cozinha, e mesmo com água na boca, vamos saindo antes que tenhamos de ir plantar batatas.

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A IRONIA DOS EUFEMISMOS Sabe-se que, sem imergirmos nos mares da prolixidade ou do preciosismo, muitos profissionais da área da saúde física e mental, tais como sociólogos, psicólogos e talvez filólogos, objetivando minimizar possíveis sequelas, sempre procuraram, através de recursos linguísticos, notadamente eufêmicos, nominar situações e/ou pessoas que exijam Nossa assertiva respalda-se, sobejamente, ―a priori‖, na película Reflexos da amizade, protagonizada, entre outros, pelos extraordinários Robin Williams e David Duchovny. A essência da página cinematográfica reside na amizade do deficiente Pappas (Robin) com o estudante e, ao atingir a maturidade, artista plástico Tom Warshaw (Duchovny). No reencontro, passados longos anos, afloram ternas e jocosas recordações de tempos idos. Pappas, encanecido, tendo ciência de suas limitações psíquicas, declara ao amigo, até com ironia, orgulho e perplexidade, que em 1984 era tido como retardado, em 1987/8, 97


deficiente mental, em 2004, excepcional, e acreditava que as classificações não tivessem chegado a termo. Percebe-se que, lastimavelmente, a mudança ocorre apenas no campo semântico. Quer-nos crer, salvo melhor juízo, que a adjetivação, indiferente a quem merece cuidados especiais, sensibiliza com brisas tênues, apenas familiares e agentes diretamente envolvidos no processo. As autoridades governamentais, em todos os níveis, mantêm-se muito aquém do esperado. Não fora a colaboração de denodados empresários e líderes comunitários, bem como a realização de campanhas associativas, os entraves seriam bem maiores que o são. Deve-se ter percepção e acurada sensibilidade, a fim de que o eufemismo, por dourar excessivamente a pílula, não caia na ironia ou no ridículo. Lembremos que ―preto‖ é cor; negro é raça. Tem servido de chacota, mesmo ante os qualificados como tal, a indicação de ―afrodescendentes‖, isto porque não retratam a realidade sensitiva e podemos tê-los sem que sejam pretos. Diriam os que ironizam as inócuas ações metafóricas: nada mais do que ―lamúrias flácidas para dormitar bovinos‖. Mais intensamente nos últimos anos, temos observado as campanhas e procurado 98


ajustar-nos aos padrões preconizados, sob pena de estimularmos a alienação vocabular. Respeitando-se algumas ―pérolas‖ que chegam às raias da hilaridade, notamos que há um abismo entre o desejar expressar-se e o conseguir. Não vemos como demérito, quando estivermos diante de um impasse na comunicação escrita, consultar quem de direito o sabe, ou crê. Os canais televisivos têm divulgado, com o respaldo publicitário da Operadora de Telefonia OI, uma menina, com Síndrome de Down, cujo comportamento não se diferencia dos tidos e havidos como normais, até pelo contrário. Os comunicadores valem-se de um slogan – “SER DIFERENTE É NORMAL”. É perceptível e inquestionável a intenção de declarar que o considerado ―diferente‖ deve ser visto, admitido, reconhecido e tratado como ―normal. Partindo da aceitação do ―diferente‖ e não há como negá-lo, pois a mensagem o revela, talvez fosse, ainda que persistisse o reconhecimento do ―diferente‖, aconselhável o slogan “O DIFERENTE TAMBÉM É NORMAL”. Cremos que todos o somos, diferentes ou não. 99


Fomos assistir, à tarde, dia 7(sete) de setembro, terça-feira, ao desfile das delegações estudantis no município do Capão do Leão. Mesmo com o advento da tecnologia e com as conquistas virtuais, o rufar dos tambores, o drapejar dos estandartes, herança, quem sabe, que lembra incursões da Idade Média, ainda nos levam às ruas à procura de orgulhosas exibições pueris que se perderam no arreamento de nossos lúdicos pavilhões. Embora demonstrando incentivo a todas as manifestações do evento, não nos pudemos furtar de ver e demonstrar nossa preocupação com os dizeres estampados em algumas camisetas de alunos e educadores. Lia-se “O NORMAL É SER DIFERENTE” –Caso houvesse a omissão do artigo, ou seja, “NORMAL É SER DIFERENTE” , não implicaria alterações na proposta contextual. Inicialmente julgamos que nossa observação incorresse em erro visual ou interpretativo. Lastimavelmente não o foi. Comentamos com alguns professores, inclusive de Língua Portuguesa – quem sabe nosso crivo demonstrasse desacerto. Partamos do princípio fundamental que todos somos diferentes. Em assim o sendo, “SER DIFERENTE É NORMAL”, nada mais 100


é do que o óbvio, não sei se o ―ululante‖ de Nélson Rodrigues. Como consequência, somos todos normais. Para chegarmos a essa inferência precisaríamos de patamares de normalidade, o que, evidentemente, não se ajusta ao objetivo colimado. A proposta, louvável em sua intenção, é a de que os alunos que necessitem de atenção especial não fiquem alijados do contexto coletivo. A afirmação, exposta na indumentária, “O NORMAL É SER DIFERENTE” leva-nos, inevitavelmente à pergunta: e se não somos diferentes, deixamos de ser normais? São dispensáveis intrincados ou complexos raciocínios para se evidenciar que, matematicamente, a correspondência não é biunívoca e inaplicável o princípio do contraditório. Experimentemos proceder à negativa: “O (A) NORMAL (NÃO) É SER Parece-nos, e nos inclinamos à sapiência dos doutos, que a normalidade não está no ser ou não diferente. Da mesma forma, não vemos que sejam imprescindíveis ―rótulos‖ para destacar quem merece atenção especial. E assim, meus amigos, graças ao poder ―miraculoso‖ dessas genialidades intelectivas, os governantes, conscientes ou não, vêm ―minimizando‖, no papel, dores alheias. Os 101


pobres, num passe de mágica, tornaram-se carentes. Só não o são em épocas eleitorais. O incorreto e à margem da gramática ―pobríssimo‖ é humilhante, contudo, o irônico ―paupérrimo‖ tem ares de nobreza. Enquanto divagávamos, o incentivo das palmas estimulava cívica e patrioticamente contorcionistas, balizas, porta-bandeiras, músicos e demais partícipes. O lirismo das harpas harmonizava-se ao estrondear dos bombos, que marcavam a cadência. No palanque oficial, crepitava a chama votiva de nossa brasilidade. E embevecido, quase não percebemos que a tarde envolvera-se no manto do anoitecer.

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DESCULPAR OU NÃO? EIS A QUESTÃO!

Mesmo que não estejamos em vigilância constante, até porque nossos erros e deslizes são tão ou mais graves que os praticados pelo comum dos mortais, não podemos nos furtar de fazer alguns comentários, em se considerando a dedicação que nutrimos pelo pátrio idioma, sobre uma mensagem exposta no centro de nossa cidade. Examinemos: “DESCULPEM O TRANSTORNO, ESTAMOS TRABALHANDO PARA O SEU BENEFÍCIO!‖ Inicialmente atentemos ao fato que a estrutura linguística compõe-se de duas orações. A primeira oração, e a ordem pode ser alterada, apresenta o verbo no imperativo afirmativo, ou seja, “desculpem” (vocês). Ainda que o pronome pessoal esteja omisso, o sujeito não é classificado como ―oculto‖, já que está intrínseco no verbo e, portanto, as mais conceituadas gramáticas o classificam como elíptico.

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As formas imperativas – afirmativas ou negativas – podem ou não ser cumpridas, dependendo de nossas condições, conveniências e uma multiplicidade de fatores. Na situação em pauta, não vemos por que não o fazer, já que afasta a ordem imperativa em nome da apelativa. Como se sabe, quem desculpa, o faz, eximindo alguém. Destarte, somos levados a personificar o transtorno. Onde encontrá-lo? Talvez bem à frente – como entulho, caliça, tapumes. Como ele reagirá ante nossas desculpas? Difícil, não? Pois quem deve ser desculpado ―somos nós‖, causadores do transtorno. Corrijamos então o deslize: “DESCULPEM-NOS”. Já melhorou, ainda que estejamos sendo induzidos à prática da aceitabilidade. O sujeito continua sendo ―vocês‖, e deixamos de desculpar o transtorno. Com a colocação do pronome ―nos‖ e a consequente correção (desculpem a nós), exigese a presença de uma preposição, ou seja, ―DESCULPEM-NOS PELO TRANSTORNO”. Percebe-se, agora, que estamos, sob forma imperativa, solicitando que sejamos desculpados por termos realizado ou ainda operacionalizando, quem sabe obras, que 104


estão causando transtorno. É latente, mesmo ao leigo, que a linguagem está se tornando, menos complexa e adequada aos padrões gramaticais. Ao menos, é nossa pretensão. E se desejássemos, poderíamos ficar cingidos a essa oração, que, por ser una, torna-se absoluta. Temos por vezo explicar ou apresentar a causa de ações que transgridam a regularidade. Por vezes o motivo é plenamente dispensável, podendo gerar, em face de incorreções gramaticais, distorções interpretativas. Diferenciar-se-á uma estrutura que exija complemento, isto porque a oração principal não se completa e a segunda, subordinada, com ou sem conjunção, expõe o fator determinante. Continuemos. Quando se lê “TRABALHANDO PARA SEU BENEFÍCIO!” Incorre-se noutra infração linguística que nos leva a perguntar – benefício de quem? É óbvio que se objetiva o nosso benefício. Quem sabe aí esteja o porquê de sermos compelidos a desculpar. Entretanto, mesmo os mais incautos no idioma que Camões chorou no exílio, reconhecem, de imediato, que o pronome ―seu‖ leva-nos a uma figura de linguagem que denota ambiguidade. 105


Logo, conforme o registro, se o benefício for para acentuar os inconvenientes do transtorno, não nos parece recomendável que o façamos. Deixaremos, dessa forma, de cumprir com o pedido, isto porque queremos para nós o benefício e não para o transtorno. A ambiguidade poderia e deveria ser desfeita, ainda que seja foneticamente menos receptiva, ao usarmos „TRABALHANDO PARA O BENEFÍCIO DE VOCÊ‖. Como vêem, estamos num impasse ―shakespereano‖, desculpar ou não o transtorno, ―eis a questão‖, e se o fizermos, quem sabe, ele se avolume com o benefício. Embora devam ser respeitadas as liberdades usuais, praticadas na linguagem coloquial, referendadas pelo Ministério da Educação, em nome da liberdade de expressão, preconizando quem sabe quanto ―pior‖, ―melhor‖, não nos cabe o direito de com as Universidades, Faculdades e intelectuais que tornam insigne a ―Atenas Rio-grandense‖, dar mostras de nossa incúria. A IRONIA DOS EUFEMISMOS Sabe-se que, sem imergirmos nos mares da prolixidade ou do preciosismo, muitos profissionais da área da saúde física e mental, 106


tais como sociólogos, psicólogos e talvez filólogos, objetivando minimizar possíveis sequelas, sempre procuraram, através de recursos linguísticos, notadamente eufêmicos, nominar situações e/ou pessoas que exijam atenções diferenciadas. Nossa assertiva respalda-se, sobejamente, ―a priori‖, na película Reflexos da amizade, protagonizada, entre outros, pelos extraordinários Robin Williams e David Duchovny. A essência da página cinematográfica reside na amizade do deficiente Pappas (Robin) com o estudante e, ao atingir a maturidade, artista plástico Tom Warshaw (Duchovny). No reencontro, passados longos anos, afloram ternas e jocosas recordações de tempos idos. Pappas, encanecido, tendo ciência de suas limitações psíquicas, declara ao amigo, até com ironia, orgulho e perplexidade, que em 1984 era tido como retardado, em 1987/8, deficiente mental, em 2004, excepcional, e acreditava que as classificações não tivessem chegado a termo. Percebe-se que, lastimavelmente, a mudança ocorre apenas no campo semântico. Quer-nos crer, salvo melhor juízo, que a adjetivação, indiferente a quem merece cuidados especiais, sensibiliza com brisas tênues, apenas 107


familiares e agentes diretamente envolvidos no processo. As autoridades governamentais, em todos os níveis, mantêm-se muito aquém do esperado. Não fora a colaboração de denodados empresários e líderes comunitários, bem como a realização de campanhas associativas, os entraves seriam bem maiores que o são. Deve-se ter percepção e acurada sensibilidade, a fim de que o eufemismo, por dourar excessivamente a pílula, não caia na ironia ou no ridículo. Lembremos que ―preto‖ é cor; negro é raça. Tem servido de chacota, mesmo ante os qualificados como tal, a indicação de ―afrodescendentes‖, isto porque não retratam a realidade sensitiva e podemos tê-los sem que sejam pretos. Diriam os que ironizam as inócuas ações metafóricas: nada mais do que ―lamúrias flácidas para dormitar bovinos‖. Mais intensamente nos últimos anos, temos observado as campanhas e procurado ajustar-nos aos padrões preconizados, sob pena de estimularmos a alienação vocabular. Respeitando-se algumas ―pérolas‖ que chegam às raias da hilaridade, notamos que há um abismo entre o desejar expressar-se e o conseguir. Não vemos como demérito, quando estivermos diante de um impasse na 108


comunicação escrita, consultar quem de direito o sabe, ou crê. Os canais televisivos têm divulgado, com o respaldo publicitário da Operadora de Telefonia OI, uma menina, com Síndrome de Down, cujo comportamento não se diferencia dos tidos e havidos como normais, até pelo contrário. Os comunicadores valem-se de um slogan – “SER DIFERENTE É NORMAL”. É perceptível e inquestionável a intenção de declarar que o considerado ―diferente‖ deve ser visto, admitido, reconhecido e tratado como ―normal. Partindo da aceitação do ―diferente‖ e não há como negá-lo, pois a mensagem o revela, talvez fosse, ainda que persistisse o reconhecimento do ―diferente‖, aconselhável o slogan “O DIFERENTE TAMBÉM É NORMAL”. Cremos que todos o somos, diferentes ou não. Fomos assistir, à tarde, dia 7(sete) de setembro, terça-feira, ao desfile das delegações estudantis no município do Capão do Leão. Mesmo com o advento da tecnologia e com as conquistas virtuais, o rufar dos tambores, o drapejar dos estandartes, herança, quem sabe, que lembra incursões da Idade Média, ainda nos levam às ruas à procura de orgulhosas exibições 109


pueris que se perderam no arreamento de nossos lúdicos pavilhões. Embora demonstrando incentivo a todas as manifestações do evento, não nos pudemos furtar de ver e demonstrar nossa preocupação com os dizeres estampados em algumas camisetas de alunos e educadores. Lia-se “O NORMAL É SER DIFERENTE” –Caso houvesse a omissão do artigo, ou seja, “NORMAL É SER DIFERENTE” , não implicaria alterações na proposta contextual. Inicialmente julgamos que nossa observação incorresse em erro visual ou interpretativo. Lastimavelmente não o foi. Comentamos com alguns professores, inclusive de Língua Portuguesa – quem sabe nosso crivo demonstrasse desacerto. Partamos do princípio fundamental que todos somos diferentes. Em assim o sendo, “SER DIFERENTE É NORMAL”, nada mais é do que o óbvio, não sei se o ―ululante‖ de Nélson Rodrigues. Como consequência, somos todos normais. Para chegarmos a essa inferência precisaríamos de patamares de normalidade, o que, evidentemente, não se ajusta ao objetivo colimado. A proposta, louvável em sua intenção, é a de que os alunos que necessitem de atenção 110


especial não fiquem alijados do contexto coletivo. A afirmação, exposta na indumentária, “O NORMAL É SER DIFERENTE” leva-nos, inevitavelmente à pergunta: e se não somos diferentes, deixamos de ser normais? São dispensáveis intrincados ou complexos raciocínios para se evidenciar que, matematicamente, a correspondência não é biunívoca e inaplicável o princípio do contraditório. Experimentemos proceder à negativa: “O (A) NORMAL (NÃO) É SER DIFERENTE”. Parece-nos, e nos inclinamos à sapiência dos doutos, que a normalidade não está no ser ou não diferente. Da mesma forma, não vemos que sejam imprescindíveis ―rótulos‖ para destacar quem merece atenção especial. E assim, meus amigos, graças ao poder ―miraculoso‖ dessas genialidades intelectivas, os governantes, conscientes ou não, vêm ―minimizando‖, no papel, dores alheias. Os pobres, num passe de mágica, tornaram-se carentes. Só não o são em épocas eleitorais. O incorreto e à margem da gramática ―pobríssimo‖ é humilhante, contudo, o irônico ―paupérrimo‖ tem ares de nobreza. 111


Enquanto divagávamos, o incentivo das palmas estimulava cívica e patrioticamente contorcionistas, balizas, porta-bandeiras, músicos e demais partícipes. O lirismo das harpas harmonizava-se ao estrondear dos bombos, que marcavam a cadência. No palanque oficial, crepitava a chama votiva de nossa brasilidade. E embevecido, quase não percebemos que a tarde envolvera-se no manto do anoitecer.

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ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS

ESTATUTO SOCIAL

Título I Da Denominação, Sede, Símbolos e Abrangência Art.1º - A ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS a qual utilizará a sigla ASBL e, doravante neste Estatuto Social simplesmente como ASBL, com objetivos culturais e educacionais é uma associação civil sem fins econômicos, com duração por prazo indeterminado, rege-se por este Estatuto Social e pelas disposições legais atinentes, estando sediada na Rua 3 de Maio, número 1060, conjunto 403, Pelotas – RS, com foro neste município. Art. 2º - São símbolos da ASBL: a) O Brasão; b) A Bandeira; c) A Flâmula; d) A Pelerine; e) O Sinete. Parágrafo único – Os símbolos da ASBL são descritos de forma minuciosa no Regimento Interno. Art. 3º - A ASBL, para fins de congregação de 113


associados acadêmicos, abrange os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná § 1º – Em cada um dos Estados nominados haverá uma seção da ASBL administrada por um vicepresidente. § 2º - A Seção 1 será a do Rio Grande do Sul, a Seção 2 será a de Santa Catarina, a Seção 3 será a do Paraná. TÍTULO II Dos Objetivos Art. 4º - São objetivos da ASBL: a) Congregar literatos e intelectuais de sua área de abrangência; b) Incentivar a investigação, o desenvolvimento das atividades culturais, a criação, elaboração e a divulgação de obras literárias na região; c) Instituir concursos, prêmios e outros incentivos; d) Manter intercâmbio e colaborar com as entidades congêneres em âmbito local, regional, nacional e internacional; e) Associar-se e colaborar com instituições educacionais públicas ou privadas no incentivo ao ensino e aprendizagem da língua pátria. TÍTULO III Do Patrimônio Art. 5º - O Patrimônio da entidade é constituído de: 114


a)direitos de qualquer natureza suscetíveis de serem apreciados economicamente; b) bens imóveis e móveis; c) biblioteca, fototeca, pinacoteca, hemeroteca e demais recursos audiovisuais; d) montante oriundo da contribuição do quadro social; e) doações e quaisquer rendas eventuais. Parágrafo único – A biblioteca, cuja organização e funcionamento serão regulados por Regimento Interno, reúne em seu acervo livros, jornais, revistas, fotografias, arquivos e museu adquiridos com recursos próprios ou recebidos em doação; para constituição de seu acervo, são priorizadas as obras dos acadêmicos, dos autores da área de abrangência da ASBL. TÍTULO IV Da Organização Deliberativa e Administrativa Art. 6º - A organização administrativa da ASBL compreende: a) a Assembléia Geral; b) a Diretoria; c) o Conselho Fiscal. d) as Seções Estaduais

deliberativa

e

CAPÍTULO I Dos Sócios Art. 7º - A ASBL congrega as seguintes 115


categorias de associados: a) Fundadores b) Acadêmicos; c) Beneméritos; d) Honorários; e) Correspondentes. § 1º - São associados Fundadores aqueles que assinaram a Ata de Fundação da Academia SulBrasileira de Letras, em 09 de maio de 1970. § 2º - São associados Acadêmicos os literatos dos três Estados sulinos que, tendo, pelo menos, um livro publicado em qualquer gênero literário e que, apresentados por membro do sodalício, tenham o seu ingresso aprovado pela Assembléia Geral. § 3º - São associados Beneméritos as pessoas físicas ou jurídicas que prestarem relevantes serviços à Academia, independentemente de naturalidade ou nacionalidade, a juízo da Assembléia Geral. § 4º - São associados Honorários as pessoas físicas ou jurídicas que se destacarem na difusão da cultura, independentemente de naturalidade ou nacionalidade a juízo da Assembléia Geral. § 5º - São associados Correspondentes as pessoas físicas ou jurídicas, com residência ou sede fora do município de Pelotas e que, constantemente trocarem informações de interesse da ASBL e/ou da cultura, e 116


tiverem o nome aprovado pela Diretoria. § 6º - A proposição à Diretoria de nomes para associado Benemérito, Honorário e Correspondente é atribuição dos Sócios Acadêmicos, acompanhando a indicação curriculum vitae e circunstanciada exposição de motivos. Art. 8º - O quadro de Associados Acadêmicos se compõe de até 60 (sessenta) membros, cujas cadeiras têm um patrono específico; o de sócios Beneméritos, Honorários e Correspondentes não tem limite prefixado. Parágrafo único – A Direção da Academia cuidará de uma adequada distribuição de vagas que contemple a representatividade dos três Estados.

CAPÍTULO II Dos Direitos e Deveres dos Associados Art. 9º – São direitos dos associados de todas as categorias: a) Participar das atividades da Academia, utilizar o seu patrimônio, freqüentar os espaços da sede, referir em suas obras e publicações sua pertinência à entidade; b) Sugerir, propor, discutir políticas e medidas que visem ao engrandecimento do ASBL; Art. 10 – São direitos dos associados Acadêmicos: a) Ocupar cadeira numerada do Quadro 117


Acadêmico; b) Usar o sinete acadêmico; c) Mencionar em suas obras o título de membro da ASBL, referindo o número da cadeira que ocupa e o nome do patrono, se assim desejar; d) Votar e ser votado para os cargos eletivos da ASBL, conforme as normas da entidade; e) Ocupar cargos e desempenhar atividades nos Departamentos, a convite do Presidente; f) Representar a ASBL, quando autorizado para isso, por procuração do presidente; g) Vitaliciedade; h) Renunciar à vitaliciedade. Parágrafo único – O associado que perder a cadeira na entidade conforme o disposto no parágrafo 3º do Art. 12, não poderá, a partir de então, referir sua pertinência à ASBL. Art. 11 – São deveres dos associados de todas as categorias: a) Cumprir e fazer cumprir o Estatuto Social, o Regimento Interno, as normas e deliberações da ASBL; b) Contribuir para o bom nome da entidade; c) Incentivar a cooperação com as entidades congêneres e outras instituições culturais; d) Zelar pela imagem e moralidade pública da ASBL. Art. 12 – São deveres dos associados Acadêmicos, além dos especificados no artigo anterior: a) Participar de reuniões, assembléias, 118


solenidades e eventos promovidos pela ASBL. b) Pagar mensalmente, ou em outras modalidades oferecidas pela Diretoria, as contribuições financeiras estipuladas; § 1º - É condição para participar das Assembléias Gerais, ordinárias ou extraordinárias, com direito a voto, estar quite com a tesouraria. § 2º - O associado que não cumprir seus deveres será submetido a julgamento por uma comissão, designada pela Diretoria, e com atribuições estabelecidas pelo Regimento Interno, garantidos ao acusado direito de ampla defesa e de contraditório. § 3º São previstas as seguintes penalidades: a) Advertência – Será aplicada ao associado que infringir os deveres previstos nas letras a), b, e c do Art. 11, e as letras a) e b) do Art. 12. b) Suspensão Será aplicada ao associado que descumprir o previsto na letra d) do Art. 11 ou reincidir na infringência dos deveres para o que se prevê pena de advertência. c) Perda da cadeira – Será aplicada a penalidade de perda da cadeira ao associado que, advertido e suspenso, reincidir em suas faltas, bem como ao associado condenado judicialmente por atos considerados desabonatórios e indignos de participação na Academia, assegurada a postulação de nova cadeira no quadro.

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§ 4º - As penas de advertência e suspensão são de alçada da Diretoria; a aplicação da pena de perda da cadeira proposta ao final do processo pela comissão julgadora, é de competência da Assembléia Geral, sendo que de qualquer penalidade será notificado o infrator através de documento escrito expedido pela Diretoria. CAPÍTULO III Da Assembléia Geral. Art. 13 – A Assembléia Geral, órgão soberano da entidade, é constituída pelos associados acadêmicos em pleno gozo de seus direitos estatutários. Art. 14 – A convocação para as Assembléias Gerais, com a especificação da ordem do dia, será feita pelo Presidente, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, mediante edital afixado no local da sede e/ou em órgão de divulgação, bem como através de correspondência pessoal enviada a cada acadêmico, comprovando-se a data de remessa pelo carimbo de postagem. Art. 15 – A Assembléia Geral Ordinária, bem como a Extraordinária, serão abertas pelo Presidente ou por seu substituto legal que, se assim o decidir a Assembléia, passará a direção dos trabalhos ao associado que for escolhido por maioria, convidando auxiliares para o desempenho das tarefas inerentes à reunião. Art. 16 – As Assembléias Gerais funcionarão, em 120


primeira convocação, na hora marcada, com a presença mínima de 20% dos acadêmicos com direito a voto e, em segunda convocação, trinta minutos após a hora marcada, com a presença mínima de 10% dos associados habilitados. Art. 17 – Para deliberar sobre a destituição do Presidente ou a alteração dos Estatutos Sociais da ASBL, a Assembléia especialmente convocada para este fim, não poderá deliberar, em primeira convocação, sem a maioria absoluta dos associados aptos a votar, ou com menos de um terço nas convocações seguintes, exigindose o voto concorde de, no mínimo 2/3 dos presentes. Art. 18 – Nas Assembléias de caráter eletivo será facultado o voto por correspondência aos acadêmicos residentes fora da sede, sendo o assunto regulado pelo Regimento Interno, vedada a modalidade de voto por procuração. Art. 19 – São atribuições da Assembléia Geral: a) Eleger a Diretoria da ASBL e os integrantes do Conselho Fiscal; b) Aprovar o estatuto social e o regimento interno, assim como suas modificações; c) Apreciar, aprovando ou rejeitando o relatório financeiro da Diretoria acompanhado de parecer do Conselho Fiscal; d) Apreciar, homologando ou rejeitando as propostas de ingresso de novos associados acadêmicos, bem como o de associados beneméritos e honorários, 121


mediante exposição de motivos exarada pela Diretoria; e) Decidir pela aplicação ou não da penalidade de perda da cadeira ao associado julgado conforme o parágrafo 3º do Art. 12. f) Destituir o Presidente com a concordância e o quorum previstos no art. 17. g) Decidir pela extinção da ASBL conforme o disposto no Art. 35.

CAPÍTULO IV Da Diretoria Art. 20 – A Diretoria da ASBL compreende os seguintes cargos e funções: a) Presidente; b) 1º Vice-presidente (RS); c) 2º Vice-presidente (SC); d) 3º Vice-presidente (PR); e) Secretário Geral; f) 1º Secretário (RS); g) 2º Secretário (SC); h) 3º Secretário (PR) i) Tesoureiro Geral; j) 1º Tesoureiro (RS); k) 2º Tesoureiro (SC); l) 3º Tesoureiro (PR). § 1º – A Diretoria contará ainda, para auxiliá-la, com o Departamento de Imprensa e Relações Públicas, bem como com os cargos de Diretor do Patrimônio e outros que julgar necessários, todos os titulares de livre 122


escolha do Presidente e segundo normatização exarada por ele. § 2º - Os cargos da Diretoria são eletivos, conforme art. 19, a), havendo para cada cargo, excetuado o de Presidente, um suplente que auxiliará o titular em suas funções e o substituirá em seus impedimentos. §. 3º - O mandato da Diretoria é de 2 (dois) anos. Art. 21 – Compete à Diretoria: a) Aprovar e pôr em prática as políticas a serem implementadas pela Academia; b) Decidir quanto aos valores e formas de cobrança das contribuições financeiras dos associados acadêmicos; c) Auxiliar a presidência na administração da entidade; d) Apreciar a indicação de nomes para associados acadêmicos, beneméritos, honorários encaminhando os nomes aprovados à homologação da Assembléia Geral; e) Autorizar contratos de locação ou os que implicarem comprometimento financeiro por parte da ASBL; f) Conceder licença ou aceitar a demissão de associados, quando solicitadas por escrito pelo interessado em documento com firma reconhecida; g) Aprovar a admissão ou demissão de funcionários com suas obrigações e salários 123


especificados; h) Autorizar Correspondente.

o

ingresso

de

Associado

Art. 22 – O Presidente será eleito pela Assembléia Geral, para um mandato de 2 (dois) anos e podendo ser reconduzido para um segundo mandato. Parágrafo único – Em caso de vacância do cargo de Presidente, com menos de 50% do mandato, far-se-á nova eleição. Art. 23 – Compete ao Presidente: a) Escolher, empossar e dispensar os titulares de Departamentos e de cargos não eletivos, dentre os associados da ASBL; b) Representar a ASBL ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente, em todos os atos de administração e gestão, podendo para tanto, quando necessário, nomear procurador com poderes específicos para representá-lo. c) Assinar juntamente com o Tesoureiro os documentos da tesouraria e especificamente os cheques bancários; d) Admitir e demitir funcionários; e) Resolver ―ad referendum‖ da Diretoria, os assuntos considerados de urgência, dando ciência aos demais diretores na sessão imediata; f) Convocar e dirigir a Assembléia Geral e os atos solenes realizados pela entidade; g) Convocar e presidir as reuniões de Diretoria; h) Prestar contas de sua gestão através de relatórios financeiros apreciados pelo Conselho Fiscal e 124


pela Assembléia Geral. Art. 24 – Aos vice- presidentes, eleitos com o presidente, e com igual mandato, compete: a) Auxiliar o presidente no exercício de suas funções; b) Substituir o presidente em seus impedimentos e concluir o mandato, em caso de vacância do cargo, obedecida a ordem de precedência sucessivamente; Participar das reuniões da Diretoria; c) Organizar e executar o protocolo das solenidades; Presidir e administrar a Seção do respectivo Estado, auxiliado por um Secretário e um Tesoureiro, desenvolvendo as atividades da ASBL que melhor julgar oportunas e relevantes, em representação do Presidente. Parágrafo único – A administração econômicofinanceira, a contabilidade e a prestação de contas das atividades da Seção cabem ao Vice-Presidente. Art. 25 – Compete ao Secretário Geral: a) Assinar, com o Presidente os documentos relativos à Secretaria; b) Lavrar, em livro próprio, as atas de todas as sessões da Diretoria; c) Manter em dia os registros da entidade. Art. 26 – Compete aos Secretários auxiliar o Secretário Geral em suas atividades e manter em dia o registro da respectiva Seção. 125


Art. 27 – Compete ao Tesoureiro Geral: a) Assinar, com o Presidente, cheques e documentos; b) Conservar sob sua guarda os valores da entidade; Manter em dia os registros atinentes a seu cargo; c) Manter em dia o registro de imóveis e móveis da Academia. Art. 28 – Compete aos Tesoureiros das Seções auxiliar o Tesoureiro Geral fornecendo-lhe os dados para a prestação geral de contas da ASBL e auxiliar o VicePresidente em tudo o que diz respeito às atividades de tesouraria na Seção à semelhança das tarefas exercidas pelo Tesoureiro Geral em relação à ASBL. Art. 29 - As funções de Diretor de Patrimônio, de Assessor de Imprensa e de Relações Públicas serão especificadas no Regimento Interno, de acordo com o estabelecido no presente Estatuto Social.

CAPÍTULO V Do Conselho Fiscal Art. 30 – O Conselho Fiscal é composto por 3 (três) membros efetivos e 1 (um) suplente, tendo a função de examinar os relatórios financeiros e contábeis da Diretoria e das Seções, emitindo parecer para encaminhamento à Assembléia Geral.

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Parágrafo Único – A função de conselheiro fiscal é prerrogativa dos associados acadêmicos, eleitos, pela Assembléia Geral para um mandato de 2 (dois) anos. CAPÍTULO VI Das Seções estaduais Art. 31 – Às seções estaduais compete: a) Promover o congraçamento dos associados de seus respectivos Estados e o entrosamento com os dos demais Estados; b) Indicar à Diretoria da ASBL nomes de acadêmicos a serem apreciados pela Assembléia Geral, para o preenchimento de cadeiras vagas. c) Indicar, dentre os acadêmicos do respectivo Estado, candidatos a Vice-Presidente, secretário e tesoureiro para a Seção, e seus respectivos suplentes a serem eleitos pela Assembléia Geral. § 1º - Respeitadas as normas do Estatuto Social e do Regimento da ASBL, cada seção organizará seu regimento interno; § 2º - Cada seção, além de participar das atividades gerais da ASBL, administrará suas atividades, mantendo contabilidade própria e arcando com seu ônus financeiro. TÍTULO V Das Disposições Gerais e Transitórias Art. 32 – A ASBL comemorará o aniversário de 127


sua fundação em 9 de maio, data em que serão empossados os membros da Diretoria e do Conselho Fiscal eleitos na Assembléia Geral. Art. 33 – Os associados não respondem, nem pessoal nem solidariamente, pelas obrigações contraídas pela ASBL. Art. 34 – Os associados acadêmicos poderão requerer, por escrito , licença por um ano das atividades da ASBL. Art. 35 – A ASBL somente será extinta por deliberação da Assembléia Geral Extraordinária, convocada para este fim, com a presença de ¾ dos associados acadêmicos em pleno gozo de seus direitos e com votos favoráveis de, no mínimo, ¾ dos participantes, destinando-se o patrimônio a outra entidade congênere ou ao município em que estiverem sediadas a sede da ASBL e suas respectivas seções na proporção dos bens nelas localizados. Art. 36 – As regras decorrentes deste Estatuto Social serão disciplinadas pelo Regimento Interno ou Interno e por resoluções da Diretoria. § 1º - A Diretoria elaborará o Regimento Interno no prazo de 120 (cento e vinte) dias. § 2º – Na falta do Regimento, e os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria.

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Art. 37 – O presente Estatuto Social, aprovado pela Assembléia Geral, entrará imediatamente em vigor, revogados as disposições em contrário e o Estatuto até agora vigente, registrado sob o nº 1.280, a fls. 43v/44 do Livro A5, em 12 de novembro de 1973, no Registro de Pessoas Jurídicas em Rocha Brito Serviço Notarial e Registral, de Pelotas.

Aprovado na Assembléia Geral de 06/12/2003 e adequado às novas normas da legislação federal.

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ASBL :CADEIRAS-PATRONOS-TITULARES

CADEIRA No.1 Patrono: Jorge Salis Goulart Titular I: SADY MAURENTE AZEVEDO Titular II: MARÍSIA DE JESUS F. VIEIRA Endereço: G. Telles, 607/901 CEP 96010-310 fone (53) 33028943 - 91088139 E-mail: marisia.vieira@brturbo.com.br

CADEIRA No.2 Patrono:Francisca Marcant Gonçalves Titular: MANOEL JESUS SOARES DA SILVA Endereço: R. João Jacob Bainy, 266 – Pelotas RS E-mail: manoel@ucpel.tche.br

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CADEIRA No.3 Patrono: Manoelito de Ornellas Titular: I- IVONE LEDA DO AMARAL Titular II: Endereço:

CADEIRA No.4 Patrono: Nelson Abott de Freitas Titular: JOAQUIM MONCKS Endereço:R. Lima e Silva, 116/401 CEP 90050-100 Porto Alegre RS E-mail: joaquimmoncks@ig.com.br

CADEIRA No.5 Patrono: Érico Veríssimo Titular: VALTER SOBREIRO JÚNIOR Endereço: R. Prof. Araújo, 2149/102 CEP 96020-360 Pelotas RS

CADEIRA No.6 Patrono: Fernando Luis Osório Titular: MÁRIO OSÓRIO MAGALHÂES Endereço: Av. Domingos de Almeida 3030 CEP 96085-470 Pelotas RS

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CADEIRA No.7 Patrono: Paula Correa Lopes Titular: CATARINA SCHENINI CUNHA Endereço: R.Vicente Lopes dos Santos, 200/301 CEP 90103-140 Menino Deus, P. Alegre RS – cmarlowe@terra.com.br

CADEIRA No.8 Patrono: Francisco de Paula Pinto Magalhães Titular: JOSÉ ANÉLIO SARAIVA End: R. João da Silva Silveira, 211- Na. S. Fátima CEP 96080-000 Pelotas RS

CADEIRA No.9 Patrono: Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior Titular: SUELLY CORRÊA GOMES Endereço: R. Heinrich Hosang, 165/303 CEP 89012-190 Blumenau SC

CADEIRA No.10 Patrono: Francisco Lobo da Costa Titular I: José Vieira Etcheverry Titular II: IRMÃO ELVO CLEMENTE Endereço:

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CADEIRA No 11 Patrono: Álvaro José Gomes Porto Alegre Titular: FELIPE ASSUMPÇÃO GERTUM Endereço: Av. A A Assumpção, 9805 CEP 96090-240 Pelotas RS

CADEIRA No.12 Patrono: Marieta Mena Barreto Costa Amador Titular: ANA LUIZA TEIXEIRA Endereço: Av. Borges de Medeiros, 1141/193 CEP 90020—25 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 13 Patrono: João Simões Lopes Neto Titular: I - ÂNGELO PIRES MOREIRA Titular II: Endereço

CADEIRA No l4 Patrono: Aurora Nunes Wagner Titular I:LYDIA MOMBELLI DA FONSECA Titular II:

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CADEIRA No.15 Patrono: Irajá Moraes Nunes Titular: SÉRGIO OLIVEIRA Endereço: R. Leonardo Colares, 137/101 CEP 96020-190 Pelotas RS

CADEIRA No 16 Patrono: Raul de Leôni Titular I: IVO CAGGIANI Titular II: LÍGIA ANTUNES LEIVAS Endereço: R. Dr. Franklin Olivé Leite, 323 CEP 96055-520 Pelotas RS Liluleivas@starmedia.com loleivas@yahoo.com.br

CADEIRA No. 17 Patrono: Demerval Araújo Titular: I -HARLEY CLÓVIS STOCCHERO Titular: II Endereço:

CADEIRA No .18 Patrono Alberto Coelho da Cunha Titular: RONALDO CUPERTINO DE MORAES Endereço: R. Gen. Osório, 938 CEP 96020-000 Pelotas RS

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CADEIRA No. 19 Patrono: João Cruz e Sousa Titular I: Rondon Soares Titular II: LAURO JUNKES Endereço: R.Capitão Romualdo de Barros, 251. CEP 88015-000(Carvoeira)Florianópolis SC

CADEIRA No. 20 Patrono: Maria Alzira Freitas Taques Titular: ZENIA DE LEÓN (Licenciada) Endereço: R. Bernardino Santos, 74 CEP 96080-030 Pelotas RS

CADEIRA No. 21 Patrono: Victor Russomano Titular: JORGE MORAES Endereço: R. Manoel Caetano da Silva, 16 CEP 96025-230 Pelotas RS

CADEIRA No.22 Patrono: Januário Coelho da Costa Titular: CLÓVIS ALMEIDA ALT Endereço: R. Cel. Alberto Rosa, 268 CEP 96010-770 Pelotas RS

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CADEIRA No. 23 Patrono: Adalberto Guerra Duval Titular: CLÓVIS P. ASSUMPÇÃO Endereço: Av. 16 de Julho, 165 CEP 90550-220 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 24 Pat:Antônio José Gonçalves Chaves TitularI:HELOISAASSUMPÇÃO NASCIMENTO Tit. II:MARIA BEATRIZ COSTA MECKING Endereço: R. Vol.Pátria 1039/ 1203 CEP 96010-610 E-mail: costamecking@gmail.com

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CADEIRA No.25 Patrono: Guilherme de Almeida Titular: OSÓRIO SANTANA FIGUEIREDO Endereço: R. Procópio Mena, 975 CEP 97300-000 São Gabriel RS

CADEIRA No. 26 Patrono: Ceslau Mario Biezanko Titular: ANTENOR PEIXOTO DE CASTRO Endereço: R. 15 de Novembro, 666/1110 CEP 96015-000 Pelotas RS

CADEIRA No. 27 Pat: Roberto Landell de Moura Tit I: ENRIQUE SALAZAR TitularII:OLGA MARIA DIAS FERREIRA End: Gen. Neto, 625/302 Pelotas RS –CEP 96015-280 E-mail: olgadf@gmail.com.

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CAVERO


CADEIRA No.28 Patrono: José Xavier de Freitas Titular: MIGUEL

RUSSOWSKI

CADEIRA No. 29 Patrono: Aureliano Figueiredo Pinto Titular: FRANCISCO PEREIRA RODRIGUES Endereço: R. Vasco Alves, 435 CEP 90010-410 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 30 Patrono: Alberto Pereira Ramos Titular: ANTÔNIO KLEBER MATHIAS NETTO Endereço: R. Castro Alves, 950 CEP 25959-075 Teresópolis, RJ

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CADEIRA No. 31 Patrono: Dionélio Machado Titular: DANILO UCHA Endereço: R. Lopo Gonçalves, 172 CEP 90050-350 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 32 Patrono: Tristão Veloso Nunes Vieira(MárcioDias) Titular: MARIA ALICE ESTRELA Endereço: Largo Gomes da Silva, 3635/201 CEP 96020-240 Pelotas RS

CADEIRA No. 33 Patrono: José Vieira Pimenta Titular I: JOSÉ BACCHIERI DUARTE Titular II:

CADEIRA No. 34 A foto é de Sejanes Dornelles Patrono: Josué Guimarães Titular: JOSÉ TÚLIO BARBOSA Endereço: Av. João Pessoa, 1784/803 CEP 90040-001 Porto Alegre RS

140


CADEIRA No. 35 Pat: Hipólito José da Costa Tit I: Edgar José Curvello Titular II: ÂNGELA TREPTOW SAPPER Ender: Rua Paulo Alcides Porto Costa, 205 - Cep 96090-000 Email: angelatreptow@terra.com.br – Fone: 53-32264122

CADEIRA No. 36 Patrono: Juliné da Costa Siqueira Titular I: PEDRO BAGGIO Titular II: REYSINA VIANNA RAMOS Endereço: R.Sinval Brauner Penteado, 52 Areal, Pelotas, CEP 96077-700

CADEIRA No. 37 Patrono: Antônio Gomes de Freitas Titular I: MARIA AMÉLIA GONÇALVES HILLAL Titular II Endereço:

141


CADEIRA No. 38 Patrono: Ramiro Barcelos Titular I: HUGO RAMIREZ Titular II: Endereço:

CADEIRA No. 39 Patrono: Arquimedes Fortini Titular: PÉRICLES AZAMBUJA Endereço: R.7 de Setembro, 1561 CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS

CADEIRA No. 40 Patrono: Darci Azambuja Titular: ANSELMO AMARAL Endereço: R. Gen. Osório, 2279 CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS

CADEIRA No. 41 Patrono: Mário Quintana Titular: WILMA MELLO CAVALHEIRO Endereço: R. Anchieta 3173/102 CEP 96015-420 - Pelotas RS F: (53) 32255045

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CADEIRA No. 42 Patrono: Oscar Bertholdo Titular: JANDIR JOÃO ZANOTELLI Endereço: R. Jaguarão, 643 CEP 96090-350 - Laranjal – Pelotas RS E-mail: jjzanotelli@ig.com.br fone (53-)32262662

CADEIRA No. 43 Patrono: Noemi Assumpção Osório Caringi Titular: NAIR SOLANGE PEREIRA FERREIRA Endereço: General Telles, 358 CEP 96010-310 - Pelotas RS E-mail: nspf@ig.com.br

CADEIRA No. 44 Patrono: Delminda Silveira TitularI: CHEILA STUMPF Titular II: JULIO DIAS DE QUEIROZ

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CADEIRA No. 45 Patrono: Noemi Vale da Rocha Titular: BLAU FABRÍCIO DE SOUZA Endereço: Av. Juca Batista, 8.000, casa 114 Belém Novo, CEP 91.780-070 Porto Alegre RS E-mail: blausouza@.c.povo.net

CADEIRA No. 46 Patrono: Magda Costa Circe de Moraes Palma Monteiro Tit:NEUSA MARILÚ DUARTE End: Av. Independência, 1196 CEP 96300-000 - Jaguarão RS

CADEIRA No. 47 Patrono: Carlos Drummond de Andrade Titular: LUIZ DE MIRANDA Endereço: José do Patrocínio, 95/405 CEP 90050-001 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 48 Patrono: Guilhermino Cezar Titular: JOSÉ CLEMENTE POZENATO Endereço: R. Conselheiro Dantas, 1290/301 CEP 95054-000(S.Família)Caxias do Sul RS E-mail: pozenato@terra.com.br

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CADEIRA No. 49 Patrono: Luiz Delfino Titular I: PASCHOAL APÓSTOLO PÍTSICA Titular II: JOSÉ ISAAC PILATI Endereço: Largo Benjamim Constant 691/603 CEP88015-390 Florianópolis SC E-mail: jipilati@matrix.com.br

CADEIRA No. 50 Patrono: Virgílio Várzea Titular: HOYÊDO DE GOUVÊA LINS Endereço: R. D. Joaquim, 132 CEP 88015-310 Florianópolis SC

CADEIRA No. 51 Patrono: Brasílio Itiberê Titular: CLORIS CASAGRANDE JUSTEN Endereço: R. Des. Otávio do Amaral 57/142 CEP 80730-400 Curitiba PR

CADEIRA No. 52 Patrono: Scharffenberg de Quadros Titular: CLOTILDE DE QUADROS CRAVO Endereço: R. XV de Novembro 1630 CEP 80050-000 Curitiba PR

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CADEIRA No. 53 Patrono: Luiz Carlos Pereira Tourinho Titular: IVO ARZUA PEREIRA Endereço: Cons. Laurindo, 890/702 CEP 80060–100 Curitiba – Pr Ivo@arzua.com.br

CADEIRA No. 54 Patrono: Oscar Joseph de Plácido e Silva Titular: JOÃO DARCY RUGGERI Endereço: R. Nestor Vistor, 227 CEP 80620-400 Água Verde – Curitiba - Pr. E-mail: HYPERLINK mailto:ruggeri@uol.com.br ruggeri@uol.com.br

CADEIRA No. 55 Patrono: João Cândido Titular: LAURO GREIN FILHO Endereço: Av. D. Pedro II, 571/701 CEP 80420-060 Curitiba -Pr

CADEIRA No. 56 Patrono: Assad Amadeo Titular: LUÍS RENATO PEDROSO Endereço: R. Carlos de Campos, 482/62 CEP 85540-110 Curitiba - Pr 146


CADEIRA No. 57 Patrono: Emílio de Menezes Titular: ROZA DE OLIVEIRA Endereço: R. João Negrão, 140/71 CEP 80010-200 Curitiba PR E-mail: roza @ onda.com.br

CADEIRA No. 58 Patrono: Ruy Wachowicz Titular: SEBASTIÃO FERRARINI Endereço: R. XV de Novembro 1050 CEP 80060-000 Curitiba PR

CADEIRA No. 59 Patrono: Telêmaco Borba Titular: TÚLIO VARGAS Endereço: R. Coronel Dulcídio 1239/5 CEP 80250-100 Curitiba PR E-mail: tulio@netpar.com.br

CADEIRA No. 60 Patrono: Ildefonso Pereira Correia Titular: VALTER MARTINS DE TOLEDO Endereço: Av. Pres. Getúlio Vargas,3737/33 CEP 80240-041 Curitiba – Pr E-mail: v.toledo@terra.com.br

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