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REVISTA DA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS Jandir Jo達o Zanotelli (organizador)

Pelotas Junho - 2009 No.17


REVISTA DA ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS Fundada em 9 de maio de 1970 Diretoria Presidente: Jandir João Zanotelli Vice-Presidente RS: José Moreira da Silva Vice-Presidente SC: Lauro Junkes Vice-Presidente PR: João Darcy Ruggeri Secretário: Wilma mello Cavalheiro Tesoureiro: Reyzina Vianna Ramos Conselho Editorial Ângela Treptow Sapper Jandir João Zanotelli (organizador) Joaquim Moncks José Clemente Pozenato Lígia Antunes Leivas Maria Alice Estrela Maria Beatriz Mecking Caringi Sérgio Oliveira Wilma Mello Cavalheiro ________________________________________________ Revista da Academia Sul-Brasileira de Letras- N 17 (junh.2009)

Pelotas: EDUCAT, 2009. Semestral. 150 p. ISSN 1809-5540 1. Letras – Periódicos. 2. Literatura – Periódicos. CDD B869.05 ____________________________________________________ Sede: Rua 3 de Maio 1060 – Conj.403 – Pelotas – RS– 96010-620 E-mail- jjzanotelli@ig.com.br


SUMÁRIO Apresentação........................................................................5 EVENTOS............................................................................7 1.Com a palavra Lígia A. Leivas, ex-presidente................7 2. Discurso posse José Moreira da Silva..........................12 3. O Paraná age.................................................................27 4. Sarau em homenagem a Fr. Lobo da Costa .................28 5. Concurso de Poesia “Minha Terra” .............................29 6. Eleições para Diretoria da ASBL ................................31 POESIA .............................................................................35 Coração de Mãe – Roza de Oliveira ...............................35 Percepção – A. Kleber Mathias Neto .............................37 Personas y Cigarillos – José Xavier de Freitas Neto ......38 Verdad y Mentira – José Xavier de Freitas Neto ............39 Tango – Luiz Coronel .....................................................41 Quintilhas – Francisco Pereira Rodrigues .......................43 A criatura – Vanda Fagundes Queiroz ............................44 A estrela – Manuel Bandeira ...........................................45 Harmônico acalanto – Wilma Mello Cavalheiro ...........46 Soneto – Olavo Bilac ......................................................47 Amizade...Amor – Miguel Russowsky ...........................48 Silêncios – Rogério Gastal Xavier ..................................49 Homem – José Moreira da Silva .....................................50 A alguém – Francisco Lobo da Costa ..............................51 Tributo a um injustiçado – Carlos Eugênio C. da Silva ...53


POESIA E HUMOR...........................................................55 TROVAS............................................................................56 CONTOS E CRÔNICAS....................................................57 Cinderela – Maria Beatriz Mecking ..............................57 Os segredos de Monalisa – Valmor Zannin ..................59 Pedro anda – Jandir João Zanotelli ..............................62 As fadas mordem por ti – Paulo Soriano .......................64 A lua de João – Jandir João Zanotelli ............................78 Gato Preto – Ruth Ávila Zanotelli .................................87 ARTIGOS E ENSAIOS .....................................................93 João Simões Lopes Neto – Loiva Hartmann .................93 Chinelo novo prum pé torto – Joaquim Moncks.............97 ESTATUTO SOCIAL DA ASBL......................................99 ASBL: Cadeiras – Patronos – Titulares............................114


APRESENTAÇÃO A Revista de nossa ASBL existe, resiste, insiste em ser um de nossos elos de ligação. Antes que o inverno manifeste o rigor da vida que precisa de raízes fundas na terra escura para refazer o viço, consolidar o tronco protegido na casca de tantos fazeres, ao embalo de namoros e festas juninas, vem à luz o 17º número. Vem para ser manuseado, apalpado, sublinhado, riscado, guardado, de papel. Por esforço da ex-presidente Lígia Antunes Leivas dispomos também de um espaço eletrônico que torna tudo mais célere, virtualmente atual. O endereço está abaixo. Mas o livro é bom. Faz falta. É companhia perene e silenciosa. Sempre à mão. Nestes tempos globais em que o homem se defronta irremediavelmente com suas mazelas, com seus pecados e suas esperanças, quando dizer que “a vida da humanidade está em perigo” já não é apenas metáfora, é urgente pensar em nosso ofício de operários da palavra. A palavra mostra, a palavra esconde, a palavra convida, insinua, a palavra promete, a palavra salva, a palavra condena, a palavra nos constitui em todas as dimensões.


Se nos foi dado falar, se a palavra nos foi confiada, se somos pastores da palavra e do Ser que nela habita é preciso que sejamos fiéis. E permitamos que nela se mostre a verdade e a justiça, e o clamor do “menor dos meus irmãos”, do mais excluído da palavra possa aceder ao nosso ouvido acolhedor e nos revestir de força suficiente para organizar um mundo de paz. E que ela seja sempre fortaleza contra os fetiches, os ídolos que nós homens fabricamos na história, que sempre exigem sangue de vítimas, que exigem a subserviência agachada de seus “sacerdotes” e de seus “fiéis”. Que ela nos mantenha eretos, de braços abertos para o amplexo fraternal. Pelotas, 12 de junho de 2009. Jandir João Zanotelli (organizador). Endereço eletrônico de nossa página: www.acadslb.sites.uol.com.br


EVENTOS 1. A presidente até o dia 9 de maio relatou algumas atividades que aconteceram em sua gestão. Muitas são as atividades desenvolvidas pela Academia Sul-Brasileira neste primeiro semestre de 2009. Destacamos alguns, lembrando que cada Acadêmico, cada Seção estadual realizou muito mais do que aparece aqui. Nossa gestão à frente da ASBL chegou ao fim. Foi modesta, mas fiz o que pude, o que foi possível. Há o sentido do dever cumprido. Certo é que fizemos a Academia ser conhecida e reconhecida em pontos além das fronteiras dos três Estados do sul, vez que ela passou a participar, através da internet, dos mais variados movimentos literários em todo o Brasil e em diversos países. Também criamos o nosso site: www.acadslb.sites.uol.com.br que está sendo construído. Pedimos que os srs. e as sras. enviem material para que possamos elaborar a página de cada acadêmico - serão três (3) para cada um. Agradeço a todos a gentileza e a colaboração. Sabemos que trabalhar com cultura, em nosso país, é tarefa nobre, mas sobretudo árdua. Os entraves com os quais vamos nos deparando ao


longo da jornada não são fáceis de serem removidos, mas com paciência e perseverança os passos vão sendo dados e o caminho, vencido. Foi uma experiência válida que me fez recordar uma frase de Churchill "Não desistam nunca!" Com todos os percalços da minha vida privada e que muito exigiram de mim, não esmoreci... ao contrário, mais uma vez me convenci de que viver é participar da reconstrução de cada momento... e acho que assim me conduzi. De acordo com o resultado da eleição levada a efeito em nossa última AG, a nova gestão da ASBL terá como presidente o Prof. Jandir João Zanotelli; como vice-presidente no RS o Dr. José Moreira da Silva; secretária, Wilma Mello Cavalheiro; tesoureira, Reyzina Vianna Ramos. Agradeço em particular àqueles que estiveram mais próximos de mim e que compuseram nossa diretoria. Deixo meu carinho muito profundo por todos vocês (permitam-me assim tratá-los) e façome uma promessa, um juramento: conhecer aqueles que ainda não tive o prazer, o privilégio de conhecer. Por questão de impossibilidade de acesso à nossa sala, vez que o elevador não funciona desde dezembro de 2008, faremos a apresentação do relatório financeiro, bem como a discriminação de 8


todas as atividades realizadas, assim que o "mal" for reparado, ou seja, assim que o elevador for consertado, pois temos nosso material guardado nos armários em nossa sede. Contamos com a compreensão dos confrades e confreiras. Fico disponível para o que for necessário e estiver ao meu alcance. Listagem das principais atividades ASBL em eventos culturais no período de 4.6.2007 a 8.5.2009: Presente em 168 acontecimentos, entre os quais: 41 reuniões – 3 assembléias ordinárias; 34 viagens: Porto Alegre, Rio Grande e Cassino, São Lourenço do Sul, Bagé, Bento Gonçalves, Blumenau; 8 feiras de livros: Pelotas, Porto Alegre, Rio Grande (Cassino) e São Lourenço do Sul; Posses de novos acadêmicos na ASBL: Reyzina Ramos, Marísia Vieira, Rogério Xavier, José Moreira da Silva Outorga do título de Acadêmico Benemérito a Augusto Luiz Rodrigues Júnior; 16 saraus lítero-poéticos; 2 concursos literários patrocinados pela ASBL;

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Um concurso literário patrocinado pelo Hospital São Francisco de Paula (Acad. Nair Solange Ferreira) e a ASBL; 7 homenagens especiais: Dia Internacional da Mulher (2); Carmen Silva; Ir. Elvo Clemente; Profa. Loiva Hartmann; Dr. Juarez Machado de Farias; Jorn. Luiz Dalla Rosa; 4 homenagens recebidas: Câmara de Vereadores de Pelotas, Cronista Jacyra Félix de Souza; Portal CEN (Congresso em Blumenau); Hospital São Francisco de Paula (Pelotas) Compromissos da ASBL com outras instituições: Academia Rio-Grandina de Letras Rio Grande; Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves (Porto Alegre); Proyecto Cultural Sur (BG,RS); Portal CEN (Brasil Portugal); CAPORI (P.Alegre,RS) Poetas Del Mundo; ALPASXXI; APelL;CAPAZ;Centro de Escritores Lourencianos; Biblioteca do Bairro Navegantes (S. Lço do Sul); Centro Literário Pelotense; ALGA; Club Pan-Americano "Eng. Enrique Salazer Cavero" e Rotary Pelotas Norte; MAPP; Lançamentos de livros dos acadêmicos da ASBL:21ReyzinaRamos, MarísiaVieira, Jandir Zanotelli; Joaquim Moncks; Lígia Antunes Leivas; 10


João Darcy Ruggeri; José Pilati; Roza Oliveira; Maria Beatriz Mecking;FranciscoPereira Rodrigues; Osório Santana Figueiredo; Luiz de Miranda; Prof. Ferrarini Revistas ASBL: 4 junho 2007; dezembro 2007; junho 2008; dezembro 2008;(organizador Acad. Jandir Zanotelli) Realização parcial do projeto 'O livro na comunidade'; Participação no Conselho de Cultura de Pelotas e no Fórum de Cultura; Participação no Coep; Participação em comissões julgadoras de concursos literários; Presença nos jornais Diário da Manhã, Diário Popular, Zero Hora e outros: (aproximadamente 700 vezes); Página na internet: WWW.acadslb.sites.uol.com.br Premiações recebidas pelos acadêmicos: Luiz de Miranda; Joaquim Moncks; José Isaac Pilati; Lígia Antunes Leivas; Maria Beatriz Mecking; Reyzina Ramos; Marísia Vieira; Olga Ferreira; Manoel Jesus Soares da Silva; Wilma Cavalheiro; José Anélio Saraiva; Miguel Russowski; Jandir Zanotelli

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2. Discurso de posse do acadêmico José Moreira da Silva, na solenidade de 24 de abril de 2009. Autoridades.... Cícero e Vieira, ajudai-me neste discurso, a fim de que estas palavras simples encontrem morada nos corações humanos. E o dia se fez noite, e a noite se fez manhã, na manhã raiou o sol. O menino que veio de longe, descansa o cajado à sombra da ASBL. Exma. Sra. Presidente da Academia SulBrasileira de Letras; Exmos. Senhores e Senhoras Acadêmicos e autoridades que constituem a Mesa Diretora deste ato solene; Exmos. Representantes de entidades e associados presentes; Colenda Assembléia de amigos e amantes das letras e do associativismo cultural: HOMENAGENS E AGRADECIMENTOS Nossas homenagens a esta Colenda Assembléia de amantes das letras e do associativismo cultural, à qual pedimos alguns minutos de sua preciosa atenção.

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À Academia Sul-Brasileira de Letras, cujo quadro acadêmico, sobre a batuta da Dra. LIGIA ANTUNES LEIVAS, ratificou a nossa indicação, proposta pelo Acadêmico Joaquim Moncks, para ocupar a cadeira número 13, patronímica do grande poeta e escritor JOÃO SIMÕES LOPES NETO. Devo dizer que a Sra. Presidente – Lígia Antunes Leivas, tratou desta posse acadêmica, tal qual a mãe que gestou um filho e, desde o ventre, até que ele veja a luz, derrama-se em preparativos, eficiência e carinho, próprios dos que marcham na direção de uma excelência do procedimento. Ao INSTITUTO JOÃO SIMÕES LOPES NETO, na pessoa de seu presidente Sr. HENRIQUE PIRES, também presidente do Conselho de Cultura de Pelotas; Âncora do Programa “Pelotas à Noite” – Rádio Pelotense (uma das mais antigas do Brasil!); ex-presidente da Integrasul (Secretaria de Turismo e Cultura de Pelotas); natural de Pedro Osório, jornalista de renome, que, nobremente, quando outras portas não se puderam abrir, acolheu o pedido da ASBL para a realização, aqui, deste ato solene. Saiba, grande senhor Henrique Pires, que nos faz um excelente bem estarmos nesta casa, onde viveu o criador de Blau Nunes, cujas paredes estão cobertas de lembranças e por toda a Casa circula eflúvios da poderosa corrente mental do meu Irmão Simões 13


Lopes. Acreditamos que o som que se faz palavra e o traço que se faz pensamento no papel são tais como a luz das estrelas que percorrem os mundos, iluminando mentes e corações. Muito obrigado, Sr. Henrique Pires. Ao meu paraninfo, acadêmico Joaquim Moncks, cuja amizade nascera de um primeiro encontro, em 30 de outubro de 1995. Daí em diante, nos tornamos companheiros no ativismo cultural e tivemos oportunidade de percorrer milhares de quilômetros no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, levando o apoio da Academia Literária Gaúcha às outras entidades culturais. Moncks plantou em mim uma árvore, cujos frutos agora saboreio, ainda não bem maduro para ser um satélite entre os astros e estrelas deste sodalício, mas, indicado por Moncks para compartilhar dessa Confraria de lídimos representantes do saber, recebo além da coroa, um par de asas para voar aos páramos da sabedoria. À minha esposa Nuria Pires Moreira da Silva, que tem suportado minha ausência enquanto persigo o caminho das letras e do associativismo cultural. Ao meu Irmão e amigo Tristão Oleiro, colaborador na busca de matéria para este discurso, 14


que inclusive pesquisou junto ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul sobre o irmão maçon JOÃO SIMÕES LOPES NETO, cujo comprovante estamos juntando. Ao meu editor – Antônio Filipe Neiva Soares, que muito tem colaborado para difusão da minha obra; à Suzette Silverio Sozinho, acadêmica da ALGA, que tem feito revisões dos meus livros, com muita sabedoria e verdadeira dedicação; e Ieda Cavalheiro, que têm primado pela minha projeção literária. À Santa Inèze da Rocha Neiva Soares, revisora do meu livro Atilhos, recentemente publicado, e diretora cultural do Instituto Cultural Português, de que tenho a honra de ser o vicepresidente e que Antônio Soares o preside com muita sabedoria e eficiência. À Maria Clara Segóbia, que me tem acompanhado no ativismo cultural traçando um roteiro em fotos e filmes. Minhas homenagens vão também para três mulheres que formam o trio dinâmico das letras: Alba Pires Ferreira, Ilda Maria Costa Brasil e Rozélia Scheifler Rasia. Alba é presidente da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves, Ilda é secretária da mesma Academia e cognonimada “Sra Eficiência”, Rozélia é

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presidente da Associação Artística e Literária a Palavra do Século XXI. Agradecimentos vão também para as caravanas que vieram de Porto Alegre, com representantes do Instituto Cultural Português; da Casa do Poeta Riograndense; da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves; da Academia Literária Gaúcha. Iguais agradecimentos vão para o representante das Lojas Maçônicas José de Arimateia e Estrela do Sul, ambas de Porto Alegre e Farol da Lagoa 355 de Pelotas. Cito e agradeço as ilustres presenças dos escritores, poetas e declamadores: Avelino Alexandre Collet, membro da Academia Riograndense de Letras; Ruth Telles, da União Brasileira de Escritores/RS e aos demais representantes de entidades e amigos presentes. Aqui estou, neófito, esperando que me levem pela mão, quero mais andar por essas veredas de sabedoria. Alguém disse que o homem é produto do meio. A filosofia da Grande Ordem dos que levam as virtudes aos altares e os vícios às masmorras, ensina que somos eternos aprendizes. Tudo tem uma história. A minha história de interação com a Academia Sul-Brasileira de Letras começou acerca de quinze anos, quando a Academia Literária Gaúcha, em caravana de ônibus lotado, participou de uma solenidade no Castelo Simões Lopes Neto, então sede da Academia. Era 16


presidente Zenia de Léon. A caravana foi recebida no alto da escadaria de entrada. Destacava-se a insigne figura da Acadêmica Suelly Corrêa Gomes, que declamou o meu soneto GRAVO O CANTO EM PEDRA. Inesquecível momento aquele! Ali nasceu o namoro entre duas entidades. De lá para cá, Pelotas incluiu-se no roteiro constante da Alga. Participamos de inúmeras atividades deste sodalício. Destaco uma, para exemplo: O convite chegou a Porto Alegre, dos acadêmicos da Alga, somente eu estava disponível. Era a posse acadêmica da Dra. LÍGIA ANTUNES LEIVAS. Não a conhecia ainda, mas não tive dúvida. Peguei a estrada. Na hora exata estava aqui. Naquele ato solene nasceu um elo da grande corrente da amizade. Vejam como se faz história: estou chegando a este quadro acadêmico e a presidente, com muita honra, é Lígia Antunes Leivas. Outro acadêmico deste sodalício, com quem tive maior aproximação, chama-se Dr. JANDIR JOÃO ZANOTELLI. Nunca esqueci do nosso almoço no Laranjal, na companhia também de Joaquim Moncks. Saboreamos o peixe e o vinho à sombra de uma grande árvore. O rio, a paisagem ali tornando poético o encontro. Esta Academia, quando ele a presidiu, foi convidada para

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amadrinhar as primeiras posses acadêmicas da ALGA – ACADEMIA LITERÁRIA GAÚCHA. O namoro foi crescendo. Só podia dar casamento. Eis-me aqui, a prestar o solene juramento e dar o beijo nupcial. É glória de mais para um cristão, que saiu menino, como pau-de-arara do Nordeste brasileiro, apenas com a bandeira do TESOURO DE BREUSA, à procura da gruna das palavras, e chega a esta casa de cultura e sabedoria. Estou em vossas mãos. Façam de mim o que a bagaceira dos engenhos e a palha da cana não puderam fazer. Chego com humildade de aprendiz à Grande Assembléia de Mestres em Literatura. Serei todo olhos, ouvidos e atenções. A praxe leva-me a orientar o discurso em relação a duas pessoas distintas: ÂNGELO PIRES MOREIRA, meu antecessor e JOÃO SIMÕES LOPES NETO, patrono da Cadeira que passarei a ocupar. De ÂNGELO PIRES MOREIRA, encontrei apenas o primeiro volume de uma obra, A OUTRA FACE DE JOÃO SIMÕES LOPES NETO, Editor Martins Livreiro, 1983, 192 páginas, sendo 101 páginas de textos seus e as restantes dedicadas à publicação do poema em prosa, “trágico-cômico burlesco”, de Simões Lopes, intitulado “A Mandinga”, que é um santo remédio para

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desopilação de fígado e mostra a quanto chega o ser humano em suas crendices. ÂNGELO PIRES MOREIRA Fez a recolha das produções literárias de J. Simões Lopes Neto, que marcaram a sua trajetória regional, como jornalista e escritor, optando pela matéria ainda desconhecida, do que fez publicações em sua coluna domingueira do “Diário da Manhã” de Pelotas, no ano de 1982, sob o título de “Página Simoneana”. Buscou depoimentos de pessoas que conviveram com o escritor. Foi aos arquivos dos noticiosos “Correio Mercantil”, “A Pátria”, “A Opinião Pública”, “Diário da Manhã”, em coleções concentradas na Biblioteca Pública de Pelotas e, assim, prestou valioso serviço à cultura e à obra do rapsodo bárbaro. JOÃO SIMÕES LOPES NETO ORIGEM, VIDA E OBRA: Filho de Catão Bonifácio Lopes e de Teresa Feitas Lopes, nasceu na Estância da Graça, em Pelotas, aos nove dias de março de 1865. Nesse mesmo berço natal morreu em 1916, aos 51 anos. Apesar de sua origem opulenta, transferiu-se para o plano astral sem a glória de ter publicado toda a sua obra. Em vida publicou 3 livros: “Cancioneiro 19


Guasca”, “Contos Gauchescos” e “Lendas do Sul”; e extensa matéria em prosa e verso nos jornais arquivados na Biblioteca Pública de Pelotas. Postumamente foi publicado: “Casos do Romualdo”. Não saboreou em vida o bafejo salutar da crítica que, “post mortem” o vem elevando a foros de universalidade. CARLOS REVERBEL, em seu livro UM CAPITÃO DA GUARDA NACIONAL, alinha nas páginas 295-298, a relação de todas as abras de Simões Lopes, que junta-se por cópia a este trabalho. Tido e havido como um dos maiores regionalistas da literatura brasileira, só tardiamente teve sua obra reabilitada em excelentes estudos críticos de diversos autores: LÚCIA MIGUEL PEREIRA; AUGUSTO MEYER; ÂNGELO PIRES MOREIRA; AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA FERREIRA. Merecem citados outros autores: CARLOS REVERBEL; autor de “Um capitão da Guarda Nacional.”, UCS – Martins Livreiros, 1981; CARLOS FRANCISCO SICA DINIZ, com “João Simões de Lopes Neto, uma Biografia”, Porto Alegre, AGE – UCPEL – 2003; ÂNGELO PEREIRA com “A outra face de Simões Lopes Neto”; IVETE SIMÕES LOPES BARCELO MASSOT com “Simões Lopes Neto na Intimidade”; e mais quatro autores: Ângela 20


Treptow Sapper, Álvaro Barcellos, Gilnei Oleiro Corrêa e Luís Borges, que publicaram a obra “Quatro por 4” - Editora e Gráfica Universitária, em 2005, 125 p.. De grande valia ainda: “II Seminário de ESTUDOS SIMONIANOS”, Editora e Gráfica Universitária – UCPEL – 2001; “TRAVESSIA DO PAMPA: Fontes e Projetos da Cultura Gaúcha – Simões Lopes Neto – Anais do Simpósio Simoniano – Lendas do Sul” – UCPEL – 2003; e a obra de MARIO MATTOS sob o título “Simões Lopes Neto, Tempo de Resgate – Súmula Biográfica e Fortuna Crítica”, 1999, que em apenas 38 páginas é uma preciosidade informativa. Obras estas que me foram concedidas pelo meu paraninfo Joaquim Moncks, para elaboração deste pequeno trabalho. SIMÕES LOPES NETO deixou obras de excelente valor regional, no tocante às coisas, linguagem, usos e costume do pago. Mas somente em fins da década de 30 veio o merecido reconhecimento, o ápice da publicidade e crítica favorável, de âmbito nacional e internacional. Foi quando Aurélio Buarque de Holanda deitou olhos à sua obra e a divulgou com a força de atingir planos superiores na literatura. Daí em diante, Simões Lopes vai para as antologias de contos; CONTOS GAUCHESCOS que é traduzido na Itália pela Editora Bocca. Isto foi tal como chama-votiva a irradiar sensibilidade, luz e calor, acionadores da 21


curiosidade, tanto dos escritores conterrâneos, quanto dos de além fronteira, em busca de uma universalização do regionalismo gaúcho. SIMÕES LOPES, se grande era, se fez maior. Os condenados a pensar, raramente colhem, em vida, os frutos de suas árvores literárias. O caso de Simões Lopes Neto não é uma exceção. Confirma a regra. Escreve-se para o outro e para a posteridade. A glória dos artífices da palavra tem assento na mensagem que fica. Simões Lopes vangloriava-se mais de ser Capitão da Guarda Nacional do que poeta, escritor e homem de negócios. Escreveu: Eu tive campos, vendi-os; freqüentei uma academia, não me formei; mas sem terra e sem diploma continuo a ser... Capitão da Guarda Nacional. Autodidata, perquiridor da acurada inteligência, viveu a infância na grande Estância da Graça, em Pelotas, propriedade do seu avô, o Visconde da Graça que, nos primórdios do séc. XIX, titulado Comendador, trocou Lisboa, sua terra de nascimento, por um arraial jurisdicionado à Vila de Rio Grande de São Pedro do Sul. Homem de 22


larga visão, acreditou na indústria do charque, iniciada em 1780, pelo cearense José Pinto Martins. Aqui chegou, fidalgo, ostentando no peito o “Tosão de Ouro” da Ordem da Cavalaria, que só aos nobres era dado usar e que lhe fora outorgado por Dom João VI, Rei de Portugal. Casa-se com Izabel Dorotéia Carneiro da Fontoura, moça rica e bonita. Desse consórcio vem à luz Catão Bonifácio Lopes, que toma por esposa Tereza Feitas Lopes, dando origem ao nosso homenageado – JOÃO SIMÕES LOPES NETO. A SAGA DE SIMÕES LOPES NETO Aos 11 anos perde sua mãe (1876). Vai residir em Pelotas, onde estuda por dois anos. Após, estuda no Colégio Abílio, no Rio de Janeiro, o preferido do Visconde da Graça e da elite pelotense. Em 1882 regressa a Pelotas. Teria 17 anos (há controvérsia quanto a ter estudado medicina). Integra-se na alta sociedade. Seu próximo destino vai ser Uruguaiana, onde seu pai administra a Estância de São Sebastião, do Visconde da Graça (261 quadras de sesmaria). Aqui convive com a autenticidade da vida campeira, feiras de gado, tropas, peões, tropeiros. Colhe importantes informações do linguajar xucro. Fica “antenado” nas tradições gaúchas. 23


INGRESSO DE SIMÕES LOPES NETO NA ORDEM MAÇÔNICA Aos 27 de fevereiro de 1890 é iniciado como obreiro da Loja Rio Branco – Oriente de Pelotas, quando era do comércio. Aqui galgou o terceiro grau simbólico – o de Mestre Maçon – conforme pesquisa realizada pelo meu querido irmão Mestre Maçon, Tristão Oleiro, cujos documentos comprobatórios junto a este discurso. O próprio Simões Lopes nunca revelou este fato em seus escritos. Certamente ele usou nome simbólico, porque naquele tempo era temerário declarar-se publicamente maçon. Até hoje fazem parte da ética maçônica as boas ações e não bater no peito dizendo-se membro da Ordem. Fica o registro para os seus biógrafos, pois nada disseram a esse respeito nos livros citados que tive a oportunidade de ler. A humildade, o culto, as virtudes, a sua aproximação aos mais fracos sem desprezo dos fortes, a valorização maior ao saber do que a fortuna, na ânsia de construir um novo mundo mais fraterno, são reveladores da irmandade a qual pertenceu Simões Lopes, que tem por meta levar as virtudes aos altares e os vícios às masmorras. Fins do séc. XIX, início do séc. XX, o jovem Lopes Neto, com o cérebro carregado de ideias e 24


“status” de jornalista, começa a descarregar matéria nos jornais. Tornam-se famosas as suas “Balas de Estalo” de cunho humorístico. As matérias vão para o Diário Popular, Correio Mercantil e outros informativos. Produz peças teatrais, que são apresentadas nos teatros de Pelotas, torna-se apresentador de entidades comunitárias. Aos 27 anos, casa-se com Francisca de Paula Meireles Leite (1892), conhecida desde moça, por Dona Velha. Homem dos sete instrumentos. Além de poeta, escritor, jornalista e teatrólogo, foi Despachante Geral, Conselheiro Municipal, comerciante, empresário, industrialista, principalmente depois de ter recebido bens avaliados em mais de 40 contos de reis, no inventário de seu pai. Mas tudo vai se perder em ações desvalorizadas do Diário Popular, na indústria do fumo (cigarros e charutos marca “Diabo”) e do Café Cruzeiro... Temos, assim, que ele não nasceu para o comércio ou para a indústria. O seu campo de prosperidade seria, definitivamente, ligado às letras. Certamente ele abominava fortuna. Como poeta cantou as coisas do pago com amor e proficiência. A BASE DOS SEUS ESCRITOS:

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Na Estância da Graça, a alma infantil vislumbra as coisas da terra, o azul infinito, o sereno silêncio da campanha, as auroras; aí visualiza e fotografava mentalmente o gaúcho, seus valores, hábitos, aparência, indumentária, ditos, instinto guerreiro e andejo, glórias e mazelas, a autenticidade, o fio-de-bigode, a lira, a simplicidade sincera na convivência, o homem livre e aberto, cavalheiro afetuoso com a prenda, o cavalo e o cusco, bravo se necessário, rude nas circunstâncias, manso, galponeiro, amigo, contador de causos, esbelto, vigoroso, ligado à estância como ostra na pedra, que na solidão do pampa verde e agreste, no lombo do seu cavalo não conhece portentado e é livre como um condor; gabola, que ao redor de uma fogueira, ao correr do mate amargo, puxa a sanfona e larga o verso das coisas do coração. Tudo que observou na estância e colheu de Blau Nunes e da gauchada campeira, mais tarde se motivaria para cantar a alma da sua gente e o pampa impregnado de imensuráveis segredos. Encerrando a homenagem que ora presto a Simões Lopes Neto, exemplo de ficcionista regional, com imaginação mítica aureolada de humor e apreço à sua gente, agradeço a todos que me honraram com suas presenças e paciência e prometo trabalhar pelo maior

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engrandecimento possível da Academia SulBrasileira de Letras. Tenho dito´´, Pelotas 24 de abril de 2009. José Moreira da Silva 3. O Paraná age. A Seção do Paraná intensifica as ações culturais nas múltiplas academias literárias daquele Estado, enquanto sabe do ativismo cultural da Casa Brasileira do Poeta na pessoa de seu presidente e nosso dinâmico acadêmico Joaquim Moncks, e vê com alegria seu vice-presidente José Moreira da Silva preparando o lançamento de sua nova obra poética: ATILHOS – Poemas doces e maduros, em três partes: Filosóficos, Líricos e Sociais para esta quinta feira: (04/06/09)no Shopping Jardim Verde de Porto Alegre, previsto para as 18-22 horas, a ASBL prepara o sarau festivo para o dia 19 deste mês. Vejam a gentileza de Roza Ilustríssimo professor presidente da ASBL

Jandir

Zanotelli,

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Parabéns por estar novamente na Presidência.. Enviamos um e--mail á Ligia perguntando a data da sua posse para ver se poderíamos ir. No entanto a posse já aconteceu. Nossos cumprimentos sinceros unidos aos votos de êxito nesta gestão. Enviamos um mensagem à Ligia falando da possibilidade de estarmos aí na primeira semana de julho, nas comemorações do Aniversário de Pelotas, com uma apresentação da nossa "Viagem Espiritual através da Música Erudita e da Poesia" Se houver aprovação da Academia, teremos muita alegria nesse reencontro. A convite da Presidente da Academia de Letras de Maringá (Olga Agulhon) estaremos apresentando o mesmo Projeto no IV Encontro das Academias de Letras do Paraná nos dias 19, 20 e 21 de junho. Abraços Poéticos Roza e Julio 4. O sarau em homenagem aos 121 anos de falecimento do maior poeta romântico do sul do Brasil, que nasceu, viveu e morreu em Pelotas, Francisco Lobo da Costa foi muito bonito. Ao violão magistral de Teci, Ângela T. Sapper teceu a biografia do poeta enquanto Carlos Eugênio Costa 28


Silva declamava aquela que é considerada a primeira poesia regionalista do Rio Grande do Sul “LÁ” de nosso poeta. Declamou também seu lindo poema Tributo a um in justiçado que lhe valeu o primeiro lugar em concurso que a ASBL realizou sobre Lobo da Costa. Seguiram-se manifestações poéticas sobre o amor, os namorados, e considerações sobre o significado do Romantismo em nossa terra. 5. Foi, depois, lançado o CONCURSO DE POESIA “MINHA TERRA”, também em homenagem a Lobo da Costa, cuja síntese do regulamento segue abaixo: A Academia Sul-Brasileira de Letras, com o objetivo de incentivar a criação literária e premiar os autores, institui o “Concurso de Poesia com o tema: Minha Terra”. Das normas: 1. Poderão participar candidatos, em duas categorias: a) Estudantes do Ensino Fundamental e Médio; b) Poetas em geral. 2. Cada candidato poderá inscrever apenas uma poesia de sua autoria. 3. A poesia terá, no máximo, três (3) laudas e deverá ser datilografada ou digitada em 29


espaço 1,5; se digitada, em fonte 12, time new Roman, em papel A4, somente de um lado da folha. 4. A poesia será identificada apenas com o título e o pseudônimo do autor e enviada em envelope tamanho ofício para:Academia SulBrasileira de Letras Concurso de Poesia “Minha Terra” - Rua Três de Maio, 1060/ conj. 403 Pelotas – RS CEP: 96010620 5. Dentro do envelope maior, onde estará o trabalho com pseudônimo, deverá ser enviado um outro envelope menor, lacrado, contendo nome do autor, endereço completo, CEP, telefone, e.mail (se houver), pseudônimo, título da poesia e comprovante de pagamento da taxa de inscrição, no valor de R$ 5,00, depósito na CC da ASBL nº 1264-5, Ag. B.Brasil 2950-5. 6. O envelope menor, em sua parte externa, deve ter apenas o nome da poesia e o pseudônimo do autor. 7. O remetente do envelope maior será o pseudônimo do autor, o endereço com o CEP de onde está sendo remetido. 8. Os três primeiros classificados de cada categoria receberão troféu e diploma da Academia Sul-Brasileira de Letras; os três lugares

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subseqüentes de cada categoria receberão diploma de menção honrosa. 9. Uma comissão indicada pela Diretoria da Academia SulBrasileira de Letras, avaliará os trabalhos, podendo não classificar trabalhos recebidos. Do julgamento da comissão não cabe recurso. 10. O prazo final para recebimento do trabalho no endereço acima será o de 07 de setembro de 2009, valendo como comprovante a data de envio do carimbo do correio. 11. Os prêmios serão entregues no dia 07 de novembro de 2009, às 18 horas, na Praça Coronel Pedro Osório, em Pelotas, em sessão da Feira do Livro de Pelotas. 12. Dúvidas e esclarecimentos: e-mail: jjzanotelli@ig.com.br 6. Eleições na ASBL aos 39 anos. No dia 9 deste mês de maio, a Academia Sul-Brasileira de Letras, festejou seu 39º aniversário com dois eventos marcantes: a eleição e posse da nova Diretoria e um jantar comemorativo. Lígia Antunes Leivas que comandou a ASBL no mandato de 2007-2009 presidiu a eleição

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da nova Diretoria para o período de 2009-2011 que ficou assim constituída: Presidente: Jandir João Zanotelli que já fora presidente em 2003-2005; Vice-presidente RS: José Moreira da Silva Primeiro Secretário: Wilma Mello Cavalheiro; Segundo Secretário: Maria Beatriz Mecking; Primeiro Tesoureiro: Reyzina Vianna Ramos Segundo Tesoureiro: Marísia de Jesus Vieira Comunicação e relações públicas: Lígia Antunes Leivas Conselho Fiscal: José Anélio Saraiva, Olga Maria Dias Ferreira e Joaquim Monks. As Seções do Paraná e Santa Catarina promoverão a eleição de seus respectivos membros em data a ser determinada pelos acadêmicos. Cada Seção, afora o presidente, o Primeiro Secretário e o Primeiro Tesoureiro que são gerais, elege sua diretoria e tem autonomia de ação em seu Estado. O jantar comemorativo do aniversário da Academia, da eleição da nova Diretoria e despedida da anterior, bem como de congraçamento com as entidades irmãs que promovem a literatura e a cultura em Pelotas teve a presença de: - Academia Sul-Brasileira de Letras; 32


- Centro Literário Pelotense; - Academia Literária Gaúcha; - Casa Brasileira de Cultura; - Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas; - União Brasileira de Trovadores; Regado a poesia, trovas e variadas composições literárias o jantar foi também pretexto para comemorar o dia das mães. Assim como a poesia, a literatura e a arte, a mãe é, na terra, um sopro de transcendência. O amor, que sempre surpreende e ultrapassa as elucubrações humanas “vem de uma semente trazida não se sabe de onde”, “vem de um espaço onde nossa mão, nosso cálculo, nosso controle não alcança”. A generosidade de Deus se faz próxima e patente sempre que o halo protetor dos olhos e das mãos da mãe esteja por perto. A mãe sabe que “nossos filhos não são nossos filhos” porque eles são filhos da vida, elas nos convocam para além de nós mesmos. As mães que bem sabem disso precisam como a poesia de gente dócil à inspiração do alto e então poderemos atrelar nosso arado a uma estrela para que a fecundidade do solo e a chuva benfazeja do alto façam frutificar nossas vidas. O pão, o vinho, a poesia e a fraternidade são alimento eficaz.

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Por todos louvada a atuação da Diretoria anterior e em meio aos comprometimentos e colaboração mútua entre entidades promotoras de cultura em Pelotas, o jantar foi encerrado com o anúncio de atividades a serem desenvolvidas no decorrer do ano. Jandir Zanotelli Presidente

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POESIA CORAÇÃO DE MÃE – SEMENTE DE PAZ EM TEMPOS DE VIOLÊNCIA “

Roza de Oliveira

Enquanto os decibéis dos canhões das escopetas e das motosserras eliminam a Paz, a Vida e a potência das Florestas comprometendo o equilíbrio universal! Na vocação da Paz, da Vida em abundância O CORAÇÃO DE MÃE ENXERGA O VERDE PROMOVENDO ORQUESTRAS NAS CURVAS DO SINAL ABERTO DA ESPERANÇA! Enquanto há gigantes nucleares – pigmeus morais captando do átomo os mistérios ( não da paz!) prefaciando o caos universal!.. O CORACÃO DE MÃE EM VIBRAÇÕES DE LUZ O SERMÃO DA MONTANHA REPRODUZ!


Enquanto em toda parte impera a violência e a mídia a reproduz contagiosamente... COM AS TURBINAS DO AMOR EM EVIDÊNCIA O CORAÇÃO DE MÃE É LUZ, É CONSCIÊNCIA É DA PAZ E DO AMOR VIVA SEMENTE! Enquanto a doença, a fome e a pobreza penalizam a criança, o adulto e o ancião... O CORAÇÃO DE MÃE EXPLODE NA BELEZA DE SER DAS MÃOS DE DEUS UMA EXTENSÃO DOANDO AMOR, CARINHO E PROTEÇÃO!

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PERCEPÇÃO1 A. Kleber Mathias Neto

No mecanismo estranho de teus gestos, percebo males, guinchos, visgos, gumes. Um canto triste aflora e não assumes teus atos negligentes, vis, funestos. Onde a fibra das falas que respondam a tanta indagação mais que frequente, sobre o teu conduzir incoerente, e que desfaçam dúvidas que rondam? O amor de patogênicos eflúvios, que sob engodos tantos anuncias, é puro caos, desordem neuronial. Mergulhas nas procelas dos dilúvios, porque carregas na alma aleivosias, dom de futuro acerbo, vil, tumbal.

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Do livro BAÚ DE VOZES, (no prelo) 37


PERSONAS Y CIGARRILLOS JosĂŠ Xavier de Freitas Neto

Para algunos las personas son como los cigarrillos... se van quemando y entregando su tiempo, su trabajo, su historia... hasta que la brasa se acerca de los dedos de quien lo fuma... entonces los arrojan... y los pisotean... para que no queme nadie, y los barren para que no estorben el camino, y los olvidan... porque ya son basura.

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VERDAD Y MENTIRA José Xavier de Freitas Neto

- Entonces me contesta: Quien habla la verdad? -Los cientistas. -No. La verdad de la ciência tiene poca duración. Uma descubierta y su verdad cambia en la noche. - Los religiosos entonces? - No, las religiones cambian con el poder y sus circunstancias. - Los filósofos? - No, la filosofia busca la verdad. - Los políticos finalmente? - No, estos fabrican falsas verdades para engañar el pueblo. - Entonces, no sé. Contesta tu mismo. - Es muy simple: Solamente los locos hablan la verdad. - Como dices? - Si, solo ellos. Solo ellos se atreven. 39


La mentira es peculiar del hombre sano. Es cariñosa com sus flaquezas es balsamo de sus dolores, es el vino que enborracha su soledad. No te vayas por allá hablando verdades, podrás ser preso, ser muerto o, en la mejor posibilidad, te llamarán de loco.

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TANGO Luiz Coronel

O amor se canta em boleros. Em tangos a paixão se denuncia. Dispenso os versos trágicos pois me basta a música em desalento. Ah! O tango e seu elegante padecimento! Em seu ritmo compassado a alma solta suas tempestades. Se for canto putanero, soluço de arrabaldes, queixume ou desconsolo de percantas e notívagos pouco importa. O que importa é a “elegância insuperável do tango”. Seu andamento é o vento quebrando esquinas. em madrugadas de inverno. E como suspiram os violinos. O bandoneón com seu grave desempenho recolhe a melancolia dos desamados, e as mãos disparam sobre os teclados do piano, com o desespero dos rufiões em fuga de milícias. Contemplai os bailarinos do tango é um enfrentamento passional, os braços são traves de uma cruz, E as pernas se movem ávidas, seguras, 41


longitudinais e sedutoras. Não sei ouvir um tango sem me deixar em estado de poesia. No rock as notas saltitam como pipoca em óleo fervente. Rodopiam tontas numa valsa. No tango as notas choram, convulsivamente. As letras do tango são escritas com punhais, e arranha-se o coração para compor sua melodia.

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QUINTILHAS Francisco Pereira Rodrigues

A chuva está batendo na calçada. Há laivos de tristeza e solidão na gota, que na pétala encharcada desliza, e cai no chão. Adelgaçado eu vislumbro o meu próprio coração. UTOPIA Arrebatada amante, em pensamento carrego-te às alcovas siderais, e lá, em pleno azul do firmamento, te beijo e te possuo. E no momento me sinto o mais ditoso dos mortais.

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A CRIATURA Vanda Fagundes Queiroz

- “Faça-se o mundo!”...e Deus assim falou. Eis que, em resposta ao gesto onipotente, o que era nada então se transformou no germinal da vívida semente. O céu, a terra, os mares Deus criou: todo o universo fez pulsar, vivente, da letargia o cosmo despertou, a natureza ergueu-se, inteiramente. E o Criador decide, no outro instante dar vida a um ser que fosse rei na terra plena de luz, grandeza e placidez. O homem nasce. E como resultante, há um predador que, afeito ao mal e a guerra, vai destruindo tudo que Deus fé... ************************************* “Quando você abrir os olhos, o mundo sera´outro, cheio de encanto e beleza”. Lourival Lopes 44


A ESTRELA Manuel Bandeira

Vi uma estrela tão alta, vi uma estrela tão fria! Vi uma estrela luzindo na minha noite vazia. Era uma estrela tão alta! Era uma estrela tão fria! Era uma estrela sozinha luzindo no fim do dia. Por que da sua distância para minha companhia não baixava aquela estrela? Por que tão alta luzia? E ouvi-a na sombra funda responder que assim fazia, para dar uma esperança mais triste ao fim do meu dia. **************************** “Se as coisas são inatingíveis...ora! Que tristes os caminhos se não fora a mágica presença das estrelas” Mario Quintana 45


HARMÔNICO ACALANTO Wilma Mello Cavalheiro

Eu, que não segurava mais o pranto, nas horas más de febre e ansiedade, quando o ontem se arrastava num quebranto, sem qualquer rasgo de felicidade, vi, de repente, como por encanto, renascer com maior suavidade, o mais terno e harmônico acalanto numa alvorada de serenidade. Serenidade que a minha alma abriga e que o sonho, por certo, há de retê-la, nas notas musicais de uma cantiga. Para dizer-me sempre que eu prossiga, que no céu não haverá nenhuma estrela, que vendo o nosso amor não o bendiga. ********************************* “Ainda que eu falasse a língua dos homens. ainda que eu falasse a língua dos anjos, eu, sem amor ,nada sería”. Corintios,l3

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SONETO Olavo Bilac

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse teu grande amor que é teu maior segredo! Que terias perdido, se, mais cedo, todo o afeto que sentes se mostrasse? Basta de enganos! Mostra-me sem medo aos homens, afrontando-os face a face: Quero que os homens todos, quando eu passe, invejosos, apontem-me com o dedo. Olha: não posso mais! Ando tão cheio deste amor, que minha alma se consome de te exaltar aos olhos do universo... Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio: e, fatigado de calar teu nome, quase o revelo no final de um verso. ************************************* “Vem! Serei teu poeta, teu amante... Vamos sonhar no leito delirante, \No templo da paixão. Castro Alves.

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AMIZADE...AMOR Miguel Russowsky

Amigos, para mim é uma fortuna que dá mais dividendos que mereço; não é mercadoria cujo preço compradores sem ética reúna Amor (?!) é uma ocorrência inoportuna boa demais, apenas no começo. Logo se esvai, ou vira-nos do avesso e deixa dentro d´alma uma lacuna. Amor eterno (?!) afirmo é uma falácia que vai perdendo, aos poucos, a eficácia em saudades que deixa solidão. Amizade, ao contrário, é permanente, é luz, é céu, é sol, é bem, é gente que tem meigas carícias de plantão.

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SILÊNCIOS Rogério Gastal Xavier

Volto à Passárgada! Busco as mulheres tupi-guaranis, Odor a incenso e cabelos escorregadios de negros. Na tez, uma quietude tátil de sol à fina paliçada de cobre. Sento-me na varanda deste casario branco, branco, Fachadas em arcos abertos, fora a fora. Perscruto os pássaros ao balanço dos ramos, Nos braços finos e vergados de um salso-chorão. Penso poder aqui existir: ao fundo do pátio interno Lá está o flamboyant rosa−carmim, Galhos abertos a me abraçar. Aí entendo: estarei sempre a te ouvir Neste caminho de surdos.

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HOMEM José Moreira da Silva

O teu fim será o começo de tudo; viajas no tempo num eterno devir. Hoje carne, osso, espírito. Amanhã talvez espectro de algum ser. No adeus das auroras, restará a grande boca do tempo, faminta, devastadora, areia e vento, mais nada! Numa estrela qualquer estarás, centelha divina, luz e calor na formação de novos mundos. Apazigua-te com o mundo, antes da grande viagem. Somente o amor craveja diamantes na memória. A pior morte é o esquecimento.

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A ALGUEM Francisco Lobo da Costa2

Ó não me peças teu nome, Que fora um crime dizê-lo, A Deus só basta sabê-lo, Eu e Ele – e mais ninguém. Ah! que tu mesma ignores O quanto em ti sonho e cismo Que há entre nós um abismo Que só Deus sabe-o também. Quando nas horas sombrias Da noite invoco teu vulto, Por entre as trevas oculto, Oculto na solidão, Ainda assim, tremo e suspiro E tenho fundo receio Que m´o roubem do teu seio, Que o vejam no coração. Pois desde o dia primeiro Em que te vi.... fui covarde. 2

Aos 126 anos de falecimento. 51


Quando busquei-te era tarde Nadava num mar de horror! Agora s贸 restam trevas De um passado j谩 desfeito. E tu vives no meu peito Como uma sombra de amor.

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TRIBUTO A UM INJUSTIÇADO3 Carlos Eugênio Costa da Silva

Talvez os ventos que sopram varrendo as ânsias da noite, sejam os mesmos que outrora sopraram neste lugar. Ventos frios, qual tristeza, esmagando a beleza de uma noite de luar. Quiçá as ruas vazias pelos rigores do inverno, traduzam um sentimento de dolorosa saudade. Quando a decepção sangrava um coração pulsando com intensidade. Talvez até sejam os mesmos os olhares de desprezo que como facas afiadas dilaceravam uma alma. Talvez seja só talvez, 3

Poema premiado em primeiro Sesquicentenário de Lobo da Costa

lugar

no

concurso

pelo

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pois o mal que o mal fez tirou de uma vida a calma. Mas, sopram "Auras do Sul" trazendo "Lucubrações", existyem "Flores do Campo" e "Rosas Pálidas" no jardim, para aquele Vate das Letras que encontrou numa valeta o início de seu fim. Descansa LOBO DA COSTA, pois germinarão nas ruas as sementes que cobristes de inspiração e esperança. Quando entoarmos teus versos reviverá no universo a tua imortal lembrança. "Lobo da Costa, descansa."

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POESIA E HUMOR Por andar com mulher feia Que seus desejos afoga Vive sempre na cadeia Preso por porte de droga. Edmar Japiassu Maia..

O cinquentão diz à “gata”: - É teu o meu coração! -Não desejo ser ingrata Sucata não quero não! Wilma Mello Cavalheiro

Celular eu não tolero Desde um pré-pago que eu tinha Que tocou: “mamãe eu quero” No velório da vizinha Sérgio Bernardo

Boa, bonita e briguenta, A cozinheira me assanha. Só quero que esta “pimenta” Tempere a minha picanha Izo Goldman

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TROVAS Sou feliz por um segundo, quando o amor encurta espaços e a fronteira do meu mundo toma a forma dos teus braços. Gerson César Souza

Por lírico feiticeiro, da trova amante cultor, há de ser, no mundo inteiro, sempre ouvido o trovador. Hugo Ramirez

Este sol fraco, inconstante, trará luzes de outros sóis, para amanhã, mais radiante, te acordar nos meus lençóis. Wilma Mello Cavalheiro

Não receio a tempestade, se é por você que me arrisco: para alguém que tem audade a tempestade é um chuvisco. José Tavares de Lima

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CONTOS E CRÔNICAS

CINDERELA Maria Beatriz Costa Mecking.

A camisa de uma tonalidade creme - quase branca - reverbera as luzes faiscantes, a cabeleira grisalha ressalta no ambiente da boate, ambiente que lhe é quase tão familiar como a sua própria casa. Por ali passeia à vontade, distribuindo beijos entre as mulheres, convidando uma e outra para dançar. A maioria aprecia seus dotes de bailarino, o seu talento para conduzir a parceira pelo salão. - Oi, Beto! Abre um sorriso satisfeito, quando o abraçam, puxando-o para o meio da pista. Mas, preserva-se, duas ou três músicas bastam, volta a sentar-se para curtir a movimentação dos pares, ou uma boa conversa com os amigos. Apesar de ser muito popular entre os que freqüentam o local, ninguém sabe muito a respeito de sua vida. Dizem que, após ter sido traído pela mulher, a quem adorava, jurou que nunca mais entregaria o seu 57


coração. Parece que trabalha bastante para sustentar dois filhos, ainda adolescentes. E, fato indiscutível, é um homem da noite. Beto gira os olhos claros pelo salão, toma um último gole de cerveja, observa os casais que se retiram. A madrugada vai alta. Enfia o casaco, enrola a manta em torno do pescoço e sai em busca do carro. Naquela noite, como em boa parte de outras, chega sozinho em casa: dá um suspiro, esfrega o rosto com as mãos. Longamente. O encanto se desfez.

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OS SEGREDOS DE MONALISA

Valmor Zannin

É fascinante olhar para a figura intrigante de Monalisa de Leonardo da Vinci. Por volta de 1500. Época do Renascimento. E 500 anos depois, essa obra intriga. Séculos debruçaram-se sobre ela. E ela ainda intriga. Intriga estudiosos, curiosos, artistas, leigos. Intriga e encanta. Ela não morre, não se esgota, permanece. Onde está o segredo de sua permanência, de sua perene novidade? Passado o impulso inicial deste fascínio, começo a tentar entendê-la um pouco melhor. Vejo que a primeira coisa que me chama a atenção é a postura, como se ela estivesse em uma posição a 45º, levemente de perfil, enquanto que a paisagem ao fundo esta a plano, isso faz com que ela aparente estar mais viva ou mais dinâmica. A proporção do tamanho dela para a paisagem dá-lhe um ar de grandeza. Olhando as mãos: a esquerda, bem apoiada, dá a idéia de segurança, de alguém que está muito segura de si. E de força também. Além de seguir a linha do rosto e do tamanho. Já a direita que repousa 59


sobre a esquerda dá sinal de tranqüilidade; justamente por estar segura se dá ao luxo de ser tranqüila. As roupas parecem passar desapercebidas justamente para que possamos observar e ver os traços ligadas a ela. Assim como as roupas, as cores também não se destacam, para não desviar a atenção daquilo que o artista realmente quer nos mostrar. O cabelo também segue a mesma perspectiva. Pouco destaque. Mas é no rosto que deve estar o maior segredo. Algo bem diferente. Uma dualidade no olhar,entre a efêmera vida da matéria e a eternidade da alma. É através do rosto, das expressões faciais que adentramos na alma de uma pessoa. O rosto visível encobre a alma mais profunda aparentemente invisível. O rosto, o artista mostra-o singelo, simples, não caricato para que possamos ver além da matéria e captar a essência. Não apenas cores, traços, figuras e sim o horizonte além: a alma de Monalisa. Mostrar a alma? Pintando?

Seria muito

pouco. 60


Então fica uma segunda indagação: o que o artista quis dizer, qual o segredo que ele esconde? A vida terrena, a vida da carne, é muito pequena e efêmera diante da alma que é eterna, que viverá para todos os tempos. Quem sabe não seja por isso que a sua obra até hoje causa fascínio, enquanto outras até mais chamativas não existem mais ou poucos delas se lembram?!

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PEDRO ANDA (05/06/09) Jandir João Zanotelli Engatinhar já é fugir da dependência. Passar pelo túnel entre duas poltronas e aparecer com olho estupefato no outro lado é uma grande aventura. Apanhar potezinhos e patinhos de metal chinês sobre a mesinha de centro da avó, e bater, e produzir e escutar ruídos é uma alegria. Sempre sob o olhar vigilante, preocupado, assustado dos pais: “cuidado, não bate, não quebra” e sob a aquiescência explícita do avô: “que bom, pode bater...”. E, depois de um passo, de dois passos, arriscar o terceiro passo até os braços acolhedores da mãe, é uma vitória, que dá para rir e comemorar. E, depois, braços levantados a dizer: pai, mãe, me segurem porque eu vou, lá vai Pedro de poltrona em poltrona, de cadeira em cadeira e, então, realiza o feito de atravessar toda a sala. Feliz, cai sentado e colhe, com os olhos o aplauso dos adultos.

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Mas hoje, já não precisa erguer os braços, já vai triunfante por toda a sala proclamando a sua independência. Na festa de aniversário do tio Vinícius, casa cheia, de pessoas grandes, todas amigas, de crianças, primos, tios e avós, depois de examinar as salas, depois da papinha que a mãe solícita lhe dá (não é preciso que supliquem), depois de derrubar, num gesto definitivo, mamadeiras e sucos, está liberado para andar. E andando, andando, entra na despensa. Garrafas, potes, vasos, tudo colorido e à mão. Olha com os olhos e com as mãos surpreso de tanta beleza. É a festa. Então Daniel convida para sair: vem meu filho, vem, vamos brincar na sala. E como Pedro permanece extasiado pela beleza das coisas multicores, à disposição, o pai insiste: filho, eu já vou, tchau pra ti... Então, recebe de Pedro a resposta cabal: tchau... e abana as mãos para que o deixem ficar no paraíso. Éh! Pedro anda. Ao encontro de quê andará Pedro? No olho e no coração de Pedro há sonhos, esperanças, horizontes que germinam e explodem, e não cabem no cálculo e no controle de nossas mãos. Anda Pedro! Na vida, “no hay camino. El camino se hace caminando”. E conta pra gente as surpresas de teus caminhos.

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AS FADAS MORDEM POR TI Paulo Soriano

“O peso das aflições cresceu com a dívida contraída pelo sono insolvente.”4*

Isolda estava letargicamente apática. Obviamente concentrada, mas não na realidade próxima. O escritório a sufocava. Prazos apertados, clientes nervosos, superior estressado. Sentada à sua mesa olhava a todos em volta com o olhar distante quando chamavam seu nome. A sua mente estava perigosamente próxima daquilo que seu psiquiatra chamava de “o outro lado”. Quando adolescente, pintara os cabelos loiros de preto, usava roupas pretas, se tornara reclusa e praticava secretamente a Thelema. Deprimida e ansiosa começou a usar drogas. À medida que viajava mais nas alucinações, a realidade se curvava e dava lugar às fobias, devaneios e fixação por suicídio. Era esquizofrenia. 4

W. Shakespeare – Sonho de uma noite de verão

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O tratamento foi difícil. Internada, durante as crises mais severas, era forçada a usar camisa de força. A abstinência do LSD piorava tudo. Sessões com o psiquiatra eram complementadas com remédios de tarja preta, e Lexotan para dormir. Após dois anos, a junta médica a declarou apta para viver em sociedade, mas teria de continuar a tomar antidepressivos e calmantes, com a recomendação de consultas periódicas ao psiquiatra. Fez supletivo, recuperou o tempo perdido, prestou vestibular para contabilidade. Recomendação do psiquiatra. Não queria arriscar que ela se tornasse química ou médica, como ela queria. Temia que com o acesso a drogas e substâncias perigosas, pudesse ter recaídas. Hoje estava formada, no seu primeiro emprego como contabilista, não tinha amigos no escritório e se concentrava unicamente em trabalhar. Mas seu chefe, incompetente e traiçoeiro, começou a atrapalhar a carreira de Isolda, com medo da dedicação de sua funcionária lhe tomar a vaga que ocupava. Concomitante a isso, os remédios dela começaram a não fazer o efeito que faziam no passado. Mas ela não percebia isso. O que agravava era o fato de negligenciar cada vez mais as consultas, e aumentar as doses do Lexotan, pois as noites de sono tranquilo estavam diminuindo. Reflexo das crises de ansiedade. Os 65


sonhos eram perturbadores, pesadelos constantes, cansaço e indisposição. E aquela tarde estava excepcionalmente sufocante, afastando-a cada vez mais da realidade. Aos Gritos de "HOFFMANN! SE VOCÊ NÃO ESTÁ SE SENTINDO BEM VÁ PARA CASA! NÃO ATRAPALHE MAIS O ANDAMENTO DESSE BALANÇO QUE JÁ ESTÁ ATRASADO HÁ TRÊS DIAS!!" E, pouco atenta para se sentir humilhada pelo assédio moral, Isolda se dirigiu ao apartamento que morava, nem ligando para o momento presente. Quase foi atropelada ao atravessar a faixa de pedestres no sinal vermelho. No ônibus, só desceu no ponto certo por que uma vizinha a avisou de sua parada. Alienada, entrou no elevador e foi direito para o apartamento. Deixando a bolsa no sofá e chutando os sapatos para o lado, tomou meio frasco de Lexotan e, em cinco minutos, a realidade virou uma espiral. Se alguém for pesquisar, mesmo que superficialmente, todas as culturas humanas relatam a existência de seres fantásticos: Fadas, Kobolds, Demônios, Tengus, Sacis, Djins, Anjos, Espíritos, Trolls, entre vários outros. Se esse alguém pesquisar profunda e extenuantemente, em tomos antigos e obscuros, vai entender que todos 66


esses nomes se referem a apenas uma espécie: os Faeyries. Aí esse alguém pergunta: "como é que cada um desses seres tem uma aparência diversa da outra e são da mesma espécie?" E a resposta é que essa espécie em questão tinha vários dons e habilidades, e a mais utilizada era a de alterar sua forma. Por vezes, eram Kobolds sorrateiros, outras, Djins majestosos, Silfides de vento ou Trolls violentos. Era uma questão de se apresentar da maneira que melhor lhe convêm. Os povos pagãos tinham contatos com esses seres, mas com o advento e avanço do cristianismo, negando crenças e deuses das culturas que eram absorvidas em combate e conquistas, e muitas vezes caçando esse "povo das fadas" eles quase foram exterminados e se olvidaram do contato humano. Então, quando Roma finalmente reconheceu e adotou o cristianismo como religião oficial do império, e começou a expandi-la a todos os povos, o "povo das fadas" foi o povo mais prejudicado. Muitas vezes confundidos com Deuses Pagãos, o Povo concedia graças e benefícios aos seus "fiéis" em troca de sacrifícios e oferendas por dispor do dom da magia. Então, a comida oferecida na janela, a criança dada aos espíritos da floresta para ser criada e educada, as celebrações de fertilidade no auge da primavera, os festivais de colheita, tudo isso favorecia ao povo. Mas a igreja condenava 67


essas manifestações e combatia o demônio onde quer que fosse. Desesperados e fugindo dos homens, as fadas abriram o portal pra seu reino selvagem e etéreo. Somente por meio dos sonhos podiam voltar ao plano material, que por acaso é onde vivemos. E somente através dos sonhos podiam se nutrir e sobreviver. Tornaram-se o que a doutrina espírita comumente chama de espíritos obsediadores. Poucos puderam se livrar dessa sina e voltaram ao plano material, mas não sem chagas nos seus corações e almas. Dois desses indivíduos espreitavam Isolda desde a infância. Começaram com simples casos de Obsessão, e ao adentrar na adolescência já a tinham Fascinado, e então veio a subjugação completa pouco antes da época de seus pais a internarem. Em seus sonhos, absorviam a energia onírica, devorando a mente de Isolda enquanto dormia. Naquele dia, era só mais uma noite comum, uma “refeição comum” se você achar comum ter a sua alma devorada todo dia. Os dois eram Lustiel e Mornox, e estavam conversando e devorando sonhos enquanto Isolda corria desesperada de uma quimera a outra, se esquecendo da presença deles em sua psique a cada mudança. 68


Mas dessa vez, Isolda sonhou alto. Era uma paladina, a guerreira sagrada que em seu corcel branco corria em direção às ruínas do castelo, onde, no quarto mais alto, da torre mais alta, resgataria seu príncipe dos dois dragões que o mantinha cativo, e após matá-los arrebataria seu homem com um beijo e faria amor com ele no chão empoeirado. Então o sonho foi interrompido quando Lustiel em forma de dragão vermelho e Mornox na de dragão negro entraram nesse sonho. - Em guarda, vis criaturas de coração imundo! Sou Isolda da Germânia e vim libertar meu amado Tristan! - Então Lusti o Aberron gritou: MALDIÇÃO! É SÓ EU DEIXAR O REINO POR TRÊS ANOS E TITÂNIA FICA TREPANDO COM O PUC ESSE TEMPO TODO?!? - Olhem para mim enquanto ataco vocês! – Bradou Isolda. - Hahahaha e ele matou o bobo da corte dele depois que o encontrou e nem percebeu que era você que assumia a forma dele pra transar com a rainha? – Perguntava Mornox. - Não, nessa hora virei uma muriçoca e saí do quarto enquanto o Puc se finava. - Ai Nox.. só você mesmo pra tentar se reproduzir com a Titânia. 69


- O que eu podia fazer? Ela é uma das poucas mestiças que estão aptas a gerar novas vidas. E o Aberron sai da Agrestia das Fadas por três anos! Pediu pra levar corno né? - Não me ignorem feras do mal! Pela Glória de Cristo! Sintam meu aço! – Então Isolda atacou Mornox com sua espada. Sangue jorrou do obsessor, que pela primeira vez é ferido pela obsediada. PORRA! ESSA VACA ME MACHUCOU! SEGURA ELA LUSTI! Rápido como o pensamento, Lustiel se transforma em um Boitatá e constringe o corpo de Isolda. - Como vossssê fessss issso Issssolda.... Mornoxxxx está ferida.... Essstamosss a vinte anosss te obsssediando nosss alimentando de ssssua alma e nunca vimosssss nada de essspecial em vossssê... – Sibilava a Boitatá Lustiel - O QUE ESTÁ HAVENDO??? ME SOLTA SUA COBRA CHIFRUDA!!!! - Acho que ela acordou, mas por que ainda está sonhando? – Perguntara Mornox. - Olhe a nuca dela. Pra ela te ferir sssó pode ssser messstisssaaa... - Mas Lusti, pra um mestiço nos machucar assim tem que ser bruxa, você sabe, bruxa mesmo, 70


com magia. Nada desses wiccans bobalhões que fazem pacto de sangue com ketchup! E não temos mais bruxos nascidos desde o grande exílio! - OLHE!!!! AGORA!!! Então Mornox assume a forma de um Elfo belo, de um sorriso insano e largo, com olhos sem pupila tomados totalmente da cor âmbar, se aproxima de Isolda, puxa os cabelos para cima, e vê a marca de uma lua crescente envolvendo um pentagrama. - Ela é uma bruxa verdadeira Lusti! Uma Mestiça! - Então vossssê ssssabe o que issssso ssssignifica... Filhossss!!! Podemosss finalmente ter nosssa linhagem!!! Prenda-a numa corrente. No calabousssso tem váriassss. Deslizando pelo “cenário” de onde as projeções de todos estavam Mornox foi até o calabouço do castelo do sonho de Isolda e trouxe as correntes. O mais estranho é que Isolda tinha consciência o tempo todo de onde Mornox “estava” e o que fazia, como um observador distante. - Aqui está Lusti, vamos prendê-la. Isso, agora pode soltar, e tranforme-se em um macho. - Você sabe que prefiro tomar as formas das 71


fêmeas. Se não fôssemos hermafroditas ia querer ser mulher... - Não reclama, você está um tesão. Masculinidade lhe cai bem. – Afirmou Lustiel com sinceridade, olhando o Duegar forte e barbudo que Mornox se tornara. - Vamos possuí-la, os dois... Presa e amordaçada, pelas próprias correntes que criara, Isolda olhava aqueles seres sem acreditar no que via e ouvia. Acordada dentro de um sonho? Aquele Elfo e aquele Anão estavam falando de reprodução, magia, Titânia, Aberron e Puc? Como poderia ser? Há anos ela tinha lido “Sonho de uma noite de verão”, mas nem se lembrava mais como era. Mordendo com força os elos em sua boca, Isolda quebrou a corrente. Outra insanidade. Mas, se estava num sonho dela, na mente dela... poderia sim forçar a sua vontade como bem entender, e lembrou-se da maior lição de Aleister Crowley: “Faça o que quiseres, há de ser tudo da Lei. A Lei é Amor, Amor sob vontade: eis o desafio”. Então tudo se resumia a controlar os instintos e o medo e, com força de vontade, moldar a realidade como bem entender. Magia existia afinal, e aqueles dois haveriam de pagar. Vinte anos servindo de alimento né? Com Isolda dobrando a realidade em seus 72


sonhos, Lustiel e Mornox de repente se viram presos, cada um em uma “Cruz de Santo André”, a armadura brilhante que Isolda vestia foi substituída por um vestido longo, negro, com a bainha se arrastando como um vestido de noiva, com mangas e um decote profundo, que mostrava a curva de seus seios, e entre eles, um pingente de uma lua crescente envolvendo um pentagrama. Uma adaga cerimonial surgiu em sua mão esquerda. Então, com um olhar taciturno, falou: - Cavalheiros, tenho algumas perguntas, e vai ser bastante doloroso se não responderem a verdade. E acreditem, eu saberei se não for verdade. - Vai se fuder! Solta a gente – Respondeu Lustiel surpreso, se debatendo na cruz. - Comida atrevida. É promovida a chocadeira e começa a se achar. Espera só a gente se soltar – secundou Mornox. Era melhor não terem feito isso. Chamas irromperam da cruz queimando-os. Duas lanças de aspecto sinistro se materializaram no ar, tocandolhes a garganta ameaçadoramente. Após três segundos as chamas sumiram como se nunca estivessem ali. - Fui bastante educada, mas não aceito mal 73


criações. Se pensarem em se transformarem novamente, as lanças lhes perfuram e as chamas voltam. Agora minha primeira pergunta. Qual a verdadeira natureza de vocês? Você elfo, responda. Ainda em agonia, pelas queimaduras, Mornox respondeu – Somos Faeyre. Meu nome é Mornox. O Duegar é Lustiel. - Já sabia seus nomes. Não sou surda. Mas Faeyries estão extintos há séculos. Avisei para não mentirem. Uma corrente elétrica percorreu as lanças e saltou para os corpos dos prisioneiros. Eles gritaram como Banshees ensandecidas. - Mais uma vez, qual é a verdadeira natureza de vocês? Responda Lusti – Isolda falou a última parte com a voz imitando jocosamente a maneira carinhosa de Mornox chamar o parceiro. Vendo que Isolda estava falando sério, Lustiel se acovardou. Não era leal a ninguém, muito menos às leis promulgadas por Lorde Aberron. - Atualmente, no plano material, somos menos que espíritos que vampirizam a energia dos humanos. Na agrestia das fadas, nosso plano espiritual, ainda somos Faeyries, mas as Leis de 74


Lorde Aberron nos proíbem de revelar a verdade aos mortais. Nox não mentiu para você, - Exijo respostas exatas. Aprendi a história de como vocês foram massacrados. Então o Povo das Fadas se tornaram obsediadores? - Foi a maneira que nós encontramos para sobreviver. - Como isso aconteceu? - Nos tempos antigos os humanos viviam em harmonia conosco. Uma raça ajudando a outra. Quando o cristianismo começou a avançar sobre os pagãos, nós fomos caçados, em desespero, quase extintos. Nosso rei Aberron decretou o exílio na agrestia das fadas. Como o nome já diz, é um local estéril, a vida não existe lá. Sem como nos nutrir e sobreviver, o portal dos sonhos ficou aberto, então todas as noites nós saímos e nos alimentamos daqueles que nos expulsaram da mãe terra. - E por que queriam me engravidar? Alberron não é um personagem de Shakespeare? - Na Agrestia das Fadas nós nos tornamos uma espécie estéril. Não nos reproduzimos entre nós, só com humanos que já descendiam de nós. Muitas vezes no passado houve cruzamentos entre faeyres e humanos, então quem leva nossa linhagem pode nos fertilizar ou ser fertilizada por nós. E desses, poucos nascem bruxos. Antes era comum, mas o sangue foi ficando fraco. Shakespeare era mestiço e nos conheceu. Ele 75


escreveu o Sonho de uma Noite de Verão em homenagem ao rei e à rainha. - Entendo. Então vocês se acovardaram e fugiram. Por que não voltam? - Lorde Aberron não permite. O portal só pode ser reaberto por ele, ou alguém mais poderoso. – respondeu Mornox dessa vez. – Ele teme que sejamos extintos se voltarmos. - Então, por vinte anos eu fui dada como louca enquanto vocês me devoravam a alma. Tudo porque um covarde não ousou retornar ao seu mundo de direito. Cavalheiros, vou romper esse portal. As fadas retornarão e terei minha vingança contra o seu rei. Afinal, ele também é culpado pelo meu martírio. - Então se nos permite, nós já vamos embora, aguardar a liberdade. – Disse Lustiel. - Não vão não... Falando isso, Isolda pôs a adaga na cintura, e, segurou a as cabeças firmemente. Entoando um feitiço de telepatia, suas mãos se tornaram intangíveis e entraram nos crânios de Mornox e Lustiel, e invadindo a consciência deles, aprendeu como entrar no Reino de Lorde Aberron. A dor que sentiram era indescritível. - Há... aqui está o caminho. Quando vocês começaram a me obsediar eu fui me tornando 76


esquizofrênica, me afundando em drogas e ocultismo. Aprendi Thelema. A magia também foi praticada por humanos, não sabiam? Aprendemos com os Faeyres. E hoje, Aberron vai cair. Meus poderes crescerão, pois vocês, os devoradores, serão devorados, sem clemência, sem o menor respeito, e o prazer vai ser todo meu. Os dois cativos começaram a gritar desesperadamente enquanto em sua frente, Isolda se metamorfoseava num monstro de aparência humanóide, com uma cabeça de formato oval com três olhos negros em cada lado do rosto, narinas ofídias e uma boca enorme, com vários e vários dentes grandes e afiados. Dentes de predadores impiedosos. O monstro sorriu, e os devorou com uma satisfação maligna, sentindo-se mais e mais poderoso a cada mordida. E assim o reinado de Lorde Aberron conheceu o fim, com sua patética e caótica corte debandando quando a morte do soberano bateu às portas do palácio. E assim a magia das fadas retornou ao mundo.

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A LUA DE JOÃO Jandir João Zanotelli

No alto da varanda que liga o corpo principal da casa à sala de janta e à cozinha, descalçadas as botas com a ajuda da esposa, João limpa o cachimbo de tantos cismares. Descasca com calma o fumo em rama de Sobradinho, fatia com cuidado aquele ouro perfumado parecendo degustá-lo com os olhos e com o carinho da palma da mão. E o cachimbo está paramentado para a liturgia do anoitecer. O banho sumário no tanque de água fresca que vem das pedras da montanha, encanada em bambus, lavou-lhe as mãos , os braços, o peito, o rosto e a alma dos suores do dia. Mariota, a esposa de tantos carinhos, de tantos embates e de tantos filhos –doze -, chega com a chaleira de água quente e o chimarrão. Senta pertinho, no banco de madeira que corre ao longo do parapeito da varanda e serve o mate em silêncio. As filhas Ortência e Ortenila falam alto e riem na cozinha, arrematando a polenta e a “minestra” para o jantar. Angelina vem lépida da estrebaria, atravessa o páteo e sobe as escadas de pedra da cozinha com dois baldes de leite. São duas vacas de ordenha, mas dão conta do recado: queijo, nata, puina, manteiga e leite fresco... Alcides e Agenor gritam com os bois que apenas 78


desajojaram e dão água e trato a todos. Os porcos grunhem reclamando comida. São 30 “pelados” no chiqueiro. Poucos, mas o suficiente para uns bons salames e algumas latas de banha para vender antes do verão. E o imaginário, guiado pela saudade, aninha no olhar de João e Mariota a ausência-presença dos outros filhos. Casados e esparramados pelo mundo sempre dão uma notícia, especialmente quando nascem os filhos. E como nascem! Cumprem religiosamente o mandamento de Deus: crescei e multiplicai-vos... “Mas a gente não deveria levar tão a sério estes mandamentos” pensa João. Se Mariota ouvisse o pensamento dele, certamente diria que ele é um pecador, desobediente a Deus e à santa madre Igreja. Porque, mesmo que quisessem desobedecer: “como agüentar a vontade na cama”? Afinal, muitos filhos são muitos trabalhos, mas também muita força de trabalho... No silêncio próximo da presença de Mariota, cuja alma passeia por caminhos que nem sempre ele consegue captar, João pensa. Pensa na Amália lá nas montanhas do Capitão, longe de tudo e de todos, andando por estradinhas, quase picadas em meio ao mato e às pedras e que se alegra tanto com a festa da Gruta. Pensa na Alice, a filha sempre alegre e que está tão longe: nos confins do município de Erechim, nas barrancas do rio Uruguai. Terras novas, sim, mas tão difíceis. Ainda 79


bem que mora perto de Leonel, o filho mais velho e de temperamento forte, que não gosta de ser mandado. Lembra a Santina sempre à espreita de um bom negócio e que não gosta muito da roça. Aliás, quem gostaria desta faina insana e que apenas dá para viver! Pensa na Ida e Arlindo com sua bodega bem surtida e exagerando nos filhos. Já tem quatorze. A Matilde preferiu enfrentar a capital. Vez por outra, uma notícia dos apertos e desapertos da vida cara de Porto Alegre. Mas feliz pelo sucesso das filhas. E o Valdemar de mil empreendimentos, aventuras e trapalhadas. Qualquer dia desses vai se machucar com aquele caminhão levando e trazendo coisas da Argentina. Tomara que a polícia não o pegue fazendo contrabando! E os cinco filhos ainda solteiros, aí estão. Achegam-se à roda do chimarrão no verdadeiro lugar de estar: a varanda. A lua cheia, irrompe por detrás do morro dos Fontana e inunda o vale do Jacarezinho. Desnecessária a lamparina. É possível até ler uma carta e servir o chimarrão naquele luar fresco de setembro. Os mistérios noturnos se recolhem às canhadas, escondendo-se à sombra da mata mais densa. Mas, de lá, ficam espreitando o medo dos meninos. 80


As moças irrequietas, sempre elas, espantam o silêncio e convocam à alegria de uma canção: Io ho girato d´Italia al Tirol...sol per trovarmi una verginella... solo mi basta che la sia bella... ciumba la ri la rella... e viva l´amor... Os 12 filhos do Fontana, acomodados em varanda semelhante, no outro lado do arroio, respondem com a segunda estrofe. E é preciso não fazer feio... não desafinar na harmonia... para salvar-se dos apupos e assobios... E ao final desta virá outra toada iniciada agora pelos Fontana... quase todas as noites, ao longo do ano. Assim as canções pairam sobre o vale e sobre os sonhos. Depois deste cotidiano sarau, romântico, saudoso e vicinal, vem a janta quente, simples, barulhenta como de gente que se pôs em paz. Depois, o terço ao pé da mesa. E então, liberados para o sono. Enquanto este não vem, mais um trago de brisa serena na varanda. Dois netos que passam pela estrada em frente, ao verem gente acordada, chegam para uma última piada e um “boa noite”. E já vão conferindo com o avô o que vinham conversando: - Vô, não é verdade que não se planta rabanete em lua nova ou crescente? Diz Bepino. - É, se vocês quiserem colher apenas folhas plantem rabanete em lua nova ou crescente. E se

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vocês quiserem folhas viçosas plantem em lua cheia ou minguante. - Uéh!, disse Antônio, as tias não cortam o cabelo em lua minguante, dizem que a lua crescente deixa o cabelo mais lindo e sem pontas... - Se vocês quiserem poupar dinheiro, indicou João, não cortem cabelo em lua nova ou crescente. Cresce mais rápido que na minguante...É, a lua tem seus segredos... Olhem pra ela. Vocês nunca pescaram em lua cheia? Se vocês tirarem alguns peixes da água e os deixarem na grama, à luz da lua, em duas horas o peixe estará podre. Pior do que deixá-los ao sol a pino. - É verdade, vô, retorquiu Bepino. As lindas traíras que nós pescamos no mês passado ali no Jacarezinho, ficaram no chão na luz prateada da lua. Quando chegamos em casa, gabolas de nossa pescaria, mamãe zombou de nós: que nós tínhamos juntado aqueles peixes de um lixo qualquer ou que estavam mortos perto do rio: “estão estragados, sintam o cheiro, olhem as guelras esbranquiçadas...” Então foi por isso... - Pois é! Essa lua redonda aí encima da montanha, tem muitos mistérios! Ela influencia toda a vida na terra.Tudo o que tem água é mexido por ela. Não é que ela seja dos namorados, como andam cantando por aí. Acho que os namorados é que são dela.

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- Vejam, continuou, eu sempre brinquei com a avó de vocês apostando se é menino ou menina que vai nascer, quando ela estava grávida ou aparecia uma mulher grávida, só por causa da lua. Eu quase nunca errei. A não ser quando os pais da criança esqueciam se o filho foi gerado em lua nova ou minguante. A vó diz que tem olho fino para saber se é menino ou menina e isto sem lua nenhuma. Ela olha se a barriga da grávida está rendonda ou pontuda, se o pé está inchado ou não, se o rosto está largo e luzidio ou opaco e dá a sentença: é menino... é menina... Eu, não. Vou pela lua e quase sempre acerto. - Quase... quase... alfinetou a vó. Não vão atrás dessas manias do vô! - Eu quase sempre acerto, retornou João. Se foi feito em lua nova ou crescente é menino. Se foi feito em lua cheia ou minguante é menina. - Mas então, provocou Mariota, não nasceriam no mesmo dia e na mesma hora meninos e meninas. - Acontece, explicou João, cada um tem uma pressa para nascer. As meninas tem mais pressa do que os meninos, apenas para nascer, é claro! Os meninos aproveitam o calor da barriga da mãe até o final dos nove meses. Devem pensar: não é sempre que se tem um paraíso desses. As meninas tem pressa para ver as novidades que existem aqui

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fora e nascem antes. Por isso nascem junto com os meninos. - Mas tu erraste com a Ortenila, atacou Mariota... - Uéh! Tu não te lembra que ela foi feita na divisa entre a lua minguante e a lua nova? Era muito escuro, eu me lembro, era um sábado, antes da confissão... - Pára João! Não precisa entrar em detalhes. Que falta de respeito , falar disso na frente de todo mundo!... - Como se eles não soubessem dessas coisas, Mariota! Estão sempre de olho aceso para o burro xô encima das éguas... e os cachorros... e os touros... - Vôooo! Não é bem assim. E olhar isso é pecado... piscou Antonio, maroto, à procura de uma conivência. - Está bem! Atalhou João. Voltemos para a nossa lua... olhem que linda! Puxou duas baforadas longas do cachimbo, acompanhou a fumaça com os olhos e, como professor longamente testado pela vida, olhou bem nos olhos dos netos e então o silêncio se aprofundou. A sabedoria ancestral dos avós e bisavós era importante, sagrada, vital. Os mais velhos sabiam a hora certa de plantar, de colher, de cortar, de podar

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e enxertar, o tempo de castrar, o tempo de fazer salame e vinho... - Vou contar pra vocês o que meu pai ouviu do pai dele e este do pai dele... A lua , diziam, tem força pra levantar a água do mar e das lagoas, a lua cheia produz ondas gigantes e marés. Diziam que tudo o que se planta e produz fora da terra com viço de muita folha como verduras, alface, radici, repolho... deve ser plantado quando a lua é forte, lua nova ou crescente. Tudo o que produz em baixo da terra: mandioca, nabo, cenouras, rabanete, batatas, amendoim...deve ser plantado em lua fraca para que a planta se concentre em sua raiz. Aquilo que dá semente fora da terra como milho, feijão, trigo e frutas também deve ser plantada em lua fraca para que se enraíze bem e depois, com a força da lua , produza bem. - E os animais?, continuou... Diziam que os machos são mais fortes, precisam de mais energia e a lua nova ou crescente é do jeito deles. Parece que a lua cheia e minguante tem mais cara de mulher: bonita, encantadora, sumidia e mais delgada... Eu já vi muita coisa acontecer assim. - Ah! e a poda das árvores?... - Ah sim. Vocês já viram cortar um ramo de parreira em lua nova ou crescente? Está cheio de seiva, cheio de água, cheio de sangue. Você corta e o ramo chora, chora, lágrimas de sangue, e apodrece. Se vocês podarem em lua minguante, 85


quase não sai água da ferida, e a ferida logo cicatriza. A árvore não sofre tanto e quando a lua forte puxar para ela seiva da terra, ela explode em brotos, energia, saúde. Por isso se diz que o tempo de poda é a lua minguante dos meses sem “r”: maio, junho, julho e agosto. - Olhem para a madeira dessas portas, insistiu, das mesas e bancos que a gente fez, olhem para o assoalho e o teto: tudo é de madeira de pinho, de grápia ou canela... Elas tem mais de vinte anos. Olhem como estão lisas, saudáveis, sem cupim e sem caruncho. Sabem por que? Porque as árvores dessas tábuas foram cortadas em lua cheia ou minguante quando tinham pouca seiva em seus veios. Secaram logo, secaram bem, não apodreceram, nem bicharam. Tábua que vem de árvore cortada em lua nova ou crescente se desmancha em caruncho em pouco mais de seis meses. Os bancos da capela da Auxiliadora mostram isso. Os serradores não respeitaram a lua propícia. Ao voltarem para casa, Bepino e Antonio, recordando o que ouviram do avô, pararam um pouco em meio à estrada, olharam para a lua exuberante e dona do céu e concluíram: - É, a lua é como mulher. A gente pensa que é apenas fraca e bonitinha.Mas ela dá saúde ou apodrece a vida.

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GATO PRETO Ruth Ávila Zanotelli

“Não desças os degraus dos sonhos para não despertar os monstros. Não subas aos sótãos onde os deuses por trás de suas máscaras ocultam o próprio enigma. Não desças, não subas, fica. O mistério está é na tua vida! É um sonho louco esse nosso mundo.” Mário Quintana

Aceito a morte como algo inevitável, mas procuro fazer tudo ao meu alcance para adiá-la o mais possível: tenho uma alimentação saudável, leio todos os artigos que tratam da preservação da saúde, exercito corpo e mente, vou a médicos, sigo à risca (ou quase) suas recomendações, rezo. Só não faço macumba porque não acredito. Sei que um dia vou morrer como acontece com todos os seres vivos, e como diz a Bíblia, “não poderei acrescentar um côvado sequer à duração da minha vida.” Deus sabe a hora, o dia e o lugar, isto 87


é, pode ser daqui a um minuto, neste mesmo lugar e esta idéia me faz sentir tão impotente que procuro não pensar muito nesta possibilidade. Tenho muitas incertezas a respeito da vida após a morte, por exemplo, não acredito na dualidade corpo e alma. Eu sou o corpo que tenho. É com este corpo, com suas possibilidades e limitações que eu penso, sofro, amo, me alegro, adoeço, choro, enfim, vivo. Não consigo imaginar outro modo de viver sem ele. Meu corpo não é uma forma de roupa que um dia vou desvestir e continuar inteira. Ele faz parte de minha identidade. Eu tenho uma história indissociável de mim e que não seria a mesma se tivesse outro corpo. Então como fica essa conversa que eu (minha alma) vai para o céu e o corpo será comido pelos vermes? A teoria da reencarnação também não me convence. Se eu reencarnar em vários corpos, com qual deles vou ressuscitar? Quantas identidades terei? Na verdade, toda essa conversa foi para dizer que sou descrente sobre muitas coisas, especialmente aquelas para as quais não encontro uma explicação plausível. Para mim, a morte até o momento, é um grande buraco negro. Creio em Deus, mas as histórias sobrenaturais nunca me impressionaram muito. Minha mãe sempre dizia: 88


“os espíritos só perturbam a quem acredita neles, então é melhor não acreditar”. Apesar das minhas descrenças, vou contar a vocês um fato intrigante que até hoje me deixa perplexa. Há uns seis anos atrás, tive de me submeter a uma cirurgia grave. Já tinha passado por outras, mas só a idéia de ser levada numa maca a uma sala cheirando a desinfetante e remédio, ter todas aquelas luzes dirigidas para mim, aquelas pessoas de aventais brancos ao meu redor e especialmente perder os sentidos, me deixava em pânico. Pedi a meu filho, que é médico, que me acompanhasse na sala de cirurgia. Com ele por perto sinto-me protegida. Quando acordei da anestesia estava na UTI, cheia de aparelhos e tubos. Senti uma aragem suave na cabeça: era ele que afastava alguns fios de cabelo da minha testa. - Tudo bem, mãe? – disse sorrindo. Creio que desta vez te safaste. Tudo correu bem. Logo a seguir, chegou meu médico que explicou detalhes da cirurgia: o nódulo estava bem delimitado, mas teve de tirar a parte superior do pulmão direito. A cirurgia tinha sido exitosa e eu teria de esperar quarenta e oito horas para ir para o 89


quarto. Desejou-me boa noite. Olhei para o relógio na parede em frente e vi que já passava das vinte e duas horas. Meu filho também se despediu, recomendando à atendente de plantão que, se precisasse, era para chamá-lo. Creio que a sensação de desamparo que senti é comparável à de uma criança que tivesse sido abandonada pelos pais, num ambiente estranho. Só me restava esperar que as quarenta e oito horas passassem rápido. A noite numa UTI é longa, especialmente quando o sono não vem. Sentia dores nas costas devido à minha posição e também porque, segundo me explicaram, tinham colocado uma espécie de fórceps para afastar as costelas durante a cirurgia. Ao meu lado, uma senhora gemia continuamente. Por volta das duas horas um padre entrou para dar a extrema-unção a outro paciente que morreu naquela madrugada. Ouvi o bip-bip de algum aparelho, enfermeiras correndo, médico chegando,um pequeno tumulto em torno do moribundo e depois o corpo sendo retirado. O silêncio voltou à sala como se nada tivesse acontecido. De vez em quando ouvia os cochichos dos residentes de plantão que haviam formado um grupinho em torno de uma estufa, no centro da sala. Inclinei a cabeça para ver por uma janela atrás

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do meu leito se já amanhecia. Então tudo escureceu. Fui arrastada por um túnel sem luz como se tivesse entrado num redemoinho. Quando parei, tinha na mão uma gaiola com um pássaro dentro. Um gato preto com olhos ferozes jogou-se sobre ela. Sua pele era viscosa e colava-se nas grades. Queria gritar, mas a voz não saía. Uma angústia enorme ia me sufocando à medida que a pele do gato se fechava sobre a gaiola deixando apenas uma fresta que se tornava cada vez menor. Agora eu era o pássaro lá dentro! Quando estava por sufocar, consegui gritar o nome de meu filho e gato e gaiola desapareceram. Ouvi uma voz longínqua chamando meu nome. Era algo muito distante, quase inaudível. Depois outra vez: - Mãe, mãe, está me ouvindo? Com muito esforço consegui abrir os olhos. Ao redor de minha cama, duas atendentes me olhavam aflitas. - O que aconteceu? Perguntei.

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- Tiveste uma queda de pressão. Cheguei a tempo de te socorrer. Como conseguiste me telefonar? - Mas eu não telefonei! - Como é possível?! Despertei com o telefone tocando e quando olhei no identificador de chamadas estava registrado o número do teu celular – disse meu filho. - Eu não trouxe o celular. Deixei-o em casa.

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ARTIGOS

JOÃO SIMÕES LOPES NETO Loiva Hartmann “La literatura no es una actividad de adorno, sino la expresión más completa del hombre”. Afonso Reyes

E toda reflexão literária relevante, exige adentrar na obra do pelotense João Simões Lopes Neto, e, quiçá, buscar semelhanças/diferenças em obras significativas do universo latino-americano. Tomando por referência o tema das raízes da gauchesca simoniana, pode-se buscar a identificação, cotejando a produção platina, das relações de proximidade e diferença da figura do gaúcho, seu universo psicológico e sua filosofia de vida, em três literaturas: argentina, uruguaia e brasileira. Pode-se afirmar que a crítica, com raras exceções, tem ignorado as vertentes comuns aos três universos literários, os quais, ao se desenvolver diferentemente do ponto de vista histórico, estético e literário, sugerem um autoctonismo que não resiste a um exame mais

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apurado – também em se tratando de João Simões Lopes Neto. A pergunta de Alfredo Bosi[1] em “O PréModernismo”(1966), é calcada no interesse em desvendar, como pôde João Lopes Neto antecipar em dez anos os ideais preconizados pelo modernismo de Mário de Andrade ou de João Guimarães Rosa, no que concorda Chiapini[2] , em sua obra “No entretanto dos tempos” (1988), como perquirição norteadora. Por outro lado, Chiapini (1988), mesmo fazendo alusão a Hernández (1834 -1886), admite que a gauchesca riograndense pode, especialmente em Simões, ser filha, ou pelo menos, ter sido fortemente influenciada pela platina. Tal posição foi negada por Vellinho (1962), em “O Rio Grande e o Prata: contrastes. (1962) e corroborada, de modo transverso, por Martins (1983). O argumento do crítico, autor da “História da Inteligência Brasileira”, em seu artigo no Jornal do Brasil de 28 de maio de 1983, é de que a obra simoniana é discípula direta de Coelho Neto. Por sua vez, essa matriz já foi destruída teoricamente por Carvalhal (1996), em conferência realizada durante o 1º. Seminário de Estudos Simonianos, na noite de 10 de julho de 1996, quando demonstrou a solução da dicotomia do narrador culto e do linguajar regional, encontrada em João Simões Lopes Neto.

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O problema da recepção e da historicidade em literatura, a partir dos anos 60, ocupa espaço cada vez mais expressivo entre os estudiosos. Partindo da Escola de Constança até o manifesto da estética da recepção de Hans Robert Jauss (1976), “A história da literatura como provocação da ciência literária”, em que é buscada a superação da distância entre literatura e história. Sem descartar conceitos antecedentes, Jauss (1976), procura atenuar a distância entre conhecimento estético e conhecimento histórico. “O problema principal das teorias marxistas e formalistas radica no fato de ficarem restritas aos planos da produção e da apresentação, esquecendose de uma dimensão da literatura que é imprescindível: a dimensão de sua recepção e os efeitos por ela ocasionados. Com esta afirmação, Jauss introduz duas categorias teóricas importantes para a compreensão de seu pensamento: a da recepção e a do efeito. A primeira diz respeito à aceitação alcançada por um texto não só à época de seu aparecimento, mas também ao longo de sua trajetória no tempo; a segunda refere-se à resposta motivada pela obra no leitor e à repercussão que ela pode atingir no interior de um determinado sistema estético e histórico" [3]. Segundo Weimann (1976), o processo literário tem duas faces: o da escrita, compreendido quando associado ao momento da criação do texto, 95


que é afetada pelo contexto da época e sociedade vivido pelo escritor; e o da leitura. O primeiro é importante, porque determina o aparecimento da obra; mas tem seus limites, por se restringir àquele período de tempo. Enquanto o segundo não tem balizas, assegurando, além disso, a vitalidade daquela: “A estrutura nasce no processo genético, mas vive no processo da leitura e interpretação: ela é afetada pelas perspectivas sociais e individuais de seus leitores e críticos” [4]. Estabelecer até que ponto Simões foi um receptor de autores platinos para os que o antecederam (no tempo) e em que medida foi precursor do Modernismo Brasileiro, é o que propomos à sociedade como um todo, e, em especial, aos intelectuais, professores e estudantes de todos os níveis! Aproximar-se deste objetivo, implica ler as obras de Simões, discutí-las e analisá-las, e, enfim, participar através de um texto de, no máximo 30 a 35 linhas, do concurso lançado em parceria: Instituto João Simões Lopes Neto e Ajuris! Informem-se, integrem-se, Pelotas merece! Desafio às inteligências e ao brio de quem ama este chão!

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CHINELO NOVO PRUM PÉ TORTO 5 Joaquim Moncks

Sempre penso que versos e prosas podem ser úteis a alguém. Mesmo que a roupagem do verso seja o ingênuo e o simplório de quem se inicia... Nesta fase se está apenas a caminho da Poesia. E esta é a esfinge do mutismo sentada no obscuro horizonte. O tinhoso do Mistério nunca nasce do nada. Ele próprio se contradiz. E chegar ao misterioso sempre é demorado. Leva tempo pra ser criado e viver na cabeça dos que pensam nos fetiches... Porque Beleza e encantamento são frutos de tempo silente e de muita contemplação. Não é coisa pra simples amador... A Arte é sempre um “chinelo novo prum pé torto”. Mesmo que este seja bonito quando jovem, o tempo fará tristes mudanças. Resta, para alguns, o olhar que a tudo absolve. Como pretensos poetas é 5

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2008.

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a única coisa que esperamos do futuro. Não vês o cego Camões e o corcunda Monsieur Toulouse Lautrec? Aliás, viver é sempre o risco de se trespassar antes da Morte chegar. O mundo atual bem que merece ilusões e fantasias. Elas tiram o mofo dos móveis e diminuem o estrago que os cupins fazem neles. Acho que a Poesia não muda diretamente a realidade, mas pode mudar o Homem e este pode atentar para as mudanças e vir a fazê-las...

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ADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS ESTATUTO SOCIAL Título I Da Denominação, Sede, Símbolos e Abrangência Art.1º - A ACADEMIA SUL-BRASILEIRA DE LETRAS a qual utilizará a sigla ASBL e, doravante neste Estatuto Social simplesmente como ASBL, com objetivos culturais e educacionais é uma associação civil sem fins econômicos, com duração por prazo indeterminado, rege-se por este Estatuto Social e pelas disposições legais atinentes, estando sediada na Rua 3 de Maio, número 1060, conjunto 403, Pelotas – RS, com foro neste município. Art. 2º - São símbolos da ASBL: a) O Brasão; b) A Bandeira; c) A Flâmula; d) A Pelerine; e) O Sinete. Parágrafo único – Os símbolos da ASBL são descritos de forma minuciosa no Regimento Interno. Art. 3º - A ASBL, para fins de congregação de associados acadêmicos, abrange os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná § 1º – Em cada um dos Estados nominados haverá uma seção da ASBL administrada por um vice-presidente. § 2º - A Seção 1 será a do Rio Grande do Sul, a Seção 2 99


será a de Santa Catarina, a Seção 3 será a do Paraná. TÍTULO II Dos Objetivos Art. 4º - São objetivos da ASBL: a) Congregar literatos e intelectuais de sua área de abrangência; b) Incentivar a investigação, o desenvolvimento das atividades culturais, a criação, elaboração e a divulgação de obras literárias na região; c) Instituir concursos, prêmios e outros incentivos; d) Manter intercâmbio e colaborar com as entidades congêneres em âmbito local, regional, nacional e internacional; e) Associar-se e colaborar com instituições educacionais públicas ou privadas no incentivo ao ensino e aprendizagem da língua pátria. TÍTULO III Do Patrimônio Art. 5º - O Patrimônio da entidade é constituído de: a)direitos de qualquer natureza suscetíveis de serem apreciados economicamente; b) bens imóveis e móveis; c) biblioteca, fototeca, pinacoteca, hemeroteca e demais recursos audiovisuais; d) montante oriundo da contribuição do quadro social; e) doações e quaisquer rendas eventuais. Parágrafo único – A biblioteca, cuja organização e funcionamento serão regulados por Regimento Interno,

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reúne em seu acervo livros, jornais, revistas, fotografias, arquivos e museu adquiridos com recursos próprios ou recebidos em doação; para constituição de seu acervo, são priorizadas as obras dos acadêmicos, dos autores da área de abrangência da ASBL. TÍTULO IV Da Organização Deliberativa e Administrativa Art. 6º - A organização deliberativa e administrativa da ASBL compreende: a) a Assembléia Geral; b) a Diretoria; c) o Conselho Fiscal. d) as Seções Estaduais CAPÍTULO I Dos Sócios Art. 7º - A ASBL congrega as seguintes categorias de associados: a) Fundadores b) Acadêmicos; c) Beneméritos; d) Honorários; e) Correspondentes. § 1º - São associados Fundadores aqueles que assinaram a Ata de Fundação da Academia Sul-Brasileira de Letras, em 09 de maio de 1970. § 2º - São associados Acadêmicos os literatos dos três

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Estados sulinos que, tendo, pelo menos, um livro publicado em qualquer gênero literário e que, apresentados por membro do sodalício, tenham o seu ingresso aprovado pela Assembléia Geral. § 3º - São associados Beneméritos as pessoas físicas ou jurídicas que prestarem relevantes serviços à Academia, independentemente de naturalidade ou nacionalidade, a juízo da Assembléia Geral. § 4º - São associados Honorários as pessoas físicas ou jurídicas que se destacarem na difusão da cultura, independentemente de naturalidade ou nacionalidade a juízo da Assembléia Geral. § 5º - São associados Correspondentes as pessoas físicas ou jurídicas, com residência ou sede fora do município de Pelotas e que, constantemente trocarem informações de interesse da ASBL e/ou da cultura, e tiverem o nome aprovado pela Diretoria. § 6º - A proposição à Diretoria de nomes para associado Benemérito, Honorário e Correspondente é atribuição dos Sócios Acadêmicos, acompanhando a indicação curriculum vitae e circunstanciada exposição de motivos. Art. 8º - O quadro de Associados Acadêmicos se compõe de até 60 (sessenta) membros, cujas cadeiras têm um patrono específico; o de sócios Beneméritos, Honorários e Correspondentes não tem limite prefixado. Parágrafo único – A Direção da Academia cuidará de uma adequada distribuição de vagas que contemple a representatividade dos três Estados.

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CAPÍTULO II Dos Direitos e Deveres dos Associados Art. 9º – São direitos dos associados de todas as categorias: a) Participar das atividades da Academia, utilizar o seu patrimônio, freqüentar os espaços da sede, referir em suas obras e publicações sua pertinência à entidade; b) Sugerir, propor, discutir políticas e medidas que visem ao engrandecimento do ASBL; Art. 10 – São direitos dos associados Acadêmicos: a)Ocupar cadeira numerada do Quadro Acadêmico; b) Usar o sinete acadêmico; c) Mencionar em suas obras o título de membro da ASBL, referindo o número da cadeira que ocupa e o nome do patrono, se assim desejar; d) Votar e ser votado para os cargos eletivos da ASBL, conforme as normas da entidade; e) Ocupar cargos e desempenhar atividades nos Departamentos, a convite do Presidente; f) Representar a ASBL, quando autorizado para isso, por procuração do presidente; g) Vitaliciedade; h) Renunciar à vitaliciedade. Parágrafo único – O associado que perder a cadeira na entidade conforme o disposto no parágrafo 3º do Art. 12, não poderá, a partir de então, referir sua pertinência à ASBL. Art. 11 – São deveres dos associados de todas as categorias: a) Cumprir e fazer cumprir o Estatuto Social, o Regimento Interno, as normas e deliberações da ASBL;

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b) Contribuir para o bom nome da entidade; c) Incentivar a cooperação com as entidades congêneres e outras instituições culturais; d) Zelar pela imagem e moralidade pública da ASBL. Art. 12 – São deveres dos associados Acadêmicos, além dos especificados no artigo anterior: a) Participar de reuniões, assembléias, solenidades e eventos promovidos pela ASBL. b) Pagar mensalmente, ou em outras modalidades oferecidas pela Diretoria, as contribuições financeiras estipuladas; § 1º - É condição para participar das Assembléias Gerais, ordinárias ou extraordinárias, com direito a voto, estar quite com a tesouraria. § 2º - O associado que não cumprir seus deveres será submetido a julgamento por uma comissão, designada pela Diretoria, e com atribuições estabelecidas pelo Regimento Interno, garantidos ao acusado direito de ampla defesa e de contraditório. § 3º São previstas as seguintes penalidades: a) Advertência – Será aplicada ao associado que infringir os deveres previstos nas letras a), b, e c do Art. 11, e as letras a) e b) do Art. 12. b) Suspensão - Será aplicada ao associado que descumprir o previsto na letra d) do Art. 11 ou reincidir na infringência dos deveres para o que se prevê pena de advertência. c) Perda da cadeira – Será aplicada a penalidade de perda da cadeira ao associado que, advertido e suspenso,

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reincidir em suas faltas, bem como ao associado condenado judicialmente por atos considerados desabonatórios e indignos de participação na Academia, assegurada a postulação de nova cadeira no quadro. § 4º - As penas de advertência e suspensão são de alçada da Diretoria; a aplicação da pena de perda da cadeira proposta ao final do processo pela comissão julgadora, é de competência da Assembléia Geral, sendo que de qualquer penalidade será notificado o infrator através de documento escrito expedido pela Diretoria. CAPÍTULO III Da Assembléia Geral. Art. 13 – A Assembléia Geral, órgão soberano da entidade, é constituída pelos associados acadêmicos em pleno gozo de seus direitos estatutários. Art. 14 – A convocação para as Assembléias Gerais, com a especificação da ordem do dia, será feita pelo Presidente, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, mediante edital afixado no local da sede e/ou em órgão de divulgação, bem como através de correspondência pessoal enviada a cada acadêmico, comprovando-se a data de remessa pelo carimbo de postagem. Art. 15 – A Assembléia Geral Ordinária, bem como a Extraordinária, serão abertas pelo Presidente ou por seu substituto legal que, se assim o decidir a Assembléia, passará a direção dos trabalhos ao associado que for escolhido por maioria, convidando auxiliares para o desempenho das tarefas inerentes à reunião.

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Art. 16 – As Assembléias Gerais funcionarão, em primeira convocação, na hora marcada, com a presença mínima de 20% dos acadêmicos com direito a voto e, em segunda convocação, trinta minutos após a hora marcada, com a presença mínima de 10% dos associados habilitados. Art. 17 – Para deliberar sobre a destituição do Presidente ou a alteração dos Estatutos Sociais da ASBL, a Assembléia especialmente convocada para este fim, não poderá deliberar, em primeira convocação, sem a maioria absoluta dos associados aptos a votar, ou com menos de um terço nas convocações seguintes, exigindo-se o voto concorde de, no mínimo 2/3 dos presentes. Art. 18 – Nas Assembléias de caráter eletivo será facultado o voto por correspondência aos acadêmicos residentes fora da sede, sendo o assunto regulado pelo Regimento Interno, vedada a modalidade de voto por procuração. Art. 19 – São atribuições da Assembléia Geral: a) Eleger a Diretoria da ASBL e os integrantes do Conselho Fiscal; b) Aprovar o estatuto social e o regimento interno, assim como suas modificações; c) Apreciar, aprovando ou rejeitando o relatório financeiro da Diretoria acompanhado de parecer do Conselho Fiscal; d) Apreciar, homologando ou rejeitando as propostas de ingresso de novos associados acadêmicos, bem como o de associados beneméritos e honorários, mediante exposição de motivos exarada pela Diretoria; e) Decidir pela aplicação ou não da penalidade de perda da cadeira ao associado julgado conforme o parágrafo

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3º do Art. 12. f) Destituir o Presidente com a concordância e o quorum previstos no art. 17. g) Decidir pela extinção da ASBL conforme o disposto no Art. 35. CAPÍTULO IV Da Diretoria Art. 20 – A Diretoria da ASBL compreende os seguintes cargos e funções: a) Presidente; b) 1º Vice-presidente (RS); c) 2º Vice-presidente (SC); d) 3º Vice-presidente (PR); e) Secretário Geral; f) 1º Secretário (RS); g) 2º Secretário (SC); h) 3º Secretário (PR) i) Tesoureiro Geral; j) 1º Tesoureiro (RS); k) 2º Tesoureiro (SC); l) 3º Tesoureiro (PR). § 1º – A Diretoria contará ainda, para auxiliá-la, com o Departamento de Imprensa e Relações Públicas, bem como com os cargos de Diretor do Patrimônio e outros que julgar necessários, todos os titulares de livre escolha do Presidente e segundo normatização exarada por ele. § 2º - Os cargos da Diretoria são eletivos, conforme art. 19, a), havendo para cada cargo, excetuado o de Presidente, um suplente que auxiliará o titular em suas funções e o

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substituirá em seus impedimentos. §. 3º - O mandato da Diretoria é de 2 (dois) anos. Art. 21 – Compete à Diretoria: a) Aprovar e pôr em prática as políticas a serem implementadas pela Academia; b) Decidir quanto aos valores e formas de cobrança das contribuições financeiras dos associados acadêmicos; c) Auxiliar a presidência na administração da entidade; d) Apreciar a indicação de nomes para associados acadêmicos, beneméritos, honorários encaminhando os nomes aprovados à homologação da Assembléia Geral; e) Autorizar contratos de locação ou os que implicarem comprometimento financeiro por parte da ASBL; f) Conceder licença ou aceitar a demissão de associados, quando solicitadas por escrito pelo interessado em documento com firma reconhecida; g) Aprovar a admissão ou demissão de funcionários com suas obrigações e salários especificados; h) Autorizar o ingresso de Associado Correspondente. Art. 22 – O Presidente será eleito pela Assembléia Geral, para um mandato de 2 (dois) anos e podendo ser reconduzido para um segundo mandato. Parágrafo único – Em caso de vacância do cargo de Presidente, com menos de 50% do mandato, far-se-á nova eleição. Art. 23 – Compete ao Presidente: a) Escolher, empossar e dispensar os titulares de

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Departamentos e de cargos não eletivos, dentre os associados da ASBL; b) Representar a ASBL ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente, em todos os atos de administração e gestão, podendo para tanto, quando necessário, nomear procurador com poderes específicos para representá-lo. c) Assinar juntamente com o Tesoureiro os documentos da tesouraria e especificamente os cheques bancários; d) Admitir e demitir funcionários; e) Resolver “ad referendum” da Diretoria, os assuntos considerados de urgência, dando ciência aos demais diretores na sessão imediata; f) Convocar e dirigir a Assembléia Geral e os atos solenes realizados pela entidade; g) Convocar e presidir as reuniões de Diretoria; h) Prestar contas de sua gestão através de relatórios financeiros apreciados pelo Conselho Fiscal e pela Assembléia Geral. Art. 24 – Aos vice- presidentes, eleitos com o presidente, e com igual mandato, compete: a) Auxiliar o presidente no exercício de suas funções; b) Substituir o presidente em seus impedimentos e concluir o mandato, em caso de vacância do cargo, obedecida a ordem de precedência sucessivamente; Participar das reuniões da Diretoria; c) Organizar e executar o protocolo das solenidades; Presidir e administrar a Seção do respectivo Estado, auxiliado por um Secretário e um Tesoureiro, desenvolvendo as atividades da ASBL que melhor julgar oportunas e relevantes, em representação do Presidente.

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Parágrafo único – A administração econômicofinanceira, a contabilidade e a prestação de contas das atividades da Seção cabem ao Vice-Presidente. Art. 25 – Compete ao Secretário Geral: a) Assinar, com o Presidente os documentos relativos à Secretaria; b) Lavrar, em livro próprio, as atas de todas as sessões da Diretoria; c) Manter em dia os registros da entidade. Art. 26 – Compete aos Secretários auxiliar o Secretário Geral em suas atividades e manter em dia o registro da respectiva Seção. Art. 27 – Compete ao Tesoureiro Geral: a) Assinar, com o Presidente, cheques e documentos; b) Conservar sob sua guarda os valores da entidade; Manter em dia os registros atinentes a seu cargo; c) Manter em dia o registro de imóveis e móveis da Academia. Art. 28 – Compete aos Tesoureiros das Seções auxiliar o Tesoureiro Geral fornecendo-lhe os dados para a prestação geral de contas da ASBL e auxiliar o Vice-Presidente em tudo o que diz respeito às atividades de tesouraria na Seção à semelhança das tarefas exercidas pelo Tesoureiro Geral em relação à ASBL. Art. 29 - As funções de Diretor de Patrimônio, de Assessor de Imprensa e de Relações Públicas serão especificadas no Regimento Interno, de acordo com o estabelecido no

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presente Estatuto Social. CAPÍTULO V Do Conselho Fiscal Art. 30 – O Conselho Fiscal é composto por 3 (três) membros efetivos e 1 (um) suplente, tendo a função de examinar os relatórios financeiros e contábeis da Diretoria e das Seções, emitindo parecer para encaminhamento à Assembléia Geral. Parágrafo Único – A função de conselheiro fiscal é prerrogativa dos associados acadêmicos, eleitos, pela Assembléia Geral para um mandato de 2 (dois) anos. CAPÍTULO VI Das Seções estaduais Art. 31 – Às seções estaduais compete: a) Promover o congraçamento dos associados de seus respectivos Estados e o entrosamento com os dos demais Estados; b) Indicar à Diretoria da ASBL nomes de acadêmicos a serem apreciados pela Assembléia Geral, para o preenchimento de cadeiras vagas. c) Indicar, dentre os acadêmicos do respectivo Estado, candidatos a Vice-Presidente, secretário e tesoureiro para a Seção, e seus respectivos suplentes a serem eleitos pela Assembléia Geral. § 1º - Respeitadas as normas do Estatuto Social e do Regimento da ASBL, cada seção organizará seu regimento interno;

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§ 2º - Cada seção, além de participar das atividades gerais da ASBL, administrará suas atividades, mantendo contabilidade própria e arcando com seu ônus financeiro. TÍTULO V Das Disposições Gerais e Transitórias Art. 32 – A ASBL comemorará o aniversário de sua fundação em 9 de maio, data em que serão empossados os membros da Diretoria e do Conselho Fiscal eleitos na Assembléia Geral. Art. 33 – Os associados não respondem, nem pessoal nem solidariamente, pelas obrigações contraídas pela ASBL. Art. 34 – Os associados acadêmicos poderão requerer, por escrito , licença por um ano das atividades da ASBL. Art. 35 – A ASBL somente será extinta por deliberação da Assembléia Geral Extraordinária, convocada para este fim, com a presença de ¾ dos associados acadêmicos em pleno gozo de seus direitos e com votos favoráveis de, no mínimo, ¾ dos participantes, destinando-se o patrimônio a outra entidade congênere ou ao município em que estiverem sediadas a sede da ASBL e suas respectivas seções na proporção dos bens nelas localizados. Art. 36 – As regras decorrentes deste Estatuto Social serão disciplinadas pelo Regimento Interno ou Interno e por resoluções da Diretoria. § 1º - A Diretoria elaborará o Regimento Interno no prazo de 120 (cento e vinte) dias.

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§ 2º – Na falta do Regimento, e os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria. Art. 37 – O presente Estatuto Social, aprovado pela Assembléia Geral, entrará imediatamente em vigor, revogados as disposições em contrário e o Estatuto até agora vigente, registrado sob o nº 1.280, a fls. 43v/44 do Livro A5, em 12 de novembro de 1973, no Registro de Pessoas Jurídicas em Rocha Brito Serviço Notarial e Registral, de Pelotas. Aprovado na Assembléia Geral de 06/12/2003 e adequado às novas normas da legislação federal.

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ASBL :CADEIRAS-PATRONOS-TITULARES

CADEIRA No.1 Patrono: Jorge Salis Goulart Titular I: SADY MAURENTE AZEVEDO Titular II: MARÍSIA DE JESUS F. VIEIRA Endereço: G. Telles, 607/901 CEP 96010-310 fone (53) 32274789 E-mail: marisia.vieira@brturbo.com.br

CADEIRA No.2 Patrono:Francisca Marcant Gonçalves Titular: MANOEL JESUS SOARES DA SILVA Endereço: R. João Jacob Bainy, 266 – Pelotas RS E-mail: manoel@ucpel.tche.br

CADEIRA No.3 Patrono: Manoelito de Ornellas Titular: I- IVONE LEDA DO AMARAL Titular II: Endereço:

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CADEIRA No.4 Patrono: Nelson Abott de Freitas Titular: JOAQUIM MONCKS Endereço:R. Lima e Silva, 116/401 CEP 90050-100 Porto Alegre RS E-mail: joaquimmoncks@ig.com.br

CADEIRA No.5 Patrono: Érico Veríssimo Titular: VALTER SOBREIRO JÚNIOR Endereço: R. Prof. Araújo, 2149/102 CEP 96020-360 Pelotas RS

CADEIRA No.6 Patrono: Fernando Luis Osório Titular: MÁRIO OSÓRIO MAGALHÂES Endereço: Av. Domingos de Almeida 3030 CEP 96085-470 Pelotas RS

CADEIRA No.7 Patrono: Paula Correa Lopes Titular: CATARINA SCHENINI CUNHA Endereço: R.Vicente Lopes dos Santos, 200/301 CEP 90103-140 Menino Deus, P. Alegre RS – cmarlowe@terra.com.br

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CADEIRA No.8 Patrono: Francisco de Paula Pinto Magalhães Titular: JOSÉ ANÉLIO SARAIVA Endereço: R. João da Silva Silveira, 211- B. Na. Sra. Fátima CEP 96080-000 Pelotas RS

CADEIRA No.9 Patrono: Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior Titular: SUELLY CORRÊA GOMES Endereço: R. Heinrich Hosang, 165/303 CEP 89012-190 Blumenau SC

CADEIRA No.10 Patrono: Francisco Lobo da Costa Titular I: José Vieira Etcheverry Titular II: IRMÃO ELVO CLEMENTE Endereço:

CADEIRA No 11 Patrono: Álvaro José Gomes Porto Alegre Titular: FELIPE ASSUMPÇÃO GERTUM Endereço: Av. A A Assumpção, 9805 CEP 96090-240 Pelotas RS

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CADEIRA No.12 Patrono: Marieta Mena Barreto Costa Amador Titular: ANA LUIZA TEIXEIRA Endereço: Av. Borges de Medeiros, 1141/193 CEP 90020—25 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 13 Patrono: João Simões Lopes Neto Titular: I - ÂNGELO PIRES MOREIRA Titular II: Endereço

CADEIRA No l4 Patrono: Aurora Nunes Wagner Titular I:LYDIA MOMBELLI DA FONSECA Titular II:

CADEIRA No.15 Patrono: Irajá Moraes Nunes Titular: SÉRGIO OLIVEIRA Endereço: R. Leonardo Colares, 137/101 CEP 96020-190 Pelotas RS

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CADEIRA No 16 Patrono: Raul de Leôni Titular I: IVO CAGGIANI Titular II: LÍGIA ANTUNES LEIVAS Endereço: R. Dr. Franklin Olivé Leite, 323 CEP 96055-520 Pelotas RS Liluleivas@starmedia.com loleivas@yahoo.com.br

CADEIRA No. 17 Patrono: Demerval Araújo Titular: I -HARLEY CLÓVIS STOCCHERO Titular: II Endereço:

CADEIRA No .18 Patrono Alberto Coelho da Cunha Titular: RONALDO CUPERTINO DE MORAES Endereço: R. Gen. Osório, 938 CEP 96020-000 Pelotas RS

CADEIRA No. 19 Patrono: João Cruz e Sousa Titular I: Rondon Soares Titular II: LAURO JUNKES Endereço: R.Capitão Romualdo de Barros, 251. CEP 88015-000(Carvoeira)Florianópolis SC

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CADEIRA No. 20 Patrono: Maria Alzira Freitas Taques Titular: ZENIA DE LEÓN (Licenciada) Endereço: R. Bernardino Santos, 74 CEP 96080-030 Pelotas RS

CADEIRA No. 21 Patrono: Victor Russomano Titular: JORGE MORAES Endereço: R. Manoel Caetano da Silva, 16 CEP 96025-230 Pelotas RS

CADEIRA No.22 Patrono: Januário Coelho da Costa Titular: CLÓVIS ALMEIDA ALT Endereço: R. Cel. Alberto Rosa, 268 CEP 96010-770 Pelotas RS

CADEIRA No. 23 Patrono: Adalberto Guerra Duval Titular: CLÓVIS P. ASSUMPÇÃO Endereço: Av. 16 de Julho, 165 CEP 90550-220 Porto Alegre RS

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CADEIRA No. 24 Pat:Antônio José Gonçalves Chaves TitularI:HELOISAASSUMPÇÃO NASCIMENTO Tit. II:MARIA BEATRIZ MECKING CARINGI Endereço: R. Gomes Carneiro, 1881/403 – CEP 96010-610 E-mail: beatrizmecking@terra.com.br

CADEIRA No.25 Patrono: Guilherme de Almeida Titular: OSÓRIO SANTANA FIGUEIREDO Endereço: R. Procópio Mena, 975 CEP 97300-000 São Gabriel RS

CADEIRA No. 26 Patrono: Ceslau Mario Biezanko Titular: ANTENOR PEIXOTO DE CASTRO Endereço: R. 15 de Novembro, 666/1110 CEP 96015-000 Pelotas RS

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CADEIRA No. 27 Pat: Roberto Landell de Moura Tit I: ENRIQUE SALAZAR TitularII:OLGA MARIA DIAS FERREIRA End: Gen. Neto, 625/302 Pelotas RS –CEP 96015-280 E-mail: olgadf@gmail.com.

AVERO

CADEIRA No.28 Patrono: José Xavier de Freitas Titular: MIGUEL RUSSOWSKI Endereço: Av. Sta. Terezinha, 321 CEP 89600-000 Joaçaba SC

CADEIRA No. 29 Patrono: Aureliano Figueiredo Pinto Titular: FRANCISCO PEREIRA RODRIGUES Endereço: R. Vasco Alves, 435 CEP 90010-410 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 30 Patrono: Alberto Pereira Ramos Titular: ANTÔNIO KLEBER MATHIAS NETTO Endereço: R. Castro Alves, 950 CEP 25959-075 Teresópolis, RJ

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CADEIRA No. 31 Patrono: Dionélio Machado Titular: DANILO UCHA Endereço: R. Lopo Gonçalves, 172 CEP 90050-350 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 32 Patrono: Tristão Veloso Nunes Vieira(MárcioDias) Titular: MARIA ALICE ESTRELA Endereço: Largo Gomes da Silva, 3635/201 CEP 96020-240 Pelotas RS

CADEIRA No. 33 Patrono: José Vieira Pimenta Titular I: JOSÉ BACCHIERI DUARTE Titular II:

CADEIRA No. 34 A foto é de Sejanes Dornelles Patrono: Josué Guimarães Titular: JOSÉ TÚLIO BARBOSA Endereço: Av. João Pessoa, 1784/803 CEP 90040-001 Porto Alegre RS

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CADEIRA No. 35 Pat: Hipólito José da Costa Tit I: Edgar José Curvello Titular II: ÂNGELA TREPTOW SAPPER Ender: Rua Paulo Alcides Porto Costa, 205 - Cep 96090-000 Email: angelatreptow@terra.com.br – Fone: 53-32264122

CADEIRA No. 36 Patrono: Juliné da Costa Siqueira Titular I: PEDRO BAGGIO Titular II: Endereço:

CADEIRA No. 37 Patrono: Antônio Gomes de Freitas Titular I: MARIA AMÉLIA GONÇALVES HILLAL Titular II Endereço:

CADEIRA No. 38 Patrono: Ramiro Barcelos Titular I: HUGO RAMIREZ Titular II: Endereço:

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CADEIRA No. 39 Patrono: Arquimedes Fortini Titular: PÉRICLES AZAMBUJA Endereço: R.7 de Setembro, 1561 CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS

CADEIRA No. 40 Patrono: Darci Azambuja Titular: ANSELMO AMARAL Endereço: R. Gen. Osório, 2279 CEP 96230-000 Santa Vitória do Palmar RS

CADEIRA No. 41 Patrono: Mário Quintana Titular: WILMA MELLO CAVALHEIRO Endereço: R. Anchieta 3173/102 CEP 96015-420 - Pelotas RS F: (53) 32255045

CADEIRA No. 42 Patrono: Oscar Bertholdo Titular: JANDIR JOÃO ZANOTELLI

Endereço: R. Jaguarão, 643 CEP 96090-350 - Laranjal – Pelotas RS E-mail: jjzanotelli@ig.com.br fone (53-)32262662

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CADEIRA No. 43 Patrono: Noemi Assumpção Osório Caringi Titular: NAIR SOLANGE PEREIRA FERREIRA Endereço: General Telles, 358 CEP 96010-310 - Pelotas RS E-mail: nspf@ig.com.br

CADEIRA No. 44 Patrono: Delminda Silveira TitularI: CHEILA STUMPF Titular II: JULIO DIAS DE QUEIROZ

CADEIRA No. 45 Patrono: Noemi Vale da Rocha Titular: BLAU FABRÍCIO DE SOUZA Endereço: Av. Juca Batista, 8.000, casa 114 Belém Novo, CEP 91.780-070 Porto Alegre RS E-mail: blausouza@.c.povo.net

CADEIRA No. 46 Patrono: Magda Costa Circe de Moraes Palma Monteiro Tit:NEUSA MARILÚ DUARTE End: Av. Independência, 1196 CEP 96300-000 - Jaguarão RS

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CADEIRA No. 47 Patrono: Carlos Drummond de Andrade Titular: LUIZ DE MIRANDA Endereço: José do Patrocínio, 95/405 CEP 90050-001 Porto Alegre RS

CADEIRA No. 48 Patrono: Guilhermino Cezar Titular: JOSÉ CLEMENTE POZENATO Endereço: R. Conselheiro Dantas, 1290/301 CEP 95054-000(S.Família)Caxias do Sul RS E-mail: pozenato@terra.com.br

CADEIRA No. 49 Patrono: Luiz Delfino Titular I: PASCHOAL APÓSTOLO PÍTSICA Titular II: JOSÉ ISAAC PILATI Endereço: Largo Benjamim Constant 691/603 CEP88015-390 Florianópolis SC E-mail: jipilati@matrix.com.br

CADEIRA No. 50 Patrono: Virgílio Várzea Titular: HOYÊDO DE GOUVÊA LINS Endereço: R. D. Joaquim, 132 CEP 88015-310 Florianópolis SC

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CADEIRA No. 51 Patrono: Brasílio Itiberê Titular: CLORIS CASAGRANDE JUSTEN Endereço: R. Des. Otávio do Amaral 57/142 CEP 80730-400 Curitiba PR

CADEIRA No. 52 Patrono: Scharffenberg de Quadros Titular: CLOTILDE DE QUADROS CRAVO Endereço: R. XV de Novembro 1630 CEP 80050-000 Curitiba PR

CADEIRA No. 53 Patrono: Luiz Carlos Pereira Tourinho Titular: IVO ARZUA PEREIRA Endereço: Cons. Laurindo, 890/702 CEP 80060–100 Curitiba – Pr Ivo@arzua.com.br

CADEIRA No. 54 Patrono: Oscar Joseph de Plácido e Silva Titular: JOÃO DARCY RUGGERI Endereço: R. Nestor Vistor, 227 CEP 80620-400 Água Verde – Curitiba - Pr. E-mail: HYPERLINK mailto:ruggeri@uol.com.br ruggeri@uol.com.br

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CADEIRA No. 55 Patrono: João Cândido Titular: LAURO GREIN FILHO Endereço: Av. D. Pedro II, 571/701 CEP 80420-060 Curitiba -Pr

CADEIRA No. 56 Patrono: Assad Amadeo Titular: LUÍS RENATO PEDROSO Endereço: R. Carlos de Campos, 482/62 CEP 85540-110 Curitiba - Pr

CADEIRA No. 57 Patrono: Emílio de Menezes Titular: ROZA DE OLIVEIRA Endereço: R. João Negrão, 140/71 CEP 80010-200 Curitiba PR E-mail: roza @ onda.com.br

CADEIRA No. 58 Patrono: Ruy Wachowicz Titular: SEBASTIÃO FERRARINI Endereço: R. XV de Novembro 1050 CEP 80060-000 Curitiba PR

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CADEIRA No. 59 Patrono: Telêmaco Borba Titular: TÚLIO VARGAS Endereço: R. Coronel Dulcídio 1239/5 CEP 80250-100 Curitiba PR E-mail: tulio@netpar.com.br

CADEIRA No. 60 Patrono: Ildefonso Pereira Correia Titular: VALTER MARTINS DE TOLEDO Endereço: Av. Pres. Getúlio Vargas,3737/33 CEP 80240-041 Curitiba – Pr E-mail: v.toledo@terra.com.br

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