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entrevista

... conversas com amigos do Jardim Zoológico

“...Os valores da família que encontro no Zoo.”

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O pai era arquiteto e a mãe, eventualmente, teria gostado que tivesse seguido as suas pisadas. Foi para economia mas o caminho também não seria por ali. Quando acabou a licenciatura em Ciências da Comunicação, no Porto, disse “eu quero ir trabalhar para a SIC”. Bernardo cumpriu.

Cresceu a norte mas a paixão pelo jornalismo e o amor à primeira vista trouxeram-no para sul. No entanto, foi uma visita ao Jardim Zoológico que o trouxe a Lisboa pela primeira vez. A discrição fora dos ecrãs talvez contraste com a frontalidade que assume na televisão, porque a missão do jornalismo assim o exige. Bernardo Ferrão é sub- -diretor de Informação da SIC e SIC Notícias, coapresenta o programa semanal Expresso da Meia-Noite, é cronista no Expresso Diário/Online, e porque “a verdade acima de tudo”, sem concessões ou adaptações, atualmente apresenta e coordena a rubrica do Jornal da Noite, “Polígrafo SIC”, um programa que procura apurar a verdade no espaço público.

“A SIC foi amor à primeira vista”, e o jornalismo foi desde sempre uma paixão? Desde que me lembro que sempre me imaginei jornalista. Na verdade, ainda andei em economia no liceu, mas rapidamente percebi a minha queda para as humanidades. A curiosidade é uma característica fundamental e condição para se ser jornalista, procurar a verdade, os factos, saber mais, o detalhe dos acontecimentos. Os meus pais sempre estimularam a nossa curiosidade, o conhecimento. O meu pai lia muito e isso fez com que se criasse uma cultura em casa muito orientada para o conhecimento. Quem foram as suas grandes referências dentro e fora do jornalismo, e de que forma o influenciaram? Em Portugal faz-se muito bom jornalismo. Na rádio, nos jornais e na televisão há excelentes jornalistas. Em casa dos meus pais, o jornal Expresso era religioso, lembro-me de ir aos sábados de manhã comprá-lo com o meu pai. Mas não consigo agora dizer quais os jornalistas que mais me marcaram, o que posso dizer é que sou da geração que cresceu com o arranque da SIC, e esse foi sem dúvida um estímulo para seguir esta carreira.

Perfil

Naturalidade: Foz do Douro Ano de Nascimento: 1976 Estado Civil: casado, pai da Carolina e da Benedita . Profissão: Jornalista Hobbies: Desporto, cinema, leitura. Cusiosidade: Licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa, Porto, tem formação em jornalismo Multiplataforma - Newsplex, pela Univ. da Carolina do Sul, e foi formador de cursos de jornalismo em televisão no CENJOR e na ETIC.

“Gosto muito de ir ao Zoo”

A simpatia e frontalidade do homem do Norte sempre o ajudaram a chegar à fonte certa? É simpático apontar-se a simpatia das pessoas do Norte, mas não acredito que seja esse o traço que mais me define. Prefiro a frontalidade. Não tenho receio de confrontar, é verdade que nem sempre corre bem, mas prefiro assim. Não sou grande admirador dos paninhos quentes…

Na vida “a verdade acima de tudo” ou há que adaptá-la às situações? A verdade acima de tudo. Sem adaptações.

Nem sempre trabalhou na editoria política. Quando se começa a trabalhar nesta área, o “bichinho” não sai mais? Comecei como estagiário no Porto, depois fui correspondente em Vila Real. Como correspondente, não temos áreas específicas mas sempre gostei muito de política. Acabei por dedicar-me em exclusivo quando vim para Lisboa e o Ricardo Costa me convidou para a editoria de Política na SIC, e anos mais tarde para editor no Expresso. O jornalismo político é muito importante, deve promover o esclarecimento mas também o escrutínio.

Numa altura em que as notícias falsas estão cada vez mais na ordem do dia, a missão do jornalismo devia ser ainda mais reforçada. Como se adapta o papel do jornalista perante este cenário? Voltamos ao tema da verdade acima de tudo… O papel do jornalismo é fundamental, sobretudo nestes tempos de

tanta informação em que a rapidez noticiosa vale muito. Há quem considere que o factcheck vem fragilizar o jornalismo tradicional porque o põe em causa, como se tivesse de haver uma dupla verificação. Não concordo, julgo que só vem reforçá-lo. Temos de estar muito atentos. As redes sociais comportam vários perigos.

Já ganhou um prémio de Jornalismo “Direitos Humanos, Tolerância e Luta contra a Discriminação na Comunicação Social”; um galardão instituído pela Comissão Nacional da UNESCO com a reportagem “A um salto” sobre imigrantes clandestinos que tentam transpor a fronteira entre Marrocos e Espanha, tem saudades deste trabalho de campo? Tenho. Fiz muita reportagem, diária e não diária. Mas hoje faço outras coisas que também me dão muito prazer. Fazer parte da direção da SIC, SIC Notícias e SIC online é uma honra. Não pelo cargo mas pelas pessoas da redação. É uma redação incrível e cheia de talento.

Guerra, alterações climáticas, refugiados, etc. Como é par tilhada esta atualidade de notícias menos positivas com as suas filhas?

POLÍGRAFO SIC

Diariamente lemos e ouvimos notícias, mas fica sempre a dúvida: onde acaba a verdade e começa a mentira? Bernardo Ferrão analisa um conjunto de intervenções de personalidades de relevância pública no programa Polígrafo SIC. Essas intervenções são minuciosamente verificadas através de uma pesquisa fortemente sustentada em fontes originais, de natureza documental e nos próprios autores da afirmação. Na deliberação procuram ainda adotar um compromisso justo, transparente e não-tendencioso.

Ainda são muito novas e por isso ainda não estão muitos expostas aos problemas do mundo. Mas já acompanham, sobretudo as questões ambientais. Preocupam-se muito com a separação do lixo, com a água que gastam a lavar os dentes, com o desperdício, com os plásticos. Não estou a ser politicamente correto, falo verdade, hoje as cabeças dos mais novos são bem diferentes.

“Quem disse que era fácil”? Lá está. Esse foi um trabalho que me deu muito prazer. “Quem disse que era fácil” é o título da biografia não autorizada que eu e a Cristina Figueiredo, minha colega da SIC, fizemos em 2015 sobre o primeiro-ministro António Costa. Foi o verão inteiro a trabalhar e com alguns contratempos, mas valeu a pena.

Recentemente terminou uma entrevista ao primeiro-ministro dizendo “Tentarei ter mais tempo para a próxima entrevista” . Para o que é que gostava de ter realmente mais tempo? Para viver. Apanhei um grande susto de saúde no ano passado que me marcou profundamente. Gostava de ter mais tempo para a minha família, para as minhas filhas, para viajar, para ler, para desenvolver outros projetos. O tempo voa, a minha filha mais velha fez agora 9 anos. Nove anos…

Das suas visitas ao Jardim Zoológico, o que mais valoriza da sua missão? Tem algum animal de eleição? A promoção da Natureza, mas também os valores da família que encontro no Zoo. Gosto muito de ir ao Zoo e fui algumas vezes com as minhas filhas. Não consigo escolher um animal… Lembro-me da primeira vez que vim a Lisboa. Viemos com um tio de propósito para ir ao Jardim Zoológico.

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