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visita guiada

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O Jardim Zoológico participa em vários programas de conservação, europeus e internacionais, e a Zoo vai contar-lhe tudo sobre estas fantásticas iniciativas.

I N T O T H E W I L D Chita

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Laurie Marker deixou a sua vida confortável nos Estados Unidos da América para abraçar a causa das chitas na Namíbia.

No início da década de 70 Laurie Marker trabalhava na clínica veterinária do prestigiado Wildlife Safari em Oregon, EUA. Entrou como assistente, mas rapidamente ascendeu a supervisora e foi aí que conduziu várias pesquisas sobre a reprodução de chitas sob cuidados humanos. Em 1977, no decorrer de um estudo que visava perceber se esta espécie, quando nascida sob cuidados humanos, poderia ser ensinada a caçar, viajou para a Namíbia com uma cria de chita para fazer a experiência. Quando lá chegou deparou- -se com uma realidade com a qual não contava: uma população de chitas em declínio devido ao conf lito com as popu lações hu ma nas. A perda do habitat e a redução de presas naturais, são das principais causas de ameaça das chitas, e levam à aproximação destes animais às populações humanas locais, em busca de alimento nos rebanhos. Numa população cuja principal fonte de rendimento é o seu gado, a perda de um animal é financeiramente incomportável, resultando na perseguição dos predadores selvagens: as chitas. No entanto, se o ritmo de extermínio se mantivesse, as chitas desapareceriam rapidamente do seu habitat natural. Os alarmes soaram na cabeça de Laurie que regressou aos Estados Unidos decidida a exercer pressão junto de pessoas e organizações com influência suficiente para acabar com aquele flagelo.

| a saber |

Studbook Internacional

O Jardim Zoológico participa no Studbook Internacional da Chita através da partilha de informação. Este ano a participação foi mais longe com o envio de uma fêmea de cão pastor da Anatólia para a Namíbia, no âmbito do Lifestock Guardian Dog (LGD) um programa do Cheetah Conservation Fund (CCF) que atribui cães pastores aos agricultores da região. A chegada desta fêmea reprodutora permitirá maior variabilidade genética do grupo e reduzir a lista de espera dos que procuram a ajuda de cães pastores na defesa dos seus rebanhos, protegendo a população de Chitas. “O Jardim Zoológico é uma instituição fantástica e fiquei muito satisfeita por ter conhecido toda a equipa quando estive em Lisboa. Tem sido muito importante a sua colaboração com a CCF no Studbook Internacional da Chita .” Continuaremos a acompanhar as pegadas de Laurie Marker no caminho da conservação das chitas.

A Namíbia, situa-se no sudoeste de África, e a sua costa oceânica é delimitada pelo deserto do Namibe. Tem uma fauna diversificada, incluindo uma população significativa de chitas.

Sem sucesso, ao fim de 10 anos decidiu que aquela era uma batalha que teria de travar sozinha. Deixou o seu trabalho no The National Zoo como Diretora executiva no Centro de Novas Oportunidades em Ciências da Saúde Animal (NOAHS), vendeu os seus bens pessoais e mudou-se para a Namíbia onde, com o dinheiro que conseguiu juntar, fundou o Cheetah Conservation Fund (CCF), Fundo de Conservação para as Chitas, com o objetivo de salvar a chita selvagem da extinção.

O TRABALHO NA NAMÍBIA Já na Namíbia, Laurie Marker reuniu com os agricultores locais e compreendeu a verdadeira extensão da problemática. Percebeu que, para garantir a conservação da espécie, teria de sensibilizar os locais para a importância destes animais. “Desenvolvi uma estratégia para o CCF, com três abordagens possíveis: investigação, conservação e educação, com estudos a longo prazo para se conseguirem apurar os fatores que afetavam a sobrevivência das chitas.”, completa a responsável do CCF. Assim, nos últimos 25 anos, Laurie Marker, juntamente com uma pequena equipa de investigadores, estagiários e voluntários do CCF, tem estudado a chita selvagem e utiliza os dados desses estudos para desenvolver políticas de conservação e programas de educação e sensibilização sobre este felino, nas comunidades da Namíbia, mas também no resto do mundo. No entanto, Laurie sabia que era fundamental encontrar uma solução também para o problema dos agricultores, afinal era o seu sustento que estava em causa. Foi assim que, em 1994, iniciou um projeto muito interessante e bem-sucedido, o Lifestock Guardian Dog (LGD). “O CCF utiliza o cão pastor da Anatólia, uma raça turca. São cães de pelo curto habituados ao clima seco e quente, semelhante na Turquia e na Namíbia; são cães muito independentes, que não dependem dos humanos para fazer o seu trabalho.”, explica Marker. Na verdade, é uma prática utilizada na Turquia há mais de 5 000 anos e revelou-se muito eficaz na Namíbia. São cães de grande porte, protetores e meigos, com uma aparência imponente, que conseguem demover animais selvagens de atacar os rebanhos. O projeto tem sido um sucesso. Os cães da CCF são reconhecidos em todo o sul de África por serem eficazes. Na Na

míbia, os agricultores com cães do CCF relatam uma diminuição de cerca de 80% das perdas de gado doméstico por predação de animais selvagens e, consequentemente, a redução do número de mortes de chitas e outros predadores selvagens. Para os agricultores a perda de um único animal pode ser

Lisboa, a cadela enviada pelo Zoo

devastadora financeiramen- te, por isso, ter um cão pastor pode ser uma espécie de “apó- lice de seguro”. Nos últimos 25 anos, a Cheetah Conservation Fund (CCF) criou e treinou mais de 650 crias de cão pastor da Anatólia que distribuiu por pequenos criadores de gado da Namí- bia, com um custo mínimo ou custo zero. “Os resultados têm sido tão positivos e a fama destes cães tem-se espalhado de tal maneira pelo mundo, que neste momento a espera é de um a dois anos.”

O FUTURO DA ESPÉCIE Ainda há muito por fazer para garantir a conservação da Chita e para isso é muito im- portante a colaboração entre todos os centros e investiga- dores que se dedicam a este felino, nomeadamente os zoos que mantêm chitas ao seu cuidado. No entanto, é preciso ser mais metódico e garantir que não se perde informação e que se mantém registo de tudo. Para isso, em 1982, Laurie Marker desenvolveu o pri- meiro US Cheetah Regional Studbook e, em 1987, publicou a primeira edição do Interna- tional Cheetah Studbook. O Studbook é um registo de todas as chitas que vivem sob

cuidados humanos, um regis- to histórico da sua origem e li- nhagem. Laurie é a responsá- vel pelo Studbook Internacio- nal desta espécie (ISB). “Faço isso para gerir o acasala- mento de chitas sob cuidados humanos e melhorar a diversi- dade genética das populações. Existem cerca de 1800 chitas sob cuidados humanos dis- persas por cerca de 160 zoos em todo o mundo. ”, esclarece a especialista em chitas. Na opinião de Laurie Marker, os zoos são um parceiro fun- damental para as organiza- ções que se dedicam à con- servação no habitat natural – in situ. O seu apoio através do finan- ciamento e da colaboração na investigação é fundamental, mas também é importante o trabalho que desenvolvem nas suas próprias instalações, através da educação, reprodu- ção e investigacão – ex situ.

Laurie Marker na Namíbia

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