Série Alpha Pack #6 Queda do Lobo Disponivel no Wattpad : Jehsoso

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ALPHA PACK - LIVRO VI WOLF'S FALL - J. D. TYLER

TRADUÇÃO/LEITURA INICIAL K. Nicoli REVISÃO FINAL/LEITURA FINAL Eva M. Carrie

ARTE/FORMATAÇÃO Mia Landon

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AVISO

Essa tradução foi feita pelo grupo Butterfly Traduções, de forma a proporcionar ao leitor o acesso à obra, motivando-o a adquirir o livro físico ou no formato e-book. O grupo tem como objetivo a tradução de livros sem previsão de lançamento no Brasil, não visando nenhuma forma de obter lucro, direto ou indireto. Para preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo, sem aviso e se assim julgar necessário, retirará do arquivo os livros que forem publicados por editoras brasileiras. O leitor e usuário fica ciente que o download dos livros destina-se, exclusivamente, para uso pessoal e privado, sendo proibida a postagem ou hospedagem do mesmo em qualquer rede social, assim como a divulgação do trabalho do grupo, sem prévia autorização do mesmo. O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado, também responderá individualmente pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo o grupo de qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em eventual delito por aquele que, por ação ou omissão, tentar ou utilizar o presente livro para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do Código Penal e da Lei 9.610/1988.

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SINOPSE:

Considerado morto por seus irmãos da Alpha Pack, Micah Chase, um shifter lobo e Andarilho dos Sonhos, foi mantido em cativeiro durante meses, sujeito a torturas que o deixaram fisicamente marcado e emocionalmente instável. Agora, sob os cuidados médicos da Alpha Pack, tem usado um medicamento experimental para a cura, mas ainda não consegue afastar os pesadelos. Ainda mais condenável, é que os problemas do Micah representam um perigo para a sua equipe e, se não conseguir se controlar, todos vão sofrer um terrível destino. Há uma chave para a sua salvação. Jacee é uma bela shifter coiote e, apesar da sua espécie ser odiada, está se apaixonando por um homem cujo futuro está, inteiramente, em suas mãos. Juntos, vão enfrentar seus demônios pessoais, assim como um inimigo mortal – e, para ambos, o desejo nunca significou tanto risco.

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DEDICATÓRIA Para minha querida, amiga Tracy Garrett. Um dos melhores dias da minha vida foi aquele em que você veio até mim e se apresentou, pegando esta tímida autora novata sob sua asa. Sua amizade é um verdadeiro presente, e estou muito feliz por estarmos fazendo esta jornada juntas. A história do Nick é para você. Eu te amo, minha amiga.

AGRADECIMENTOS Agradecimentos especiais: À minha família, por me apoiar e me incentivar durante cada passo da minha jornada. À minha agente, Roberta Brown, e minha editora, Tracy Bernstein. Sou muito grata por seu apoio e orientação, como sempre. Aos meus leitores. Vocês fazem o meu trabalho de contar histórias valer a pena e ser uma grande alegria.

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"É impossível", disse o Orgulho. "É arriscado", disse a Experiência. "É inútil", disse a Razão.

"Experimenta", sussurrou o coração.

Autor desconhecido

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CAPÍTULO 01

O Comandante da Alpha Pack, Nick Westfall, saiu do seu escritório e caminhou pelo corredor principal do complexo, o som das pesadas botas pretas abafado pelo tapete. Sua mão foi até o lado, os dedos tocando, rapidamente, a coronha da arma de fogo escondida no cós da calça jeans. Puxou a camiseta para baixo, para cobri-la, e continuou andando. Devia sentir alguma coisa, não devia? Medo? Auto aversão? Arrependimento? Sim, todas essas coisas cortavam suas entranhas, como lâminas afiadas, mas não por causa do que estava prestes a fazer. Ele queria aguentar. Não era da sua natureza desistir, nunca. Mas a tempestade dentro dele, o golpeava por todos os lados, maremotos lavando sua cabeça, outra e outra vez, até parecer que não havia mais nada a fazer a não ser se deixar levar. Se afogar.Toda vez que fechava os olhos, via o sorriso sinistro do Carter Darrow atravessando o rosto frio. Dia e noite, a marca fantasma do corpo 7


do vampiro morto, as presas perfurando sua pele, o excitavam, involuntariamente, mais uma vez. Pior, havia implorado por aquilo. O pesadelo do tempo que passou com o Darrow nunca o deixou. O vampiro o havia quebrado, corpo e alma, reduzindo-o a carne, sangue e desejo. Ele não era nada, além do que a criatura queria que fosse: um escravo. Sufocando um riso amargo, virou uma esquina e quase trombou com o Hammer – ou melhor, o ex-agente especial John Ryder. Seu melhor amigo e braço direito, o único homem que o acompanhava, há anos. Suportou todo tipo de merda com ele desde os dias no FBI, passando alguns anos como seres humanos. O único homem que podia ver através da máscara do Nick, em um piscar de olhos, se o Nick não tomasse cuidado. "Aonde você vai com tanta pressa?" O grande shifter lobo estava meio brincando, mas o sorriso descontraído morreu, de repente, quando estudou o rosto do Nick. "O que está acontecendo?" "Nada", disse, casualmente. "Apenas saindo para o hangar para verificar os reparos do helicóptero e, então, vou até o Santuário, para ver como as coisas estão indo, com os novos moradores." Tudo isso era verdade. Só tinha ocultado o seu próximo, e possivelmente final, destino. Ainda assim, o enorme homem careca estreitou os olhos e mudou sua postura, comunicando claramente que o seu detector de mentira estava em pleno funcionamento.

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Eram amigos há muito tempo para não perceberem quando alguma coisa estava errada, com o outro. "Vou com você." Um teste. Que iria falhar se recusasse a companhia do seu amigo, e o homem sabia disso. Dando de ombros, falou: "Claro." Nick podia enganar a maioria das pessoas, mas não o ex-agente secreto, cuja vida dependia da sua capacidade de captar as nuances sutis na sua voz, linguagem corporal e expressão facial. E, provavelmente, conhecia o Nick melhor do que ninguém, até mesmo o próprio irmão do Nick. Quando se dirigiam para o hangar, um zumbido vibrou contra a coxa do Nick. Alcançando o bolso da frente, pegou o celular e soltou um suspiro de frustração quando viu o nome do seu irmão na tela. Inferno, os caras da equipe eram mais seus irmãos, do que o Damien já tinha sido. Devia saber. Apenas quando não queria nada mais do que ser deixado sozinho, especialmente por aquele babaca, tinha um par de babás respirando no seu pescoço. "Foda-se", murmurou, apertando o botão para recusar a chamada. Em seguida, colocou o dispositivo de volta no bolso. "Você não vai atender?"

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"Não. Pensei que o 'foda-se' fosse bastante óbvio." Hammer estava imperturbável, colocando os óculos de sol, enquanto caminhavam para fora. "Sabe que ele só vai continuar ligando de volta." "Sim, ele é um idiota desse tipo." "Ele se importa." Nick lhe lançou um olhar penetrante. Já eram amigos há anos, desde muito antes da Alpha Pack. Os outros podiam desconfiar que o Hammer já sabia da triste história do passado do Nick, o tempo todo, mas ninguém sabia ao certo e ninguém tinha perguntado, desde que tudo tinha sido descoberto. O Hammer já sabia, quase desde o início da amizade deles. E nunca tinha contado a uma alma, sequer. Era o amigo mais leal e firme com o qual um homem podia contar. Poucas pessoas conheciam melhor o que o Nick tinha passado, vinte anos atrás, depois de cometer um erro terrível. Usou suas habilidades como PreCog para mudar o futuro, salvando a vida da sua filha. Mas, em vez disso, suas ações custaram a vida da sua Companheira, nas mãos do Carter Darrow. Damien tinha banido o Nick do seu clã e o obrigou a deixar Selene, onze anos atrás. Ele perdeu a filha, a Companheira, o irmão e o clã, em uma só tacada. Era tudo culpa daquele bastardo do Darrow, mas o Damien podia

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ter lidado com as coisas de forma diferente. O idiota insensível podia ter apoiado o Nick, em vez de expulsá-lo. E era por isso que, ver o Hammer incentivando o Nick a se reconciliar com seu irmão, deixava-o completamente perplexo. Voltando ao presente, percebeu que estava parado, olhando para o amigo. "Você, realmente, quer ir lá comigo?" Perguntou, em tom de aviso. "Só estou dizendo." Felizmente, seu amigo entrou, novamente, no modo silencioso até chegarem ao hangar cavernoso, e não trouxe à tona o assunto sobre o Damien. Na calçada em frente ao prédio, alguns dos rapazes estavam polindo as vans. Correção: a maioria estava polindo e outros dois estavam jogando conversa fora. Jaxon Law, Ryon Hunter, Zander Cole, e o Micah Chase estavam polindo os veículos negros, recémlavados, deixando-os brilhantes, enquanto o Aric Savage e o Kalen Black estavam correndo e atirando esponjas molhadas e cheias de sabão, um no outro. Nick trocou um olhar de diversão com o Hammer e os dois pararam para assistir. "Peguei!" Kalen gritou, quando seu míssil atingiu o peito do Aric com um splash.

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"É mesmo? Pega essa! "O shifter lobo ruivo retornou o favor, mergulhando a esponja em um balde e, em seguida, atirando-a, batendo na cabeça do Feiticeiro. "Ah, é? Morre, lobo sarnento! " Com isso, o Kalen acenou com a mão na direção do próprio balde e o seu conteúdo voou, encharcando, completamente, o Aric. Que gaguejou, xingou e riu, ao mesmo tempo. "Seu filho da puta! Isso é trapacear!" Limpou o sabão dos olhos e deu ao Kalen um sorriso maligno. "Você vai pagar, Feiticeiro." Aric acenou com a mão para o seu próprio balde, a água com sabão espirrando no concreto quando usou o seu dom de tele cinese para jogar a coisa toda no Kalen. Que, imediatamente, usou sua própria magia para parar o balde no ar e enviá-lo, diretamente, de volta para o Aric. Na metade do caminho para o Aric, o balde parou, com igual resistência e ficou suspenso entre eles. "Empate", Kalen disse, secamente. "Sim. Toda a água já se foi, de qualquer maneira." Com a interrupção do poder deles, o balde caiu, sem a menor cerimônia, no chão com um estrondo. Nick revirou os olhos e deu um passo adiante. "Isso é tudo o que os dois idiotas têm a fazer

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hoje? Tenho certeza que posso encontrar trabalho para vocês. Como limpar os banheiros dos funcionários, por exemplo." As palavras, aparentemente, não surtiram efeito, entretanto, diante dos sorrisos impertinentes que recebeu como resposta. Aric respondeu: "Não, está tudo bem. Tenho certeza de que podemos encontrar algo para nos manter ocupados, não podemos, garoto gótico? " "Pode apostar, Ruivo." Kalen arrancou a camiseta encharcada. Difícil imaginar que, há apenas alguns meses atrás, os dois estavam pulando na garganta, um do outro. Agora, brincavam como uma dupla de adolescentes, todos sorrisos. Quem diria? E, por quanto tempo eles e o restante da equipe, conseguiriam se manter unidos, uma vez que o Nick tivesse partido? Nick balançou a cabeça para afastar esse pensamento. "Alguém sabe se arrumaram o Huey?" "O mecânico ainda está lá", Jax disse, deixando cair sua flanela para polimento. "Estava substituindo algumas peças, da última vez que verifiquei." "Ok. Vou dar uma olhada." "Você já tinha visto esse cara antes?"

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Nick estudou o shifter tatuado, que estava esfregando o cavanhaque, pensativo. "O Scott? Eu o conheci hoje cedo, quando conversou comigo. Por quê?" "Eu não sei, mas o Tom, realmente, amava o seu trabalho, cuidando

dos

nossos

veículos.

Acho

que

alguma

coisa,

simplesmente, não encaixa direito, com ele saindo sem dar, nem mesmo, um ‘tchau’." "Achei estranho, também", Nick admitiu. "Mas o Grant confirmou a saída do Tom e indicou o Scott. Pareceu bastante competente quando falei com ele, antes." "Deixa pra lá. Apenas achei estranho o modo como o Tom saiu, sem dizer uma palavra. Isso é tudo. E, no nosso mundo, estranho não é, tipicamente, uma coisa boa."

Nick deu uma risada suave. "Verdade. Vou ficar de olho nele." E, como, diabos, ia fazer isso, se nem estava pensando em ficar por aqui? Aric assentiu, a atitude sóbria, agora. "Nós todos, vamos." Deixando-os terminando o trabalho com as vans, Nick entrou no hangar, o Hammer, ainda, nos seus calcanhares. Tornou-se,

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rapidamente, evidente que não ia se livrar do amigo, tão cedo. Droga. Não sabia se gritava ou agradecia. Forçando-se a se concentrar, cruzou a extensão do hangar até onde o Scott estava trabalhando, enfurnado até o nariz, as mãos cobertas de graxa, mexendo em alguns fios. Diante da sua aproximação, o homem olhou para cima e se virou para cumprimentá-los, puxando um pano sujo do bolso da frente e limpando as mãos. "Olá. Acho que está pronto para vocês irem até as alturas, novamente. " "Bom saber." Nick estudou o Scott, novamente, analisando-o mais de perto, do que tinha feito durante a entrevista. Scott Morgan tinha trinta e um anos, de acordo com a ficha do empregado, que o Grant enviou por e-mail para ele, e tinha muita experiência trabalhando com aeronaves. Não era muito alto, talvez, um metro e sessenta. O corpo magro, as mãos aparentando estarem acostumadas ao trabalho pesado, como deviam. O cabelo castanho era limpo, mas um pouco desgrenhado, caindo sobre os olhos escuros, e seu comportamento era relaxado. Sua expressão era amigável. Não havia uma única coisa, no mínimo, perturbadora sobre o mecânico. Só que ele tinha substituído o seu funcionário assim de repente, sem aviso. Nick estava falhando com o seu trabalho, quando membros da sua equipe precisavam apontar uma preocupação, em

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potencial. A vergonha quase o consumiu. Não estava fazendo um favor a ninguém, permanecendo, aqui, como seu líder. Resolveria essa questão, mais tarde. Nick fez um gesto para o helicóptero. "Então, podemos dar uma volta?" "Com certeza. Assim que você estiver pronto." Scott pegou seu telefone celular. "Na verdade, posso chamar o Steven, se você precisar de um piloto." Steven era um dos pilotos da equipe, que ficavam de prontidão, e morava na cidade vizinha de Cody, no Wyoming. Ele e mais alguns outros se ofereceram para ajudar o Aric quando a equipe precisou de mais de um piloto, para atender uma chamada. O pessoal extra foi aprovado pelo general Jarrod Grant, e juraram segredo sobre tudo o que poderiam testemunhar na missão. Uma necessidade, quando a equipe do Nick era composta de lobos shifters - e uma pantera - com habilidades Psíquicas especiais. Seu trabalho implicava lutar contra os inimigos paranormais e humanos, mais letais do mundo, e qualquer pessoa "de fora" tinha que ser confiável, implicitamente. "Não será necessário", falou o Aric, entrando no hangar e se aproximando do grupo. "Posso levá-los." O longo cabelo vermelho, a camiseta e a bermuda ainda estavam úmidos, e usava chinelos nos pés. Parecia pertencer a uma banda de rock mais do que ao comando de um helicóptero. Mas era um piloto malditamente bom, até mesmo antes da sua época nas forças armadas. 16


“Oh. Ok." Scott deixou o celular de lado. "Eu posso ir junto, se vocês quiserem. Para me certificar que está funcionando sem problemas. " Aric sorriu. "Essa é uma ótima ideia." Nick conhecia aquele sorriso. Era aquele sorriso falso que o Tele cinético/Incendiário dava às pessoas nas quais não confiava, e Nick não sabia por que o homem o estava direcionando ao Scott. Na verdade, suas próprias habilidades como PreCog não lhe deram uma única visão ou, até mesmo, algum sentimento sobre o mecânico novo. Isso, por si só, não era incomum ou alarmante. Não era como se ele visse tudo. Mas confiava nos instintos do Aric. "Concordo", falou. "Se ele ainda estiver fazendo algum barulho estranho, você pode fazer mais alguns ajustes quando pousarmos." O mecânico assentiu. "De acordo." Nick não acrescentou que, mesmo que houvesse algo muito errado com o helicóptero, não ia cair com o Aric a bordo, para aterrissá-la com segurança. Seus dons Psíquicos vinham, malditamente, a calhar, às vezes. Se o Scott tinha percebido a cautela diante dele, não demonstrou, quando embarcaram no Huey. Nick tomou o assento do copiloto na frente, com o Aric, enquanto o Hammer sentou atrás deles, ao lado do mecânico. Aric apertou um botão e o teto acima deles, se abriu,

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lentamente, para revelar o céu brilhante. As lâminas começaram a girar com um gemido e, poucos momentos depois, estavam decolando. O chão se distanciou, e Nick apreciou a vista das montanhas, dos vales e da floresta verdejante abaixo. Imaginou se veria essa paisagem, assim, novamente, com a terra muito abaixo dele. Talvez, se lobos velhos e cansados fossem autorizados a ir para o céu. A viagem correu sem problemas. Cerca de uma hora depois, Aric manobrou o Huey e voltou para o complexo. Uma vez que aterrissaram no hangar, Aric desligou o helicóptero e foi reabastecêlo, enquanto Nick e o Hammer agradeciam ao Scott e o dispensavam. Depois que o homem saiu, Jax e os outros, que tinham ficado lavando e encerando os veículos, entraram no hangar, claramente curiosos sobre a impressão que o Nick teve sobre o Scott. Se juntaram ao Phoenix Monroe, um irmão de equipe e Andarilho do Fogo, além de ser um lobo. Ou seja, o cara podia, literalmente, andar através do fogo sem se queimar, a não ser que, propositadamente, deixasse cair seus escudos. Hammer fez a pergunta que estava em todas as mentes. "Você acha que o Scott é legítimo?"

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"A lógica diz que sim", disse o Nick. "Mas eu não tive nenhuma visão." "Você tentou senti-lo?" Perguntou o homem enorme. "Sim. Não detectei nada." O amigo não pareceu satisfeito com a notícia. "Meu nariz de lobo diz que ele é humano, pelo menos. Não um shifter, ou um vampiro." "O meu, também. A não ser que ele esteja, de alguma forma, mascarando o seu cheiro." Phoenix franziu a testa. "Ele conseguiria fazer isso?" "Ele não, mas alguém poderia fazer isso por ele. Alguém poderoso, como um feiticeiro ou, talvez, exista uma droga que ainda não conhecemos que tenha essa capacidade. " "Esse é um pensamento perturbador", Hammer falou. "Qual?" "Ambos." Hammer olhou para ele. "Você, realmente, não ouviu nada sobre uma droga que pode mascarar cheiros?" "Não, mas quem sabe tudo o que existe lá fora? Nossa própria equipe médica está trabalhando em uma droga para atrasar os

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efeitos negativos da doença do acasalamento. Ninguém fora do complexo, exceto o Grant, sabe disso." "O quê?" Phoenix olhou para o Nick. "Uma droga que pode adiar o acasalamento? Quem eles estão usando como cobaia?" Nick se encolheu, interiormente, com o súbito interesse do lobo. Pensou em Noah Brooks, o enfermeiro humano que estava esperando o Phoenix reclamá-lo como seu Companheiro, e lamentou ter mencionado aquilo. "Eles têm um casal, no Santuário. Não mencionaram a necessidade de mais voluntários." Sentiu que sua tentativa de desviar o lobo do assunto não foi bemsucedida. Phoenix se desculpou, com pressa, e Nick balançou a cabeça. Outra merda para adicionar à sua lista, que só crescia. "Droga", murmurou, observando o Nix se retirando. Hammer balançou a cabeça. "Ei, você não faz as suas escolhas, ou qualquer outra pessoa. Se ele quebrar o coração do Noah, ou o seu próprio, é escolha dele." Houve um murmúrio geral de concordância vindo dos outros. "Eu sei, mas não podemos dar ao luxo de perder dois homens bons." Nick passou a mão pelo cabelo, que precisava de um corte. Como se isso importasse. "De qualquer forma, sobre o teste. Estava apenas tentando expressar minha opinião."

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"Eu entendi", falou o amigo. "É lógico que há uma abundância de estudos paranormais que não conhecemos, considerando que existem vários grupos diferentes. De qualquer maneira, vamos manter um olho no Scott. Quer que fiquemos de olho nele?" "Por enquanto. Se ele estiver aprontando alguma coisa, vamos descobrir, mais cedo ou mais tarde." "Não sabemos onde ele está hospedado?" Perguntou o Hammer. "Sua informação de contato enumera um motel em Cody, supostamente, enquanto procura por um lugar para alugar. Além disso, ligue para o Tom e veja se ele nos dá mais uma luz sobre a sua partida." "Farei isso, logo depois que terminarmos no Santuário." Os outros se dispersaram para realizar outras tarefas. Hammer seguiu com o Nick, enquanto ele caminhava até o edifício do Santuário, e o Nick se resignou com a presença do amigo. Na verdade, achou a obstinada persistência do homem, reconfortante. Ele não foi nem metade irritante quanto tentava ser. Entraram no hall da instalação, e pararam, por um momento, para admirar o projeto concluído. O lugar era como um centro de cuidados a longo prazo, de alta qualidade, para shifters e outros seres paranormais feridos, doentes ou desalojados, exceto que, em

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vez de ir para lá, para receberem conforto e cuidados no final das suas vidas, estavam lá para começar a viver. Era, sem dúvida, um objetivo nobre e, embora não tenha sido ideia sua, tinha apoiado, totalmente, o projeto desde a sua criação. Kira, a companheira do Jax, tinha fundado o Santuário. Quando chegou, pela primeira vez, no complexo, ficou horrorizada com o tratamento recebido pelos moradores do Bloco R - a ala de reabilitação. Em especial, tinha se conectado com o príncipe Fae, o Sariel, ou "Blue", como alguns o chamavam, que estava deprimido e pouco comunicativo. Não é de admirar, pois tinha sido exilado do seu reino, capturado pela Alpha Pack, e estava preso ao equivalente a uma cela de prisão. Kira tinha sido veemente sobre a necessidade de terem uma instalação real para tratar os seres paranormais, uma que usaria uma equipe treinada em dedicar amor e compreensão, em vez de um sistema punitivo, que inspirasse medo. Com a ajuda do Blue e do Noah, conseguiu construir, quase, um paraíso. Isso não queria dizer que eles não tinham casos difíceis, às vezes, até perigosos, que exigiam medidas adicionais, tais como restrições ou drogas, para a segurança de todos. Mas recebiam a melhor assistência possível. O lobby estava vazio, exceto pela recepcionista e uma shifter solitária sentada em uma das enormes cadeiras, toda enrolada, com um cobertor sobre os ombros, olhando para fora da janela.

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Uma enfermeira pairava perto dela, arrumando a área e mantendo um olho sobre ela. "Fiquei pensando sobre a história dela," Hammer comentou baixinho, olhando para a pequena shifter tigre. "Ela sempre parece tão triste." Nick manteve a voz baixa. "O nome dela é Leila. Ela e o irmão, Leonidis, foram atacados enquanto estavam em Cody, em algum tipo de missão." "Que tipo de missão?" "Não tenho certeza. Ela e os irmãos fazem parte de um grupo de grandes shifters felinos, e possuem um tipo de agência de detetives. O que está no andar de cima do hospital foi ferido gravemente e pode não resistir.” "Maldição." O homem lançou um olhar na direção dela cheio de algo como saudade. "Vou perguntar a ela, mais tarde, se há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar." "Tenho certeza que ela vai apreciar." Interessante. Nick avaliou a reação do seu amigo com a Leila quando entraram no elevador. Na verdade, o Hammer tinha estado muito mais animado, recentemente. Falador. Muito diferente do cara, normalmente, tranquilo que o Nick conhecia há tanto tempo.

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Mas não queria expressar sua opinião e fazer com que o homem se calasse. Em um dos andares dos residentes, saíram do elevador e o Nick perguntou pela Kira. Já que tinha dado ao Hammer a desculpa de vir até aqui para verificar as coisas, podia, muito bem, fazer tudo direito. Soube que ela estava ao telefone, no seu escritório e, como alternativa, encontrou o Noah vindo pelo corredor, em direção a eles. O enfermeiro-chefe lhes deu um sorriso brilhante, os olhos azuis cansados, em contradição com a expressão feliz. "Olá, pessoal. E aí?" Nick parou e estudou o homem mais jovem com cuidado. Ele parecia mais do que cansado – vibrações de tristeza estavam emanando do Noah, embora ele, provavelmente, não percebesse isso. "Apenas verificando como as coisas estão indo. Algum problema?" "Ha! E tem dia que termina?" Brincou, fazendo uma careta. Nick riu, apesar de si mesmo. "Tão ruim assim, hein?" "Não-ok, sim. Mas nada que não sejamos capazes de lidar." "Leo?" Hammer perguntou.

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Noah soltou um suspiro. "Ele é um problema em uma sequência deles. Entrou em colapso há duas horas e quase o perdemos. Entre lutar para salvá-lo e lutar com sua família rebelde, estou pronto para apresentar o meu aviso prévio. Vou aterrissar minha bunda em uma praia, em qualquer lugar, e saborear alguns drinques tropicais." "Exceto que você não vai", Nick disse para ele, com um meio sorriso. "Você se preocupa demais." "Total falha de personalidade", Noah assegurou. "Estou trabalhando nisso." Nick lhe deu um tapinha no ombro. "Não mude em nada. Está indo muito bem, você é valioso para todos aqui." O rosto do enfermeiro corou e pareceu satisfeito. "Bem obrigado. Eu tenho muita ajuda, apesar de tudo." A sensação familiar de formigamento começou nos dedos do Nick, onde segurava o ombro do Noah. Essa era uma das características que uma visão estava chegando, embora não precisasse tocar as pessoas ou, até mesmo, estar perto delas para "ver" um vislumbre do futuro. Sua visão nublou, e um zumbido ultrapassou seu cérebro. Em seguida, o corredor desapareceu e a cena se desenrolou. "Ele foi embora?" O Phoenix olhou em volta, para os seus irmãos de equipe, confuso. "Aonde ele foi? Quando é que vai voltar?"

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"Ele partiu, idiota", Aric rosnou, olhando para o Nix com desgosto. "Você, realmente, acha que ele ia ficar depois do que fez com ele, na frente de todo mundo?" "Eu-eu estava indo me desculpar! É por isso que estou procurando por ele!" Sua voz estava consumida pelo desespero. "Será que está hospedado em Cody? Não importa. Vou encontrá-lo e fazê-lo entender o quanto estou triste. Eu vou-" "Há mais uma coisa", Jax colocou, a expressão sombria. "O Noah foi levado." "Levado..." Nix pronunciou a palavra, obviamente, tentando dar sentido a ela. "Ele foi sequestrado, pelo Jinn. Sinto muito, cara. Mas nós vamos encontrá-lo. Prometo." "Não", gemeu, em agonia. Suas pernas fraquejaram e Aric o segurou, para evitar que caísse no chão. "Deus, não." A visão desapareceu, embora Nick tentasse mantê-la. Tornou-se consciente do seu entorno, novamente, e as vozes dos outros homens perguntando se ele estava bem. "Estou bem", falou, com a voz rouca, tentando clarear a mente.

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Aquela era a parte fodida sobre ser um PreCog - a vontade de contar às pessoas o que estava reservado para elas. Sua regra geral, no entanto, era ser vigilante, mas nunca mexer com o futuro. E quem, diabos, era Jinn? "Você tem certeza que está bem?" Perguntou o Noah, agarrando sua mão, para verificar o pulso. "Você está meio pálido." "Estou bem." Afastou a mão e deu ao enfermeiro um sorriso tranquilizador. "De qualquer forma, estava expressando uma opinião. Nunca se venda barato. O trabalho que você faz aqui é difícil, e é muito importante. Aproveitar a sua equipe é essencial para o sucesso, e é uma coisa na qual você é excelente, e é por isso que está encarregado das enfermeiras. Não se esqueça disso." Noah se endireitou um pouco. "Não vou esquecer. Obrigado, Nick." "Vamos deixar você voltar ao trabalho", disse ele. "Chame, se precisar de nós." "Pode deixar." Pensou em dar um pequeno recadinho animador ao Noah sobre o seu candidato a Companheiro, mas decidiu contra isso, por enquanto. Além disso, quem era ele para dar a alguém recadinhos carinhosos sobre esse assunto?

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Quando ele e o Hammer deixaram o prédio, disse: "Olha, estou indo dar uma corrida. Quando voltar, me informe o que você descobriu sobre o Tom." "Ok." Mas, em vez de se afastar, o amigo percorreu com ele todo o caminho até a parte de trás do complexo, onde a floresta começava. Quando o Nick parou, Hammer continuou quieto, por um momento, antes de falar. "Você teve uma visão, lá atrás?" "Sim." Ponderou se revelaria o que tinha visto. Mas, e se não estivesse por perto para ajudar os futuros Companheiros, através das suas provações? Alguém deveria saber. "O Phoenix e o Noah. Eles vão passar por momentos difíceis, por um tempo. Não tenho certeza quando, mas algumas outras merdas estão chegando, também." O amigo franziu a testa. "Como o quê? Você está falando no geral, ou algo específico?" "A merda é alguém chamado Jinn, que vai sequestrar o Noah.” Passou a mão pelo cabelo. "Isso é tudo que sei." "Jesus", o homem grande murmurou. "Isso é mais detalhado do que você jamais me deixou saber, antes. Por quê?"

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"Senti que você deveria tomar conhecimento." "Para quê? O que é que eu vou fazer que você não pode- Espere." Em seguida, Hammer estreitou os olhos azuis gelados para o Nick. "Você está tentando me tirar da sua cola o dia todo e, agora, isso. Sei o que você está planejando fazer." "Não estou te entendendo." Mas ele entendia, é claro. A voz do Hammer era afiada como o estalar de uma arma. "Não minta para mim. Não para mim, maldição! Sei que você está passando por um inferno. E sei que você quer sair, mas-" "Você não tem ideia de tão fodida a minha cabeça está", ele gritou, apontando o dedo para o peito do seu amigo. "Não passa um dia em que eu não sinta as presas do Carter Darrow no meu pescoço! Que eu não me lembre como foi, implorando para o bastardo me drenar até ficar seco! Ele estuprou a minha alma, e não sei como viver com isso." "Você não teve escolha", enfatizou o outro homem. "Não foi culpa sua. Vampiros seduzem suas presas. É assim que eles agem." Sua raiva começou a murchar, deixando-o vazio. "Sei disso. Mas não faz com que viver com esse pesadelo se torne mais fácil." "E, depois, tem a Calla."

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Nick cerrou a mandíbula, o estômago se contraindo. "O que tem ela?" "Cara, eu vi como você reagiu a ela na festa, outro dia", falou, estudando, cuidadosamente, o Nick. "Você trocou algumas algumas palavras, olhou para ela como se estivesse crescendo uma segunda cabeça nela, e correu de lá como se o seu traseiro estivesse em chamas. Ela é sua Companheira?" "Onde você chegar com isso?" Engoliu em seco. "Estou perguntando. Não é uma pergunta difícil." "Sim, bem, é uma resposta difícil." Nick suspirou, desviando o olhar. Seu coração doía, como se estivesse sendo cortado por lâminas afiadas - provando que não estava morto por dentro. Infelizmente. "Diga-me o que devo fazer sobre ter uma Companheira, a qual não posso suportar a ideia de deixar me tocar, da maneira que o Darrow fez. Me seduzindo e se alimentando de mim." "Merda." O Hammer fez uma pausa. "Você consegue superar isso. Eu acredito nisso." "Gostaria de ter a sua fé." "Uma coisa é certa, não vou ficar parado e assistir você se matar. Não que eu, realmente, acredite que você vá fazer isso."

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Ele deu uma risada amarga. "O que te deixa tão certo?" "Você se preocupa muito", Hammer disse, simplesmente. "Com a sua filha, com o Noah e o Phoenix, e com toda a sua equipe. Até mesmo com a companheira que você não quer. Você se importa, e não vai partir, não importa o quanto queira." Miséria obstruiu sua garganta. Seu amigo estava certo, e ele odiava aquilo. Virando-se, olhou para fora, para a floresta que tanto amava, e as montanhas mais além. O único lugar que sempre lhe deu conforto. Até recentemente. Agora, nem mesmo o seu lobo se importava se davam uma corrida. Estava enrolado dentro do Nick, machucado profundamente, no âmago do seu ser. Ele suspirou. "Vivi mais de duzentos anos e, como um lobo nascido, vou viver muito mais tempo. Tenho visto tantas mudanças no mundo. Perdi mais do que jamais pensei que poderia e me mantive são, mas muito menos vivo." "Então, por que o que você passou com o Darrow é tão diferente?" Hammer pressionou. "Você perdeu toda a sua família e isso não o destruiu. Você sobreviveu a um monte de coisas." "Sim. Todos nós sobrevivemos. Mas sou o comandante desta unidade. Todo o sofrimento que a Alpha Pack tem passado é minha responsabilidade, e não sei quanto mais eu consigo suportar. É um acúmulo de tudo, para ser honesto. Tenho a Selene de volta, e

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estou além de grato por estarmos consertando as coisas entre nós; não me entenda mal. Mas depois do Darrow..." Seu amigo permaneceu em silêncio, e o Nick explicou, tão simplesmente, quanto podia. "Só estou cansado, John", disse, em voz baixa. Passaram-se vários momentos antes do outro homem falar. "Entendo isso. Inferno, estive lá, também. Mas você não pode desistir." Virando-se, encarou o Hammer, novamente, vendo a preocupação no seu rosto. "Estou tão malditamente cansado, tudo que eu quero é que o mundo acorde amanhã, sem eu estar nele." Hammer balançou a cabeça. "Merda nenhuma. Isso não vai acontecer. Então, agora, é um bom momento para pensar no plano B." Nick riu, apesar de tudo. "Talvez." "Definitivamente." Estendeu a mão. "Me dê a arma que está enfiada na parte de trás do seu jeans." "E se eu me deparar com um urso pardo?" "Ele vai correr se sabe o que é bom. Na verdade, tenho certeza que você vai ser o predador mais perigoso, lá fora. Arma. Agora." 32


O homem não ia ceder. A raiva aumentou, quando puxou a arma da cintura e a colocou na mão do amigo, o cabo primeiro. Ele apontoua para baixo, no entanto. O Hammer – John - sempre cuidou dele. Não ia parar, especialmente, agora, que o Nick estava em crise. O olhar do Hammer suavizou. "Obrigado. Vejo você, quando voltar." "Claro." Ambos entenderam que, se o Nick estava realmente acabado, nenhuma força na terra poderia fazê-lo ficar. Muitos imortais vampiros e shifters nascidos, inclusive - encontravam a morte por suas próprias mãos, mais cedo ou mais tarde. Para sempre, não era o que imaginavam que seria. Mas, quando o Nick tirou a roupa e se correu, decolando pela floresta, sabia que o seu amigo estava certo, Nick se importava. Talvez demais. Se viria a ser sua ruína ou sua salvação, ainda ia descobrir.

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CAPÍTULO 02

Calla Shaw percorreu os corredores, fumegando. Deuses! Em que, diabos, aquele arrogante e presunçoso do meu irmão, me meteu agora? Quem ele pensa que é? Só porque Tarron Romanoff era o líder do seu clã, assim como Príncipe de todos os vampiros da América do Norte - isso não significava que tinha o direito de se meter na vida dela. Para destruir sua paz duramente conquistada. Até mesmo seus guardas mais durões tiveram o bom senso de sair do caminho dela, quando viram seu olhar assassino. Ela, geralmente, se considerava uma pessoa calma e agradável, mas tudo isso voou pela janela, diante do telefonema que recebeu. Eviscerar seu irmão com um prego enferrujado pareceu uma boa ideia.

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Quando invadiu o local, Tarron estava sentado atrás da sua mesa, no escritório, lendo alguns papéis, de cabeça baixa, o cabelo castanho escuro, na altura dos ombros, caindo em torno do seu rosto. A porta bateu na parede e sua cabeça se levantou, a expressão assustada. "Calla! O que há de errado?" Se levantou. "O que há de errado?" Olhou para ele, incrédula. "Você está falando sério? Recebi um telefonema do príncipe vampiro russo, me agradecendo com muito entusiasmo por convidá-lo para a nossa festa, dizendo que está ansioso para me ver, e você pergunta o que está errado?" "Se acalme e sente-se, ok?" "Vou me acalmar quando me disser que não está brincando de casamenteiro." Quando ele desabou na cadeira, a surpresa se transformando em culpa, marchou até a mesa. "Belo jeito de me jogar de cara embaixo do ônibus, grande irmão." "Rolan Stanislav é um grande partido", disse ele, na defensiva. "Aquele velhaco tem novecentos anos de idade!" "E daí? Temos mais de quatrocentos, o que não exatamente nos deixa na flor da primavera", falou, calmamente. "Você sabe muito

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bem que ele é bastante atraente, e qualquer vampira mataria para acasalar com ele." Isso, pelo menos, era verdade. Rolan era alto, poderoso, com longos cabelos loiros platinados e olhos verdes como jade. Não o conhecia

muito

bem,

pessoalmente,

mas

era

amplamente

considerado, amável e honroso. Admirável. Infelizmente, ele não era o Stefano. A ideia de substituir seu falecido Companheiro a deixou doente de culpa, apesar de fazer décadas desde que foi morto. Sacudiu a cabeça para retornar daquela viagem de pesadelo pela estrada da memória. "Então, elas são bem-vindas para ficar com ele." "Há, apenas, um problema com isso - ele quer você. Faz tempo, Calla, desde que se recuperou da morte da sua Companheira. Há quanto tempo você o está evitando? Inferno, não apenas ele, mas toda a população masculina?" "Não me importo com o que ele, ou qualquer outra pessoa, quer! Os vampiros europeus estão presos na Idade Média, quando se trata de praticamente tudo, incluindo seus pontos de vista sobre as mulheres." Isso não era mais, necessariamente, verdade, e pareceu a desculpa esfarrapada que era. Cruzou os braços sobre o peito. "Não vou acasalar com ele e ponto final."

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"Não estou pedindo para você acasalar com ele. Basta encontrar com ele, socializar um pouco. Dê uma chance a ele, por mim? Ele é um partido apropriado, que uniria os dois clãs de vampiros, como uma força imbatível. Ninguém mexeria com a gente, então." "Ninguém mexe com a gente, agora", insistiu. "Exceto pelo Carter e o seu bando de assassinos, ninguém mais se atreveu, nos últimos setenta anos." "Eu nunca tomo a nossa segurança como certa." Seus lábios se apertaram, com raiva. "Nem eu. Mas tenho certeza que há uma outra maneira de se fundir com outro clã poderoso, além de me vender a quem pagar mais." Diante disso, ele pareceu chocado e magoado. "Eu nunca iria sugerir uma coisa dessas. Calla, eu te amo. Só quero ver você feliz de novo. " "E se você pode matar dois coelhos com uma cajadada só, tanto melhor?" "Sim. É tão errado assim? " Não, não era. Sua indignação evaporou como fumaça enquanto estudava seu irmão. Tarron realmente a amava, e ao seu clã. Nunca duvidou disso. Todos os dias, ele colocava sua própria felicidade em espera para se assegurar que todos eles estavam

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seguros e prosperando. Ele trabalhava mais do que qualquer pessoa que ela conhecia. E, de repente, notou algo sobre ele. Havia uma sombra em seus olhos que nunca tinha visto antes. Talvez fosse preocupação, ou melancolia. Lentamente, se sentou em uma cadeira. "Você tem razão para acreditar que vamos ser ameaçados?" "Nada específico", admitiu. "Mas eu ando cismado. Há um sentimento de mau presságio que não consigo afastar. Como se a morte do Carter tivesse sido muito fácil, e houvesse algo esperando nas sombras. Como diz o velho ditado, se você matar uma barata na cozinha, há um milhão a mais, por trás das paredes. Não consigo explicar melhor do que isso." Suas palavras lhe deram um calafrio, e ela esfregou os braços. "Temos bons aliados na Alpha Pack." Espontaneamente, uma imagem mental do comandante sexy da equipe surgiu em sua cabeça. Tentou ignorá-la e lutou para não pensar em como ele tinha girado sobre os calcanhares e se afastado, logo depois de conhecêla. Como se ela o tivesse ofendido com a sua presença. A rejeição ainda doía. Tarron assentiu. "Sim. E estou feliz com isso. Para ser honesto, não me importaria de tê-los aqui o tempo todo, mas Nick precisa dos seus homens, lá. Eles têm um trabalho a fazer."

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"É verdade, mas o objetivo dele não é tão diferente do nosso. Eles lutam para proteger os outros do mal, para que todos possamos viver em paz. Eles são uma família, assim como nós." "Sim, mas eles não são vampiros." "Muito elitista?" Ele fez uma careta. "Não quis dizer que eles são inferiores porque são shifters, só que eles não possuem a mesma lealdade a nós, como a nossa própria espécie teria." "Essa é a sua opinião, sem nenhum fundamento para apoiá-la." Seu irmão, apenas, deu de ombros. "Sou grato pela amizade deles, e sei que eles viriam, se precisássemos. Só não vejo nenhum mal em nosso clã ficar maior e mais forte." "Que tal 'quanto mais alto, maior é a queda'? Já ouviu falar disso?" "Pelos Deuses, você me desgasta." Esfregou os olhos, depois enviou um olhar penetrante para ela. "Então, você vai fazer bonito com o Rolan, na festa?" "Vendo que você não vai deixar isso de lado até que eu o faça, vou concordar. Mas, apenas, para ser cordial, nada mais", alertou ela. Tarron lhe deu aquele sorriso brilhante que transformava os joelhos das outras fêmeas em geleia. Calla teve que admitir que era muito 39


potente. Até que se lembrou de quão idiota que ele podia ser, às vezes. Caminhando em torno da mesa, ele a envolveu em um abraço. "Obrigado. Prometo que o príncipe russo será um perfeito cavalheiro. E se você, realmente, não tiver nenhum sentimento por ele, não vou forçar. De qualquer maneira, não vai doer se ele for um forte aliado." "Tudo bem, não posso discutir com isso." "Graças à porra." Rindo, ela se afastou e beliscou sua bochecha. "Falo com você mais tarde." Dando ao Tarron um sorriso, se despediu. Era difícil ficar com raiva do seu irmão. Mas sua diversão, rapidamente, se desvaneceu quando relembrou a conversa na sua cabeça. Mesmo que estivesse pronta para seguir em frente, para ter outro companheiro, ou mesmo, simplesmente, um amante, nunca sentiu um puxão compelindo-a na direção do Rolan. Nada como tinha experimentado, quando conheceu o Nick Westfall, há poucos dias. Foram apresentados e ele tinha apertado a sua mão - e foi como se tivesse sido bombardeada com um milhão de volts de eletricidade. Pelo choque no rosto bonito e forte do shifter lobo, ele sentiu aquilo, também.

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E não tinha ficado nada satisfeito, se a sua saída abrupta significasse alguma coisa. A tristeza era quase esmagadora naquele momento, as lágrimas pinicando seus olhos, e não tinha certeza do porquê. Encontrou o homem por, apenas, trinta segundos e não o conhecia, em absoluto. Então, por que tinha um buraco em seu peito? A necessidade desesperada de escapar, a oprimiu. Às vezes, a fortaleza do clã nas Smoke Mountains, era mais uma prisão do que uma casa. Indo contra as regras do irmão, usou seu dom de tele transporte para escapar dos seus guarda-costas e sair dali. Para longe. Sabia, exatamente, onde queria estar e, quando chegou, poucos segundos depois, estava em um lindo bosque de árvores, no meio da Floresta Nacional de Shoshone, há centenas de quilômetros da fortaleza. O lar da Alpha Pack. E do comandante lobo. Que compulsão era essa? Esta dor pela necessidade de estar perto dele? A última vez que se sentiu assim foi... quando conheceu o Stefano. Sua garganta ardeu com tristeza, diante da ideia do que isso podia significar. Havia uma certa paz em ser fria e insensível. Ao permitir que cada membro e órgão permanecessem congelados para que a dor nunca pudesse esgueirar-se novamente. A ideia de, finalmente, permitir que o degelo acontecesse, estava além da sua compreensão, neste

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momento. Não tinha certeza se queria outro homem dentro do seu coração. Ou, muito menos, se conseguiria. Vagou por um tempo, apreciando a exuberante floresta com sua vegetação. Insetos zumbiam e vários pássaros cantavam. O dia não estava muito quente, uma brisa amena movendo as folhas e os ramos. Por fim, parou em uma elevação e respirou fundo, olhando as belas montanhas rochosas à distância. A visão era simplesmente linda. Mas não tão deslumbrante quanto o homem sentado na grama, na beira da colina, com vista sobre a vasta extensão, como se estivesse se esforçando para descobrir os segredos do mundo. Seu perfil era forte e quase majestoso, com um queixo quadrado e sobrancelhas escuras se arqueando sobre um nariz reto, que combinava perfeitamente com o rosto forte. Seu cabelo escuro era tingido de prata, nas têmporas. Tinha ombros largos, e se lembrou que era alto, quando estava de pé, bem mais de um metro e oitenta. Uma das pernas, coberta pelo jeans, estava estendida na grama, a outra, flexionada na altura do joelho. Levada por uma força que não conseguia nomear, se aproximou e viu um punhal de aparência ofensiva, com um punho de madrepérolas, apoiado no chão, ao seu lado. Franzindo a testa, ela o estudou, em seguida, olhou de volta para o comandante. Podia jurar que sentiu cheiro de sangue - um aroma doce e inebriante, que reconheceu como sendo, puramente, do Nick. Mas não viu qualquer vestígio de sangue.

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Finalmente, ele ergueu o olhar cauteloso e percebeu sua presença. "Calla." "Olá, Nick", disse ela, feliz por sua voz não dar nenhum indício de quão rápido seu coração estava batendo diante da visão dele. "Saiu para dar uma corrida?" "Deixei o meu lobo sair, anteriormente, mas agora estava apenas caminhando e fazendo uma pausa para pensar um pouco." Ele a estudou, atentamente. "Você é a última pessoa que eu esperava ver aqui fora." Ela deu de ombros, e decidiu ser honesta. "Fui atraída para cá. Não estou cem por cento certa do porquê." Em vez de abordar esse assunto, ele perguntou: "Driblou os guardas de novo, não é? O seu irmão vai ficar puto." Movendo-se para a frente dele, para que pudesse vê-lo melhor, estreitou os olhos. "Como é que você sabe sobre isso? O Tarron tem falado sobre mim?" Um canto dos seus lábios cheios e apetitosos, curvou para cima. "Ele não precisou. Eu já vi você fazer isso." "O quê? Quando?" Olhou para ele, com surpresa.

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"Algumas semanas atrás, quando a equipe e eu ficamos na sua fortaleza. Antes que eu fosse..." Ela não precisou perguntar Antes do quê? Sabia que estava se referindo a quando tinha sido sequestrado pelo Carter, e torturado. Deixou aquilo passar, por enquanto, para seu alívio visível. "O que eu estava fazendo, quando você me viu?" "Praticamente o mesmo. Você saiu para um passeio na floresta e decidiu se sentar à beira de uma lagoa, por um momento. Eu estava em forma de lobo e a observei, até o Tarron gritar, obviamente, chateado e procurando por você." Ela piscou diante da sua admissão sincera. "Não tenho certeza de como me sinto sobre você estar me espionando." "Estava, apenas, me certificando de que nenhum dano acontecesse com você", disse ele, em seguida, olhou para o lado. "E, talvez, admirando a vista, também." "Realmente,

agora",

ela

murmurou,

uma

pequena

emoção

dançando através do seu corpo. Tomando uma decisão, se sentou ao lado dele, na grama, sem ser convidada. "Você poderia ter, pelo menos, se fazer notado, então eu poderia ter usufruído do mesmo prazer." Uma risada suave retumbou em seu peito e ele pareceu relaxar um pouco. "Você não mede as palavras."

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"Nunca vi sentido nisso." Eles ficaram em silêncio, por um momento. Seu olhar caiu sobre o punhal, novamente, e ela acenou para ele. "Não acho que um shifter lobo nascido precise de um punhal, para dar um passeio, à tarde. Você estava planejando ferir a si mesmo? Senti cheiro de sangue quando me aproximei." Seus ombros se contraíram. Por um momento, achou que ele não ia responder. Então, ele estendeu o braço e virou o pulso, mostrandolhe uma linha vermelha, o corte com um pouco de sangue, ainda. A implicação caiu sobre ela, como um balde de água gelada. "Por que não está curando?" Não conseguiu esconder o tremor em sua voz. "Lâmina de prata", disse ele, simplesmente. "Mas, se eu quisesse fazer o trabalho direito, teria que cravá-lo no meu coração." Verdadeiramente alarmada, colocou a mão sobre a sua coxa, observando os músculos rígidos contraírem sob a palma da mão. A faísca de atração ameaçou incendiar de novo, mas ela lutou para reprimi-la. Este não era o momento. Concentrando-se em suas emoções, pôde ver que alguém pensaria que ele estava absolutamente calmo - se não fosse a desolação nos olhos azuis escuros. Manteve a voz suave, sem nenhum traço de julgamento. "Por que você pensou tal coisa? Pelo que o Carter fez com você?"

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Seus olhos perfuraram os dela, direto na alma. "O que você sabe? Tarron lhe contou todos os detalhes sórdidos?" "Não", assegurou. "Meu irmão e os seus homens não são propensos a discutir a desgraça dos outros, especialmente quando se trata de uma missão ou uma batalha. Os únicos que estão a par de tudo são, unicamente, aqueles que estavam lá, ou aqueles que precisaram ser informados." Abaixando a cabeça, soltou um suspiro. "É bom saber disso. Obrigado." "Estou aqui, no entanto, se você quiser falar." Fez uma pausa, mordendo o lábio inferior com uma presa, antes de admitir: "Eu já estive onde você está, agora. No ponto mais baixo da minha vida, e estava pronta para desistir." Isso chamou sua atenção, novamente. Assustado, colocou a mão sobre a dela. "Pelo amor de Deus, por quê? Não consigo imaginar uma mulher tão inteligente e bonita como você, tendo uma razão para se sentir assim." Ela lhe deu um sorriso triste. "Obrigada. Mas eu tinha todos os motivos ou, então, acreditava nisso, na época. Perdi meu companheiro, há mais de setenta anos atrás, e quase não sobrevivi à sua morte."

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"Calla, eu sinto muito", disse ele, em voz baixa. Seu tom de voz e sua expressão eram honestos. "Eu também. Stefano era um homem maravilhoso, e nós estávamos muito apaixonados. Você sabe que é raro, para um vampiro, encontrar o seu verdadeiro Companheiro?" "Ouvi dizer isso, sim. Foi isso o que você foram, um para o outro?" "Nós fomos", falou. "Alguns vampiros esperam séculos e nunca encontram a sua outra metade. Muitos deles buscam a morte quando não podem suportar a solidão por mais tempo. Depois que amadureci, esperei duzentos anos antes de encontramos um ao outro, o que parece uma eternidade, mas não é, na verdade, quase tanto tempo, como para a maioria da nossa espécie. Ficamos mais de uma centena de anos juntos e, depois, apenas assim, ele se foi." "Você quer falar sobre o que aconteceu?" O comandante era tão gentil, e compreensivo. Lágrimas pinicaram seus olhos, e ela fungou. "Um dia, vou lhe contar mais sobre ele e o que aconteceu. Esse não é o ponto de vista que estou mostrando, agora." "Qual é o ponto?" Ele ainda estava segurando a mão dela. Considerou as palavras, com cuidado. "Houveram muitas vezes, nos últimos setenta anos, que eu quis desistir. Às vezes, a luta

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parece tão esmagadora, como se eu não conseguisse passar por mais um dia. Alguns dias, tenho que procurar lá no fundo, e sobrevivo por três razões: Primeiro, o Tarron ficaria devastado e não posso deixá-lo com esse fardo. Ele culparia a si mesmo para sempre, talvez até mesmo me seguiria, e não vou deixar que isso aconteça. Em segundo lugar, os bastardos que arruinaram a minha vida iam ganhar, e isso não é aceitável, também." "Essas são razões malditamente boas. E, em terceiro lugar?" "Há sempre um pouquinho de esperança, dentro de mim, que vou encontrar a felicidade, novamente", sussurrou. "E se eu me retirasse do jogo muito cedo, quando só tinha que esperar um pouco mais?" "Como é que você pode ser tão coerente?" Tentou dar um sorriso, que não chegou a se concretizar. Estendendo a mão, tocou sua face. Amava a barba por fazer, viril, contra os seus dedos, os lábios e as maçãs do seu rosto. Ainda mais, era atraída pelo homem gentil e amável por trás da atitude rígida como aço. "Posso ver como você está triste, Nick. E quão cansado. O que quer que o Carter tenha feito com você, suspeito que não é a única razão pela qual você está se sentindo para baixo." "Você está certa. Não é. É, apenas, o último de uma série de golpes."

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"E, ainda assim, você está aqui. Não vê? Você, realmente, não quer desistir, ou já teria conseguido, agora. Você está um pouco perdido, mas vai encontrar o seu caminho." "Você parece certa sobre isso." "Estou", disse ela, com crescente confiança. "E pensava que eu era o Vidente." Então, Nick lhe deu o primeiro sorriso sincero que tinha visto, desde que se conheceram, que chegou aos seus olhos, e transformou, completamente, o seu rosto. Doces Deuses, ele é lindo! Se ela o achava bonito antes, agora quase engoliu a língua. Sua libido, há muito tempo negligenciada, despertou, ronronando como o motor de uma Ferrari, pronta para cantar pneus. Com pesar, se refreou. Nenhum deles estava pronto para avançar rapidamente, estava? "Gostaria de dar uma volta?" Perguntou. "Essa foi a melhor ideia que já ouvi o dia todo." Nick levantou a perna direita da calça jeans e embainhou a faca no coldre preso ao tornozelo. Então, se levantou e a ajudou a se erguer, deixando a mão permanecer entrelaçada com a dela, menor, por um momento, antes de liberá-la. Ela sentiu a perda do seu contato imediatamente, e ansiou por mais. Teria de se contentar com a sua proximidade - por enquanto.

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"Conte-me sobre a sua família", disse ele. "Tenho a impressão que há apenas você e o Tarron no clã?" "Sim, mas temos um irmão mais novo, o Adrian, que mora na Inglaterra. Ele não gosta da vida na fortaleza; ele é meio solitário. Trabalha para o Serviço Secreto e adora." Nick assobiou, em apreciação. "Estou impressionado. Será que sabem que ele é um vampiro?" "Apenas o seu encarregado e um amigo próximo. Todos os outros são supérfluos, sabendo, apenas, o que têm absoluta necessidade de conhecer. Ele é bom no seu trabalho, realmente inflexível e durão." Ela lhe lançou um sorriso. "Mais ou menos como alguém que eu conheço." "Não tenho certeza sobre isso." Mas sua expressão pareceu satisfeita. "De qualquer forma, você parece ter muito orgulho do Adrian." "Tenho. Fui abençoada com irmãos maravilhosos." "E os seus pais?" "Eles morreram há muito tempo, logo depois que cheguei à puberdade", falou, melancolicamente. "Mesmo existindo, na época, caçadores

humanos,

shifters

selvagens

e

outras

criaturas

paranormais, não foi o que os acertou. Foi um simples acidente. Um

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tronco rolou e caiu da lareira, no meio da noite, e nossa casinha ficou em chamas antes de tomarmos conhecimento do que estava acontecendo. Eles não conseguiram sair." "Eu sinto muito." Estendendo a mão, pegou a mão dela, novamente, acariciando sua pele com o polegar. Uma pontada acertou sua alma, mas a mão do Nick, envolvida em torno da dela, acalmou-a. "Está tudo bem. Já tive séculos para fazer as pazes com suas mortes. Tarron conseguiu me pegar e ao Adrian, e cuidou de nós, desde então. Bem, mais de mim, ultimamente. Às vezes, acho que ele leva o seu papel de pai substituto um pouco a sério demais", disse ela para aliviar a conversa. "Deixa ele. A família é tudo e, pelo menos, ele te ama." Algo em seu tom a deixou curiosa e ela decidiu investigar, um pouco. "E a sua família? Fui apresentada à sua filha e ao companheiro dela, quando sua equipe se hospedou na fortaleza. Depois, conheci o seu irmão na festa, mas não sei muito sobre eles." Ele respirou fundo. "Selene e eu estamos, apenas, começando a conhecer um ao outro, novamente, depois de muitos anos afastados. As coisas estavam abaladas, no início, mas acho que o acasalamento com o Zan, realmente, a mudou. Eles estão

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apaixonados

e

estou

colhendo

alguns

dos

benefícios

do

comportamento dela estar se suavizando." "Por que você e a Selene ficaram tanto tempo separados?" Balançou a cabeça. "Pela sua expressão, diria que é perturbador para você. Sinto muito." "Está tudo bem. É uma longa história, mas a versão curta é que, quando a Selene tinha onze anos, cometi um erro e quebrei a lei do Clã. Como resultado, meu irmão, o Damien, que você conheceu na festa, tomou a Selene de mim e me expulsou do nosso clã.” "Isso é terrível", disse ela, em voz baixa. Seu cérebro não podia compreender a ideia de ser rejeitado por sua própria família. A tristeza de tal ato, provavelmente, iria matá-la. A mão dele apertou a sua. "O horror que, recentemente, sofri nas mãos do Carter, nem sequer se compara a perder a minha filha. Apenas a esperança de podermos conhecer um ao outro, um dia, e dela me perdoar, me fez continuar. Parece que estamos, finalmente, nos encontrando, outra vez." "Estou tão feliz. E o Damien?" Sua mandíbula se contraiu. "Ele é um idiota. O bastardo pode apodrecer no inferno, por mim."

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Este podia não ser um bom momento para mencionar o olhar intenso no rosto do Damien, enquanto observava o Nick, na festa. Que seus olhos estavam cheios de arrependimento. Talvez, quando ela e o Nick se conhecessem melhor, ele estaria pronto para ouvir isso. Ele mudou o assunto antes que ela pudesse formular uma resposta. "Não tivemos quaisquer outros irmãos, e nossos pais estão mortos. Meu pai foi assassinado por caçadores, há trinta e cinco anos atrás, pouco antes de eu conhecer a minha Companheira, e minha mãe morreu de desgosto, logo depois." Companheira? Que porra de companheira? Ela limpou a garganta. "Sinto muito em ouvir isso." "Obrigado. Foi uma época terrível para o clã. Meu pai era o Alfa, e era amado por, quase, todos. Damien tomou seu lugar e seguiramse os desafios habituais à liderança, antes dele se estabelecer." Ele fez uma pausa. "Por que está me olhando desse jeito?" Ela parou de andar e apoiou as costas contra uma árvore, estudando-o. "Você mencionou uma Companheira. Será que vou acabar entre os dentes e as garras de alguma cadela alfa?" Ele balançou a cabeça. "O erro que mencionei antes, o que me afastou do meu clã? Minha companheira foi morta em consequência disso - pelo Carter Darrow. Ele viu uma oportunidade de vir atrás de mim, recentemente, e você sabe o resto."

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"Não inteiramente, mas não vou pressioná-lo." "Agradeço por isso. Tenho certeza que vou lhe contar toda a história um dia, mas não hoje." "Sinto muito sobre a sua Companheira", falou, com sinceridade. "Qual era o nome dela, se você não se importa que eu pergunte?" Seus lábios se curvaram um pouco, e sua expressão se tornou carinhosa. "Jennifer. Um nome tão doce e simples quanto a mulher. Eu não estava à procura de uma Companheira, e um dia ela nos visitou, com um clã vizinho. Pareceu que eu tinha sido eletrocutado." Ficou com um olhar estranho no rosto, e ela inclinou a cabeça. "O quê?" "Nada. De qualquer forma, essa é uma história antiga." Hora de aliviar o clima novamente. "Falando de antigo, quantos anos você tem?" Ele riu, mostrando aqueles dentes completamente brancos - com um par de caninos que eram um pouco maiores do que os de um ser humano, mas não tanto quanto os dela. A visão a intrigou. "Tenho duzentos e dezesseis. Um mero bebê perto de você", ele brincou, os olhos azuis dançando, com travessura.

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"Oooh, esse foi um golpe baixo, lobo." Ela estreitou os olhos, seu tom de ameaça, brincalhão. "Ou devo dizer, 'filhote'? Talvez você seja muito jovem e imaturo para brincar com os adultos." "Filhote?" Um brilho feroz iluminou seus olhos, juntamente com humor. Movendo-se com rapidez, pressionou o seu grande corpo contra o dela, as mãos acima da sua cabeça. "Pareço um filhotinho para você?" Uma casca da árvore arranhou suas costas, e ela adorou a sensação dos seus músculos rígidos em torno dela. A batida do seu coração. E não havia nada de engraçado sobre a ereção no seu jeans. Sua brincadeira os levou, rapidamente, para algo mais profundo. Nick continuou a pressioná-la, deixando-a sentir sua excitação. Então, levantou a mão e acariciou seu rosto. Roçou um polegar sobre os lábios dela. "Não", ela admitiu. "Certamente, não." "Você é linda." Olhou para ele, perdida em seu olhar. "Obrigada." Por favor, me beije. Eu preciso-

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A boca dele cobriu a sua e ela gemeu, devolvendo o beijo com igual fome. Paraíso. Ele era puro paraíso, seu perfume inebriante e o sabor rico fazendo estragos em seus hormônios. Nunca, antes, um homem a tomou com um beijo como este. Como se tivesse a intenção de possuir todos os cantos da sua alma. Ela queria que o contato durasse para sempre. Seus instintos de vampira afloraram, e ela teve que se esforçar para controlar o desejo de mordê-lo. Para reivindicar seu Companheiro. Companheiro! De repente, ele se afastou, interrompendo o beijo. Seu peito arfava e olhou para ela como se tivesse lido seus pensamentos. Talvez tivesse, de alguma forma. E, se assim fosse, parecia menos do que feliz com o que tinha visto. "Eu não devia ter feito isso." Não era muito promissor. "No caso de você não ter percebido, gostei bastante", ressaltou. "Eu também, mas..." Ele passou a mão pelo cabelo preto como azeviche. "Olha, preciso voltar. Não estou abandonando você, é só que algo me diz que precisam de mim."

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Ele parecia sincero e ela soltou um pequeno suspiro de alívio. "Vou levá-lo." "Você não precisa fazer isso. Meu lobo pode correr rápido." "Meu caminho é mais rápido." Ela estendeu a mão e esperou. Ele hesitou, apenas, um segundo antes de colocar a mão na dela. Com um sorriso, ela disse: "Não me solte." "Nem sonharia com isso." Shifters não gostavam de se tele transportar, geralmente. Tendia a deixar muitos deles tontos e enjoados. Mas havia momentos em que era a maneira mais conveniente para se chegar aonde precisava ir. Fechando os olhos, imaginou o complexo da Alpha Pack e deixou seu dom levá-los até lá. O voo durou apenas alguns segundos e, logo, sentiu a terra firme sob os pés, novamente. Olhando em volta, viu que estavam na área do quintal gramado, na parte de trás, onde a festa tinha ocorrido. Nick cambaleou um pouco, então se inclinou e descansou as mãos nos joelhos. "Deus, isso é uma merda." "Você está bem?" Tocou seu ombro.

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"Vou ficar." Aos poucos, ele se endireitou e lhe deu um sorriso triste. "Pelo menos, o meu almoço continuou no lugar." "Graças a Deus por esses pequenos favores." "Sim." "Nick!" O comandante olhou para a parte de trás do prédio, para ver um dos seus homens, que saía pela porta. "Micah, o que houve?" Calla reconheceu o homem mais jovem, com o rosto marcado, como o Micah Chase, irmão da Rowan. Um dos lados do seu rosto parecia cera derretida, por ter sido torturado, meses atrás, enquanto estava em cativeiro. O cientista diabólico, que o tinha capturado e a muitos outros shifters, tinha derramado prata derretida sobre ele, assegurando que o tecido nunca se regenerasse. Controlou o sentimento de pena, sentindo que o jovem lobo não apreciaria. "Fomos chamados", disse o Micah, correndo. "Oh, oi, Princesa Calla. Desculpe interromper." "Apenas Calla, e não se preocupe", assegurou ela. Parecia que a sensação do Nick, de que precisava voltar, tinha sido exata.

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"Que tipo de chamada, e quando entrou?" Nick era todo negócios, agora, ereto e alto, seus próprios problemas esquecidos. Cada centímetro dele, o lobo alfa da equipe. Secretamente, causou um pequeno estremecimento vê-lo trabalhar. "Cerca de dois minutos atrás. Há um grupo de caçadores atacando um clã de vampiros, há uns oitenta quilômetros daqui. Temos que nos apressar. Eles não vão aguentar muito mais tempo." Nick se virou para a Calla, mas ela levantou a mão. "Vá. Eu vou ficar bem." "Fique aqui até eu voltar ou vá direto para casa", ordenou com firmeza. "Não quero você desprotegida, com caçadores andando por aí." "Vou voltar direto para casa. Prometo.” Ela lhe deu um sorriso e o rosto dele se suavizou um pouco. "Volto a falar com você, em breve." Com isso, o comandante se virou e correu com o Micah na direção do hangar. Calla ficou tão excitada com o balanço do traseiro firme, enquanto ele corria, que não reparou que alguém tinha se juntando a ela. "Uma senhora vista, não é?" A voz de uma mulher soou, brincalhona.

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Calla virou a cabeça para ver a Selene, filha do Nick, observando-a com humor gravado no rosto angular. Ótimo, havia sido pega cobiçando o pai da mulher. "Razoável o suficiente." Encolheu os ombros. Selene riu. "Ha! Você estava olhando para a bunda dele como se fosse um belo bife suculento, por isso nem sequer tente me enganar. Ele parecia encantador o bastante para você, também." "Não sei. Talvez." O sorriso da outra mulher se tornou contemplativo. De repente, se inclinou para Calla e a cheirou. "Puta merda, o cheiro dele está sobre você inteira. Aquele cachorro velho, marcou você muito bem, não foi?" "M-me marcou?" "Sim", Selene respondeu. "Antigos rituais de acasalamento dos shifters, apenas para registro, amiga, especialmente entre os já nascidos lobos. O macho marca sua fêmea para avisar aos outros caras. Adivinha qual é o segundo ritual mais antigo." A filha do Nick estava tirando sarro com ela e se divertindo imensamente. Mas isso não tornava o que ela disse, menos verdadeiro. Calla tinha ouvido falar sobre aquela coisa de marca apenas, nunca tinha encontrado um exemplo em primeira mão.

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Calla se empertigou e olhou a Selene, diretamente, nos olhos. Não tinha certeza se ela a estava ridicularizando ou, simplesmente, brincando de forma bem-humorada. "Eu gosto muito do seu pai", falou, diretamente. "Me sinto atraída por ele, também, e, para ser honesta, pode existir mais do que uma mera atração. Será que isso vai ser um problema?" Ela falou o tanto quanto podia para a mulher, sem revelar que tinha certeza que o Nick era seu Companheiro. Nick merecia ouvir essas palavras, em primeiro lugar, quando fosse a hora certa. "Nem um pouco", disse Selene, deixando de lado a provocação. Sua expressão era calorosa, e pareceu genuína quando falou novamente. "Não quero nada mais, além de ver o meu pai feliz. Ele tem estado na beira do abismo, e se você é a única que pode puxálo de volta, vou ficar feliz." "Eu também. E, obrigada. Não sei o que vai acontecer, mas é bom saber que temos apoio." "Sempre. Não só de mim, mas também, de todos." Impulsivamente, Calla puxou a Selene para um abraço. A outra mulher pareceu surpresa no início, depois retribuiu o gesto com entusiasmo. Então, deu um passo para trás e apertou a mão da Selene.

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"Obrigada, mas tenho a sensação que o seu pai vai se revelar um desafio. Com marca ou sem marca." E, também, tinha o Tarron e seu maldito espírito casamenteiro para enfrentar. Imaginou o que o comandante ia pensar sobre isso. Algo lhe dizia que era melhor manter esse boato em segredo, onde um certo lobo possessivo estava em questão.

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CAPÍTULO 03

A viagem até o local onde iam interceptar os caçadores foi curta, mas suficiente para o Nick recordar cada momento que tinha passado na companhia da Calla, esta tarde. Aquela mulher era de verdade? Tudo o que conseguia pensar era: Ela é perfeita. Muito bonita. Tem que possuir, pelo menos, uma falha. Em seguida, perdeu a cabeça. Empurrou-a contra a árvore e devorou sua boca, como o lobo faminto que era. Puta que pariu, fazia muito tempo desde que tinha sentido uma conexão tão forte com uma mulher. Como se tivesse que tê-la ou ficaria louco. Seu lobo não tinha sido capaz de se controlar, também. Imediatamente, estava se esfregando em cima dela, deixando seu perfume sobre ela para que cada shifter em um raio de quilômetros soubesse a quem, diabos, ela pertencia. Tinha que marcá-la ou perderia a cabeça.

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E, então, ficou tenso. Quando a língua dele explorou sua boca deliciosa, realmente, tocou uma das suas presas, uma vez que se alongaram. Sua necessidade de mordê-lo tornou-se uma coisa palpável. Era sua culpa, ele lembrou. Calla era uma vampira. Como tal, precisava se alimentar do seu Companheiro, eventualmente. E ela é a minha Companheira. Se havia qualquer dúvida antes, não havia, agora. Meu lobo uivou com a necessidade de estar com ela. Para reivindicá-la como nossa. Em seguida, ela teria que me reivindicar, também, como os vampiros fazem. Afundar suas presas no meu pescoço. Beber de mim. Como o Carter. Não podia deixar isso acontecer. A mera ideia fez o seu estômago se contorcer, como se estivesse cheio de cobras venenosas. E, no entanto, se não a reclamasse, teria, eventualmente, a doença do acasalamento. Era muito mais velho, poderia aguentar por mais tempo do que os lobos shifters da sua equipe, mas não para sempre.

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Calla salvou sua vida por nada, então? Qual era a vantagem em viver, se não pudesse deixar para trás o horror do que o Carter havia feito com ele? O que vou fazer? "Chegamos! Preparem-se! "Jax gritou. Nick pulou do assento e pegou o M16 do ombro. Às vezes, um ataque direto e um bom poder de fogo à moda antiga era a melhor tática. Era o que estavam fazendo com os caçadores, já que não havia tempo para percorrer quilômetros de distância e chegar em silêncio. O clã que estava cercado, estava sem tempo. Voaram baixo, à toda velocidade, e deixaram as balas voarem. Não era muito difícil dizer quem eram os bandidos, eles estavam atirando de volta. Os humanos estavam usando roupas camufladas, também. Bem original. Balas choveram do lado de fora dos Hueys. Uma passou ao lado da cabeça do Nick, tão perto que jurou que sentiu o calor da sua passagem. Disparou rodada após rodada, acertando mais do que errou. Os caçadores caíam como fantoches, quando cortam suas cordas, e ele não sentiu nada. Nenhuma simpatia. Pensou no Rambo, declarando, no filme, que tinham derramado sangue, primeiro, e foi assim que se sentiu sobre o assunto. Eles começaram. Nós vamos terminar.

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Com o Aric no controle, o Huey que o Nick estava fez a volta, passando, outra vez, no espaço aberto entre os edifícios do clã. A maior parte dos soldados que não morreram estava fugindo, correndo para as árvores, as armas jogadas sobre as costas. Exceto um. Nick viu o bastardo mirar na sua direção uma fração de segundo tarde demais. Um soco acertou seu peito e ele foi jogado para trás, no chão de metal frio. A arma caiu da sua mão. Gritos do Hammer chegavam aos ouvidos do Nick, mas não conseguia entender o que o seu amigo estava dizendo. Tentou se levantar. Não conseguiu se mover. "Fique deitado!" A face frenética do Hammer pairava sobre ele. "Colete", ele engasgou, tentando levantar o braço. "Estou bem." O homem grande balançou a cabeça, trocando um olhar de pânico com alguém. "Eles tinham balas que penetram os coletes. Você foi baleado. Fique parado." O Quê? Erguendo a cabeça, um pouco, olhou para si mesmo. Seu colete à prova de balas estava, rapidamente, ficando encharcado e de um tom vermelho escuro. "Ah, foda-se." Sua cabeça girava e ele a deixou cair de volta no chão, olhando para o teto. O movimento do Huey estava deixando-o enjoado. O helicóptero fez uma curva acentuada e soube que o Aric estava levando-o para casa o mais rápido que aquilo podia voar.

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"O clã", murmurou. "Os outros ficaram para trás, para terminar", o Jax disse em algum lugar perto da sua cabeça. "Pare de se preocupar e poupe a sua força." Seu peito ardia como o fogo do inferno. Era como se alguém tivesse aberto o seu esterno com as próprias mãos e, em seguida, derramado uma boa dose de ácido na cavidade sangrenta. Não conseguia respirar. Isso não estava certo. Tinha sofrido ferimentos a bala, antes - inferno, todos os tipos de lesões - e nunca sentiu nada como isto. Inspirou rapidamente. "Prata?" "Talvez. Você não está curando como deveria." Hammer colocou a mão no seu ombro. "Estamos perto do complexo. Aguente firme, amigo." Aquele olhar no rosto do amigo, em seus olhos. Nick soube, naquele momento, que estava em apuros, de verdade. Este era um ferimento mortal, até mesmo para um lobo já nascido. E o Zander ainda estava proibido de realizar uma cura desta magnitude. "Calla", conseguiu falar. "A irmã do Tarron? O que tem ela?"

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"Companheira.” Hammer franziu a testa. "Não entendi." "A Calla é minha", chiou. "Ela vai vir." "Merda! Entendi." Hammer apertou seu ombro. "Nós vamos chamala." "Não tenho o número dela, mas estou ligando para o Tarron, agora", disse o Jax. Vagamente, Nick ouviu o Jax gritando no celular. Imaginou o que o vampiro faria ao ver sua irmã ser convocada para salvar um lobo. E não, apenas, um lobo qualquer - o seu Companheiro. Então, decidiu que não dava a mínima. Calla estava chegando, e isso era tudo o que importava. Podia ser que não estivesse pronto para desistir, afinal. O helicóptero começou a descer exatamente quando seus pulmões estavam, pacificamente, desistindo. Devastado, lutou para inspirar o ar, que já não viria. Sua visão escureceu, e remorso o consumiu. Ainda não. Não podia desistir. Então, não tomou conhecimento de mais nada.

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***

"Calla!" A voz rouca do Tarron trovejou pelo corredor rochoso até o seu quarto e Calla se sobressaltou. O livro que estava lendo caiu das suas mãos e bateu no chão, fazendo-a desmarcar a página. Irritada, foi até a porta e a abriu. "Você poderia, simplesmente, bater e chamar o meu nome em um tom normal em vez de mandar a montanha abaixo sobre as nossas cabeças?" Descansou a mão na cintura e olhou para ele, quando parou na porta dos seus aposentos. Sua irritação passou despercebida e ele parecia estar com pressa. "Acabei de receber um telefonema do Jax Law. Ele disse que a Alpha Pack estava fora, em uma missão, e o Nick foi baleado por caçadores, durante o tiroteio." Ela engasgou, se segurando no batente da porta para ter apoio. "Oh, deuses. Como ele está?" "Não está bem. O Jax disse que a bala deve ser de prata, ou algo assim, porque ele não está se curando. Quer que você vá para lá, disse que é a única pessoa que pode ajudá-lo. Estavam correndo de volta para o complexo, de helicóptero, enquanto falávamos."

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"É claro! Vamos lá." Pegou a mão dele, mas ele a conteve. "Espere um segundo. Por que você quando eu poderia ajudá-lo tão facilmente?" Perguntou ele. "O que está acontecendo, maninha?" "Vou explicar mais tarde. Não há tempo agora." "Não vou gostar disso, não é?" Sua expressão era sombria. "Mais tarde", ela repetiu. "Tudo bem, mas espero ter algumas respostas, em breve." Pelo menos, o seu irmão se importava, como Nick tinha apontado. Era difícil demais se lembrar disso quando ele enfiava o nariz em todos os aspectos da sua vida. Sem esperar pelo Tarron, se tele transportou até o complexo da Alpha Pack, pousando no gramado, novamente. Já que nunca tinha estado lá dentro e não conhecia a estrutura do local, pareceu a aposta mais segura. Quando o Tarron apareceu ao lado dela, olhou ao redor, à procura de qualquer pessoa que pudesse acompanhá-la aonde precisava ir. Viu a Selene acenando freneticamente na porta dos fundos e voou. Quando parou na frente da Selene, agarrou a mão da mulher, o coração batendo. "Eles já estão aqui?"

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O rosto da Selene estava contraído, os olhos vermelhos. "Não, estão há, apenas, alguns minutos daqui. Venha - vamos encontrálos no edifício novo. O hospital de lá dispõe de equipamentos mais novos e muito melhores do que aqueles que usávamos no complexo. Isso deve ajudar o pai, certo?" "Tenho certeza que sim", disse ela, esperando que fosse verdade. Mas a realidade era, a equipe do Nick não teria chamado a Calla se não fosse, absolutamente, necessário. Se você é um ser paranormal e precisa de um vampiro para salvar a sua vida, você está em sérios apuros. Ela e o Tarron seguiram a filha do Nick até o edifício novo, sobre o qual tinha falado. Gravada na própria pedra estava a palavra SANTUÁRIO. Quando empurraram as portas de vidro e entraram, achou o nome era apropriado. Acolhedor e convidativo, este, de fato, parecia um lugar dedicado a ajudar outras pessoas a encontrar a paz. Não havia tempo para apreciar os arredores ou a importância do trabalho que estava sendo feito, entretanto. Entraram em um elevador e seguiram para o andar do hospital, na parte superior, em seguida, saíram. Uma equipe de médicos e enfermeiros estava à espera da chegada do helicóptero e não muito pacientemente. Um enfermeiro loiro estava caminhando pelo corredor, claramente ansioso. No segundo que avistou a Selene, correu até ela.

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"Há mais alguém ferido?" "O Phoenix está bem, Noah", falou. "Papai foi o único seriamente ferido." Noah fez uma careta, parecendo culpado. "Sinto muito. Apenas... " "Não precisa se desculpar. Acredite em mim, eu entendo. Estava preocupada com o Zan, também. Mas você não pode deixar isso te afetar toda vez que ele sair, ou você vai enlouquecer." "Eu sei, mas é difícil." Sua voz era baixa. O Noah estava acasalado com o Phoenix? Se não, os dois eram, aparentemente, próximos. "Fica mais difícil. Confie em mim." Isso o fez rir. "Obrigado. Suas conversas animadoras são impressionantes." Antes que a Selene pudesse responder, um ruído ensurdecedor, vindo de fora, chegou mais perto e mais perto, até que o som era quase como um trovão. Estava logo acima deles, e a Calla percebeu que o novo edifício devia ter um heliporto para emergências como esta. Todos se mobilizaram, e um outro enfermeiro levou a Selene, protestando, assim como o Tarron, para uma sala de espera no corredor.

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"Venha com a gente", disse uma médica para a Calla. Ela reconheceu a médica da festa. Mackenzie Grant estava acasalada com o Feiticeiro e shifter pantera, Kalen Black. Tinham um lindo bebê, recém-nascido, chamado Kai. Esses fatos passaram rapidamente pela sua cabeça, e pensou em como estava sorrindo e socializando com essas pessoas apenas alguns dias atrás. Estar no meio de uma grave crise pessoal deste tipo, com eles, agora, especialmente envolvendo o Nick, era estranho e desorientador. Mas não havia outro lugar na Terra onde queria estar quando ele precisava da ajuda dela. A sala de operações estava pronta quando a equipe de emergência entrou, cada superfície brilhando e cada instrumento reluzindo. Não iam permanecer assim por muito tempo, no entanto. Calla juntou as mãos para diminuir a tremedeira, enquanto esperavam. Logo, passos pesados vieram pelo corredor, se movendo rapidamente. Ouviu uma maca sendo empurrada, ordens gritadas. E, em seguida, vários homens da equipe do Nick atravessaram as portas com o seu comandante. Ela engasgou diante da visão horrível da camiseta e do colete, embebidos em sangue, um buraco centrado quase no meio do seu peito. Como alguém podia sobreviver a um ferimento como aquele? Se fosse um humano, já estaria morto.

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A Dra. Grant se afastou, dando lugar a uma outra médica que, imediatamente, assumiu o comando. Esta tinha o cabelo mais curto e liso do que a Mackenzie, mas ainda roçava seu colarinho. DRA. MELINA MALLORY, seu crachá mostrava. Calla se lembrou de ter conhecido a mulher espinhosa antes, também. Noah, rapidamente, deslizou um tubo na garganta do Nick para que o respirador pudesse fazer esse trabalho por ele. Em seguida, removeu o colete do comandante e usou uma tesoura para cortar a camiseta ao meio. O material arruinado foi descartado e o enfermeiro começou a limpar a área. A Dra. Mallory, rapidamente, avaliou o dano. Usando luvas de látex e pegando algum tipo de sonda, começou a cavar dentro da ferida, o que fez o estômago da Calla se revirar, perigosamente. "Tiro único, pulmão perfurado. A bala ainda está alojada perto do coração, então vou retirá-la, antes de tentar qualquer outro procedimento." A voz da Dra. Mallory estava tão fria e clínica, que fez a Calla estremecer. Mas a mulher parecia boa em seu trabalho, e se confortou um pouco com isso. Observou, quase sem respirar, como o Nick lutava por sua vida. E ele estava lutando, duramente. Percebeu isso, apesar de não estarem acasalados, e ficou orgulhosa dele.

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Depois do que pareceu uma eternidade, mas, provavelmente, apenas um par de minutos, a médica tirou uma enorme bala sangrenta. "Prata", anunciou. "Esses bastardos nojentos." Calla não podia concordar mais. Noah estendeu um recipiente e a médica colocou a bala nele. Noah selou o recipiente e o ergueu. "Levar ao laboratório para testes?" "Definitivamente. Não gosto da aparência do tecido em volta de onde a bala estava alojada. Está morrendo muito rapidamente." A mão da Calla foi até a boca. Só o seu desejo de ver o Nick bem a impediu de correr para fora do quarto. "Meu sangue não pode curar a carne, se já está morta." A médica lhe deu um olhar penetrante. "Claro que não. Estou retirando o tecido necrosado, em primeiro lugar." A Dra. Mallory continuou o seu trabalho, completamente focada. Uma vez que terminou, deu um passo para trás e acenou para a Calla. "Tudo certo. Vamos dar um pouco do seu sangue para ele e acelerar sua recuperação." Ao movimentar as pernas, se aproximou da maca e olhou para baixo, para o peito do Nick. Limpa, a ferida não parecia tão aberta quanto tinha visto antes, mas, talvez, tivesse começado a se curar, agora que a prata tinha sido removida. Em qualquer caso, precisava de ajuda. Estava pálido pela perda de sangue.

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Noah se ofereceu para fazer um corte no seu pulso com um bisturi. "Vai doer menos do que usar suas presas ou algo assim." Ela assentiu e permitiu que ele fizesse o corte, em seguida, rapidamente, colocou o pulso dela sobre o peito do comandante e deixou o fluido vital cair sobre a ferida. Os efeitos foram imediatos. A carne rasgada começou a retornar a um rosa saudável e, lentamente, foi curando de dentro para fora. O rosto do Nick ainda estava pálido, o corpo imóvel, mas a preocupação que fosse morrer, gradualmente, desapareceu. "Obrigada", disse ela para qualquer poder que o manteve vivo até que chegasse ali. Noah colocou a mão no seu braço, e lhe deu um sorriso compreensivo. "Por que você não espera no corredor, com o seu irmão, enquanto nós terminamos e o levamos para um quarto? Prometo que alguém virá buscá-la o mais rápido possível." Na verdade, não foi um pedido. Agora que o perigo tinha passado, precisavam que ela ficasse fora do caminho. Relutante, concordou e, depois de dar um último olhar para o Nick, para se assegurar que ele estava respirando, caminhou até a sala de espera. Tarron levantou no instante em que ela entrou. "Como ele está?" Sua voz tremeu quando a adrenalina baixou e a realidade a acertou. "Ele vai ficar bem. Nós quase o perdemos."

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"Nós?" Sem nunca deixar passar nada, o seu irmão arqueou uma sobrancelha. "Ele é um amigo, mas não faz parte do nosso clã, Calla. Por que 'nós'? Quem é o Nick para você?" Ela olhou em volta da sala de espera. "Onde está a filha do Nick?" "Seu companheiro veio até ela e insistiu em levá-la para um passeio, para acalmar os nervos. Agora, me diga o que está acontecendo." "A Selene e o Zan não devem ter ido longe. Este não é, realmente, o momento nem o lugar para-" "Sente-se. Vamos terminar essa conversa, para a qual não tivemos tempo mais cedo, e você vai me dizer o que, diabos, está acontecendo." Ela sabia que ele a amava, e que tinha boas intenções. Mas, agora, estava tomando a atitude arrogante do governante em vez do carinho suave do irmão. Isso a deixou seriamente irritada. "Não", falou friamente. "Não vou. Francamente, não há muito a dizer no momento, e mesmo se houvesse, o meu relacionamento com o Nick não é da sua conta." É claro, ele se aproveitou do seu deslize. "Portanto, há uma relação." Suspirou, cruzando os braços sobre o peito. "Porra, você nunca faz nada pela metade."

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"O que isso quer dizer?" Olhou para ele. "Ele é um lobo, maninha. Eles são totalmente diferentes de nós, e não quero dizer isso de uma forma elitista, antes de me acusar disso." Acenou com a mão para indicar o hospital, talvez, todo o complexo. "Eles são guerreiros. Vivem vidas perigosas, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. É isso o que você quer para o resto da eternidade? O medo constante por um homem que pode nunca mais voltar para casa?" "O Stefano era um homem quieto, culto, que vivia uma existência pacífica", disse ela, em voz baixa. "Mas isso, exatamente, não o salvou dos caçadores, não é?" Seu irmão respirou fundo como se tivesse lhe dado um soco. "Sinto muito. Só estou preocupado com você." "Eu sei." Sua raiva diminuiu e seu coração se encheu de amor por ele. Ainda assim, tinha que ser firme ou ele espremeria a verdade dela, antes que estivesse pronta para falar. "Preocupe-se com tudo o que você quiser, mas confie em mim, sim? Me deixe lidar com as coisas da minha maneira e, então, vou lhe dizer o que quer saber." "Só não me deixe de fora, por favor. Isso é tudo o que peço." "Não farei isso, a menos que você me force."

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Ele abriu os braços e ela caminhou para eles, grata por sua discordância não ter se transformado em uma briga maior. Odiava estar em desacordo com alguém que amava tanto, especialmente o Tarron. Selene voltou com o Zan, e a Calla relatou que tudo tinha ido tão bem quanto podia com o seu pai, na sala de cirurgia. A mulher caiu, com alívio, contra o seu companheiro e ele colocou o braço em volta dela, beijando seu rosto. "Não sei o que faria sem ele", disse Selene suavemente. "Ele e eu tivemos momentos difíceis para nos readaptarmos, mas não posso imaginar ele não estar aqui." "Ele me falou um pouco sobre isso." Quando os olhos da Selene se arregalaram, Calla pensou que, talvez, devesse ter mantido a boca fechada. "Ele não disse todos os detalhes, apenas que tem um monte de arrependimentos sobre o passado. Sei que está sofrendo muito." "Ele disse isso?" "Não com tantas palavras, mas seus sentimentos eram muito claros." De alguma forma, não teve coragem de revelar à filha do Nick e ao seu companheiro que descobriu que o comandante pensava em enfiar um punhal no próprio coração para escapar da sua agonia, não apenas sobre o seu passado, mas, também, por causa do seu calvário recente.

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Isso permaneceria entre ele e a Calla, a menos que o Nick decidisse compartilhá-lo. Só então, o Noah enfiou a cabeça na porta e se dirigiu à Selene. "Nós já transferimos o seu pai para um quarto, se você quiser se sentar com ele por um tempo." "Sim! Obrigada." Zan a levou para fora da sala e a Calla se sentou, com um suspiro. Poderia demorar antes que conseguisse ver o Nick, e isso a deixava com os nervos à flor da pele. Selene tinha todo o direito de vê-lo em primeiro lugar, se lembrou. Além disso, se a Calla mostrasse mais preocupação do que dedicava a um amigo, as pessoas começariam a fazer perguntas que não estava pronta para responder, como o seu irmão já tinha feito. Depois do que pareceram horas, a Selene voltou e enfiou a cabeça na porta, dando-lhes um sorriso cansado. “Meu pai está descansando. Disseram que, provavelmente, vai dormir até de manhã, mas você é bem-vinda para vê-lo, se quiser. Você salvou a vida dele, afinal de contas." "Obrigada." Calla levantou. "Adoraria ver como ele está, antes de voltarmos para casa." "Ele vai gostar de saber, quando acordar. Basta seguir pelo corredor, à direita, quarto número quatro." Pegando a mão da

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Selene, Zan a levou para fora. Calla se virou e olhou para o irmão, mas ele optou por esperar por ela. Ficou satisfeita por ele estar lhe dando um tempo a sós com o Nick. Talvez, alguma coisa do que havia dito ao irmão super protetor tivesse sido absorvida. Diante da porta do quarto do Nick, fez uma pausa e inspirou, antes de entrar. A visão que a saudou, definitivamente, não era o que ela esperava. Em vez do Nick, o homem, deitado na cama, estava um enorme lobo branco esparramado sobre os lençóis, a cabeça sobre o travesseiro. Chegou a um impasse, a mão sobre o coração que batia acelerado, e olhou. Seu pelo era espesso, tão puro como a neve, e nenhuma outra partícula de cor existia, exceto pelo brilhante nariz preto no fim do seu focinho. Já tinha visto shifters leões com patas menores. Sua cabeça era grande e assim eram os maxilares, que pareciam fortes o suficiente para esmagar os ossos de alguém, como se quebrassem um palito. Avançando o mais silenciosamente possível, sentou-se ao lado da cama. Sem dúvida, este lobo - o Nick - podia derrubar, facilmente, qualquer adversário. E, ainda assim, parecia tão gentil, com a cauda macia enrolada em suas pernas, roncando ligeiramente. Timidamente, estendeu a mão e acariciou o topo da sua cabeça. Em seguida, as orelhas. Ele ronronou suavemente, com prazer inconfundível, e cheirou a mão dela no seu sono, em busca do seu toque. Querendo conforto. Ela lhe deu de bom grado, acariciando o 81


rosto todo, as orelhas e a nuca. Ele era, simplesmente, majestoso e ser capaz de tocá-lo como lobo era um privilégio que achava que a poucos tinha sido concedido. "Não é que você é bonito?" Ela sussurrou. "Aposto que a transformação ajuda a cura, não é? Basta dormir, Nick. Vou ficar mais um pouco e, então, estarei de volta, amanhã." O lobo soltou um suspiro e dormiu. Nem tomou conhecimento quando ela se levantou, mais tarde, e, relutantemente, saiu do quarto. Nick despertou gradualmente, piscando os olhos, ajustando-os à melancolia. O sol estava, aparentemente, apenas nascendo, e era tão fraco que não podia enxergar o quarto ou onde estava. Não conseguia pensar direito. A memória voltou, em partes - a chamada para salvar o clã de vampiros, dos caçadores. O Huey. Voando baixo, atirando. Sendo atingido. Estava vivo, mesmo que desgraçadamente confuso e chapado com tudo o que os médicos haviam bombeado nele. Levantando a cabeça, viu patas brancas esticadas na sua frente. Não se lembrava de ter se transformado. Isso era bom, entretanto, já que o ajudava a se recuperar muito mais rápido.

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Só então, um perfume doce fez cócegas no seu nariz. Era fraco, quem quer que fosse, não estava mais por perto, mas o atraiu do mesmo jeito. Instintivamente, gemeu, fungando as cobertas de um lado da cama para tentar sentir mais do delicioso aroma. Ele parecia estar em sua pele também. Tanto o homem quanto o lobo sabiam quem era a dona dele. Calla. Ela esteve aqui? Queria que ela voltasse. Seu lobo queria pular da cama e procurála. O homem tinha mais moderação. Quase. Além disso, não tinha recobrado sua força completamente, ainda. Concentrando-se, Nick se focou em sua forma humana e se transformou. A conversão não foi tão perfeita como de costume e um pouco dolorida, graças à sua lesão, mas, pelo menos, foi rápida. Uma vez que a transformação estava completa, fez uma avaliação de si mesmo. Erguendo a mão, cuidadosamente, explorou a cicatriz enrugada no seu peito, e franziu a testa. O filho da puta que tinha atirado nele devia ter usado prata, de modo que a cicatriz nunca ia desaparecer, totalmente. De qualquer modo, apesar disso o irritar de certa maneira, tinha coisas mais importantes para se preocupar. Como distração para as referidas preocupações, a televisão fixada na parede não era muita coisa, mas teria que funcionar, até que viessem vê-lo. Passou um tempo zapeando entre os programas

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Good Morning América e o Today Show, e soube que tinha chegado a um triste estado triste quando se viu envolvido em uma reportagem sobre a língua da Miley Cyrus e se ela iria doá-la para a ciência, um dia. "Pelo amor de Deus", murmurou, desligando a TV, com desgosto. "Tão ruim assim?" Seu olhar voou para a porta, onde a Calla estava, sorrindo para ele. Ele se endireitou, ou tentou. Ainda bastante dolorido, estremeceu. "Pior. Graças a Deus você está aqui para me salvar, ou eu poderia ter começado a ver o Jerry Springer, a seguir. Acho que estão discutindo algo sobre relógios internos e ovários explodindo, ou algo assim. Sei lá." Ela riu, franzindo o nariz adoravelmente. "Então é uma coisa boa ter chegado nessa hora." Ele estudou a vampira, desfrutando da visão como um homem morrendo de sede. Ela estava linda, como sempre, o cabelo escuro caindo em torno do rosto e dos ombros. A camiseta rosa, confortável, com um decote em V enfatizando os seios, e um jeans macio envolvendo suas longas pernas. Usava sandálias de salto alto, de tiras, e os dedos dos pés estavam pintados para combinar com a camiseta.

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Gostaria de poder olhar mais de perto aqueles dedos. Enquanto trilhava um caminho de beijos pelas pernas longas. Seu lobo retumbou, de acordo, e ele limpou a garganta para mascarar o som. "O que você tem atrás das costas?" Perguntou, curioso. "Você me pegou!" Estava, claramente, muito contente por ele ter notado, e foi se sentar ao lado da cama. De trás dela, trouxe para a frente uma lata quadrada e a estendeu para ele. "Para você." "Para mim?" Estranhando, ele a olhou, depois olhou para a Calla. "Um presente?" "Sim. Vá em frente; abra." "Ninguém me dá nada há décadas." Triste, mas era verdade. Achava que ninguém sequer sabia quando era o seu aniversário, exceto, talvez, o Hammer. Ansiosamente, abriu a tampa e inalou, com pura felicidade. "Puta merda! Você me trouxe cookies? Cookies de Chocolate, os meus favoritos." "Eu mesma os fiz", disse, com orgulho, claramente feliz por ele ter gostado do seu presente. Pegando um biscoito de chocolate, deu uma grande mordida e gemeu, em êxtase. "Humm. A única coisa melhor que isso é sexo."

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"Completamente verdadeiro. Mas os biscoitos terão que ser suficientes, por enquanto." Seus olhos brilhavam com humor, e uma grande quantidade de calor, se não estava enganado. Quase engasgou com o biscoito. Seu pau fez um grande esforço para expressar o quanto ele gostava da ideia, mas seu corpo ainda estava se curando e não estava completamente pronto para acrobacias. Ficou feliz, porque a última coisa que queria era se envergonhar diante desta mulher. Calla era especial. Uma dama. Não iria tratá-la como nada menos. "Estão maravilhosos. Quer um?" "Já comi três antes de vir, mas que diabos?" Pegou um cookie e se juntou a ele. Depois de um momento, falou, "Tem outra razão de eu vir além de trazer-lhe cookies. O Tarron vai dar uma festa na próxima semana e gostaria que você fosse, como meu convidado." Ele hesitou. "Como seu par?" "Se você quiser. Desde que esteja curado." Ela balançou os ombros, mas algo no seu tom disse que sua resposta tinha algum significado para ela. "Só se você quiser." "Que tipo de festa?" "Meio que uma confraternização com uns conhecidos europeus do meu irmão. Daqueles eventos chatos, com tapinhas nas costas e

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puxa sacos, um evento garantido para me enlouquecer, a menos que eu tenha companhia." "Conhecidos vampiros?" Perguntou, tentando fazer com que sua voz soasse tão casual quanto possível. "A maior parte." Absorvendo as implicações, tentou não começar a suar frio. Será que queria participar de uma festa literalmente recheada de vampiros desconhecidos e tentar não pensar sobre quão rápido podia se tornar o jantar? Nem de perto. Mas a Calla queria que ele fosse, o que fez seu coração acelerar, com emoção. "O Tarron está tentando consolidar as relações com os vampiros europeus", continuou. "Ele acha que somos muito vulneráveis, à luz dos recentes problemas com os selvagens e caçadores." "Bem, ele tem razão." "Seria muito mais divertido se você estivesse lá", Calla continuou. "Além disso, você pode se beneficiar desses contatos, também. E, talvez, se você estiver lá, o Tarron não- Não importa. O que eu estava pensando? É claro que você não quer ficar com os da minha espécie depois do que aconteceu. Sinto muito. Já vou indo."

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Lutando para disfarçar a decepção, começou a se levantar e ele pegou seu pulso. "Espere. Se eu estiver lá, talvez o Tarron não vai fazer o quê?" "Nada. Esqueça que eu mencionei isso." Droga. Agora, ela estava se retraindo. Provavelmente, pensa que você não quer passar mais tempo com ela. Grande trabalho, idiota. "Eu adoraria ir", disse, em voz baixa. Seus olhos se encontraram, a dor desaparecendo. "Sério?" "Sim. Mas alguns dos meus homens vão me acompanhar, se estiver tudo bem." "É claro. Nenhum líder vai a uma festa cheia de outros poderosos líderes sem alguma proteção." Sorriu. "Estou feliz por você ir." "Qualquer desculpa é válida para passar mais tempo com você." Essa parte não era uma mentira. Desejou que não tivesse que participar da festa, a fim de vê-la, mas por algum motivo parecia, realmente, importante para ela, de modo que lidaria com os seus medos. De alguma maneira. "Obrigada. Mal posso esperar." Quando ela se inclinou e lhe deu um beijo, calor o inundou. Talvez, pelo menos uma vez, tinha feito a coisa certa. 88


CAPÍTULO 04

"Eles suspeitam de algo?" "Não, Mestre." O vampiro estudou o Feiticeiro que estava ajoelhado diante dele, em súplica. Como devia ser. Um golpe de sorte ter uma criatura poderosa como o Jinn sob seu controle absoluto. Adrenalina total. Isso é o que o amor faz com a vítima - ele a cega. Um defeito fatal, no final das contas. Uma emoção que jamais permitiria em seu coração, novamente. "Muito bem, meu bichinho." Acariciou o cabelo macio sobre a cabeça inclinada, deixando os dedos permanecem na sua nuca. "Vamos continuar a nos misturar, para nos infiltrarmos nas suas fileiras, descobrir seus segredos. Quero que você encontre alguém que possamos usar para os nossos propósitos. Pode fazer isso?"

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"Com certeza, Mestre. Tenho um em mente que sei que anseia por poder entre os vampiros." "Seu nome?" "Graham, um guarda. Ele vai servir muito bem." "Tudo bem." Jinn olhou para ele. "Sobre a reunião do Tarron. Ainda vamos participar?" "É claro. Eu sou convidado, e ninguém vai reconhecê-lo como o seu verdadeiro eu. Irônico, não é?" "Muito." Jinn hesitou, depois disse, solenemente: "Mestre, vou ajudá-lo a fazer todos pagarem pelo que fizeram. Cada vampiro do clã do Tarron e cada um dos seus aliados lobos. Juro para você." Por uma fração de segundo, algo como calor vibrou contra sua alma gelada. "Sei que você vai. Agora, parta e vá atrás disso." "Sim, Mestre." Jinn ficou de pé, se virou e saiu com um rodopio do seu manto preto. O vampiro demorou um momento apreciando a boa forma do Feiticeiro, em seguida, saiu da sala para resolver outro negócio. Primeiro, estava faminto.

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Acelerando os passos, desceu os degraus de pedra até o porão. Em seguida, percorreu o corredor úmido, iluminado por tochas, até uma das celas. Usando sua chave, destravou a fechadura e caminhou, lentamente, para dentro. Fez um balanço do seu escravo de sangue, apavorado e trêmulo, e sorriu. "Olá, Tom", disse ele, agradavelmente. "Só dando uma passadinha para uma refeição rápida." *** Nick não via a Calla desde que ela trouxe os biscoitos, alguns dias antes, e não estava gostando disso. De jeito nenhum. Descobriu que sentia falta da sua companhia - e dos seus beijos. Cookies. Seu coração esquentou, de novo, quando lembrou o gesto. Não conseguia se lembrar da última vez que alguém tinha feito algo tão cuidadoso, só para ele. Isso fez com que sentisse, ainda mais, a sua falta. Por que, diabos, não tinha pensado em pegar o número do seu celular? Até os vampiros tinham um. Podia ligar para o Tarron e pedir a ele, mas isso significava que teria que dar um monte de explicações, que nenhum deles estava pronto para dar. O Tarron, provavelmente, iria questioná-lo sobre a sua irmã convidar o Nick para a festa. Maldição!

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A festa era esta noite, contudo, então sua espera estava terminando. Tinha escolhido se concentrar na Calla e não no fato de que estaria cercado por dezenas da elite da sua espécie. Ou, era assim, que deveria funcionar. O terno irritava sua pele, tão desconfortável que queria despi-lo e vestir uma calça jeans, uma camiseta preta, botas pesadas, e algumas armas, apenas para garantir. Mas isso, provavelmente, não seria nada bom para as relações diplomáticas. Não que se importasse com o que qualquer um pensava, exceto uma certa princesa vampira. Aguentaria a coisa toda pela Calla e, talvez, descobriria por que era tão importante para ela, ele estar presente. Sabia que ela gostava dele, mas sentiu que havia algo mais por trás desse convite. Com um suspiro, fez um último ajuste na gravata, em seguida, deixou seus aposentos e caminhou até a sala de recreação. Jax, Hammer, Aric, e o Micah deviam encontrá-lo lá, onde seriam encontrados pelos guardas do clã e tele transportados para a fortaleza. Todos eles, exceto o Hammer, cujo dom Psíquico era o tele transporte. Uma habilidade útil. Mesmo sendo desorientadora, como forma de viagem para os shifters, economizava horas em um avião ou helicóptero.

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Nick entrou na sala de recreação, e todos os olhos se fixaram no seu traje. Previsivelmente, os comentários eram provocadores, mas bem-humorados. "Jesus, está havendo um funeral?" Ryon falou. "Nem sabia que ele tinha um terno", disse o Zan. Do seu lugar, esparramado no sofá, Kalen olhou para ele. "Nick, é você? Ei, você se limpou direitinho." "Bem, acontece que eu acho que ele está muito bonito", disse a Mac em sua defesa, embalando o Kai no colo. Isso lhe rendeu uma carranca do Kalen, que ignorou. "Obrigado, Mac", Nick falou, então revirou os olhos. "Cristo, gente, vocês nunca viram alguém bem vestido antes? Precisamos frequentar eventos melhores." Risos abafados soaram, os quais ignorou. A atenção foi desviada quando os homens escolhidos por ele, para acompanhá-lo, esta noite, entraram, vestidos com ternos escuros similares. Outra rodada de gozação se iniciou, seguida do alívio verbal sincero daqueles que não foram escolhidos para ir. "Parece chato como o inferno, ser agradável com um bando de vampiros arrumadinhos e frescos", disse o Kalen. "Divirtam-se."

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"O grupo pode ser arrogante", Ryon colocou. Zan arqueou uma sobrancelha escura. "Então, você está indo pela equipe, em nome da aliança política? Essa é a sua história?" "E estou aderindo a ela", confirmou o Nick. Alguns sorrisos de conhecimento e olhares foram trocados, mas não mordeu a isca. Deixou-os pensar o que quisessem. Provavelmente, não estavam muito errados. Sua escolta apareceu, vinda do lado de fora e batendo na porta, em vez de entrar na sala. Uma cortesia comum observada, a mesma de não se intrometer na casa de alguém que você não conhece muito bem. "Fomos convidados para passar a noite, como convidados do Tarron", Nick disse a eles, quando saíram. "Portanto, não esperem acordados." "Se cuide, querido", o Kalen falou. "Use proteção!" Os outros riram. "Idiota", o Nick murmurou. Por mais que o irritasse, às vezes, porém, houve uma época, não muito tempo atrás, em que seus homens não se sentiam confortáveis, o suficiente, com ele, para brincar. Exceto pelo Kalen, todos eles serviram o último comandante da equipe, o Terry Noble,

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e as provocações significavam que percorreram o longo caminho para aceitar o Nick, desde a morte do Terry. Tinha que admitir que era muito bom. Lá fora, os guardas dos vampiros estavam esperando e cada um pegou um dos braços deles. Até mesmo o do Hammer, embora o homem enorme protestasse. Aparentemente, os homens do Tarron levavam seus trabalhos a sério. Depois de alguns segundos desorientadores, apareceram em um enorme salão de festas que o Nick não tinha visto em sua estadia anterior na fortaleza do vampiro. O espaço era impressionante, com lustres de cristal pendurados no teto, copos de cristal brilhando com todos os tipos de bebidas alcoólicas, sem mencionar o líquido carmesim que seu lobo podia sentir pelo cheiro que era sangue. Doado ou adquirido através de um banco de sangue, é claro. Longas mesas cheias de comida em cada extremidade da sala porque os vampiros tinham que comer, igual a qualquer outra pessoa. Música suave - e usava essa frase vagamente - estava saindo através de alto-falantes escondidos, mas havia, também, uma área criada para uma orquestra tocar, ao vivo, mais tarde. Provavelmente mais música de elevador. À toa, Nick imaginou o que eles fariam se ele encontrasse o sistema de som e o explodisse com um pouco de Alice in Chains ou Slipknot.

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Antes que pudesse ficar seriamente tentado, Tarron o viu e acenou, com um sorriso de boas-vindas no rosto. Estendeu a mão e Nick a apertou. "Comandante, estou tão feliz por você ter podido vir! A Calla me disse que convidou você e alguns dos seus homens para participar das festividades. Um pouco de interação entre as espécies nunca é demais, eu sempre digo." Nick não estava aqui para a fazer nenhuma maldição de interação, mas, sabiamente, se absteve de falar isso. "Certo." Tarron cumprimentou os homens do Nick e apertou suas mãos, também, antes de se voltar para ele. "Você está completamente curado, espero. Nos deixou preocupados na semana passada." O vampiro o observou com preocupação genuína. "Estou novo em folha. Obrigado por perguntar." Só então, um garçom parou e estendeu uma bandeja carregada com cerveja, vinho e champanhe. Nick pegou um copo de cerveja e o homem saiu correndo. "Todos os garçons são vampiros?" "Na maior parte, com um shifter ou alguma outra criatura, aqui e ali. Para eventos como esses, sempre tenho que contratar alguns funcionários de fora, e não há muitas pessoas nas quais eu confio."

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"Odeio dizer isso para você, mas há uma abundância da nossa espécie que não é de confiança, também." "Verdade. Mas, pelo menos, se as coisas escaparem do controle, menos seres humanos saberão nossos segredos, ou estarão na linha de fogo, no melhor dos casos." "Também é verdade", admitiu o Nick. Não conseguia parar de observar a multidão enquanto falavam. "Procurando a minha irmã?" "É tão óbvio?" "Provavelmente, só para mim." Havia perguntas nos olhos do vampiro, e pairando em seus lábios. Isso era óbvio, também. Mas de qualquer forma, ou decidiu respeitar os desejos da sua irmã e não bisbilhotar mais, ou tinha desistido de obter respostas, antes mesmo, que estivessem prontas para serem dadas. "Então, por que você não me apresenta a alguns dos seus amigos?" Tarron aceitou a mudança de assunto, graciosamente. "Com prazer. Embora não possa dizer que a maioria deles sejam amigos", disse em voz baixa, apenas para os ouvidos do Nick. "Com exceção da presente companhia."

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Nick lhe deu um sorriso. Não chamaria, exatamente, o Tarron e ele próprio de amigos, de qualquer forma, mas o potencial estava lá. Enquanto o homem não o drenasse por mexer com a sua irmã. Isso trouxe uma série de lembranças desagradáveis e lutou para manter a calma duramente conquistada. Lutou para esquecer onde estava, e entre quem. Seus homens estavam aqui e, entre todos eles, poderiam colocar-se em uma boa luta, se fosse necessário. Isso não impediu o suor frio de correr embaixo da sua camisa. Ou do seu coração correr como se tivesse sido impulsionado à alta velocidade. Pelo amor de Deus, acalme-se ou eles vão sentir o seu medo. E depois? Se voltarão para você como uma matilha de cães raivosos? Aqui, em uma reunião social em que quase todos esperavam ganhar alguma coisa, e estavam todos sob a proteção do Tarron, era altamente improvável. Nick disse isso a si mesmo até que se convencesse e, finalmente, começou a respirar mais facilmente. Na verdade, a maioria dos vampiros que encontrou foram amigáveis e divertidos. Alguns, francamente violentos. Um em particular, um vampiro adolescente chamado Daegan, a quem a equipe do Nick tinha resgatado dos renegados, há algumas semanas, e trouxe para o Tarron, foi charmoso e engraçado, deixando todos à sua volta com bom humor. O jovem tinha se adaptado bem.

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"Nick, gostaria que você conhecesse o Príncipe Rolan Stanislav, do território russo", disse o Tarron, serenamente. "Rolan, comandante Nick Westfall, da equipe Alpha Pack, aqui na América. Esses caras são grandes aliados para se ter, meu amigo." Rolan assentiu, dando ao Nick um pequeno sorriso e estendendo a mão. "É bom conhecê-lo", disse ele, com um sotaque pesado. "Não acredito que já tenhamos nos encontrado." "Não, também acredito que não. Prazer em conhecê-lo." Nick olhou para o alto príncipe loiro platinado. "A Rússia... é um inferno de um longo caminho." O príncipe balançou os ombros. "Não tão longe, quando se pode tele transportar. Apesar de levar vários minutos, em vez de segundos, para atravessar uma distância tão longa." "Então, como você conheceu o Tarron?" "Nos conhecemos, talvez, há sessenta anos atrás, em uma reunião semelhante a esta, mas no meu país. Mantivemos contato. Ao contrário de mim mesmo e da sua linda irmã." O russo virou para o Tarron. "Onde a Calla está se escondendo?" O lobo do Nick começou a rosnar, baixa e perigosamente, e ele o silenciou com esforço. "Ela está aqui em algum lugar - Oh, lá vem ela", disse o Tarron.

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Eles se viraram e assistiram a Calla percorrer o caminho através da multidão, em direção a eles. Nick quase engoliu a língua diante da visão da princesa. Ela usava um clássico vestido preto sem mangas, com um decote que mostrava a sugestão da curva dos seus seios. A barra terminava poucos centímetros acima do joelho, e seu olhar, automaticamente, percorreu o comprimento das suas pernas até as tiras dos saltos altos. Santa Mãe de Deus. Sua atenção foi, imediatamente, para o Nick, e lhe deu um sorriso largo. "Olá! Você conseguiu." Caminhou direto para os seus braços e o abraçou, ainda que brevemente, e virou a cabeça para que ele pudesse colocar um beijo na sua bochecha. Não era bem a reivindicação que gostaria de mostrar, para todos verem, mas ainda era cedo. Não passou despercebido como ela só tinha olhos para ele, o que acalmou um pouco a ele e ao seu lobo. Depois de soltá-lo, se virou e cumprimentou o Príncipe Rolan, mas não tão calorosamente como fez com o Nick, ele observou, com satisfação. No entanto, não perdeu como o rosto do príncipe se iluminou de prazer com sua atenção. "Calla, você parece radiante", disse o príncipe, segurando uma das mãos dela, entre as suas. "Como você tem passado?"

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"Estou indo bem, Príncipe Rolan. E você?" "Melhor agora que você está nos agraciando com sua luz radiante." Beijou sua mão. "Você poderia me dar a honra de dar uma volta comigo?" Luz radiante? Nick pensou, amargamente. O vampiro não podia ser apenas bonito, ter um título e ser rico? Tinha que estar transando com o Shakespeare, também? E o seu lobo estava rosnando, novamente. Felizmente, ninguém ouviu. "Humm, bem..." Calla chamou a atenção do seu irmão e ele concordou. "Tudo bem. Suponho que um breve passeio será um bom exercício." O sorriso do Rolan ficou satisfeito. "Muito bom. Vamos?" A ansiedade com a festa se juntou à queimadura lenta da raiva. Possessividade. O vampiro estava olhando para a Calla com interesse cru, como se ela fosse a razão para vir hoje à noite - não a política. Estava mais do que feliz em deixar os colegas para trás, para desfrutar de um "passeio" com a Calla. Ela lançou para o Nick um olhar de desculpas, enquanto se afastavam, o que o acalmou um pouco. "Eu o convidei", disse o Tarron, com tristeza.

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"O quê?" Se virou para o vampiro. "Pedi para ele vir porque o Rolan tem se mostrado interessado na Calla, há tempos, mas o momento nunca era certo. Pensei que fariam um bom casal." "Bem, eu não acho que, fodidamente, fariam", Nick rosnou. "Para esclarecer, no entanto, eu o convidei antes que soubesse de alguma coisa entre você e a minha irmã." Encarou o Nick com um brilho no olhar. "Não sou tão manipulador ou indigno." "Bom saber." Com os punhos cerrados, Nick olhou para longe, ainda chateado. A voz do Tarron ficou mais baixa. "Você não vai me culpar, se souber quão verdadeiramente triste e sozinha ela tem estado nos últimos anos. Eu só queria ajudar." "Compreensível", respondeu calmamente. "Mas ela não precisa da ajuda dele - de qualquer forma." "Experimente usar essa atitude com ela e você vai não avançar um centímetro a mais do que eu já consegui. Confie em mim. Se ela ficar irritada, você já era." Maldição, o homem era muito sensato. "Venha. Vou apresentá-lo a mais convidados." 102


Essa era a última coisa que o Nick queria fazer - socializar enquanto a Calla estava sozinha com o Casanova com presas. Mas, cerrou os dentes e aguentou enquanto o Tarron fazia mais apresentações, e respondeu perguntas curiosas sobre o que a sua equipe de shifters fazia para proteger os cidadãos. Esse, pelo menos, era um assunto sobre o qual podia conversar, e essa parte não foi tão ruim. "Nick, este é o Ivan Cardenas, de Barcelona, Espanha", disse o Tarron apresentando-o. "O Ivan é um velho conhecido que não vemos por aqui, há algum tempo. Vai se juntar à discussão na sala de jantar mais tarde, com os outros líderes." "Olá", Nick disse, apertando a mão dele. "Tenho certeza de que vai ser uma conversa fascinante, não é?" Cardenas riu. "Tenho certeza que vai. É um prazer conhecer você." "Prazer em conhecê-lo, também." Nick ficou grato quando o destino interveio e o Tarron foi puxado para um debate sobre a suficiência dos bancos de sangue para alimentar a sua população, ou se os clãs deviam ser autorizados a se alimentar de condenados à morte ou alguma merda do tipo. Nick se desculpou e ninguém notou quando encontrou um canto, se apoiou em uma parede oposta, e terminou sua cerveja. Com exceção de um homem. "Ainda não tinha visto você por aqui", disse uma voz indolente.

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Nick olhou para o estranho sombrio, de pé, nas sombras. Checando-o com seus sentidos de clarividência, descobriu que os muros que cercavam este homem eram, quase, impenetráveis. Isso o incomodou mais do que gostaria de admitir. "Não posso dizer que já vi você, ou qualquer um outro. Você conhece a Calla ou o seu irmão, pessoalmente?" "Na verdade, não. Pode-se dizer que sou um penetra." Seu sorriso era feroz. "Amigo de um amigo. Sabe como é." Algo naquele homem o deixou em alerta. "Sou Nick Westfall, com-" "Comandante da Alpha Pack. Sim, ouvi comentários. Um belo show, se você consegue executá-lo." Que diabos ele queria dizer? "Às vezes, não é tudo que acham que é." "Na maioria das vezes, não é." Nick deu uma boa olhada no cara para se assegurar que não era ninguém que já havia conhecido. Tatuagem nos dois braços que saíam debaixo da camisa preta de mangas compridas, com arabescos, dragões e outros símbolos gravados em preto. Um trabalho de perito por parte do artista. O homem tinha cabelos escuros ondulados, na altura dos ombros. Era magro, mas com alguns músculos, parecia durão, também. Seus olhos escuros eram geleiras frias. Como um homem com quem não se fodia com

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frequência, ou faria você pagar. Estranhamente, estava comendo um pedaço de queijo da mesa do buffet, como se não se preocupasse com nada no mundo. Parecia familiar, mas Nick, definitivamente, teria se lembrado dele. "Eu não entendi seu nome", disse o Nick. "Eu não disse." Terminou o queijo, olhando para o Nick. "Mas é Jinn." "Jinn...?" Perguntou. "Apenas Jinn. Sem sobrenome." Dentro dele, o lobo do Nick se mexeu e rosnou, em advertência. Apenas Jinn. O nome da sua visão, percebeu, com um sobressalto. Possivelmente, o homem que ia raptar o Noah. "Como assim?" Aproximando-se, deu uma farejada no cheiro do Jinn e descobriu que não era um shifter, ou um vampiro. Não era Fae, humano, ou qualquer coisa deste mundo, absolutamente, parecia. O homem - criatura - riu, mostrando os dentes brancos em linha reta com grandes incisivos. "Você sabia que na mitologia árabe, os Jinn são a terceira criação de Deus, depois dos anjos e seres humanos? Dizem que somos feitos de fumaça e fogo, podendo assumir a forma humana, e viajar entre as dimensões. E podemos ser bons ou maus, dependendo do humor."

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"É mesmo?" Nick ficou tenso, pronto para a batalha, se necessário. Jinn deu de ombros, sorrindo. "Alguns nos chamam de gênios. Mas você não pode acreditar em tudo que lê, certo? Eu, simplesmente, me considero mais um feiticeiro do Seu jardim variado." Desejou que Kalen, ou mesmo o Sariel, estivessem aqui para checar esse cara e dar suas próprias opiniões. Sendo Feiticeiros e Fae, tinham um radar muito melhor para os seres mágicos do que qualquer outra pessoa. "Interessante", disse ele, com um meio sorriso. "Nunca conheci um gênio, antes. Se eu esfregar o topo da sua cabeça, você vai me conceder três desejos?" Jinn piscou por um segundo e, em seguida, riu alto, fazendo com que alguns vampiros se virassem e olhassem para eles. Nick percebeu que o humor parecia, ainda, não chegar aos olhos do Feiticeiro. "Ponto para você, lobo. Não é o primeiro a fazer essa piada sobre mim. Mas é o primeiro a dizer isso na minha cara." "Como você sabe que sou um lobo?" Perguntou, casualmente. "Alguém deve ter dito." "Com quem você disse que veio?"

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"Um amigo. Ninguém que conheça. Se desencostou da parede. "Foi bom falar com você, Nick. Vejo você por aí." "Claro." Com as sobrancelhas franzidas, observou o Feiticeiro começar a percorrer o caminho através da multidão. Antes do Jinn ficar muito longe, porém, parou e se virou, olhando para o Nick. Seus lábios estavam curvados em um meio sorriso, os olhos brilhando com alguma emoção escura e perigosa. Uma corrente real de malícia acertou Nick no peito, tão descaradamente física que engasgou diante da onda de escuridão. Então, o Jinn foi embora. E o Nick sabia, sem dúvida, que se encontrariam novamente. Só não sabia quando. Livrando-se do frio repentino, tirou o encontro da mente e fez uma varredura em toda a sala. Poucos minutos depois, percebeu que a Calla e o Rolan ainda não haviam retornado da caminhada. E que tinha, condenadamente, passado tempo suficiente. Seu sangue aqueceu, com raiva, e saiu do salão por uma entrada lateral. Uma vez sob a cobertura das árvores, descartou as roupas e deixou seu lobo livre. Pegar o cheiro da Calla, e do vampiro, era fácil.

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Mas rasgar a garganta do bastardo, se tivesse tocado no que era dele, seria um enorme prazer. *** O sol estava se pondo quando Calla se juntou ao Rolan na caminhada, o jogo de luz e sombra sobre a montanha deixando a paisagem deslumbrante. Seu acompanhante era um homem interessante. Culto, refinado, genuíno e, sim, sexy. Lançando, secretamente, um olhar para ele, apreciou sua altura e porte real. Seus olhos azuis claros eram cativantes. Seu longo cabelo platinado praticamente implorava para ser explorado pelos dedos de uma mulher. Só não pelos dedos dela. O príncipe, tão bom partido quanto parecia, não causava nada nela. Não fazia sua respiração, ou seu coração, acelerarem. Não era melancólico e contemplativo, não tinha o cabelo preto misturado com prata, e olhos azuis como o céu à meia-noite. Nem era um raro lobo branco. Não era o Nick. Seu Companheiro. O homem que ela, estupidamente, deixou para trás, a fim de ser educada com os convidados. Teria que corrigir isso imediatamente.

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Ainda assim, Tarron tinha convidado o príncipe aqui por uma razão que não era mais válida, e teria que colocá-lo na linha. Só esperava que ele aceitasse bem e não ficasse um clima estranho. "Você e o Tarron construíram uma boa vida aqui, para o seu clã," Rolan estava dizendo. "Isso é louvável." "Obrigada. Tivemos muita ajuda, apesar de tudo. "Andando ao lado dele, pegou o caminho que conduzia até a lagoa. "Me lembro quando todo o seu clã vivia no castelo na Romênia. Foi uma pena que você tivesse que partir." Aquilo a acertou fortemente. "Não era mais seguro ficarmos lá, como você sabe." Parecendo aflito, pegou a mão dela e a puxou, para fazerem uma parada. "Mil desculpas. Eu não estava pensando direito." "Está tudo bem." Ele se aproximou, e reparou que seu cheiro era bom. Meio picante. Antes que ela percebesse o que ele pretendia, encurtou a distância entre eles, emoldurando o rosto em suas mãos, e tomou seus lábios em um beijo suave. Pega de surpresa, não fez nada no início, pensando que ia libertá-la, de imediato.

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Ele não o fez, e aprofundou o beijo, provavelmente, tomando seu silêncio como permissão para continuar. Na verdade, imaginou como o beijo do príncipe seria diferente do Nick. Se sentiria uma faísca com o Rolan, que não sentiu anteriormente. Mas, enquanto a língua dele explorava sua boca, soube que a avaliação anterior foi verdadeira. Rolan não era o seu Companheiro, e seu toque não inspirava suas fantasias. Com urgência, começou a empurrar peito dele e, em seguida, ouviu um rosnado baixo, sinistro, vindo do caminho, à direita dela e do Rolan. Calla empurrou, novamente, o príncipe e encontrou os olhos de um grande lobo branco. Um lobo extremamente chateado. "Nick", inspirou. "Isto não é o que parece." Os olhos do Rolan se arregalaram, enquanto olhava para o lobo enorme. "Nick Westfall? O comandante?" "Sim." Seu coração acelerou enquanto o olhar brilhante do lobo se centrou no Rolan. O lobo se aproximou, as orelhas achatadas contra o crânio. Seus lábios se curvaram, revelando um impressionante conjunto de dentes afiados e pareceu mais do que ansioso para usá-los para rasgar o príncipe em dois, membro a membro. Colocou seu corpo entre a Calla e o Rolan, deixando-os mais distantes, rosnando e

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apresentando sua reivindicação - e seu desafio - com bastante clareza. Rolan levantou as mãos em sinal de rendição e falou, calmamente, para o Nick. "Não vou mentir – Desejo a Calla, há muito tempo. Mas, depois daquele beijo, posso ver que seu coração está em outro lugar. Ela não é a minha Companheira, lobo. Soube no instante em que os nossos lábios se tocaram, e nunca iria tentar pegar o que não é meu." Com isso, a postura ameaçadora do lobo relaxou um pouquinho. Seu corpo já não parecia prestes a atacar, e levantou, um pouco, a cabeça. Para a Calla, era uma mensagem para o Rolan recuar enquanto podia. Mas o vampiro se virou para ela, em vez disso. "Estou muito triste pelo drama que causei", disse, com pesar verdadeiro. Seus olhos estavam tristes. "Esperava um resultado diferente, entre nós, mas vejo que tenho nutrido uma falsa esperança por um tempo muito longo." "Sinto muito, também. Mas você não causou nenhum drama." Ela lhe deu um sorriso hesitante. "Espero que possamos ser amigos, mesmo tão banal quanto possa parecer." "Isso significa muito para mim. Obrigado. É o que espero, também." Lançou um olhar cauteloso para Nick. "Vou voltar para a festa, em seguida, para a reunião, antes de ir para casa. Seja feliz, Calla."

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"Você também. Merece alguém especial." Em vez de se tele transportar, o vampiro deu ao Nick um aceno de cabeça e começou a retornar pelo caminho, sozinho. Calla ficou triste pelas coisas terem ficado tão estranhas entre ela e o Rolan, e não podia evitar, mas desejava que o Nick não tivesse aparecido para que pudesse lidar com isso sozinha. Agora, tinha um lobo irritado e possessivo com o qual lidar. Franziu a testa para o grande lobo. "Eu tinha tudo sob controle, sabe." Isso lhe rendeu outro rosnado baixo. Com os olhos arregalados, colocou a mão no quadril. "Ah não, você não fez isso! Você não rosnou para mim! Você não tem nenhum direito sobre mim, ainda, Cujo (Um cão com comportamento agressivo e imprevisível, baseado no cão do romance de Stephen King). Não, tecnicamente. Então, até que tenha, agradeço se não se meter nos meus assuntos!" Jurou que o lobo pareceu chocado quando ela se virou e se encaminhou até a lagoa rasa. É claro que se sentiu mal pelo Nick tê-la encontrado com os lábios grudados nos do Rolan. Também entendia que, como um shifter, sua natureza possessiva sempre assumia o controle em uma situação como essa. Mas, ia se danar se podia mostrar suas presas e rosnar para ela com raiva!

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Quando chegou ao lago, um puxão na parte de trás do seu vestido a trouxe de volta. Virando-se, fez um som de frustração e puxou o tecido do vestido, tentando se livrar dos dentes do lobo. "Me solte", ela sussurrou. Ele o fez e empinou, plantando as grandes patas dianteiras na sua cintura, fazendo-a balançar. Perdendo o equilíbrio, bateu de bunda no chão com um humpf. Imediatamente, ele se aproveitou do seu peso, muito maior, e a derrubou no chão, deixando-a deitada de costas, enquanto se acomodava em cima dela, as patas no seu peito e o focinho bem no seu rosto. "Fique longe de mim, sua grande bola de pelos." Ela o empurrou, mas, de maneira nenhuma conseguiu desalojar seu peso. Ele não moveu um músculo, e ela se viu encarando os familiares olhos azuis, escuros como a meia-noite. Olhos que estavam preenchidos com remorso. Desta vez, quando as orelhas se achataram contra a cabeça, soltou um gemido suave. Parecia completamente arrependido, sua expressão, o retrato clássico de um canino que tinha sido pego aprontando. Derreteu o coração dela em uma poça gosmenta. Mas não estava pronta para ceder. "Oh, você está arrependido, não é?" Fez uma careta para ele. "Se transforme em homem e diga você mesmo."

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Outra lamentação. Em seguida, uma língua rosada e macia serpenteou para fora e começou a lamber seu rosto e o seu pescoço. Fazia cócegas e ela gritou, sem conseguir se conter, em seguida, começou a rir, mesmo quando ordenou que parasse. Isso só o encorajou mais, e ele a deixou se contorcendo para fugir. "Nick! Pare!" Por fim, as lambidas pararam e olhou para o rosto dele, novamente. Desta vez, sua expressão era... faminta. Não havia dúvida da excitação naqueles olhos. Uh, oh. "Huum, Nick-" Abaixando o focinho, cuidadosamente, tomou a alça do vestido entre os dentes e a rasgou ao meio. "Ei! Espere um segundo!" Rasgou a outra, em seguida, encontrou o olhar dela, com desafio, quando se dirigiu para o corpete. "Nick! Se nós vamos fazer isso, temos que ter certeza de não fazer com você sendo um lobo", disse ela, com firmeza. "Não sou puritana, mas não faço com ‘peludos’." Com isso, ele bufou. Em seguida, seu corpo começou a vacilar. Transformar. Nunca se afastou dela e, em segundos, se viu parcialmente despida e coberta dos pés à cabeça por um homem deliciosamente sexy. Um apetitoso homem nu. "Melhor, agora?" Oh, inferno, sim.

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CAPÍTULO 05

A voz profunda do Nick, o desejo cru em seu belo rosto, fez Calla estremecer. Estendendo a mão, afastou uma mecha do cabelo negro da frente dos seus belos olhos. "Sim, assim é muito melhor." Sua boca tomou a dela em um beijo profundo. Um beijo de posse e paixão, nada parecido com a pobre alegação de beijo que tinha compartilhado com o Rolan. Não era culpa do príncipe, no entanto. Nick era o homem que a provocava, fazia seu corpo cantar. Seu toque era elétrico, acendendo todas as suas terminações nervosas e deixando-a implorando por mais. Levantando-se um pouco, interrompeu o beijo e usou uma das mãos para rasgar a frente do seu vestido. O tecido se abriu até embaixo, deixando seus seios expostos. Ele grunhiu enquanto olhava, percebendo que ela não estava usando sutiã. "Você é linda." "Obrigada." Deslizou a mão sobre as costas dele, passando a mão sobre um lado da bunda bem feita. "Você também." 115


O pênis dele endureceu contra sua coxa nua, tornando a fome entre eles, ainda maior. Queria sentir cada centímetro dele deslizando dentro dela. "Por favor", disse ela. "Faz tanto tempo." "Para mim, também." Seu dedo traçou o lábio inferior dela. "Sério?" "Sim. Eu tenho procurado companheirismo, mas não quis – precisei - de ninguém, até você." Não queria pensar nele encontrando alívio sexual com outras mulheres e, ainda assim, ser solitário. Em vez disso, se concentrou no prazer florescente que era ele admitir querer algo mais com ela. "Eu preciso de você, também", sussurrou. Dando-lhe um breve sorriso, abaixou a cabeça e tomou um dos mamilos entre os lábios. Ele enrugou instantaneamente, reagindo aos múltiplos prazeres da sua língua, e bico molhado sendo exposto ao ar da noite. Arqueou-se para ele, acariciando seus cabelos, amando a textura sedosa enquanto ele lambia seus seios. Logo, ficou claro que ele queria que o restante da sua roupa desaparecesse. Impaciente, rasgou o resto da vestimenta ofensiva ao meio e a afastou, deixando o material deslizar para o chão. Nua,

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diante do seu olhar quente, usava apenas uma pequena calcinha fio dental, preta e rendada. "Toda para mim." "Sim", ela concordou. De repente, se afastou dela e estendeu a mão. Intrigada, ela a tomou e deixou-o puxá-la para cima. "Aonde estamos indo?" "Lá." Apontou para a piscina rasa, que era alimentada por uma cachoeira de seis metros. As rochas e a vegetação exuberante em torno, formavam um cenário deslumbrante para fazer amor, e ela ficou ainda mais animada. Levou-a para a piscina, e ela estremeceu um pouco com a mudança da temperatura. Estava fria, mas sua temperatura de vampiro se ajustava rapidamente. Imaginou se, sendo um shifter, aquilo não o incomodava muito, também. "Quero ver você assim", disse ele, com voz rouca. Em seguida, lhe mostrou o que queria dizer, apoiando-a na beira da cascata da cachoeira. Suas costas estavam apoiadas contra uma parte lisa da rocha, não desconfortável. Então, pegou seus pulsos e ergueu os braços acima da sua cabeça, instruindo-a a agarrar a pequena saliência de rocha que havia lá.

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"Abra as pernas." Ela o fez, e ele deu um passo para trás, admirando-a com um sorriso feroz. "Minha própria ninfa das águas. Mal posso esperar para ver se você tem um gosto tão bom quanto parece." Nua e aberta para ele, no fluxo da água, nunca se sentiu tão luxuriosa. Aproveitou a oportunidade para olhar para ele, de volta, quase salivando diante da visão do seu Companheiro. Vestido, era lindo. Mas nu, era uma obra de arte. Seu peito musculoso era salpicado com cabelo escuro, em uma linha cônica que se afunilava em direção ao seu ventre. Mais cabelo escuro formava um ninho perfeito ao redor do seu pênis, que estava ereto, orgulhoso, pela atenção. Sua ereção era longa e grossa, vermelho escuro, com veias enredadas em torno dela. Bolas pesadas penduradas mais embaixo, e quis saboreá-las em sua boca. "Muito em breve." Seus lábios se curvaram para cima. "Você consegue ler a minha mente?" Ela perguntou, sem fôlego. "Não foi difícil, do jeito que você estava me devorando com esses olhos lindos. Só que vai ter que esperar a sua vez, baby." "Baby"? Gostou do carinho, muito. Isso a fez se sentir um pouco acariciada, quando se aproximou dela e começou um ataque gentil, na curva entre o pescoço e o ombro, com os dentes. Ela estremeceu

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assim

que

rasparam

o

local,

o

instinto

de


acasalamento, forte. Ansiava por sua mordida. Ansiava pela cravada

dos

seus

dentes.

Precisava

cravar

os

dentes,

profundamente, na sua carne e tomar o que era dele. Mas ele só brincou, alternando as pequenas mordidas com beijos. Em seguida, foi até os seios, de novo, dando-lhes mais atenção amorosa, antes de se aventurar para baixo. As almofadas ásperas dos seus dedos deslizaram sobre sua barriga, até os quadris. Garras emergiram dos seus dedos e ela observou, fascinada, quando as usou para cortar as pequenas tiras da calcinha. As garras se retraíram e ele jogou os restos do tecido para longe. Em seguida, roçou seu monte bem aparado. Seus dedos mergulharam entre as pernas dela e esfregaram seu clitóris, então ela gemeu, impotente, abrindo, ainda mais, as pernas. Ele fez um som muito masculino de satisfação, inclinando-se, para usar a língua, também. "Oh, Nick! Mais." "Não se preocupe. Não vou parar por um longo tempo." Sua boca talentosa fez amor com seu clitóris, lambendo e chupando. Junto com a sensação da água cascateando sobre os seus corpos, teve que se esforçar para não gozar tão cedo. Era incrível. Finalmente, não aguentou ficar sem tocá-lo, um segundo a mais. Liberando o aperto na pedra, enterrou os dedos no seu cabelo molhado e o segurou como se sua vida dependesse disso,

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enquanto ele comia sua boceta. Trabalhou a carne tenra com a língua, mergulhando-a em suas profundezas. Balançou contra ele enquanto a fodia com a língua, o desejo crescendo em uma espiral. Quase levando-a para o ponto de ruptura. E, então, ele se levantou, deixando-a desolada. "Não!" "Fique de frente para a rocha, baby, e se abra para mim, novamente." Ela o fez, ansiosamente. Murmurando palavras de elogio, passou a mão pelas costas dela, sobre a bunda. Em seguida, usou os dedos para abrir sua vagina e colocou a cabeça do seu pênis na sua entrada. "Diga-me que você quer isso, para que não haja dúvida", ele murmurou. "Eu te quero. Faça amor comigo, Nick." Sem precisar de mais encorajamento, começou a empurrar para dentro. Sua circunferência esticou a abertura dela, causando uma fricção deliciosa enquanto avançava mais profundamente. Era grande, mas ela estava molhada o suficiente para tomá-lo e levantou a bunda para levá-lo o mais fundo possível. Ele afundou até a base, preenchendo-a incrivelmente. O ajuste era perfeito. Prazer se espalhou através de cada célula quando

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começou a bombear para dentro e para fora. Acariciando dentro dela, fazendo com que o fogo ardesse, quase fora de controle. Suas presas se alongaram e sua agressiva natureza vampira assumiu, em represália. A fome pelo sangue do seu companheiro contraiu seu estômago. Mal conseguia manter o desejo controlado enquanto ele a fodia, completamente. Desejou colocá-lo de costas na parede rochosa e enterrar as presas na garganta dele. Beber até que ele gozasse sobre a sua barriga, apenas por se alimentar dele. Um dia, faria exatamente isso. Aquela fantasia e a realidade, agora, a deixaram no limite. O orgasmo a acertou com força brutal e ela gritou, sem se importar se alguém ia ouvir. Pura alegria tomou conta dela, novamente e novamente, enquanto o Nick se enterrava o mais profundamente possível e gozava dentro dela, enchendo seu ventre com o calor líquido. Nunca, uma relação sexual com outro homem foi tão crua. Tão explosiva. "Oh, meus deuses", ela sussurrou. "Mal posso esperar para fazermos amor, enquanto eu me alimento de você. Quero tanto provar você, agora." Contra suas costas, ele endureceu. E, quando seu cérebro começou a funcionar corretamente, de novo, percebeu que tinha

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dito, exatamente, a coisa errada. Ele deslizou de seu corpo e se afastou. Rapidamente, virou-se para ele, percebendo o rosto pálido e o medo em seus olhos escuros. "Sinto muito. Eu não estava pensando. Claro que você precisa de tempo-" "Não." Essa palavra, tão fria e definitiva, colocou medo em sua alma. Estendeu a mão para ele. "Eu sei o que você passou, e não vou exigir mais do que você pode dar." Ele riu, e o som foi amargo. "E se eu nunca puder lhe dar mais do que uma boa transa?" Aquilo doeu. Mas sabia que ele estava com medo. "Não acredito nisso. Você precisa de tempo, e prometo que posso ser paciente." "Você não entende?" Perguntou ele, o peito arfando. "O Darrow me arruinou. Não posso suportar a ideia das presas de um vampiro perfurando minha pele. Nem mesmo as suas. A ideia me repugna, Calla." "Oh." A palavra escapou, um som suave, como se tivesse sido apunhalada. Lágrimas correram de seus olhos e, de repente, ela não queria nada mais do que fugir. Dele, e deste lugar que deveria ter sido tão especial para eles.

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Ela ficou congelada, enquanto ele reunia os restos da sua roupa. Não conseguia respirar, quando a puxou da cachoeira e de volta para a terra seca. Lhe entregou as roupas, sua expressão estoica. "Não quero que ninguém as encontre", disse ele. "Sem falar no que poderiam pensar." "Não importa o que pensam. Você é meu Companheiro." Sua declaração ousada foi recebida com um olhar sombrio. "E você é minha. Mas não sou digno de ser seu Companheiro. Não agora, talvez nunca." Ela tentou segurar as lágrimas, mas caíram de qualquer maneira. "Você vai fugir de mim, sem sequer tentar? É isso?" "Não fugir", insistiu. "Só preciso de tempo. Tempo para pensar. Não sei se posso ser o homem que você precisa." Sua voz se quebrou. Não pôde evitar. "Já sei que você é. Mas você tem que perceber, ou não vai dar certo." Por um momento, pareceu que iria tomá-la em seus braços. Em vez disso, acenou com a cabeça em direção à fortaleza na montanha. "Não vou deixar você aqui, sozinha. Vá, antes que o seu irmão ou um guarda venha procurá-la, se já não o fizeram."

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Não faria nenhum bem ficar aqui e argumentar com ele. Não com as emoções tão cruas. Por mais que isso machucasse, estava certo, tinha que entrar em acordo com o que o Darrow havia feito com ele, antes que pudesse aceitar seu lugar como seu Companheiro. E aceitá-la como sua, com tudo o que isso implicava. "Tudo bem. Mas isso não é um adeus, Comandante. Não por muito tempo." Enxugando as lágrimas, o encarou com um olhar determinado. "Eu não desisto facilmente e acho que você também não." "Até mais tarde", disse ele. "Vou cobrar isso de você." Levantando o queixo, se tele transportou para longe, deixando-o parado ali, parecendo tão perdido quanto ela. Segundos depois, estava em seus aposentos privados, sozinha. Sem o Nick. Não foi o final que tinha imaginado, após o ato de amor maravilhoso que tinham acabado de desfrutar. Largando a trouxa de roupa esfarrapada no chão, caminhou até a cama e se sentou, olhando para uma fotografia na parede. Não apenas uma imagem qualquer, mas uma sua e do Stefano, tirada décadas atrás. Tinham sido tão felizes, tão apaixonados. Após

o

seu

assassinato,

nunca

esperou

encontrar

outro

Companheiro. Não queria mais ninguém, nunca. Em seguida,

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conheceu o Nick naquela festa e colocou a mão na dele. Olhou nos seus olhos, e foi isso. Soube, imediatamente, o que ele era para ela. Ou o que poderia ser, se tanto. Agora, parecia que o destino a havia presenteado com outro Companheiro, mas tão danificado que podia nunca se abrir para a felicidade. Tinha perdido o Stefano. Podia perder o Nick antes que começassem. Incapaz de conter a inundação, se deixou levar em um choro intenso. Chorou até que estava soluçando, finalmente, esgotada. Embora se sentisse melhor, o choro nada resolvia. Ainda estava sozinha e, para piorar as coisas, estava com fome. A dor no seu estômago não seria negada. Embora não quisesse ninguém, apenas o seu Companheiro, tinha que se alimentar ou ficaria doente. Pelo menos, não tinham, oficialmente, acasalado ainda, ou seria forçada a passar fome. Com um estremecimento, vestiu calças confortáveis e uma camiseta. Dane-se. Não ia voltar para a festa do Tarron. Uma vez que estava vestida, usou o celular para ligar para um dos seus guardas favoritos, que estava sempre feliz em lhe servir como doador. Ia sobreviver, dia após dia. Nick seria dela. De alguma forma, iria ajudá-lo a superar o seu pesadelo para que pudessem ficar juntos.

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Tinha certeza disso. *** Da segurança das árvores, o vampiro observou o comandante foder sua fogosa princesa. Tinha sido cuidadoso em se assegurar que ficasse a favor do vento, evitando ser detectado pelo olfato superior do lobo. Percorrendo o caminho, silenciosamente, atrás deles, permaneceu escondido quando o lobo empurrou a Calla no chão. Mesmo ele ficou chocado, pensando que a intenção do lobo era tomá-la em sua forma animal. Na verdade, ficou desapontado quando o lobo se transformou, novamente. Foda-se o seu próprio coração sombrio. A decepção foi rapidamente esquecida, no entanto, quando os dois foram para a cachoeira e se envolveram em uma cena escaldante, que ficou surpreso não ter feito a água ferver. Quando o Westfall virou a mulher de costas sobre a rocha e mergulhou dentro dela, o próprio pênis do vampiro tinha se transformado em aço dentro das calças. Oh, ele observou. Cada impulso e gemido. Cada grito de prazer. Ficou lá, ofegante, com partes iguais de saudade e ódio, até que o comandante chegou a um orgasmo magnífico, esvaziando-se dentro da pessoa que era, muito possivelmente, sua Companheira.

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Em seguida, ouviu cada palavra da conversa depois da transa e sorriu. Problemas no paraíso, antes mesmo do acasalamento acontecer? Perfeito pra caralho. Não podia ter desejado um cenário melhor. A melhor vingança de todas tinha caído direto em suas mãos, e ele não levantou um dedo. Depois que o casal tinha partido, o vampiro libertou sua ereção galopante. Agarrou-a em um punho apertado e se acariciou, indo, rapidamente, ao orgasmo, bombeando sua semente na grama. Foi um alívio frio e solitário. E a culpa recaiu sobre o comandante e os seus lobos. Em Tarron e nos seus homens, também. Se vingaria por terem destruído o que era dele. Logo. Quando se arrumou novamente e fechou as calças, ouviu um barulho vindo da trilha. Vendo que era o Jinn, saiu do seu esconderijo. "Estive procurando por você", disse Jinn, olhando-o. "Vi o Westfall voltando, mas ele não me viu. Você descobriu alguma coisa?" "Oh, sim, descobri." Rapidamente, esboçou o que tinha visto e ouvido, especialmente, o bate-papo esclarecedor entre os amantes, no final. Em seguida, instruiu o Jinn sobre o que fariam, em seguida.

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"Sei que posso confiar em você para realizar meus desejos", disse gravemente. Jinn assentiu. "Até o fim, Mestre. Não vou desapontar você." "Sei que não vai. E mantenha o seu envolvimento em segredo, por enquanto. Não há necessidade de mostrar nossas cartas, cedo demais." "Como quiser." "Vamos voltar para o encontro. Separadamente, é claro." "Sim, é claro." Resistindo à vontade de sacudir a cabeça, o vampiro deixou o Feiticeiro de pé, no caminho, e voltou para a fortaleza. Praticamente podia sentir os olhos de Jinn abrindo um buraco em suas costas, sua devoção palpável. Sim, isso era o que o amor fazia. Deixava você sozinho e miserável. Com alguma sorte, para o Jinn essa mensagem ia acertá-lo, muito tarde. Depois que servisse ao seu propósito. Ninguém notou quando se esgueirou de volta à festa. Ninguém, particularmente, se preocupava com sua presença.

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Mas isso ia mudar, e todos desejariam ter prestado mais atenção. Especialmente, quando ele e os seus homens rissem dos seus gritos e se banhassem no seu sangue. *** Carter passou um dedo sobre o líquido vermelho do sangue que escorria nas costas do Nick e o levou aos lábios. Provou. Nick lutou para permanecer consciente. Sabia que teria que lutar para sobreviver ao que ainda estava por vir. "Sangue delicioso. Shifters nascidos tem um gosto tão requintado, nem mesmo o melhor vinho tinto pode se comparar à essa riqueza encorpada." "Fique longe de mim, você é louco", Nick gritou, puxando contra as restrições. "Não seja tão dramático. Afinal de contas, você vai adorar a próxima parte." “Do que você está falando?" "Lembra-se do que eu disse antes? Sua companheira amou o que eu fiz com ela..." Darrow se aproximou das costas do seu cativo. Correu a mão sobre o ombro e sua lateral, apoiando o queixo na curva do pescoço dele, como um amante faria.

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"Não", Nick sussurrou. "Não." "Ah sim. Vou me alimentar de você, lobo. E você vai adorar cada momento disso... até dar o último suspiro." "Seu filho da mãe pervertido-" As palavras do Nick foram cortadas quando Darrow o atingiu, afundando as presas na curva do pescoço do seu cativo. Ele gritou, o corpo tenso... e, em seguida, relaxou, deixando escapar um gemido rouco. No fim, estava derrotado. Quebrado. Com uma risada sombria, Darrow juntou seus corpos com força, as costas do Nick contra o seu peito, e começou a se alimentar, lentamente.

Com

longas

sugadas

e

ocasionais

lambidas,

acariciando o pescoço da sua presa, então, repetindo. Seu cativo afundou ainda mais sob o feitiço perverso, incapaz de impedir o que estava acontecendo. Sequer, se importando. Seduzido. "Você é meu, agora", Darrow murmurou contra sua pele. "Diga." "Eu sou seu." "O que você quer, lobo?" "Beba de mim. Tome tudo. "

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"Paciência. Vou fazer o que você quer. Depois que desfrutarmos isto, completamente." Nick se sacudiu do pesadelo, o coração martelando no peito, molhado de suor. Não, não era um pesadelo - era a memória do que o Darrow havia feito com ele. Dia e noite, o horror nunca o abandonava. A vergonha. Vergonha acima de tudo, porque tinha cedido. Seu pior inimigo havia seduzido seu corpo, fodido sua mente. Mesmo que ainda pudesse ver o rosto magoado da Calla no dia da cachoeira, mesmo que quisesse fazer isso direito, esta era a razão pela qual não podia. Não sabia como passar por isso. Depois de inspirar profundamente algumas vezes, se acomodou novamente e tentou dormir. Demorou um tempo para conseguir, mas, eventualmente, deslizou de volta para sonhos. A fortaleza da montanha tremeu com o ataque. Fumaça acre entupindo seus pulmões e seu nariz. Fogo subiu para o teto, consumindo tudo o que tocava com seus dedos gananciosos.

Ao

seu

redor,

morte

e

destruição

reivindicando seus homens. Seus amigos e aliados. Calla? Onde ela estava?

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choviam,


"Calla!" Ele gritou. "Calla!" Se ela tivesse caído, também"Não." Nick despertou, outra vez, e sentou na cama. Passando as mãos pelo cabelo encharcado de suor, soltou um suspiro cansado e tentou decifrar a visão. Ou foi, simplesmente, um pesadelo? Normalmente, sabia dizer a diferença. Mas não, desta vez. Isso, provavelmente, porque mesmo sendo um PreCog, seu dom não lhe permitia ser capaz de ver o próprio futuro - somente o daqueles ao seu redor. O futuro da Calla cruzava com o dele, talvez, tenha sido por isso, que teve um vislumbre do dela. Era este o destino que esperava sua Companheira se não conseguisse acasalar com ela? Estaria ela perdida para sempre, para ele? Ou era o seu estresse, simplesmente, se manifestando nos seus sonhos? Desejou saber. Um olhar para o relógio mostrou que era pouco depois das cinco da manhã. Cedo, mas não tanto que se importasse em lutar para dormir por mais um tempo. Levantando-se, caminhou, nu, até o banheiro e ligou o chuveiro. Enquanto a água esquentava, escovou

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os dentes. Em seguida, entrou debaixo do chuveiro e gemeu quando a água acertou seus músculos doloridos. Sofria pela punição que tinha dado a si mesmo, no treino na academia,

na

noite

anterior.

Esperava

esgotar-se

até

o

esquecimento, mas não era para ser. Agora, a água o fez pensar no elegante corpo da Calla, nu sob a cachoeira, e seu pau levantou a meio mastro. A memória dela, exposta e pronta para ele, de deslizar profundamente em sua vagina, extraiu um gemido dos seus lábios. Como teria sido se tivesse permitido que ela o reivindicasse? Esse era um passo natural entre Companheiros, e seu lobo retumbou, em acordo. Tomando o pênis, duro como aço, na mão, saboreou o sentimento da água cascateando sobre o seu pau, enquanto o acariciava. Em sua fantasia, Calla o encarou e pressionou os seios contra o seu peito, uma linda ninfa da água pronta para levá-lo até o paraíso. Ela beijou seus lábios, entrelaçando sua língua com a dele. Sua mão trabalhou mais rápido, o pênis inchando enquanto imaginava suas atenções se desviando para sua mandíbula. Seu pescoço. Lá, provocou sua pele com a ponta da língua. Exatamente ali, sobre a artéria vulnerável. Uma presa roçou o local onde ia morderE o corpo dela se tornou duro. Masculino.

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Carter. O medo invadiu seu peito e ele suspirou, abrindo os olhos, quando sua ereção sofreu uma morte rápida. Tão morta quanto ele teria, eventualmente, ficado nas mãos do Carter. Decepção o envolveu como uma mortalha. Não conseguia, sequer, fantasiar sobre o que devia ser um belo ato entre Companheiros, sem as lembranças terríveis o arruinarem. Por um momento, descansou a cabeça nos azulejos e tentou organizar os pensamentos. Ia deixar isto para trás. As coisas tinham que melhorar, certo? Saindo do banho, se secou e vestiu calça jeans, botas e uma camiseta, e se dirigiu para o seu escritório. O pessoal da cozinha não teria o café da manhã pronto para servir até às seis, então tinha tempo de sobra. Talvez, alguma papelada lhe daria a distração que precisava. No meio do caminho, o celular vibrou no seu bolso. Pegando o aparelho, fez uma careta para a tela. Damien, novamente. O que, diabos, aquele idiota queria, e assim tão cedo? E por que, diabos, não entendia a dica e ia se foder? Mas não. Era como se fosse um drama mexicano. Damien estava decidido a falar com o Nick e, por sua vez, o Nick estava igualmente determinado a ignorá-lo. Quando enfiou o telefone no bolso, novamente, a culpa espetou sua consciência. Havia dito ao seu

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irmão, ou deixado implícito, que iria, pelo menos, tentar manter aberta a comunicação entre eles, talvez se reconciliarem, um dia. Isso não poderia acontecer, de fato, se eles não se falassem. Sim, ligaria para o Damien, mais tarde. Depois da papelada. Telefonemas. Café da manhã. Limpar seu banheiro. No escritório, passou a resolver algumas das tarefas que esperavam sua atenção. Haviam mais shifters a caminho do Santuário, que foram enviados pelo Grant. Precisavam de mais leitos nos quartos vazios, para que pudesse alojá-los. Em seguida, um relatório que o Grant tinha enviado por e-mail para ele, sobre a atividade dos vampiros selvagens, que tinha diminuído com a morte do Carter, mas ainda era problemática. O relatório continha a vigilância de onde alguns deles estavam escondidos, e Nick fez anotações, organizando a equipe para fazer vários ataques, nos próximos dias, a fim de erradicá-los. Em seguida, havia outro relatório sobre caçadores humanos, que mataram vampiros inocentes junto com os selvagens. Os bastardos eram cautelosos. Radicais, perigosos. Causaram mais problemas do que resolveram, deixando famílias de vampiros dilaceradas. A atividade envolvendo caçadores tinha aumentado, aos trancos e barrancos, e o Grant queria saber a fonte. O mesmo acontecia com o Nick.

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Relatórios sobre as possíveis localizações dos caçadores não eram tão numerosos, o que foi frustrante. Os filhos da puta eram bons em se manter escondidos. Seu estômago roncou e ele fechou o laptop, indo em direção à sala de jantar. Alguns da sua equipe já estavam lá, enchendo os pratos com panquecas, bacon, ovos e linguiça. Os cozinheiros daqui rivalizavam com os melhores, em qualquer grande jantar, e este grupo de lobos famintos raramente perdia uma refeição, não se pudessem evitar. Visualizando o Hammer, juntou-se a ele, em uma mesa. O homem grande olhou para ele quando se sentou, pegou um prato, e começou a preenchê-lo com comida. "Você parece cansado", Hammer observou. "Sem muito sono?" "Nada demais." Não entrou no porquê. O amigo não perguntou. "Então, e sobre essa reunião que o Tarron realizou, com todos aqueles vampiros desnecessariamente extravagantes? Acha que algo de bom virá disso?" Nick deu de ombros e esparramou manteiga em suas panquecas. "Difícil dizer. O nome do jogo é ter algo que todo mundo quer. Com esse grupo, é o poder de manter os números. Todos querem a mesma coisa, e um pode dar uma certa segurança para o outro. Talvez, vá funcionar."

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"Se um clã está sob ataque, o resto virá para ajudar? Certo." Ele bufou, claramente cético. "Esse foi o acordo que eles fizeram. Nós o fizemos, também. Embora, espero nunca precisar testar sua honra." "Sim." "Qualquer notícia sobre o Tom?" Perguntou Nick. A incapacidade de contatar o ex-mecânico estava se tornando um motivo de preocupação, e as próximas palavras do amigo não fizeram nada para aliviá-la. "Nada. Na verdade, estava me preparando para lhe dizer que a Rowan e o Aric fizeram uma viagem ao seu apartamento, em Cody, e ele não atendeu a porta. Resolveram entrar e descobriram que seus móveis e outros itens domésticos ainda estão lá, mas muitas das suas roupas sumiram." "Ele pode ter feito uma viagem." "Talvez", disse o Hammer. Mas sua carranca indicava que ele, não necessariamente, concordava. O tema foi abandonado quando Jax e o Micah se juntaram a eles e se sentaram, murmurando um bom dia e, depois, mergulhando na comida. Conversaram um pouco sobre companheiras, bebês, o

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Santuário, até que o Micah olhou para o Hammer e mudou de assunto. "Então, você faz patchwork, certo?" Hammer olhou para o Micah, como se decidindo se o cara estava tirando sarro dele. Alguns dos outros não lhe falaram merda nenhuma sobre isso, apesar do fato de que poderia acabar com qualquer um deles, com as próprias mãos, se quisesse. "Sim. Por quê?" "Minha avó também." Micah fez uma pausa. "Sem ofensa. Não estou dizendo que só vovós fazem patchwork, homem. Acabei de ouvir que você faz e fiquei curioso sobre o porquê você faz." Hammer fez uma pausa. "Alívio do estresse." "Sério?" "Sim. Ajuda a limpar a minha mente de todas essas merdas ruins. Você devia tentar." "Humm. Não sou muito talentoso com essas coisas. Sabe, criar coisas." "Você não tem que ser." Hammer deu de ombros. "Leia as instruções. Não é a porra de uma ciência sobre montar foguetes.

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Então, você vai ser capaz de dar presentes úteis, especialmente quando os seus amigos começam a ter filhos." Jax sorriu. "É isso o que você tem feito? Fazendo mantas para bebê?" "Sim. E daí?" "Nada, Hammer. Isso é, apenas, muito legal." Houve um momento de silêncio e, depois, o Hammer falou uma palavra. "John." Uau. Nick ficou de boca aberta. Não conseguia acreditar que o Hammer - John – tinha, finalmente, se aberto. Será que o resto da equipe entenderia que isso era um monumental ato de confiança para o ex-agente? A atividade em torno deles acalmou enquanto os outros ouviam, e Jax franziu a testa para o John, mastigando um pedaço de bacon. "O que você disse?" "John. Esse é o meu nome", disse ele em voz baixa. "Ex-agente especial do FBI, John Ryder, já falecido. E precisa continuar desse jeito, se você me entende. Dito fora destas paredes, esse nome poderia torrar a minha bunda."

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Nick sorriu. Eram, provavelmente, mais frases juntas do que qualquer um na equipe, além do Nick, tinha ouvido, absolutamente. John - podia finalmente se permitir pensar no verdadeiro nome do homem, para que não o falasse, acidentalmente, na frente dos outros – tinha, finalmente, decidido deixar a equipe entrar no seu mundo. O pedaço de bacon do Jax caiu no prato. "Uau, cara. Isso é só... estou honrado que você tenha decidido confiar em nós com informações delicadas como essa." Houve uma rodada geral de acordo, e o John, simplesmente, deu um sorriso rápido. "Sim, bem, sei que vocês cuidam da minha retaguarda." E foi assim. Sem alarde, embora a notícia tivesse causado um pouco de comoção no edifício, pelo resto do dia. Rowan, presunçosamente, informou a todos que ela já sabia, porque o John tinha lhe contado, há meses. Claramente, precisavam, todos, sair um pouco mais. Por um tempo, a revelação do John serviu como uma distração para a enorme falta que o Nick sentia da Calla. Estando longe dela, seu lobo ficava mais ansioso a cada dia que passava. Manter o controle sobre o mau humor do animal era uma luta diária. Como homem, queria conhecer melhor sua mente e seu coração, não apenas seu corpo delicioso. O tempo que passaram juntos, não foi suficiente.

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E, ainda. Ela era uma vampira. A memória da sedução do Carter pesava sobre sua alma. O vampiro o tinha torturado, bem como se alimentado dele, e os eventos estavam ligados em um ciclo terrível, na sua cabeça. "Pare com isso, seu covarde", murmurou, se levantando da cadeira, no escritório. Precisava

limpar

a cabeça daquela

merda.

Obter alguma

perspectiva. Foi direto para o quarto e se trocou-se, colocando um short de basquete solto e uma camiseta. Então, caminhou até o ginásio, entrou e pegou uma bola de basquete na prateleira. "Quem está a fim de um jogo?" Gritou para os poucos caras que estavam malhando. Ryon sorriu. "Comece, velho!" "Você está dentro." Se não pudesse conseguir alguma nova perspectiva, pelo menos estaria cansado demais para sonhar, esta noite. Esperava. *** Calla passeava pelo quarto e pensava, até que não aguentava mais. Até que ficou enjoada da sua própria companhia.

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Esconder-se e ficar esperando o Nick chegar até ela, obviamente, não estava resolvendo. As questões do comandante eram muito profundas para, simplesmente, desaparecerem porque tinham desfrutado um sexo fabuloso na cachoeira. Não, precisava de um plano. Mas, qual, não sabia. O que precisava era de uma distração. Depois de colocar uma calça preta e uma blusa casual, se dirigiu até a escola da fortaleza. Crianças vampiro não existiam em grande número, uma vez que a maioria das gestações das vampiras não sobreviviam até o fim, mas as que tinham a sorte de conseguir, necessitavam de instrução. Escola pública estava fora de questão, e isso significava que tinham que lidar com a educação, internamente. Calla não possuía diploma de ensino, mas seus professores reais, sim.

Sua

equipe

estudou

nas

principais

universidades,

permanecendo escondidos do radar dos humanos, até se formarem e retornarem à Fortaleza, para ensinar as crianças. Da parte da Calla, amava crianças. Gostava de ser produtiva e substituir os professores, dois ou três dias por semana, para lhes dar um tempo de folga, lhe convinha muito bem. As crianças, com certeza, ajudariam a desviar sua mente dos problemas. Parou na sala da Lora Hart. Lora ensinava da primeira a terceira série em uma sala, e era sempre grata por ter uma pausa. Calla

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entrou e sorriu para o coro de cumprimentos felizes dos rostos doces, que a olharam por cima dos seus trabalhos. "Ei, pessoal", cumprimentou. "Senhorita Shaw", Lora disse com um sorriso, cumprimentando-a dessa forma por causa das crianças. Calla insistiu que os professores não usassem "Princesa Calla", quando viesse substituílos. Podia ser muito confuso, para os mais jovens, processar a diferença entre "princesa" e "professor". "Senhora Hart, você gostaria de uma pausa? Eu vi o Sr. Hart mais cedo e pensei que você gostaria de ter um almoço tardio com o seu Companheiro." Pura gratidão inundou o rosto da Lora. "Você tem certeza? Quer dizer, se você não se importa, isso parece fascinante!" "Positivo, ou não teria oferecido. Apenas me mostre no que vocês estão trabalhando, hoje, e assumo a partir daí." Rapidamente, a professora lhe mostrou os planos e onde ia colocar os materiais para o projeto de arte que os alunos iam fazer. Calla assegurou Lora que ela e as crianças tinham as coisas sob controle e não se preocupasse em voltar muito rápido. A mulher, agradecida, fugiu, como se a Calla pudesse, de repente, mudar de ideia.

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Com uma risada, começou a trabalhar. As crianças provaram ser o melhor remédio, aquela tarde. O dia não passou sem seus desafios, um menino fez xixi nas calças, um vomitou, e um outro derramou tinta por todo o chão. Mas não houve um momento de tédio, e não pensou no Nick nenhuma vez. Até a Lora voltar, duas horas depois. Calla se despediu das crianças, com a promessa de voltar no final da semana e ficar o dia todo. Seu coração se apertou quando saiu. Melancolicamente, pensou em ter seus próprios filhos, um dia. A gravidez não era uma possibilidade para muitas fêmeas de vampiros, mas talvez o destino fosse abençoá-la. Mas isso não ia acontecer se o seu Companheiro não fosse até ela. Marchando para o escritório do seu irmão, invadiu-o e fechou a porta com força suficiente para fazê-lo saltar. “Precisamos conversar."

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CAPÍTULO 06

"Se você quer que eu pare de berrar por você nos corredores, então pode parar de entrar no meu escritório sem bater", Tarron apontou aborrecido. "É importante." Calla se jogou em uma das cadeiras almofadadas e ignorou sua carranca. "Preciso que você me ajude a descobrir uma forma de deixar o Nick e eu juntos, por um longo período de tempo." "Você está falando sério?" "Não", ela disse, inexpressivamente. "Porque estou totalmente bem comigo e com o meu Companheiro vivendo há centenas de quilômetros de distância, em Estados diferentes. É tudo de bom." "Seu Companheiro?" Recostando-se na cadeira, Tarron exalou um suspiro. "Bem, isso resolve esse pequeno mistério."

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"Tenho certeza que você já suspeitava, dada a nossa conversa anterior." "Você vai ficar brava se eu admitir que esperava que fosse uma coisa passageira? Paixão?" Uma pequena pontada de mágoa espetou seu estômago. "Por que você esperava isso? Você não quer que eu seja feliz?" "Claro que sim! Eu só - Olha, não vou desperdiçar meu tempo. Você conhece as minhas razões para ser cético em relação a uma união lobo-vampiro. Mas, se você está certa que o Nick é o seu Companheiro-" "Ele é. Soube no exato momento que nos conhecemos." "Será que ele sabe?" "Sim. Nós falamos sobre isso, mas, apenas, brevemente", admitiu ela, mordendo o lábio. "Ele fugiu. E esse é o problema, como podemos resolver as coisas quando estamos tão distantes um do outro?" "Tudo bem. Vou fazer tudo que eu puder para apoiá-la", falou, suavemente. "Pode confiar em mim." Ela relaxou, um pouco da ansiedade se dissipando. "Eu sei. Obrigada, irmão."

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"Deixe-me pensar sobre isso, ok? Talvez, possa sugerir algum tipo de exercício de treinamento para usarmos em situações de emergência." Fez uma pausa e acrescentou, pensativo: "Isso pode não ser uma má ideia, de qualquer maneira." Ela sorriu para o irmão. "Genial! Traga-o para cá por alguns dias e eu faço o resto." Ele balançou a cabeça, dando uma risada. "Gosto da sua confiança." "Está mais para otimismo." "É a mesma coisa." Levantando-se, deu a volta na mesa do seu irmão, jogou os braços ao redor dele e o abraçou apertado. Ele a abraçou de volta, ferozmente, e beijou sua testa. "Eu só quero que você seja feliz. Nada mais importa." "Obrigada. Te amo." "Sim, sim", disse ele, carinhosamente. "Fora do meu escritório, pirralha. Tenho um milhão de coisas para fazer." "Oh, tanto faz. Vi o aplicativo do Candy Crush minimizado na sua barra de ferramentas, seu preguiçoso."

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"Maldição." Rindo, ela o soltou e caminhou para a saída, sentindo-se muito mais leve. Tarron ia agendar o treinamento e o Nick não seria capaz de evitá-la. Era uma situação da qual todos se beneficiariam. O que fazer, agora? Podia voltar para a área da escola, exceto que as aulas já tinham acabado, hoje. Podia, muito bem, fazer sua caminhada diária. De fato... sim. Podia voltar à cachoeira - dela e do Nick - e reviver cada momento do seu encontro. Essa memória doce ia mantê-la, até que se encontrassem novamente. Na saída, foi confrontada por um guarda. Para o seu aborrecimento, não conseguiria dissuadi-lo de acompanhá-la, não importava o que dissesse. "Graham, vamos lá. Tenho andado pelas montanhas e florestas daqui, há algum tempo, e nunca encontrei um único problema. Não vou dizer ao meu irmão que você não foi comigo. se não o fizer. Ele nunca vai saber." Deu ao guarda o seu melhor sorriso. Que desabou no terreno pedregoso. "Princesa", disse ele, arqueando uma sobrancelha, "Eu vou saber. O problema dos caçadores está desenfreado, e isso é perigoso. Você vai me permitir o prazer da sua companhia, ou devo informar ao seu irmão?"

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Irritada, proferiu, baixinho, uma maldição não muito apropriada para uma dama. Com outra escolha, a não ser ceder, bufou, "Ótimo. Faça o que quiser." Graham era como uma rebarba pegajosa na sua meia durante todo o caminho para a cachoeira. Sua presença "fodia completamente com tudo", como os estudantes adolescentes diriam, e bufou para si mesma. Estava convivendo com as crianças tempo demais, quando começava a usar suas gírias. Estar com o Nick ia corrigir isso! Percorreu o caminho até o local, se esforçando para ignorar o Graham e focar na beleza ao seu redor. Depois de mais de quatrocentos anos, ainda havia muito para ser apreciado e se sentia afortunada por pensar dessa maneira. Muitos da sua espécie tinham amargado sua existência há muito tempo e buscaram a paz na morte. Durante muitos anos, depois do assassinato do Stefano, tinha desejado se juntar a ele. Mas, com o tempo, começou a encarar o fato de que ele gostaria que ela não apenas sobrevivesse, mas abraçasse a vida novamente. Inferno, não era uma princesa da Disney, e já havia tido muitos dias ruins, mas os bons os compensariam. Além disso, que tipo de exemplo seria para os jovens, se desistisse?

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Sentindo-se feliz, escolheu uma pedra na beira da piscina rasa e a usou como assento. Do outro lado da piscina, as cascatas estavam brilhando sob a luz dourada da tarde. Deixando a mente vagar, reviveu os momentos que passara lá, com o Nick. Sabia que, sem dúvida, seriam sempre uma das suas memórias mais preciosas. Graham se acomodou em um lugar, a poucos metros de distância, e começou a mexer no telefone. Imaginou que era muito chato assisti-la olhando para a piscina e não o culpou por jogar um jogo ou verificar suas mensagens. Então, mais uma vez, ele tinha insistido em vir junto, então, se estava entediado, era sua própria culpa. Não tinha certeza de quanto tempo ficou lá. Mas o sol estava começando a mergulhar atrás das árvores e as sombras se alongarem sobre a Terra, quando decidiu que estava pronta para entrar. Só então, ouviu um grito de surpresa, e girou sobre a rocha, pensando que o guarda devia ter, de alguma forma, se machucado. Em vez disso, ficou chocada ao vê-lo lutando com um humano vestido com camisa e calça camufladas. Um caçador! Graham buscou a arma presa na cintura, mas era tarde demais. O caçador brandiu um punhal e o mergulhou em seu ombro, então o guarda caiu.

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"Graham!" Ela gritou. Mas ele estava demorando para ficar de pé e o caçador o esfaqueou novamente. Pânico explodiu no peito da Calla. Não podia abandonar o guarda. Mas não era uma lutadora. Será que devia pedir ajuda? Sim. Precisava alertar o Tarron. Levaria apenas segundosPor trás, braços fortes a agarraram e algo pesado foi colocado no seu pescoço. Ela gritou, e sua mão foi até o colar. Grilhões! Oh, deuses, não! "Não! Solte-me!" " Cale-se, cadela vampira!" Um punho socou o lado do seu rosto e dor reverberou em seu crânio. Ela era forte, mas, incapacitada desta forma, sabia que estava em sérios apuros. O grilhão de ferro prejudicava, severamente, suas defesas naturais contra o abuso, e não podia se tele transportar. Ele a enfraqueceu, imediatamente. O homem começou a arrastá-la enquanto seu parceiro limpava a faca na camisa do Graham. Não sabia se o guarda estava vivo ou morto, e uma onda de remorso a golpeou duramente. "Socorro! Tarron! Alguém me ajude!"

151


"Eu disse, cala a boca!" Outro golpe no rosto dela fez sua cabeça girar. Não conseguia formar um pensamento coerente, e ficou muito perto de desmaiar. Quando o filho da mãe a levantou e a atirou sobre o ombro como um saco de batatas e correu, seu estômago revirou de novo e novamente, e teve que se esforçar para não vomitar. Depois

de

vários

minutos,

o

homem

parou.

Arrancou-a,

bruscamente, de cima do seu ombro e a empurrou na direção de uma porta lateral aberta de uma van escura. Mais dois homens estavam esperando no interior, e a puxaram para dentro, empurrando-a sobre o tapete sujo. Seus braços foram puxados para trás das costas e um deles pegou um rolo de fita adesiva prata, envolvendo várias camadas em torno dos seus pulsos. Outro pedaço tapou sua boca e o homem que a sequestrou pulou para o banco do passageiro. A van partiu com um solavanco, e seu coração acelerou, com terror. O que, diabos, estava acontecendo? Caçadores não sequestram suas vítimas. Eles as matam, sem rodeios. Eles deviam querê-la como refém. Para trocar por... alguma coisa. E se tivessem sequestrado o Tarron, também? O pensamento a fez gelar. Oh, Nick. Ajude-me. Se, ao menos, já tivessem acasalado, conseguiria se comunicar com ele, telepaticamente. Dessa maneira,

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ele só saberia que ela estava desaparecida após o Tarron e seus homens perceberem - e quanto tempo ia demorar? Iam procurá-la, mas o seu perfume já podia ter sumido nesse meio tempo. "É uma bela cadela, essa aí", um dos homens falou, lentamente. Seu parceiro riu. "Sim. Pena que é uma sugadora de sangue." Calla inclinou a cabeça para vê-los. O primeiro orador era um homem volumoso com um corte de cabelo curto e a pele esburacada. Militar, talvez. Mais para querer ser um militar do que a coisa de verdade. O segundo homem era mais jovem, magro. Cabelo escuro, maléficos olhos escuros. Ele a lembrou um roedor. O que tinha cabelo curto cuspiu perto da sua cabeça. "Aposto que ela pode chupar isso muito bem", disse ele, pegando, de forma grosseira, sua virilha. "Vou descobrir em breve. Mas se ela morder, vou pegar um alicate e arrancar os seus dentes." A ideia a deixou enjoada. A agonia, tinha ouvido falar, era indescritível. Sobreviventes deste tipo de tortura eram forçados a se alimentar bebendo de um copo. Nunca mais podiam morder seus Companheiros, novamente. Um destino terrível. "O que você acha, querida?" Falou o cara de rato, afastando uma mecha do cabelo do rosto dela. "Pensar que você pode chupar o meu pau com nada além das suas gengivas?"

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"Calem-se aí atrás, vocês dois", o homem no banco do passageiro da frente, rosnou. "Vocês estão me deixando enjoado, colocando qualquer parte de vocês em uma vampira imunda. Deus sabe o que vocês podem pegar." Isso era irônico, considerando que os vampiros não contraem doenças e os seres humanos eram, tecnicamente, as criaturas mais sujas da terra. Aquele homem era o que tinha agarrado Calla. Não conseguia dar uma olhada nele, da sua posição. O motorista bufou uma risada, mas não acrescentou nada à conversa, se é que valia a pena. O cara de rato parecia fascinado com o cabelo dela, e continuou tocando-o. Inclinando-se para trás, tentou silvar, lançando um olhar mortal para ele. Se a sua boca não estivesse tapada com fita adesiva, teria usado suas presas para rasgar uma artéria, agora mesmo. Ele sabia disso e gostava de provocá-la diante da sua impotência. "Ooh, você quer me morder, não é, sanguessuga? O quanto você quer provar?" Seu sorriso mostrou os dentes que necessitavam, seriamente, de uma escovação. Ele cheirava mal, também. Como urina velha e cerveja. Não teria se alimentado deste pedaço de merda, nem se fosse a última fonte de sangue no planeta.

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Tentou transmitir isso com o olhar, mas a mensagem não foi percebida pelo estúpido imbecil. O cara com cabelo de militar deu um tapa no seu braço. "Mantenha esta atitude, mocinha. Essa é a maneira que nós gostamos – nervosinha." Eles continuaram a falar mais maldades, mas o zumbido entre suas orelhas, finalmente, venceu seus esforços. Os golpes anteriores no rosto dela estavam deixando-a zonza, e mal conseguia manter os olhos abertos. Devia ter caído no sono - ou melhor, desmaiado - porque a próxima coisa que percebeu foi a van fazer uma parada. Portas sendo abertas e passos rangendo no chão do lado de fora. Em seguida, foi arrastada do veículo, sem a menor cerimônia, e empurrada para a frente, sendo forçada a andar. Estava completamente escuro, mas para a visão dos vampiros, a noite não era um problema. Pode ver uma cabana modesta, apenas alguns metros à frente, e mais dois veículos. Não conseguia entender por que tantos caçadores estavam envolvidos no sequestro de um único vampiro. Não fazia muito sentido. Andando à frente dos homens, tropeçou nos degraus da varanda que levavam à cabana, cuja porta havia sido aberta diante da sua aproximação. Um outro par de homens esperava na sala de estar, dando sorrisos satisfeitos quando ela parou.

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"Quem é essa?" Perguntou um deles. Tinha o nariz proeminente, quebrado, sendo que o apelidou de Bico. "Pensei que devíamos pegar o Romanoff, em primeiro lugar." Medo obstruiu sua garganta. Eles queriam o Tarron, afinal de contas. "Uma oportunidade apareceu", disse o Rato. "Essa é apenas tão boa quanto ele, se não melhor. De acordo com a nossa fonte." "Ela vai atrair o resto da sua espécie, bem como os lobos sarnentos, para nós. Isso é tudo o que queremos." Os outros sorriram. O medo a invadiu, de novo. Ia ser usada como isca? Não. Tarron e Nick viriam por ela, mas perceberiam que era uma armadilha. Eles não se deixariam pegar em nenhuma armadilha, não importa o que esses primatas tentassem fazer. Eles a levaram por um corredor escuro, até uma porta perto do final. "Coloque-a aqui", Bico falou, abrindo-a. O cara com corte militar jogou-a no quarto sem janelas e lhe deu um sorriso selvagem. "Fique confortável, agora. Estarei de volta antes que você perceba." Um olhar maldoso disse o que sua boca não falou. Um enorme "foda-se" que desejava poder expressar. A porta bateu e ouviu o som da tranca sendo girada. Fazendo um balanço, ela olhou ao redor, na escuridão.

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Não havia nenhum mobiliário no quarto. Nenhum lixo espalhado, nada que pudesse usar para cortar a fita nos seus pulsos. Estava de pé em uma caixa sufocante e sem saída. Com as pernas trêmulas, colocou as costas contra a parede e deslizou para baixo, até que estava sentada no chão sujo. Lágrimas ameaçaram surgir, mas se recusou a ceder a elas. Não ia dar a esses animais a satisfação de vê-la chorar. Não achou que conseguiria dormir neste lugar horrível, mas a exaustão, finalmente, cobrou seu preço. Caindo para o lado, se acomodou e deixou os olhos fecharem. E perdeu a batalha para se manter acordada. *** Tarron estava quase terminando o jantar, nos seus aposentos particulares, quando o celular tocou. Pegando-o da mesa, olhou a tela. O chefe de cozinha? Por que o homem estava ligando para ele? Atendeu educadamente. "Alô, Anders. O que eu posso fazer por você?"

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"Sinto muito incomodá-lo, Príncipe Tarron", disse o chef. "Mas gostaria de saber se é para guardar um prato para a princesa. Estamos nos preparando para fechar." Ele franziu a testa, em confusão. "Não sei. Quer dizer, ela não apareceu para o jantar?" "Não, senhor. Eu até perguntei ao redor e ninguém a viu, também", disse o homem, sua preocupação óbvia. "Não é comum ela perder uma refeição e, quando isso acontece, ela sempre nos deixa saber quais são seus planos." Um arrepio de pavor percorreu a espinha do Tarron. "Vá em frente e guarde alguma coisa para ela. Basta deixar na geladeira e, quando a encontrar, aviso onde a comida está, se ela ficar com fome." "Vou providenciar isso, imediatamente." "Obrigado, Anders." Tarron desligou e, imediatamente ligou para o número da Calla. O telefone tocou várias vezes, antes que ele desistisse. Encerrou a chamada, se levantou e começou a andar para lá e para cá. Calla vivia lhe dizendo que se preocupava muito e, se ele convocasse os guardas para procurá-la, só para encontrá-la escondida em algum canto da fortaleza desfrutando de um pouco de privacidade, ela o faria sofrer por isso.

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Por outro lado, se... Rapidamente, fez outra ligação, para o chefe da sua guarda. Jareth atendeu no primeiro toque. "Príncipe?" "Descubra se alguém viu a minha irmã. Eu a vi pela última vez, esta tarde, uma hora, mais ou menos, antes do jantar. E descubra se alguém foi visto com ela." "Vou descobrir, senhor. Ligo de volta, em poucos minutos." Tarron desligou e deixou seus aposentos, correndo através dos corredores em busca da irmã. Começou pelos aposentos dela e bateu. Quando não houve resposta, usou sua chave para poder entrar, algo que nunca faria em circunstâncias normais. Levou apenas alguns segundos para verificar que ela não estava lá. Dando uma rápida olhada ao redor, viu que não havia pistas sobre onde ela tinha ido, também. Sua aposta era que ela não estava no local, absolutamente, e o pensamento o gelou. Se a Calla não estava lá dentro, nesse exato momentoNão. Não pensaria dessa maneira, ainda. Então, o telefone tocou e ele atendeu. "Jareth. Você conseguiu alguma coisa?" "Ela estava com o Graham, mais cedo", disse o guarda. "Testemunhas os viram saindo, e acho que ela planejava fazer um

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passeio. Não estava muito feliz por ele ter insistido em ir junto, parece." "E quanto ao Graham? Alguém o viu?" "Não, Príncipe. Tanto quanto sabemos, nenhum deles retornou. Já mandei vários grupos de homens para vasculhar a área." "Verifique a lagoa e a área da cachoeira. É o seu lugar favorito." " Estou indo para lá, agora, senhor." Tarron já estava correndo quando colocou o telefone no bolso de trás. Se alguma coisa acontecesse com a Calla, não ia aguentar. Pedras e terra deslizaram sob seus pés, enquanto ele voava pelo caminho, muito rápido, tardiamente percebendo que podia ter se tele transportado. Estava muito apavorado, sem conseguir pensar direito. Jareth e dois outros guardas já estavam na cachoeira quando ele chegou. Jareth e um guarda estavam agachados sobre uma forma de bruços no chão, enquanto o outro guarda mantinha vigilância. "É o Graham?" Tarron perguntou, quando parou ao lado deles. "Sim", Jareth disse, severamente. "Está vivo, mas foi gravemente ferido. Parece que foi esfaqueado." Tarron se agachou perto do guarda, que estava sangrando. Graham estava inconsciente. Tarron

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xingou, sabendo que não ia obter nenhuma resposta dele, por algum tempo. "Leve-o para a enfermaria." Os dois guardas agarraram o vampiro ferido e o tele transportaram. Jareth se levantou e caminhou pela área, com os olhos no chão. Tarron se juntou a ele, em busca de evidências que a Calla tinha estado aqui, e não demorou muito para que encontrassem alguma coisa. "Este é o telefone dela, senhor?" Perguntou Jareth. Se curvou e pegou o objeto, entregando-o ao Tarron. Desbloqueou a tela e acenou com a cabeça, o coração apertado. "Sim. Parece que ela foi levada." Foi tudo o que pode fazer para não esmagar o dispositivo na mão. "Vamos voltar para dentro e, em seguida, decidir nosso próximo curso de ação." Que seria tirar as tripas de quem tinha sequestrado sua irmã. Desta vez, teve a presença de espírito de se tele transportar, e apareceu, segundos mais tarde, no seu escritório. Sua cabeça esfriou, e fez mais uma chamada. Nick atendeu no segundo toque. "Tarron, o que posso fazer por você?" "Comandante, parece que estou sendo forçado a pedir a ajuda da sua equipe, muito mais cedo do que tinha planejado."

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Instantaneamente, o lobo ficou alerta. "O que aconteceu?" "É a Calla", ele grunhiu. "Ela foi sequestrada." Houve um momento de silêncio. Em seguida, "Estou a caminho." *** Botas soaram na pedra, toda a equipe do Nick em seus calcanhares,

enquanto

marchavam

em

direção

à

sala

de

conferências do Tarron. O príncipe tinha enviado sua guarda para eles, pelo que era grato. Quanto mais rápido chegassem, mais rápido podiam encontrar a Calla. O medo quase o esmagou, mas não cederia. Tê-la de volta era a única coisa que importava. Podia desmoronar, depois. Quando ela estivesse a salvo. Dando apenas uma batida rápida, abriu a porta e caminhou para dentro. Sua equipe entrou e tomou lugares ao redor da sala, ninguém se preocupando em se sentar. Os guardas do príncipe ocupavam os espaços na grande mesa, de qualquer maneira, não que se importasse. "Nick, todos vocês, obrigado por terem vindo", Tarron começou. Seu rosto estava tenso com o estresse, a boca apertada em uma linha sombria.

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"Não poderia estar em qualquer outro lugar." "Eu sei", disse o Tarron, suavemente. O vampiro sustentou seu olhar, por um momento - e Nick percebeu que aquilo significava que ele sabia. Tarron sabia, exatamente, o que a Calla significava para o Nick, embora não dissesse isso para a sala, em geral. Agora não era o momento, nem o lugar. Nick foi direto para a crise iminente. "Alguém já reivindicou a responsabilidade pelo seu rapto?" "Ainda não." "Você está esperando alguém dar um passo adiante?" Perguntou. "É possível. Caçadores não fazem prisioneiros, como regra." "Como você sabe que foram caçadores?" Tarron disse: "Porque um dos meus guardas, o Graham, estava com ela, no momento. Eles estavam na beira lagoa, quando os seres humanos os surpreenderam. Apenas alguns momentos atrás, ele foi capaz de dizer isto ao Dr. Archer, que repassou a informação para nós." "Ok", Nick disse, pensativo. "Se os caçadores levaram um prisioneiro, o que quase nunca fazem, então, o que acontece em

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seguida? Dinheiro para o resgate? Algum tipo de benefício político?" "Meu palpite é que estão atrás de dinheiro. Sem falar na emoção de ter um vampiro proeminente à sua mercê", disse o Tarron, com raiva. "Dinheiro e pura brutalidade, então." Podia imaginar o que estavam fazendo com a sua bela vampira, e empurrou os pensamentos para fora da cabeça. "Precisamos nos mexer. Vou levar metade dos meus homens e vamos rastrear o cheiro dela, bem como os filhos da mãe que a levaram." A expressão do Tarron era de gratidão. "Nesse meio tempo, vou-" Em cima da mesa, o telefone do príncipe tocou. Todo mundo ficou em silêncio, enquanto ele o verificava. "É uma mensagem, vinda de um número bloqueado. Parece um link para um site." "Isso é tudo?" Perguntou Nick. "Posso ver?" Tarron lhe entregou o telefone e o Nick clicou no link, o que era, apenas, uma série de letras e números que não significavam nada. O dispositivo mudou para o navegador da Internet e o site apareceu na tela. Ele franziu a testa.

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"É uma sala vazia, exceto por uma cadeira colocada bem no meio do pavimento." Virando o dispositivo, Nick mostrou a tela para o príncipe. Tarron olhou para a foto por cerca de dois segundos, depois se virou para um dos seus homens. "Vou pegar o laptop no meu escritório. Traga o Teague aqui, para gravar isso e executar um rastreamento." "Sim, Príncipe." O homem saiu correndo e o Tarron desapareceu. Nick e os outros se remexeram, inquietos, até o Tarron voltar, alguns minutos depois, com o laptop. Olhando para o celular, Tarron digitou o link do site e o carregou. A sala misteriosa na tela ainda era ocupada, apenas, pela cadeira. Mas não por muito tempo. Vários homens entraram em foco e um deles empurrou a Calla, duramente, na cadeira. Ela tropeçou e quase caiu, as mãos amarradas atrás das costas; em seguida, se endireitou e se sentou sobre ela, como ordenado. Seu olhar falava muito sobre o que faria se estivesse livre e fosse capaz de falar, mas sua boca estava selada, também. Nick, silenciosamente, aplaudiu sua coragem, mesmo quando o terror o agarrou de novo. "Se apresse com esse rastreamento", Tarron se virou para o homem especializado em tecnologia enquanto o cara corria para

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dentro da sala. Cabos foram conectados ao laptop, em seguida, no outro computador, que o Teague tinha trazido para executar o rastreamento. Nick não sabia como ajudar nessa parte, então manteve sua atenção no que estava acontecendo com a Calla. Os caçadores prenderam seus tornozelos na cadeira com mais fita, em seguida, se moveram para trás dela, para fazer o mesmo com os pulsos, nas costas da cadeira. Em seguida, saíram e ela ficou sozinha na tela, por alguns minutos. Para fazê-la perder o controle, adivinhou. E nós, também. Eles querem que a gente sofra junto com ela. Uma

figura

alta,

finalmente,

se

moveu

lentamente

no

enquadramento. Qualquer esperança de identificação desvaneceu quando se virou para encarar a câmera, e foi revelado que estava completamente envolta de preto, da cabeça aos pés. Nada à mostra, nem mesmo os olhos. "O fodido está usando uma daquelas máscaras de malha", um dos guardas falou. "Ele pode ver o lado de fora, mas não podemos ver o que está dentro." Nick tentou estimar sua altura, mas, sem outro ponto de referência, a não ser a Calla sentada perto dele, era difícil dizer. Um metro e oitenta ou um pouco mais, talvez. O manto negro escondia sua forma, também.

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"Vocês estão assistindo? Príncipe Tarron e Comandante Westfall, penso que vocês vão achar esta apresentação, particularmente, interessante." A voz, enganosamente calma, do homem foi um choque, quebrando o silêncio na sala de conferências. A voz

foi distorcida

eletronicamente, o que teve, exatamente, o efeito pretendido – gelou o Nick e todos os que estavam na sala, completamente. "De alguma forma, ele sabe sobre você e a Calla", disse o Tarron, baixinho, para o Nick. Trocaram olhares inquietos e voltaram os olhares para a tela, novamente, quando o filho da puta disfarçado, continuou. "Se não tenho sua atenção, agora, vou ter, em breve." Fez uma pausa. "Vocês não têm ideia de como sofri por causa das suas ações. De todos vocês." "Do que, diabos, ele está falando?" Perguntou Tarron, a voz rouca. Nick balançou a cabeça. Não tinha ideia. "Como posso fazê-la sofrer? De quantas maneiras posso fazê-la sangrar?" "O rastro”, Nick rosnou para o Teague. "Você conseguiu?"

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O técnico bateu o punho na mesa. "Eles têm um endereço IP bloqueado. Droga!" Aproximando-se da Calla, a figura se inclinou, colocando a frente da máscara perto do pescoço da Calla. Em seguida, levantou a máscara, apenas o suficiente para expor seu queixo e a boca e, então, ele a mordeu, enterrando as presas na sua carne. Ela gritou, se arqueando contra as amarras. Vampiro. Nick ficou parado, os punhos cerrados, o lobo acordando dentro dele, pedindo para ser liberado. A raiva fervia e precisava, desesperadamente, arrancar o coração do bastardo por se atrever a tocar sua mulher. Para colocá-la sob a mesma tortura que o Nick tinha sofrido nas mãos do Carter. Estava vagamente consciente do Tarron gritar sua raiva para o monitor. Mas, quando uma faca fina deslizou da manga do manto do assaltante, seu sangue gelou. "Nossa doce princesa não vai se curvar à minha persuasão. Talvez, isso vá lembrá-la de quem está no comando, por aqui." Estendendo a mão, arrancou a fita da sua boca. "Vamos deixar eles ouvirem você." Sem aviso, mergulhou a lâmina na parte superior da sua coxa. Calla gritava em agonia, a cabeça jogada para trás. E o Nick não aguentou mais.

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Saiu correndo da sala, deixando a fortaleza. Correu direto para a lagoa, o último lugar no qual ela tinha sido vista. Uma vez lá, tirou a roupa e se transformou, e não perdeu tempo em farejar toda a área até captar o cheiro dela. O encontrou em uma pedra, e seu doce aroma quase o deixou de joelhos. Ia buscá-la e, então, era melhor aquele bastardo ter cuidado. "Nick!" John chamou. Virando-se, viu sua equipe correndo pelo caminho que tinha vindo, o John na liderança. Quando chegaram até ele, o homem enorme parou e mostrou uma carranca para ele. "Você não vai fazer isso sozinho", falou para o Nick. "Sugiro que metade de nós o ajude a rastreá-la por via terrestre. A outra metade deve voltar para o complexo e pegar o transporte aéreo, pois não podemos, sempre, contar com os vampiros para nos levar onde precisamos ir. Ryon vai com o grupo em terra para poder comunicar onde você está, para o resto da equipe, para poderem se encontrar com a gente. Parece bom?" Frustrado consigo mesmo, Nick assentiu. Devia ter pensado na sua equipe, mas, em vez disso, tinha ido disparando na frente. Eles não podiam se organizar se o seu líder não conseguisse manter a cabeça no lugar. "Tudo bem", disse John ao grupo. "Que tal, eu, Ryon, Kalen, Micah, e o Jax, irmos com o Nick? O resto volta para o complexo e fica

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preparado para um resgate. Eles podem o levar Tarron, se ele quiser. Será que funciona?" Os outros concordaram, parecendo um pouco impressionados com o homem que era, normalmente, tranquilo. Nick conhecia a sua personalidade verdadeira, e o John, realmente, não era tão tranquilo ou tímido. Simplesmente, se sentia muito mais confortável tomando as rédeas, agora, que a sua identidade não era mais um segredo e não sentia que tinha que se manter escondido. Foi bom ver esse lado do seu velho amigo que estava adormecido, por anos. Aqueles que iam voltar para os helicópteros, partiram. O resto começou a tirar as roupas para se transformar, exceto o Kalen, que, por ser um Feiticeiro, não precisava tirar a roupa para se transformar na sua pantera. Sortudo. Mas era bom tê-lo por perto quando o resto deles precisava voltar à forma humana e tinha deixado suas roupas para trás. Sua magia também já havia salvo suas bundas de mais maneiras do que o Nick conseguia contar. Uma vez que o grupo tinha se transformado, se juntaram a ele na rocha, para gravar o cheiro dela nos seus cérebros. Haviam outros aromas, também, mas aqueles, o Nick não reconheceu. Em um ponto, havia sangue no chão, e o farejou. Este cheiro, provavelmente, pertencia ao guarda que tinha sido ferido. Ele e a equipe guardaram esta informação, também. A partir da rocha, seguiu os aromas da Calla e dos seus captores em toda a área aberta e no caminho que se afastava da fortaleza. A 170


trilha os levou à uma estrada de terra, há vários quilômetros de distância, onde haviam marcas de um veículo desconhecido que tinha chegado, manobrou e partiu, novamente. Lá, os aromas foram drasticamente reduzidos. Eles a tinham levado no carro. Podia ter uivado sua raiva, mas se obrigou a manter o foco. Esforçando-se mais do que já havia feito, Nick correu. Correu e correu, hora após hora, sua equipe o acompanhando. Embora, eventualmente, tenha ficado cansado, parou, apenas, para permitir que sua equipe tomasse água dos rios e lagos que encontraram. Tinha que encontrar a Calla, e se recusava a pensar que já podia ser tarde demais. E fez um juramento, se ela fosse poupada, ele amadureceria e criaria um par de bolas. Ia ser um Companheiro com o qual ela pudesse contar e ter orgulho de chamar de seu. Ou morreria tentando.

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CAPÍTULO 07

Se tinha um lugar em seu corpo que não doía, não conseguia localizá-lo. Calla caiu contra a parede do pequeno quarto, que imaginava ser o seu caixão. Fraqueza percorria os seus membros e sua visão estava embaçada. Não conseguia mais enxergar muito bem, mas sua audição ainda estava boa. Ouviu o tamborilar da chuva do lado de fora da cabana, escorrendo para fora do telhado e caindo no chão. Ploft, ploft, ploft, ploft. Parecia sua vida inteira tiquetaqueando suas horas e minutos finais. Também podia ouvir os bastardos na outra sala, rindo sobre o que mais o seu chefe tinha reservado para ela. Mais drenagem do sangue dela, mais cortes no seu corpo. Talvez uma surra, ou duas, jogadas na mistura.

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"É melhor aquela vampira mesquinha me deixar foder sua boceta antes de mandá-la para o inferno", o pretenso milico falou, de algum lugar dentro da cabana. "Acha que ela ainda é gostosa e apertada, depois de alguns séculos?" Este foi o cara de rato. "É melhor ela ser, ou eu vou esfolar o seu couro inútil com a minha faca." Tremendo, se encolheu e colocou os braços em volta de si mesma, tentando se tornar menor. Conservar o calor. Isso era mais fácil de fazer, já que tinham removido a fita adesiva dos seus pulsos, embora não ajudasse muito. Era tão frio e úmido o quarto sepulcral - ou podia ser uma sensação causada pela perda de sangue. O vampiro ia voltar, em breve. Havia algo ligeiramente familiar na voz do bastardo doentio escondido sob a roupa preta, mas não conseguia ter certeza. Será que, realmente, importava se ela o reconhecesse? Nick e o seu irmão iam descobrir a identidade do vampiro e fazê-lo pagar pelo que tinha feito. Mas já poderia estar morta, até então. Mesmo tão triste quanto tinha sido nos últimos anos, não estava pronta para desistir. E não merecia ter sua vida tomada por algum megalomaníaco, com uma ideia distorcida de vingança. Parecia pensar que o seu irmão e os seus aliados deviam saber o que seus

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atos significavam. Fosse o que fosse, o vampiro tinha raiva do passado - estava alienado por uma emoção que era muito mais profunda que a raiva. Não tinha sido capaz de identificar o que podia ser, mas a forma fria e metódica com a qual foi capaz de ministrar sua tortura era assustadora. Na outra sala, a chegada do vampiro sinalizou para o pretenso milico e o rato finalizarem a especulação sobre todas as coisas desagradáveis que fariam com ela. Cadeiras rasparam o chão quando, aparentemente, ficaram em prontidão, em deferência a ele. "Leve-a para a sala de vídeo, novamente." Foi tudo o que disse, como se não tivesse emoção nenhuma. Mas ela conhecia as coisas. Ouviu a tensão, sentiu uma mudança no ar. Estava na sua voz, um certo tipo de excitação ou antecipação. Não era prazer, não importa o que alegasse. A tortura da Calla era um meio para um fim, percebeu. Isso o tornava o inimigo mais perigoso de todos. Com um objetivo para seguir e nada a perder em fazê-lo. Os dois principais lacaios do vampiro abriram a porta e aquele com cabelo de militar a agarrou pelo braço, arrastando-a para fora. Se esforçou para acompanhar sua passada, longa e rápida. "Maldita vergonha", ele murmurou. "Nada de desperdício, eu digo. Mas é ele que está no comando."

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Isso a gelou até a medula dos ossos. Estava prestes a morrer, então. Tarron e o Nick podiam estar procurando, mas não iam encontrá-la a tempo. Era isso. Lágrimas se acumularam em seus olhos, mas se recusou a deixálas cair. Pensou nos irmãos, a quem tanto amava. Com o Adrian fora, vivendo sua própria vida, Tarron tinha sido sua rocha por muito tempo, antes mesmo dos seus pais terem sido mortos. Era o melhor homem que conhecia, até que o Nick apareceu. Como era injusto que fosse tão sortuda por encontrar um segundo Companheiro verdadeiro, só para ter qualquer chance de felicidade arrancada do seu alcance. Com um estalo, percebeu que, para o Nick, seria a mesma coisa - perderia uma segunda Companheira sem ter experimentado tudo o que podia ter sido. Isso fez com que se decidisse. Ia aguentar o máximo de tempo possível, pelos seus irmãos e pelo homem que poderia amar, se tivesse a chance. Seu corpo inteiro tremeu quando eles a puxaram para dentro da sala de horrores, até uma mesa de aço que havia sido trazida para dentro. Ficou parada do lado dela, desejando, com todo seu coração, poder se tele transportar. O grilhão de ferro era pesado em torno do seu pescoço, sua sentença de morte. "Tire as roupas", disse a figura encapuzada.

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Olhou para ele, processando as palavras horríveis. "O quê? Não." "Eu disse, tire." O tom foi mais ameaçador. "Você não tem escolha." Bufando, ergueu o queixo. "Faça você mesmo, covarde. Vai me matar, de qualquer jeito, então não vou fazer nada que você disser." Mais rápida do que ela conseguia piscar, sua mão disparou, uma faca de prata brilhando. Com uma mão, agarrou a frente da blusa, em seguida, usou a outra para cortar o tecido. Que se separou como se fosse manteiga, então arrancou a camisa do seu corpo. O sutiã foi sujeito ao mesmo tratamento. Sua garganta ardia com vergonha, humilhação. Lágrimas não derramadas nunca doeram tanto, mas ainda se recusava a lhes permitir essa liberdade, mesmo quando a calça e a calcinha seguiram o mesmo caminho. Ele foi descuidado, em sua impaciência, e a lâmina deixou alguns cortes rasos em sua pele. Estupidamente, observou que, como os outros, estes não estavam curando apropriadamente. "Ela não é uma beleza?" O cara de rato disse, então, assobiou entre os dentes. "Cala a boca", disse o vampiro, friamente. "Ou eu vou cortar a sua língua estúpida."

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Isto não era sexual, então. Era sobre expor sua vergonha para a família e para os lobos que eram seus amigos. Para mostrar que era superior e não hesitaria em tomar o que queria, deles. O que ela não sabia era a sua motivação. "Por que você está fazendo isso?" Perguntou, com voz suave. "Como nós te machucamos para você fazer isso comigo? Com o meu irmão?" "Coloque-a sobre a mesa." O vampiro permaneceu imóvel enquanto os caçadores obedeciam e não respondeu à sua pergunta. Ela, realmente, não tinha acreditado que ele faria isso, mas esperava que estivesse com raiva dela, o suficiente, para cometer um deslize. Logo, estava deitada de costas, e a queimação começou. Ombros, braços, costas, pernas, panturrilhas, pés. Quente, como se estivesse sendo escaldada, o que era, precisamente, a verdade. "A mesa é de prata!" Gritou, forçando as amarras. "Me solte!" Sua pele chiava como se estivesse assando sobre uma chama acesa. Mal ouviu a ordem para iniciar a transmissão do vídeo. Em seguida, a lâmina brilhou, a figura de preto se inclinando sobre ela. O corte começou pela parte macia do seu abdômen. Cortes que não fariam mal se a lâmina não fosse de prata. A pele se separou,

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calor rolando pela sua barriga, deslizando pelas suas laterais. Suas coxas foram as seguintes. Ela se contorcia, lutando para controlar a dor, para encontrar algum lugar para ir, em sua mente, longe da tortura. Mas a paz estava longe de ser encontrada e perdeu a batalha pelo silêncio. Seus gritos ecoaram pelas paredes. No seu cérebro. Não era nada além de sangue e ossos, e terror. Seu corpo estava sendo queimado vivo. Sua vida, roubada, centímetro por agonizante, centímetro. Célula por célula. Então, de repente, houve um uivo, um barulho repetitivo de batidas. O som de uma porta explodindo para dentro, sendo arrancada das dobradiças e batendo na parede. Rosnados e gritos. Virando a cabeça, piscou através do suor e da visão turva. Xingando, o vampiro desapareceu em um redemoinho de vestes negras. Os caçadores humanos, que deixou para trás, não tiveram tanta sorte. Um lobo branco liderou o ataque na sala de vídeo, e o cara de rato foi o primeiro alvo infeliz da sua raiva cega. Nick. Se lançou sobre o peito do homem, rapidamente, derrubando-o no chão. O grito do cara de rato foi interrompido quando o lobo branco estraçalhou sua garganta.

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Calla não se preocupou em olhar para longe da carnificina. Os caçadores estavam recebendo o que mereciam, e ela morreria sabendo que a justiça tinha sido feita. Iam pegar o vampiro camuflado, também. Tinha certeza disso. Com um suspiro, fechou os olhos, cansada demais para gritar por mais tempo. Acabou. Não conseguia nem ficar envergonhada por estar nua e amarrada na frente dos homens do Nick. A dor havia diminuído para um pulsar. O choque a acertando como um falso alívio. "Calla? Baby?" O Nick gritou, com voz rouca. "Abra os olhos, querida." As amarras foram cortadas, a tensão desaparecendo dos seus pulsos e tornozelos. Braços fortes a levantaram, levando-a para fora da sala. Foi colocada em algo muito mais suave. O sofá. "Você me encontrou." Tentou sorrir. "Encontrei." Um beijo quente tocou seus lábios. "Sempre vou te encontrar. Aguente por mim, ok?" "Casa." "Sim. Vamos te levar para casa, e você vai ficar bem", disse ele, com a voz embargada.

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"Tentei. Muito. Não queria morrer." Era importante que ele soubesse disso. "Você não vai. O Tarron e o resto da minha equipe estão no caminho certo, agora. Estão quase aqui, então quero que você se concentre na sua respiração." Sua mão grande acariciou o cabelo encharcado de suor. "Apenas, respire." "Tentando." "Você consegue", ele sussurrou, beijando-a na testa. "Continue tentando." "Não vai me deixar?" "Não. Eu não vou a lugar algum." "Bom." Depois disso, começou um zumbido nos seus ouvidos. Podia ver que o Nick continuou falando com ela, mas não tinha ideia do que estava dizendo. Houve mais atividade e, então, a voz do Tarron a alcançou, exigindo que ela aguentasse. "Mandão", murmurou. Ou achou que o fez. Em seguida, sentiu a breve sensação do tele transporte, embora pudesse ter sido a sua imaginação. Mas, agora, o Tarron estava gritando e estava sendo levada, às pressas, em uma corrida louca, 180


por um longo, enorme corredor. Podia ouvir os passos das botas sobre as pedras. Casa. Estava em casa. Não precisava abrir os olhos para saber. Aguente. Ia tentar. Pelos seus irmãos. Pelo Nick. *** A imagem estava gravada a fogo no cérebro do Nick. A Calla, se contorcendo sobre a mesa. Gritando até ficar rouca, coberta de sangue. O cheiro da carne queimada. Provou o sangue do caçador e sua equipe tinha terminado o resto. Foi uma pobre retribuição, na sua opinião. Queria capturar o vampiro bastardo e amarrá-lo na mesma mesa. Em seguida, rasgar sua carne, pedaço por pedaço. Iria arrancar seu coração, ainda batendo, e banquetear-se com ele. Agora, porém, seu único foco era a Calla. Pediu a ela para aguentar até o Tarron chegar, e estava orgulhoso dela, por lutar tão arduamente. Era mais forte do que qualquer outra mulher que tinha conhecido. Kalen usou sua magia para cobri-los, ao Nick e à sua equipe, com roupas. Seus talentos não se estendiam para a cura, no entanto, e 181


o Zan ainda estava sob ordens estritas para não tentar algo tão sério. Foram forçados a se restringir ao tipo de ajuda que o Dr. Archer podia fornecer para ela, na fortaleza. O horror e a raiva absoluta do Tarron, se assemelhava à do Nick, quando entrou correndo pela porta da frente com a equipe do Nick. "Calla", ele gritou, caindo de joelhos ao lado do sofá esfarrapado. Sem desperdiçar um segundo com palavras inúteis, agarrou tanto sua irmã quanto ao Nick. "Segure-se em mim." O tele transporte era, geralmente, desorientador, mas desta vez, Nick nem percebeu. Em segundos, apareceram no corredor que o Nick lembrou que levava até a área hospitalar do clã. A aterrissagem do Tarron foi um pouco dura, mas, pelo menos, estavam lá. Nick pegou-a nos braços e correu para a entrada da enfermaria. "Viktor!" Tarron gritou. "Viktor!" Nick irrompeu pelas portas duplas, e o jovem médico vampiro correu para encontrá-los. Seus olhos se arregalaram em alarme quando viu a Calla e observou sua condição se deteriorar, rapidamente. "Por aqui", ele ordenou. Então os levou ao que o Nick adivinhou ser a versão deles de uma sala de operações. "Em cima da mesa, de lado. Com cuidado."

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Esta mesa era acolchoada, ao contrário do dispositivo de tortura sobre o qual estava deitada, antes. Tarron ajudou o Nick a acomodá-la e recuou, parecendo devastado. Desamparado. Viktor examinou os cortes superficiais no corpo dela. "Lâmina de prata. Isto foi feito para sangrar lentamente. Também tem alguns hematomas de uma surra, aparentemente. Seriam facilmente tratados, mas..." Caminhando ao redor da mesa, prendeu a respiração quando viu suas costas. Nick engoliu em seco, e o Tarron gemeu. Sua pobre pele estava vermelha, com bolhas e mais bolhas, como se tivesse sido frita em óleo. "Isso é ruim", disse calmamente. "Se curaria sozinha se não estivesse tão enfraquecida. Seu corpo não será capaz de sobreviver a isso a não ser que ela se alimente. Mesmo assim, está muito fraca para fazer isso por conta própria. Precisa ser alimentada por um tubo." Envergonhava o Nick até o âmago que estivesse aliviado. Queria ser um bom Companheiro para ela e deixar seus medos para trás, mas a ideia de deixá-la mordê-lo, ainda o fazia estremecer. Isso, no entanto, podia fazer. "Tome o meu sangue", disse ao médico. "Sou o melhor candidato que você tem para curá-la rapidamente."

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"Como assim?" Viktor franziu a testa. "Porque ela é minha Companheira." Seu tom de voz era convicto e não admitia discussão. O médico olhou para o Tarron, que assentiu. "É verdade. Tudo isso pode ser abordado mais tarde, mas, por agora, basta fazer o que deve ser feito para salvá-la." Nick ficou grato pelo Tarron saber que ele e a Calla eram Companheiros. Os olhos do Viktor eram afetuosos e compreensivos. "Vou fazer tudo em meu poder, Sua Alteza. Agora, preciso tirar sangue do Nick. Espere lá fora, por favor, e ele vai acompanhá-lo, em alguns momentos." Uma enfermeira deu um passo adiante e, gentilmente, tocou o braço do Tarron. Nick não tinha notado sua presença, antes, tão focado estava na Calla. Com hesitação em seu rosto, Tarron permitiu à enfermeira levá-lo do quarto. Então, Nick estendeu o braço. "Tire o quanto precisar. Pegue tudo, se isso significar a diferença entre a vida e a morte." "Sua oferta é generosa", disse o médico, com um olhar compreensivo. "Mas, como vocês são companheiros, não será

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necessário. Seu sangue será muito mais potente, com os anticorpos de cura, do que qualquer outra pessoa no mundo. Enfermeira?" Outra enfermeira amarrou uma faixa de borracha em torno do braço do Nick. Então, encontrou uma veia boa, deslizou uma agulha nela e encheu vários frascos grandes com sangue. A cabeça do Nick girou um pouco, no momento em que ela terminou, mas ele mal percebeu. Tinha falado sério. Calla era a sua única preocupação. Com a Calla deitada de lado, a enfermeira inseriu uma intravenosa e, em seguida, enganchou os frascos em um poste ao lado da cama e, então, o sangue do Nick começou a fluir para a sua veia. "Pensei que você tinha dito que ela seria alimentada por um tubo?" "Também. A alimentação intravenosa é uma garantia extra." Estava focado naquilo. Um tubo foi inserido na sua garganta e ele estremeceu, imaginando se, no fundo, ela sentia qualquer dor ou desconforto por conta disso ou das queimaduras nas costas. Ela estava fria, então acreditava que não. "Ela já está respirando mais facilmente", Viktor observou. "Graças a Deus." Fechou os olhos por alguns instantes. Quando os abriu de novo, uma enfermeira estava passando uma pomada branca sobre cada parte da Calla que tinha tocado a mesa de prata. Incluindo suas nádegas. O lobo do Nick resmungou, mas foi

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acalmado pelo conhecimento de que a pessoa que a tocava era mulher, e tinha apenas a sua cura em mente. Mesmo que o médico tivesse as mesmas intenções, Nick duvidava que o lobo teria dado a um macho a mesma folga. Boa jogada por parte do doutor. Calla ainda estava pálida enquanto terminava de limpá-la e colocava uma bata de hospital nela, então, a colocou em uma cama fresca com lençóis limpos. Seguiu-os quando a levaram para um quarto vazio. "Você devia ficar lá fora, com o Tarron", disse o médico. "Sim, bem. Você vai descobrir que nunca vou seguir ordens, quando a minha Companheira estiver em causa, exceto quando se tratar do seu bem-estar e segurança imediata. Só para você saber." "Entendo. Só não atrapalhe os meus cuidados e nunca teremos problema." "Não atrapalharei." Isso nunca aconteceria em um hospital humano, mas o mundo deles não era normal, nem de perto – se é que "normal" sequer existia. O mundo paranormal era assustador, muitas vezes brutal. Companheiros eram um presente e nada tinha autorização de interferir com esse vínculo. Nada.

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Com um aceno de cabeça para o Nick, Viktor e a enfermeira o deixaram ficar com a Calla. Ia procurar o seu irmão, em poucos minutos. Neste momento, se contentava em ficar sentado aqui, segurar a mão dela, e observar. Se certificar que cada respiração continuava a ficar mais fácil do que a anterior. Que suas bochechas estavam rosadas e não estava mais às portas da morte. Era um lobo de sorte. Quase perdeu a Calla, hoje. Seu novo sopro de vida. A razão pela qual ficaria feliz em acordar todos os dias, a partir de agora, e aceitá-la. Uma determinação mortal atingiu seu estômago. Ia encontrar e destroçar o vampiro que tinha feito isso. Não importa quanto tempo levasse. Nesse meio tempo, estava fazendo jus à promessa que tinha feito para si mesmo. Ia se resolver, de uma vez. Calla merecia um Companheiro perfeito. Não, não era perfeito e nunca seria. Mas estava se apaixonando pela Calla Shaw. *** Calla despertou lentamente.

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Ouviu os sons ao seu redor, sem saber o que fazer com eles. Eram ruídos suaves - bipes, um falatório em algum lugar próximo, uma respiração estável. A conversa entre duas pessoas que não soavam como os seus captores. Na verdade, a voz masculina parecia com a do Viktor. Estou livre? Em casa? Pedaços e fragmentos voltaram. Nick e sua equipe chegando na cabana, como lobos. O lobo branco liderando o grupo e dizimando o humano no seu caminho. Tentando chegar até ela. Estava deitada em uma cama confortável, percebeu. A equipe de resgate havia conseguido. Podia ter chorado de alegria ao perceber isso, mas não tinha energia. Preparou-se para abrir os olhos e determinar a origem da respiração e descobriu que vinha do Nick, dormindo em uma cadeira ao lado da cama. Seu Companheiro devia estar exausto. Seu peito subia e descia de forma uniforme, o corpo e os membros largados em uma posição desconfortável. Haviam manchas escuras debaixo dos seus olhos e suas roupas estavam amarrotadas. Não quis acordá-lo. Ela o observou por um tempo, e quando o fez, emoção cresceu em seu peito e continuou a aumentar. Ele tinha ido atrás dela, assim como sabia que iria. Não esperava sobreviver tempo suficiente para vê-lo novamente, mas nunca teve dúvida que ia encontrá-la.

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Nick mudou de posição na cadeira e se esticou, com um gemido. Tentou trabalhar as juntas, girando a cabeça sobre o pescoço e arqueando as costas. Em seguida, finalmente, abriu os olhos e olhou diretamente nos dela. "Você está acordada", disse ele, levantando, imediatamente, da cadeira para agarrar a mão dela. Seu rosto estava ansioso. Assombrado. "Como você se sente?" "Dilacerada", admitiu. "Mas, no geral, muito melhor do que na última vez que estava consciente. Não dói tanto e minha mente está bem clara." "Graças a Deus." Erguendo sua mão até os lábios, beijou as costas dela. "Você me deu um susto." "Desculpe." "Não. Sou eu quem tem que pedir desculpas", disse, calmamente. "Isto é tudo culpa minha. Se eu tivesse criado coragem, em primeiro lugar, você não teria sido capturada. Perdoe-me, por favor." Aquela tortura naqueles olhos azuis escuros. Dor. Ele não estava bem. "Nick, você não é responsável pelo que aqueles animais fizeram. Nem você, meu irmão, ou mais ninguém, apenas aqueles bastardos e o monstro para o qual trabalham. Não vamos colocar a culpa em

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qualquer outro lugar, mas apenas onde ela pertence, diretamente, tudo bem? Porque enquanto estamos todos sentados, remoendo isso e sofrendo, eles estão no controle." Depois de um momento, ele lhe deu um sorriso hesitante. "Tenho uma mulher inteligente como Companheira. Tenho sorte." "Então você, realmente, reconheceu?" Seu coração pulsava com excitação. "Sim, Calla." Inclinando-se, roçou os lábios nos dela. "Nós somos Companheiros. Me desculpe, não ficar para falar sobre isso com você, antes, na cachoeira. Sou seu, tanto quanto você é minha. Sinto isso, assim como o meu lobo, também." Inspirando instavelmente, ela balançou a cabeça. "O que vamos fazer, agora?" "Bem, Companheiros são, quase sempre, mais fortes juntos do que separados. Sugiro que eu permaneça aqui com a minha equipe, enquanto estamos lutando contra esta nova ameaça para o seu clã. Levaremos o tempo que precisarmos para consolidar a nossa ligação. Então, quando as coisas se acalmarem, podemos decidir onde viveremos." A última parte fez com que prendesse a respiração. Um deles teria que se afastar da família e dos amigos. Calla, ou um guarda, podia tele transportar o Nick de um lado ao outro, para trabalhar no

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complexo da Alpha Pack, mas, provavelmente, ele tinha que morar no local. Isso significa"Você está pensando muito." Sorrindo, deslizou um dedo pelo seu rosto. "Um passo de cada vez, ok?" "Parece que é a melhor solução." Tentou relaxar. "Então, quando você vai me arrebatar para fora daqui?" "Paciência, baby. Você acabou de acordar, depois de um susto muito sério, e o médico precisa checar você antes que eu possa levá-la de volta para os seus aposentos, para ficar em repouso absoluto. Sem argumentos." "Você é muito durão, Comandante", ela brincou. "Não se esqueça disso." Ele fez uma pausa, ficando sério, novamente. "Preciso perguntar. Eles te tocaram, sexualmente?" A última palavra saiu baixa, como se ele tivesse se esforçado para ela sair. "Isso não estava na agenda do líder. Os caçadores planejavam isso, entretanto, mas nem tiveram chance. Você me salvou antes que isso acontecesse." Ele praticamente desabou, aliviado. "Ok. Sinto muito. Só tinha que saber. Se tivessem, queria ter certeza que você teria ajuda. Aconselhamento, alguma coisa."

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"Obrigada. Mas não aconteceu, então quero que você esqueça essa parte. Tenho uma pergunta, contudo." "Tudo o que você precisar saber." "Será que você e o Tarron..." Engoliu em seco, afastando o pavor diante da próxima resposta. "Você viu os vídeos do q-que fizeram comigo?" Seus olhos azuis escureceram com raiva. Sofrimento. "Sim. Sinto muito. Corri para fora, para começar a procurar você enquanto aquele monstro a estava torturando, da primeira vez, mas assisti o resto das gravações com o Tarron, há pouco tempo." "Por quê?" Ela sussurrou, a vergonha voltando a lhe dominar. Sua resposta foi suave. "Para ver se podíamos obter qualquer pista através das gravações." "Pistas? Vocês não capturaram o vampiro? Ele está morto?" "Não", disse, a voz traindo sua frustração. "Escapou." Essa notícia a encheu de terror. "Alguma ideia de quem ele seja?" "Ainda não. Mas vamos descobrir, e quando o fizermos, vai morrer. Dolorosamente." Parecia tão feroz, que ela teve que dar um pequeno sorriso.

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"Vou torcer por isso, quando pegá-lo." "Companheira Sanguinária." "Literalmente." Nick empalideceu. Ela deve ter dito algo de erradomerda. "Não sou um perigo para você, ou para qualquer um com o qual me importo. Nunca poderia machucá-lo, nunca. Por favor, acredite em mim." "Eu acredito. É muito difícil para mim esquecer o que o Carter me fez passar e seguir em frente." Ele balançou a cabeça. "Acredito em você. Em você. Só tenho que superar a merda que ele deixou na minha cabeça, e vou fazê-lo." "Essa é uma boa atitude, mas não se apresse", aconselhou. "Ele o deixou com um terrível trauma. Isso não é algo que uma pessoa, apenas, passa, como se tivesse pego um resfriado." "Vampiros não pegam resfriados?" "Não, e pare de tentar me distrair enquanto estou ralhando com você." Ela franziu a testa para ele, e ele riu. "Eu nunca faria isso. Estou olhando para a frente, para a eternidade, ouvindo a minha bela Companheira." "Ha! Você vai ouvir, mas vai acatar o que eu digo?"

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Ele arqueou uma sobrancelha escura. "Se é do nosso interesse como Companheiros, sim. Se eu sentir que você está, claramente, errada, então não." "Já vejo como isso vai ser." Suspirou. "Isso é o que você ganha por se juntar com o Alfa dos Alfas. Você não aceitaria carne de segunda." O sorriso dele disse que estava curtindo, muito, a sua pequena discussão. "Bom Deus", ela murmurou, revirando os olhos. Gostava da sua provocação, também. "Tirem-me daqui, por favor? Se eu tenho que descansar, prefiro fazê-lo na minha própria cama." "Qualquer coisa para a princesa."

Seu tom de voz quando disse: "princesa" não continha zombaria, mas sim, uma leve provocação, por isso, deixou passar. Pouco tempo depois, foi liberada com instruções específicas para descansar por, pelo menos, dois dias. Então, o Nick a sentou em uma cadeira de rodas, sem dar ouvido aos seus protestos vigorosos, e a levou para os seus aposentos, onde a pegou em seus braços para colocá-la na cama. "Eu meio que gosto dessa parte", disse a ele, descansando a cabeça no peito largo.

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"Eu também. Mas, da próxima vez, estarei levando você para a cama por uma razão muito mais feliz." A ideia deixou seu interior quente, corado e febril. Ela o queria, novamente. Mal podia esperar que ele a reivindicasse. Só esperava que ele permitisse que ela fizesse o mesmo, porque se ele nãoNão. Não pensaria nisso. E não ia contar a ele, tampouco, e fazê-lo se sentir culpado. Nick tinha de permitir isso de livre e espontânea vontade. Não ia aceitá-lo se estivesse com medo ou se sentisse coagido. Uma vez que ela estava acomodada, ele se inclinou e a beijou. "Descanse." Não queria, mas não teve escolha. Seus olhos se fecharam e se rendeu ao sono reparador. *** Quando Calla acordou, na manhã seguinte, estava sozinha. Não gostou muito disso, e imaginou onde o Nick podia estar. Provavelmente, trabalhando com o Tarron e a sua equipe para localizar o vampiro selvagem e os caçadores que o ajudaram. Essa aliança não fazia sentido, ainda. Mas o Nick e os homens do seu irmão iam descobrir a razão, mesmo que demorasse semanas ou mais.

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Sentando-se, levantou da cama e fez um balanço. Definitivamente, se sentia melhor, embora estivesse com fome. Sangue estava no cardápio desta manhã e doía não poder ser o do Nick. Ele podia doar para ela em um copo, mas não era isso que queria. Beberia da veia do seu Companheiro ou não beberia, absolutamente. Teria que ser de um doador, então. Pegando o telefone, pediu uma dose e fez uma careta. Tomar qualquer sangue em uma caneca era repugnante para ela, mas, agora que tinha um novo pretenso Companheiro em sua vida, não havia nenhuma possibilidade de beber de outro homem sem despertar seus instintos protetores. Seu ciúme. Um Companheiro possessivo e com raiva, nunca era uma coisa boa. A dose foi entregue e o guarda na porta tomou um gole para se certificar de que não tinha sido adulterada. Depois de um momento, considerou segura e a deixou sozinha. Esta era uma medida nova e odiava a necessidade, mas após os recentes acontecimentos, dificilmente ia discutir. Se enrolando no sofá, bebeu o sangue morno e folheou uma revista. Por mais que tentasse, não tirava o peso do conhecimento do significado da data de hoje. O aniversário do dia em que o Stefano foi sequestrado. Sofrimento a penetrou, mais suave e silencioso que no ano passado, não tão debilitante. Por causa do Nick, a perda era suportável.

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Como se o tivesse convocado, houve uma batida na porta antes do comandante entrar e fechá-la atrás dele. "Ei", disse ela, jogando a revista de lado. "Onde esteve?" "Em uma reunião com o seu irmão e os nossos homens." Atravessou a sala em poucos passos e se sentou, puxando-a para o seu colo. "Você está bem?" Inclinando-se para trás, ela segurou seu rosto e o beijou. "O que o faz perguntar isso?" "Tarron me disse o que a data de hoje significa para você." Sua expressão era de preocupação, não de ciúme ou raiva. Ela engoliu em seco. "Sim." "Existe alguma coisa que eu possa fazer, baby?" Acariciou seu cabelo. "Estou bem. Vai ficando mais fácil ao longo dos anos." "Mas nunca vai desaparecer", falou para ela. "Eu entendo, acredite em mim. Quando o Darrow assassinou a Jennifer, pensei que meu mundo tinha acabado. E, em um sentido muito real, tinha. Por um longo tempo, só queria segui-la para o outro lado, mas algo me segurou."

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"Esperança", ela adivinhou. "Em algum lugar, lá no fundo, você esperava se reconciliar com a sua filha, um dia." "Gosto de pensar que era por ela, e não porque eu era muito covarde para acabar com a minha vida." "Não acredito nisso." Ficou em silêncio por um momento, e então perguntou: "Qual foi o erro que você cometeu? Vai me dizer agora?" O coração dele bateu forte sob a palma da sua mão quando ela a colocou sobre o seu peito. Ele encarou seu olhar quando respondeu. "Eu sabia que era errado tentar mudar o futuro. Mas usei meu poder como PreCog para salvar a Selene de ser assassinada por um vampiro selvagem - o Carter Darrow. Tudo o que consegui foi desviar sua atenção da minha filha para a minha Companheira. Salvei a Selene, mas causei a morte da Jennifer, em seu lugar." "Oh, Nick. Eu sinto muito." "Selene me culpou por anos, pensando que eu, ativamente e intencionalmente, matei sua mãe, e veio até aqui, não muito tempo atrás, com a intenção de me matar. Ela conheceu o Zander, então, e seus planos não correram como ela pensava que aconteceria." "Pelo menos, vocês se reconciliaram."

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"Na maior parte, sim." Esfregou seu pescoço. "Mas é o suficiente para mim. E você? Quer falar sobre isso?" "Não há muito a dizer", disse ela, tristemente. "O Stefano foi capturado por caçadores durante o que devia ter sido uma simples viagem

até

a

cidade.

Simplesmente,

desapareceu

no

ar.

Eventualmente, os caçadores responsáveis não conseguiram resistir e me enviaram uma provocação na forma de uma mecha do seu cabelo e um anel que eu tinha dado a ele. Em seguida, um dedo." "Que doentio." Sua raiva era palpável. "Foi. Tarron e os seus homens vasculharam a região e o encontraram, eventualmente. Mas já era tarde demais. Ele foi acorrentado a uma cama com estrutura de ferro, para morrer de fome. Eles só o deixaram lá, para morrer lentamente", ela terminou em um sussurro. "Sinto muito. Nunca vou entender como as pessoas podem ser tão cruéis e malvadas." "Nós não somos mortos-vivos." Balançou a cabeça. "Somos criaturas vivas. Nós nascemos, nos apaixonamos, nós sangramos, e podemos morrer. No entanto, somos menos que humanos para eles. Menos do que nada. Não tinham o direito de tomar meu Companheiro de mim, mas está feito e não pode ser alterado. Uma

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parte de mim sempre vai amá-lo, mas quero que você saiba que estou feliz por ter encontrado você." "Nós encontramos um ao outro." Traçou o rosto dela com as pontas dos dedos, seu toque, suave. "Sim." Saindo do seu colo, se levantou e estendeu a mão. Este homem e o seu lobo eram o seu futuro. Era hora de deixar o passado para trás. Para ambos.

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CAPÍTULO 08

Nick se levantou, a antecipação fazendo seu pulso acelerar. Calla sentiu sua necessidade não dita, e reagiu ela. Quando pegou a mão dele, ele foi de boa vontade, seguindo-a um passo atrás quando o levou pelo corredor até o quarto dela. Então, se virou e colocou as mãos sobre o peito dele, seu calor marcando-o, através da camiseta. "Faça amor comigo, Nick. Sem regras de acasalamento, apenas nós dois." "Fazer amor não envolve regras entre Companheiros, de qualquer maneira. É o que se sente que é certo." Beijou os lábios dela. "Não vou forçá-lo a fazer qualquer coisa para a qual você não está pronto, ainda." "Isso parece certo, com você. Digo para agirmos por instinto, a partir de agora."

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"Concordo totalmente." Ela pegou a parte inferior da sua camiseta e puxou o material para cima, sobre a sua cabeça. Ele a ajudou, sorrindo quando ela a jogou de lado e foi para o botão da calça jeans. Ela abriu a braguilha e separou o tecido, empurrando o material até seu pênis saltar, livre. Estavam juntos. Ele e a Calla. Esse conhecimento o emocionou quase tanto quanto a língua dela lambendo-o rapidamente, para capturar a pequena gota que saía pela fenda da cabeça esponjosa. Gemeu quando ela o tomou em sua boca, cercando-o com calor úmido. Enfiando os dedos no cabelo dela, alimentou-a com seu pênis, guiando o comprimento até sua garganta, vendo-o desaparecer entre os seus lábios. "Deus, sim", inspirou. "Preciso disso. Sua boca, em mim, me faz sentir tão malditamente bem. Posso te foder, assim, o dia todo." O prazer puro era extremamente elétrico, enviando pequenos choques de prazer até suas bolas, através da sua barriga. Não ia aguentar muito tempo assim, mas não estava pronto para abrir mão daquela sensação, ainda. Com ela de joelhos, sugando-o e tomando seus golpes suaves com entusiasmo óbvio, não tinha dificuldade em acreditar que podia morrer feliz, assim. Ia adorar ser seu Companheiro.

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"Pare, baby. Não quero gozar, ainda." Ela soltou seu pênis com um gemido de frustração e ele sorriu. "Não se preocupe. Não terminaremos, por um longo tempo. Fique nua para mim." Estendeu a mão para ela e a ajudou a ficar de pé. Ela mordeu o lábio, parecendo vulnerável. Estava tendo dúvidas, já? Será que queria desistir? Em seguida, sua expressão ficou mais leve, tornouse mais confiante, enquanto encarava seu olhar e desabotoava, lentamente, a blusa, deixando-a cair. Regalou os olhos com seus seios cheios, os mamilos rosados e pontudos, implorando por seus dentes. Desatando a calça do pijama, empurrou-o quadril abaixo, levando a calcinha rendada com ela. Ficou nua diante dele, a pele pálida e macia, o triângulo de cachos escuros, no ápice das suas coxas, implorando-lhe para serem explorados. Estendeu a mão para ele, e ele tomou sua mão, apontando para sua cama, grande e confortável. "Quero você lá em cima, de costas, os joelhos dobrados e os pés apoiados." Ficou satisfeito com a fome em seus olhos enquanto ela se acomodava sobre os lençóis. "Agora, abra bem os seus joelhos para que eu possa ver você toda." Mais uma vez, fez o que ele pediu. Suas coxas se separaram, revelando a fenda rosada, já molhada. Mais evidências de que ela estava excitada pela sua tomada de controle e ansiosa por mais.

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Tirou as botas e empurrou a calça jeans pelo resto do caminho para fora, em seguida, se sentou na cama, perto dos seus pés. "Boa garota. Olhe quão bonita você está, já molhada para mim. Agora, quero que você se toque." "Nick", falou, a voz rouca. Suas pupilas se dilataram e os seios empinaram com o desejo. Seu lobo poderia sentir o seu perfume mais intensamente e rugiu com aprovação. "Faça isso por mim, querida. Toque-se. Deixe-me ver você ficar excitada." Por um segundo, pensou que ela ia argumentar, mas, em vez disso, os dedos deslizaram por sua barriga até os cachos. A ponta de um dedo tocou a pequena saliência e começou a trabalhar em círculos lentos, rítmicos. "Você é tão bonita", elogiou, feliz por ainda conseguir falar. Sua ereção se contraiu, exigindo que a tomasse. Mas, ainda não. "Agora, mais para baixo. Espalhe esse creme doce em toda a sua fenda, e, em seguida, foda-se com o dedo." Não houve hesitação, desta vez. Estava entrando em seu jogo, se preparando

para

ele.

Suas

coxas

estavam

espalhadas

e

descontraídas, a tensão desapareceu, sua postura completamente aberta para ele. Seus dedos finos começaram a massagear sua fenda, mergulhando no seu canal, fodendo a si mesma, enquanto seus quadris se arqueavam para fora da cama. A visão era tão insolente, tão provocante, que quase gozou só de olhar.

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"Ooh... Nick, por favor!" "Diga-me o que você precisa, linda", incentivou, aproximando-se. "Nick, me foda! Por favor!" "Qualquer coisa para a minha Companheira." Movendo-se entre as coxas dela, posicionou o pênis na sua abertura, segurou suas nádegas e a levantou, em seguida, afundou em seu canal escorregadio. "Oh! Oh, deuses, sim”, ela choramingou. Começou com estocadas lentas e profundas. Observou seu pau empalando-a, de novo e de novo, até que um formigamento se iniciou na base da sua espinha e suas bolas se contraíram. Não ia aguentar muito. Penetrando-a até o fundo, cobriu o corpo dela com o seu e a recolheu em seu peito, querendo essa proximidade quando gozassem juntos. A sensação de plenitude. Ele a fodeu, dura e rapidamente, suas respirações se misturando. Levando-os mais para o alto. "Me reivindique", ela engasgou. "Faça-me sua!" Seu lobo rugiu diante das palavras que tinham estado, ambos, à espera de ouvir. "Você tem certeza?"

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"Sim!" Ela ofereceu o pescoço, e suas presas se alongaram mais rápido do que nunca. "Ah, caralho!" Gritou, cada músculo tensionado enquanto bombeava sua semente dentro dela. Não aguentou mais e a mordeu, apertando a mandíbula na curva entre o pescoço e o ombro, enterrando suas presas, profundamente. Ela gritou e se agarrou em seus ombros, cavalgando aquele orgasmo, ordenhando seu pau. Banhando-o com calor. De repente, sentiu que eram envoltos em uma luz clara e brilhante. Ele cresceu, inchou, tão intensamente que pensou que seu corpo fosse explodir. E, então, a luz explodiu em um milhão de estrelas, arrancando um novo orgasmo dele, que bombeou em seu canal. Depois da explosão, um fio dourado, invisível, se estendeu entre eles, do Nick para sua nova Companheira, selando, firmemente, suas duas almas. Tornando-os um só, como acontecia com a sua espécie. "Eu senti isso", ela ofegou. "É incrível." "Eu também. E, sim, é." Beijou seu rosto, qualquer parte dela ao seu alcance.

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Quando o último dos seus espasmos diminuiu, cuidadosamente, soltou seu ombro e caiu sobre ela, suado e ofegante. E mais satisfeito do que tinha estado em décadas. "Obrigado", sussurrou. "Muito obrigada." "Pareceu certo." "Sim, e foi certo." Olhou para ele, e havia muita emoção crua em seu rosto, enquanto fazia a pergunta que ele sabia que estava por vir. "Posso reivindicar você, também? Quero tanto isso." Presas de um vampiro. Na minha carne. Um calafrio apreendeu seu coração, mas ele respirou fundo e disse: "Quero isso, também." Animada, esperançosa, se levantou um pouco e se inclinou sobre ele. Fechou os olhos, permitindo-se apenas sentir, quando ela começou a dar beijos suaves no seu rosto e pescoço. Acariciou o peito, brincando com o mamilo duro, algo que ele amava. Os toques enviavam minúsculos choques de prazer através do seu corpo, e pensou que, talvez, pudesse fazer isso. Pela Calla e por ele mesmo.

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O prazer guerreou contra o medo. Nick inclinou a cabeça, oferecendo o pescoço, e tentou ignorar quando sua pressão arterial foi às alturas. "Relaxe", disse ela, passando a palma da mão sobre o peito dele. "Seu coração está acelerado e eu posso, praticamente, farejar o seu medo." "Estou bem. Apenas faça isso." Franziu a testa. "Te reivindicar não deve ser algo que você tem que aguentar." "Eu sei, e estou bem. Vá em frente." Deu um meio sorriso. Passou um dedo sobre a sua mandíbula, sua expressão tão suave que ele podia ter chorado. "Nick, não posso fazer isso quando você, obviamente, não está pronto. Minha reivindicação deve ser feita com alegria de ambas as partes-" "Calla, eu disse que estou bem-" "Não, Nick. Não é a hora." Oh, Deus. Será que ela tinha alguma ideia de quanto ele se sentia debilitado, agora? Envergonhado? Beijou-a suavemente e saiu da cama. "Estou indo ver o Tarron, verificar qualquer progresso na caçada ao vampiro que sequestrou você. Vejo você mais tarde."

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Decepção nublou suas feições bonitas. "Quando, mais tarde?" "Eu não sei." "Fique, por favor? Só um pouquinho?" Ela sabia que ele estava mentindo. Estava lá em seus olhos, a dor que ele causou. Podia suportar qualquer coisa, exceto ser a causa da sua dor. "Tenho que ir." Com movimentos eficientes, se vestiu e saiu, antes que pudesse mudar de ideia. Precisava de tempo e espaço para descobrir como superar seu medo. Droga, Nick, seu estúpido idiota. Arruinou uma manhã perfeita. Ele compensaria a sua Companheira. De alguma forma. ***

Nick caminhou até o escritório do Tarron e bateu fortemente. Esperou permissão para entrar, antes de caminhar para dentro e encontrar o príncipe em uma reunião com dois homens - Teague e um vampiro que o Nick nunca havia visto antes.

209


"Fico feliz que você esteja aqui", disse o Tarron, com um sorriso genuíno. Indicou o novo vampiro. "Nick, gostaria que você conhecesse Ian Lockwood, o meu melhor amigo e braço direito, por mais anos do que consigo lembrar. Estava na Inglaterra nos últimos meses, cuidando de alguns negócios pessoais, e posso afirmar que estou satisfeito por tê-lo de volta. Ian, este é o Nick Westfall, comandante da Alpha Pack." "Anos? Tente um par de séculos." O vampiro estendeu a mão. "É bom conhecer você. Conheci alguns da sua equipe, eles também parecem guerreiros de primeira classe." Nick não pode evitar de estufar o peito, um pouco, quando apertou a mão que lhe foi oferecida. "Eles são, cada um deles. Me fazem parecer bom." "Os melhores homens sempre o fazem", Ian reconheceu. Nick avaliou o Ian. O grande vampiro parecia francamente amigável, e Nick sentiu a força que havia nele. A determinação de aço que dava a entender que protegeria o que era dele. Nick não recebeu qualquer visão, mas não precisou disso, a fim de saber que a força do vampiro seria necessária nos dias que estavam por vir. Tarron se recostou na cadeira e se dirigiu ao Nick. "Falando dos nossos homens, alguns deles voltaram para a cabana onde a Calla foi mantida. Estão à procura de mais pistas e vão nos trazer o que mais encontrarem."

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Aborrecimento o atingiu. "Eu devia ter ido com eles. Podia estar ajudando na investigação." "Agora, você está ajudando a minha irmã, e isso é mais importante." O olhar do Tarron telegrafou, apenas, o quão importante isso era para ele e o quanto estava preocupado. Nick não tinha certeza de estar fazendo tanto bem à sua nova Companheira, pensando bem, mas, sabiamente, absteve-se de falar isso. "Ela é minha prioridade, também, e é por isso que quero este bastardo desse vampiro e os seus comparsas encontrados e destruídos. Não quero que venham atrás dela, outra vez, ou de você, em todo caso. " A expressão do Tarron era sombria. "Nós vamos encontrá-lo e ele vai ficar fodidamente arrependido de ter mexido com a minha família. Nesse meio tempo, precisamos confiar nos rapazes para nos trazer as informações que precisamos para localizá-lo." Nick soltou um suspiro frustrado. "Você está certo, mas é foda ficar esperando. Quem, diabos, é esse imbecil e por que ele tem tanto tesão por todos nós?" "Essa é a pergunta que vale um milhão." Então, houve uma batida forte na porta. Tarron respondeu para quem quer que fosse, entrar, e a porta se abriu. Alguns dos homens do Tarron, juntamente com o Micah, Aric, e o Nix, entraram na sala.

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O Nix estava carregando um laptop que colocou sobre a mesa do Tarron. "Encontramos isto escondido no beliche de um dos caçadores mortos", disse ele. "Vamos precisar de alguém com habilidades de hacker para entrar, e nos dizer que tipo de segredos podem estar nele. Esperamos que seja do tipo que nos dá respostas." Teague se levantou. "Esse sou eu. Deixe-me dar uma olhada e ver o que você encontrou." Aqueles que estavam em torno da mesa do Tarron lhe deram espaço.

Puxando

uma

cadeira

extra,

o

especialista

em

computadores abriu a tampa e foi trabalhar, contornando a tela protegida por senha. "A maioria das pessoas ficaria horrorizada ao saber como é ridiculamente fácil entrar nos seus laptops", disse ele, sem qualquer presunção. "Essa parte é brincadeira de criança. A verdadeira questão é, será que o vampiro que está no comando desse bando de desajustados sabe o que está fazendo?" "Como assim?" Perguntou o Nick, curioso. "Acima de tudo, se ele tiver tomado a precaução de codificar suas mensagens e esconder o endereço IP que está usando como sua base de comunicações? Será que a sua identidade estará escondida?"

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"Poderia ser qualquer uma das duas", Nick respondeu. "Escondeu a sua identidade no vídeo, mas, provavelmente, não estava esperando que localizássemos a cabana, de qualquer forma." Teague

trabalhou

por

alguns

minutos,

a

cabeça

baixa,

intensamente focado. Depois de um tempo, grunhiu em desagrado. "Infelizmente para nós, ele não é assim um idiota tão grande. O endereço IP é reencaminhado várias vezes, por isso vai levar algum tempo para rastrear. Suas mensagens para os seus seguidores, tudo, foi feito por um programa de mensagens instantâneas e usou o nome de usuário 'Carrasco'." Aric bufou. "Isso é original." Nick pairava sobre seu ombro, tentando ler a cópia. "O que as mensagens dizem?" "O vômito de ódio que vocês já esperavam. Que vai nos fazer pagar por tudo o que fizemos, mas não menciona o que é. Se soubéssemos do que ele está nos culpando, poderia não ser um longo caminho até

descobrir quem ele é." Vários

outros

murmuraram em acordo e o Teague continuou. "Existem planos aqui, de antes dele ter sequestrado a Calla. Estavam à espera de uma oportunidade para pegar o Tarron, mas aproveitaram a chance de levá-la, quando ela surgiu. Humm, há algum desacordo entre as fileiras de saber se isso foi uma boa ideia, especialmente, já que esse grupo foi pego."

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Os olhos do Tarron brilharam com malícia. "Então, eles ainda estão usando este grupo de mensagens para discutir os seus planos?" "Estavam, mas o encerraram algumas horas após o resgate da Calla." O hacker fez uma pausa, olhando o resto da transcrição. "Parece que o carrasco estava falando com eles sobre o próximo ataque, quando e onde seria aconselhável realizá-lo, quando um dos seus homens apontaram que deviam mudar para outro link por causa da invasão da cabana. Droga!" Nick não podia estar mais de acordo. Uma descoberta tão boa, apenas para vê-la desaparecer, em um instante. "Você pode encontrá-los de novo?" "Vou tentar. Nesse meio tempo, vou rastrear o endereço IP do Carrasco, assim como o dos outros na lista, e ver o que posso encontrar." "Obrigado", disse o Tarron. "E me traga uma cópia impressa dessas mensagens, antes desta discussão ser encerrada. Nick e eu vamos lê-las, cuidadosamente, para ter certeza que não há nenhum indício escondido que tenhamos perdido." "Imediatamente, meu príncipe." Teague levou o laptop e saiu para concluir o seu trabalho. Nick e Tarron dispensaram o resto dos seus homens e o Nick se sentou.

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Por um momento, ficaram sentados em silêncio, meditando, antes do Tarron interromper. "Então, você e a Calla acasalaram?" Seu tom era reservado, o olhar atento. "Eu a reivindiquei." Não ofereceu mais, e os olhos do outro homem se estreitaram. "Isso devia ser motivo de comemoração. E ainda detecto uma nota em sua voz, que sugere que é tudo, menos isso." "Não é tão simples assim." Passou os dedos pelo cabelo. "Juro para você que estou me esforçando para ser o Companheiro que ela merece. Só está demorando algum tempo. Deixe-me resolver isso com ela, antes que eu acabe falando alguma besteira. Isso é entre a Calla e eu." "Tudo bem, vou cair fora - por enquanto. Mas, escreva as minhas palavras: Amigo ou não, fira a minha irmã e não terá mais que se preocupar com a batalha com algum vampiro misterioso ou qualquer outra pessoa." "Eu sei." "Bom. E, além disso-"

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O toque do celular do Nick, felizmente, interrompeu a palestra do seu novo cunhado. Quando olhou para a tela, no entanto, não ficou tão feliz pela interrupção. A chamada era do General Grant, o que, raramente, era uma coisa boa. "Jarrod", cumprimentou o outro homem em vez de responder. "O que foi?" "Nós temos um basilisco solto no centro de Dallas, Texas." "Um basilisco?" Nick repetiu. Seu sangue gelou. "Não o Belial." "Não. A Mackenzie relatou que o Belial está seguro e sadio, no complexo, tentando seduzir um daqueles shifters tigre no Santuário para dormir com ele." Graças a Deus. O pensamento de que o inimigo chegasse a qualquer um sob os cuidados do Nick e colocá-lo em perigo, forçando a equipe, ou a si mesmo, a matá-lo, fez o seu estômago se retorcer. "Baixas?" "Cinco mortos e dez feridos na última contagem. Há algum tipo de celebração de bêbados, acontecendo no centro, por causa de uma grande vitória no esporte, e agora o cenário é o caos completo." Nick se levantou. "Porra, isso é um desastre! Estaremos lá, assim que pudermos."

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Ele encerrou a chamada, a mente girando rápido. Isto era um completo desastre. A única coisa que temiam mais do que tudo, era um paranormal solto em uma situação tão grande, que todo o mundo ia descobrir que existiam. "O que há de errado?" Perguntou o Tarron, se levantando. "Nós temos um basilisco solto no centro de Dallas. Cinco mortos, dez feridos, provavelmente mais, agora. Merda!" Se dirigiu para a porta, Tarron seguindo-o. O vampiro exclamou: "Um basilisco, você disse? Essas coisas, realmente, existem?" Em qualquer outro momento, a ironia da declaração teria sido engraçada. "Nós temos um vivo, no complexo da Alpha Pack, de fato. O Belial está sendo reabilitado." "Você acha-" "Não. Não é ele", disse o Nick, correndo pelo corredor. "Eles são criaturas solitárias, ainda que letais, normalmente, o que levanta a questão de como um foi depositado no meio da celebração de um campeonato em uma das maiores cidades dos Estados Unidos." "Jogo sujo?" "Esse é o meu palpite. Acho que alguém o colocou ali de propósito, e que estamos lidando com um shifter assustado que não tem ideia

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do que está acontecendo e está prestes a se tornar uma baixa, tão trágica quanto as suas vítimas." A perspectiva era sombria. "Isso é estar fodido de todas as maneiras." "Nem me fale. Mas não vai ser a primeira vez que algo semelhante aconteceu." "Não invejo o seu trabalho. Embora, suponho que estou envolvido, agora, uma vez que somos uma família, e meus guerreiros serão enviados para ajudar os seus." Nick parou, abruptamente, e encarou o Tarron. "Não. Não posso lhe pedir para arriscar os seus homens em batalhas que não são suas. Seu povo, provavelmente, se ressente com a nossa presença o bastante, já." "Você está brincando, não é? Nós éramos aliados, primeiro, e agora somos uma família", disse o Tarron, firmemente. "Nós estamos vinculados e você tem a nossa lealdade. Não há nada que não faria por você, especialmente depois que você e os seus homens vieram em nosso auxílio, em uma luta que não era sua." Nick sabia que o Tarron não ia desistir, então cedeu. "Tudo bem. Sou grato em aceitar qualquer ajuda que você deseje enviar; apenas saiba que não espero ou tomo isso como garantido." "Anotado."

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Depois de parar um momento, para enviar uma mensagem urgente para a equipe, Nick seguiu para a grande entrada, para encontrálos. Eles foram rápidos, como de costume, cada um deles à sua frente em poucos momentos, prontos para lutarem. Rapidamente, descreveu a situação, para surpresa de todos. "Não vou levar todos, no caso de esta ser uma tentativa de nos fazer sair da fortaleza e deixá-la desprotegida." Tomou uma decisão rápida. "Kalen, preciso de você e do seu talento como Feiticeiro com a gente. Vamos precisar de um grande controle de danos." "Sim, senhor." "John, Ryon, Aric, e Micah, vocês também vão comigo. O resto de vocês, fique aqui e proteja a fortaleza." Tarron escolheu seus homens e, em seguida, se virou para o Nick. "Já estivemos em Dallas. Vamos tele transportá-los até a cidade para economizar um tempo valioso." "Obrigado." Rapidamente, Nick tentou enviar uma mensagem mental para a Calla. Baby, sinto muito, mas a nossa equipe foi chamada. Seu irmão e alguns de seus homens vão com a gente. Estarei de volta logo que puder.

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Não sabia nada sobre o vínculo shifter-vampiro, mas esperava que ela pudesse ouvi-lo da mesma forma como uma companheira humana podia. Mesmo assim, e se ela não pudesse responder até que permitisse a ela, reclamá-lo, por sua vez? Outra coisa para se sentir culpado como o inferno, negando-lhe um direito básico dos Companheiros - de serem capazes de se comunicar livremente. Não houve resposta, o que podia significar várias coisas, nenhuma delas, boa. Com o coração pesado, juntou-se à equipe e aos vampiros, preparando a si mesmo para a batalha com o basilisco. "Mais algumas coisas", Nick disse ao grupo. "Não se transformem. Já temos problemas suficientes tentando encobrir uma serpente mítica, quanto mais um monte de lobos e uma pantera. Próximo, não o olhe, diretamente, nos olhos. Seu olhar vai imobilizar você; em seguida, vai matar e comer você. Por último, levá-lo vivo, se puderem. Precisamos de informações." "Jesus, que seja", alguém murmurou, em resposta à última orientação. Em seguida, partiram. Aterrissando, se encontraram no coração da cidade, em um lugar chamado West End. Haviam restaurantes da moda e lojas ao longo das ruas, cuja maioria estava vazia, exceto por algumas pessoas que passavam correndo e gritando, presumivelmente, na direção oposta da enorme cobra. "Por ali." Nick apontou.

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Ele saiu correndo e os outros se juntaram a ele, seguindo os sons ameaçadores de algo quebrando e um berro estridente, que deixou seu cabelo em pé. Quando dobraram uma esquina, uma visão aterradora encontrou seus olhos. O basilisco era quase tão grande quanto o Belial, mas não tanto. Mesmo assim, era enorme, elevando-se sobre a sua altura, chicoteando a grande cabeça de um lado para o outro, gritando, agarrando tudo que se movia. Uma barricada de veículos da polícia cercava o animal, os policiais se protegendo, alguns atirando. Suas balas ricocheteavam direto no couro duro e serviam, apenas, para assustá-lo e irritá-lo, ainda mais. A besta deslizou em direção a um dos veículos e acertou o capô com o focinho, rasgando o metal com suas presas. Os oficiais se recuaram e a serpente lançou um jato de líquido da sua boca, acertando um dos policiais, na perna, enquanto corria. O homem soltou um grito de dor e a perna da calça chiou, mas não parou de correr. "Para o inferno com isso", Aric gritou. "Deixe-me incendiá-lo!" "Não." Nick apontou para o Kalen. "Você pode neutralizá-lo? Colocá-lo para dormir, ou algo assim?" "Se você puder distraí-lo tempo suficiente para eu trabalhar, sim", disse o Feiticeiro, olhando para a cobra. Com um movimento do pulso, o cajado do feiticeiro estava em sua mão, brilhando com o poder. 221


"Ok, vamos!" Nick liderou o grupo pela rua e se espalharam, para cercar a besta. Dançaram em torno dele com coragem em seus pés, agitando os braços e gritando, para chamar sua atenção. Fizeram um bom trabalho em mantê-lo distraído, mas ainda conseguiu acertar o Ryon com o seu veneno. "Merda! Caralho!" Rolou no chão, segurando o braço, sangrando e queimado, com a outra mão. Uma dupla de homens do Tarron correu e o tirou da linha de fogo. Nick empurrou a preocupação com o Ryon para o fundo da mente. Olhando de relance para o Kalen, viu que o homem estava de pé, com os braços esticados, entoando um feitiço. O basilisco deve ter sentido ou sentiu o que Kalen estava tentando fazer, porque, de repente, se lançou na sua direção. Nick e o Aric se moveram para interceptá-lo, o Nick segurando uma faca de tamanho médio. Correndo, enfiou a lâmina entre duas escamas e estremeceu quando aquela coisa gritou, em voz alta o suficiente para fazer as janelas mais próximas estilhaçarem e os alarmes dos carros dispararem, por todos os lugares. "Nick, corra!" Alguém gritou. Ele se virou, mas a besta veio para cima dele. Acertou sua lateral com o lado da cabeça, levantando-o e arremessando-o há vários metros de distância. No momento que bateu no pavimento e

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derrapou até parar, já estava em cima dele, abaixando a cabeça, os olhos vermelhos e as mandíbulas escancaradas. Olhos vermelhos. Nick congelou no ato de se mover para trás, incapaz de mover um músculo. Oh, Deus. Olhei nos seus olhos. Estou fodido. Hipnotizado, observou quando o animal tomou uma das suas coxas na boca, apertando, os dentes rasgando sua pele. Não conseguia se mover, não podia gritar sua agonia enquanto o veneno rompia a pele e começava a se mover através do seu sangue. Ardendo. Pegando fogo. Só conseguiu observar, quando foi levantado do chão e, em seguida, pendeu, impotente, de cabeça para baixo, enquanto esperava para ser devorado. Ao redor dele, sua equipe e a do Tarron gritavam para o Kalen se apressar. E, então, a criatura parou. Lentamente, o Nick foi baixado sobre o pavimento, até que estava deitado de costas, a perna ainda nas mandíbulas da criatura. Os olhos do basilisco se fecharam e seu corpo relaxou no sono. "Deus", Nick suspirou, puxando a perna para tentar libertá-la. "Tire isso de mim."

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As pessoas o cercaram, Aric e o Micah abaixando ao seu lado. Aric agarrou seu ombro e falou, em um tom suave. "Devagar, chefe. John e os vampiros vão soltar a sua perna." "Diga ao Kalen para limpar as memórias dos seres humanos. Todo mundo que puder. Destruir as câmeras e os celulares. Os poucos que escaparam, ninguém vai acreditar neles." "Já estou fazendo isso", Kalen falou, há alguns metros de distância. Então, Nick perdeu o rastro dele. A dor era incrível. O membro lesado parecia que estava sendo fervido em ácido, de dentro para fora. O fogo se espalhou até o quadril, e se contorcia em agonia, gemendo. "Caralho." O suor encharcava seu rosto, escorrendo para o cabelo. O fogo atingiu seu peito, e seu coração se contraiu. Seus olhos se arregalaram e encontrou o olhar preocupado do Aric. "Não consigo... respirar." "Príncipe Tarron!" Micah gritou. "Precisamos tele transportá-lo!" Mãos agarraram o Nick e, então, estava viajando através do abismo. Voltando para a fortaleza, desejou poder perder a consciência, enquanto os homens o carregavam, às pressas, pelos corredores. Estava puxando o ar para os seus pulmões por pura força de vontade, tão quente que tinha certeza que ia fritar antes que o médico pudesse ajudá-lo.

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O resto veio em trechos desorientados. A agonia. O Dr. Archer gritando ordens. Uma intravenosa sendo inserida no seu braço, várias doses de medicamento indo até suas veias. Houve algum alívio quando a queimação diminuiu. Sua respiração se tornou mais fácil. Em seguida, o Dr. Archer se inclinou sobre ele e disse: "Estou colocando você sob sedação, enquanto limpamos a perna e reparamos alguns danos. Você não está em condições de se transformar, ainda, e tenho que chegar a esses músculos da coxa antes que eles estejam ruins demais para cicatrizar. Apenas, relaxe." E essas foram as últimas palavras que ouviu por um tempo. *** “Calla? Calla!" "Estou indo!" Enquanto a Calla corria para a porta, seu coração estava pulando na garganta. Conseguia reconhecer a ansiedade na voz do seu irmão, em qualquer lugar. Tinha estado ansiosa e agoniada desde que a voz do Nick tinha surgido, inesperadamente, na sua cabeça, dizendo que estava sendo chamado para uma missão. Ouvir o Tarron falando daquela maneira, aumentou seu medo.

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Escancarando a porta, sentiu o sangue se esvair do seu rosto. "O que aconteceu?" "Nick está em cirurgia", Tarron falou. "Mas está com o Viktor, então, está em boas mãos." Seus joelhos vacilaram e seu irmão a segurou. "Por quê? Diga-me o que há de errado com ele!" "Tinha um basilisco solto em Dallas e nós fomos com a equipe dele, para ajudar. Ele estava distraindo-o, assim o Kalen poderia colocálo para dormir, quando a criatura o derrubou e pegou sua perna entre as mandíbulas." Olhou fixamente para o irmão, tentou processar tudo aquilo. "Ele foi mordido? Por um basilisco?" " Sim. O veneno é terrível, mas o Viktor jurou que vai dar tudo certo." Calla se sentiu fraca. "Leve-me até o Nick." Durante todo o caminho até a enfermaria, lutou contra o pânico. Como, diabos, tinham conseguido soltar um basilisco em uma cidade lotada? Isso não podia ser possível. E, agora, o seu Companheiro estava pagando o preço por, simplesmente, fazer o seu trabalho.

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CAPÍTULO 09

"Primeiro de tudo, ele vai ficar bem", disse Viktor à Calla no instante em que ela correu para o hall de entrada da enfermaria. A maioria dos homens do Nick estava lá, aguardando. Para o alívio de todos, acrescentou, "Tanto o Nick, quanto o Ryon, vão ficar bem. O veneno do basilisco é um negócio desagradável e pode ser fatal, mas ambos estavam com sorte. Ou o veneno da criatura não era tão forte quanto o dos mais velhos, ou ela só estava agindo em legítima defesa, e não, tentando matá-los." "Ela?" Disse o John, surpreso. "Sim. Eu dei uma olhada antes que fosse levado para o complexo, e o basilisco é, definitivamente, feminino. E, em sua forma humana, uma criatura pequena e assustada." "Urgh." Aric bufou. "Ela parecia fodidamente grande, lá na rua."

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"Como ela acabou parando lá?" Perguntou a Calla. "Não sabemos", respondeu o John. "Mas vou questioná-la, enquanto o Nick está se recuperando." "Vou com você", Micah colocou. Os outros queriam ir, também, mas John limitou o grupo a três - ele mesmo, Micah, e o Aric - de modo a não assustar a shifter, ainda mais. Pessoalmente, nesse momento, a Calla não conseguia nem se importar com o fato da criatura estar assustada. O que aconteceu podia, ou não, ser culpa do basilisco, mas ainda assim, colocou o companheiro da Calla na enfermaria. Isso seria difícil de perdoar. Calla se moveu até o Viktor e olhou no seu rosto. "Isso tudo é muito interessante, mas eu quero ver o Nick." "Os

enfermeiros

o

estão

acomodando,

princesa",

falou,

suavemente. "Lhes dê alguns minutos e um deles vai vir te buscar." "Seus ferimentos?" "A perna direita foi mordida e o músculo rasgado, o que reparei na cirurgia. Em um dia ou dois, quando estiver mais forte e capaz de se transformar, vai terminar de se curar. O veneno, como eu disse, era doloroso, mas não letal, neste caso. Não antecipo nenhuma complicação no seu calvário."

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"Obrigada." Caindo de alívio, mal tomou conhecimento do Tarron auxiliando-a a se sentar. Estava tão perdida em seus pensamentos, que nem sabia que tinha falado com ela, a princípio. "Desculpe?" "Eu disse, o Nick me disse que vocês dois acasalaram. Suponho que parabéns são necessários?" Não podia culpá-lo por colocar como uma pergunta. As coisas não começaram bem para ela e o Nick. Protetor como o seu irmão era, não estava prestes a lhe dizer que não tinha conseguido reivindicar seu companheiro, em troca. Ele podia terminar o trabalho que a cobra tinha começado. "Temos alguns desafios com os quais lidar." Era um eufemismo. "Mas as coisas vão ficar bem, no fim das contas." "Eu sei", disse ele com um sorriso, apertando sua mão. "Mas estou aqui para você, no que precisar. O Nick, também." "Obrigada." Uma das enfermeiras apareceu, como prometido, e levou a Calla até o quarto do Nick. Estava acordado quando ela entrou, mas grogue. "Ei", disse ela, se aproximando para pegar a mão dele. "Como está se sentindo?"

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"Como se tivesse sido atropelado por um ônibus. Como está o Ryon?" "O Viktor disse que ele está bem, então não se preocupe. Basta ficar bem." Tirou uma mecha do cabelo preto de cima da testa. "Pretendo." Bocejou. "Onde está o basilisco? Já o levaram para o Santuário?" "Ela, e sim, já levaram." Ele piscou. "A criatura é do sexo feminino?" "Aparentemente, sim. Além disso, pequena e assustada, de acordo com o Viktor." "Deus", suspirou. "Ela falou alguma coisa?" "Acho que não, mas o John e alguns outros vão interrogá-la." Franziu a testa. "Você sabe, estava meio que esperando uma emboscada. Podia jurar que ela era uma isca." "Talvez, seja isso que querem que você pense. Então, quando achar que estava errado, vai relaxar a guarda, na próxima vez que sair em uma chamada, e vão acertá-lo quando você mal espera."

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"Mulher esperta. Vamos, apenas, tomar um cuidado extra, então." Seus olhos fecharam e tentou ficar acordado. "Mais cedo, ao deixar o quarto do jeito que fiz... Sinto muito." "Quieto. Melhore e vamos lidar com o resto, quando chegar a hora." Seu coração doeu ao vê-lo sucumbir ao sono. Tinha tanta responsabilidade sobre seus ombros, tinha sido ferido, mais de uma vez, protegendo sua equipe e, ainda assim, estava preocupado com os sentimentos dela. Permaneceu sentada ao lado por um tempo, até que a fome a forçou a buscar algo na cozinha. Relutante, saiu do lado do Nick, sabendo que alimentos sólidos só iam afastar, temporariamente, a necessidade de sangue. Não havia mais nada que pudesse fazer, entretanto. Seu estômago rejeitaria qualquer outro sangue - ela sabia, pois só de pensar em toma-lo de alguém, sem ser o seu Companheiro, a deixava enjoada. O cozinheiro fez um sanduíche de rosbife, mal passado. Calla comeu e se sentiu enjoada depois, mas, pelo menos, ficou no estômago. Pensou que tinha as coisas sob controle e, em seguida, seu irmão resolveu fazer uma aparição, sentando-se ao lado dela e lhe enviando um olhar penetrante. "Você está bem?"

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"Estou bem", disse ela, tentando dar um sorriso. Não chegou a convencê-lo, enquanto ele a olhava com desconfiança. "Você tem olheiras sob os olhos e não parece bem. Não é o que esperava ver quando olhasse para a minha irmã, feliz e acasalada. Ou não é um acasalamento feliz?" "Meu companheiro está ferido, caso você tenha esquecido, e isso não me excita. Além disso, ainda estamos lidando com algumas coisas. Claro que as coisas ainda não estão perfeitas." "De que maneira?" "Isso não é, realmente, da sua conta." "Desde quando?" Se inclinou para frente, sua preocupação aparente. "Nós sempre fomos honestos um com o outro e posso sentir que você não está sendo honesta comigo. O que está acontecendo?" Balançando a cabeça, apertou os lábios. Dizer-lhe toda a verdade a faria se sentir como se estivesse traindo seu companheiro, mesmo que esse não fosse, realmente, o caso. "Mana, seus lábios estão ligeiramente azuis", continuou ele em um tom baixo, sinistro. "Na verdade, parece que você não tomou sangue, recentemente. Por que não sinto que, assim que o Nick estiver melhor, você vai se alimentar?"

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"Não." Sua voz era baixa e miserável. "Não posso fazer isso com ele." Seu irmão ficou, claramente, confuso. "Por que não? Ele é seu Companheiro agora, certo? Quero dizer, de quem, diabos, você vai se alimentar?" "Eu sou sua Companheira, sim." Ela respirou fundo. "Mas ele não é meu, oficialmente. Ainda não." Ele fez uma careta. "O que, diabos, isso quer dizer? Ou você está acasalada ou não está!" "O Nick me reivindicou, mas eu não o reivindiquei, ainda", sussurrou, frustração e tristeza em guerra, uma com a outra. "Eu não posso, até que ele esteja livre dos seus demônios e me permitir reivindicá-lo livremente, e compartilhar o meu júbilo." "Compartilhar seu júbilo?" Ele repetiu, levantando a voz, embora ela tentasse silenciá-lo. "Será que ele percebe que, por ter sido reivindicada você já não pode mais se alimentar de qualquer outra pessoa, vampiro ou humano? Que você vai morrer de fome, porra, se ele não permitir que você o reivindique?" "Não, e você não vai lhe dizer", ela ordenou, furiosamente. "Então, me ajude, ou não vou falar com você de novo, se fizer isso!" "Por que não?" Ele gritou. "É da sua vida que estamos falando!"

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"Eu não vou coagir meu companheiro a acasalar!" Levantando-se bruscamente, bateu com a palma da mão sobre a mesa, fazendo os pratos saltarem. Um par de outros membros do clã, que estavam comendo suas refeições no outro lado da sala, dispararam, rapidamente, para fora. "Você não vai interferir nisso. Entendeu?" "Calla." Ele foi vencido; podia afirmar. "Sinto muito. Sei que você está tentando ajudar, mas preciso que você não se meta no meu acasalamento. Ele vai se resolver no seu próprio ritmo, ou não, no final das contas." "Mas se ele não o fizer, você pode- Não, você vai morrer." "Não vai chegar a esse ponto." Esperava. O Tarron parecia tão perdido, que ela cedeu um pouco e deu a volta na mesa. Colocando os braços em volta do pescoço dele, lhe deu um abraço e foi, imediatamente, envolvida por um abraço dele. "Eu amo você, mana", disse ele, com voz rouca. "Não deixe que isso dure muito tempo. Você e o Adrian são a minha única família e você é tudo para mim." Ela beijou sua bochecha, amor inchando o seu coração. "Não vou. E eu também te amo." Uma pontada de fome corroeu sua barriga quando ela caminhou de volta para a enfermaria. ***

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Nick acordou, na manhã seguinte, inquieto e irritado com a dor constante na perna ferida. Para o inferno com isso. Vendo que estava sozinho no momento, trabalhou rapidamente para arrancar a intravenosa e cada um daqueles malditos círculos grudados na sua pele, que coçava, ligados ao monitor cardíaco. Então, rasgou a bata horrorosa e soltou o seu lobo. A transformação foi rápida, devido a séculos de prática. Seu lobo girou sobre a cama, em seguida, deixou-se cair, com um suspiro de contentamento. Assim que se acomodou, uma enfermeira entrou correndo, seguida pelo Dr. Archer. "Você podia ter esperado, em vez de assustar a minha enfermeira", o doutor o repreendeu. Então, sorriu. "Mas estou contente de ver que você está se recuperando. Venho ver você daqui a uma hora, mais ou menos; então, provavelmente, você vai estar pronto para ter alta." O médico saiu. Nick cochilou um pouco, deixando o sistema do seu shifter curar o resto da sua lesão. Não dormiu muito bem, no entanto,

porque

continuava

acordando,

de

repente,

e

se

perguntando aonde tinha ido a Calla. Estava chateada com ele, por deixá-la do jeito que fez, antes de serem chamados para ir até Dallas? Não parecia que ela estava, quando a viu pela última vez, mas seu coração ainda doía com o pensamento.

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A porta se abriu e sua Companheira entrou no quarto. Levantou a cabeça e captou toda a força do seu sorriso, e a visão dela foi direto para a sua alma. Seu lobo soltou um bufo feliz quando ela se sentou ao lado dele e começou a acariciar suas orelhas. "Viktor me disse que você foi meio danadinho", falou. Não tão danado quanto gostaria de ser, pensou. Os olhos dela se arregalaram, com surpresa. "Você, realmente, falou dentro da minha cabeça! Quase pensei que tinha imaginado isso, antes, quando ouvi você me dizer que tinha que sair em uma missão." Não.

Todos

os

shifters

podem

se

comunicar

com

seus

Companheiros, uma vez que já estão acasalados. É um belo privilégio. "Mas eu não sou shifter. Será que vou ser capaz de responder para você?" Ela parecia intrigada, e um pouco preocupada que não fosse capaz de fazê-lo. Eu não sei, admitiu. Nunca conheci um casal shifter-vampiro acasalado. Experimente. Franzindo a testa, se concentrou no que imaginou ser, enviar uma mensagem. Quando ele não a recebeu, balançou a cabeça.

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Pode se desenvolver mais tarde, por fim, depois que você me reivindicar. Seus olhos cansados se arregalaram levemente. "Oh, Nick, você está pronto para que eu te reivindique? Não estou pressionando você. É só que eu te quero tanto. Vai ser tão maravilhoso, querido; você verá-" Eu quero isso, também. Eu quero. Em breve. Prometo que não vai demorar muito tempo mais. Seus ombros caíram, levemente. De repente, percebeu que ela não parecia bem. Você está bem? "Estou bem", disse ela, lhe dando um meio sorriso. "E vejo que você está se sentindo melhor." Mudando de assunto? "Atestando um fato. O Viktor deve estar aqui para liberar você, em breve." Sua resposta foi interrompida por uma batida. Tarron, Ian, Teague, e o John entraram na sala, sem esperar sua permissão e suas expressões mostraram ao Nick que algo tinha acontecido. Deixou o fluxo da transformação cair sobre ele e voltou à forma humana, em seguida, puxou o lençol sobre o colo para livrar a Calla de qualquer

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constrangimento. Se fossem apenas os homens, ninguém teria se importado por ele estar nu. Tarron foi direto ao ponto. "O Teague encontrou uma coisa." Acenou para o hacker, que assumiu a explicação. "Já identifiquei dois grandes grupos que estão se comunicando via e-mail com o que acreditamos ser o seu líder - caçadores e vampiros selvagens. Mas, nas últimas semanas, um outro personagem se juntou à discussão, e você nunca vai adivinhar de onde essas mensagens se originaram." Nick esperou um par de batidas quando o que estava sendo dito se tornou claro. "Ou do meu complexo, ou aqui da fortaleza?" Que alguém, entre a sua equipe ou do pessoal de apoio pudesse traílos, era inconcebível. "Daqui", disse o Tarron, cada linha do seu corpo irradiando fúria. "Alguém entre meu o clã, ou da sua equipe, está conversando com esses bastardos. Possivelmente, lhes fornecendo informações." Nick balançou a cabeça e retrucou: "Não é um dos meus. Posso garantir, pessoalmente, cada um dos membros da minha equipe. Cada um deles levaria um tiro por qualquer um de nós." "Você não acha que me sinto da mesma maneira sobre os meus homens?" Tarron atirou de volta. "Ninguém assume um homem

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pensando o pior das suas intenções. Mas, claramente, um dos nossos perdeu nossa confiança." "Tudo bem, senhores," John interrompeu. Sua voz era baixa, até mesmo,

injetando calma

na situação

para

evitar

que

se

transformasse em uma discussão. "Não vamos chegar a lugar algum discutindo qualquer coisa, além de fatos concretos. Temos um culpado e precisamos descobrir quem ele é para que possamos segui-lo até a fonte. Ele está fodido e vamos tirar proveito do fato de que, provavelmente, não percebeu isso, ainda." Os

outros

homens

piscaram

para

ele,

obviamente,

não

acostumados com o homem anteriormente conhecido, apenas, como "Hammer", sendo mais vocal e tomando a liderança. Quando queria, o John era e sempre tinha sido um homem que fazia outras pessoas se sentarem e tomarem nota. Nick estava contente de vêlo crescer dentro da equipe. "Você está certo", concordou o Tarron, acalmando um pouco. "Os fatos irão suportar a verdade, e nós vamos saber que rumo tomar. Teague, onde, na fortaleza, o suspeito usou o computador? É possível dizer?" "Isso nós sabemos. Já rastreei os e-mails até um computador na biblioteca principal. O problema é que esses computadores são utilizados por dezenas de membros do clã e seus filhos, todos os dias, e não são monitorados de perto. Também não há câmeras de

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vigilância na biblioteca porque, francamente, nunca tivemos motivo para instalar nenhuma." Tarron assentiu. "Isso vai ser sanado com algumas câmeras escondidas que serão acopladas na lateral dos computadores, pelo menos, até que ele seja pego." "Vou cuidar disso", disse o Teague. "Bom. Enquanto isso, Nick, diga aos membros mais confiáveis da equipe para manter um olho afiado sobre eventuais idas e vindas estranhas de alguém na fortaleza, homem ou mulher. Ou qualquer comportamento que pareça suspeito. Vou fazer o mesmo." Nick não se preocupou em reiterar que confiava em toda a sua equipe de forma implícita. Também tinha noventa e nove por cento de certeza que saberia, através do seu dom, se um dos seus homens tivesse se desviado. Não tinha capacidade de ver tudo, mas se sentia muito confiante sobre isso. "Vou dizer a eles", falou. Então, acenou com a mão para a porta. "Assim que colocar algumas roupas, vou me reunir com a equipe." Os homens saíram da sala, e o John se voluntariou para mandar alguém trazer roupas limpas para o Nick e, então, reunir a equipe na sala de conferências do príncipe. Calla o estudava, com preocupação, e sabia que não demoraria muito para que ela se expresse. Estava certo.

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"Acho que é muito cedo para você pular de volta no trabalho." "Querida, estou curado. Sendo esse o caso, de maneira nenhuma vou ficar com a minha bunda sentada, enquanto os outros cuidam do nosso problema em curso." "Eu sei, mas isso não faz com que me sinta melhor." Seus lábios se apertaram em um beicinho adorável, e ele sorriu. "Essa cara bonita poderia me colocar em um monte de problemas, se eu deixasse. Mas não vou desistir", ele brincou, tentando aliviar o clima. Funcionou melhor do que ele esperava. Colocando os braços ao redor do seu pescoço, ela tomou sua boca, suavemente a princípio, movendo-se contra ele. Cheirava tão bem, parecia tão fantástica, que seu corpo respondeu com fervor, fazendo com que os lençóis formassem uma barraca no seu colo. O beijo se aprofundou e eles se exploraram, duelando línguas, e seu sangue ferveu. Ela se afastou com um sorriso sensual e satisfeito. "O que foi que você não estava indo fazer?" "Esqueci." "Jesus", Micah disse assim que entrou na sala, segurando uma trouxa de roupa. "Cara, você precisa que o doutor volte e dê uma olhada nisso?"

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Calla riu da irritação do Nick. Então, o Nick, realmente, olhou para as mãos do Micah - o jovem estava tremendo enquanto entregava as roupas ao Nick, e seus olhos estavam vermelhos, as pupilas dilatadas. Um zumbido familiar caiu sobre o cérebro de Nick, e a visão o pegou, rapidamente. Micah e uma mulher atraente, com cabelos escuros, se encaravam em um quarto desconhecido. "Que porra é essa, Micah?" Ela gritou, balançando uma pequena garrafa na mão. O conteúdo sacudiu, ameaçadoramente, entre o casal. "Você me disse que tinha parado de usar! Você mentiu para mim, para a sua equipe!" "Jacee, por favor-" "Por favor, o quê? Lhe dar outra chance, e mais outra, enquanto espero o dia que um dos seus irmãos venha me dizer que morreu por causa de uma overdose? Ou, que foi destruído pelo inimigo, porque estava chapado durante uma briga?" "Não", ele negou, a voz firme. "Isso não vai acontecer." "Você precisa ir embora." Parecendo derrotada, virou as costas para ele. "Agora." "Baby, por favor. Não me dispense. Vou buscar ajuda. Vou parar. Nada-" "Agora, Micah."

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Ela falou sério. Micah não tinha o direito de ficar, não havia motivos para se defender. Respirando fundo, ele disse, "Eu te amo. Isso não vai mudar, nunca. Estarei sempre aqui, se você precisar de mim, ou mudar de ideia." Entorpecido, passou por ela e pela porta do quarto. Continuou caminhando até sua moto, onde se sentou e olhou para a casa, por longos momentos. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e ele a enxugou com a manga. Tentando se controlar. Falhando. Colocando a moto em movimento, Micah se afastou da casa. A perda remoendo suas entranhas. Saiu correndo da sua vida arruinada, a destruição das suas esperanças e sonhos. Com a Alpha Pack, com a sua Companheira. Assim, não viu o shifter com asas enormes vindo do céu, com as garras estendidas, sua intenção clara. Nick não podia gritar. Não foi possível avisar Micah do perigo. A criatura acertou o Micah de lado, duramente, derrubando-o da moto em alta velocidade. Micah foi arremessado pelo ar, voando por terríveis segundos, até que bateu de cabeça em uma árvore. Caindo no chão em um monte amassado, a cabeça em um ângulo antinatural, olhando para o céu. Lutava para respirar.

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E, depois, parou, os olhos castanhos fixos em um ponto que não podia mais enxergar. Nick se impulsionou da visão horrível, lutando para retornar ao aqui e agora. As vozes preocupadas do Micah e da Calla o trouxeram de volta à realidade e, lentamente, o quarto voltou ao foco. Seus pulmões estavam queimando e soltou um grande suspiro, se concentrando no lobo preocupado, na frente dele. "Nick? Chefe, você está com a gente?" Não posso interferir com o livre arbítrio. Mas posso fazer uma sugestão, e isso não significa que eles vão ouvir. Queria dizer ao Micah para vender sua moto. Não se envolver com a Jacee, a bartender do Grizzly. Para parar de usar drogas. Qualquer coisa para evitar o terrível futuro que tinha acabado de presenciar. No final, foi direto ao cerne da questão. Inclinando-se para o Micah, disse: "Dê uma olhada séria na sua vida e para onde está indo, porque acabei de fazer isso." O homem empalideceu, o lado do seu rosto com cicatrizes ficando em relevo gritante contra a sua pele. "Você teve uma visão? Sobre mim?"

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"Sim. E a sua história não vai terminar bem, se você continuar no caminho atual", falou para o homem, severamente. "Acabe com o seu vício, agora, e mantenha os olhos no céu." "Merda." Micah engoliu em seco. "Céu? Não entendi essa parte." "Eu também não. Mas, aparentemente, você vai fazer alguns inimigos desagradáveis no futuro próximo, e precisa estar alerta para combatê-los. Com a nossa ajuda, é claro. Você sempre pode contar com a sua equipe, Micah. Não esqueça que você nunca está sozinho em suas lutas, ok?" Com os olhos arregalados, o homem acenou com a cabeça. "Não vou esquecer. Mas não sou um viciado, ok? A Mac prescreveu essas coisas que estou usando. Sei que é uma droga experimental, mas, realmente, me ajuda a aguentar, sabe?" "Talvez, ajudasse, no início, mas agora está matando você, garoto. Nós vamos falar com a Mac para ver algumas alternativas." "Tudo bem", concordou, claramente abalado. Como devia estar. "Vou me vestir e vou encontrá-lo, e aos outros, na sala de conferências, em alguns minutos." "Entendi." Depois de hesitar, o Micah saiu.

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Primeiro, a visão perturbadora sobre o Phoenix e o Noah e, agora, isso. Cada um dos rapazes já tinha sofrido sua quota de dor de cabeça, mas parecia que havia mais no horizonte. "Nick?" Calla falou, suavemente. "O Micah vai morrer?" "Nós todos vamos morrer, mais cedo ou mais tarde." Lamentou a resposta abrupta no instante em que saiu da sua boca. "Sinto muito. Acredite em mim, baby, você não quer saber o que eu vi. Mas o que disse a ele, foi a verdade absoluta - se não mudar o rumo das suas ações, estará caminhando para um fim brutal e repentino." "Deuses!" Tomando sua mão, levou-a até o rosto dela. "Não sei como você consegue lidar com a possibilidade de ver o futuro. Esse é um dom que eu nunca desejaria ter, nunca. Estou aqui para você, entretanto, da forma que puder. Vou ajudar a manter um olho nele, quando puder." Beijou sua testa. "Obrigado, querida. O que eu vejo não é definitivo, graças a Deus. Os eventos podem mudar, porque as escolhas que as pessoas fazem, mudam constantemente." "Bem, espero que as escolhas dele mudem, e logo." "Eu também." Suspirou. "Tenho que ir a esta reunião. Posso ir para os seus aposentos depois, para podermos conversar?"

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"Claro." Ela o envolveu em um abraço, segurando-o, firmemente, por um minuto, antes de deixá-lo partir. "Minha porta está sempre aberta para você. Você é o meu Companheiro." Aquilo percorreu um longo caminho até aquecer o lugar que tinha estado gelado, em seu coração, após a visão. Depois de lhe dar outro beijo, levantou da cama e vestiu o jeans e a camiseta preta que o John tinha enviado pelo Micah, em seguida, calçou as botas. Sentindo-se mais humano, caminhou para fora, segurando a mão da Calla. "Você deveria ter esperado a minha liberação", Viktor o repreendeu, quando o Nick se aproximou. "Desculpe. Coisas para fazer, pessoas para ver." Qualquer outra coisa que o médico podia ter dito foi perdida quando o Nick se apressou para sair da enfermaria. No corredor, se virou e deu à sua Companheira outro beijo rápido. "Vejo você em breve." "Não se eu o vir, primeiro." Com uma risada curta, ele a deixou, com relutância. Preferia estar em qualquer lugar do mundo com a sua Companheira, do que trabalhando, mas imaginou que caras recém acasalados se sentiam assim. Podia parecer clichê, mas ela, realmente, era o ponto brilhante em sua escuridão e não queria ficar longe dela, tempo suficiente, nem mesmo, para realizar uma simples reunião.

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Voltando sua mente para a tarefa em questão, se encaminhou para a reunião. Os caras estavam inquietos quando entrou e foi recebido com um coro de saudações. Captou alguma merda bem-humorada sobre seu encontro com o basilisco, o que sabia, agora, significar que o aceitavam como um deles. Depois de quase um ano e meio liderando a equipe, sua aceitação integral significava mais do que eles podiam imaginar. Espontaneamente,

pensamentos

sobre

o

Damien

e

seus

telefonemas incessantes, se infiltraram no seu cérebro. Seu irmão não tinha desistido de tentar restabelecer um relacionamento com ele, e estava irritando, fodidamente, o Nick. Não sabia o que dizer para o idiota depois do alô, e não se importava em descobrir. Selene ficaria decepcionada com ele. Deus, isso doía. Sua filha alimentava tal esperança, que seu pai e seu tio, iam se reaproximar. Quando o inferno congelar. "John", disse ele, começando. A equipe olhou para o homem grande, alguns deles com expressões curiosas, que indicavam que ainda estavam se acostumando com o seu nome real. "Você conseguiu falar com o basilisco?" John se levantou e foi para a frente, se apoiando contra a parede perto da frente da sala. "Sim. O nome dela é Sasha. Sua história é que ela foi raptada do seu ninho, há poucos dias, e mantida em cativeiro em uma cela escura, em um subterrâneo. Foi torturada e desprovida de alimentos, presa por uma coleira apertada em torno 248


do seu pescoço para impedi-la de se transformar. Suas contusões e condição física comprovam isso." "Cristo", murmurou alguém. "Ela conseguiu identificar quem a levou?" Perguntou o Nick. "Seres humanos com calças camufladas, portando armas de assalto." "Caçadores", disse o Jax, os olhos cheios de ódio. "Eles não eram os únicos no comando, entretanto, de acordo com a Sasha", John continuou. "Seria o vampiro misterioso ao qual todo mundo está se curvando e puxando o saco, tentando agradar." Nick encostou o quadril na beirada da mesa. "Será que ela deu uma descrição?" "Pele pálida, cabelo escuro e comprido. Sem nome." "Uau,

isso,

realmente,

restringe

bastante",

Aric

falou,

sarcasticamente, revirando os olhos. "Não conheço a porra de um único vampiro que não se encaixa nessa descrição." Nick disparou ao ruivo um olhar, e o lobo calou a boca. Milagrosamente. "Será que ouviu qualquer conversa entre eles, sobre os seus planos?"

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"Agora, isso ela conseguiu", John confirmou. "Vendo que eles pensavam que íamos matá-la quando chegássemos à cena, suas bocas estavam soltas. Foi, exatamente, o que pensamos - soltar um basilisco na cidade, um que tinha sido torturado e estava faminto, era uma isca para nós. Só que era, supostamente, para ser uma emboscada, por isso, obviamente, algo deu errado." "Podem ter mudado de ideia no último minuto", Micah sugeriu. "Depois de ter todo esse trabalho para arranjar tudo?" Ryon, curado e fora da enfermaria, também, balançou a cabeça. "Acho que não." "Dissidência entre as fileiras, talvez", Jax especulou. "Alguém não seguiu as ordens." "Ou apenas fodeu tudo. Isso acontece." Isto veio do Kalen. "Seja qual for o caso, estaremos prontos se eles tentarem essa merda, de novo", Nick disse a eles. "Mas estou inclinado a pensar que eles têm algo diferente planejado." "O quê?" Perguntou o John. "Um ataque em grande escala. Eles podem ter decidido nos testar e observar, avaliar nossos pontos fortes e nossas habilidades de luta para estarem melhor preparados quando nos atingirem", disse o Nick. Esse era um pensamento arrepiante, e os homens ficaram imóveis quando essa possibilidade caiu sobre eles.

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Zander soltou um suspiro. "Isso significa que estamos, realmente, na merda. Vocês têm que ter cuidado lá fora, especialmente com as minhas habilidades de cura fora de uso." Jax colocou a mão no ombro do seu melhor amigo. "Você só tem que cuidar de si mesmo. Nós vamos ficar bem." "Vou contar ao Tarron o que nós conversamos", Nick falou. "Nós postamos mais guardas ao redor da fortaleza e ele tem organizado, secretamente, a prática de exercícios com as fêmeas e suas crias para saírem da montanha, em caso de emergência. Não tenho certeza do que mais podemos fazer, mas estaremos prontos." "Descobrir quem é o líder, onde eles estão, e varrê-los do planeta, em primeiro lugar?" Kalen sugeriu. Os lábios do Nick se curvaram. "Esse seria o melhor cenário, e estamos trabalhando nisso. No minuto em que tivermos qualquer informação, vamos fritar os traseiros deles. Acreditem em mim." Fez uma pausa. "A menos que alguém tenha algo a acrescentar, tenho um anúncio. É por isso que eu queria me encontrar apenas com vocês, hoje, e não junto com o Tarron e os seus homens." A maioria deles já sabia, ou tinha alguma ideia. Estavam apenas esperando

que

Companheiros."

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ele

dissesse.

"Calla

Shaw

e

eu,

somos


Exclamações surgiram, e uma rodada de congratulações, seguida por mais brincadeiras. Nick levou tudo na esportiva, sem mencionar as questões com as quais, ele e a sua Companheira ainda estavam trabalhando. Mas eles mereciam ouvir as palavras dos seus lábios, antes que descobrissem em outro lugar. "Onde vocês dois vão morar, Nick?" Perguntou o Jax, uma ligeira carranca no seu rosto, enquanto alisava o cavanhaque. "Não chegamos nesse ponto, ainda, mas vou informar a todos. Uma coisa que posso dizer, com certeza, é que não vou deixar a equipe ou abandonar o meu cargo." "Certíssimo!" Exclamou o Aric. Rindo, os outros concordaram e Nick foi ameaçado com lesão corporal se tentasse alguma coisa como uma carta de demissão para o Grant. Isso o fez sentir-se malditamente bem. Dispensando a equipe, aceitou os tapinhas nas costas enquanto saía da sala. Quão diferente esta vida era, de quando estava sob o domínio do Damien. Seu irmão era tão inflexível. Prático. Rude. Os homens do Damien, definitivamente, não eram seus irmãos; eles o temiam. E o medo gera ódio. Nick quase sentia pena porque o bastardo nunca conheceria esta camaradagem. Quase.

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Apressando os passos, foi para o quarto da sua companheira. Chegou no corredor, onde devia virar para chegar ao quarto dela, quando seu celular tocou. Meio que esperava que a chamada fosse do seu irmão, mas ficou surpreso ao ver que era do Tarron. "Westfall", disse ele, respondendo. "Nick, temos um problema." "Não, no telefone. Irei para o seu escritório." Desligando, caminhou a passos largos, sem querer perder tempo, mas não querendo alarmar ninguém. Quando chegou na porta, bateu. "Entre." O príncipe estava zanzando sobre o carpete e olhou para cima, com alívio, quando o Nick entrou. "Um dos meus guardas deixou a fortaleza, sem a minha permissão. Coloquei-o no último turno, e descobri que pediu para ser liberado, alegando ter ficado doente por causa de um lote ruim de sangue. Após o seu turno ser coberto, uma das câmeras o capturou no perímetro da saída, agindo muito furtivamente." "Quem era?" "O Graham."

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"Maldição", o Nick disse, com raiva. "Era o único que estava com a Calla, quando foi raptada. Devia ter dado uma olhada mais atenta nele, antes. Alguém está seguindo ele?" "Enquanto conversamos. Quer se juntar a mim na caçada?" "Está brincando? Vamos pegar um traidor." Retornando, rapidamente ao seu beliche, Nick se vestiu com roupas camufladas e pegou suas armas. Seu lobo rondava, inquieto, dentro dele, querendo ação. "Em breve", prometeu. Com uma última verificação na munição, foi ao encontro do Tarron, na entrada. Hora de descobrir o que, diabos, estava acontecendo e destruir o idiota que estava por trás de tudo isso.

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CAPÍTULO 10

Lá fora, na entrada, Nick e o Tarron entraram em um Land Rover conduzido pelo Ian. Micah acompanhou o Nick, parecendo surpreso e satisfeito por ter sido escolhido para esta missão, quando a verdade simples, era que o Nick queria aumentar a autoconfiança do jovem lobo, e manter um olho sobre ele. "Por que não estamos rastreando o Graham por terra, em forma de lobo?" Nick perguntou, quando o veículo saiu da garagem. Ainda tinha o cheiro do guarda gravado no cérebro do seu lobo, então segui-lo não seria um problema. Tarron respondeu, do seu lugar no banco do passageiro da frente, ao lado do Ian. "Teague está rastreando a Van que o Graham pegou, utilizando o dispositivo de rastreamento instalado no veículo." O príncipe apontou para o fone de ouvido sem fio que o Ian estava usando. "Está passando as instruções para o Ian."

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"Isso é, certamente, mais fácil." Micah falou, ao lado do Nick. "Bons e antigos métodos shifter vencidos pela tecnologia. É triste, realmente." Parecia tão sincero, que o Nick e os outros riram. Nick disse: "Não se preocupe, garoto. Você vai ter muitas oportunidades para usar os seus talentos." Micah, sendo um tipo fácil de se lidar, normalmente, não fez objeção à diversão, ou a ser chamado de "garoto". Nick era bom em ler as pessoas, e o Micah tinha um grande coração. Só precisava acreditar em si mesmo e, para isso, tinha que vencer o horror que tinha colocado aquelas cicatrizes no seu rosto. A melhor maneira do Nick poder ajudá-lo a fazer isso, era mantê-lo na linha de frente. Qualquer coisa para impedir sua visão de acontecer. Ian seguiu em frente, recebendo instruções, de vez em quando, do seu Deus tecnológico, levando-os através das montanhas por uma boa hora. Por fim, Ian estacionou ao lado da estrada e se dirigiu ao grupo. "Precisamos parar aqui e andar o resto do caminho para não alertarmos o Graham e a quem ele está se reunindo." Os vampiros tinham trazido uma câmera e um dispositivo de gravação, que surpreendeu o Nick pela praticidade, exatamente como

Micah

tinha

colocado,

anteriormente.

habilidades especiais, não resolvia tudo.

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Às

vezes,

ter


Partiram através do terreno verde, caminhando em torno das rochas e dos arbustos. O céu estava azul claro, algumas nuvens, à deriva, passando. Um bom dia para vigiarem, mas também, para serem vistos. Teriam que tomar cuidado. Uma única voz chegou até eles, e Tarron acenou, fazendo com que parassem. "Graham", sussurrou. A conversa era unilateral, e o guarda soava inquieto. Irritado. "Parece que está no telefone." Ao se aproximarem, se esconderam na mata, em um local que dava para a área relativamente plana, onde o Graham tinha estacionado a Van emprestada. Estava sozinho, andando e passando a mão pelo cabelo escuro. O vampiro estava, obviamente, nervoso, e o Nick achava que tinha que estar, dormindo com o inimigo. Embora ainda tivessem que ver por si mesmos. Inocente, até que provem o contrário. Ian tirou fotos e Tarron encarregou o Micah de fazer a gravação com o pequeno dispositivo de mão que tinha trazido. O quarteto assistiu e ouviu, enquanto o Graham, silenciosamente, se revelava, enquanto esperava a reunião começar. O pobre coitado era um vilão horrível, Nick pensou. Estava tão nervoso, exteriormente, que seria comido vivo. Finalmente, uma caminhonete contornou a curva, e três homens saltaram. Dois estavam usando roupas camufladas e carregavam fuzis de assalto. O terceiro era...

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"Filho da mãe do inferno", Nick chiou. "É o Scott Morgan." "Quem?" Tarron olhou para o homem de aparência inócua, com uma careta. Nick deu uma nova olhada no Scott, sabendo que eles viam um homem de estatura média e rosto amigável, com o cabelo castanho desgrenhado e olhos escuros. "O novo mecânico da Alpha Pack", informou, fervendo. "O pequeno bastardo foi plantado para nos espionar, obviamente." "Mas, por quem?" Micah questionou. "Quem tem o poder de substituir o Tom, tão de repente?" Apenas o Grant, mas o Nick se recusava a acreditar que o general ia traí-los. "Não sei." O trio improvável abordou o Graham, mas os dois caçadores durões ficaram um ou dois passos atrás, permitindo ao Scott assumir a liderança. Um deles até lançou ao "mecânico" um cauteloso - não, apavorado - olhar e colocou ainda mais espaço entre eles. Que porra é essa? Graham deve ter tido o mesmo pensamento. "O líder durão enviou um menino para fazer o seu trabalho?" Ele zombou. "Pensei que possuía um pouco de astúcia." Então, Graham e o Scott não tinham se encontrado, antes de hoje. Aparentemente, o Scott tinha sido recrutado, ou pelos caçadores ou pelos selvagens, para o chefe dos vampiros.

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O rosto do Scott escureceu e ele se manteve perigosamente estático. "Vampiro, você é o único menino presente, e o único estúpido, até agora. Nunca presuma, até que saiba, exatamente, com quem está lidando." A confiança do vampiro diminuiu um pouco e ele mudou sua postura. "Suponho que você não se importará em me dar uma pista, finalmente?" Scott sorriu e, bem diante dos seus olhos, começou a se transformar. Seus incisivos se alongaram vários centímetros, afiados e mortais. Sua altura cresceu para quase dois metros e sua constituição passou, de magra e normal, para musculosa. O cabelo castanho se tornou ondulado e escuro, alcançando os ombros. O resto do glamour se desvaneceu, e o estranho estava diante deles, vestindo calças de couro e uma camisa preta sem mangas, que exibia as tatuagens de dragão e outros arabescos, que adornavam os dois braços. Nick observou, o pulso disparando quando recordou onde tinha visto este homem, antes. "Ainda não tinha visto você por aqui", uma voz falou, com indolência. Nick olhou para o estranho sombrio parado nas sombras. Lançando seus sentidos de clarividente, descobriu que os muros que cercavam este homem eram quase impenetráveis. Isso o

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incomodou mais do que gostaria de admitir. "Não posso dizer que já vi você, de qualquer forma. Conhece a Calla ou o seu irmão, pessoalmente?" "Não, na verdade. Você pode me chamar de penetra." Seu sorriso era selvagem. "Amigo de um amigo. Sabe como é." Algo sobre o homem o deixou alerta. "Eu sou Nick Westfall, com-" "Comandante da Alpha Pack. Sim, ouvi comentários. Um belo trabalho se consegue realizá-lo." Raiva incendiou o sangue do Nick. Tinha sido enganado por esta criatura, o tempo todo. Todos tinham sido enganados. O monstro vil vinha observando, fornecendo informações ao seu mestre. E desfrutando do jogo. Brincando com sua presa. Outro trecho da conversa se reproduziu na sua cabeça. "Eu não gravei o seu nome", disse o Nick. "Eu não disse." Ele mordeu o queijo, olhando para o Nick. "Mas, é Jinn." "Jinn...?" Perguntou. "Apenas Jinn. Sem sobrenome."

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Dentro dele, o lobo de Nick se agitou e retumbou em advertência. Nick tinha reconhecido o nome da sua visão sobre o Nix recebendo a notícia do rapto do Noah. "Como assim?" Aproximando-se mais, farejou o cheiro do Jinn e descobriu que não era um shifter, ou um vampiro. Não era Fae, humano, ou qualquer coisa deste mundo, absolutamente, parecia. O homem-criatura riu, mostrando os dentes brancos e retos, com grandes incisivos. "Você sabia que na mitologia árabe, os Jinn são a terceira criação de Deus, depois dos anjos e seres humanos? Dizem que somos feitos de fumaça e fogo, podendo assumir a forma humana, e viajar entre as dimensões. E podemos ser bons ou maus, conforme o nosso humor." Balançando a cabeça, Nick voltou ao presente e assistiu o acidente acontecer. Graham tinha tropeçado para trás e estava olhando para a criatura que, definitivamente, não era o ser humano chamado Scott Morgan. "Qu-quem é você?" Graham gaguejou. "Você não quer dizer o quê?" O sorriso do Jinn era aterrador, os olhos frios. O vampiro balançou a cabeça. "Não importa. Eu não me importo, desde que receba meu quinhão por fazer a minha parte."

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"O Príncipe Tarron e a Princesa Calla mortos, e o controle do seu clã, correto?" Seu tom era suave. "Sim, esse era o combinado." Graham adquiriu um pouco de coragem, se endireitando. "E fiz a minha parte. Deixei-o saber que a Calla estava saindo para uma caminhada até a cachoeira, para que os seus homens pudessem levá-la como isca. Me deixei ser esfaqueado, pelo amor de Deus. Tudo o que os seus caçadores tinham que fazer era esperar pelo Tarron e o Westfall chegarem e exterminá-los, e o líder e os seus idiotas conseguiram estragar tudo.” Que traidor fodido. Nick lançou um olhar para o Tarron, e o príncipe parecia pronto para rasgar a garganta do Graham. "Seu sanguessuga inútil, pedaço de merda”, um dos caçadores gritou, avançando para ele. Foi parado por um movimento do pulso do Jinn, congelando-o no lugar, piscando com raiva. "Até agora, a sua contribuição tem sido muitíssimo pequena, em comparação com a sua demanda", a criatura observou. "O que você não entende é que o poder e a motivação do príncipe Ivan são muito maiores que os seus. O que você tem que ele pode, realmente, usar?" Ivan... Cardenas? Nick olhou para o Tarron novamente, que declamou, "Cardenas é o líder misterioso?"

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A luz se fez. Cardenas tinha organizado a reunião de planejamento para a aliança dos clãs. "Talvez", Nick sussurrou de volta. Mas qual, diabos, era o motivo do Cardenas para a vingança que o Jinn se referiu? Graham tentou se retratar, recuando um pouco. Parecia estar lembrando da ladeira escorregadia na qual estava pisando quando removeu um pequeno aparelho do bolso do paletó. Um pequeno tablet, parecia. "Tenho algo que ele vai querer. Asseguro-lhe que vai ajudar a alcançar seus objetivos." Tocando rapidamente um par de aplicativos, Graham mostrou algo para os seus companheiros verem. Algum tipo de documento, talvez. Fosse o que fosse, não podia ser visto à distância, mas os caçadores começaram a gargalhar de alegria. "Fodido A", um piou. "Que merda." "Você conseguiu", Jinn ronronou. "Envie isso para o e-mail do príncipe Ivan, agora, e me mande uma cópia." Oh, o Graham não podia ser tão estúpido. Mas era, e perdeu, completamente, o sorriso malicioso que o Jinn trocou com os caçadores, enquanto sua cabeça estava abaixada, fazendo o que o Jinn ordenou. Quando o e-mail foi enviado, o vampiro ergueu a cabeça.

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"Pronto. Fiz o que você pediu. Quando o Ivan vai ter tudo feito, para que eu possa ganhar o controle do clã? Tenho planos para uma aliança mundial, também." Os olhos do Graham brilharam com a perspectiva. Jinn sorriu. "Você? Isso é muito ruim, porque, infelizmente, os seus planos e o do meu mestre estão em completo desacordo." "O que você quer dizer? Tínhamos um acordo!" "Isso foi no que você acreditou." Jinn riu. "Ele nunca ia lhe dar o controle do clã. Vai destruí-lo, e cada homem, mulher e criança também, como vingança pelo assassinato do seu Companheiro. Você já não é mais útil para ele." Ao lado do Nick, a expressão do Tarron era ameaçadora. "O quê?" Graham recuou, os olhos arregalados. "Eu sou útil! Não tenho provado isso?" Sem responder, Jinn estendeu a mão. Uma nuvem de fumaça saiu da palma da sua mão, espessa, flutuando até o Graham. "O que você está fazendo?" O vampiro engasgou. Essas foram suas últimas palavras. A fumaça enrolou como uma corda ao redor do seu pescoço e apertou. Ele a arranhava, sem efeito nenhum, quando caiu no chão, os dedos, apenas, deslizando

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através da névoa horrível que estava estrangulando a vida para fora dele. Seu rosto ficou vermelho, depois roxo. Seus braços ficaram inertes ao seu lado e os olhos fixos no céu, enquanto seu corpo tremia violentamente. Em seguida, os espasmos diminuíram para uma contração muscular ocasional. E depois, nada. Jinn caminhou e se ajoelhou ao lado do corpo. Nick se perguntou o que o bastardo estava fazendo quando agarrou a camisa do Graham e rasgou, abrindo-a na frente. Quando o Jinn levantou a mão, alongando as garras como lâminas letais, ficou com medo de saber. A criatura mergulhou as garras no peito do Graham, dividindo seu esterno em dois, como se cortasse manteiga. Então, cavou e, até mesmo da sua posição, Nick pôde ouvir o terrível barulho da carne do vampiro morto, quando o Jinn arrancou o coração do Graham do seu peito. Ansiosamente, o Jinn rasgou o órgão com as presas e fechou os olhos, em êxtase. Os caçadores tinham recuado todo o caminho até o veículo, a repulsa em seus rostos, e, tanto quanto o Nick os odiava, não podia culpá-los. O Jinn comeu até a última mordida do seu lanche, em seguida, limpou a boca e as mãos nos restos esfarrapados da camisa do vampiro morto.

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"O coração dos desvirtuados", falou, em êxtase. "Nada neste plano, ou no outro, tem um gosto melhor." Ao lado dele, Micah fez um barulho leve de engasgo. Sua mão estava sobre a boca e parecia estar prestes a vomitar na grama. Nick colocou a mão no seu ombro para dar apoio ao lobo. A última coisa que precisava, era ser descoberto por uma criatura cujo poder, possivelmente, se igualava ao do Kalen. Jinn pegou o tablet do Graham e caminhou de volta para o veículo. Em segundos, estavam se dirigindo para longe e, então, desapareceram. "Que porra é essa coisa?" Perguntou o Tarron, horror colorindo a sua voz. "O nome dele é Jinn," Nick disse ao grupo, um calafrio de medo se juntando à raiva. "Pelo menos, isso foi o que ele me disse quando o conheci, na sua festa. É uma criatura demoníaca paranormal, não um Feiticeiro. Não há uma gota de sangue humano no seu corpo. Ele é o equivalente a um renegado que carrega poderosa magia negra e, por alguma razão, se uniu ao Ivan." "O amor é cego", Micah murmurou, sarcasticamente. Em outras circunstâncias, isso teria sido engraçado. "Eu não conheço outro Ivan, além do Ivan Cardenas, mas não consigo entender por que estaria atrás de mim com tanto desejo de

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vingança." Tarron parecia perdido. "A vingança pelo assassinato do seu Companheiro? Na totalidade da minha longa existência, nunca veio ao meu conhecimento ter matado uma fêmea." Todos eles digeriram isso, por alguns momentos. Em seguida, o Micah disse, "Seu companheiro pode ter sido um homem." E lá estava. A virada do interruptor de luz que precisavam. O motivo que faltava. Tarron se virou e encarou o olhar do Micah. "Mãe dos deuses. Carter Darrow." Ian amaldiçoou. "Talvez. É só um palpite, neste momento." "Como eu posso ter perdido o fato de que o Carter estava acasalado?" Tarron perguntou em voz alta. "Por que isso não veio à luz, antes?" Nick tentou acalmá-lo, porque a culpa já estava lá, na voz do seu cunhado. "Olha, se isso é verdade, ninguém sabia. O Carter, obviamente, manteve o Ivan na moita, talvez para protegê-lo. Mesmo tão ruim quanto era, a necessidade de proteger o cônjuge transcende todo o resto." "Se o Ivan era o seu companheiro", Ian intercedeu. "Vou atrás disso com o Teague, assim que voltarmos para a fortaleza, ver o que podemos desenterrar."

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Tarron balançou a cabeça, claramente abalado. "Certo. Se o Carter era o companheiro do Ivan, ele não vai parar por nada, até me enterrar. Precisamos descobrir o que o Graham repassou para ele, agora." "Nós vamos entrar na conta do Graham e descobrir isso, também", Ian prometeu. "Devemos levar seu corpo de volta?" Perguntou o Micah, ainda visivelmente perturbado pela visão macabra diante deles. Tarron pensou sobre isso. "Não. Caso eles voltem, vai ser suspeito se ele tiver sido levado, rápido demais. Deixe o traidor, por enquanto, e vou enviar alguns homens em uma missão, para 'encontrar' o guarda desaparecido, amanhã. Vamos lhe dar um enterro apropriado, e manter isso entre aqueles que precisam saber." Todos de acordo, entraram no Rover, novamente, e se dirigiram para a fortaleza. O clima era sombrio porque o Tarron estava certo. Vingança em nome de um companheiro assassinado, era uma fúria que ninguém, em seu juízo perfeito, queria enfrentar. Não teria alterado a morte do Carter, mas se soubessem que o Ivan existia, o teriam levado sob custódia, naquela época, para determinar o nível de ameaça para eles. Agora, era tarde demais. Tudo o que podiam fazer, era conseguir mais informações.

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De volta à sala de conferências, se espalharam, enquanto o Teague tentava fazer seu rastreamento mágico funcionar. Encontrou várias contas pertencentes a Ivan Cardenas de Barcelona, incluindo duas contas de e-mail e várias contas bancárias. Também encontrou um par de contas bancárias, que uma vez tinham pertencido, conjuntamente, ao casal, antes da morte do Darrow. As contas conjuntas estavam ligadas a um endereço externo em Chattanooga. "Responde as nossas perguntas", disse o Teague, com um suspiro. "Cristo na cruz, estamos fodidos." "Sua confiança é esmagadora." Tarron olhou para o técnico. "Desculpe." Lançando ao príncipe um olhar de desculpas, trabalhou para entrar no e-mail do Graham. Mas, conforme o tempo passou, levantou e se espreguiçou. "Droga. Se o Graham enviou alguma coisa importante, que o Ivan queria, não enviou a partir da sua conta de e-mail regular. Não há anexos aqui, absolutamente. Vou continuar procurando, mas isso pode demorar um pouco. Ele deve ter outra conta, com um nome falso." "Vamos sair daqui e deixar o Teague trabalhar", disse o Tarron. "Vou deixar que todos saibam se ele encontrar alguma coisa." Teague sorriu. "Quando eu encontrar, você quer dizer."

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Nick se despediu e seguiu pelo corredor. Levou alguns segundos para perceber que estava caminhando, instintivamente, na direção do quarto da Calla. Não tinha certeza que estaria lá, mas parecia um bom lugar para começar. Tinha sentido falta da sua Companheira. Esperava que deixasse mostrar a ela, o quanto. *** Calla percorreu os corredores, tentando não ficar preocupada. Descobriu, em segunda mão, que o Nick tinha saído da fortaleza com o seu irmão, e o guarda para o qual perguntou, não sabia por quê. Nick não se preocupou em se comunicar com ela, para lhe dizer que estava saindo, e isso a incomodou demais. Ele era o comandante, e um homem ocupado. Também estava acostumado a ficar sozinho. Entendeu isso, ou sua cabeça entendeu. Seu coração doía um pouco. Como se, para reforçar sua melancolia, uma cãibra apertou seu estômago. Levantou-se e foi para o banheiro, planejando espirrar um pouco de água no rosto, mas uma onda de vertigem quase a derrubou no chão. "Porra de orgulho estúpido", murmurou. "Devia, apenas, ter dito a ele que precisava do seu sangue, em vez de esperar que ele descobrisse isso."

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E não havia dúvida que ainda não tinha descoberto que o seu, era o único sangue que ela podia tomar. Isso não era uma coisa que ele ia deixar passar, sem fazer nada. Apoiando-se contra a parede do banheiro, cambaleou até a pia e abriu a água quente. Espirrando-a em seu rosto, se sentiu bem, mas o alívio foi temporário. O banheiro se inclinou em um ângulo louco e ela agarrou o balcão, quando começou a cair para o lado. Sua força foi embora e ela caiu. O balcão escorregou da sua mão e ela acertou o chão com um grito fraco, batendo a cabeça no ladrilho. Deitada, tentou limpar as teias difusas do seu cérebro. Nada aconteceu. Não conseguia se concentrar, ou pensar. Bem, não conseguia pensar em nada, exceto a queimação no seu estômago, que exigia sustento. Precisava do sangue do seu companheiro, e rápido. Nick, ela pensou. Mesmo que não pudesse ouvi-la, ela gritou. E continuou chamando até que a escuridão a levou. Calla. Calla, acorde! Baby, volte para mim! Sua cabeça foi segura por mãos fortes. Um perfume masculino agradável brincou no seu nariz, e tentou abrir os olhos. "É isso aí, baby! Acorda. Você consegue."

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Seu corpo foi levantado, e se sentiu envolvida por aqueles braços maravilhosos e, em seguida, colocada em algo macio. Sua cama? Mãos acariciaram seu rosto, em seguida, verificaram o couro cabeludo e os membros, procurando lesões, enquanto o Nick continuou a falar em voz baixa. "Você teve um galo", falou. "Aqui. Não parece tão ruim. Você pode me ouvir?" "Humm." "Olhe para mim, querida. Por favor." Com grande esforço, abriu os olhos e se viu olhando para os belos olhos azuis dele. "Fome", sussurrou. Confusão e preocupação, se misturaram ao pânico, no rosto bonito. "Por que você não comeu, baby? Vou pegar alguma coisa." "Preciso de sangue." "Ok. Você usa um doador?" A expressão dele disse que não gostava muito da ideia. "Ou bolsa de sangue?" "Você." "Desculpe?" "Você", ela disse, calmamente. "Precisa ser o seu."

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"O meu?" Uma indicação de medo escureceu seu rosto. "Mas vocês, os vampiros, podem tomar qualquer sangue. Por que você não tem se alimentado?" "Não, qualquer sangue. Não depois de acasalada", disse a ele. "Só pode ser o seu, agora." A verdade caiu sobre o rosto dele e lamentou o horror que apareceu lá. Mas se pensou que o horror era por causa dela, estava errada. "Você está me dizendo que está sofrendo desde que eu a reivindiquei?" Ele sussurrou, a vergonha colorindo sua voz. "Que você ia morrer de fome? Por que, pelo amor de Deus?" "Eu sei que não está confortável com o fato de morder você, Nick", sussurrou. "Não depois do que aconteceu com você." "Isso não importa - não quando se trata disto! Não quando põe em perigo a sua saúde!" Sentando na beira da cama, pegou sua mão e engoliu em seco. "O que você precisa? Meu pescoço? Jugular?" Ele faria isso por ela. Deixaria de lado o seu medo, por ela. Apertou sua mão. "Não, seu pulso vai funcionar bem. Não vai ser uma reivindicação, mas posso me alimentar." "Aqui, deixe-me ajudá-la."

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Sentando-a, ele afofou os travesseiros atrás da cabeça dela. Em seguida, a ajudou a se reclinar sobre eles, para que pudesse chegar até ele, facilmente. Levantando o braço, falou: "Faça, baby. Tome tanto quanto você precisar." Tomando seu pulso, falou com carinho. "Quando eu o fizer, provavelmente, irá excitar você. Pensei que ia querer saber por causa do que o Carter fez com você. Mas deve ser uma experiência muito boa, não má." Ele balançou a cabeça. "A excitação é normal. Eu sei disso." "Sim, especialmente entre os companheiros. Haverá uma pequena picada, mas não vai durar. Você vai sentir prazer, e não há nada de errado com isso. Nada de errado em prosseguir até sua conclusão natural." Ele riu, parecendo, de repente, tímido, para um comandante lobo, grande e durão. "Ok. Estou pronto, como jamais vou estar." Não há sentido em desistir pelo seu nervosismo, agora. Hora de mostrar que, permitir que a sua companheira se alimentasse dele, era a experiência mais natural e sensual do mundo. Gentilmente, deslizou as presas para a parte exposta do seu pulso. Gotas de sangue brotaram na sua carne e ela começou a sugar. No mesmo instante, um choque de pura luxúria atravessou o corpo dele. Enquanto o sangue, muito necessário, a revitalizou, também

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prosperou a conexão sexual de tomar uma parte do seu Companheiro para si mesma. Ele estava excitado, também, a julgar pela respiração entrecortada. Seu companheiro olhou para ela e mudou de posição, na cama, sentando-se para ter acesso ao zíper da calça jeans. Como tinha adivinhado que faria, desabotoou a calça jeans e abaixou o zíper. Em pouco tempo, seu pênis apareceu, livre, vermelho e gotejando. "Sim, meu amor", ela murmurou contra o seu pulso. "Assim mesmo. Toque-se para mim." "Deus." Qualquer medo que tinha, antes, voou pela janela, quando ela começou a chupar seu pulso, novamente. Com um gemido, apertou a ereção com a mão livre e começou a bombear a carne rígida. Ela gostou de assistir seu Companheiro dar prazer a si mesmo. Não havia nenhuma vergonha em qualquer ato sensual entre um vampiro e o seu Companheiro. Ele estava aprendendo isso e era alucinante ver. Tomou tudo o que precisava, enquanto ele se acariciava, mais e mais rápido. Cuidando para não demorar muito, retirou as presas, logo que estava saciada e lhe deu um sorriso. "Vou me deitar de costas. Monte no meu rosto."

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"Tem certeza?" Resmungou. Seu pênis se contorceu, em antecipação. "Muito. Estou mais do que bem, agora." Ela piscou. "E estou com uma fome totalmente diferente." "Merda, baby." Deitando-se, esperou ele colocar os dois joelhos em ambos os lados da sua cabeça. Ela adorava esta posição, o grande e forte companheiro agachado sobre o seu rosto. Envolvendo os braços ao redor dele, segurou e amassou sua bunda, então começou a chupar suas bolas. O gemido torturado que escapou dos lábios dele a fez sorrir, antes que voltasse a lamber cada parte dele que conseguisse alcançar. Cada vinco e pedaço da carne doce. Com os braços e as coxas tremendo, se firmou sobre ela e a deixou comê-lo e lambê-lo. Usar os dedos e chupá-lo. As bolas, o pau, e o períneo. Deixando-o duro e molhado, exasperando-o além da resistência, exatamente onde ela o queria. Tomando o pênis profundamente na garganta, ela o chupou sem piedade, até que ele estava tentando, desesperadamente, recuar. "Vou gozar, querida! Deixe eu te foder." Segurando firmemente a sua bunda, ela o soltou, apenas, o tempo suficiente para ordenar, "Goze no meu rosto todo. Me marque, lobo."

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Seus olhos brilharam, com pura luxúria e possessividade. Ela apelou para a parte mais vil de um shifter, e ambos sabiam disso. Quando o tomou em sua boca, de novo, ele bombeou, com longas estocadas, deslizando a carne entre os seus lábios. Ela adorou cada segundo, certificando-se que ele soubesse disso, emitindo sons satisfeitos vindos da sua garganta. Isso o levou mais alto, altoEm seguida, enrijeceu, puxando-o para fora. E gozou em todo o seu rosto e pescoço, córregos perolados banhando-a com calor. Marcando-a, do jeito que tanto queriam. Depois de espremer a última gota, saiu de cima dela e colocou seu corpo sobre o dela. Beijou-a profundamente, com gozo e tudo, até mesmo, degustando-se, com um grunhido de prazer. "É um visual que fica muito bem em você", disse, obviamente orgulhoso de si mesmo. "Você o colocou aí.” Sorriu para ele, que grunhiu com satisfação masculina. "Você foi a instigadora." "O veredito?" Ele tomou sua boca em um beijo doce. "Tudo o que eu podia ter esperado, e muito mais."

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"Sem medo?" Esperou ansiosamente pela resposta. "Nenhum. Não com você", falou, a voz baixa e rouca. "Você estava certa, ser mordido pela sua Companheira não é nada parecido com o que suportei, antes. Não está, nem mesmo, no mesmo reino." "Estou tão feliz." Lágrimas picaram seus olhos quando passou os braços em volta do pescoço dele. Ela brincou com o cabelo, tocando os fios luxuriosos entrelaçados com os prateados. "Nada de tristeza, baby. Vamos descobrir as coisas, você e eu. Nós podemos fazer isso." Ele a beijou novamente, em seguida, passou a remover suas roupas. Ela não ofereceu protesto algum quando, finalmente, a teve esparramada, nua debaixo dele e espalhando suas coxas para agachar-se entre elas. "Quantas vezes você precisa se alimentar?" Perguntou. "Não camufle a verdade." "Todos os dias, pelo menos uma vez." "Vou me certificar de estar disponível para você." Então, franziu a testa. "E se eu estiver em uma missão? Às vezes, posso ficar afastado por alguns dias."

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"Podemos manter vários sacos de sangue no armazenamento, para mim. Fresco, da fonte, é, obviamente, mais agradável para todas as partes, é claro." Ele retribuiu o sorriso e beijou seu nariz. "Claro. Problema resolvido, então." Tendo encerrado a conversa, por enquanto, se abaixou e depositou beijos leves na parte interna das suas coxas e trabalhou o caminho para o norte. Todo o caminho até a sua fenda, onde a fez se contorcer, empregando a língua talentosa para torná-la uma vampira muito feliz. Ele lambeu e chupou, mostrando-lhe, exatamente, a mesma misericórdia que ela tinha mostrado momentos antes - nenhuma. Em pouco tempo, estava se contorcendo sob os seus cuidados, cada pedaço dela, em chamas. O orgasmo iminente serpenteando pelo seu sexo e, quando gozou, não conseguiu segurar a onda. "Oh! Deuses, sim!" Ela se arqueou contra o rosto dele, montando a tempestade. Ele espremeu até a última gota, lambendo-a até que ela se acalmou, ofegante, sob suas mãos. Por fim, tomou-a em seus braços e a aconchegou em cima das cobertas. Ela se aconchegou no peito dele, ouvindo seu batimento cardíaco e chamando a si mesma de sortuda. Depois de todas

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aquelas décadas solitárias, desde o assassinato do Stefano, encontrou a alegria, novamente. "Você está feliz?" Perguntou. "Sim", ele falou, suavemente. A verdade estava em sua voz, no seu toque. "Mais do que jamais pensei que mereceria estar, de novo." "Você merece tudo. E vou me certificar que vai obtê-lo." "Da mesma maneira da minha parte, baby." Fez uma pausa. "Quero que você me reivindique." Erguendo-se, olhou para o rosto sério, o coração acelerando com a emoção. "Sério? Você está falando sério?" "Estou." Sorriu. "Quero planejar algo especial para nós dois, fugir da loucura por um tempo. Então, quero que você me reivindique como seu, para sempre." "Nick". Uma lágrima escapou, e ela sorriu. "Eu adoraria isso." "Então, está feito. Não me importo com o que mais está acontecendo; amanhã à noite, você e eu vamos ter algum tempo sozinhos, para consolidar o nosso vínculo." "Oh, Nick, isso seria incrível."

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Aconchegando-se ao lado do seu Companheiro, Calla adormeceu. Era assim que devia ser. Dois Companheiros ansiosos pelo futuro, e nĂŁo, vivendo com medo. AmanhĂŁ Ă noite, apenas por algum tempo, iam esquecer seus problemas. E seriam Companheiros, para sempre.

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CAPÍTULO 11

Um grito estrangulado tirou a Calla de um sono profundo. "Não! Eu não vou!" O Nick se debateu ao lado dela, na cama. "Nick!" Sacudiu-o, na esperança de acordá-lo sem alarmá-lo mais. "Querido, sou eu." Sua reação foi rápida e violenta. Movendo-se como um ninja, prendeu-a na cama e pairou sobre ela, os dentes à mostra. Estava olhando para ela, na escuridão, mas seus olhos não a estavam enxergando. "Vou te matar", ele rosnou. "Por que, merda, você não continua morto?" Oh, deuses! "Nick! Sou eu!" Estendeu a mão para sua garganta, e ela reagiu, instintivamente, trazendo o joelho para cima e acertando suas bolas. Gritando, ele 282


caiu para o lado na cama e agarrou o pacote ferido. Seu pulso batia com medo, quando ela fugiu, observando-o, para ver se ele ia partir para o ataque, novamente. Ele não o fez. Em vez disso, a raiva, lentamente, deixou seus olhos. Ele a olhou, acordando aos poucos, até que se apoiou em um braço, olhando para o rosto dela, como se nunca a tivesse visto antes. "Calla?" "Sim. Você está bem?" "O que eu fiz?" Vergonha encheu seu rosto. "Será que eu - Oh, Deus. Acabei de atacá-la?" "Está tudo bem", disse ela, estendendo a mão para ele. Não esperava a reação que ele teve. Empurrando a mão dela, ele rosnou: "Não está tudo bem! Tentei atacar minha própria Companheira! Cristo, talvez isso tenha sido um erro." "O quê?" Não. Não depois de ontem à noite. "Foi o que eu disse. Talvez devêssemos parar, antes que acabe machucando você de verdade."

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Não pôde evitar o riso amargo que escapou. "Você acha que é preciso um golpe físico para ferir alguém? Não posso acreditar que você vai arruinar algo tão especial como o que aconteceu entre nós, na noite passada, dizendo essas coisas para mim." "Caralho!" Pulando para fora da cama, socou a parede com tanta força, que a pedra, realmente, rachou sob o seu punho. Ela estremeceu e se encolheu, se afastando dele, começando a ficar, verdadeiramente, assustada. Este não era o homem amoroso e apaixonado que tinha se entregado a ela, ontem à noite. "Você está me assustando", sussurrou. Se retesando, se preparou para correr. Ele se virou e, nesse momento, ela o viu retornando à razão. Vergonha e culpa se seguiram, enquanto ele parecia sacudir os últimos efeitos do pesadelo. "Calla, eu sinto muito", disse, com voz rouca. "Me perdoe." Se afastou da cama e parou perto dela, sem fazer movimentos bruscos, enquanto ela o observava, com cautela. "Sinto muito", ele repetiu.

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"Você não pode dizer que o nosso acasalamento foi um erro e esperar que eu deixe isso para lá." Sua garganta ardia com lágrimas não derramadas. "Eu não quis dizer isso. Juro para você." Angústia tomou seu rosto. "Estava sob o domínio do pesadelo quando acordei, pela primeira vez. Então, ataquei porque me deixa louco que ainda me afete dessa maneira." "Entendo isso, mas não posso esquecer o que você disse. Não posso esquecer como você ficou, quando quis me estrangular." As lágrimas caíam, e ela não conseguia detê-las. Estendendo a mão, ele a tomou em seus braços. "Sinto muito. Estou tentando. Vou lutar esta batalha todos os dias, e estou com medo que vá perder." "Eu vou lutar com você! E você não vai perder, contanto que não desista de mim." Ela fungou. "Mas, talvez, você precise de algum espaço. Talvez, eu tenha exigido muito." "Nunca", ele negou. Então ele a beijou. Apesar de si mesma, inclinou-se para ele, pedindo mais. Ela o queria, e nada iria mudar isso. Nick levantou a mão e, gentilmente, colocou um dedo sob o queixo da Calla, inclinando o rosto dela para cima. Seus olhos se

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encontraram e, apesar da dor, devolveu seu desejo, em igual medida. Vagamente, se lembrou de sua sugestão, de lhe dar algum espaço. Para o inferno com aquilo. Esperava, fervorosamente, que ele a beijasse, novamente. Não se decepcionou. Ele a puxou para perto e tomou sua boca, saboreando-a. Por fim, recuou e a olhou, em silêncio, por tanto tempo que ela começou a se preocupar. "No que você está pensando?" "Que precisamos de algum tempo sozinhos", disse, tocando o seu rosto. "Só você e eu. Algumas horas de distância para levar as coisas devagar e apreciar um ao outro, ver aonde as coisas vão." Ela gostou da ideia, muito. "O que você tem em mente?" "Venha jantar comigo, esta noite." "Aonde vamos?" Perguntou. Seu pulso acelerou, emocionado diante do pensamento de ter um encontro de verdade com o seu Companheiro. "Não tenho certeza, mas vou organizar todos os detalhes para esta noite", disse com um meio sorriso. "Você confia em mim?" "Você sabe que sim." "Nós precisamos disso. Preciso de você, só para mim, por um tempo. O que você acha?"

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Finalmente, ela lhe deu um sorriso hesitante. A esperança em seu rosto e uma outra emoção, mais forte, foi um bálsamo para a sua alma. Era um homem tão bonito, por dentro e por fora. "Acho que você está certo", disse ela, baixinho. "Nós precisamos disso." Seu sorriso era brilhante. "Venho buscá-la às oito." "Me buscar? Mas você está aqui comigo", disse ela, confusa. "Onde você vai estar, até lá?" "Sim, vou ficar aqui. Mas tive uma ideia sobre o nosso refúgio, por isso não posso dizer onde vou estar." Ela fez uma pausa, olhando para ele como se estivesse considerando. Na verdade, ela o tinha perdoado. Nada menos do que uma guerra nuclear poderia tê-la impedido de aceitar. "Tudo bem." Intrigada, balançou a cabeça. "Oito horas, então. O que eu devo vestir?" "O que você quiser. Tudo o que eu vou dizer é, nada de porcaria, hoje à noite. Vou impressionar a minha garota. Será que isso a satisfaz?" "Parece perfeito. Vou estar pronta", falou, esperando que a voz tenha saído confiante.

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Através do otimismo renovado, uma dose de dúvida a penetrou. Será que esta noite seria a noite? Tentou reclamá-lo antes, com resultados quase desastrosos. Não havia garantia que seria diferente, agora, mesmo após os acontecimentos maravilhosos, na noite passada. Mas a necessidade pelo seu Companheiro era tudo o tinha para se segurar. *** Sombras do final da tarde se inclinavam através da varanda da cabana que o Nick tinha alugado. Não tinha havido tempo para contratar alguém para limpar, então passou as últimas horas esfregando. Sem camisa e pingando de suor, ficou na sala de estar e examinou seus esforços com satisfação. Cada peça de mobiliário brilhava e o aroma fresco de óleo de limão permeava o ar. Os tapetes foram aspirados e tudo havia sido limpo. Haviam lençóis limpos sobre a cama, também. Diante do pensamento da Calla o reivindicar, sentiu uma pontada de desconforto, mas a sufocou, substituindo o medo com os pensamentos de quão doce e sensual sua companheira era. Conseguiria fazer isso. Ia ficar bem.

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Um pulsar de dor atravessou sua perna quase curada, lembrando-o do basilisco, e dos bandidos e caçadores se esforçando para se livrar dele e dos seus aliados. Esfregando a coxa, seus pensamentos, naturalmente, se desviaram para o seu inimigo, Ivan Cardenas. "Muito em breve, seu filho da puta doente, vou descobrir onde você está se escondendo. Então, vamos jogar um jogo totalmente novo, idiota." Olhando ao redor, decidiu que o lugar estava pronto. Tudo o que restava era buscar sua Companheira. Saltando para o chuveiro, se lavou, rapidamente. Após se secar e vestir uma calça preta e uma camisa azul, deu uma última olhada ao redor. Satisfeito, saiu pela porta. Sorrindo para si mesmo, entrou no Ford GT rebaixado e deu a partida. O motor ligou com um ronronar gutural e, silenciosamente, agradeceu ao Tarron, novamente, por lhe emprestar o carro para esta noite. Queria que tudo fosse perfeito. Um carro quente, uma cabana alugada e um homem determinado a se entregar, inteiramente, à sua companheira, era uma receita imbatível - para o romance. A viagem não demorou muito e, menos de meia hora depois, parou na entrada da fortaleza do clã. Reconhecendo-o, e ao carro do Tarron, a sentinela acenou para atravessar o portão. Chegando ao

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fim da estrada, na entrada principal, Nick guiou veículo na direção da entrada e viu a Calla, já esperando. Sua expressão se iluminou e pareceu feliz ao vê-lo. Apressando-se, entrou no carro e se inclinou, dando-lhe um beijo doce e lento. "Senti sua falta, mesmo que tenha sido apenas durante o dia." "Não é como se você não tivesse me visto", ressaltou. "Eu sei. Mas senti como se estivéssemos a quilômetros de distância e odiei isso." Tomando a mão dela, beijou a pele macia na parte de trás da mesma. "Eu também. Odiei sentir como se fosse decepcionar você. Foi por isso que me afastei." "Oh, Nick. Você não me decepcionou. Acredito que jamais conseguiria, a menos que você desistisse de nós, sem lutar." "Eu te disse, não vai acontecer - apesar da minha boca grande." "Bom." "Você está linda, por sinal", disse ele, olhando para ela com apreciação. "Obrigada. Você também."

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Ela estava com um vestido clássico, preto, curto e sem mangas, que alcançava, apenas, a parte de cima dos seus lindos joelhos. O tecido abraçava suas curvas sem ser muito apertado. O cabelo estava solto em volta do seu rosto e dos ombros e seus olhos brilhavam. Seu coração deu um solavanco estranho. Seu lobo podia tê-la reivindicado, mas ele era o homem que estava se apaixonando. Já tinha se apaixonado. A cabana era longe o suficiente da fortaleza para se parecer com um refúgio, mas perto o suficiente para que ela pudesse tele transportá-los em segundos, se necessário. No que dizia respeito à sua segurança, não queria correr nenhum risco. Ela nunca veria o time de lobos que tinha colocado na floresta, para ficar de guarda essa noite. Quando fez uma curva na estrada e a estrutura ficou à vista, Calla engasgou de surpresa. Era impressionante, construída de troncos e pedra, com uma parede de vidro voltada para a floresta. Rindo para si mesmo, se lembrou de não fazer obscenidades na frente das janelas, ou os rapazes teriam direito a um show. "O quê?" "Nada. Você gostou dela?"

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"É linda", ela suspirou, enquanto ele estacionava. Saindo do carro, olhou para o lugar onde passariam essa noite. "Vamos entrar." Ele destrancou a porta e entrou, puxando a Calla pela mão. Uma vez lá dentro, ela olhou ao redor, os olhos arregalados, claramente encantada com os sofás de couro, os móveis de carvalho e o teto alto. A sala de jantar tinha o seu próprio espaço, ao lado da cozinha, e se abria para a sala de estar, também. "Você vai cozinhar?" Ela perguntou, olhando na direção da cozinha. "Você me prometeu um jantar." "Com fome?" "Faminta." "Então, sugiro que você abra a porta." Ficando intrigada, Calla cruzou o salão, espiou pelo olho mágico e, em seguida, abriu a porta da frente, onde um homem alto, magro, vestido em um smoking, a olhava do alto de um considerável nariz aquilino. "Boa noite, minha senhora", disse ele, inclinando-se galantemente. Apresentou-se como maitre do Duck, o restaurante mais badalado do município. "Trouxe o seu jantar, e espero que a senhora esteja faminta." Apontou para um carrinho atrás dele, cheio de pratos, cobertos com tampas de prata.

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Os olhos da Calla se arregalaram. "Tudo isso? Estou feliz por ter ajuda para comer. Pode colocar bem aqui." "Certamente, madame." Virou-se, abruptamente, e estalou os dedos na direção da porta aberta. Um garçom mais jovem saltou das sombras para manobrar o carrinho para dentro. Seguiram até a sala de jantar formal, onde fizeram um grande show, arrumando os pratos com precisão. Enquanto ela observava, espantada, eles arrumaram dois lugares completos, com porcelana, cristais e talheres. Nick sorriu e percebeu sua reação, com imensa satisfação. Calla, obviamente, não estava acostumada a ser mimada, o que o surpreendeu e agradou, dada a sua posição. Ia se acostumar a mimá-la. O pensamento enviou um pequeno tremor de felicidade através dele. "Está satisfatório, madame?" Perguntou o homem alto. "Parece ótimo", Nick interrompeu. "Obrigado por ter vindo até aqui. Agradecemos por isso." "O prazer é nosso, senhor." Nick lhe entregou um grande maço de notas e os acompanhou até lá fora. Quando a porta estava fechada e trancada, firmemente, atrás deles, voltou-se para ela. "Vamos comer?"

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"Definitivamente.

Cheira

maravilhosamente

bem."

Inspirou,

exprimindo apreço. "Vou pegar o vinho." Nick reapareceu, alguns momentos depois, servindo a taça da Calla e segurando uma cadeira para ela se sentar. Descobriu os pratos, um por um, enquanto a boca da Calla se abria, com espanto. A refeição abundante composta de salada Caesar, linguini com frutos do mar, aspargos delicados, pão fresco, morangos com creme e duas enormes fatias de cheesecake. "Há o suficiente aqui para alimentar cada vizinho em um raio de quinze quilômetros! Me sentiria culpada se não estivesse tão ocupada, salivando", falou, balançando a cabeça, maravilhada. "Você, realmente, não precisava ter todo esse trabalho." "Oh, com certeza. Usar o telefone deu um monte de trabalho", brincou o Nick. Adorava assistir a alegria infantil em seu rosto e sentiu que tinha pouco a ver com a comida. Nick serviu seus pratos e eles conversaram tranquilamente, desfrutando a companhia um do outro. A sombra desta manhã parecia ter desaparecido no passado, pelo que ficou profundamente grato.

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Finalmente, se voltaram para o tema da traição surpreendente do Graham. "E o Ivan Cardenas?" Calla ponderou. "Mal me lembro dele. Certamente, não sabia que o Carter era seu Companheiro." "Nem qualquer outra pessoa", disse o Nick. "Nós vamos encontrálo, entretanto. Quando fizermos isso, ele vai ter que enfrentar a justiça, por tentar derrubar um príncipe." "É muito triste", disse a Calla, a testa franzindo. "A mágoa pode fazer coisas terríveis com uma pessoa." "Verdade. Mas ele estava acasalado ao Carter e, uma vez que o destino escolhe quem é o suposto ser, perfeito para nós, como nossos Companheiros, não tenho certeza de quão inocente o Ivan era, antes disso começar." "Tem isso. Mas ele vai ser extremamente perigoso, com o luto o guiando. Sei alguma coisa sobre isso, depois do Stefano..." Parou de falar com um pedido de desculpas, mas o Nick balançou a cabeça. "Você sempre pode falar sobre ele. Pode dizer qualquer coisa para mim, e sempre vou te apoiar." "De certa forma, entendo de onde o Ivan está vindo. O Carter era ruim e machucou muitas pessoas. Mereceu o que teve. Mas, como um Companheiro, entendo a dor do Ivan. Não fui atrás dos assassinos do Stefano - o Tarron foi - mas, às vezes, acho que se

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tivesse que fazer tudo de novo, faria uma escolha diferente." Soltou um suspiro. "O que você faria, querida?" Perguntou suavemente, pegando sua mão. Depois de uma pausa, Calla respirou fundo, olhou nos olhos dele e falou, "Não descansaria até que encontrasse os caçadores que sequestraram e deixaram o meu companheiro morrer de fome. Gostaria de seguir todas as pistas até os confins da terra, até que tivesse espetado os bastardos e os assado em um espeto." Olhou para as suas mãos, unidas. "Por que não foi?" Nick buscou seu rosto e odiou a dor que viu refletida nele. "Porque estava entorpecida. Não conseguia nem respirar, muito menos montar uma caçada. Confiei no meu irmão para fazer justiça, e ele fez." "Não há nenhuma vergonha nisso, querida." "Eu sei. Mas você perguntou." Seus lábios se curvaram em um sorriso e as sombras desapareceram. "Sabe o que eu nunca mudaria? Conhecer você." Finalizaram a refeição, conversando amigavelmente. Quando terminaram, ele limpou os lábios com um guardanapo e disse:

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"Vamos deixar os pratos. Tem alguém que vem limpar e devolver os pratos para o restaurante, amanhã." "Obrigada", ela falou. "Isso foi maravilhoso." "Oh, a noite ainda não acabou." Seu sorriso valia a pena todo o esforço na preparação. "Quer que acenda a lareira? Vai esfriar um pouco, hoje à noite." "Parece adorável." Saindo da mesa, tomou conta disso, sem nenhum problema. Em minutos, um fogo ardia, alegremente, na lareira. Calla tinha ocupado um lugar no sofá e tirou os sapatos de salto alto. Se acomodando ao lado dela, Nick tirou o paletó e arrancou os sapatos, também. Em seguida, puxou-a para o seu lado e, simplesmente, ficaram sentados por um tempo, abraçados e desfrutando a proximidade. Estendendo a mão, acariciou seus cabelos escuros, passando a mão por todo o seu comprimento. Sentia-se tão acolhida contra ele, tão certa. Seu sangue se acelerou. Ela se mexeu um pouco, para poder olhar para ele, e ia começar a dizer algo. Ele se adiantou a ela. "Preciso tanto de você", murmurou. "Você me tem."

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O desejo no seu belo rosto, combinava com o fogo dentro dele. Levou a boca até a dela e beijou-a lentamente, no início. Em seguida, mais avidamente, fazendo as chamas entre eles, saltarem. Beijou-a profundamente, saboreando-a, enquanto ela entrelaçava os dedos no seu cabelo. Calla inspirou profundamente quando suas atenções viajaram para baixo, para a curva do seu pescoço. Ele gostava da sua reação. Durante toda a tarde, esteve esperando por isso. Qualquer medo persistente sobre permitir que ela afundasse aqueles pequenos dentes afiados na sua garganta tinha ido embora. Esta era a Calla, e nunca ia feri-lo. Não havia nenhum benefício em negar por mais tempo - ele pertencia a ela, de corpo e alma. Estava pronto para ser reivindicado. A mão dela serpenteou para cima. Antes de perceber o que ela tinha feito, sua camisa estava desabotoada até o meio e ela estava acariciando o seu peito. Não era suficiente. "Tire a minha camisa." Ela não precisou de qualquer incentivo adicional. Ajudou-o a tirar a roupa ofensiva e a lançou sobre a mesa do café com um sorriso de satisfação. Seu coração acelerou quando ela se inclinou e apertou os lábios contra o pescoço dele, mais embaixo, no vão da sua garganta, em seguida, mais embaixo ainda, sobre o seu peito. Quando sua língua balançou, sedutoramente, o seu mamilo, ele gemeu e o sentiu endurecer. 298


"Calla, sim." Encorajada, explorou as cicatrizes das várias batalhas que decoravam seu torso e o estômago. Não eram muitas, devido à cura shifter, mas espalhou beijos leves em cada uma, como se pudesse apagar a dor que elas lhe causaram. "Espere um segundo." Fechar as cortinas cobriria as grandes janelas de vidro, então se levantou e fechou-as, de bom grado. Realmente, não queria se mover do seu lugar e, agora, podiam ter privacidade. Quando se juntou a ela, novamente, sua mão alcançou a parte de trás do vestido e, habilmente, abriu o zíper. Assistiu, fascinado, quando ela se levantou e o deixou cair em uma pilha aos seus pés. A roupa íntima que ela usava era nada mais do que minúscula, um pedaço de tecido negro e transparente. A curva dos seios se avolumava, generosamente, sobre a parte superior do sutiã. Seus olhos viajaram sobre o corpo dela, percorrendo a cintura deliciosa. As pernas longas, que eram tonificadas e bem torneadas. Calla se ajoelhou diante dele. Ele segurou seus seios, roçando os polegares sobre o tecido sedoso, até que os picos duros ficaram contraídos. Em seguida, seus dedos encontraram o fecho situado no centro, e ele a libertou. Ela olhou para ele com desejo nu, tão poderoso que quase o fez perder o controle, em seguida.

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"Diga que vai me reivindicar", ele falou, com voz rouca. "Porque eu quero isso, baby. De verdade." Ela olhou profundamente em seus olhos. "Só se você disser isso. Que está, realmente, pronto." "Eu estou." Reverentemente, acariciou o rosto dela. A luz dançante do fogo iluminou sua pele e seu cabelo foi apanhado numa cascata de flashes de fogo. Ela devia ter uma parte feiticeira, porque lançou um feitiço sobre ele. "Deus, você é linda." Pegou a mão dele e o puxou para baixo, até o tapete em frente à lareira. Ele a montou com os joelhos em ambos os lados dos seus quadris, olhando para ela. O cabelo castanho espalhado nas laterais, ao redor dos seus ombros. A pele era cor de creme. Quando ela o capturou com seus fascinantes olhos verdes, soube que não podia apressar isso. Calla merecia muito mais que ele, mas ele era dela e não iria decepcioná-la novamente. Nick se inclinou sobre ela e tomou a ponta de um peito rosado na boca. Ela suspirou de prazer enquanto sua língua traçava círculos vagarosos em torno dele e seus dentes o roçaram suavemente. Ele espalmou uma mão através do seu estômago, em seguida, deslizou para baixo, até o tecido macio da calcinha. Sentou, deslizando,

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lentamente, sobre as pernas dela. Por um momento, só conseguiu olhar. Era, cada centímetro dela, sua princesa. Sua Companheira lhe deu um sorriso obsceno, puxando o cinto. "É a sua vez. É apenas uma questão de justiça, sabe." Ele riu e se levantou, retirando o resto das roupas, então hesitou. Era isso. Estaria inteiramente, completamente, acasalado à mulher que amava, pela primeira vez, desde aquela noite quente de verão que quase o destruiu. Memórias terríveis o sobrecarregaram, ameaçando atingi-lo. Mas não ia deixar. Não esta noite. "O que houve?" Sua voz soou atrás dele, tingida com preocupação. "Nada, linda. Pela primeira vez em muitos anos, tudo está certo." "Então, pare de me torturar com sua deliciosa pessoa nua e venha aqui", ela brincou. Nick se virou para ela, em seguida, seu sorriso desapareceu e todo o seu ser cantarolou com energia crua, sexual e uma outra emoção, que implorava para ser externada. Moveu-se para o lado dela e se ajoelhou, tomando o rosto dela entre as mãos, sua expressão sóbria. "Sou uma bagunça e não faço a menor ideia por que você quer todos os problemas que vêm junto comigo e com a minha vida na Alpha Pack. Mas eu sou seu, se você me quiser. Seu,

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completamente." Prendeu a respiração, como se a vida dele dependesse da sua resposta. "No segundo em que nos conhecemos, soube que você era perfeito para mim, em todos os sentidos", sussurrou, deslizando a palma da mão no peito dele. "Nada mais importa além de nós, meu Companheiro." Nick esmagou os lábios nos dela, saqueando sua doçura, degustando-a.

Girou

os

mamilos

tensos

entre

os

dedos,

maravilhado com a forma como pareciam ser feitos para o seu toque. Ela arqueou as costas, em delírio, quando suas mãos e boca a exploraram por toda a parte, trilhando um caminho ardente, dos seios até sua barriga plana e macia. Quando, deliberadamente devagar, separou seus joelhos e revelou o centro quente do seu sexo, o saboreou, deixando-a louca. Trouxe-a até a beira do abismo, com a boca, uma e outra vez, quase enviando-os sobre a borda. Finalmente, ela não aguentou mais e puxou ,freneticamente, o seu cabelo. "Faça amor comigo. Agora." "Isso é o que estou fazendo, baby." Se moveu sobre ela, cobrindo seu corpo com o dele. Agarrou seus pulsos, colocando as mãos dela em cada lado da cabeça, as palmas para cima, então, entrelaçou os dedos com os dela. Quando olhou para baixo, a confiança total e a absoluta sensualidade em

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seu rosto, foi sua ruína. Algo feroz e primitivo despertou dentro dele, um sentimento que nunca tinha experimentado antes. Sua. Calla era dele e nunca deixaria ninguém machucá-la, novamente. Empurrou dentro dela, enterrando-se profundamente, seus olhos nunca deixando os dela. Ela gemeu quando ele se mexeu, com estocadas, agonizantemente, lânguidas. Contorcendo-se debaixo dele com abandono selvagem, deixou o corpo dele em chamas. Aumentando, gradualmente, a velocidade dos seus impulsos, os levou a um ritmo perfeito, levantando os quadris dela para encontrarem os seus. Quando ela enrolou as pernas em torno dele, soltou suas mãos e a embalou, esmagando-a contra o peito, afundando ainda mais. Tinha certeza que nunca ia se sentir mais próximo de alguém, do que se sentia, no momento. "Faça-o", ele gemeu, segurando a parte de trás da sua cabeça. "Reivindique-me." Ele inclinou a cabeça para o lado, o coração prestes a pular do peito. Ela o mordeu, rapidamente, e seu mundo explodiu. O prazer não era como nada que ele já tinha conhecido, mas era mais do que uma sensação física. Com as presas enterradas profundamente na sua garganta, marcando-o como dela por toda a eternidade, o êxtase era, quase, intenso demais para ser suportado. Era como se cada célula do seu corpo tivesse explodido como uma supernova e virado do avesso, tornando-o feliz e inteiro, novamente. 303


Montaram, juntos, as ondas que pulsavam e quebravam em um tom febril, até que não conseguiram parar a maré. Despencaram sobre o precipício do gozo juntos, agarrando-se, firmemente, um ao outro. Com um último impulso, a paixão explodiu em um milhão de minúsculos fragmentos. Segurando-a junto de si, estremeceu, quando derramou sua semente dentro dela. Estava vivo. Finalmente. Sua Companheira se agarrou a ele, que atravessava a última onda, antes de flutuar suavemente para a terra. "Oh, meus deuses", ela gemeu, enterrando o rosto no seu pescoço. "Você está bem?" Perguntou, com alarme. "O quê?" Falou, piscando para ele, solenemente. "Eu machuquei você?" Ansiedade corroeu suas entranhas. "Não! Sem chance." Lhe deu seu sorriso mais doce. "Isso foi, simplesmente, maravilhoso." Sem perceber que estava prendendo a respiração, deixou-a sair, rapidamente. "Para mim também, querida. Isso foi incrível." "Como você se sente?" Perguntou, alisando o cabelo para trás, para poder olhar para o rosto dele.

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"Estou bem. Não, fantástico." Rolando sobre as costas, puxou Calla com ele, seu aperto de aço em torno dela. Você ainda consegue me ouvir? Falou, dentro da sua mente. Sim, ela pensou, respondendo, em seguida, deu uma risadinha. "Ouvi você", ele falou. "Funciona!" "Isso mesmo." Não podia estar mais feliz, ou mais orgulhoso, da sua Companheira. Ela suspirou de contentamento, encostando a cabeça em seu ombro. Ficaram entrelaçados por um longo tempo, se aquecendo no brilho da sua vida amorosa, deleitando-se com seu acasalamento. Tocaram-se constantemente, falaram em voz baixa, revivendo o momento em que ela o reivindicou. Foi lindo para ele e se assegurou que ela soubesse disso. "Calla?" "Humm?" Levantou a cabeça para olhar para o rosto dele. Talvez tenha sentido o que ele ia dizer, antes que as palavras saíssem da sua boca. "Eu te amo."

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Seus olhos estavam embaçados com lágrimas quando ela sorriu e acariciou os cabelos dele. "Eu também te amo. Muito." A noite inteira foi muito mais do que jamais se atreveu a sonhar. Ia agarrar esse sentimento com ambas as mãos, enquanto pudesse. Até o dia em que parasse de respirar. *** Segurando a mão do Nick, Calla caminhou com ele até a sala de jantar. Não podia estar mais orgulhosa por estar ao lado do seu Companheiro. A notícia se espalhou como fogo, esta manhã, que o vínculo estava concluído e era oficial. Bastou um vampiro perceber a marca que tinha deixado em seu pescoço, e a notícia se espalhou quase tão rápido, como se tivesse sido postada na Internet. Vampiros fofoqueiros. Pela primeira vez, não se importava. Agora era hora do almoço e, quando entraram, a conversa foi suspensa. Em seguida, as palmas começaram e o seu comandante lobo sorriu, timidamente, para a sua nova família, ampliada, antes de segui-la até a mesa do Tarron. Seu irmão estava sentado com o Ian e o Teague, e os dois estavam em uma discussão profunda quando ela e o Nick se sentaram.

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"Estou trabalhando o mais rápido que posso", Teague estava dizendo para o Tarron. "Vou achar essa conta e o que o Graham enviou. Só preciso de um pouco mais de tempo." "Isso é um luxo que não temos no momento", Tarron estalou. "Não me venha com desculpas. Basta fazer a porra do seu trabalho." Teague se encolheu, a boca pressionada, firmemente fechada, com raiva e embaraço. As sobrancelhas da Calla se levantaram. Não ousaria corrigir seu irmão na frente do seu clã, mas podia deixar sua irritação evidentemente clara, sem palavras. Quando ele encontrou o olhar dela, sua expressão ficou tão gelada quanto possível. Ele piscou para ela e, em seguida, olhou para o prato de peixe e batatas fritas como se as respostas estivessem lá. Quando levantou a cabeça, encontrou o Teague olhando para a frente e pediu desculpas. "Sinto muito. A tensão está afetando todos nós, tentando descobrir o que eles estão planejando e descontei em você. Perdoe-me." A expressão do técnico aliviou. "Sem problema, cara. Está tudo bem." Calla não pôde evitar de sorrir. Apenas um círculo íntimo do Tarron, de amigos bons e confiáveis, podia se livrar de abordá-lo informalmente, ou mesmo pensar em recusar o seu pedido de desculpas. O almoço prosseguiu sem mais aborrecimentos.

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Até o celular do Nick tocar. "Desculpe por isso", disse ele, pegandoo. "Sei que não é educado atender o telefone à mesa, mas com tudo o que está acontecendo..." Tarron estava no mesmo barco, por isso, todos entenderam. Calla ouviu o Nick cumprimentar a Selene, claramente feliz em falar com a sua filha, e relaxou. A sensação desapareceu, no entanto, quando ele empalideceu e desencostou da mesa. "O quê?" Ele grunhiu, o garfo fazendo barulho no seu prato. "Quão ruim ele está?" Ela e o Tarron trocaram um olhar de alarme quando o Nick fez uma pausa. Inclinando-se, tocou o braço do seu Companheiro, apoiando-o, em silêncio, enquanto escutavam. Nick se levantou, a expressão cheia de raiva. "Vou estar aí o mais rápido que puder. Aguente, querida. Estou chegando." Assim que terminou a chamada, ela também se levantou e segurou a mão dele. "Quem está machucado, meu amor? É o Zander?" "Não, é o meu irmão." Sua mandíbula se apertou enquanto emoções torturadas inundaram seu rosto. "O carro do Damien foi emboscado por mais de uma dúzia de caçadores e vampiros selvagens, e três dos seus homens foram mortos." "Ele está...?"

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"Não. Mas a Selene não sabe se ele vai aguentar." De repente, pareceu aturdido, como se a realidade o estivesse acertando, apenas, agora." Estava com uma raiva do caralho, com a intenção de fazê-lo pagar de novo, e de novo, pelo nosso passado. E agora, posso perder a chance de me reconciliar com ele, antes mesmo de colocar a cabeça no lugar sobre nós dois." "Você precisa ir até ele." "Sim." Com o olhar perdido, passou a mão pelo rosto. "Eu vou com você." Não discutiu com ela enquanto deixavam a sala de jantar, com pressa. Silenciosamente, enviou uma oração aos poderes que podiam estar ouvindo, para o irmão do Nick sobreviver. Pelo bem dos dois.

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CAPÍTULO 12

Nick estava perdendo a cabeça. Nenhum dos vampiros podia tele transportá-lo para o clã do seu irmão na Smoke Mountain, no Tennessee, porque ninguém, nunca, tinha estado lá, antes. O próprio Nick tinha dúvidas das estradas exatas, uma vez que fazia mais de vinte anos desde que colocou os olhos, pela última vez, no que era pouco mais que um acampamento. Então, o Tarron ofereceu seu jato particular para levá-lo, a Calla e o Zander, além de alguns membros da Alpha Pack, o mais próximo possível de Gatlinburg, e tinha um carro esperando-os, para leválos pelos quarenta e cinco quilômetros restantes até o clã do Damien. A cada quilômetro, Nick repreendia a si mesmo por se apegar à sua raiva por tanto tempo. Sim, tinha motivos para estar furioso com o Damien. O homem o tinha expulsado do clã e tomado a filha do Nick, para criar.

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Mas o Damien tinha seguido a lei do clã, literalmente. O pai deles tinha ensinado aos dois a seguir, estritamente, as regras e todo mundo sabia que não havia desculpa para não obedecê-las. Nick mereceu pagar um preço alto por usar seu dom em detrimento de outro, mesmo que seu coração estivesse no lugar certo. Isso não fazia as ações do Damien doerem menos. Não fazia a dor na sua alma ir embora. Perder o irmão que idolatrava. Sua Companheira. Sua filha. Mesmo com a Calla ao seu lado, emprestando seu apoio silencioso, os pensamentos o perseguiam, uma e outra vez, no seu cérebro. A culpa. Prometeu que ia tentar encontrar o Damien no meio do caminho, para reparar seu relacionamento. Até agora não tinha feito nada para cumprir essa promessa. Dezenas de mensagens excluídas pesavam como uma bigorna dentro do seu peito. Quando o carro entrou no caminho para a entrada do clã, Nick achou difícil respirar. A última vez que tinha estado lá tinha terminado tão horrivelmente, em caráter definitivo, e sabia que nunca ia voltar. E, no entanto, lá estava ele. Sua primeira impressão foi próxima do choque. Em vez das ruínas de cabanas de madeira espalhadas que tinha deixado para trás, uma ordenada vila de edifícios de tijolos, tinha tomado seu lugar. As casas das famílias eram pequenas, mas atraentes e bem cuidadas,

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situadas perto de ruas pavimentadas e calçadas. Havia, até, uma loja ou duas situada entre elas. Damien tinha proporcionado coisas boas para o seu clã. Melhor do que o Nick jamais poderia ter feito. Memórias inundaram sua mente e, junto com elas, uma sensação de melancolia. O tempo não tinha parado e, quando o Nick se viu procurando a modesta casa que tinha compartilhado com a Jennifer e a Selene, ficou um pouco triste ao perceber que já não existia. Isso causou uma dor no seu coração que imaginou que, talvez, nunca fosse totalmente embora. "Querido? Chegamos." Um toque suave em seu braço o tirou dos seus devaneios. Calla estava olhando para ele com compaixão, e sua garganta apertou. "Não sei se posso fazer isso." "Você consegue. Ele quer você aqui, então foque nisso e em nada mais, ok?" Balançando a cabeça, pegou a mão dela e saíram do carro. Depois de lhe dar um rápido beijo nos lábios, se virou para uma voz de mulher chamando-o. Viu a Selene se movimentar em direção a eles, vindo de um edifício de dois andares do outro lado da rua. Por um segundo, ele a viu como a menina sorridente, com cabelos loiro platinados correndo em sua direção, com os braços abertos.

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A imagem desapareceu e a menina estava crescida. Mas não estava menos feliz em vê-lo, quando jogou os braços ao redor dele. "Pai", falou, com um soluço, enterrando o rosto no seu peito. "Doce menina. Como está o seu tio?" Afastando-se, enxugou o rosto com a mão. "Sinto muito. Na verdade, ele está melhor. É só que quando ouvi o que aqueles bastardos tinham feito para ele, e então vi a forma que estava quando cheguei aqui... meio que me perdi." "Isso é compreensível", disse ele, calmamente. "E quanto ao Tag? Está bem?" Taggart era amigo de longa data da Selene, e um lobo determinado a acasalar com ela, antes que conhecesse e acasalasse com o Zander. Tag não tinha aceitado bem a notícia, no início, mas depois de enviar um alerta ao Zan, para tratá-la bem, recuou. "Tag não estava no carro, graças a Deus." Ela fungou. "Não sei o que teria feito se o tivesse perdido." "Bem, você tem a mim", disse o Zan, dando um passo atrás do Nick. Imediatamente, teve os braços preenchidos por sua Companheira.

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"Você sabe o que eu quis dizer." Agarrou o Zan firmemente. "O Tag é um dos meus melhores amigos." "Estou feliz que ele está bem, querida. Por que não vamos ver o Damien?" Nick levou sua família para o interior do edifício, que acabou por ser o hospital do clã. Era um estabelecimento agradável, quase tão bem equipado quanto o novo hospital da Alpha Pack. Não pôde deixar de ficar ainda mais impressionado. Não escapou da sua observação que o cuidado e a atenção do Damien às necessidades do seu clã podiam ter vindo a salvar sua vida. Um médico do clã se encontrou com eles no segundo andar, e Nick o cumprimentou. O médico se apresentou. "Eu sou o Dr. Simon York", disse, educadamente, apertando a mão do Nick. "Por que não falamos na sala da família, por um momento?" Uma vez que estavam acomodados, o médico sentado na frente deles, Nick perguntou, "Como está o Damien?" O Dr. York balançou a cabeça. "Fraco, mas aguentando. Sofreu múltiplas lacerações, ocasionadas, tanto pela destruição causada pelo ataque, como pela própria luta. Teve hemorragia interna, o que nós conseguimos estancar, e alguns ossos quebrados, que irão se curar quando ele se transformar."

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"Quando será isso?" "Depende do Damien. O Alfa está curando mais rápido do que pensamos que faria, o que é uma coisa fantástica. Pode ser hoje à noite, mas o mais provável é que seja amanhã." "Então, na sua opinião, ele vai sobreviver?" "Sim. Ele passou o ponto crítico enquanto estavam a caminho, deu uma guinada para melhor. Estou confiante que vai estar novo em folha, em pouco tempo." Nick empurrou de lado o alívio que sentiu. "Posso vê-lo?" "Claro. Quarto duzentos e doze. Ele está perguntando por você." Estava? Aquilo acertou o Nick de novo, e à Selene, também. Agora que a crise tinha passado, estava tentado a fugir, novamente. Ir para longe e rápido. Mas não podia fazer isso. Não desta vez. Não quando, quase, perdeu o seu irmão. Deixou que a Selene e o Zan fossem frente, todavia. A Selene já tinha estado lá, mas o Zander queria prestar seus respeitos ao seu tio. Em seguida, um par do clã do Damien, mas não ficaram muito tempo. Cedo demais, foi a vez do Nick. Caminhando para o quarto, os passos duros, não tinha ideia do que dizer. Em seguida, o tempo para pensar acabou, porque atravessou

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a porta do quarto e lá estava o Damien, deitado, o rosto cortado e machucado, o lábio arrebentado. Seu braço estava engessado e havia uma cânula de oxigênio no seu nariz. O cabelo escuro estava penteado para trás, afastado do seu rosto e olhou para o Nick duramente, por alguns segundos, antes da sua expressão amansar. "Pensei que estava sendo um bom Alfa. Segui a lei ao pé da letra, em vez do meu coração", sussurrou. Não se preocupou em esconder o brilho úmido nos seus olhos. A devastação. "Perdoeme, irmão, por favor. Não posso aguentar mais um dia sabendo que o mantive afastado, quando você mais precisou de mim." As pernas do Nick começaram a se mover e, antes que percebesse, estava inclinado ao lado da cama do Damien. Puxando o irmão para os seus braços, engasgou, "Eu te perdoo. Tenho um longo caminho a percorrer para conseguir esquecer, mas sei que não quero ficar sem o meu irmão, na minha vida." "Esse é um bom começo." "Sim." Depois de alguns momentos, Nick se forçou a soltá-lo e se sentou em uma cadeira próxima. Não tinha certeza do que dizer, então falou sobre a sua primeira impressão. "Você fez tanto pelo clã. Transformou-o em uma comunidade da qual se orgulhar."

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O sorriso de Damien estava satisfeito, mas não por si mesmo. "O clã se uniu para fazer todo o trabalho. Eu só deixei o dinheiro disponível na conta do clã, para fazer melhorias e aumentar os nossos negócios e os empregos." "Sabe, você não parece em nada com o pai e a sua visão do que a comunidade tinha que ser", Nick observou. "Ele não acreditava em gastar o dinheiro do clã. Nós nunca conseguimos convencê-lo que, canalizar os rendimentos anuais de volta para a comunidade, ia ajudar a todos, a longo prazo." "Obrigado." Damien corou com o elogio. "Ele era um bom homem, mas preso no século XVII." "Literalmente." "Sim." Estavam compartilhando um sorriso, e era estranho. Mas, bom, também. O esgotamento tomou conta do seu irmão e, lentamente, seus olhos se fecharam. Nick permaneceu sentado ao seu lado por mais tempo, estudando seu rosto e pensando sobre o quão sortudo ele era, em ter a oportunidade de redescobrir seu vínculo como irmãos. Desta vez, Nick falava sério.

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Mais pessoas vieram para visitar, e partiam. Nick começou a cochilar e, em algum momento, percebeu que o sol tinha desaparecido e estava coberto com um cobertor. Sua cadeira tinha sido reclinada e sua cabeça estava descansando em um travesseiro. Calla. Ela sempre sabia o que ele precisava e, agora, sabia que ele precisava estar aqui. Antes que percebesse, a luz solar matinal se infiltrava através das cortinas. Bocejando, se espreguiçou e olhou para o irmão - para encontrá-lo deitado, em forma de lobo. Não conseguiu deixar de rir baixinho, diante da visão do grande lobo marrom ocupando a cama, roncando. Pelo menos, estava curado. Levantando da cadeira, Nick saiu da sala e foi em busca da sua Companheira. Não gostava de ter ficado longe dela, mas certamente ela tinha entendido. Dando uma olhada no posto de enfermagem, se aproximou. "Desculpe. Estava esperando encontrar-" "Oh, você deve ser o irmão do Alfa", uma jovem enfermeira falou, entusiasmada. "Vocês são tão parecidos!" "Sim, sou Nick Westfall", falou, educadamente. "Estou procurando a minha Companheira, mas não tenho certeza de onde ela está." "Acho que o Taggart a colocou na casa de número oito. É só atravessar a rua."

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"Obrigado." As enfermeiras estavam rindo quando ele saiu, embora não pudesse imaginar o que era tão divertido. Rapidamente, atravessou a rua e bateu na porta da casa. Antes que pudesse abrir a boca ou bater de novo, a porta foi aberta, abruptamente, e o Nick foi puxado para dentro. Calla o abraçou e beijou profundamente, antes de levá-lo para o sofá. Sentou-se com um gemido. "Que sensação boa. Aquela cadeira me deixou exausto." "Desculpe. Devia tê-lo trazido para a cama." "Não, fiquei feliz em estar com ele." Apertou a mão dela. "Acho que nós, finalmente, começamos a reparar algumas coisas. Vai demorar um pouco, mas podemos fazer isso." "Isso é maravilhoso", ela falou, sorrindo. "Sim." Quando o celular tocou, ele gemeu novamente. "Sério, vou atropelar aquela coisa com a minha van se ela tocar mais uma vez." Olhou para a tela. "É o seu irmão", falou para ela. "Merda, é muito cedo." Mal tinha atendido o príncipe quando o Tarron o interrompeu. "Nick, preciso que você volte para a fortaleza! Você e os seus homens. Deixe a Calla aí, mas volte assim que puder!"

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Ele franziu a testa. "Por quê? O que está acontecendo?" "O Teague encontrou o arquivo que o Graham enviou ao Ivan antes de morrer. Era um fodido mapa detalhado da fortaleza!" "Merda!" Encontrou os olhos da Calla. Então era assim que o Ivan planejava destruir o clã - um ataque direto. Deus. "Cada quarto, corredor, entrada, cada detalhe do caralho! Já estamos evacuando as mulheres e crianças-" As palavras do Tarron foram cortadas por um barulho alto vindo do outro lado. Uma explosão que ecoou pelo cérebro do Nick e fez seu sangue gelar. "Tarron? Tarron!" Não houve resposta. A linha ficou muda. "O que foi isso?" Perguntou a Calla, levantando a voz. "O que está acontecendo?" "O arquivo que o Graham enviou para o Ivan continha um mapa detalhado da fortaleza. O Tarron estava me falando sobre a evacuação das mulheres e crianças e a linha ficou muda." O rosto dela empalideceu. "Oh, meu Deus!" "Eu vou para lá e preciso que você fique aqui-"

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"Não! Eu posso ajudar! Você vai precisar de mim para tele transportar você até lá e trazer os homens de volta para cá, para levar o resto da sua equipe, agora que eu sei onde é. Vai ser muito mais rápido do que horas de viagem de avião e de carro. Se estão sob ataque, precisam de nós, agora!" Um olhar para a expressão determinada da sua Companheira e soube que não havia nenhum benefício em perder tempo com uma discussão que não ia ganhar. "Certo. Mas quando você levar os meus homens de volta à fortaleza, dê o fora e vá para o complexo da Alpha Pack. Você estará segura lá, até que o seu irmão e eu terminemos de ferrar a bunda deles." Não esperou por uma resposta, mas reuniu o resto da equipe e explicou a situação. "Não vai ser fácil", ele terminou. "Eles foram emboscados e cabe a nós virar a maré ao nosso favor. Perguntas?" "Quando podemos chutar algumas bundas gordas?" John rosnou. "Esse é o espírito." Iam precisar de mais do que isso para superar algumas probabilidades, realmente, ruins. ***

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Calla nunca pensou que ia experimentar o terror de observar o seu Companheiro amado entrar de cabeça na batalha. Especialmente, para salvar o seu clã. A enorme entrada estava queimando, em escombros, uma cena de caos. O sangue corria, espesso, sobre o chão de pedra e, por todos os lugares, os gritos dos feridos e moribundos soavam no ar da manhã. Horríveis. Incongruentes com o início de um novo dia, que carregava tantas esperanças. Perdendo o Nick de vista, Calla se esforçou para se concentrar na sua tarefa. Convocou três guardas de serviço, que estavam passando. "Princesa, temos que lutar!" Gritou um deles. "Primeiro, vocês têm que vir comigo, para trazer o resto dos lobos do comandante! Precisamos de toda a ajuda que pudermos conseguir!" O número de bandidos e caçadores era quase esmagador, talvez dois por um, em favor do inimigo. Mal podia acreditar no que estava vendo. Então,

um par de caçadores

apareceu, carregando rifles.

Rapidamente, a Calla agarrou os guardas e desapareceu, tele

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transportando-os, de volta, para o complexo do Damien. Os homens do Nick estavam esperando no gramado em frente ao prédio do hospital, juntamente com todos os homens sãos, parecia. E o próprio Damien. O homem parecia exausto, mas ferozmente determinado. "Meus homens estão à sua disposição, princesa." Lágrimas encheram seus olhos. "Sou grata, mas você entende o risco? Provavelmente, você vai sofrer perdas." "Não há maior perda que eu pudesse sofrer, do que perder o Nick, agora", disse ele. "Nosso clã está com você." "Tudo bem. Você tem a minha gratidão e amizade. Tudo o que você precisar, depois de hoje, vou providenciar que tenha. Mas, temos que ir. Vou enviar mais guardas, depois, para você e os seus lobos." "Estaremos esperando." Ela e os guardas tele transportaram os homens do Nick que, imediatamente, se transformaram e aderiram à luta. Perdeu o controle deles, na massa de corpos conflitantes. Lâminas brilhavam; tiros estouravam. Na frente dela, dois lobos atacavam e se esquivavam, em turnos, rasgando os bandidos, os focinhos com um tom vermelho brilhante.

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Nenhum deles era um lobo branco, e seu coração clamou por seu Companheiro. Nick? Calla, se esconda! Fique segura! Não era uma lutadora. Mas hoje, tinha que ser. Se ela se escondesse como uma covarde, não conseguiria, jamais, encarar o seu povo, novamente. Movendo-se rapidamente, correu, se esquivando dos combatentes e buscando armas entre os corpos caídos. Lá! Um caçador estava de barriga para baixo, uma pistola na mão. Agachando-se brevemente, arrancou a arma da mão do morto e correu para um pilar, há mais ou menos trinta metros de distância. Não teria muita cobertura, mas podia disparar alguns bons tiros antes de- Não. Melhor não pensar nisso. Uma ferroada atingiu sua lateral, mas ela prosseguiu, ignorando-a. Uma vez que tinha alcançado uma cobertura, observou a luta e escolheu seus alvos, cuidadosamente. O Tarron lhe ensinara a atirar, e não era ruim nisso. Há uma curta distância, um lobo marrom estava lutando contra um vampiro selvagem. Um caçador estava escondido atrás do lobo, pegando-o na mira do seu rifle. Calla levantou a arma, acertou uma bala no seu crânio e ele caiu como uma pedra. O lobo lhe lançou um olhar de gratidão antes de acabar com o renegado. Causou muitas mortes mais, antes que o cabelo na sua

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nuca se arrepiasse. Girando, se viu cara a cara com um selvagem, os dentes amarelos, o hálito fétido fazendo com que engasgasse. Seus olhos, porém, estavam arregalados e a ponta de uma espada saía do seu peito. Caiu, e o Tarron puxou a espada do corpo do renegado, então o decapitou, por precaução. "Obrigada", ela gritou. Seu rosto era uma máscara de raiva. "Que porra você está fazendo aqui fora? Fique em segurança!" "Não! Eu posso lutar! Matei vários inimigos, já!" Arregalou os olhos, quando viu um caçador correndo por trás das costas do Tarron. Rangendo os dentes, atirou no bastardo, entre os olhos, e ele caiu nos calcanhares do irmão. "Está vendo?" "Obrigado", ele murmurou, balançando a cabeça. "Mas não quero você aqui. Por favor, mana, vá." "Não posso. Vocês precisam de mim." Não houve tempo para manter a discussão sobre o assunto. Uma nova onda de inimigos veio até eles, como uma parede sólida e um medo amargo obstruiu sua garganta. Haviam mais deles do que antes. Onde estava o Damien e os seus lobos?

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Um grito rouco soou às suas costas, e seu sangue gelou. Se virou a tempo de ver o Tarron cair, sangue se espalhando por todo o peito. "Não!" Tentou correr para o irmão, mas uma mão segurou o seu cabelo por trás e bateu o rosto dela no pilar. O mundo girou sobre o seu eixo. Nick! O Tarron foi atingido! Me ajude! Então, tudo ficou escuro quando foi erguida e levada embora. Deus ajudasse a todos. Isto não era uma luta, era uma carnificina. Nick tinha mudado para sua forma de lobo, logo que mergulhou na batalha. Se não tivesse, já estaria morto. Seu lobo era mais rápido, mais ágil. Capaz de aguentar o abuso físico melhor, antes de cair de vez. Seu foco foi reduzido a um ponto de lâmina afiada. Procurar. Atacar. Matar. Ir em frente. Não havia nada, além de sangue e morte. A única questão era quem seria o próximo a cair. Ao redor dele, os homens do Tarron, largados, quebrados no chão de pedra. Muitos decapitados. Sem volta a partir daí. Nick tentou manter o controle sobre sua própria equipe, mas era impossível identificá-los, todos. Aric foi o primeiro deles a cair. 326


Nick quase conseguiu ser decapitado quando se virou para olhar o lobo vermelho deitado em uma poça de sangue escuro. Seus olhos estavam fechados e era impossível dizer se estava vivo. Focando de volta na luta, bloqueou a dor. O medo. Nada o manteria respirando, além da raiva. E o amor. Esta era a sua família. O inimigo estava tentando acabar com eles, mas não ia deixar isso acontecer. Não importa quanto estivessem em menor número. Do outro lado do hall de entrada, viu o Kalen se elevar, o bastão de Feiticeiro na mão. Os olhos do Kalen estavam fechados, enquanto se concentrava em qualquer feitiço que estava fazendo para lançar sobre o inimigo. Nick insistiu com ele, silenciosamente, para se apressar. Mas um riso cruel subiu acima do caos. As tripas do Nick se retorceram quando viu o Jinn aparecer a alguns metros do seu Feiticeiro,

os

olhos

brilhando

com

malícia

e

antecipação.

Rapidamente, Nick mudou para a forma humana. "Kalen, cuidado!" Gritou. Na hora certa. Os olhos do Kalen se abriram e ele avaliou a nova ameaça, brevemente, antes de se engajar em uma batalha mágica, a qual Nick nunca tinha visto igual. Relâmpagos atravessaram os quartos e ricocheteavam nas paredes rochosas. Faíscas choveram quando

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magia negra e branca entraram em confronto, batalhando pelo domínio. Os dois mágicos estavam rosnando um para o outro, os dentes à mostra, os músculos tensionados enquanto se enfrentavam. Lançavam feitiço após feitiço, em uma tentativa de derrubar um ao outro. Nick voltou para a forma de lobo e começou a caminhar para o Jinn, na esperança de distraí-lo tempo suficiente para o Kalen vencer a luta. Em seguida, um par de caçadores viu o Nick e foi forçado a enfrentá-los. Redobrando seus esforços, lutou. *** Calla despertou gradualmente, a cabeça latejando. Quando, finalmente, se tornou ciente dos arredores, uma série de coisas se infiltrou no seu cérebro. Em primeiro lugar, não tinha ideia de onde estava, mas onde quer que fosse, era desconfortavelmente frio. Em segundo lugar, não estava sozinha. Esticando-se, se encontrou deitada sobre seu lado direito, no chão duro, apertada na curva do corpo de alguém. Umidade invadia aquele lado e ela estremeceu. Em seguida, percebeu que sua roupa estava bagunçada. Estava descalça e seu jeans estava rasgado. Seu pulso esquerdo estava

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algemado a algo metálico, então agarrou sua camisa com a mão direita. Ainda estava lá, não rasgada. Abrindo os olhos, tentou focar sua visão. Em algum lugar acima, uma lâmpada fraca afugentava as sombras do quarto úmido e, muito acima disso, ouviu os sons de uma batalha distante. "Nick!" Tudo voltou correndo. O Tarron tinha caído e alguém a tinha atingido, nocauteando-a. Quem estava ao lado dela? O que era esse lugar? Erguendo a cabeça, viu um íngreme lance de escadas em um canto distante, com uma grade de metal correndo pela lateral. Finalmente, reconheceu o espaço como uma antiga área de armazenamento, abaixo dos aposentos da fortaleza. Um gemido angustiado e baixo quebrou o silêncio atrás dela. Com súbita e surpreendente clareza, sabia exatamente quem estava lá e se preparou. Estava sangrando, gravemente ferido, e em má forma. Girou sobre o estômago, então, para o lado esquerdo. Choque e indignação a deixaram ofegante. "Oh, Tarron, não." Embora grata por encontrá-lo vivo, não podia imaginar como isso era possível. Uma surra selvagem havia deixado seu corpo quebrado e ensanguentado, os hematomas roxos formando uma infinidade de padrões, do tamanho de um punho, por todo o seu torso. Por causa da luta contra as algemas, em torno dos seus pulsos e tornozelos, haviam cortes profundos, que expunham os

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ossos. A ferida no peito podia ser de uma arma ou lâmina. Não sabia dizer. Mas era uma gosma vermelha, sua cura de vampiro não conseguindo selar o corte. Esperançosamente, ia fechar, em breve. Enquanto estava fora de si, alguém tinha, metodicamente, o torturado. Estendendo a mão, colocou-a sobre o seu rosto. Frio. Muito gelado, a pele seca, em vez de quente e suada. Ele lutava por cada inspiração, um som parecido com o farfalhar das folhas, crepitando no fundo do peito. Se alguém não os encontrasse, hoje à noite, ou não conseguisse orquestrar sua fuga, ele, certamente, morreria. Iam morrer de qualquer jeito, se o seu lado perdesse a batalha. "Tarron, você consegue me ouvir?" Cuidadosamente, inclinou a cabeça, ligeiramente, na direção dela. Se mexeu e abriu as pálpebras com uma grande quantidade de esforço. Seus olhos, normalmente tão quentes e cheios de amor e humor, pareciam filamentos de vidro. O drogaram? Que, diabos, esses bastardos podiam ter em posse que podia drogar um vampiro? Raiva fez seu sangue ferver. Tarron olhou para ela sem a mais tênue faísca de reconhecimento. Na verdade, se perguntava se ele estava ciente do que estava acontecendo. "Você sabe quem eu sou?" Tentou, novamente.

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Seu rosto foi tomado pela confusão. Durante vários segundos, parecia que ele estava tentando entender o que ela estava dizendo. Então, algo brilhou em sua expressão. "Mana?" Respondeu, asperamente. Esperança. Seu coração partiu. "Sim, irmão. Sou eu, a Calla", falou suavemente. Suas sobrancelhas se contraíram, depois relaxaram, novamente. "Calla", suplicou ele, se esforçando. "Tenho que me libertar. Voltar... ajudá-los." Sua garganta ameaçou se fechar. "Nenhum de nós vai a lugar algum, por enquanto. Fique comigo, Tarron. Você ouviu? Basta aguentar. Eles vão nos encontrar, em breve." Isso, temia, era uma mentira deslavada. O Nick, a sua equipe

e

os

homens

do

Tarron

estariam,

freneticamente,

vasculhando a fortaleza procurando-os em breve, mas só se ganhassem a luta. Se não... Bem, tentou não pensar no que o Ivan faria com eles quando viesse. E ele viria; tinha certeza disso. As pálpebras do Tarron se fecharam, novamente, e seu corpo estremeceu quando deixou escapar um longo suspiro. Tinha ficado completamente imóvel e, por um momento, em pânico, pensou que

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ele havia parado de respirar. Então, lá estava, a leve subida e descida do seu peito. Ele não tinha desistido. "É isso aí. Continue lutando", incentivou. Gentilmente, acariciou sua bochecha e o cabelo negro que caía até os ombros. Talvez, seu toque conseguiria mantê-lo ligado a este mundo, tempo suficiente para tirá-lo daqui. Seus pensamentos se voltaram para o Nick. Estava entorpecida pelo temor por ele. Ivan podia usá-la, e ao Tarron, para atraí-lo para algum tipo de armadilha, mesmo se a batalha terminasse a favor do Nick. O que, se havia alguma coisa, podia fazer para frustrar os planos do Ivan? "Calla." O suave murmúrio do Tarron a abalou. Seus olhos estavam abertos, novamente, olhando para ela com tal intensidade, que estremeceu. "No meu bolso", Tarron engasgou. "Pegue." Ficando em silêncio, deixou os olhos se fecharem, novamente. Estudou o jeans, mas não parecia ter nada nos bolsos. Ainda assim, alcançou, com a mão livre, o bolso dianteiro direito. Nada, apenas uma bola de pelos. Em seguida, enfiou a mão mais para

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baixo, até o outro, à esquerda. A ponta do seu dedo indicador esbarrou em algo e procurou mais fundo. Os dedos da Calla se fecharam em volta de algo retangular e plano. Imediatamente, soube que era o que ele queria que encontrasse. Puxando-o para fora, a esperança cresceu quando avaliou o objeto. Era um pequeno canivete, com cerca de oito centímetros de comprimento. Um ponto de esperança começou a crescer dentro dela, enquanto segurava a ferramenta. Apertando a faca, colocou o polegar e o dedo indicador na ranhura da lâmina principal e puxou. Na primeira vez, a faca escorregou da sua mão. Na segunda vez, a lâmina se abriu. Agora, tinha que decidir como posicioná-la. Se concentrou em colocar a lâmina saliente entre os dois dedos médios da mão direita. Não era o ideal, mas era o melhor que podia fazer e, silenciosamente, agradeceu ao seu irmão. Ivan ou um dos seus subordinados estaria aqui, em breve. A pequena faca era sua única proteção e ia mantê-la escondida até que fosse absolutamente necessário. Então, o quê? A pequena lâmina permitia um ataque único. Calla enfiou a mão direita sob o seu corpo, fora de vista. E esperou pelo retorno do diabo.

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CAPÍTULO 13

Nick não tinha certeza de quanto tempo tinha lutado, antes de perceber que a Calla e Tarron tinham desaparecido. Rapidamente, despachou o vampiro selvagem mais próximo e franziu os lábios com desgosto. Não eram difíceis de diferenciar dos bons vampiros. Os dentes sujos e o hálito azedo os delatava, se a loucura em seus olhos não o fizesse. Pulando sobre o corpo, procurou, freneticamente, pela sala de estar. Abriu caminho até o salão de baile, triste por encontrar o aposento, uma vez glorioso, em frangalhos, juntamente com o resto do lugar. Estranhamente, móveis quebrados foram amontoados em pilhas, por todos os lugares. Em seguida, o cheiro distinto de querosene atingiu suas narinas e soube o que os bastardos tinham planejado. Estavam se preparando para incendiar a fortaleza.

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As chamas não conseguiriam destruir a montanha, em si, mas tudo e todos presos lá dentro, morreriam. Não podia deixar isso acontecer, e ainda tinha que encontrar a sua Companheira e o cunhado. "Nick!" Micah gritou, desviando de um golpe que teria arrancado sua cabeça. "Vão queimar este lugar!" Nick voltou para a forma humana, também, para que pudesse gritar de volta. "Eu sei! Consiga o máximo de pessoas que puder para encontrar extintores de incêndio e para apagar o fogo com água, qualquer coisa que vá parar as chamas!" "Providenciando!" Micah se afastou e começou a gritar ordens naquele sentido. Talvez, houvesse esperança para o garoto, ainda. Sem se preocupar em se transformar, de novo, Nick caminhou através das áreas de estar e jantar. Então, começou a procurar nos corredores e, fora da sala de estar principal, encontrou uma escadaria de pedra que descia para baixo da terra. Não havia porta, apenas uma abertura ampla e os degraus. Olhou, ao virar a esquina, escutou. Não parecia haver qualquer movimento vindo de baixo, então deu um passo.

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O golpe por trás o pegou desprevenido. Impelido para frente, caiu. Rolando escada abaixo até que seu crânio bateu na borda afiada de um degrau e o mundo ficou escuro. *** As batidas não iam parar. O tamborilar implacável, o rugido em seus ouvidos. Um riso misterioso se mesclou, dolorosamente, com o barulho na sua cabeça. Deus, sua cabeça. Tentou tocá-la, apenas para descobrir que tinha as mãos atadas atrás das costas. Puxar as amarras não funcionou. Nick abriu os olhos e tentou se concentrar, mas era como tentar ver através de papel de seda vermelho. Piscar ajudou um pouco, mas sua visão ainda estava embaçada. Essa era a voz do Ivan? Nick apertou os olhos e só então, pôde visualizá-lo. O vampiro estava de pé sobre a Calla, rindo. O brilho da lâmina maciça na sua mão fez o sangue do Nick ficar gelado. Perto, havia uma arma que o Ivan tinha, obviamente, deixado no chão, onde pensou que estaria fora de alcance. Pense de novo, babaca. Nick colocou toda a sua concentração em se sentar. Dor atravessou a parte traseira do seu crânio quando ficou sobre os joelhos. A dor aumentou e lutou para dominá-la.

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"Calla, minha querida, sua língua rápida é uma das coisas que sempre admirei em você", ele estava dizendo, com diversão. "Vou desfrutar essa língua, também." Os movimentos do Nick chamaram a atenção do vampiro. "Ah, você está aí. Acho que já é hora de dar continuidade aos negócios. Estava mandando o irmão da sua Companheira a caminho da morte, em primeiro lugar, mas parece não fazer qualquer diferença agora, não é? Ele vai morrer em breve, e não foi o único que me injustiçou, de qualquer maneira." "Seu filho da puta", Nick inspirou, tremendo de fúria. Na verdade, o Tarron não se mexia. Se não fosse pela respiração difícil, Nick teria pensado que estava morto. "Se você queria me matar há tanto tempo, por que, apenas, não o fez? Aqui está a sua oportunidade, seu bastardo. Não há nenhuma necessidade de machucar mais ninguém." "Nick." A voz quebrada da Calla rasgou o seu coração, mas não encontrou seu olhar. "Saborear a sua morte vai ser quase tão gratificante quanto ver como vai agir sobre ela, eu acho. Primeiro, você vai me ver matar a sua companheira, como você fez com o meu." Acima deles, a batalha continuava furiosa. Nick se sentia impotente, sem saber para qual caminho a maré estava virando. Ódio o

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inundou e forçou as amarras, tentando arrancá-las com a força bruta. Desfez algumas, mas a reação do Ivan foi rápida. Em um instante, a lâmina estava pressionada contra a garganta da Calla. "Mova um músculo e vou cortar o seu lindo pescoço. Fica quieto e ela vai viver um pouco mais." O vampiro se inclinou sobre ela. Sua mão livre tateou debaixo da sua camisa até que encontrou um seio e apertou. Ela engasgou, com dor, lágrimas enchendo seus olhos. A ira do Nick borbulhava em seu peito, quente e turbulenta. Não importa o quê, não ia ficar sentado e deixar o Ivan estuprá-la. O filho da puta ia matá-los, de qualquer maneira, então não tinha nada a perder. Mas, antes que pudesse se levantar, viu sua mão direita se mover para cima. Nick pensou que ela ia esbofeteá-lo e ergueuse, rapidamente. Em seguida, sua mão, segurando um pequeno canivete, acertou o rosto do Ivan e ele saltou para longe, segurando a bochecha, o sangue escorrendo por entre os dedos. "Cadela!" Ele gritou. "Puta desgraçada!" Nick já estava encurtando a distância, o coração na garganta. Ivan se lançou para ela, empunhando a enorme lâmina para a frente. Nick se lançou sobre ele, bloqueando o ataque com o seu próprio corpo e jogando o vampiro no chão. Nick caiu sobre a Calla, ofegante, a dor se estendendo através do seu lado, em ondas.

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"Me dê os seus pulsos! Depressa!" Gritou ela. Nick se sentou e estendeu as mãos para ela, os olhos nunca deixando o inimigo. Ainda segurando a espada, o Ivan estava se levantando, agora, assassinato estampado nos seus traços. Um corte, profundo e feio, se estendia pelo comprimento da sua bochecha. Calla, freneticamente, cortou as amarras finas de nylon. Mantendo-se na frente dela, Nick pegou a arma do chão e a apontou para o peito do outro homem. A lâmina ímpia na mão do Ivan estava coberta de sangue. O vampiro viu o olhar nos olhos do Nick - o olhar de um homem empurrado, completamente, na beira do precipício e pareceu perceber que estava carregando uma faca contra uma arma. A autopreservação assumiu. Ivan se virou e mergulhou na direção da escada quando o Nick abriu fogo. O tiro assassino passou por cima da sua cabeça, batendo na parede oposta. Subiu as escadas, as balas silvando no corrimão. Nenhuma delas acertou o alvo pretendido e o Nick praguejou, violentamente. "Isso ainda não acabou, Westfall", Ivan gritou. "Vou ver você queimar no inferno!" Em seguida, desapareceu. Nick ofegava, queimando com ódio. Se não estivesse ferido, caramba, seu objetivo teria se tornado verdade. "Um dos nossos homens vai pegá-lo, com certeza", Calla disse, com voz trêmula. "Você está bem?"

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"Estou bem", mentiu, girando para encará-la. "Está tudo bem, querida?" Ela começou a responder. Então, viu a mancha molhada se propagando no seu lado nu e respirou fundo. "Ele esfaqueou você", ela gemeu. "Pensei que fosse o sangue dele na faca." "Não é ruim, prometo. Ouça, temos que sair daqui. Ele vai colocar o lugar em chamas. Tem móveis quebrados, empilhados e embebidos com querosene, no andar principal." "Mas nós estamos acorrentados! Deixe-nos aqui e vá pedir ajuda." "Não vou deixar vocês dois aqui! Especialmente, quando ele pode voltar ou enviar reforços, enquanto estiver fora. Deixe eu tentar uma coisa. Quero que você se levante e segure o punho." "Você vai atirar nas correntes?" Ela balançou a cabeça. "Isso é perigoso. Só funciona nos filmes." Ele balançou a cabeça, enquanto projetava uma mensagem para o Ryon, telepaticamente. Ryon, estou com a Calla e o Tarron e eles estão acorrentados, na área de armazenamento do porão. Diga ao Kalen para enviar uma magia através da fortaleza, para liberar todos os ganchos de metal ou algo assim. E preciso de algumas roupas, também. Entendi, o lobo respondeu.

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Alguns momentos tensos se passaram, e entãoTodos os grilhões se partiram em dois com um estalo alto. Calla pulou para trás, involuntariamente, com o barulho, em seguida, olhou para suas mãos e para as do seu irmão. Estavam livres. "Funcionou!" Ela gritou. "Vamos dar o fora daqui." Então, uma trouxa, com calça jeans, bota e uma camiseta preta, apareceu há alguns passos de distância. Nick se vestiu enquanto falava com o Ryon, novamente. Nós estamos subindo. Situação? Grave, chefe. Os lobos que o seu irmão trouxe estão ajudando, mas precisamos de uma bomba atômica. Rápido. Aquela porra daquele Jinn ainda está mantendo o Kalen neutralizado e incapaz de usar as melhores armas para varrê-los daqui. Porra! Quem podemos chamar? Não sei como alcançar os outros clãs, e o Tarron, de jeito nenhum, pode me ajudar. Quem está faltando, Ryon? Pense! Um momento se passou. Kalen disse para chamar o Sariel. Ele é o único que tem o poder de pôr fim a essa coisa.

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O Sariel? O príncipe Fae era a criatura mais gentil que o Nick tinha conhecido. Tinha sérias dúvidas sobre a habilidade do Sariel como guerreiro. O Blue não é um lutador. Ele não precisa ser! Só tem que soltar a bomba que precisamos. Isto é tudo. Chefe, não vamos aguentar muito mais tempo! Tudo bem, envie um dos vampiros para trazê-lo! Faça isso, agora! "Nick?" Perguntou a Calla, trazendo seu foco de volta para eles. "O que está acontecendo?" "Estamos enviando alguém atrás do Sariel", disse a ela. "Ele vai tentar virar o jogo a nosso favor." "Espero que funcione." "Eu também." Olhando para o Tarron, sabia que não havia sentido em tentar acordá-lo. Mesmo que despertasse, estava longe demais para ter alguma ideia do que estava acontecendo. Nick colocou a arma na calça jeans. "Vamos lá, grandão", disse, com voz rouca. Se inclinou e pegou o Tarron nos braços, levantando-o com um grunhido. "Calla, fique atrás de mim." "Quer que eu pegue os pés dele?" 342


"Não. Isso ia deixá-la exposta." Começou a subir, então hesitou. Virando-se para a Calla,

lhe enviou um olhar cheio de

arrependimento. "Baby, eu sinto muito. Por tudo. Eu-" Ela colocou os dedos sobre os lábios dele. "Eu te amo. Nada vai mudar isso." Inclinou o rosto para ele que levou seus lábios aos dela. "Eu também te amo, baby", disse ele. "Agora, vamos dar o fora daqui." Carregando seu irmão mais velho nos braços, subiu as escadas de metal, com a Calla nos seus calcanhares. No topo, saiu para o corredor escuro. E sentiu o cheiro acre de fumaça. Enquanto subia a escada de pedra até o piso principal, o peito e os braços do Nick doíam por causa do peso do irmão dela. Para agravar o problema, havia o ferimento a faca no seu lado, que era pior do que levou Calla a acreditar. Agora, tonturas ameaçavam derrubá-lo,

mas

a

adrenalina

o

impulsionou.

Quando

se

aproximaram do piso principal, a fumaça ficou mais espessa. Quase lá. "Querida, quando chegarmos lá em cima, quero que você fique o mais perto das minhas costas, que puder", ele falou, sobre o ombro. "Você acha que ele está esperando por você?" Ela perguntou, preocupada.

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"Meu palpite é que ele ainda está aqui, em algum lugar, e não vai desistir tão facilmente. Ele tem muito chão pela frente", Nick apontou. Subiram a distância restante até o andar principal e caminharam através da arcada. Nick quase foi derrubado pela explosão de calor quando continuou através da sala principal. Ou Ivan, ou os seus capangas, tinham deixado as pilhas de móveis e outros itens em chamas ou, pelo menos, os homens do Nick não tinham sido capazes de apagá-las com água e as chamas estavam, apenas, começando a lamber as paredes e avançar em direção ao teto. Avistou um buraco irregular que tinha sido aberto através da rocha há cerca de quarenta e cinco metros de distância. "Há! Vamos lá!" Ele gritou acima do barulho. As chamas rugindo e os combates em torno deles, obstruíam qualquer ponto de vista das outras rotas para fora da fortaleza. Queria tirar a Calla e o Tarron daqui. Em seguida, ia retornar para a batalha. Começando a andar, sentiu um leve puxão na sua cintura e percebeu que a Calla estava segurando em um dos passadores do seu cinto. Dez metros, depois vinte. A liberdade estava tão perto que quase podia sentir o ar fresco no rosto. Em seguida, ouviu o estalo. A princípio, pensou que era apenas o barulho do fogo. Em seguida, uma lasca de madeira explodiu na frente do seu rosto.

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"Abaixe-se!" O Nick gritou. Caiu de joelhos e colocou o Tarron no chão, em seguida, agarrou a Calla pelo braço. Puxou-a para baixo ao lado do seu irmão, então se agachou sobre eles, protegendo-os contra os tiros. Balas zuniam perigosamente perto, ricocheteando em todos os lugares. Ele ergueu a voz acima do barulho. "Calla, me escute! Vou te cobrir. Quando eu disser vá, quero que você corra para se salvar!" "Não! Eu quero ficar com você e o Tarron!" "Quando eu falar," Nick repetiu, não deixando nenhum espaço para discussão. "Vá!" Ele se levantou, virou e abriu fogo na direção do tiroteio. *** Embora estivesse apavorada de deixar o Nick à mercê do Ivan, Calla foi deixada sem nenhuma outra opção, a não ser obedecer. Ela correu para o buraco irregular, sem se atrever a olhar para trás até que chegou à relativa segurança. Ganhando o exterior, se virou para ver se ele ia segui-la e viu o Ivan no lado oposto da sala. Nick foi para fora, no espaço aberto, chamando a atenção do outro homem para longe dela. Ficou claro, de onde ela estava, que estava disparando às cegas, através da fumaça, e o Ivan, agora, o tinha em sua mira.

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"Não!" O grito saiu dos seus lábios, na mesma hora que o tiro de pistola partiu da mão do Ivan. O mundo terreno parou. O corpo do Nick sacudiu e ele caiu no chão, ao lado do Tarron, os braços estendidos para os lados. Correndo para a luz do dia, só pensava agora em obter ajuda. Onde? Depois de correr alguns metros pelo chão rochoso, parou, seu lado palpitando. Não havia ninguém. Apertou as mãos nos lados da cabeça, lamentando sua dor, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Ivan ia assassinar o homem que ela amava, o homem que arriscou sua vida para salvá-la. Para salvar todos. O inferno rasgou a montanha, indo até o céu. *** "Nick?" Alguém o estava chamando ansiosamente, dando tapinhas no seu rosto. Com força. "Acorde, homem. Temos que tirar vocês daqui. Me ajude!" Nick abriu os olhos, atordoado. "John." "Você consegue se levantar? Este lugar está prestes a ir pelos ares e levar todos nós, caralho, com ele. Vamos. Você consegue fazer isso!" "A bala atingiu a minha perna." John o ajudou a se sentar. "Acho que consigo, no entanto."

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"O que aconteceu no seu lado?" O grande homem apontou. "Ivan me apunhalou com aquela fodida faca enorme." Nick agarrou o braço do amigo. "Espere. Tire o Tarron daqui. Ele está pior do que eu. Vou te dar cobertura." O calor, agora, era quase insuportável. A luta tinha se movido para a periferia e as pessoas estavam espalhadas. Nick se apoiou nos cotovelos, preparado. "Leve-o, agora!" "Espere aí", disse o John, severamente. "Eu já volto, ok?" Levantou o Tarron em seus braços com um grunhido, girou, e partiu, correndo tanto quanto conseguia. Nick voltou a dar uma saraivada de tiros, ganhando segundos preciosos para o John. Jogando um olhar por cima do ombro, quase entrou em colapso com o alívio de ver o homem desaparecer pelo buraco. Levantou a cabeça e teve um vislumbre do Ivan, deslizando ao longo da parede, muito mais perto, agora. O vampiro estava circulando ao redor, encurralando-o. Nick levantou o braço, o avistou e puxou o gatilho. A única resposta foi um tilintar metálico. Vazio. "Merda," ele rangeu entre dentes. Soltou o objeto inútil longe, limpando o sangue e suor dos olhos. Seu cérebro gritou para ele se transformar. Lutar.

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Tinha que ser agora. Nick deu um impulso para cima só para ser empurrado, bruscamente, para o chão, novamente. Ivan estava em cima dele, sorrindo em triunfo, com um pé apoiado no seu peito. Com o teto alto acima da sua cabeça consumido por chamas, foi atingido por um vampiro que muito se assemelhava a Satanás. "É assim que termina, lobo", disse Ivan, com um sorriso de escárnio. Brandiu a faca grande. "É quase uma vergonha terminar nossa dança, mas o meu Companheiro merece o seu sangue. Está pronto para morrer?" "Não tenho medo de morrer, Ivan. Mas acho que você deve ir primeiro!" Agarrou o inimigo pelo tornozelo e puxou com toda a sua força. O outro homem, apanhado desprevenido, perdeu o equilíbrio e caiu de costas. Agonia queimava através do seu lado e da perna, mas Nick a ignorou quando rolou e se levantou. Apoiando o peso no joelho bom, se lançou contra o Ivan quando a faca balançou para cima. Nick aterrissou em cima dele, agarrando seu pulso e empurrando a lâmina para longe do seu próprio corpo. Engatados, lutaram pelo controle da arma, cara a cara, olhando um para o outro. Malícia brilhava nas profundezas dos olhos do Ivan. Nick se retesou, os músculos se avolumando, as veias do seu pescoço saltando. Embora alimentado pelo ódio, a força física do Ivan não era páreo para ele. Com a respiração saindo em baforadas curtas, Nick começou a sentir a virada da maré a seu favor. O outro 348


homem percebeu isso, também, e rosnou de raiva. Com um último e grande esforço, Nick torceu o punhal das mãos de Ivan e avançou. A lâmina afundou na barriga do Ivan e os olhos do vampiro se arregalaram, com descrença. Nick deu à faca outro empurrão para dentro, depois para cima, enviando-a por todo o caminho, até o fim. As mãos do Ivan caíram ao seu lado, um estranho som borbulhante vindo dos seus lábios. Esforçando-se, o Nick levantou, mantendo a maior parte do seu peso sobre a perna boa. Olhou para o Ivan, impassível, e não sentiu nada além de alívio. "Termine", o vampiro borbulhou. "Quero me juntar ao meu Companheiro." Por um segundo, Nick quase acreditou que o vampiro sentiu remorso. "O prazer é meu. Queimem no inferno juntos." Mais rápido do que jamais foi, Nick ficou de joelhos e se transformou. Se lançou na garganta do Ivan e a rasgou, de fora a fora. Mesmo que o vampiro já estivesse morto, Nick dilacerou o corpo até que não houvesse esperança que pudesse reviver. O bastardo tinha tocado sua Companheira, a aterrorizado. Tinha, quase, matado o Tarron e assassinou muitos outros.

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Por fim, estava feito, mas o diabo não havia terminado, ainda. Para o Nick, a cena final se desenrolou em câmera lenta, como se estivesse debaixo d'água. Sem nenhum som, nenhum senso de tempo. Calla correu de volta para o inferno, gritando o nome do Nick. John estava em seus calcanhares, estendendo a mão para ela. Do outro lado da sala, Jax caiu, afinal. Então, Ryon e o Micah. Não se mexeram novamente. Renegados e caçadores começaram a rir, comemorando. Em forma de lobo, Nick correu para a Calla, ignorando seus ferimentos não curados. A batalha, tudo foi perdido, mas ia salvar sua companheira. Ou morreria tentando. Em seguida, um forte trovão sacudiu a montanha. Seixos foram desalojados das paredes, e as pessoas perderam o equilíbrio. Nick alcançou a Calla e a empurrou para trás, empurrando-a na direção da rota de fuga e, em seguida, parou para olhar, com admiração, a visão diante de todos. Sariel. O príncipe Fae estava pairando acima da batalha, agora imóvel, olhando para baixo sobre os inimigos, seu rosto gravado com uma raiva latente que o Nick nunca tinha visto antes. Seu cabelo cascateava em torno dele como uma cachoeira de joias azuis. Asas

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combinando estavam espalhadas em toda sua grande largura, mantendo-o, facilmente, no alto, acima da carnificina. Um caçador levantou seu rifle, preparado para atirar. Sariel reduziu o homem infeliz a uma nuvem de fumaça com o girar de um pulso. "Caçadores e vermes selvagens", proclamou a voz firme. "Por seus crimes contra os meus amigos e as suas famílias, que nunca fizeram nenhum mal, eu os sentencio à morte. Vão para o diabo, se ele quiser vocês. Eu, realmente, não me importo." Com isso, o braço se estendeu para fora e fogo azul foi lançado, como uma tocha, da palma da sua mão. Todo mundo caiu no chão, amigos e inimigos, mas o fogo só incinerou o inimigo. Homens gritaram,

suas

vozes

sendo,

misericordiosamente,

cortadas.

Provavelmente, um final mais amável do que mereciam - exceto pelo medo que tinham experimentado, enquanto olhavam para o Sariel com temor chocado. Aquilo, eles mereciam em grande escala. Quando os gritos, finalmente, morreram, as chamas azuis suavizaram. Dançaram entre os destroços e tocaram os caídos. Acariciaram-nos com cuidado, quase amorosamente. A garganta do Nick ficou apertada, pensando que era um adeus apropriado para aqueles que tinham perdido.

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E, então, todo mundo tocado pela chama começou a se mexer, acordando com um gemido. "Santa merda", John sussurrou. "Nick", disse a Calla, os dedos cravando em sua pele. "Ele os-ele os salvou. Deuses, salvou todos eles!" Era verdade. Os feridos e mortos, anteriormente, começaram a levantar, olhando para o conjunto sem ferimentos do seu corpo. Dando tapinhas em si mesmos com descrença, olhando ao redor com os olhos arregalados. Sem se importar com a sua nudez, Nick se transformou. Um lento sorriso se espalhou pelo seu rosto enquanto Aric, Jax, Ryon, e o Micah levantaram. Todos, sem um arranhão, e totalmente pasmos. "Nick, o que diabos aconteceu?" Disse o Jax. "O Sariel acabou de salvar todas as nossas bundas – foi isso." Nunca esqueceria a visão, enquanto vivesse. Ou sua dívida para com o príncipe Fae. Calla lançou os braços ao redor dele, gritando, quando seu irmão confuso passou pelo buraco na rocha. "O Tarron está bem, também!" "Eu acho que sim", disse o seu irmão, caminhando. "Jesus, isso é inacreditável. Seu príncipe Fae os exterminou."

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"Foi o que eu fiz", disse o Sariel, aterrissando no meio do grupo com um bater de asas. "Não sei como lhe agradecer", disse o Tarron, ficando emocionado. "Você salvou o meu clã. A minha família." "E a minha", Sariel apontou. "Ainda assim, sei o que usar esse tipo de poder deve ter lhe custado. Então, obrigado." Foi tudo o que o Nick pôde pensar em dizer. "Estou bem. Sou um amante, não um lutador", o Fae brincou, "mas quando sou chamado, eu vou. Especialmente, por aqueles que eu amo." Nick colocou a mão no ombro do Sariel, quando seu amigo continuou. "No meu próprio reino, seria executado pelo que fiz", disse o Sariel com um meio sorriso. "Não estou autorizado a interferir com o destino, mais do que você está, Comandante. Mas faria tudo de novo, em um segundo. Sabe disso." "Obrigado", disse o Nick novamente. "Não sei como nós vamos recompensá-lo." "Tenho certeza que vou pensar em alguma coisa."

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Com isso, o príncipe Fae abriu as asas e se ergueu para o céu, indo para casa. Nick mal podia esperar para fazer isso, também. Onde quer que essa casa fosse, para ele e a Calla, não se importava. Enquanto estivesse com a sua Companheira, nada mais importava. Mas as próximas palavras que saíram da boca do John paralisaram o Nick. "Ei, onde está o Kalen? Estou vendo todo mundo, menos ele." Nick franziu a testa. "Eu não o vi, desde que estava lutando com o Jinn." Isso causou uma preocupação leve, mas o consenso foi que o Kalen estava por ali, em algum lugar, e que a magia do Sariel tinha destruído o Jinn, também. Mas, enquanto procuravam pela fortaleza, chamando o nome do Kalen, Nick começou, realmente, a ficar preocupado. Kalen estava longe de ser encontrado. Pelo menos, não na parte de dentro. A busca mudou para o lado externo. Nick vestiu suas roupas, novamente, e saiu sob o sol. Ele, a Calla, e os outros se espalharam, enquanto o Aric e o Micah transformaram para a forma de lobo e tentaram captar o cheiro do Kalen. Não havia sinal dele, até que um latido alto os atingiu, cerca de noventa metros distante.

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Agarrando a mão da Calla, Nick caminhou com ela, pelo meio do mato. Por fim, chegou ao local onde um grupo estava reunido, todos eles olhando para uma extensa marca preta que passava por entre as árvores e arbustos e corria todo o caminho por baixo da montanha. Nick acenou para a marca. "Parece que, talvez, Kalen e o Jinn lutaram por todo o caminho, até o fundo." Aric aparentou preocupação com o amigo. "Mas isso significa que o Kalen e aquele monstro não estavam lá dentro quando o Sariel apareceu e salvou a todos." Esse era um pensamento horrível e preocupante. Alguns dos rapazes trocaram olhares e, em seguida, o Nick gritou: "Siga a trilha até o fundo. Não deixem pedra sobre pedra!" Próxima a ele, Calla procurou. Nick não conseguia entender por que, se a pista estava clara, o sol estava brilhando e os pássaros estavam cantando, não conseguiam encontrar o Kalen. Se recusou a considerar que o Jinn o tinha tomado como refém. Isso seria mais do que qualquer um podia aguentar, agora. Especialmente a Mackenzie, em casa com o bebê deles. A marca preta acabou na parte inferior, à direita da cachoeira que Nick imaginava como sua e da Calla. A lagoa brilhava, como de costume, sem uma coisa fora do lugar.

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Exceto pelo bastão do Feiticeiro, erguido, majestosamente, na água, fincado na areia do fundo. Estranhamente, o bastão ainda estava brilhando, com poder. Nick gritou e se moveu para a frente enquanto os outros se juntavam a ele. Estava ciente do Aric passando, e o ruivo parou e olhou para a equipe, em confusão. "O que é que isso quer dizer? Aquele babaca sequestrou o Kalen?" Começou a avançar. "Aric, não o toque", o Nick ordenou. Moveu-se para a borda da piscina. "Não vou. Só quero ver-" O lobo vermelho parou, quando algo debaixo d’água chamou sua atenção. Seus olhos se arregalaram. E então gritou, em alto e bom som, o som cheio de raiva e dor. Saltou por cima das rochas e na água, chamando, furiosamente, a equipe. "Que diabos?" Nick e alguns outros seguiram o Aric e, quando o Nick viu o que tinha acontecido, lutou para não vomitar. Kalen estava lá. Sob a água, empalado no peito pelo seu próprio bastão,

preso no fundo da piscina.

Seus

olhos

semiabertos, pequenas bolhas se agarrando à boca. "Mãe de Deus." "Merda! Kalen!"

356

estavam


Trabalhando juntos, soltaram a ponta do cajado do fundo da piscina e levantaram o Kalen, com bastão e tudo. Não se atreveram a removê-lo, ainda. Com cuidado, o colocaram de costas na grama e o Nick se ajoelhou, verificando sua respiração. "Precisa de um pouco de ar dentro dele." Inclinando a cabeça do Kalen na posição correta, Nick começou a respiração boca a boca. Pareceu durar uma eternidade, mas demorou, provavelmente, menos de um minuto antes do Kalen tossir, expelindo água dos seus lábios. Que o bastão não tivesse empalado o coração do feiticeiro foi um milagre. Ou talvez, isso se devesse ao bastão mágico, protegendo o seu mestre. Nick moveu o olhar para o Ryon. "Traga o Zander aqui em baixo, rápido." "Chefe, ele não deve realizar nenhuma cura." "Faça isso!" "Sim, senhor." Enquanto o Ryon se concentrava em fazer contato com o Zan, Nick se esforçou para manter a calma da equipe. Especialmente o Aric, que estava perdendo a fodida cabeça. "Tire essa coisa dele! Como é que pode se curar com isso no seu peito?"

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"Aric, olhe para mim", disse o Nick, com calma. "Provavelmente, a única coisa que o mantém vivo é este bastão. E até o Zan chegar aqui, para nos dizer o que fazer, ele permanece ou isso poderia machucá-lo ainda mais. Sei que é o seu melhor amigo, mas você não o está ajudando se não pode se conter." Aric engoliu em seco. "Sim. Ok." Depois disso, o Zan apareceu e caiu de joelhos ao lado do Kalen, com um xingamento. Levou alguns momentos para examinar o ferimento, em seguida, pareceu para chegar a uma decisão. "Aqui está o que vamos fazer. Remover o bastão, lentamente. Ao fazer isso, vou curar a ferida de dentro para fora." "Você pode suportar uma cura deste tipo, agora?" Perguntou o Nick. "Não quero dois da minha equipe, machucados." "Posso. Estou muito melhor e sou imortal agora, lembra?" Ele era. Acasalado com a Selene, uma loba nascida como o Nick, tinha chegado a isso. "Você ainda pode morrer", disse ele. "Esteja certo disso." "Estou. Vamos começar. Ele não tem muito tempo." Começaram a trabalhar, puxando o bastão, com cuidado, para fora, enquanto o Zan trabalhava o seu talento de cura. O som que o bastão fazia, uma vez que era retirado, era horrível, deixando-o

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enjoado. Era necessário, no entanto, e continuaram a terrível tarefa até que, finalmente, estava terminada. O buraco no peito do Kalen se foi, mas o perigo, para ele, não tinha acabado. "Preciso de um par de vampiros para tele transportá-lo para casa, para o complexo." Imediatamente, dois voluntários correram para a frente e o Aric lhe informou que precisariam de três. Não deixar o seu amigo até que fosse obrigado. Outro vampiro escoltou o Aric e todo o grupo desapareceu. "Zan, você está bem?" Perguntou o Nick. "Sim, estou bem." O curandeiro estava; um pouco pálido, mas, de qualquer forma, parecia estar dizendo a verdade. A Selene ainda ia chutar a sua bunda. Ele não estava esperando, ansiosamente, pelo confronto. Nick limpou o sangue das mãos na grama e deu um suspiro cansado. Calla colocou os braços ao redor dele e o segurou firme, seu amor, a única coisa que fazia sentido neste momento. "Kalen foi o último", disse Calla. "Ele vai ficar bem e todo mundo está bem, agora." "Espero que você esteja certa."

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"Estou." Sobre o ombro da Calla, Nick viu o Tarron caminhando para baixo da encosta. Quando o príncipe chegou até eles, deu um abraço em ambos e recuou. "Será que o seu Feiticeiro vai se recuperar?" "Achamos que sim, mas vamos saber mais, em breve. Parece que o Jinn o empurrou para o fundo da piscina, pensando que ele ia se afogar. Mas o bastão deve ter salvo a sua vida, de alguma forma." "Não sei como as coisas mágicas trabalham, mas é possível. Talvez, soubesse, de alguma forma, que era o seu mestre e o manteve vivo." Nick deu ao Tarron um olhar de desculpas. "Preciso voltar para o complexo para ver o Kalen e verificar algumas coisas que tenho negligenciado. Vou deixar alguns homens aqui para ajudar com a limpeza, mas-" "Vá, Nick." Tarron sorriu. "Você passou muito tempo cuidando de nós, é hora de você cuidar dos seus, por um tempo." "Obrigado." "Você vai com o seu Companheiro, mana?" "Isso foi, mesmo, uma pergunta?" Sorriu para o seu irmão e o Nick. 360


O coração do Nick se iluminou. Especialmente, quando viu o Damien caminhando pela encosta. Movendo-se na direção dele, Nick o envolveu em um abraço apertado e o levantou do chão. "Ohh! Nada de manifestações públicas de afeto, cara!" Estava brincando, porém, e todos riram, incluindo o Nick, que o colocou de volta em terra firme e bateu no seu ombro. "Agradeço por você e o seu clã terem vindo para ajudar." "É o seu clã, também, se você nos aceitar de volta." A enormidade desta afirmação quase o derrubou. Limpou a garganta. "Ficaria feliz em ser parte do clã, novamente, apesar dos meus deveres estarem no complexo. O que eu puder fazer para ajudar, quero participar." "Isso é música para os meus ouvidos, irmão." "Eu, realmente, preciso ir." "Entendo", disse o Damien. "Meus homens e eu vamos ficar aqui, por enquanto, e ajudar o Tarron. Vou me juntar a você, mais tarde." "Parece bom." Soava muito bem, na verdade. Nick enganchou seu braço no da Calla e estavam em casa, em segundos. Ou, pelo menos, onde esperava ser o lar permanente dos dois. 361


CAPÍTULO 14

A primeira tarefa do companheiro da Calla na chegada ao complexo foi apartar uma briga de gatas. Ou seria uma luta de lobas? Selene tinha começado a brigar com o pai por usar a cura do Zan, embora o Zan, tenazmente, protestasse, dizendo que tinha sido cuidadoso para não exagerar. Quando a Mac entrou em cena, o bicho pegou. "É claro que você vai defender as ações do Zan! Ele arriscou sua saúde para salvar o seu Companheiro!" "Selene", a Mac começou. "O Zan foi liberado para realizar curas dentro de certos limites. E, é claro, que estou grata. Como poderia não estar? Eu amo o Kalen, e o nosso bebê precisa do pai." "Oh, vai colocar o bebê no meio, não é? Você sabe-"

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"Chega!" A voz do Nick soou pelo corredor do hospital, fazendo com que todos saltassem. "Selene, já chega!" Virando-se, piscou para ele. "Pai." "Eu sei que você ama o seu parceiro, assim como a Mac. Todos trabalhamos juntos, aqui. Somos uma família, todos nós, e não serve para nada, pularmos nas gargantas uns dos outros." Selene hesitou, então olhou para a Mac, os olhos brilhando com lágrimas. "Sinto muito. Simplesmente, não posso suportar a ideia de perder o Zan do jeito que perdi, não muito tempo atrás. Ou quase." "Eu entendo", a Mac disse suavemente, segurando suas mãos. "Eu quase perdi o Kalen uma vez, também, mais de uma vez, agora. Paz?" "Sim." A Dra. Mallory os interrompeu. "Nick, o Kalen gostaria de vê-lo, agora. Ele ainda está se recuperando, assim, seja breve." "Serei." Se virou para a Calla. "Vem comigo?" "Claro." Kalen estava encostado na cama quando eles entraram, parecendo terrivelmente pálido com o cabelo negro caído ao seu redor. "Nick! Como eu continuo me metendo nessas confusões, hein?" 363


Seu Companheiro riu. "Você é um encrenqueiro - isso é o que você é. Não disse a você no dia que nos conhecemos?" "Não com tantas palavras, mas você estava certo." Seu sorriso baniu algumas sombras. "Então, você e os caras já pegaram o Jinn?" Nick balançou a cabeça. "Ainda não. Temos rastreadores procurando por ele na comunidade paranormal. Agora que o Ivan está morto e o Jinn não tem nenhuma missão a cumprir, não tenho certeza se isso vai torna-lo mais fácil ou mais difícil de controlar." Um pouco do bom humor do Kalen se desvaiu. "Sim. Desculpe por não conseguir acabar com ele. Aquele filho da puta é muito mais poderoso do que lhe dei crédito, em primeiro lugar. Ele tem mais magia negra no dedo mindinho do que eu tenho no meu corpo inteiro." "Mas a sua magia branca te salvou. Não se esqueça disso. O bem sempre vence, no final." "Não é?" Perguntou o Feiticeiro. "Espero que sim. Essa é a minha história, de qualquer maneira, e estou aderindo a ela."

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Kalen deu uma risada silenciosa. "Parece uma na qual entrei, há algum tempo atrás. Quando estiver fora daqui, vou ajudar vocês a procurar aquele bastardo. Devo-lhe uma, bem grande." Nick se inclinou para frente. "Ele disse por que estava prendendo você sob a água, daquele jeito? Será que ele sabia que você ia sobreviver?" "Ele disse que estava fazendo isso porque podia", disse o Kalen, pensativo. "Quanto a saber se ele sabia que o meu bastão ia me proteger, não posso dizer. Mas acho que uma criatura poderosa como ele, ia saber disso." "O que significa que ele podia estar brincando com você." Uma ideia golpeou a Calla. "Acho que ele deixou o Kalen daquele jeito como uma mensagem para todos nós. Podia ter matado ele e não fez isso, desta vez. Mas pode chegar até nós, a qualquer hora que quiser." Essas palavras trouxeram, correndo, as memórias de volta - a visão do Nick do Noah sendo sequestrado pelo Jinn. Por que a criatura queria o Noah? Como o Companheiro do Nix cairia nas garras daquela criatura horrível? Seu estômago revirou diante desta possível ameaça futura, mas colocou isso de lado, para lidar mais tarde. De alguma forma, conseguiu manter a visão para si mesmo.

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Kalen assentiu. "Faz sentido. Mas será que ele tem uma motivação, agora? Seria tão próximo do Ivan que iria buscar vingança pela sua morte?" "Não sei", disse o Nick. "Mas sei que está com raiva. E isso o torna perigoso." "Verdade." Kalen se recostou nos travesseiros, visivelmente desgastado. Então, houve uma batida na porta e o Sariel passeou para dentro. Kalen sorriu para o seu meio-irmão, obviamente feliz por vê-lo. "Bem, se não é o herói do mês." "Eu tento." O Fae sacudiu as asas e sorriu. "Aproveitando, vamos deixá-lo com a visita do Blue e descansar um pouco." Nick levantou. "Venho vê-lo mais tarde." No corredor, Calla ficou na ponta dos pés e beijou o seu Companheiro nos lábios. "Acho que deitar é uma grande ideia. Mas, e se o descanso vier... depois?" "Deus, baby", ele gemeu, o pau endurecendo entre eles. "Gosto da maneira como você pensa. Assim que eu cuidar de alguns negócios, como descobrir o que aconteceu com o Tom, o nosso mecânico." Calla ficou séria e observou o Nick, pensativa. "Ele pode estar em qualquer lugar."

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"Em qualquer lugar no qual o Ivan estava", corrigiu Nick. Então, uma ideia veio até ele. Algo sobre as contas conjuntas do Ivan e do Carter- "Eles tinham um endereço", falou, se endireitando. "O quê?" "O Carter e o Ivan tinham um endereço em Chattanooga, listado em suas contas bancárias conjuntas. E se o Ivan manteve o Tom, lá?" "É um palpite, querido", ela o advertiu. "Não é mais provável que ele tivesse matado o pobre homem e o jogado em algum lugar da floresta?" "Talvez. Mas, apesar do Ivan estar consumido pela raiva e vingança, ainda precisava se alimentar." Estremeceu diante o pensamento que o mecânico amigável sofreu com o Ivan, o que o Nick tinha passado nas mãos do Carter. "Tenho que dar uma olhada." Ela assentiu com a cabeça, deixando os seus braços. "Entendo. Vá. Estarei esperando quando você voltar." "Obrigado, querida. Preciso saber, de uma forma ou de outra, o que aconteceu com ele." Depois de lhe dar um beijo, saiu. Rapidamente, reuniu alguns membros da equipe e explicou para onde estavam indo e o porquê.

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Os caras estavam de pleno acordo que o Tom não tinha desaparecido no ar e, se estava lá fora, iam se esforçar para encontrá-lo. Nick considerou pegar o Huey, mas aquela área do Tennessee era muito montanhosa e arborizada. Isso significava horas de viagem e teriam que aterrissar o helicóptero milhas abaixo do seu destino. Muito tempo perdido. No final, foi forçado a ligar para o Tarron para conseguir ajuda, uma vez mais, mas o novo cunhado estava feliz em ajudar. Já tinha estado em Chattanooga antes, então, alguns dos seus guardas acompanharam a equipe e providenciaram o tele transporte. Em seguida, percorreram a cidade toda em busca do endereço correto, depois de terem procurado o local na Internet. Uma vez que estavam na varanda da casa, Nick verificou, mais uma vez, o endereço, em seguida, fez um gesto para que se movessem para onde estariam fora de vista. A casa estava em uma área rural em vez de um bairro movimentado, o que fazia sentido para um casal de vampiros que queria manter a privacidade. Mas não podiam ser cuidadosos demais. O nível mais baixo da casa foi construído na encosta da colina, como muitas na região. Na entrada dos fundos, o Nick ficou de um lado da porta e levantou a mão, pedindo silêncio, quando o resto dos homens se reuniu em cada lado dele. Uma vez que estava

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satisfeito por não ouvir nenhum movimento lá dentro, moveu-se rapidamente. Ficando na frente da porta, levantou o pé e chutou, com toda sua força. A madeira lascou, perto da maçaneta da porta, e outro chute fez com a porta batesse para dentro. O piso inferior tinha a aparência de um porão, observou, quando entrou. Não tinha nenhum acabamento. Nenhum tapete no chão de concreto, sem pintura nas paredes. Apenas uma área reparada com um fogão a lenha e uma pilha de toras ao lado dele. Uma mesa de bilhar. À direita da mesa de sinuca havia um longo corredor. Nick acenou com a cabeça em direção a ele, abrindo o caminho. Passos suaves soaram atrás dele, os homens em sua volta, prontos. Tensos. O corredor estreito não era o local ideal para uma luta, se houvesse uma. "Ei", uma voz gritou. Era baixa e abafada. Mas estava lá. "Você ouviu isso?" John sussurrou. "Sim." Nick escutou, e o fraco grito surgiu, novamente. "Cuidado. Pode ser uma armadilha." Cautelosamente, se moveu para a frente. Se arrastou pelo corredor até que foi para o último quarto à esquerda. Respirando fundo, arrombou a porta. Apressado, pronto para a batalha.

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E parou diante da visão do Tom, acorrentado a um pino no chão de concreto frio. Suas roupas estavam sujas, seu rosto magro. Mas o jovem lhes deu um sorriso fraco quando levantou a cabeça. "Que porra fez vocês demorarem tanto assim?" Nick correu, e sem o Kalen para soltar as algemas, deixar o homem livre levou algum tempo. Finalmente, alguém encontrou uma chave no piso superior e o mecânico foi liberado. Zander verificou o homem da cabeça aos pés, avaliando os ferimentos. "Você está anêmico e precisamos conseguir um pouco de comida e água para você, mas vai ficar bem", disse ao Tom. O homem pareceu aliviado, embora suas mãos tremessem de nervoso. "Estou feliz. Depois do que aquele maldito vampiro louco fez comigo, não estava muito certo." "Seu nome era Ivan Cardenas", Nick disse a ele. "Como ele o pegou?" "Era Ivan?" O homem ficou paralisado diante dessa palavra, como um falcão. "Eu o matei." "Bom", Tom cuspiu. "Foi no caminho para o trabalho, um dia. Meu carro foi jogado para fora da estrada, e o vampiro me pegou antes

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que eu, sequer, soubesse o que estava acontecendo. Ele me trouxe para cá e tem se alimentado de mim, desde então. Só que não voltou, desde a noite passada, e agora sei o porquê." "Tom, isso é importante. O vampiro mencionou como conseguiu sequestrá-lo e colocar outro mecânico em seu lugar?" "Sim. O bundão fez alarde disso. Disse que um Feiticeiro seu colocou um feitiço sobre o Grant, para ele pensar que eu tinha me demitido e assinar a contratação do Feiticeiro disfarçado como um cara chamado Morgan. O Grant nem sabia disso, de acordo com o vampiro." Droga. O Jarrod ia se sentir mal sobre isso, mesmo que não fosse culpa dele. Mas lidariam com isso, mais tarde. "O importante é que você vai ficar bem", o Nick disse a ele, lhe dando um sorriso tranquilizador. "Vamos levá-lo de volta para o complexo onde você ficará em descanso absoluto por alguns dias, e isso é uma ordem." "Meu trabalho?" Perguntou, ansiosamente. "Ainda é seu. Isso nem mesmo foi uma pergunta." "Obrigado, Nick."

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Tom estava enfraquecendo, rapidamente, e precisava de cuidados médicos. Levado de volta para o complexo, Nick o deixou nas mãos capazes da sua equipe médica. Uma vez que o Tom foi levado, o Tarron se virou para o Nick. "Estou indo. Dê à minha irmã o meu amor, e volto a vê-los, em breve." "Darei. E obrigado por tudo." O vampiro sorriu, mostrando um indício das suas presas. "Eu diria que ajudamos uns aos outros. Além disso, nenhum agradecimento é necessário entre família." Família. Nick tinha uma, agora. Uma família real. Sua vida, realmente, tinha se transformado em um milagre ambulante. Não podia querer mais. *** Quando a Calla acordou, os primeiros raios da aurora cinzenta estavam, apenas, começando a se espalhar por todo o céu, perseguindo as trevas até o outro lado do mundo. Sabia, exatamente, o que a tinha despertado. Nick estava abraçado em torno dela, mas não estava dormindo. Nem perto disso. Estava acariciando o seu pescoço, um braço envolto sobre ela, os dedos traçando a curva dos seus seios.

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"Querida, você está acordada?" Ele sussurrou, brincando. "Não, não estou. Volte a dormir." É claro que ele não faria tal coisa e ela ficaria desapontada se ele fizesse. "Você é tão gostosa. Venha aqui", ele rosnou, deitando-a de costas. "Você é insaciável." Ela sorriu para ele. "Só quando se trata de você." Nick segurou o rosto dela com as duas mãos e baixou os lábios nos dela. Deus, não conseguia o suficiente dele. Estava se tornando um vício. Quanto mais o provava, mais queria. Ele a amara por várias horas, na noite anterior, em todos as as posições possíveis, mas ainda não foi o suficiente. Movendo-se sobre ela, cobriu o corpo dela com o dele, envolvendo-a em seus braços. Ele a reivindicou, mais uma vez, desta vez amando-a com grande ternura, como se ela fosse um tesouro inestimável. Em toda a sua vida, nunca imaginou compartilhar esse tipo de intimidade no amor. Nick não era como qualquer outra pessoa, jamais. Ele era o homem - lobo - para ela. Movendo-se

dentro

dela,

alimentou

as

chamas,

até

que

consumiram os dois. Sua paixão irrompeu com força, à medida que

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derretiam juntos, montando as ondas pulsantes. Por fim, entrou em colapso com um estremecimento, segurando-a com força. Calla passou as mãos sobre suas costas, imaginando como viveu sem isso, sem ele. "Onde é que vamos viver?" Perguntou ele. "Queria abordar o assunto, mas não tive tempo. Ficaria feliz em viajar, indo e voltando, daqui até a fortaleza." "Mas isso tornaria o trabalho mais difícil para você", disse ela. "Um pouco. Mas o que você faz, ensinar às crianças é importante, também." "Eu te amo por isso", disse ela, acariciando-o. "Mas é mais fácil para mim do que para você, viajar. Digo que viveremos aqui e viajo até o meu irmão quando for necessário." "Você tem certeza?" "Positivo." Beijou-a profundamente. "Está resolvido, então." Ele ficou quieto, e ela perguntou: "Há mais alguma coisa na sua cabeça?"

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"Tem." Depois de uma pausa, ele disse: "Sabe quando você disse que é raro as mulheres vampiros darem à luz?" "Me lembro." Ela se afastou e olhou para o seu rosto sério, já sorrindo, por dentro e por fora. "Bem, você acha que podia tentar? Se você quiser, quero dizer. Sei que já tenho uma filha, mas perder a maior parte dos seus anos de crescimento, machuca", ele sussurrou. "Oh, querido." "Por favor, considere isso? Poderia ser um pequeno vampiro, ou um lobo. Poderia ser ambos? Me pergunto." "Bem, não posso considerar isso." O rosto dele se abateu. "Por que não?" "Porque isso já está feito, meu comandante." "Você quer dizer?" Seu rosto se iluminou com alegria indizível. "Sim. Nós vamos ter que descobrir quais dons especiais nosso bebê terá, quando nascer." Rindo, seu companheiro a puxou para os braços e fez amor com ela, novamente. E mais uma vez. A vida estava completa e feliz. Com o Nick. Seu lobo, que tinha afugentado as sombras de ambos, para sempre.

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PRÓXIMO LANÇAMENTO SÉRIE ALPHA PACK LIVRO VII CHASE THE DARKNESS J. D. TYLER

SINOPSE: Considerado morto por seus irmãos da Alpha Pack, Micah Chase, um shifter lobo e Andarilho

dos Sonhos,

foi

mantido em cativeiro durante meses, sujeito a torturas que o deixaram fisicamente marcado e emocionalmente instável. Agora, sob os cuidados médicos da Alpha Pack, tem usado um medicamento experimental para a cura, mas ainda não consegue afastar os pesadelos. Ainda mais condenável, é que os problemas do Micah representam um perigo para a sua equipe e, se não conseguir se controlar, todos vão sofrer um terrível destino. Há uma chave para a sua salvação. Jacee é uma bela shifter coiote e, apesar da sua espécie ser odiada, está se apaixonando por um homem cujo futuro está, inteiramente, em suas mãos. Juntos, vão enfrentar seus demônios pessoais, assim como um inimigo mortal – e, para ambos, o desejo nunca significou tanto risco.

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