Revista Educalendo

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Edição 01 - Nov. 2012

Conhecimento

Acessibilidade

Ensino Superior



Índice 19 Acessibilidade

04 Artigo de Opinião

A história de pessoas que se tornam mais que professores para os alunos

Os desafios da Educação da base ao ensino superior

14 Educação

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Caminhos da Educação Batalhas do dia-a-dia descritas por diversos estudantes

A história de Benhur, um jovem cego em busca de seus sonhos

26 Literatura

Dicas de professores sobre livros importantes Edição 01 - Nov. 2012

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Equipe Educalendo Danyele Wolff

A educação abre as portas para o futuro

Ilsinéia Machado

O conhecimento é algo adquirido que ninguém pode tirar

Carlinhos Mota

A educação é a base de tudo

Mano Nunes

A Educação é o caminho

Jéssica Câmara

Educação é Fundamental na vida de todo cidadão

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Editorial Abordar a educação com uma visão diferente, que vai para além da sala de aula, onde se fala de dificuldades de acesso, inclusive físicas, mas também de reconhecimento das diversas formas de sucesso, seja ele profissional ou social, é o objetivo da Revista Educalendo.Assim, as matérias foram elaboradas a fim de que o leitor sinta a emoção da experiência pela qual cada um passou e também imagine e ‘conheça’ os personagens em seus detalhes, em suas características e lutas. Com essa proposta, a revista é destinada para aqueles que gostam de conhecer histórias reais de superação, tendo a Educação como a base de tudo e também para profissionais da área, bem como os estudantes.Nosso desejo é que você, caro leitor, sinta as sensações das quais descrevemos e sentimos, e, perceba a Educação, como um caminho a ser trilhado rumo ao sucesso, mesmo diante dos obstáculos e das dificuldades. Boa leitura!

Expediente A revista Educalendo é apresentada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Jornalismo no curso de Comunicação Social, pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel - Univel. Com tiragem mensal de 3 mil exemplares Coordenadora do curso de Jornalismo: Leticia Afonso Rosa Garcia Orientador (a) de Impresso: Lurdes Tirelli Guerra Editor(a) da Revista Educalendo: Ilsinéia Machado Diagramação: Jéssica Câmara Ilustração : André Bernardi Fotografias e Reportagens: Carlinhos Mota Danyele Wolff Ilsinéia Machado Jéssica Câmara Valmir Nunes Rua Odontologia, 49 Fone: (45) 33240237 Cep: 85819-220/ Cascavel - Pr


Artigo de Opinião Educação: faltam recursos e valorização Nosso sistema de ensino está submetido às dinâmicas do sistema capitalista, que é na sua essência excludente. A educação vai afunilando desde a educação básica até chegar ao ensino superior, que é o nível mais valorizado. Não existem investimentos a contento para a educação de base, desde recursos humanos (valorização do profissional), passando pelos didáticos e materiais. Estando a família também submetida ao sistema capitalista, esta também sofre os reflexos desse sistema excludente. Esses não são os únicos condicionantes, existem vários fatores que contribuem para esse desenho da educação no nível superior. É uma análise complexa, porém, não podemos ignorar que o cerne da questão carrega as bases de um sistem onde predomina o individualismo, a acumulação e o lucro.

Luciana Signori

Formada em Letras e Especialista em Educação Especial


Em poucas palavras... Entender os desafios vividos por cada aluno e compreender as histórias de vida, é uma missão nada fácil para o professor, principalmente ao se relacionar com estudantes portadores de deficiência. Marina Machado é Mestre em Psicologia, formada pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). Tem a Educação como companheira, é professora e especialista em Psicodrama Terapêutico. A psicóloga concedeu uma entrevista a REVISTA EDUCALENDO e expressa as principais dificuldades em sala de aula, tanto do professor, quanto do aluno.

Educalendo: Ainda existe preconceito na sociedade, em relação aos portadores de necessidades especiais?

Marina: Sim, muito preconceito. Mas pensando no sentido amplo da palavra preconceito, ou seja, pré conceito sobre a deficiência, sem conhecimento de causa, não sabem o que é a doença e como lidar com ela. A sociedade ainda hoje costuma rechaçar àquilo que não conhece ou que não entende, logo, com os portadores de necessidade especiais acontece da mesma forma. A sociedade lida com eles como se fossem incapazes, superEducalendo: Qual a importância de protegendo, ou ainda, ignoram isola um professor preparado para atender ou exclui. alunos especiais em sala de aula? Educalendo: Qual a solução para Marina: A importância do preparo acabar com este preconceito? está em poder atender a demanda, o tratamento adequado a cada aluno Marina: Através da educação, e da especial e conseguir com isso realizar discussão em diversos tipos de mídias uma aproximação que faça com que o sobre os diferentes tipos de doenças. aluno consiga aprender e desenvolver Além disso, gerar processos de inclucapacidades que o ajudem a superar a são e formação para atender essa dedificuldade no ensino. Além disso, um manda de uma forma mais significatiprofessor bem preparado pode dar su- va, com treinamentos e capacitações porte emocional para que esse aluno constantes com os profissionais que se desenvolva e consiga se adaptar à atua diretamente com esses alunos, sociedade, bem como, pode fazer com e em paralelo, preparo da sociedade que os demais alunos possam aprenpara compreender e lidar com essa sider a ser mais tolerantes, a conviver tuação. com as diferenças. 06

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Caminhos da Educação

A Educação forma cases de sucesso Coragem e persistência são os segredos da superação Por: Carlinhos Mota, Danyele Wolff ,Ilsinéia Machado e Mano Nunes

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rasmo Carlos Aquino, este é o nome do vitorioso, mas que conhece bem os percalços da vida e sabe qual é o preço do sucesso. Por ser oriundo de uma família pobre e humilde, como grande parte das famílias brasileiras, Erasmo não teve oportunidade de frequentar um curso superior em sua juventude. Mas a vontade e o sonho jamais foram deixados de lado, assim como a esperança de almejar um futuro próspero. Desde menino ajudava seus pais na agricultura, na chácara da família. O sol forte e árduo dos verãos brasileiros e as fortes geadas do inverno, com ventos gélidos, foram seus companheiros por muito tempo e apesar do sofrimento, lhe “ensinaram” a importância do trabalho digno e da honestidade para se viver, mas acima de tudo, Aquino aprendeu a ter coragem para enfrentar os desafios da vida e decidiu traçar um novo rumo, um novo futuro. Apaixonado pelo Exército Brasileiro, ao completar a maioridade realizou um de seus grandes sonhos, passou a usar a farda que tanto admirava. E como era de se esperar, não foi nada fácil. Sua casa ficava a 30 km da cidade. Todos

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uscar o conhecimento nunca é demais” os dias, antes mesmo de o sol surgir no horizonte, ele já estava na estrada pedalando com sua bicicleta, seu único meio de transporte, a fim de honrar seus compromissos. Ao aderir às normas da instituição, seguindo o lema da bandeira nacional, Ordem e Progresso, sua responsabilidade aumentou. Erasmo permaneceu por seis anos na corporação, até se tornar cabo. “Eu já era acostumado com essa disciplina em casa, não foi difícil seguir as normas do exército, essa disciplina me ajudou muito na vida” afirma. Mas depois de todo esse tempo, com uma grande experiência vivida, decidiu dar outro norte à vida e se desligou do Exército. Sedento por outros aprendizados, Erasmo frequentou inúmeros cursos profissionalizantes dentro mesmo do Exército. Ao sair

do batalhão de infantaria ingressou em mais um desafio: começou a trabalhar em uma grande indústria da cidade e mais uma vez, a Educação, o ensino foram seus aliados, mesmo sem conhecimento na área em que estava atuando, buscou mais conhecimento sobre a atividade. Fez o curso Técnico em Gestão de Processos Industriais. “No momento o curso técnico era a melhor opção devido à necessidade de mão-de-obra qualificada e para ter uma oportunidade, já que eu estava começando na empresa” relembrou. Sua vontade de aprender aliada à humildade e a responsabilidade fez com que em pouco tempo ocupasse um cargo de destaque dentro da empresa. Graças a sua dedicação, luta, vontade e, sobretudo a esperança, soube aproveitar as oportunidades. Hoje, com 37 anos, lidera mais de 300 pessoas e seu ganho mensal é superior a dez salários mínimos. Questionado sobre os estudos, ele não pensa em parar não, disse que no próximo ano (2013) vai começar o curso superior em Administração de empresas, pois está mais do que certo de que é o curso que deseja. “Vou fazer Administração, acredito que vai agregar muito na minha vida, tanto pessoal quanto profissional, e buscar o conhecimento nunca é demais”, finalizou. Edição 01 - Nov. 2012

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Foto: Carlinhos M.

ou fazer Administração, acredito que vai agregar muito na minha vida”

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A educação realiza sonhos Aquino não é o único a sonhar. De família humilde, trabalhadora e tradicionalista a moda gauchesca, Adilson Carlos Ávila é o mais velho de cinco irmãos. Sempre muito dedicado e estudioso cursou o ensino regular em colégio público onde sempre tirou boas notas, e desde pequena já havia percebido o caminho que queria seguir. “Desde cedo entendi que uma boa formação traria um melhor posicionamento frente às oportunidades existentes.” Ensino regular concluído, hora de pensar na graduação, que tal em uma faculdade pública? Curso escolhido, vestibular feito e o ponta pé inicial para a carreira foi dado. Um amante de contas escolheu o curso de Administração para seguir carreira “Meus pais tinham um comércio de compra e venda de cereais e isso também despertou meu interesse.” Mas o ensino não parou por aí, afinal, porque não uma segunda graduação? A escolha do curso de Contabilidade, segundo Adilson traria um complemento à sua formação e abririam várias oportunidades. Além das graduações, o tradicionalista fala fluentemente as línguas inglesa e espanhola. “Inglês e espanhol são como o português, uso todos os dias e chego até a me confundir na hora de usar nosso idioma”. E com a graduação, esforço e dedicação, não poderia ser diferente.


Foto: Divulgação

É, Ávila, o menino de família pobre, viu em Foz do Iguaçu a chance de crescer profissionalmente. Sendo um exímio administrador com muito suor e superação, atualmente é administrador de uma multinacional de eletrônicos, com sede no Paraguai. Apesar de todos os desafios, das necessidades e cobranças sofridas durante o percurso da vida, a esperança foi sua fiel companheira. Hoje, pai de família, casado há 15 anos, 2 filhos, Adilson compreende que “é mui-

to importante o sucesso profissional na vida de um homem”. Mas sabe muito bem, que a base de tudo foi à vontade de vencer e a dedicação para com os estudos. A graduação fez a diferença em sua vida, mas o fato é que o sucesso nem sempre se traduz em dinheiro, mas muitas vezes, também na satisfação do desempenho da profissão. “Sem dúvida a educação é fundamental para o desenvolvimento das pessoas em geral, e na profissão, não é diferente. Uma boa educação contribui para a melhora social e cultural do país”, encerra.

Do ensino ao mercado de trabalho

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São histórias como a destes personagens de sucesso, que motiva a tantas outras pessoas, não importa a idade, a classe social, a continuar seguindo, uns com mais esforço outros nem tanto, mas a vontade de realização profissional e sucesso são o fio da esperança para muitos sonhadores. E assim como Ávila e Aquino, já conseguiram seu “lugar ao sol”, há milhares de jovens estudantes buscando um caminho melhor, apostando na Educação como a solução. Chega a hora em que é preciso decidir os rumos a serem tomados na vida.

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muito importante o sucesso profissional na vida de um homem”

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evolução educacional é o caminho exato para galgar cada vez mais, evoluindo e conquistando meu espaço”

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Para estudante e estagiária, Ilselena Machado, o aprendizado aliado à escolha certa da profissão são fatores divisores e fundamentais, para a inserção no mercado de trabalho.Com jeito de menina, mas pensamento de “gente grande”, a estudante de 19 anos, viu no curso técnico a oportunidade de entrar no mercado de trabalho e soube aproveitar as chances que a vida lhe deu. Desde muito jovem, sempre gostou de números e na hora da escolha da qualificação profissional, não teve dúvidas: seu caminho estava entrelaçado com a carreira de Administradora. Sem condições financeiras para cursar em uma instituição privada e ao não conseguir passar no vestibular público, Ilselena, não pensou em desistir. Não deixou a Educação de lado, pelo contrário, buscou novos rumos. Com o ingresso no ensino técnico, a guerreira de nome forte, assim como sua determinação, conquistou um emprego de estagiária na área que tanto gosta.


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om o ensino técnico, consegui entrar no mercado de trabalho e me aperfeiçoar” Após cursar o ensino técnico, segue agora com a graduação, meio encontrado pela estudante para se aprofundar e especializar nos quesitos exigidos pela empresa. Encontra dificuldades, obstáculos como toda pessoa, mas sempre está com um sorriso no rosto. A felicidade consiste, de acordo com a estagiária, em fazer aquilo que gosta, saber enfrentar os desafios e perceber que a Educação pode e faz a diferença. E é com este mesmo sonho que Caroline Queiroz, estudante do segundo ano de Direito, entrou na graduação. “Meu objetivo é estar integrada na

busca da qualificação profissional e com isso conquistar um estágio enquanto acadêmica, o que irá somar no conhecimento prático e também ajudar nas finanças”. Mas a Caroline pensou que seria fácil, mal sabia ela que ingressar na faculdade seria apenas o primeiro de muitos percalços da vida. “Quando eu ingressei na academia, escolhi o curso pelo fato de não ter matemática, pois nunca me dei muito bem com os números, mas depois percebi a amplitude da profissão. Um leão por dia é preciso matar no curso de direito, pois é muita matéria para pouco tempo de estudo, então em dia de prova eu fico quase louca”. Embora já tenha pensado em desistir, o sonho e a vontade de ser bem sucedida profissionalmente a mantém de pé. A estudante de Direito sabe que o estudo é fundamental para alicerçar seus objetivos e que não pode desanimar, muito menos para de se profissionalizar, afinal o mercado exige isso. “A evolução educacional é o caminho exato para galgar cada vez mais, evoluindo e conquistando meu espaço”, encerra. M.

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Educação Superior

O ver que muitos não veem Um mundo de conhecimento aliado à música e à educação Por: Ilsinéia Machado e Danyele Wolff

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exta-feira ao anoitecer, saímos de cascavel rumo a nossa pequena viagem, na distância, mas muito grande no aprendizado. Dividimo-nos em dois carros. Alguns se atrasaram e os demais resolveram então, seguir viagem para não deixar nosso protagonista esperando, o único problema é que eles não sabiam onde era a casa do entrevistado e quase se perderam, na grande Toledo. Ao som de Rock’n Roll e música eletrônica, partimos para nossa empolgante aventura ao conhecimento, onde conheceríamos uma das mais surpreendentes histórias de luta e superação. As 20h em ponto chegamos ao local combinado. Mas ainda teríamos de encontrar os “apressadinhos” que já haviam dado uma volta pelo lago municipal da cidade e degustado um delicioso pastel, enquanto nos esperavam. Ao chegar a casa, logo na porta já sentimos um agradável cheirinho, era Sandra, a esposa de nosso entrevistado, preparando um maravilhoso jantar. Com uma audição fantástica, um vocabulário invejado e uma coleção de livros surpreendente, Benhur, é também um amante da música. De uma simplicidade tre14

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menda e receptividade imensa, o menino serelepe, brincalhão e mexeriqueiro, como nos conta sua mãe, dona Ivete, se tornou o maior orgulho da família. Assim como todo ser humano, superou obstáculos, desafios, enfrentou o preconceito, mas jamais deixou o sorriso espontâneo, perder espaço para a tristeza. Benhur, nome de rei, é também herói para as crianças do Cense (Centro de Socioeducação) de Toledo, onde é professor. Não tem como negar, o carinho com que relata sua profissão, fica fácil perceber que Benhur tem um coração muito maior do que as barreiras da sociedade e confessa “há uma proximidade com os meninos e apesar de toda agressividade, que eles apresentam nas ruas, e principalmente sob efeito de drogas, dentro da instituição eles têm um apego e uma carência muito grande”. Respeito e companheirismo definem sua relação com estes meninos. Gratificante é a palavra que reflete sua paixão pela Educação e o trabalho que realiza com os adolescentes. “O dia que eu parar de acreditar na educação, meu trabalho para de ter sentido. Então eu acredito mesmo de coração na educação, na capacidade que o ser humano tem de mudar, de transformar”.

Nosso protagonista vê nestas crianças seus dilemas familiares, enxerga seus conflitos, suas angústias, entende seus motivos, não os condena, não os julga porque entende que estes adolescentes não nasceram infratores, por que antes de violar a paz, a liberdade do outro, tiveram também seus desejos, suas vontades violadas. “Eles são parte de um processo, não dá pra dizermos que eles são culpados, nem que eles são vítimas. Fazem suas escolhas erradas, mas também são fruto de um meio, de onde eles se encontram de certas determinantes de circunstancias que vão além da vontade deles”. Conquistar o carinho destes adolescentes não é uma tarefa fácil. Além da simpatia, a música é sua grande aliada. Músico desde pequeno, Benhur utiliza das canções para ensinar os conteúdos escolares, assim como também lições de vida. “A música é um instrumento educacional por excelência, um instrumento privilegiado que pode trabalhar diversos aspectos da vida humana e da inteligência também. a música trabalha a coordenação motora, criatividade, cognitividade, inteligência, memória, sociabilidade, faz um bem muito grande, para a alma também. Traz diversos benefícios”, informa.


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Foto: Jéssica Câmara

educação não salva o mundo, não faz a pessoa mudar de classe social, mas ela permite sim uma vida digna” (Benhur). Edição 01 - Nov. 2012

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Foto: Arquivo pessoal

A curiosidade era imensa, queríamos saber de tudo que até acabávamos um “atrapalhando” o outro na hora das perguntas, parecia uma coletiva de imprensa. Quando Benhur falava escutava-se apenas o barulho da câmera fotográfica e das panelas da Sandra, trabalhando a todo vapor.

Conhecimento e Dignidade Sempre muito estudioso, cursou Pedagogia, na Universidade Estadual do Paraná (Unioeste). Família simples e humilde, estudou o ensino regular em instituição pública. No segundo ano de faculdade, o “mundo ficou negro”, a “luz se apagou” para nosso herói. Sim Benhur ficou cego! Perdeu a visão de como o mundo é fisicamente, porém aprendeu a vê-lo de um modo muito peculiar, especial: o dom de enxergar o coração, a alma. Deixou de ver, como nós, contudo enxerga muito mais do que se possa imaginar. Dificuldades, claro que teve, “no começo foi um pouco difícil, eu não conseguia andar sozinho”, lembra. Entretanto nada que não fosse possível superar, principalmente com a ajuda de um verdadeiro “anjo da guarda”, sua mãe 16

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Ivete. “Eu levava ele [Benhur] todos os dias, ficava do lado de fora da faculdade, esperando acabar a aula para vir para casa. Às vezes chegava do trabalho e ia direto, com fome e sem dinheiro para fazer um lanche. Mas valeu a pena”, revela Ivete. Nota baixa? Benhur não soube o que é tirar menos de 8 de média. Estudava até de madruga, com sua mãe sempre ao seu lado, lendo, escrevendo, o ajudando a fazer as tarefas da faculdade. Primeiros obstáculos superados, graduação concluída, hora de “sonhar mais alto”: concurso público, porque não? Atualmente Benhur é professor no Cense e

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música é um instrumento educacional por excelência ” (Benhur).

Técnico Pedagogo na Secretaria da Família de Toledo. E quem disse que mesmo sendo aprovado no concurso não surgiriam novos desafios para nosso protagonista? “Nem tudo são flores nesse trajeto. No primeiro concurso que eu fiz para professor e fui aprovado em 2005, várias pessoas deficientes passaram, mas não queriam deixar nós assumirmos. Alegaram uma série de problemas, entre eles, que éramos aptos com restrição e por isso não queriam nos contratar”, lembra. Após uma série de reuniões, finalmente, com um mês de atraso, assumiu seu cargo. Diante da profissão escolhida, nosso entrevistado diz amar o que faz e garante “a educação, apesar das mazelas que a gente enfrenta, ainda é umas das formas das pessoas, que pertencem a uma classe não privilegiada, conseguir pelo menos uma vida digna. Ela não salva o mundo, não faz a pessoa mudar de classe social, mas ela permite a pessoa se informar melhor, enquanto ser humano, é um dos caminhos viáveis para se ter uma vida, com conhecimento e dignidade”.


Reabastecendo as energias O cheirinho bom da comida tomou conta da residência da família... Sem delongas acomodamo-nos na mesa e nos servimos de um delicioso strogonoff. E é neste momento que percebemos o carinho e a atenção que Sandra tem para com o Benhur: servindo-lhe o prato, acrescentando refrigerante ao copo, o “paparicando”. Enquanto nos deliciamos, conversamos sobre os mais diversos assuntos e mais uma vez, Benhur nos impressiona com o seu conhecimento e visão sobre o mundo e suas dificuldades. Energias reabastecidas, hora de voltar ao “trabalho”.

Dificuldades de acessibilidade Conhecemos a casa de Benhur, grande, espaçosa, aconchegante. Ele então nos mostra os mais diversos materiais arquivados em seu computador. São milhares, isso mesmo, milhares de livros, centenas de vídeos, os quais usa com seus alunos e inúmeras músicas, afinal é um amante musical.

Seu computador é todo adaptado com um programa de voz. Benhur manuseia a máquina de modo esplendoroso e comenta que lê aproximadamente 2 horas por dia. Sua leitura é muito rápida, sua audição é apurada. Tentamos escutar e acompanhá-lo em sua leitura. Impossível! Era tão rápido que mal ouvíamos o que o audiobook pronunciava. Nosso entrevistado nos conta, que desde a faculdade utiliza deste programa. Revela ainda, o apoio que recebeu durante a graduação, tanto dos colegas de classe, quanto da própria instituição, pelo preparo e adaptação. “Na universidade pública eu sempre tive muito apoio, muita facilidade para estudar. Os colegas me auxiliavam sempre. O processo de inclusão na universidade pública hoje está bem adiantado”. Em relação às diferenças de preparo entre faculdade pública ou privada, Benhur defende que fala muito ainda para as instituições privadas se adaptarem, pois o estudante com deficiência física, é um “custo” muito alto, é preciso fazer investimentos, em professores capacitados, assim como também na estrutura física. “As universidades estaduais estão bem

adiantadas em relação ao apoio com pessoas com deficiência. Existem programas que dão esse apoio para as pessoas. O maior problema está nas universidades privadas, porque esse apoio para pessoas deficientes acaba gerando um custo para a universidade e às vezes este custo é maior do que a própria mensalidade que esse aluno paga”, completa.

Volta para casa Depois de mais de duas horas de conversa, arrumamos nossas coisas e nos despedimos. Ao chegarmos no carro, a sensação de admiração é percebida pelos olhares que trocamos entre nós. A volta é empolgante, pensamos na vida, nas dificuldades, comentamos os detalhes percebidos, as palavras e gestos que mais nos impressionaram durante este curto tempo de conversa e conhecimento. Seguimos viagem com o coração em ritmo acelerado, acompanhando o balanço do carro com as trepidações da pista, embalados mais uma vez pela música eletrônica. Edição 01 - Nov. 2012

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Companheirismo e amizade As faces de Benhur

Benhur e seu pai Daniel

e já sabia que mais cedo ou mais tarde, perdeCom uma simpatia de dar inveja, Dona Ivete, ria completamente a visão. Sua mãe comenta, nos recepciona em sua casa. Mãe de Benhur, ela porém, que para ela foi um desespero. Ao recenos revela a face do menino que cresceu longe ber a notícia que seu filho não enxergaria mais, do pai biológico. Entretanto isso não foi proble- ficou nervosa e as lágrimas tomaram conta do seu rosto. ma para o pequeno, que aos nove meses de vida, Para sua surpresa, Ivete nos conta que Benhur conheceu seu pai de criação, Daniel Saldanha, lhe segurou a mão e lhe acalmou com as seguinpor quem tem um carinho muito especial.O ho- tes palavras, “mãe, promete para mim que você mem que supera desafios e enfrenta obstáculos, nunca mais vai chorar. Eu só fiquei cego e isso mostrava sua garra desde menino. “ele sempre não é nada. Eu só preciso do teu amor”. Emoquis ver mais e saber mais, ele sempre se su- cionada com a lembrança, Ivete conclui “Ele é o perou em todos os aspectos”, lembra Ivete. A meu super-herói”. Esta é a face de Benhur, vista perda da visão não foi surpresa para o Benhur. por sua mãe. Saímos da casa de Ivete, arrepiadas diante de tantos gestos de amor, superação Muito esperto, ele havia estudado seu problema e dedicação. 18 Edição 01 - Nov. 2012

“Uma amizade que dura até hoje”, define o tímido cabeleireiro e ex-companheiro de banda de Benhur, Jerre. Meio desconfiado, Jerre nos recepciona em sua casa e lembra dos momentos em que tocou com nosso protagonista. “ele era muito exigente para os ensaios, pelo menos duas ou três vezes por semana”. A banda “Novo Estilo” era eclética, com diversidades musicais e fazia sucesso nos bares e lanchonetes da cidade. Foram cerca de dois anos de convivência, sem nenhuma briga, nem mesmo no momento da separação, ocasionada devido à incompatibilidade de horários.“Foram bons tempos, hoje dá saudade”, finaliza o amigo e companheiro de Benhur.


Acessibilidade

Das grandes dificuldades às grandes vitórias Alunos com necessidades especiais buscaram a formação no ensino superior Por: Jéssica Câmara, Danyele Wollf e Ilsinéia Nesse momento começamos a perceber a Machado importância da comunicação universal. Passado alguns minutos, uma mulher alegre e sorridente adentra a sala onde esperávamos e nos grande enigma da vida é resolvido conta um pouco sobre o trabalho realizado pelo quando se busca a fundo a verdagrupo, o PEE (Programa de Educação Especial). deira identidade do problema, ou Ao referir-se ao grupo, a Professora Lucia Teseja, para as pessoas com necessidades espe- resinha Tureck, colaboradora do programa, de ciais, o trabalho é muito maior e depende da modo algum deixou de esclarecer que o trabaajuda de pessoas especiais, estas que buscam lho é realizado por professores, alunos, pessoas em suas lutas a igualdade e o respeito para a com necessidades especiais, psicólogos e memconvivência em sociedade. bros de diversos grupos de apoio e luta aos porA Educação mais do que aproximar as pesso- tadores de necessidades especiais. “O PEE está as de seus objetivos, tem um valor essencial ao sempre presente nas lutas sociais, tanto que homem, o de diálogo, onde as discussões acer- conseguimos bolsistas do MEC para trabalhar ca de diversas problemáticas se dão de maneira com a gente digitalizando obras que servem de eficiente, já que todos acrescentam pontos de apoio para os alunos” esclarece. vista, a fim de melhorar sempre, visando alcançar grandes objetivos para a humanidade. “Olhe o mundo com a coragem

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As lutas de classes, às vezes são tidas como passos pequenos em relação aos problemas existentes, porém partem dessas lutas as grandes conquistas que hoje possuímos em nosso país. Ao entrarmos na sala onde seria feita a nossa entrevista encontramos um grupo de surdos-mudos, que gesticulavam a respeito de temas desconhecidos por nós.

do cego, entenda as palavras com a atenção do surdo, fale com a mão e com os olhos, como fazem os mudos” (Cazuza)

O acervo proporciona aos alunos um estudo de qualidade e já comporta mais de 8 mil obras. São textos digitalizados e lidos pelo programa Dosvox, e contam com a ajuda do NEI (Núcleo de Estudos Interdisciplinares), que auxiliam alunos e professores em sua formação.

A Luz que Faltava Diversos alunos encontraram no PEE um apoio imprescindível para seus estudos, dois casos chamaram muito nossa atenção por sua forma peculiar. A biologia do grego significa “O estudo da Vida” é nesse sentido que um dos personagens de nossa história buscou sua formação, com a vontade de descobrir um mundo com diversidade de gêneros, formas e jeitos. Já o outro queria prestar seus serviços ao ajudar pessoas em seu dia a dia, atuando na prevenção de doenças que possam afetar a vida do ser humano. Duas histórias de batalha para passar no tão concorrido vestibular da Unioeste. Após alguns anos de estudo, surge a segunda e maior dificuldade em suas formações, a perda da visão. Edição 01 - Nov. 2012 19


Foto: Jéssica Câmara

Alunos do PEE, em reunião pedagógica

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PEE em números Para que esse trabalho seja desenvolvido, é preciso ter pessoas se dedicando e se aperfeiçoando, e para levar esse time à vitória há quatro técnicos muito bem preparados, três estão fazendo mestrado e um doutorado. Esse time é composto por oito ótimos jogadores sendo estes dois cegos, um baixa visão, três mudos e dois cadeirantes, estando todos em campo e nada de banco de reservas.

Inclusão social O cheiro das flores, barulho de pássaros, árvores e mais ainda, folhas ao chão. Este é o Bosque do Parque Verde, em Cascavel. Cenário que chama a atenção pela beleza. Mas, é a história do professor de Educação Física e arbitro da Federação Paranaense e da Confederação Brasileira de Xadrez, que vive em uma casinha simples, porém aconchegante, na frente do vasto arvoredo, que cativa o espírito e agrada a vista. Torcedor fanático do Corinthians, Luiz Fernando Maciel Bastos Junior, de 32 anos é hoje um exemplo de dedicação, esforço e uma prova de que é possível realizar os sonhos, mesmo diante das barreiras da sociedade e do próprio espaço físico. Com insuficiência respiratória, no parto, Luiz Fernando nasceu com paralisia cerebral. Não possui os movimentos das pernas e os braços se movimentam com espasmos.

Foto: Jéssica Câmara

Aos poucos foram se adaptando e perceberam que a perda da visão não fez com que desistissem de lutar, e com o apoio de pessoas tão especiais, que lhes ajudaram, superaram os desafios que a vida lhes havia reservado. O PEE ajudou váriosa se formarem através de livros, textos de apoio, professores preparados e com a amizade. Lúcia nos fala da importância de programas de apoio a alunos deficientes visuais, auditivos e físicos “é uma luta constante, pela formação de professores e interpretes, de pessoas que acompanham o desenvolvimento do aluno”. As lutas da educação, não param por ai, a questão estrutural e a inclusão social ainda são os grandes desafios para as instituições de ensino se adaptar.

Professora e colaboradora do PEE na Unioeste

A fala também foi alterada, mas nada se compara a sua inteligência e disposição.

O colecionador de medalhas A graduação, segundo Luiz Fernando, foi tranquila. Contundo, difícil mesmo foram os problemas na estrutura física, a falta de acessibilidade. Lembra com saudade dos colegas de turma, de como o ajudavam a descer os lances de escada, a subir rampas... Dedicado, nunca tirou nota baixa. Com sua simpatia, foi considerado e nomeado Nome de Turma, dedicatória que guarda com carinho até hoje. Após a graduação já fez três pós, Docência em Ensino Superior, Educação Especial e História da Educação Brasileira.


Foto: Jéssica Câmara

Foto: Arquivo pessoal Rampas de Acesso auxiliam na locomoção de cadeirantes

Atualmente, é professor concursado no Colégio Estadual Professor Victório Emanuel Abrozino, onde desenvolve um projeto de Xadrez. Nos campeonatos desta modalidade, está sempre presente, seja como técnico dos seus alunos ou como arbitro. As viagens se tornaram frequentes e sua mãe, Nair Bastos, senhora simpática e atenciosa, já nem desfaz mais as malas de viagens. Está acostumada com a rotina de “andarilho” do filho. Ao contar sua história de vida, Luiz Fernando sorri, um riso bonito, sincero. Logo percebo sua paixão pelo xadrez e pelas crianças. “O xadrez ajuda a desenvolver o conhecimento dos alunos, isso já foi comprovado. Depois que eles começam a jogar, não param mais”, comenta.

Professor Luiz Fernando e a equipe de arbitragem da Copa de Xadrez Mercosul 2012

O professor diz não se importar com os olhares curiosos das pessoas nas ruas, quando passa. Sua maior dificuldade mesmo é a estrutura física das calçadas, ruas sem rampas e a falta de vagas preferenciais de estacionamento. Orgulhosa Nair mostra as dezenas de medalhas que o filho, também conhecido como “papa medalha”, coleciona como técnico. Observo a sintonia entre mãe e filho e fico arrepiada com o carinho de ambos. Conversamos por quase duas horas e acabei-me envolvente com a bonita história de Luiz Fernando. A mim pareceu que não tínhamos conversado mais do que meia hora. Fui embora com uma sensação de felicidade, alegria de viver.

Computador que fala? Como assim? O DOSVOX é um sistema para microcomputadores da linha PC que se comunica com o usuário através de síntese de voz, viabilizando, deste modo, o uso de computadores por deficientes visuais, que adquirem assim, um alto grau de independência no estudo e no trabalho. O que diferencia o DOSVOX de outros sistemas voltados para uso por deficientes visuais é que neste programa, a comunicação homem-máquina é muito mais simples, e leva em conta as especificidades e limitações dessas pessoas. Ao invés de simplesmente ler o que está escrito na tela, o DOSVOX estabelece um diálogo amigável, através de programas específicos e interfaces adaptativas. Mais informações acesse o site: http://intervox.nce.ufrj.br/ dosvox/intro.htm

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Literatura

O gosto pela leitura Dicas de professores sobre os livros que ajudam você em vestibulares e concursos Por: Jéssica Câmara

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importância da leitura é essencial ao homem, o livro consegue introduzir em seus leitores a vontade de buscar cada vez mais informação, sendo esse um dos principais responsáveis pela educação. O conhecimento e a prática da leitura fazem com que o leitor se aprofunde na busca por conteúdos que lhe agreguem desde uma nova linguagem, até a construção de conhecimentos e debates sobre diversos assuntos. E Já que o assunto é livro, não temos como não citar a Bienal, um evento que teve suas origens nas tradições Europeias, que trocavam livros em feiras populares, em especial na praça da República. Em 1961, foi promovida a primeira Bienal do livro, na 24

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grande São Paulo, em parceria com o Museu de Arte. A promoção de uma nova Bienal se deu em 1970, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) que reuniu editores e livreiros para discutir os problemas de sua classe e também para divulgação de livros no país. Com o crescimento do gosto pela leitura dos brasileiros e pela quantidade de expositores, em

2002 a pequena feira expandiu-se e agora é realizada no pavilhão de exposições do Anhembi, conhecido por realizar grandes eventos de negócios na América Latina. Desde sua criação até os dias de hoje a Bienal reúne grandes escritores brasileiros que marcaram época dentro da educação e da literatura. Livros como o de machado de Assis, Cecília Meirelles, Monteiro Lobato, Jorge Amado, Paulo Coelho, Carlos Drummond de Andrade entre outros escritores marcaram gerações de leitores apaixonados por romances e contos, que retratavam muito mais que histórias da vida, revelavam questões sociais da época. Obras importantes na literatura brasileira como : A moreninha, Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas. As dicas a seguir são da Professora de Português e Literatura, Mariana Cortina e do Professor de História, Marcelo Hansen.

Foto: Alvaro Ávila


THOMPSON, Edward P. A Formação da Classe Operária Inglesa. 3 vol. , Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Resumo: O historiador britânico E. P. Thompson demonstra neste clássico da historiografia o processo de “fazer-se” da classe operária inglesa. Adentrando numa perspectiva que enfoca as conexões entre cultura e economia, sem incorrer em um determinismo economicista, vai demonstrando o modo com o qual os trabalhadores ingleses do período da Revolução Industrial vão construindo uma identidade de modo processual através de práticas cotidianas, apresentando elementos os quais caracterizam que a luta de classes não se dá apenas no “chão da fábrica”, mas em lugares comuns presentes no dia a dia dos trabalhadores. Thompson demonstra a fluidez do movimento histórico, a permeabilidade do tecido social em suas relações entre o cultural e o econômico, bem como discutindo as circunstâncias que se amalgamaram para que a classe operária inicia-se um processo constante de transformação.

Autor: Joaquim Maria Machado De Assis - Dom Casmurro : Editora Ática Resumo: Uma obra muito importante para desenvolver o raciocínio crítico do leitor. Trata-se do relato de Bentinho sobre sua história com Capitu, desde a infância até o fim de sua vida. Comumente, discute-se muito o possível adultério de Capitu, mas não se dá importância para um dos aspectos principais da obra: a narração em primeira pessoa de um homem amargurado. Lendo atentamente a obra, o leitor pode, além de tomar o partido de Bentinho, de Capitu, ou de nenhum dos dois, desenvolver seu senso crítico e perceber como o ser humano age quando a mágoa toma conta de sua razão, e desvendar pistas de como montar o quebra-cabeças da emoção humana, tão bem representado por Machado de Assis nessa obra do Realismo.

GOFF, Jacques Le. A Bolsa e a vida: economia e religião na Idade Média. Lisboa: Teorema, 1987. Resumo: Tido como um dos maiores medievalistas no campo da Historiografia, Le Goff, analisa nesta obra um cenário de formação da burguesia e as relações plurais e fluídas entre religiosidade e economia. O autor focaliza-se no fenômeno da “usura”, demonstrando como as transformações no cenário econômico e social impactam sobre a teologia cristã do período, gerando contradições no interior da sociedade e gerando novas práticas sociais pelos agentes históricos. A centralidade da análise é precisamente mostrar como um elemento ideológico pode oferecer resistências, estagnar ou retardar o desenvolvimento de um novo sistema econômico, que, ele acredita, é possível uma compreensão mais ampla investigando os homens, que são os atores, mais do que examinando os sistemas e as doutrinas econômicas. Edição 01 - Nov. 2012

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Para entender o Texto: Leitura e Redação (Autores: Francisco Platão Savioli e José Luiz Fiorin (PLATÃO & FIORIN)

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Foto: Divulgação

Resumo: É de fundamental importância para uma boa formação educacional que o aluno saiba ler, compreender, interpretar e produzir textos de qualidade. Platão e Fiorin, neste livro, dão dicas e propõem exercícios para o desenvolvimento do leitor crítico. Dentre as 44 lições, há vários gêneros textuais trabalhados e propostas de redação para que o aluno melhore sua escrita e perceba os múltiplos significados e intenções nos textos. Para quem pretende prestar exames, concursos e vestibulares nas instituições mais concorridas, é um livro de cabeceira, pois o macete de todas as provas atualmente é a interpretação de texto, e só é capaz de perceber os sentidos do texto um leitor competente e atento.




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