Jornal Memai - Letras e Artes Japonesas

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Jornal de Letras e Artes Japonesas Edição 00 - Curitiba - Agosto de 2009 ISHIN DENSHIN _ CLAUDIO SETO _ SHAKUHACHI _ WILSON BUENO _ GHIBLI


Jornal de Letras e Artes Japonesas Edição 00

Wabi Sabi: Shakuhachi

DO KUNG-FU À CONTRACULTURA A paixão pela flauta de bambu japonesa levou o jornalista a uma viagem que incluiu enlatados americanos e ex-adeptos do flower power até chegar a fazer o vento dançar. por Rodrigo Wolff Apolloni

O que leva um não-nipodescendente a buscar aprender um instrumento cujo aprendizado é considerado “complexo” por muita gente no próprio Japão? Eu poderia, perfeitamente, ser um desses casos “estranhos”, de indivíduos que resolvem mergulhar em um aspecto inusitado de uma cultura alheia e retornar de lá com um cocar na cabeça ou como ícone do interculturalismo. Observando o cenário brasileiro, porém, verifico que, como eu, existem outros fascinados pelo shakuhachi. Não muitos, mas certamente muito apaixonados pela arte. Criaturas como Shen Ribeiro e Matheus Ferreira, mestres de São Paulo, Sérgio Vinícius Monfernatti, excepcional player de Curitiba ou o gaúcho Henrique Elias Sulzbacher, provavelmente o mais entusiasmado tocador de shakuhachi que já conheci. Cada qual devidamente agarrado à sua flauta, soprando com empenho e sonhando em ganhar mundos de conhecimento tão amplos quanto o alcance de suas notas. Retorno à egocêntrica questão que alimenta este artigo. Se bem me lembro, minha mais antiga experiência com a flauta de raiz de bambu se deu ainda na infância, ao assistir a série “Cosmos”, de Carl Sagan. Em um dos episódios, no qual o apresentador falava sobre seleção das espécies, ele contou a história dos caranguejos heikegani (平家 蟹), da região de Danno Ura (uma porção interior de mar no Japão), cuja carapaça se - 02 -

assemelha ao rosto de um samurai feroz. Obno final de minhas primeiras aulas de arte servou que, originalmente, tal configuração marcial chinesa, passei a tentar tocar a flauta, de casca provavelmente era exceção, tornada percebendo, de cara (e ficando instigado por regra por força de uma crença local que assoisso), a tremenda dificuldade de emitir sons. ciava os “caranguejos-samurais” às almas dos Meu contato mais recente com o guerreiros (os bushi do clã Heike) que ali se instrumento aconteceu há coisa de quatro mataram por afogamento após uma derrota anos, quando conheci minha esposa, Lina no dia 24 de abril de 1185. CompartilhanSaheki. Em um de nossos primeiros contatos, do a dor – e, certamente, receando despertar pela internet – ela morava em Vitória e eu, a fúria dos combatentes mortos -, os pescaem Curitiba -, comentei que gostava muito dores passaram a devolver ao mar todos os de shakuhachi, e obtive como inesperada resespécimes “diferentes”, acabando por moldar posta a informação de que ela possuía uma e substituir, por um processo de “seleção culflauta em casa, silente há muito por falta de tural”, a espécie original de carapaça lisa. quem a tocasse. A peça pertencera a InomaSe, per se, a história já era das mais ta Chüshiroo, seu bisavô materno, e chegara interessantes, ficou ainda mais atraente ao ao Brasil em 1933, na bagagem de imigrante. chegar acompanhada pelas notas cavas de um Lina comentou que, se eu conseguisse tirar shakuhachi tocado pelo grande mestre Goro algum som, se quisesse tentar e me esforçasse Yamaguchi. Não sei, de fato, por que, mas para tanto (santo Yamato Damashii!), a flaua música - Sokaku-Reibo (巣鶴鈴慕) ou ta seria minha. Alguns dias depois, recebi a Tsuru-no-Sugomori (鶴の巣籠, na Escola peça em casa, a enviei para restauro por um Kinko) – simplesmente hipdos maiores especialistas do notizou aquele guri de dez ou A flauta de sete orifícios mundo – o americano Mononze anos. Tanto, que ficou construída com bambu ty Levenson, um herdeiro da gravada no espírito e acabou madaké encarna tudo Contracultura que trocou redescoberta anos depois, Jimmy Hendrix pelo madake durante uma seção de com- o que um ocidental po- – e, em pouco tempo, eu espra de CDs de música étnica deria conceber sobre a tava a “brigar” pela música na saudosa “801”, loja que nobreza e a arcanidade com um grupo de músicos e Horácio Tomizawa de Bonis das culturas do Oriente cantores idosos japoneses de mantinha no Setor Histórico Minyo (música folclórica jade Curitiba. Fato é que, depois desse dia, o ponesa) em Curitiba. Hoje, posso dizer que, tema das cegonhas no ninho e a arte de Goro na companhia de amigos , emito alguns sons Yamaguchi passaram a fazer parte de minha distantes da beleza, mas, certamente não des“trilha sonora pessoal”. providos de um santo desejo de melhorar. O shakuhachi, porém, não tem apeAo conhecer tal série de pessoas e nas um apelo sonoro. Visualmente, a flaucircunstâncias – do Kung-Fu à contracultura, ta de sete orifícios construída com bambu passando por imigrantes japoneses, internet, madaké encarna tudo o que um ocidental seriados de tevê e guerreiros do Japão prépoderia conceber sobre a nobreza e a arcanifeudal -, é possível que você ache essa história dade das culturas do Oriente. Wabi-sabi (侘 fantástica. Fantástica, com efeito, não é mi寂) em estado puro, mesmo para quem senha própria experiência; como ela, evidentequer imagina o que isso significa. Foi essa, ao mente, há muitas outras, cada qual com uma menos, minha percepção pessoal ao ver uma configuração que lhe confere cor e essência. dessas flautas pela primeira vez, em um inusiFantástico é perceber que, em uma aparentado ambiente de prática de Kung-Fu. O ano te sucessão de acasos, muitas e boas coisas era 1985, e a história do shakuhachi chinês podem acontecer. O maior de todos os perapenas ilustra o quanto as coisas podem ser formers de shakuhachi, desconfio, ainda está coloridas. A flauta, enfim, pertencia ao mespor nascer. Quem sabe ele não está apenas estre Lee Chung Deh, herdada de um pai que, perando por um jornal, chegado em momendurante a Segunda Guerra Mundial, em uma to incomum (ou totalmente previsível), para Taiwan invadida, a teria recebido em uma descobrir isso? Notável, enfim, é a vida – com aposta com um oficial do Exército Imperial suas múltiplas possibilidades. Japonês. Uau!, sonhou o garoto, como sonha Rodrigo Wolff Apolloni é jornalista em Curitiba, até hoje o homem ao pensar nos trajetos que praticante de Kung-Fu, doutorando em Sociologia ligam as pessoas às coisas na vida. O fato é pela UFPR e apaixonado por shakuhachi. que Kwai Chang Caine, o célebre monge Shaolin do seriado de tevê Kung-Fu (inspirador de nove entre dez praticantes de Kung-Fu dos Anos 70 e 80) tocava flauta entre uma sessão e outra de filosófica pancadaria. Assim,

Wabi-Sabi (侘寂)- É a beleza que deriva da imperfeição. Essa imperfeição -expressão da própria natureza - produz originalidade e fornece elementos para uma visão ampliada da realidade.” Yamato Damashii” (大和魂) - Expressão que representa características associadas ao espírito nacional japonês: honra, coragem, bravura, perseverança e valor na adversidade.”


ISSHIN DENSHIN: De coração para coração

O ESPÍRITO DO IDEOGRAMA No caminho do auto-conhecimento, uma palavra, é – e não é – uma palavra

por Lina Saheki

心伝心

Conta a tradição que a origem do zen-budismo tem como marco uma transmissão sem palavras conhecida hoje como “o Sermão da Flor”. Nessa história, o Buda histórico, Sidarta Gautama, teria se mantido por um longo período em silêncio, apenas contemplando uma flor, diante de um grupo de discípulos atônitos ansiosos pelos seus ensinamentos até que um deles, Mahakashyapa, irrompeu o silêncio com um riso ao compreender o sentido inexprimível da flor e da existência. Correspondendo ao riso, Buda teria dito: Eu possuo o Tesouro do Correto Dharma e a Maravilhosa Mente de Nirvana (Shobogenzo Nehan Myoshin) e agora o transmito a você.” Traduzido frequentemente como transmissão de coração para coração, transmissão sem palavras ou transmissão de mente para mente, o termo isshin denshin, tão amado pelos próprios japoneses, pode auxilliar a compreender um pouco mais como funciona a visão de mundo no Japão. Nascido na China como pictograma que representava o coração físico e depois simplificado para facilitar a escrita, o ideograma shin ou kokoro (心) significa, a um só tempo, coração, mente e espírito. Assim, a moderna divisão/oposição que fazemos no Ocidente entre os conceitos de coração e mente – moderna, porque entre os romanos ele também sediava sentimentos, como corda - é superada por esse significante, cuja essência abarca, compreende e ultrapassa qualquer dualidade. Shin não é, portanto, apenas um órgão ou uma sede física, mas um dado imaterial. Já o símbolo do ichi (一), que significa, literalmente, “um”, é utilizado para representar a unidade. Por sua vez, o ideograma den ( 伝), que traz os radicais para pessoa e para o número dois, indica um modo de transmissão, caminho ou tradição. Assim, o conjunto dessas representações busca traduzir um estado de espírito no

qual a compreensão silenciosa do outro torna as palavras supérfluas, convertendo qualquer tentativa de comunicação formal não só em algo desnecessário, mas inútil. No Japão, assim como na China, existe uma preocupação acentuada com a função das palavras e seus símbolos, bem como com a correta transmissão de sentimentos e sensações. Acredita-se que as palavras devam transmitir não somente mensagens frias, atreladas exclusivamente à sua representação formal. Mais do que isso, elas também devem transmitir valores que vão além (isso explica a grande preocupação estética presente na escrita oriental, que deu origem, por exemplo, ao Shodô). Valores que revelam e indicam o significado esotérico da própria palavra, ou seja, aquele que lhe é mais caro e que está vedado a receptores incapazes de percebê-lo. Afinal, como dizem os japoneses: as palavras têm espírito. Tal espírito-coração-mente pode ser apreendido e percebido, em parte, pelo próprio estudo dos ideogramas sino-japoneses conhecidos como kanji (ou hanzi na China). O estudo do kanji como caminho dessa aproximação revela, por exemplo, que o símbolo de honestidade, verdade, fidelidade - 信 (que também se lê shin) - é composto pela união de dois ideogramas: pessoa, 人 (hito) e falar, 言 (iu). Esse é um único exemplo –capaz, porém, de abarcar completamente os múltiplos níveis de informação e significado presentes na escrita/ leitura clássica de países como Japão e China. Uma palavra, enfim, é – e não é – apenas uma palavra.

LEITURAS Coração (Editora Globo, 2008, 280 páginas. Kokoro no original) de Natsume Soseki, é um livro que valeu muito a pena ler. O título pode até enganar, mas a leveza da linguagem parece reforçar o drama contido do personagem. Gostei da narrativa dividida em duas partes: são dois narradores — na primeira parte é um jovem e na segunda, um professor que narra através de uma carta. Acho que esse é um tipo de livro em que não se deve contar o resumo da história. Lúcia Hiratsuka, ilustradora e escritora de livros infantojuvenis

“O Sol se Põe em São Paulo”(Companhia das Letras, 2007, 168 páginas), de Bernardo de Carvalho, é um bom cruzamento de Brasil-Japão. Ele teve que se aproximar bastante da cultura japonesa, pesquisar sobre o assunto para situar seus personagens no presente e no passado. O livro tem um enredo bem construído entre o que “é “e o que “parece ser” e o que “pode ser ou não”. Tem algo da delicadeza da alma japonesa.

Affonso Romano de Sant Anna, poeta, ensaísta e professor universitário, com mais de 40 livros publicados.

“Gourmet” (Editora Conrad, 2009, 200 páginas) é uma verdadeira viagem gastronômica apresentada ao leitor, que tem a oportunidade de conhecer muito mais da culinária tradicional japonesa, além do sushi, sashimi e yakissoba. O mangá tem um glossário para você entender e saborear melhor as comidas. A história é simples: o personagem é um comerciante que viaja a trabalho por vários distritos de Tóquio e quando a fome aperta a história fica mais emocionante. Bom apetite! Quer dizer, boa leitura!

Lina Saheki é diretora do Centro Cultural Oriental Tomodachi, professora de japonês, especialista em ética e mestre em Direitos Humanos.

Mitie Utrabo, comerciante, uma das proprietarias da Itiban Comic Shop

Boa Leitura!

Equipe: Editora: Marília Kubota - Colaboradores: Célio Yano, Mylle Silva, Rodrigo Apolloni , Lina Saheki, Shigueo Murakami (Capa) Programação visual: Diogo Saito Takeuchi – Apoio: Curso de Letras Japonês da Universidade Federal do Paraná e Associação Paranaense de Ex-Bolsistas Brasil- Japão. Contatos: contato@jornalmemai.com.br – Correspondências: Av. Jaime Reis, 28 - sobreloja - 8050-010 - São Francisco - Curitiba – PR.

言 葉

Kotoba

Por que lançar um jornal de artes e literatura japonesas? Vai longe o tempo em que o Japão era considerado um país de cultura exótica e distante. Hoje é uma civilização vertiginosa, capaz de surpreender por seus contrastes. Vertiginosa é a época em que vivemos – de experimentações científicas, alucinações nucleares, fragmentação na comunicação. No redemoinho das sensações de nosso tempo, o Jornal Memai – que na língua japonesa significa exatamente vertigem - pretende divulgar as várias faces de uma cultura em mutação. Memai é a impressão subjetiva diante do novo e da diferença. A cultura japonesa leva o estrangeiro a sofrer uma espécie de encantamento, e simultaneamente, a sentirse fora de foco, sem saber para que direção olhar, criando a sensação de leve vertigem. Memai convida o leitor a se aproximar da vertigem e descobrir o que está por trás deste redemoinho. Acompanhar as criações estéticas de um povo que, no século 20, dissolveu um sistema econômico medieval e saltou para a era industrial sem abrir mão de uma cultura ancestral. Assim, em lugar do extremo individualismo conserva o sentimento de coletividade e um sentido ritualístico da vida que encanta o Ocidente. Memai não é uma publicação exclusivamente para os descendentes de japoneses, com o objetivo de preservar a cultura. É voltada para os que apreciam a cultura japonesa, com o fim de agregar o gen oriental às três raças tristes da formação do povo brasileiro, segundo o conceito macunaímico. Por isto, o jornal faz questão de trazer em suas páginas poetas, escritores, intelectuais, artistas e jornalistas brasileiros fascinados pelo Extremo Oriente ao lado de nipo-brasileiros e japoneses. Memai traz um substrato conceitual conhecido pelas comunidades nipo-brasileiras - a de que é possível iniciar um movimento cultural reunindo pessoas com afinidade de pensamento e sensibilidade.


Jornal de Letras e Artes Japonesas Edição 00

Fu: Wilson Bueno

A TRANSFIGURAÇÃO DO TANKA O Jornal Memai abre a edição inaugural com Wilson Bueno, autor de “`Pequeno Tratado de Brinquedos” e “Pincel de Kyoto”, dois singelos livros de tanka – a forma poética japonesa clássica de 31 sílabas, que consagrou poetas japoneses modernos, como Takuboku Ishikawa: Como o grande poeta japonês, Bueno recriou a forma clássica para seu tempo e lugar

por Marilia Kubota

MEMAI - Quando você foi editor do jornal de cultura “Nicolau”, aliás, sua cria, desde o nome, em pelo menos 1/3 das edições estavam pautadas matérias sobre cultura japonesa. Isto se devia a sua paixão pela cultura japonesa ou refletia uma tendência da época, de cultuar o zen e as artes clássicas japonesas? WILSON BUENO - Desde cedo a minha paixão pela cultura japonesa foi muito marcada e marcante. Não só para mim, mas também para grande parte da geração a que pertenço, herdeira dos beatniks. Nas viagens lisérgicas do meu tempo buscávamos o zen, aquela coisa “essencial” das artes clássicas do Japão. Gostávamos de interpretar o mundo a partir do aparente nonsense dos koans búdicos... Era, digamos, a nossa filosofia, em oposição ao “catolicismo” feudal do Ocidente, com tudo o que vinha nele de moralismos congelados, estanques. Eu, em particular, sou um lewiscarrolliano por excelência, um discípulo aplicado igualmente de Edward Lear, hoje aliás tão meticulosamente estudado no Brasil por Dirce Waltrick do Amarante. E não poderia ser de outro modo num jornal que tinha à frente das diversas equipes que por ele passaram, este locutor que vos fala, não é mesmo?

“Nas viagens lisérgicas do meu tempo buscávamos o zen, aquela coisa “essencial” das artes clássicas do Japão.” MEMAI – Você teve algum envolvimento com a comunidade nipo-brasileira no interior do Paraná, onde nasceu ? Qual a sua primeira imagem dos nihonjin (japoneses) ?

Wilson Bueno é autor de títulos literários em várias vertentes e gêneros. Sua obra de maior impacto é a novela Mar Paraguayo (editora Iluminuras, São Paulo), publicada na Argentina, Chile, México, Cuba, Estados Unidos, e objeto de teses e seminários, por sua inventiva construção ( portunhol e guarani). É também autor de mais 11 livros de ficção, entre eles “A Copista de Kafka”, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura e Prêmio APCA de Literatura – Associação Paulista dos Críticos de Arte em 2008. Criador e editor, por oito anos, do premiado jornal Nicolau (1987-1994), considerado um dos mais importantes tablóides culturais brasileiros. É colaborador regular do Trópico (www.uol.com.br/tropico), site de arte e cultura do UOL, e do suplemento “Cultura” do jornal O Estado de São Paulo.

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BUENO - Os nihonjin, por outras vias, estão presentes desde sempre em minha vida. No sertão profundo, onde nasci, na aldeia Água do Salto, a 50 km de Jaguapitã, plantavam café e algodão. Em Curitiba, para onde vim com 7 anos, estudei com muitos deles – do antigo primário aos igualmente antigos ginásio e científico. Admirava-os porque eram sobretudo “ordeiros”, me identificava com aquela dedicação deles aos estudos. Como era meu vício ser o primeiro aluno da classe, era muito mais fácil para mim estreitar laços de amizade com os meninos japoneses do que com os demais.E depois tinha que, sobretudo em Curitiba, éramos todos migrantes – fossem os japoneses ou os “sertanejos” do Norte pioneiro (norte do estado do Paraná), os filhos de polacos ou de ucranianos. Ah, e também os descendentes dos árabes


MEMAI- O haiku, no Brasil chamado haicai, se tornou uma forma poética popular. Você fugiu desta forma, preferindo criar poemas em tankas. Por quê ?

dição clássica. Os brasileiros somos useiros e vezeiros em reinventar as artes alheias. Veja com o futebol, o rude esporte bretão, o que fizemos. Virou uma coisa transcendente o que antes era só um esporte tosco. Não digo que o poema clássico, sem rima nem título, como é praticado pelos orientais, seja tosco, pelo contrário. Chamo atenção é para essa capacidade brasileira de transfigurar as coisas. Há um tanka em Pequeno Tratado de Brinquedos em que tento focar essa dissolução do “eu”... Chama-se justamente “Anônimo”. Se você me permite, lembro de cor: “eu e a minha mestra/ saímos caçar cepilhos/ só colhemos grilo/ tarde voltamos com fome/ jantamos os nossos nomes”.

BUENO - Porque sempre me moveu e me move o desejo de fazer diferente, o que até pode sugerir uma coisa pernóstica, mas é que, já repeti isso em várias ocasiões, não sei ser de outro modo. Não manejo, não consigo manejar aquilo que todo mundo, em dado momento, está fazendo. Aí, como conciliar a paixão pelos versos japoneses senão pela via do tanka, embora eu seja autor de dezenas de haicais? E depois tem que me impus um desafio: o tanka, sabemos, carrega consigo o chamado “olho” do haicai e ainda pede uma “conclusão” em dois versos finais. Sempre, claro, na rigorosa métrica que inventamos MEMAI - Que tipo de repercussão tiveram seus para ele, para transfigurá-lo, creio. Uma “malivros de tankas ? temática” que me seduz, – 5/7/5 ( o haicai!) e 7/7 a dita “conclusão”, uma sutil “moral” BUENO - Enorme. Há leitores apaixonada história... Como em “Magrura” (Pequeno dos que me passam e-mails, absolutamente Tratado de Brinquedos): “minha meia-irmã/ encantados com os meus tankas. Em Mato chegou de Piracicaba/ ainda mais magra/ Grosso do Sul, alguns formandos, do maravicorremos em seu socorro/ lhoso curso de Letras que tem de magra voou pro morro”. “Acho a nossa Helena lá a UFMS, estão realizando A métrica, inventada aqui, Kolody (1912 - 2004) , teses de mestrado exclusivatambém é um exercício de a minha mais decisiva mente em torno dos meus humildade – você se vê obriúnicos livros de tankas – o Peinfluência e estímulo queno Tratado... e Pincel de gado a desprezar o que julga um achado precioso porque para ir ao tanka como Kyoto... Justamente desceneste tal de “precioso” o poe- quem vai com gula a um dentes de japoneses, o que é ma só pode acolhê-lo se em pote de mel.” interessantíssimo e me honra rigorosas e calculadas sílabas muito, acredite. E o Pequeno poéticas. Temos que recusar, jogar literalTratado... já está em segunda edição, o que é mente no lixo o que consideramos grandes raro para um livro de poesia, no Brasil, ainda “insights”, porque não cabem no metro do mais de tankas, você não acha? poema, você me entende? MEMAI – Sim, é um exercício de humildade. Falando nos mestres da humildade, no “Pequeno Tratado...” há referências a Bashô, Issa, Buda. Quais são seus poetas japoneses preferidos ? E os poetas que fazem tanka ? BUENO - Kobaiashi Issa me parece insuperável. Só pra lembrar, de cor, uma autêntica jóia, eterna: “Ao Fuji sobes/ Pequeno caracol/ – Mas sobes”. Acho a nossa Helena Kolody (1912 - 2004 ) , a minha mais decisiva influência e estímulo para ir ao tanka como quem vai com gula a um pote de mel. A saudosa Helena tem tankas lindíssimos, de uma delicadeza que era dela sua maior marca. E, claro, alguns clássicos, só encontráveis infelizmente em inglês, ou espanhol, reunidos numa antologia chamada Kojiki e que conta as origens do Japão e que, curiosamente foi escrito em chinês, me ensinaram muito. Aprendi, aprendo e creio que continuarei aprendendo com a leitura dos fragmentos encontráveis por aí desse livro fantástico. MEMAI - No Japão o haiku é uma forma poética não-subjetiva, que procura eliminar o “eu”, como num exercício zen. O poema clássico não tem rima nem titulo. Quando esta forma poética é trazida para o Ocidente, estas regras são subvertidas: aparecem titulo, rimas e subjetividade. Seria uma adaptação da poesia japonesa no Brasil, um país de tradição trovadoresca? BUENO - Sem dúvida, a adaptação da poesia japonesa ao Brasil é justamente o que, me parece, enriquece, ainda mais uma tra-

MEMAI - Depois destas boas respostas, você pretende lançar mais algum livro de tankas ? É uma forma poética na qual você compõe com regularidade ? BUENO - Sempre digo, e repito, que estes serão meus únicos livros de poesia, estrito senso. Sou basicamente um ficcionista, com inúmeros títulos nessa área. Embora tenha, inéditas, e guardadas a sete chaves, mais duas reuniões de poesia – o “13” ( sonetos eróticos, que pretendo sejam póstumos...) e o “35. Poemas de Amor”, barroquíssimos, que sinceramente não sei quando publicarei... Cinco desses últimos foram publicados pelo site de arte e cultura do UOL, o Trópico ( www.uol. com.br/tropico ). Tenho também, e inédito, um livro com mais de 50 tankas chamado “Casa do Poeta”. Hesito muito em publicar poesia. Quero crer que sou um ficcionista, e não mais que isso. MEMAI – E por falar em ficção, que escritores japoneses contemporâneos você lê? BUENO - Sou apaixonado pela literatura moderna do Japão. Tenho um pequeno ensaio sobre Yasunari Kawabata, um dos meus ícones, e sempre retorno a este autêntico titã das letras contemporâneas que é Yukio Mishima.A prosa japonesa contemporânea é de um vigor extraordinário Quem quiser escrever ficção, em qualquer língua, tem que conhecer esses e outros autores, penso eu. Marília Kubota é escritora e jornalista., integrante de seis antologias de poesia e crônicas e autora do livro Selva de Sentidos (2008).

I casa do poeta folhas brancas no escritório chá das cinco horas da janela o cinamomo conta estórias passam os anos

II casa do poeta silva a serra motriz – uma nova mesa! panelas, pratos de estanho no retrato, o avô piscando

III casa do poeta de vez em quando uma lágrima chove na vidraça no céu o céu cor de cinza saudades nunca não passam

IV casa do poeta desenho de passarinho de Rogério Dias três deles se escondem álacres atrás de um bico-de-lacre!

V casa do poeta num canto a teia de aranha fia ouro ao sol o musical meio-dia réstia de luz no varal

Do livro Casa do Poeta (inédito)

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Yugen: Cláudio Seto

Mil Garças para o Samurai de Curitiba Entre mito e verdade transitava o personagem Claudio Seto. como os grandes fabulistas, um criador de sua própria história , prestes a se tornar uma lenda na terra do leite quente por Célio Yano

Só de ouvir seu nome, alguns dirão que foi um grande artista. Os que conhecem minimamente seu trabalho, entretanto, discordarão: “Claudio Seto não foi um grande artista”, dirão. “Foi vários”. E se há críticas controversas a respeito de seu trabalho como escritor, poeta, jornalista, fotógrafo ou artista plástico, nada disso invalida a afirmação. Seu talento como quadrinista e a importância que teve no âmbito da nona arte fazem seu legado equivaler ao de muitos. De um início de carreira sem grandes pretensões, em poucos anos tornou-se reconhecido como o pioneiro do gênero mangá no Brasil e foi capaz de desafiar a égide do regime militar como um dos expoentes dos quadrinhos eróticos, além de se antecipar a tendências mundiais na área. O homem Seto

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los, o que permitiria a um ocupar o lugar do nasceu em 1944, na cidade de Guaiçara, inoutro sem que qualquer pessoa se desse conta. terior de São Paulo. O artista, por sua vez, De prosa em prosa, foi capaz de transcender o roubou a cena 23 anos depois, com o lançaespaço limitado do papel, invertendo a lógica mento do primeiro gibi, “O Samurai”, pela da produção artística, para levar à história a editora Edrel. realidade fabulosa dos quadrinhos. Em um cenário dominado pela febre de publicações como Mandrake, SuperO Samurai Silencioso Homem e Tio Patinhas, seu quadrinho de lançamento destoava nas bancas nos idos de Fato é que, em Curitiba, a partir de 1967. Nas histórias de Seto não havia moral 1977, passou a trabalhar na Grafipar, editora ou heróis, mas sangue e violência promovida fundada por Faruk El Khatib. Lá deu seqüênpor um código de honra totalmente à parte cia a seu legado, com a produção de desenhos da realidade brasileira. e argumentos para revistas como Eros, ProOutra criação do artista, também de ton, Neuros e Perícia, que traziam histórias 1967, no entanto, é que se tornou best selde ficção científica, terror e crimes, com piler da editora: a Maria Erótica – personagem tadas de erotismo e críticas sociais. Em 1980, que deliciava os adolescentes da época e que o departamento de arte da editora passou a entrou para a história dos quadrinhos adultos ser comandado por Seto, que, ainda que em brasileiros. posição de liderança, preferia manter a conA influência, nunca escondeu, toversação, como sempre mou dos mangakás Mifez, dominada por mozuno Hideko e Shirato “Nas histórias de Seto nossílabos. Nomes como Sanpei, seguidores do não havia moral ou heMozart Couto, Watson “deus do mangá” Osamu Portela, Rodval Matias, Tezuka (1928-1989). róis, mas sangue e vioGustavo Machado, FranChegou inclusive a colência promovida por co de Rosa, Flávio Colin nhecer Tezuka, durante e e Fernando Bonini assios cinco anos em que um código de honra tonavam as publicações da viveu em Kyushu, no Grafipar, que, por uma Japão, embora tenha co- talmente à parte da reasérie de dificuldades fimeçado a desenhar pro- lidade brasileira.” nanceiras, acabou encerfissionalmente apenas rando as atividades em após voltar ao Brasil. Em 1983. 1967, depois de pintar portas de caminhões Sem editora para publicar suas hisacabou conseguindo uma oportunidade na torietas, passou a dar aulas de desenho na Edrel. Gibiteca de Curitiba no início da década de Trabalhou até encerramento das ati1990 – conforme lembram seus alunos, sem vidades da editora, que ocorreu em 1973. pronunciar uma única palavra. Com uma coDois anos mais tarde, em julho de 1975, leção infindável de gibis na garagem de sua viajou para Curitiba para passar uns dias. casa, recebia prazerosamente os aprendizes Passaria pela capital paranaense apenas para que queriam obter fontes de inspiração. buscar uma espada pertencente a seu tio-avô Até que em 1993 foi convidado pela cujo paradeiro fora desconhecido ao longo de prefeitura de Curitiba, à época administrada 30 anos e que – descobrira posteriormente – pelo arquiteto Jaime Lerner, a registrar em houvera ficado guardada por um senhor no quadrinhos a história da capital paranaense, Paraná. Quando entregou a espada, o porque naquele ano completava seu terceiro sétador teria instruído para que não sacasse o culo de fundação. Ao cabo da produção da objeto, pois caso não o utilizasse para matar “História de Curitiba em Quadrinhos”, em alguém, algo inesperado poderia acontecer. parceria com a historiadora Cassiana Lacerda Na manhã seguinte, após levantar a arma, Carollo, deixou de vez de se dedicar à arte deparou-se, com uma Curitiba coberta de sequencial. neve. O visitante talvez nem soubesse, mas Obviamente não abandonou o deera a primeira vez que nevava na cidade em senho, o qual praticou por meio de tirinhas 47 anos. A alegria dos moradores com o fee charges nos jornais Correio de Notícias, O nômeno encantou Seto, que decidiu que era Estado do Paraná e Tribuna do Paraná. Semali que viveria a partir de então. pre ligado às raízes nipônicas, fazia questão Ninguém se atreve a contestá-lo, mas de ilustrar todas as lendas japonesas que espoucos sabem o que há de verdade e de ficcrevia para o Jornal Nikkei – que depois veio ção neste e em outros de seus relatos. Chegou a se chamar Planeta Zen – e para o livro que a anunciar, certa vez, que, tinha um irmão veio a publicar em 2008, na ocasião do cengêmeo, univitelino. Seriam idênticos, de tal tenário da imigração japonesa no Brasil. forma que pouquíssimos saberiam diferenciá-


No mês de julho do mesmo histórico ano, foi homenageado durante a cerimônia de entrega do 20º troféu HQ Mix, em São Paulo: a estatueta do prêmio, esculpida pelo artista Olintho Tahara, representava o personagem Samurai. A mesma figura, uma de suas mais célebres criações, rendeu o mais conhecido apelido de Seto – com consentimento ou não, o cidadão honorário da capital paranaense tomou para si, de uma vez, o título Samurai de Curitiba, assim mesmo, tal qual o de Vampiro ficou com o escritor Dalton Trevisan.

Espada sem fio Morreu em conseqüência de um acidente vascular cerebral no dia 15 de novembro de 2008. Em meio ao mesmo silêncio com que fez parceria durante a carreira, despediu-se subitamente da vida, deixando esposa, três filhos e um dos mais importantes marcos para o universo brasileiro dos quadrinhos. Os que acompanharam de longe dirão que Seto se decidiu pelo andar de cima quando viu cumprida sua missão – e se equi-

vocarão. Seu trabalho, na verdade, não coube no perímetro da própria vida, de modo que, em túmulo, seguiu lançando obras. Vive atualmente neste e em centenas de milhares de textos, conversas e desenhos em que procura perpetuar seu legado, seja na área de quadrinhos, de pesquisa ou da difusão cultural. Vive como uma lenda, daquelas que ele mesmo contava. Célio Yano é jornalista, técnico em informática, e estudante do curso de Letras - Japonês pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Desde 2008 é repórter do jornal Gazeta do Povo.

Lançamentos BLABLABLOGUE - CRÕNICAS E CONFISSÕES , organização de Nelson de Oliveira, Terracota Editora, São Paulo, 160 paginas, R$25,00. Contato da editora: Claudio Brites - (11)2645-0549

FLORES MANCHADAS DE SANGUE, de Claudio Seto, Editora Devir/ Jacarandá, São Paulo, 128 páginas, R$ 28.

DICIONÁRIO GUARANI-PORTUGUÊS, organizado por Cecy Fernandes de Assis. 2ª edição, Editora Luiz Assis, 954 páginas. Contato: cecyfernandes@ yahoo.com

Antologia de textos literários extraídos de 21 blogues, entre eles as das nipo-brasileiras Marília Kubota e Gabriela Kimura. Autores: Ademir Assunção, Ana Paula Maia, Ana Rüsche, Andréa del Fuego, Bruna Beber, Cassy Dias, Claudio Brites, Claudio Daniel, Edson Cruz, Fábio Fernandes, Fabrício Carpinejar, Gabriela Kimura, Índigo, Ivana Arruda Leite, Laura Fuentes, Linaldo Guedes, Marcelino Freire, Marcelo Maluf, Marilia Kubota, Petê Rissatti e Rinaldo de Fernandes.

O álbum reúne cinco histórias - “Flores Manchadas de Sangue”, “O Monge Maldito”, “Idealismo Frustrado”, “OSósia” e “A Flor Maldita” - já publicadas pela lendária editora Edrel. As histórias foram escolhidas pelo próprio autor, que também fez textos de apresentação para cada uma e reviu o material antes de ser impresso. Além de ser uma edição histórica, a obra tornou-se uma homenagem póstuma a Claudio Seto, que é considerado o introdutor do mangá no Brasil por ter lançado as primeiras histórias do gênero, na década de 60.

Entre os 18 mil verbetes do Dicionário Guarani-Português/Português-Guarani, uma preciosidade: 30 haicais nas exemplificações, traduzindo o gosto da autora por essa forma poética. A obra é fruto de longos anos de estudo e pesquisa, iniciados com o Projeto Karumbe. Cecy, escritora profícua, não só investe em pesquisa como estudou as línguas inglesa e japonesa e nos surpreende com a seguinte afirmação: “A estrutura do guarani tem semelhança com o japonês. Facilita o entendimento desta última”. Isto pode ser um bom motivo para o interesse de estudos haicaístas da língua guarani.

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Jornal de Letras e Artes Japonesas Edição 00

Karumi: Hayao Miyazaki

O ENCANTADOR UNIVERSO GHIBLI Hayao Miyazaki, um dos grandes nomes do cinema japonês, mostra para o mundo que as animações feitas pelo Estúdio Ghibli são feitas para crianças de todas as idades por Mylle Silva

Uma das primeiras imagens que temos ao pensarmos em animações japonesas – os animês – são os desenhos de olhos grandes, com certo grau de violência ou ainda cheios de ninjas e bichinhos bonitinhos lutando entre si. No entanto, muitas vezes nos esquecemos que o mercado japonês é bastante diversificado e segmentado, além de esconder verdadeiras obras de arte por trás dessa aparente “cultura para os jovens”. Um bom exemplo disso é o diretor Hayao Miyazaki, que conquistou fãs no mundo inteiro fazendo animações para crianças. Animais falantes, bruxos, dragões marinhos, construções que se movimentam, demônios, deuses, sereias... E uma infinidade de cores que mexem com a imaginação de qualquer um. Ao contrário das animações do estúdio Walt Disney, que apostam em “desenhos musicais” e em histórias de amor para cativar o público, Miyazaki lança mão do imaginário infantil para compor seus mais cativantes personagens. O Estúdio Ghibli foi fundado em 1985 por Hayao Miyazaki e Isao Takahata. A animação “Nausicaä do Vale do Vento” é considerado o trabalho de estréia do estúdio, mesmo tendo sido lançado um ano antes da fundação do estúdio. Ghibli significa “ventos quentes soprando no Deserto do Saara” e era o nome dado aos aviões italianos que sobrevoavam a região. A teoria por trás do nome é de que o Estúdio Ghibli iria dar um sopro na mente dos criadores de anime. Yasuki Hamano, professor da Universidade de Tóquio e amigo pessoal de Hayao Miyazaki, conta que o importante para o diretor são as crianças e por isso produz animações pensando nelas. Além disso, Miyazaki preocupa-se bastante com o meio ambiente, tanto que os lucros do longa “Nausicaä do Vale do Vento” (1984) foi doada para ações ambientais. Outra animação na qual é possível notar a preocupação com o meio ambiente é “Mononoke Hime” (1997).

Hamano é também diretor do Museu Ghibli, localizado em Tóquio e inaugurado em 2001. O espaço abriga várias exposições permanentes sobre a história e a ciência da animação, além de rascunhos, story boards, entre outros materiais de referência do estúdio. No topo do website do museu a seguinte frase está em destaque: “Vamos nos tornar crianças perdidas, juntos” (迷子にな ろうよ、いっしょに, Maigo ni narō yo, isshoni).

Hayao Miyazaki e Ghibli no Brasil Na década de 90 foram lançados alguns VHS e DVDs no Brasil – entre eles “Meu Vizinho Totoro” e “Porco Rosso” – mas o público só voltou-se para o estúdio quando o longa “A Viagem de Chihiro” ganhou o Oscar de Melhor Filme de Animação, em 2003. Foi nessa mesma época que a animação chegou aos nossos cinemas, seguido de “O Castelo Animado”, que foi indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2006. Em julho de 2006 começou a ser publicado o mangá de Miyazaki que serviu de base para o longa “Nausicaä do Vale do Vento”, uma verdadeira obra prima que tem atraído o público. A publicação está no quinto número e irá até o sétimo, sem previsão exata de quando chegará ao fim. De qualquer maneira, muitos fãs que têm acesso aos vídeos e conhecem a língua japonesa fazem legendas e distribuem as cópias pela Internet, facilitando assim o acesso ao material que quase nunca chega por aqui. Então se você ficou interessado em conhecer um pouco mais dos trabalhos do Estúdio Ghibli é só ir até a locadora mais próxima ou dar uma vasculhada na rede e se deixar levar pelo encantador universo Ghibli. Mylle Silva é jornalista do site www.tadaimacuritiba.com.br e estudante de Letras Japonês da Universidade Federal do Paraná.


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