MEMAI w w w. j o r n a l m e m a i . c o m . b r
Letras e Artes Japonesas - Edição 05 - Curitiba - Verão de 2010
MANGÁ
QUEM GANHOU O CONCURSO Minami Keizi
DANÇA
Murmúrios de Kazuo Ohno 04
Cláudia M. Matuhita
1º Lugar. Categria: Infantil. ▲
ORIGAMI
O Papel que dobra a vida de Mari Kanegae 05 CINEMA
Os filmes estáticos de Akira Kurosawa 12
Fernanda Lissa Fujiwara
1º Lugar. Categoria Adulto. ◄
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MEMAI
KOTOBA
SUMÁRIO
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A FORÇA QUE ERGUE COISAS BELAS
KOTOBA A FORÇA QUE ERGUE COISAS BELAS
por Marilia Kubota
por Marília Kubota
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Cada um de nós cultiva utopias. Muitos tem
HAICAI CONCURSO NACIONAL DE HAICAI NENPUKU SATO VERTIGEM
veleidades artístiicas. Mas quantos perseguirão seus sonhos até o fim ? Quantos tornarão a Arte sinônimo de sua Vida, a despeito de todos os obstáculos?
PALCO MURMÚRIOS DE UMA DANÇA por Patrícia Kamis
Nesta edição o JORNAL MEMAI traz homenagens a Akira Kurosawa e Kazuo Ohno. A primeira
ORIGAMI O PAPEL QUE DOBRA A VIDA DE MARI KANEGAE
celebrando (ainda) o centenário de nascimento deste que é o mais conhecido cineasta japonês no
por Luciana e Jorge Miyashiro
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Ocidente. A segunda, para o mestre do butô que
MANGÁ CONCURSO NACIONAL DE MANGÁ MINAMI KEIZI CHIBI SETO
morreu em junho deste ano. Pensamos que nunca será demais lembrar as grandes personalidades criativas, que transcenderam uma cultura nacional
por Guilherme Match
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para se tornar patrimônio universal.
HISTÓRIA IEYASU TOKUGAWA: O UNIFICADOR DO JAPÃO DO SÉCULO 16
Personalidades como Kurosawa e Ohno são a inspiração para seguir a vertigem japonesa.
por Yuri Sócrates
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Entrevistamos a paciente e discreta origamista
CINEMA OS FILMES ESTÁTICOS DE AKIRA KUROSAWA
Mari Kanegae , promovemos dois concursos, o Nenpuku Sato, de haicai e Minami Keizi, de mangá, recordamos a figura do shógun Ieyasu Tokugawa e
por Suzana Tamae Inokuchi
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escrevemos sobre os lançamentos de Teruko Oda,
LITERATURA
Alice Ruiz, Luiz Kobayashi e Haruki Murakami.
VIDA A IMPORTÂNCIA DE TER VERTIGEM
Seguimos entre os que acreditam que a Arte é matéria de primeira necessidade. Com alegrias e
por Lina Saheki
dor, sem tempo nem recursos, movidos apenas por um desejo precário: que, pelo menos, por alguns instantes, alguns
compreendam que a Beleza
possa ser realidade.▀
Equipe Editora Geral: Marília Kubota Editora de Internet: Mylle Silva Editora de Arte : Sandra Hiromoto Editores Palco : Jorge Miyashiro e Patrícia Kamis Convidada especial: Mari Kanegae. Colaboradores: Gustavo Morita, Guilherme Match, Yuri Sócrates, Jane Sprenger Bodnar, Jorge Yamawaki, Luciana Aliberti Miyashiro, Maria do Rocio Novaes, Simonia Fukue Nakagawa Colunistas: Lina Saheki e Suzana Tamae Inokuchi Projeto Gráfico: Sandra Hiromoto Design/Diagramação: Raphael Faria Krüger Impressão: Gráfica O Estado do Paraná Tiragem 2000 unidades Verão de 2010
Email:
contato@jornalmemai.com.br
Correspondência:
Rua Mateus Leme, 314 – Apto. 301 CEP: 80510-190. Curitiba/PR
ASSINATURAS
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EDIÇÕES Chibi Seto é um personagem criado pelo cartunista Guilherme Match – uma homenagem a Claudio Seto. Saboro Nossuco é um personagem criado por Thadeu Wojcioechowski. O texto da tira Chibi Seto desta edição é de Sandra Hiromoto.
R$ 25 (nacional)
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MEMAI VERTIGEM
SONHOS DE BRINQUEDO
Pequeno Tratado de Brinquedos (Iluminuras, 1996, 74 páginas) de Wilson Bueno, é um livro de tankas, poesia breve oriental, ainda anterior ao haicai e composta por 31 sílabas divididas em cinco versos, de 5/7/5 e 7/7. Este extraordinário escritor paranaense, que recentemente partiu, nos deixou uma obra inventiva e preciosa, em especial, estes 58 tankas ou sonhos, mas só de
brinquedo, como ele mesmo definiu em uma dedicatória na noite do lançamento. Na epígrafe do livro, nos revela o mesmo desejo compartilhado com Guimarães Rosa um dia hei de escrever/um pequeno tratado de brinquedos/para meninos quietos. Só com a leitura de um título tão instigante e bonito, o leitor já ficará inspirado para se deparar com: o coração da montanha, a lua na vidraça, o aprendiz da flor de lótus e tantas outras imagens clássicas, criadas e recriadas, com maestria, humor e atualidade. Para Wilson, com o seu total domínio da métrica e manejo criativo de tantas linguagens literárias, o efeito produzido pela palavra pode nos atingir irreversivelmente, como o último verso do poema o buscador: exato feito uma lança. Uma obra indispensável para se conhecer e sempre revisitar. ▀ Jane Sprenger Bodnar orienta oficinas literárias infantojuvenis e trabalha no Instituto de Educação do Paraná. Tem poemas publicados no site www.escritorassuicidas. com.br e outras antologias.
IV CONCURSO NACIONAL DE HAICAI
NENPUKU SATO 2010
Este é o resultado do IV Concurso Nacional de Haicai Nenpuku Sato 2010, com poemas selecionados por Teruko Oda. Os vencedores receberão como prêmios livros de literatura japonesa e nipo-brasileira.
À beira do rio O caboclo ancorado – No céu, lua fria. Regina Alonso Santos - SP No banco da praça O idoso contempla Árvores sem folhas. Tereza Delong Irati – PR Esta melancia – Lembranças da avó No meio da roça. Monica Martinez Carapicuíba - SP
COCHICHOS EM DIÁRIOS Rakushisha (Adriana Lisboa, Editora Rocco, 2007) ou “já cochicho”? A palavra japonesa que significa “Cabana de Caquis Caídos”, remete ao ouvido de criança do norte do Paraná. O título do romance referese ao local onde Matsuo Bashô escreveu o Diário de Saga. Ao ler o livro, revisitei a Colônia Esperança* de minha infância, percorrendo o Caminho do Filósofo com Celina em Kyoto, ou indo a Tóquio com Haruki. Haruki (Murakami? escritor que gosta de correr como Adriana) é ilustrador e viaja ao Japão para pesquisar a vida de Basho . O livro começa falando do andar, e do andar, que, num ritmo mais acelerado, pode ser: correr...ou parar. O que teria acontecido à Celina para que viajasse ao Japão com Haruki, a quem acabara de conhecer? Celina escreve um diário, intercalado com a tradução do diário de Basho, e com a voz de um narrador. A alusão que a autora faz às fugas de Bach faz supor o mesmo movimento em forma de romance. Como se a história de Celina fosse um livro à parte que lemos durante a viagem ao Japão.A prosa de Adriana é delicada, em voz baixa, um quase cochicho
Rede balança Na sombra arroxeada Chove flor de ipê. Marilena Budel Irati - PR Luz do alpendre – Divido minha solidão Com as mariposas. João Toloi Guarulhos - SP Antiga morada. Em passos lentos, observo As rosas vermelhas.
ouvido por acaso sob a chuva miúda que cai no Rio, em Kyoto e em Tóquio. Irassahaimase Rakushisha!. (*Comunidade nipo-brasileira nos arredores de Arapongas, norte do Paraná.) ▀ Maria do Rocio Novaes é psicóloga, com trânsito em psicanálise e sociologia. Poeta e escritora, publica na página www. recantodasletras.com.br/rocionovaes.
Silvia Maria Svereda Irati - PR Do sono tranqüilo Pernilongo me desperta — Hora da luta. Náiade Ribeiro de Camargo Irati - PR
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MEMAI PALCO
MURMÚRIOS DE UMA DANÇA Um depoimento sensível sobre Kazuo Ohno, o mestre do Butô - a dança japonesa que encena a morte e celebra o corpo e o renascimento.
por Patrícia Kamis
Kazuo eYoshito Ohno, assistente e Patrícia Kamis
Janeiro de 2004. Estou perdida em Yokohama. Tento encontrar um endereço e convencer minha família a não desistir desta minha vontade. Enfim, abandonamos o carro e parte da família que não compartilha a ideia de seguir a pé. Deparamo-nos com uma escada íngreme, montanha acima, que, para quem já foi tão longe, é encarada com coragem. Pelo lado esquerdo desta subida, éramos acompanhados por um imponente bambuzal que murmurava algo, até então, incompreensível. Ao término da subida, encontramos um caminho de pedras no chão, enfeitada com mosaicos coloridos. Um grande peixe, um pequeno sol e outras imagens abstratas nos guiavam para uma casa. Tocamos a campainha e somos amavelmente recepcionados por uma assistente que nos conduz até os fundos da casa e abre, especialmente para nós, a porta do estúdio de dança de Kazuo Ohno. A assistente pede para ficarmos à vontade e nos deixa por um momento. Um silencioso momento em que aprecio o singelo lugar de criação de um artista incomum. Logo na entrada, vê-se muitos livros, cds, fitas-cassete, uma mesa de som, alguns instrumentos musicais. Do lado direito, uma pequena cozinha improvisada, mais livros, uma tevê e um armário repleto de quadros, bonecos, máscaras e lembranças do mundo todo (incluindo uma imagem de Nossa-Senhora). Encostada na parede, uma mesa vermelha, em formato circular, contrasta com a parede branca e o piso marromescuro, lembrando o sol japonês surgindo da terra. O fundo da sala comporta uma arara com figurinos, um velho piano e um quadro, com
a foto de Antonia Mercé, artisticamente conhecida como “La Argentina”. Foi por causa de sua apresentação de flamenco, em 1929, que Ohno, impressionado com Mercé, decidiu seguir o caminho da dança. A inspiração e motivo primeiro da sua opção de vida fixada no ponto mais alto da parede. Compondo o cenário do estúdio, falta apenas mencionar que, à frente do espaço vazio, destinado às aulas semanais, estavam uma mesa baixa e a cadeira do mestre. Meu sobrinho, então com 2 anos e meio, estava nos acompanhando nesta visita e nos surpreendeu quando alegremente sentou nesta cadeira e nos lançou um olhar sapeca, com uma liberdade só permitida à infância. Quando a assistente retorna, ela nos convida para entrar na casa e tomar um chá. Lá, somos recebidos pelo filho de Kazuo, Yoshito Ohno. E, mais uma vez, sinto vergonha por
mestre da dança de vanguarda japonesa, o Butô. Embora este não seja o momento de me estender no conceito, posso dizer, sucintamente, que o Ankoku butô (Butô das Trevas) teve seu marco inicial em 1959, no Japão do pós - II Guerra Mundial, em uma performance de Tatsumi Hijikata. Questões como o colapso do corpo, o enfrentamento da morte, a busca de outras formas de percepção, eram investigados pelos dançarinos de butô, a dança de um corpo morto. Kazuo acompanhou o resto da conversa, calado, de olhos fechados, com a cabeça inclinada para o alto, como a perscrutar nossa presença. E não me fazia falta seu olhar ou suas palavras. Sua disposição em nos receber e sua impactante grandeza fortemente perceptível, ainda que num corpo já tão frágil, tecia entre nós um elo especial. Enquanto eu descia a escada, acompanhada pelo bambuzal, começava a entender esses murmúrios vindos da natureza. Eram murmúrios de uma presença humilde e amável que recebe estrangeiros desconhecidos em sua casa; de um corpo estático que perdura no tempo, e que contém todo o movimento do universo; de uma busca incessante pelo entendimento humano, a cada contato; e de uma eterna gratidão pela vida que ainda sopra. Aquele pequeno corpo continha tudo isso. E dançava. E como era linda sua dança. E, mesmo depois de sua morte, que ocorreu em junho deste ano, ele continua a dançar insaciavelmente. Porque vida e morte são apenas coreografias no espetáculo da existência que ele nos apresentou. ▀ Patrícia Kamis é atriz e dramaturga.
Detalhe do estúdio de Ohno, no Japão
não dominar ainda o idioma japonês. Por ironia, uma vergonha tipicamente japonesa. Minha mãe assume o papel de tradutora e explica que somos brasileiros e que eu, por ser artista, tinha insistido muito em conhecer o estúdio do mestre Ohno. No meio da conversa, todos se calam, pois a assistente trazia o próprio Kazuo Ohno para nos conhecer. Ele, quase sem enxergar, vem se apoiando em barras de ferro instaladas em toda a casa, para facilitar sua locomoção. Honrados e, no entanto, envergonhados pelo incômodo, nos reverenciamos a esse monstruoso
A DANÇA DA VIDA
Kazuo Ohno (1906-2010). Estreou em 1949 e, de 1960 a 1966 trabalha com Tatsumi Hijikata, que o inspirou a desenvolver o Butô - originalmente ankoku butô (dança das trevas). O Butô evoluiu no Japão do pós II Guerra, rejeitando formas tradicionais da dança ocidental. Em 1977, Ohno funda sua escola. No mesmo ano estréia o solo Admirando La Argentina, homenagem à Mercê, espetáculo considerado sua obra-prima e do próprio Butô. Em 1980, faz turnê pela Europa, causando grande impacto. Com Hijikata faz Minha Mãe e Mar Morto. Mesmo depois dos 90 anos, Ohno ainda atuava. O estúdio de dança Kazuo Ohno continua ativo, agora dirigido por Yoshito Ohno, seu filho.▀
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MEMAI ORIGAMI
O PAPEL QUE DOBRA A VIDA DE MARI KANEGAE Ori (dobrar) mais Kami (papel) resultou em origami, a arte de transformar uma folha de papel em todas as formas que a imaginação permite.
Luciana Aliberti Miyashiro, com participação especial de Jorge Myashiro. Fotos: Gustavo Morita
Se hoje uma das surpresas tecnológicas são impressoras que reproduzem objetos tridimensionais, o origami pode ser chamado de tradição que se renova. A partir de um plano bidimensional, dobrando de forma engenhosa, cria qualquer forma com volume: assim é o origami. Mari Kanegae, escritora, artista plástica e apaixonada divulgadora de uma das mais conhecidas artes do Japão, participa da emocionante aventura de descobrir novas possibilidades poéticas com a dobra do papel. Solicitada para cursos, oficinas e palestras; viajou para o Japão para aprofundar estudos. Mantém constante intercâmbio com os mestres nipônicos; mas sua modéstia e conhecimento a torna uma mestra muito próxima de nós. JORNAL MEMAI /LM - Como você foi iniciada no origami, aprendeu com familiares, ainda criança; ou foi pesquisar já adulta? MARI KANEGAE - O primeiro contato foi quando fui conhecer meus avós no Japão, tinha 3 anos de idade. Quando cheguei lá, só falava em português e eles não entendiam o que eu falava e vice-versa. Aí a minha avó encontrou uma maneira de se comunicar comigo, foi através do origami. Ela fez uma porção de origami para mim. Depois já no Brasil, tive aulas em escola japonesa e comecei a aprender a partir de livros que meus pais compravam. Só retomei o origami no último ano da ECA-USP. Como o curso era Licenciatura em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas, fiz estágios em vários lugares. A maioria, locais onde o poder aquisitivo era muito baixo. Em Santo Amaro, a Prefeitura dava tinta, pincéis, papéis, argila, etc. Quando os alunos voltavam pra casa não tinham estes materiais. Fiquei pensando em algo que pudessem fazer e não tivesse custo. Aí lembrei, quando criança eu fazia origami com papéis de embrulho, revistas e jornais. Pedi para as crianças trazerem de casa qualquer tipo de papel. Elas aprenderam a cortar os papéis e passei a ensinar origami. Percebi que ficavam super motivadas e começaram a juntar as técnicas. Por exemplo, faziam um boneco de argila e depois um chapéu de origami pra colocar no boneco. Usavam os
O origami foi a ponte entre Mari e a avó japonesa
origamis para trabalhos de colagem e até para contar histórias. Voltavam para casa felizes. No dia seguinte as mães vinham pedir pra eu ensinar alguma coisa, elas também queriam aprender. E assim conheci, além das crianças, os irmãos, as mães. Percebi o quanto o origami era importante não só como atividade, também como elo de ligação entre pessoas. Aprendi que o origami era algo muito sério e resolvi pesquisar e estudar mais. Depois de formada, fui trabalhar em escola de educação infantil e procurei
desenvolver atividades de origami junto com outras técnicas artísticas. Os resultados foram surpreendentes. JORNAL MEMAI /LM - Você estudou origami no Japão? MARI KANEGAE - Depois destes resultados, resolvi ir ao Japão para me aprimorar, em 1984. Tive o privilégio de estudar com o sensei Toyoaki Kawai que ensinou que antes de tudo um origamista tem que ser bom observador. Olhar o que está à volta, principalmente a natureza. A partir
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MEMAI daí, interpretá-la através do papel. Conheci o sensei Akira Yoshizawa, cujos trabalhos são verdadeiras obras de arte. Com ele aprendi a respeitar o papel. Minha história não tem fim. Continuo aprendendo, ensinando e aprendendo. JORNAL MEMAI /JM - O tsuru é uma forma intrigante; simples ao mesmo tempo complexa. Qualquer pessoa interessada em cultura nipônica conhece o tsuru, sabe o que representa. Uma criança aprende a dobrar o tsuru, habilidade que muitos adultos não tem. Você acredita que essa seja uma característica do origami, fácil para alguns, espetacular para outros? MARI KANEGAE - O tsuru é uma das figuras clássicas do origami, não só do Japão, conhecida em todo o mundo. Mesmo hoje, há criações novas que partem desta figura milenar. O origami é igual a outras artes. Tem gente que tem facilidade para dobrar, assim como tem pessoas com dom para a música. Seja qual for a dificuldade, para dobrar ou tocar um instrumento, seja ela criança ou adulto, com força de vontade, paciência e treinamento, são capazes de superar estas barreiras.
Origami é igual a outras artes. Alguns tem facilidade para dobrar, outros tem dom para a música. Seja qual for a dificuldade, para dobrar ou tocar um instrumento,a criança ou adulto, com força de vontade, paciência e treinamento, é capaz de superar estas barreiras JORNAL MEMAI /LM - Por que o origami é visto como atividade para crianças, se existem tantos adultos praticantes? Isto acontece só no Brasil? MARI KANEGAE - Não ocorre só no Brasil. Acontece o mesmo no Japão e em outros países. Acredito que aconteça por falta de informações. Por isso, nos cursos mais adiantados, procuro citar nomes dos artistas que criaram as obras. Se na música existe autoria, no origami também temos que dar créditos. É uma forma de respeito ao artista e de dar mais seriedade ao origami. JORNAL MEMAI /JM - É preciso ser especialista para reconhecer o autor deste ou aquele origami? Tem que estar informado sobre o que há de novo, existe congresso, publicações
que tornem documento, registro para esses artistas criadores? MARI KANEGAE - Existem trabalhos que aprendi quando criança, ou com alunos, que desconheço a autoria. Aí pesquiso nos livros, revistas das associações (japonesa, inglesa, americana, alemã, italiana) para descobrir. Algumas figuras não consegui descobrir e quando ensino digo que desconheço o autor, se alguém souber, peço que me comunique. Existem encontros anuais e convenções em todos os países. Os mais conhecidos são da BOS (British Origami Society), da Origami USA, da NOA (Nippon Origami Association), Origami Tanteidan, além dos encontros na Itália e Espanha. Nestas convenções há exposições de trabalhos novos e publicações. A publicação de um livro já é um registro. Como não sou usuária regular da internet, não tenho informações se há publicações de criações de origami neste veículo. JORNAL MEMAI /LM - Ainda sobre autoria, você acha que as revistas vendidas em banca de jornais que não citam os dos autores deveriam pedir autorização ao autor? MARI KANEGAE - Com certeza. É normal pedir autorização para publicar. Num encontro sobre direitos autorais, no Japão, em 2009, verificamos que um dos países em que havia este problema era o Brasil. Neste encontro participaram artistas de vários países cujos trabalhos ou livros foram pirateados ou publicados sem autorização. JORNAL MEMAI /LM - Para cada figura existe um tipo de papel mais adequado, como escolher o melhor ? O japonês é o melhor ? MARI KANEGAE - Para determinadas caixas, por exemplo, é melhor usar papel mais firme de gramatura maior. Para dobrar uma flor delicada, papel mais maleável dá resultado melhor. No curso usamos só o papel espelho e aí faço os alunos perceberem que para a caixa fica muito mole e para a flor de lótus por exemplo fica difícil de dobrar. O importante é experimentar todo tipo de papel e ver o resultado, mesmo que os papéis não sejam para origami. Durante o processo a gente percebe se o papel é adequado ou não. Não existe receita, tem que dobrar para sentir. JORNAL MEMAI /JM - No Japão o papel tem significados determinantes. envelopes para cada ocasião, para depositar a contribuição nos funerais, o Mizu-Hique para enfeites de presentes nos casamentos tradicionais. O origami participa de
algum desses rituais ? MARI KANEGAE - Sim. um dos mais antigos origamis é o que representa um casal de borboletas (macho e fêmea) usadas nas garrafas de sakê, usadas em cerimônia de casamento. Algumas figuras eram dobradas para serem colocadas nos altares religiosos.Também existem envelopes que são dobrados e não colados. JORNAL MEMAI /JM - Além do origami, você lida com o kiri-e. Conte mais sobre, como você trabalha ? MARI KANEGAE - Dou aula de kiri-e e origami. Meu interesse pelo kiri-e surgiu quando fui ver uma exposição de Masayuki Miyata, no MASP, em 1975. Só em 1984, quando fui ao Japão estudar e pesquisar sobre origami, fiz um curso de kiri-ê. Assim como no origami, ainda me considero aprendiz. A técnica veio da China, e no Japão, usada para fazer moldes de estampas de kimono. Foi e ainda é usada em ilustrações de poesias e contos.
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MEMAI JORNAL MEMAI /LM - Você acha que o origami deveria ser implantado com atividade do currículo das escolas brasileiras ? MARI KANEGAE - Não adianta impor o origami nas escolas. É preciso mostrar sua importância para os professores através de vivências. Só assim vão poder passar aos alunos algo positivo. JORNAL MEMAI /LM - O origami não é só usado na Educação... MARI KANEGAE : O origami foi usado em diversas áreas, para demonstrar conceitos matemáticos, noções de cores, formas e tamanhos, além de exercitar a coordenação motora fina, a atenção, a concentração e a criatividade. JORNAL MEMAI /LM - Você é coordenadora do Grupo de Estudos de Origami(GEO) em São Paulo, com o qual faz exposições. Como surgiu o grupo, e a ideia de exposições? MARI KANEGAE - O grupo é formado por ex-alunos da Aliança Cultural
Brasil-Japão. Após concluírem todos os cursos, alguns queriam continuar se encontrando para estudar e divulgara arte. A princípio, fizemos boletins, distribuindo cópias aos interessados. No Japão, visitei uma exposição da National Origami Association (NOA) sobre a história do arquipélago contada através de cenários e fiquei encantada com os detalhes. Imaginei algo parecido quando retornasse ao Brasil. Sugeri ao GEO fazer exposição sobre a história da imigração japonesa no Brasil. Todos concordaram e partimos para a pesquisa. Visitamos o Museu da Imigração, lemos o livro de Tomoo Handa (“Memórias de um Imigrante Japonês”), assistimos o filme da Tizuka (Yamasaki), resgatamos fotos antigas e juntando tudo, partimos para a criação das peças. A exposição percorreu várias cidades no Brasil e foi até o Japão, em Hamamatsu e na Embaixada Brasileira em Toquio. Visitaram a exposição grandes nomes do origami, como Makoto Yamaguchi, Jun Maekawa, Isamu Asahi, Saburo Kase, Kunihiko Kasahara entre outros. Muitos imigrantes se identificaram com os cenários, e os japoneses ficaram sensibilizados com a história que muitos não conheciam. JORNAL MEMAI /LM - A exposição levada para o Japão contou com apoio de órgãos públicos ou privados? MARI KANEGAE - Conseguimos patrocínio de empresas e pessoas para levar a exposição, mas não o suficiente para trazê-la de volta. A exposição sobre a História da Imigração Japonesa no Brasil foi doada ao Museu da JICA em Yokohama (Kaigai Iju Center). Houve tentativa de se trazer a exposição emprestada para os eventos da comemoração do centenário. A JICA contratou professoras de origami no Japão para consertar cenários deteriorados com o tempo. Uma empresária brasileira devia trazer a exposição, mas não deu certo. JORNAL MEMAI /LM - Outras exposições foram produzidas? MARI KANEGAE - Fizemos uma exposição em comemoração aos 500 anos do descobrimento do Brasil. O último trabalho foi sobre o carnaval, levou cerca de 10 anos para ser concluída e ainda está sem patrocinio. Apesar das dificuldades de produzir uma exposição, o que vale é o público sente e comentam. É uma comunicação não verbal, envolve sentimento e sensibilidade. JORNAL MEMAI /LM - De que forma o origami influencia sua vida?
MARI KANEGAE - Para mim é uma filosofia. Tudo que se aplica ao origami, pode ser levado ao nosso dia a dia. Paciência, perserverança, enfrentar desafios. É um meio de comunicação, de expressão e valorização da Vida. ▀ Luciana Aliberti Miyashiro é artista plástica (UNESP/BAURU0 e atualmente codirige a Miyashiro Teatro de Bonecos . Autodidata no origami, iniciou-se há 10 anos com o livro Origami, Arte e Técnica de Dobradura de Papel. Escreve no blog: http://origamixorigamix.blogspot.com. Jorge Miyashiro (jorge.miyashiro@gmail. com) é ator-bonequeiro, diretor da Miyashiro Teatro de Bonecos, especialista no fantoche por onde produz textos, ensaios, peças e vídeos no miyashiroteatro.blogspot.com
Breve Nota Biográfica
Mari Kanegae nasceu em Londrina (PR). É formada pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, licenciatura em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas. É coordenadora do GEO (Grupo de Estudos de Origami) de São Paulo, professora de origami e kirie da Aliança Cultural Brasil-Japão. Participou de exposições de arte, deu cursos e fez várias demonstrações de Origami. Em 1984 foi para o Japão onde aprimorou conhecimentos com o mestre Toyoaki Kawai e conheceu novas técnicas da arte do papel: Kirie, Chiguirie e Paper Kraft, além de visitar as regiões onde se confeccionam Washi (papel artesanal japonês). Voltou lá em 1991 e 1996 onde recebeu orientações dos mestres Toyoaki Kawai, Kunihiko Kasahara e Akira Yoshizawa. Desde então tem sido convidada para proferir palestras, ministrar cursos e oficinas em empresas, hospitais e participar de programas de televisão.
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MEMAI MANGÁ
1º. CONCURSO NACIONAL DE MANGÁ MINAMI KEIZI Este é o resultado do Concurso Nacional de Mangá Minami Keizi, que teve como juradas a artista plástica Sandra Hiromoto e a escritora Marilia Kubota. Cláudia M. Matuhita (Infantil) e Fernanda Lissa Fujiwara (Adulto) foram as vencedoras do concurso. Elas recebem, como primeiro prêmio, um kit de material de ilustração e R$ 50 de crédito na loja NHOM. Na Categoria Infantil Thaiane Nami Iano ficou com o 2º. Lugar e Rubia Terumy Z. Isobe, com o 3º. Na categoria Adulto, Alexandre Rolim de Moura Pereira Santos ficou com o 2º lugar e Luisa Sprenger de Oliveira e Nicholas Geraldo de Castilho Silva com o 3º lugar.
Nicholas Geraldo de Castilho Silva
Alexandre Rolim de Moura Pereira Santos
Fernanda Lissa Fujiwara
Luisa Sprenger de Oliveira
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MEMAI
Thaiane Nami Iano
Rubia Terumy Z. Isobe
Clรกudia M. Matuhita
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MEMAI HISTÓRIA
IEYASU TOKUGAWA: O UNIFICADOR DO JAPÃO DO SÉCULO 16
Para pacificar as guerras que assolavam o Japão, o shogun valeu-se de perseverança, astúcia e tecnologia trazida pelos ocidentais. por Yuri Sócrates Saleh Hichmeh
o nome de Takechiyo Matsudaira, Ieyasu Tokugawa perdeu o pai, Hirotada Matsudaira, com apenas seis anos de idade. Ainda criança, aquele que viria a ser o shogun unificador do Japão viveu intensas guerras e disputas no interior do próprio clã, Matsudaira. Tais disputas definiriam a qual família os Matsudaira jurariam lealdade: os Oda ou os Imagawa. Aos nove anos foi feito refém dos Imagawa, assim permanecendo até seus quinze anos, quando foi permitido retornar à província de Mikawa como guerreiro, devendo reunir forças para combater, ao lado dos Imagawa, o clã Oda. O clã Oda, sob a liderança de Nobunaga, suprimiu os Imagawa, matando seu comandante na batalha de Okehazama. Com a morte do chefe dos Imagawa, os laços de fidelidade que ligavam Ieyasu a este clã deixaram de existir. Desta forma, Ieyasu jurou fidelidade a Nobunaga Oda. Mantendo-se leal a Nobunaga, Ieyasu retornou à província de Mikawa, pacificando-a e agregando mais terras a ela, destacandose como principal representante daquela região do Japão naquele período. Ieyasu abandonou o nome Matsudaira, que o ligava ao seu clã de origem, adotando o nome Ieyasu Tokugawa, fundando uma nova Para uns, herói, para outros, usurpador. Crédito: Divulgação
A era em que nasceu Ieyasu Tokugawa, o unificador do Japão, foi um dos momentos mais conturbados da História do Japão: o século 16, conhecido como o período dos estados em guerra (Sengoku-Jidai). Nesta época, o Japão encontravase dividido entre diversos senhores que disputavam através das armas o domínio e a conquista de novos territórios. Neste momento, a figura do Imperador encontravase desgastada, sendo respeitado mais como líder religioso que como detentor de poder político. Tal situação estimulou as guerras entre os senhores feudais do Japão, que buscavam obter o título de líder político e militar do arquipélago: Shogun. Neste cenário conturbado nasceu
Ieyasu Tokugawa, que viria a ser o unificador deste Japão descentralizado do século 16, posicionando-se como uma figura forte inclusive frente às potências ocidentais da época, como Portugal e Holanda. O ano de seu nascimento, 1543, foi marcante para o Japão dos estados em guerra, pois desembarcaram, ao sul do arquipélago, os primeiros portugueses que viriam a estabelecer contato com a Terra do Sol Nascente. Estes viajantes, de acordo com o historiador John Whitney Hall, traziam novidades e tecnologias desconhecidas aos japoneses da época, como as armas de fogo, que revolucionariam a arte da guerra nipônica. Nascido na província de Mikawa, sob
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MEMAI linhagem que viria a ser reconhecida como descendente do clã Minamoto (clã fundador do xogunato, no século 12). A estratégia de Ieyasu foi a de se fortalecer como um líder político primeiramente em sua província de origem, submetendo populações vizinhas e pequenos senhores feudais que almejavam maiores poderes, mas não detinham armas e potencial para tanto. Ascensão Nos próximos quinze anos (15671582) Ieyasu consolidou seu poder, submetendo, ao lado de Nobunaga Oda, fortes rivais como o clã Takeda. Nobunaga. Como perspicaz estrategista, adotou as armas de fogo com o tradicional armamento, de forma que seus exércitos foram capazes de unificar grandes porções do território nipônico, levando-o a ser reconhecido como principal líder político e detentor do poder de fato sobre o Japão. Com o assassinato de Nobunaga por Akechi Mitsuide, o novo nome ligado ao controle político e militar do Japão foi o de Toyotomi Hideyoshi, talentoso estrategista, que após derrotar Mitsuide em Yamazaki, realizou campanhas militares até mesmo fora do arquipélago, alcançando a região das Coréias. Para Ieyasu, a ascensão de Hideyoshi significava um entrave em sua rota rumo ao controle do Japão, o que o fez observar o novo grande líder de perto, aprendendo com ele importantes posturas e atitudes políticas que favoreciam à centralização do poder e ao controle militar sobre as ilhas. Antes de morrer, Hideyoshi estabeleceu que, com a sua partida, o Japão seria governado por uma regência de cinco grandes senhores, dentre os quais encontrava-se Ieyasu, que articulou a política de
forma a colocar os regentes em grupos distintos: seus apoiadores e seus opositores. Em 1600, Ieyasu e seus aliados enfrentaram em Sekigahara a forte oposição dos clãs que eram favoráveis à manutenção do poder nas mãos da família Toyotomi. Ieyasu, contando com a superioridade militar, esmagou sua oposição, colocando-se, após a batalha, como a nova autoridade político-militar do Japão. Sendo reconhecido pelo Imperador como descendente da família Minamoto, foi aclamado como Shogun, unificando as províncias do arquipélago japonês, suprimindo oposições e centralizando em si a autoridade política e militar, o que marcou o início de uma nova
de Capitanias Hereditárias e Governo Geral, o Japão passava por um período de guerras e extrema descentralização do poder. As conseqüências da política unificadora imprimida por Ieyasu após 1600 não refletiram apenas sobre o Japão, uma vez que este governante proibiu práticas religiosas católicas ao longo do arquipélago, expulsando padres, navegadores e militares portugueses de seu território. Ieyasu morreu em 1616, deixando seu filho no poder, como o novo Shogun, que continuou a supressão de possíveis forças de oposição ao governo, abafando quaisquer práticas católicas e colocando um fim às relações luso-nipônicas em 1640.
Ao adotar as armas de fogo com o tradicional armamento, seus exércitos foram capazes de unificar grandes porções do território nipônico, levando-o a ser reconhecido como detentor do poder de fato sobre o Japão
Yuri Sócrates Saleh Hichmeh é historiador (UFPR), professor de História e consultor empresarial de Gestão da Qualidade. É um dos coautores da coletânea de ensaios O Túnel do Tempo (Juruá, 2010).
Era para o povo nipônico: a Era Tokugawa, conhecida também por Era Edo, por ter a cidade de Edo (atual Tóquio) como centro político, militar e administrativo. O líder político e militar Ieyasu Tokugawa entrou para a História do Japão como o pacificador e unificador de um território que vivera, por mais de um século, um período de guerras e conflitos internos. Para seus aliados, um herói; para os partidários de Hideyoshi, um usurpador. É interessante ressaltar neste breve artigo que enquanto o Brasil encontrava-se em sua infância, passando por seu período
BRYANT, Anthony J. Sekigahara 1600: The final struggle for power. Nova Iorque, Osprey Publishing, 2003.
Referências Bibliográficas: BOXER, C. R. A Igreja Militante e a Expansão Ibérica 1440-1770. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.
HALL, John Whitney. The Cambridge History of Japan Volume 4. Nova Iorque, Cambridge University Press, 1999. MORTON, W. Scott. Japan Its History and Culture. Nova Iorque, McGraw-Hill, 1994. SUBRAHMANYAM, Sanjay. O Império Asiático Português 1500-1700. Lisboa, Difel, 1995.
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MEMAI CINEMA
OS FILMES ESTÁTICOS DE AKIRA KUROSAWA As pinturas de storyboards ajudavam o cineasta a planejar detalhes sobre personagens, cenários e figurinos e até a obter financiamentos
por Suzana Tamae Inokuchi
Este artigo é sobre a minha de Vincent Van Gogh – seu pintor chuva, o céu e a neblina. experiência pessoal durante a preferido – foram impressionantes. A reaproximação direta de Kurosawa exposição de pinturas de storyboards O diretor Akira Kurosawa (1910-1998) com a pintura ocorreu por acaso, do diretor japonês Akira Kurosawa, é conhecido por sua filmografia, através dos storyboards do filme que aconteceu de 23 de outubro a 28 que influenciou diretores tanto Kagemusha – A Sombra do Guerreiro de novembro no Instituto (1980). Até então, os Tomie Ohtake, em São storyboards do diretor Paulo – como parte da eram esquemáticos e 34ª Mostra Internacional sem muito detalhamento de Cinema de São imagético. Devido Paulo. A exposição é às dificuldades que intitulada Kurosawa – enfrentava para Criando iIagens para o conseguir patrocínio Cinema” e se constitui para este filme, começou em mais um evento a pintá-los praticamente em comemoração do cena a cena, tomada centenário de nascimento a tomada. Cada uma deste diretor. Estive lá das cenas pintadas por no dia 27, penúltimo ele realizava através Imagem usada na promoção da exposição durante a 34ª Mosdia da exposição, de imagens estáticas o tra Internacional de Cinema. juntamente com Marina filme imaginado e que, Okumura, que como eu em dado momento, ele é pesquisadora da obra pensou nunca seria fílmica do diretor. do Ocidente quanto do Oriente. capaz de concretizar na grande tela. Apesar de conhecer várias daquelas Entretanto, o início da sua formação Foram mais de 100 imagens pintadas imagens, principalmente as pinturas artística se deu através da pintura. para Kagemusha. Este processo se dos filmes Kagemusha, Ran (1985) Ainda no ensino primário, aprendeu a repetiu desde então. e Sonhos (1990), a possibilidade de não copiar objetos ou outros artistas, conhecê-las pessoalmente foi mais mas a criar obras de arte baseado surpreendente do que poderia supor. na imaginação. Levou isto para a PINCELADAS O traço vigoroso de Kurosawa, a pintura e, depois, para o cinema. A exposição ocupou três salas inteiras qualidade de sua pintura, a mobilidade Em seus filmes, a pintura entrava do Instituto, abrangendo pinturas dos que ele conseguiu imprimir às cenas e com a ambientação de cenários, ou filmes: Kagemusha, Ran, Sonhos, a proximidade imagética com o traço em elementos da natureza como a Rapsódia em agosto (1991), Sob o olhar do mar e Mādadayo (1993). O detalhamento do diretor – tão notório sob outros aspectos, como a exatidão de cenários e locações, o cuidado com os figurinos, etc. – ficou evidente através das pinturas. Ele pintava em detalhes as expressões faciais das personagens, os cenários e locações, o aspecto do céu desejado, as estampas dos tecidos das roupas e, assim por diante. Uma das pinturas do filme Sob o olhar do mar (2002) – último roteiro escrito por Kurosawa, dirigido postumamente por Kē Kumai – mostrava um estudo sobre capuzes, feito para o filme que pretendia realizar futuramente. Também foi interessante ver as observações que Kurosawa acrescentou Divulgação.
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MEMAI às imagens, como na metamorfose da “mulher da neve – yuki onna”, na qual ele inseriu a expressão “de baixo para cima”, para indicar o sentido em que se daria a transformação. Outro aspecto intrigante foi a mescla de materiais usada por Kurosawa ao pintar. Ele parecia querer adequar os materiais – tipos de papel e de tintas disponíveis – às cenas que pretendia retratar. Os contornos são outro elemento interessante. Por exemplo, em cenas de batalhas, percebe-se que o diretor faz o contorno de cada cavalo e de cada guerreiro, para que se perceba tanto o conjunto quanto cada figura individual. O fato da exposição ter elaborado um catálogo detalhado, com todas as 80 pinturas apresentadas na exposição, é um outro mérito do evento, tanto para a pesquisa quanto para servir de auxílio complementar à memória. As pinturas estão reproduzidas em dimensões diferentes – diferentemente dos originais – muitas são pequenas, para que se possa apresentar mais de uma imagem por página; outras, ocupam uma página inteira ou até duas. Os textos introdutórios podem ser consultados, intercalados às imagens, tanto em português quanto em inglês. Os materiais usados em cada pintura estão registrados na publicação, nestes dois idiomas. Este tipo de catálogo – em forma de livro, em vez das brochuras gratuitas usuais – é raro nas exposições realizadas no país, mas deveria ser impresso com maior frequência, porque sua existência complementa a exposição em si. Para quem perdeu este evento na capital paulista, ainda é possível encontrar esta publicação na livraria situada no interior do Instituto. Apesar de ser rara a oportunidade
de se deparar com os originais das pinturas feitas pelo diretor Akira Kurosawa para os seus storyboards, as reproduções são conhecidas, algumas disponibilizadas na internet. Algumas, também, podem ser encontradas em livros; tais como o Relato autobiográfico (1990) – tradução da autobiografia do diretor, publicada no país pela Estação Liberdade – e The original screenplay ans storyboards of the Academy Award-winning filme Ran (1986), publicado pela editora Shambala, no exterior. Há ainda uma edição japonesa contendo as pinturas completas do diretor, denominada Akira Kurosawa – complete drawings (1986). ▀
Suzana Tamae Inokuchi (haikaisepoemas@hotmail.com) é graduada em Relações Públicas e Letras e mestranda em Estudos Literários na Universidade Federal do Paraná, além de poeta e contista.
A observação de Kurosawa dirige o olhar do espectador.
O lançamento, este ano, da tradução para o português do livro autobiográfico À espera do tempo – filmando com Akira Kurosawa, escrito por Teruyo Nogami (1927- ) – que foi assistente de Kurosawa por mais de 50 anos, a partir de Rashōmon –, também homenageia o centenário de nascimento do diretor. Ed. Cosac & Naify.
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MEMAI LANÇAMENTOS
DOIS TONS DE DELICADEZA
Teruko Oda e Alice Ruiz representam as escolas de haicai mais importantes do Brasil, a tradicional e a livre. Em “Canção da Terra Natal” e “Jardim de Haijin” a motivação é a delicadeza de sentimentos e a amizade, como comentam os articulistas Monica Martinez e Álvaro Possetl. Furusato no Uta: Canção da Terra Natal. Teruko Oda. Editora Escrituras, 64 páginas.
Não consegui interromper a leitura do livro da haicaista Teruko Oda antes da última página. E, quando lá cheguei, senti não ter nada mais a ler pela frente. Para apresentar a autora de forma breve (uma vez que o currículo dela é extenso), basta dizer que Teruko é considerada a maior haicaista brasileira desta modalidade de haicai brasileiro inspirada nos clássicos japoneses. Para quem não sabe o que é haicai, trata-se de um gênero poético praticado desde o século 17 caracterizado pela métrica curta (três versos de cinco, sete e cinco sílabas, respectivamente) e pelos termos de estação (chamados kigos), que deixam claro para leitores qual época e sentimento o poeta quer expressar. O prefácio é escrito por Paulo Franchetti, professor titular do departamento de Teoria Literária da Unicamp – provavelmente o maior teórico do país no assunto e ele mesmo um sensível haicaísta (aliás, vale a leitura de Oeste, em edição primorosa do Ateliê Editorial lançada em 2008). Franchetti declara: Várias vezes, na leitura fiquei comovido. Primeiro, pela beleza pungente de muitos haicais e outros tantos trechos de prosa, que formam com
eles um conjunto harmônico, de extrema delicadeza. Depois, porque este livro representa um momento de apogeu no processo de aclimatação do haicai à língua portuguesa e à literatura brasileira (...). É sobre o primeiro ponto que gostaria de comentar. Como pesquisadora na área de Comunicação Social, com enfoque em relatos biográficos e narrativas de não-ficção, eu fiquei encantada com este livro que emprega o gênero haibun, estilo de composição literária que combina texto em prosa com poesia. A princípio, até, Teruko começa tímida com a prosa, que logo engrena e por meio dela, entremeada de belos haicais, ficamos sabendo não apenas sobre sua vida, mas também a história da implantação do haicai no país. Em Trilha Estreita ao Confim, o mestre maior do gênero, Basho (1644-1694), combina seus relatos de viagem com haicais como o poeta errante que era. Em Furusato no Uta –Canção da Terra Natal, Teruko resgata a visão feminina de filha de imigrantes japoneses, em sua interrelação simbiótica com a terra. Num certo sentido, também, é o canto do cisne da cultura caipira paulista, francamente em colapso, uma vez que baseada na vivência cotidiana com a natureza e não nas questões ambientais vistas pelos aparatos virtuais, como hoje é mais comum. Talvez resida, aqui, a grandeza da obra: ela aponta um caminho concreto para quem deseja estreitar seu relacionamento com a natureza. Um caminho duro, é verdade, pois
demanda ao adulto resgatar o olhar da criança que aprende a ler o mundo, bem como a humildade de aprender o nome deste pássaro e daquela planta, como se começássemos um idioma novo. Neste sentido, talvez, resida a importância do haicai na contemporaneidade: a descoberta de que, sob o conhecido, há um mundo realmente novo à espera do diálogo, do encantamento e de sentidos atentos. Monica Martinez, doutora em Ciências da Comunicação pela USP e pós-doutorada pela Metodista de São Paulo. É professora de Jornalismo Literário e de cursos de redação criativa. Autora de Jornada do Herói (Annablume/Fapesp, 2008), Martin Luther King (Salesiana, 2007), Gandhi (Salesiana, 2006).
JARDIM DE HAIJIN. Alice Ruiz S. Ilustrações Fê. Editora Iluminuras. 64 páginas.
Além da métrica conhecida e do kigo, o haicai é dividido em duas partes e deve registrar uma vivência ou resgatar uma memória de seu idealizador, tendo como cenário a natureza. Despidos do rigor da métrica, os haicais de Alice Ruiz que integram o livro Jardim de Haijin formam uma ciranda de poemas vivenciados, como ela mesma cita, nos jardins dos amigos. Mas há outros que surgiram em ocasiões diferentes.
Seja um Memaijin, assine o Jornal Memai Sim, aceito assinar o Jornal Memai por um ano - quatro edições - R$ 25,00 (vinte e cinco reais) a ser depositado na Conta de Marilia Kubota - Caixa Econômica Federal - Ag. 370 - Conta corrente 9357-3.
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MEMAI passeio no Ibirapuera uma cerejeira florida interrompe a conversa Com grande percepção e técnica, Alice compõe haicais cheios de sensações, imagens e leveza, de linguagem simples e insinuante, em sintonia com a natureza. Entre o permanente e o transitório, o poema nasce e se funde, é sentido e não intelectualizado. As lentes são voltadas para o que está ao redor e não para o sentimentalismo. O profundo é a simplicidade. paineira na chegada ainda mais florida no dia da saída Dentro desse universo, o livro ganhou cores alegres que brincam com os poemas através das ilustrações de Fê. A relação entre um haicai e uma imagem deve ser sutil, e é o que acontece. Há muita harmonia e diálogo entre palavras e cores, há uma brincadeira para a qual o leitor é convidado. vento no bambuzal por todos os lados portas que se abrem O haicai já é centenário em terras brasileiras, apesar disso muitos autores escrevem seus poemas de três versos e os chamam de haicai. A curitibana Alice Ruiz, que no ano passado ganhou o Prêmio Jabuti pelo livro de poesia Dois em Um, sabe muito bem escrevê-los. Ao folhear o livro, os haicais saltam livres à nossa leitura, livres para serem haicais. (Álvaro Possetl é professor de língua portuguesa e revisor de texto. Desde 1993 ensina haicai para todos os seus alunos)
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AUTOBIOGRAFIA CORRIDA Do que eu falo quando eu falo de corrida Haruki Murakami, tradução de Cássio de Arantes Leite. Editora Alfaguara. 150 páginas.
Neste livro, um dos poucos títulos de não-ficção de sua obra, o celebrado escritor Haruki Murakami fala sobre sua experiência com a corrida. Quando decidiu tomar a literatura como profissão, em 1982, Murakami vendeu seu bar de jazz em Tóquio e começou a correr. Com romances traduzidos em 38 países, Murakami tornou-se um fenômeno literário., é considerado um dos autores mais importantes da atual literatura japonesa. Paralelamente, Murakami transformou-se também em um experimentado maratonista e um triatleta. Do que eu falo quando eu falo de corrida retrata sua trajetória como maratonista. Murakami fala sobre os momentos chave em que decidiu se tornar escritor, passando por seus grandes triunfos e desapontamentos, por sua paixão por LPs, sua relação com os leitores, até o incansável ritual que estabeleceu para escrever e correr. Murakami estabelece pontos comuns entre a corrida e a escrita, como o desenvolvimento da concentração e perseverança para atingir objetivos, além de ambas as atividades serem características de personalidades com forte caráter individualista. Murakami nasceu em Kyoto, no Japão, em janeiro de 1949. Cresceu em Kobe e se graduou na Universidade Waseda, em Tóquio. Viveu por quatro anos nos Estados Unidos, onde deu aulas em Princeton, e regressou ao país natal em 1995. Recebeu importantes prêmios, como
o Yomiuri — que já foi concedido a autores como Yukio Mishima, Kenzaburo Oe e Kobo Abe — e, recentemente, o Franz Kafka Prize. (Divulgação) DESVENDANDO O MITO DO SAMURAI Peregrinos do Sol - A arte da espada samurai - Luiz Kobayashi. Editora Estação Liberdade. 360 pág.
Do emblemático Miyamoto Musashi, eternizado na literatura por Eiji Yoshikawa, em mangás, no cinema e em outras artes, a figura do samurai é um arquétipo que transcendeu o imaginário japonês. Seja pela recriação de um Kurosawa, ou de um Takeshi Kitano, o guerreiro japonês é encarnado em diversas facetas, ora como fora-de-lei, ora como um justiceiro cego. Peregrinos do Sol – A arte da espada samurai, de Luiz Kobayashi, lança sobre os mitos que cercam a figura do samurai um olhar de estudioso e praticante de artes marciais japonesas, que dá ao leitor a oportunidade de se aprofundar no assunto. Retraçando a história da esgrima no Japão, a obra se apoia em documentos — alguns deles extremamente raros — traduzidos pelo autor no período em que viveu naquele país. O estudo contempla os samurais famosos, o que há de real e o que há de mítico em torno de suas trajetórias, bem como os estilos e as técnicas que os compõem. Kobayashi ainda retraça o percurso da prática de kendô no Brasil, desde os primeiros mestres até os dias atuais. (Divulgação) O AUTOR Doutor em engenharia pela Universidade de São Paulo, Luiz Kobayashi é praticante de diversas artes tradicionais japonesas. No Japão, recebeu instruções diretamente de renomados mestres. Organizou uma biblioteca pessoal com transcrições de escritos (alguns extremamente raros), estudos, compilações e discussões de especialistas japoneses sobre as artes marciais tradicionais, com ênfase para a esgrima japonesa. Atua como pesquisador da história do kendô no Brasil, tendo textos publicados em diversas revistas especializadas, como a Kendo Nippon e a Kendo World.
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MEMAI VIDA
A IMPORTÂNCIA DE TER VERTIGEM
Existem sonhos capazes de nos transformar em versões melhores de nós. E esse caminho, apesar de difícil e tortuoso, pode nos conduzir ao encontro de pequenos pontos de luz disfarçados de amigos.
por Lina Saheki
Este ano o JORNAL MEMAI completou 1 ano. Ao pensar nisso, não consigo deixar de sorrir. É maravilhoso ver cada edição crescendo, tomando forma, criando identidade. Uma identidade rica e híbrida, que tem a cara de seus colaboradores e leitores. Somos um coletivo de autores, descendentes e não-descendentes de japoneses, unidos pelo ideal de difundir a cultura japonesa e, num plano mais amplo, a cultura do Extremo Oriente. Não por imaginar tal cultura superior a qualquer outra, mas por amá-la e por acreditar que o conhecimento e o reconhecimento do outro - japonês, italiano, polonês, alemão etc. - é um passo fundamental para o diálogo cultural. Desde o início, quando o jornal era apenas uma idéia, pensamos num veículo voltado para um público maior (não somente para nipodescendentes), formado por aqueles que manifestassem afinidade com a cultura japonesa. Mais ainda, sonhamos poder, pelas letras e pelo afeto para com a cultura, despertar essa afinidade. Queríamos tornar mais acessíveis a informação e a linguagem sobre algumas chaves de compreensão da cultura japonesa. Para isso, contamos com nossas próprias experiências e amizades. No JORNAL MEMAI, cada um, à sua maneira, vive a cultura japonesa em seu dia-a-dia.
Na equipe fixa temos a escritora Marília Kubota (que lançou há pouco o livro Retratos Japoneses no Brasil), a artista plástica Sandra Hiromoto (que foi expor obras sobre o tema no Japão), a jornalista Mylle Silva (que promove a cultura pop no Portal Tadaima) os ilustradores Guilherme Match (criador do personagem Chibi Seto) e Simonia Fukue Nakagawa (especialista em gravura japonesa e mangá), a atriz Patrícia Kaminagakura (que escreveu, dirigiu e encenou uma peça sobre lendas japonesas), a pesquisadora Suzana Tamae Inokuchi (que estuda a obra do cineasta Akira Kurosawa). E temos outros, como o designer Raphael Faria Kruger, a haicaista Teruko Oda, o fotógrafo Gustavo Morita e nossos anunciantes, que amam o suficiente a cultura japonesa para concretizar nosso sonho Não podemos esquecer os grandes amigos que se dispõem a escrever, comentar, contar, ilustrar e fotografar., para que cada número seja mais que um.
Cada um de nós luta para concretizar esse sonho que é o jornal: uma vertigem de sonhos. Em japonês, “vertigem” é “memai” (眩暈) – e tornou-se a nossa vertigem, prenhe de “frios na barriga”. Ao reler o segundo ideograma de memai (暈) me ocorre que ele é formado pelo ideograma de sol 日e de veículo, automóvel -車, realizando o sentido de órbita, anel, coroa (em sentido astronômico)? Chego à conclusão de que orbitar o astro-rei provoca uma dose mínima de vertigem, e de que só um sol é capaz de atrair e reter tanta gente boa em sua órbita. Sempre digo a meus alunos que a grande pergunta a se fazer diante de um projeto não é se vai alcançálo, mas se vale a pena lutar. Existem sonhos poderosos capazes de nos transformar em versões melhores de nós. E esse caminho, apesar de difícil e tortuoso, pode nos conduzir ao encontro de pequenos pontos de luz disfarçados de amigos. Assim, ao lado de vários novosvelhos-amigos, nosso pequeno grande jornal vai se formando, semeando sonhos e contando um pouco de nossas experiências. Quem sabe, afinal, aonde poderão ecoar? Que novas historias e trajetórias vão somar em seu segundo ano? Nós, certamente, não sabemos, apenas estamos siderados. E vivemos a vertigem. ▀ Lina Saheki (lsaheki@gmail.com) é Diretora do Centro Cultural Tomodachi, professora de japonês e mestre em Direitos Humanos.