Relação entre Opinião Pública e Comunicação Estratégica - 1º Exercício - SPC

Page 1

Sociologia Política e Comunicação Docente: Professora Doutora Paula do Espírito Santo Discente: Joana Venceslau de Sousa, nº 219816 ●

Averigue a relação entre opinião pública e comunicação estratégica.

O presente trabalho tem por base matérias lecionadas na aula de 22 de Fevereiro de 2018 no âmbito da unidade curricular de Sociologia Política e Comunicação e discutidas na 6.ª Edição do Seminário de Diplomacia para o Século XXI, dedicada ao tema “Comunicação Estratégica e Diplomacia Empresarial”. Por forma a averiguar a relação entre “opinião pública” e “comunicação estratégica”, torna-se necessária uma clara definição dos conceitos e do contexto em que surgem. A opinião pública surge nas primeiras décadas do século XX enquanto sintoma democrático e perdura, a partir desse período, enquanto necessidade de medir a opinião dos cidadãos em contexto político (Espírito Santo, 2011). Espírito Santo (2011) analisa a opinião pública tendo em consideração os dois termos que a constituem. A autora considera que por ‘opinião’ “deve entender-se a formulação de um juízo que supõe algum reflexão e possibilidade de sustentação” (p. 39) e que o adjetivo ‘pública’ se deve entender como a possibilidade da “opinião ser ‘publicitada’ ou ‘publicada’” (p. 40) ou “emitida por parte de um público ou de públicos”. Nesse sentido, Espírito Santo (2011) infere que a “expressão opinião pública aplica-se aos juízos decorrentes de comunidades ou grupos restritos de participantes” (p. 40), que podem ser identificados como estereótipos (Lippmann, 1922). Augras (1980, citado em Espírito Santo, 2011) destaca três ordens de fatores que influenciam a construção da opinião pública: a) psicológicos, que são interpessoais e se referem “à formação de atitudes e opiniões, motivações e mecanismos de defesa” (p. 28); b) sociológicos, que se desenvolvem a nível social e se direcionam “para a construção de atitudes de grupo” (p.28); e c) circunstanciais, que se registam ao nível histórico e reportam “aos acontecimentos que desencadeiam a consciencialização da opinião pública” (p. 28). Espírito Santo (2011) infere ainda que a opinião pública deve ser entendida tendo em conta o seu contexto histórico, político e social, assumindo a sua condição “sine qua non” (p. 28), isto é, sem a qual não 1


pode existir. Sauvy (1977) acrescenta que a opinião pública assume um papel semelhante ao de um árbitro, uma consciência, um tribunal desprovido de poder político mas temido, com a capacidade de sentenciar. No campo político, Matteucci (2004), à semelhança de Espírito Santo (2011) refletiu acerca da expressão “opinião pública” tendo em atenção os termos que a compõem. Por um lado, “opinião”, que é sempre discutível, muda com o tempo e permite a discordância. expressando mais juízos de valor do que juízos de facto; por outro, ao ser “pública” e, portanto, ao pertencer ao universo político, torna-se mais conveniente considerar “opiniões” no plural, uma vez que esse universo não suporta apenas uma verdade política. Também a Professora Doutora Sónia Sebastião inferiu, no decorrer da Conferência, que, no âmbito da Comunicação Estratégica, considera mais adequada a utilização do termo “opiniões públicas”, uma vez que nos debruçamos sobre públicos fragmentados e não sobre um único público. Por seu turno, a comunicação estratégica integra “as estratégias de ação e de relação – vontades, expectativas e condutas dos grupos – utilizando meios e mensagens para conduzir e impulsionar o fortalecimento da cultura e dos objetivos organizacionais” (Oliveira, 2003, p. 6) e atua para “produzir sentidos, dar significado e difusão às ações organizacionais” (Oliveira, 2003, p. 5). Cabestré, Graziadei e Filho (2008) defendem que a comunicação estratégica surgiu na sequência de um fenómeno de globalização económica, o que levou as organizações a deixar de encarar a comunicação empresarial como a solução a “ser accionada em situações de emergência para se inserir como um sistema estratégico fundamental para auxiliar a organização a atingir (...) metas e (...) otimizar relações interpessoais, essenciais para o sucesso” (p. 48). Os autores inferem ainda que, para ser estratégica, a comunicação empresarial deve atuar em conjunto com “os objetivos globais da organização e deve contemplar a política vigente na empresa” (p.49). Sabbatini (2008 citada em Cabestré, Graziadei e Filho, 2008) considera que “a comunicação organizacional integrada e estratégica deve contemplar tanto as expectativas como as exigências dos diferentes públicos que interagem com a organização” (p. 50). Também Grunig (2003) defende que, no panorama organizacional, o relacionamento da organização com o(s) seu(s) público(s) deve possuir consequências mútuas, pois é “nesse momento que

2


um grupo de indivíduos se converte num público ativo e estratégico e não meramente numa audiência passiva” (p. 83). Assim, a opinião pública, ou opiniões públicas, segundo advogam Matteucci (2004), Espírito Santo (2011) e a Professora Doutora Sónia Sebastião, constituem um dos elementos a que se deve atender aquando da produção de diagnósticos no âmbito da comunicação estratégica. Isto significa que é necessário ter em conta as diversas opiniões (públicas) para que seja possível redigir uma mensagem adequada aos diversos públicos e, consequentemente, procurar estimular a compra, mudar de atitudes - “fatores psicológicos” (Augras, 1980, citado em Espírito Santo, 2011) -, “conduzir e impulsionar o fortalecimento da cultura e dos objetivos organizacionais” (Oliveira, 2003, p. 6).

Referências Bibliográficas Cabestré, S. A., Graziadei, T. M., & Filho, P. P. (2008). Comunicação estratégica, sustentabilidade e responsabilidade socioambiental: um estudo destacando os aspectos teórico-conceituais e práticos. Conexão-Comunicação e Cultura, 7(13). Espírito Santo, P. (2011). Sociologia Política e Eleitoral (2ª ed.). Lisboa: ISCSP Grunig, J. E. (2003). A função das relações públicas na administração e sua contribuição para a efetividade organizacional e societal. Comunicação & Sociedade, 24(39), 67-92. Lippmann, W. (1922). Public opinion. New Jersey: Transaction Publishers. Matteucci, N. (2004). Opinião pública. Dicionário de Política 2 (pp. 842-845). Brasília: Universidade de Brasília. Oliveira, I. L. (2003). Novo sentido da comunicação organizacional: construção de um espaço estratégico. XXVI Congresso anual em Ciência da Comunicação. Brasil Sauvy, A. (1977). L’Opinion Publique. Paris: PUF.

3


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.