Revista Intellectus - Setembro 2013

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intellectus

COPYLEFT An o 2

N ú m e ro 1 5

S e t e m b ro 2 0 1 3

Tri m e s tra l

C i ê n c i a e Te c n ol og i a


Índice...

I n te l l e c tu s n º 1 5 . . .

Mentes Geniais pá g .

Bibliografias pá g .

8

4

Efeito Nocebo pá g .

15

Copyleft e Projeto GNU pá g .

intellectus

28

2


Sugestões... startpage.com Trata-se dum motor de busca que prima pela privacidade, ao contrário, p. ex., do Google e Yahoo que mantém registos de IPs associados às respetivas pesquisas. Por isso, não é necessário estar 'algemado' aos motores de busca mais conhecidos, pois estas novas soluções como startpage.com garantem igual qualidade de busca por conteúdos, a par da privacidade.

iheartubuntu.com é um site com muito boa informação acerca das novidades que vão estando disponíveis para o sistema operativo Ubuntu (um tipo de distribuição de Linux). Take a look!!

'The Trap' documentário transmitido pela BBC no ano de 2007 sobre o conceito de liberdade e de como tem sido distorcido pela sociedade moderna. Embora sejam 3 episódios de cerca de 58 minutos cada, vale mesmo a pena ver.

Intellectus: Ficha Técnica

Diretor: Tiago Carvalho. Redação/Colaboradores: Cristina Barreiro, João Carvalho, Magda Lomba, Flávio Távora, Vânia Costa, José Francisco Alves, Samantha Alves, Ricardo Vieira, Ricardo Serrado, Rui Leandro Ferreira, Andreia Carmo, Josué Carvalho, Isabel Alentejeiro, Luís Carlos Matos, Miguel Barroso, Filipe Costa, Sérgio Fontinhas, Rogério Marques, Carla Vieira, Alzira Sousa, Dario Figueira. Paginação: João Carvalho, Tiago Carvalho. Proprietário: Cientificamente ­ Associação para a Divulgação da Ciência e Promoção do Desenvolvimento Intelectual. Pessoa Coletiva: 510421814. Editor: Tiago Jorge Lima Carvalho. Redação e Administração: Rua Pereira da Cunha, 4940­542, Paredes de Coura, PORTUGAL. Telefone: 938524887. Email: 4intellectus@gmail.com. Registo ERC: 126149.

intellectus

3


mentes

intellectus

4


geniais intellectus

5


Da Vinci 1452­1519: Conhecido pelo arquétipo de "Renaissance Man" (homem do Renascimento), da Vinci foi um brilhante

astrónomo, pintor

e

anatomista,

engenheiro,

escultor.

arquiteto, inventor,

Talvez

mais

conhecido por pintar "Mona Lisa", o facto

é

que

os

cadernos

de

apontamentos de Leonardo Da Vinci ­ que chegaram até nós ­ demonstram detalhes

de

máquinas

voadoras,

anatomia humana e o primeiro robô da história: provas evidentes da sua enorme

capacidade

extremamente abrangente.

intelectual

tinyurl.com/leo­vinci­pubs | tinyurl.com/leo­vinci­alma

Stephen Hawking

1942­Presente: Nascido no 300 º aniversário da

morte de Galileu, Stephen Hawking forneceu evidências matemáticas, assumindo a teoria geral da

relatividade como correta, sobre a teoria do Big Bang, que explica a origem do Universo. Isto implicava que buracos negros vão desaparecendo, unificando a Relatividade Geral e Teoria Quântica.

hawking.org.uk | tinyurl.com/bhole-explor intellectus

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Nikola Tesla

1856­1943: Nikola Tesla inaugurou a era da

energia elétrica e é considerado como um dos maiores cientistas da história da ciência. Ele desenvolveu o motor de indução, a lâmpada fluorescente e criou a corrente alternada, que ele

provou ser segura por passagem através de seu corpo. Este genial cientista foi o principal fundador da sociedade tecnológica atual.

Henrietta Swan Leavitt

1868­1921: Conhecida como uma das "computadores"

mulher que trabalhavam no Harvard College Observatory, Leavitt catalogou mais de 1500 estrelas das galáxias Nuvens de Magalhães. Ela notou que estrelas mais brilhantes levavam mais tempo a variar no seu brilho e, daí, usou essa observação para desenvolver um método para medir a distância relativamente a qualquer objeto do Universo, a partir do ponto de observação em que nos encontramos.

Johannes Kepler

1571­1630: Matemático talentoso, astrólogo e astrónomo Kepler

foi uma figura­chave na Revolução Científica do século XVII. Estabeleceu as leis do movimento planetário, descreveu a refração no olho humano e melhorou o telescópio. Nunca é demais falar de Kepler, pois "acordou a Europa do profundo sono da ignorância". intellectus

teslasociety.com | tinyurl.com/jkepler-first

7


REVISテグ BIBLIOGRテ:ICA intellectus

8


N

Maior lucidez? Ricardo Vieira ricardarv@gmail.com

"Busca fora dos livros, dentro de ti" DeRose

em sempre a busca pelo aprimoramento deriva de um problema. Antes, provém de

uma necessidade interna, o crescimento pessoal, na criação, gradual, de versões melhoradas de nós próprios. Como um

Relacionamentos

atleta tenta conhecer em pormenor cada tópico do seu jogo, ou como se procura

compreender com detalhe o funcionar dum

Homens são de Marte, Mulheres são de

planta, esse direcionamento de energia para

Women Are from Venus), do autor John

automóvel, dum micro­ondas ou duma o

próprio

indivíduo

denomina­se

de

autoconhecimento. Nesse ramo, muitos dos

livros no mercado mais confundem ou prejudicam do que instruem, no entanto, uma mão cheia deles impulsionam essa

catalisação. São de seguida apresentados alguns livros, com temas variados e leitura simples,

recomendados

pelo

seu

interessante conteúdo e caráter didático, nesse caminho a uma cada vez maior lucidez.

intellectus

Vénus (título original: Men Are from Mars, Gray, escritor norte­americano, publicado em 1992, apresenta um conteúdo sobejo como “guia prático para melhorar a

comunicação e conseguir o que quer nos

seus relacionamentos”. No manual são abordadas

diversas

metodologias

que

potencializam um relacionamento saudável e

duradouro,

valorizando

atitudes

de

parceria entre o casal, um win­to­win situation. Desde como efetivar uma boa

comunicação, compreendendo as diferenças

9


"Conseguir o que quer nos seus relacionamentos"

John Gray

na terminologia que cada género utiliza, expondo as formas de motivar o sexo oposto,

terminando

em

como

saber

comunicar sentimentos difíceis e manter um

relacionamento vivo “com a magia do amor”.

Um

excelente

manual

que,

descodificar

os

ressalvando as diferenças entre os dois géneros,

permite

comportamentos emocionais conjugais e

transformá­los em formas de agir mais assertivas.

Como fazer amigos e influenciar pessoas

(título original: How to win friends and influence

people),

algumas

dezenas

de

Dale

Carnegie,

publicado em 1936, e que conta já com publicações,

em

de

algumas

milhões

dezenas

de de

idiomas. O seu objetivo primeiro será o de

compreender melhor o ser humano e as formas de proceder delicada e eficazmente

por entre os demais, maximizando o potencial de cada relacionamento, o seu potencial como líder e como pessoa na

sociedade. Dali Carnegie, conviveu com

"Desde a prática da não-crítica, à de motivar o outro através de apreciações sinceras"

intellectus

pessoas como Eleanor Roosevelt, Abraham

Lincoln, Henry Ford, entre outros grandes nomes e apresenta, neste manual, uma

reflexão sobre comportamentos humanos. Desde a prática da não­crítica, à de motivar o outro através de apreciações sinceras e

assertivas, o colocar­se na cabeça do outro tentado compreender melhor a outra versão dos

acontecimentos,

são

alguns

dos

conceitos, de senso comum, mas que muitas

vezes são esquecidos. Poder­se­á considerar como

um

manual

básico

de

relacionamentos humanos (versão em pdf: tinyurl.com/ganhar­amizades).

Linguagem corporal (título original:The

definitive book of body language), de Allan e Barbara Pease, publicado em 2004. Este é

um dos outros livros de revisão e reflexão

10


Dale Carnegie

de constatações empíricas que poderá

“nem tudo é o que parece” e desenvolvem,

identificar comportamentos alheios, como

relacionam gestos com estados emocionais,

auxiliar em muitas situações, tanto para para compreender os seus próprios gestos e

qual o impacto desses nos outros. A estrutura e forma do livro estão muito bem conseguidas, organizando um admirável conteúdo numa linguagem simples e com numerosas

ilustrações

exemplificativas.

Allan e Barbara Pease iniciam o manual com uma introdução básica, expondo que

intellectus

em crescendo, inúmeros outros tópicos que

como ler corretamente os gestos dos outros, identificar sinais de mãos e dedos, de

braços, de olhos, de pernas, como espelhar comportamentos

e

criar

rapport,

compreender diferenças culturais, gestos de atração

e

espaço

vital,

situações

de

entrevistas e jogos de poder, entre muitos outros tópicos de elevado interesse e real

11


"“nem tudo é o que parece” e desenvolvem,"

aplicabilidade. Um livro a gesticular num próximo investimento literário.

Parentalidade

Más maneiras de sermos bons pais, de Eduardo Sá, de 2008, é uma obra de leitura fácil que provoca uma reflexão que refunda

a forma como abordamos a educação infantil. Eduardo Sá, um psicólogo infantil, apresenta uma compilação de pensamentos

preenchidos de saber. Variados temas são apresentados, como a redescoberta da

família, os direitos da criança e dos pais, os grandes amigos dos pequenos, entre muitos outros. O autor evoca o paradoxo que

mentir é bom, que é bom também que as

crianças brinquem mais do que estudem, ou que sonhem acordadas e mesmo que

Gary Chapman

"adultos (pai e mãe) saberão falar a linguagem de amor dessa criança."

tenham más maneiras com os pais. Em

of Children), de Gary Chapman e Ross

prescindindo duma educação governada por

outro livro do portfólio dos recomendados

suma,

um

livro

que

mostra

que

rígidas repressões e opostamente por liberalismo perceber,

despreocupado, lidar

comportamentos,

e

é

possível

transformar

acompanhando

o

crescimento saudável da criança até o seu estado adulto. Um livro que recorda­nos um

mundo outrora nosso, o das crianças. As 5 linguagens de amor da criança (título original: The Five Love Languages intellectus

Campbell, publicado em 2010, será um para quem pretende ser um parente

assertivo. No livro são apresentadas 5 linguagens de amor (palavras de apreço, presentes, tempo de qualidade, servir e

contacto físico) que servirão como formas

de encher do pote de amor dessa criança e, como resultado último, da sua harmonia emocional. Cada ser humano tem uma razão diferente do tipo e quantidade de

amor que gosta de receber, defende Gary 12


pensamento contemporâneo. Uma cultura de

pensamento

antropocêntrico

que

influencia desde a religião à própria ciência, colocando o ser humano num destaque

Ed u a rd o S á

ilusório na sua superioridade sobre as espécies e sobre a própria natureza. Um

"que as crianças brinquem mais do que estudem"

manual marcado pela sua extravagante, direta e fria abordagem à condição humana. No seu conteúdo pode encontrar­se temas

que vão desde a miragem da evolução

Chapman, o mesmo acontece com as crianças. Sabendo isso, o identificar do que

precisa essa criança será facilitado e, assim, os adultos (pai e mãe) saberão falar a

linguagem de amor dessa criança. Um livro que proporciona a incorporação de diversas

ferramentas práticas, como o recorrer preferencialmente sempre às formas mais

positivas de instrução, disciplinar com amor (incondicional), melhor lidar com a própria

consciente, o porquê da humanidade não conseguir nunca controlar a tecnologia, os fundamentalismos religiosos e científicos, a

moral como superstição, paraísos artificiais, entre muitos outros tópicos. Uma leitura acompanhada seguramente de inquietação e reflexões mais aprofundadas. Com esta abordagem

filosófica,

John

N.

Gray

descarta o último trunfo sobre a visão humanista fundamentalista.

raiva da criança, treinar no processo de

maturação, entre outros vários tópicos. Marca com uma frase última que uma boa

educação deverá ser sempre firme, mas agradável.

Pensamento Filosófico Sobre humanos e outros animais (título original: Straw Dogs: Thoughts on Humans and Other Animals), de John Nicholas Gray, um escritor britânico, publicado em

2002. Neste livro, John N. Gray identifica o humanismo liberal como causa primária dos dogmas

percorrem intellectus

e

paradigmas

e

vigentes,

influenciam

todo

que

um

John Nicholas Gray 13


DeRose

"relembra-nos o quão importante é tornarmo-nos responsáveis pelas nossas atitudes,"

Quando é preciso ser forte, do escritor DeRose, de 2007, é um livro que percorre toda

uma

experiência

transformadora

caracterizada por altos e baixos que transformaram um homem num arquétipo a admitir. Este livro marca a existência de outras opções para a perceção e forma de estarmos

no

mundo.

Uma

redação

autobiográfica onde se aprende conceitos de

uma filosofia ancestral, com características

matriarcais, sensoriais e não repressoras. Onde

intellectus

o

leitor

poderá

sentir

cada

experiência, nas diferentes fases da vida de

DeRose, da sua jornada pela América, Europa e Ásia. Num diálogo amigável que

conecta o leitor ao autor, e de onde se extrai o prazer de uma conversa longa e intemporal, variando entre momentos de comédia e drama, à transcendência de

desafios quotidianos e a maturação como homem, relacionamentos pessoais e enlaces

duma vida única e especial. Num momento onde

a

inspiração

de

grandes

personalidades é fundamental, DeRose, num livro didático e inspirador, relembra­ nos o quão importante e diferenciador é

tornarmo­nos responsáveis pelas nossas atitudes, assumindo a controlo da nossa

.

vida e o quanto isso influencia o nosso progresso e o de quem nos rodeia

14


Efeito

NOCEBO intellectus

15


NOCEBO vs PLACEBO

A

Compreender o efeito 'nocebo' pode ajudar

"As expectativas podem fazer-lhe mal. O medo pode fazer com que você seja frágil. Compreender o efeito 'nocebo' pode ajudar a evitar este doloroso fenómeno."

estranho estava a acontecer na Nova

a droga ou a doença, incluindo a dor ocular

s expectativas podem fazer­lhe mal. O

medo pode fazer com que você seja frágil. a evitar este doloroso fenómeno. Algo Zelândia. No outono de 2007, as farmácias de todo o país começaram a distribuição de uma nova fórmula de Eltroxin, a única droga de reposição hormonal da tiróide

aprovado e pago pelo governo e utilizado por dezenas de milhares de neozelandeses desde 1973. Dentro de alguns meses, os relatórios de efeitos colaterais começaram a chegar à agência

de monitorização dos

cuidados de saúde do governo. Estas

incluíam os efeitos colaterais conhecidos do fármaco,

articulares, intellectus

tais e

como

letargia,

depressão,

bem

dores

como

sintomas não normalmente associados com

e náuseas. Então, no verão seguinte, as

comportas abriram­se: nos 18 meses após o lançamento das novas fórmulas, a taxa de

efeitos adversos relatados, pelo uso do novo Eltroxin, aumentou quase 2000 vezes. O

estranho é que o ingrediente ativo na droga, tiroxina, era exatamente o mesmo. Testes de laboratório

mostraram

que

a

nova

formulação era (bio) equivalente à anterior. A única mudança foi que a farmacêutica mudou seu local de fabrico do Canadá para

a Alemanha e no processo alterou as

caraterísticas inertes da droga, incluindo o 16


"Após ampla cobertura do assunto, mais e mais pacientes relataram eventos adversos."

tamanho e a cor dos comprimidos. Então, o porquê das pessoas terem ficado doentes? Em junho, aconteceu que, os jornais e

emissoras de TV de todo o país começaram

a atribuir diretamente os efeitos adversos relatados com as mudanças na droga. Após ampla cobertura do assunto, mais e mais pacientes relataram eventos adversos. E as áreas do país com a cobertura dos média mais intensa tiveram as maiores taxas de

efeitos adversos relatados, sugerindo que,

"um pouco de persuasão social estava em jogo."

talvez, um pouco de persuasão social,

bastante comum: expetativas negativas

não estava a fingir os seus sintomas. Os

pessoas com e sem intolerância à lactose

estava em jogo. Mas quem tomava Eltroxin sentimentos foram reais, mas na grande maioria

dos

casos,

não

podiam

ser

atribuídos a propriedades farmacológicas da

droga. Os pacientes foram vítimas do efeito nocebo. "Nocebo" (que significa "Eu vou prejudicar") é o irmão mais covarde de placebo ("Eu vou favorecer"). Em resposta ao

placebo,

procedimento

uma

placebo

medicação

têm

um

ou

efeito

benéfico à saúde como resultado da expetativa dum paciente. Comprimidos de

açúcar, por exemplo, podem melhorar fortemente a depressão, quando o paciente

acredita que eles sejam os antidepressivos. Mas os investigadores estão a compreender o fenómeno inverso, notando que também é intellectus

podem realmente causar danos. Quando as foram convidados a ingerir lactose, sendo na realidade administrado glicose, 44 % das

pessoas com intolerância à lactose e 26 por cento

das

pessoas

sem

tolerância,

queixaram de dor de estômago. Os homens tratados por causa do aumento da próstata com uma droga comummente prescrita e

informados que a droga pode causar disfunção erétil, diminuição da libido e

problemas de ejaculação, mas que estes efeitos eram incomuns, tiveram duas vezes mais probabilidade de ter episódios de

impotência do que aqueles que não foram tão informados. Tudo indica que um psicoefeito tratamento

negativo

simulado

causado com

por

base

um em 17


expetativas dum paciente é um processo bioquímico e fisiológico real, envolvendo caminhos da dor e de stress cerebral. E

evidências indicam que o efeito nocebo está a ter um impacto negativo substancial sobre a investigação clínica. "Nocebo é

pelo menos tão importante como o efeito placebo e pode ser mais generalizado", diz

"evidências indicam que o efeito nocebo está a ter um impacto negativo substancial sobre a investigação clínica."

Ted Kaptchuk, diretor do Programa de

Harvard em Estudos Placebo no Beth Israel Deaconess Medical Center, em

Em

fenómeno pernicioso está a começar a

Universidade de Turim, em Itália, andava

Boston, Massachusetts. Agora que este receber o reconhecimento que merece, a pergunta é: O que pode ser feito acerca disso?

intellectus

1997,

Efeitos maléficos Fabrizio

Benedetti,

um

neurofisiologista da Escola Médica da ocupado

mapeando

os

caminhos

bioquímicos envolvidos na resposta placebo quando realizou um estudo simples que

18


"Quando o soro foi injetado os pacientes apresentaram um aumento da dor. Isto era efeito nocebo."

revelou um mecanismo neural distinto: a

resposta nocebo do corpo. Ele administrou com consentimento dos seus pacientes ­ no pós­operatório ­ uma injeção, sendo que eles foram informados de que aumentaria a

sua dor em aproximadamente 30 minutos. A injeção

continha

simplesmente

soro

fisiológico. Quando o soro foi injetado os

pacientes apresentaram um aumento da dor. Isto era efeito nocebo. Assim, Benedetti

intellectus

finalmente convenceu o médico Howard Brody que o efeito nocebo ­ supostamente mencionado pela primeira vez na literatura

científica, em 1961, pelo médico Walter Kennedy, que chamou o fenómeno de

"qualidade inerente ao paciente em vez do remédio"­ era real. "Por muitos anos, eu demiti o valor do termo nocebo", diz Brody (Universidade do Texas). Começou pela primeira vez a estudar o efeito placebo na

década de 1970, em colaboração com outros médicos, assumindo há bastante

tempo que nocebo e placebo eram como dois lados da mesma moeda e que o mesmo processo no cérebro suportava os dois efeitos

ilusórios:

um

manifestava­se

positivamente, enquanto o outro causou

19


"há bastante tempo que nocebo e placebo eram como dois lados da mesma moeda"

danos. Porém depois de ler a obra de

Benedetti, Brody mudou de tom: "Eu recebi o meu castigo" (rindo­se). Com esta primeira

evidência

começaram

também

bioquímica, a

outros

reconhecer

a

importância do efeito nocebo e algumas

mentes curiosas começaram a estudá­lo mais aprofundadamente. No entanto, em

comparação com placebo, o efeito nocebo continua a ser um ilustre desconhecido: na pesquisa de banco de dados PubMed surge mais do que 163 mil publicações sobre

"placebo" e menos de 200 sobre “nocebo”, sendo apenas alguns estudos empíricos,

ética não me permite fazê­lo", diz Paul

fenómeno placebo conquistou certo fascínio

Tübingen, na Alemanha, "somente que eu

pois a maioria são comentários. "O no seio do público em geral. “É uma coisa mirabolante com resultados positivos; uma

maneira de ser saudável sem tomar drogas", diz Frank Miller (National Institutes of Health).

"Mas

ninguém

está

muito

entusiasmado com o fenómeno nocebo"., segundo, igualmente, Miller. Além disso, o efeito

nocebo

tornou­se

extremamente

difícil de estudar. Poucos membros de

conselhos de revisão institucional permitem

aos cientistas provocar dor em seus pacientes/cobaias e alguns até mesmo se

recusam a deixar os pesquisadores enganar seus voluntários. "A minha comissão de intellectus

Enck,

psicólogo

da

Universidade

de

diga aos sujeitos que estou a enganá­los", uma exigência que, obviamente, vai contra o

propósito

da

experiência/teste". A

“tragédia” desta falta de investigação, afirmam os pesquisadores, é que estudos

controlados sobre o efeito nocebo são necessários para entender melhor e evitar efeitos insidiosos do nocebo sobre a prática da medicina. "Nos ensaios clínicos de

fármacos, o efeito placebo, e agora o efeito nocebo

também,

podem

ser

muito

relevantes", diz Manfred Schedlowski, um pesquisador

clínico

no

Hospital

Universitário de Essen, na Alemanha. "Isto 20


"O efeito nocebo pode também ter um efeito sobre a utilização da vacina."

dificulta o desenvolvimento de novos

medicamentos." Em Dezembro de 2012, por exemplo, uma análise complementar

revelou um grande impacto do efeito nocebo em ensaios clínicos: em 18 estudos

de medicamentos para a fibromialgia, 11 % dos 3546 pacientes que tomaram um

substância completamente inerte, saíram do estudo por causa de efeitos colaterais, incluindo tonturas e náuseas. O efeito nocebo pode também ter um efeito sobre a utilização

da

investigadores

da

vacina.

Em

farmacêutica

2011,

Sanofi

Pasteur analisaram 33 275 relatos de efeitos colaterais de vacinas e descobriram que intellectus

médicos e pacientes, preferencialmente, relataram efeitos secundários específicos da

doença, tais como erupção cutânea, mesmo quando a vacina contém apenas proteínas, açúcares, ou organismos mortos que não causem sintomas da doença. O efeito nocebo tem "grande potencial" para agravar os rumores, medos e causar uma crise

contra as vacinas, similar ao que aconteceu com Eltroxin na Nova Zelândia. Mas o lugar mais comum onde o efeito nocebo faz

uma aparição é em visitas diárias às clínicas e hospitais. "Em lugares como os cuidados primários, as pessoas nadam em efeitos placebo e nocebo", diz Kaptchuk. Thomas D'Amico, chefe de cirurgia torácica da

Duke University Medical Center, em

Durham, Carolina do Norte, diz que mesmo antes de ouvir falar sobre o efeito nocebo, ele estava ciente de que existia na

clínica."Eu ouvi alguns colegas respeitados, 21


dar informações [ao paciente] e eu pensei: 'Inacreditável, eu sei sobre a operação e

mesmo assim fico surpreendido", diz ele. "Há muito detalhe e muito ênfase sobre as

coisas que podem correr mal. "Medir o efeito de tal detalhe num paciente é muito

"o lugar mais comum onde o efeito nocebo faz a sua aparição é em visitas diárias às clínicas e hospitais."

difícil de quantificar, diz ele, mas o medo e

nível de pesquisa e uma sofisticação da

associados com a recuperação no pós­

quantitativo na última década", diz Brody.

a angústia antes duma operação têm sido operatório: processo lento e demora na cicatrização de feridas.

'Porcas e parafusos'

Apesar da quantidade desproporcional de esforço em pesquisa placebo, desde a descoberta por Benedetti em 1997 houve um pequeno aumento no financiamento e

tempo dedicado a investigar os mecanismos por detrás do efeito nocebo, com resultados impressionantes. "Sem dúvida, houve um intellectus

pesquisa que permitiu um salto qualitativo e Em 2008, Kaptchuk e seus colegas de Harvard realizaram o primeiro estudo de

imagens cerebrais do efeito nocebo. Após avisarem os voluntários saudáveis para

esperar a dor em seu antebraço direito, eles

viram como o hipocampo se iluminou como quando as pessoas experimentam a dor de um

dispositivo

"Mesmo

que

de

acupuntura

placebo

e

sham.

nocebo

se

relacionem com expectativas, diferentes mecanismos ativam­se em diferentes pontos 22


neurológicos", diz Tor Wager, diretor do Laboratório

de

Controlo

Cognitivo

e

Afetivo da Universidade de Colorado. No ano

passado,

colaboradores

Kaptchuk

uma

seus

quase

credível na comunidade médica. "Essas

descobriram que o nocebo pode ocorrer

objetivas sobre essas mudanças em relação

reviravolta

operaram

e

"placebo e nocebo relacionam-se com expectativas"

surpreendente,

quando

sem consciência. Sua equipa aplicou ou dor

alta ou baixa de calor para os braços de 20 voluntários enquanto lhes mostravam uma imagem

duma

pesquisadores,

de

então,

duas

faces.

mostraram

Os

aos

voluntários rostos novamente, com faces de expressões

idênticas,

aplicando

calor

moderado em seus braços e, daí, aquando à

exposição aos rostos associados com altos níveis de dor, mesmo sem consciência, os

análises do cérebro forneceram evidências às expectativas", disse Wager. A maioria das

pesquisas

nocebo

até

agora,

concentram­se em mecanismos básicos e

não sobre a forma de lidar com o fenómeno clinicamente. Compreender o mecanismo é importante, mas a comunidade médica

necessita de uma solução para lidar com o problema.

Controlar efeito nocebo

voluntários sentiam mais dor. "Foi uma

Em 1987, uma equipa de médicos de

­ mas ficamos realmente surpreendidos." As

formulários

experiência muito arriscada ­ diz Kaptchuk descobertas

bioquímicas

e

fisiológicas

sobre nocebo tornaram o fenómeno mais

intellectus

Ontário, Canadá, suspeitaram de que os de

consentimento

médico

podem realmente causar danos. Usando a

oportunidade de ocorrência de duas formas

23


"Com o efeito nocebo, os médicos estão 'entre a espada e a parede',"

5 de 156 (3 por cento), que receberam o segundo formulário. Com o efeito nocebo, os médicos estão “entre a espada e a parede”, pois o seu dever médico para

primum non nocere, "Primeiro, não fazer

mal" e a obrigação ética, a par do regulamento de consentimento informado, O problema surge quando induzimos o nosso próprio corpo à doença, através de más expetativas acerca da nossa vida = Efeito Nocebo!

diferentes de consentimento a ser utilizado para o uso de fármacos, eles compararam as reações dos pacientes. A comparação era

entre a aspirina e sulfinpirazona, um medicamento já aprovado para tratar a gota

e também a dor no peito. Pacientes em dois

dos três centros de internamento utilizados, foram informados de que "os efeitos colaterais não são nada mais do que um incómodo

gastrointestinal

ocasional

e,

raramente, erupção cutânea." No terceiro centro, os formulários de consentimento dos pacientes não mencionavam os efeitos gastrointestinais

(GI).

Setenta

e

seis

pacientes do total de 399 (19 por cento), aos

quais tinha sido dado o primeiro formulário de consentimento que mencionava irritação GI

retiraram­se

do

estudo,

citando

problemas GI, em comparação com apenas

intellectus

coloca­os num dilema complexo. O que fazer

quando

a

informação

do

consentimento leva a algo mau? No ano passado, Kaptchuk e a colega Rebecca

Wells, também na Harvard Medical School, provocaram um debate sobre este tema nas

páginas da revista American Journal of

Bioethics. Eles propuseram um meio termo chamado consentimento contextualizado. Eles sugeriram que os médicos podem optar

por não dizer aos pacientes até ao último efeito colateral de um tratamento em grande

detalhe, mas sim fornecer informações ao paciente para controlo do seu nível de

ansiedade, como deixar de fora os efeitos

colaterais não específicos (aqueles que não são

um

resultado

direto

da

ação

farmacológica do medicamento, incluindo dor de cabeça, náuseas e fadiga). Mas a

ideia de não informar os pacientes de todos os efeitos secundários possíveis é um

anátema para alguns especialistas em ética. Tal prática pode promover a desconfiança

no sistema de saúde e derrotar os recentes

24


"o paciente se compromete a desistir do seu direito de informação completa"

esforços

no

transparência. enquadrar­se

sentido

de

uma

Alternativamente

a

informação

maior

poderá

sobre

os

tratamentos de forma positiva em vez do ênfase sobre a parte negativa. Um estudo de

1996 da Universidade de Ottawa, no Canadá,

por

exemplo,

pessoas,

utilizando

descreveu

os

benefícios e riscos de uma vacina para 292 duas

abordagens

diferentes. Aqueles que foram avisados indivíduos

"Com base na minha experiência clínica,

e não têm efeitos colaterais tiveram menos

informações. Mas, infelizmente, enquanto

sobre

as

percentagens

de

vacinados que permanecem livres da gripe

efeitos colaterais, do que aqueles que foram avisados sobre a quantidade de pessoas que

adquirem gripe e têm efeitos colaterais após a vacinação. "Já que estás a transmitir a

mesma informação exata, porque não usar o enquadramento

positivo?",

diz

Miller.

Segundo a técnica proposta por Miller está autorizado a ocultação, em que o paciente se compromete a desistir do seu direito de

informação completa para consentimento, especificamente, optando por não receber informações

sobre

possíveis

efeitos

negativos, na esperança de evitar uma

resposta nocebo. No entanto, com o aumento do acesso à informação disponível

online, a ocultação pode ser mal­sucedida.

intellectus

muitos pacientes vão para a Internet obter especialistas em ética continuam a debater

como equilibrar os efeitos dolorosos do nocebo,

"não

nenhuma

discussão

envolvente na comunidade médica", diz

Kaptchuk. "A maioria dos médicos não sabem o que significa nocebo", concorda YM Barilan, um médico e professor de

educação médica da Universidade de Tel

Aviv, em Israel. Isso não quer dizer que eles não reconhecem o fenómeno." Todos sabem

que a maneira como você fala com um paciente tem uma enorme influência sobre os efeitos colaterais, humor e estado de espírito",

Barilan

nota,

mas

sem

orientações, sobre como lidar com o problema ou mesmo como reconhecê­lo, o

25


(Negativismo é contagioso)

efeito nocebo permanece um espectro de doença que assombra o nosso sistema de saúde.

Alergias e nocebo

"efeito nocebo é um espectro de doença que assombra o sistema de saúde."

De acordo com vários estudos recentes, dor

University

suscetíveis

nocebo sobre coceira pode dar­nos algumas

e

coceira

parecem à

ser

especialmente

sugestão

verbal.

Recentemente, pesquisadores da Holanda

demonstraram que as pessoas que são avisadas que um estímulo irá causar

coceira, sentiram a coceira mais intensa do que aqueles informados de que o estímulo não deve causar coceira. A descoberta pode ter implicações para as condições de

coceira crónica, afirma o primeiro autor

Antoinette van Laarhoven de Radboud intellectus

Nijmegen

Medical

Center.

"Mais conhecimento sobre os efeitos

pistas para reduzir [os efeitos]." Também no ano passado, sobre um estudo de nocebo e dor

retal,

uma

equipa

do

Hospital

Universitário de Essen, na Alemanha, conseguiu recrutar voluntários saudáveis

para passar por várias distensões balão retal, um procedimento no qual um balão é inserido no reto e é lentamente inflado até

ao momento em que se torna doloroso. Os 26


procedimentos eram exatamente os mesmos em grupos de controlo e nocebo, mas houve um

aumento

de

20

por

cento

na

classificação da dor entre os pacientes que

haviam sido informados de que os médicos haviam

observado

um

aumento

na

sensibilidade à dor em resposta a distensões repetidas.

Aqueles

experimentaram

mais

indivíduos dor

que

também

apresentaram níveis elevados de cortisol, novamente ligando nocebo à ansiedade. "Podemos mostrar que um efeito nocebo pode ser induzido até mesmo por mera

informação", diz Sven Benson, um dos autores do artigo. Outra área de saúde que

"Estamos num estado tão primitivo de entender este fenómeno"

os pesquisadores suspeitam que pode ser

alergias a rosas. A mulher, não sabendo que

incidência de alergias. "É certamente

incluindo

afetada por nocebo é o aumento da possível", diz Manfred Schedlowski, que

estuda o placebo e o sistema imunitário no Hospital Universitário de Essen. "A partir de dados experimentais, sabemos que uma

reação alérgica pode ser condicionada."

Num caso muito citado de 1886, John Mackenzie, um cirurgião em Baltimore, descreveu como ele tinha "obtido uma rosa artificial de tal acabamento requintado que se apresentava uma perfeita imitação da original",

em

seguida

expôs

a

flor

falsificada a uma mulher com grave

"de dados experimentais, sabemos que uma reação alérgica pode ser condicionada."

intellectus

era falsa, teve uma reação alérgica, nariz

escorrendo,

narinas

inchadas, e um aperto no peito. Da mesma

forma, pessoas alérgicas a cães podem começar

a

espirrar

quando

eles

simplesmente vêem um cão do outro lado. Pesquisadores têm mostrado que até mesmo os cobaias podem ser condicionados a libertação de histamina, causando uma

resposta imune local, quando se apresentam com apenas um estímulo de odor. Mas a ligação entre nocebo e alergias está longe

de ser algo concreto. "Estamos num estado tão primitivo de entender este fenómeno, especialmente

de

forma

clinicamente

orientada, que precisamos de fazer muitas

mais pesquisas", diz Frank Miller do National

Institutes

of

Health

(USA).

Este artigo foi originalmente publicado em the­ scientist.com e traduzido por Isabel Alentejeiro: tinyurl.com/efeito­nocebo

27


COPYLEFT

... o que é?

intellectus

28


É

"Copyleft garante que cada utilizador tem liberdade."

permite às pessoas partilhar o programa

(software) e os seus melhoramentos com

total liberdade, se assim o quiserem. No entanto, permite igualmente que pessoas

um método generalista de criação dum programa (ou outro trabalho) totalmente livre,

garantindo

que

extensões

e/ou

modificações do mesmo – distribuídas

noutras versões – sejam igualmente livres. O modo mais simples de criar um programa

Free Software (Software Livre) é colocá­lo em domínio público, sem copyright. Isto

intellectus

pouco cooperativas possam converter tal

programa em software proprietário, isto é, num produto não livre: proibição de

partilha e de modificação do programa. Essas pessoas podem usar o software

inicialmente livre e modificando­o muito ou pouco

Linus Torvalds (2009) um vendê­lo/distribuí­lo como

produto proprietário. Desta forma, as

pessoas que recebem ou adquirem o novo

29


software

distribuído

como

software

proprietário, não têm a mesma liberdade

para estudar e modificar o programa, como inicialmente o autor tinha dado, colocando­

o em domínio público; o intermediário retirou­a.

No

projeto

GNU

(projeto

desenvolvido inicialmente por Richard Stallman e tendo agora continuidade no âmbito da Free Software Foundation, em

português, Fundação Software Livre) o nosso objetivo é dar a todos os utilizadores

a liberdade de redistribuir e modificar o

de

retirar essa liberdade, poderíamos ter

liberdade. Copyleft também fornece um

software GNU. Se intermediários pudessem

igualmente muitos utilizadores, mas estes não teriam absolutamente nenhum grau de liberdade sobre o software. Então, em vez

de colocar­se o software GNU em domínio público, criou­se o método "copyleft" para

distribuí­lo. Copyleft refere que qualquer um que distribui o software, com ou sem modificações, tem que garantir a liberdade

intellectus

poder­se

copiá­lo

e

modificá­lo.

Copyleft garante que cada utilizador tem incentivo para que outros programadores se

juntem ao software livre. Programas livres importantes, como o GNU compilador C +

+ só existem por causa disso. Copyleft ajuda também os programadores que

desejam contribuir com melhorias para o software

segurança

livre

a

para

obter

permissão

fazê­lo.

e

Estes

30


"Copyleft ajuda também os programadores que desejam contribuir com melhorias para o software livre a obter permissão e segurança para fazê-lo." proprietário usam o copyright para retirar a

programadores muitas vezes trabalham para

empresas ou universidades que fariam

qualquer coisa para ganhar mais dinheiro, porém

um

contribuir

programador

com

pode

modificações

querer

para

a

comunidade, fora do âmbito empresarial e

académico, sem desejar transformar as mudanças

num

produto

de

software

proprietário. Posteriormente quando se explica

ao empregador que

é

ilegal

distribuir a versão melhorada exceto como software livre, o empregador geralmente

decide liberá­lo como software livre, em vez de desperdiçar esse trabalho. Para

tornar um programa copyleft, primeiro tem

de estar protegido por direito de autor (copyright). Daí adiciona­se termos de

liberdade dos utilizadores, ao contrário do copyleft que usa o copyright para garantir a

sua liberdade. É por isso que o nome usado refere­se a um pequeno trocadilho de "copyright" para "copyleft". Copyleft é uma

forma de usar os direitos de autor sobre o programa. Mas isso não significa abandonar o autor, na verdade, isso tornaria impossível copyleft. A "esquerda" em "copyleft" não é

uma referência ao verbo "deixar". Copyleft é um conceito geral, não podendo usar­se

um conceito geral diretamente, isto é, só poderás usar uma implementação específica

do conceito. No Projeto GNU, os termos específicos de distribuição que usamos para a maioria dos softwares estão contidos na

GNU General Public License. A GNU

distribuição, que são um instrumento legal que dá a todos o direito de usar, modificar e

redistribuir o código do programa, ou qualquer programa derivado dele, mas somente se os termos de distribuição se mantiverem inalterados. Assim, o código e as

liberdades

tornam­se

legalmente

inseparáveis. Programadores de software intellectus

31


General Public License é frequentemente abreviada para GNU GPL. Este tipo de licença “copyleft” serve, na essência, para

proteger as liberdades dos utilizadores dos

softwares ao abrigo de tais licenças, logo o

"Copyleft é o uso do copyright na sua forma mais altruísta..."

copyright aplicado às licenças que aplicam

distribuição e modificação do mesmo. É, na

uso, distribuição e/ou modificação dos

mais altruísta e genuína em prol da

o copyleft não tem o intuito de restringir o softwares abrangidos, mas sim garantir que

empresas e pessoas “gananciosas” não possam servir­se do trabalho já feito – de software livre e de código aberto – para comercializar modificações do software e

assim restringir os utilizadores no uso, intellectus

prática, o uso do copyright na sua forma humanidade, maliciosas

impedindo

para

os

restrições

utilizadores.

"...impedindo restrições maliciosas para os utilizadores."

32


Projeto GNU

por Richard Stallman

Primeira comunidade de partilha de software

Quando comecei a trabalhar no Laboratório de Inteligência Artificial (LIA) do MIT, em 1971, tornei­me parte duma comunidade de

partilha de software que já existia há muitos anos. Partilha de software não se limitava à

"em 1971, tornei-me parte duma comunidade de partilha de software que já existia há muitos anos."

nossa comunidade em particular, era tão

10, um dos grandes computadores da época.

como a partilha de receitas é tão antigo

trabalho era melhorar esse sistema. Não

antigo quanto os computadores, assim

quanto o cozinhar. Mas fizemos mais do que a maioria. O LIA usou um sistema operativo chamado de ITS (Sistema de

timesharing incompatível) que hackers do laboratório tinham concebido e escrito em

linguagem assembler para o Digital PDP­

Como membro dessa comunidade, o meu ligue, por agora, ao nosso software: "software livre", porque este termo ainda não existia, mas isso é o que era, na realidade. Sempre que alguém de outra

universidade ou empresa queria usar um

programa, tínhamos o prazer de deixá­los.

R i c h a rd M at t h e w S t a l l m a n , o u si m p l e sm en t e " rm s " .

intellectus

33


"você deveria ter, sempre, acesso ao código-fonte"

Lembre­se, se você vê alguém a usar um programa desconhecido e interessante, você

deveria ter, sempre, acesso ao código­fonte, para que pudesse lê­lo e/ou alterá­lo para

fazer um novo programa (por exemplo). O uso da palavra "hacker" significa, para muitos, "quebrar a segurança informática de

algum programa ou sistema", no entanto esta definição é uma confusão por parte dos

meios de comunicação social. Nós, hackers, recusamos

o

reconhecimento

desse

significado e continuamos aplicando a

palavra para dizer que se refere a “alguém que ama programar ou alguém que gosta de

brincadeiras inteligentes”, ou a combinação de ambas.

Colapso da comunidade

A situação mudou drasticamente no início de 1980 quando a Digital descontinuou a série PDP­10. A sua arquitetura, elegante e poderosa na década de 60, não pôde

estender­se, naturalmente, para os espaços de endereçamento maiores, que estavam a tornar­se

viáveis

comunidade

nos

hacker

anos

LIA

80.

A

tinha

"Hacker é alguém que ama programar ou alguém que gosta de brincadeiras inteligentes."

intellectus

Conjunto de Compiladores GNU (em inglês: GNU Compiler Collection desaparecido, não muito tempo antes. Em 1981, os Symbolics contrataram quase

todos os hackers do LIA e a comunidade, despovoada desta forma, foi incapaz de manter­se. (Os Hackers, livro de Steve Levy, descreve esses eventos, bem como dá

uma imagem clara desta comunidade no seu apogeu.) Quando o LIA comprou um novo PDP­10 em 1982, seus administradores decidiram

usar

o

sistema

do

ITS

de

compartilhamento de tempo não­livre do Digital

em

vez

(usado

anteriormente). Os computadores modernos à época, como o VAX ou o 68020, tinham

seus próprios sistemas operativos, mas nenhum deles era software livre: tinhas de assinar um acordo de confidencialidade

para obter uma cópia executável. Isto significava que o primeiro passo para usar

um computador era prometer não ajudar o 34


próximo. Foi proibido a cooperação na

comunidade. A regra criada pelos donos do software

proprietário

era:

"Se

compartilhares com o teu vizinho, és um pirata.

Se

quiseres

realizar

alguma

alteração, simplesmente não podes ou terás de pedir autorização à empresa que distribui

o software." A ideia em que assenta o software proprietário, refere­se à não permissão para compartilhar ou modificar o software.

Ora,

isto

é

completamente

antissocial, não é ético e é simplesmente

errado, mesmo que muitos achem o contrário

(nomeadamente

devido

à

informação veiculada nos principais órgãos de comunicação social). Mas o que mais

podemos dizer sobre um sistema baseado na divisão do público e na manutenção dos utilizadores desamparados? Os leitores que

acham a ideia surpreendente podem ter em

consideração o software proprietário como um dado adquirido – resultante do mercado liberalizado –, ou faz o seu julgamento nos termos sugeridos por empresas de software

proprietário. Os editores de software têm

trabalhado muito para convencer as pessoas

de que existe apenas uma maneira de olhar para o problema. Quando os editores de

software falam em "impor" seus "direitos"

"software proprietário, referese à não permissão para partilhar ou modificar o software."

intellectus

"suposição muito comum é que as empresas de software têm um direito natural inquestionável de controlar o software"

ou "parar a pirataria", o que eles realmente dizem

é

secundário.

A

verdadeira

mensagem destas afirmações está nos pressupostos não declarados que eles

tomam como garantidos, os quais o público é convidado a aceitar sem exame. Vamos, portanto,

examiná­los.

Uma

suposição

muito comum é que as empresas de software

têm

um

direito

natural

inquestionável de controlar o software por elas produzido e, portanto, têm poder sobre

os seus utilizadores. Se isso fosse um

direito natural, então não importa o quão mal faz ao público: seria algo incontornável

… LOL. Curiosamente, a Constituição dos E.U.A. e a tradição legal rejeitam essa

visão; copyright não é um direito natural, mas artificial que o governo impôs à

população para limitar o direito natural dos utilizadores copiarem e partilharem sem

35


Free Software Foundation restrições. Outra suposição não declarada é

que a única coisa importante sobre o software é o emprego que lhe damos, ou melhor, o emprego que é permitido dar­lhe, e que nós, os utilizadores de computadores não devemos importar­nos com o tipo de

sociedade que estamos autorizados a ter. Um terceiro pressuposto é que não teríamos software utilizável (ou nunca teríamos um

programa informático para fazer este ou aquele trabalho em particular) se não permitíssemos que empresas editoras de

software tivessem mais poder do que os

"recusar-se a aceitar essas premissas e julgar essas questões com base no bom senso, colocando os utilizadores em primeiro lugar, chegamos a conclusões muito diferentes."

utilizadores do software. Esta suposição

utilizadores em primeiro lugar, chegamos a

do

de computadores devem ser livres para

poderia parecer plausível, se o movimento software

livre

(Free

Software

Movement) não demonstrasse que podemos fazer muito software útil sem necessidade

de qualquer tipo de controlo empresarial ou governamental. Se recusar­se a aceitar essas premissas e julgar essas questões com base

na moralidade do bom senso, colocando os intellectus

conclusões muito diferentes. Os utilizadores modificar programas para atender às suas

necessidades e livres para compartilhar software, porque ajudar outras pessoas é a base da sociedade.

+ info:

Continua...

www.fsf.org

36


VISITE

www.cm-paredes-coura.pt


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