"SE BEM NOS LEMBRAMOS" - DEZEMBRO 2019

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N.º 7 DEZEMBRO 2019 VERSÃO DIGITAL ENTREVISTA

A VIDA LÁ FORA

À CONVERSA COM EX-COLABORADORES DO JORNAL ESCOLAR

ESCOLA

CAFÉ COM APP, DO PROJETO APPRENDE DIÁRIO DE VIAGEM

DUAS MOCHILAS E UMA CAIXA DE CUSCUZ


2 | EDITORIAL

BEM-VINDO AO JORNAL ESCOLAR Olá!

O

jornal

escolar

está

de

volta!

Está mesmo a chegar ao fim o primeiro período, um período de adaptação a novas realidades, novos métodos, novos conteúdos, por parte de todos, mas sobretudo dos novos alunos. Esperamos, sinceramente, que te sintas inserido na nossa comunidade escolar. É com bons olhos que vemos, também, a crescente participação de novas pessoas que, direta e indiretamente, colaboram cada vez mais na produção deste jornal. Em nome de todos eles desejo um excelente período de interrupção letiva e um feliz natal a todos os alunos, funcionários e professores, e um excelente novo ano para todos.

DIREITOS DA CRIANÇA

Aproveita ao máximo a próxima interrupção No passado dia 22 de outubro de 2019 no letiva para fazer aquilo que mais gostas! auditório da Escola Secundária Vitorino Nemésio, decorreu um conjunto de iniciativas JOÃO PEDRO COSTA promovidas pelo Comissariado dos Açores para a Infância aquando das comemorações da Assinatura da Convenção dos Direitos da Criança. PUB A iniciativa dividida em duas partes, uma dedicada aos jovens e comunidade escolar, e a outra dedicada aos pais, cuidadores, familiares e entidades competentes na matéria, contou com a colaboração do Comissariado dos Açores para a Infância, a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, o Embaixador Português da Juventude para a Segurança da Internet, um representante da Coordenação da Equipa de Saúde Escolar e do VicePresidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória. O evento foi acompanhado por um momento musical e de um lanche promovido pela Escola Secundária Vitorino Nemésio.

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ESCOLA | 3

PREVENÇÃO CANCRO MAMA

CARTAZ HALLOWEEN

A cada 30 de outubro do calendário, é celebrado o dia Nacional da Prevenção do Cancro da Mama com ações de sensibilização e de informação sobre a doença, um pouco por todo o país.

No dia 31 de outubro teve lugar no refeitório a votação para o concurso de melhor cartaz de Halloween. Após contagem dos votos ficou em primeiro lugar o cartaz da aluna Maria Melo da turma D do 7.º ano. O prémio foi entregue pela Coordenadora do departamento de Línguas Germânicas, Cristina Codorniz, e pela docente titular Alexandra Dores. O Grupode Inglêsvemdesta formaagradeceratodos os participantes desta atividade a sua criatividade e colaboração, pois sem eles este evento para a comunidade escolar não seria possível.

Como não podia deixar de ser, a comunidade educativa da Escola Secundária Vitorino Nemésio, em homenagem a todas as mulheres que de alguma forma foram e são afectadas por esta doença oncológica, vestiu uma peça de vestuário rosa.

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EDUCAÇÃO TÉCNICAS DE EMPREENDEDORA GERIATRIA Decorreu no passado dia 5 de novembro no auditório da Escola Secundária Vitorino Nemésio, uma sessão de esclarecimento e apresentação da 10.ª edição do projeto “Educação Empreendedora”, no âmbito da nova oferta formativa para o ensino básico: a disciplina e+Raízes. A mesma contou com a presença e moderação de Clara Campelo da Direção Regional da Juventude, e os testemunhos dos empreendedores Rui Drumonde e José Pedro Moura.

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No dia 8 de novembro, os alunos do Curso de Técnico/a de Geriatria frequentaram a primeira sessão de um programa de formação complementar em técnicas de geriatria, na Escola Superior de Saúde - Secção de Angra do Heroísmo. Esta experiência formativa, abordando conteúdos relativos à importância dos posicionamentos corretos das pessoas idosas, à prevenção de úlceras de pressão e à preparação da cama com a pessoa idosa deitada, com uma forte componente prática, possibilitou novas aprendizagens e o treino aprofundado de técnicas já experimentadas durante o primeiro estágio. A 6 de dezembro será realizada uma segundasessão de formação, que irá abordar conteúdos relativos à movimentação da pessoa idosa e aos cuidades de ergonomia que o/a técnico/a de geriatria deve respeitar em termos de autoproteção.

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INSPIRING FUTURE

EXERCÍCIO “A TERRA TREME”

Decorreu no passado dia 19 de novembro No dia 15 de novembro, pelas 10h15 mais uma edição do Inspiring Future na a Escola Secundária Vitorino Nemésio Escola Secundária Vitorino Nemésio. associou-se à atividade da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil Este projeto visa a dinamização de atividades com o Exercício Público de Sensibilização junto dos alunos do 10.º, 11.º e 12.º anos com para o Risco Sísmico “A TERRA TREME”. vista ao esclarecimento de dúvidas sobre o acesso ao ensino superior. Foram dinamizados, O exercício “A TERRA TREME”, teve como objetivo em exclusivo para o 12.º ano, três workshop’s contribuir para o incremento de uma sociedade para o esclarecimento de várias temáticas mais segura e resiliente às catástrofes, e visando sempre a entrada no mercado de visou exercitar os “3 gestos que salvam” – trabalho ou o acesso ao ensino superior. BAIXAR, PROTEGER e AGUARDAR – e dar a conhecer aos cidadãos as medidas preventivas Ainda no âmbito deste projeto, foi realizada uma e os comportamentos de autoproteção a feira com vários representantes de inúmeras adotar antes, durante e depois de um sismo. universidades do país para apresentação da sua oferta formativa e esclarecimento de dúvidas. No dia 27 de novembro foi também realizado um exercício de simulação de evacuação total do edifício em situação de catástrofe.

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PROJETO APPRENDE - CAFÉ COM APP PLATAFORMAS “REDA” E ETWINNING Decorreu no início da tarde do dia 28 de outubro 2019, a apresentação da plataforma online “REDA” por Paulo Novo, uma rede de recursos digitais educativos “opensource” para professores e alunos, no âmbito das iniciativas “Café com App”, do projeto escolar Apprende, na biblioteca escolar.

plataformas e aplicações com potencial para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem. No final foi realizada uma pequena avaliação da atividade por todos os presentes.

Na passada terça-feira, dia 26 de novembro, decorreu, igualmente, na biblioteca da nossa escola, a 2.ª edição do “Café com App”, desta vez sobre a plataforma eTwinning. A convidada, a professora Anabela Santos, embaixadora eTwinning para a região dos Açores, deu a conhecer a plataforma e as possibilidades que apresenta para a criação de redes de trabalho colaborativo entre escolas europeias, através do desenvolvimento de projetos comuns, com recurso à Internet e às Tecnologias de Informação e Comunicação. Os eventos “Café com App” fazem parte do projeto “Apprende”, uma iniciativa da biblioteca escolar que visa promover a literacia digital na comunidade escolar através da divulgação de PÁGINA DA ESCOLA


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ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES Desde as eleições para a Associação de PUB Estudantes do dia 28 de Outubro, saídos de uma vitória de 225 votos num total de 399, os nossos representantes, membros do que fora a Lista B já se dispuseram a cumprir algumas das suas propostas. Em primeiro lugar, iniciaram o seu mandato com a disponibilização de uma caixa de sugestões e reclamações no bar, e de um garrafão de recolha de tampas plásticas para a sua reutilização por parte de instituições caritativas. Não só apresentaram um novo logotipo para a Associação de Estudantes, como também anunciaram a sua colaboração com a comissão do baile de finalistas de 2020, cumprindo, assim, outra das suas propostas iniciais. Juntamente com este anúncio, abriram a possibilidade para qualquer pessoa que queira se juntar a esta comissão, desde que os interessados comuniquem com um membro da Associação, por Instagram, Facebook ou pessoalmente. Por último, e a mudança mais recente, voltaram a colocar em efeito a estação de carregadores de telemóvel, que se encontra em funcionamento no bar dos alunos. RAQUEL COUTO


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EX-ALUNOS DA ESCOLA FALAM ACERCA DO ENSINO SUPERIOR

E DA SUA TRANSIÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO PARA O MEIO UNIVERSITÁRIO Alguns membros que colaboravam no jornal escolar durante o transato ano letivo partiram, em setembro último, em direção a novos rumos, depois de terem concluído o ensino secundário na nossa escola. Fomos conversar um pouco com eles acerca dessa decisão, da sua adaptação a novas realidades, e das suas perspetivas de futuro. Conseguimos estabelecer contacto com a Ana Fagundes que frequenta, neste momento, o mestrado integrado em Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, com o Diogo Ribeiro que estuda Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, com o Joel Azevedo que frequenta o primeiro ano do curso de Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia, na Faculdade de Letras do Porto, com a Madalena Duarte que estuda Direito, em Coimbra, e com o Pedro Lopes que, no Porto, estuda Design de Comunicação, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Todos eles, muito antes de apanharem o avião que os levaria ao mundo do ensino superior, ponderaram muito a sua decisão. Decisão essa

que, para muitos, como é o caso da Madalena, já estava tomada desde muito cedo, confessa: “Desde idade miúda que sabia que o meu lugar era no meio de páginas cheias de rabiscos e canetas. Sempre senti interesse em estudar e, sinceramente, não me imagino a fazer algo senão a estudar nesta altura. Quando acabei o secundário sentia, e não mudou, que não estava preparada para o mundo do trabalho. Assim sendo, tinha de continuar os meus estudos”, mas que para outros, como é o caso do Diogo, não foi a primeira opção até há muito pouco tempo: “De uma forma muito sincera, eu nunca quis seguir para o ensino superior. O meu sonho, desde que me lembro, era o de ser piloto de F-16 da Força Aérea Portuguesa. Este sonho, como tantos outros que acabam por não se concretizar, pode até ter sido a melhor coisa que alguma vez me aconteceu… Recordo-me que enviei a minha última edição sobre as escolhas das faculdades para as quais queria concorrer no site da DGES enquanto estava na Academia da Força Aérea e pensava: “Eu não me vejo em lugar algum que não seja aqui”. Isto tudo para quê? Digo isto para mostrar que limitei muito o meu pensamento


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pensamento sobre o que devia fazer na minha vida pelos livros veio, de certa forma, estimular a sua adulta e que, por muitas vezes, as coisas da vida decisão: “Interesso-me muito por ilustração, seja não acontecem como as planeamos ao pormenor.” editorial ou publicitária. Os livros são, também, No entanto, esta é talvez a decisão mais fácil a minha grande paixão de sempre. Não só pelo e mais direta para a maioria de nós, enquanto conteúdo, mas pela forma. Agora aperceboestudantes. Aquela que realmente nos assombra e me cada vez mais do peso dos designers para a nos põe a pensar é a de decidir que curso colocar no concretização de um livro. A capa, a tipografia e formulário da candidatura. Quando questionados as regras que regem um livro determinam a sua acerca do que os fez escolher o respetivo curso, compra. Vivemos rodeados pelo Design todos os os entrevistados responderam da seguinte dias.” Com uma resposta menos habitual, evitando forma: “Sempre tive um fascínio pelo jornalismo as típicas respostas dos estudantes de Direito, em diversos aspetos. Ver apresentadores a dar como “defender os inocentes” ou “fazer a justiça”, notícias para todo o país, os repórteres que vão a Madalena explica que: “(…) na realidade o que muitas vezes para outros países fazer coberturas sempre quis seguir foi Criminologia. Contudo, não de acontecimentos de forte impacto mundial, e teria muito sucesso nessa carreira em Portugal, que muitas vezes correm riscos! Além disso, mais especialmente nos Açores. Então decidi que recentemente, comecei a adorar ouvir rádio e por Direito seria a minha melhor escolha, tendo em enquanto, conseguir trabalhar lá é o meu principal conta o que me desperta interesse e aquilo que objetivo. Acho incrível esse trabalho, a forma como mais gosto de fazer, estudar.” O Diogo Ribeiro, os locutores da rádio captam a atenção de todos neste ponto da sua vida, recorda momentos que os ouvintes, e de uma maneira casual, conseguem podem explicar esta sua opção: “Posso dizer que dizer e explicar muita coisa, já para não falar do escolhi este curso porque na altura era o único quão divertido deve ser trabalhar nessa profissão.”, que me suscitava algum interesse, apesar de não explicou o Joel. O Pedro revelou que a sua paixão acreditar que acabasse por ser um estudante


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de Direito, tenho de admitir que haviam alguns pormenores dentro de mim que me indicavam esse caminho. Por exemplo, sempre que não concordava com alguma coisa da nossa escola, ia consultar o regulamento interno da mesma, sentia a necessidade de fazer isso, não sei bem porquê, mas acho que são essas pequenas coisas que nos definem e nos dizem quem nós somos. Em suma, acredito que acabei por escolher o curso certo. Ao fim dos 3 meses que já passei na faculdade sinto-me muito feliz com a opção que tomei e penso que estou no rumo certo, apesar de ainda ter um longo percurso pela frente. A decisão sobre a universidade a escolher não foi, para mim, muito difícil. Esta é uma das três melhores Faculdades de Direito do país, ao lado da Universidade de Coimbra e da Nova. É o que diz o próprio mercado de trabalho, e como critério de desempate tomei muito em consideração a quantidade e qualidade dos juristas que por aqui passaram, entre eles o atual Primeiro-Ministro de Portugal e o Presidente da República, entre muitos, muitos outros… e não esquecendo, de qualquer forma, dois ilustres professores da nossa escola, o Professor José

Humberto e o Professor António Bulcão, (que se estiverem a ler estas humildes palavras saibam que lhes envio o meu agradecimento por toda a influência no meu percurso escolar e orientação transmitida. Informando-os também que a mesma faculdade onde fizeram a sua licenciatura continua, em termos modestos, consideravelmente conservadora, mas que já não é necessário fechar a mesma para exigir melhores condições de alimentação, verificando-se até que a fila do refeitório é mais concorrida por alunos de Letras do que de Direito). “ Mas a indecisão não fica por aqui. Muitas vezes estende-se aos pequenos percursos que se podem tomar a partir das grandes áreas, como retrata a Ana Fagundes: “Desde pequena que sonhava com Medicina, mas o tempo fez-me perceber que dentro desta área havia muito que se podia fazer, e que o que eu queria fazer não passava por ser “médica” no sentido comum... Queria fazer investigação, ciência básica, mas ciência médica, ainda assim. Por isso, havia que estudar Medicina e a Faculdade de Medicina de Lisboa era o sítio perfeito para o fazer, por ter o Instituto de Medicina Molecular


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“coladinho” a ela, um centro de investigação de começo das aulas é extremamente complicado. prestígio no país, e na Europa, onde podemos O preço dos apartamentos no fim do verão sobe fazer investigação logo desde o primeiro ano.” bastante, e os considerados “melhores” são Após todos estes morosos processos de decisão, escassos. Moro perto do Hospital de São João, assimilação de ideias, e até de submissão onde estão presentes muitas faculdades, mas a burocrática de candidaturas ao Concurso Nacional minha, digamos que é um bocadinho longe! Cerca de Acesso ao Ensino Superior em Portugal, a de 40 minutos de autocarro, mas é um trajeto que verdade é que, de um dia para o outro, todos se faz bem.” O Pedro, que vive na mesma cidade, eles “caíram de para-quedas” numa realidade explica que esse é um problema que pode ser completamente diferente, ou mesmo nova para facilitado com o contacto com estudantes mais alguns, e viram-se obrigados a entrar no mundo do velhos: “Estou no Porto, a cidade Invicta. O Porto mercado do alojamento universitário, com todas é apaixonante. O Porto é Medieval, é Barroco e as especificidades que este acarreta. No caso é extremamente atual. Sempre quis estudar na da Madalena, que nunca havia pisado as ruas de capital, mas quando fiz uma viagem ao Porto Coimbra e conhecia muito pouco acerca da cidade, durante umas férias de verão decidi que era cá vive a cerca de vinte a trinta minutos a pé da sua que queria ficar. Não foi muito difícil arranjar faculdade e confessa mesmo que: “(…) O meu alojamento, mas o contacto com estudantes caso foi um caso de risco, pois mesmo antes de mais velhos ajuda-nos muito. Vivo muito perto saber os resultados dos exames nacionais da 1.ª da faculdade, cerca de cinco minutos a pé. É fase eu já tinha arranjado alojamento em Coimbra.” excelente, uma vez que transportamos capas A situação do Joel é idêntica, uma vez que nunca em formato A2, ou suportes ainda maiores.” tinha estado na cidade do Porto, à qual acrescenta: Em Lisboa, o foco dos holofotes para o grande “Quanto à questão do alojamento, o que tenho problema do alojamento em Portugal, a Ana lembra a dizer, é que arranjar local para viver perto do que os preços praticados são bastante elevados


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em comparação com outras cidades do país: “Conhecia Lisboa, já cá tinha vindo várias vezes. Mas o conhecimento de férias é sempre diferente. Quanto ao alojamento, é preciso tempo e atenção, mas consegue-se arranjar, o pior são os preços praticados. No meu caso, vivo numa Residência Universitária privada, a 15 minutos a pé do Hospital/Faculdade.” O Diogo, que também estuda na capital, aponta os maiores problemas aos transportes públicos: “Vivo consideravelmente perto da cidade de Lisboa, que é a minha cidade berço, a qual conheço bem, pelas várias férias que aqui fazia enquanto vivia na Terceira. Enquanto aos transportes, como ainda não tenho carro aqui no continente, a inevitável opção são os transportes públicos. Considero de louvar a utilização dos mesmos, porém, não sei até que ponto é que estão desenvolvidos o suficiente para suportar o encargo de levar tantas pessoas para o seu primeiro destino do dia, sendo que a determinadas horas, o comboio da linha de Sintra, que será utilizada por muitos futuros universitários, mais parece uma autêntica “lata de sardinhas”. Por outro lado, o tempo do comboio é

relativamente rápido. A duração da minha viagem é de cerca de 20 minutos, contando com o tempo da deslocação complementar de metro que é necessária para chegar à Cidade Universitária.” Apesar de toda a ponderação, por mais certos que estejamos das nossas decisões, muitas vezes arrependemo-nos e deparamo-nos com situações que não estão de acordo com as nossas expetativas. De um modo geral, de entre os cinco, até ao momento, isso não aconteceu: “Em termos de habitação, estou muito contente no sítio onde estou. No que diz respeito ao curso, ainda mais: superou as minhas melhores expectativas! Adoro tudo! É bem como cantamos na praxe: “Sou Santa Maria, estou apaixonada”. Não há um segundo, mesmo quando às 3h da manhã ainda estou a estudar uma articulação qualquer, em que me arrependa desta escolha.”, manifestou a Ana Fagundes. “Não me arrependo da minha escolha, mas também foi uma coisa muito pensada. Um sonho idealizado há muito tempo. Contudo, ainda é muito cedo para tirar conclusões precipitadas. Ainda falta algum tempo para acabar o primeiro ano.”, concluiu o Pedro Lopes. O Joel explica que o que


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encontrou foi de encontro àquilo que havia antes idealizado: “Não fazia a menor ideia, de como era viver aqui no Porto, enquanto estudante universitário, mas por aquilo que tinha mais ou menos em mente, estava de acordo com o que pensava. Um dia-a-dia bastante movimentado, grandes edifícios, faculdades incríveis quer por dentro quer por fora, boa gente, um enorme número de alunos do ensino superior, variedade de culturas, locais turísticos de ver e rever, etc. Posso afirmar com certeza, que foi uma boa decisão.” No mesmo sentido, o Diogo Ribeiro sustenta o seu fascínio com a faculdade no espírito de integração dos novos alunos: “Não quero mentir, no início, viver sozinho com 18 anos em Lisboa, é um choque. Foi só no momento em que me apercebi que estava sozinho que realmente compreendi qual a dimensão de já não poder contar com os meus pais para o dia-a-dia. É uma fase pela qual todos temos de passar. Faz parte. Para mim, essa fase foi, felizmente, realmente curta. O tempo que demorei a aprender a lidar com a situação foi breve, e tenho que admitir que a tão escandalosa e evitável praxe” foi um dos elementos que mais contribuiu para isso.

Outro elemento realmente fundamental para uma melhor adaptação foi, para mim, a possibilidade de fazer novas amizades e a importância de estabelecer um grupo de amigos na faculdade, são essas pessoas que, a bem ou mal, estão sempre presentes. Presentes para falar contigo sobre o que precisares. Presentes para passear pela cidade ou até beber um copo depois de uma frequência de forma a desanuviar um pouco a cabeça. Presentes para uma longa tarde, e muitas vezes noite, de estudo na biblioteca. Mas principalmente presentes para te descobrires, para perceberes quem és e quem queres ser naquela que é uma nova vida, terás muitas vezes de escolher entre a vida que tinhas e a vida que queres ter, mas não tenhas medo, sei que quando o tiveres de fazer, tomarás a escolha certa! O teu futuro só depende de ti!” Na próxima edição a conversa continua através da abordagem de temas como a praxe, os movimentos académicos, as perspetivas de futuro e a ambição de regresso aos Açores. Não percas! FRANCISCA AGUIAR JOÃO PEDRO COSTA


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CATARINA ERWIN ILUSTRAÇÃO


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JOÃO PEDRO COSTA MARIA HORTA FOTOGRAFIA ANALÓGICA ILUSTRAÇÃO DIGITAL DUPLA EXPOSIÇÃO “PARSLEY”, EM “SMILE FOR ME”


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ANA BEATRIZ PEREIRA ILUSTRAÇÃO


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JOÃO PEDRO COSTA FOTOGRAFIA ANALÓGICA TEXTO VISUAL


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DUAS MOCHILAS E UMA CAIXA DE CUSCUZ INTERRAIL: UMA VIAGEM PELA EUROPA

A minha participação num concurso cujo objectivo era meramente ganhar o maior número de votos para receber uma mochila, acabou por se tornar em algo maior. Em Outubro de 2018 enviei o meu desenho para o Time To Move T-shirt Design Contest, promovido pela Eurodesk, e o júri nomeoume vencedora da categoria 13-19 anos. O prémio? Um passe de Interrail de 7 dias que me proporcionou uma das melhores viagens da minha vida. O que é um Interrail? Basicamente, uma viagem de comboio que passa em diversos pontos do mapa europeu, à escolha. Mas não é assim tão fácil! Um Interrail pode custar os olhos da cara, porém tudo vale a pena. Primeiro, uma rapariga de 15 anos não pode simplesmente viajar pela Europa sozinha, portanto o meu irmão foi nomeado meu acompanhante, talvez por ter um melhor sentido de orientação, ou talvez por ter umas pernas mais jovens que o resto da família. Apesar de o meu passe ter sido gratuito, mais 250€ saíram da carteira dos nossos pais para pagar o passe do meu querido acompanhante. Como se não bastasse, alguns dos comboios requeriam uma reserva paga por serem meios de transporte que estavam sempre

superlotados. E ainda nem mencionei os preços da alimentação e estadia. A viagem foi relativamente cara e muitos membros da família tiveram de contribuir para que isto fosse possível. Dicas para poupar? Comida de supermercado e hosteis, com especial atenção ao preço dos souvenirs! A aventura teve lugar no inicio de Abril de 2019 e durou 2 semanas extremamente cansativas, grande parte devido às monstruosas mochilas que pareciam pesar o equivalente a 3 crianças. Começou com a típica viagem até Lisboa, onde passei várias horas sozinha devido a problemas no voo (cortesia da TAP), chegando ao Porto, de encontro com o meu irmão e passando a noite no aeroporto. O dia seguinte começou bem cedo com a viagem de avião até Bruxelas, onde comprámos uma caixa de cuscuz de supermercado que só foi utilizada para consumo 2 dias e 4 países depois, já que o cansaço era maior que a fome. A primeira viagem de comboio foi às 5 da manhã, em direcção a Copenhaga, com paragens na Holanda, Osnabrük (na Alemanha) e Hamburgo, onde pela primeira vez vi o meu próprio comboio entrar dentro de um barco que atravessou o estreito de


DIÁRIO DE VIAGEM | 21 meu irmão passámos bastante tempo perdidos já que chegámos bastante cedo e nao havia nada para fazer, nem podíamos fazer check-in no hostel. Pude visitar edifícios e palácios cuja arquitectura era simplesmente linda, sem mencionar o facto de que eu e o meu irmão tivemos de atravessar meia cidade a pé porque nos enganámos no hostel (desvantagens de não entender a língua). Estávamos tão cansados que adormecemos às 6 da tarde e só acordámos no dia seguinte. Depois de Viena veio um comboio noturno para Zurique, Suíça. Aviso já, bastante caro. O hostel estava geminado com a cozinha de um restaurante e novamente, bastantes escadas para subir. Esta cidade juntamente com Copenhaga foram das cidades que eu gostei mais de visitar. Passámos 2 dias em Lion, França. O melhor hostel em que já estive, os hóspedes eram bastante simpáticos e adoravam conversar. Após isso uma breve passagem por Barcelona onde pude visitar Fehmarn Belt até Rødby Færge, última paragem várias obras de Gaudí e finalmente cheguei a antes de uma viagem de 2 horas de autocarro até Portugal, com as energias todas esgotadas. Copenhaga. Foi nesta cidade que eu e o meu irmão Apesar dos custos e do cansaço extremo, o caminhámos mais de 16 km pelo seu centro na interrrail não deixa de ser uma das melhores tentativa de ver o máximo possível. De seguida oportunidades que já tive para explorar cidades e veio Berlim, na Alemanha, onde estava um frio de países europeus que até então eram-me apenas rachar os ossos. A nossa estadia nesta cidade referências geográficas. Se tiverem oportunidade, começou muito mal, já que o hostel disponível façam uma vaquinha, zero arrependimentos. estava em péssimas condições e as pessoas não eram tão amáveis como nos outros lugares, CAMILA COTA além de que fiquei desapontada porque a famosa Bauhaus estava fechada e não a pude visitar. Na segunda noite preferimos ficar no McDonald’s da estação. De seguida veio Praga, onde o hostel se situava dentro de dois apartamentos de um prédio (sem escadas, imaginem o sofrimento) e a dona foi se tornando mais simpática ao longo do PUB tempo. Apesar de ter uma constipação e os lábios todos queimados do frio, isso não me impediu de apreciar a cidade, especialmente os seus Kebabs de caixa e os folhados do supermercado. Não recomendo Kofola, podem ser parecidas mas esta SUBMETE CONTEÚDO não sabe nada a Coca-Cola. A viagem seguinte foi ATRAVÉS DESTE um autocarro para Viena de Áustria, onde eu e o FORMULÁRIO!

JUNTA-TE A NÓS!


22 | UM POUCO MAIS DE TERRA

EMERGÊNCIA CLIMÁTICA E ALIMENTAÇÃO Existem muitas razões para uma pessoa mudar os seus hábitos alimentares (éticas, religiosas, estéticas). Vejamos uma razão que tem sido pouco explorada que é a ecológica ou ambiental. Acabamos de entrar em emergência climática. Já não se trata de descobrir as causas dos problemas ambientais. Todos sabemos que as causas estão em grande parte no nosso estilo de vida. Basta olhar para o nosso parque automóvel. E todos afirmamos ter alguma preocupação ambiental. Mas que sentido é que faz ter preocupações ambientais e não reduzir significativamente o consumo de carne? Quando se questiona as pessoas sobre qual a causa do aquecimento global, todos referem a poluição, mas poucos falam na produção de carne. Mas a verdade é que 18 % da poluição total é causada pelos efeitos da criação intensiva de animais (metano e tudo o resto: impacto na água e na biodiversidade; proliferação de vírus...) De todos os cereais produzidos, 40 a 50% são comidos por animais, 75 % no caso da soja. São precisos 7 quilos de grão (milho e soja) para fazer um quilo de carne. E para isso são precisos campos e para ter campos é preciso desflorestar. É por isso que

a floresta da Amazónia está a desaparecer. Num ano uma vaca produz tantos gases com efeito de estufa quanto um carro que viaje 70.000 km – mais de uma volta e meia ao planeta terra. Para produzir carne são precisas 10 vezes mais terra do que para produzir vegetais. À medida que as populações aumentam, aumenta também o consumo de carne. Por consequência, aumentam também as emissões de gases com efeito de estufa. Um europeu come, em média, durante a sua vida, 1800 animais. Calcule-se o efeito, se todas as pessoas no mundo fizessem o mesmo. As florestas estão a desaparecer; a biodiversidade, a água, tudo isto é posto em causa pela produção animal. Mas não precisam os seres humanos de comer carne e de beber leite? A resposta inequívoca é não*. A ideia de que precisamos de comer carne e leite todos os dias é gerada, em grande parte, pela propaganda. Reduzir o consumo de produtos animais não nos fará grande mal, pelo contrário, poderá até reduzir algumas doenças mortais. Quando é que vamos começar a fazer as contas aqui nos Açores, onde a produção de carne (aves, porcos e vacas) em ambientes fechados começa


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a ser significativa? A resposta está em parte PUB na desinformação. Comemos o que nos dão, sem nos preocuparmos muito com os efeitos desastrosos da alimentação. O pensamento ecológico dominante parece mais uma questão de ser politicamente correcto, de marcar a diferença seguindo a moda ecologista, do que a afirmação de uma real preocupação com o planeta em geral e com os animais em particular. Se queremos manifestar alguma coerência entre as nossas crenças ecológicas e as nossas atitudes então deveremos comer menos carne. Deveremos fazer um esforço para, pelo menos em algumas refeições semanais, encontrar uma alternativa vegetariana. Das muitas mudanças que, a bem ou a mal, teremos que fazer, esta talvez seja a mais fácil de realizar. * Sobre a mudança para uma dieta vegetariana vale a pena ler o livro de Jonathan Safran Foer, Comer Animais, Bertrand, 2011.

LUÍS FILIPE BETTENCOURT PROFESSOR DE FILOSOFIA


FICHA TÉCNICA COLABORADORES ANA BEATRIZ PEREIRA BEATRIZ SOUSA CAMILA COTA CATARINA ERWIN FRANCISCA AGUIAR JOÃO PEDRO COSTA MARIA HORTA RAQUEL COUTO DESIGN GRÁFICO JOÃO PEDRO COSTA TIRAGEM ESCOLA SECUNDÁRIA VITORINO NEMÉSIO AGRADECIMENTOS ASSOCIAÇÃO ESTUDANTES CONSELHO EXECUTIVO

VERSÃO DIGITAL

OPINIÃO

FIM DAS RETENÇÕES ATÉ AO 9.º ANO? O GOVERNO PRETENDE POUPAR DINHEIRO? “Intão os dipatados andarem pá ai a disse que já na peciso de estudá nem me aplica que passo log de ano, ta bom intao.” Achou algo estranho ao ler esta frase? Fez-lhe confusão? Pois, caso a proposta do governo em eliminar as retenções até ao 9.º ano seja aprovada, será assim que a nossa futura geração irá escrever? Em pleno século XXI, o governo português está a ponderar eliminar as retenções do 9.º ano, pois desta forma é possível poupar 250 milhões de euros. Mas poupar este dinheiro compensará o facto de começarmos a formar jovens desinteressados pelo estudo e pouco motivados, com dificuldades na leitura e na escrita? Imaginem uma geração de adultos que não consegue escrever a lista de compras , que não consegue fazer contas simples como 5 vezes 6 sem recorrer às novas maquinetas. Imaginem um futuro, em que alguém que não atingiu as aprendizagens essenciais passou para o 10.º ano. A maioria dos alunos necessita de sentir a pressão da retenção, pois, caso esta não exista é-lhes indiferente ter negativa ou positiva. Há uma grande diferença na transição do terceiro ciclo para o ensino secundário e nem todos os alunos conseguem aguentar a pressão. Um aluno

pouco esforçado não deveria transitar para o 10.º ano, pois dificilmente terá sucesso. Ao diminuir as retenções com passagens administrativas, o governo pretende poupar dinheiro, mas as escolas têm de ter identidade própria e devem poder garantir a diferenciação de percursos educativos que permitam aos alunos a realização das suas aptidões e isso só se consegue com mais investimento. Não podemos cair no facilitismo de fazer passar todos os alunos. A opção mais viável é o acompanhamento dos alunos com mais dificuldades através de aulas de apoio e de percursos de aprendizagem diferenciados de maneira a garantir o sucesso escolar e educativo dos alunos. Caso a proposta do governo seja aprovada, teremos professores desmotivados já que irão frequentemente ouvir: “Ó professor, não se chateie, pois, no fim, passam todos!” Se esta decisão economicista for adotada pelo nosso governo, poderemos estar a formar jovens desmotivados e com poucas competências, que não estarão preparados para o mundo do trabalho e para uma sociedade exigente. BEATRIZ SOUSA


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