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S U – M A R / I O INTRODUÇÃO 08 CONCEITO 10 FIGURINO 12 REFERÊNCIAS 20 ORGANIZAÇÃO 24 OS DIAS DE FILMAGEM 28 O CLIPE 34 MATERIAL GRÁ –FICO 38 EXPERIMENTAÇÃO 42 CARTAZ 48 / LINK 58 CAMISAS 62 EVENTO 64 MAKING OF 70 CONCLUSÃO 74
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O projeto surgiu a partir de um convite da banda Os Dentes, que nos propôs a realização de um clipe para sua versão do Canto de Ossanha, de Vinicius de Moraes. Mesmo sendo um projeto que se aproxime mais da área de cinema, lida basicamente com comunicação visual. Dessa forma, vimos uma grande oportunidade de aplicar os conceitos de um projeto de design no desenvolvimento deste clipe. A proposta engloba, além do clipe, a produção do evento de lançamento do mesmo, que abrange a criação de um sistema gráfico/visual que estabelece uma relação uníssona com o conceito do clipe, possibilitando a derivação para diversos suportes como cartazes e projeções. Para dar ainda mais coerência ao projeto, foi preciso também uma direção estética e de arte ao show, em seus mais diversos aspectos.
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Para conceituar o projeto, partimos primeiramente da análise da letra da música. Canto de Ossanha é um dos Afrosambas compostos por Baden Powell e Vinicius de Moraes, descreve de forma poética e complexa a relação do Orixá Ossanha, com os outros Orixás. Acredita-se na cultura do Candomblé, que Ossanha, o detentor dos segredos das folhas e ervas, ficou com a mulher de Xangô fazendo com que este, num ato de fúria, soprasse um vento que espalharia todas as folhas de Ossanha para os outros Orixás, exclamando ainda que este se tornara um traidor. A letra ainda apresenta momentos de contradição, como nas passagens de ‘Vai, vai, vai! - Não vou!’. No próximo nível de análise, procuramos entender melhor quem é Ossanha e qual seus conceitos e significados. Vimos que ele é o Orixá que detém o Axé, que significa força e vitalidade. Além disso, muitos daqueles que estudam o Candomblé, afirmam que Ossanha, durante seis meses do ano, é um homem, e nos outros seis meses, mulher. Vimos ainda que as cores que o representam são o branco e o verde. É também representado pelo galo do pescoço pelado, ou arrepiado, e o cabrito branco. Partindo para a análise do arranjo da banda Os Dentes, identificamos claramente a questão dos dois momentos da música, que caracterizamos um como sendo um momento forte, tenso, e outro mais suave. Assim, relacionamos esse contraste diretamente com as fases de Ossanha junto com as características que a própria letra da música apresenta. Por ser uma versão que se aproxima do rock, e a banda ser atual em suas composições, sentimos a necessidade de aproximar o conceito a uma realidade contemporânea, que pudesse mais uma vez, contrastar com a ideia do terreiro de Candomblé. Isso influenciou diretamente na escolha do local de filmagem, que foi uma antiga fábrica, agora desativada, no bairro do Catumbi. O aspecto de abandono, o acumulo de objetos, a poeira, o concreto e as próprias características industriais da arquitetura da fábrica, criam a atmosfera perfeita para o contraste que propusemos. A sensação de paz que o lugar vazio cria, e a quase que paralela sensação de tensão, peso e mistério.
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Para apoiar e fortalecer o conceito desenvolvido, achamos que a criação de figurinos para os componentes da banda acrescentaria ao desenvolvimento de uma atmosfera de características místicas. As máscaras adicionam um senso de mistério e impessoalidade, generalizando a figura do indivíduo e trazendo a tona o conceito de entidade. Estas, foram confeccionadas por nós em diversas técnicas, a primeira foi o Papier Machè sobre moldes de argila. Não obtivemos muito sucesso nesta tentativa, a máscara ficou frágil e portanto inapropriada para o os movimentos dos músicos. Conseguimos melhores resultados explorando a técnica da atadura gessada, que conferiu ótima resistência e forma. A própria textura característica da atadura adicionou um ar rústico para a peça, que foi finalizada com pintura de aquarela e verniz matte. O restante da confecção do figurino ficou sob a responsabilidade de Clara Nunes, que fez a transferência intersemiótica dos desenhos realizados por nós.
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Em busca de entender melhor as nossas possibilidades pesquisamos diversas referências, de onde extraímos recursos para criar e expandir o que já tínhamos em mente. Como referência de edição e pós-tratamento da imagem, se destacaram as produções da banda Sigur Rós geradas no projeto Valtari Film Experiment e o clipe de ‘A Case of You’ do artista londrino James Blake. O filme ‘Goodfellas’ dirigido em 1990 por Martin Scorsese foi referência também pelo seu famoso e ousado plano sequência na cena do Copacabana Club. Foi muito importante também a busca de referências para a produção do figurino. Os desenhos incrivelmente fundamentados e representativos de Carybé nos ajudaram na pesquisa da indumentária utilizada no clipe, pois trazem consigo enorme respeito e entendimento sobre a cultura do Candomblé. As máscaras da tribo sudoeste americana Navajo também ajudaram a compor esse banco imagético, servindo de inspiração para a criação das máscaras e roupas, ainda que não haja uma ligação com o Candomblé.
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Como nos propusemos a fazer um trabalho enorme em pouco tempo, a organização foi essencial para que o desenvolvimento do clipe atendesse às necessidades do cronograma. Dessa forma, identificamos quatro fatores como fundamentais para a realização desse trabalho. Em primeiro lugar está a criação de um storyboard. Esta ferramenta foi criada para que pudéssemos projetar como seria o clipe mesmo sem o material de vídeo. Para a criação do mesmo, fomos até o local onde seria realizada a filmagem e passamos alguns dias pensando como poderíamos montar cada cena e o local mais adequado. Trabalhando em conjunto com nosso câmera, Bernardo Laureano, elaboramos visualmente cada trecho da música e, como não existia uma narrativa pré-definida, procuramos manter a coêrencia das cenas com o conceito gerado por nós. Vale lembrar que além de um desenho representativo da cena, existiam também informações técnicas que nos ajudaram a identificar cada momento sem que o mesmo ficasse só no campo do imaginário. Já com uma organização cronológica dos eventos que iriam compor o clipe, vimos que era essencial criar algo que pudesse nos guiar dentro do set de filmagem, pois como não somos dessa área nossa organização seria o fator determinante da fluidez e agilidade de produção. Dessa maneira, elaboramos
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um plano de filmagem. Este plano de filmagem reunia, por local dentro da fábrica, as cenas que seriam gravadas. Ou seja, ao invés de seguirmos, nos dias de filmagem, a ordem cronológica oferecida no storyboard, nos guiávamos pela locação em que determinadas cenas aconteciam. Assim, podíamos montar todo o equipamento em um local, filmar todas as cenas que situavam-se nele, para depois desmontar tudo e mover para uma nova locação. Outro fator essencial para que o clipe acontecesse eram os equipamentos que seriam utilizados durante a produção. Como Os Dentes são uma banda independente, a redução de custos tinha que ser a maior possível, mas sem comprometer a qualidade do trabalho. Em busca dessas ferramentas, consultamos amigos de diversas áreas que pudessem nos emprestar aquilo que planejávamos utilizar nas filmagens. Conseguimos diversos materiais e assim, só alugamos dois equipamentos de iluminação, prolongas e tripés. A lista de equipamentos utilizados no clipe é a seguinte: Duas câmeras Canon 7D / Glidecam e Shoulder Rig, para estabilização das imagens / Quatro refletores Fresnel (1000W, 650W e dois de 350W) / Dois painéis de LED 50x50 / Uma máquina de fumaça (750W) / tripés e prolongas. Por último, e um dos mais importantes fatores que possibilitaram a realização desse clipe foram nossos amigos. Ao idealizar este projeto sequer tínhamos noção do tamanho que ele ia tomar. Fomos surpreendidos com a quantidade de trabalho que o mesmo demandou e em determinado momento vimos que não poderíamos fazer tudo aquilo que havíamos planejado. Não conseguiríamos, ao mesmo tempo, operar a câmera, dirigir, montar iluminação, providenciar equipamento e organizar a banda. E assim recorremos aos nossos amigos que, sem hesitar, aceitaram participar da produção e nos emprestaram equipamentos.
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O S D D E / Durante os três dias de filmagem, contamos com uma equipe de quatorze amigos, que nos ajudaram de diversas formas. Foi essencial manter um ritmo de trabalho para otimizar o tempo e maximizar a produção diária para diminuir os custos da locação e evitar o desgaste. Nossos dias de filmagem duraram aproximadamente 14 horas cada um. Em dados momentos era preparado um lanche para que a equipe pudesse renovar as energias a fim de suportar essa extensa rotina de gravação. Todas as cenas foram filmadas na parte da noite, mas foi necessário que chegássemos às 15h de cada dia para a montagem do equipamento e organização da equipe. Obtivemos um total de aproximadamente três horas e 60gb de material bruto que deveria ser reduzidos para menos de cinco minutos. 28
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Após concluir as filmagens, inciamos a fase de edição do clipe. Seguindo o storyboard de forma fiel, conseguimos rapidamente montar a parte ‘bruta’ do clipe. Com as anotações feitas no plano de filmagem, que indicavam os takes corretos de cada cena, posicionamos lado a lado cada cena já em sincronia com a música para começar a trabalhar na pós-produção. Esta, por sua vez, foi a parte que nos deu a liberdade de estabelecer de forma mais clara os conceitos visuais que o clipe deveria passar. Começando pelo tratamento e correção de cor, que foi essencial para que as cenas se desdobrassem de forma coesa, não apresentando nenhum ruído visual no decorrer do clipe. A cor de todas as imagens tende para o verde, que juntamente com a baixa saturação compõem a essência de Ossanha. Em um segundo momento, trabalhamos com efeitos desenvolvidos no programa After Effects, que ajudassem a contrastar de forma mais clara as duas fases (tensa e suave) presentes no clipe. Após a aplicação destes efeitos, percebemos de maneira mais nítida a intensidade presente em cada parte da música, que foi pontualmente analisada para a identificação das cenas que demonstrassem a necessidade de efeitos. E por último, percebemos que o clipe ainda estava com uma característica que remetia muito a clipes da internet. E assim, identificamos que o formato do vídeo era o principal fator que trazia a tona essa característica. Por se tratar de dimensões padrões de câmeras DSLR, o vídeo havia assumido essa identidade de filme de internet e se distanciado um pouco da linguagem cinematográfica. Percebemos então que o principal diferencial do cinema para os vídeos comuns era o formato wide e, dessa forma, aplicamos um crop que atendesse à esta característica.
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O material gráfico serviu de apoio para o objetivo principal, o evento de lançamento do clipe. Produzimos dois cartazes, uma peça gráfica com o link e senha do vídeo na internet, que foi entregue no dia do show e camisas representativas do clipe/projeto. A produção começou com o resgate dos conceitos gerados no início do projeto. O contraste foi novamente importante, e para evidenciá-lo trabalhamos com técnicas manuais em um primeiro momento, para então interferir e agregar valor com o meio digital. Toda informação de texturas e formas que se apresentaram no coneito inicial deveriam estar presentes neste universo gráfico. Para recriar estes aspectos, escolhemos trabalhar de forma aberta e experimental, buscando texturas e formas verdadeiras, que só poderiam ser criadas a partir da vivência de um processo intenso de investigação imagética.
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Esta parte foi fundamental para criação dos layouts finais. Foram feitos experimentos envolvendo diversas técnicas como: monotipia, xilogravura e silk experimental. Além disso, nos demos a completa e total liberdade de experimentar sem uma finalidade específica, descobrindo as características e consequências de cada material explorado.
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Após diversos dias de livre experimentação, foi preciso selecionar os resultados que apresentassem maior possibilidade de desenvolvimento. Algumas das imagens geradas eram mais naturais, enquanto outras tinham um direcionamento maior e de certa forma eram uma tentativa de trazer elementos significativos do clipe, como as máscaras por exemplo.
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Pensamos o cartaz não como um motor de divulgação tradicional do evento mas sim como uma peça gráfica que marcaria o processo do projeto e o momento do lançamento clipe. Assim como tivemos liberdade total ao sermos convidados para produzir o clipe e trouxemos para ele aspectos de uma relação artística, não poderia ser diferente com o cartaz. A própria técnica de impressão e reprodução escolhida, a serigrafia, retrata estas características. Escolhemos uma via experimental, manual e intimista para gerar a arte e agregar valor ao resultado. Somamos a esta força artística uma diagramação forte e contemporânea, com uma tipografia que representa os aspectos formais da fábrica e traz consigo uma atualidade referente ao arranjo dos jovens musiscistas. Nota-se que ambos os cartazes apresentam uma textura, impressa com tinta acrílica, com grande vigor visual ao fundo e sobre este informações visuais em vermelho, em tinta vinílica, com uma linguagem tipográfica. O cartaz foi criado com duas camadas semânticas. Em um primeiro momento o observador não identifica muito bem o que esta sendo exposto a ele, isto o intriga, e faz com que ele tenha um novo olhar sobre o que se apresenta. No momento seguinte, já próximo da peça gráfica, é possível perceber do que se trata, o lançamento de um clipe. Além disso, as informações de local, data e hora se tornam legíveis e se colocam como assunto principal. A escolha do processo de produção do cartaz se torna novamente relevante. É possível perceber informações táteis no que se refere as características dos materiais. A textura do papel de alta gramatura, a diferença de textura e brilho das tintas utilizadas se colocam em evidência. Para trazer ainda mais o aspecto intimista a estas peças, nos utilizamos de uma espécie de jargão da gravura, e numeramos as impressões à lápis.
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Com o propósito de criar uma experiência para aqueles que foram ao evento, criamos esta peça gráfica que continha o link para o vídeo, que ficou em modo privado durante 3 dias, e sua respectiva senha. Mais uma vez espelhamos o conceito do universo criado neste material. O papel paraná foi escolhido como suporte, por sua textura, peso e por se apresentar quase que como um objeto. Suas bordas foram pintadas, individualmente, com o vermelho assinatura, fazendo um link direto com o cartaz. Foi aplicada uma das texturas geradas durante o período de experimentação. Novamente a impressão foi feita utilizando a serigrafia como técnica. 59
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Para complementar o conjunto gråfico, desenvolvemos uma estampa para camiseta. Esta serviu mais uma vez como um marco do projeto e uma celebração para aqueles que participaram. Todos os amigos envolvidos receberam uma camisa, assim como os professores e orientadores.
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O ápice de todo o projeto foi o lançamento do clipe, show que aconteceu no Espaço Cultural Sérgio Porto, dia 26 de junho de 2013. Para que o evento transpirasse os mesmos conceitos do projeto, decidimos dirigir a banda e a parte visual. A setlist tocada no show foi pensada de forma a trazer o clímax para o momento da exibição do clipe. A escolha das músicas foi feita para que o ambiente sonoro fosse coerente às características do Canto de Ossanha. A visualidade foi explorada na cenografia e nas projeções de palco. Em busca de um certo mistério para a divulgação do clipe, os figurinos usados pelos membros da banda foram colocados em manequins e posicionados pelo palco. As projeções foram um desafio, pois tivemos que pensar visualmente nas músicas que não trabalhamos, mas que seriam tocadas no show. Dessa forma, recorremos a uma tecnologia chamada Processing, uma linguagem de programação que permite outputs visuais. A projeção era sensível ao som e mudava de acordo com o que estava sendo tocado pela banda, assim como a manifestação do público. Em determinado momento do show, quando a banda havia tocado todas as músicas com exceção de Canto de Ossanha, projetamos o making of e em seguida o clipe.
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Como um extra, fizemos um making of, que aconteceu de forma descompromissada. Neste, tentamos retratar o dia a dia do processo do clipe, exibindo imagens dos bastidores, do desenvolvimento da parte gráfica e também entrevistas. Acreditamos que o making of humaniza o projeto e aproxima o público dos criadores e do processo de criação.
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Desde o começo, o projeto apresentou diversos desafios e foi considerado por muitos como sendo ousado e até mesmo inviável. A fim de tornar tudo isso possível planejamos cada etapa pois sabíamos que a organização seria fundamental. Além disso, em nenhum momento nos deixamos acreditar que não conseguiríamos fazer aquilo que estávamos propondo, muito pelo contrário, enfrentamos cada desafio sem hesitar e, com a ajuda de nossos amigos, estávamos sempre um passo à frente. A valorização da ideia de processo foi marcante neste projeto, e reforça uma metodologia projetual que já acreditávamos. Foi notória também a importância da experimentação livre, mesmo dentro de uma situação que envolvia prazos e obrigações formais. Assim, levamos todo este projeto como uma experiência importante e positiva para a nossa carreira como designers e nossa vida. Gostaríamos de agradecer aos nossos professores e orientadores, que apesar da proposta inusitada de projeto, acreditaram no nosso potencial e nos guiaram durante o processo.
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Queríamos deixar registrado também, nossos agradecimentos especiais para os amigos:
Gus Levy Rudah Guedes Kayan Guter Tarso Barreto Bernardo Laureano Clara Nunes Celina Kuschnir Ana Bolshaw Emma Platais Fabrizzio Nascimento Nícolas Martins Roberto Meneghini Vinicius Mesquita Isabella Fernandes João Faissal Raphael Fernandes Pedro Zuim David Levy
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