FACULDADE ANHANGUERA DE PELOTAS
ARQUITETURA E URBANISMO JOBIM PORTO DA SILVA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO I Central do Samba: A consolidação do Carnaval de Arroio Grande
Pelotas 2021
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JOBIM PORTO DA SILVA
CENTRAL DO SAMBA: A CONSOLIDAÇÃO DO CARNAVAL DE ARROIO GRANDE
Trabalho Final de Graduação I apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Anhanguera de Pelotas, requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof.ª Arquiteta Grasiela Cignachi.
PELOTAS 2021
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RESUMO Grande fonte cultural e considerado a maior festa popular do mundo, o Carnaval tem como uma de suas grandes atrações os desfiles das escolas de samba, que desenvolvem um importante papel social, refletindo a cultura, talentos e criatividade de suas comunidades. O presente trabalho tem o intuito de fundamentar uma antiga reivindicação das escolas de samba do município de Arroio Grande, a de possuírem um local fixo para produzirem seus desfiles carnavalescos. O trabalho se desenvolve em torno do contexto histórico que deram origem ao carnaval e as escolas de samba, abordando também especificamente o carnaval arroio-grandense, além de apontar sua importância social, cultural e econômica. Por fim elabora o projeto denominado Central do Samba que atende a reivindicação das escolas de samba de Arroio Grande, que além de suprir as necessidades das agremiações carnavalescas, preserva a história do Carnaval de Arroio Grande e fomenta a realização do evento através da instalação do Museu do Carnaval e sede da Liga das Escolas de Samba de Arroio Grande. Esse complexo é pensado para preservar o passado, organizar o presente e garantir o futuro do carnaval arroio-grandense.
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ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Multidão! O público do Carnaval Arroio-Grandense, 2012. ...................... 12 Figura 2 - Público aguardando o início do desfile da E. S. Samba no Pé, 2010. ..... 13 Figura 3 - Despejo da Escola de Samba Samba no Pé, 2020.................................. 15 Figura 4 - O Combate Entre o Carnaval e a Quaresma, por Pieter Bruegel, 1559. .. 17 Figura 5 - Desfile da Escola de Samba Deixa Falar, 1929. ...................................... 20 Figura 6 - Linha do Tempo: A Origem das Escolas de Samba. ................................ 21 Figura 7 - "A Verdade os fará Livre", desfile da Mangueira, 2020. ........................... 23 Figura 8 - Águia da Portela, Desfile de 1970. ........................................................... 24 Figura 9 – Carro Abra-Alas da Portela, Desfile de 2015........................................... 24 Figura 10 - Localização do Município de Arroio Grande ........................................... 27 Figura 11 - Banda União, o som dos primeiros Carnavais, 1933. ............................ 29 Figura 12 - Bloco "As Aviadoras" desfilando no Corso, 1928. .................................. 30 Figura 13 - A Folia dos Mascarados, 1987. .............................................................. 31 Figura 14 - Bloco A Falsa Baiana, 1948 ................................................................... 31 Figura 15 - Desfile da Escola de Samba Academia de Ritmos, 1958. ..................... 32 Figura 16 - Desfile da Escola de Samba Pé de Arroz, 1973..................................... 33 Figura 17- Publicação da Página do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, 2020. .................................................................................................................................. 35 Figura 18 - 1ª Exposição do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, no Museu Municipal, 2017. ........................................................................................................ 36 Figura 19 - Linha do Tempo das Escolas de Samba do Carnaval de Arroio Grande. .................................................................................................................................. 37 Figura 20 - Mapa dos Locais de Origens das Escolas de Samba de Arroio Grande. .................................................................................................................................. 37 Figura 21 - Comissão de Frente da E. S. U. do São Gabriel, 2011. ......................... 39 Figura 22 - Carro Abre-Alas da E. S. Samba no Pé, 2014. ...................................... 40 Figura 23 - Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da E. S. Unidos do Promorar, 2015. ......................................................................................................................... 41 Figura 24 - Carro Abre-Alas da E. S. Acadêmicos do Grande Arroio, 2016. ............ 42 Figura 25 - Componente da E. S. M. Aprendizes do Samba, 2020. ......................... 43 Figura 26 - Ensaio Técnico da Escola de Samba Samba no Pé, 2018. ................... 44 Figura 27 - Passarela do Samba, Carnaval de Arroio Grande, 2016. ...................... 45
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Figura 28 - Layout da Passarela do Samba. ............................................................ 46 Figura 29 - As Cadeiras de Praia do Público do Carnaval de Arroio Grande, 2020. 46 Figura 30 - Feira da Pechincha da Escola de Samba Mirim Aprendizes do Samba, 2019. ......................................................................................................................... 48 Figura 31 - Ensaio da Bateria da Escola de Samba Samba no Pé, 2018. ............... 49 Figura 32 - Ensaio da Bateria da E. S. Acadêmicos do Grande Arroio, 2016........... 49 Figura 33 - Mapa dos Locais de Ensaios das Escolas de Samba de Arroio Grande. .................................................................................................................................. 50 Figura 34 - Mapa da Localização dos Barracões das Escolas de Samba para o Carnaval de 2020. ..................................................................................................... 51 Figura 35 – Comparativo: Processo de Confecção de Alegorias. Barracão da Escola de Samba Unidos Do São Gabriel, 2013. ................................................................. 52 Figura 36 - Barracão da Escola de Samba Samba No Pé, 2018.............................. 53 Figura 37 - Localização da Cidade do Samba do Rio de Janeiro. ............................ 55 Figura 38 - Vista Aérea da Cidade do Samba, Rio de Janeiro, 2017. ...................... 56 Figura 39 - Implantação: Cidade do Samba. ............................................................ 57 Figura 40 - Setorização e Fluxograma, Barracão da Cidade do Samba. ................. 58 Figura 41 - Barracão da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, Setor de Montagem de Alegorias, 2009................................................................................... 58 Figura 42 - Vão da Circulação Vertical, Barracão da Cidade do Samba, 2021. ....... 59 Figura 43 - Construção dos Barracões da Cidade do Samba, Rio de Janeiro, 2005. .................................................................................................................................. 59 Figura 44 - Fachadas dos Barracões da Cidade do Samba, 2020. .......................... 60 Figura 45 - Fachada do Barracão da Cidade Do Samba do Rio de Janeiro, 2021. .. 60 Figura 46 - Museu do Carnaval, Barranquilla, 2019. ................................................ 61 Figura 47 - Localização do Museu do Carnaval de Barranquilla. ............................. 62 Figura 48 - O Museu e a Casa do Carnaval. ............................................................ 62 Figura 49 - Implantação: Museu do Carnaval de Barranquilla .................................. 63 Figura 50 - Plano de Revitalização da Área: Antes (2017) e Depois (2019). ........... 63 Figura 51 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Planta Baixa do Pavimento Térreo. .................................................................................................................................. 64 Figura 52 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Planta Baixa do 1º Pavimento. ..... 64 Figura 53 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Planta Baixa do 2º Pavimento. ..... 65 Figura 54 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Planta Baixa do 3º Pavimento. ..... 65
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Figura 55 - Exposição Batalha das Flores, 2019. ..................................................... 66 Figura 56 - Exposição Carnaval Queens, 2019. ....................................................... 66 Figura 57 - Exposição História do Carnaval de Barranquilla, 2019. ......................... 67 Figura 58 - Exposição Digital, 2019. ......................................................................... 67 Figura 59 - Construção do Museu do Carnaval de Barranquilla, 2018. .................... 68 Figura 60 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Fachada Norte.............................. 68 Figura 61 - Detalhes da Fachada Norte. .................................................................. 69 Figura 62 - Carlos Cruz Diez e algumas de Suas Obras. ......................................... 69 Figura 63 - Localização do Terreno no Município de Arroio Grande. ....................... 70 Figura 64 - Mapa do Levantamento Fotográfico do Terreno. ................................... 71 Figura 65 - Imagem do Terreno: Esquina. ................................................................ 71 Figura 66 - Imagem do Terreno: Fachada Principal. ................................................ 71 Figura 67 - Imagem do Terreno: Fachada Lateral. ................................................... 72 Figura 68 - Imagem do Terreno: Interior. .................................................................. 72 Figura 69 - Imagem do Terreno: Interior. .................................................................. 72 Figura 70 - Planta de Situação. ................................................................................ 73 Figura 71 - Superfície Topográfica do Terreno. ........................................................ 74 Figura 72 - Curvas de Nível e Perfis Topográficos. .................................................. 74 Figura 73 - Orientação Solar e Ventos Predominantes. ........................................... 75 Figura 74 - Níveis de conforto de umidade em Arroio Grande, 2020. ...................... 75 Figura 75 - Ambiente Natural.................................................................................... 76 Figura 76 - Mapa do Levantamento Fotográfico do Entorno. ................................... 77 Figura 77 - Imagem do Entorno: Parque Guilhermíneo Dutra. ................................. 78 Figura 78 - Imagem do Entorno: Residências ao Norte. ........................................... 78 Figura 79 - Imagem do Entorno: Ginásio Municipal de Esportes.............................. 78 Figura 80 - Imagem do Entorno: Rua Cap. Astrogildo Silveira Machado. ................ 79 Figura 81 - Mapa de Cheios e Vazios. ..................................................................... 79 Figura 82 - Mapa do Uso do Solo. ............................................................................ 80 Figura 83 - Mapa do Sistema Viários e de Pavimentação. ....................................... 81 Figura 84 - Trajeto das Alegorias das Escolas de Samba. ....................................... 82 Figura 85 - Fluxograma: Complexo Central do Samba. ........................................... 85 Figura 86 - Fluxograma: Barracão de Escola de Samba. ......................................... 85 Figura 87 - Fluxograma: Museu do Carnaval e Sede da LESAG. ............................ 86 Figura 88 - Fluxograma: Salão de Eventos e Salas de Ensaio................................. 86
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Figura 89 – Fantasia de Evelyn Bastos, Rainha de Bateria da Mangueira, 2014. .... 87 Figura 90 - Plumas Coloridas. .................................................................................. 88 Figura 91 - Estudo da Forma. ................................................................................... 89 Figura 92 - Desenho Ilustrativo: Tomada do Partido do Desnível do Terreno. ......... 89 Figura 93 - Zoneamento ........................................................................................... 90 Figura 94 - Plano de Massas. ................................................................................... 90 Figura 95 - Implantação. ........................................................................................... 91 Figura 96 - Planta Baixa: Barracão ........................................................................... 92 Figura 97 - Planta Baixa Salão de Eventos e Salas de Ensaios............................... 93 Figura 98 - Planta Baixa Museu do Carnaval e Sede da LESAG. ............................ 94 Figura 99 – Corte Esquemático Transversal ............................................................ 95 Figura 100 - Corte Esquemático Longitudinal........................................................... 96 Figura 101 - Paleta de Cores.................................................................................... 96 Figura 102 - Fachadas Norte dos Barracões 01 e 02. .............................................. 97 Figura 103 – Letreiro e Fachada Norte do Salão de Eventos. .................................. 97 Figura 104 - Fachadas Norte dos Barracões. ........................................................... 97 Figura 105 - Fachada Sul das Salas de Ensaios do Salão de Eventos. ................... 98 Figura 106 - Fachada Sul dos Barracões 04 e 05. ................................................... 98 Figura 107 - Fachada Sul doas Barracões 01, 02 e 03. ........................................... 98 Figura 108 - Fachada Leste da Sede da LESAG e do Museu do Carnaval. ............ 99 Figura 109 - Fachada Sul da Sede da LESAG e do Museu do Carnaval. ................ 99 Figura 110 - Acessos de Pedestres aos Barracões. ............................................... 100 Figura 111 - Acesso de Pedestres ao Museu do Carnaval e Sede da LESAG. ..... 100
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INDÍCE DE TABELAS Tabela 1 - Programa de Necessidades: Complexo Central do Samba. .................... 82 Tabela 2 - Programa de Necessidades: Barracão. ................................................... 83 Tabela 3 - Programa de Necessidades: Museu do Carnaval. ................................... 83 Tabela 4 - Programa de Necessidades: Sede da LESAG. ....................................... 84 Tabela 5 - Programa de Necessidades: Salão de Eventos. ...................................... 84 Tabela 6 - Programa de Necessidades: Sala de Ensaios. ........................................ 84 Tabela 7 - Quadro de Áreas do Projeto Proposto. .................................................. 101 Tabela 8 - Plano de Atividades para o Trabalho Final de Graduação. .................... 102
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Art.
Artigo
Cel.
Coronel
COHAB
Conjunto Habitacional
CPC
Construções e Processos Científicos
Dr.
Doutor
E.S.
Escola de Samba
E.S.M.
Escola de Samba Mirim
E.S.U.
Escola de Samba Unidos
Eng.
Engenheiro
IPHAN
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
KGR
Katya González Ripoll
Km
Quilômetro
Km²
Quilômetro Quadrado
LESAG
Liga das Escolas de Samba de Arroio Grande
PPCI
Plano de Proteção Contra Incêndio
M²
Metro Quadrado
SENA
Sede da Indústria Criativa
UNESCO
Organizações das Nações Unidas
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SUMÁRIO 1
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12 1.1
Justificativa ............................................................................................... 14
1.2
Objetivos ................................................................................................... 16
1.2.1 Objetivo Geral........................................................................................... 16 1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................... 16 1.3 2
Delimitação do Tema ................................................................................ 16
REFERÊNCIAL TEÓRICO ............................................................................... 17 2.1
O Carnaval ................................................................................................ 17
2.2
As Escolas de Samba ............................................................................... 19
2.3
A Evolução dos Desfiles de Escolas de Samba ........................................ 22
2.4
Arroio Grande e seu Carnaval .................................................................. 27
2.5
As Escolas de Samba de Arroio Grande................................................... 36
2.5.1 Escola de Samba Unidos do São Gabriel ................................................ 38 2.5.2 Escola de Samba Samba No Pé .............................................................. 39 2.5.3 Escola de Samba Unidos do Promorar .................................................... 40 2.5.4 Escola de Samba Acadêmicos do Grande Arroio .................................... 41 2.5.5 Escola de Samba Mirim Aprendizes do Samba ....................................... 42 2.6 3
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5
6
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Os Desfiles de Escola de Samba em Arroio Grande ................................ 43
ESTUDOS DE CASO ....................................................................................... 55 3.1
A Cidade do Samba, Rio de Janeiro ......................................................... 55
3.2
Museu do Carnaval de Barranquilla .......................................................... 61
DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO .............................................. 70 4.1
Contextualização ...................................................................................... 70
4.2
Área de Implantação ................................................................................. 73
4.3
Síntese da Legislação Geral e Específica do Tema ................................. 76
4.4
Entorno ..................................................................................................... 77
DIMENSIONAMENTO ...................................................................................... 82 5.1
Programa de Necessidades e Pré-dimensionamento ............................... 82
5.2
Fluxograma ............................................................................................... 85
PROPOSTA ...................................................................................................... 87 6.1
Conceito .................................................................................................... 87
6.2
Partido....................................................................................................... 88
6.3
Zoneamento .............................................................................................. 90
6.4
Proposta.................................................................................................... 91
PLANO DE ATIVIDADES ............................................................................... 102
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REFERÊNCIAS....................................................................................................... 103 APÊNDICES ........................................................................................................... 106
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1 INTRODUÇÃO O trabalho desenvolvido refere-se à primeira etapa do Trabalho Final de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Anhanguera de Pelotas. Para definir o tema foi considerado a importância de fortalecer movimentos culturais, pois a cultura é uma herança social dos seres humanos, uma forma de identidade social. O Brasil possui uma das maiores diversidades culturais do mundo, cada região do país possui sua identidade que emerge através de sua cultura. O maior movimento cultural brasileiro é o Carnaval, festa que celebra a vida, a diversidade e a liberdade de expressão. Considerando a importância e a grande apreciação por esse movimento cultural, esse projeto será direcionado a fomentá-lo, especificamente no município de Arroio Grande, no Rio Grande do Sul. Maior evento cultural do município, e um dos maiores da região sul do estado, o Carnaval de Arroio Grande promove grande movimento econômico além de gerar renda e empregos antes mesmo do evento começar. Durante os cinco dias do evento anual, cerca de 8 mil a 10 mil pessoas por noite apreciam a festa popular (Figura 1).
Figura 1 - Multidão! O público do Carnaval Arroio-Grandense, 2012.
Fonte: Acervo do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, 2021.
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Os desfiles de Escolas de Samba são a grande atração do evento (Figura 2), 5 entidades carnavalescas com cerca de 30 anos de tradição, as agremiações participam e promovem eventos durante todo o ano, atuando nos bairros mais afastados e carentes da cidade cumprindo um papel social muito importante. “As atividades realizadas por uma escola de samba extrapolam, e muito, o senso comum de que elas funcionam somente com a finalidade de realizar o seu desfile carnavalesco.” (COSTA DE ASSIS, 2019).
Figura 2 - Público aguardando o início do desfile da E. S. Samba no Pé, 2010.
Fonte: Portal Terra de Mauá, 2010.
Sendo
assim,
esse
projeto
visa
fortalecer
essas
agremiações
e
consequentemente o carnaval arroio-grandensse, oferecendo um espaço para a confecção de alegorias e fantasias e armazenamento de materiais. Como complemento, um espaço de ensaios e de eventos, uma sede para a Liga das Escolas de Samba de Arroio Grande (LESAG), instituída para organizar os desfiles e representar as escolas, e também o espaço físico do Museu do Carnaval. Intitulado como a Central do Samba, esse complexo é uma forma de valorizar a cultura, que é um retorno tão importante derivado deste investimento nas agremiações, grande fonte cultural no município.
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1.1 Justificativa O Carnaval se apresenta como a maior festa popular do mundo, é celebrado em todo o país, uma importante difusão de cultura que ao mesmo tempo gera uma grande movimentação econômica. Arroio Grande durante o evento recebe um número expressivo de turistas, além da população local, causando assim uma grande demanda nos hotéis e restaurantes, gerando empregos e renda. As Escolas de Samba durante a preparação do desfile também geram empregos e renda, de forma direta e indireta, a muitas famílias. Costureiras, marceneiros, eletricistas, soldadores, artesãos, coreógrafos, músicos e dançarinos são alguns dos profissionais que aumentam suas rendas com a demanda das Agremiações Carnavalescas. Porém, as Escolas de Samba possuem grandes dificuldades financeiras como é ressaltado no filme “Gente Empenhada em Construir a Ilusão” (Junta que dá Certo, 2020). Documentário que apresenta as alegrias, tristezas, motivações e dificuldades das escolas de samba narradas pelos seus membros durante os preparativos para o desfile do Carnaval no município. As quatro escolas de samba tradicionais de Arroio Grande, a) Escola de Samba Unidos do São Gabriel (fundada em 03 de fevereiro de 1990) b) Escola de Samba Samba no Pé (fundada em 24 de março de 1990) c) Escola de Samba Unidos do Promorar (fundada em 09 de janeiro de 1991) e d) Escola de Samba Acadêmicos do Grande Arroio (fundada em 28 de abril de 2000), atuam com a dependência de verbas públicas para realizarem seus desfiles. A insuficiência da verba anualmente destinada e a falta de investimentos impede que as agremiações adquiram estabilidade financeira. Em 16 de fevereiro de 2019 foi fundada a Escola de Samba Mirim Aprendizes do Samba, e no ano de 2020 realizou seu primeiro desfile. Dentre as dificuldades enfrentadas pelas Escolas de Samba de Arroio Grande, está a falta de um espaço físico adequado para a confecção de fantasias e de alegorias, denominado barracão. Ela ganhou evidência em 26 de agosto de 2020 quando a Escola de Samba Samba no Pé, a maior campeã do carnaval arroiograndesse, foi despejada do imóvel alugado para armazenar seu material. (Figura 3).
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Figura 3 - Despejo da Escola de Samba Samba no Pé, 2020.
Fonte: Borges, 2020.
As Escolas de Samba não possuem um espaço físico adequado para confeccionar as fantasias e alegorias para os desfiles e nem para armazenar o material que é reaproveitado para o próximo ano. Necessitam, na maioria das vezes, alugar galpões agrícolas desocupados, considerados impróprios para essa atividade. Assim como também um espaço físico para realizar ensaios e os eventos, como jantares e competições de samba e de samba-enredo. Membros das escolas realizam seus ensaios em espaços cedidos ou alugados, mas na maioria das vezes os ensaios são realizados em via pública. E para realizar seus jantares e competições de samba e de samba-enredo as escolas necessitam alugar salões de eventos, o que é um problema, pois esses eventos visam arrecadar fundos para promover os desfiles. Desta forma, se justifica o tema do projeto determinado a fomentar as Escolas de Samba de Arroio Grande, considerando sua importância para o carnaval e sua imponência cultural. O projeto visa atender suas necessidades em relação aos barracões e os espaços de ensaios e de eventos, e agregar a sede da LESAG, visto que, a instituição carnavalesca não possui um local próprio para realizar as reuniões, atividades e eventos em prol das agremiações. Além disso, o complexo intitulado Central do Samba, deve integrar o Memorial do Carnaval, iniciativa do Professor Elizandro Araújo. Entusiasta do carnaval que possui acervo que conta a história do carnaval arroio-grandesse, porém não possui um espaço físico adequado. O acervo que dispõe está armazenado em sua própria residência, e é apresentado ao público através de imagens em uma página de rede social e exposições temporárias.
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1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Proporcionar estabilidade e preservar a tradição cultural das Escolas de Samba do município de Arroio Grande, desta forma, fomentar o maior evento cultural e econômico da cidade, o Carnaval.
1.2.2 Objetivos Específicos •
Fornecer um espaço digno e adequado para os profissionais e membros das agremiações preparem seus desfiles;
•
Estabelecer a sede da LESAG;
•
Preservar a história do Carnaval arroio-grandesse disponibilizando um espaço físico para exposição do acervo do Memorial do Carnaval;
•
Proporcionar espaço multiuso disposto a servir como sala de ensaios e também a receber eventos;
•
Instigar a infraestrutura urbana no entorno do complexo;
•
Proporcionar áreas de convivência e abertas para comunidade.
1.3 Delimitação do Tema Complexo contendo 5 barracões será destinado aos profissionais, funcionários e membros das Escolas de Samba com capacidade para 4 alegorias cada, com áreas de confecções, soldagem, marcenaria e gestão; espaço multiuso destinado a salas de ensaios dos membros das Escolas de Samba e espaço para realização de eventos com capacidade de 150 pessoas; espaço administrativo destinado aos membros da diretoria da LESAG; espaço de exposições do acervo do Memorial do Carnaval com capacidade para 20 pessoas e áreas externas de convivência e lazer.
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2 REFERÊNCIAL TEÓRICO 2.1 O Carnaval Tradicional festival popular celebrado em diversos lugares do mundo, o Carnaval aglomera multidões em uma festa pública ou desfiles que combinam aspectos circenses, fantasias, máscaras, dança e música. As pessoas usam trajes que transmitem mensagens culturais, sátiras sociais e políticas. Permite as pessoas de esconder suas individualidades cotidianas e ter uma experiência atípica de unidade social, com uma liberdade de expressão que ultrapassa as barreiras dos padrões estabelecidos pela vida em sociedade no dia-a-dia, identificando assim o Carnaval como a festa que celebra a vida em liberdade. O Carnaval em sua origem entende-se como uma festa cristã, pois o festival é realizado antes da Quaresma1, fazendo parte do período litúrgico e acontecendo durante o mês de fevereiro ou início de março. A palavra Carnaval vem da expressão do latim tardio carne vale, que significa "adeus à carne", remetendo ao período de jejum que se aproxima. “A relação entre o Carnaval e o cristianismo está na proposta da Igreja de canalizar os impulsos carnais dos fiéis em uma data apenas, para, depois, impô-los um período de restrição e jejum.” (SILVA, 2020) (Figura 4). Antes da Igreja Católica tentar dar um novo sentido ao Carnaval, na Idade Média as festas carnavalescas já apresentavam as características que as definem atualmente.
Figura 4 - O Combate Entre o Carnaval e a Quaresma, por Pieter Bruegel, 1559.
Fonte: Wikipédia, 2002. 1
QUARESMA: Período entre o fim do Carnaval até a Semana Santa de preparo espiritual dos fiéis para a Páscoa. Época de reflexão e que exige alguns sacrifícios como o jejum. (ROMERO, 2014).
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Diferentes povos pagãos na antiguidade festejavam a chegada da primavera com características semelhantes que identificam o Carnaval, como a comemoração das Sacéias, na Babilônia, onde permitiam que um prisioneiro ocupasse o lugar do rei por um determinado tempo e no templo do Deus Marduk que durante a comemoração o rei era humilhado para provar sua inferioridade perante a figura divina. Na Grécia Antiga a chegada da primavera era festejada para que toda a população participasse, sem distinções. Comemorações similares aconteciam também durante o Império Romano, em que pessoas serviam banquetes, brincavam e festejavam usando trajes coloridos e máscaras para esconder suas identidades. Contudo, o Carnaval não possui uma data de origem definida, trata-se de algo que acompanhou a sociedade no decorrer da história, conforme sua evolução. Expandindo-se e sendo sofisticado devido ao seu alto movimento econômico, mas sempre mantendo as suas principais características. No Brasil, o carnaval iniciou durante o período colonial. O “entrudo” foi umas das primeiras manifestações de sentido carnavalesco, praticado por escravos que saíam às ruas jogando água, farinha, polvilho, tinta, café, lama e até mesmo urina uns nos outros. Foi proibido em 1841 por ser considerado violento e ofensivo, porém até meados do século XX ainda era praticado (ARAÚJO, 2003, p.57). Com a chegada da corte portuguesa surgiram as primeiras tentativas de civilizar a festa carnavalesca brasileira, e então influenciados pelos festejos carnavalescos europeus, principalmente o Carnaval de Viena na Itália, começam a acontecer nos grandes salões da burguesia os bailes de máscaras. Entretanto, as classes mais baixas, que não podiam frequentar os carnavais nos grandes salões, começaram a festejar em via pública dando origem ao tradicional Carnaval de rua servindo de modelo para as diferentes folias. Essas aglomerações de pessoas foram denominadas como cordões2, ranchos3 ou blocos4 que, regados ao ritmo das marchas carnavalescas e do samba, posteriormente deram origem as escolas de samba.
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CORDÕES: Foram um tipo de agremiação recreativa ligada ao Carnaval de um grupo de pessoas que se sucedem em ritmo dançante. (DUARTE, 2010). 3 RANCHOS: Associações que realizavam cortejos de carnaval, com a presença de Rei e Rainha ao som das chamadas marcha-rancho. (DUARTE, 2010). 4 BLOCOS: Formados por foliões que no Carnaval andam em grupos, com seus participantes caminhando, tocando instrumentos e dançando. (DUARTE, 2010).
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2.2 As Escolas de Samba Na década de 1920 durante a grande popularização do Carnaval juntamente ao samba surgem as escolas de samba, associações de comunidades dos subúrbios da cidade do Rio de Janeiro. Os ranchos carnavalescos eram a grande atração do carnaval carioca no início do século XX, eram organizados pela burguesia e desfilavam em formato de cortejo com fantasias, estandartes e carros temáticos, com seu ritmo característico. Porém, com o samba ganhando popularidade e deixando de ser marginalizado, os sambistas viram a necessidade de transformar o carnaval se inspirando nos movimentos carnavalescos que já dominavam as ruas do Rio de Janeiro. Precisavam de um nome. Um nome para esse novo conjunto que surgia, e então o sambista sugeriu! Muito provavelmente, quando Ismael Silva sugeriu Escola de Samba fazendo menção a uma escola normal, não fazia ideia de que sua brincadeira debochada se tornaria um dos maiores espetáculos da terra. (ARAÚJO, 2003, p.219).
Originário dos batuques realizados no quintal da Tia Siata na década de 1870 e difundido na década de 1910, no início, era o samba que permitia distinguir as escolas de samba dos ranchos carnavalescos e hoje é o gênero musical que mais representa a cultura popular do Brasil. A primeira escola de samba foi fundada em 12 de agosto de 1928, chamada Deixa Falar (Figura 5). Considerada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) pioneira porque foi a primeira a demonstrar características que identificam uma escola de samba atualmente, diferente da Portela, escola de samba tradicional do Rio de Janeiro, que mesmo sendo fundada anteriormente ainda não possuía essas caracteristicas.
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Figura 5 - Desfile da Escola de Samba Deixa Falar, 1929.
Fonte: Milliet, 2021.
Fundada no bairro Estácio de Sá, na cidade do Rio de Janeiro, por Ismael Silva, Edgar Marcelino dos Passos, Nilton Bastos, Sílvio Fernandes, Osvaldo Vasques e Alcebíades Barcelos, a Escola de Samba Deixa Falar foi criada em reuniões que aconteciam onde morava o compositor Ismael Silva. O nome “Deixa Falar” foi uma forma de resposta aos outros grupos de carnavalescos que se consideravam melhores do que os do Estácio de Sá. A fundação da primeira escola de samba influênciou a formação de outras escolas oriundas de blocos e ranchos carnavalescos. A Estação Primeira de Mangueriafoi fundada como bloco em 28 de abril de 1928 e depois transformada em escola de samba. A Portela que foi fundada em 11 de abril de 1923 como um conjunto carnavalesco chamado Oswaldo Cruz, e depois no ano de 1931 foi transformada em Escola de Samba com o nome de “Vai como Pode”. Mas somente em 1936, a dois dias do desfile de carnaval, marcado para 3 de março, o delegado Dulcídio Gonçalves recusou-se a renovar a licença da agremiação por considerar o nome impróprio para uma escola de samba, e sugeriu que a agremiação fosse batizada como Portela, em referência ao logradouro Estrada do Portela, onde os sambistas se reuniam. As escolas sofreram influências nos elementos dos ranchos carnavalescos, tais como o enredo, o casal de mestre-sala e porta-bandeira e a comissão de frente, elementos aos quais Ismael Silva, o idealizador da primeira escola de samba, era contrário, mas as contribuições da Deixa Falar foram fundamentais para fixar as características principais das escolas atuais. Entre elas destacam-se: o samba
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moderno, o cortejo, o conjunto de percussão, sem a utilização de instrumentos de sopro, e a ala das baianas. O primeiro desfile competitivo foi idealizado pelo
jornalista pernambucano
Mário Filho e organizado em 1932 através do jornal carioca chamado Mundo Esportivo, que estabeleceu critérios de julgamento e número mínimo de componentes, tendo como campeã a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Em 1934 as escolas de samba começam a se expadir e a ganhar seu lugar de destaque no carnaval da cidade do Rio de Janeiro com a fundação da União Geral das Escolas de Samba, desbancando os ranchos e as sociedades carnavalescas na preferência do público, até que estes viessem a se extinguir. A atuação do prefeito Pedro Ernesto foi decisiva para o sucesso do evento, foi o primeiro político a dar apoio financeiro ao carnaval. Com um projeto que visava formentar o turismo no Rio de Janeiro, em 1935 reconheceu e oficializou os desfiles. Figura 6 - Linha do Tempo: A Origem das Escolas de Samba.
Fonte: Autor, 2021.
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2.3 A Evolução dos Desfiles de Escolas de Samba O primeiro concurso de escolas de samba em 1932, contribuiu decisivamente com o desenvolvimento das escolas de samba, o desfile em seu primórdio já foi abordado como um grande produto do campo midiático, que viria a crescer de forma monumental. Com a legalização das escolas de samba e a oficialização dos desfiles em 1935, as agremiações precisaram tirar alvarás de licença para funcionamento. Necessitaram apresentar, registrado em cartório, um estatuto e ter alguma instalação como sede. Foi nesse decorrer que receberam da Delegacia de Costumes e Diversões o título de grêmio recreativo. Oficializadas, legalizadas, populares, apoiadas pelo poder público e com promoção midiática, as entidades carnavalescas estavam destinadas a crescer em quantidade e em tamanho. No primeiro desfile oficial já haviam 24 escolas legalizadas espalhadas pela cidade do Rio de Janeiro. A competição se realizou na Praça Onze, reduto maior dos sambistas, onde ficaria até 1942. Devido a reformas urbanas, realizadas no centro da cidade, ficou inviável a realização dos desfiles que passaram a ocorrer nas Avenidas Rio Branco e Presidente Getúlio Vargas. Em 1978 se estabeleceram definitivamente na Avenida Marquês da Sapucaí, onde foi construído o Sambódromo5 que possuí capacidade para 72.500 pessoas assistirem os desfiles. Muitos associam o sucesso das escolas de samba ao fato delas terem se apropriado de elementos que se destacaram positivamente em outros movimentos carnavalescos, como por exemplo as poderosas baterias oriundas dos blocos carnavalescos, o empunho do pavilhão pelo casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira influenciado pelos ranchos assim como o uso de alegorias e fantasias luxuosas. Contudo, a popularização das escolas de samba crescia progressivamente, pois a cada ano as agremiações conquistavam inúmeros membros e simpatizantes devido sua forte apreciação popular que está associada a sua origem comunitária e também ao seu conteúdo de teor crítico social.
As escolas servem até hoje de palco para pessoas excluídas da sociedade, principalmente os pobres, que nos desfiles ganham visibilidade. As comunidades são
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SAMBÓDROMO: Termo criado por Darcy Ribeiro, vice-governador do estado do Rio de Janeiro em 1978, para designar o conjunto arquitetônico construído para realização dos desfiles de escola de samba, consiste um uma longa e larga passarela com arquibancadas nas laterais. (VICTÓRIO, 2010)
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a base de qualquer escola de samba, que levam para a passarela, cada uma, a história, a tradição e as alegrias e tristezas da sua gente (Figura 7).
Figura 7 - "A Verdade os fará Livre", desfile da Mangueira, 2020.
Fonte: Cassiano, 2020.
Algumas escolas passaram a dominar a disputa carnavalesca, e isso ocasionou uma rivalidade entre as agremiações. Essa rivalidade incentivou ainda mais a melhoria do desempenho dos grupos na passarela. No final dos anos 40 já havia o conceito de que a inovação era sinônimo de título e com isso as escolas de samba visavam se superar a cada desfile. A Portela (Figuras 8 e 9) foi responsável por diversas inovações no carnaval, é de autoria da agremiação de Madureira o primeiro samba-enredo, em 1938 composto por Paulo da Portela. Antes disso, as escolas cantavam um refrão e depois os componentes improvisavam uma rima que após se repetia o refrão, seguindo sucessivamente.
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Figura 8 - Águia da Portela, Desfile de 1970.
Fonte: Migão, 2013.
Figura 9 – Carro Abra-Alas da Portela, Desfile de 2015.
Fonte: Zijian, 2015.
Ao longo de suas trajetórias os desfiles também sofreram com diversas formas de tentativas de censuras, uma delas foi durante o período do Estado Novo onde foi imposto às agremiações temáticas de enredos nacionalistas. Porém, as agremiações sempre resistiram devido a sua forte popularidade. As escolas caminharam no sentido da profissionalização nos anos 60, com uma inovadora ideia do então presidente da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Convidou um talentoso professor e coreógrafo da Escola de Belas Artes a assumir o visual artístico da escola, que apenas aceitou desde que a escola montasse a equipe
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sugerida por ele. Essa sacada alavancou a escola a figurar entre as maiores, conquistando naquele ano o inédito vice-campeonato e posteriormente seis incríveis campeonatos. Anteriormente, todas as confecções de alegorias e fantasias eram feitas por pessoas da comunidade, sem qualificação específica, apenas existia a experiência passada entre gerações. Essa atitude influenciou fortemente as demais agremiações, e resultou no surgimento de umas das figuras mais emblemáticas de uma escola de samba, o Carnavalesco. Os desfiles foram tomando porporções monumentais, tanto em questões de tamanho e público quanto do posto de vista econômico, pois da forma como a disputa era direcionada para o visual estético e não mais o samba no pé proriamente dito, os desfiles foram ficando cada vez mais luxuosos e grandiosos, ou seja, mais caros. A mídia impulsionou fortemente a difusão da cultura das escolas de samba, as estações de rádio e jornais davam destaques às agremiações no período carnavalesco, onde os sambas-enredo tocavam seguido nas rádios e os jornais estampavam imagens dos luxuosos carros alegóricos. “Ao contrário do que poderia supor uma visão romântica, sempre houve grande afinidade entre escolas e a comunicação de massa, ou a chamada indústria cultural. Seu meio popular nascente reuniu o meio radiofônico e os sambistas de origem popular. Como vários pesquisadores demostram, a expansão do samba acompanhou a extraordinária expansão do rádio a partir dos anos 30. Rádio, samba e escolas de samba alimentaram-se reciprocamente”. (CAVALCANTI, 1999, pág. 84).
A consagração das escolas de samba no ponto de vista financeiro e midiático aconteceu com a primeira transmissão televisionada dos desfiles de escolas de samba, ainda nos anos 60. A trasmissão foi tão bem sucedida que em seguida a maior rede de televisão do país passou a transmitir todos anos o já considerado maior espetáculo da Terra. Ao longo dos anos os desfiles foram se transformando e evoluindo rapidamente. Devido a insistência das agremiações de se superarem a cada desfile, combinado com a alta promoção midiática, os métodos de avaliações das escolas passaram a mudar constantemente, pois as escolas sempre apresentavam novidades que não haviam formas a serem julgadas. As escolas são avaliadas através de quesitos por jurados que pontuam durante a competição no Sambódromo¹, o que determina as notas das escolas e a classificação no desfile atual. Esses quesitos de avaliação já variaram aos longos dos anos, os atuais são:
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a) Bateria: É a marcação da cadência e do ritmo do samba. b) Comissão de Frente: Conjunto de Componentes que abrem o desfile e apresentam a escola. c) Alegorias e adereços: Elementos cenográficos que contam parte do enredo. d) Harmonia: Entrosamento com o ritmo e o canto do samba-enredo. e) Evolução: É a progressão do desfile. f) Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Conduzem e apresentam o pavilhão da agremiação. g) Enredo: A história a ser apresentada no desfile. h) Samba-Enredo: Samba com composição adequada ao enredo. i) Fantasias: Vestimentas estilizadas de acordo com o enredo.
A disputa é acirrada e quase sempre decidida nos detalhes. O título para uma escola de samba representa muito mais que um troféu e sim a glória de sua comunidade, que nos desfiles refletem seu trabalho, criatividade, talento, perseverança e sua tradição, transmitida entre gerações. A história dos desfiles das escolas de samba se baseia no contexto do carnaval carioca por ser o pioneiro, mas toda essa cultura carnavalesca se difundiu por todo o território nacional. Por ser a capital do país na época que surgiu as escolas de samba, em 1928, o carnaval do Rio de Janeiro influenciou fortemente o aspecto cultural do carnaval de diversas cidades de todo o país. Em 1930, dois anos após o surgimento da primeira escola de samba no Rio, em São Paulo surge a Lavapés, a primeira escola de samba paulista. Com a popularização das escolas de samba, no decorrer do tempo, foram surgindo entidades carnavalescas em todo o território nacional, inclusive na pequena cidade do interior gaúcho, Arroio Grande.
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2.4 Arroio Grande e seu Carnaval Localizada no sul do estado do Rio Grande do Sul (Figura 10) a cidade de Arroio Grande está situada na região da Lagoa Mirim, tendo como principal via de acesso a BR 116, estando a 92 Km de Pelotas e 353 Km de Porto Alegre, e em comparação aos demais municípios vizinhos, pode considerar-se polo de uma microrregião.
Figura 10 - Localização do Município de Arroio Grande
Fonte: Wikipédia, 2006.
Começou a ser povoada em 1803, por Manuel Jerônimo de Sousa e sua família. Em 1812, Manuel de Sousa Gusmão, filho de Manuel Jerônimo, que ali havia se instalado com a esposa, dona Maria Pereira das Neves, doaram um terreno para ser edificada uma igreja, hoje a igreja matriz do município. Sua emancipação política foi estabelecida em 24 de março de 1873, 148 anos, quando foi elevada à categoria de Vila, mas somente em 5 de novembro de 1890, foi elevada à categoria de cidade se estendendo por 2.513,6 km², contando com 18.293 habitantes possuindo um Índice de Desenvolvimento Humano considerado alto. Apelidade de Cidade Simpatia devido a hospitalidade de seu povo a cidade também é conhecida como Terra de Mauá. Foi em Arroio Grande que nasceu Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, comerciante, industrial e banqueiro que é reconhecido nacionalmente por sua grande contribuição à industrialização do Brasil no período do Império.
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Arroio Grande tem como sua base econômica a produção agrícola, figurando como umas das maiores produtoras de arroz e soja no estado. Seu centro comercial e cultural se estabelece na Rua Dr. Monteiro no centro da cidade. O município dispõe de grandes eventos culturais, socias e econômicos que se destacam na região, como a Semana Farroupilha, a ExpoFeira, o Dança Arroio Grande, e o Carnaval, considerado o melhor da zona sul. O início do Carnaval em Arroio Grande é incerto, pois somente em 1º de maio 1896 foi fundando o primeiro veículo de informação no Arroio Grande, o Jornal “O Pampeiro”. Sendo assim, não há registros da celebração da festa na cidade antes desta data, toda e qualquer notícia era publicada nos jornais de cidades vizinhas principalmente. Os primeiros registros de Carnaval em Arroio Grande já surgem em fevereiro de 1897, oito meses após a fundação do jornal. A festa de Carnaval em Arroio Grande é bem tardia, mas o interessante é que ela está dentro do contexto nacional e regional. (CARVALHO, 2020). O Carnaval tem seus primórdios, no município de Arroio Grande, no final do século XIX e início do século XX. Era chamado de A Festa do Deus Momo e acontecia mesmo com a desaprovação da igreja, essa rejeição ficava eminente através dos padres da época e persistiu por um longo período. As retretas eram apresentações musicais de bandas, onde se destaca a banda Lira Arroio-Grandense, que faziam a alegria dos foliões no interior e nas redondezas da Praça da Matriz, atual Praça Maneca Maciel, enquanto eram realizados os cortejos e as brincadeiras que configuram o Carnaval chamado de entrudo. Vale ressaltar que essas manifestações populares eram realizadas pela população negra, sendo assim as famílias negras são responsáveis pela origem do Carnaval em Arroio Grande. O que pode ser corroborado pelo reportagem realizada pelo jornal “O Progressista” (1909) em que relata que: “O Carnaval em Arroio Grande transcorreu com pouca animação esse ano, a gente de cor foi que se encarregou do agito da festa realizando bailes ao ar livre e passeatas pela cidade.” A classe alta arroio-grandense em sua maioria assim como a igreja rejeitavam essas manifestações populares, porém eram realizadas em bailes de teor carnavalesco e saraus na antiga Intendência Municipal, atual Prefeitura Municipal de Arroio Grande. Também ocorreram no primeiro clube social da cidade, chamado Sociedade Bailante Clube e Recreio Arroio-Grandensse, fundando em 07 de março de 1896, que posteriormente seria incorporado ao Clube Gaúcho (1990) e daria
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origem ao Clube Instrução e Recreio, fundado em 02 de fevereiro de 1902. Foi através do Clube Instrução e Recreio que os bailes de Carnaval se concretizaram de fato e ganharam força em Arroio Grande, inspirados pelos bailes de salões da cidade vizinha Pelotas. Eram realizados desde a fundação da entidade social e teve seus salões como berço de nascimento de vários cordões e blocos carnavalescos. Os bailes de Carnaval dos Clube Sociais eram frequentados somente pela elite da classe social e tinham influência dos Carnavais europeus, principalmente o de Viena na Itália, onde se utilizavam trajes coloridos e máscaras. Essas características se mantiveram até o início dos anos 20, quando o Carnaval começou a tomar maiores proporções, considerada a época de grandes revoluções nos festejos carnavalescos em todo o território nacional. A Banda União (Figura 11), fundada nos anos de 1920, animou as retretas e bailes de salão dando cadência as primeiras marchinhas e sambas executados no Carnaval da Cidade Simpatia. Também se destaca o episódio de fundação da Sociedade Recreativa Clube Guarany, em 26 de fevereiro de 1920, constituído pela comunidade negra arroiograndensse. Naquela época, havia explícita discriminação racial e a população negra era proibida de entrar e participar dos bailes do Clube Instrução e Recreio, e até meados dos anos 70 e 80 ainda não eram bem aceitos.
Figura 11 - Banda União, o som dos primeiros Carnavais, 1933.
Fonte: Acervo do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, 2020.
O primeiro cordão carnavalesco de Arroio Grande foi fundado em 1925, intitulado Sociedade Cordão Carnavalesco Primeiro Nós, foi responsável por moldar os bailes de carnaval da forma como são conhecidos atualmente. Hilda Pinto Ribeiro
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foi eleita ao título inédito de Rainha do Carnaval Primeiro Nós, num disputado baile social na noite de 30 de julho de 1927. Em 1926, por uma iniciativa do Clube Instrução e Recreio, é criado a primeira comissão de Carnaval com intuito de organizar os festejos carnavalescos. Também surge o Corso (Figura 12) que se tratava de um veículo decorado onde moças da alta sociedade desfilavam pelas ruas da cidade, durante o final da tarde, trajadas com fantasias combinadas cantando ranchos e sambas, jogando confetes e serpentinas no público que às contemplava das calçadas, com o objetivo de convidar uma seleta parte da população para os festejos carnavalescos do Clube. Nesse mesmo ano de 1926 surge os cordões carnavalescos “Os Atrasados” e “Troveja”.
Figura 12 - Bloco "As Aviadoras" desfilando no Corso, 1928.
Fonte: Acervo do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, 2021.
O Carnaval de Rua toma mais força e se destaca perante o Carnaval de Salão no final da década de 20 e início dos anos 30. Surgem vários blocos carnavalescos que transbordam de dentro dos salões dos Clubes Sociais e tomam a Rua Dr. Monteiro no centro da cidade como principal rota da folia. Em 1929 o cordão Troveja passou a condição de bloco com o nome de “Troveja Mas Não Chove” e se destacava juntamente com os blocos “Sempre Reinando”, “As Aviadoras”, “As Pastorinhas”. A festa se manteve nesse formato onde a celebração começava na rua e terminava nos bailes dos salões até o final dos anos 30. Figuras que marcaram forte presença no Carnaval de todo o mundo, os mascarados (Figura 13) surgem no carnaval arroio-grandensse no início dos anos 40, e permanecem figurando até o início dos anos 2000. Também surgem os blocos de
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homens travestidos. Em Arroio Grande, o pioneiro foi o bloco “Falsa Baiana” (Figura 14), no ano de 1948. No decorrer dos anos foram surgindo diversos blocos desses tipo, onde homens se vestem de mulher, e marcam presença até os carnavais atuais da Terra de Mauá. Dentre eles se destacam os blocos “As Cobiçadas”, “Embaixadoras do Mé”, “Estrela Preta” e “As Gurias do Poncho Verde”. “Os mascarados mais tradicionais costumavam-se vestir com uma espécie de "macacão" feito com tecido de algodão, na maioria das vezes de chita ou chitão estampando e a máscara do tipo "fronha de travesseiro", com duas "orelhinhas" nas pontas. Eles desfilavam pela Dr. Monteiro, hora alegrando os foliões, hora assustando os pequenos e até aqueles distraídos pela passarela do samba.” (CARVALHO, 2020).
Figura 13 - A Folia dos Mascarados, 1987.
Fonte: Acervo do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, 2021.
Figura 14 - Bloco A Falsa Baiana, 1948
Fonte: Acervo do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, 2021.
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Na metade da década de 50, muitos desses blocos e cordões começaram a evoluir em questões de organização, na forma de se apresentarem e de celebrar o Carnaval. Influênciados pela forte popularização das escolas de samba a nível nacional, surge em Arroio Grande, no ano de 1957, a primeira agremiação denominada escola de samba, a Academia de Ritmos (Figura 15), porém ela não apresentava de fato as características que identificam uma escola de samba. “... na verdade ela era uma junção de cordão com bloco, por que ela era somente uma bateria, mestre de bateria e uma passista só, mas ela era batizada como Escola de Samba Academia de Ritmos.” (CARVALHO, 2021). Figura 15 - Desfile da Escola de Samba Academia de Ritmos, 1958.
Fonte: Acervo do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, 2021.
O Bloco Papagaio da Rua Nova, fundado em 1962, possuía, embora se denominasse bloco carnavalesco, características mais definidas de uma escola de samba. Foram os pioneiros em Arroio Grande a apresentarem carros alegóricos, bonecos gigantes, alas com fantasias mais elaboradas, além de bateria e passistas. “Sua última participação no carnaval local foi por volta de 1976. Em 1977, os jornais locais já não mais faziam referência a sua presença na passarela do samba.” (CARVALHO, 2021). Em 1972 é fundada a Escola de Samba Pé de Arroz (Figura 16), a de fato considerada a primeira escola de samba de Arroio Grande, pois foi a primeira com tal nomenclatura que apresentou os elementos que classificam uma entidade carnavalesca como escola de samba. Muito similiar ao que aconteceu entre a Portela
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e a Deixa Falar, onde a Deixa Falar é considerada a primeira escola de samba do Brasil, pois a Portela embora tenha surgido primeiro não apresentava as características que definem uma escola de samba.
Figura 16 - Desfile da Escola de Samba Pé de Arroz, 1973.
Fonte: Acervo do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, 2021.
As mulheres não costumavam participar do carnaval de rua, eram restritas apenas ao carnaval de salão e participavam singelamente dos desfiles de escola de samba. Porém, em 1981 surgiu o revolucionário Bloco das Luluzinhas, o primeiro bloco de rua totalmente feminino. Considerando que a sociedade não via com bons olhos mulheres participando da folia, as Luluzinhas ultilizavam máscaras justamente para esconder suas indentidades. Esse bloco participa do Carnaval até os dias atuais. Em meádos dos anos 80, mais precisamente no ano de 1986, é fundada a Escolda de Samba Unidos de Vila Isabel, nas cores vermelho e branco. A escola desfilou por apenas dois anos, pois em 1988 devido a um desentendimento em seus dirigentes foi dividida, dando origem as Escolas de Samba Alegria e Samba e Castelo Branco. A Alegria e Samba desfilou até o carnaval de 1990 e a Castelo Branco desfilou pela primeira e única vez no caranval de 1989, marcado por um forte declínio da festa popular, associado a troca da gestão pública daquele ano. “Sempre quando troca as gestão da prefeitura o Carnaval enfraquece, sempre acontece de forma simples.” (CARVALHO, 2021).
Diante do fracasso do Carnaval de 1989, o então Secretário de Turismo
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Municipal da época, Demétrio Pereira, resolveu transformar o Carnaval de Arroio Grande, promovendo um grande movimento cultural que perpetuaria até os dias atuais. Em novembro de 1989 o Secretário de Turismo Municipal junto com sua equipe, entre eles estava Casca Silva, atual vice-prefeito do município, se reunem com representantes dos bairros com o intuito de criar novas escolas de samba para o próximo Carnaval. Aconteceria assim, em fevereiro de 1990, o primeiro concurso de desfiles de escola de samba em Arrio Grande. Nesse mesmo engajamento é organizado e realizado o primeiro Baile Municipal de Carnaval, que passaria a contecer anualmente elegendo a Corte Municipal de Rainhas e Princesas do Carnaval arroio-grandense. “... as escolas não tinham nem ao menos instrumentos, e não havia tempo hábil da prefeitura comprar, então aqueles bairros que conseguissem formar as escolas de samba eles iriam emprestar os instrumentos das bandas escolares.” (CARVALHO, 2021).
Surge então uma nova era do Carnaval de Arrio Grande, onde ele deixar de ser um tradicional carnaval de rua e passa a ser um carnaval de escola de samba. São realizados os primeiros Bailes Municipais de Carnaval, ocasião na qual era eleita a Rainha do Carnaval, em 2016 o concurso passou a ocorrer na Muamba Popular de Carnaval. As agremiações oriundas desse grande movimento cultural em 1990, que juntamente com o contexto de blocos que já existia, alavancaram o carnaval arroiograndese ao estatus de melhor carnaval da zona sul do estado, que se consagrou entre os maiores eventos culturais e econômicos da região. As escolas de samba entraram no gosto popular dominando o Carnaval da Cidade Simpatia, e os desfiles de escola de samba se estabeleceram como a maior atração do evento até hoje. “MELHOR CARNAVAL DE ARROIO GRANDE: Em 1990, após um ano de governo Flávio Pereira a administração volta-se na área de turismo, para o Carnaval Municipal, até então pouco difundido em Arroio Grande, surgem então os grandes vedetes da folia de rua: as escolas de samba. Encaradas com muito seriedade por parte de suas diretorias...”(A EVOLUÇÃO, 1992). “Carnaval é considerado o melhor da Zona Sul: Longe de qualquer bairrismo, é um orgulho para todos nós arroiograndensses recebermos o título de “Melhor Carnaval da Zona Sul”. Aliás, partiu do Jornal Diário Popular, um dos mais conceituados órgãos de Imprensa do Estado, ainda em 1998, destacar que em Arroio Grande o Carnaval estava se transformando na maior festa da região, fato que voltou a acontecer esse ano.” (REGIONAL, 1999).
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A história do Carnaval arroio-grandese foi resgatada pelo Memorial do Carnaval de Arroio Grande, um museu itinerante que dispõe seu acervo através de uma página na rede social Facebook (Figura 17) e com exposições temporárias (Figura 18). Desde a sua fundação em 03 de fevereiro de 2017 já realizou três exposições na cidade em espaços temporariamente cedidos. O Memorial do Carnaval de Arroio Grande é uma iniciativa do Professor, Carnavalesco, Pesquisador, Historiador e Vereador Lizandro Araújo Carvalho, que desde 1995 coleciona itens sobre a história do carnaval de Arroio Grande.
Figura 17- Publicação da Página do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, 2020.
Fonte: Carvalho, 2020, adaptado pelo autor.
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Figura 18 - 1ª Exposição do Memorial do Carnaval de Arroio Grande, no Museu Municipal, 2017.
Fonte: Carvalho, 2017
Atualmente o museu já conta com um acervo de 214 peças, entre fantasias completas e fragmentos, documentos e mais de 5000 fotografias. O Museu não possui um local fixo, tanto para expor quanto para armazenar o acervo que está guardado na própria residência de seu idealizador, que almeja um local para instalar o Memorial do Carnaval de Arroio Grande. “A casa que eu moro ela é úmida, embora de tempos em tempos eu faça a higienização, eu tenho muito medo de perder esse material todo por ficar muito tempo parado. [...] Me preocupo, foram doados pra mim, mas não consideram que sejam meus, cada fantasia que tem lá em casa tem uma história, tem uma memória, tem o dinheiro de alguém, o sonho de alguém [...]. Esse espaço é o que mais quero, não que eu queira me livrar, é que por gostar tanto disso, eu tenho muito receio de perder esse material.” (CARVALHO, 2021)
2.5 As Escolas de Samba de Arroio Grande No decorrer da história do seu carnaval, Arroio Grande já teve diversas agremiações, dentre blocos, cordões, Clubes e bandas. Atualmente são as Escolas de Samba que dominam o cenário, onde seus desfiles são a maior atração do evento. São 63 anos desde o primeiro desfile de uma escola de samba na Cidade Simpatia, são 31 anos de desfiles com concurso. Em todos esses anos, 14 Escolas de Samba desfilam em Arroio Grande, hoje apenas 5 estão em atividade. Desde 1958 surgiram essas entidades, dentre escolas
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de samba adulta e mirins (Figura 19), algumas em um curto espaço de tempo, outras permaneceram por mais de 30 anos, essas agremiações tem suas origens de movimentos culturais em diversas zonas da cidade. (Figura 20).
Figura 19 - Linha do Tempo das Escolas de Samba do Carnaval de Arroio Grande.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 20 - Mapa dos Locais de Origens das Escolas de Samba de Arroio Grande.
Fonte: Google Maps 2021, adaptado pelo autor.
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Das 5 escolas em atividade, 4 são adultas e 1 é da categoria mirim, são elas: Escola de Samba Unidos do São Gabriel, Escola de Samba Samba no Pé, Escola de Samba Unidos do Promorar, Escola de Samba Acadêmicos do Grande Arroio e Escola de Samba Mirim Aprendizes do Samba. O desfile das 4 escolas adultas é uma tradição no Carnaval de Arroio Grande, a disputa eleva o nível do desfile a cada ano, a rivalidade incentiva a competição, e o povo de Arroio Grande aproveita o grande espetáculo que essas agremiações apresentam anualmente na passarela do samba.
2.5.1 Escola de Samba Unidos do São Gabriel Dentre as Escolas de Samba de Arroio Grande a Unidos do São Gabriel é a mais antiga, fundada em 03 de fevereiro de 1990, 31 anos, no bairro São Gabriel (Figura 20). Criada por um grupo de amigos juntamente com a família Aquino, se destacou nos anos 90 dominando os carnavais daquela década. Reconhecida por apresentar desfiles visuais e revolucionários no Carnaval arroio-grandese, a agremiação possui milhares de simpatizantes e grandes carnavais, costuma apresentar enredos de grande popularidade, abordando temas como rodeios, futebol, amor, cerveja, chocolate e magia. Tem como símbolo maior o anjo Gabriel, suas cores oficiais são verde, amarelo, azul e branco. Primeira Campeã e detentora de 12 títulos do Carnaval de Arroio Grande, sendo que o último conquistou no Carnaval de 2020. Atual campeã, a Unidos do São Gabriel ou a Sanga, como muitos chamam, já revelou grandes artistas e sambistas, como por exemplo, o Marcos Aurélio Figueiredo, o Maninho, atual Rei do Samba do Estado do Rio Grande do Sul. A agremiação desenvolve atividades durante o ano inteiro, dentre jantares, rifas, rodas de pagode, apresentações, oficinas e feiras, tendo como atual presidente João Victor Larrosa, 2020-22, e vice Marília Ferreira Sales, 2021-22. Em 2011 devido ao seu histórico glorioso no carnaval e o desfile com o enredo “Reis e Rainhas” (Figura 21) a Unidos do São Gabriel ganhou a alcunha de Rainha do Samba, e em 2013 ganhou o apelido de “Sanga” no carnaval do vitorioso desfile do enredo “De Corpo e Alma, Canto e Conto a História de Sua Majestade, Mestre Gonzagão".
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Figura 21 - Comissão de Frente da E. S. U. do São Gabriel, 2011.
Fonte: Youtube, 2020.
2.5.2 Escola de Samba Samba No Pé A escola tem suas origens dos Bairros Vidal e Coca (Figura 20), fundada em 24 de março de 1990, 31 anos. Derivada do bloco infantil Samba no Pé de 1988, concorreu em 1991 pela primeira vez como escola adulta, já conquistando seu primeiro título com o enredo “As Etnias”. A Escola de Samba Samba No Pé é reconhecida por ser uma agremiação de muita garra, onde seus componentes se entregam, realizando desfiles emocionantes. Suas cores são vermelho e branco, tendo como símbolo a Onça Pintada. Seus componentes tem muito orgulho de sua bateria, apelidada de “Fera da Folia”, a agremiação desenvolve atividades em todo decorrer do ano. A Samba No Pé é a maior vencedora do carnaval de Arroio Grande, possui 14 campeonatos, sendo 6 conquistados em sequência. Além disso, foi a escola que mais elegeu Rainhas do Carnaval, 13 passistas fizeram jus ao nome da agremiação ao longo do concurso. Seu atual presidente é João Paulo Coutinho Borges, 2020-22, tendo como vice Charles Barros. A Vermelho e Branco é reconhecida por abordar enredos de exaltação a cultura afro-brasileira, tendo enredos campeões como por exemplo “Riqueza Afro-Brasileira”, campeão em 2005 e “Sou Samba No Pé, Toco Sopapo: Meu Tambor Afro-Gaúcho” campeão em 2014 (Figura 22).
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Figura 22 - Carro Abre-Alas da E. S. Samba no Pé, 2014.
Fonte: Cunha, 2014.
2.5.3 Escola de Samba Unidos do Promorar A agremiação foi fundada em 09 de janeiro de 1990, 31 anos, no bairro Promorar (Figura 20), na zona sul da cidade, é oriunda de um bloco carnavalesco de mesmo nome. Desfilou pela primeira vez em 1991, apresentando um enredo em homenagem ao município de Arroio Grande, tem como símbolo uma pomba branca e suas cores oficiais são verde e rosa. A Escola de Samba Unidos do Promorar venceu 5 campeonatos do Carnaval de Arroio Grande, seus desfiles são lembrados pelos enredos geralmente serem biográficos e de homenagens como os enredos “Mahmud Nimer Hammad – A Odisséia De Um Guerreiro” de 2006, “Chico Total Hoje Eu Sou” de 2014 e “Os Caminhoneiros” campeão em 2008. Considerada a escola mais vaidosa da cidade em seus desfiles a Verde e Rosa sempre apresenta fantasias exuberantes e alegorias monumentais. A escola promove eventos e atividades durante o ano, com o intuito de preparar seu desfile, onde um dos mais impactantes foi o do enredo ”Vaidade: Da Beleza a Destruição” em 2015. (Figura 23). Seu atual presidente é Otávio Falcão, 2020-22, e vice Antônio Marcos Ferreira.
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Figura 23 - Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da E. S. Unidos do Promorar, 2015.
Fonte: Rádio Difurosa, 2015.
2.5.4 Escola de Samba Acadêmicos do Grande Arroio A Escola tem como seu reduto o bairro Branco Araújo (Figura 20), foi fundada em 28 de abril de 2000, 21 anos, pela senhora Eva Nair juntamente com o grupo de pessoas que formava a diretoria da Escola de Samba Samba No Pé, onde se desligaram da escola para fundar a Escola de Samba Acadêmicos do Grande Arroio. Seu primeiro desfile foi no ano de 2001, com o enredo “Exaltação a Amazônia: a Festa do Boi Bumbá”, autoria do carnavalesco Lizandro Araújo Carvalho, conquistando já na sua estréia o vice-campeonato. A agremiação tem como símbolo o cavalo alado, suas cores oficiais são azul e branco. Nunca conquistou o título, porém a Azul e Branco já apresentou desfiles que marcaram a história com os enredos “Palhaço Bebé”, em 2015 e o vice campeão “Ciganos: O Povo das Estrelas” em 2016 (Figura 24), considerado uns dos desfiles mais luxuosos da história do carnaval de Arroio Grande. Seu atual presidente é Renato Machado, 2020-22, e vice Renan Lima.
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Figura 24 - Carro Abre-Alas da E. S. Acadêmicos do Grande Arroio, 2016.
Fonte: Cruz, 2016.
2.5.5 Escola de Samba Mirim Aprendizes do Samba A mais recente agremiação entre as escolas de samba em Arroio Grande a Aprendizes do Samba foi fundada em 16 de fevereiro de 2019, 2 anos, em um cenário carente de escolas de sambas mirins, visto que as mirins são muito importantes para o futuro do das escolas de samba. Sua atual presidente e fundadora é a senhora Adriana Correa e vice Diana Mendes, tem como suas cores oficiais o preto, amarelo e dourado e como símbolo um casal de mestre-sala e porta-bandeira rodeados por um círculo de mãos. “Hoje no Brasil existem apenas 7 municípios que existe escola de Samba Mirim, que tem algum destaque no carnaval, Arroio Grande é uma delas” (CARVALHO, 2021). Em sua fundação a Escola de Samba Mirim Aprendizes do Samba realizou um jantar de batizado, contando com a presença de diversas agremiações, tendo como a Escola de Samba Academia do Samba, da cidade de Pelotas, como madrinha. Realizou seu primeiro desfile sem recursos públicos no Carnaval de 2020, com o enredo “Do Mundo Mágico da inocência do passado ao desafio tecnológico do presente! Aprendizes apresenta: Crianças X Tecnologia” (Figura 25), abrilhantando a passarela do samba.
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Figura 25 - Componente da E. S. M. Aprendizes do Samba, 2020.
Fonte: Cruz, 2020.
2.6 Os Desfiles de Escola de Samba em Arroio Grande Os desfiles foram oficializados em 1989, acontecendo pela primeira vez em 24 de fevereiro de 1990 com concurso, em que as agremiações foram avaliadas através de quesitos por jurados. Participaram as Escola de Samba Unidos do São Gabriel, sendo a campeã, e a Escola de Samba Alegria e Samba, além dos blocos carnavalescos Unidos do Promorar e Samba No Pé. Através da Secretaria Municipal de Cultura é formado uma Comissão de Carnaval que organiza o evento e consequentemente os desfiles de escola de samba, com a participação da LESAG. O cronograma dos desfiles já variou no decorrer dos anos, mas atualmente ocorre da seguinte forma: em um primeiro momento acontece antes do desfile, na sexta-feira de pré-carnaval os ensaios técnicos das escolas de samba (Figura 26); Nas 4 noites de Carnaval, que inicia num sábado e termina numa terça-feira, desfilam com ordem definida por sorteio, meses antes do evento. Quatro escolas adultas, duas por noite, sendo que cada uma desfila em apenas dois dias. Ambos os desfiles realizados, por cada uma das agremiações, são avaliados, os jurados são de empresa terceirizada, contratada via processo de licitação. O primeiro desfile dentre as escolas adultas acontece às 23h00min e o segundo à 01h00min, cada escola tem de acordo com o regulamento 60 minutos de desfile.
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Figura 26 - Ensaio Técnico da Escola de Samba Samba no Pé, 2018.
Fonte: Tavares, 2018.
Em 16 de dezembro de 1998 foi fundada a Liga das Escolas de Samba de Arroio Grande, a LESAG, com o intuito de representar as agremiações na organização dos desfiles no Carnaval, defender os interesses e repassar a verba das agremiações. A diretoria é composta por membros das Escolas de Samba, tendo atualmente como presidente Cristopher Santos da Silva, e vice Gregory Santos da Silva. A LESAG age também como intermediária entre as Escolas de Samba, organizando eventos indepedentes com as escolas em parceria, juntando forças e realizando eventos no decorrer do ano. A entidade carnavalesca não possui sede própria e realiza as reuniões em locais públicos. Dentre as principais atividades da Liga está o acompanhamento da montagem da instalação da Passarela do Samba (Figura 27) pela Comissão de Carnaval, garantindo o cumprimento do regulamento. Além disso, promove discussões de melhorias na realização dos desfiles, em diversos aspectos, como avaliação, infraestrutura, legislação e recursos, com base nas reivindicações das agremiações carnavalescas.
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Figura 27 - Passarela do Samba, Carnaval de Arroio Grande, 2016.
Fonte: Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Arroio Grande, 2016.
A Passarela do Samba (Figuras 27 e 28) é instalada na Rua Dr. Monteiro, centro da cidade. Num percurso de 300m toda a infraestrutura é instalada para o público assistir o espetáculo, composta por arquibancadas, camarotes, praça de alimentação, sanitários e instalações de som e iluminação. Umas das grandes características da passarela do samba de Arroio Grande é que o público costuma lotar as calçadas com cadeiras de praia (Figura 29) dias antes do evento começar. As cadeiras são presas com cordas e correntes, uma maneira que a população encontrou de garantir seu lugar para assistir os desfiles das escolas. “Então a Dr. Monteiro sempre foi a Passarela do Samba, toda vida cultural, política e social de Arroio Grande acontece na rua Dr. Monteiro.” (CARVALHO, 2021)
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Figura 28 - Layout da Passarela do Samba.
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo, adaptado pelo autor, 2021.
Figura 29 - As Cadeiras de Praia do Público do Carnaval de Arroio Grande, 2020.
Fonte: Ferreira, 2020.
A preparação dos desfiles começa já no período pós Carnaval, devido ao fato das agremiações não possuírem barracões, sendo muitos alugados ou emprestados, os trabalhos visam a liberação desses espaços. De forma geral entre as escolas, das primeiras atividades o desmonte é o primeiro passo. No caso das alegorias, primeiramente começa com a retirada das instalações de iluminação e efeitos especiais, seguido pela retirada dos elementos decorativos e de detalhamento. Continuando com a retirada dos tecidos e confecções, todos são removidos com muito cuidado visando o reaproveitamento. As forragens de
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materiais como jornal e papelão são descartadas, as escolas costumam acionar catadores de materiais recicláveis para recolher o material. As alegorias, como construídas, são também desmontadas por partes. Elementos que compõem a alegoria são separados individualmente referente ao material de sua estrutura, ferragem ou madeira, e desmontadas gradualmente. Isto é, até o do último arame e até a retirada do último prego visando também a possibilidade de serem reaproveitados. No caso das fantasias, cada escola age de uma forma, mas geralmente esplendores e adereços de cabeça são desmontados, onde as plumas, se houverem, são retiradas cuidadosamente para serem reaproveitadas. As vestimentas geralmente são apenas armazenadas, visando a possibilidade de compor uma outra fantasia em um outro Carnaval. Posteriormente o desmonte de alegorias e fantasias os materiais são selecionados, passam por uma análise do que pode ser reaproveitado e do que vai para reciclagem ou lixo. Após os materiais são armazenados, cada escola tem sua própria maneira de armazenar seu material. O material remanescente das escolas de samba consideravelmente ocupam menos espaço, sendo assim algumas delas optam por entregar o atual espaço e alugar um espaço menor, mais favorável economicamente. Muitas vezes esses espaços são cedidos gratuitamente, onde o material fica armazenado até o próximo Carnaval. Porém, durante essas frequentes mudanças de local muitos materiais acabam sendo danificados ou extraviados, causando prejuízo. A composição da diretoria de uma escola de samba de Arroio Grande é composta pelo Presidente e Vice-presidente da Agremiação, Primeiro e Segundo Tesoureiro, Primeiro e Segundo Secretário, Carnavalesco, Mestre de Bateria e Coordenadores. Após os materiais estarem devidamente armazenados são feitas reuniões da diretoria resolvendo questões como prestação de contas, avaliação do desempenho da agremiação no concurso e definição quanto ao mandato da diretoria. Com questões financeiras e administrativas definidas, as entidades carnavalescas começam no decorrer do ano a realizar suas atividades sociais e culturais, promovendo eventos musicais, jantares, campanhas de caridade, feijoadas, carreteiros, apresentações, rifas, bingos, feiras, oficinas, dentre outras atividades, que muitas vezes visam arrecadar fundos para custear o desfile. (Figura 30)
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Figura 30 - Feira da Pechincha da Escola de Samba Mirim Aprendizes do Samba, 2019.
Fonte: Corrêa, 2019.
Dentre os eventos que mais se destacam são os jantares que as escolas apresentam, se for o caso, a nova diretoria, assim como jantares para apresentação do tema-enredo para o próximo desfile. Acontecem também disputas de samba enredo, onde é organizado um concurso entre compositores para o samba-enredo do Carnaval do próximo ano. O Carnavalesco estando com os figurinos e o enredo definido, a diretoria começa convocar os membros da escola para configurarem suas participações nos desfile. Tratando-se de membros com participações efetivas como os da Comissão de Frente, o Casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira, destaques de Chão e de Alegorias e Rainha, Musa de Bateria. Os demais membros que compõem as alas e a até mesmo a bateria, geralmente são recrutados durante os ensaios, que acontecem no período précarnaval. Esses ensaios, costumam atrair centenas de pessoas simpatizantes da escola, esse fluxo de pessoas atrai comerciantes ambulantes, como os de Food Truck e também aumenta o movimento do comercial do local. Cada escola realiza suas atividades no seu tempo, porém os ensaios praticamente começam no mesmo período. Como as agremiações arroio-grandenses não possuem quadras de samba, os ensaios são realizados em via pública (Figuras 31 e 32), portanto necessitam de uma licença para poderem ser realizados, a prefeitura dispõe o mesmo prazo para todas as escolas.
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Figura 31 - Ensaio da Bateria da Escola de Samba Samba no Pé, 2018.
Fonte: Carvalho, 2021.
Figura 32 - Ensaio da Bateria da E. S. Acadêmicos do Grande Arroio, 2016.
Fonte: Tavares, 2016.
Acontecem os ensaios de baterias, Comissões de Frente, casais de MestreSala e Porta Bandeira, alas coreografadas e passistas de segunda a sexta-feira, no período denominado pré-carnaval, que inicia cerca de dois meses antes do evento. São realizados tradicionalmente nos bairros de origem de cada agremiação (Figura 33), sendo os ensaios: da Escola de Samba Unidos do São Gabriel realizados na Rua Cel. Otávio Esteves, no bairro São Gabriel; os da Escola de Samba Samba no Pé na Rua Salvador Soares, no bairro Vidal; os da Escola de Samba Unidos do Promorar
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realizados na Rua Felisbino da Silva Soares no bairro Promorar; os da Escola de Samba Acadêmicos do Grande Arroio na Rua Joaquim Manoel Soares Carriconde, no bairro COHAB Leste; e os ensaios da Escola de Samba Mirim Aprendizes do Samba também na Rua Salvador Soares, no bairro Vidal. Com exceção dos ensaios da escola de samba mirim, que acontece à tarde, os ensaios das escolas adultas acontecem à noite. Embora comecem em horários diferentes, todas devem finalizar seus ensaios antes do horário da meia noite por determinação do Ministério Público.
Figura 33 - Mapa dos Locais de Ensaios das Escolas de Samba de Arroio Grande.
Fonte: Google Maps, adaptado pelo autor, 2021.
Quando se aproxima a data do desfile as escolas começam a realizar o que elas denominam de Ensaio Geral. São ensaios que contam com todos os componentes das escolas, onde a escola percorre um trajeto em determinada rua do seu bairro simulando o desfile. Também acontecem Ensaios determinados Técnicos, realizados na passarela do samba, que visam revisar questões de som,
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cronometragem e harmonia. A construção das alegorias e a confecção de fantasias acontecem de forma paralela aos ensaios, os barracões das escolas ficam em diversos locais da cidade (Figura 34). Como muitas vezes os barracões são instalados em galpões impróprios para tal atividade, as escolas optam por apenas construir as alegorias nesses locais devido ao espaço necessário. Fantasias de alas e em geral são confeccionadas em pequenos barracões espalhados pela cidade instalados em garagens e até residências desocupadas, cedidas por tempo determinado por simpatizantes das escolas como forma de ajudar.
Figura 34 - Mapa da Localização dos Barracões das Escolas de Samba para o Carnaval de 2020.
Fonte: Google Maps, adaptado pelo autor.
Os trabalhos nos pequenos barracões destinados à confecção das fantasias realizam atividades de recorte e colagem, moldagem de arame, costura e bordados, dentre outras. Já nos grandes barracões, onde são construídas as alegorias, são realizados trabalhos de marcenaria, solda e ferragem, moldagem de arame, recorte e colagem, pintura, costura, instalações elétricas, testes de segurança, dentre outras (Figura 35). Todos os trabalhos geralmente são designados pelo Carnavalesco.
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“Então a gente tem essas pessoas aí que botam a escola na avenida e é muito dinâmico assim né, porque as coisas se encaixam, quem chega às vezes no barracão visualiza os carros fora de ordem, as coisas ainda não nos seus lugares e não consegue ter a dimensão do que vai ser na avenida, aí quando liga as luzes, quando arma tudo fica fantástico.” (LARROSA, 2021).
Figura 35 – Comparativo: Processo de Confecção de Alegorias. Barracão da Escola de Samba Unidos Do São Gabriel, 2013.
Fonte: Autor, adaptado.
Desta forma, as atividades nos barracões onde são feitas as alegorias são mais complexas, as condições dos locais muitas vezes dificultam o trabalho dos profissionais do Carnaval. As dificuldades enfrentadas pelos profissionais são principalmente a falta de espaço, conforto ergonômico, insalubridade, visto que muitas vezes esses galpões nas quais são instalados os barracões possuem infestações de ratos e pombos, iluminação precária, infiltrações, falta de segurança e desconforto térmico. As condições dos barracões (Figura 36) muitas vezes afasta membros das escolas, que deixam de ajudar na confecção das alegorias, um problema evidente que resulta muitas vezes em atrasos na preparação dos desfiles.
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Figura 36 - Barracão da Escola de Samba Samba No Pé, 2018.
Fonte: Borges, 2018.
Com os trabalhos finalizados, ou não, a comissão de apoio das escolas é convocada. Duas horas antes do horário do desfile as alegorias começam a serem manobradas e retiradas para a rua. Tratores disponibilizados pela comissão organizadora do Carnaval conduzem as alegorias até a concentração, novamente a comissão de apoio realiza manobras para posicionar as alegorias em sua ordem de desfile. Em paralelo, nos barracões menores, as fantasias já foram entregues ou encaminhadas para locais próximos da concentração para os componentes se vestirem, assim como também os instrumentos da bateria. Cada escola adota uma maneira de tratar o lugar e a forma com que seus componentes vão se vestir e se direcionar para a concentração aguardar o início do desfile. A Escola de Samba Unidos do São Gabriel, por exemplo, conta com a gentileza de simpatizantes e membros da escola que possuem casas nas proximidades do local de concentração para o desfile, que permitem que os componentes da escola se vistam em suas residências. A comissão de apoio é formada por membros da escola que não configuram como componentes. Possuem identificação e a responsabilidade de auxiliar na organização, montagem, execução e dispersão do desfile. Na execução do desfile suas principais tarefas são assessorar os componentes, empurrar e conduzir as alegorias, cronometrar o tempo de desfile, contagem de componentes e conduzir a evolução dos elementos do desfile (alas, alegorias, destaques…). Na dispersão a
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comissão de apoio orienta os componentes e acompanha o retorno das alegorias para o barracão. Mesmo o barracão de alegorias não sendo um lugar fixo de instalação da escola de um ano para o outro, ele se torna um ponto de referência entre os componentes para buscar informações e também funciona muitas vezes como centro de distribuição de materiais para os barracões menores. Toda vez que as agremiações necessitam mudar o lugar do barracão é de fato um infortúnio, pois além de haver prejuízos por conta de perda e danificação de materiais prejudica também questões de logística. Os barracões são uma reivindicação antiga das agremiações desde os anos 90, a pauta já foi abordada várias vezes entre a comunidade carnavalesca e o poder público, mas nunca houve de fato qualquer ação para atender essa importante demanda das agremiações. O projeto Central do Samba tem a função de atender essa reivindicação e fortalecer as escolas de samba que são a principal atração do evento. Os barracões, a sede da LESAG e o Museu do Carnaval são a forma de investir e valorizar essa grande festa sem alterar suas características que tanto encantam as milhares de pessoas que prestigiam o evento. Ao mesmo tempo que mantém suas característica tradicionais o Carnaval de Arroio Grande mistura o Carnaval de rua com o Carnaval moderno das escolas de samba, seu público são de todas as idades, geralmente são famílias, os mais idosos se sentam em suas cadeiras de praia e assistem a festa acontecer, presenciam de perto os desfiles das escolas de samba, os pais sentem certa segurança para deixar os filhos brincarem livremente, se jogando espuma e estalinhos, já os jovens se divertem com os blocos. É um Carnaval de grande potencial e diferente dos que atualmente acontecem pelo resto do país, onde trios elétricos dominam e os desfiles de escolas de samba foram movidos para Sambódromos.
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3 ESTUDOS DE CASO Se compreende como análises sobre projetos do mesmo tema abordado, que proporciona um referencial projetual de dimensionamentos, fluxos, zoneamento e forma. Além de diversos aspectos que devem ser entendidos no momento de projetar. 3.1 A Cidade do Samba, Rio de Janeiro Construída a partir de uma parceria feita entre dirigentes das escolas de samba e o poder público local, a Cidade do Samba Joãosinho Trinta, também conhecida como apenas Cidade do Samba, é um sonho realizado das grandes agremiações do Carnaval Carioca, atendendo as demandas dos sambistas e dos profissionais do carnaval por mais espaço e segurança. A Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro cedeu o terreno para a construção do complexo, visando a expansão das atividades turísticas, complementando as que acontecem no Sambódromo. “Mais do que um centro de visitação turística, a Cidade do Samba se consolida como um núcleo de produção da genuína arte brasileira”. (CIDADE DO SAMBA) A Cidade do Samba está Localizada na Rua Rivadávia Corrêa, nº 60, bairro da Gamboa no Rio de Janeiro, (Figura 37), em um antigo terreno que pertencia a rede ferroviária federal, ficando a 5,3 km do Sambódromo da Marquês de Sapucaí.
Figura 37 - Localização da Cidade do Samba do Rio de Janeiro.
Fonte: Wikimedia, 2021, adapatado pelo autor.
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As obras de construção deram início em 2003, sendo concluídas em 2006. O projeto arquitetônico é de autoria de Vitor Wanderley e João Uchôa, consiste em um complexo com 14 barracões com 4 pavimentos cada, cada barracão tem 6.600m² totalizando 92.400m² de área edificando um terreno de 130.000m². (Figura 38).
Figura 38 - Vista Aérea da Cidade do Samba, Rio de Janeiro, 2017.
Fonte: Lucena, 2017.
Em sua implantação (Figura 39) os prédios circundam formando uma praça central onde foi instalado coberturas em lona para realização de eventos, esse formato funciona como partido para um dos conceitos proposto pelos arquitetos, uma roda de samba que sempre foram importantes momentos na formação das redes de sociabilidade e de convivência nas escolas de samba. Todos os barracões possuem acessos privativos aos dirigentes das agremiações pela área externa, dentre os acessos em comum dois são de serviços, outros dois são de fluxo de alegorias e um é de fluxo de turistas. O acesso de turistas ou visitantes é pela Rua Arlindo Rodrigues, os de fluxo de alegorias acontecem pela Rua Rivadávia Corrêa, e os de serviços pela Rua Barão da Gamboa.
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Figura 39 - Implantação: Cidade do Samba.
Fonte: Cidade do Samba, 2012, adaptado pelo autor.
Como mostra a figura 40, no pavimento térreo de cada barracão está a área de montagem das alegorias (Figura 41), com capacidade para até 12 elementos, além dos demais setores de produção, como marcenaria, serralheria, vidraçaria, borracharia, solda e almoxarifado. No acesso para o exterior do complexo encontrasse a recepção e a loja de artigos personalizados da agremiação. Toda área de serviços e de vestiários e sanitários estão no primeiro pavimento, o segundo pavimento é composto pela área administrativa e o terceiro compõe toda a área de produção de fantasias, como atelier e costura, além de confecção de esculturas e elementos dos carros alegóricos. O barracão conta com um vão central (Figura 42) no quarto piso que possibilita a movimentação das esculturas e a montagem sobre os carros alegóricos através de um guincho preso a uma monovia. Os portões para a saída dos carros alegóricos têm 10 metros de altura e são voltados para a praça central interna do complexo.
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Figura 40 - Setorização e Fluxograma, Barracão da Cidade do Samba.
Fonte: Wanderley, 2008.
Figura 41 - Barracão da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis, Setor de Montagem de Alegorias, 2009.
Fonte: Regina, 2009.
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Figura 42 - Vão da Circulação Vertical, Barracão da Cidade do Samba, 2021.
Fonte: CarnaUOL, 2021.
O sistema estrutural (Figura 43), pilares e vigas, são em aço com perfil I, proporcionando mais leveza a estrutura e agilizando na montagem e na entrega da obra, já que essas peças são todas pré-fabricadas. As lajes são em sistema Steel Deck, é uma laje composta por uma telha de aço galvanizado e uma camada de concreto. O aço, excelente material para trabalhar a tração, é utilizado no formato de uma telha trapezoidal que serve como fôrma para concreto durante a concretagem e uma armadura positiva por sobre ela para as cargas de serviço. As paredes externas são em painéis de concreto e as internas são de alvenaria em blocos de concreto. (CPC Estruturas, 2017). Figura 43 - Construção dos Barracões da Cidade do Samba, Rio de Janeiro, 2005.
Fonte: CPC Estruturas, 2017.
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A composição arquitetônica (Figura 44 e 45) da Cidade do Samba tem como conceito a produção industrial, visando uma integração visual com a arquitetura dos armazéns do cais do porto e dos barracões das antigas oficinas de trem localizadas anteriormente no terreno. Sua construção promove a revitalização da área portuária, sua arquitetura remete aos princípios da produção industrial, com a arquitetura inglesa do início do século XIX.
Figura 44 - Fachadas dos Barracões da Cidade do Samba, 2020.
Fonte: Redação Carnavalesco, 2021.
Figura 45 - Fachada do Barracão da Cidade Do Samba do Rio de Janeiro, 2021.
Fonte: Lucena, 2021.
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3.2 Museu do Carnaval de Barranquilla O Carnaval de Barranquilla, na Colômbia, é declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Museu do Carnaval (Figura 46) permitirá ter um espaço para a memória e o conhecimento da maior festa popular da cidade. “É uma iniciativa que vai melhorar e ampliar a oferta cultural, será um espaço onde mostraremos de forma permanente a beleza da nossa festa, o Museu do Carnaval será uma ótima obra para que todos possam curtir ”. (CHAR, 2017)
Figura 46 - Museu do Carnaval, Barranquilla, 2019.
Fonte: ArchDaily, 2019.
O Museu do Carnaval está localizado na Avenida 11 de Novembro, entre as ruas 49 e 50, no bairro Abajo, na zona costeira ao Rio Magdalena, em Barranquilla, Atlântico, Colômbia (Figura 47). foi construído ao lado da Casa do Carnaval (Figura 48), uma casa de estilo colonial datada de 1929, com um grande pátio. É a sede da fundação responsável pela organização do Carnaval e ponto de encontro dos participantes, antes e depois dos desfiles. O pequeno museu que havia na casa foi transferido para o Museu do Carnaval.
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Figura 47 - Localização do Museu do Carnaval de Barranquilla.
Fonte: Google Maps, 2021, adaptado pelo autor.
Figura 48 - O Museu e a Casa do Carnaval.
Fonte: ArchDaily, 2019.
Foi construído em 2019, pelo poder público local, o projeto é de autoria da Arquiteta Katya González Ripoll, do escritório de arquitetura KGR Proyectos, que venceu o concurso “Desenho e construção da sede do Museu do Carnaval de Barranquilla”, realizado pela Prefeitura Distrital de Barranquilla em 2016. Consiste em
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um edifício de 4 pavimentos, num total de 1.645m² de área construída, edificando um terreno de 532,70m². Na fachada ao norte fica o acesso principal, pela Avenida 11 de setembro, o acesso de serviços fica pela rua 49b, ao leste (Figura 49). Sua construção faz parte do plano de revitalização (Figura 50) e fomento cultural promovido pelo poder público local, onde abrange além do Museu do Carnaval, a construção da sede da Indústria Criativa, SENA e a restauração da Casa do Carnaval.
Figura 49 - Implantação: Museu do Carnaval de Barranquilla
Fonte: Google Maps, 2021, adaptado pelo autor.
Figura 50 - Plano de Revitalização da Área: Antes (2017) e Depois (2019).
Fonte: Google Maps, 2021, adaptado pelo autor.
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No pavimento térreo (Figura 51) se concentra as exposições de grande porte, como as de elementos alegóricos. As exposições direcionadas ao Carnaval de Barranquilla estão no primeiro pavimento (Figura 52) e no segundo (Figura 53) onde também ficam as exposições digitais. No terceiro pavimento (Figura 54) existe uma área de convivência, um terraço disposto de uma cafeteria. Toda área de serviços e administrativo se distribui verticalmente ao sul da edificação.
Figura 51 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Planta Baixa do Pavimento Térreo.
Fonte: ArchDaily, 2019, adptado pelo autor.
Figura 52 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Planta Baixa do 1º Pavimento.
Fonte: ArchDaily, 2019, adptado pelo autor.
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Figura 53 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Planta Baixa do 2º Pavimento.
Fonte: ArchDaily, 2019, adptado pelo autor.
Figura 54 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Planta Baixa do 3º Pavimento.
Fonte: ArchDaily, 2019, adptado pelo autor.
Cada sala foi projetada para seu uso definitivo, isto é, compreende e atende a necessidade de como o acervo deverá ser exposto. São espaços pensados na impressão do público, transmitindo a experiência de estar no Carnaval, para isso tira partido de cores vibrantes. O Museu dispõe de diversas exposições, como a Exposição Batalha das Flores (figura 55), as exposições Carnaval Queens (figura 56) e História do Carnaval de Barranquilla (figura 57) e as exposições digitais, que apresenta imagens e vídeos do Carnaval. (figura 58).
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Figura 55 - Exposição Batalha das Flores, 2019.
Fonte: Museu do Caranval de Barranquilla, 2019.
Figura 56 - Exposição Carnaval Queens, 2019.
Fonte: Museu do Caranval de Barranquilla, 2019.
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Figura 57 - Exposição História do Carnaval de Barranquilla, 2019.
Fonte: Museu do Caranval de Barranquilla, 2019.
Figura 58 - Exposição Digital, 2019.
Fonte: Museu do Caranval de Barranquilla, 2019.
Sua estrutura é de responsabilidade do Eng. Civil César Torres, se baseia em concreto armado e alvenaria de cerâmica como vedação (figura 59). Sua forma se apresenta como uma grande caixa sem aberturas, por que se tratar de uma exposição têxtil, um acervo frágil, que não permite iluminação e ventilação natural. Ambas são artificiais, adaptadas para a melhor conservação do acervo do museu.
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Figura 59 - Construção do Museu do Carnaval de Barranquilla, 2018.
Fonte: Google Maps, 2018.
O grande destaque de sua arquitetura se apresenta na fachada (Figuras 60 e 61), feita com painéis paramétricos coloridos, inspira-se na arquitetura paramétrica e na cinética do mestre Carlos Cruz Diez (Figura 62), expressa no movimento e ritmo carnavalesco deste festival. “ É um elemento decorativo e funcional, de fácil instalação, que transforma os volumes dos edifícios em elementos arquitetônicos dinâmicos pela variedade de formas, cores, tonalidades e acabamentos disponíveis. Além de permitir um aspecto único à fachada do museu, muito em consonância com a alegria irradiada pelo Carnaval de Barranquilla, este painel reduz a radiação. Seus materiais resistem às condições ambientais mais adversas da Colômbia, mesmo em lugares com altas temperaturas, alta umidade ou chuvas torrenciais". (TORRES, 2019).
Figura 60 - Museu do Carnaval de Barranquilla: Fachada Norte.
Fonte: ArchDaily, 2019.
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Figura 61 - Detalhes da Fachada Norte.
Fonte: ArchDaily, 2019.
Figura 62 - Carlos Cruz Diez e algumas de Suas Obras.
Fonte: Diez, 2017, adaptado pelo autor.
“No Museu do Carnaval seus visitantes poderão explorar a origem do Carnaval no mundo, sua transformação ao longo da história e dos carnavais mais importantes do mundo, chegando ao Carnaval de Barranquilla, seu caráter único através de uma experiência de imersão com os sons, cores , danças, demonstrações e interação com diferentes personagens da festa.” (CHAR, 2018).
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4 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO 4.1 Contextualização O Projeto denominado Central do Samba, que compreende os barracões das escolas de samba, a sede da LESAG e o Museu do Carnaval é proposto para um terreno na zona norte do município de Arroio Grande (Figura 63), na Avenida João Thomaz Muñoz, esquina com o prolongamento da Avenida Perimetral João Carlos Saraiva, quarteirão 339.
Figura 63 - Localização do Terreno no Município de Arroio Grande.
Fonte: Google Earth, 2021, adaptado pelo autor.
O terreno é propriedade do município, e é visado para receber a construção dos barracões das escolas de samba, sendo que se trata de uma antiga reivindicação das entidades carnavalescas, isto influenciou para que fosse escolhido para o desenvolvimento deste projeto. “Os Barracões já eram para existir a muito tempo, isso vem desde os anos 90 sendo prometido e não sai do papel [...] sempre se falou, sempre se lutou por isso, ele é protocolado, aquilo vai andando, andando mas não sai do lugar. Eu considero muito importante pois vai dar muito mais autonomia para as escolas de samba, elas vão se desprender um pouco da prefeitura, elas não vão ficar dependendo do dinheiro da prefeitura para ter um espaço, o aluguel é caríssimo, elas gastam muito, pesa muito. Teria uma economia muito grande, é um local que tu vai poder guardar seu material, tu vai poder fazer um estoque.” (CARVALHO, 2021)
71
Figura 64 - Mapa do Levantamento Fotográfico do Terreno.
Fonte: Maxar Technologies, 2021, adaptado pelo autor.
Figura 65 - Imagem do Terreno: Esquina.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 66 - Imagem do Terreno: Fachada Principal.
Fonte: Autor, 2021.
72
Figura 67 - Imagem do Terreno: Fachada Lateral.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 68 - Imagem do Terreno: Interior.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 69 - Imagem do Terreno: Interior.
Fonte: Autor, 2021.
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4.2 Área de Implantação O terreno de esquina tem suas fachadas voltadas uma para o Norte onde é lindeiro com a Avenida Perimetral João Carlos Saraiva, e a outra, sendo a principal, para o Leste, fazendo testada para a Avenida João Thomaz Muñoz. Ao Sul é lindeiro com o imóvel também propriedade do Município de Arroio Grande e ao Oeste é lindeiro com os imóveis de propriedade da família Sallaberry.
Figura 70 - Planta de Situação.
Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo, 2021, adaptado pelo autor.
Também é importante para desginar os acessos ao terreno observar na planta de situação (Figura 70) que a Avenida João Thomaz Munõz possui mão dupla com canteiro com interrrupções causadas pelas conecções com as vias adjacentes, e relacionado com a posição dos postes de iluminação resultam em pontos referenciais de acesso ao terreno que facilitam o fluxo de de acesso de veículos e de alegorias.
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Em sua superfície o terreno possui um grande declive (Figuras 71 e 72), isto é, está baixo do nível da rua, tendo seus pontos mais altos nos limites com a Avenida João Thomaz Muñoz e com a Avenida Perimetral João Carlos Saraiva, aspectos importantes a serem considerados na concepção do projeto.
Figura 71 - Superfície Topográfica do Terreno.
Fonte: Google Location, 2021, adaptado pelo autor.
Figura 72 - Curvas de Nível e Perfis Topográficos.
Fonte: Google Location, 2021, adaptado pelo autor.
75
A orientação solar das fachadas do terreno é norte e leste (Figura 73), fazendo com que receba mais sol na parte da manhã, porém considerasse que não há edificações lindeiras que bloqueie a iluminação natural oeste. A rotina de trabalho nos barracões das escolas se estabelece geralmente no período da tarde e noite, sendo assim considerando que em Arroio Grande, o verão é morno e abafado (Figura 74), e é quando acontece o período pré-carnaval devesse evitar o sol da tarde que tende a superaquecer os ambientes, visando assim juntamente com a ventilação cruzada garantir um melhor conforto térmico.
Figura 73 - Orientação Solar e Ventos Predominantes.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 74 - Níveis de conforto de umidade em Arroio Grande, 2020.
Fonte: Weather Spark, 2021.
76
Na grande maioria de sua superfície o terreno possui forração rasa e arbustos de pequeno e médio porte. Ao leste próximo ao limite com a Avenida João Thomaz Muñoz existe vegetação arbórea de médio porte. Ao oeste o terreno está próximo de um fluxo natural de água, um córrego que deságua na rede pluvial pública na Rua Leonel Fagundes. (Figura 75).
Figura 75 - Ambiente Natural.
Fonte: Maxar Technologies, 2021, adaptado pelo autor.
4.3 Síntese da Legislação Geral e Específica do Tema De acordo com o Art. 6º do Plano Diretor de Arroio Grande, estabelecido pela lei 933, de 10 de dezembro de 1975, o terreno de 18.694,74m² está situado na Zona Residencial II (ZRII), com uma taxa de ocupação máxima de 75%, e também classifica a instalação do Complexo Central do Samba como uso permissível de classificação Industrial II, estando sujeito a análise de viabilidade da seção competente da Prefeitura Municipal. O Código de Obras do Município de Arroio Grande criado pela lei 587 de 20 de janeiro de 1966 no Art 55 estabelece em relação ao uso proposto para o projeto que corredores de uso coletivo devem ter no mínimo 1,20m de largura e acessos de de uso coletivo devem ter no mínimo 1,50m de largura.
77
A Legislação para elaboração do Plano de Prevenção Contra Incêncidos (PPCI) é aplicada com a compatibilização das atividades que compõem o complexo Central do Samba, sendo assim de acordo com A Lei 14.376 que regulamenta os requisitos e os procedimentos técnicos indispensáveis à prevenção e proteção contra incêndio no Estado do Rio Grande do Sul, para a aplicação específica do PPCI em uma edificação com mais de uma atividade as paredes das conexões entre as unidades devem ser do tipo corta fogo. A relação entre ocupação e porte configura cada um dos Barracões de Escola de Samba, o Salão de Eventos e o Museu do Carnaval como risco médio de incêndio e as Salas de Ensaios e a Sede da LESAG com baixo risco, estando sujeitas as exigências vigentes.
4.4 Entorno Estando localizado em uma área de expansão da zona urbana da cidade, o terreno ao norte é lindeiro com o prolongamento da Avenida Perimetral, importante rota de exportação dos produtos agrícolas do município. Carece de infraestrutura urbana, como pavimentação, calçadas e iluminação pública, portanto, a instalação desse empreendimento neste local visa revitalizar essa zona e com isso impulsionar os investimentos em infraestrutura.
Figura 76 - Mapa do Levantamento Fotográfico do Entorno.
Fonte: Maxar Technologies, 2021, adaptado pelo autor.
78
Figura 77 - Imagem do Entorno: Parque Guilhermíneo Dutra.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 78 - Imagem do Entorno: Residências ao Norte.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 79 - Imagem do Entorno: Ginásio Municipal de Esportes.
Fonte: Autor, 2021.
79
Figura 80 - Imagem do Entorno: Rua Cap. Astrogildo Silveira Machado.
Fonte: Autor, 2021.
Por estar em uma zona de crescimento urbano grande parte de seu entorno são vazios urbanos (Figura 81), mas se percebe indicicios do sentido no qual a zona urbana está se expadindo, sendo principalmente ao norte do terreno. Dos lotes ocupados e consolidados no entorno grande maioria possui o uso residencial (Figura 82) com destaques para as áreas verdes ao leste do terreno e os parques. Fica evidente a carência de comércios nessa região.
Figura 81 - Mapa de Cheios e Vazios.
Fonte: Maxar Technologies, 2021, adaptado pelo autor.
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Figura 82 - Mapa do Uso do Solo.
Fonte: Maxar Technologies,2021, adaptado pelo autor.
Arroio Grande mesmo sendo uma cidade de pequeno porte possui grande parte de vias pavimentadas e com calçadas, porém essa infraestrutura é ausente no entorno do terreno que é delimitado por importantes vias de que dão acesso a zona rural no interior do município, sendo ao Leste pela Avenida João Thomaz Muñoz e ao norte pela Avenida Perimetral João Carlos Saraiva, sendo está a via de principal fluxo de exportação dos produtos agropecuários produzidos no município. (Fgura 83).
81
Figura 83 - Mapa do Sistema Viários e de Pavimentação.
Fonte: Maxar Technologies, 2021, adaptado pelo autor.
O terreno fica a menos de 1 km do local da Passarela do Samba, a rota de partida das alegorias parte pela Rua Cap. Astrogildo Silveira Machado dobrando no sentido sul para a Rua Dr. Monteiro seguindo até a concentração da Passarela do Samba, que pode ser percorrido em dois minutos de carro ou onze minutos a pé. O retorno parte da área de dispersão retornando pela Rua Mário Maciel Costa até a Avenida João Thomaz Muñoz.(Figura 84)
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Figura 84 - Trajeto das Alegorias das Escolas de Samba.
Fonte: Maxar Technologies, 2021, adaptado pelo autor.
5 DIMENSIONAMENTO 5.1 Programa de Necessidades e Pré-dimensionamento O Programa de Necessidades tem embasamento nas necessidades das agremiações, do memorial do Carnaval e da LESAG, estando alinhado com a delimitação do tema. Tabela 1 - Programa de Necessidades: Complexo Central do Samba. AMBIENTE BARRACÃO MUSEU DO CARNAVAL SEDE LESAG ÁREA DE CONVIVÊNCIA SALÃO DE EVENTOS SALA DE ENSAIOS GUARITA DEPÓSITO DE LIXO ESTACIONAMENTO SANITÁRIOS
QUANT. 5 1 1 2 1 2 1 1 1 2 TOTAL
Fonte: Autor, 2021.
PRÉ-DIMENSIONAMENTO 2860m² 276m² 151m² * 502m² 372m² 4m² 6m² * 30m² 4201m²
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Os barracões comportam até 4 alegorias cada um, com acessos e áreas distintas e destinados um a cada uma das 5 agremiações. Tabela 2 - Programa de Necessidades: Barracão. AMBIENTE CONFECÇÃO DE ALEGORIAS MARCENARIA SOLDA E FERRAGEM ATÊLIER DE FANTASIAS E ADEREÇOS ATÊLIER DE COSTURA PINTURA DIRETORIA DEPÓSITO DE MATERIAIS COZINHA SANITÁRIO VESTIÁRIO ALMOXARIFADO
QUANT. 1 1 1
PRÉ-DIMENSIONAMENTO 250m² 20m² 20m²
1
35m²
1 1 1 2 1 2 2 1 TOTAL
10m² 15m² 10m² 6m² 10m² 40m² 40m² 30m² 572m²
Fonte: Autor, 2021.
Tabela 3 - Programa de Necessidades: Museu do Carnaval. AMBIENTE QUANT. PRÉ-DIMENSIONAMENTO HALL DE ENTRADA 1 10m² RECEPÇÃO 1 10m² SALA DE EXPOSIÇÕES 1 35m² PERMANENTES SALA DE EXPOSIÇÕES 1 35m² TEMPORÁRIAS SALA DE EXPOSIÇÕES DIGITAIS 1 35m² ADMINISTRAÇÃO 1 15m² ACERVO 1 40m² SALA DE RESTAURO 1 20m² SANITÁRIO 2 30m² COZINHA 1 10m² DEPÓSITO DE MATERIAIS 1 6m² TOTAL 276m² Fonte: Autor, 2021.
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Tabela 4 - Programa de Necessidades: Sede da LESAG. AMBIENTE HALL DE ENTRADA RECEPÇÃO ADIMINISTRAÇÃO DIRETORIA SALA DE REUNIÕES COPA SANITÁRIO DEPÓSITO
QUANT. PRÉ-DIMENSIONAMENTO 1 10m² 1 10m² 1 20m² 1 9m² 1 30m² 1 6m² 2 30m² 1 6m² TOTAL 151m² Fonte: Autor, 2021.
Tabela 5 - Programa de Necessidades: Salão de Eventos. AMBIENTE HALL DE ENTRADA BILHETERIA SALÃO PALCO BASTIDORES CAMARIM BAR COZINHA SANITÁRIO DEPÓSITO
QUANT. PRÉ-DIMENSIONAMENTO 1 20m² 1 15m² 1 200m² 1 20m² 1 15m² 2 6m² 6 10m² 6 10m² 2 30m² 1 20m² TOTAL 502m² Fonte: Autor, 2021.
Tabela 6 - Programa de Necessidades: Sala de Ensaios. AMBIENTE SALA COM ESPELHOS SANITÁRIO VESTIÁRIO DEPÓSITO
QUANT. PRÉ-DIMENSIONAMENTO 2 100m² 2 40m² 2 40m² 1 6m² TOTAL 186m²
Fonte: Autor, 2021.
85
5.2 Fluxograma Figura 85 - Fluxograma: Complexo Central do Samba.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 86 - Fluxograma: Barracão de Escola de Samba.
Fonte: Autor, 2021.
86
O Museu do Carnaval e a Sede da LESAG foram um único bloco onde compartilham alguns ambientes, como hall de entrada, recepção e sanitários, porém possuem administração e funcionalidade distintas. Figura 87 - Fluxograma: Museu do Carnaval e Sede da LESAG.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 88 - Fluxograma: Salão de Eventos e Salas de Ensaio.
Fonte: Autor, 2021.
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6 PROPOSTA 6.1 Conceito Tem o propósito de transmitir através da edificação a sensação de leveza, movimento e elegância, três aspectos difusos no Carnaval, onde a leveza está quando permite as pessoas de serem quem elas realmente são ou até mesmo ser quem elas desejam ser, uma forma de refúgio da rotina da vida com menos estresse e mais momentos alegres, menos preocupações e mais otimismo, menos pressa e mais bom humor, menos cansaço e mais vontade. O movimento está na dança que tem diferentes linguagens e provoca efeitos e sensações diversas assim como também a música e nas curvas do corpo humano explícito durante o Carnaval, que nas escolas de samba principalmente usam fantasias luxuosas, transbordando elegância. (Figura 89) Figura 89 – Fantasia de Evelyn Bastos, Rainha de Bateria da Mangueira, 2014.
Fonte: Yasuyoshi Chiba, 2014.
Dentre os inúmeros elementos do universo do Carnaval o que mais define os aspectos de leveza, movimento e elegância são as plumas (Figura 90), adereços que marcam presença desde de o antigo Egito onde eram usadas nos capacetes dos soldados como forma de identificação dos líderes perante as tropas. No entanto, as plumas também passaram a ser utilizadas como ornamento real pelas esposas dos comandantes. A utilização de plumas pela rainha da França, Maria Antonieta, impulsionou um rentável mercado, que duraria até o início da I Guerra Mundial (1914 a 1918). A popularização como acessório de moda utilizado pela aristocracia da época resultou num “boom” do mercado de plumas de avestruz. (PLUMAS E PENAS, 2010).
88
Figura 90 - Plumas Coloridas.
Fonte: Ferreira, 2021.
São muito utilizadas nas confecções de fantasias e adereços para o Carnaval, porém estão entrando e desuso devido ao processo de produção, as plumas estão sendo substituídas por plumas de confecção sintética, não oriundas de animais.
6.2 Partido As formas curvilíneas da pluma, a simetria e a uniformidade influenciam na concepção do projeto (figura 91). As curvas que remetem ao movimento compõem as fachadas e passeios, a simetria e uniformidade condicionaram a implantação do complexo. Assim como, as curvas atingem os aspectos de leveza e elegância, consolidados através da tomada de partida do desnível do terreno na concepção do projeto, que proporciona diferentes percepções de ambientes. (Figura 92)
89
Figura 91 - Estudo da Forma.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 92 - Desenho Ilustrativo: Tomada do Partido do Desnível do Terreno.
Fonte: Autor, 2021.
90
6.3 Zoneamento Figura 93 - Zoneamento
Fonte: Autor, 2021.
Figura 94 - Plano de Massas.
Fonte: Autor, 2021.
91
6.4 Proposta A Implantação (Figura 95 e Apêndice IV) parte do princípio baseado no conceito com aproveitamento do desnível do terreno, concentrando o acesso de pedestres à zona mais alta da superfície do terreno, permanecendo o acesso de alegorias pela zona mais baixa, os blocos dos barracões se alinham ao centro do terreno no sentido horizontal, conectados juntamente com o salão de eventos e de ensaios formando uma unidade. O Museu é a Sede da LESAG é implantado em um bloco único na zona mais alta do terreno e mais próxima a via principal, cumprindo o papel de recepcionar, as áreas de convivência preenchem os desencontros entre os blocos criando diversos ambientes. Figura 95 - Implantação.
Fonte: Autor, 2021.
92
A planta baixa dos barracões (Figura 96 e Apêndice IV) se configura entorno da área de montagem das alegorias, que demanda de muito espaço, todo trabalho acontece envolta e em cima dos jacis, que ficam estacionados em fileira. A edificação tira partido do desnível do terreno e se apresenta em dois pavimentos, possui um mezanino onde se concentram os trabalhos de confecção de fantasias.
Figura 96 - Planta Baixa: Barracão
Fonte: Autor, 2021.
93
A Planta Baixa Salão de Eventos forma uma unidade juntamente com as Salas de Ensaios (Figura 97 e Apêndice IV), possuindo assim áreas de uso comum, assim como os Barracões a edificação tira partido do desnível do terreno e possui áreas em diferentes níveis criando diversas percepções de ambiente.
Figura 97 - Planta Baixa Salão de Eventos e Salas de Ensaios.
Fonte: Autor, 2021.
O Salão dispõe de cinco copas permitindo que cada uma das Escolas de Samba usufrutue do espaço durante eventos para arrecadar fundos para a concepção dos desfiles. Abaixo do mezanino alto fica o depósito dos mobiliários como mesas e cadeiras, que são guardados durante eventos que o público fica somente em pé.
94
A unidade contempla a Sede da LESAG e o Museu do Carnaval (Figura 98 e Apêndice IV), que possuem áreas de uso comum, como o Alpendre, o Hall de Entrada, a Recepção e os Sanitários. A partir do acesso principal estão localizados os ambientes destinados a Sede da LESAG em sequência os ambientes destinados ao Museu do Carnaval, que não possuem aberturas diretas, pois devido ao delicado acervo do museu, onde a maioria é de material têxtil devem ser preservados em ambientes climatizados de acordo com a necessidade de preservação do acervo. ...é um museu têxtil, sendo um museo têxtil ele requer uma atenção redobrada, diferente, por exemplo, do que tu ter uma coisa mais sólida, o tecido das fantasias não tem como tu mexer sem luvas, tem que ter luvas, tem que ter máscara, tem que todo o cuidado, tenho fantasias que só em abrir a caixa já cai um bordado, são muito velhas, tecidos muito delicados, tem que ser pessoas que saibam mexer com acervo, que tenham delicadeza pra tirar uma fantasia de uma caixa pra montar no manequim, tem que ter redomas de vidro, pra não ficar em contato com o pó e com o ar, tem que ser um espaço que não tenha muita luminosidade da rua, pois desbota, sem muita ventilação para não trazer umidade. (CARVALHO, 2021)
Figura 98 - Planta Baixa Museu do Carnaval e Sede da LESAG.
Fonte: Autor, 2021.
95
A cobertura é projetada de forma suspensa, como é possível observar nos cortes (Figura 99, 100 e Apêndice V), isto é, a estrutura que da forma as edificações e que é baseada no conceito pluma sustenta a cobertura através de hastes, a proposta é uma estrutura metálica revestida, onde cumpre a função da forma conceitual e de sustentação da cobertura, além disso também funciona como brises para os ambientes que não podem pegar iluminação diretamente. Figura 99 – Corte Esquemático Transversal
Fonte: Autor, 2021.
96
Figura 100 - Corte Esquemático Longitudinal.
Fonte: Autor, 2021.
A proposta são edificações modernas, funcionais e que reflitam a essência do Carnaval, a paleta de cores (Figura 101) é inspirada no turbilhão de diferentes emoções que o Carnaval pode causar em uma pessoa, trazendo assim cores vibrantes e ao mesmo tempo cores amenas, tendo como referência elementos de uma noite de Carnaval, como a alegria, a purificação da carne, a escuridão da noite, o alívio, a luxúria e a celebração. Figura 101 - Paleta de Cores
Fonte: Autor, 2021.
97
Figura 102 - Fachadas Norte dos Barracões 01 e 02.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 103 – Letreiro e Fachada Norte do Salão de Eventos.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 104 - Fachadas Norte dos Barracões.
Fonte: Autor, 2021.
98
Figura 105 - Fachada Sul das Salas de Ensaios do Salão de Eventos.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 106 - Fachada Sul dos Barracões 04 e 05.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 107 - Fachada Sul doas Barracões 01, 02 e 03.
Fonte: Autor, 2021.
99
Figura 108 - Fachada Leste da Sede da LESAG e do Museu do Carnaval.
Fonte: Autor, 2021.
Figura 109 - Fachada Sul da Sede da LESAG e do Museu do Carnaval.
Fonte: Autor, 2021.
100
Figura 110 - Acessos de Pedestres aos Barracões.
Figura 111 - Acesso de Pedestres ao Museu do Carnaval e Sede da LESAG.
Fonte: Autor, 2021.
101
Tabela 7 - Quadro de Áreas do Projeto Proposto.
QUADRO DE ÁREAS ÁREA DO TERRENO ÁREA TOTAL CONSTRUÍDA ÁREA CONST. PRIMEIRO PAVIMENTO TÉRREO ÁREA CONST. DO SEGUNDO PAVIMENTO ÁREA CONSTRUÍDA MUSEU DO CARNAVAL E SEDE DA LESAG ESTACIONAMENTO ÁREA CONSTRUÍDA BARRACÃO 01 ÁREA CONSTRUÍDA BARRACÃO 02 ÁREA CONSTRUÍDA BARRACÃO 03 ÁREA CONSTRUÍDA BARRACÃO 04 ÁREA CONSTRUÍDA BARRACÃO 05 ÁREA CONSTRUÍDA SALÃO DE EVENTOS E SALAS DE ENSAIOS ESTACIONAMENTO 01 ESTACIONAMENTO 02
TAXA DE OCUPAÇÃO
18.694,74m² 5.118,65m² 4.250,70m² 867,95m² 370,78m² ÁREA TOTAL: Nº DE VAGAS: 1º PAV. TÉRREO: 2º PAVIMENTO: ÁREA TOTAL: 1º PAV. TÉRREO: 2º PAVIMENTO: ÁREA TOTAL: 1º PAV. TÉRREO: 2º PAVIMENTO: ÁREA TOTAL: 1º PAV. TÉRREO: 2º PAVIMENTO: ÁREA TOTAL: 1º PAV. TÉRREO: 2º PAVIMENTO: ÁREA TOTAL: 1º PAV. TÉRREO: 2º PAVIMENTO: ÁREA TOTAL: ÁREA TOTAL: Nº DE VAGAS: ÁREA TOTAL: Nº DE VAGAS:
2.681,32m² 68 624,01m² 122,85m² 746,86m² 624,01m² 122,85m² 746,86m² 624,01m² 122,85m² 746,86m² 624,01m² 122,85m² 746,86m² 624,01m² 122,85m² 746,86m² 759,87m² 253,70m² 1013,57m² 1.245,62m² 29 1435,70m² 39 22,73%
MÁXIMA:
INDICE DE APROVEITAMENTO: COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE: ALTURA TOTAL DA EDIFICAÇÃO:
75% 27,38% 37,96% 7,05m
Fonte: Autor, 2021.
102
7 PLANO DE ATIVIDADES
Tabela 8 - Plano de Atividades para o Trabalho Final de Graduação. TFG I ETAPAS
ATIVIDADES
Mês Mês Mês Mês Mês Mês Mês Mês 1 2 3 4 1 2 3 4
Pesquisas Preliminares ETAPA I - TEMA ETAPA II - REF. TEÓRICO ETAPA III - PLANO DE TRABALHO
ETAPA IV APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA
Definição do Tema, Objetivos e Justificativa Embasamento Teórico e Estudo de Caso Área de Intervanção, Diagnóstico, Dimensionamento e Proposta Inicial Entrega do Plano de Trabalho Apresentação do Plano de Trabalho e Avanços da Pesquisa Estudo Preliminar Pré-Banca
ETAPA V DESENVOLVIMENT O DO PROJETO
ETAPA VI - DEFESA
TFG II
Ante-projeto Banca de Qualificação Detalhamentos e Elaboração das Pranchas Finais Banca Final
Fonte: Autor, 2021.
103
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104
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APÊNDICES
APÊNDICE A – Transcrição do Depoimento do Professor, Carnavalesco, Pesquisador, Historiador e Vereador Lizandro Araújo Carvalho, em 24 de setembro de 2021, na Câmara Municipal de Arroio Grande, Arroio Grande. Do Carnaval de Arroio Grande os primeiros registros que a gente tem, claro, tu pega pela imprensa da época, são do jornal mais antigo que temos daqui ele é de 1896, o Pampeiro. E no Pampeiro de 1898, tem os primeiros registros de Carnaval, ele não falavam carnaval era os festejos ao rei momo, então tu pega 1898 e 1899, não trazia muitos detalhes de como era essa festa, fazia registro a retretas que eram como se fossem apresentações musicais na praça, eram brincadeiras de se atirar água, muito entrudo. [...] Nosso Carnaval teve muita influência do Carnaval de Pelotas, e o nosso carnaval ao mesmo tempo que ele veio numa sequência de semelhança com o carnaval do rio e de pelotas, rio influenciava pelotas e pelotas acaba influenciando jaguarão e aqui, o nosso ele é meio tardio e meio fora de ordem assim, mas mais ou menos pega as mesmas épocas. Então tu tem esse começo até a década de 10 tem um entrudo, que é mais apresentações de música, batalhas no meio da praça de se atirarem água, limão, brincadeiras no meio da praça. Aí depois quando surgiu o clube Instrução e Recreio, o atual Clube do Comércio, começa a ter um carnaval que eles chamam de Carnaval Veneziano, tudo é muito similar, se tu ler a história do carnaval de pelotas, é tudo muito similar com os pontos daqui. Aí, depois na década de 20 [...] nós temos os cordões surgindo, os ranchos. Os cordões parecem blocos, mas é quase um desfile militar, um desfile de 7 de setembro, pois não havia samba-enredo, já havia alguns sambas gravados mas eram aqueles primeiros, mas assim mesmo tinhas certas músicas, certos ritmos que custavam a chegar aqui. Então na década de 20 nós temos o surgimento dos cordões, os primeiros no Instrução, 1925, que é o Primeiro Nós [...] e depois no Guarany, acho que houveram três, isso que o Guarany é da década de 20. o Guarany já nasceu no Carnaval, 20 de fevereiro, já nasceu carnavalesco. Temos o Sempre Reinando, Troveja mas não Chove, são os cordões. Nessa década de 20 já começam a surgir também os primeiros blocos, esses cordões vão se transformando em blocos, e todos esses
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cordões eles tinham desfiles pela Dr. Monteiro. Então a Dr. Monteiro sempre foi a passarela do Samba, toda vida cultural, política e social de Arroio Grande acontece na rua Dr. Monteiro, por isso que aquela ideia que surgiu um tempo atrás de criarem um sambódromo em outro lugar, eu sempre fui contra sabes, porque o carnaval de Porto Alegre morreu depois que tiraram da zona baixa lá, onde ele acontecia, na zona boêmia e o de Pelotas nunca mais foi o mesmo depois que saiu da Rua XV, do centro. Arroio Grande permanece no mesmo lugar, Jaguarão permanece no mesmo lugar, na XVII de Janeiro. Então aos pouquinhos esses cordões, que eram cordões de salão, porém eles faziam cortejos de rua, principalmente os do Guarany, aí nós vamos ter assim, final da década de 20 em diante nós vamos ter um carnaval de rua surgindo com mais força, sai daquelas brincadeiras da praça e vem pra Dr. monteiro, aquele desfile em fila, até cada um ir para o seu clube. o clube instrução e Recreio, a sede mesmo do clube ela é meio tardia, ela é de 1924. O carnaval de arroio grande é assim, a gente pode dar como ponta pé inicial os anos 20, pela característica que tem hoje. Depois disso a gente fica desde a década de 20, metade da 20 e toda a 30 com esses cordões e blocos, carnaval de rua, depois indo pro salão e nos anos 40 começa a surgir os mascarados. Na década de 40, nós temos o primeiro bloco burlesco, que é a Falsa Baiana, eram blocos de homens vestidos de baianas, isso em 1948. Nos anos 40 então, a gente tem o surgimento de blocos mais já blocos de rua mesmo, os blocos burlescos, esses blocos de homens vestidos de mulher, que é a Falsa Baiana [...], tinha o bloco que chamam de Bloco dos Sujos, eram um monte de homens pilchados, com máscaras e a cavalo, eles metiam um terror burlesco na Dr. Monteiro assim, e esses desfiles eles eram à tarde, raramente se estendia a noite, até havia o carnaval na noite, por exemplo assim, a primeira rainha de carnaval de salão ela é de 38, tem uma antes de 1928, mas que é do cordão carnavalesco, o Primeiro nós, que já te falei [...] mas a primeira rainha mesmo é 38, no Clube do Comércio. Antes dos bailes havia brincadeiras na rua Dr. Monteiro, arrastões. Sempre a ideia era passar na Dr. Monteiro e depois ir para o clube, tanto pro Comércio quanto para o Guarany. O Guarany era de um piso só, e não dois. Então nos anos 40 temos esses blocos assim, que surgem. Nos anos 50 nós temos uma outra evolução, que aí começa a ter uma escola de samba, ela foi batizada como escola de samba , seria a primeira, que é a Academia de Ritmos, 1958. Coisa mais engraçada o nosso carnaval consegue ser separado bem por décadas. Em 1918 já começa a surgir os primeiros cordões, em 1928 temos a primeira
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rainha, em 1938 tem um primeiro baile de salão com rainha, em 1948 tem os primeiros blocos burlescos, em 1958 tem o primeiro protótipo de escola de samba, pois na verdade ela era uma junção de cordão com bloco, por que ela era somente uma bateria, mestre de bateria e uma passista só, mas ela era batizada como Escola de Samba Academia de Ritmos. Eles eram vestidos com uma roupa meio que de marinheiro assim, com um quepisinho meio marinheiro e uma roupa listrada de vermelho e brano e a calça branca. Ela existiu [...] foi a primeira a trazer instrumentos como o surdo, pois até então eram de sopro [...] dando um aspecto mais assim de carnaval de rua. Em 58 já tem samba-enredo, já tem outros sambas identificados, têm as rainhas do rádio que já trazem as marchinhas de carnaval. [...] Em 60 ainda continua a mesma coisa. Ah! Em 60 entra, ele poderia ser classificado como escola de samba, mas ficou como bloco, o Papagaio da Rua Nova, em 1962. O Papagaio da Rua Nova fez o primeiro desfile com carros alegóricos, eles faziam desfile, se concentravam aqui embaixo na rua Júlio de Castilhos, ai subiam até a Dolfina, da Dolfina passavam na Dr. Monteiro, eles tinham carros alegóricos, bonecos gigantes inspirados no carnaval de Olinda, tinham alas, a ala dos pescadores, dos chineses, tinha ala dos índios, mas era um bloco. durou muito tempo, papagaio da rua nova ele vai até o começo dos anos 80. [...] A primeira propriamente dita, de verdade, escola de samba, ela é de 72, que é a Pé De Arroz. [...] A primeira até pela nomenclatura dela seria a Academia de Ritmos, mas se tu vais pegar uma escola de samba com carro alegórico, bateria, passistas, porta-estandarte, não tinha ainda a ideia de Porta-Bandeira e Mestre-Sala, tu pega a Pé de Arroz. [...] A Pé de Arroz é fundada em 72, primeiro desfile dela em 73, no centenário do arroio-grande [...] a geração daquela época canta o samba até hoje, pessoas que eram jovens, que curtiam aquele carnaval de 73, cantam o samba para ti. foi algo revolucionário no nosso carnaval, nós saímos daquele bloco, daquela estrutura que nós tínhamos para um carnaval mais atrativo, através da Pé de Arroz, ela dura toda a década 70, ela não tem uma vida muito longa, sua última participação no carnaval local foi por volta de 1976. Em 1977, os jornais locais já não mais faziam referência a sua presença na passarela do samba. Depois, claro! Uma das principais atrações da
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Dr. Monteiro são os mascarados, que dai nos decorrer dos anos só vai se intensificar. Nos anos 80 nós temos um outro carnaval, por que surge o Bloco Social da Luluzinha, aí tu já tem as mulheres no Carnaval, a participação das mulheres no nosso carnaval ela é super tardia, tirando por exemplo [...] as mulheres negras, as da alta sociedade [...]. Não era visto com bons olhos meninas da alta sociedade se envolver numa festa que era considerada luxúria, pecado da carne. A nossa igreja, os padres, principalmente o padre Tomé, lá no começo do carnaval de rua, ele era totalmente contra. Se tu vai olhar as rainhas de salão dos clubes, Pelotas tu tem as primeiras ainda no século XIX, Jaguarão também, Herval, a nossa foi em 1938, teve uma em 1928, mas foi uma que era do bloco Primeiro Nós, onde tinha mulheres, mas era super restritos, no carnaval de rua então eram muito mais restrito. A primeira escola Academia de Ritmos era só homens, a Pé de Arroz no começo também, depois teve uma rainha, muito tempo depois. Digamos que a particiapação efetiva, claro que lá em 1981 nós já tinhamos rainhas e duquesinhas, mas foram elas com seu bloco só de mulheres, totalmente feminista, foram as Luluzinhas, e assim mesmo o símbolo do bloco até hoje são as máscaras, mesmo em 1981 mulheres da sociedade não eram bem vistas num bloco de carnaval, dançando e bebendo sem os maridos, então as máscaras serviam para se disfaçarem. Nos anos 80, em 1986 tem uma outra escola de samba, que aí sim, ela faz lembrar as de hoje, que é a Unidos de Vila Isabel, era vermelho e branco as cores dela, acho que desfilou só dois anos. Antes do final dos 80 surge a Alegria e Samba e a Castelo Branco, na verdade essas duas surgiram a partir dos membros da Unidos de Vila Isabel e fora as escola de samba tivemos nos 70 e 80, até em 87 existiu o bloco da Dona Nauzerinha, as Garotas do Samba [...] tinha porta bandeira, era um bloco, mas lembrava uma escola de samba. Em 1989 nosso carnaval foi pobre, foi muito sem graça, nós não tivemos nem rainha municipal. [...] A primeira Rainha Municipal é de 82, tardio, tudo é tardio, Rei Momo é tardio, tivemos o primeiro em 1972, super tardio [...]. Em 1989 [...] se tu observar sempre quando troca as gestões da prefeitura o carnaval enfraquece, sempre acontece de forma simples. O Carnaval em 1997 foi simples, o de 1992 foi simples, o de 2001 foi médio, o de 2005 foi simples, 2009 não porque teve uma sequência, o de 2013, o de 2017 não,
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pois também foi uma sequência. Sempre quando se troca a administração, principalmente a administração do carnaval , turismo no caso, o carnaval é realizado mas não tem aquela surpresa, aquelas coisas diferentes, em 89 foi assim, teve carnaval, tinha rei momo sem rainha, teve o desfiles da Castelo Branco e da Alegria e Samba. Quando passou o carnaval, o seu Demétrio, que já era Secretário de Turismo, junto com o Casca, que era funcionário, eles resolveram mudar o carnaval, aí nós temos um novo ciclo, uma nova fase que ainda é a fase que nós vivemos. [...] Final de 89 seu Demétrio resolve mudar, dar um outro aspecto ao nosso carnaval, começa a ser um carnaval muito mais escola de samba do que bloco, eles vão reunir representantes dos bairros da cidades para motivá los a fundar escolas de samba, essa reunião aconteceu no final de novembro, o carnaval era em fevereiro, imagina, de repente criar, fundar, juntar pessoal. Foi o Carnaval mais rápido, mesmo assim nós já tivemos campeã, que foi a São Gabriel, as escolas não tinham nem ao menos instrumentos, e não havia tempo hábil da prefeitura comprar, então aqueles bairros que conseguissem formar as escolas de samba eles iriam emprestar os instrumentos das bandas escolares. Lá na São Gabriel vai nascer a Unidos do São Gabriel, que já nasce escola de samba adulta, das atuais é a mais antiga, no Promorar nasce um bloco, Bloco Carnavalesco Unidos do Promorar, pegando ali Vidal, Branco e Coca surge o Bloco Carnavalesco Samba No Pé que dizem que era o Bloco da Dona Serafina, mas não Bloco da Serafina era um bloco de Carnaval, mas existia em 1989 o Bloco Mirim Samba no Pé, que eram as crianças do Guarany. [...] Então em 1990 surge o Bloco Carnavalesco Samba no Pé, naquele carnaval, as crianças participam com os pais, a Castelo Branco já não desfilou, em 90 parte da Castelo Branco já estava dissolvida na Samba No Pé e na Unidos do Promorar. A Alegria e Samba desfilou no Carnaval de 90, mas ficou em último lugar e foi desativada, foi tudo muito rápido. [...] Foram muitas reuniões, se mobilizou muito, até porque o espaço de tempo era mínimo, para se poder criar uma coisa consistente. Não tinha tempo hábil de se escolher um tema enredo, de se confeccionar fantasias, ter uma lógica, mas o carnaval saiu, como pode sair, mas já com concurso e tudo. Em 1991, aí sim, é o
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carnaval como conhecemos hoje, um grande carnaval. A Samba No Pé, passou o carnaval de 90, que inclusive foi um carnaval aconteceu uma semana depois, pois choveu as quatro noites, e não era uma chuvinha, era chuvarada, muita chuva. [...] passo o carnaval, um mês depois a Samba No Pé se torna escola adulta e a Promorar ainda permanece como bloco até o próximo ano, 09 de janeiro de 1991, só que elas passam todo o ano 90 se estruturando, em 1991 a Samba No Pé já vem linda e é campeã com as etnias, com o maior carro que já passou até hoje na Dr. Monteiro, não em largura, mas em comprimento, não sei se era uma carreta, era uma coisa enorme, comprida, era uma onça gigante, e o Luiz Carlos com uma fantasia lindíssima de índio, tinha umas palmeiras no carro, não lembro a São Gabriel, mas a Samba No Pé tinha três carros, o último era uma caravela, perfeita, enorme. [...] Sempre foi muito complicado, nos anos 90 era tenso, foi por isso que se trocou os jurados da cidade, eram jurados daqui, eram pessoas ligadas aos seus quesitos, professores de arte eram convidados para alegorias e adereços, músicos para samba, para bateria, professores de história e portugues para enredo, eram pessoas comuns da nossa comunidade. Só que automaticamente como tu não vai torcer para uma escola de samba e todo mundo se conhece, então tu sabia pra qual escola a pessoa torcia. Sempre alguém apanhava [risos] era tenso, tenso, tenso. Guerra de fazerem protestos de invadirem a prefeitura com manifestação, muito tenso. Nosso carnaval foi muito profissional, o auge do nosso carnaval é os anos 90, metade dos anos 90 em diante, entre 1995 e 2010, o auge do nosso carnaval, é quando as escolas de samba alcançam seu máximo. A São Gabriel reina, de tamanho, de luxo, de tudo. [...] Em 2003 a Samba No Pé despertou, e gostou e não parou mais, começou a conquistar títulos e títulos superando a São Gabriel, é uma rivalidade que existe desde o começo, é uma grande rivalidade entre as duas, foi por isso que se trocou para jurados de fora, mas mesmo assim é muito complicado. [...] A verba para as escolas de samba acontece desde o início, desde aquela época. Partiu da administração pública esse estímulo para criação das escolas de samba. A liga das escolas de samba é ligada ao poder público, o nosso carnaval é do poder público, automaticamente essa verba, esse custeio tem que ter e acontece, só que é muito difícil tu usar só ele, é muito difícil [...] tudo é muito caro. [...]
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As escolas de samba ainda dependem muito da prefeitura, claro, a culpa não é delas, mas teria que ter uma forma, como eventos que a prefeitura promovesse que as escolas pudessem colocar um bar, algo assim. [...] Eu pesquiso o carnaval desde quando eu me tornei carnavalesco, em 1995, comecei colecionando fotos de rainhas e duquesinhas dos clubes. Naquela época tu não sendo sócio era praticamente proibido tu entrar no Clube Comércio, era como tu estar na frente do palácio imperial, e eu era adolescente e tinha sonho de conhecer, sempre fui apaixonado por carnaval, sempre foi uma festa que muito gostei, eu entrei no clube e pedi pra olhar a galeria das rainhas, fazia pouco tempo que tinham inaugurado, e eu me apaixonei, foi bem na época que tava começando a despertar na época em mim o gosto pela história, pela pesquisa, tava começando a nascer um historiador. algumas daquelas mulheres pra mim, a grande maioria desconhecidas, algumas conhecidas, e eu fui atrás, comecei a procurar as vivas, conversar, colecionar fotos, na época a Dolfina era viva ainda, eu pegava a mesada que eu ganhava e comprava tudo em foto, fotos da Dolfina. eu saia em busca de quem pudesse me ajudar a identificar as pessoas das fotos. Hoje eu tenho completo todos os Clubes Sociais, completos, a galeria do Clube Caixeiral foi feita com as minhas fotos, o Clube Não tinha, o Guarany também, rainhas e duquesinhas, foi com as minhas fotos, o Comércio se não tivesse fechado também iriam fazer a galeria com as minhas fotos. Em 2010 uma amiga minha me ofereceu se eu não queria uma fantasia pra desmanchar, ela disse que era uma fantasia velha, que não queria mais, tinha muitas pedras que eu poderia usar para a escolas de samba, quando eu ganhei a fantasia, quando eu abri o pacote era uma fantasia completa da rainha do Clube do Comércio de 1972, da Jaçanã e eu de caro identifiquei a fantasia por causa das fotos, fantasia lindíssima toda rosa e aí eu voltei e perguntei pra ela, ela disse que tava no lixo, que passou e pegou pois lembrou de mim, aquilo me deu uma dor. Pensei: Poxa uma fantasia linda, de 1972, quantas não devem estar indo para o lixo. A partir dali começou a me dar a vontade de procurar mais, essa ideia foi sendo amadurecida até 2016, foi quando resolvi criar o projeto Memorial do Carnaval de Arroio Grande, pra ver no que dava, três meses bombou o Facebook, em três meses eu já tinha 50 fantasias, hoje o Museu do Carnaval tem 214 peças, entre fantasias, pedaços de fantasias, adereços de cabeça, roupas de gala. Em três meses que eu lancei na internet eu ganhei muita fantasia, vestidos de coroação, roupas de mascarados, os
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tradicionais, da década de 80, a primeira bandeira da Luluzinhas, roupa do Vanderlei, tudo. Em 2017, no aniversário da São Gabriel, 03 de fevereiro, teve a inauguração do Memorial do Carnaval, que foi itinerante, ele é itinerante, pois como ele não tem uma sede eu dependo de locais para poder montar uma exposição. a primeira aconteceu em 03 de fevereiro de 2017 no Museu Municipal, a prefeitura me cedeu o espaço, ficou 30 dias, a inauguração foi linda, teve a banda do Bloco do Caroço, que tocou antigas marchinhas, fizemos uma homenagem para o Clube do Comércio, que um dia antes tava de aniversário, a Izinha tava vestida de pierrô e fez uma apresentação teatral recordando os antigos carnavais, eu passei um texto pra ela e ela fez uma apresentação muito bonita. [...] Foi um sucesso, ficou trinta dias, mais de 500 pessoas, recebemos muitas rainhas e duquesinhas de fora que vieram para ver a exposição, depois de 2017 surgiu mais, metade de 2017 eu fiz uma exposição na inauguração do Centro do Idoso, em 2018 foi na biblioteca, em 2019 foi no 20 pois eu não consegui espaço, foi no hall de entrada do 20, foi só uma representação do Memorial do Carnaval, ano passado com pandemia não teve, esse ano também não. Hoje tem em torno de 200, 214 peças, entre fantasias completas, fragmentos e 5 mil fotos. A maior importância de preservar a história do carnaval é preservar a memória do carnaval, é preservar a história das próprias pessoas, a história da própria comunidade. O Carnaval foi, é e vai continuar sendo a maior manifestação popular. [...] O Carnaval nunca parou, é do século XIX, 120 anos, parou agora, por conta da pandemia, pela primeira vez. O que eu pensei assim , depois que vi aquela fantasia que foi pro lixo, e resolvi montar o Memorial e tudo, o Carnaval é uma festa que identifica a nossa população, uma festa tradicional, muito nossa, o jeito de fazer carnaval o de Arroio Grande só tem aqui, já fui carnavalesco em outras cidades, é muito diferente. O carnaval daqui, é daqui, tem a nossa cara, tem a nossa voz, tem o nosso jeito. [...] Tu pega rainhas, duquesinhas, presidentes de escola de samba, presidentes de clubes, componentes das escolas de samba, quem foi destaque, quem foi porta bandeira, são histórias, histórias de dedicação, são sonhos. A parte que me motivou
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muito foi a dos Clube Sociais e vendo o estado que estão os clubes hoje, principalmente os clubes Comércio e Guarany, quanto choros, quantas emoções não tiveram ali. A 20 anos atrás ser rainha de clube era o sonho de muitas adolescente, duquesinha era status, era algo assim, o sonho de toda menina, aí de repente são histórias que morrem, que são esquecidas, e eu como pesquisador me toca muito, eu resgato todos os eventos que Arroio Grande tem, são memórias que não podem morrer. Temos um carnaval que tem o mínimo de ocorrências. Já aconteceram coisas tensas? Já, mas é muito mais um carnaval da paz, do que da confusão, é uma mistura de gente livre a vontade, criança solta por tudo, por aí tu não vê isso, em Jaguarão tu não vê. Em Jaguarão as pessoas são até frias em relação às escolas de samba, lá é mais festa pra jovem, aqui passa escola de samba a Dr. Monteiro não fica esvazia nunca, é a maneira do pessoal sentar, é a maneira de reagir. [...] O toque das escolas de samba de Arroio Grande só tem aqui, é uma mistura de toque de bloco e de cordão carnavalesco, é um toque antigo. Dito por músicos. [...] O Carnaval de Arroio Grande é a nossa cara, é o carnaval popular da família. [...] Em relação às mirins, hoje no Brasil existem apenas 7 municípios que existe escola de Samba mirim, que tem algum destaque no carnaval, Arroio Grande é uma delas. A primeira mirim vem lá da São Gabriel, a Sementes do Amanhã, fundada pelo Marquinhos Vasquez, mesmo que fundou da São Gabriel. a São José deveria ter nascido adulta, é que a Enilda não conseguiu mobilizar as pessoas, mas ela sempre quis uma escola mirim, mas era pra ter sido adulta, a São José só nasceu em 1995, e nasceu vencedora, no primeiro desfile em 1996 ela já ganhou. A Sementes não tinha um enredo e a São José era pra ter sido adulta, o carro alegórico era um arco íris enorme. [...] Os Barracões já eram para existir a muito tempo, isso vem desde os anos 90 sendo prometido e não sai do papel [...] sempre se falou, sempre se lutou por isso, ele é protocolado, aquilo vai andando, andando mas não sai do lugar. Eu considero muito importante pois vai dar muito mais autonomia para as escolas de samba, elas vão se
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desprender um pouco da prefeitura, elas não vão ficar dependendo do dinheiro da prefeitura para ter um espaço, o aluguel é caríssimo, elas gastam muito, pesa muito. Teria uma economia muito grande, é um local que tu vai poder guardar seu material, tu vai poder fazer um estoque. [...] O Museu do Carnaval é uma preocupação muito grande, até a Secretária de Cultura conversou com a possibilidade de um espaço fixo e tudo, eu quero muito. Se alguém chegasse pra mim e dissesse pra mim assim: Eu tenho um espaço pro teu museo. Eu entrego tudo que eu tenho, pois não é meu, as coisas foram doadas, mas a ideia não é ficar comigo, tudo isso que te falei que tenho está na minha casa, eu não tenho mais espaço, são dois guarda roupas enormes, dois armários enormes, cheios de caixas, cada caixa tem duas , três fantasias dentro. tem um pedaço de um esplendor pendurado numa parede, outro atrás do guarda roupa. A casa que eu moro ela é úmida, embora de tempos em tempos eu faça a higienização, eu tenho muito medo de perder esse material todo por ficar muito tempo parado. [...] Não me importo, se tivesse um local entrego tudo, nunca esquecendo de quem teve essa iniciativa, de quem perdeu noites de sono pra fazer tudo isso, fui eu, mas não é meu. Tendo um espaço a gente faz um documento, eu entrego tudo, entrego a responsabilidade, é um museu têxtil, sendo um museo têxtil ele requer uma atenção redobrada, diferente, por exemplo, do que tu ter uma coisa mais sólida, o tecido das fantasias não tem como tu mexer sem luvas, tem que ter luvas, tem que ter máscara, tem que todo o cuidado, tenho fantasias que só em abrir a caixa já cai um bordado, são muito velhas, tecidos muito delicados, tem que ser pessoas que saibam mexer com acervo, que tenham delicadeza pra tirar uma fantasia de uma caixa pra montar no manequim, tem que ter redomas de vidro, pra não ficar em contato com o pó e com o ar, tem que ser um espaço que não tenha muita luminosidade da rua, pois desbota, sem muita ventilação para não trazer umidade. Me preocupo, foram doados pra mim, mas não consideram que sejam meus, cada fantasia que tem lá em casa tem uma história, tem uma memória, tem o dinheiro de alguém, o sonho de alguém, tem as lágrimas, alguém carregou aquilo no corpo, se for fazer um estudo de DNA tem a marca da pessoa ali. Esse espaço é o que mais quero, não que eu queira me livrar, é que por gostar tanto disso, eu tenho muito receio de perder esse material. [...]
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APÊNDICE B – Transcrição do Depoimento do Presidente da Escola de Samba Unidos do São Gabriel, João Victor Larrosa, em 04 de outubro de 2021, na Associação dos Moradores do Bairro São Gabriel, Arroio Grande. Primeiramente que a São Gabriel, na qual sou presidente e posso falar, ela não possui barracão próprio né, então ela não possui um barracão nosso, sempre é alugado ou é muito raramente, mas acontece, emprestado né. O que nos ajuda bastante, mas a função de não ter um próprio nos impossibilita de trabalhar durante o ano, acaba que nos acumula serviço para os últimos dias e também né de preservação de material, também fica difícil de preservar material. Além disso, né então a gente tem esse barracão que a gente aluga consegue emprestado digamos assim nos últimos dois meses 45 dias e ali que a gente constrói os carros e os tripés então geralmente o barracão ele tem um marceneiro que a pessoa que faz a base do carro que organiza que projeta a parte mais brusca de base dos carros e também tem uma ou duas pessoas que conhecem o desenho do carnavalesco, o material que vão fazer os carros e controla esse material de construção, então a gente tem um dos diretores de barracão que coordena as atividades ali né porque é muito movimentado, então chega uma pessoa, chega outra e um começa aqui, não termina lá e então tem que ter essas pessoas responsáveis que conheçam bem o que tão fazendo e como organizar, então a gente busca ter essas pessoas responsáveis. Geralmente o material ele chega questão de 40 dias antes do carnaval, então geralmente até menos, então a gente tem muito pouco tempo para essa construção então geralmente é muito corrido, a gente sempre tenta reutilizar material, sempre se utiliza materiais de outros carnavais, ajuda bastante né, exceto, como por exemplo o Abre-Alas, como é quesito então temos que dar uma caprichada maior digamos assim, e os outros é que a gente às vezes acaba utilizando material de outros anos, que nos dá uma economia de verba, mas a gente vai construindo assim né. Então esse material fica ali, no barracão, que é um dos focos, um dos pontos base da escola onde se reúne as pessoas para fazerem e para se informarem sobre como tá a escola né, e as pessoas ajudam muito né, então geralmente essas pessoas que constroem e que decoram elas não são remuneradas, assim como quem geralmente pega pesado na escola, às vezes não é remunerada, é muito pela paixão pela escola, que passam madrugadas inteiras, o dia inteiro [...] em situações bem precárias às vezes, mas construindo as atividades né.
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Então a gente tem essas pessoas aí que botam a escola na avenida e é muito dinâmico assim né, porque as coisas se encaixam, quem chega às vezes no barracão visualiza os carros fora de ordem, as coisas ainda não nos seus lugares e não consegue ter a dimensão do que vai ser na avenida, aí quando liga as luzes, quando arma tudo fica fantástico. Então a gente tem verdadeiros artistas que constroem isso que às vezes não aparecem né, na avenida, aqueles que constroem o carnaval por detrás da cortina e não passam na passarela, então é muito bacana. Essa maneira de organização é muito difícil né, porque tem a função de dinheiro, tem a função de tempo, tem a função de pessoas para fazerem, mas apesar das dificuldades sempre sai coisas muito lindas, assim é né, então é mais ou menos essa dinâmica que a gente enfrenta a questão do espaço, tempo. A gente tem um bônus de pessoas apaixonadas que vestem a camisa e é mais ou menos por aí né que a gente vai trabalhando sempre construindo para fazer dá certo.