Índice Really People
Número 01. Fevereiro 2008. director Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com
Nicole Eitner 08 Petter Andersson 10 Rita GT 12 Mark Gatiss 14 Hector Ayuso Rós 06
editora Carla Isidoro carla@parqmag.com Direcção de arte Valdemar Lamego valdemar@parqmag.com
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16 You Must – Trends 20 You Must – News
Trendscout Mário Nascimento mario@parqmag.com
Viewpoint
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tradução Roger Winstanley
Kohey Yoshiyuki
Soundstation publicidade Francisco Vaz Fernandes francisco@parqmag.com Cláudia Santos claudia@parqmag.com
Thriller 32 Aaron Jerome 34 Quantic Soul Orchestra 30
Kohei Yoshiyuki From the series The Park Untitled, 1971 Gelatin Silver Print
Moda
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Pedro Pacheco
«Golden Widow» Grande Entrevista Edição Conforto Moderno Uni, Lda. PARQ Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2ºesq. 1000-251 Lisboa 00351.218 473 379 Impressão SOGAPAL — Queluz de Baixo. 20.000 exemplares distribuição Conforto Moderno Uni, Lda. A reprodução de todo o material é expressamente proibida sem a permissão da Parq. Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 Parq.
textos António Cerveira Pinto Alexandra Cunha Carla Carbone Cristina Parga Helmut Hemmer Isabel Lindim Maria Fernandes Mário Nascimento Martin Kullik Miss Jones Natacha Paulino Nuno Gil Ray Monde Roger Winstanley Rui Miguel Abreu Sofia Saunders Vanessa Cardoso Zé Trigueiros.
fotos Ferran Casanova Pedro Pacheco Valeria Galizzi Santacroce
foto por Pedro Pacheco www.pedropachecophoto.com styling por Conforto Moderno make-up por Rita Fialho hair por Germana Garcez modelo Alice {central models} assistente de fotografia Hugo Silva light equipment www.spot-lightservice.com
Raimund Hoghe
Central PARQ
The Retro Kidz 48 Stephanie DeArmond 50 David Batchelor 54 O fim da Tecnologia 46
Moda II
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Ferran Casanova
«Eternally bound» 64 You Must II – News 71 PARQ Here
www.parqmag.com
capa leggings DIESEL macaco DIESEL sapato de salto alto e corrente DIESEL
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Translations 78 Mark Gatiss 78 Héctor Ayuso Rós 78 Raimund Hoghe 79 The Retro Kidz 80 Stephanie dearmond 80 david batchelor 81 the end of technology
Editorial Há sempre uma primeira vez O início fabuloso da PARQ.
Nem sempre é num PARQ, mas vamos supor que tudo ali se passou. Um dia, um grupo de amigos sentados à sombra de uma árvore, fazendo contas à vida, decidiu fazer uma nova revista gratuita.. E estavam nisso, a pensar no título do periódico mensal, quando já era óbvio o nome PARQ. Sobre a nossa cabeça era enorme o céu azul e todo o espaço à nossa volta era aberto. PARQ soava a público, encontro, lazer, e porque não a aventuras ilícitas, tudo o que consideramos necessário para a construção de uma identidade própria. É por isso que a palavra PARQ aparece como título de diferentes secções da revista: Central PARQ, onde contemplamos os artigos centrais; e Parq Here, um conjunto de iniciativas e lugares onde obrigatoriamente parar - são as nossas sugestões. Queremos operar como um registo das motivações de todos nós. Chegar a um público interessado pelos fenómenos urbanos e com consciência social. A PARQ vai proporcionar um fluxo de ideias que reflictam as nossas próprias vivências e expectactivas, dando uma visão global e complexa do mundo em que vivemos. Neste sentido, há uma clara opção pela entrevista e pelo discursso directo. Really People, a secção de abertura da revista, é um espaço de confissões em formato de entrevista onde convidamos pessoas de diferentes quadrantes culturais e geográficos. Com o mesmo sentido de inclusão, nesta edição acolhemos o precioso testemunho de Yoshiyuki sobre a actividade nocturna dos parques japoneses. A foto reportagem, enquanto registo do mundo, aparecerá diversas vezes em edições futuras. Por outro lado, interessa-nos levar o leitor a temas de maior reflexão , para os quais convidamos pensadores a expor a sua opinião em artigos de maior desenvolvimento. Neste número, convidámos o Prof. António Cerveira Pinto que escreveu sobre o fim da tecnologia.
Francisco Vaz Fernandes
Quando encontrar esta revista, pare alguns minutos e vá ler para um espaço verde. Entre no espírito PARQ!
Real People
Nicole Eitner Nicole Eitner vive em Portugal há vários anos, teve as suas bandas rock, jazz e soul na Alemanha, dá aulas de canto, escreve, compõe e dirige musicais infantis na escola alemã do Estoril. Acaba de lançar «Vampires», tocado romanticamente ao piano. Texto: Carla Isidoro
A temática Vampiros leva-nos para ambientes sombrios e expressionistas. A cultura alemã está presente neste trabalho? Todas as músicas que escrevo são no fundo uma reacção a algo que me perturba, que me anima e me toca por alguma razão. O tema «Energy Vampires» foi inspirado nos “vampiros” que nos sugam a energia todos os dias. Gostei da temática por ser uma constante sem tempo. As minhas raízes alemãs estão muito presentes neste álbum. Vivo a minha vida em alemão, penso, escrevo, leio e faço contas em alemão. E gosto de sons que por si digam alguma coisa. Um piano pode contar uma história ou desenhar um pensamento, um contrabaixo pode cantar e um violino sabe chorar e intervir sem usar palavras. Se isso é a sonoridade alemã... Refere no disco que é um projecto que desejava há bastante tempo. Escolheu Janeiro para lançar um novo projecto no início do novo ano? Sempre desejei fazer a minha música à minha maneira, sem compromissos. Escrevi o meu primeiro tema ao piano com 10 anos para minha mãe. Desde então tenho o meu diário musical, músicas daqueles momentos da vida que de certo modo nos mudam a visão. Chegou a altura de abrir e publicar o “livro”. Não há a altura certa, muito menos nos tempos em que vivemos no mundo da música.
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PARQ
Vive em Portugal há mais de 15 anos, fala português perfeitamente e no entanto opta por letras em inglês bastante saudosas e melancólicas. O misto da eterna facilidade da língua inglesa com o romantismo do Fado. Não vou nunca esconder o amor que sinto por Portugal. O meu coração vive aqui. Sou sentimental e cheia de saudade. A minha conexão entre o país, a saudade e o inglês vem das minhas influências musicais. Passei horas da minha vida como teenager com o meu walkman vermelho a ouvir Dead Can Dance, The Cure, David Sylvian, Cocteau Twins, Durutti Column, Anne Clark, a olhar o mar exausto e revoltado de inverno. Os temas do disco foram registados num auditório, com piano, voz e contrabaixo. Queria uma sonoridade intimista? Queria que o som deste disco fosse orgânico. Quero que os músicos, incluindo-me, sejam genuínos, que façam o que realmente sabem fazer. Sempre fui uma cantora ao piano, desde as festas da escola às festas em bares de Munique. Por isso quis limitar-me a fazer aquilo que sei fazer, tocar piano e cantar.
www.myspace.com/nicoleeitner
Real People
Petter Andersson Martin Kullik, stylist, entrevistou o amigo e modelo Petter Andersson. Conheceram-se em Milão quando ambos faziam castings para a Semana de Moda. Andersson é uma das estrelas do momento. Foi o rosto da Campanha de Jean-Pierre Braganza e é a Pantera Negra de Gareth Pugh. Ele está a chegar… e vai arrasar. Texto: Martin Kullik — Fotografia: Sara Jacobsson
Qual o trabalho mais fascinante que já fizeste? Desfilar para Gareth Pugh. Realmente adorei usar aquele Cat-Suit muito colado ao corpo, haha. Sempre a 100%? 110% ! O que fazer da vida depois da moda? Eu quero continuar sempre na moda. Maquilhagem! Sempre ou nunca? Nunca digo nunca, mas prefiro deixar um profissional decidir o que fazer. Londres para sempre? E Nova Iorque? Tóquio? Paris?
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Seda ou aço? Uma cara de aço e um coração feito em seda. Cerveja ou vinho? Cerveja às terças e vinho aos sábados. Atracção para ti é? Autoconfiança! Estás apaixonado? Sempre! Alguma coisa que queiras dizer… It’s Petter, bitch!
Real People
Rita GT Nuno Gil, actor, deitado na sua cama, entrevista via msn a sua amiga de infância Rita GT, artista plástica que em 2007 esteve representada em praticamente todos os prémios portugueses para jovens artistas. Texto: Nuno Gil — Fotografia: Rita GT
Porque é que quando estamos juntos nos rimos muito? Pois é! Não sei, mas isto acontece desde que nos conhecemos no 5ºano. Rimo-nos mesmo muito. Não acho normal. Lol. Vês, já me está a dar vontade de rir! Acho que é bastante normal porque o riso funciona como o cérebro: também é um “músculo” que tem que ser exercitado. O teu trabalho também é visto com uma certa ironia. Gostas de provocar riso? Sim, penso que tem a ver com esse sentido crítico e sarcástico com que encaro a vida no meu trabalho. Questiono-me muitas vezes sobre o papel do artista na sociedade. Para mim, fazer arte tem que ter uma componente prática muito forte, e nada melhor que exercitar o pensamento crítico usando a ironia e a sátira para confrontar as pessoas. Muito do teu trabalho tem passado pela performance. Admiro que consigas enfrentar um público tão grande como o da feira Arco e mesmo o rei Juan Carlos! Também me admiro que o consiga fazer! De facto é qualquer coisa mais forte que tudo o resto e sinto que tem que ser feito. Tu sabes o que isso é porque também te confrontas com uma plateia. Bem que gostava de ter conseguido dar uma nota ao Rei para que ele se comesse a si próprio.*
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Porque é que aparece tantas vezes a figura da macaca nas tuas performances? Lol. A macaca tem a haver com a ridicularização da performance e o desconforto que existe entre o público e o próprio performer, essa postura quase de macaquinha de circo, que está ali completamente em desconforto perante o público. Vivo essa situação cada vez que me exponho, tanto nas minhas performances como nas peças que crio. Mas essa máscara que aparece na foto, não foi a que usaste quando fomos pela primeira vez à festa de carnaval da Faculdade de Belas-Artes do Porto? Tínhamos 18 anos. Pois foi! Foi a primeira vez que lá entrei, nem imaginava que passaria nessa escola cinco anos da minha vida! Foi uma bela festa! A partir daí ficamos fãs, não faltávamos a nenhuma. (lol) Fazíamos muitas performances! Achas que é bom ser artista em Portugal? Acho que é bom ser artista…sou artista em todo o lado, não só em Portugal…
*Vestida de empregada servia ao público do ARCO notas com a efígie do rei de Espanha impressas em papel e tinta comestível.
Qual é para ti o momento cómico mais seminal? O meu amigo Julian Rhind-Tutt do «Green Wing» disse-me que foi a primeira vez que demos um passou-bem. Eu concordo que foi realmente um momento seminal pois acabavámos de nos vir. Com que personagem literária mais te identificas? Com o capitão Gancho do Peter Pan, porque é uma personagem linda e fadada por uma sede de vinganca insaciável. Ele odeia Peter Pan por ter cortado a sua mão, mas na verdade odeia-o porque representa juventude e liberdade. Todas as coisas que aquele pirata terra a terra nunca pôde conseguir. Ele é a personificação da meia idade com saudades da juventude perdida. Adoro isso. E além de tudo sou constantemente perseguido por um crocodilo a tentar comer-me.
Real People
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Mark Gatiss Mark Gatiss é conhecido por ser um dos criadores e actores da série de culto «A liga dos Cavalheiros», vista praticamente no mundo inteiro, incluindo em Portugal. Para além de ser actor, actualmente é a personagem Agrado na adaptação teatral londrina do filme «Tudo sobre minha mãe». É igualmente um escritor de sucesso e o seu último livro «The devil in amber» foi muito aclamado em Inglaterra. Para o seu antigo room-mate, Roger Winstanley, ele é um livro aberto, faz questão de não esquivar-se a nenhuma pergunta.
Quem murmurou as últimas palavras mais memoráveis? Beethoven supostamente terá dito “Aplaudam meus amigos, que a comédia terminou”, uma frase pensada provavelmente durante muitos anos de tão boa que é. Eu imagino-o no leito da morte guardando o momento destas palavras na cabeça , com medo de pedir pra mijar caso morresse logo de seguida. O Ayatollah Khomeni, recordo que ele disse “Apagem as luzes”, que também é muito boa. Apocraficamente, Oscar Wilde disse “Esse papel de parede está a matarme. Um de nós tem que ir.” Mas esta é boa demais para ser verdade. A minha preferida, apesar de tudo, tem que ser a do Rei Jorge V de Inglaterra. A família estava a reconfortálo no leito da morte dizendo que ainda iria recuperar a ponto de voltar à zona balnear de Bognor. “Que se foda Bognor”, e faleceu. O que mais gostas na tua casa? O meu namorado, o meu cão Bunsen e uma cabeça em cera de um rapaz núbio escondida numa caixa de chapéus no guarda-roupa.
O que mais odeias em Londres? O cheiro, o calor e a loucura durante o Verão. É hediondo. Agora entendo porque é que as pessoas sensatas fugiam durante os meses de Verão. Também odeio autocarros que se dobram, só têm utilidade nas cidades europeias com avenidas largas e não nas ruas estreitas e espantosamente apertadas da Londres histórica. Também odeio os turistas que bloqueiam as saídas do metro. Além disso é uma cidade linda e maravilhosa. Qual foi, para ti, a invenção que não vingou e nunca deveria ter sido esquecida? A laranja que se auto descasca. O cabelo de boneca em plasticina que cresce. Lâminas de vidro para barbear. Malha que não ganha borbotos. Vacas azuis. Se tivesses vivido noutra época histórica, qual seria e porquê? Provavelmente a época eduardiana (1901-1914). Gosto imenso da loucura e diversão tonta depois toda aquela morbidez vitoriana. A roupa, as bebidas e a arte. É tudo fantástico. Mas depois viria a primeira grande guerra e terminaria toda a minha felicidade. Senão provavelmente gostaria de ter vivido na época Tudor. Ou basicamente em qualquer período em que fosse permitido aos homens usar collants.
Qual é o fetiche mais estranho de que já ouviste falar? Uma vez engatei um homem que queria que fossemos para a cama com braçadeiras insufláveis de natação. Foi bonito, mas as arestas arranham. Qual o objecto a que tens mais apego? Um fotograma do filme do James Bond «O homem da Pistola Dourada» assinado por Christopher Lee e Roger Moore. Quando era criança não era o meu filme favorito do James Bond, mas agora gosto muito. Quando era criança o Christopher Lee era o meu herói. Gostaria de ter uma obra do pintor Frank Brangwyn. Se um dia o conseguir, vai ser o meu objecto preferido. Há alguma coisa com que nunca farias uma piada? Com a minha sogra. Sinceramente. Ela é tão gorda. Os fantasmas existem? Eu acredito que sim, mas não são espíritos dos mortos. Há séculos de provas de acontecimentos esquisitos, por isso tem que haver algum fundamento nisso. Sei que tudo parece muito ficção científica, mas a ideia de imagens, cheiros, ou eventos que se imprimem no tempo é plausível para mim. A maioria das assombrações entram nessa categoria. Mas isto não explica uma figura decapitada voando na tua direcção com um machado.
Qual é a obra de arte mais sobrevalorizada? Tenho um ódio irracional por El Greco. Detesto as cores lamacentas e empoeiradas das suas obras bizarras. Na verdade também tenho que referir Dali. Deve-se ao facto de ter sido sobre-exposto em milhões de quartos de adolescentes e hoje em dia acho a sua obra cansativa. Também não gosto muito de arte naif. Quem é que decide o que é naif ou merda, aquilo que uma criança retardada podia ter feito?
Texto: Roger Winstanley
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Em 2007 o Festival aconteceu simultaneamente em Barcelona e Nova Iorque mas este ano optaram por Lisboa e Nova Iorque. Qual o motivo da mudança? A razão do OFFF é a arte na sua constante mudança. E essa mutação está enraizada na natureza básica deste festival. Não associamos o Festival a um local específico como também não associamos a criação pós-digital a um local físico. Significa que a cidade que o acolhe não tem tanta importância. Podia ser em qualquer sítio porque temos um público muito fiel que se desloca ao festival onde quer que ele aconteça (na verdade 70% do nosso público vem do estrangeiro). Tivemos oportunidade de vir para Lisboa, como tivemos oportunidade de ir para Nova Iorque, mas desta vez tivemos que escolher entre Portugal e Barcelona pois tínhamos praticamente as mesmas datas e a nossa equipa não é suficientemente grande para trabalhar simultaneamente em duas edições.
Real People
Héctor Ayuso Ros
O que podemos esperar do OFFF em Lisboa? Todos os anos tentamos melhorar. Tenho a certeza que este vai ser o melhor 0FFF até 2009. Como costume, traremos os artistas mais inovadores, aqueles que criam novos parâmetros na área dos media, design e música. Alguns já confirmaram, como Rob Chiu, Fakepilot, David Kensler (The KDU), Taylor Deupree com Kenneth Kirschner vs. Amit Pitaru, Joshua Davis, Hi-Res!... A lista está a crescer diariamente e pode ser consultada no nosso site. Vai haver novidades relativamente à estrutura mas isto é, por enquanto, um segredo.
Quais são as tuas prioridades para os três dias de festival? O OFFF é resumidamente um espaço de partilha de conhecimentos, não só entre os artistas participantes, mas também entre o público. Esta é maior prioridade para nós. Não queremos ser um showcase onde temos um público simplesmente a assistir e a escutar passivamente. Queremos que as pessoas entrem em contacto entre si envolvendo-se num processo de aprendizagem. O OFFF é baseado num fluxo constante de informação. Sabemos que nascem todos os anos muitas parcerias no festival. Também conhecemos muitas pessoas que faziam parte da plateia mas que entretanto ganharam um lugar no palco. Ou então, o caso contrário, pessoas que anteriormente estiveram a mostrar o seu trabalho para uma plateia e que agora fazem parte do nosso público. Que relação vai existir entre Lisboa e Nova Iorque em termos de programação ? A única relação é que somos os mesmos comissários. Obviamente há uma corrente estética e ética comum. Logicamente em Lisboa vai haver uma presença maior de portugueses e de europeus no palco. O que significou terem ganho este ano o prémio de cultura do Jornal El Mundo em Espanha? É sempre bom vermos o nosso trabalho reconhecido. Para nós o prémio, é isso, um reconhecimento de oito anos de muito trabalho. Esperamos que promova o nosso trabalho e nos ajude a conquistar um público novo.
Qual foi a razão para criar o OFFF? Como já disse, a proposta principal foi e é a partilha de perspectivas novas na área da cultura e da tecnologia. Era uma coisa que sentíamos necessidade de fazer. Já conhecíamos grandes artistas e queríamos que outras pessoas também os pudessem vir a conhecer e ter contacto com eles. Talvez pareça um pouco idealista, mas de uma certa forma gostaríamos de ser um ponto de partida para uma geração nova de artistas digitais. Que problemas e obstáculos tiveram para criar o festival e como conseguiram superá-los? Fazer um festival como este significa que tens que lidar com muita coisa que está para além da tua paixão pela arte. No início foi difícil toda a parte de produção porque não tínhamos experiência suficiente. Não somos propriamente produtores, somos artistas, mas temos aprendido o suficiente ao longo dos anos. Por outro lado acredito quem esta abordagem de organizar um evento de um ponto de vista artístico e humano é o que faz do OFFF uma experiência única, tanto para o público como para os artistas. É óbvio que não estamos a fazer o festival para ganhar dinheiro e o público entende isso.
O Festival OFFF acontece pela primeira vez simultaneamente em Lisboa e Nova Iorque. Em antecipação da programação que planeou em conjunto com Rui Vieira (50done), para o público português no mês de Maio, Héctor Ayuso Ros fala-nos deste projecto que vai trazer à capital expoentes do digital e multimédia. Texto: Valdemar Lamego english version page - 78 -
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www.offf.ws/ www.inofffensive.com/
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City Snake fotografia Valeria Galizzi Santacroce produção Conforto Moderno • Ténis Puma • • Óculos Prada • • Fato de Banho cia maritima • • Ténis adidas/ originals • • Ténis nike • • Cinto Gant • • Cinto We are replay • • Relógio chaumet/ dandy •
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you must — trends
you must — trends
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street flúor fotografia Valeria Galizzi Santacroce produção Conforto Moderno • Cup carhartt • • Candeeiro flamp noir, da Design Code na Benetton/Fábrica • • Boneco de Vynil Toy2r, na Skywaker • • Ténis nike • • Cintos Diesel • • Óculos D&G • • Ténis Reebok/ Ventilator • • Guarda-Chuva H&M •
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you must — trends
you must — trends
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You Must I – News
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Dono de uma personalidade rara, o Mini Clubman – a variante “carrinha” da actual geração Mini – é daqueles que apela à emoção mais do que aos sentidos. Levanos a saborear cada momento com uma disposição de reencontro saudosista, e o que nos fica é a sensação de consolo oferecida apenas por aquilo que já tem história. Agora, sendo o Clubman, acima de tudo, uma variação estética com um acréscimo de espaço no interior e de volume na bagageira, aquilo que o distingue e faz “parar o trânsito” são as portas. A lateral traseira (apenas uma do lado direito), fazendo lembrar uma limousine, abrese no sentido contrário quando a porta da frente é aberta primeiro. As duas portas traseiras, quando abertas de par em par, revelam todo o interior. O velocímetro de tamanho gigante é uma peça de design “retro” para onde parece convergir a restante estética da consola. Aqui, o destaque vai, inevitavelmente, para a disposição dos manómetros do ar condicionado que desenham o logótipo da marca, contribuindo para que o Mini continue a assumir uma postura fortemente emocional. Foi envolta no espírito de quem regressa ao passado que o experimentei em estrada. Trouxe memórias infantis e fez recordar viagens e passeios de outros tempos. É com um sorriso que concluimos que preservando o misticismo de outrora, o Mini ainda parece um brinquedo.
Marcel Wanders gostava tanto do tecto da sua antiga casa que, quando se viu obrigado a fazer uma mudança, arrancou-o pedaço a pedaço e levou-o consigo para a nova casa.
Brinquedo com história Texto: Maria Fernandes
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www.mini.pt
marcel wanders um jardineiro fiel Texto: Carla Carbone
Parece que, enquanto lá viveu, o pequeno tecto em estuque florido – Wanders chamava-lhe um “ jardim do céu” – era tão bonito que resistia mesmo a um dono pouco atento à jardinagem. Como o designer diz: “mesmo sem eu ter dedinhos verdes, o tecto ficava sempre bem”. Sem ser regado ou precisar do sol, o jardim de Wanders convivia amigavelmente com a tonalidade da luz eléctrica. Hoje, essa imagem forte perdurou, e o designer traduziu-a para o interior esférico e estucado das paredes de um candeeiro, em que os relevos floridos ganham carácter através dos efeitos de sombra provocados pela luz da lâmpada. Os acabamentos do exterior do candeeiro Skygarden são feitos através de uma pintura em diversas cores: do ouro opalino ao branco e negro mate.“
www.flos.it
Skygardem de Marcel Wanders, 2007. Produzido e distribuído por Flos S.P.A.
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You Must I – News
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topography Texto: Sofia Saunders Dando um novo significado ao termo “comida natural”, a empresa de cerâmicas japonesa Kyouei alterou a paisagem de uma mesa de jantar. Nos seus recipientes, Topography, os molhos transformam-se em lagos dentro de uma cratera, a sopa de tomate é lava de um vulcão em actividade, e os brócolos uma verdejante floresta alpina. Uma viagem pelos sentidos e um estímulo à imaginação.
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www.kyouei-ltd.co.jp
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martelo porsche Texto: Cristina Parga A marca Porsche, cujo design abrilhanta telemóveis, roupas, relógios e diversos acessórios, desenha a estética de mais um objecto de desejo: o martelo multi-funções Porsche Design P’791, do especialista em ferramentas eléctricas Metabo. Combinando as funções essenciais de um berbequim com a potência de um martelo pneumático, a ferramenta destaca-se pela alta precisão, design purista e ergonomia- o seu punho inusitado, montado no topo, assegura o equilíbrio do centro de gravidade para uma distribuição de força perfeita. Com uma potência de 705 watt, o modelo Porsche Design fura betão, pedra, madeira e aço com leveza, funcionalidade e sofisticação.
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www.metabo-porschedesign.com
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também tira fotos samsung i70 Texto: Cristina Parga Uma câmara digital que apenas tire fotos hoje em dia é algo quase vintage. Com tantas funções multimédia apelativas como o MP3 e o vídeo player, o modelo i70 da Samsung é quase um melhor amigo que, entre as suas muitas habilidades, também tira belas fotos. E se os fotógrafos profissionais podem torcer o nariz para uma máquina com tantas funções diferentes, para quem procura unir estética, funcionalidade e entretenimento, esta salta aos olhos. Afinal, o gadget que nos seduz com a sua capa deslizante, padrões vitorianos e cores elegantes vem equipado com uma lente 38-114mm, Intelligent Face Recognition Technology da Samsung e tem 7,1 MP e zoom óptico 3x, como qualquer boa câmara. Mas possui também um grande ecrã LCD de 3” e SRS surround audio system, um convite para assistir a videoclips, concertos ou as próprias criações de vídeo. www.samsungcamera.com
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filipe alarcão Texto: Francisco Vaz Fernandes Filipe Alarcão concebeu para a TemaHome uma mesa em montelli, um material à base de resina e minerais, inovador e resistente que torna este móvel bastante versátil, permitindo-lhe ser um equipamento de interior ou exterior. Existem versões quadradas e rectangulares em cor branca e vermelha. A forma da mesa Gem aproxima-se à ideia de um cristal lapidado e tem superfícies brilhantes feitas com grande rigor de corte e colagem, que a torna num produto de referência dentro de uma indústria nacional de mobiliário sem grande tradição em peças de autor. A possibilidade de um reputado designer português poder criar uma série limitada de um projecto seu para o grande mercado é um sintoma positivo e uma esperança de que o tecido industrial português pode mudar. www.temahome.com/ Pontos de venda Lisboa: Empório Casa, Santos da Casa, Sem Nome, In Loco, Vesstah Porto: Empatias, Bastidor Faro: Space Invaders
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Kohey Yoshiyuki «The park»
Nos anos 70, Kohei Yoshiyuki conheceu pela primeira vez Chuo Park, em Shinjuku, onde se apercebeu da presença de jovens casais que durante a noite copulavam ao ar livre atraindo grupos de voyeuristas. A partir daí, começou a frequentar esse e outros parques de Tóquio, munido da sua câmara fotográfica, ganhando a amizade dos homens que se reuniam para olhar os jovens casais. Dotada de um flash com infravermelhos, uma novidade tecnológica no momento, a sua Kodak começou a captar o ambiente erótico daqueles parques que só recentemente decidiu mostrar ao público. As fotografias são testemunho de uma câmara que progressivamente foi tornando-se mais voyeurista e com o mesmo ensejo desses homens que gravitavam nos parques, de conseguir simplesmente tocar no objecto de desejo. Yoshiyuki expede a arte fotográfica para a sua origem, para o seu valor testemunhal, remetendo-nos para o carácter de observador implícito no acto fotográfico. As suas imagens testemunham uma capacidade de observação e implicação, raras na arte, que lhes dá uma aura de realismo e verdade exemplares.
www.yossimilogallery.com
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pág. 25 Kohei Yoshiyuki From the series The Park Untitled, 1971 Gelatin Silver Print pág. 26 Kohei Yoshiyuki From the series The Park Untitled, 1971 Gelatin Silver Print pág. 27 Kohei Yoshiyuki From the series The Park Untitled, 1971 Gelatin Silver Print pág. 28 Kohei Yoshiyuki From the series The Park Untitled, 1972 Gelatin Silver Print pág. 29 Kohei Yoshiyuki From the series The Park Untitled, 1973 Gelatin Silver Print
© Kohei Yoshiyuki, Courtesy Yossi Milo Gallery, NYC
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Thriller —Michael Jackson 25 anos depois Texto: Rui Miguel Abreu
O mundo pode mudar muito dramaticamente em 25 anos. Um par de exemplos: em 1982 a música transportava-se de um lado para o outro no walkman, tecnologia (japonesa, claro) de ponta que permitia ler cassetes; os jogos eram de arcada – cada máquina, do tamanho de um frigorífico, permitia jogar exactamente um jogo: Pacman ou Space Invaders eram pura vanguarda electrónica; e, por falar em vanguarda electrónica, em 1982 a britânica Sinclair lançava no mercado a maravilha de 8 bits que era o ZX Spectrum. Em 25 anos a tecnologia evoluiu tanto quanto, por exemplo, a arte de rabiscar em paredes evoluiu entre o tipo barbudo coberto de peles que vivia numa gruta perto de Foz Côa e Bansky. E não estou a exagerar (bem, talvez só um bocadinho). Mas, sob um certo prisma, pode argumentar-se que a arte pop atingiu o seu ponto mais alto em finais de 1982, com a edição de um álbum que dominaria as tabelas de vendas durante todo o ano seguinte. Falo de «Thriller», o grande clássico de Michael Jackson que agora assinala 25 anos de existência. É um quarto de século – o que para uma indústria com memória curta é muito, mas mesmo muito tempo.
Não deixa de ser extremamente curioso que as celebrações dos 25 anos de «Thriller» cheguem numa altura de pura agonia para a indústria. Fenómenos como os de Michael já não se inventam, mesmo num mundo com o poder da MTV e da rádio formatada como o de hoje – Justin Timberlake, talvez o mais óbvio herdeiro de Michael no século 21, tem cerca de 15 milhões de álbuns vendidos para os seus dois lançamentos a solo, «Justified» (2002) e «FutureSex/ LoveSounds» (2006). Michael vendeu mais de 100 milhões de cópias de «Thriller» em todo o mundo… a diferença é abismal. Como é óbvio, o fosso não se mede apenas em milhões de unidades vendidas, mas no impacto que cada uma destas estrelas registou. Em 1983, Michael pôde justamente reclamar o título de Rei da Pop e assistir a uma vénia verdadeiramente global. Tal seria de todo impossível nos dias que correm. É claro que não se pode falar em «Thriller» sem mencionar os assombrosos números que alcançou – a somar aos 100 milhões de cópias há o recorde de ter estado um ano no Top 10 americano, incluindo 37 semanas no primeiro lugar, de ter sido o disco mais vendido não apenas de 83 mas também de 84 e de ter gerado uns incríveis sete singles que quebraram todos a barreira do Top 10. Podem ter a certeza de que quando não estão a ter pesadelos, os executivos da actual indústria discográfica sonham com discos assim. Terá sido, no entanto, apenas porque se vivia num planeta diferente que o impacto de «Thriller» foi tão esmagador? Claro que não. A verdade é que esse álbum representa igualmente o apogeu de uma certa maneira de pensar a pop.
«Thriller» foi produzido pelo génio Quincy Jones, homem que fez carreira no jazz ao lado de gigantes como Dizzy Gillespie, que assinou várias bandas sonoras clássicas para produções hollywoodescas (como «In The Heat of the Night» ou «The Italian Job») e que fez arranjos para gente tão enorme como Frank Sinatra, Miles Davis ou Ella Fitzgerald. Pelo meio, Quincy ainda criou clássicos como «Soul Bossa Nova», lição eterna de balanço capaz de arrasar uma pista de dança mesmo nos dias de hoje. A primeira produção que Jones assinou para Michael, «Off The Wall», rendeu 20 milhões de cópias e clássicos como «Don’t Stop Til You Get Enough». Mas com «Thriller» – álbum de «Beat It», «Billie Jean» e, claro, do tema título «Thriller» – a música era outra. Com músicos dos Toto a bordo, temas escritos por Rod Temperton, Steve Porcaro (dos Toto), James Ingram com Quincy Jones e, claro, pelo próprio Michael, atingiu-se uma sofisticação impressionante, devedora das experiências individuais de cada um dos envolvidos que juntos pareciam cobrir todas as bases da música americana dos 30 anos anteriores. O resultado foi avassalador. Para celebrar os 25 anos de «Thriller», e até para eventualmente encaixar alguns preciosos dividendos, o gigante Sony BMG preparou uma edição especial que inclui novas versões para «The Girl is Mine» com Will.I.Am, «Billie Jean» com Kanye West ou, entre outras “surpresas”, «Beat It» com Fergie. De certeza absoluta que, para cada um deles, isso é o realizar de um sonho. Michael ensinou-lhes o poder do passo certo no momento certo, a importância da tradução visual das canções, o carácter crucial de uma melodia capaz de viver por muitos anos… Um quarto de século é, de facto, muito tempo, mas quando «Thriller» toca parece que foi ontem que o ouvimos pela primeira vez.
www.michaeljackson.com
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aaron jerome Aaron Jerome acabou de lançar «Time to Rearrange», a estreia que encaixou o jovem produtor na lista dos favoritos de Gilles Peterson. Gravou e produziu no seu estúdio, dentro de casa, com os artistas presentes ou à distância. Apostou no universo myspace e convidou músicos que admira, desconhecidos ou famosos, mesmo que não os conheça pessoalmente. Um lançamento de ouro no início do ano, também disponível em vinil. Texto: Carla Isidoro
Aaron Jerome trabalha numa das mais conhecidas lojas de música independente de Londres, a If Music, e foi dentro deste universo que explorou inúmeros géneros musicais, conheceu artistas e fez contactos. O remix do tema «Feeling Free» de Nicole Willies deu-lhe notoriedade, embora Jerome já produza há cerca de 10 anos e ande em busca do álbum perfeito há tantos outros. Contanos que tudo aconteceu quando ligou para a V2 Records a perguntar se poderia remisturar temas de Nitin Sawhney. Disseram-lhe que sim e produziu dois remixes que a editora usou posteriormente. “A partir daí continuei a contactar outras editoras e outros artistas. Mas só recentemente é que as coisas mudaram de figura e comecei eu a ser convidado para remisturar. Inspirei-me em projectos como Jazzanova ou 4 Hero.”
O recém lançado «Time do Rearrange» é resultado de muito tempo dispendido em busca da sonoridade certa. Gilles Peterson considerou-o “disco da semana” num dos seus programas de rádio difundidos no Japão e as reacções têm sido unânimes, vale a pena ouvi-lo e perceber as subtilezas. Facilmente faremos ligações a Zero 7, 4Hero, Cinematic Orchestra ou até Massive Attack. Os ambientes de «Time to Rearrange» ganham de participações vocais magestosas como as de Bajka (entrou no último do produtor Bonono), Kathrin De Boer dos Belleruche 7 ou Simphiew Dana. Conta-nos um pouco da história: “Há 3 anos fui fazer um Dj set à África do Sul e o meu promotor meteu-me a ouvir Simphiwe Dana. Fiquei estarrecido com o estilo dela. Passado um ano conseguimos encontrar-nos e o resultado é o tema «Kwa Kungasa». Gravámos nas traseiras da sua casa em Joanesburgo, onde tem o estúdio.” Simphiwe Dana é uma figura da nu-soul e do nujazz que não esconde influências de Miriam Makeba e lembra-nos de imediato Erika Badu. Uma silhueta delicada, uma grande touca que esconde um penteado alongado, uma voz que já arrecadou seis prémios do South African Music Awards. Além de Dana ou Mozez (Zero7) a garantir as participações de maior visibilidade, Aaron Jerome também fez questão de se fazer acompanhar por artistas poucos conhecidos com os quais pudesse desenvolver um trabalho fresco. “Alguns dos artistas conheci-os através do Myspace. Com estas pessoas é mais fácil fazer novos sons porque estão dispostos a experimentar. Com outros a parceria demorou mais tempo. Só consegui o Mozez ao final de um ano, mas foi a minha primeira escolha mal fiz a canção «Dancing Girl». Alguns gravaram no meu estúdio, mais propriamente na minha sala-de-estar, enquanto o trabalho com a Voice e Yungun aconteceu online. Mas ainda não conheci Yungun pessoalmente.”
Jerome é um jovem londrino que ocupa a maior parte do seu tempo a fazer música, estando envolvido em pequenos projectos de electrónica, hip-hop e música africana. Faz alguns biscates em web design e aproveita cada momento livre para trabalhar nas produções. Além disso também é Dj - colecciona vinil desde os 13 anos – e apreciador uma boa linha de baixos, percussão e bateria. Aprendeu a tocar bateria sozinho desde que lhe ofereceram uma aos 11 anos. A secção rítmica e percutiva no disco é bastante vincada. Jerome admite que era inevitável: “Sempre abordei a música do ponto de vista da pista de dança e passei a minha adolescência a ouvir House, Drum&Bass e Hip-Hop e seguramente que estes géneros definem muito a direcção do meu som.” Arranca os concertos de promoção em Londres apresentando-se ao vivo com banda. Aaron assume as programações, rhodes, teclados e sintetizadores e faz-se acompanhar por músicos que têm tocado com Guru, Ty ou Roy Ayers. As vozes são garantidas por Mozes, pela fantástica Kathrin de Boer e pela plasticidade de Yungun. Os admiradores de nu jazz ficarão felizes com este disco rico em variações rítmicas e vozes excepcionais, temperado com uma percussão impressiva e sofisticado a ponto de queremos vê-lo ao vivo já. Esperemos que Lisboa o convide brevemente. Até lá, comprem-no online.
www.soulblender.co.uk/ www.bbemusic.com/
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soul orchestra Menos Long Island e mais Ice Tea
Neal Sugarman e Gabriel Roth deram um novo sopro à carreira de Sharon Jones. Quantic fez o mesmo com Spanky Wilson. Jason Swinscoe voltou a pôr Fontella Bass dentro de um estúdio. Três exemplos de senhoras de quem se começou a falar, 30 anos depois de se ter começado a falar delas (Quantic, já agora, nem 30 anos tem). Não são casos de reciclagem, mas de redescoberta, mais ‘re’ menos ‘re’; de continuidade. Os tempos adaptaramse aos compassos e pronto, vai tudo para o saco das novas tendências. Que, assumamos, sempre é melhor que a prateleira da world music, como aconteceu a uma mão cheia de músicos cubanos que Ry Cooder deu a conhecer ao mundo. Isto tudo, entretanto, quase 20 anos depois de Gilles Peterson ter fundado a Talkin’ Loud que, juntamente com a Ninja Tune, puseram toda a gente a dizer ‘acid jazz’ em uníssono (é agora cool voltar a Brand New Heavies, Galliano, até mesmo aos Soul II Soul). Pronto, e algures entre o determinismo histórico e a ressureição do retro, se faz um nome.
Com quase dez anos, a TruThoughts é uma editora que já deixou cair o seu selo de independente desconhecida. Para além dos seus fundadores, a culpa dessa fama cabe a nomes (e ex-nomes) do seu catálogo, como Bonobo, Alice Russell ou Quantic – a solo e com a Quantic Soul Orchestra – um projecto onde Will Holland, o nome por trás de ambos, injecta mais células vivas e menos organismos sintéticos que nos momentos em que assina a solo. Texto: Mário Nascimento
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Com cinco álbuns editados em nome próprio e três com a sua Soul Orchestra, aparece agora nos escaparates – essa palavra apenas escrita em críticas de discos – o quarto volume do combo: «Tropidélico», uma amálgama, ou melhor, uma malga cheia de ritmos essencialmente latinos. Algo um pouco mais ao lado da sonoridade deep funk a que nos tem habituado, se é que hábito e hibridismo ficam bem no mesmo conceito, «Tropidélico» é o resultado de viagens e estórias caminhadas pela América do Sul, entre uma loja de discos usados e um set num club. Quantic, a viver actualmente na Colômbia, curiosamente, não só descobriu uma nova fonte de inspiração em LP’s locais, como também descobriu que alguns dos músicos responsáveis por esses discos ainda eram vivos. Mais circunstância, menos pompa, e como que por acaso, a Quantic Soul Orchestra dá uma curva no seu percurso.
Com vocalizações de J-Live, Kabir (a sua participação em «Who Knows» quase que pede o carimbo da velha Atlantic) e Noelle Scaggs, cantora dos Rebirth, «Tropidélico» pode ser um álbum da Quantic Soul Orchestra, como de Madlib. E isto é bom, porque ambos são do melhor que há, quando se fala desta cozinha de fusões. E o que é que a cozinha de fusão tem de bom? A mistura de sabores. ‘Mas este sabor é o quê?’ Bom, é o sabor da mistura. A receita? Muito simples: something soul, something blues, something oldskool, something nu.
«Tropidélico» tem, portanto, menos funk e menos soul que os seus antecessores. Bom, mas na verdade... Talvez mais correcto fora dizer que «Tropidélico» é, a tempos, mais afro e mais latino que os seus antecessores, não? À primeira faixa, essas intenções são declaradas de forma muito nítida. Ritmo? Rumba? Quase salsa? Quase conga? Sim. Mas, depois, aparecem os metais e há um sax que insiste em meter os blues ao barulho, mas disfarçados de funk. Seguindo por aqui, quando damos por nós, estamos a proferir chavões como ‘a globalização das raízes’, embora géneros como a cumbia colombiana e a presença ‘estranha’ da flauta sejam, de facto, menos divulgados por estes ocidentes. Mas também há quem diga que esse género veio do México, que veio da Espanha, que está agora em Nova York, que se vê no hip-hop, que resolveu celebrar Sérgio Mendes, etc., etc.
www.quantic.org/
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Golden Widow fotografia por Pedro Pacheco
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Grande Entrevista
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hoghe — A subtileza do Mago
Não é a primeira vez que se apresenta em palcos portugueses, mas cada nova performance sua produz um brilho de expectativa em quem o admira. Raimund Hoghe é um artista particular, não só porque foi durante dez anos o dramaturgista (não confundir com dramaturgo) de Pina Bausch que depois decidiu ser coreógrafo, mas porque tem uma figura que contraria qualquer estereótipo de perfeição e beleza dos corpos de dança. É um homem pequeno, com uma corcunda nas costas e desigualdade no alinhamento dos membros, veste-se de preto e assume o seu corpo em palco tirando as roupas naturalmente. Vê-lo é aprender subitamente a lidar com o outro e com a diferença por si só. Deixa-nos embaraçados pelo preconceito que transportamos, mas transforma qualquer incómodo num jogo de subtilezas e novas imagens do mundo. Falou connosco sobre a peça que traz este mês à Culturgest, «Swan Lake, 4 Acts», sobre o poder da música no seu trabalho, o fascínio pelo jovem futebolista Lorenzo e pela eterna diva Maria Callas, que representa no seu último solo. O mago está de volta. Texto: Carla Isidoro — Fotografia: Rosa Frank
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grande entrevista
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Está de regresso a Lisboa com «The Swan Lake, 4 Acts» apesar de ter criado duas novas peças no ano passado. Durante quanto tempo mantém as peças em digressão? Raimund: Algumas por mais de dez anos. O meu primeiro solo, «Meiwärtts», foi criado em 1994 mas apresentei-o em Lisboa não há muitos anos atrás. Inclui novos elementos nas peças antigas enquanto continua a apresentá-las ao vivo? Raimund: A estrutura é fixa, não há alterações. Mas agora tenho um novo bailarino numa das partes, o Emmanuel Eggermont, que já participou no «Bolero Variations» e na mais recente peça «36, Avenue Georges Mandel». É a primeira vez que altero uma parte por causa de alguém. Li numa crítica que o início de «Swan Lake, 4 Acts» testa a paciência do público por manter os bailarinos no palco praticamente parados sem fazerem nada. Lembro-me de sentir o mesmo na peça que apresentou cá no ano passado, que as minhas sensações estavam a ser testadas através da sua linguagem e sentido de tempo. Quão provocativo pretende ser com o seu trabalho? Raimund: Não pretendo ser provocativo e não estou a testar o público. Não estou realmente a testar o público. Faço o que sinto que devo fazer, aquilo que quero ver e o que quero expressar. Por vezes penso que aquela parte é demasiado longa, mas tenho que apresentá-la dessa forma. Há uma diferença entre esta peça e as outras, existe o «Lago dos Cisnes» de Tchaikovski antes. Quando comecei a trabalhar assisti a imensos filmes russos antigos do «Lago dos Cisnes» com Galina Olanova, muito clássico. Vou com frequência à ópera em Paris assistir a peças clássicas e não há muito que contar nas histórias, não são muito longas, são curtas até. No início do «Lago dos Cisnes» não há muita acção. Por isso digo às pessoas que vejam a peça original, a versão clássica. Para mim a introdução de «Swan Lake, 4 Acts» quando os bailarinos entram em cena e são apresentados, é a versão original. A minha está ligada ao original, e era importante ter bailarinos de clássica. Durante a peça que apresentou em Lisboa no ano passado, senti-me de alguma forma como uma voyeur. Como se estivesse a observar algo que não deveria, tão delicados e privados me pareciam as cenas e os movimentos. Vê o movimento como um sentimento? Raimund: Sim, com certeza, ele vem da alma. E para mim ele está muito relacionado com a música. Simplesmente ouvir a música. Na minha opinião a dança contemporânea tem uma forte ligação com a música. É a força maior, leva as pessoas a níveis especiais dentro delas próprias. É isto que quero apresentar às audiências. A música é a componente principal do seu trabalho, um elemento dinâmico das cenas. Raimund: É a base de tudo. Como escolhe as músicas para as peças? Raimund: Depende, mas são sempre músicas com as quais os músicos sentem afinidade. Na peça «Young People Old Voices» pus uma música a tocar durante os ensaios com a qual os bailarinos não se identificaram, não conseguimos criar nada a partir dela. Tive que optar por outra e aí sim aconteceu algo. Não conseguimos descrevê-lo por palavras, tenho que encontrar a música certa e aí então acontece aquilo que referiu, a emoção, porque o movimento está relacionado com a música. 44
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Ela é um veículo entre si e os bailarinos? Raimund: Sim. Muitos críticos referem características ritualísticas nas suas performances. Usa signos que identificamos como ritualísticos para desconstruir estereótipos em vez de usá-los para justificar o estabelecido? Raimund: É sempre mais simples para mim, faço somente aquilo que tenho que fazer. Gosto sempre de ir até ao centro da peça. O «Lago dos Cisnes» é uma grande história de amor, de desejo e saudade, e no meu trabalho queria reduzi-la à parte central da peça. Não é que queira desconstruir, quero ir lá atrás ao ponto de partida e à sua música. Toda a gente se lembra do «Lago dos Cisnes» e da sua música. No ano passado trouxe a Lisboa bailarinos que não pareciam ter formação em dança. Costuma recrutar pessoas normais? Raimund: Eram bailarinos com formação. Em Lisboa metade do grupo era constituído por bailarinos com formação, mas é importante que não se notem as diferenças. Então trabalhou com pessoas sem um background em dança. Raimund: No «Young People Old Voices». Nas outras peças trabalhei sempre com bailarinos. Esta questão leva-me a Lorenzo de Brabandere. Raimund: O Lorenzo e eu somos as únicas pessoas sem formação em dança tanto no «Young People» como no «Swan Lake», mas usualmente interesso-me por pessoas que tenham escola em dança. Penso que ele era jogador de futebol. Raimund: (risos) Sim, conheci o Lorenzo para «Young People Old Voices», ele tinha somente 17 anos e queria ser um futebolista de sucesso. Era muito novo, tinha uma forte relação com a música, realmente muito forte, e ainda uma sensibilidade para o posicionamento em palco que penso que foi buscála à sua experiência de futebol. Tem um grande desejo de se expressar, tem progredido de peça para peça e por vezes demonstra uma melhor relação com a música que muitos outros bailarinos. É uma forte presença em palco. É o seu favorito? Raimund: Não, isso seria injusto para com os outros. Mas nos últimos cinco anos ele tem sido o mais importante. Em palco apresenta-se vestido de preto, age de forma muito neutra e não demonstra emoções. Um pouco contraditório se virmos as cenas emotivas que coreografa. Que significado tem esta postura? Raimund: Não sou um actor, e gosto bastante de cinema mudo. Os movimentos e as emoções bastam por si só, não tenho que expressá-las no meu rosto. Elas estão lá, não tenho que reforçá-las. Já há expressão suficiente no movimento. Refiro sempre Maria Callas, ela tinha movimentos muito raros, fazia movimentos muito reduzidos. Na minha peça «Swan Lake 4 Acts» apresento os bailarinos, eles ficam de frente para a plateia durante três minutos antes de começarem a mover-se, há um grande desejo de movimento neles e os movimentos que fazem só com a cabeça têm muita força. É isto que me interessa.
Teve essa motivação na sua primeira coreografia? Que importância tem o original «Lago dos Cisnes» para si? Raimund: É muito importante, entre várias outras peças clásRaimund: Sempre que concebo uma peça, há um motivo sicas o «Lago dos Cisnes» é a mais forte. Fiquei para fazê-la. Mesmo que o público não a recobastante impressionado ao assistir a velhos filnheça, ela existe. É um pressuposto do papel do dramaturgista. mes russos, alguns a preto & branco. E outros com Maria Callas a preto & branco. É um interpretação Raimund: É claro que está um pouco ligado, era o meu trabalho com a Pina. Há sempre uma razão, mesmo muito intensa. Teve uma educação clássica na escola? Ensinaram-lhe os clássipara o bailarino deve estar claro que há um moticos em casa? vo para ele ir de um ponto para outro com os moRaimund: Não, não. E quando terminei os estuvimentos. Talvez este tenha sido um dos maiores dos tornei-me logo jornalista. “A história ensinamentos da Pina, tem que haver uma razão E depois dramaturgista de Pina Bausch. Como aconte- alemã dizia para nos movermos. Muitas vezes vemos gente ceu esta mudança? que pessoas a mover-se em palco mas não entendemos porRaimund: Muito naturalmente, fiz o que tinha diferentes quê. Eles vão dar-nos a sensação? Movem-se porque fazer. Tudo aconteceu natural- não tinham quê? Há muito boa gente que entendemos pormente, não foi uma grande decisão que se movem mas não conseguimos expressá-lo direito a mudar de trabalho. existir, sou por palavras. Ao criar uma peça, se não encontro Mais tarde tornou-se coreógrafo. É surpreendente vê-lo muito sen- um motivo que me leve de uma coisa para outra em palco, um pequeno homem vestido de preto que tira sível a isto.” então tenho que mudar algo. Em «Young People Old Voices» a maioria não eram bailarinos com as roupas e exibe o seu corpo para o público. Subitamente sentimo-nos despidos diante de si. Usa o corpo como acto político? formação, não tinham experiência de palco e tinham algum receio porque a peça era longa, Raimund: É político no sentido em que assumo que é possível haver corpos e pessoas diferentes. Faz-nos mas acabaram por ficar surpreendidos por ser pensar sobre a beleza e questionar o que é e não tão fácil, havia algo ali de muito natural. A múé a beleza, e lutar pela diferença entre as pessosica traz-nos a sensação de que temos que fazer as. O mundo é mais do que raparigas loiras, alalguma coisa, por isso tem que ficar claro para tas e magras. Toda a gente tem o direito a viver. mim porque o faço. Recentemente fez um novo solo, após um longo período de peças de Eu sou exemplo disso. A história alemã dizia que grupo. O que motivou este solo agora? pessoas diferentes não tinham direito a existir, sou muito sensível a isto. Ninguém tem o direito Raimund: Tinha que voltar a um formato menor outra vez, e há ainda a relação com a Maria Callas que tande dizer que este corpo não serve, que este corto amo e a ligação à sua música. Mas no final da po não existe. Isto é importante, que aceitemos peça há um convidado que entra, afinal não eso corpo como ele é. A sua posição em palco funciona como um statement. tou sozinho. É Emmanuel Eggermont, ele é como um anjo da guarda, é uma protecção. Raimund: Sim. Em Inglaterra uma senhora fez uma dissertação sobre mim dizendo que em palco não me Foi um desafio fazer de novo um solo? desculpo por existir. Eu digo ‘Estou aqui, gosRaimund: Sim, foi um desafio porque respeito imenso Maria tem ou não’, talvez isso transmita alguma enerCallas. Talvez os solos sejam mais radicais que as gia a outras pessoas para que digam ‘Estou aqui peças de grupo. Ali estou sozinho. Penso que fazer e existo’.Não sou uma vítima. mais e mais não é benéfico para um artista. Agora Olhando para quando foi dramaturgista de Pina Bausch, o que guartenho de ser responsável só por mim, não pelos da desse período no seu método de hoje? bailarinos do grupo. Assim consigo testar os meus limites. O título da peça é «36, Avenue Georges Raimund: Uma coisa muito importante é ter uma forma, Mandel», a casa onde Maria Callas morreu. No mostrar emoções e sentimentos em palco mas final da sua vida ela estava muito sozinha. elas têm que ter uma forma. Outra coisa é reÉ uma peça triste? duzir bastante as coisas, ao detalhe, e ter fortes personalidades em palco. E ainda…quando o Raimund: Muito, muito triste. Foi uma grande tragédia o fim da Callas. Mas o final do meu solo não é trismovimento começa, a candura pode ser um mote, há outra pessoa que aparece, uma pessoa que vimento. Mas realmente uma das coisas mais imme diz para voltar a viver. portantes é encontrar a forma para as emoções. Quando comecei com a Pina nos finais da década de 70 foi muito forte usar pessoas diferentes em palco, gente velha e nova, altos e baixos, porque na dança todos tinham que ter a mesma altura. Isto foi um marco para mim. Lembro-me sempre que havia emoções muito fortes no público, éramos tocados directa e profundamente. Lembrome disto frequentemente. E agora vejo coreógrafos contemporâneos a fazer o que Pina fazia há 30 ou 25 anos, mas ela fê-lo melhor. Nunca quis copiá-la, aquilo que retirei dela não foi do exterior, foi somente do interior. E devo acrescentar que havia uma razão para dançar.
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The retro kidz Ao som dos english version page - 79 -
Boombox
O revivalismo dos anos 80 parece ter chegado timidamente aos subúrbios de Nova Iorque em contraste com o fenómeno explosivo do nu rave em Londres. Por enquanto, em Manhatan, os rádio-gravadores portáteis - conhecidos por Boombox - dos Retro Kidz parecem ser a ponta do iceberg de mais uma de moda de rua com um sabor local muito próprio. Nas ruas do Soho, este grupo de rapazes com cortes de cabelo arquitectural do tempo de Reagan, foi o primeiro a dar volume às batidas Hiphop nos anos 80. A sua forma de vestir, como a dos antigos rappers, e a paixão pelo vintage fez com que Nova Iorque se rendesse à sua graça, no exacto momento em que o clip «I Want Your Soul» de Armand van Helden os divulgou para o mundo. Texto: Helmut Hemmer — Fotografia: Justin T. Shockley
“Quando descemos as ruas de Manhatan as pessoas olhamnos como se tivéssemos saído de uma cápsula de há 15 anos atrás”, diz Ladaz Marshall, rapaz de 20 anos, um dos sete elementos originais do auto denominado grupo The Retro Kidz. Usa jeans deslavadas de cor ácida, uma t-shirt com impressões leopardo da Puma e umas Reebok track Jacket de 1988 que comprou no Ebay. “Este é o tipo de roupa que gostamos de usar todos os dias”, referindo-se ao seu jovem ‘gang’ black que anda entre os 18 e os 27 anos. Encontraram-se por acaso na cena Rap quando já ninguém se atrevia a dar-lhe qualquer prognóstico de vitalidade e futuro. Chegaram de diversos bairros periféricos de Nova Iorque (Brooklyn, Long Island e Queen) e tinham em comum uma obsessão pelos anos 80, começando por uma enorme veneração por grandes figuras do rap ou por filmes como «Beat Street», «Krush Groove» e «Breakin’». Também gostavam de dançar ao estilo Running Man e Roger Rabbit. Apesar de copiarem muito o estilo dos seus heróis, não gostam de cultivar a cena do gang encostado à esquina a ver o tempo passar, enfiado em calças bagy e sweat-shirts com capuz. Antes de mais, queriam divertir-se, e nada melhor do que chocarem gente convencional com roupas exuberantes que ninguém usa há pelo menos 20 anos. Gostam de cores vivas e néon, de correntes douradas e cortes de cabelo à Grace Jones. Para cúmulo da diversão, procuraram todo o tipo de tecnologia obsoleta dos anos 80, como o beeper e os primeiros modelos de telemóveis Ericsson. Nas suas mãos tornam-se nos gadgets mais divertidos e desejados Nova Iorque. Mas na diversão há sempre um trabalho de pesquisa apurado, diz Kenneth Barclift, outro elemento dos The Retro Kidz igualmente de 20 anos que estuda design de moda no Fashion Institute of Technology . Kenneth está sempre atento a ‘crimes contra o estilo’ e não suporta um boombox com graffiti. “Não podes pintar os Boombox, não se fazia nessa época e não tem nada a ver com o nosso estilo de hoje”. Porém, de acordo com o seu dogma, jóias desproporcionadamente grandes estão mais dentro do espírito. “Medalhões com o ‘logo’ do Mercedes Benz, silhuetas do mapa de África, símbolos da paz, ou um luxuoso anel de quatro dedos são valorizados”, diz Kenneth mostrando um exemplar que custa 800 dólares e pertence ao amigo Amil Lopez aka Micro. “Esse anel é ilegal, pode ser considerado uma arma. Posso ter problemas com a polícia”, lamenta. Entrou para o grupo neste verão de 2007 começando por vender o seu hi-fi, mas antes gravou os seus vinis para poder tocar as músicas no Boombox em cassete. Os seus rappers preferidos são Big Daddy Kane, Slick Rick, Kool Moe Dee e Run DMC. Para ele, o look e o som destes rappers é mais do que uma atitude, é uma forma de ser. Critica os rappers actuais que se vestem da mesma forma e andam todos no mesmo carro e namoram todos a mesma rapariga.
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Para Ladaz Marshall o estilo de vida dos Retro Kidz envolve tudo: moda, música e cortes de cabelo, como uma atitude em busca de coisas novas. Para ele o grupo é uma síntese “multimédia”. Na verdade conseguiram dar nas vistas com a sua aparência aparatosa e a forma hedonista de estar da vida, mesmo em bairros como o Soho, onde tudo é permitido e tudo já foi visto, e como tal é difícil conseguir a mínima atenção. Desde o início, conta-nos Ladaz, quando o grupo aparecia à sexta-feira à noite do metro de Time Square e ligava os Boomboxes, era de imediato rodeado por uma plateia que o alimentava com verdadeiro entusiasmo. “Gostavam do ‘feelling’ do grupo”. Para este estudante do Nassau Community College, quando chegam gera-se uma verdadeira atmosfera de festa. As pessoas adoram o som dos boombox e mesmo no ambiente elitista das galerias de arte da Baixa são bem acolhidos e desejados porque não há vernissage que os receba sem fechar as portas para dar início a uma festa privada. Pela espontaneidade e capacidade de fazer divertir o seu público, fazem com que as festas sejam memoráveis. Naturalmente, ao final da noite têm sempre uma fila de relações rúblicas de marcas de life style rendidos ao seu charme. Já foram convidados para animar a apresentação da Parish Collection (www.parish-nation.com), assim como uma festa da Puma durante a semana de moda de Nova Iorque. Actualmente muitas marcas desejam-nos como representantes dos seus produtos. Foram contratados pela Puma para serem o rosto da colecção actual da Yo MTV raps, que rende homenagem a um programa dedicado ao hiphop nos anos 80 na MTV (ver texto da Puma na secção You Must). Confessam que a Pro-Keds está na fila de espera, o que os deixa contentes dado o perfil “old school” da marca. Em conclusão, o que parecia ser uma brincadeira, uma forma de sair do anonimato e de afirmação de identidade num mundo tão diverso como é Nova Iorque, tornou-se num negócio “colorido”, refere Ladaz. “Mas enquanto for divertido vamos andar por aqui nas ruas de Manhattan ou em qualquer parte do mundo mostrando apenas quem somos e a nossa cultura”. Os Retro Kidz consideram-se entertainers e inovadores de estilo. Encaram o seu look com profissionalismo para que se possam manter-se como referência, “até porque já não estamos sós”, faz questão de sublinhar Kenneth Barclift. E na verdade este movimento étnico de Nova Iorque tem cada vez mais seguidores e concorrentes. Kenneth enumera alguns mais importantes como os Retro Boys, os Retro Team ou os Vintage Supreme. Mas vê o aparecimento desses grupos como um incentivo para o movimento vintage. “São nossos amigos. Os Supreme, por exemplo, são mais início dos anos 90, onde terminam os Retro Kidz”. Por isso, manter a boa aparência é essencial para Kenneth e não tem outro remédio senão ir três vezes por semana ao barbeiro. Confessa que não paga nada para fazerem desenhos elaborados na sua cabeça já que é a melhor publicidade para o negócio. Representa o estilo retro black como ninguém.
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stephanie dearmond ~ Letras Brancas ~
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Nasceu em Seattle em 1971 e em 1996 estudou cerâmica na Universidade de Washington Seattle. E psicologia. São curiosas as expressões que Stephanie DeArmond explora nas palavras que constroi em cerâmica. A expressão “What a Hunk!”, ou “Hustle Em!”, demonstram bem como a artista devora avidamente o ambiente que a rodeia e inspira: “Encontro inspiração em velhos signos, de tipo ornamental, nos graffitis da rua, nas pessoas que me rodeiam, na cultura local, em tudo aquilo que se manifesta no lugar onde vivo”. Para quem não saiba, “what a hunk” é uma expressão utilizada pelas mulheres quando vêem homens bonitos, embora já caída em desuso. Hunk quer dizer homem musculado. “Hustle Em” é qualquer coisa como: “vai-te a ele” (perdoem-me a liberdade) e assemelha-se a um incentivo, quer dizer, de pugilato ou qualquer coisa do género, ou uma acção de motivação sexual. No trabalho de DeArmond a peça alude mais ao flirt, embora a artista goste da dupla interpretação que a expressão sugere. Outras referências para o seu trabalho são os vários artistas que DeArmond admira, e não são poucos: Margaret Killgallen, Charles LeDray, Josiah McEhleny, Robert Gober, Sarah Lucas, Charles Krafft e Anish Kapoor, entre outros muito importantes. Em 2001, mudou-se para o centro dos Estados Unidos, para oeste, onde encontrou um ambiente mais tranquilo para produzir o seu trabalho. Segundo DeArmond, a área concentra uma comunidade de ceramistas bastante forte e coesa. Para a artista era importante rodearse de autores que se relacionassem com o material da mesma forma que ela, ou seja, de modo intenso e sério.
Letras brancas, leitosas, são agrupadas e enfeitadas com pequenos cavalos castanhos, com flores, figuras campestres, ramos verdes, rosas, muitas rosas, meninas com chapéus floridos, borboletas esvoaçantes, rouxinois, cerejas e mais cerejas e margaridas de cores vivas. Tudo a enfeitar palavras construídas em cerâmica pela artista Stephanie DeArmond. Texto: Carla Carbone
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Os decalques são encontrados no Ebay, segundo a artista, decalques vintage para cerâmica. Feitos de material cerâmico, são dispostos sobre a superfície de cerâmica a ser aplicada, neste caso as letras, e depois sujeitas ao fogo no forno de cerâmica. “É exactamente como acontece com uma tigela, uma caneca, um prato que temos em nossa casa. È um processo comercial para criar multiplas peças com a mesma imagem. E os artistas contemporâneos estão a usar muito esta técnica para fazer o seu próprio trabalho, único, como que um comentário à crítica e à forma como interagimos com estes utensílios em nossas casas.” DeArmond nunca se viu como uma designer, até que as pessoas começaram a perguntar se de facto era. Mas é definitivamente uma pessoa interessada e influenciada pelo design: “Sempre me considerei uma artista e uma ceramista, e acho que muitas pessoas associam de facto a cerâmica ao design”. Os designers adoram seu trabalho e a artista talvez atribua esta simpatia ao facto de lidar com fontes e a linguagem da tipografia. Ou seja, tanto os designers como DeArmond, ambos partilham o interesse pela tipografia: “É uma exploração da forma das letras em três dimensões”. A artista gosta de frisar que, apesar de gostar das letras, de decoração, e de todas as outras formas de design e de grafismo, o que influencia mais o seu trabalho é realmente a arte.
DeArmond descreve, passo a passo e com prazer, as várias fases que envolvem a construção das suas peças em cerâmica. Não descura um único momento que seja. Constroi as letras com formas oriundas de várias fontes, estendendo as placas de barro prensado sobre a mesa de trabalho e depois desenha padrões em papel de letras e recorta-as das placas. “Construímos as paredes das letras, tal e qual como fazemos quando queremos construir uma caixa em cerâmica” e os cantos das letras são depois suavizados com os vários instrumentos próprios desta actividade: “Não uso moldes, por isso cada peça é unica e feita individualmente”.
www.stephaniedearmond.com/
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david
Em 2003 David Batchelor era uma das agradáveis surpresas da exposição «Days Like These» da terceira trienal da Tate Gallery de Londres. Como referia o programa curatorial, não havia propriamente um tema , propunha-se simplesmente o conjunto de artistas britânicos que segundo os comissários Judith Nesbitt e Jonathan Watkins, tinham revelado maior vitalidade criativa nos últimos anos. Batchelor, praticamente um desconhecido, com 48 anos, ficava entalado entre uma geração emergente pós-YBA (Young British Art) e uma geração consagrada, genericamente associada a British Sculpture, da qual faziam parte Richard Deacon e Rachel Whiteread, também presentes em «Days Like These». Até então, o artista que construiu «Spectrum of Brick Lane» na Tate Gallery, uma torre estreita feita de estantes com caixas de luz florescente empilhadas, tinha apenas um grande reconhecimento no campo teórico . Para além de vários artigos teóricos, tinha-se tornado um autor de referência após a publicação do seu livro «Chromophobia» (2000). Por isso, em 2003, Batchelor só para os mais incautos passaria por artista emergente, dado as suas relações de longa data com o meio artístico. Esteve sempre próximo, até pelas suas práticas artísticas da geração que renovou a escultura britânica a partir dos anos 80, no entanto, só viria a ser aclamado tardiamente. Ao contrário da geração da British Sculpture, Batchelor
batchelor
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Spectrum of Brick Lane,2002-2003 Steel Shelving units, found lightboxes, acrylic sheet, vynil, fluorescent light, plugboards, cable
a viver em Amesterdão, começou uma reflexão sobre a pintura, nomeadamente sobre a pintura monocromática cultivada pela geração de 60 americana. A terceira dimensão aparecia consequentemente mais tarde e esta passagem deve-se a uma assimilação e reacção ao que o minimalismo representava. Desenvolve uma completa rejeição a toda uma crença sobre a certa ideia de natureza e ordem harmónica de um mundo ideal orientado milimetricamente por leis lógicas . O seu trabalho viria a enfatizar, pelo contrário, um certo modus operandi europeu que põe em relevo a historicidade local, a acumulação, a justaposição e a imperfeição. É a partir de objectos encontrados e submetidos a uma ordem ou composição que constrói os seus trabalhos. Talvez fosse de mencionar as composições murais de Tony Craig do final dos anos 80, construídas a partir de dejectos coloridos, para melhor entender o seu trabalho. De facto há em comum com a British Sculpture a preferência por dejectos de uma sociedade de consumo como matéria de criação. No entanto, é a observação sobre o minimalismo como paradigma final da modernidade, o sentido irónico e sarcástico que desenvolve a partir daí que o separa completamente da tradição escultórica inglesa. É a introdução da luz fluorescente que atravessa as formas das suas composições que faz com que as perspectivas tanto minimalistas como a tradição da British Sculpture sejam definitivamente ultrapassadas para dar lugar a algo de novo. A cor torna-se mais importante que as formas, estas tornam-se mais imateriais e evocativas de um quotidiano próximo. A partir dos «Monochromobiles» de 1998, de «I Love King’s Cross and King’s Cross Loves Me», «The Spectrum of Hockney Road» e ainda «Stupid Stick»,
usa empilhadoras industriais quadradas cobertas por superfícies lisas de acrílico pintado ou por uma luz neón criando referências muito directas a Donald Judd e Dan Flavin. Já em «Idiot Stik», composto por um conjunto de garrafas de plástico colorido atravessadas por uma lâmpada neón, para além de Flavin faz-nos ainda lembrar as barras de madeira colorida de André Cadere. É de certa forma uma paródia ao minimalismo. Se na arte de Flavin as cores estão associadas a uma ideia de transcendência e espiritualidade, em Batchelor será impossível de as ver para além dos objectos em si na sua contradição entre ideia de inacessibilidade e genialidade do artista, vulgaridade dos seus materiais e processos de construção. O lado efémero da luz tem sido assumido como uma cromia que o artista encontra nos objectos ready made de Duchamp. As cores plásticas são intensas e fazem brilhar a artificialidade química com a qual se constrói toda uma sociedade. São cores atraentes como as luzes da noite da cidade de Londres, a que o artista faz referência sistemática a partir dos títulos das suas peças. São nomes de ruas e de quarteirões de East End. Há como que um encantamento por esses lugares onde circula, um fascínio pelas cores que os compõem. De certa forma a obra de Batchelor tem referências literárias, certamente à figura heróica do Flâneur de Baudelaire que experimenta a liberdade que o anonimato da cidade lhe dá. Por outro lado, também encontramos referências à figura de Desessentes de J.K. Huysman, que procurava possuir as representações mais artificiais da natureza. A policromia na obra de Batchelor não enfatiza o naturalismo porque ele separa a cor das suas associações românticas do mundo natural. A sua policromia enfatiza os tons químicos e metálicos que encontra nos neóns, carros, garrafas, plásticos e televisão, transformados numa espécie de sublime urbano.
A partir de uma obra construída a partir de neóns, David Batchelor, conseguiu cintilar no panorama contemporâneo da arte fazendo uma releitura do minimalismo americano e da British Sculpture da sua geração. Texto: Fransisco Vaz Fernandes Fotos: Cortesia Galeria Leme (www.galerialeme.com.br) & Wilkinson Gallery 50
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Magic Tour Remix, 2004-2007 Shelving Units, found fluorescent lights, boxes, vinyl, acrylic, sheetcable, plugboards, 308x262x18 mm
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Magic Hour 1, 2004 steel found steel and aluminium lightboxes, acrylic sheet, fluorescent lights, cables and plugboards
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Hysterical Machine/ (robot), 2006 Bill Vorn
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Arte de base-cognitiva
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tecnologia Hysterical Machine/ (robot), 2006 Bill Vorn
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Há mais de uma década que me dedico a passear no interior das relações entre arte, conhecimento e novas tecnologias, observando e analisando os respectivos problemas e virtualidades. Podemos dizer, grosso modo, que o aparecimento da Internet e a sua rápida disseminação cultural à escala planetária marca o fim de uma certa maneira de fazer e ver a criação cultural, bem como o fim de certos rituais na recepção, consumo e partilha estéticas. O aspecto mais notório destas recentes práticas culturais é a sua quase extrema dependência da tecnologia, e em particular dos computadores. Mas se uma crise energética sem precedentes tornasse a renovação destas tecnologias uma quimera, que sucederia à tecno-arte e a tudo o que fomos digitalizando nos últimos 25 anos? Texto: António Cerveira Pinto
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A Pop Art foi, por assim dizer, a tomada de consciência tardia de um fenómeno que a precedeu e vastamente ultrapassou: a cultura de massas de índole tecnológica. Terão sido a banal Kodak do senhor Eastman, o relato radiofónico de Orson Welles, o cinema ciclópico de Hollywood, o automóvel privado e as autoestradas de Henry Ford e, em geral, a cultura da mobilidade estética permanente, mais do que a crise das Belas Artes, que melhor caracterizaram a chamada "cultura contemporânea" ao longo dos últimos 80 anos. Foi esta lógica de massificação e democratização que o advento simultâneo da Internet e da Globalização veio potenciar e empurrar para um novo patamar, ainda mais reprodutivo do que o anunciado por Walter Benjamin em 1936, só que desta vez sustentado por uma promessa inesperada: a de um inusitado tribalismo intelectual, social e estético, mediado pelo controlo individual e a partilha social das novas tecnologias de comunicação e representação interactivas.
Sem dominar os novos algoritmos e as novas interfaces não haveria recompensa sensorial. Não existiria sequer a possibilidade de consumir ou partilhar. O desejo de gratificação imediata, satisfeito até aí numa sociedade consumista reduzida à dimensão Orwelliana de um público submisso à omnipresença dos poderes de emissão e disseminação simbólicas, seria então um objectivo inalcançável. Este não foi, porém, um problema exclusivo do homem-massa mimado, incapaz de aceitar o mais pequeno obstáculo ao seu desejo infinito de novidade. O aparecimento dos computadores digitais, e sobretudo a vulgarização dos computadores pessoais, conduziu a alterações drásticas nas relações económicas e produtivas, com a consequente destruição/criação de inúmeros postos de trabalho e especificações técnicas.
A partir de 1994 deu-se uma segunda revolução tecnológica: os computadores começaram a falar entre si, estabelecendo redes locais e redes globais (internet, intranet, extranet), suportadas por protocolos de transmissões de dados, Até 1984 a comunicação e a "arte na época da sua reproduticada vez mais rápidas, a distâncias cada vez maiores, com bilidade técnica", identificada, pela primeira vez, por Walter Benjamin, era sobretudo um fenómeno de "broadcast" , isto conteúdos cada vez mais ricos: textos simples e formatados, é, um emissor para uma miríade de receptores: livros, revisimagens, vídeo, voz e "aplicações" diversas. Computadores, cabos de fibra óptica ou de cobre, transmissores e retranstas, rádio, cinema, televisão, espectáculos ao vivo ("live shomissores hertzianos, satélites, redes locais sem fios, Global ws"). Sem a invenção e sem a banalização do computador pesPositioning System (GPS), etc., convergiram e continuam a soal que, ao longo de toda a década de 1980, e sobretudo na década de 1990, abriu a principal brecha no paradigma tecconvergir para uma espécie de duplicação digital inteligente nológico que dominou os siste(genética), interactiva e em temmas de representação simbóliA proximidade cultural po real, do mundo. Mas se, por ca ocidentais desde a impressão entre arte e conhecimento um lado, esta duplicação se enda Bíblia por Gutenberg (1450caminha para regimes de usaé cada vez maior 55), estaríamos ainda submetibilidade e naturalização cada nas sociedades pósdos aos mesmos paradigmas da vez mais intuitivos e democrácontemporâneas, e é-o em recepção cognitiva e estética de grande medida por efeito do ticos, ampliando por esta via o seu enorme potencial económihá 500 anos. De repente uma entrelaçamento cada vez co, por outro, cresce ainda mais máquina electrónica permitia, mais íntimo entre a praxis pela primeira vez, escrever, dedepressa o fractal das suas diartística, tecnológica, senhar, registar, reproduzir e jocomputacional e científica. mensões conceptuais, cômputogar num ambiente de representalinguísticas, tecnológicas, cienções virtuais electrónicas, sustentado por sistemas invisíveis tíficas e culturais. E de entre estas dimensões, no que à de algoritmos e programação digital. Ao contrário da insexpansão dos campos da criação artística se refere, o que se crição directa ou analógica dos estímulos e dos signos sosuspeitava que viesse a acontecer, aconteceu: a arte enquanbre superfícies moles ou duras, passámos a dispor cada vez to manifestação da subjectividade concreta, isto é, instanciamais de interfaces de mediação digital, cuja finalidade é tração simbólica das formas culturais tecidas pelas sociedades duzir e instanciar tais inscrições em realidades puramente humanas, aproximou-se, instrumental e ideologicamencriptológicas e electromagnéticas, seguindo labirintos de te, das lógicas cognitivas e linguísticas dos procedimentos de representação científica e tecnológica. Cada vez mais a complexidade exponencialmente crescente, até configurar aparência da arte guarda, no seu interior, motores compua actual metafísica tecnológica, impenetrável e fundadotacionais, sistemas operativos, metalinguagens criativas, e ra do novo e inultrapassável complexo de inferioridade huaté material vivo, sem os quais a nova intercomunicabilidamana. Um autêntico "Deus ex-machina" na forma vicariante de estética, digital, imaterial, variável, interactiva, orgânide um electrodoméstico extraordinário, imiscuiu-se indeca e mutagénica, perde, por assim dizer, não apenas actualevelmente nas nossas vidas! Na condição de aprender a lilidade, mas o próprio direito de existir. dar com os respectivos teclados e pré-combinações de teclas ("macros"), ratos, " joysticks" e ambientes gráficos, o indivíduo podia começar a destacar-se do "homem-massa", dos séA proximidade cultural entre arte e conhecimento é cada vez culos 19 e 20, descrito por Ortega y Gasset: "la perfección maior nas sociedades pós-contemporâneas, e é-o em grande medida por efeito do entrelaçamento cada vez mais ínmisma con que el siglo XIX ha dado una organización a ciertos órdenes de la vida, es origen de que las masas beneficiatimo entre as praxis artística, tecnológica, computacional rias no la consideren como organización, sino como naturae científica. Três bons exemplos desta convergência analíleza" - La Rebelión de las Masas (1926-1937). A exigência de tica, filosófica e estética são as chamadas artes generativa, símbolos e de sentidos podia, enfim, derivar de um esforço robótica e biotecnológica. Numa aproximação sociológica pessoal, social e culturalmente partilhado, cognitivo, suba este fenómeno, diria porém que a Arte de Base-Cognitiva jectivo e moral. No entanto, sem percorrer as curvas ascen(Knowledge-Based Art) se constitui às vezes por uma espésionais cada vez mais acentuadas da aprendizagem do uso cie de imperativo crítico, enquanto desvio simbólico e altedos novos artefactos, o acesso a este promissor e cativante ridade dos múltiplos imperialismos cognitivos que ameaçam patamar de performatividade social, comunicacional, coga serenidade de uma consciência mais ampla do relativismo nitiva, lúdica e estética seria pura e simplesmente vedado! das representações por nós produzidas.
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Este cenário, que não está tão longe quanto possa parecer, Nisto estávamos quando o novo século começou a impor à reflexão de todos nós um dado até há pouco invisível e por isso teria implicações imediatas na nossa percepção do valor das inesperado, da nossa própria ilusionada configuração cultuartes, bem como na sua inevitável degradação em termos tecral. E o dado é este: o paradigma energético responsável pela nológicos. Muito antes de chegarmos ao decisivo momento forma actual da nossa civilização ultrapassou já metade da da implosão civilizacional, experimentaremos toda uma sésua vida útil. Quer dizer, levámos 100 anos a consumir merie, cada vez mais frequente e intensa, de fenómenos inditade de todo o petróleo economicamente viável, disponível cadores de que o paradigma energético que regula a nossa no planeta, pelo que seremos em breve forçados a abandovida e a nossa cultura se aproxima inexoravelmente do fim. nar esta fonte energética de primeira grandeza, acumulada As guerras que actualmente se arrastam no Médio Oriente pela Natureza ao longo de centenas ou mesmo milhares de (Iraque, Afeganistão, Palestina, Líbano) e em África (Quénia, milhões de anos. Muito provavelmente, entre 2030 e 2050, Eritreia, Chade, República Centro Africana, Nigéria, etc.) são o actual regime energético em que toda a cultura científijá o resultado e o figurino de conflitos que tendem a multico-tecnológica e cultural assenta, sofrerá uma transfiguraplicar-se e não a diminuir, em torno de recursos estratégição sem precedentes, de que a presente corrida, algo atabacos, tais como o petróleo, o gás natural, os cereais e a água. lhoada, às chamadas energias alternativas, é já um seguro e O mundo consumiu em 2003 cerca de 80 milhões de barris dramático prenúncio. Imagine-se que seríamos forçados a de crude por dia. Os Estados Unidos consumiram 25% deste petróleo, tendo gasto 2/3 desta quantidade no sector de abandonar este planeta daqui a duzentos ou trezentos anos. transportes. A crise económica actual nos Estados Unidos Ou que este cenário dantesco (pois, além do transtorno de uma vida extra-terrestre, suporia a eliminação ou o abandodecorre, aliás, de um sobre-endividamento insustentável, no de mais de 9 décimos da humanidade), seria antecipado e fruto da sua extrema dependência das energias carbónicas (sobretudo petróleo e gás natural) e ainda da exportação de abruptamente substituído por outro, menos radical , mas não menos apocalíptico: o do retorno aos níveis de vida e proboa parte da sua capacidade produtiva para países terceidutividade médios da era pré-industrial. Quer dizer, a uma ros, com mão de obra e custos de contexto muito inferiores. Por causa dos inevitáveis e nefastos efeitos da sua imparáera distópica, sem automóveis, sem comboios, sem aviões, sem congelados, sem pronto-a-vestir, sem telemóveis, sem vel dívida, os Estados Unidos correm o sério risco de periPods, sem computadores, sem televisão, sem electricidade, der o seu estatuto entre as demais nações e estados, e camicom as actuais megalopolis renhar para um perigoso declínio. duzidas a sucatas infinitamente Que efeito poderá uma tal evoMuito antes de chegarmos tóxicas, inóspitas e criminais... lução negativa induzir nos elevaao decisivo momento da Inverosímil? Ao contrário: altados níveis de performance tecimplosão civilizacional, nológica e cultural daquele que mente provável! experimentaremos toda tem sido nos últimos 50 anos o uma série, cada vez mais Só há menos de duzentos anos principal criador de modelos de frequente e intensa, de usamos intensamente o carvão, o criação, produção, circulação e fenómenos indicadores de petróleo e o gás natural. Só desque o paradigma energético consumos artísticos? Que ocorde meados do século 19, com o rerá se empresas da dimensão da que regula a nossa vida e a uso do ferro forjado e do aço, e Google acabarem por ser engonossa cultura se aproxima sobretudo pela acção extraordilidas por um qualquer vórtice inexoravelmente do fim. nária da multitude de máquinas dos violentos tufões financeiros movidas a vapor, a explosão e a electricidade, foi possível que a ritmo cada vez mais assustador "atacam" os Estados Unidos? Que acontecerá à produção mundial de micropropassar de uma era, de quase dois mil anos, em que o rendimento médio anual "per capita", na Europa Ocidental, pascessadores se houver uma catástrofe natural ou bélica na Ilha sou dos 576 dólares americanos (de 1990), no ano 1 do nosso Formosa, por exemplo, na sequência de uma não aceitação, calendário, até aos 1.572 dólares, no ano 1850, para um sépelos Estados Unidos, da reunificação da China? E que suculo, o século 20, em que os rendimentos mais do que recederá na Europa e demais continentes, cujas relações com a duplicaram. Ainda que relativa e muito mal distribuída, a potência americana, seja na qualidade de fornecedores, seja nova riqueza proporcionada pela disponibilidade de fontes na qualidade de consumidores, são vitais, no momento em energéticas abundantes, baratas e de alto rendimento, pela que a decadência económica dos EUA se revelar como um maquinaria e pelas tecnologias cada vez mais produtivas e facto indiscutível e irreversível? Se tal vier a ocorrer, como sofisticadas, bem como pela exploração intensa do trabalho evoluirá a nossa tão estreita como inconsciente dependência do bem-estar económico, científico e tecnológico? A achumano, permitiu que os rendimentos médios anuais "per capita" chegassem na Europa, em 2003, aos 19.912 US Dólares. tual recessão mundial, que durará porventura todo o ano Ou seja, 12,6 vezes mais do que a média dos rendimentos de 2008 e de 2009, ensinar-nos-á muitos factos novos so"per capita" na Europa de 1850, e 25 vezes mais do que em bre o futuro imediato. 1500. Imagine-se o que seria viver, conhecidos estes dados, numa era pós-carbónica, com rendimentos 10 ou vinte veA capacidade de renovação tecnológica de que tão criticamenzes inferiores aos actuais. Hoje, quando um país, um contite dependemos parece estar seriamente ameaçada. Pensenente, ou o mundo global deixa de crescer durante dois trise apenas no que ocorrerá no momento em que não for mais mestres consecutivos, declara-se oficialmente a "recessão", possível substituir os nossos computadores pessoais, ou os o pânico mediático instala-se e tudo parece caminhar para nossos automóveis, iPods, telemóveis, etc., por máquinas noo colapso: empresas a fechar, desemprego, aumento da crivas e mais potentes. Quanto tempo irá durar o meu carro? minalidade, suicídios. Imagine-se então o que ocorreria se Por quanto tempo mais poderei manter o meu "laptop" operegredíssemos de uma época de crescimento positivo sisteracional? Que sucederá ao mundo digital actualmente manmático para um outra em que a regra passasse a ser, mais do tido nos milhares de servidores por esse mundo fora? Não que a da estagnação económica, a do decréscimo imparável foi lá que depositámos quase tudo o que temos? Desde as da produção e dos rendimentos. nossas economias às nossas conversas de amor?
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Jasmim vestido JOSEP FONT colar PAULE KA sapatos FÁTIMA LOPES Sarah casaco PEDRO WATERLAND body PAULE KA sapatos FÁTIMA LOPES
Eternally Bound fotografia por Ferran Casanova styling por Christine Gabriele hair&make-up por Irismunda produção por Robet Azcarate retoque digital por Guillaume Vellard modelos Sarah (Viva), Jasmin (Ford) Agradecemos a Le Zenith Paris
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Sarah top e brincos H&M corsários LUÍS BUCHINHO sapatos COLCCI Jasmin corset D&G vestido FÁTIMA LOPES sandálias UNGARO
Jasmin saia e casaco UNGARO camisa MISS SIXTY meias CHANTAL THOMAS sapatos COLCCI Sarah saia e casaco UNGARO body PAULE KA sapatos MIUMIU
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Sarah & Jasmim t-shirt longa DIESEL cintos e sapatos PAULE KA meia WOLFORD meia curta CHANTAL THOMAS
Jasmin casaco PAULE-KA botas UNGARO Sarah vestido PEDRO WATERLAND botas UNGARO
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Yo!MTV RAPS Texto: Cristina Parga
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Doctor Dre, Ed Lover , Big Daddy Kane , Mc Shan e Doug E. Fresh. Quem viveu a fervilhante cultura musical dos anos 80 e 90 reconhece de imediato os nomes dos rappers, djs e apresentadores do mítico Yo!Mtv Raps. Lançado em 1988, o programa foi o maior difusor do fenómeno hiphop na cultura de massas, formando toda uma geração de músicos, amantes do género e consumidores desta estética até o seu cancelamento, em 1995. Para homenagear a época dourada do hip-hop, a Puma lança uma colecção de edição limitada baseando-se nos modelos Puma Clyde & Suede, que durante os anos 70, 80 e 90 andou nos pés da maior parte dos fãs de rap. As quatro linhas foram desenhadas para cada um dos apresentadores pioneiros do programa, reflectindo nas cores, desenho e estampas a cultura visual da época em que o rap e o hip-hop não ganhavam Grammys. Em pele branca, o Clyde inspirado na emblemática dupla de apresentadores Dr. Dre e Ed Lover apresenta atacadores multicolores, além de um especial com o logo "YO!". A sockliner em roxo e verde é um resquício da disputada linha Forever Fresh, que marcou a primeria colaboração entre a Puma e o YO! MTV Raps. Os ténis desenhados para Doug E. Fresh, (aka o "maior entertainer do mundo") coloram-se de nuvens cinzentas e azuladas, inspiradas na sua canção «All the Way to Heaven». Já os clydes de Big Daddy Kane (ou Smooth Operator) mostram em preto, dourado, e na estampa de corrente de ouro o estilo daquele que foi um dos primeiros rappers a incorporar a persona ‘suave pimp’. O clássico hit «The bridge» foi o ponto de partida para os ténis de Mc Shan, um dos mais recordados B-boys dos anos 80. Além de mixar faixas, Shan também misturava pares de ténis. As sapatilhas apresentam duas cores – vermelho e azul, ambas com a faixa logo da Puma em branco, YO! nos calcanhares, MC na lingueta direita e Shan na esquerda. Todos os modelos apresentam t-shirts e casacos tipo hoodie a condizer com os ténis, e vêm numa embalagem cool, digna de todos os amantes do hip-hop old school.
Baby doll representa uma colecção doce, inspirada nos anos 50, enriquecida com a repetição de figuras geométricas. Em Apple reinam as cores fortes que criam um impacto distinto. Já New Dots é o destaque da colecção, elevando o look feminino ao mais alto nível da sensualidade, com peças sexy e delicadas. Por sua vez, a linha Poodle faz alusão aos animais preferidos, apresentando uma pitada de retro. Finalmente, o tema 70’s chega com as primeiras propostas de banho a aguçar a vontade de que chegue o calor e, com ele, a praia. Numa versão mais Disco que nunca, os decotes são generosos e os estampados primam pelo psicadelismo.
www.archive.puma.com
www.womensecret.com
You Must II – News
viagem aos anos 70 Texto: Vanessa Cardoso A colecção da Women’s Secret para a Primavera de 2008 é a mais irreverente dos últimos tempos. Há uma fusão de estilos com formas, temas e até modas passadas. E uma certeza: a cor é uma constante. Desenhou-se em cinco linhas distintas nos temas e a pensar nos destinatários.
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Depois do sucesso na feira Design Miami no ano passado, as porcelanas Fragiles ficam eternizadas na publicação de capa dura «The Book Fragiles: Glass and Ceramics». A edição é lançada no mês de Março e contempla peças de cerâmica e vidro produzidas por autores de design contemporâneo tão versáteis como Hella Jongerious, Jurgen Bey, Marcel Wanders ou Stephanie DeArmond (ver artigo sobre a artista na secção Central Parq). Outrora expostas nas cristaleiras e cómodas das casas das nossas avós, peças inertes e pirosas, as porcelanas são agora revisitadas e introduzidas no mercado do design com novo fôlego, ganhando novo estatuto e explorando imaginários nunca antes potencializados por este material. São centenas as peças Fragiles e centenas as expressões de espanto que produzimos ao olhá-las. É como descobrir um novo mundo, a porcelana está definitivamente na moda e não é abusivo dizer que quem não tem uma colocada em cima do televisor é um perfeito saloio. Os preços destes objectos não são para todos os bolsos, mas a PARQ já encomendou a versão da Arca de Noé assinada por Wendy Walgate com os animais todos encavalitados uns nos outros. Encomendou é como quem diz… pediu um postal com a imagem da peça para colocarmos na cristaleira do escritório. Gostamos de chinesices.
A paleta que Dior propõe para a estação da Primavera é composta por tons recolhidos nos parques e estufas. Pela primeira vez a maquilhagem desta marca presta homenagem à paixão de Christian Dior pelas flores e jardins. O novo look Printemps em maquilhagem, o Bloom in Dior, sugere um imaginário ligado à silhueta de uma mulher-flor, com formas e motivos florais reinterpretados por John Galliano. Fresca como as flores da manhã, a pele, torna-se mais bonita ao atrair a luz. O olhar fica mais tentador em tons rosa, lilás, violeta e coral. A opção recaiu nas cores puras e tons pastel leitosos. Os brilhantes e transparentes foram preferidos, deixando para trás os nacarados.
o regresso da cristaleira Texto: Carla Isidoro
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HE regressa à mango Texto: Vanessa Cardoso
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Onze anos depois, a Mango regressa à moda masculina e lança, a partir de Março, uma linha Primavera-Verão 2008 para homem que chamar-se-á “HE” by Mango. Portugal está incluído no projecto e terá cinco espaços com esta colecção, entre Lisboa e Porto. Trata-se de uma colecção com cerca de trinta modelos desenhados a pensar no homem jovem, informal e, principalmente, urbano. Destacam-se as T-shirts, coletes, calças, jeans e roupa de banho em tons bege, cinza, azul, branco e caqui. O algodão e o nylon são os tecidos de eleição, apelando ao conforto. Acessórios como bolsas, carteiras, pulseiras, cintos, óculos de sol, sandálias e calçado desportivo, não foram esquecidos. A imagem desta linha é o modelo basco Jon Kortajarena, que representa fielmente o homem que a “HE” by Mango quer vestir. www.mango.com
Rose garden dior Texto: Sofia Saunders
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Kenzoki on the rocks Texto: Cristina Parga Óleo, cubos de gelo e creme para aplicar sobre a pele, nua... para aquecer a noite de São Valentim, melhor só mesmo se pensarmos que os cubos de gelo derretem sobre as quentes curvas do corpo, diluindo-se num delicado aroma a água de arroz. Mas antes, a massagem com óleo sensual suaviza, nutre e faz brilhar a pele, criando o cenário perfeito para um jogo a dois. Para finalizar, o creme Kenzoki para uma pele nua envolve os corpos numa textura aveludada, suave e tentadora. Ainda está indeciso entre as flores e o chocolate? www.kenzoki.com
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walk on by Texto: Sofia Sauders Já nos habituámos aos saltos altos em madeira e às amplas plataformas que simulam a cortiça. A Diesel foi mais longe e lança a colecção The Wooden Shoe, uma gama de sandálias que faz as delícias de quem goste de um visual arrojado. Inspirando-se no potencial da natureza e em matérias-primas acessíveis como a madeira, desenhou um modelo que inova tanto pelo design e proposta, como pelas cores que lhe associou. A cada sandália corresponde uma cor, como o preto – para uma toilette sofisticada – o amarelo, o rosa e o verde fluorescentes para dias e noites cheios de animação. Será difícil resistir a um look tão natural e orgânico, que mais bonito se torna quando sabemos que nenhuma árvore foi cortada para a produção da colecção. Fake is funky. www.diesel.com
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you must II — news
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bleached Jeans by
ilustração Valdemar Lamego fotografia Pedro Pacheco produção Conforto Moderno modelos Patrícia, Roger e Nuno light equipment: www.spot-lightservice.com 1 Diesel (Keever) 2 Diesel (Matic Stretch) 3 Miss Sixty (ZZ056) 4 Tommy Hilfiger 5 Levis Red Tab 6 Lee (X Line) 7 Energie (Style Clash) 8 We Are Replay 9 Replay 10 Pepe Jeans 11 Levis 570 (straight fit) 12 Levis Engineered Shoecut 13 Lois
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Inspired Lisbon Cinco dias para inspirar Lisboa Texto: Vanessa Cardoso
De 13 a 17 deste mês, a capital será o palco da criatividade, curiosidade e questionamento. O Inspired Lisbon é uma iniciativa da Bombay Sapphire Foundation de Londres, que propõe para Lisboa um programa cultural internacional que incluirá debates, workshops, performances, projecções, instalações e exposições, tendo como ponto de partida o design e o seu impacte na sociedade. Tudo para celebrar e estimular a capacidade crítica sobre uma disciplina que se expande em áreas de actuação tão diversas como o design de produto, comunicação, moda, arquitectura, sempre em intersecção com a actualidade ambiental, política, social e económica. O Inspired Lisbon, vem de certa forma preencher o espaço de reflexão sobre design, uma sentida lacuna nacional desde que a Experimenta Design encerrou a sua actividade de programação. Não repetindo este modelo, a Inspired Lisbon não oferece apenas soluções, mas fornece as bases para questionar o presente e o futuro das sociedades. Para responder ao que fazer com património industrial europeu esquecido ou ameaçado, o convidado é o jovem checo Velcovsky – reconhecido por trabalhar, nos tradicionais vidro e porcelana, a herança material e simbólica do Socialismo na República Checa. A ferramenta Hektor, que transforma desenhos vectoriais em realidade pintada numa parede é a resposta de Uli Franke e Jürg Lehni à questão de como domesticar uma lata de spray. Em Portugal, o Atelier de Arquitectura “Moov” mostra como a criação de comunidades é tão ou mais importante do que a construção de edifícios. Na esfuziante Berlim, o colectivo de pensadores livres Dropping Knownledge reúne 112 activistas contemporâneos para responder a 100 grandes questões do nosso tempo, como mostra o documentário «Table of Free Voices». O activismo ambiental da plataforma online World Changing é outro destaque, além do Banco Comum de Conocimientos (Espanha), Thomas Heatherwick (Reino Unido, Design e Arquitectura), Kathi Stertzig/Albio Nascimento (Alemanha/Portugal, Design de Produto) entre outros. O desafio foi estendido ao Museu do Design e da Moda (MUDE), que convida 6 designers portugueses a colocarem 6 perguntas a 6 peças da sua colecção, numa exposição que integra este evento de acesso gratuito. Mais do que uma iniciativa pontual, o Inspired Lisbon pretende criar as bases para um projecto que possa vir a tornar-se um evento regular sedeado em Lisboa e dedicado às temáticas transversais às áreas criativas.
M. Velcovski
www.inspiredlisbon.net Inspired Lisbon by Bombay Saphire palácio valadares – largo do carmo De 13 a 17 de Fevereiro
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Galeria Leme, São Paulo – Brasil
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Texto: Francisco Vaz Fernandes A ARCO tem sido pretexto para uma quantidade significativa de portugueses deslocarem-se à capital espanhola para visitar a feira de arte que se organiza todos os anos por volta da segunda semana de Fevereiro. É igualmente uma oportunidade para auferir de todo o programa cultural criado em torno do evento e, porque não, de uma visita gastronómica e de lazer cujo panorama é actualmente muito vasto e de grande qualidade. Este ano a ARCO tem como país convidado o Brasil, motivo extra de interesse para uma visita a Madrid. Vão estar presentes 32 galerias brasileiras, ou seja, praticamente todas as galerias de referência, entre elas a Leme, Brito Cimino, Fortes Vilaça, Luisa Strina, Triângulo, Laura Marsiaj, Mercedes Viegas e Manuel Macedo, que no seu conjunto representam cerca de 100 artistas. Nesse sentido, os 1000 m2 que vão ocupar na ARCO tornam-se numa das mais importantes mostras de arte brasileira alguma vez realizada na Europa. A selecção dos artistas obedeceu a um programa curatorial de Paulo Sérgio Duarte e Moacir dos Anjos, que procuraram dar ao público europeu uma visão ampla da importância do Brasil no contexto actual das artes plásticas. Para além dos nomes internacionais Cabelo, Rosângela Rennó, Vik Muniz, Efrain Almeida, Ernesto Neto, Jac Leirner, Mario Cravo Neto, Miguel Rio Branco, Nelson Leirner, Saint-Clair Cemin, Sandra Cinto, Tunga, Waltercio Caldas, existe uma grande lista de artistas emergentes a expor pela primeira vez além fronteiras. Relativamente à organização da própria feira, este ano a ARCO ocupa novos pavilhões. Permite uma reconfiguração do espaço com o objectivo de tornar-se mais convergente e mais competitivo em termos internacionais, permitindo atrair novas galerias, oferecer mais espaço para projectos individuais de artistas e encontrar condições para expor média menos convencionais. No total vão estar presentes cerca de trezentas galerias provenientes de 30 países. Dentro do núcleo central foi constituído um programa, ARCO 40, que vai permitir jovens galerias de circuitos distantes expor 3 artistas num espaço de 40 m2. São, em geral, espaços que obedecem a uma selecção curatorial e a um convite. O mesmo acontece aos habituais espaços Solo Projects e Expanded Box, são como uma extenção do seu programa das galerias permitindo, no entanto, melhores condições de exposição para artistas que trabalhem em vídeo e instalação. Fora da feira os grandes destaques institucionais em termos expositivos serão Modigliani no Museu Thyssen, Picasso e José Damasceno no Reina Sofia e uma colectiva sobre o minimalismo na Fundação Juan Marsh. Contudo, também não será de perder Tony Oursler na Galeria Soledad Lorenzo, Paul Graham na LA Fabrica e Rogerio Lopez Cuenca na Juana de Aizpuru. ARCO8 Feira Internacional de Arte Contemporânea Feira de Madrid, de 13 a 18 de Fevereiro de 2008
Fabrico Infinito As boas línguas de Miss Jones & Ray Monde
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Texto: Isabel Lindim Onde estar Café del Círculo de Bellas Artes, Marqués de Casa Riera, 2 Tel: 91 531 85 03 THE GEOGRAPHIC CLUB, Alcalá 141 Tel: 91.578.08.62 Café Gijón, Paseo de Recoletos, 21( Colón) Tel: 91 521 54 25 Isolée, C/ Infantas, 19 (Chueca) Tel:915241298 Chicote, Gran Vía, 12 Tel: 91 532 67 37 Le Cock, Reina, 16 Tel: 91 532 28 26 Onde Ficar Urban, San Jerónimo, 34 Tel: 917 877 770 Hotel Puerta America, Puerta de América, 41 Tel: 917445400 Onde Comer Saigan café, Maria de Molina 4 (Chamartin) Tel: 915631566 Fábula, Principe de Vergara, 56 (Salamanca) Tel: 914310834 Jhambala, Pérez Galdós , 3 (Gran Via) Tel: 915222061 Al –Jaima, Barbieri, 1(Chueca) Tel: 915231142 O que ver Reina sofia, Colecção do Museu Picasso de Paris, (cerca de 400 obras) José Damasceno Museu Tyhssen Modigliani e o seu tempo Fundación Juan March , Maximin (visão do minimalismo americano e herdeiros ) Galeria Soledad Lorenzo, C7 Orfila, 5, Tony Oursler La fabrica galeria, C/ Alameda 9 (Reina Sofia)
Depois das festas natalícias tudo tem tendência a ficar parado, então com a chuva, piora ! Mas não são razões para ficarmos aninhados no lar… Decidimos pois, petiscar, entre duas abertas, e parámos diante da grande montra dourada da Fabrico Infinito, à Rua D. Pedro V. Entrámos. Uma primeira sala plena de artefactos, jóias, roupagem, decoração, obras de arte, discos… abre-se sobre uma outra mais luminosa e mais próxima dos nossos ensejos fisiológicos. Não sem antes olharmos para um pedestal sobre o qual repousa uma pequena estufa para bonecas, com chá servido, fazendo a ligação temática. Escondido atrás de uma coluna, muito atarefado, Armando acabava o seu chá que decerto fruía com um pequeno doce. Embora recente, o sítio já é bem frequentado . Há explicações possíveis. Um espaço branco, com decoração neo-barroca, com grandes janelas viradas a norte que dão para um pequeno jardim de inspiraçao oriental. Nas mesas floridas frente ao balcão estão expostas as fabricações do dia. Salgados e bolos. Miss Jones estava de poucos apetites, Ray Monde não almoçara ainda. Escolhemos 3 salgados de massa integral, uma quiche de legumes, outra de cogumelos e um rissol de peixe, acompanhados de uma salada e servidos em louça « à la Sèvres » com talheres de cor dourada e ramalhetes frescos de pimenta rosa. Ray hesitou entre dois sumos de marca inglesa, gengibre/lima ou groselha/cardamomo, e escolheu o último. Miss Jones ficou perplexa perante as múltiplas combinatórias de chás, mas encontrou um possível. Há tambem água galesa, batidos ou vinhos.
Numa das portas que vão dar ao Largo de São Mamede, lê-se agora lua em japonês. Tsuki é um restaurante sushi-bar com sala de estar e ficar por mais. Uma lista de fusão com muitas combinações possíveis e imaginadas pelo mestre de fita preta na testa que sabe muito. A tentação é grande e há gostos para tudo. Hot-rolls com salmão e camembert, carpaccios, ostras, tempuras (incluindo de banana), várias opções de sushi to sashimi, tornedó de vaca, carapau picado com cebolinho e gengibre, bacon maki, gelado frito envolvido em mel. Tudo isto servido até às duas da manhã, uma das vantagens deste restaurante. A desvantagem será talvez o preço, que é de ficar com os olhos em bico. Têm também cursos de sushi e origami, serviço de catering e take-away. www.tsuki.pt Rua Nova de São Mamede, 18 - Lisboa Tel. 21 3975723 / 967375888. Terça a sexta 12h-15h e 20h-02h Sáb 20h-02, dom 13h-16h e 20h-24h.
Estava tudo fresco e com sabor. A quiche de cogumelos ocasionou um lamento sobre a rarefacção dos míscaros. O serviço é atencioso e gentil. E continuámos com uma fatia de bolo de chocolate de inspiração alemã. Podia vir guarnecido com creme de baunilha da casa, mas preferimos descansar as papilas depois dos ágapes natalícios. Veio sobre um espelho, tambem este ladeado de pimenta rosa. Experiência agradável. Ainda aproveitámos a frescura do jardim e saímos com citação de Pessoa, mas na conta. Não tem ementa para se tornar a nossa cantina, mas voltaremos seguramente para outras petiscagens. Fabrico Infinito Rua D. Pedro V, 74 - Lisboa de 2a a Sáb das 11 as 19 h
Paul Graham Galeria Juana de Aizpuru, C7 Barquillo, 44 , 1ºDto
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Mafalda Santos, Grande Onda, 2007.
agora portugal
joe henry
Lou Rhodes
O MUDAM, no Luxemburgo, tem em exibição a maior colectiva de artistas contemporâneos portugueses. Reuniu obras de trinta e sete autores, patentes ao público até dia sete de Abril. Agora Portugal exige uma visita merecida.
Joe Henry, o cantor, compositor e produtor norte-americano, estreia-se em Portugal a 23 deste mês. A sua carreira começou em 1986 com a edição de discos pouco ouvidos que divagavam entre o rock alternativo, o folk e o country. Nascido na Carolina do Sul, Joe Henry, é um fã assumido de Leonard Cohen, de Bob Dylan e de Randy Newman e sempre desejou fazer músicas “soul”, no sentido de músicas “com alma” e não o género musical. No início dos anos 90, com a edição de «Short Man’s Room» e «Kindness of the world», Henry é reconhecido pela crítica e por seguidores do country e folk. «Civilians», o seu mais recente álbum – editado em Setembro de 2007 e o 10º da sua carreira - é um disco denso, doloroso e comovente, mas, segundo as suas próprias palavras, “com luz”. Não é fácil definir um estilo do inquieto Joe Henry. Ao longo da sua carreira produziu artistas tão díspares como Ani DiFranco, Aimee Mann, Billy Preston, Bettye Lavette, e o álbum «Don’t Give Up On Me» de Solomon Burke, vencedor do Grammy em 2003. Recentemente Henry trabalhou com Richie Havens, Ramblin’Jack Elliot, John Doe and Bob Forrest na banda sonora do filme de Todd Haynes sobre Dylan, «I’m Not There: Suppositions On A Film Concerning Dylan». A título de curiosidade, Joe Henry é casado com a irmã de Madonna.
Lou Rhodes, figura eternamente ligada à música da banda britânica Lamb, chega a Portugal para dois concertos, onde apresentará os seus mais recentes trabalhos a solo, «Beloved One» e «Bloom».
Texto: Carla Isidoro
Ter família emigrada no Luxemburgo é algo muito provável para qualquer cidadão português, mas não será esse o melhor pretexto para visitar o país neste momento. Agora Portugal, colectiva que reúne peças de nomes como Helena Almeida, Fernando Brízio, Pedro Cabrita Reis, Pedro Costa (realizador), Mafalda Santos ou Felipe Oliveira Baptista (sem destacar uns face a outros), é motivo para uma obrigatória ida à cidade dos vales. É a maior exposição colectiva de autores portugueses feita fora de território nacional, um evento que pretende ter impacte nos países europeus vizinhos projectando a arte portuguesa através de um veículo promocional que não é o nosso. Seria como um belga dar a conhecer massivamente o Pastel de Belém na Bélgica e países circundantes, ganhando este bolo, subitamente, uma característica universal. É isso que se sente ao percorrer os corredores e salas do MUDAM: que estamos perante algo que é reconhecidamente nosso e que fora de fronteiras ganha uma dimensão indubitavelmente grande e universal. Poderemos questionar porque é que nomes como Julião Sarmento não estão representados, e podemos criticar até algumas das soluções dispositivas encontradas pelo museu. Nem todas as soluções são as mais adequadas, havendo nichos e zonas labirínticas que impedem o visionamento fácil e despreocupado de algumas obras. Contudo, o objectivo da comissária do museu, Marie-Claire Beaud, é inequívoco: dar a conhecer um outro Portugal num país cuja taxa de imigração portuguesa ronda os 15%. Somos muitos a viver no Luxemburgo, mas poucos dos que lá vivem conhecem os portugueses expostos no MUDAM. Marco Godinho, artista português a viver no Luxemburgo há vários anos, foi convidado a conceber o catálogo, peça que encerra em si mesma um enigma. Ao manuseá-lo ficamos com dúvidas: é um livro de esquissos? que gráficos e linhas são estas? O catálogo exige tempo e paciência para descobrir e desmontar o seu segredo. Temos que cortar todas as páginas com uma faca, tal como fazíamos com os livros antigos, e dentro delas encontrar os textos, a informação e as imagens das obras expostas. Godinho explica: “A ideia foi também de editar um catálogo onde nenhuma imagem e nenhum texto estivesse visível directamente. Cada um tem então a responsabilidade de entrar, de descobrir, de criar o seu próprio caminho abrindo as páginas fechadas com uma faca. Mas as páginas podem ficar por abrir, e cada um escolher o momento propício para descobrir as representações para lá das grelhas, e poder assim consultar o catálogo.” Podemos usá-lo como bloco de notas, ainda que o seu volume e tamanho não permita transportálo na mala ou pasta de trabalho com a facilidade que o dia-a-dia exige. E, por fim, guardá-lo respeitosamente como uma das obras passíveis de trazer para casa.
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Texto: Alexandra Cunha
Neste concerto, vai-se apresentar em formato trio, fazendose acompanhar de um baixista e de um baterista. Festival para Gente Sentada Teatro António Lamoso - Santa Maria da Feira Dia 23
Texto: Zé Trigueiros
Após decidir embarcar numa nova aventura musical, a cantora encontra-se agora num terreno cultivado pela folk music, onde a sua voz flutua com a perfeição e com a suavidade que conhecemos. Ao mudar de rumo, sair de Londres e penetrar no melancólico countryside inglês, Lou fundou a sua própria editora – Infinite Bloom – em 2006, com o propósito de lançar o seu primeiro álbum «Beloved One». Longe da sonoridade Lamb, a cantora de Manchester brinda-nos neste álbum com os sons do vento, da harmonia, do frio e do quente, do verde dos longos campos ingleses. «Beloved One» foi alvo de várias críticas positivas e desde logo que Lou Rhodes conquistou um lugar na nova música folk inglesa, tendo sido nomeada para o conceituado prémio britânico, Mercury Music Prize. Em 2007, a cantora edita o seu segundo álbum «Bloom», um trabalho que segue a linhagem de «Beloved One» e que confirma os seus ‘dotes rurais’. O perfume do campo está por toda a parte e de certeza que irá também perfumar todos os que se dirigirem no dia 29 de Fevereiro ao Santiago Alquimista, em Lisboa e dia 1 de Março à Casa da Música, no Porto.
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Artistas do benin Texto: Francisco Vaz Fernandes
Uma colectiva de artistas do Benin comissariada por de André-J. Jolly é proposta para uma segunda exposição na Galeria Bernardo Marques, recentemente inaugurada com uma colectiva de José de Guimarães e Fernando Lemes, artista que apresentou trabalhos em papel nunca antes divulgados em Portugal. A galeria tem como projecto - além de expor artistas nacionais - divulgar artistas de outros continentes, seja o asiático, africano ou americano, mas em especial os da região latina. Esta mostra de sete artistas do Benim é o começo desta intenção programática, dado o destaque que os artistas deste país africano conquistaram nos últimos anos. Têm estado presentes em todas as grandes bienais de arte contemporânea e por essa razão despertam a atenção de coleccionadores, havendo alguns especializados em arte africana contemporânea, nomeadamente Jean-Paul Blachère em França e Pigozzi na Itália, que adquiriram muitas obras oriundas do Benim. De 9 de Fevereiro a 30 de Março Galeria Bernardo Marques Rua D.Pedro V, 81- Lisboa Tel +351 91 270 0421
made in eden — an ode to my dead friends
A partir de «Estilhaços» de Adolfo Lúxuria Canibal Texto: Natacha Paulino Made in Eden resulta de um trabalho a partir de Epístolas de Guerra, textos publicados em «Estilhaços» de Adolfo Luxúria Canibal. O resultado é a condensação de imagens de uma visão do mundo, que o encenador partilha com a equipa criativa, na qual está implicada a escolha do autor. Para João Garcia Miguel, a opção “não é inocente e deu-nos o eco de um mundo do qual todos sentimos as ondas de choque e com o qual nos encontramos frequentemente em rota de colisão. Mais do que o sonho de um mundo novo o que partilhamos são as ficções de sangue e morte de um mundo velho.” O texto surge então como ponto de partida, para no processo criativo desaparecer quase totalmente, dando lugar a histórias de dois seres que se recriam e desdobram em várias personagens. Com encenação de João Garcia Miguel e “coaching” de Miguel Moreira, o espectáculo conta com as participações de Luís Guerra e Sara de Castro. Em cena de 7 a 17 Fevereiro De 5ª a Sáb às 22h e Dom às 17h No Teatro O BANDO Vale dos Barris, Palmela Tel 212 336 850
www.made-in-eden.blogspot.com
moda açores Texto: Francisco Vaz Fernandes
Integrado nas comemorações do 172.º aniversário da Câmara do Comércio, a Moda Açores reuniu vários estilistas regionais, nacionais e internacionais. Destacou-se a presença da dupla Dupré Santabarbará de Paris, bem como Stella Cadente, estilista de relevo e criadora de linhas de acessórios e cosmética da Clarins. Dos estilistas portugueses, Filipe Faísca foi o mais esperado, tendo apresentado a muito aclamada colecção de Primavera/Verão 08 apresentada na Lisbon Fashion Week. O evento integrava-se numa estratégia de promoção turística de uma das regiões mais bonitas e pouco exploradas de Portugal. Moda Açores, 30 de Novembro em S. Miguel, Açores
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were you there?
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Mark Gatiss
Héctor Ayuso Ros
— page: 12 —
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Text by Roger Winstanley
Text by Valdemar Lamego
Raimund Hoghe The magician's subtlety Text by Carla Isidoro. Photos by Rosa Frank — page: 42 —
Mark Gatiss is famous for being one of the creators and actors from the TV series League of Gentlemen, which has been shown in various countries, including Portugal. As well as being an actor, currently appearing in an adaptation of All About Mother on the London stage, he is also a writer. His most recent book, The Devil in Amber was well- received in England. Speaking to his old room-mate, Roger Winstanley, he is an open book, dodging no question. What for you is the most seminal comic moment? My friend Julian Rhind-Tutt from 'Green Wing' tells me it was when we first shook hands. I argue that that was the most semenal as we'd both just come. With which literary hero do you most identify? Captain Hook from 'Peter Pan'. A beautiful, doomed character with an unslakeable thirst for vengeance. He hates Peter Pan for taking off his hand but really he hates him because he represents youth and freedom, all the things the earthbound pirate can never regain. He's the epitome of middle-age yearning for lost youth. I love that. Besides, I'm constantly followed about by a crocodile trying to gobble me up. Who uttered the most unforgettable last words? Beethoven is supposed to have said 'Applaud friends. the comedy is over', which he must have thought about for years, it's so good. I imagine him lying on his death bed, saving those words up and not daring to speak just in case he accidentally croaked whilst saying 'I need a weewee'. The Ayatollah Khomeni, I recall, said 'Put out the lights' which is pretty good. Apocryphally, Oscar Wilde said 'This wallpaper is killing me. One of us will have to go'. But it's too good to be true. I think my favourite, though,must be King George V. His family were making soothing suggestions on his death-bed that he'd soon be well enough to visit the English seaside town of Bognor. "Bugger Bognor" said the King – and expired. What do you most love about your home? My boyfriend. My dog, Bunsen and the wax head of a Nubian boy which is hidden in a hat box in the cupboard. What do you most hate about London? The smell, the heat and the madness of it during the summer. It's hideous.No wonder sensible people used to leave during the summer months and go abroad. I also hate bendy buses which are only useful in wide-avenued European capitals and not in the wonderfully cramped and narrow streets of old London town. Also tourists who won't get out of the way on the Tube. Otherwise it's a beautiful and amazing city. What, for you, was the invention which didn´t catch on and should have? The self-peeling orange. The Playdoh barber shop. Glass razor blades. The bobble-free jersey. Blue cows. If you had lived in another historical period, which would it have been and why? Probably the Edwardian period. I like its dizzying sense of fun after a lot of Victorian gloom. The clothes, the booze, the art. It's all wonderful. But then the Great War would come and spoil all my fun. Otherwise, probably Tudor times. Merrie England all that. But basically any time when men wore tights. What is the most over-rated work of art? I have an irrational hatred of El Greco. I hate the muddy, chalky colours of his weird works. But I'd probably say something by Dali. It may be due to his over-exposure in the posters on a thousand teenage bedrooms but I find it all a bit wearisome these days. And I'm not very fond of "naïve" painting. Who decides what's naïve and what's just shit that a mental child could have done? The strangest sexual fetish you have ever heard of? I once slept with a young man who wanted us both to put on inflated swimming pool arm bands. It was quite sweet but they have sharp edges. What is your most prized object? A still from 'The Man with the Golden Gun' signed by Christopher Lee and Roger Moore. It was never my favourite Bond movie as a kid but I'm really fond of it now. And Christopher Lee was my hero as a child. I'd like to own something by the painter Frank Brangwyn. If I ever do, that would be my most prized object. Is there anything that you could never joke about? My Mother-in-law. Seriously. She is so fat. Do ghosts really exist? I believe they really do but they're not the spirits of the dead. There's centuries of evidence of strange happenings so there must be something in it. It all sounds very sci-fi but the idea of images or smells or events imprinting themselves on Time seems plausible to me. Most hauntings seem to fall into that sort of category. Doesn't explain headless figures coming after you with an axe, mind.
In 2007, for the first time, the festival took place in Barcelona and New York. This year, for the first time, its taking place in Lisbon and New York. What´s the reason for this? OFFF is focussed on an art that changes continuously, so being a mutating entity is something which is rooted in its more basic nature. We do not relate the festival to a concrete place, in as far as you cannot relate post-digital creation to a physical place. This means that the country where it takes place is not that important. It could be anywhere, in that we have a very faithful audience that will go wherever we are (in fact, 70% of the people attending OFFF come from abroad ). We had the opportunity to come to Lisbon just like we had the opportunity to go to NY, but this time we had to choose between Portugal and Barcelona, because we had the same dates for both... And our team is not big enough to work on two simultaneous editions! What can we expect from OFFF Lisbon? Every year we try to get a little better. So I am sure this will be the best OFFF ever... until 2009! ;-) As usual, we'll bring the artists that are breaking ground and shaping new standards in media, design and music. Some of the already confirmed ones are Rob Chiu, Fakepilot, David Kensler (The KDU), Taylor Deupree with Kenneth Kirschner vs. Amit Pitaru, Joshua Davis, Hi-Res!... The list is growing daily, you can check on our website: www.offf.ws/ Also, there will be some new things in the festival structure, but they're still top secret! What are you prioritising during the three days of the festival? The whole OFFF concept is about sharing knowledge, not just the artist's, but also the audience's. So we prioritise that above everything. We do not want to do a mere state-of-the-art showcase, something you just sit and watch and listen to, but people getting in touch with other people, learning from each other. OFFF is a very open context, based on a constant flux of information and sensibilities. A lot of joint ventures are born every year at the festival. Also, we know a lot of people who used to be part of the audience and now they are on the rooster, and people who came once to do a conference and they've kept on coming as part of the audience. What´s the relationship between Lisbon and New York in terms of the program for OFFF? The only relationship is that we are the same curators so, obviously, there's a common ethic and aesthetic stream. Logically, there will be a stronger Portuguese and European presence on the rooster too. What has the winning of the Culture prize from El Mundo meant for you and the organisation? It's always nice to get some recognition for your work. We felt the prize to be simply that, like a recognition of eight years of very, very hard work. I still do not know what it will mean in the future, we got it in January... But we hope it will help as a promotional item, in terms of attracting new audiences to the festival. What was the reason for the creation of OFFF? As I already said, the main point was, and still is, sharing a new perception on culture and technology. It was something we felt we had to do. We knew all these great artists and wanted other people to know them too, to get in touch with them. Maybe it sounds too ambitious, but in a certain way we would like to be a kind of starting point for a new generation of digital artists. What were the initial problems and obstacles when OFFF was created? Have you managed to overcome them? Doing a festival like this one means that you have to deal with a lot of stuff beyond your love for art. In the beginning it was hard to get into production issues, as we´ve got no previous experience. We were not producers, but artists! But we have learnt through the years... I hope! On the other hand, I think that this approach to organising an event from a purely artistic and human point of view is what makes OFFF a unique experience both for the audience and the artists coming. It's obvious we are not in this for the money, and people get that. www.offf.ws www.inoffensive.com
It isn´t his first time on the Portuguese stage, but each new appearance brings a rush of excitement for those who admire him. Raimund Hoghe is a very particular artist, not merely because of the fact that for ten years he was the dramatist for Pina Bausch who afterwards decided to become choreographer, but because he possesses a figure which goes against our stereotypes of perfection and beauty in the bodies of dancers. He is short, hunchbacked, with limbs of unequal length, dresses in black, stands up on stage and quite naturally undresses. To see him is to see how to deal with otherness and difference. We are made to feel embarrassed for the prejudices which we bring with us, and yet he transforms any feelings we have of being unsettled by this into a play of subtlety, and pushes us into new ways of seeing the world. Raimund Hoghe spoke to us about the new piece being performed at Culturgest this month, “ Swan Lake, 4 Acts”, about the power of music in his work, his fascination with young footballer and dancer, Lorenzo, and also eternal diva, Maria Callas. The magician is back. You'll be performing again in Lisbon with «The Swan Lake, 4 Acts» though last year you created two new pieces. How long do your pieces tour around the world? Some more than 10 years. My first solo, the «Meiwärtts»,I created in 1994 but I performed it in Lisbon for the first time not so long ago. Do you add new elements to the old pieces whilst you still perform them live? The structure is fixed, there's no change. But now I have a new dancer for one part, Emmanuel Eggermont, he also performed in «Bolero Variations» and «36, Avenue Georges Mandel». It's the first time I change a part for someone. One review said the beginning of «The Swan Lake, 4 Acts» tests the audience patience by keeping the dancers on stage just doing nothing. I remember I felt whilst watching your piece last year in Lisbon, that my sensations were being tested during the play by your language and sense of time. How provocative do you mean to be in your work? I don't want to be provocative and I don't test the audience. I really don't test the audience. I just do what I feel, what I want to see and what I want to express. Sometimes I think that part is too long, but I have to do it like this. There is a difference between this piece and the others, there is the «Swan Lake» from Tchaikovsky before. When I started to work I watched a lot of very old movies about «Swan Lake» with Galina Olanova, very classical. I often go to the opera in Paris to see classical pieces and there's not much about the stories, they're not very long, they're short. In the beginning of «Swan Lake» there's not so much happening. So I tell people they should watch the original piece, the classic version. For me the introduction in «Swan Lake», when people come in and are introduced, it's like the original. Mine is connected with the original, and for me it was important to have classically trained dancers. Somehow, during the last piece presented in Lisbon, I felt like a voyeur. Like I was watching something I shouldn't be, scenes and movements so delicate and private happening on stage that could almost be placed in the privacy of someone´s home. Do you see the movement itself and dance as a feeling? Yes, of course, it comes from the soul. And for me it is strongly connected with music. Just listen to the music. Contemporary dance has a strong connection with music, it´s the strongest force for me, brings people to special levels inside themselves. It's this I want to show to the audience. Music is a major component of your work, a dynamic element of your scenes. It's the basis of everything. How do you choose the music for your pieces? It varies, it's always music the dancers feel connected with. In the «Young People Old Voices» during the rehearsels I played some music they didn't feel connected with, there was nothing created with this music. Then I had to look for another one and then something happened. You can't describe it in words, I have to find the music… and then comes what you said, the emotion. Is the music a vehicle between you and the dancers? Yes.
Most critics refer to the ritual characteristics of your performances. Do you use any signs we identify as ritualistic to deconstruct stereotypes instead of using them to justify the established? It's always more simple for me, I do what I have to do. I always like to go to the centre of the piece. «Swan Lake» is a big story about love, desire and saudade, I wanted to reduce it to the central part of the piece. It's not that I want to deconstruct, I want to go back to the starting point and its music. Everybody has a memory of the «Swan Lake», if you hear the music you'll remember something. On «Young People Old Voics» you worked with dancers that didn't seem to be professional dancers. Do you cast regular people? They are educated dancers. In Lisbon half of the group was trained dancers, but it's important not to see the difference. But I usually work with trained dancers. This question takes me to Lorenzo de Brabandere. Lorenzo and me were the only ones without dance education, in «Young People» and in «Swan Lake». I guess he was a football player. (laughs) Yes, I met Lorenzo for «Young People Old Voices», he was 17 and wanted to become a big football player. He was very young, with a good connection with music, very strong, and also a fine sensitivity to placement on stage and I guess this came from his experience on football. He has a big desire to express himself, he's been developing from one piece to the other and sometimes he has better connections with music than many dancers. He is a strong presence on stage. Is he your favourite? No, it would be unfair against the others. But in the last five years he was the most important. You show no emotions on stage and act neutral. It's quite contraditory compared to the emotive scenes you produce. Is there any significance for this? I'm not an actor. And I like silent movies very much. The movements and the emotions are enough, I don't have to play them on my face. The emotions are already there. There is enough expression in the movement. I always mention Maria Callas, she was very “rare” about movements, used very reduced movements. In «Swan Lake 4 Acts» when I present the people and they stand in front of the audience for 3 minutes before they can move, there's a big desire in them to move and it's very strong the movements they do just with the head. I'm interested in this. How important is the original «Swan Lake» to yourself? It's very important, amongst many others «Swan Lake» is the strongest. I was very impressed by some old Russian films, they are black & white, and some films with Maria Callas in black & white. Such a strong interpretation. Did you have a classical education at school? Were you introduced to the classics at home? No, no. And after the school I became immediately a journalist. And then Pina Bausch's dramaturg. How did this change happen? Very natural, I did what I had to do. Everything was natural, not a big decision about changing work. Then you became a choreographer. It's very surprising to see you on stage, a small man dressed in black, taking off his clothes and showing his body to the audience. Suddenly we feel naked in front of you. Do you use your body as a political action somehow? It's political in the way I assume different people and different bodies can exist. Makes us think of beauty, question what is beauty and what is not and fight for different people to exist. The world is more than young, tall blond girls. Everybody has the right to live. I am one example. Ancient German history said different people couldn't exist, therefore I'm very sensitive to this. We don't have the right to say this body is no good, this body can't exist. It is important to accept the body as it is. You use your position on stage as a statement. Yes. Now in England a woman wrote a dissertation about me saying that on stage I don't excuse myself for existing. I say 'Im here, take it or not' and maybe this could give some energy to other people to say 'I'm there and exist'. I'm not a victim. Looking back to when you were Pina Bausch's dramatist, what do you keep from that period in your method? One very important thing is to have a form, to show emotions or feelings on stage but they should be in a form. Another thing is to reduce things very much, to the detail, and take very strong personalities on stage. And then… when the movement starts, tenderness can be a movement. But really one of the most important things is to find the forms for the emotions. When I began with Pina in the late 70's it was very strong to use different people on stage, older, younger people, big, small. Till that time everyone in dance had to be the same size. This was a mark for me. I always remember there were such strong emotions in the audience, we were touched directly and deeply. This I remember very often. And I see now famous contemporary choreographers do what Pina did 30 years ago or 25 years ago, and she did it better. I never wanted to copy her, what I took from her was nothing from the outside, only from the inside. And there was also a reason to move.
Did you have this motivation in your first choreography? There's always a reason everytime I do the pieces and why I do them. Even if the audience doesn't see it, I have one. It´s a presupposition of the dramatist´s role… It was my work with Pina, it's clear it is connected a little bit. There is always a reason, even for the dancer it should be very clear that there's a reason why he goes from one step to the other doing his movements. Maybe this is one of the major things I learned with Pina, there has to be a reason to move. Very often you see people moving on stage but you don't understand why. Are they going to give you the feeling? Why do they move? There are very good people…you understand why they move but you can't express it in words. When I create a piece if there's not a reason to go from one thing to the other then I have to change something. In the «Young People» most of them were not trained dancers, they had no stage experience and were a bit afraid because it was a long piece. When they did it they were surprised to be so easy, because something was very natural. The music brings you the feeling you have to do something, so it has to be clear to me why I do it. Recently you did a new solo, after a long period doing group pieces. What's behind this solo now? I had to go to a smaller form again, and also the link with Maria Callas I love very much and also a connection with her music. But in the end of the piece there's a guest coming, finally I'm not alone, it's Emmanuel Eggermont. He's like a guardian angel, it's a projection. Was it a challenge doing a solo again? Yes, it was a challenge because I respect Callas so much. Maybe the solo works more radically than the group pieces; there I'm alone. I think if we do bigger and bigger it's not so good for an artist. Now I have to be responsible just for myself, not for the dancers of the group. Like this I can see how far I can go. The title of the piece is «36, Avenue Georges Mandel», the house were Maria Callas died. In the end of her life she was very alone. Is it a sad piece? Very, very sad. It's a big tragedy the end of Callas. But the end of the solo is not sad, there's another person coming, a person telling me to live again.
The Retro Kidz To the sound of Boomboxes Text by Helmut Hemmer. Photos by Justin T. Shockley — page: 46 —
80s revivalism appears to have arrived rather stealthily to the streets of New York, unlike the rather more bombastic way that the Nu Raves have taken hold in London. Meanwhile, in Manhatton, the stereos known as boomboxes which the Retro Kidz take with them wherever they go are only the tip of the iceberg of the latest home-grown phenomenon. It was in Soho that this group of guys and one girl, with their weird architectural hairstyles dating back to the times of Reagan, turned up the volume on the hip-hop rhythm of eighties rap nostalgia. Their wardrobe is reminiscent of the early rappers from the mid to late eighties, and it seems that New York has fallen for their charms at the exact moment that their appearance in Armand van Helden´s “I Want Your Soul” video spread around the globe. “When we walk down the street, people look at us as if we´d slipped through the time-tunnel, wearing fashions from 15 years ago” says Ladaz Marshall, twenty, one of the original line-up (all between 18 and 27 years old), wearing bleached jeans, a Puma T-shirt and a 1988 Reebok tracksuit top that he bought off Ebay. “This is the kind of stuff that we like to wear every day,” he remarks. They met up by chance on the jaded rap scene, coming from different districts, Brooklyn, Long Island and Queens, but with one thing in common; a passion for the 80s rap scene, and a reverence for the figures of the time, and for films like “Beat Street”, “Krush Groove” and “Breakin”. They also like dancing in the style of Running Man and Roger Rabbit. Apart from copying the style of their heroes, they are not content just to hang around the street corner in baggy trousers and hooded sweat shirts doing not very much; they are out to enjoy themselves, and love to shock with extravagantly dated clothes the likes of which most people wouldn´t be seen dead in; loud, neon colours, gold chains and angular Grace Jones haircut. On top of this, they like to be seen on the streets of New York with the most obsolete accessories they can get their hands on, like beepers, and those early Ericsson mobile phones. Transforming laughable, old gadgets into something altogether more desirable.
Apart from all the fun, there is also a more informed reclaiming going on here says Kenneth Barclift, another member of the group, twenty years old and who studied at the Fashion Institute of Technology. Alert at all times to crimes against style, one thing he cannot stand is boomboxes with grafitti. “You can´t paint on a boombox” he says, “ they didn´t do it then and it just isn´t our style.” More in keeping is the outsized jewellery, Mercedes Benz medallions, pendants with the outline of Africa, peace symbols, or a more luxurious alternative, a fourfinger knuckleduster ring which cost $800 and belonged to Barclift´s friend Amil Lopez aka Micro. “This ring is a dangerous weapon” he adds, “it has already got me into trouble with the police.” He joined the group in 2007, sold his stereo, but not before taping all his old LPs so as to be able to play them on his boombox. His favourite rappers are Big Daddy Kane, Slick Rick, Kool Moe Dee and Run DMC. For him, it´s not just the attitude of these rappers, but the way they espouse a way of life. He doesn´t speak well of current rappers who he says all dress the same, drive the same car and date the same girls. For Ladaz Marshall, the lifestyle of the Retro Kidz embraces everything; fashion, music, hairstyles and the constant search for something new. For him, the group is a multimedia synthesis. With their over the top appearance, hedonism, love of being noticed, they manage to draw attention to themselves even in neighbourhoods like Soho which, with its been-there done-that view of tendencies, really is quite difficult to actually get noticed in. From the very beginning, Ladaz remembers, when they used to come up out of the Times Square subway on Friday nights, they were surrounded by an appreciative audience who lapped up what they were offering. Fresh out of Nassau Community College, Ladaz recalls how at the time, wherever they went, there was a party atmosphere. People loved the boomboxes, even in the smart, elitist downtown galleries, where they have since become in demand at openings, always a success with their capacity to generate fun at all times and, come the end of the night, there´s always a queue of eager big brand PRs waiting to speak to them. They were invited to liven up the presentation of Parish Collection (www.parish-nation.com) and also the Puma party during New York fashion week. Now, many of the lifestyle brands want them as the face of their product. They have recently been signed up by Puma for the current Yo MTV collection, inspired by the 80s hip-hop programme on MTV. Also, Pro-Keds is waiting in the wings, which is good news for them, given the “old school” style of the brand. What started as a joke, and as a way to find themselves an identity in an already diverse city like New York, is fast becoming a business, explains Ladaz. “But while it´s still fun, we´ll carry on doing what we do in the streets of Manhatton or wherever, showing who we are and what our culture is.” The Retro Kidz, see themselves as entertainers and style innovators. They take their look seriously, so that they can remain a reference, “coz we´re not alone anymore” says Kenneth Barclift. This movement has more and more followers and copy cat gangs; Kenneth picks out Retro Boys, Retro Team and Vintage Supreme as three of the more well known ones. Yet he sees these groups as more vintage movement pointers rather than actual rivals. “They´re our friends” he observes. The Supremes, for example, are more early 90s, which is the point where The Retro Kids end. To stay ahead, it´s important for Barclift to keep up the appearances, and he goes assiduously to the barber´s three times a week. He doesn´t pay anything to have the elaborate swirls and designs on his head. For the barber, doing the hair of this Retro Kid is the best publicity out there. Because they are the best representatives of cool black retro style there is.
Traduções / Translation
PARQ
79
Stephanie DeArmond
Milky White Letters
The End of Technology
David Batchelor
(summary)
Text by Francisco Vaz Fernandes
Text by Carla Carbone
— page: 50 —
Milky white letters, grouped together and decorated with little brown horses, flowers, peasant figures, branches, roses, more roses, young girls with flowery hats, fluttering butterflies, starlings, cherries, more cherries, vividly coloured daisies. All decorating ceramic words by the artist Stephanie DeArmond. Born in Seattle in 1971, she went to study ceramics and psychology in 1996 at the University of Washington in Seattle. The expressions which DeArmond uses in her ceramic words are rather odd. The expression “what a hunk!” and “Hustle ´Em” show how avidly the artist devours, and is inspired by, her environment. “I find my inspiration in old decorative signs, grafitti, people around me and everything around the area where I live”. Other references in her work are the various artists who DeArmond admires; and there are quite a few of them; : Margaret Killgallen, Charles LeDray, Josiah McEhleny, Robert Gober, Sarah Lucas, Charles Krafft, and Anish Kapoor among others. In 2001 she moved from mid-America to the west coast, where she found a more serene working environment for work production. According to DeArmond, there is a strong and cohesive concentration of ceramic artists working there and it was important to surround herself with artists who related in a similar way to the material she was working with; that is, both intense and at the same time serious. DeArmond describes, step by step, and with enormous pleasure, the various steps in the construction of her ceramic letters, paying careful attention along every step of the way. The letters are constructed from a wide variety of fonts, and the flattened clay slabs are rolled out on the worktable, the letters are drawn onto paper and then cut out of the clay. “The sides of the letters are done using the same process as when we make a box out of clay.” The edges of the letters are smoothed out afterwards with the appropriate tools for the job. “I don’t use moulds, so each piece is made individually.” The transfers are found on ebay and, according to the artist, they are vintage transfers especially made for ceramics and are arranged on the surface of the ceramic where they are to be applied, and are afterwards fired in the kiln. “It is exactly the same process as when a bowl or mug is made, or a plate we have in our homes. It is a commercial process for creating multiple pieces all with the same pattern or image. Contemporary artists are using the technique increasingly now as a kind of comment on the way we interact with utensils in our homes.” DeArmond never saw herself as a designer until people started to ask her whether she was. However, she is definitely a person who is interested in, and influenced by, design: “I have always considered myself to be both an artist and and a potter, and I think many people associate ceramics and design.” Designers adore DeArmond´s work and she attributes this to the fact that she works with fonts and typography. In other words, both designers and DeArmond share an interest in typography: “It´s an exploration of the form of letters in 3-D.” DeArmond points out that in spite of actually liking letters, decoration and all forms of design and graphics, what really influences her work is, in fact, art.
Constructing with neons, David Batchelor manages to glow upon the landscape of contemporary art, reinterpreting American minimalism and his own generation of British sculpture. In 2003, David Batchelor was one of the pleasant surprises of the exhibition “Days Like These” at the third Tate trienal. As the curators Judith Nesbit and Jonathan Watkins pointed out, there was no actual common theme for this show, it was simply the gathering together of the most important and creative British artists of recent years. The 48 year old Batchelor was practically unknown to the wider public, wedged between the emerging postYoung British Artists and his own generation of already established British sculptors, alongside the likes of, for example, Richard Deacon and Rachel Whiteread, both artists who were also to participate in “Days Like These.” Up until this point, the creator of the Tate´s Spectrum of Brick Lane, a pile of fluorescent light boxes stretching upwards into a narrow column, had only been recognised in the area of art theory. Apart from a few articles dealing with theory, Batchelor had become something of a reference after the publication of his book Chromophobia (2000), and in 2003, only the most inattentive would consider him an “emerging” artist given his long-standing relations within the art scene. He was always in the midst of things; though his activities within the 80s sculpture scene would only truly be recognised later. Unlike the rest of this generation of British sculptors, Batchelor - who took himself off to Amsterdam - began to reflect on the nature of painting, in particular monochromatic painting as had been explored in America in the 1960s in the work of, for example, Barnett Newman. A further dimension later developed owing to an assimilation of, and reaction against, what minimalism represented. Batchelor totally rejected a certain idea of nature and the harmonic order of an ideal world oriented by logical laws. His work began to emphasise a certain European “modus operandi” which highlights historical aspects, accumulation, juxtaposition and imperfection. With found objects, subjected to a certain order and composition, he began to build his works. It is also worth mentioning the mural compositions of Tony Craig from the end of the 1980s, created from coloured trash, which give us a deeper understanding of Batchelor´s work. In common with much British sculpture, there is a consistent taste for creating art with the trash of consumer society. However, it´s the observations on minimalism as a final paradigm of modernity, the irony and sarcasm, which distinguish him from the tradition of British sculpture. Also, the fluorescent light which cuts across his compositions, meaning that he leaves behind minimalism and tradition to create something new. Colour becomes more important than form in these compositions, making them more immaterial, more evocative. As from the 1998 monochromobiles and in the I Love King´s Cross and King´s Cross Loves Me, the Spectrum of Hackney Road and Stupid Stick, he uses industrial dollies (small metal supports, sometimes on castors) covered with smooth acrylic sheets, perhaps painted or with neons, a direct reference to Donald Judd and Dan Flavin. In idiot Stick, made up of plastic detergent bottles with a fluorescent light running through, we are reminded not only of Flavin, but also of the coloured poles of André Cadere. They are, in a way, a parody of minimalism. If, in the work of Flavin, reference is made to ideas of transcendence and spirituality, in Batchelor, it is impossible to see the objects in this light, since it´s the vulgarity of the object, the means of construction which are most evident above all else. Light as ephemeral has been taken as a kind of found colour like the ready made objects of Marcel Duchamps. Plastic colours are intense and it’s the chemical artificiality with which society is constructed. They are lights which attract, the lights of London which the artist makes systematic reference to in the titles of his works. They bear the names of the streets and districts of the East End. There is a fascination with this patch of London, a fascination for the colours which constitute it. In a way, Batchelor´s work has literary references, such as Baudelaire´s heroic flaneur who savours the freedom which city anonymity offers him. There are also references to J.K Huysman´s anti-hero Desesseintes who sought to possess the most artificial representations of nature. The polychrome found in the work of Batchelor, does not emphasise naturalism; he separates colour from its romantic associations within the natural world. His polychrome emphasises the chemical and the metallic tones which he finds in neons, car paint, bottles, plastic, television, transformed into urban sublime.
Text by António Cerveira Pinto
— page: 48 —
www.stephaniedearmond.com
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PARQ
Traduções / Translation
— page: 54 —
For over a decade I have dedicated myself to wondering about the relationship between art, knowledge and new technology, observing and analysing the respective problems and virtues. We could say, generally speaking, that the appearance of the internet and its fast cultural dissemination on a global scale, marks the end of a certain way of cultural creation and our way of seeing it, as well as the end of certain rituals of reception, consumption and aesthetic exchange.
I
Pop Art was, it could be said, a delayed awareness of a phenomenon which both preceded and over took it: mass culture of a technological order. It was more Eastman´s Kodak, Orson Welles´ radio broadcast, the cyclopic cinema of Hollywood, the cars and motorways of Henry Ford which defined the era. A culture of permanent, aesthetic mobility, rather than a crisis in Fine Art has best characterised so-called “contemporary culture “ over the last 80 years. It was this logic – of the masses and democratisation – which the advent of both internet and globalisation nudged to a higher level, even more reproductive than what Walter Benjamin warned of in 1936. Only this time it was endorsed by a more unexpected promise: that of an intellectual, social and aesthetic tribalism, sustained by individual control, and the social exchange of new communicative technologies and interactive representation. By 1984, communication and “art in the age of mechanical reproduction” as identified for the first time by Walter Benjamin was, above all, a broadcasting phenomenon; that is, broadcasting to a wide variety of receptors: books, magazines, radio, cinema, television and live shows. Without the invention and trivialisation of the personal computer which, throughout the 1980s, and mainly during the 1990s, opened up the first cracks in the technological paradigm which had dominated western systems of representation and symbolism since the publication of the Gutenberg Bible (1450-55), we would still be subject to the same paradigms of cognitive and aesthetic reception from 500 years ago. Suddenly, an electronic machine allows us, for the first time, to write, draw, document, reproduce and play in an environment of virtual, electronic representations, maintained by an invisible system of logarithms and digital programming. Unlike direct or analogical registrations of the signs and symbols of hardware or software, we access more and more interfaces of digital mediation, with the idea of translating these registrations into crypto logical and electromagnetic realities, in mazes of ever-increasing complexity, until current technological metaphysics are set, as impenetrable founder of the new and unconquerable complex of human inferiority. As from 1994, there was a second technological revolution; computers began to communicate among themselves, establishing local and global networks (internet, intranet, extranet), sustained by protocols of data transmission; increasingly fast, over greater distance, with richer content, simple and formatted texts, images, videos, voices and a wide variety of things. Computers, cables of optical fibre or copper, transmitters, airwaves, satellites, wireless networks, Global Positioning System (GPS) etc, converge and keep converging in a sort of worldwide intelligent digital duplication (genetic), both interactive and in real time. However, if on the one hand these duplications are destined for more natural, more intuitive and ultimately more democratic uses, which would open up greater economic potential; on the other hand, the implications of the conceptual, linguistic, technological, scientific and cultural dimensions of this have even further implications.
II Whilst we were involved in these questions, the new century began to force us to think about an aspect which, until then, had not really been considered by our culture, and was thus unexpected. Namely, the fact that the energy responsible for our civilisation is peaking. In other words, we have used half the economically viable oil on the planet in 100 years, and will have to give up on this significant energy source which has been accumulated by nature over millions of years. Quite probably, between 2030 and 2050, the current energy regime on which all science and technology rests, will suffer an unprecedented transfiguration, since the present rush for so-called alternative energies shows that something is dramatically worrying us. Imagine if we had to vacate this planet in two or three hundred years´ time. Or if this dantesque possibility (…) was substituted for something less horrific, but equally apocalyptic; like a return to the standards of living and productivity of the pre-industrial era; that is, a period without cars, trains, aeroplanes, freezers, off-the-peg clothes, mobile phones, iPods, computers, electricity, and with cities reduced to toxic scrap metal heaps, inhospitable and overrun by criminals. Sounds unbelievable? On the contrary; highly likely! We have only been excessively using coal, oil and natural gas for just under 200 years. Only since the middle of the 19th Century, with the use of iron and steel and, above all, the proliferation of machines powered by steam, explosion-motors and electricity, has it been possible to move from a period of almost two thousand years in which average annual income “per capita” in western Europe, went from 576 American dollars in 1AD, to 1,572 American dollars, in 1850, to the twentieth century in which income increased ten-fold. Even though it is poorly distributed, the new wealth obtained from abundant energy sources, which are cheap and yet lucrative, for machines and increasingly sophisticated and productive technology, plus human labour, has meant that average annual income “per capita” reached in 2003 in Europe 19,912 U.S dollars. That´s 12.6 times more than in 1500. Imagine what it would be like to live in a post-carbon era, knowing these facts, with income 20 times less than current rates. Today, when a country, continent or the whole world stops growing for two consecutive quarters, “recession” is officially declared, panic in the media ensues and everything seems to be heading towards collapse; companies go under, unemployment increases, as do suicides and crime. Imagine if we reverted to a period in which systematic growth was not the norm, and that the norm was not merely economic stagnation either, but an unstoppable decline in production and income. This possibility, which is not so remote, would have an immediate impact upon our perception of the value of art, not to mention its inevitable worsening in technological terms. Well before we arrive at the point of the implosion of civilization, we would experience intense and frequent indications that the paradigm which regulates out lives and culture was inexorably nearing its end. The wars which drag on in the Middle East ( Iraque, Afganistan, Palestine, The Lebanon) and in Africa ( Kenya, Chade, The Central African Republic, Nigeria etc) are the result of conflict which tend to multiply and not diminish, and involve strategic resources like oil, natural gas, grain, biodiversity and water.
In 2003, the world consumed around 80 million barrels of crude oil per day. The U.S consumed 25% of this, two thirds of this was used for transportation. The current U.S crisis is on the path to unsustainable debt, the result of over-dependence on carbon energies (particularly oil and gas) and the exportation of a large part of its productive capacity to third party countries, with cheaper labour and production costs. Because of the inevitable and negative effects of this debt, the U.S runs the risk of losing its status and heading for a dangerous decline. What effects could such a negative evolution have on the high levels of technological and cultural performance which in the last 50 years have been the main models of creation, production, circulation and artistic consumption? What would happen if companies the size of, say, Google were swallowed up by one of the financial storms which increasingly affect the U.S? What would happen to the worldwide production of microprocessors if there were a natural or military catastrophe in Taiwan for example, due to the result of a non-acceptance by the U.S of the reunification of China? What would happen in Europe and other continents, with vital relations with the U.S both as suppliers or consumers, when the U.S´ irreversible decline becomes an undeniable fact? If this happened, how would our unconscious dependence on economic, scientific and technological well-being evolve? The current world recession, which will last all through 2008 and 2009, will teach us many facts about the immediate future. The ability for technological renewal upon which we so critically depend, seems to be seriously under threat. It is thought that it will occur at the exact moment when it is no longer possible to replace our new computers, our cars, iPods and mobiles, for newer, more powerful equipment. How long will my car last? How long can I keep my laptop working? What will follow on from the digital world which is currently maintained by millions of servers the world over? Was it not there where we deposited almost all that we had, from economics to lovers´ chat?
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